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Livro Eletrônico Aula 31 Política Internacional p/ CACD (Primeira e Segunda Fases) - Com Videoaulas - Pós-Edital Alexandre Vastella, Filipe Martins Prof. Filipe Martins e Prof. Alexandre Vastella Aula 31 – Oriente Médio e seus impactos nas Relações Internacionais 1 60 Política Internacional Aula 31 – Oriente Médio e seus impactos nas Relações Internacionais Introdução ao PDF ............................................................................................................. 2 Oriente Médio e aspectos gerais ........................................................................................ 2 Delimitação do Oriente Médio ....................................................................................................................... 2 Região estratégica ......................................................................................................................................... 8 Oriente Médio na história ................................................................................................ 12 Oriente Médio na Antiguidade e Idade Média – crescente fértil e surgimento do Islã ............................... 12 Oriente Médio na Modernidade – imperialismo europeu e ocupação colonial .......................................... 14 Oriente Médio no século XX – fim do Império Otomano e Acordo de Sykes-Pikot ...................................... 15 Oriente Médio após a Segunda Guerra – a criação do Estado de Israel ...................................................... 18 Oriente Médio e questões atuais ..................................................................................... 21 Conflito Israel versus Palestina .................................................................................................................... 21 As disputas regionais entre Irã e Arábia Saudita ......................................................................................... 33 Primavera Árabe e Guerra da Síria .............................................................................................................. 38 Detalhamento da Primavera Árabe por país ............................................................................................... 45 Tunísia – Início da Primavera Árabe, Revolução de Jasmim e queda de regime ............................................................ 47 Egito – Queda de Mubarak, Irmandade Muçulmana assume o poder e é deposta por militares ................................. 48 Líbia – Morte de Gadaffi, embargos ocidentais e “paraíso de terroristas” .................................................................... 50 Iêmen – Conflito com assassinatos, formação de duas capitais e levante xiita contra o governo ................................ 52 Síria – No caso mais complicado da Primavera Árabe, diversos grupos disputam o poder ........................................... 54 Alexandre Vastella, Filipe Martins Aula 31 Política Internacional p/ CACD (Primeira e Segunda Fases) - Com Videoaulas - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br Prof. Filipe Martins e Prof. Alexandre Vastella Aula 31 – Oriente Médio e seus impactos nas Relações Internacionais 2 60 Introdução ao PDF Nesta aula, estudaremos os principais aspectos econômicos, históricos, religiosos e políticos do Oriente Médio e seus impactos nas Relações Internacionais. Primeiramente, entenderemos porque se trata de uma região estratégica dos pontos de vista cultural, comercial e geográfico e, além disso, porque é tão difícil delimitá-la – os Estados Unidos e o Brasil, por exemplo, possuem distintas concepções de “Oriente Médio”. Ao longo de nossa aula, faremos uma breve retrospectiva histórica da região, desde o crescente fértil na Antiguidade, até o surgimento e a expansão do islamismo e o colonialismo/imperialismo dos últimos três séculos do milênio. Estudaremos como a Europa repartiu a região de acordo com seus interesses expansionistas e como foi formado o Estado de Israel – entendendo também, os principais pontos de divergência entre árabes e palestinos. Também faremos um panorama dos conflitos atuais na região, sob a ótica das rivalidades entre Arábia Saudita e Irã – duas potências regionais apoiadas, respectivamente, pelos Estados Unidos e pela Rússia. Veremos como essa disputa pela hegemonia regional se reflete na Primavera Árabe e na Guerra da Síria, dois dos principais acontecimentos contemporâneos na região. Nesses dois casos, estudaremos cada um dos atores envolvidos e seus posicionamentos centrais. É uma aula um pouco mais longa que as demais, porém, com a profundidade que o assunto merece. Oriente Médio e aspectos gerais Delimitação do Oriente Médio Antes de iniciarmos o PDF, é importante relembrarmos que, conforme vimos na Aula 14, não há uma definição clara sobre o que é Oriente Médio. Trata-se de um conceito que envolve muitas dubiedades. Na diplomacia dos Estados Unidos, por exemplo, há a ideia de “Grande Oriente Médio”, uma área que engloba uma grande quantidade de países, incluindo a totalidade do norte da África. Já para a diplomacia brasileira, considera-se como “Oriente Médio” os seguintes países: Arábia Saudita, Bahrein, Catar, Egito, Emirados Árabes Unidos, Iêmen, Irã, Iraque, Israel, Jordânia, Kuwait, Líbano, Omã, Palestina, Síria e Turquia. Para a diplomacia brasileira, a Líbia e o Afeganistão, por exemplo, não fazem parte do Oriente Médio – embora sejam assim classificados para a OCDE e para a diplomacia dos Estados Unidos. Há quem inclua, por exemplo, o Marrocos no Oriente Médio e também, há quem não o faça. Nas imagens abaixo, podemos ver as diferenças de abrangência entre o Oriente Médio, o Mundo Árabe e o Mundo Islâmico. Países de pequeno território como Palestina, Bahrein e Kuwait não foram representados, pois não seria possível desenhar em cima deles. Alexandre Vastella, Filipe Martins Aula 31 Política Internacional p/ CACD (Primeira e Segunda Fases) - Com Videoaulas - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br Prof. Filipe Martins e Prof. Alexandre Vastella Aula 31 – Oriente Médio e seus impactos nas Relações Internacionais 3 60 Não confundir – Oriente Médio, Mundo Árabe, Mundo Islâmico. 1 – Norte da África + Oriente Médio Duas regiões geográficas, às vezes sobrepostas, de difícil delimitação, algo parecido com a imagem abaixo: 2 – Oriente Médio (segundo a diplomacia brasileira) O Oriente Médio é uma região geográfica que abrange parte de dois continentes: África e Ásia. No entanto, é uma área de difícil delimitação, sem um consenso claro do que realmente é “Oriente Médio”. A diplomacia brasileira considera os seguintes países como sendo parte do Oriente Médio: Arábia Saudita, Bahrein, Catar, Chipre, Egito, Emirados Árabes Unidos, Iêmen, Irã, Iraque, Israel, Jordânia, Kuwait, Líbano, Omã, Palestina, Síria e Turquia, conforme imagem a seguir: 3 – Mundo islâmico Grupo de países que tem o islamismo como religião majoritária. Na maioria das vezes, coincide com os países árabes, mas não é a mesma coisa – árabe é um povo e islã é uma religião. Com exceção de Israel (destaque abaixo), todos os outros países do Norte da África e Oriente Médio são de maioria muçulmana: Alexandre Vastella, Filipe Martins Aula 31 Política Internacional p/ CACD (Primeira e Segunda Fases) - Com Videoaulas - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br Prof. Filipe Martins e Prof. Alexandre Vastella Aula 31 – Oriente Médio e seus impactos nas Relações Internacionais 4 60 4 – Mundo árabe Grupo de países de maioria árabe, relativo ao povo árabe, portanto. Turquia (maioria turca), Irã (maioria persa) e Israel (maioria judia) NÃO fazem parte do mundo árabe – ainda que Turquia e Irã façam parte do Mundo Islâmico. Conforme a imagem: Recapitulando... Mundo árabe (agrupamento por povo) Conjunto depaíses de maioria árabe, do povo árabe, portanto. Embora façam parte do Oriente Médio, Israel (judeus), Irã (persas) e Turquia (turcos) não fazem parte do mundo árabe, porque possuem maioria de outros povos. O mundo árabe também engloba países de maioria árabe e muçulmana, mas que possuem minorias de outras religiões, como os cristãos, por exemplo. Mundo islâmico (agrupamento por religião) Conjunto de países de maioria muçulmana, que professa o islamismo. Embora não façam parte do mundo árabe, Irã (muçulmano) e Turquia (muçulmano também) fazem parte do mundo islâmico, pois os persas e os Alexandre Vastella, Filipe Martins Aula 31 Política Internacional p/ CACD (Primeira e Segunda Fases) - Com Videoaulas - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br Prof. Filipe Martins e Prof. Alexandre Vastella Aula 31 – Oriente Médio e seus impactos nas Relações Internacionais 5 60 turcos adotam o islamismo como religião. Israel não faz parte nem do mundo árabe, nem do mundo muçulmano. Oriente Médio (agrupamento por região) Embora predominem os povos árabes e o islamismo como religião, o Oriente Médio é um agrupamento geográfico, nem sempre com limites consensuais, no qual predominam vários povos e religiões: árabes, judeus, persas, muçulmanos, cristãos, etc. Abrange parte da África e parte da Ásia, dois continentes, portanto. Oficialmente, de acordo com o Itamaraty, utiliza-se o termo Oriente Médio para a política externa brasileira. Vejamos mais informações: Mundo Árabe, Magreb e Mashreq Conceito de mundo árabe é amplo – Abrange povos de etnia não apenas árabe e também engloba povos de religiões minoritárias não– islâmicas Ponto de vista geográfico: 2 regiões – Magreb (parte ocidental, oeste da Líbia): – Mashreq (parque oriental, leste da Líbia): – A Liga Árabe abrange 22 países árabes – União do Magreb Árabe abrange apenas países do Magreb. Do ponto de vista geográfico, há duas sub-regiões distintas: o Magreb e o Mashreq. O primeiro é compreendido pelos países a oeste da Líbia, englobando Mauritânia, Marrocos, Saara Ociedental, Tunísia e Argélia. Já o segundo grupo, países a leste da Líbia, englobando Edito, Sudão, Jordânia, Líbano, entre outros. . Outra forma de regionalização – Magreb x Mashreq Alexandre Vastella, Filipe Martins Aula 31 Política Internacional p/ CACD (Primeira e Segunda Fases) - Com Videoaulas - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br Prof. Filipe Martins e Prof. Alexandre Vastella Aula 31 – Oriente Médio e seus impactos nas Relações Internacionais 6 60 Magreb Parte ocidental da Líbia Mauritânia, Marrocos, Saara Ocidental, Tunísia, Argélia e Líbia Mashreq Parte oriental da Líbia Egito, Síria, Líbano, Sudão, Jordânia, etc. Para complicar um pouco mais, não podemos confundir esses termos geográficos com as duas organizações internacionais nessa região que são: o bloco econômico União do Magreb Árabe e o grupo de cooperação Liga de Estados Árabes (conhecida como Liga Árabe). Vejamos mais detalhes abaixo: Liga de Estados Árabes (Liga Árabe). Fundada em 1945. Membros: Arábia Saudita, Argélia, Bahrein, Catar, Comores, Djibouti, Egito, Emirados Árabes, Iêmen, Iraque, Jordânia, Kuwait, Líbano, Líbia, Marrocos, Mauritânia, Omã, Palestina, Síria, Somália, Sudão e Tunísia. Um grupo de cooperação e concertação política entre os Estados árabes, a fim de aumentar a integração regional e o poder de barganha no sistema internacional. Perceba que há uma grande quantidade de membros. União do Magreb Árabe Fundado em 1989. Membros: Argélia, Tunísia, Líbia, Marrocos e Mauritânia. Um bloco econômico com objetivo de livre circulação de capitais, pessoas, serviços e mercadorias; além da adoção de políticas econômicas comuns. Embora esteja longe de ser homogêneo, o mundo árabe é um grupo mais coeso do que o Oriente Médio como um todo, possuindo elementos aglutinadores em comum, dos quais se destacavam: a independência em relação aos países europeus e a rejeição à Israel. Em alguns momentos da história, esta união promoveu a ideologia pan-arabista – a defesa de interesses próprios do mundo árabe e, em alguns casos, a integração territorial formando um único grande mundo árabe com instituições integradas. Elementos aglutinadores do mundo árabe Independência em relação aos países europeus A maioria dos países árabes foi colônia de países europeus, especialmente Reino Unido e França. Por isso, precisaram lidar, quase que simultaneamente, com o processo de descolonização. Não somente “descolonização” em si mesmo, a independência propriamente dita, mas também – e, principalmente – o fato de se livrarem definitivamente do domínio das antigas metrópoles, conquistando a independência de Alexandre Vastella, Filipe Martins Aula 31 Política Internacional p/ CACD (Primeira e Segunda Fases) - Com Videoaulas - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br Prof. Filipe Martins e Prof. Alexandre Vastella Aula 31 – Oriente Médio e seus impactos nas Relações Internacionais 7 60 fato. Vimos, na aula passada, que esse processo também ocorreu na África subsaariana e nas demais partes do globo. Diante dessas dificuldades em comum, houve – e ainda há – grande convergência entre os países árabes, uma solidariedade mútua no sentido de garantir que o processo de descolonização realmente se consolide, inclusive no âmbito do desenvolvimento independente das antigas metrópoles. Rejeição ao Estado de Israel criado em 1948 O segundo elemento aglutinador é o conflito existente entre Israel e Palestina. Podemos, inclusive, ampliá-lo, dizendo que é um conflito entre Israel e os povos árabes. Neste caso, há um inimigo em comum que não faz parte da mesma etnia, um “corpo estranho” na região. E isso une o povo árabe em torno de um objetivo comum, inclusive, motivando decisões em conjunto na Liga Árabe. Mais à frente veremos que, ao contrário do que muitos pensam, a maioria dos conflitos no Oriente Médio não envolve Israel – a exemplo da Primavera Árabe e das guerras civis do Iêmen e da Síria. Se o conflito Israel x Palestina fosse resolvido (o que seria muito difícil, infelizmente), mesmo assim, o mundo árabe continuaria envolvido em disputas. De forma geral, as relações do Brasil com o Oriente Médio são muito recentes, em sua maioria consolidadas nos anos 1970 – os Estados Unidos e a Argentina, por exemplo, se relacionam conosco pelo menos desde o século XIX. Na tabela abaixo, é possível visualizar o ano de estabelecimento de relações diplomáticas com o Brasil, de acordo com cada país da região: Estabelecimento de relações diplomáticas com o Brasil 1858/1923 – Turquia 1968 – Arábia Saudita 1903 – Irã 1968 – Kuwait 1924 – Egito 1974 – Qatar 1945 – Líbano 1974 – Emirados Árabes Unidos 1949 – Israel 1974 – Omã 1952 – Síria 1980 – Bahrein 1959 – Jordânia 1984/1990 – Iêmen 1967 – Iraque 2010 – Palestina Um dos primeiros países da região a ter relações estabelecidas com o Brasil foi a Turquia; na verdade, o Império Turco-Otomano, ainda em 1858, na época do Brasil-Império. Com o final da Primeira Guerra Mundial, este grande império chegou ao fim, dando origem a Turquia e a demais países independentes. Neste novo cenário, o Brasil reconheceu a Turquia e estabeleceu relações diplomáticas com o país em 1923. No ano seguinte, em 1924, estabeleceu relações com o Egito. Alexandre Vastella, Filipe Martins Aula 31 Política Internacional p/ CACD (Primeira e Segunda Fases) - Com Videoaulas - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br Prof. Filipe Martins e Prof. Alexandre Vastella Aula 31 – Oriente Médio e seus impactos nas Relações Internacionais 8 60 Após a Segunda Guerra Mundial, o Brasil estabeleceu relações com o Líbano (1945) e com o recém- criado Estado de Israel (1947), cujoprocesso teve relevante participação do diplomata brasileiro Oswaldo Aranha. E, posteriormente, veio a Jordânia (1959). Nesta época, conforme veremos ainda nesta aula, o Brasil mantinha equidistância entre Israel e os povos árabes, se mantendo neutro no conflito. Foi durante o Governo Militar (1964 – 1985) que ocorreu a maior parte de abertura de relações diplomáticas, aprofundando a Política Externa Independente. Durante o Governo Costa e Silva (1967 – 1969), foram costuradas relações com Iraque (1967), Arábia Saudita (1968) e Kuwait (1968). Durante o Governo Geisel (1974 – 1979), na época do Pragmatismo Responsável e Ecumênico, foram abertas relações com Qatar, Emirados Árabes Unidos e Omã – os três em 1974, no primeiro ano do novo mandato e imediatamente após o Choque do Petróleo, de 1973. Posteriormente, Bahrein (1980) e Iêmen (1984) – em 1990, houve a unificação do Iêmen, processo que o Brasil imediatamente reconheceu. O último Estado a ter relações oficiais estabelecidas com o Brasil foi a Palestina (2010), no final do segundo mandato do Governo Lula. Embora durante o governo Geisel, nos anos 1970, tivesse sido estabelecido um escritório da Organização para a Libertação Palestina (OLP) no Brasil, ainda não havia vínculos oficiais desde então. O Brasil, apesar disso, não abandonou a equidistância no conflito árabe- israelense. Todas as informações acima, já foram vistas na Aula 14. Oriente Médio para OCDE Oriente Médio para o Itamaraty Engloba uma grande área desde a Península Arábica, passando pelo norte da África e partes da Ásia Central. Apenas Península Arábica e alguns arredores. Da África, somente o Egito – por conta da Península do Sinai. Região estratégica Devemos entender é que o Oriente Médio é uma região estratégica no sistema internacional. Do ponto de vista econômico, além de apresentar grande crescimento, é berço de vultosas reservas de petróleo e gás. Do ponto de vista cultural, é berço das três principais religiões globais – judaísmo, cristianismo e islamismo. Do ponto de vista histórico e geográfico, foi – e ainda é – local de conexão entre Europa, África e Ásia, três continentes que estão conectados muito antes dos europeus chegarem à América, sobretudo por meio da Rota da Seda e do Canal de Suez. Conforme o quadro abaixo: Oriente Médio – impacto da região nas relações internacionais Impacto econômico Crescimento médio de Os países do Oriente Médio apresentam um grande potencial de crescimento e Alexandre Vastella, Filipe Martins Aula 31 Política Internacional p/ CACD (Primeira e Segunda Fases) - Com Videoaulas - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br Prof. Filipe Martins e Prof. Alexandre Vastella Aula 31 – Oriente Médio e seus impactos nas Relações Internacionais 9 60 2,6% ao ano atualmente, crescem em torno de 2,6% ao ano. Além de terem grandes reservas de gás e petróleo, são estratégicos para o comércio mundial: além da localização estratégica entre os três continentes, também contam com um grande mercado consumidor. O Iraque, por exemplo, tem crescido em elevadas taxas após a intervenção americana – em alguns anos, chegou a crescer 10%. No mais, a região é dotada de países relativamente prósperos como as potências regionais Irã, Israel e Arábia Saudita e também, os ricos Emirados Árabes e Qatar. Cerca de 50% das reservas globais de petróleo Cerca de 40% das reservas globais de gás natural O Oriente Médio possui cerca de 50% das reservas globais de petróleo e 40% das reservas globais de gás natural. Ou seja, é bastante expressivo no setor de energia. Ainda que energias renováveis estejam sendo cada vez mais utilizadas, é inegável a dependência que o Ocidente tem dos hidrocarbonetos, especialmente a indústria e o setor militar. Logo, há uma grande dependência com o Oriente Médio. Impacto cultural Conflitos identitários e envolvimento de grandes potências Na dimensão cultural, o Oriente Médio possui diversos conflitos identidários entre os diversos grupos tribais, étnicos e religiosos que, na maioria das vezes, são acompanhados de perto pelas grandes potências, especialmente Estados Unidos e Rússia que, normalmente, possuem posicionamentos antagônicos. Tradicionalmente, o Oriente Médio sempre foi uma das preocupações prioritárias da política externa de Washington. Estamos acompanhando, por exemplo, as polêmicas da transferência de embaixada americana para Jerusalém e os últimos desdobramentos da Guerra na Síria. Berço de religiões abrâmicas Apesar dos conflitos, o aspecto cultural mais importante do Oriente Médio é o fato de ter sido berço das religiões abraâmicas – judaísmo, cristianismo e islamismo. Ou seja, religiões seguidas pela maior parte da população global – ainda que o judaísmo seja menos expressivo numericamente que as outras duas. Podemos dizer, portanto, que o Oriente Médio é um dos berços da civilização ocidental e, além disso, berço da civilização islâmica que lá habita. Para os europeus e, para nós, americanos, a moral judaico-cristã exerce grande peso. E, para os muçulmanos, os ensinamentos do corão. Tudo isso surgiu exatamente no Oriente Médio. Impacto geográfico Histórica rota comercial terrestre e marítima Região estrategicamente Do ponto de vista geográfico, o Oriente Médio é uma histórica rota comercial terrestre e marítima, sendo uma região estrategicamente situada entre a Europa, África e Ásia. Muito antes dos europeus chegarem à América, esses três continentes já estavam há muito tempo conectados, sendo o Oriente Médio a principal área de conexão entre eles. Alexandre Vastella, Filipe Martins Aula 31 Política Internacional p/ CACD (Primeira e Segunda Fases) - Com Videoaulas - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br Prof. Filipe Martins e Prof. Alexandre Vastella Aula 31 – Oriente Médio e seus impactos nas Relações Internacionais 10 60 situada entre a Europa, África e Ásia Podemos citar, por exemplo, a Rota da Seda entre a Ásia e a Europa, bem como o Canal de Suez; e, a própria existência do Império Otomano, um importante articulador desde pelo menos o século XIII. Canal de Suez O Canal de Suez merece destaque especial porque consiste no ponto de conexão entre a saída do Mar Mediterrâneo e os continentes asiático e africano. Devido à sua posição estratégica, o Canal de Suez tem sido alvo de intensas disputas históricas, sendo fundamental para a projeção de poder de qualquer potência. Não por acaso, a região foi intensamente disputada durante a Guerra Fria. Quando o Egito nacionalizou o Canal de Suez, França, Reino Unido e Israel se aliaram contra o governo egípcio. Ao invés de apoiar seus aliados históricos, os Estados Unidos foram contra a ocupação franco-britânica-israelense. Essa postura se justificou porque a livre navegação do Canal de Suez é fundamental para os Estados Unidos, tanto para o comércio quanto para o aspecto militar. Em relação à população, o Oriente Médio possui maioria muçulmana (conforme mapa abaixo), o que inclui o norte da África e parte da Ásia Central. Perceba que países do sudeste asiático como, por exemplo, Filipinas e Indonésia, também possuem maioria desta religião. Perceba também, que há um “pontinho” branco no mapa, exatamente no centro do Oriente Médio, representando Israel, de maioria judaica. Abaixo, há um mapa mais detalhado onde podemos ver que os muçulmanos se dividem entre sunitas e xiitas. Enquanto os sunitas são a maioria, abrangendo todo o norte da África (em vermelho escuro), partes da Ásia Central do Sudeste Asiático – bem como alguns países do Golfo Pérsico, os xiitas se Alexandre Vastella, Filipe Martins Aula 31 Política Internacional p/ CACD (Primeira e Segunda Fases) - Com Videoaulas - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br Prof. Filipe Martins e Prof. Alexandre Vastella Aula 31 – Oriente Médio e seus impactos nas Relações Internacionais11 60 concentram especificamente no Iraque e no Irã (em vermelho claro). Há também, países divididos, como é o caso do Iêmen; ou ainda, “outros grupos” do Islã, como é o caso da Somália. Religião predominante no mundo Embora partilhem da mesma fé, xiitas e sunitas divergem na sucessão do profeta Maomé. Para os sunitas – que são a maioria – o califa (sucessor de Maomé) deveria ser eleito pelos próprios muçulmanos. Já para os xiitas, o verdadeiro sucessor seria Ali, o genro de Maomé. As divergências, portanto, podem ser explicadas pela percepção sobre a religião islâmica, que é diferente para ambos os grupos: para os xiitas, a autoridade máxima do islã – aquela ocupada por Maomé – deveria passar de geração em geração; já para os sunitas, a questão geracional não é tão importante. Neste caso, o aspecto fundamental são as tradições religiosas. Por conta desses diversos fatores – disputas entre cristãos, muçulmanos e judeus, entre muçulanos sunitas e xiitas, entre sauditas e iranianos, entre norte-americanos e russos, entre governos e grupos rebeldes, etc. – o Oriente Médio é um barril de pólvora super complexo de entender. A imagem abaixo faz uma sátira a essa complexidade: A complexidade do Oriente Médio em uma sátira Ao lado, há um diagrama cheio de fluxos, praticamente impossível de entender. Podemos ler que “Palestina e Israel foram desconsiderados em prol da simplicidade”. O humor da imagem está no fato de que caso esses dois países fossem incluídos, o diagrama ficaria ainda mais incompreensível. Isso significa que não é possível entender todo o Oriente Médio em apenas uma aula, ainda que seja mais longa que as demais. Alexandre Vastella, Filipe Martins Aula 31 Política Internacional p/ CACD (Primeira e Segunda Fases) - Com Videoaulas - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br Prof. Filipe Martins e Prof. Alexandre Vastella Aula 31 – Oriente Médio e seus impactos nas Relações Internacionais 12 60 CAI NA PROVA Cespe/UNB (CACD/2017) Os conflitos no Barein e no Iêmen estão estreitamente relacionados a luta pela hegemonia regional travada entre o Irã e a Arábia Saudita. COMENTÁRIO A questão claramente pede “a É exatamente essa a abordagem que procuramos fazer em nossas aulas: grande parte dos conflitos do Oriente Médio podem ser explicados pela disputa de hegemonia entre Arábia Saudita e Irã, as duas potências regionais que são apoiadas por grandes potências. Enquanto os Estados Unidos costumam apoiar os sauditas, os russos costumam apoiar os iranianos. Essa abordagem de proxy wars (guerras de procuração) nos permite entender uma série de eventos no Oriente Médio como, por exemplo, a Primavera Árabe, a Guerra Civil no Iêmen e a Guerra na Síria. Gabarito: correto. Oriente Médio na história Nesse item, veremos alguns antecedentes históricos para entendermos as relações internacionais no Oriente Médio. Evidentemente, dada à complexidade da região, isso será feito de forma selecionada e pontual, apenas com os fatos imprescindíveis ao entendimento da aula Oriente Médio na Antiguidade e Idade Média – da civilização ao islã O primeiro aspecto que devemos ressaltar é que o Oriente Médio é um dos berços da civilização humana. Por volta de 2.500 anos antes de Cristo, a região do Golfo Pérsico já era ocupada pela Mesopotâmia no chamado crescente fértil – a área compreendida entre os rios Tigre e Eufrates (conforme mapa ao lado). Neste período, a descoberta da agricultura possibilitou que o homem se sedentarisasse e contruísse os primeiros agrupamentos humanos. Nessa região ocupada desde milênios antes de Cristo, surgiram as principais religiões que conhecemos hoje: primeiramente o judaísmo, depois o cristianismo e por fim, o islamismo. Na região, também foram praticados o mitraísmo e o zoroastrismo que, respectivamente, veneravam Mitra e Zaratustra. Embora o CACD seja uma prova complicada, não é necessário entender todas essas religiões. O Alexandre Vastella, Filipe Martins Aula 31 Política Internacional p/ CACD (Primeira e Segunda Fases) - Com Videoaulas - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br Prof. Filipe Martins e Prof. Alexandre Vastella Aula 31 – Oriente Médio e seus impactos nas Relações Internacionais 13 60 que interessa para nós, por enquanto, é entender que essas crenças praticadas no Oriente Médio foram se expandindo até a Europa e que, portanto, havia um corredor de influência cultural no Mar Mediterrâneo. O mapa abaixo, à direita da página, retrata o cenário religioso que existia pouco tempo antes do surgimento do islã. Nota-se que, antes do islã surgir, as principais religiões da época cresceram ao longo do Mediterrâneo, quase sempre do leste (Oriente Médio) para oeste (Europa). Nesse aspecto, podemos destacar a expansão do cristianismo e suas áreas recém-convertidas (respectivamente representadas pela seta vermelha e pela área em rosa). Posteriormente, grande parte dessas áreas foi incorporada ao domínio muçulmano. Esse contexto foi alterado pelo surgimento do islamismo em 632, na Península Arábica. Na época, o Profeta Maomé, alegando ter tido uma revelação, reuniu várias tribos politeístas sob uma única religião monoteísta, baseada nos ensinamentos de Alá. Em pouquíssimo tempo, o islamismo cresceu de forma impressionante, saindo da Península Arábica e rapidamente chegando ao restante do Oriente Médio, ao norte da África e, posteriormente, à Península Ibérica até chegar a Portugal e Espanha. Os dois mapas abaixo mostram a situação geográfica do islã em 632 e 655. Perceba que há um intervalo de apenas duas décadas! O rápido expansionismo do islã – evolução da área territorial em apenas duas décadas. Islã em 632 Islã em 655 A expansão religiosa do islamismo ocorreu juntamente à expansão política da religião. Além de estabelecer novas crenças, o islã introduziu a ideia de califado – uma forma monárquica e religiosa de governo baseada nos sucessores do Profeta Maomé. Inclusive, conforme já estudamos, esse é o maior ponto de discordância entre xiitas e sunitas que acreditam, respectivamente, que a sucessão deve ocorrer Alexandre Vastella, Filipe Martins Aula 31 Política Internacional p/ CACD (Primeira e Segunda Fases) - Com Videoaulas - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br Prof. Filipe Martins e Prof. Alexandre Vastella Aula 31 – Oriente Médio e seus impactos nas Relações Internacionais 14 60 por meio de descendentes diretos de Maomé e por eleições entre seus representantes. Tempos depois, com o expansionismo do islã, seria formado o Califado de Omíada (ou Califado de Umayyad – mapa abaixo), com uma imensa área abrangendo o Oriente Médio, o norte da África e a Península Ibérica. Oriente Médio na Modernidade – imperialismo europeu e ocupação colonial Posteriormente, nos últimos três séculos do milênio, já em contexto de colonialismo e imperialismo, o Oriente Médio foi ocupado por potências europeias – especialmente Reino Unido, França e Itália, um movimento que se intensificou no século XIX e nas décadas que antecederam a Primeira Guerra Mundial. Perceba, no mapa abaixo (página a seguir), que no início do século XX toda a região estava “fatiada” entre as grandes potências. Enquanto os britânicos controlavam os atuais territórios do Egito e do Sudão, bem como as bordas da Península Arábica – atuais territórios do Iêmen e Omã; os franceses controlavam o Magreb, tendo domínios sob os atuais Marrocos, Argélia e Tunísia. Para os italianos, mais fracos, restavam os territórios onde hoje se localiza a Líbia. Nesse momento, os espanhóis tinham poucas possessões, apenas no Marrocos, onde atualmente estão as cidades de Ceuta e Melilla. As poucas áreas independentes se concentravam no que restava do Império Otomano, um Estado que existiu entre os séculos XIII e XX. Veremos sobre este império no item abaixo. Alexandre Vastella,Filipe Martins Aula 31 Política Internacional p/ CACD (Primeira e Segunda Fases) - Com Videoaulas - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br Prof. Filipe Martins e Prof. Alexandre Vastella Aula 31 – Oriente Médio e seus impactos nas Relações Internacionais 15 60 Oriente Médio no início do século XX – a expansão colonial europeia Oriente Médio no século XX – fim do Império Otomano e Sykes-Pikot O que hoje entendemos como Oriente Médio foi derivado do antigo Império Otomano, um Estado que existiu por muitos séculos, especificamente entre 1299 e 1922, do final do século XIII ao final da Primeira Guerra Mundial. Embora tivesse tido altos e baixos na sua história, o Império chegou a exercer, durante muito tempo, a hegemonia regional, sendo ponto estratégico entre o Ocidente e o Oriente. Contudo, a partir do século XIX, o Império Otomano começou a enfraquecer, conforme podemos perceber nas figuras abaixo: 1800 – Otomanos perdem o controle do império 1900 – Ambições britânicas e russas se colidem Alexandre Vastella, Filipe Martins Aula 31 Política Internacional p/ CACD (Primeira e Segunda Fases) - Com Videoaulas - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br Prof. Filipe Martins e Prof. Alexandre Vastella Aula 31 – Oriente Médio e seus impactos nas Relações Internacionais 16 60 Império Otomano começa a perder o controle do próprio território, abrindo um vácuo de poder. Em laranja, áreas de domínio britânico. Em vermelho, áreas de domínio russo que, nesse momento, começavam a se expandir na região. Com o enfraquecimento do Império Otomano, houve o expansionismo da Rússia (vermelho) e do Reino Unido (laranja). Perceba, em relação ao mapa anterior, como o Império Otomano (em bege) enfraqueceu. Entre 1800 e 1900, o Império Otomano perdeu muitas áreas de influência, especialmente no litoral da Península Arábica. No início do século XX, o Império se aliou à Alemanha e saiu vencido da Primeira Guerra Mundial, uma derrota que lhe custou a própria existência. Após quatro anos do final do conflito, o Império Otomano finalmente colapsou. Entre os fatores que levaram ao fim do Império, podemos citar as ambições das grandes potências na região, especialmente Reino Unido, França, Rússia e Itália. No século XIX, a Rússia procurou estender seu domínio territorial na antiga pérsia – área compreendida, com algumas distinções territoriais, pelo atual Irã. Do mesmo modo, o Reino Unido avançava a oeste, tentando conquistar territórios na Península do Sinai – Egito e Sudão já eram colônias britânicas – e também, em demais áreas da Península Arábica. Tentavam, sobretudo, manter o controle do Canal de Suez. Nesse período, o Reino Unido era a principal potência mundial, possuía uma grande marinha mercante, praticava comércio com grande parte do mundo e, sendo assim, o controle de Suez era fundamental à geopolítica britânica. Portanto, o Reino Unido possuía ambições mais comerciais do que militares; enquanto a Rússia, ambições mais militares do que econômicas. Apesar do choque de interesses entre Rússia e Reino Unido, as principais potências na época eram Reino Unido e França – e não a Rússia. Por isso, esses dois países, pouco antes do término da Primeira Guerra Mundial, prevendo o enfraquecimento do Império Otomano, articularam um acordo secreto – na época, a diplomacia secreta era regra – para partilhar as áreas de influência no Oriente Médio deixadas pelo vácuo de poder do Império Otomano. Esse ficou conhecido como Acordo de Sykes-Picot (1916), cujo nome derivou dos diplomatas Mark Sykes (Reino Unido) e François Georges-Picot (França). Os territórios atuais da Síria, do Líbano, do norte do Iraque e do nordeste da Turquia seriam controlados pela França. Já os atuais Iraque, Jordânia, Kuwait e parte da Arábia Saudita, controladas pelo Reino Unido. Embora a Itália e a Rússia também tivessem ambições na região, não tinham o poderio suficiente para contestar a França e o Reino Unido. Por isso, tiveram que se contentar com menos porções territoriais: os italianos ficaram com parte da Turquia e os russos, com parte do antigo Império Persa. Alexandre Vastella, Filipe Martins Aula 31 Política Internacional p/ CACD (Primeira e Segunda Fases) - Com Videoaulas - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br Prof. Filipe Martins e Prof. Alexandre Vastella Aula 31 – Oriente Médio e seus impactos nas Relações Internacionais 17 60 Acordo de Sykes-Picot (1916) – fatiamento do Império Otomano, já em decadência. Áreas de influência de cada país Estabelecimento de Estados independentes França e Reino Unido estabelecem áreas de influência na região. Itália e Rússia, mais fracas, se contentam com as áreas menos relevantes. A França estimula a independência dos Estados na área “A” e o Reino Unido, na área “B”. Uma vez independentes, esses Estados ficariam subordinados respectivamente à França e ao Reino Unido. No ano seguinte, em 1917, após a Revolução Russa, os bolcheviques tornaram públicos os documentos do Acordo de Sykes-Picot, gerando uma grande revolta nos países árabes. Isso só foi possível porque a Rússia czarista, pré-revolucionária, participava do Congresso de Viena e tinha acesso a documentos sigilosos da diplomacia secreta. A revolta dos países árabes se deu porque as potências partilharam seus territórios sem qualquer tipo de consulta, de modo a obterem ganhos próprios, ignorando as realidades culturais da região. É evidente que o domínio das grandes potências não era feito de forma descarada, afinal, o acordo era secreto. Na verdade, França e Reino Unido estimularam a corrosão do Império Otomano fomentando movimentos de independência. À medida que esses países fossem se tornando Estados independentes, poderiam ser subjugados com maior facilidade pelos países europeus. O Reino Unido, por exemplo, enviou muitos diplomatas ao Oriente Médio com o objetivo de articular forças militares e costurar separatismos, estimulando assim, rebeliões contra a força estatal otomana. O Acordo de Sykes-Picot teve consequências irremediáveis que perduram até os dias atuais, pois delimitou as fronteiras da região. O problema é que isso foi feito ignorando a realidade cultural e religiosa dos povos que ali viviam. Assim como ocorrido na África, as potências europeias simplesmente ignoraram a realidade local desses países, agrupando grupos rivais em um único Estado ou, separando grupos aliados em mais de um Estado. O mapa abaixo mostra a separação atual entre xiitas e sunitas: Alexandre Vastella, Filipe Martins Aula 31 Política Internacional p/ CACD (Primeira e Segunda Fases) - Com Videoaulas - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br Prof. Filipe Martins e Prof. Alexandre Vastella Aula 31 – Oriente Médio e seus impactos nas Relações Internacionais 18 60 Sunitas (cinza) e xiitas (amarelo) no Oriente Médio Perceba que no caso do Iraque, por exemplo, a numerosa população xiita ficou sob o domínio de um governo sunita; e a mesma situação se repetiu na Síria, na Arábia Saudita e em demais países da região. Até hoje, são países que vivem em guerra; em grande parte, justificadas pela divergência étnica. O próprio Irã, de maioria xiita, têm procurado fomentar a insurgência de grupos xiitas minoritários nesses países nos dias atuais. Oriente Médio após a Segunda Guerra – a criação do Estado de Israel Além do Acordo de Sykes-Picot (1916) e do fim do Império Otomano (1922), outro acontecimento importante na região foi a criação do Estado judaico de Israel (1948), um ano após a ONU aprovar o Plano de Partilha, em sessão da Assembleia Geral coordenada pelo brasileiro Oswaldo Aranha. Esse Estado foi construído sob o antigo Mandato Britânico da Palestina, uma colônia inglesa ocupada entre 1920 até 1948 , entre o fim do Império Otomano e o Plano de Partilha que justamente criou Israel.De acordo com o Plano de Partilha aprovado na ONU, a região seria dividida entre: um Estado judeu (no mapa abaixo, em azul); um Estado árabe (no mapa abaixo, em marrom); e, Jerusalém, de interesse judaico, cristão e muçulmano, ficaria sob domínio internacional (em vermelho). No quadro abaixo, podemos ver com detalhes a evolução territorial de Israel: Alexandre Vastella, Filipe Martins Aula 31 Política Internacional p/ CACD (Primeira e Segunda Fases) - Com Videoaulas - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br Prof. Filipe Martins e Prof. Alexandre Vastella Aula 31 – Oriente Médio e seus impactos nas Relações Internacionais 19 60 Evolução territorial de Israel Após a 1ª Guerra, região é fatiada Após a 2ª Guerra, judeus criam Estado na região Após a Primeira Guerra e o fim do Império Otomano, a região foi fatiada entre as grandes potências. Após a Segunda Guerra, judeus criam Estado na região, no antigo Mandato Britânico da Palestina. 1947 – Plano de Partilha da ONU Jun/1948 – Árabes invadem Israel Jul/1948 – Israel contra-ataca Judeus ficariam com Israel (em azul), árabes com Cisjordânia e Faixa de Gaza (em marrom) e Jerusalém seria administrada internacionalmente (em rosa). Em 1948, árabes (setas verdes) invadem Israel por conta do não- reconhecimento do país e ocuparam áreas em cinza. Ainda em 1948, Israel consegue revidar e expulsar os árabes (setas em marrom), consolidando seu território. Alexandre Vastella, Filipe Martins Aula 31 Política Internacional p/ CACD (Primeira e Segunda Fases) - Com Videoaulas - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br Prof. Filipe Martins e Prof. Alexandre Vastella Aula 31 – Oriente Médio e seus impactos nas Relações Internacionais 20 60 1949: Fronteiras pós- armistício 1967: Terra ocupada por Israel Situação atual - assentamentos Após o armistício de 1949, Israel anexa grande parte da Faixa de Gaza. Em 1967, Israel faz um ataque preventivo (Guerra dos Seis Dias), anexando partes do Egito, Cisjordânia e Síria (em marrom). Atualmente, Israel constrói assentamentos na Cisjordânia, o que tem causado grande polêmica internacional. Conforme podemos perceber, após o Plano de Partilha, os povos árabes invadiram Israel ainda em 1948, logo após a independência do novo país. Isso porque os vizinhos eram fortemente contrários ao Plano de Partilha e, inclusive, até os dias de hoje, rechaçam a presença de um Estado judeu na região. Apesar das ofensivas, Israel saiu vitorioso e, além disso, conseguiu ocupar novos territórios para além do Plano de Partilha original como, por exemplo, uma grande área da Faixa de Gaza e demais porções ao norte. Em 1967, durante a Guerra dos Seis Dias, Israel ainda ocuparia a Península do Sinai (Egito) e as Colinas do Golã (Síria), ampliando ainda mais seu domínio territorial. A primeira área, foi devolvida ao Egito; já a segunda, permanece até os dias atuais sob controle israelense. O mapa abaixo (na página seguinte), mostra os países que: reconhecem somente Israel (em azul escuro); que reconhecem Israel, mas mantém relações com a Palestina (em azul claro); que reconhecem tanto Israel quanto Palestina (em cinza escuro); que reconhecem somente a Palestina, mas mantém relações com Israel (em cinza claro); e, que reconhecem apenas a Palestina (em verde). Podemos perceber que a maioria do sistema internacional, inclusive o Brasil, reconhece ambos os Estados. Países da América do Norte e da Europa Ocidental tendem a reconhecer somente Israel, embora mantenham relações “obrigatórias” com a Palestina. Já os demais países do Oriente Médio – norte da África, Golfo Pérsico e adjacências – não reconhecem Israel. Uma das poucas exceções é o Egito, que reconheceu Israel nos Acordos de Camp David, em 1978, em troca da devolução da Península do Sinai anteriormente ocupada na Guerra dos Seis Dias, em 1967. Alexandre Vastella, Filipe Martins Aula 31 Política Internacional p/ CACD (Primeira e Segunda Fases) - Com Videoaulas - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br Prof. Filipe Martins e Prof. Alexandre Vastella Aula 31 – Oriente Médio e seus impactos nas Relações Internacionais 21 60 Reconhecimento de Israel e Palestina no sistema internacional Oriente Médio e questões atuais Neste item, estudaremos algumas disputas atuais sobre o Oriente Médio. Evidentemente, não é possível abordar todas as questões importantes. Por isso, focaremos em três principais: o conflito entre Israel e Palestina – que já abordamos no item anterior; as disputas regionais entre Irã e Arábia Saudita – necessária para termos um panorama geopolítico atual da região; e a sequência entre a Primavera Árabe e a Guerra da Síria. Conflito Israel versus Palestina Após alguns aspectos iniciais sobre a criação do Estado de Israel, estudaremos agora com mais detalhes a polêmica e complexa questão envolvendo Israel e Palestina; ou, abrindo mais o leque da discussão, entre Israel e os países árabes; ou ainda, entre o Estado judeu e os Estados árabes. É evidente que não dá para esgotar o assunto aqui, no entanto, destacaremos os principais pontos do debate, da forma mais neutra possível, sem envolver juízos de valor. Começaremos com o quadro abaixo: Alexandre Vastella, Filipe Martins Aula 31 Política Internacional p/ CACD (Primeira e Segunda Fases) - Com Videoaulas - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br Prof. Filipe Martins e Prof. Alexandre Vastella Aula 31 – Oriente Médio e seus impactos nas Relações Internacionais 22 60 Dentre os principais antecedentes da questão árabe-israelense, podemos citar o surgimento do sionismo entre os séculos XIX e XX. Basicamente, trata-se da ideia de que o judaísmo não deveria ser visto apenas como religião, mas como uma etnia, que representasse um ideal de nacionalidade, que tivesse um território e, portanto, que abrangesse um Estado étnico. Trata-se, portanto da expansão do conceito de judaísmo, de uma religião para uma sociedade organizada. O movimento sionista cresceu bastante com os inúmeros episódios de discriminação e perseguição de judeus que vinham ocorrendo desde pelo menos a época da Rússia czarista, se intensificando na União Soviética e, principalmente, em grau inédito, na Alemanha nazista. Em todos esses acontecimentos, houve a discussão para o estabelecimento de um território judeu, onde os adeptos dessa religião – ou etnia – pudessem viver em paz. Na contramão desses anseios, alguns grupos antissionistas argumentavam que, na verdade, os judeus não queriam apenas um território para si, mas sim, dominar o mundo; afinal, teriam controle de grande parte das instituições bancárias. O fato é que o sionismo nunca foi um consenso. De um lado, os judeus tentavam se afirmar; porém, de outro, a perseguição se acirrava. Diante dessa perspectiva, os judeus historicamente demandaram às grandes potências o estabelecimento de um Estado próprio, especialmente aos Estados Unidos e ao Reino Unido. No entanto, nunca foram atendidos. A reivindicação ganhou fôlego com o estabelecimento do importante Acordo de Sykes-Picot (1916) que dividiu as áreas de influência do Oriente Médio entre França e Reino Unido, porém, mesmo assim o pleito judeu não foi para frente. Em contexto desse acordo, a Palestina – que era muito maior do que é hoje – se tornou território internacional administrado pela Liga das Nações; ou seja, nem pela França e nem pelo Reino Unido. No entanto, isso nunca foi esclarecido, pois o Acordo de Sykes-Picot era secreto. Em outras palavras, a Palestina era administrada internacionalmente, mas ela não sabia disso. Como já estudamos, a verdade só veio à tona quando o Partido Bolchevique, que havia tomado o poder na Rússia, decidiu revelar o acordo ao mundo, gerando grande insatisfação dos países árabes com as potências estrangeiras. Diante do descontentamento dosárabes, o Reino Unido tentou manter a hegemonia regional prometendo benefícios aos países da região, principalmente no que diz respeito à independência destas nações – ou seja, à emancipação do já decadente Império Otomano. Aos judeus, os ingleses prometeram um território próprio, o que atenderia às antigas reivindicações sionistas. Essa promessa ocorreu na Declaração Balfour (1917), cujo texto pode ser lido abaixo: Alexandre Vastella, Filipe Martins Aula 31 Política Internacional p/ CACD (Primeira e Segunda Fases) - Com Videoaulas - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br Prof. Filipe Martins e Prof. Alexandre Vastella Aula 31 – Oriente Médio e seus impactos nas Relações Internacionais 23 60 "Caro Lord Rothschild, "Tenho o grande prazer de endereçar a V. Sa., em nome do governo de Sua Majestade, a seguinte declaração de simpatia quanto às aspirações sionistas, declaração submetida ao gabinete e por ele aprovada: O governo de Sua Majestade encara favoravelmente o estabelecimento, na Palestina, de um Lar Nacional para o Povo Judeu, e empregará todos os seus esforços no sentido de facilitar a realização desse objetivo, entendendo-se claramente que nada será feito que possa atentar contra os direitos civis e religiosos das coletividades não-judaicas existentes na Palestina, nem contra os direitos e o estatuto político de que gozam os judeus em qualquer outro país.´ Desde já, declaro-me extremamente grato a V. Sa. pela gentileza de encaminhar esta declaração ao conhecimento da Federação Sionista. Arthur James Balfour. O nome do documento veio de Arthur Balfour, o Secretário de Estado para os Assuntos Estrangeiros do Reino Unido na época. Na Declaração, Balfour se mostrou favorável à implantação de um Estado judeu na Palestina britânica caso o Império Otomano saísse derrotado. Porém, na prática, o Reino Unido acabou falhando em cumprir as promessas: deu pouco apoio à independência dos países árabes e também, fez pouco caso do pleito judaico. Novamente, os judeus ficariam sem Estado. Costuma dizer que árabes e judeus estão em guerra há milênios; no entanto, o convívio entre esses povos era relativamente pacífico no Império Otomano (1299 – 1922). É verdade que essa região sempre foi conflituosa, no entanto, os judeus possuem um longo histórico de convivência com persas, gregos, romanos e árabes. Foi somente a partir da criação do Estado de Israel (1947) que as tensões se acirraram a ponto de criar um ódio generalizado entre ambos. – O fato é que com o passar do tempo, foi fortalecida a ideia de que o judaísmo não era apenas uma religião, mas também, uma etnia e uma nacionalidade. Devido a uma série de fatores, os judeus foram escolhidos como “bodes expiatórios” pelos nazistas e por demais governos autoritários. O ápice desse processo ocorreu com o holocausto, processo que resultou na morte de mais de seis milhões de judeus. Após o final da Segunda Guerra Mundial e a consequente revelação dos crimes de guerra nazistas, houve grande comoção internacional com o holocausto. Esse cenário motivou as potências e as elites internacionais a fazerem algo pelo povo judeu, amplamente discriminado durante a guerra. Foi nesse contexto que finalmente se decidiu pela criação do Estado de Israel, em 1947. Do mesmo modo, vários países começaram a propor soluções para a Palestina, entre eles a União Soviética e o próprio Reino Unido. A proposta que surge nesse momento é a divisão do Mandato Britânico da Palestina uma grande área, muito maior do que hoje, que havia sido território do Reino Unido e, anteriormente, do Império Otomano. Apesar dessa ideia não ser nova (o movimento sionista já cogitava um Estado ali), foi somente nesse período pós-Guerra que houve as condições políticas necessárias para a repartição. Nesse contexto, em 1947, sob a presidência do brasileiro Oswaldo Aranha, a Assembleia Geral da ONU aprovou a Resolução n.181 que finalmente, criava o Estado judaico de Israel. Alexandre Vastella, Filipe Martins Aula 31 Política Internacional p/ CACD (Primeira e Segunda Fases) - Com Videoaulas - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br Prof. Filipe Martins e Prof. Alexandre Vastella Aula 31 – Oriente Médio e seus impactos nas Relações Internacionais 24 60 Segundo o Plano de Partilha aprovado, os árabes ficariam com a Cisjordânia e a Faixa de Gaza. Já os judeus, ficariam com o restante do território. No geral, 53% do território da grande Palestina foi destinado à Israel e 47% para os árabes. A cidade de Jerusalém, que guarda símbolos sagrados do cristianismo, do judaísmo e do islamismo, seria administrada internacionalmente. Foi nesse cenário que Israel se declarou independente, em 1948. Nesse momento, os judeus que imigraram para Israel eram, em sua maioria, europeus que sobreviveram à Segunda Guerra Mundial, além de imigrantes dos Estados Unidos e de outras partes do mundo. Em suma, quem chegou à Israel eram pessoas que haviam passado pelo trauma de guerra. No entanto, os árabes não se sensibilizaram com isso: ao invés de se solidarizarem com os judeus, passaram a enxergar Israel como uma tentativa dos países imperialistas de manipular os povos árabes; ou seja, uma verdadeira intromissão em terras que lhes pertenceriam. Por isso, Israel sempre foi considerado um “país intruso” na região. Além disso, nessa época, houve o aumento do nacionalismo palestino, não somente o nacionalismo árabe, mas especificamente, o sentimento, por parte dos palestinos, de que não eram somente “árabes”; e, sim “árabes palestinos”. Isso, evidentemente, lhes garantiu uma identidade mais coesa, uma cultura própria que lhes distinguia dos restantes dos árabes. Isso é importante mencionar porque, por outro lado, havia o nacionalismo judeu – muito bem teorizado e discutido desde o século XIX pelo movimento sionista. Com o estabelecimento de Israel, houve um conflito de nacionalidades – uma disputa não somente militar, mas cultural. Para entendermos melhor essa questão do nacionalismo, vamos estudar o exemplo da África do Sul, um país colonizado por ingleses e holandeses. Após permanecerem em território sul-africano por muitos anos, os imigrantes passaram a não se ver mais como “holandeses”, mas sim, como “holandeses sul-africanos”. Ou seja, não se identificavam mais com os consanguíneos da metrópole europeia; e, sendo assim, passaram a demandar um Estado próprio na África do Sul. Esse fato motivou muitos conflitos entre os povos de descendência holandesa e os britânicos na região. Alexandre Vastella, Filipe Martins Aula 31 Política Internacional p/ CACD (Primeira e Segunda Fases) - Com Videoaulas - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br Prof. Filipe Martins e Prof. Alexandre Vastella Aula 31 – Oriente Médio e seus impactos nas Relações Internacionais 25 60 O fato é que a Liga Árabe rejeitou fortemente o Plano de Partilha delimitado pela Resolução 181 – inclusive, essa rejeição se mantém até hoje no discurso de muitos líderes muçulmanos. Por isso, logo após Israel declarar independência, foi atacado pelos países árabes da região, iniciando a Guerra da Independência (1948). É interessante notar que a invasão dos países árabes ocorreu logo no primeiro dia de independência do Estado judeu, imediatamente em seguida à declaração. Em pouquíssimo tempo, Israel foi atacada por tropas da Síria, do Egito, do Líbano e da Jordânia. Surpreendentemente, o novo Estado conseguiu expulsar o exército de todos esses países juntos, consolidando assim, a sua independência. Conforme já mencionamos, muitos judeus que imigraram para Israel eram pessoas que haviam acabado de sair da Segunda Guerra Mundial; inclusive, muitos eram militares que haviam participado ativamente do conflito. Além disso, os países ocidentais forneceram ajuda com equipamentos e recursos militares para a defesa do recém-criado Estado judeu. Portanto, dois fatores foramdecisivos para a vitória israelense: o auxílio externo e a experiência de combate na Segunda Guerra Mundial. A amarga derrota na Guerra da Independência (1948) foi um evento humilhante para os árabes que passaram a se referir ao episódio como o “momento da desgraça” ou o “momento da traição”, quando “as potências imperialistas deram vitória ao Estado ilegítimo de Israel”. Foi muito doloroso, para os Estados árabes com histórias milenares, serem derrotados, juntos, por um Estado criado há apenas um dia. Embora tenha provocado rancor nos países árabes – um sentimento que se mantém até hoje – a Guerra da Independência não somente consolidou o Estado de Israel, mas também fez com que o recém-criado Estado ampliasse seus territórios, principalmente ao sul, na Faixa de Gaza. Alexandre Vastella, Filipe Martins Aula 31 Política Internacional p/ CACD (Primeira e Segunda Fases) - Com Videoaulas - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br Prof. Filipe Martins e Prof. Alexandre Vastella Aula 31 – Oriente Médio e seus impactos nas Relações Internacionais 26 60 Pouco tempo depois, houve a Guerra de Suez (1956), um conflito que envolveu Egito, Israel, França e Reino Unido. Na época, o líder egípcio General Nasser – que era nacionalista e pan-arabista – resolveu nacionalizar o Canal de Suez, uma estratégica rota de passagem amplamente utilizada pelas grandes potências. Sem o acesso a Suez, Israel teve seus projetos de irrigação prejudicados. Com o apoio do Reino Unido e da França, Israel invadiu o território egípcio. Em pouco tempo, a Península do Sinai foi tomada pelos três países. Após uma grande tensão com a União Soviética – que estava expandindo seu raio de influência na região – as tropas francesas, britânicas e israelenses se retiraram da região. Em 1957, o Canal foi reaberto à navegação. Nesse momento, Israel já havia consolidado sua superioridade econômica, militar a estratégica na região. Inclusive, já contava com um serviço secreto extremamente eficiente, considerado um dos melhores do mundo: o Mossad. E foi exatamente esse órgão que conseguiu prever a Guerra dos Seis Dias, ocorrida em 1967. Na década de 1960, após o Mossad descobrir que os países árabes iam promover um ataque, Israel organizou um ataque preventivo contra os países árabes, iniciando a Guerra dos Seis Dias (1967). Na época, havia grande tensão em âmbito regional na disputa por territórios e recursos hídricos. Vale lembrar que nesse período, os países árabes estavam conquistando apoio soviético considerável e, portanto, estavam equipando seus exércitos e aprendendo técnicas de mobilização. Como tudo isso foi detectado pelo Mossad, deu tempo de Israel evitar que um ataque semelhante a 1948 ocorresse. Em apenas seis dias, Israel conquistou vastos territórios: a Cisjordânia; a Faixa de Gaza (Palestina); a Península do Sinai (Egito) (a mesma que havia sido ocupada na Guerra de Suez); e, as Colinas do Golã (Síria). Posteriormente, a Península de Sinal foi devolvida ao Egito nos Acordos de Camp David (1978); no entanto, as Colinas do Golã permanecem ocupadas até os dias de hoje. Aliás, com exceção da Península de Alexandre Vastella, Filipe Martins Aula 31 Política Internacional p/ CACD (Primeira e Segunda Fases) - Com Videoaulas - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br Prof. Filipe Martins e Prof. Alexandre Vastella Aula 31 – Oriente Médio e seus impactos nas Relações Internacionais 27 60 Sinai, os territórios conquistados na Guerra dos Seis Dias são praticamente os mesmos territórios que Israel controla atualmente. Portanto, foi a última alteração significativa de território. Tanques israelenses em ataque preventivo na Guerra dos Seis Dias (1967). País conquistou muitos territórios na ocasião. Em 1948, o recém-independente Israel expulsou os árabes em apenas um dia de batalha; em 1956, ocupou a Península do Sinai com relativa facilidade; e, em 1967, conquistou vastos territórios em apenas seis dias. Nesse momento, portanto, Israel consolidou ainda mais a sua superioridade regional. No entanto, o cenário começou a mudar nos anos 1970, quando os países árabes empreenderam um novo ataque ao país. Em 1973, durante o feriado judaico de Yom Kippur – conhecido como o “dia do perdão” – houve um ataque surpresa dos árabes, desencadeando a Guerra do Yom Kippur (1973) que teve como principal consequência a eclosão da Crise do Petróleo. A crise prejudicou todo o mundo ocidental inclusive o Brasil que, nesse momento, para garantir acesso privilegiado ao mercado do petróleo, passou a se aproximar dos países árabes. Se o serviço de inteligência teve um papel crucial na Guerra dos Seis Dias, foi negligente na Guerra do Yom Kippur. Convencida de sua superioridade, Israel não imaginava que os árabes fossem atacá-la novamente. Inclusive, durante o feriado judaico, muitos militares foram para casa passar a data com suas famílias. Há relatos, inclusive, de que o Rei da Jordânia havia alertado Israel do ataque. Esse alerta foi Alexandre Vastella, Filipe Martins Aula 31 Política Internacional p/ CACD (Primeira e Segunda Fases) - Com Videoaulas - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br Prof. Filipe Martins e Prof. Alexandre Vastella Aula 31 – Oriente Médio e seus impactos nas Relações Internacionais 28 60 motivado por dois motivos: primeiramente, a Jordânia não queria entrar em guerra, pois estava passando por uma situação difícil. Em segundo lugar, em caso de seus colegas árabes saírem derrotados (o que de fato, ocorreu), a Jordânia se manteria neutra e não seria afetada. Alertando Israel, portanto, o Rei de Jordânia blindava seu país. Mesmo com os alertas, Israel ignorou a ameaça e não se preparou para revidá- la. No primeiro momento, os árabes conseguiram retomar os territórios conquistados na Guerra dos Seis Dias: o Egito conseguiu recuperar a Península do Sinai e a Síria conseguiu recuperar as Colinas do Golã. Pega de surpresa, Israel não teve como reagir. Quando os árabes estavam quase vencendo, Israel foi socorrida pelos Estados Unidos, conseguindo reverter o jogo. Caso o auxílio de Washington não tivesse chegado a tempo, os judeus teriam perdido seu primeiro conflito desde 1948. No final, Israel conseguiu vencer a Guerra do Yom Kippur, porém, ao contrário das ocasiões anteriores, foi uma vitória difícil. Assim como ocorrido em 1948 – quando as potências estrangeiras intercederam a favor de Israel – os árabes consideraram o auxílio norte-americano uma traição e imediatamente passaram a pensar em medidas de retaliação. Como forma de punição ao mundo ocidental, os países árabes diminuíram a produção de petróleo, aumentando seu preço em mais de quatro vezes, desencadeando a Crise do Petróleo. O combustível não somente ficou mais caro, mas também, seu acesso ficou mais complicado. Mesmo que alguns atores tivessem dinheiro para comprá-lo, talvez não conseguissem porque estava sendo ofertado de forma muito escassa. Crise do Petróleo, fruto da Guerra de Yom Kippur, afetando as bombas de gasolina do mundo ocidental. Esse evento impactou diretamente quase todas as economias ocidentais, inclusive o Brasil. Não é por acaso que mencionamos o Choque do Petróleo em várias de nossas aulas anteriores; afinal, foi realmente um evento muito decisivo. Dentre suas consequências estão muitos fatores que já estudamos: o fim da paridade ouro-dólar nos Estados Unidos; a aproximação brasileira dos países árabes; e, a formação do G-7 e do G-24, respectivamente, entre países desenvolvidos e em desenvolvimento, para discutirem soluções à crise. É importante ressaltar que se os judeus são representados apenas pelo Estado de Israel, os árabes são representados por múltiplos atores estatais e não estatais desde os inúmeros países da região até Alexandre Vastella, Filipe Martins Aula 31 Política Internacional p/ CACD (Primeira e Segunda Fases) - Com Videoaulas- Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br Prof. Filipe Martins e Prof. Alexandre Vastella Aula 31 – Oriente Médio e seus impactos nas Relações Internacionais 29 60 organizações como a Liga Árabe, a Organização para a Libertação da Palestina (OLP), o Fatah, o Hamas, entre outros. Vejamos um pouco mais desses atores: Representantes dos árabes no conflito com Israel Liga Árabe Uma organização regional formada em 1945 com o objetivo de reforçar os laços e a cooperação entre os países árabes em diversos assuntos. É composta por 22 países cujo idioma principal é o árabe. Organização para a Libertação da Palestina (OLP) A OLP foi criada em 1964 para reunir e fortalecer os grupos palestinos em uma mesma organização. Inicialmente, seu objetivo era destruir Israel e estabelecer um território árabe no grande Mandato Britânico da Palestina. Com o passar do tempo, acabou abrandando suas posições e reconhecendo Israel, o que gerou muitas críticas. Seu principal líder foi o engenheiro Yasser Arafat. Fatah Conforme exposto acima, a OLP é uma organização que reúne diversos grupos pró- palestina. O principal desses grupos é o Fatah, um partido político secular de inspiração socialista fundado em 1959 com o objetivo de resistir à ocupação israelense, fundado por Yasser Arafat. Embora tivesse tido um braço armado que realizava atentados terroristas, atualmente o Fatah reconhece Israel e busca a conciliação de ambos os Estados na região, uma visão diferente do Hamas. Hamas Criado em 1987, no início da Primeira Intifada, o Hamas defende a destruição do Estado de Israel. É, portanto, mais radical que o Fatah, sendo considerada uma organização terrorista por muitos países ocidentais. Em diversos momentos como, especialmente entre 2006 e 2007, o Hamas (mais radical) entrou em conflitos com o Fatah (mais moderado) pela disputa de poder na região. Desde 2017, os grupos se reconciliaram num acordo de paz. Diferentemente do Fatah que costuma ser um representante da libertação palestina, o Hamas adota uma visão mais radical, perspectiva próxima à Irmandade Muçulmana, grupo que apoia a sua atuação. Conforme já mencionamos, Israel permanece com o território praticamente igual ao que tinha no desfecho da Guerra dos Seis Dias. A maior diferença foi a devolução da Península do Sinai ao Egito, que Alexandre Vastella, Filipe Martins Aula 31 Política Internacional p/ CACD (Primeira e Segunda Fases) - Com Videoaulas - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br Prof. Filipe Martins e Prof. Alexandre Vastella Aula 31 – Oriente Médio e seus impactos nas Relações Internacionais 30 60 havia sido ocupada durante o conflito. Em troca da devolução, o Egito reconheceu o Estado de Israel. Isso foi feito no Acordo de Camp David (1978) – na casa de campo dos presidentes norte-americanos, sob chancela do Jimmy Carter. Trata-se de um acordo muito bem sucedido e válido até hoje. Inclusive, em seus discursos oficiais, Israel costuma relembrar esse episódio para dizer que está disposto a negociar com países árabes, mesmo que isso incorra em perdas territoriais. O problema é que o Egito passou a ser mal visto pelos países árabes, que consideraram o reconhecimento de Israel uma traição. Após ser duramente criticado pelos vizinhos árabes, o presidente egípcio Anwar Al Sadat – que havia participado das negociações em Camp David – foi assassinado por extremistas durante um desfile militar, em 1981. Devemos lembrar que desde a época do General Nasser (1956 – 1970), o Egito havia se projetado como um líder natural dos povos árabes. O líder egípcio havia defendido a ideologia do pan-arabismo – a união de todos os Estados de língua e civilização árabes. Essa ideologia, inclusive, teve repercussões práticas: durante um determinado período, a Síria, também adepta do pan-arabismo, chegou a ser unificada com o Egito, apesar da descontinuidade territorial. No entanto, a partir dos descontentamentos de Camp David, o Egito passou a não mais representar os países árabes que, nesse momento, estavam profundamente descontentes com o reconhecimento de Israel. Após a abertura de um vácuo de poder deixado pelo Egito, o Iraque tentou assumir o posto de líder regional. Contudo, ao invés de guerrear contra Israel – o inimigo dos povos árabes – Saddam Hussein invadiu o Irã, dando início à Guerra Irã-Iraque (1980 – 1988). Nesse momento, o país persa estava fragilizado pela eclosão da Revolução Iraniana (1979) – a deposição da monarquia e a instalação de uma república teocrática islâmica; uma fragilidade muito bem aproveitada pelo vizinho iraquiano. Extremamente violenta, a Guerra Irã-Iraque reforçou a ideia da mística do sacrifício; ou seja, a glória de morrer pela causa. É evidente que o terrorismo não nasceu nesse período, no entanto, ajudou a consagrá-lo como prática legítima de guerra. Durante o conflito, por exemplo, crianças eram enviadas às linhas de batalha para que marchassem à frente das tropas adultas. Essas crianças pisavam em minas terrestres, as desativavam e assim, liberavam o caminho para as tropas adultas. Nesse momento, o Irã já havia se tornado um Estado regido pelo Corão. Sendo assim, era “legítimo” morrer em nome de um Estado que seguisse as regras de Alá. Voltando ao contexto árabe-israelense, após os Acordos de Camp David (1978), o próximo fato relevante foi a eclosão da Primeira Intifada (1987) que basicamente, consistia na revolta de povos palestinos contra Israel, uma espécie de levante árabe nas regiões da Cisjordânia e Faixa de Gaza. Embora Alexandre Vastella, Filipe Martins Aula 31 Política Internacional p/ CACD (Primeira e Segunda Fases) - Com Videoaulas - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br Prof. Filipe Martins e Prof. Alexandre Vastella Aula 31 – Oriente Médio e seus impactos nas Relações Internacionais 31 60 o momento mais tenso tenha ocorrido em 1987, a Intifada durou até 1993, quando foi assinado um acordo de paz na cidade norueguesa de Oslo (à frente, veremos mais detalhes desse acordo). Durante a Intifada, a população civil palestina jogava paus e pedras nos soldados de Israel. O fato gerou um grande impasse no exército israelense. Caso atirasse nos manifestantes, poderia ser acusado internacionalmente de reagir de forma desproporcional. Caso não agissem, continuariam a ser apedrejados constantemente. Em uma solução intermediária, as tropas foram ordenadas a revidar os ataques com coronhadas e a quebrar o braço dos agressores. Essa forma de defesa foi condenada por inúmeras organizações internacionais, inclusive pela Fundação Carter, comandada pelo ex-presidente Jimmy Carter. Israel também foi criticada por potências europeias e também, por países de terceiro mundo. Outra consequência da Primeira Intifada foi o estabelecimento do Hamas, um grupo mais autoritário que o Fatah – este último, existente desde 1959. A partir de então, o Fatah e o Hamas passaram a desejar o controle da Palestina. Aqui, novamente, podemos perceber a lógica de disputa entre Irã e Arábia Saudita. Conforme já havíamos mencionado, o Hamas, mais radical, que não reconhece Israel, está mais próximo à Irmandade Muçulmana e ao Irã. Enquanto isso, o Fatah, que assim como o Egito, reconhece Israel, tentou negociar, junto com os Estados Unidos, a paz de Oslo, em 1993. Entre o final de 1993 e o início de 1994, a fim de encerrar as tensões da Intifada, finalmente árabes e israelenses assinaram um acordo de paz, conhecido como Acordo de Oslo (1994). Por intermédio do presidente norte-americano Bill Clinton, o líder da Organização para a Libertação da Palestina (OLP) Yasser Arafat e o Primeiro Ministro de Israel Yitzhak Rabin se reuniram em Oslo, Noruega e decidiram por um fim à histórica disputa entre os dois povos. Na ocasião, houve um grande avanço nas negociações e ambos os lados ficaram bastante otimistas com uma possibilidade de paz.Alexandre Vastella, Filipe Martins Aula 31 Política Internacional p/ CACD (Primeira e Segunda Fases) - Com Videoaulas - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br Prof. Filipe Martins e Prof. Alexandre Vastella Aula 31 – Oriente Médio e seus impactos nas Relações Internacionais 32 60 No entanto, em longo prazo, o Acordo de Oslo não garantiu a paz. Anteriormente, havíamos mencionado que o presidente do Egito Anwar Al Sadat – que assinou o Acordo de Camp David – foi assassinado por árabes extremistas descontentes com o reconhecimento de Israel. Nos anos 1990, ocorreu o contrário: Yitzhak Rabin foi assassinado por um judeu extremista que não achava certo Israel reconhecer um território árabe; afinal, seria uma área cedida por Deus ao povo judeu. O assassinato de Rabin fez com que o acordo fracassasse, adiando a tão sonhada paz. Tanto que pouco tempo depois, houve a Segunda Intifada (2000), um novo levante de árabes contra israelenses, deixando um saldo de milhares de mortos. Sob a tutela de Bill Clinton (EUA), Yitzhak Rabin (Israel) e Yasser Arafat (Palestina) assinam acordo de paz histórico em Oslo, Noruega. Rabin seria assassinado pouco tempo depois, por um extremista judeu, reacendendo os ânimos entre os povos. Nos últimos anos, podemos destacar a mudança de postura dos Estados Unidos em reconhecer Jerusalém como a capital de Israel. Vale ressaltar que a cidade de Jerusalém, segundo o Plano de Partilha, ficaria sob domínio internacional. No entanto, nas últimas décadas, Israel vem aumentando a ocupação do local, sobretudo com a construção de assentamentos, provocando a fúria nos países árabes. Mesmo assim, o presidente Trump transferiu a embaixada dos Estados Unidos para Jerusalém. Embora fosse uma promessa eleitoral de quase todos os presidentes desde Ronald Reagan, nenhum líder eleito teve a audácia de fazer isso, sobretudo após entrar em contato com relatórios de inteligência que apontavam para a complexidade da situação. Inclusive, antes de Trump, o Congresso dos Estados Unidos chegou a aprovar o reconhecimento de Jerusalém como capital israelense, mas nenhum presidente a colocou em prática. Quando houve esse reconhecimento, por parte do Trump, havia a expectativa de que fosse ocorrer uma terceira intifada, o que não aconteceu. Antes de tomar essa decisão polêmica, Trump fez uma série de consultas com os demais líderes seus aliados na região – especialmente Arábia Saudita, Jordânia e Egito. Esses líderes concordaram em “deixar” Trump reconhecer Jerusalém como capital israelense em troca de apoio em uma eventual coalizão contra o Irã. Embora tivessem condenado publicamente a postura dos Estados Unidos, essa concertação política há havia sido feita nos bastidores. Alexandre Vastella, Filipe Martins Aula 31 Política Internacional p/ CACD (Primeira e Segunda Fases) - Com Videoaulas - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br Prof. Filipe Martins e Prof. Alexandre Vastella Aula 31 – Oriente Médio e seus impactos nas Relações Internacionais 33 60 Embora tivesse provocado muitas críticas, o reconhecimento de Jerusalém como capital e a transferência de embaixada foram vistas, por alguns, como decisões que reestabeleciam o poder de barganha de Israel, anteriormente perdido durante a gestão Obama. Em seu mandato, o democrata teria tomado algumas decisões que beneficiam os palestinos como, por exemplo, a não utilização do poder de veto em resoluções no Conselho de Segurança da ONU que condenavam os assentamentos de Israel em território palestino. Portanto, para alguns, essas medidas de Trump soaram autoritárias; para outros analistas, foram um reequilíbrio de forças. As disputas regionais entre Irã e Arábia Saudita Após compreendermos – ainda que de forma breve – a história do Oriente Médio, passando pela Mesopotâmia, pelo surgimento do Islã, pelo Califado Omíada, pela colonização europeia, pelo Acordo de Sykes-Picot e pela criação do Estado de Israel, vamos agora ao que realmente interessa para entendermos as relações de poder atuais: as disputas entre as duas potências regionais Irã e Arábia Saudita. Arábia Saudita e Irã disputam a hegemonia... ... e essa disputa regional explica muitos conflitos locais Além da divisão tradicional entre xiitas e sunitas, é fundamental que entendamos as disputas entre o Reino da Arábia Saudita e a República Islâmica do Irã – um regime monárquico e um republicano. São países de grandes territórios, riquíssimos aspectos históricos e culturais e também, de ambições geopolíticas de se tornarem a potência hegemônica regional. Há, nesse caso, uma espécie de “Guerra Fria do Oriente Médio”, com ambos disputando o controle da região. Assim como ocorreu durante a Guerra Fria entre Estados Unidos e União Soviética para a hegemonia global, a “Guerra Fria” do Oriente Médio não envolve o enfrentamento direto entre Arábia Saudita e Irã. Ao invés disso, ambos financiam, promovem, equipam e fomentam a atuação de grupos rivais. Embora cada caso seja específico, normalmente, o Irã, de maioria xiita, tende a apoiar as minorias xiitas dos países da região. A Arábia Saudita, de maioria sunita, tende a apoiar os governos ou grupos Alexandre Vastella, Filipe Martins Aula 31 Política Internacional p/ CACD (Primeira e Segunda Fases) - Com Videoaulas - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br Prof. Filipe Martins e Prof. Alexandre Vastella Aula 31 – Oriente Médio e seus impactos nas Relações Internacionais 34 60 sunitas que disputam o poder. Essa dinâmica pode ser observada em vários contextos: na Primavera Árabe, na Guerra da Síria, na Guerra Civil do Iêmen, entre outros. Para complicar ainda mais a situação, normalmente o Irã costuma ser apoiado pela Rússia e a Arábia Saudita, apoiada pelos Estados Unidos. Portanto, na maioria das vezes, a bipolarização entre iranianos e sauditas ganha contornos internacionais, envolvendo as antigas potências atuantes na Guerra Fria. Um exemplo disso ocorre na Guerra da Síria, onde Irã/Rússia apoiam o governo de Bashar Al Assad e os Estados Unidos/Arábia Saudita, os grupos rebeldes. Conforme podemos notar, as disputas entre Arábia Saudita e Irã se estendem para os diversos países da região: Marrocos, Tunísia, Líbia, Iêmen; e, especialmente, nos Estados tampões da Síria e do Iraque (conforme mapa abaixo). Nas linhas a seguir, veremos brevemente os processos de consolidação dos Estados da Arábia Saudita e do Irã – os dois players que mais interessam a nós. Irã e Arábia saudita influenciam conflitos no Marrocos, na Tunísia, na Líbia, no Iraque, no Iêmen, etc. O atual território da Arábia Saudita fazia parte do extenso Império Otomano que além da Península Arábica, abarcava também, os atuais territórios do Egito, Israel, Líbano e outros países. A partir do Acordo de Sykes-Picot – que fora denunciado pelos soviéticos – e do desmembramento do território otomano, os Estados da região foram se tornando independentes. Até então, o Império Otomano garantia certa unidade regional, fazendo com que os diferentes grupos e tribos ficassem reunidos em um único poder estatal. No entanto, com a sua derrocada, aumentaram as disputas pelo poder. Foi nesse contexto que a numerosa e importante família Al-Saud fundou a Arábia Saudita. Ainda hoje, a dinastia Saud se mantém no poder, exercendo controle não somente dentro do território saudita, mas também influenciando nas imediações, nos demais países da Península Arábica – Omã, Catar, Emirados Árabes Unidos e, principalmente, no mais pobre deles, o Iêmen. Alexandre Vastella, Filipe Martins Aula 31 Política Internacional p/ CACD (Primeira e Segunda Fases) - Com Videoaulas - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br Prof. Filipe Martins e Prof. Alexandre Vastella Aula 31 – Oriente Médio e seus impactos nas Relações Internacionais 35 60 Território original do Império Otomano Império Otomano
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