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INTRODUÇÃO Ao longo das últimas décadas o Planeta Terra vêm sofrendo um processo contínuo de degradação de seus recursos naturais. Diante disso, tem nascido iniciativas globais para o enfrentamento dessa problemática. Em Estocolmo/Suécia, em 1972, na Conferência sobre o Meio Ambiente Humano, marcou o surgimento da preocupação com o meio ambiente no âmbito internacional. Foi a primeira vez que todos os países reuniram-se para discutir questões ambientais. Nesta conferência foi criada a Declaração de Estocolmo, que é um tratado internacional assinado entre os países do globo. Esta declaração elevou o direito ambiental ao rol de direitos humanos. Após isso, o conceito de desenvolvimento sustentável surge pela primeira vez em um documento de caráter mundial, surgia assim o Relatório Brundtland, resultado de discussões de uma comissão criada pela ONU. Citar conceito de desenvolvimento sustentável. Outra conferência importante para a questão ambiental foi a Conferência sobre Meio Ambiente de 1992, conhecida também como Rio 92, de onde surgiu a declaração do Rio de Janeiro sobre o meio ambiente e desenvolvimento. Este documento trouxe os princípios que devem reger a proteção do meio ambiente. Diante desses grandes encontros globais, foram discutidos temas relacionados com as questões ambientais. Mas, perceberam que para diminuir essa degradação ou zerá-la, seria necessário criar políticas públicas e instrumentos legais para tal tarefa. Esses encontros, princípios e normatizações estão dentro de uma área conhecida como Direito Ambiental, que é o complexo de princípios e normas reguladoras das atividades humanas que, direta ou indiretamente, possam afetar a rigidez do meio ambiente, visando à sustentabilidade para as presentes e futuras gerações. Depois de todos esses marcos, começou-se uma discussão no Brasil sobre a criação de uma Política que legitimasse o uso recursos naturais no país. Esse momento marca a criação da Lei Federal 6398/1981 que institui a Política Nacional do Meio Ambiente e dá outras providências. É nessa lei, que aparece pela primeira vez dentro de instrumentos legais brasileiros a definição de meio ambiente, definido como “o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas”. Áreas protegidas e Unidades de Conservação Depois de uma série de discussões globais sobre meio ambiente, formulação de relatórios e declarações internacionais que direcionassem o gerenciamento dos recursos naturais com as atividades antrópicas, faz-se necessário colocá-las em prática. Nesse caso, um dos instrumentos que contribuem eficazmente para a conservação ambiental, manutenção da diversidade biológica e dos seres humanos são as áreas protegidas, que por definição “São áreas de terra ou mar definida especificamente para a proteção e a manutenção da diversidade biológica e dos recursos naturais e culturais associados, e gerida por meios legais e outros que sejam efetivos”. Essa definição de área protegida é internacional, porém corresponde ao conceito jurídico brasileiro de unidade de conservação. Segundo o artigo 2º, I da Lei 9.9985/2000, unidade de conservação é o “espaço territorial e seus recursos ambientais, incluindo as áreas jurisdicionais, com características naturais relevantes, legalmente instituído pelo Poder Público, com objetivos de conservação e limites definidos, sob regime especial de administração, ao qual se aplicam garantias adequadas de proteção. De acordo com Santilli (2005) a criação de espaços territoriais protegidos pelo poder público está prevista entre os instrumentos da Política Nacional de Meio Ambiente (PNMA), além da própria Constituição Federal. Exemplo disso, pode ser visto no Art. 4º, inciso II da PNMA, “à definição de áreas prioritárias de ação governamental relativa à qualidade e ao equilíbrio ecológico, atendendo aos interesses da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Territórios e dos Municípios; - a criação de espaços territoriais especialmente protegidos pelo Poder Público Federal, está dentro do inciso VI do art. 9º da Lei 9.985/2000. IMPORTÂNCIA E CONTRIBUIÇÃO A Constituição federal de 1988 em seu Art. 225. “Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá- lo para as presentes e futuras gerações.” A partir dessa base constitucional, o país concebeu um Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC) Lei nº. 9.985 de 18 de julho de 2000.O dispositivo legal nasce com a finalidade de frear a devastação dos predadores que depredavam o patrimônio natural e o meio ambiente do país, buscando minimizar os impactos, redimindo o que estava perdido e desenvolvendo o que se encontrava sadio.(Miralé,2007). O mundo vem se desenvolvendo com um modelo que não é benéfico, e nas ultimas décadas vem sofrendo com isso, criou um passivo ambiental e social incalculável, e, se mantido, gera barreiras aos produtos nacionais e é ineficiente do ponto de vista do aproveitamento dos recursos naturais e ambientais. O pior risco desse tipo de desenvolvimento é que pode inviabilizar a própria atividade econômica. Vale ressalta ainda a alteração dos solos, recurso hídrico, clima. Está se criando uma nova fonte de custo para se adaptar a esse esgotamento do ambiente. O Sistema Nacional de Unidade de Conservação, Lei nº. 9.985/2000, é um importante instrumento de gestão que juntamente com outros dispositivos auxilia na proteção dos ecossistemas brasileiros. O SNUC visa a restauração dos ecossistemas danificados por ações antrópicas, além de proteger os ecossistemas que ainda não sofreram com as atividades antrópicas, limitando e muito a ação do homem dentro do espaço territorial legalmente criado. Olhando por este lado, faz-se necessário que o Poder Público se empenhe nas discussões para a criação das unidades de conservação, alocando recursos, incentivando a criação dos espaços territoriais, e também participe efetivamente das lutas ambientais, para que seja mantido de forma sustentável o meio ambiente ecologicamente equilibrado. PLANO DE MANEJO DE UNIDADE DE CONSERVAÇÃO Define-se Plano de Manejo como um documento técnico mediante o qual, com fundamento os objetivos gerais de uma Unidade de Conservação, onde se estabelece o seu zoneamento e as normas que devem presidir o uso da área e o manejo dos recursos naturais. Todas as unidades de conservação devem dispor de um Plano de Manejo, que deve abranger a área da Unidade de Conservação, sua zona de amortecimento e os corredores ecológicos, incluindo medidas com o fim de promover sua integração à vida econômica social das comunidades vizinhas ( Capitulo III, Art. 27, §1º). O Plano de Manejo visa levar a Unidade de Conservação a cumprir com os objetivos estabelecidos na sua criação. A elaboração de Planos de Manejo, não se resume apenas à produção do documento técnico. O processo de planejamento e o produto Plano de Manejo são ferramentas fundamentais, reconhecidas internacionalmente para a gestão da Unidade de Conservação. O Plano de Manejo é um ciclo contínuo de consulta e tomada de decisão com base no entendimento das questões ambientais, socioeconômicas, históricas e culturais que caracterizam uma Unidade de Conservação e a região onde esta se insere. É elaborado sob um enfoque multidisciplinar, com características particulares diante de cada objeto específico de estudo. Ele deve refletir um processo lógico de diagnóstico e planejamento. Ao longo do processo devem ser analisadas informações de diferentes naturezas, tais como dados bióticos e abióticos, socioeconômicos, históricos e culturais de interesse sobre a Unidade de Conservação e como estes serelacionam. Como exemplo da categoria de Reserva Extrativista (Capítulo III, Art. 18, §5º), temos o Plano de Manejo da Reserva Extrativista (RESEX) Riozinho do Anfrísio, elaborado de acordo com o art. 27, §1º da lei do Snuc, que tem por objetivo servir de instrumento de apoio ao desenvolvimento e gestão da Reserva, subsidiando ações da equipe do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), da Associação de Moradores do Riozinho do Anfrísio (AMORA), do Conselho Deliberativo e das instituições que apoiam a Resex. Visa dar suporte à implementação de ações para o desenvolvimento das comunidades e a implementação de políticas públicas, considerando as estruturas do modo de vida tradicional e a conservação da biodiversidade. O Plano de Manejo da Resex Riozinho do Anfrísio seguiu diferentes etapas de trabalho e pesquisa (Tabela 1). De 2006 a 2009 essas etapas buscaram cumprir as orientações técnicas hoje apresentadas na Instrução Normativa nº 01, de 18 de Setembro de 2007, que “disciplina as diretrizes, normas e procedimentos para a elaboração de Plano de Manejo Participativo de Unidade de Conservação Federal das categorias Reserva Extrativista e Reserva de Desenvolvimento Sustentável” e no “Roteiro Metodológico para elaboração do Plano de Manejo das Reservas Extrativistas e Reservas de Desenvolvimento Sustentável Federais” construído pelo IBAMA/ DISAM em 2006 (Figura1). Tabela 1. Etapas adotadas para elaboração do Plano de Manejo. UNIDADES DE USO DIRETO E INDIRETO A Lei 9.985/2000, divide-se em dois grupos, com características distintas e específicas: as unidades de proteção integral e as unidades de uso sustentável. As unidades de proteção integral – parques nacionais, estações ecológicas, reservas biológicas, monumentos naturais e refúgios de vida silvestre. Têm como Figura 1. Resex Riozinho do Anfrísio. objetivo básico preservar a natureza, sendo admitido apenas o uso indireto dos seus recursos naturais, com exceção dos casos legalmente previstos. As unidades de proteção integral visam manter os ecossistemas livres de alterações causadas por interferência humana. Uso indireto é aquele que não envolve consumo, coleta, dano ou destruição dos recursos naturais. Já as unidades de uso sustentável – áreas de proteção, áreas de relevante interesse ecológico, florestas nacionais, reservas extrativistas, reserva de fauna, reservas de desenvolvimento sustentável e reservas particulares do patrimônio natural. Visam compatibilizar a conservação da natureza com o uso sustentável de parcela dos seus recursos naturais. As unidades de uso sustentável procuram explorar o ambiente de maneira que garanta a perenidade dos recursos ambientais renováveis e dos processos ecológicos e admitem o uso direto de seus recursos naturais. O uso direto envolve coleta e uso dos recursos naturais. Grupo da Unidade de Proteção Integral As unidades de proteção integral tem como principal objetivo preservar a natureza, realização de estudos científicos possibilitando o uso somente de forma indireta os recursos naturais conforme art. 7inciso 1º da Lei 9985 e visitas públicas para fins educacionais a ser normatizado pelo plano de manejo da unidade, instaladas em áreas de posse e domino público que sejam de relevância estratégica para a proteção da biodiversidade determinado local ou bioma, devendo a partir do momento da criação dessa unidade não haver mais influência direta sobre aquele ecossistema, implicando na expropriação de propriedades que estejam dentro dos limites da unidade de conservação. Estas unidades podem ser subdivididas nas seguintes categorias: Estação Ecológica (Esec) o Tem como objetivo básico a preservação da natureza e a realização de pesquisas científicas. Reserva Biológica (Rebio) o Tem como objetivo básico a preservação integral da biota, sem interferência humana direta ou modificações ambientais aquelas ações de manejo destinadas à recuperação de seus ecossistemas alterados, à preservação do equilíbrio natural, à diversidade biológica e aos processos ecológicos. Parque Nacional (Parna) o Tem como objetivo básico a preservação dos ecossistemas naturais de grande relevância ecológica e beleza cênica, possibilitando a realização de pesquisas científicas, educação e interpretação ambiental, de recreação e contato com a natureza e turismo ecológico. Monumento Natural (Moma) o Tem como objetivo básico a preservação de sítios naturais raros, singulares ou de grande beleza cênica. Refúgio de Vida Silvestre (Revis) o Tem como objetivo básico a preservação de ambientes naturais, onde estão asseguradas as condições para a existência e reprodução de espécies ou comunidades da flora ou fauna local residente ou migratória. Devido o caráter das unidades de proteção integral, não é permitido a intervenção direta do homem o que implica na necessidade de desapropriação de pessoas e ou empreendimento que estejam dentro do limite da unidade devendo estes serem indenizados e realocados, o que causa uma série de conflitos. A Estação Ecológica de Maracá (Esec) localizada em Manaus/Am criada em 1981 com o decreto Nº 86.061 (Figura 2), mais precisamente composta por Ilha de Maracá, Ilhas e ilhotas, situadas no Rio Uraricoera, é um exemplo de categoria de Unidade de Proteção Integral, que protege 101.312 ha (Decreto de Criação). Área de Proteção Ambiental (APA): caracteriza-se pela grande extensão, já ocupada pelo homem, mas dotada de atributos abióticos, bióticos, estéticos ou culturais especialmente importantes para a qualidade de vida das populações humanas. Tem como objetivo básico, proteger a biodiversidade, disciplinar o processo de ocupação e assegurar a sustentabilidade do uso dos recursos naturais. Área de Relevante Interesse Ecológico (ARIE): caracteriza-se pela pequena extensão, sem expressiva ocupação humana, com características naturais extraordinárias, ou que abriga exemplares raros da biota regional ou local. Tem como objetivo básico proteger os ecossistemas naturais e regular o uso destas áreas de modo a compatibilizá-lo com os objetivos de conservação da natureza. Floresta Nacional (Flona): área com cobertura florestal de espécies nativas, tem como objetivo básico o uso múltiplo dos recursos florestais e a pesquisa científica, com ênfase em métodos sustentáveis de exploração florestal. Reserva Extrativista: (Resex): área utilizada por populações extrativistas tradicionais, cuja subsistência baseia-se no extrativismo e, complementarmente, na agricultura de subsistência e na criação de animais de pequeno porte. Tem como objetivos básicos F ig u ra 2 . M a p a d e l o c a liz a ç ã o proteger o meio de vida e a cultura destas populações, e assegurar o uso sustentável dos recursos naturais da unidade. Reserva de Fauna: área natural com populações animais de espécies nativas, terrestres ou aquáticas, residentes ou migratórias, adequada para estudos científicos sobre o manejo econômico sustentável de recursos faunísticos. Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS): área natural que abriga populações tradicionais, cuja subsistência baseia-se em sistemas sustentáveis de exploração dos recursos naturais, desenvolvidos ao longo de gerações e adaptados às condições ecológicas e que desempenham um papel fundamental na proteção da natureza e manutenção da biodiversidade. Breve Disposição a respeito da lei 9.985 de 19 de julho de 2000, e ao decreto 4.340 de 22 de agosto de 2002 que a regulariza A Constituição Federal de 1988 inovou trazendo ao universo jurídico um capítulo específico sobre o Meio Ambiente. Esta proposta ainda não havia sido adotada pelas Constituições anteriores que traziam sem seu bojo um tratamento amplo sobre o tema. Nas palavrasde Edis Milaré, “as Constituições que precederam a de 1988 jamais se preocuparam com a proteção do meio ambiente de forma específica e global” [1], destacou ainda que sequer era citada a terminologia ‘meio ambiente’. Através da Constituição de 1988 adveio a Lei nº. 9.985 de 18 de julho de 2000, que instituiu o Sistema Nacional de Unidades de Conservação, bem como regulamentou o § 1º, I, II, III e VII, do art. 225 da Constituição Federal de 1988. Preleciona Edis Milaré, que a Lei nº. 9.985/2000 foi fruto de longo processo de gestão, que nasceu após incertezas, fluxos e refluxos, expectativas e ansiedades. O dispositivo legal nasce com a finalidade de frear a devastação dos predadores que depredavam o patrimônio natural e o meio ambiente do país, buscando minimizar os impactos, redimindo o que estava perdido e desenvolvendo o que se encontrava sadio. Após breves considerações acerca da constitucionalidade e do nascimento da Lei nº. 9.985/2000, passemos a uma análise do sistema normativo regulamentado pelo Decreto nº. 4.340 de 22 de agosto de 2002, que trouxe de forma detalhada importantes aspectos legais condizentes à criação das unidades de conservação. O art. 2º, I do SNUC [3], conceitua unidade de conservação como “espaço territorial e seus recursos ambientais, incluindo as águas jurisdicionais, com características naturais relevantes, legalmente instituído pelo Poder Público, com objetivos de conservação e limites definidos, sob regime especial de administração, ao qual se aplicam garantias adequadas de proteção”. Percebe-se que o conceito de unidade de conservação aduz às perspectivas elencadas pelo Poder Constituinte Originário, quando propõe a conservação de espaços territoriais com ecossistemas relevantes. Alhures veremos que as unidades de conservação são divididas em diversas categorias, todas na iminência de garantir a proteção integral ou sustentável do Meio Ambiente. Assim as unidades de conservação constituem estruturas de gestão participativa que obrigatoriamente devem ser criadas por ato normativo do Poder Público, que pode ser Federal, Estadual ou Municipal, sendo administrada por um órgão que recebe esta responsabilidade de acordo com a unidade de Federação na qual é criada a unidade de conservação. Sendo criada por Município, o órgão Municipal competente fica responsável por gerir a unidade, com assessoria do Conselho Consultivo, constituído de forma paritária, envolvendo membros dos Poder Público e da sociedade civil organizada. Este necessariamente deve ser presidido pela pessoa física responsável por gerir a unidade de conservação, conforme preleciona o art. 17 do Decreto 4.340/2002. A Lei nº. 9.985/2000 aduz objetivos que garantem a sustentabilidade do espaço territorial destinado à proteção, bem como diretrizes que se voltam para a constituição e funcionamento das unidades de conservação, busca-se, no entanto, vislumbrar a identidade dos ecossistemas brasileiros. Tanto os objetivos quanto as diretrizes, estão respectivamente apresentados pelos artigos 4º e 5º da lei 9.985/2002. O SNUC divide as unidades de conservação em dois grupos: as Unidades de Proteção Integral, que possui como finalidade a proteção do espaço territorial, impedindo quando possível a intervenção humana; e as Unidades de Uso Sustentável, que possuem como objetivo básico a compatibilidade entre a proteção do ambiente natural e ação do homem. As Unidades de Proteção Integral, conforme o art. 8º do SNUC, são: Estação Ecológica, Reserva Biológica, Parque Nacional, Monumento Natural e Refúgio da Vida Silvestre. Dentre as unidades descritas abre-se destaque para o Parque Nacional, que possui em seu bojo a preservação do meio ambiente, a pesquisa científica, a educação ambiental, a recreação e o turismo, conforme dispõe o art. 11 do SNUC. Nas demais se aceita estudos científicos e visitações, mas de forma restrita, quanto a isto deve haver regulamentação no Plano de Manejo da Unidade. Para que haja a proteção integral do ecossistema, onde existir propriedades particulares, o Poder Público deverá desapropriá-las, indenizando-as conforme disposição legal, isso por se tratar de áreas de domínio público. Excetua-se o Monumento Natural e o Refúgio da Vida Silvestre, que havendo compatibilidade podem ser constituídos por áreas particulares. Enquanto as Unidade de Uso Sustentável são constituídas, conforme o art. 14 do SNUC, pelas: Área de Proteção Ambiental, Área de Relevante Interesse Ecológico, Floresta Nacional, Reserva Extrativista, Reserva de Fauna, Reserva de Desenvolvimento Sustentável, Reserva Particular do Patrimônio Natural. A Reserva Extrativista, dentre as elencadas consiste no instituto que mais caracteriza o grupo, por admitir a utilização da área pelas populações extrativistas tradicionais, tendo como objetivo básico proteger os meios de vida e a cultura dessas populações, assegurando o uso sustentável dos recursos naturais da unidade, estando disposto no art. 18 do SNUC. A unidade é de domínio público com uso concedido às populações através de contrato de concessão, uma forma de garantir o desenvolvimento econômico e manter o meio ambiente ecologicamente equilibrado. Por ser de domínio público as áreas particulares que se encontrem dentro da unidade devem ser desapropriadas. As unidades de conservação deverão ser criadas através de ato normativo do Poder Público, que deve necessariamente ser precedida por estudos técnicos e consulta pública, salvo a Estação Ecológica e a Reserva da Vida Silvestre que independe de consulta pública. O § 5º do art. 22 do SNUC, admite a transformação, total ou parcial, das unidades de conservação de Uso Sustentável em Proteção Integral, devendo ser por documento normativo de mesmo nível hierárquico do que criou a unidade. As unidades de Conservação, excetuando Área de Proteção Ambiental e Reserva Particular do Patrimônio Ambiental, devem possuir zona de amortecimento [4], que poderão ser definidas no ato de criação da unidade ou posteriormente (art. 25, caput e § 2º). Aduz o art. 27 do SNUC, que as unidades de conservação devem dispor de um Plano de Manejo [5], devendo este abranger a área da unidade de conservação, sua zona de amortecimento e os corredores ecológicos, incluindo medidas com o fim de promover sua integração à vida econômica e social das comunidades vizinhas, devendo este ser elaborado em prazo máximo de 05 (cinco) anos, a contar da data de criação da unidade. As unidades de conservação poderão ser custeadas por recursos e doações de qualquer natureza, nacionais e internacionais, provenientes de organizações privadas ou públicas, devendo ser geridos pelo órgão responsável pela unidade de conservação. Este utilizará obrigatoriamente o recurso na implantação, gestão e manutenção das mesmas. É permitido também a arrecadação mediante cobrança de taxa de visitação e outras rendas decorrentes de arrecadações, serviços e atividades da própria unidade, devendo ser necessariamente aplicados de acordo com o que dispõe o art. 35 do SNUC. Um dispositivo que merece destaque na Lei nº. 9.985/2000 é o artigo 36 que dispõe sobre a obrigatoriedade dos empreendimentos de significativo impacto ambiental, que necessitem de licenciamento ambiental, com fundamento no estudo de impacto ambiental e respectivo relatório – EIA/RIMA, apoiar na implantação e manutenção de unidade de conservação do grupo de Proteção Integral. O empreendedor repassará o percentual não inferior a 0,5 % (meio por cento) dos custos totais previstos para a implantação do empreendimento. O Sistema Nacional de Unidade de Conservação, implantado pela Lei nº. 9.985/2000, consiste em um importante instrumento de gestão que auxilia na proteção dos ecossistemas brasileiros. O SNUC vislumbra a reestruturação dos ecossistemas danificados pela ação do homem, bem como a proteção dos ecossistemas que ainda não foram objeto da cobiçahumana, limitando assim em muito a ação do homem dentro do espaço territorial legalmente criado. Olhando por este prisma, faz-se necessário que o Poder Público se empenhe nas discussões para a criação das unidades de conservação, alocando recursos, incentivando a criação dos espaços territoriais, e também participe efetivamente das lutas ambientais, para que seja mantido de forma sustentável o meio ambiente ecologicamente equilibrado. FLORESTA NACIONAL Segundo o artigo 17 da lei do Snuc, “a floresta nacional é uma área com cobertura florestal de espécies predominantemente nativas e tem como objetivo básico o uso múltiplo sustentável dos recursos florestais e a pesquisa científica, com ênfase em métodos para a exploração sustentável de florestas nativas” . É de posse e domínio públicos, e é admitida a presença de populações tradicionais que habitam por ocasião de sua criação. Dispõe de conselho consultivo e, quando criada pelo Estado ou município, é denominada, respectivamente, “floresta estadual” e “floresta municipal”. Floresta Nacional de Altamira (FNA) A Floresta Nacional de Altamira (FNA) pertence ao grupo de Unidades de Conservação de Uso Sustentável e tem como principal balizador a lei do SNUC. Considerando que uma das principais atividades em uma Floresta Nacional (Flona) é o manejo florestal sustentável de produtos madeireiros e não-madeireiros, outro instrumento legal que também deve ser considerado na análise e formulação das propostas de manejo florestal e da forma de sua operacionalização que é a Lei nº 11.284/2006 (Brasil, 2006a) e o seu Decreto de Regulamentação (Decreto nº 6063 de 20/03/07). Ela dispõe sobre a gestão de florestas públicas para produção sustentável e cria o Serviço Florestal Brasileiro, além de estabelecer a concessão florestal como um dos instrumentos legais adequado para propiciar o manejo de florestas públicas. Também visa garantir a manutenção da cobertura vegetal do País, a proteção dos ecossistemas, do solo, da água, da biodiversidade e dos valores culturais associados, bem como do patrimônio público. O Art. 3º, Inciso VII, da referida Lei, define Concessão Florestal como a delegação onerosa do direito de praticar manejo florestal para a exploração sustentável de produtos e serviços de base florestal em áreas pré-definidas, conforme as condições estabelecidas e capacidades demonstradas no âmbito de processo licitatório. As Florestas Nacionais são muito importantes para melhorarmos a performance de conservação da natureza no bioma amazônico. Diante do exposto, os parâmetros e indicações, para que a atividade de manejo florestal ocorra, estarão contidos em seu PM, inclusive a forma de exploração, que poderá ser por meio de Concessões Florestais, como está previsto no Art. 48 § 2º da Lei nº 11.284/2006. O Plano de Manejo de uma Floresta Nacional corresponde à licença prévia no processo de licenciamento da concessão. Além do PM, para que uma Flona possa entrar em processo de concessão florestal, ela deve estar contida no Plano Anual de Outorga Florestal (PAOF), que é o planejamento que orienta as concessões florestais, bem como, ter o seu Conselho Consultivo instituído. A FNA está incluída no PAOF de 2012 e também possui o seu Conselho. Ela foi criada pelo Decreto nº 2.483 de 02 de fevereiro de 1998 (Brasil, 1998), com uma área de 689.012,00 ha. Está localizada no estado do Pará, abrangendo parte dos municípios de Altamira, Trairão e Itaituba (Figura 3), integrando o Distrito Florestal Sustentável da BR-163. E compõem um mosaico de Unidades denominado “Mosaico Terra do Meio”. Tem por objetivo de criação "o manejo de uso múltiplo e de forma sustentável dos recursos naturais renováveis, a manutenção da biodiversidade, a proteção dos recursos hídricos, a recuperação de áreas degradadas, a educação florestal e ambiental, a manutenção de amostras do ecossistema amazônico e o apoio ao desenvolvimento sustentável dos recursos naturais das áreas limítrofes à Floresta Nacional”. A área abrangida pela FNA é de relevante importância ecológica, promovendo a proteção de uma parcela significativa da Floresta Amazônica. Sua gestão e o manejo dos recursos naturais devem seguir o seu Plano de Manejo. Tabela 3. Limites Municipais. ZONEAMENTO Zona de Preservação: É aquela onde a primitividade da natureza permanece o mais preservado possível, não se tolerando quaisquer alterações humanas, representando o mais alto grau de preservação. Funciona como uma matriz de repovoamento das demais zonas onde são permitidas atividades humanas regulamentadas. Possui uma área total de 93.747 hectares. Zona Primitiva: É aquela com mínima ou pequena intervenção humana, contendo espécies da flora e da fauna de relevante interesse científico. Caracteriza-se, também como uma zona de transição entre a zona de preservação e as zonas de uso, proporcionando um gradiente entre as zonas de menor e maior proteção. Possui uma área total de 99.431 hectares. Zona de Manejo Florestal Sustentável: É aquela que compreende as áreas de floresta nativa com potencial econômico para o manejo sustentável dos recursos florestais. Possui uma área de 448.407 hectares. Zona de Manejo Florestal de Baixa Intensidade: É aquela constituída em sua maior parte por áreas naturais, podendo apresentar algumas alterações humanas, destinada ao manejo florestal sustentável de baixa intensidade constituindo-se em mecanismo de conservação da biodiversidade e inclusão social. Zona de Uso Conflitante: Constitui-se em espaços localizados dentro da FNA, cujos usos e finalidades, conflitam com seus objetivos de uso e de conservação, ou nos casos em que a adequação ou extinção dos conflitos demandem um tempo maior de negociação. São áreas ocupadas por atividades como: agropecuária, mineração e garimpo. Zona de uso Público: É aquela constituída por áreas naturais ou alteradas pelo homem. O ambiente é mantido o mais próximo possível do natural e deve conter facilidades e serviços de suporte à visitação. Possui 11.781 hectares. Zona de Uso Especial: É aquela que contém as áreas necessárias à administração, manutenção e serviços da Flona. Possui 1.657 hectares. Zona de Recuperação: É aquela que contém áreas consideravelmente antropizadas. Deve ser considerada como uma zona provisória que será incorporada novamente a uma das zonas permanentes após a recuperação. Possui área total de 83 hectares. Proposta de Zona de Amortecimento: É aquela que compreende o entorno da UC onde as atividades humanas estão sujeitas a normas e restrições específicas. A zona de amortecimento constante neste plano de manejo é uma proposta de zoneamento para o entorno da unidade, que será estabelecida posteriormente por instrumento jurídico específico. Essa proposta foi resultado da discussão do ICMBio, SFB e WWF com base nas informações contidas no diagnóstico deste Plano de Manejo. Até que ela seja definida, deverão ser considerados os limites da Resolução CONAMA nº. 428 de 17 de dezembro de 2010. Possui área total de 352.755 hectares. CONCESSÃO NA FLONA DE ALTAMIRA Parte da Floresta Nacional de Altamira, no sudoeste do Pará, entrou em regime de concessão. A ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, assinou, No dia 28 de abril de 2015, o contrato de concessão de quatro unidades de manejo na região. A medida tem o objetivo de promover a sustentabilidade e a conservação ambiental da Amazônia. A concessão firmada valerá pelos próximos 40 anos e corresponderá a 362 mil hectares da Floresta. A área tem, hoje, a capacidade de produzir 200 mil metros cúbicos de madeira legal e sustentável no bioma. Com a ação, a área de florestas públicas sob regime de concessão aumentará em 75%, atingindo um total de 842 mil hectares de extensão. A Floresta Nacional de Altamira possui 725 mil hectares e abrange osmunicípios de Altamira, Itaituba e Trairão, todos no Pará. O terreno que entrou em regime de concessão é a área máxima permitida pelo plano de manejo da unidade. A expectativa é que as novas concessões gerem até R$ 80 milhões por ano e cerca de 900 empregos com carteira assinada, sendo 80% locais. Solução O principal benefício apontado pela ministra Izabella Teixeira é garantir a rentabilidade para ações de conservação capazes de frear o desmatamento. “Além de diversas ferramentas como a fiscalização e o monitoramento por satélite, é preciso haver uma solução socioeconômica para a região”, justificou. O diretor-geral do Serviço Florestal Brasileiro (SFB), Raimundo Deusdará Filho, ressaltou que a medida está em conformidade com as políticas ambientais brasileiras. “O conceito de concessão está bastante consolidado e representa ousadia e visão de futuro, não só para o manejo florestal, mas também para impedir a extração ilegal de madeira”, explicou. A medida também tem o intuito de estimular a mudança de comportamento por parte da população. De acordo com a ministra Izabella, os resultados desencadeados pela concessão aumentarão a demanda pelo produto legal na Amazônia. “Quem está comprando vai perguntar se a madeira tem certificado”, afirmou. “Não somos barreiras, somos oportunidades para um desenvolvimento mais justo”, acrescentou. Duas empresas serão as responsáveis por administrar pontos distintos da Floresta Nacional de Altamira. “A madeira com a origem garantida e certificada será um fator de atratividade para o mercado da região, além de gerar empregos”, comemorou Robson Azeredo, representante da empresa RRX Mineração e Serviços. “O projeto busca viabilizar inovações e trazer benefícios sociais e ambientais para a região”, emendou Agenor Zimmermann, da Patuá Florestal. REFERÊNCIAS Brasil. Lei Federal nº. 9.985/2000 de 18 de julho de 2000; Milaré, Edis. Direito do Ambiente: doutrina, jurisprudência, glossário. 2007, p. 653. SISTEMA NACIONAL DE UNIDADE DE CONSERVAÇÃO Docente: Amanda Rabêlo; Émerson Neves; Gustavo Spanner; João Miléo; Jarlisson Coelho; Lídia Patrícia; Márcio Souza MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ FACULDADE DE ENGENHARIA FLORESTAL
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