Buscar

Diário de campo - reflexões epistemológicas e metodológicas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 10 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 10 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 10 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

LEWIN, K.; TAX, S.; STAVENHAGEN, R. et ali. La investigacion-accion
participante. Inicios y desarrollos. Madrid: Editorial Popular: Universidad
Nacional de Colombia, 1991.
MONTERO, M. Investigacion-accion participante. La union entre cono-
cimiento popular y conocimiento. Conferencia 23° Congreso Internacional
de Psicolog£a Aplicada. Madrid, julio, de 1994.
PARK, P. (1989). Que es la investigacion-accion participante. En: LEWIN,
K.; TAX, S.; STAVENHAGEN, R. et ali. La investigacion-accion partici-
pante. Inicios y desarrollos. Madrid: Editorial Popular: Universidad Nacional
de Colombia, 1991, p. 65-84.
PEREZ-SERRANO, M. G. lnvestigacion-Accion: aplicaciones al campo
social y educativo. Madrid: Editorial Dykinson, 1990.
ROCHE, C. Avaliar;iio de lmpaeto dos Trabalhos de ONGs: aprendendo a
valorizar as mudanr;as. Silo Paulo: Cortez: ABONG. Oxford, Inglaterra:
Oxfam, 2000.
STAVENHAGEN, R. (1971). Como descolonizar de las ciencias sociales.
En: LEWIN, K.; TAX, S.; STAVENHAGEN, R. et ali. La investigacion-
accion participante. Inicios y desarrollos. Madrid: Editorial Popular:
Universidad Nacional de Colombia, 1991, p. 65-84.
DIARIO DE CAMPO: REFLEXOES
EPISTEMOL6GICAS E METODOL6GICAS
o termo "diario de campo" e usualmente utilizado para
referir-se a uma tecnica especifica de registro de dados muito
utilizado nas pesquisas qualitativas que utilizam principalmente
a observa9ao.
Sua origem remonta aos estudos antropo16gicos de Mali-
nowski, no infcio do seculo, que observava os nativos das Ilhas
Trobriand, no Oceano Pacifico. Conforme Minayo (1993: 135),
a pr<itica da observa9ao foi logo contestada pela sociologia de
tradi9ao quantitativa, que denominava de "empiristas" e "impres-
sionistas" as observa90es antropol6gicas. Poi atraves da etno-
metodologia e da fenomenologia sociol6gica que a observa9ao
recuperou seu lugar de destaque nas pesquisas sociol6gicas, e
desde entao, costuma-se utilizar 0 termo "trabalho de campo" para
designar as pesquisas que utilizam este tipo de metodologia.
Na Psicologia, a pr<itica da observa9ao tambem fez parte
des de cedo das metodologias de abordagem da realidade psicol6-
gica. Coohican (1997) relata que a psicologia do desenvol vimento
se valeu bastante dos diarios das observa90es do cotidiano de
crian9as. Ate 0 final do seculo XIX, praticamente nao existiam; a
necessidade de transcender as interminaveis discuss6es sobre se
as crian<;;asnasciam com tendencias inatas, boas, como afirmava
Rousseau, ou como uma "tabula rasa", como pontificava Locke,
e colocar 0 tema numa perspectiva cientifica produziu 0 que se
pode chamar de "bi610gos de beMs". Esses primeiros relatos
foram realizados com os pr6prios filhos dos pesquisadores e
construidos como diarios de observa<;;6es cotidianas sobre seu
crescimento e desenvolvimento; eram preferencialmente estu-
dos longitudinais.
Jean Piaget talvez seja 0 mais famoso destes pesquisadores
na Psicologia. Ele utilizou inicialmente diarios de observa<;;6es
cotidianas sobre 0 desenvolvimento dos filhos para construir e
exemplificar aspectos de sua teoria do desenvolvimento cognitivo.
A abordagem behaviorista tambem deve muito a essa tecni-
ca, aplicada sob controle experimental, ao pretender teorizar, por
exemplo, sobre os efeitos no comportamento animal e humano da
administra<;;ao do refor<;;oe da puni<;;ao.
Alem de urn instrumento de pesquisa, 0 diario de campo
pode ser utilizado como uma estrategia didatico-pedag6gica. No
ensino clinico de enfermagem, 0 diario de campo e uma pratica
diaria em algumas disciplinas te6rico-pr<iticas, como 0 relato das
experiencias de estagio. Nesta perspectiva, e uma estrategia para
autorreflexao das a<;;6estanto do aluno como do professor, seus
altos e baixos, suas conquistas, suas vit6rias, as emo<;;6esque per-
passam a rela<;;aocom pacientes e com a equipe de trabalho.
Como refere Freitag (1994), as anota<;;6esfeitas no diario
de campo refletem a dialetica desencadeada pelo pr6prio pro-
cesso pedag6gico, como tomada de consciencia de si mesma( 0)
e do outro.
Portanto, a importancia da observa<;;ao da realidade coti-
diana para a constru<;;aodo conhecimento cientifico situa a obser-
va<;;aoparticipante na discussao epistemol6gica e metodol6gica
dentro das ciencias humanas e sociais. Desta forma, buscaremos
situar a mesma no cenario da discussao contemporanea sobre
estes dois temas, para depois aprofundarmos urn pouco mais so-
bre as quest6es propriamente metodol6gicas e apresentar exem-
plos da utiliza<;;aode anota<;;5esde campo em diversas pesquisas.
A utiliza<;;ao de diario de campo nas pesquisas deve ser
situada numa primeira discussao sobre 0 estatuto da realidade nas
pesquisas das ciencias sociais, para as quais a observa<;;aoconsti-
tui uma tecnica privilegiada de coleta de dados.
A primeira vista, todas as ciencias se apropriam da obser-
va<;;aode fenomenos para a constru<;;ao de seus conhecimentos.
Mesmo nas ciencias naturais, que priorizam os metodos experi-
mentais de controle de variaveis, a observa<;;aointegra 0 conjunto
de tecnicas de coleta de dados disponiveis para 0 pesquisador
registrar seus resultados.
Entretanto, a controversia essencial e sobre 0 quanta po-
demos considerar "naturais" os fenomenos que observamos nas
ciencias humanas e sociais, tal qual 0 faz 0 observador nas cien-
cias naturais. 0 campo das ciencias sociais, que tern no homem
seu tema de estudo, apresenta-se como uma realidade completa-
mente diversa do campo das ciencias naturais. Com efeito, ha quem
defenda que os fenomenos sociais tambem podem ser considera-
dos fenomenos naturais, mas a maior parte dos pesquisadores da
atualidade considera os fenomenos humanos como parte da reali-
dade hist6rica e cultural, ou seja, uma realidade construida dentro
de urn determinado tempo e espa<;;oe submetida, portanto, a uma
continua transforma<;;ao.Para Schutz (apud Minayo, 1993, p. 139):
Rei uma diferenc;a essencial na estrutura dos objetos, dos
pensamentos ou constructos mentais formados pelas
ciencias sociais e pelas ciencias naturais. ( ...) 0 mundo
da natureza tal como e explorado pelo cientista natural,
nao "significa" nada para as moleculas, ,Homos e ele-
trons que nele existem. 0 campo de observa<;aodo cien-
tista social, entretanto, quer dizer, a realidade social, tern
urn significado especifico e uma estrutura de relevancia
para os seres humanos que vivem, agem e pensam dentro
dessa realidade.
El proprio concepto de dato tiene una profunda conno-
tacion objetivista em sua definicion, pues se considera al
dato como una entidad objetiva que representa al objeto
estudiado, y cuya procedencia es empfrica. Los datos
aparecen como teniendo un lenguaje proprio, que debe
ser "respetado" por el investigador para garantizar el
canicter objetivo de la investigacion (p. 108).
Esse conceito/abordagem do dado pressup6e a correspon-
dencia entre a constrw;;ao teorica e os fatos, entre a interpreta9ao
e a realidade, 0 real, perspectiva que acompanha historicamente
todas as formas de empirismo. 0 dado e tornado tambem nessa
otica quando e considerado 0 resultado da aplica9ao de instru-
mentos/tecnicas, sem a media9ao do pesquisador.
A enfase nesse caniter objetivo dos dados, em contraposi9ao
ao caniter subjetivo das ideias, chegou a restringir 0 uso da pro-
pria observa9ao no campo de pesquisa em psicologia, mesmo quan-
do 0 procedimento metodologico seguia todos os conselhos
existentes sobre como realizar uma "observa9ao cientifica". Para
o autor,
Como tecnica de registro, 0 diario de campo e parte inte-
grante da observa9ao participante, que constitui algo mais do que
uma simples tecnica de coleta de dados. Para Fernando Rey (1999),
que discute a epistemologia da pesquisa qualitativa em psicolo-
gia, a representa9ao da pesquisa como trabalho de campo enfatiza
a comunica9ao como processo que articula a pesquisa qualitativa
em seus diferentes momentos, e a presen9a/participa9ao do pes-
quisador dentro da institui9ao, comunidade ou grupo de pessoas
que esta investigando, que the permite 0 acesso a fontes importan-tes de informa9ao "informal".
o trabalho de campo diferencia-se de uma simples coleta
de dados quando pressup6e a participa9ao do pesquisador no co-
tidiano dos sujeitos estudados, possibilitando redes de comunica-
9ao e a observa9ao das mais variadas formas de expressao desses
sujeitos, 0 que certamente e fonte excepcional para produ9ao de
conhecimentos no ambito da psicologia.
Trabalho de campo e aquele que permite 0 contato interativo
do pesquisador-pesquisado em urn contexto relevante para 0 ulti-
mo. Diferentemente da coleta de dados, 0 trabalho de campo re-
presenta urn processo permanente de estabelecimento de rela96es
e de constru9ao de conhecimento no proprio cenario em que estu-
damos 0 fenomeno.
E importante tambem assinalar que, em decorrencia desta
visao da realidade, para as ciencias naturais 0 "dado" tern uma
natureza completamente distinta do que para as ciencias sociais.
Rey (1999) concorda que:
la investigacion positivista, de marcada orientacion empi-
rista, que domino el escenario de la investigacion psicolo-
gica, desarollo una obsesion por el control de todo aquello
que se pudiera considerar subjetivo em el desarollo de la
investigacion (1999, p. 112).
o trabalho de campo, portanto, e visto como essencial para
o desenvolvimento da iniciativa e da bagagem intelectual do pes-
quisador, na medida em que esse se ve obrigado/provocado a
elaborar suas proprias ideias frente ao que esta acontecendo no
cenario da pesquisa.
A coleta de dados e 0 momenta de contato com a informa-
9ao, esta tera seu sentido/interpreta9ao atribufda so posteriormen-
te, na etapa da interpreta9ao dos resultados. Na coleta de dados
tradicional, 0 pesquisador tern urn papel totalmente passivo, que
com frequencia se identifica com a aplicas;ao de instrumentos.
Na maioria dos casos nao ha a minima possibilidade de registra-
rem-se observas;6es imprevistas que podem ser relevantes para a
qualificas;ao dos proprios instrumentos utilizados.
Rey (1999) insiste que 0 pesquisador no trabalho de campo
esta exposto permanentemente ao novo, com 0 qual tera que de-
senvolver conceitos e explicas;6es que the deem sentido, processo
fundamental para a construs;ao do conhecimento. 0 trabalho de
campo revela-se totalmente congruente a nivel metodologico com
os principais princfpios da epistemologia qualitativa.
o autor acrescenta que 0 pesquisador nao deve refugiar-se
nos dados para evitar as ideias, pois afirma que os dados nao sao
substitutos das ideias e sim seus facilitadores. Lembra que a pes-
quisa quantitativa do dado isolou-o da ideia com 0 objetivo de
preservar uma suposta objetividade.
Rey afirma tamMm que a analise e interpretas;ao de resul-
tados e definida como urn processo nao definido pelos dados, mas
como urn momenta de produs;ao teorica que os transcende e que
nao necessariamente tern sua origem neles. A fonte das ideias nao
se encontra somente nos dados, mas, fundamentalmente, no con-
fronto entre 0 curso do pensamento, inspirado por multiplas vias.
Confrontas;ao que desencadeia a produs;ao de novas ideias, cuja
legitimidade so pode ser entendida dentro do processo de pensa-
mento no qual foram geradas e nao por sua correspondencia com
os dados produzidos no cenario onde apareceram.
Maria Teresa A. Argilaga (In: Anguera et ali, 1995) agrega
a essa discussao uma reflexao sobre os tipos de dados de campo:
os que se coleta e os que se produz. Apesar de parecer uma
dicotomizas;ao simplista, a autora considera que esse tipo de cate-
gorizas;ao e logic a e real. Quando 0 pesquisador observa 0 com-
portamento de outros ou 0 proprio, esta coletando dados, porem,
quando se interpel a pessoas atraves de entrevista ou questionario
se produzem dados novos que nao existiam anteriormente. Acres-
centa que, no campo da metodologia qualitativa ha consenso em
abordar/conceituar os dados/informas;6es como construidos no
processo da pesquisa a partir de urn marco teorico ou metateo-
rico existente, independentemente de que tenham sido coletados
ou produzidos.
o trabalho de campo, onde 0 pesquisador participa e inte-
rage com a cultura, a linguagem e com os sujeitos de sua pesqui-
sa, revela-se urn meio eficaz de contemplar a multiplicidade de
aspectos da realidade social, as contradis;6es, a polifonia das vo-
zes e das linguagens, permitindo maior apreensao da realidade
social tal qual ela se apresenta.
Considerar esta discussao sobre a subjetividade/objetivida-
de das informas;6es nos imp6e a necessidade de refletirmos sobre
as formas de melhor apreender as transformas;6es que se proces-
sam na cultura e no nivel cotidiano da vida, que revelam tanto os
aspectos de reprodus;ao da vida social e da conservas;ao dos cos-
tumes, valores e crens;as dos grupos sociais, quanta os aspectos
inovadores, criativos, que empurram os grupos para a sua trans-
formas;ao.
Neste senti do, pensamos que certos fenomenos darealidade
nao podem ser apreendidos por formas de coleta de dados alta-
mente estruturados, como questionarios, que so alcans;ariam des-
crever seus aspectos menos complexos.
o relacionarnento pesquisador/pesquisado:
urn encontro de subjetividades
Nadia D. Ribeiro (1998), em artigo em que faz reflex6es
sobre pesquisa de campo e observas;ao participante na psicologia,
contribui para enriquecer a discussao que tern sido feita ate 0
momento neste trabalho acerca do registro de dados, e a posis;ao
do pesquisador eo tipo de relacionamento frente a seus sujeitos de
pesqUlsa.
Urn mergulho total do pesquisador na cultura pesquisada,
como advogava Malinowski? Tornar-se urn "nativo", urn "seme-
lhante"? Isso e possivel? Familiarizar-se com 0 ambiente, mas
manter urn nivel de estranhamento permanente? Que posic;ao to-
mar quando as pesquisas atuais, diferentemente das realizadas
pelos precursores dessa abordagem referem-se, ocorrem no pro-
prio contexto em que vive 0 pesquisador?
Os profissionais envolvidos com seus projetos de pesquisa,
ao tomar como tema de estudo outros segmentos socioeconomi-
cos, cujas pniticas e cotidianos geralmente so conhecem superfi-
cialmente, necessariamente entram no campo de investigac;ao com
muito mais estranhamento do que familiaridade. A relac;ao que se
estabelece, entao, entre 0 pesquisador e/ou equipe de pesquisa e os
atores sociais envolvidos no trabalho parte de pIanos desiguais.
Segundo Minayo (1996, p. 62), "0 objetivo prioritario do pes qui-
sador nao e ser considerado urn igual, mas ser aceito na conviven-
cia." Para isto, 0 diario de campo se apresenta como uma estrategia
de registro dos dados, onde 0 pesquisador coloca suas percep-
c;6es, angustias, questionamentos e informac;6es, tornando-se urn
"amigo silencioso" que nao pode ser subestimado quanto a sua
importancia" (Minayo, 1996, p. 63).
Roberto Da Matta, antropologo frequentemente citado por
Nadia Ribeiro, tern uma consideravel e respeitada produc;ao sobre
a questao. Observa que nunca podemos nos transformar, enquan-
to pesquisadores, em urn "nativo". Sobre a proposta de Malinowski,
diz: "Na verdade, entra-se em uma cultura, mas ao mesmo tempo
se sai dela (...) Somos nos mesmos, membros de nossa propria
sociedade, visitantes em uma terra estranha" (1978, p. 302, apud
Ribeiro 1998). Acrescenta Da Matta que as atividades que inte-
gram 0 metoda da observac;ao participativa, momentos de refle-
xao, teoricos ou praticos, registrados ou nao no diario de campo,
implicam, necessariamente, mesmo que 0 pesquisador more na
comunidade estudada, urn distanciamento. E urn instante de saida,
uma "saida" simMlica.
Ribeiro (1998) continua argumentando nessa direc;ao.Alerta
quando nossa propria sociedade esta emjogo, quando a pesquisa
pretende apreender, mesmo que provisoriamente, 0 momento, 0
contemporaneo, onde mais ainda 0 pesquisador deve estranhar 0
que e familiar, colocando-se, em relac;ao ao que ira pesquisar, num
meta-ponto de vista. Considera, entretanto, que algo dessa distan-
cia deve ser ultrapassada:
e preciso que 0 contato entre pesquisador e seu objeto de
estudo se de, pois esta e condi~ao preliminar para 0 exitodo trabalho de campo (oo.) Este contato nao poderia ser
isento de conflitos, afinal, os objetivos de cada uma das
partes envolvidas nao costumam ser os mesmos (p. 91)
Essa relac;ao da subjetividade do pesquisador, com as emo-
c;6esque ai estao implicitas, com a subjetividade dos seus sujeitos
de pesquisa tern func;ao especial para Da Matta, pois alem das
consequencias benefic as para a realizac;ao das metas de pesquisa,
pode acrescer valor, enriquece-lo existencialmente e profissional-
mente. 0 trabalho de campo e comparado por ele com urn "rito de
passagem":
o trabalho de campo, como os ritos de passagem, implica
pois na possibilidade de redescobrir novas form as de rela-
cionamento social por meio de uma socializa~ao contro-
lada (1993, p. 152, apud Ribeiro 1998).
Lidio Souza (in Menandro, 1999) publica pesquisa realiza-
da por ele sobre urn linchamento abordado por urn estudo de caso.
Interessa, para este trabalho, 0 fato do pesquisador ter se proposto
urn tipo de enfoque que exigia aproximac;ao com a comunidade e 0
registro do cotidiano dos envolvidos no acontecimento, necessida-
de, portanto, como ele proprio comenta, "de romper urn certo
distanciamento que geralmente ocorre nas pesquisas entre pesqui-
sadores, fenomeno estudado e sujeitos" (p. 91).
Durante a coleta de informa<;oes, esbarrou na desconfian<;a
da comunidade em rela<;ao aos seus objetivos com a referida pes-
quisa. Os envolvidos estavam mais propensos a silenciar sobre 0
fato do que falar sobre ele. 0 que determinou mudan<;as consi-
deniveis nos objetivos e metodos de pesquisa. Essa acabou se
direcionando para entrevistas com pessoas da comunidade que
aceitaram falar sobre a criminalidade e violencia da cidade, afas-
tando-se, portanto, 0 pesquisador, tanto do objetivo/problematica
anterior quanto dos sujeitos/grupo alvo da pesquisa.
Chama aten<;ao a seguinte observa<;ao do autor:
como parte dessas notas, 0 investigador registrani ideias,
estrategias, reflexoes e palpites, bem como os padroes que
emergem. Isto sac as notas de campo: 0 relato escrito da-
quilo que 0 investigador ouve, ve, experiencia e pensa no
decurso da recolha, refletindo sobre os dados de urn estu-
do qualitativo (p. 150).
Ele ou ela dao uma descri<;:aodas pessoas, objetos, luga-
res, acontecimentos, atividades e conversas. Em adi<;:aoe,
Atribuem as notas de campo de qualidade - detalhadas,
precisas e extensivas - 0 exito das pesquisas com desenho qua-
litativo, principalmente quando estas utilizam a observa<;ao parti-
cipativa. Nesse ultimo caso os autores consideram todos os dados
envolvidos no projeto como notas de campo. Isto inclui as pr6-
prias "( ...) notas de campo assim como as transcri<;oes de entre-
vistas, documentos oficiais, estatisticas oficiais, imagens e outros
materiais" (p. 150).
Os autores concordam com Argilaga (1995), ja referida
anteriormente, identificando dois tipos de conteudos nas notas de
campo: urn de carMer descritivo, cujo objetivo e captar uma ima-
gem do local, pessoas, a<;6es e conversas observadas e 0 outro
marcantemente reflexivo, que inclui 0 ponto de vista, as ideias e
preocupa<;6es do pesquisador.
Consideram que a parte descritiva das notas de campo e
geralmente mais extensa e nela 0 pesquisador exercita ao maximo
sua capacidade de escrita, sua mem6ria, energia e esfor<;o.0 pes-
quisador deve resistir, nesse momento, a tenta<;ao de resumir ou
avaliar. E fundamental que seja 0 mais descritivo possivel.
Os aspectos descritivos das notas de campo englobam os
retratos dos sujeitos, a reconstru<;ao do dialogo, a descri<;ao do
espa<;ofisico, 0 relata de acontecimentos particulares, a descri<;ao
de atividades e 0 pr6prio comportamento do pesquisador. 0 regis-
tro cuidadoso do comportamento do pesquisador, com a descri<;ao
sobre 0 modo de vestir, a<;6ese conversas com os sujeitos pode
ajudar a entender 0 impacto que tais aspectos podem produzir.
Para cada urn desses itens os autores fornecem "dicas" uteis e
interessantes.
Apesar do objetivo de aprender 0 cotidiano da cidade onde
o linchamento ocorreu, considero que nao houve integra-
<;:aoa comunidade, como poderia ser considerado deseja-
vel. Nao hOllve, pO/tanto, a "inser<;:aototal" do pesquisador,
preservando-se, por varias razoes, urn certo distanciamento.
Nesse caso, eu fui urn elemento externo e "estranho" a
comunidade, nela permanecendo apenas durante 0 tempo
necessario e sllficiente para a coleta de dados (p. 97).
Souza informa que, no entanto, foram estabelecidos vfncu-
10s facilitadores com alguns moradores que viabilizaram 0 novo
design metodol6gico da pesquisa.
Esse depoimento refor<;a a importancia do tipo de inser<;ao
de relacionamento do pesquisador/observador com os sujeitos de
pesquisa e seu contexte (0 campo) para a realiza<;ao da pesquisa e
para 0 pr6prio registro das notas de campo.
Bogdan e Bilken (1994) ofere cern uma defini<;ao de notas
de campo, terminologia que preferem a diario de campo. Depois
de cada observa<;ao ou outro metodo de campo, 0 pesquisador
deve escrever 0 acontecimento:
A enfase e na especula<;ao, sentimentos, problemas, ideias,
palpites, impressoes e preconceitos. Tambem se inclui 0
material em que voce faz pIanos para a investiga<;ao fu-
tura bem como classifica<;oes e corre<;oes dos erros e
incompreensoes das suas notas de campo (oo.) 0 objetivo
da reflexao nao e de fazer terapia (p. 165).
tifica entre os recursos de informatica a introdU<;;aode "comen-
tarios" que expressam ideias, lembran<;as ou frases do autor, com
a fun<;ao de esclarecer e/ou lembrar 0 autor ou outros autores de
certos aspectos do texto, principalmente em trabalhos colabo-
rativos. E importante que 0 proprio pesquisador/observador fa<;a
os registros, pois esses devem fluir e devem representar seu esti-
10 narrativo.
Para disciplinar a memoria Bogdan e Bilken (1994) dao
algumas pistas que incluem desde 0 nao adiamento das anota<;6es,
o conselho para nao falar da observa<;ao antes de escreve-la e ate
dieas sobre 0 local e 0 tempo ideal, aMm de outras recomenda<;6es
preciosas para quem vai enveredar por esses caminhos metodo-
logicos.
Encontra-se na literatura especializada outros autores que
tern 0 mesmo entendimento sobre as notas de campo. Pourtois e
Desmet (1992) e Merrian (1998) concordam nas recomenda<;6es
e apontam a importancia desta tecnica, pois as anota<;6es que
constituem 0 diario de campo podem revelar fraquezas, inconsis-
tencias, equivocos, assim como a riqueza e os aspectos positivos
do metodo e da perspectiva te6rica/epistemologica adotada pelo
pesquisador.
o aspecto mais subjetivo do registro encontra-se na parte
reflexiva das notas de campo. Segundo os autores:
Esse momenta mais subjetivo das anota<;6es inclui refle-
x6es sobre a analise, sobre 0 metoda, conflitos e dilemas eticos,
reflex6es sobre pontos de vista do observador antes de entrar no
campo e 0 que denominam pontos de clarifica<;ao, onde se corrige
erros de informa<;ao que foram registrados em outras etapas da
pesquisa.
Aqui tamMm, Bogdan e Bilken apresentam uma farta rela-
<;aode sugest6es que abarcam todos os referidos itens.
A parte reflexiva tern uma fun<;ao extra para os autores,
frente as critic as muitas vezes feitas as influencias "nefastas" e
nem sempre visibilizadas dos aspectos subjetivos desse tipo de
abordagem metodologica. Podem constituir uma forma de tentar
dar conta e de controlar esse efeito. Insistem, entretanto, que toda
a pesquisa, todo 0 comportamento humano e urn processo subjeti-
vo e que tal condi<;ao nao impossibilita a produ<;ao cientifica.
Muitas vezes 0 pesquisador, principalmente quando e
iniciante no uso da tecnica, pensa ser impossivel registrar 0 que
Ihe demanda a observa<;ao. Nesse caso, os autores aconselham a
nao desistir. A disciplina e a capacidade de registro aumentam e
se qualificam com seu proprio exercicio. Alguns ate se torn am,
posteriormente, dependentes da observa<;ao e do registro/notas
de campo. E dao uma "dica": 0 uso do computador, sempre que
possive!. Esta tecnologia facilita 0 registro, alem de, num outro
momento,ser urn otimo "ajudante" da pesquisa, quando os dados
deverao se categorizados e analisados. Mattar Neto (2002) iden-
Para ilustrar 0 diario de campo como urn dos instrumentos
de pesquisa trazemos a pesquisa de Creuzberg (2000) cujo tema e:
Vivencias de famflias de classe popular cuidadoras de pessoa
idosa fragilizada: subsfdios para 0 cuidado de enfermagem do-
miciliar. Trata-se de uma pesquisa de cunho qualitativo que tern
como objetivos desvelar as vivencias de familias de classe popu-
lar no cuidado a familiares idosos fragilizados, no domicilio, bem
como obter subsidios para a sistematiza<;ao do cuidado de enfer-
magem a essas familias.
A utilizac;ao do diario de campo teve como objetivo ofere-
cer subsidios para a compreensao e interpretac;ao dos dados. No
diario de campo, foram registradas as notas de campo, que cons-
tam das notas reais do campo, com detalhes da observac;ao; notas
te6ricas, que sao as percepc;oes iniciais ou preliminares a compre-
ensao e auxiliam no aprofundamento do conhecimento; as notas
metodol6gicas, com analises do conteudo das notas de campo e
reflexoes sobre a observac;ao; e as notas da pesquisadora que
incluem registros dos sentimentos e reac;oes da pesquisadora. Al-
gumas notas descritivas do diario de campo desta pesquisa:
encontrasse com seu paciente(crianc;a) e buscasse conhe-
cer sua historia atraves do prontwirio. Tambem foi pro-
posta que cada aluna trabalhasse com a mae/pai uma
tecnica de colagem onde eles expressariam como gosta-
riam de ser cuidados. Percebi que as dias de afastamento
dos pacientes e familiares nao possibilitaram a realizac;ao
desta tarefa. Isto aconteceu naturalmente ou seja, as horas
se passaram e a atividade nao aconteceu... Combinamos
que a colagem sera feita amanhi'i."(18.11.1996).
Outros pesquisadores preferem anotar separadamente as
quest6es referentes aos sujeitos e ambiente de pesquisa e os co-
mentarios pessoais, que expressam preocupac;6es ou sentimentos
do pesquisador no campo. Esta escolha e percebida na Disser-
tac;ao de Mestrado de Fernanda Amador (1999): Violencia PoU-
cial: verso e reverso do sofrimento, que utilizou 0 diano de campo,
entre outras tecnicas para estudar 0 cotidiano de trabalho de po-
liciais militares, como no recorte seguinte, que encontra-se no anexo
8 do trabalho:
Logo e possivel perceber a precariedade. A casa, inacaba-
da - apenas urn revestimento basico, sem pintura. 0 chao,
de cimento. As janelas feitas com tabuas. Nao ha vidra-
c;as.Ao entrar logo vi 0 gato, 0 papagaio (02.1.4).
Cheguei a casa. Como era urn dia de sol, novamente tudo
parecia melhor do que no inicio. Tambem a casa estava
mais limpa. Na frente da porta da cozinha, uma tabua
impedia a entrada das galinhas e cachorro (08.1.88).
Ficamos conversando na porta. A casa so tern duas pec;as,
achei que eu nem poderia ficar em pe dentro! Ha muita
coisa dentro daquelas duas pequenas pec;as.Arrumado a
sua maneira. So percebi a estante na cozinha, uma mesa,
o fogao. No quarto, uma cama larga, de casal, preenche
praticamente todo 0 espac;o(01.4.3).
COMENTARIOS
EINTERPRETA<;OES
DOS POLICIAIS
COMENTARIOS
E INTERPRETA<;OES
DA PESQUISADORA
Urn outro exemplo de notas de campo na pratica pedag6gi-
ca do Curso de Enfermagem da PUCRS mostra outro estilo narra-
tivo, mesclando a parte descritiva e a parte reflexiva das notas:
2) 0 trabalho dos po-
liciais funciona como
uma irmandade.
Segunda feira pos-feriadao ... Percebi as alunas desvin-
culadas dos pacientes e das tarefas. Poucas trouxeram os
materiais solicitados para a colagem. Parece-me que as
barreiras novamente se instalaram. Iniciamos 0 dia fa-
zendo urn breve comentario sobre 0 final de semana.
Optamos em trabalhar alguns textos teoricos ja no inicio
da manha. A seguir, a proposta era que cada aluna se re-
2) 0 forte espfrito de grupo, neces-
sario para que protejam-se e reali-
zem seu trabalho, tambem pode ser
o que coloca os policiais na imi-
nencia da ac;aoviolenta.
Parece necessario se estabelecer
uma relac;ao de confianc;a entre os
policiais para poderem fazer seu
trabalho. E como se delegassem ao
companheiro de trabalho a certeza
de que nao sera atingido e que saini
ileso dos confrontos. 0 colega pa-
rece funcionar como retaguarda
importante para realizarem os pro-
cedimentos de trabalho. Entretanto,
nao poderiam fortalecer, as avessas,
os procedimentos de a9ao violenta?
A confian9a que se estabelece no
grupo, nao favoreceria 0 uso inde-
vido da for9a? De que confian9a se
trata?
A pesquisadora informa no seu relatorio que os comentari-
os dos policiais nao esHioregistrados literalmente, pois 0 trabalho
de campo foi realizado sem uso de gravador.
Pode-se observar, concordando com os autores citados, que,
em qualquer caso, os comentarios abrangem os tipos de notas re-
feridos, e que as anota90es sobre os sentimentos e 0 curso do pen-
samento do pesquisador sao importantes instrumentos tanto para
a interpreta9aO das observa90es, como para a eiabora9aO teorica
que norteia a compreensao do contexto da pesquisa.
Na area da saude, 0 diario de campo tern sido importante
aliado na compreensao de problemas cuja relevancia esta na qua-
lidade dos processos de cuidado, na atribui9ao de sentido aos sin-
tomas e a complexa articula9aO entre fatores emocionais e
biologicos na determina9ao dos processos de saude e doen9as.
Alguns exemplos podem mostrar a utilizas;ao do diario de campo
nas pesquisas qualitativas em saude, sempre acompanhando a tec-
nica de observas;ao participante para a coleta de dados. Santos
Junior, Silveira e Oliveira (2009) utilizaram 0 diario de campo
para desvendar 0 cotidiano das residencias terapeuticas em saude
mental, buscando compreender as principais dificuldades encon-
tradas nas praticas de cuidado e como elas sao enfrentadas no dia
a dia dos moradores e cuidadores. Santos e Vieira (2008) utiliza-
ram a estrategia de observas;ao participante acompanhada do dia-
rio de campo para analisar a potencialidade de uma intervens;ao
grupal junto a medicos residentes na Estrategia de Saude da Fa-
mflia para sensibilizas;ao dos profissionais para as questoes sexu-
ais que envolvem as orientas;oes sobre contraceps;ao. Coerentes
com a estrategia das investiga90es qualitativas, os autores busca-
ram desvendar os principais mitos, realidades e desafios sobre a
sexualidade que se apresentavam a pr<itica medica convencional
de residentes que tinham entre suas tarefas aconselhar usuarios
dos servi90s de saude sobre metodos contraceptivos.
3) Para se realizar a
tarefa policial, e pre-
ciso preparo para en-
frentar.
3) A que tipo de preparo 0 policial
se refere?
Acompanhando 0 trabalho no co-
tidiano, percebe-se que ha uma
nftida distancia entre 0 trabalho
prescrito e 0 trabalho real. A rigo-
rosa prescriS;ao para os comporta-
mentos e ate para os sentimentos
que provem dos documentos e do
treinamento e que SaG exigidas
nas rela90es hierarquicas, nao
con segue ser seguida fielmente. A
mobiliza9aO subjetiva durante 0
exercfcio do trabalho e bem mais
forte do que a observancia as pres-
cri90es previas. E impossivel 0 su-
jeito policial nao se desestabilizar
ante as tarefas que implicam extre-
ma violencia e agressividade.
Qual e 0 pre90 psiquico do auto-
controle permanente do policial?
ANGUERA, M. et al. Metodos de Investigacf6n en Psicolog£a. Madrid:
Sfntesis, 1995.
CREUTZBERG, Marion. Vivencias de famflias de classe popular cuidado-
ras de pessoa idosa fragilizada: subs£dios para 0 cuidado de enfermagem
domiciliar. Dissertac;:aode Mestrado UFRGS. Porto Alegre, 2000, 194 p.
COOLIGAN, Hugh. Metodos de Investigaci6n y Estat£sitca en Psicologia.
Mexico: Editorial el Manual Moderno SA, 1997.
FREITA, G. Barbara. Diario De Uma Alfabetizadora. 2" ed. Sao Paulo:
Papirus, 1994.
MATTAR NETO, Joao Augusto. Metodologia cientifica na era da
informatica. Sao Paulo: Saraiva, 2002.
Assim, conclufmos que a utilizac;ao de diario de campo faz
parte da tradic;ao das pesquisas qualitativas nas ciencias sociais e
da saude, onde a observac;ao participante e utilizada como tecnicade trabalho de campo, entre outras, por sua maior possibilidade
de apreensao da complexidade dos fenomenos envolvidos na pes-
quisa, e por revelar aspectos importantes para 0 conhecimento da
realidade que so a interac;ao social com os sujeitos pesquisados
permite obter.
Podemos apontar neste trabalho 0 papel fundamental que 0
diario de campo assume quando 0 pesquisador nao so se propoe
como objetivo registrar os "dados", informac;oes que 0 campo lhe
permite observar, como tambem integrar a esses registros seu
curso de pensamento, as ideias que vao surgindo no decorrer da
observac;ao e do proprio registro. Entendemos que, nessa otica, as
teorias produzem as questoes que os pesquisadores levam para 0
campo, mas certamente os elementos encontrados no campo per-
mitem que as teorias sejam constantemente revisadas.
A perspectiva que norteia nosso trabalho nos permite con-
cordar com Fernando Rey (1999) em relac;ao ao debate objetivi-
dade/subjetividade que atravessa ainda hoje 0 campo dos estudos
epistemologicos. A "objetividade" da ciencia consiste menos em
regras e procedimentos estabelecidos e mais na natureza auto-
corretiva do processo cientffico, resultado desse trabalho de ela-
borac;ao intelectual do pesquisador, que deve, necessariamente,
ter abertura para novas ideias e perspectivas, frente a "dados"
presentes no seu campo de pesquisa.
MENANDRO, P. R. M.; TRINDADE, Z. A.; BORLOTI, E. B.(Org).
Pesquisa em Psicologia: Recriando Metodos. Vit6ria: PROIN-CAPES,
1999.
MINAYO, Maria Cecilia de Souza (arg.). Pesquisa Social: Teoria, metodo
e criatividade. 6" ed. Petr6polis, RJ: Vozes, 1996.
MERRIAN, Sharan B. Qualitative Research and Case Study Applications
in Education. San Francisco: Jossey-Bass Publishers. Second Edition, 1998.
AMADOR, Fernanda Spanier. Violencia Policial: verso e reverso do sofri-
mento. Dissertac;:aode Mestrado PUCRS. Porto Alegre, 1999.

Continue navegando