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Apostila - oriente médio

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Livro Eletrônico
Aula 31
Política Internacional p/ CACD (Primeira e Segunda Fases) - Com
Videoaulas - Pós-Edital
Alexandre Vastella, Filipe Martins
Prof. Filipe Martins e Prof. Alexandre Vastella 
Aula 31 – Oriente Médio e seus impactos nas Relações Internacionais 
 
 
 
1 
60 
 
 
Política Internacional 
Aula 31 – Oriente Médio e seus impactos nas Relações Internacionais 
Introdução ao PDF ............................................................................................................. 2 
Oriente Médio e aspectos gerais ........................................................................................ 2 
Delimitação do Oriente Médio ....................................................................................................................... 2 
Região estratégica ......................................................................................................................................... 8 
Oriente Médio na história ................................................................................................ 12 
Oriente Médio na Antiguidade e Idade Média – crescente fértil e surgimento do Islã ............................... 12 
Oriente Médio na Modernidade – imperialismo europeu e ocupação colonial .......................................... 14 
Oriente Médio no século XX – fim do Império Otomano e Acordo de Sykes-Pikot ...................................... 15 
Oriente Médio após a Segunda Guerra – a criação do Estado de Israel ...................................................... 18 
Oriente Médio e questões atuais ..................................................................................... 21 
Conflito Israel versus Palestina .................................................................................................................... 21 
As disputas regionais entre Irã e Arábia Saudita ......................................................................................... 33 
Primavera Árabe e Guerra da Síria .............................................................................................................. 38 
Detalhamento da Primavera Árabe por país ............................................................................................... 45 
Tunísia – Início da Primavera Árabe, Revolução de Jasmim e queda de regime ............................................................ 47 
Egito – Queda de Mubarak, Irmandade Muçulmana assume o poder e é deposta por militares ................................. 48 
Líbia – Morte de Gadaffi, embargos ocidentais e “paraíso de terroristas” .................................................................... 50 
Iêmen – Conflito com assassinatos, formação de duas capitais e levante xiita contra o governo ................................ 52 
Síria – No caso mais complicado da Primavera Árabe, diversos grupos disputam o poder ........................................... 54 
 
Alexandre Vastella, Filipe Martins
Aula 31
Política Internacional p/ CACD (Primeira e Segunda Fases) - Com Videoaulas - Pós-Edital
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Prof. Filipe Martins e Prof. Alexandre Vastella 
Aula 31 – Oriente Médio e seus impactos nas Relações Internacionais 
 
 
 
 
 
 
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Introdução ao PDF 
 Nesta aula, estudaremos os principais aspectos econômicos, históricos, religiosos e políticos do 
Oriente Médio e seus impactos nas Relações Internacionais. Primeiramente, entenderemos porque se 
trata de uma região estratégica dos pontos de vista cultural, comercial e geográfico e, além disso, porque é 
tão difícil delimitá-la – os Estados Unidos e o Brasil, por exemplo, possuem distintas concepções de 
“Oriente Médio”. 
Ao longo de nossa aula, faremos uma breve retrospectiva histórica da região, desde o crescente 
fértil na Antiguidade, até o surgimento e a expansão do islamismo e o colonialismo/imperialismo dos 
últimos três séculos do milênio. Estudaremos como a Europa repartiu a região de acordo com seus 
interesses expansionistas e como foi formado o Estado de Israel – entendendo também, os principais 
pontos de divergência entre árabes e palestinos. 
Também faremos um panorama dos conflitos atuais na região, sob a ótica das rivalidades entre 
Arábia Saudita e Irã – duas potências regionais apoiadas, respectivamente, pelos Estados Unidos e pela 
Rússia. Veremos como essa disputa pela hegemonia regional se reflete na Primavera Árabe e na Guerra da 
Síria, dois dos principais acontecimentos contemporâneos na região. Nesses dois casos, estudaremos cada 
um dos atores envolvidos e seus posicionamentos centrais. É uma aula um pouco mais longa que as 
demais, porém, com a profundidade que o assunto merece. 
 
Oriente Médio e aspectos gerais 
Delimitação do Oriente Médio 
 Antes de iniciarmos o PDF, é importante relembrarmos que, conforme vimos na Aula 14, não há 
uma definição clara sobre o que é Oriente Médio. Trata-se de um conceito que envolve muitas 
dubiedades. Na diplomacia dos Estados Unidos, por exemplo, há a ideia de “Grande Oriente Médio”, uma 
área que engloba uma grande quantidade de países, incluindo a totalidade do norte da África. Já para a 
diplomacia brasileira, considera-se como “Oriente Médio” os seguintes países: Arábia Saudita, Bahrein, 
Catar, Egito, Emirados Árabes Unidos, Iêmen, Irã, Iraque, Israel, Jordânia, Kuwait, Líbano, Omã, Palestina, 
Síria e Turquia. Para a diplomacia brasileira, a Líbia e o Afeganistão, por exemplo, não fazem parte do 
Oriente Médio – embora sejam assim classificados para a OCDE e para a diplomacia dos Estados Unidos. Há 
quem inclua, por exemplo, o Marrocos no Oriente Médio e também, há quem não o faça. 
 Nas imagens abaixo, podemos ver as diferenças de abrangência entre o Oriente Médio, o Mundo 
Árabe e o Mundo Islâmico. Países de pequeno território como Palestina, Bahrein e Kuwait não foram 
representados, pois não seria possível desenhar em cima deles. 
 
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Aula 31 – Oriente Médio e seus impactos nas Relações Internacionais 
 
 
 
 
 
 
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Não confundir – Oriente Médio, Mundo Árabe, Mundo Islâmico. 
1 – Norte da África + Oriente Médio 
Duas regiões geográficas, às vezes sobrepostas, de difícil delimitação, algo parecido com a imagem abaixo: 
 
2 – Oriente Médio (segundo a diplomacia brasileira) 
O Oriente Médio é uma região geográfica que abrange parte de dois continentes: África e Ásia. No 
entanto, é uma área de difícil delimitação, sem um consenso claro do que realmente é “Oriente Médio”. 
 A diplomacia brasileira considera os seguintes países como sendo parte do Oriente Médio: Arábia Saudita, 
Bahrein, Catar, Chipre, Egito, Emirados Árabes Unidos, Iêmen, Irã, Iraque, Israel, Jordânia, Kuwait, 
Líbano, Omã, Palestina, Síria e Turquia, conforme imagem a seguir: 
 
3 – Mundo islâmico 
Grupo de países que tem o islamismo como religião majoritária. Na maioria das vezes, coincide com os 
países árabes, mas não é a mesma coisa – árabe é um povo e islã é uma religião. Com exceção de Israel 
(destaque abaixo), todos os outros países do Norte da África e Oriente Médio são de maioria muçulmana: 
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4 – Mundo árabe 
Grupo de países de maioria árabe, relativo ao povo árabe, portanto. Turquia (maioria turca), Irã (maioria 
persa) e Israel (maioria judia) NÃO fazem parte do mundo árabe – ainda que Turquia e Irã façam parte do 
Mundo Islâmico. Conforme a imagem: 
 
 Recapitulando... 
Mundo árabe 
(agrupamento por povo) 
Conjunto depaíses de maioria árabe, do povo árabe, portanto. 
Embora façam parte do Oriente Médio, Israel (judeus), Irã (persas) e Turquia 
(turcos) não fazem parte do mundo árabe, porque possuem maioria de outros 
povos. 
O mundo árabe também engloba países de maioria árabe e muçulmana, mas 
que possuem minorias de outras religiões, como os cristãos, por exemplo. 
Mundo islâmico 
(agrupamento por 
religião) 
Conjunto de países de maioria muçulmana, que professa o islamismo. 
Embora não façam parte do mundo árabe, Irã (muçulmano) e Turquia 
(muçulmano também) fazem parte do mundo islâmico, pois os persas e os 
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turcos adotam o islamismo como religião. 
Israel não faz parte nem do mundo árabe, nem do mundo muçulmano. 
Oriente Médio 
(agrupamento por região) 
Embora predominem os povos árabes e o islamismo como religião, o Oriente 
Médio é um agrupamento geográfico, nem sempre com limites consensuais, 
no qual predominam vários povos e religiões: árabes, judeus, persas, 
muçulmanos, cristãos, etc. Abrange parte da África e parte da Ásia, dois 
continentes, portanto. 
 Oficialmente, de acordo com o Itamaraty, utiliza-se o termo Oriente Médio para a política externa 
brasileira. Vejamos mais informações: 
Mundo Árabe, Magreb e Mashreq 
Conceito de mundo árabe é amplo 
– Abrange povos de etnia não apenas árabe e também engloba povos de religiões minoritárias não– 
islâmicas 
 
Ponto de vista geográfico: 2 regiões 
– Magreb (parte ocidental, oeste da Líbia): 
– Mashreq (parque oriental, leste da Líbia): 
 
– A Liga Árabe abrange 22 países árabes 
– União do Magreb Árabe abrange apenas países do Magreb. 
 Do ponto de vista geográfico, há duas sub-regiões distintas: o Magreb e o Mashreq. O primeiro é 
compreendido pelos países a oeste da Líbia, englobando Mauritânia, Marrocos, Saara Ociedental, Tunísia 
e Argélia. Já o segundo grupo, países a leste da Líbia, englobando Edito, Sudão, Jordânia, Líbano, entre 
outros. . 
Outra forma de regionalização – Magreb x Mashreq 
 
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Magreb Parte ocidental da Líbia Mauritânia, Marrocos, Saara Ocidental, Tunísia, Argélia e Líbia 
Mashreq Parte oriental da Líbia Egito, Síria, Líbano, Sudão, Jordânia, etc. 
 Para complicar um pouco mais, não podemos confundir esses termos geográficos com as duas 
organizações internacionais nessa região que são: o bloco econômico União do Magreb Árabe e o grupo de 
cooperação Liga de Estados Árabes (conhecida como Liga Árabe). Vejamos mais detalhes abaixo: 
 
Liga de Estados Árabes (Liga Árabe). 
Fundada em 1945. 
Membros: Arábia Saudita, Argélia, Bahrein, Catar, Comores, 
Djibouti, Egito, Emirados Árabes, Iêmen, Iraque, Jordânia, 
Kuwait, Líbano, Líbia, Marrocos, Mauritânia, Omã, Palestina, 
Síria, Somália, Sudão e Tunísia. 
Um grupo de cooperação e concertação política entre os 
Estados árabes, a fim de aumentar a integração regional e o 
poder de barganha no sistema internacional. Perceba que há 
uma grande quantidade de membros. 
 
União do Magreb Árabe 
Fundado em 1989. 
Membros: Argélia, Tunísia, Líbia, Marrocos e Mauritânia. 
 
Um bloco econômico com objetivo de livre circulação de 
capitais, pessoas, serviços e mercadorias; além da adoção de 
políticas econômicas comuns. 
 Embora esteja longe de ser homogêneo, o mundo árabe é um grupo mais coeso do que o Oriente 
Médio como um todo, possuindo elementos aglutinadores em comum, dos quais se destacavam: a 
independência em relação aos países europeus e a rejeição à Israel. Em alguns momentos da história, esta 
união promoveu a ideologia pan-arabista – a defesa de interesses próprios do mundo árabe e, em alguns 
casos, a integração territorial formando um único grande mundo árabe com instituições integradas. 
Elementos aglutinadores do mundo árabe 
Independência 
em relação 
aos países 
europeus 
A maioria dos países árabes foi colônia de países europeus, especialmente Reino Unido e 
França. Por isso, precisaram lidar, quase que simultaneamente, com o processo de 
descolonização. Não somente “descolonização” em si mesmo, a independência 
propriamente dita, mas também – e, principalmente – o fato de se livrarem 
definitivamente do domínio das antigas metrópoles, conquistando a independência de 
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fato. Vimos, na aula passada, que esse processo também ocorreu na África subsaariana e 
nas demais partes do globo. 
Diante dessas dificuldades em comum, houve – e ainda há – grande convergência entre 
os países árabes, uma solidariedade mútua no sentido de garantir que o processo de 
descolonização realmente se consolide, inclusive no âmbito do desenvolvimento 
independente das antigas metrópoles. 
Rejeição ao 
Estado de 
Israel criado 
em 1948 
O segundo elemento aglutinador é o conflito existente entre Israel e Palestina. Podemos, 
inclusive, ampliá-lo, dizendo que é um conflito entre Israel e os povos árabes. 
Neste caso, há um inimigo em comum que não faz parte da mesma etnia, um “corpo 
estranho” na região. E isso une o povo árabe em torno de um objetivo comum, inclusive, 
motivando decisões em conjunto na Liga Árabe. 
Mais à frente veremos que, ao contrário do que muitos pensam, a maioria dos conflitos 
no Oriente Médio não envolve Israel – a exemplo da Primavera Árabe e das guerras civis 
do Iêmen e da Síria. Se o conflito Israel x Palestina fosse resolvido (o que seria muito 
difícil, infelizmente), mesmo assim, o mundo árabe continuaria envolvido em disputas. 
 De forma geral, as relações do Brasil com o Oriente Médio são muito recentes, em sua maioria 
consolidadas nos anos 1970 – os Estados Unidos e a Argentina, por exemplo, se relacionam conosco pelo 
menos desde o século XIX. Na tabela abaixo, é possível visualizar o ano de estabelecimento de relações 
diplomáticas com o Brasil, de acordo com cada país da região: 
Estabelecimento de relações diplomáticas com o Brasil 
 
1858/1923 – Turquia 
 
1968 – Arábia Saudita 
 
1903 – Irã 
 
1968 – Kuwait 
 
1924 – Egito 1974 – Qatar 
 
1945 – Líbano 
 
1974 – Emirados Árabes Unidos 
 
1949 – Israel 
 
1974 – Omã 
 
1952 – Síria 
 
1980 – Bahrein 
 
1959 – Jordânia 
 
1984/1990 – Iêmen 
 
1967 – Iraque 
 
2010 – Palestina 
 Um dos primeiros países da região a ter relações estabelecidas com o Brasil foi a Turquia; na 
verdade, o Império Turco-Otomano, ainda em 1858, na época do Brasil-Império. Com o final da Primeira 
Guerra Mundial, este grande império chegou ao fim, dando origem a Turquia e a demais países 
independentes. Neste novo cenário, o Brasil reconheceu a Turquia e estabeleceu relações diplomáticas 
com o país em 1923. No ano seguinte, em 1924, estabeleceu relações com o Egito. 
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 Após a Segunda Guerra Mundial, o Brasil estabeleceu relações com o Líbano (1945) e com o recém-
criado Estado de Israel (1947), cujoprocesso teve relevante participação do diplomata brasileiro Oswaldo 
Aranha. E, posteriormente, veio a Jordânia (1959). Nesta época, conforme veremos ainda nesta aula, o 
Brasil mantinha equidistância entre Israel e os povos árabes, se mantendo neutro no conflito. 
 Foi durante o Governo Militar (1964 – 1985) que ocorreu a maior parte de abertura de relações 
diplomáticas, aprofundando a Política Externa Independente. Durante o Governo Costa e Silva (1967 – 
1969), foram costuradas relações com Iraque (1967), Arábia Saudita (1968) e Kuwait (1968). Durante o 
Governo Geisel (1974 – 1979), na época do Pragmatismo Responsável e Ecumênico, foram abertas relações 
com Qatar, Emirados Árabes Unidos e Omã – os três em 1974, no primeiro ano do novo mandato e 
imediatamente após o Choque do Petróleo, de 1973. Posteriormente, Bahrein (1980) e Iêmen (1984) – em 
1990, houve a unificação do Iêmen, processo que o Brasil imediatamente reconheceu. 
 O último Estado a ter relações oficiais estabelecidas com o Brasil foi a Palestina (2010), no final do 
segundo mandato do Governo Lula. Embora durante o governo Geisel, nos anos 1970, tivesse sido 
estabelecido um escritório da Organização para a Libertação Palestina (OLP) no Brasil, ainda não havia 
vínculos oficiais desde então. O Brasil, apesar disso, não abandonou a equidistância no conflito árabe-
israelense. Todas as informações acima, já foram vistas na Aula 14. 
Oriente Médio para OCDE Oriente Médio para o Itamaraty 
 
Engloba uma 
grande área 
desde a Península 
Arábica, 
passando pelo 
norte da África e 
partes da Ásia 
Central. 
 
Apenas Península 
Arábica e alguns 
arredores. Da 
África, somente o 
Egito – por conta 
da Península do 
Sinai. 
Região estratégica 
Devemos entender é que o Oriente Médio é uma região estratégica no sistema internacional. Do 
ponto de vista econômico, além de apresentar grande crescimento, é berço de vultosas reservas de 
petróleo e gás. Do ponto de vista cultural, é berço das três principais religiões globais – judaísmo, 
cristianismo e islamismo. Do ponto de vista histórico e geográfico, foi – e ainda é – local de conexão entre 
Europa, África e Ásia, três continentes que estão conectados muito antes dos europeus chegarem à 
América, sobretudo por meio da Rota da Seda e do Canal de Suez. Conforme o quadro abaixo: 
Oriente Médio – impacto da região nas relações internacionais 
Impacto econômico 
Crescimento médio de Os países do Oriente Médio apresentam um grande potencial de crescimento e 
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2,6% ao ano atualmente, crescem em torno de 2,6% ao ano. Além de terem grandes reservas 
de gás e petróleo, são estratégicos para o comércio mundial: além da localização 
estratégica entre os três continentes, também contam com um grande mercado 
consumidor. 
O Iraque, por exemplo, tem crescido em elevadas taxas após a intervenção 
americana – em alguns anos, chegou a crescer 10%. No mais, a região é dotada 
de países relativamente prósperos como as potências regionais Irã, Israel e 
Arábia Saudita e também, os ricos Emirados Árabes e Qatar. 
Cerca de 50% das 
reservas globais de 
petróleo 
Cerca de 40% das 
reservas globais de gás 
natural 
O Oriente Médio possui cerca de 50% das reservas globais de petróleo e 40% das 
reservas globais de gás natural. Ou seja, é bastante expressivo no setor de 
energia. 
Ainda que energias renováveis estejam sendo cada vez mais utilizadas, é inegável 
a dependência que o Ocidente tem dos hidrocarbonetos, especialmente a 
indústria e o setor militar. Logo, há uma grande dependência com o Oriente 
Médio. 
Impacto cultural 
Conflitos identitários e 
envolvimento de 
grandes potências 
 
Na dimensão cultural, o Oriente Médio possui diversos conflitos identidários 
entre os diversos grupos tribais, étnicos e religiosos que, na maioria das vezes, 
são acompanhados de perto pelas grandes potências, especialmente Estados 
Unidos e Rússia que, normalmente, possuem posicionamentos antagônicos. 
Tradicionalmente, o Oriente Médio sempre foi uma das preocupações prioritárias 
da política externa de Washington. Estamos acompanhando, por exemplo, as 
polêmicas da transferência de embaixada americana para Jerusalém e os últimos 
desdobramentos da Guerra na Síria. 
Berço de religiões 
abrâmicas 
Apesar dos conflitos, o aspecto cultural mais importante do Oriente Médio é o 
fato de ter sido berço das religiões abraâmicas – judaísmo, cristianismo e 
islamismo. Ou seja, religiões seguidas pela maior parte da população global – 
ainda que o judaísmo seja menos expressivo numericamente que as outras duas. 
Podemos dizer, portanto, que o Oriente Médio é um dos berços da civilização 
ocidental e, além disso, berço da civilização islâmica que lá habita. Para os 
europeus e, para nós, americanos, a moral judaico-cristã exerce grande peso. E, 
para os muçulmanos, os ensinamentos do corão. Tudo isso surgiu exatamente 
no Oriente Médio. 
Impacto geográfico 
Histórica rota 
comercial terrestre e 
marítima 
Região 
estrategicamente 
Do ponto de vista geográfico, o Oriente Médio é uma histórica rota comercial 
terrestre e marítima, sendo uma região estrategicamente situada entre a 
Europa, África e Ásia. Muito antes dos europeus chegarem à América, esses três 
continentes já estavam há muito tempo conectados, sendo o Oriente Médio a 
principal área de conexão entre eles. 
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situada entre a 
Europa, África e Ásia 
Podemos citar, por exemplo, a Rota da Seda entre a Ásia e a Europa, bem como o 
Canal de Suez; e, a própria existência do Império Otomano, um importante 
articulador desde pelo menos o século XIII. 
Canal de Suez O Canal de Suez merece destaque especial porque consiste no ponto de conexão 
entre a saída do Mar Mediterrâneo e os continentes asiático e africano. 
Devido à sua posição estratégica, o Canal de Suez tem sido alvo de intensas 
disputas históricas, sendo fundamental para a projeção de poder de qualquer 
potência. Não por acaso, a região foi intensamente disputada durante a Guerra 
Fria. 
Quando o Egito nacionalizou o Canal de Suez, França, Reino Unido e Israel se 
aliaram contra o governo egípcio. Ao invés de apoiar seus aliados históricos, os 
Estados Unidos foram contra a ocupação franco-britânica-israelense. Essa 
postura se justificou porque a livre navegação do Canal de Suez é fundamental 
para os Estados Unidos, tanto para o comércio quanto para o aspecto militar. 
 Em relação à população, o Oriente Médio possui maioria muçulmana (conforme mapa abaixo), o 
que inclui o norte da África e parte da Ásia Central. Perceba que países do sudeste asiático como, por 
exemplo, Filipinas e Indonésia, também possuem maioria desta religião. Perceba também, que há um 
“pontinho” branco no mapa, exatamente no centro do Oriente Médio, representando Israel, de maioria 
judaica. 
 
Abaixo, há um mapa mais detalhado onde podemos ver que os muçulmanos se dividem entre 
sunitas e xiitas. Enquanto os sunitas são a maioria, abrangendo todo o norte da África (em vermelho 
escuro), partes da Ásia Central do Sudeste Asiático – bem como alguns países do Golfo Pérsico, os xiitas se 
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concentram especificamente no Iraque e no Irã (em vermelho claro). Há também, países divididos, como é 
o caso do Iêmen; ou ainda, “outros grupos” do Islã, como é o caso da Somália. 
Religião predominante no mundo 
 
 Embora partilhem da mesma fé, xiitas e sunitas divergem na sucessão do profeta Maomé. Para os 
sunitas – que são a maioria – o califa (sucessor de Maomé) deveria ser eleito pelos próprios muçulmanos. 
Já para os xiitas, o verdadeiro sucessor seria Ali, o genro de Maomé. As divergências, portanto, podem ser 
explicadas pela percepção sobre a religião islâmica, que é diferente para ambos os grupos: para os xiitas, a 
autoridade máxima do islã – aquela ocupada por Maomé – deveria passar de geração em geração; já para 
os sunitas, a questão geracional não é tão importante. Neste caso, o aspecto fundamental são as tradições 
religiosas. 
 Por conta desses diversos fatores – disputas entre cristãos, muçulmanos e judeus, entre muçulanos 
sunitas e xiitas, entre sauditas e iranianos, entre norte-americanos e russos, entre governos e grupos 
rebeldes, etc. – o Oriente Médio é um barril de pólvora super complexo de entender. A imagem abaixo 
faz uma sátira a essa complexidade: 
A complexidade do Oriente Médio em uma sátira Ao lado, há um diagrama cheio de fluxos, 
praticamente impossível de entender. 
Podemos ler que “Palestina e Israel foram 
desconsiderados em prol da simplicidade”. 
 O humor da imagem está no fato de que 
caso esses dois países fossem incluídos, o 
diagrama ficaria ainda mais 
incompreensível. 
Isso significa que não é possível entender 
todo o Oriente Médio em apenas uma aula, 
ainda que seja mais longa que as demais. 
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Aula 31 – Oriente Médio e seus impactos nas Relações Internacionais 
 
 
 
 
 
 
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CAI NA PROVA 
Cespe/UNB (CACD/2017) 
Os conflitos no Barein e no Iêmen estão estreitamente relacionados a luta pela hegemonia regional travada 
entre o Irã e a Arábia Saudita. 
 
COMENTÁRIO 
 
A questão claramente pede “a É exatamente essa a abordagem que procuramos fazer em nossas aulas: 
grande parte dos conflitos do Oriente Médio podem ser explicados pela disputa de hegemonia entre Arábia 
Saudita e Irã, as duas potências regionais que são apoiadas por grandes potências. Enquanto os Estados 
Unidos costumam apoiar os sauditas, os russos costumam apoiar os iranianos. Essa abordagem de proxy 
wars (guerras de procuração) nos permite entender uma série de eventos no Oriente Médio como, por 
exemplo, a Primavera Árabe, a Guerra Civil no Iêmen e a Guerra na Síria. Gabarito: correto. 
 
Oriente Médio na história 
 Nesse item, veremos alguns antecedentes históricos para entendermos as relações internacionais 
no Oriente Médio. Evidentemente, dada à complexidade da região, isso será feito de forma selecionada e 
pontual, apenas com os fatos imprescindíveis ao entendimento da aula 
Oriente Médio na Antiguidade e Idade Média – da civilização ao islã 
O primeiro aspecto que 
devemos ressaltar é que o Oriente 
Médio é um dos berços da civilização 
humana. Por volta de 2.500 anos antes 
de Cristo, a região do Golfo Pérsico já 
era ocupada pela Mesopotâmia no 
chamado crescente fértil – a área 
compreendida entre os rios Tigre e 
Eufrates (conforme mapa ao lado). 
Neste período, a descoberta da 
agricultura possibilitou que o homem se 
sedentarisasse e contruísse os primeiros 
agrupamentos humanos. 
 Nessa região ocupada desde milênios antes de Cristo, surgiram as principais religiões que 
conhecemos hoje: primeiramente o judaísmo, depois o cristianismo e por fim, o islamismo. Na região, 
também foram praticados o mitraísmo e o zoroastrismo que, respectivamente, veneravam Mitra e 
Zaratustra. Embora o CACD seja uma prova complicada, não é necessário entender todas essas religiões. O 
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que interessa para nós, por enquanto, é entender que essas crenças praticadas no Oriente Médio foram 
se expandindo até a Europa e que, portanto, havia um corredor de influência cultural no Mar 
Mediterrâneo. O mapa abaixo, à direita da página, retrata o cenário religioso que existia pouco tempo 
antes do surgimento do islã. 
 Nota-se que, antes do islã surgir, as principais 
religiões da época cresceram ao longo do 
Mediterrâneo, quase sempre do leste (Oriente 
Médio) para oeste (Europa). Nesse aspecto, 
podemos destacar a expansão do cristianismo e suas 
áreas recém-convertidas (respectivamente 
representadas pela seta vermelha e pela área em 
rosa). Posteriormente, grande parte dessas áreas foi 
incorporada ao domínio muçulmano. 
Esse contexto foi alterado pelo surgimento 
do islamismo em 632, na Península Arábica. Na 
época, o Profeta Maomé, alegando ter tido uma 
revelação, reuniu várias tribos politeístas sob uma 
única religião monoteísta, baseada nos 
ensinamentos de Alá. Em pouquíssimo tempo, o islamismo cresceu de forma impressionante, saindo da 
Península Arábica e rapidamente chegando ao restante do Oriente Médio, ao norte da África e, 
posteriormente, à Península Ibérica até chegar a Portugal e Espanha. Os dois mapas abaixo mostram a 
situação geográfica do islã em 632 e 655. Perceba que há um intervalo de apenas duas décadas! 
 O rápido expansionismo do islã – evolução da área territorial em apenas duas décadas. 
Islã em 632 Islã em 655 
 
 A expansão religiosa do islamismo ocorreu juntamente à expansão política da religião. Além de 
estabelecer novas crenças, o islã introduziu a ideia de califado – uma forma monárquica e religiosa de 
governo baseada nos sucessores do Profeta Maomé. Inclusive, conforme já estudamos, esse é o maior 
ponto de discordância entre xiitas e sunitas que acreditam, respectivamente, que a sucessão deve ocorrer 
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por meio de descendentes diretos de Maomé e por eleições entre seus representantes. Tempos depois, 
com o expansionismo do islã, seria formado o Califado de Omíada (ou Califado de Umayyad – mapa 
abaixo), com uma imensa área abrangendo o Oriente Médio, o norte da África e a Península Ibérica. 
 
 
Oriente Médio na Modernidade – imperialismo europeu e ocupação colonial 
 Posteriormente, nos últimos três séculos do milênio, já em contexto de colonialismo e 
imperialismo, o Oriente Médio foi ocupado por potências europeias – especialmente Reino Unido, França 
e Itália, um movimento que se intensificou no século XIX e nas décadas que antecederam a Primeira Guerra 
Mundial. Perceba, no mapa abaixo (página a seguir), que no início do século XX toda a região estava 
“fatiada” entre as grandes potências. 
 Enquanto os britânicos controlavam os atuais territórios do Egito e do Sudão, bem como as bordas 
da Península Arábica – atuais territórios do Iêmen e Omã; os franceses controlavam o Magreb, tendo 
domínios sob os atuais Marrocos, Argélia e Tunísia. Para os italianos, mais fracos, restavam os territórios 
onde hoje se localiza a Líbia. Nesse momento, os espanhóis tinham poucas possessões, apenas no 
Marrocos, onde atualmente estão as cidades de Ceuta e Melilla. As poucas áreas independentes se 
concentravam no que restava do Império Otomano, um Estado que existiu entre os séculos XIII e XX. 
Veremos sobre este império no item abaixo. 
 
 
 
 
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Oriente Médio no início do século XX – a expansão colonial europeia 
 
 
Oriente Médio no século XX – fim do Império Otomano e Sykes-Pikot 
O que hoje entendemos como Oriente Médio foi derivado do antigo Império Otomano, um Estado 
que existiu por muitos séculos, especificamente entre 1299 e 1922, do final do século XIII ao final da 
Primeira Guerra Mundial. Embora tivesse tido altos e baixos na sua história, o Império chegou a exercer, 
durante muito tempo, a hegemonia regional, sendo ponto estratégico entre o Ocidente e o Oriente. 
Contudo, a partir do século XIX, o Império Otomano começou a enfraquecer, conforme podemos 
perceber nas figuras abaixo: 
1800 – Otomanos perdem o controle do império 1900 – Ambições britânicas e russas se colidem 
 
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Império Otomano começa a perder o controle do 
próprio território, abrindo um vácuo de poder. 
Em laranja, áreas de domínio britânico. Em 
vermelho, áreas de domínio russo que, nesse 
momento, começavam a se expandir na região. 
Com o enfraquecimento do Império Otomano, 
houve o expansionismo da Rússia (vermelho) e do 
Reino Unido (laranja). 
Perceba, em relação ao mapa anterior, como o 
Império Otomano (em bege) enfraqueceu. 
 Entre 1800 e 1900, o Império Otomano perdeu muitas áreas de influência, especialmente no litoral 
da Península Arábica. No início do século XX, o Império se aliou à Alemanha e saiu vencido da Primeira 
Guerra Mundial, uma derrota que lhe custou a própria existência. Após quatro anos do final do conflito, o 
Império Otomano finalmente colapsou. 
 Entre os fatores que levaram ao fim do Império, podemos citar as ambições das grandes potências 
na região, especialmente Reino Unido, França, Rússia e Itália. No século XIX, a Rússia procurou estender 
seu domínio territorial na antiga pérsia – área compreendida, com algumas distinções territoriais, pelo 
atual Irã. Do mesmo modo, o Reino Unido avançava a oeste, tentando conquistar territórios na Península 
do Sinai – Egito e Sudão já eram colônias britânicas – e também, em demais áreas da Península Arábica. 
Tentavam, sobretudo, manter o controle do Canal de Suez. Nesse período, o Reino Unido era a principal 
potência mundial, possuía uma grande marinha mercante, praticava comércio com grande parte do mundo 
e, sendo assim, o controle de Suez era fundamental à geopolítica britânica. Portanto, o Reino Unido 
possuía ambições mais comerciais do que militares; enquanto a Rússia, ambições mais militares do que 
econômicas. 
 Apesar do choque de interesses entre Rússia e Reino Unido, as principais potências na época eram 
Reino Unido e França – e não a Rússia. Por isso, esses dois países, pouco antes do término da Primeira 
Guerra Mundial, prevendo o enfraquecimento do Império Otomano, articularam um acordo secreto – na 
época, a diplomacia secreta era regra – para partilhar as áreas de influência no Oriente Médio deixadas 
pelo vácuo de poder do Império Otomano. Esse ficou conhecido como Acordo de Sykes-Picot (1916), cujo 
nome derivou dos diplomatas Mark Sykes (Reino Unido) e François Georges-Picot (França). 
 Os territórios atuais da Síria, do Líbano, do norte do Iraque e do nordeste da Turquia seriam 
controlados pela França. Já os atuais Iraque, Jordânia, Kuwait e parte da Arábia Saudita, controladas pelo 
Reino Unido. Embora a Itália e a Rússia também tivessem ambições na região, não tinham o poderio 
suficiente para contestar a França e o Reino Unido. Por isso, tiveram que se contentar com menos porções 
territoriais: os italianos ficaram com parte da Turquia e os russos, com parte do antigo Império Persa. 
 
 
 
 
 
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Acordo de Sykes-Picot (1916) – fatiamento do Império Otomano, já em decadência. 
Áreas de influência de cada país Estabelecimento de Estados independentes 
 
 
França e Reino Unido estabelecem áreas de influência 
na região. Itália e Rússia, mais fracas, se contentam 
com as áreas menos relevantes. 
 
A França estimula a independência dos Estados 
na área “A” e o Reino Unido, na área “B”. 
Uma vez independentes, esses Estados ficariam 
subordinados respectivamente à França e ao 
Reino Unido. 
 No ano seguinte, em 1917, após a Revolução Russa, os bolcheviques tornaram públicos os 
documentos do Acordo de Sykes-Picot, gerando uma grande revolta nos países árabes. Isso só foi possível 
porque a Rússia czarista, pré-revolucionária, participava do Congresso de Viena e tinha acesso a 
documentos sigilosos da diplomacia secreta. A revolta dos países árabes se deu porque as potências 
partilharam seus territórios sem qualquer tipo de consulta, de modo a obterem ganhos próprios, 
ignorando as realidades culturais da região. 
 É evidente que o domínio das grandes potências não era feito de forma descarada, afinal, o acordo 
era secreto. Na verdade, França e Reino Unido estimularam a corrosão do Império Otomano fomentando 
movimentos de independência. À medida que esses países fossem se tornando Estados independentes, 
poderiam ser subjugados com maior facilidade pelos países europeus. O Reino Unido, por exemplo, enviou 
muitos diplomatas ao Oriente Médio com o objetivo de articular forças militares e costurar separatismos, 
estimulando assim, rebeliões contra a força estatal otomana. 
 O Acordo de Sykes-Picot teve consequências irremediáveis que perduram até os dias atuais, pois 
delimitou as fronteiras da região. O problema é que isso foi feito ignorando a realidade cultural e 
religiosa dos povos que ali viviam. Assim como ocorrido na África, as potências europeias simplesmente 
ignoraram a realidade local desses países, agrupando grupos rivais em um único Estado ou, separando 
grupos aliados em mais de um Estado. O mapa abaixo mostra a separação atual entre xiitas e sunitas: 
 
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Sunitas (cinza) e xiitas (amarelo) no Oriente Médio 
 
Perceba que no caso do Iraque, por exemplo, a numerosa população xiita ficou sob o domínio de 
um governo sunita; e a mesma situação se repetiu na Síria, na Arábia Saudita e em demais países da 
região. Até hoje, são países que vivem em guerra; em grande parte, justificadas pela divergência étnica. O 
próprio Irã, de maioria xiita, têm procurado fomentar a insurgência de grupos xiitas minoritários nesses 
países nos dias atuais. 
 
Oriente Médio após a Segunda Guerra – a criação do Estado de Israel 
Além do Acordo de Sykes-Picot (1916) e do fim do Império Otomano (1922), outro acontecimento 
importante na região foi a criação do Estado judaico de Israel (1948), um ano após a ONU aprovar o Plano 
de Partilha, em sessão da Assembleia Geral coordenada pelo brasileiro Oswaldo Aranha. Esse Estado foi 
construído sob o antigo Mandato Britânico da Palestina, uma colônia inglesa ocupada entre 1920 até 1948 
, entre o fim do Império Otomano e o Plano de Partilha que justamente criou Israel.De acordo com o Plano de Partilha aprovado na ONU, a região seria dividida entre: um Estado 
judeu (no mapa abaixo, em azul); um Estado árabe (no mapa abaixo, em marrom); e, Jerusalém, de 
interesse judaico, cristão e muçulmano, ficaria sob domínio internacional (em vermelho). No quadro 
abaixo, podemos ver com detalhes a evolução territorial de Israel: 
 
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Evolução territorial de Israel 
Após a 1ª Guerra, região é fatiada Após a 2ª Guerra, judeus criam Estado na região 
 
Após a Primeira Guerra e o fim do Império Otomano, 
a região foi fatiada entre as grandes potências. 
Após a Segunda Guerra, judeus criam Estado na 
região, no antigo Mandato Britânico da Palestina. 
1947 – Plano de Partilha da ONU Jun/1948 – Árabes invadem Israel Jul/1948 – Israel contra-ataca 
 
Judeus ficariam com Israel (em 
azul), árabes com Cisjordânia e 
Faixa de Gaza (em marrom) e 
Jerusalém seria administrada 
internacionalmente (em rosa). 
Em 1948, árabes (setas verdes) 
invadem Israel por conta do não-
reconhecimento do país e 
ocuparam áreas em cinza. 
Ainda em 1948, Israel consegue 
revidar e expulsar os árabes (setas 
em marrom), consolidando seu 
território. 
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 1949: Fronteiras pós-
armistício 
1967: Terra ocupada por Israel Situação atual - assentamentos 
 
Após o armistício de 1949, Israel 
anexa grande parte da Faixa de 
Gaza. 
Em 1967, Israel faz um ataque 
preventivo (Guerra dos Seis Dias), 
anexando partes do Egito, 
Cisjordânia e Síria (em marrom). 
Atualmente, Israel constrói 
assentamentos na Cisjordânia, o 
que tem causado grande 
polêmica internacional. 
Conforme podemos perceber, após o Plano de Partilha, os povos árabes invadiram Israel ainda em 
1948, logo após a independência do novo país. Isso porque os vizinhos eram fortemente contrários ao 
Plano de Partilha e, inclusive, até os dias de hoje, rechaçam a presença de um Estado judeu na região. 
Apesar das ofensivas, Israel saiu vitorioso e, além disso, conseguiu ocupar novos territórios para além do 
Plano de Partilha original como, por exemplo, uma grande área da Faixa de Gaza e demais porções ao 
norte. Em 1967, durante a Guerra dos Seis Dias, Israel ainda ocuparia a Península do Sinai (Egito) e as 
Colinas do Golã (Síria), ampliando ainda mais seu domínio territorial. A primeira área, foi devolvida ao 
Egito; já a segunda, permanece até os dias atuais sob controle israelense. 
O mapa abaixo (na página seguinte), mostra os países que: reconhecem somente Israel (em azul 
escuro); que reconhecem Israel, mas mantém relações com a Palestina (em azul claro); que reconhecem 
tanto Israel quanto Palestina (em cinza escuro); que reconhecem somente a Palestina, mas mantém 
relações com Israel (em cinza claro); e, que reconhecem apenas a Palestina (em verde). 
Podemos perceber que a maioria do sistema internacional, inclusive o Brasil, reconhece ambos os 
Estados. Países da América do Norte e da Europa Ocidental tendem a reconhecer somente Israel, embora 
mantenham relações “obrigatórias” com a Palestina. Já os demais países do Oriente Médio – norte da 
África, Golfo Pérsico e adjacências – não reconhecem Israel. Uma das poucas exceções é o Egito, que 
reconheceu Israel nos Acordos de Camp David, em 1978, em troca da devolução da Península do Sinai 
anteriormente ocupada na Guerra dos Seis Dias, em 1967. 
 
 
 
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Reconhecimento de Israel e Palestina no sistema internacional 
 
 
Oriente Médio e questões atuais 
 Neste item, estudaremos algumas disputas atuais sobre o Oriente Médio. Evidentemente, não é 
possível abordar todas as questões importantes. Por isso, focaremos em três principais: o conflito entre 
Israel e Palestina – que já abordamos no item anterior; as disputas regionais entre Irã e Arábia Saudita – 
necessária para termos um panorama geopolítico atual da região; e a sequência entre a Primavera Árabe e 
a Guerra da Síria. 
 
Conflito Israel versus Palestina 
 Após alguns aspectos iniciais sobre a criação do Estado de Israel, estudaremos agora com mais 
detalhes a polêmica e complexa questão envolvendo Israel e Palestina; ou, abrindo mais o leque da 
discussão, entre Israel e os países árabes; ou ainda, entre o Estado judeu e os Estados árabes. É evidente 
que não dá para esgotar o assunto aqui, no entanto, destacaremos os principais pontos do debate, da 
forma mais neutra possível, sem envolver juízos de valor. Começaremos com o quadro abaixo: 
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 Dentre os principais antecedentes da questão árabe-israelense, podemos citar o surgimento do 
sionismo entre os séculos XIX e XX. Basicamente, trata-se da ideia de que o judaísmo não deveria ser visto 
apenas como religião, mas como uma etnia, que representasse um ideal de nacionalidade, que tivesse um 
território e, portanto, que abrangesse um Estado étnico. Trata-se, portanto da expansão do conceito de 
judaísmo, de uma religião para uma sociedade organizada. 
 O movimento sionista cresceu bastante com os inúmeros episódios de discriminação e perseguição 
de judeus que vinham ocorrendo desde pelo menos a época da Rússia czarista, se intensificando na União 
Soviética e, principalmente, em grau inédito, na Alemanha nazista. Em todos esses acontecimentos, houve 
a discussão para o estabelecimento de um território judeu, onde os adeptos dessa religião – ou etnia – 
pudessem viver em paz. Na contramão desses anseios, alguns grupos antissionistas argumentavam que, na 
verdade, os judeus não queriam apenas um território para si, mas sim, dominar o mundo; afinal, teriam 
controle de grande parte das instituições bancárias. O fato é que o sionismo nunca foi um consenso. De 
um lado, os judeus tentavam se afirmar; porém, de outro, a perseguição se acirrava. 
 Diante dessa perspectiva, os judeus historicamente demandaram às grandes potências o 
estabelecimento de um Estado próprio, especialmente aos Estados Unidos e ao Reino Unido. No entanto, 
nunca foram atendidos. A reivindicação ganhou fôlego com o estabelecimento do importante Acordo de 
Sykes-Picot (1916) que dividiu as áreas de influência do Oriente Médio entre França e Reino Unido, porém, 
mesmo assim o pleito judeu não foi para frente. 
Em contexto desse acordo, a Palestina – que era muito maior do que é hoje – se tornou território 
internacional administrado pela Liga das Nações; ou seja, nem pela França e nem pelo Reino Unido. No 
entanto, isso nunca foi esclarecido, pois o Acordo de Sykes-Picot era secreto. Em outras palavras, a 
Palestina era administrada internacionalmente, mas ela não sabia disso. Como já estudamos, a verdade 
só veio à tona quando o Partido Bolchevique, que havia tomado o poder na Rússia, decidiu revelar o acordo 
ao mundo, gerando grande insatisfação dos países árabes com as potências estrangeiras. 
Diante do descontentamento dosárabes, o Reino Unido tentou manter a hegemonia regional 
prometendo benefícios aos países da região, principalmente no que diz respeito à independência destas 
nações – ou seja, à emancipação do já decadente Império Otomano. Aos judeus, os ingleses prometeram 
um território próprio, o que atenderia às antigas reivindicações sionistas. Essa promessa ocorreu na 
Declaração Balfour (1917), cujo texto pode ser lido abaixo: 
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"Caro Lord Rothschild, 
 "Tenho o grande prazer de endereçar a V. Sa., em nome do governo de Sua Majestade, a 
seguinte declaração de simpatia quanto às aspirações sionistas, declaração submetida ao 
gabinete e por ele aprovada: 
 O governo de Sua Majestade encara favoravelmente o estabelecimento, na Palestina, de um 
Lar Nacional para o Povo Judeu, e empregará todos os seus esforços no sentido de facilitar a 
realização desse objetivo, entendendo-se claramente que nada será feito que possa atentar 
contra os direitos civis e religiosos das coletividades não-judaicas existentes na Palestina, nem 
contra os direitos e o estatuto político de que gozam os judeus em qualquer outro país.´ 
 Desde já, declaro-me extremamente grato a V. Sa. pela gentileza de encaminhar esta 
declaração ao conhecimento da Federação Sionista. 
 Arthur James Balfour. 
 O nome do documento veio de Arthur Balfour, o Secretário de Estado para os Assuntos 
Estrangeiros do Reino Unido na época. Na Declaração, Balfour se mostrou favorável à implantação de um 
Estado judeu na Palestina britânica caso o Império Otomano saísse derrotado. Porém, na prática, o Reino 
Unido acabou falhando em cumprir as promessas: deu pouco apoio à independência dos países árabes e 
também, fez pouco caso do pleito judaico. Novamente, os judeus ficariam sem Estado. 
Costuma dizer que árabes e judeus estão em guerra há milênios; no entanto, o convívio entre esses 
povos era relativamente pacífico no Império Otomano (1299 – 1922). É verdade que essa região sempre foi 
conflituosa, no entanto, os judeus possuem um longo histórico de convivência com persas, gregos, 
romanos e árabes. Foi somente a partir da criação do Estado de Israel (1947) que as tensões se acirraram a 
ponto de criar um ódio generalizado entre ambos. – 
O fato é que com o passar do tempo, foi fortalecida a ideia de que o judaísmo não era apenas uma 
religião, mas também, uma etnia e uma nacionalidade. Devido a uma série de fatores, os judeus foram 
escolhidos como “bodes expiatórios” pelos nazistas e por demais governos autoritários. O ápice desse 
processo ocorreu com o holocausto, processo que resultou na morte de mais de seis milhões de judeus. 
Após o final da Segunda Guerra Mundial e a consequente revelação dos crimes de guerra nazistas, 
houve grande comoção internacional com o holocausto. Esse cenário motivou as potências e as elites 
internacionais a fazerem algo pelo povo judeu, amplamente discriminado durante a guerra. Foi nesse 
contexto que finalmente se decidiu pela criação do Estado de Israel, em 1947. Do mesmo modo, vários 
países começaram a propor soluções para a Palestina, entre eles a União Soviética e o próprio Reino 
Unido. 
 A proposta que surge nesse momento é a divisão do Mandato Britânico da Palestina uma grande 
área, muito maior do que hoje, que havia sido território do Reino Unido e, anteriormente, do Império 
Otomano. Apesar dessa ideia não ser nova (o movimento sionista já cogitava um Estado ali), foi somente 
nesse período pós-Guerra que houve as condições políticas necessárias para a repartição. Nesse contexto, 
em 1947, sob a presidência do brasileiro Oswaldo Aranha, a Assembleia Geral da ONU aprovou a 
Resolução n.181 que finalmente, criava o Estado judaico de Israel. 
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 Segundo o Plano de Partilha aprovado, os árabes ficariam com a Cisjordânia e a Faixa de Gaza. Já 
os judeus, ficariam com o restante do território. No geral, 53% do território da grande Palestina foi 
destinado à Israel e 47% para os árabes. A cidade de Jerusalém, que guarda símbolos sagrados do 
cristianismo, do judaísmo e do islamismo, seria administrada internacionalmente. Foi nesse cenário que 
Israel se declarou independente, em 1948. 
 Nesse momento, os judeus que imigraram para Israel eram, em sua maioria, europeus que 
sobreviveram à Segunda Guerra Mundial, além de imigrantes dos Estados Unidos e de outras partes do 
mundo. Em suma, quem chegou à Israel eram pessoas que haviam passado pelo trauma de guerra. No 
entanto, os árabes não se sensibilizaram com isso: ao invés de se solidarizarem com os judeus, passaram a 
enxergar Israel como uma tentativa dos países imperialistas de manipular os povos árabes; ou seja, uma 
verdadeira intromissão em terras que lhes pertenceriam. Por isso, Israel sempre foi considerado um “país 
intruso” na região. 
 Além disso, nessa época, houve o aumento do nacionalismo palestino, não somente o 
nacionalismo árabe, mas especificamente, o sentimento, por parte dos palestinos, de que não eram 
somente “árabes”; e, sim “árabes palestinos”. Isso, evidentemente, lhes garantiu uma identidade mais 
coesa, uma cultura própria que lhes distinguia dos restantes dos árabes. Isso é importante mencionar 
porque, por outro lado, havia o nacionalismo judeu – muito bem teorizado e discutido desde o século XIX 
pelo movimento sionista. Com o estabelecimento de Israel, houve um conflito de nacionalidades – uma 
disputa não somente militar, mas cultural. 
 Para entendermos melhor essa questão do nacionalismo, vamos estudar o exemplo da África do 
Sul, um país colonizado por ingleses e holandeses. Após permanecerem em território sul-africano por 
muitos anos, os imigrantes passaram a não se ver mais como “holandeses”, mas sim, como “holandeses 
sul-africanos”. Ou seja, não se identificavam mais com os consanguíneos da metrópole europeia; e, sendo 
assim, passaram a demandar um Estado próprio na África do Sul. Esse fato motivou muitos conflitos entre 
os povos de descendência holandesa e os britânicos na região. 
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 O fato é que a Liga Árabe rejeitou fortemente o Plano de Partilha delimitado pela Resolução 181 – 
inclusive, essa rejeição se mantém até hoje no discurso de muitos líderes muçulmanos. Por isso, logo após 
Israel declarar independência, foi atacado pelos países árabes da região, iniciando a Guerra da 
Independência (1948). 
 É interessante notar que a invasão dos países árabes ocorreu logo no primeiro dia de 
independência do Estado judeu, imediatamente em seguida à declaração. Em pouquíssimo tempo, Israel 
foi atacada por tropas da Síria, do Egito, do Líbano e da Jordânia. Surpreendentemente, o novo Estado 
conseguiu expulsar o exército de todos esses países juntos, consolidando assim, a sua independência. 
Conforme já mencionamos, muitos judeus que imigraram para Israel eram pessoas que haviam acabado de 
sair da Segunda Guerra Mundial; inclusive, muitos eram militares que haviam participado ativamente do 
conflito. Além disso, os países ocidentais forneceram ajuda com equipamentos e recursos militares para a 
defesa do recém-criado Estado judeu. Portanto, dois fatores foramdecisivos para a vitória israelense: o 
auxílio externo e a experiência de combate na Segunda Guerra Mundial. 
 
 A amarga derrota na Guerra da Independência (1948) foi um evento humilhante para os árabes 
que passaram a se referir ao episódio como o “momento da desgraça” ou o “momento da traição”, 
quando “as potências imperialistas deram vitória ao Estado ilegítimo de Israel”. Foi muito doloroso, para os 
Estados árabes com histórias milenares, serem derrotados, juntos, por um Estado criado há apenas um dia. 
Embora tenha provocado rancor nos países árabes – um sentimento que se mantém até hoje – a Guerra da 
Independência não somente consolidou o Estado de Israel, mas também fez com que o recém-criado 
Estado ampliasse seus territórios, principalmente ao sul, na Faixa de Gaza. 
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 Pouco tempo depois, houve a Guerra de Suez (1956), um conflito que envolveu Egito, Israel, França 
e Reino Unido. Na época, o líder egípcio General Nasser – que era nacionalista e pan-arabista – resolveu 
nacionalizar o Canal de Suez, uma estratégica rota de passagem amplamente utilizada pelas grandes 
potências. Sem o acesso a Suez, Israel teve seus projetos de irrigação prejudicados. Com o apoio do Reino 
Unido e da França, Israel invadiu o território egípcio. Em pouco tempo, a Península do Sinai foi tomada 
pelos três países. Após uma grande tensão com a União Soviética – que estava expandindo seu raio de 
influência na região – as tropas francesas, britânicas e israelenses se retiraram da região. Em 1957, o Canal 
foi reaberto à navegação. 
 
 Nesse momento, Israel já havia consolidado sua superioridade econômica, militar a estratégica na 
região. Inclusive, já contava com um serviço secreto extremamente eficiente, considerado um dos 
melhores do mundo: o Mossad. E foi exatamente esse órgão que conseguiu prever a Guerra dos Seis Dias, 
ocorrida em 1967. 
 Na década de 1960, após o Mossad descobrir que os países árabes iam promover um ataque, 
Israel organizou um ataque preventivo contra os países árabes, iniciando a Guerra dos Seis Dias (1967). 
Na época, havia grande tensão em âmbito regional na disputa por territórios e recursos hídricos. Vale 
lembrar que nesse período, os países árabes estavam conquistando apoio soviético considerável e, 
portanto, estavam equipando seus exércitos e aprendendo técnicas de mobilização. Como tudo isso foi 
detectado pelo Mossad, deu tempo de Israel evitar que um ataque semelhante a 1948 ocorresse. 
 Em apenas seis dias, Israel conquistou vastos territórios: a Cisjordânia; a Faixa de Gaza (Palestina); 
a Península do Sinai (Egito) (a mesma que havia sido ocupada na Guerra de Suez); e, as Colinas do Golã 
(Síria). Posteriormente, a Península de Sinal foi devolvida ao Egito nos Acordos de Camp David (1978); no 
entanto, as Colinas do Golã permanecem ocupadas até os dias de hoje. Aliás, com exceção da Península de 
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Sinai, os territórios conquistados na Guerra dos Seis Dias são praticamente os mesmos territórios que 
Israel controla atualmente. Portanto, foi a última alteração significativa de território. 
Tanques israelenses em ataque preventivo na Guerra dos Seis Dias (1967). País conquistou muitos territórios na ocasião. 
 Em 1948, o recém-independente Israel expulsou os árabes em apenas um dia de batalha; em 1956, 
ocupou a Península do Sinai com relativa facilidade; e, em 1967, conquistou vastos territórios em apenas 
seis dias. Nesse momento, portanto, Israel consolidou ainda mais a sua superioridade regional. No 
entanto, o cenário começou a mudar nos anos 1970, quando os países árabes empreenderam um novo 
ataque ao país. 
 Em 1973, durante o feriado judaico de Yom Kippur – conhecido como o “dia do perdão” – houve 
um ataque surpresa dos árabes, desencadeando a Guerra do Yom Kippur (1973) que teve como principal 
consequência a eclosão da Crise do Petróleo. A crise prejudicou todo o mundo ocidental inclusive o Brasil 
que, nesse momento, para garantir acesso privilegiado ao mercado do petróleo, passou a se aproximar dos 
países árabes. 
 
 Se o serviço de inteligência teve um papel crucial na Guerra dos Seis Dias, foi negligente na Guerra 
do Yom Kippur. Convencida de sua superioridade, Israel não imaginava que os árabes fossem atacá-la 
novamente. Inclusive, durante o feriado judaico, muitos militares foram para casa passar a data com suas 
famílias. Há relatos, inclusive, de que o Rei da Jordânia havia alertado Israel do ataque. Esse alerta foi 
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motivado por dois motivos: primeiramente, a Jordânia não queria entrar em guerra, pois estava passando 
por uma situação difícil. Em segundo lugar, em caso de seus colegas árabes saírem derrotados (o que de 
fato, ocorreu), a Jordânia se manteria neutra e não seria afetada. Alertando Israel, portanto, o Rei de 
Jordânia blindava seu país. Mesmo com os alertas, Israel ignorou a ameaça e não se preparou para revidá-
la. 
 No primeiro momento, os árabes conseguiram retomar os territórios conquistados na Guerra dos 
Seis Dias: o Egito conseguiu recuperar a Península do Sinai e a Síria conseguiu recuperar as Colinas do Golã. 
Pega de surpresa, Israel não teve como reagir. Quando os árabes estavam quase vencendo, Israel foi 
socorrida pelos Estados Unidos, conseguindo reverter o jogo. Caso o auxílio de Washington não tivesse 
chegado a tempo, os judeus teriam perdido seu primeiro conflito desde 1948. No final, Israel conseguiu 
vencer a Guerra do Yom Kippur, porém, ao contrário das ocasiões anteriores, foi uma vitória difícil. 
 Assim como ocorrido em 1948 – quando as potências estrangeiras intercederam a favor de Israel – 
os árabes consideraram o auxílio norte-americano uma traição e imediatamente passaram a pensar em 
medidas de retaliação. Como forma de punição ao mundo ocidental, os países árabes diminuíram a 
produção de petróleo, aumentando seu preço em mais de quatro vezes, desencadeando a Crise do 
Petróleo. O combustível não somente ficou mais caro, mas também, seu acesso ficou mais complicado. 
Mesmo que alguns atores tivessem dinheiro para comprá-lo, talvez não conseguissem porque estava sendo 
ofertado de forma muito escassa. 
 
Crise do Petróleo, fruto da Guerra de Yom Kippur, afetando as bombas de gasolina do mundo ocidental. 
Esse evento impactou diretamente quase todas as economias ocidentais, inclusive o Brasil. Não é 
por acaso que mencionamos o Choque do Petróleo em várias de nossas aulas anteriores; afinal, foi 
realmente um evento muito decisivo. Dentre suas consequências estão muitos fatores que já estudamos: o 
fim da paridade ouro-dólar nos Estados Unidos; a aproximação brasileira dos países árabes; e, a formação 
do G-7 e do G-24, respectivamente, entre países desenvolvidos e em desenvolvimento, para discutirem 
soluções à crise. 
 É importante ressaltar que se os judeus são representados apenas pelo Estado de Israel, os árabes 
são representados por múltiplos atores estatais e não estatais desde os inúmeros países da região até 
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organizações como a Liga Árabe, a Organização para a Libertação da Palestina (OLP), o Fatah, o Hamas, 
entre outros. Vejamos um pouco mais desses atores: 
 
Representantes dos árabes no conflito com Israel 
Liga Árabe 
Uma organização regional formada em 1945 com o objetivo de reforçar os laços e a 
cooperação entre os países árabes em diversos assuntos. É composta por 22 países cujo 
idioma principal é o árabe. 
Organização 
para a 
Libertação da 
Palestina 
(OLP) 
A OLP foi criada em 1964 para reunir e fortalecer os grupos palestinos em uma mesma 
organização. Inicialmente, seu objetivo era destruir Israel e estabelecer um território 
árabe no grande Mandato Britânico da Palestina. 
Com o passar do tempo, acabou abrandando suas posições e reconhecendo Israel, o que 
gerou muitas críticas. Seu principal líder foi o engenheiro Yasser Arafat. 
Fatah 
Conforme exposto acima, a OLP é uma organização que reúne diversos grupos pró-
palestina. O principal desses grupos é o Fatah, um partido político secular de inspiração 
socialista fundado em 1959 com o objetivo de resistir à ocupação israelense, fundado por 
Yasser Arafat. 
Embora tivesse tido um braço armado que realizava atentados terroristas, atualmente o 
Fatah reconhece Israel e busca a conciliação de ambos os Estados na região, uma visão 
diferente do Hamas. 
Hamas 
Criado em 1987, no início da Primeira Intifada, o Hamas defende a destruição do Estado 
de Israel. É, portanto, mais radical que o Fatah, sendo considerada uma organização 
terrorista por muitos países ocidentais. 
Em diversos momentos como, especialmente entre 2006 e 2007, o Hamas (mais radical) 
entrou em conflitos com o Fatah (mais moderado) pela disputa de poder na região. Desde 
2017, os grupos se reconciliaram num acordo de paz. 
Diferentemente do Fatah que costuma ser um representante da libertação palestina, o 
Hamas adota uma visão mais radical, perspectiva próxima à Irmandade Muçulmana, 
grupo que apoia a sua atuação. 
 Conforme já mencionamos, Israel permanece com o território praticamente igual ao que tinha no 
desfecho da Guerra dos Seis Dias. A maior diferença foi a devolução da Península do Sinai ao Egito, que 
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havia sido ocupada durante o conflito. Em troca da devolução, o Egito reconheceu o Estado de Israel. Isso 
foi feito no Acordo de Camp David (1978) – na casa de campo dos presidentes norte-americanos, sob 
chancela do Jimmy Carter. Trata-se de um acordo muito bem sucedido e válido até hoje. Inclusive, em 
seus discursos oficiais, Israel costuma relembrar esse episódio para dizer que está disposto a negociar com 
países árabes, mesmo que isso incorra em perdas territoriais. 
 
 O problema é que o Egito passou a ser mal visto pelos países árabes, que consideraram o 
reconhecimento de Israel uma traição. Após ser duramente criticado pelos vizinhos árabes, o presidente 
egípcio Anwar Al Sadat – que havia participado das negociações em Camp David – foi assassinado por 
extremistas durante um desfile militar, em 1981. 
Devemos lembrar que desde a época do General Nasser (1956 – 1970), o Egito havia se projetado 
como um líder natural dos povos árabes. O líder egípcio havia defendido a ideologia do pan-arabismo – a 
união de todos os Estados de língua e civilização árabes. Essa ideologia, inclusive, teve repercussões 
práticas: durante um determinado período, a Síria, também adepta do pan-arabismo, chegou a ser 
unificada com o Egito, apesar da descontinuidade territorial. No entanto, a partir dos descontentamentos 
de Camp David, o Egito passou a não mais representar os países árabes que, nesse momento, estavam 
profundamente descontentes com o reconhecimento de Israel. 
Após a abertura de um vácuo de poder deixado pelo Egito, o Iraque tentou assumir o posto de 
líder regional. Contudo, ao invés de guerrear contra Israel – o inimigo dos povos árabes – Saddam Hussein 
invadiu o Irã, dando início à Guerra Irã-Iraque (1980 – 1988). Nesse momento, o país persa estava 
fragilizado pela eclosão da Revolução Iraniana (1979) – a deposição da monarquia e a instalação de uma 
república teocrática islâmica; uma fragilidade muito bem aproveitada pelo vizinho iraquiano. 
Extremamente violenta, a Guerra Irã-Iraque reforçou a ideia da mística do sacrifício; ou seja, a 
glória de morrer pela causa. É evidente que o terrorismo não nasceu nesse período, no entanto, ajudou a 
consagrá-lo como prática legítima de guerra. Durante o conflito, por exemplo, crianças eram enviadas às 
linhas de batalha para que marchassem à frente das tropas adultas. Essas crianças pisavam em minas 
terrestres, as desativavam e assim, liberavam o caminho para as tropas adultas. Nesse momento, o Irã já 
havia se tornado um Estado regido pelo Corão. Sendo assim, era “legítimo” morrer em nome de um Estado 
que seguisse as regras de Alá. 
Voltando ao contexto árabe-israelense, após os Acordos de Camp David (1978), o próximo fato 
relevante foi a eclosão da Primeira Intifada (1987) que basicamente, consistia na revolta de povos 
palestinos contra Israel, uma espécie de levante árabe nas regiões da Cisjordânia e Faixa de Gaza. Embora 
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o momento mais tenso tenha ocorrido em 1987, a Intifada durou até 1993, quando foi assinado um acordo 
de paz na cidade norueguesa de Oslo (à frente, veremos mais detalhes desse acordo). 
 
Durante a Intifada, a população civil palestina jogava paus e pedras nos soldados de Israel. O fato 
gerou um grande impasse no exército israelense. Caso atirasse nos manifestantes, poderia ser acusado 
internacionalmente de reagir de forma desproporcional. Caso não agissem, continuariam a ser apedrejados 
constantemente. Em uma solução intermediária, as tropas foram ordenadas a revidar os ataques com 
coronhadas e a quebrar o braço dos agressores. Essa forma de defesa foi condenada por inúmeras 
organizações internacionais, inclusive pela Fundação Carter, comandada pelo ex-presidente Jimmy Carter. 
Israel também foi criticada por potências europeias e também, por países de terceiro mundo. 
Outra consequência da Primeira Intifada foi o estabelecimento do Hamas, um grupo mais 
autoritário que o Fatah – este último, existente desde 1959. A partir de então, o Fatah e o Hamas 
passaram a desejar o controle da Palestina. Aqui, novamente, podemos perceber a lógica de disputa entre 
Irã e Arábia Saudita. Conforme já havíamos mencionado, o Hamas, mais radical, que não reconhece Israel, 
está mais próximo à Irmandade Muçulmana e ao Irã. Enquanto isso, o Fatah, que assim como o Egito, 
reconhece Israel, tentou negociar, junto com os Estados Unidos, a paz de Oslo, em 1993. 
 Entre o final de 1993 e o início de 1994, a fim de encerrar as tensões da Intifada, finalmente árabes 
e israelenses assinaram um acordo de paz, conhecido como Acordo de Oslo (1994). Por intermédio do 
presidente norte-americano Bill Clinton, o líder da Organização para a Libertação da Palestina (OLP) Yasser 
Arafat e o Primeiro Ministro de Israel Yitzhak Rabin se reuniram em Oslo, Noruega e decidiram por um fim 
à histórica disputa entre os dois povos. Na ocasião, houve um grande avanço nas negociações e ambos os 
lados ficaram bastante otimistas com uma possibilidade de paz.Alexandre Vastella, Filipe Martins
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 No entanto, em longo prazo, o Acordo de Oslo não garantiu a paz. Anteriormente, havíamos 
mencionado que o presidente do Egito Anwar Al Sadat – que assinou o Acordo de Camp David – foi 
assassinado por árabes extremistas descontentes com o reconhecimento de Israel. Nos anos 1990, ocorreu 
o contrário: Yitzhak Rabin foi assassinado por um judeu extremista que não achava certo Israel 
reconhecer um território árabe; afinal, seria uma área cedida por Deus ao povo judeu. O assassinato de 
Rabin fez com que o acordo fracassasse, adiando a tão sonhada paz. Tanto que pouco tempo depois, 
houve a Segunda Intifada (2000), um novo levante de árabes contra israelenses, deixando um saldo de 
milhares de mortos. 
 
Sob a tutela de Bill Clinton (EUA), Yitzhak Rabin (Israel) e Yasser Arafat (Palestina) assinam acordo de paz histórico em Oslo, Noruega. Rabin 
seria assassinado pouco tempo depois, por um extremista judeu, reacendendo os ânimos entre os povos. 
 Nos últimos anos, podemos destacar a mudança de postura dos Estados Unidos em reconhecer 
Jerusalém como a capital de Israel. Vale ressaltar que a cidade de Jerusalém, segundo o Plano de Partilha, 
ficaria sob domínio internacional. No entanto, nas últimas décadas, Israel vem aumentando a ocupação do 
local, sobretudo com a construção de assentamentos, provocando a fúria nos países árabes. Mesmo assim, 
o presidente Trump transferiu a embaixada dos Estados Unidos para Jerusalém. Embora fosse uma 
promessa eleitoral de quase todos os presidentes desde Ronald Reagan, nenhum líder eleito teve a audácia 
de fazer isso, sobretudo após entrar em contato com relatórios de inteligência que apontavam para a 
complexidade da situação. Inclusive, antes de Trump, o Congresso dos Estados Unidos chegou a aprovar o 
reconhecimento de Jerusalém como capital israelense, mas nenhum presidente a colocou em prática. 
Quando houve esse reconhecimento, por parte do Trump, havia a expectativa de que fosse ocorrer uma 
terceira intifada, o que não aconteceu. 
 Antes de tomar essa decisão polêmica, Trump fez uma série de consultas com os demais líderes 
seus aliados na região – especialmente Arábia Saudita, Jordânia e Egito. Esses líderes concordaram em 
“deixar” Trump reconhecer Jerusalém como capital israelense em troca de apoio em uma eventual 
coalizão contra o Irã. Embora tivessem condenado publicamente a postura dos Estados Unidos, essa 
concertação política há havia sido feita nos bastidores. 
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 Embora tivesse provocado muitas críticas, o reconhecimento de Jerusalém como capital e a 
transferência de embaixada foram vistas, por alguns, como decisões que reestabeleciam o poder de 
barganha de Israel, anteriormente perdido durante a gestão Obama. Em seu mandato, o democrata teria 
tomado algumas decisões que beneficiam os palestinos como, por exemplo, a não utilização do poder de 
veto em resoluções no Conselho de Segurança da ONU que condenavam os assentamentos de Israel em 
território palestino. Portanto, para alguns, essas medidas de Trump soaram autoritárias; para outros 
analistas, foram um reequilíbrio de forças. 
 
As disputas regionais entre Irã e Arábia Saudita 
 Após compreendermos – ainda que de forma breve – a história do Oriente Médio, passando pela 
Mesopotâmia, pelo surgimento do Islã, pelo Califado Omíada, pela colonização europeia, pelo Acordo de 
Sykes-Picot e pela criação do Estado de Israel, vamos agora ao que realmente interessa para entendermos 
as relações de poder atuais: as disputas entre as duas potências regionais Irã e Arábia Saudita. 
Arábia Saudita e Irã disputam a hegemonia... ... e essa disputa regional explica muitos conflitos locais 
 
 Além da divisão tradicional entre xiitas e sunitas, é fundamental que entendamos as disputas entre 
o Reino da Arábia Saudita e a República Islâmica do Irã – um regime monárquico e um republicano. São 
países de grandes territórios, riquíssimos aspectos históricos e culturais e também, de ambições 
geopolíticas de se tornarem a potência hegemônica regional. Há, nesse caso, uma espécie de “Guerra Fria 
do Oriente Médio”, com ambos disputando o controle da região. 
 Assim como ocorreu durante a Guerra Fria entre Estados Unidos e União Soviética para a 
hegemonia global, a “Guerra Fria” do Oriente Médio não envolve o enfrentamento direto entre Arábia 
Saudita e Irã. Ao invés disso, ambos financiam, promovem, equipam e fomentam a atuação de grupos 
rivais. Embora cada caso seja específico, normalmente, o Irã, de maioria xiita, tende a apoiar as minorias 
xiitas dos países da região. A Arábia Saudita, de maioria sunita, tende a apoiar os governos ou grupos 
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sunitas que disputam o poder. Essa dinâmica pode ser observada em vários contextos: na Primavera 
Árabe, na Guerra da Síria, na Guerra Civil do Iêmen, entre outros. 
 Para complicar ainda mais a situação, normalmente o Irã costuma ser apoiado pela Rússia e a 
Arábia Saudita, apoiada pelos Estados Unidos. Portanto, na maioria das vezes, a bipolarização entre 
iranianos e sauditas ganha contornos internacionais, envolvendo as antigas potências atuantes na Guerra 
Fria. Um exemplo disso ocorre na Guerra da Síria, onde Irã/Rússia apoiam o governo de Bashar Al Assad e 
os Estados Unidos/Arábia Saudita, os grupos rebeldes. 
 Conforme podemos notar, as disputas entre Arábia Saudita e Irã se estendem para os diversos 
países da região: Marrocos, Tunísia, Líbia, Iêmen; e, especialmente, nos Estados tampões da Síria e do 
Iraque (conforme mapa abaixo). Nas linhas a seguir, veremos brevemente os processos de consolidação 
dos Estados da Arábia Saudita e do Irã – os dois players que mais interessam a nós. 
Irã e Arábia saudita influenciam conflitos no Marrocos, na Tunísia, na Líbia, no Iraque, no Iêmen, etc. 
 
 O atual território da Arábia Saudita fazia parte do extenso Império Otomano que além da Península 
Arábica, abarcava também, os atuais territórios do Egito, Israel, Líbano e outros países. A partir do Acordo 
de Sykes-Picot – que fora denunciado pelos soviéticos – e do desmembramento do território otomano, os 
Estados da região foram se tornando independentes. Até então, o Império Otomano garantia certa unidade 
regional, fazendo com que os diferentes grupos e tribos ficassem reunidos em um único poder estatal. No 
entanto, com a sua derrocada, aumentaram as disputas pelo poder. Foi nesse contexto que a numerosa e 
importante família Al-Saud fundou a Arábia Saudita. Ainda hoje, a dinastia Saud se mantém no poder, 
exercendo controle não somente dentro do território saudita, mas também influenciando nas imediações, 
nos demais países da Península Arábica – Omã, Catar, Emirados Árabes Unidos e, principalmente, no mais 
pobre deles, o Iêmen. 
 
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Território original do Império Otomano Império Otomano

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