Buscar

lavagem de dinheiro

Prévia do material em texto

Lavagem de dinheiro: A espinha dorsal do crime organizado no Brasil
Alan Victor Martiniano da Silva[footnoteRef:1] [1: Bacharelando em Direito pelo Instituto de Educação Superior da Paraíba – IESP; e-mail: avictor.net@hotmail.com] 
Wendel Marcolino Ramos[footnoteRef:2] [2: Bacharelando em Direito pelo Instituto de Educação Superior da Paraíba – IESP; e-mail: wendelramos9@gmail.com] 
Fabiano Emidio de Lucena Martins[footnoteRef:3] [3: Mestre em Direito Econômico pelo Programa de Pós-Graduação em Ciências Jurídicas da UFPB. Delegado de Polícia Federal, exercendo atualmente suas funções na Delegacia de Repressão a Crimes Financeiros da Superintendência Regional da Paraíba. Professor do Instituto de Educação Superior da Paraíba – IESP. Pós-graduado em Direito Penal e Processo Penal pelo Centro Universitário de Brasília, onde também realizou curso de pós-graduação em didática do ensino superior.] 
Brasil, século XXI. O crime organizado tem alcançado patamares preocupantes, a mídia noticia casos de tráficos de drogas em grande escala, crises políticas aliados ao crime, guerra de facções no controle de “centros de comércios”, leia-se favelas controladas pela criminalidade, esses são alguns exemplos da situação alarmante do Brasil contemporâneo. Mas, afinal, qual a origem desse mal estruturado e por que tem arranjado tanta força? Segundo Lima (2014, p.473) “não é tarefa fácil precisar a origem das organizações criminosas”, e de fato, a bandidagem não é algo novo, tampouco a união de infratores em prol de algum delito, como por exemplo as quadrilhas e os bandos. O que torna as facções diferentes dos exemplos mencionados é o seu alcance, sua estrutura, sua forma de agir. O alcance está conectado a origem, no Brasil, as organizações são oriundas das prisões espalhadas no território nacional, que hoje em dia são consideradas verdadeiras escolas do crime. De acordo com Lima (2014, p.474) o Comando Vermelho (CV) teve início na década de oitenta, no Rio de Janeiro, mais especificamente no Presídio de Ilha Grande, objetivando dominar o tráfico de entorpecentes e reinar nos morros cariocas. Tal grupo aproveitou o espaço deixado pelo governo, ou seja, utilizou o descaso do Estado com as favelas para fazer benfeitorias e dar “proteção” aos moradores (na ficção, essa forma de agir é demonstrado pelo filme “tropa de elite”, bastante conceituado pela tentativa de mostrar a realidade do crime e das favelas Brasileiras), tendo em vista obter apoio de toda a comunidade e recrutar membros com maior facilidade. Dessa forma, os tentáculos do crime percorrem todo país, recrutando novos membros, aumentando seu alcance e cometendo crimes de estruturas cada vez maiores. As organizações criminosas são assim denominadas pela sua estrutura, embora, o termo tenha sofrido várias complicações para ser imposta no ordenamento jurídico Brasileiro, atualmente a convenção de palermo integra o termo a Legislação Brasileira, definindo como: “grupo estruturado de três ou mais pessoas, existente há algum tempo e atuando de comum acordo com o fim de cometer infrações graves, com a intenção de obter benefício econômico ou moral”. Por estrutura, podemos afirmas algumas características, segundo Gomes & Cervini (1997), para que se possa falar em Crime Organizado, seria necessário que a organização obedecesse aos mesmos pressupostos da quadrilha ou bando, e pelo menos mais três dos a seguir citados: a) previsão de acumulação de riqueza; b) hierarquia estrutural; c) planejamento “empresarial”; d) tecnologia sofisticada; e) divisão funcional de atividades; f) conexão estrutural com o Poder Público; g) oferta de prestações sociais; h) divisão territorial das atividades ilegais; i) alto poder de intimidação; j) capacidade de realizar fraudes difusas; l) conexão local ou internacional com outras organizações. Ao nível deste artigo, os itens “c” e “f” merecem nossa atenção. Winfried Hassemer afirma que dentre as características de atuação das organizações criminosas estão a corrupção do Judiciário e do aparelho político [Ziegler, 2003, p.63]. Tokatlian (2000: p. 58 a 65) constata que na Colômbia as organizações criminosas atuam de modo empresarial, procuram construir redes de influência, inclusive com as instituições do Estado, e, consequentemente, estão sempre em busca de poder econômico e político. A criminalidade se torna organizada pelo jogo criado com as autoridades, e a forma de agir, verdadeiras empresas do crime, nesse âmbito, toda empresa visa lucro e necessita de financiamento, na empresa do crime, a espinha dorsal é uma das infrações mais complicadas da atualidade: Lavagem de dinheiro. O termo lavagem de dinheiros consiste na atividade de desvinculação e/ou afastamento de bens de sua origem ilícita para que possa ser aproveitado de forma legal, ou numa linguagem mais coloquial, conforme Nuno Brandão (2002, p.15) é uma atividade pela qual se procura ocultar a origem criminosa dos bens ou produtos, dando-lhes aparência legal. A origem de tal nome (money laundering) surgiu como referência as lavanderias usadas na década 1920 por mafiosos norte-americanos a fim de sucumbir a ilicitude do dinheiro decorrente de atividades criminosas na época. Devido a globalização, tornou-se ainda mais relevante a ocorrência de lavagem de dinheiro através do crime organizado. Em 1988 mediante a Convenção de Viena foi exigido que os adeptos de tal tratado, deviam submeter-se a disposições jurídicas com o intuito de mitigar a lavagem de dinheiro. O sistema brasileiro antilavagem de dinheiro está delineado na Lei nº 9.613, de 1998, com alterações posteriores pela Lei nº 12.683, de 2012; entre as principais alterações dadas na redação da nova lei, prevê a possibilidade de responsabilização e punição para lavagem de dinheiro proveniente de qualquer origem ilícita, antes a lavagem somente se configurava crime se estivesse num rol predefinido de atividades ilícitas, como por exemplo tráfico de drogas, contrabando, extorsão mediante sequestro, crimes praticados contra administração pública, provenientes de organização criminosa, entre outros. A nova lei manteve as penas comitentes para tal delito, porém os valores das multas a serem aplicadas foram elevados. A lei nº 12.683/12 altera os dispositivos pertinentes ao Conselho de Controle de Atividades Financeiras (COAF), ampliando os tipos de profissionais que são obrigados a enviar informações sobre algumas movimentações suspeitas, englobando doleiros, empresários etc. Outra alteração notável é que passou a ser possível a apreensão de bens em nomes de “laranjas”; tais mudanças buscaram mais eficiência na persecução penal dos crimes envolvendo lavagem de dinheiro. É importante ressaltar a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) no que tange a seara discutida, em que os ministros levantam três situações; a primeira parte do pressuposto de que o acusado conhece a origem ilícita do dinheiro e age com dolo de ocultar, a segunda determinada pelos ministros foi a lavagem culposa, onde o acusado não tem conhecimento sobre a origem do dinheiro e a terceira, a lavagem com dolo eventual, onde o acusado assume o risco de receber a quantia de dinheiro mesmo diante a desconfiança que a origem seja ilícita. Entretanto surgiram discursões de suma relevância para tal seara, se tratava da controvérsia no que tange a atividade do advogado perante a defesa de seu cliente em se tratando do crime de lavagem de dinheiro, auxiliando para identificação de potencias agente de tal crime, dentre os quais, a nova redação dada pela Lei 12.683/12 em seu art. 9º inciso XIV; ainda que não seja expresso no diploma legal é notório identificar que os advogados estão dentro do rol de profissionais que prestam os serviços mencionados na redação de tal lei. Surge então uma questão importantíssima: tais advogados que atuam em casos de lavagem de dinheiro serão forçados a cumprir as normas previstas nos arts. 10 e 11 da mesma lei, levando em consideração que se deve comunicar as autoridades públicas das atividades? Sendo a resposta positiva, não implicariacom o dever de sigilo que é inerente a profissão advocatícia? Conforme a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), que emitiu um parecer a época, invocando a Lei 8.906/94 e a Carta Política de nossa pátria, onde ambas resguardam a inviolabilidade conferida ao exercício profissional da advocacia e ampla defesa ao jurisdicionado; ficando claro que a relevância da atividade advocatícia (que tem base Constitucional) parte do princípio da confiança e o dever de sigilo imposto aos advogados.
Palavras-chave: Lavagem de dinheiro. Crime organizado. Lei 12.683/2012.
Referencias: 
BRANDÃO, Nuno. Branqueamento de capitais: o sistema comunitário de prevenção. Coimbra, Portugal: Coimbra, 2002, p. 15.

Continue navegando