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CONTABILIDADE COMERCIAL AULA 3 Prof. Alison Martins Meurer 2 CONVERSA INICIAL Esta aula tem por objetivo aprofundar os aspectos relacionados ao controle de estoques. Para tanto, o Tema 1 abordará o controle de estoques por meio do inventário periódico e permanente; o Tema 2 tratará mais a fundo do inventário periódico, enquanto o Tema 3 do permanente. O Tema 4 apresentará os procedimentos de inventário de estoques e ajustes de estoques e, por fim, o Tema 5 abordará operações que alteram as compras e vendas de estoques. CONTEXTUALIZANDO Devido às diferentes operações e perfis das empresas, há a necessidade de escolher métodos para controlar estoques mais adequadamente, otimizando a organização. Assim, nesta aula estudaremos algumas dessas diferentes formas de controle e apuração de estoques. TEMA 1 – CONTROLE DE ESTOQUE: INVENTÁRIO PERIÓDICO E PERMANENTE O controle de estoques é realizado por meio de inventário periódico ou de inventário permanente. A partir dessas formas de controle, o custo da mercadoria será reconhecido na Demonstração do Resultado do Exercício (DRE). O controle por inventário periódico é realizado de periodicamente, seja de forma mensal, semestral ou anual. Com isso, no momento das vendas, o custo das mercadorias vendidas não é reconhecido e a cada período pré-definido é realizada a apuração dos valores que compõem o custo dos produtos comercializados. Essa apuração ocorre por meio da contagem física do estoque final e da valoração do mesmo. A partir disso, as compras são somadas ao estoque inicial e deduzidas do estoque final. Então, a fórmula de apuração dos custos pelo inventário periódico é: CMV = EI + Compras – Estoque Final. Já o inventário permanente controla o custo das mercadorias vendidas a cada operação, portanto oferece um nível de detalhamento mais apurado e seguro dos valores de estoques e de custos. Contudo, esse método exige o uso de fichas de controles adicionais para que o valor do custo de cada produto seja identificado corretamente. 3 Atualmente, são aceitas três formas de controle de inventário permanente no Brasil. A primeira se refere ao uso do custo médio ponderado; a segunda ao “primeiro que entra, primeiro que sai” (PEPS); e a terceira é o método de Custo Específico. Mais adiante, todas serão detalhadas. Além dessas três formas, há o método de controle de custos denominado Último que Entra Primeiro que Sai (UEPS). Entretanto, esse método não é aceito pelo fisco brasileiro e devido a isso não será objeto de discussão desta aula. Vale destacar que tanto o uso do inventário periódico como do inventário permanente exige que ao final do período de apuração seus valores estejam alinhados às quantidades físicas de mercadorias que estão no estoque da organização. Caso os valores estejam destoantes, recomenda-se o ajuste de ganhos ou perdas para que a realidade da empresa esteja representada nessas contas, conforme destacado por Iudícibus; Marion (2010). TEMA 2 – INVENTÁRIO PERIÓDICO Considere que a Companhia Andorinha possuía saldo inicial de estoque no valor de R$ 120.000. Sabe-se que no período foram realizadas compras a prazo no valor de R$ 250.000 e vendas no montante de R$ 300.000. Sobre a aquisição e a venda incide 18% de ICMS. O estoque final do período foi obtido após a contagem física dos itens e a valoração era de R$ 190.000. Assim, o saldo inicial da conta Estoques é de R$ 120.000. Quando ocorrer a compra de mercadorias será realizado o seguinte lançamento: Lançamentos segregados D – Compras (Resultado) R$ 205.000 D – ICMS a Recuperar (Ativo Circulante) R$ 45.000 C – Fornecedores (Passivo Circulante) R$ 250.000 A venda de mercadorias ocasionará os seguintes lançamentos: Lançamentos segregados D – Caixa (Ativo Circulante) R$ 300.000 C – Receita Bruta com Vendas (Resultado) R$ 300.000 D – ICMS sobre Vendas (Resultado) R$ 54.000 C – ICMS a Recolher (Passivo Circulante) R$ 54.000 Nota-se que pelo inventário periódico, as operações de compras e de vendas não alteram os saldos das contas de Estoques e do Custo das Mercadorias Vendidas. Logo, a partir da primeira compra ou da primeira venda, 4 a conta de Estoques já não representa o montante correto do saldo de estoques da organização. Assim, ao chegar no final do período é realizado o levantamento do estoque final para que o valor da conta Estoques e o Custo das Mercadorias Vendidas sejam conhecidos. Normalmente, as empresas realizam este levantamento de estoque ao final do ano, mas nada impede que seja realizado em períodos menores. Sabemos que o estoque final da Companhia Andorinha é de R$ 190.000. Então, o próximo passo é realizar os seguintes lançamentos: Lançamentos segregados D – Custo das Mercadorias Vendidas (Resultado) R$ 325.000 C – Compras (Resultado) R$ 205.000 C – Estoques (Ativo Circulante) R$ 120.000 Ao debitar as contas de Compras e Estoques pelos seus saldos, os valores serão zerados e isso permitirá que o próximo lançamento ajuste o valor do CMV e dos Estoques a partir dos valores detectados pela contagem do estoque final do período. Então vamos lá! A seguir será realizado o lançamento de reconhecimento do saldo final dos estoques: Lançamentos Segregados D – Estoques (Ativo Circulante) R$ 190.000 C – Custo das Mercadorias Vendidas (Resultado) R$ 190.000 Razonetes É possível notar que ao lançar o valor identificado na contagem de estoques, a conta Estoques ficará com o valor condizente com a realidade da empresa e a conta Custo das Mercadorias Vendidas terá seu valor ajustado e representará corretamente o valor de custo dos produtos vendidos naquele período. A conta Compras tem papel transitório e ao final do período terá seu saldo zerado, conforme observado no razonete. 5 Se aplicar a fórmula CMV = Estoque Inicial + Compras – Estoque Final, teremos os seguintes valores: CMV = R$ 120.000 + R$ 205.000 – R$ 190.000, e o resultado será de R$ 135.000, que é exatamente o valor de saldo da conta Custo das Mercadorias Vendidas. TEMA 3 – INVENTÁRIO PERMANENTE: MÉTODO DO CUSTO ESPECÍFICO, MÉTODO DO CUSTO MÉDIO E MÉTODO PEPS Conforme destacado anteriormente, ao decidir utilizar o controle por inventário permanente a organização reconhecerá contabilmente o custo de cada unidade vendida no momento da venda. Neste sentido, toda a lógica do custo das mercadorias vendidas depende do controle dos estoques realizados a partir do inventário permanente, sendo que esse controle pode ser realizado a partir de diferentes métodos. O primeiro método de controle consiste no custo específico, que é apropriado para empresas que possuem estoques em pequenas quantidades e normalmente com valores mais elevados. Nesse método de controle, o valor é específico por item e ao final do período a soma dos estoques é o preço específico de cada item. Podemos tomar como exemplo uma revendedora de carros, que pode ter em seu estoque um veículo do Modelo A ao custo de R$ 20.000, o Modelo B por R$ 25.000 e o Modelo C por R$ 30.000. Como o estoque deste tipo de organização é muito específico, com pequenas quantidades e diferentes valores, o valor de custo pode ser atribuído a cada modelo comercializado em vez de utilizar a média ou o PEPS. Portanto, se o Modelo B fosse comercializado, o valor a ser baixado dos estoques e a ser reconhecido como custo, seria de R$ 25.000. O método de custo médio ponderado pode ser dividido em custo Médio Ponderado Móvel (MPM) e custo Médio Ponderado Fixo (MPF). Quando a empresa opta por utilizar a forma móvel, significa que a média do valor de estoque é calculada a cada operação. De modo contrário, quando a entidade opta por utilizar a forma fixa,o valor da média dos estoques e as baixas das mercadorias são realizados em um período pré-definido, seja ele diário ou mensal. O custo MPM é o método mais comum e o que oferece um nível mais elevado de detalhamento dos custos. Portanto, será objeto de estudo mais aprofundado nesta aula. 6 No custo médio ponderado móvel, o valor de custo de cada nova compra é somado ao valor já existente no estoque. Com isso, o novo saldo é dividido pela quantidade de unidades existentes no estoque, sendo atualizado o custo unitário. Portanto, se a organização realizar aquisições com valores unitários diferentes dos já existentes no estoque o custo unitário será alterado. É importante destacar que as vendas não alteram o custo unitário dos produtos à medida que são reconhecidas pelo valor do custo unitário vigente à época das saídas. Por exemplo, se a empresa ABC possui 100 unidades de um item no estoque e cada item está valorado a R$ 200 e essa empresa decide adquirir mais 50 mercadorias pelo valor de R$ 250 cada, o custo unitário das mercadorias após a última aquisição será de R$ 216,666 (R$ 32.500 / 150 unidades). Os R$ 32.500 representam a soma do valor dos 100 itens adquiridos por R$ 200 cada (100 x R$ 200 = R$ 20.000), mais os 50 itens adquiridos por R$ 250 cada (50 * R$ 250 = R$ 12.500). Logo, se forem comercializadas 110 unidades o Custo das Mercadorias Vendidas será de R$ 23.833,26, que equivale ao custo médio ponderado móvel unitário multiplicado pelas quantidades comercializadas (R$ 216,666 x 110) e o saldo restante na conta Estoques será equivalente as 40 unidades restantes multiplicadas pelo valor da média ponderada de cada item, ou seja, R$ 216,666, totalizando um saldo remanescente de estoques de R$ 8.666,64. No método Primeiro que entra Primeiro que Sai (PEPS), o custo das mercadorias é reconhecido a partir da baixa dos itens mais antigos no estoque. Dessa forma, o objetivo é que o saldo dos estoques reflita o valor dos itens adquiridos mais recentemente. O objetivo desse método é sempre realizar a saída dos itens mais antigos dos estoques. Se a empresa ABC utilizasse esse método, teríamos registrado em seu estoque antes da venda 100 itens a R$ 200 e 50 itens a R$ 250. A venda de 110 itens ocasionaria a baixa das 100 unidades mais antigas por R$ 200 e mais 10 unidades por R$ 250. Logo, o Custo das Mercadorias Vendidas seria de R$ 22.500, sendo R$ 20.000 (100 x R$ 200) da baixa das mercadorias mais antigas e R$ 2.500 (10 x 250) das mercadorias mais novas. O saldo restante na conta de Estoques seria corporizado por R$ 7.500 (30 x R$ 250), equivalente ao valor das 30 unidades adquiridas mais recentemente pela empresa ABC e que ainda estão estocadas. Esses controles podem ser realizados em fichas de controle de estoques, em papel ou de modo eletrônico com o auxílio de sistemas informatizados. A 7 seguir, vamos analisar mais um exemplo comparando o controle de estoque pelos métodos MPM e PEPS a partir de um modelo de ficha de controle de estoques. Operações Realizadas: • 01/01 - Aquisição de 60 unidades por R$ 25 cada. • 05/01 - Venda de 10 unidades. • 10/01 - Venda de 15 unidades. • 17/01 - Aquisição de 80 unidades por R$ 30 cada. • 25/01 - Venda de 60 unidades. • 31/01 - Venda de 55 unidades. CONTROLE DE ESTOQUE – MÉDIA PONDERADA MÓVEL Data Entradas Saídas Saldo Qtd. Vl. Un. Vl. Total Qtd. Vl. Un. Vl. Total Qtd. Vl. Un. Vl. Total 01/01 60 25 1.500 60 25 1.500 05/01 10 25 250 50 25 1.250 10/01 15 25 375 35 25 875 17/01 80 30 2.400 115 28,478 3.275 25/01 60 28,478 1.708,68 55 28,478 1.566,32 31/01 55 2,478 1.566,32 0 0 0 TOTAL 140 3.900 140 3.900 CONTROLE DE ESTOQUE – PRIMEIRO QUE ENTRA, PRIMEIRO QUE SAI Data Entradas Saídas Saldo Qtd. Vl. Un. Vl. Total Qtd. Vl. Un. Vl. Total Qtd. Vl. Un. Vl. Total 01/01 60 25 1.500 60 25 1.500 05/01 10 25 250 50 25 1.250 10/01 15 25 375 35 25 875 17/01 80 30 2.400 35 80 115 25 30 875 2.400 3.275 25/01 35 25 60 25 30 875 750 1.625 55 30 1.650 31/01 55 30 1.650 0 0 0 TOTAL 140 3.900 140 3.900 Nota: Qtd. = Quantidade; Vl. Un. = Valor Unitário (R$); Vl. Total = Valor Total (R$). A primeira coluna da nossa ficha de controle de estoques apresenta a data na qual a operação ocorreu; em seguida, são apresentadas as colunas de quantidade, valor unitário e valor total para registro das operações de entrada; 8 logo após, as colunas destinadas ao registro das operações de saída e, por fim, as colunas que apresentam os saldos finais. Podemos perceber que as operações são apresentadas utilizando o controle por MPM e PEPS pelo fato de estarmos comparando ambos os tipos de controles. Contudo, as empresas tendem a adotar a forma de controle que melhor se ajusta ao seu modelo de negócio. Também é possível observar que entre a operação de aquisição ocorrida em 01/01 e a operação de venda realizada em 10/01, os valores apresentados no controle por MPM e PEPS são iguais. Isso se deve ao fato de que enquanto não houver aquisições do mesmo item com valores diferentes, não haverá diferenças no valor de ambas as formas de controle. A partir da aquisição realizada em 17/01 no controle por MPM, o saldo final equivale à média do custo das mercadorias existentes no estoque com as mercadorias recém-adquiridas. Já no PEPS é realizada a separação dos itens com diferentes valores. Na venda realizada em 25/01 podemos notar que há tratamentos diferenciados, pois no MPM as saídas são realizadas pela média do valor unitário das mercadorias estocadas, enquanto no PEPS primeiramente são baixados os itens mais antigos para depois serem baixados os itens adquiridos mais recentemente. Apesar de haver diferenças no saldo existente no estoque essa diferença é temporal, pois caso todas as mercadorias fossem vendidas o Custo das Mercadorias Vendidas seria o mesmo, conforme observado no total da coluna Vl; o Total das Saídas que equivale ao Custo das Mercadorias Vendidas lançado na conta de resultados. Marion (2015) resume os diferentes métodos de controle de estoques da seguinte forma: Custeio do CMV Valor do Estoque Custo Específico O estoque fica valorizado pelo custo específico de cada item. PEPS O estoque fica valorizado pelas últimas entradas remanescentes. Médio O estoque fica valorizado pelo preço médio ponderado. Fonte: Adaptado de Marion, 2015. TEMA 4 – PROCEDIMENTO DE INVENTÁRIO DE ESTOQUES E CONTABILIZAÇÃO DAS DIFERENÇAS APURADAS Marion (2015) cita a importância da verificação do estoque físico para confrontação com os valores registrados no inventário permanente. Tal 9 verificação é realizada a partir da contagem física dos itens estocados pela empresa. Realizar tal procedimento é fundamental para que no momento em que se elabora o balanço patrimonial das empresas seja possível validar o valor contábil de estoques com os montantes físicos, além de confirmar a quantidade de mercadorias e materiais em estoque que estão em condições de uso ou venda. Para empresas de grande porte, cuja a validação das demonstrações contábeis deve ser realizada por auditoria externa, esse é um procedimento exigido para fins de validação. Determinadas empresas mantêm isso como uma boa prática de controle interno, de forma que o estoque seja mantido com qualidade e com maior grau de acuracidade. Neste sentido, é essencial que alguns cuidados sejam tomados, conforme detalhado adiante. Primeiro, a entidade deve definir o período que será realizada a contagem e não realizar operações de compras, vendas ou outras que possam vir a movimentar os estoques durante este período. Além disso, é preciso que seja definida a data da última compra e da última venda que será considerada na verificação da contagem física. Qualquer mercadoria adquirida ou vendida após essas datasdefinidas como corte deverá ser desconsiderada para que a contagem não seja afetada por operações que venham a ocorrer durante esse período. Adicionalmente, é preciso que haja organização física dos itens, mantendo mercadorias iguais estocadas em um mesmo local. Após verificar a quantidade física dos itens, estes deverão ser valorados conforme um dos critérios para controle de estoques detalhados no tópico anterior, e o valor obtido deverá ser confrontado com o existente na ficha de estoque e com o saldo contábil. Caso haja diferenças entre a quantidade física dos itens e a quantidade registradas no controle dos estoques, ajustes deverão ser efetuados. Martins (2008) cita a importância de identificar se essas diferenças são perdas normais ou anormais. As perdas normais são inerentes ao processo produtivo e estão previstas pela organização, por exemplo, sobras de corte de madeiras utilizadas para fabricação de móveis. Já as perdas anormais não são previstas pela organização e ocorrem de forma involuntária, seja por obsolescência, degeneração, incêndio, roubo ou outros motivos. Contabilmente, as perdas normais são baixadas do estoque e incorporadas ao Custo das Mercadorias Vendidas. Por sua vez, as perdas 10 anormais devem ser reconhecidas como despesas, não onerando o custo das mercadorias comercializadas pela organização. Por exemplo, suponha que o saldo final da ficha de estoque de determinada mercadoria da Companhia ABC seja o seguinte: Data Entradas Saídas Saldo Qtd. Vl. Un. Vl. Total Qtd. Vl. Un. Vl. Total Qtd. Vl. Un. Vl. Total 31/12 70 20 1.400 Nota: Qtd. = Quantidade; Vl. Un. = Valor Unitário (R$); Vl. Total = Valor Total (R$). Contudo, a contagem física apontou que há 65 unidades desta mercadoria. Caso essa diferença fosse inerente ao processo produtivo, então o ajuste contábil deveria ser realizado da seguinte forma: Lançamentos Segregados D – Custo das Mercadorias Vendidas R$ 100 C – Estoques de Mercadorias R$ 100 Porém, se essa diferença fosse derivada de uma perda anormal, tal como um roubo, o ajuste de estoques seria realizado contra uma conta de despesa: Lançamentos Segregados D – Perdas e Quebras de Estoques R$ 100 C – Estoques de Mercadorias R$ 100 Em ambos os casos, um ajuste na ficha de controle de estoques deverá ser realizado para que seu valor esteja alinhado com a realidade física dos estoques e com o valor escriturado na contabilidade: Data Entradas Saídas Saldo Qtd. Vl. Un. Vl. Total Qtd. Vl. Un. Vl. Total Qtd. Vl. Un. Vl. Total 31/12 70 20 1.400 31/12 5 20 100 65 20 1.300 Nota: Qtd. = Quantidade; Vl. Un. = Valor Unitário (R$); Vl. Total = Valor Total (R$). Portanto, ao final da contagem física de estoques e dos ajustes necessários, os valores e a quantidade física dos itens deverão ser os mesmos tanto na ficha de controle de estoque como no saldo da conta de estoques. 11 TEMA 5 – FATOS QUE ALTERAM O VALOR DAS COMPRAS E DAS VENDAS: DEVOLUÇÕES, ABATIMENTOS, DESCONTOS CONDICIONAIS E INCONDICIONAIS Diversas situações podem ocasionar a devolução de uma mercadoria. Se tratando das operações de compras, divergências na qualidade e no tipo dos produtos recebidos ou na quantidade podem fazer com que a organização opte por realizar a devolução dos itens junto ao seu fornecedor. Caso alguma mercadoria seja devolvida para o fornecedor, é necessário que a ficha de controle de estoques e o saldo contábil desta conta seja ajustado. Em relação à ficha de controle de estoques, a devolução de compras deverá ser lançada com sinal negativo nos campos referentes à entrada de mercadorias e pelo valor de aquisição dos itens que estão sendo devolvidos. Tal procedimento é realizado para ajustar de maneira correta os estoques, pois se a organização considerasse as devoluções de compras como uma saída, o Custo das Mercadorias Vendidas seria impactado de modo incorreto. Para exemplificar, considere o seguinte exemplo da Companhia ABC: Operações Realizadas • 01/01 - Aquisição de 60 unidades a prazo, por R$ 25 cada. • 05/01 - Venda de 10 unidades. • 10/01 - Venda de 15 unidades. • 15/01 - Devolução de 20 unidades devido a defeitos; aquisição realizada em 01/01. Data Entradas Saídas Saldo Qtd. Vl. Un. Vl. Total Qtd. Vl. Un. Vl. Total Qtd. Vl. Un. Vl. Total 01/01 60 25 1.500 60 25 1.500 05/01 10 25 250 50 25 1.250 10/01 15 25 375 35 25 875 15/01 (20) 25 (500) 15 25 375 Nota: Qtd. = Quantidade; Vl. Un. = Valor Unitário (R$); Vl. Total = Valor Total (R$). O lançamento contábil referente a essa operação é o seguinte: Lançamentos Segregados D – Fornecedores R$ 500 C – Estoques R$ 500 Em suma, observamos que o lançamento das devoluções de compras representa um estorno da operação de aquisição da mercadoria. 12 Outra operação que pode afetar o valor das mercadorias adquiridas é o abatimento sobre compras. Ele não deve ser confundido com os descontos comerciais, visto que não ocorre no ato da transação, mas, sim, após o recebimento das mercadorias. Os abatimentos tendem a ser concedidos quando há divergências entre o pedido realizado e as mercadorias recebidas. Para exemplificar, suponha que a Companhia ABC tenha recebido em 16/01 um desconto de R$ 100 do fornecedor para que as demais mercadorias não fossem devolvidas. Assim, teríamos a seguinte representação da ficha de controle dos estoques: Data Entradas Saídas Saldo Qtd. Vl. Un. Vl. Total Qtd. Vl. Un. Vl. Total Qtd. Vl. Un. Vl. Total 01/01 60 25 1.500 60 25 1.500 05/01 10 25 250 50 25 1.250 10/01 15 25 375 35 25 875 15/01 (20) 25 (500) 15 25 375 16/01 (100) 15 18,333 275 Nota: Qtd. = Quantidade; Vl. Un. = Valor Unitário (R$); Vl. Total = Valor Total (R$). O lançamento contábil referente a essa operação é o seguinte: Lançamentos Segregados D – Fornecedores R$ 100 C – Estoques R$ 100 Assim como nas devoluções de compra, o abatimento sobre compras deve ser registrado com valor negativo na ficha de controle de estoques e baixado da conta de estoques e da conta creditada na aquisição das mercadorias. Referente às devoluções de vendas, conforme visto na Aula 2, financeiramente estas são redutoras das receitas e em termos de custos também devem ser ajustadas na ficha de estoque. Tal ajuste é realizado com sinal negativo nas colunas referentes às saídas, pois representam estorno do Custo das Mercadorias Vendidas. Suponha que o cliente que realizou a aquisição do dia 10/01 decida realizar a devolução de 5 unidades no dia 20/01. Teremos a seguinte representação na ficha de controle de estoques: 13 Data Entradas Saídas Saldo Qtd. Vl. Un. Vl. Total Qtd. Vl. Un. Vl. Total Qtd. Vl. Un. Vl. Total 01/01 60 25 1.500 60 25 1.500 05/01 10 25 250 50 25 1.250 10/01 15 25 375 35 25 875 15/01 (20) 25 (500) 15 25 375 16/01 (100) 15 18,333 275 20/01 (5) 25 (125) 10 15 150 Nota: Qtd. = Quantidade; Vl. Un. = Valor Unitário (R$); Vl. Total = Valor Total (R$). O lançamento contábil referente a essa operação é o seguinte: Lançamentos Segregados D – Estoques R$ 125 C – Custo das Mercadorias Vendidas R$ 125 Os descontos podem ser classificados em incondicionais (comerciais) ou condicionais (financeiros), pois têm alguma condição a ser cumprida para que o desconta seja concedido. Os descontos incondicionais ocorrem no ato da operação de compra e venda. Por exemplo, as mercadorias adquiridas em 01/01 pela companhia ABC eram vendidas pelo fornecedor por R$ 30 cada. Contudo, devido a negociações realizadas, a companhia ABC conseguiu adquiri-las por R$ 25 cada. Nesse exemplo, nota-se que o valor total original era de R$ 1.800 (R$ 30 x 60) e que devido às negociações o valor final foi de R$ 1.500 (R$ 25 x 60). Logo, o valor a ser registrado contabilmente é o valor líquido da transação,ou seja, o valor pago no caso da Companhia ABC, ou o valor recebido no caso do fornecedor. O lançamento realizado pela Companhia ABC é o seguinte: Lançamentos Segregados D – Estoques R$ 1.500 C – Fornecedores R$ 1.500 Já os descontos condicionais normalmente acontecem pela liquidação antecipada de uma obrigação ou de um direito a receber da empresa. Suponha que a Companhia ABC tenha obtido um prazo de 60 dias para realizar o pagamento da aquisição ocorrida em 10/01. Contudo, a empresa decide antecipar o pagamento desta obrigação via Caixa e obtém um desconto de R$ 100. Assim, teríamos o seguinte lançamento contábil a ser realizado: 14 Lançamentos Segregados – Companhia ABC D – Fornecedores R$ 1.500 C – Caixa R$ 1.400 C – Descontos Obtidos (Receitas Financeiras) R$ 100 Lançamentos Segregados – Fornecedor da Companhia ABC D – Caixa R$ 1.400 D – Descontos Concedidos (Despesa Financeira) R$ 100 C – Clientes R$ 1.500 Nota-se que os descontos condicionais representam uma receita financeira no caso de descontos obtidos ou uma despesa financeira para o caso de descontos concedidos. Pelo fato de serem uma negociação ocorrida a partir de condições de pagamento que transcendem os aspectos operacionais da organização, tais operações não devem afetar o Custo das Mercadorias Vendidas nem as fichas de controle de estoques. TROCANDO IDEIAS Elenque as principais diferenças entre os métodos de controle de estoques de custo específico, MPM e PEPS e responda: Quais são as vantagens e desvantagens de cada um deles? O que a organização deve considerar na escolha do método de controle de estoques a ser utilizado? NA PRÁTICA 1) A Companhia Beta realizou as seguintes operações em janeiro: • 01/01 - Aquisição de 10 unidades por R$ 20. • 05/01 - Aquisição de 5 unidades por R$ 15. • 06/01 - Venda de 5 unidades pertencentes às mercadorias adquiridas em 05/01. Qual é o Custo das Mercadorias Vendidas utilizando cada método de controle de estoques (Custo Específico, MPM e PEPS)? Gabarito Custo específico. Custo das Mercadorias Vendidas: 5 unidades x R$ 15 (valor das mercadorias adquiridas em 05/01) = R$ 75 15 MPM Data Entradas Saídas Saldo Qtd. Vl. Un. Vl. Total Qtd. Vl. Un. Vl. Total Qtd. Vl. Un. Vl. Total 01/01 10 20 200 10 20 200 05/01 5 15 75 15 18,333 275 06/01 5 18,333 91,66 10 18,333 183,34 Custo das Mercadorias Vendidas: R$ 91,66. PEPS Data Entradas Saídas Saldo Qtd. Vl. Un. Vl. Total Qtd. Vl. Un. Vl. Total Qtd. Vl. Un. Vl. Total 01/01 10 20 200 10 20 200 05/01 5 15 75 10 5 15 20 15 200 75 275 06/01 5 20 100 5 5 10 20 15 100 75 175 Custo das Mercadorias Vendidas: R$ 100. 2) Quais são os lançamentos contábeis a serem realizados quando: a) uma empresa recebe desconto por pagamento adiantado via caixa de mercadorias compradas a prazo. Gabarito D – Fornecedores C – Caixa C – Descontos Obtidos (Receita Financeira) b) uma empresa fornece abatimento no valor de mercadorias vendidas a prazo para seu cliente. Gabarito D – Abatimentos sobre Vendas (Redutora da Receita Bruta com Vendas) C – Clientes c) uma empresa realiza devolução de compras realizadas a prazo. Gabarito D – Fornecedores C – Estoques 16 d) uma empresa recebe devolução de vendas realizadas a prazo. Gabarito D – Devolução de Vendas Redutora da Receita Bruta com Vendas) C – Clientes FINALIZANDO Aprendemos nesta aula os diferentes controles de estoques, como estruturar as fichas de controle de estoques e alguns tipos de operações que afetam os valores das compras e vendas. Compreender as peculiaridades dessas diferentes operações é importante, pois estas ocorrem cotidianamente nas empresas e estão diretamente relacionadas à posição patrimonial e econômica da empresa. Vamos lá, contadores! Até a próxima aula! 17 REFERÊNCIAS MARTINS, E. Contabilidade de Custos. 9 ed. São Paulo: Atlas, 2008. MARION, J. C. Contabilidade Empresarial. 17 ed. São Paulo: Atlas, 2015. IUDÍCIBUS, S.; MARION, J. C. Contabilidade Comercial. 11 ed. São Paulo: Gen, 2019. Conversa inicial Contextualizando TEMA 1 – CONTROLE DE ESTOQUE: INVENTÁRIO PERIÓDICO E PERMANENTE TEMA 2 – INVENTÁRIO PERIÓDICO TEMA 3 – INVENTÁRIO PERMANENTE: MÉTODO DO CUSTO ESPECÍFICO, MÉTODO DO CUSTO MÉDIO E MÉTODO PEPS TEMA 4 – PROCEDIMENTO DE INVENTÁRIO DE ESTOQUES E CONTABILIZAÇÃO DAS DIFERENÇAS APURADAS TEMA 5 – FATOS QUE ALTERAM O VALOR DAS COMPRAS E DAS VENDAS: DEVOLUÇÕES, ABATIMENTOS, DESCONTOS CONDICIONAIS E INCONDICIONAIS Trocando ideias Na prática FINALIZANDO REFERÊNCIAS
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