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Economia Industrial Aulas 7 e 8 - Monopólio Março de 2020 1 Hipóteses do Modelo • H1: Apenas um produtor no mercado; • H2: Ausência de livre entrada; • H3: Ausência de produtos substitutos; • H4: Curva de demanda é plenamente co- nhecida pelo produtor; • H5: Maximização de lucros. • [H1]⇒ Garante ausência de competição REAL no mercado; – Barreiras à entrada de origens poĺıticas, econômicas e/ou técnicas: ∗ Propriedade exclusiva de matérias-primas ou de técnicas de produção; ∗ Patentes sobre produtos ou pro- cessos de produção; ∗ Licença governamental ou im- posição de barreiras comerciais para excluir competidores, prin- cipalmente estrangeiros; ∗ Monopólio natural, em que os custos fixos são altos e os custos variáveis e marginais são bas- tante reduzidos. Geralmente são serviços providos pelo Es- tado. Exemplo: Correios, Copel, Sanepar. • [H1 - H4] ⇒ Firma monopolista como determinadora de preços. A curva de de- manda do mercado é a curva de demanda da firma. 1.1 Maximização de Lucros max π(Q) = P (Q) ·Q− C(Q) max R(Q)− C(Q) em que π(Q) é o lucro, P (Q) é a curva de demanda inversa, C(Q) é o custo total de produção, e R(Q) é a receita total. Pela Condição de Primeira Ordem (CPO) do problema, obtemos: dπ(Q) dQ = 0 ⇒ dR(Q) dQ − dC(Q) dQ = 0 RMg− CMg = 0 ⇒ RMg = CMg Note que a igualdade RMg = CMg é a condição de maximização de lucros para a firma monopolista. Mas como a ∆P afeta a ∆R? Sabemos que a demanda é negativamente inclinada, ou seja, que variações positivas de preço são seguidas por variações negativas de quan- tidade. Logo, temos dois efeitos sobre a receita total da firma: um efeito positivo via aumento de preço e um efeito negativo via diminuição da quantidade. Em termos matemáticos, o efeito total é dado por: R(Q) = P (Q) ·Q dR(Q) dQ = dP (Q) dQ ·Q+ P (Q) · d(Q) dQ RMg = dP (Q) dQ ·Q+ P (Q) · 1 RMg = dP (Q) dQ ·Q+ P (Q) Assim, o primeiro termo dP (Q) dQ · Q mostra a redução da RMg seguido do aumento de preço (dP (Q) dQ < 0, pois a demanda inversa também é negativamente inclinada), en- quanto o segundo termo P (Q) representa o aumento da RMg seguido do aumento de preço. Mas se a ∆R depende da inclinação da demanda, podemos representar tal fato em relação a elasticidade- preço da demanda? Primeiramente, va- mos recordar a definição matemática de elasticidade-preço da demanda: 1 Economia Industrial Aulas 7 e 8 - Monopólio Março de 2020 εQP = ∆%Q ∆%P = ∆Q Q ∆P P = ∆Q ∆P · P Q Em termos de derivada, podemos represen- tar a elasticidade-preço da demanda como: εQP = dQ dP · P Q ⇒ 1 εQP = dP dQ · Q P Logo, temos que: RMg = P (Q) + dP (Q) dQ ·Q·P (Q) P (Q) RMg = P (Q) + dP (Q) dQ · Q P (Q) · P (Q) RMg = P (Q) + 1 εQP · P (Q) RMg = P (Q) · [ 1 + 1 εQP ] Das aulas de Microeconomia, sabemos que a elasticidade-preço da demanda é sem- pre negativa. Isto porque: (↑ P →↓ Q) ⇒ ∆Q ∆P < 0. Logo: εQP = ∆Q ∆P · P Q < 0, pois P Q > 0. Assim, podemos definir a relação entre a RMg e a elasticidade-preço da demanda com base no módulo desta, isto é: RMg = P (Q) · [ 1− 1 |εQP | ] Mas então é posśıvel RMg = P em monopólio? Como vimos nas aulas ante- riores, em competição perfeita, a condição de maximização de lucros da firma é RMg = CMg = P, ou seja, existe a possibili- dade de RMg = P. Agora, com base na equação anterior, podemos provar tal igual- dade com base na elasticidade-preço da de- manda. Como em mercados competitivos a firma se depara com uma curva de de- manda infinitamente elástica, temos que |εQP | = +∞. Logo, temos que: RMg = P · [ 1− 1 +∞ ] = P · [1− 0] = P Porém, em monopólio, a situação difere- se da competição perfeita no fato da firma agora se deparar com a curva de de- manda do mercado, negativamente incli- nada. Logo, em monopólio, a firma não é mais tomadora de preços (como em mer- cados competitivos) e sim formuladora de preço. Entretanto, a firma em monopólio apenas atuará no trecho elástico de sua demanda. Por quê? Note que o trecho inelástico da curva de demanda implica que 0 < |εQP | < 1, de modo que: 1 |εQP | > 1 ⇒ 0 > 1− 1 |εQP | RMg = P (Q)︸ ︷︷ ︸ >0 · [ 1− 1 |εQP | ] ︸ ︷︷ ︸ <0 < 0 ou seja, no trecho inelástico da curva de demanda, a firma monopolista estaria a- tuando em um trecho negativo da RMg. Como CMg > 0, temos que a condição de maximização de lucros (RMg = CMg) não seria obtida, isto é, CMg 6= RMg. Conse- quentemente, no trecho inelástico da curva de demanda, a firma monopolista não es- taria maximizando seus lucros, o que con- traria H5. Conclui-se que a firma em 2 Economia Industrial Aulas 7 e 8 - Monopólio Março de 2020 monopólio irá operar apenas no seg- mento elástico da sua curva de de- manda. Por ser elástico, este trecho da curva de demanda apresenta |εQP | > 1, o que implica em: 0 < 1 |εQP | < 1 ⇒ 0 > − 1 |εQP | > −1 1 > 1− 1 |εQP | > 1− 1 ⇒ 1 > 1− 1 |εQP | > 0 Pela condição de maximização de lucros (RMg = CMg) e a definição de RMg em relação a elasticidade-preço da demanda, temos que: CMg = RMg = P (Q) · [ 1− 1 |εQP | ] CMg P (Q) = [ 1− 1 |εQP | ] ︸ ︷︷ ︸ <1 ⇒ CMg < P (Q) Portanto, no trecho elástico da curva de demanda, a firma monopolista maximiza seus lucros no ponto em que CMg < P (Q) e, consequentemente, RMg < P (Q), pois RMg = CMg. Apenas em competição perfeita a igualdade RMg = CMg = P se mantém. Em monopólio, a firma maximizadora de lucro opera no ponto onde tanto seu CMg e sua RMg estão abaixo do preço. 2 Poder de Mercado Para calcularmos o poder de mercado, podemos utilizar o Índice de Lerner (L), que considera o mark-up da empresa como medida para tal. Tome novamente a relação CMg = RMg e a relação entre a RMg e a elasticidade-preço da demanda, de modo que: CMg = RMg = P (Q) · [ 1− 1 |εQP | ] CMg = P (Q)− 1 |εQP | · P (Q) 1 |εQP | · P (Q) = P (Q)− CMg P (Q)− CMg P (Q)︸ ︷︷ ︸ Índice de Lerner (L) = 1 |εQP | O Índice de Lerner (L) mede o mark-up de uma empresa, isto é, o excesso propor- cional do preço sobre o custo marginal. É considerado uma medida de poder de mer- cado, pois na ausência deste, teŕıamos que P = CMg, ou seja, L = 0. Note que, quanto mais alta é a elasticidade-preço da demanda, mais baixo será o mark-up desta empresa. Conse- quentemente, mais baixo será o poder de mercado desta e, assim, mais próxima da competição perfeita estará a produção. 3 Curva de Demanda Linear Por ser linear, podemos representar a curva de demanda como uma equação do primeiro grau de coeficiente angular negativo, isto é, uma reta negativamente inclinada. Assim, a curva de demanda inversa pode ser dada por: P (Q) = a− bQ Consequentemente, podemos definir a receita total, R(Q), com base nesta definição linear da curva de demanda, ou seja: 3 Economia Industrial Aulas 7 e 8 - Monopólio Março de 2020 R(Q) = P (Q) ·Q = (a− bQ)Q R(Q) = aQ− bQ2 em que a receita marginal, RMg, é então definida como: RMg = dR(Q) dQ = d(aQ) dQ + d(−bQ2) dQ RMg = a− 2bQ Note que a inclinação da curva de demanda inversa (inclinação = −b) equivale a metade da inclinação da curva de receita marginal (inclinação = −2b). O gráfico acima apresenta o caso de uma firma monopolista maximizadora de lucros. Perceba que y∗ é a quantidade ótima a ser produzida pela empresa ao preço ótimo p∗. Em y∗, temos que CMg = RMg, ou seja, garante-se a condição de maximização de lucro. O lucro π, definido pela área cinza, é calculado como a diferença entre a receita (R = p∗ · y∗) e o custo (C = CMe · y∗). 4 Ineficiência Como vimos nas aulas anteriores, a com- petição perfeita é considerada a estru- tura de mercado em que há o máximo de bem-estar para a sociedade (equiĺıbrio de Pareto). Assim, utilizamos tal estrutura como base de comparação com as demais para se definir a perda de bem-estar, isto é, para se definir a ineficiência das demais. A medida de ineficiência aqui utilizadaé o peso-morto, calculado como a perda de excedente total na presença de uma estru- tura de mercado não-competitiva. No gráfico abaixo, apresentamos tanto o excedente do consumidor e do produtor quanto o peso-morto. A área verde, que corresponde a área abaixo da curva de de- manda até o preço de monopólio (Pm) dada a quantidade de equiĺıbrio y∗, é o excedente do consumidor. Já a área azul, que cor- responde a área acima da curva de custo marginal até o preço Pm dada a quantidade y∗, é o excedente do produtor. O peso- morto corresponde a área cinza. Note que Pc corresponde ao preço de competição perfeita, pois é o preço em que CMg (oferta) é igual a demanda. Logo, o excedente do consumidor em competição perfeita seria composto pela área verde, a área do retângulo A e a área do triângulo B. Portanto, ao partirmos para o monopólio, a área do retângulo A é transferida ao pro- dutor e a área do triângulo B é perdida em forma de ineficiência. A área C é a parte do excedente do produtor que é perdida em forma de ineficiência ao partirmos de com- petição perfeita para monopólio. 4 Economia Industrial Aulas 7 e 8 - Monopólio Março de 2020 5 Mas o que causa monopólios? Até o momento, vimos diversas carac- teŕısticas inerentes aos mercados monopo- lizados: condição de maximização de lucro, produção e elasticidade-preço da demanda, poder de mercado, e ineficiência. Entre- tanto, uma questão ainda encontra-se sem resposta: quando podemos prever se um determinado setor será competi- tivo ou monopolizado? Para responder a esta questão, deve- mos avaliar as curvas de custo médio e de demanda. Assim, utilizaremos o conceito de escala mı́nima de eficiência (EME), uma medida relativa que corresponde ao ńıvel de produção capaz de minimizar o custo médio, com respeito ao tamanho da demanda. Tem-se que a EME é definida pela tecnologia básica empregada no pro- cesso produtivo, pois tal tecnologia será res- ponsável por determinar a forma como o custo responde à produção. No gráfico abaixo, temos que a EME é baixa em relação ao tamanho do mercado. Deste modo, há espaço para várias empre- sas, cada uma cobrando um preço próximo a P e operando em escala relativamente pe- quena. Já no segundo caso, temos que a EME é alta em relação ao tamanho do mercado (perceba que o ponto da EME está bem próxima ao ponto correspondente na de- manda). Assim, apenas uma empresa pode obter lucros positivos, isto é, o mercado configura-se como um monopólio. Porém, quais são as implicações poĺıticas da existência de monopólios? Na presença de grande EME em relação ao tamanho do mercado, este configura-se como um monopólio. Se não há a possibi- lidade de ampliar este mercado, a indústria então torna-se uma forte candidata a regu- lação governamental com o intuito de frear parte do poder exercido por esta sobre os preços. Todavia, regulação inexoravel- mente acarreta em custos. Logo, antes de se decidir diretamente pela regulação, há de se avaliar se o ônus do monopólio é superior ou não aos custos da regulação. 6 Exerćıcios Propostos (1) Uma empresa defronta-se com a seguinte curva de receita média (demanda): P = 120− 0, 02Q onde Q é a produção semanal média e P é o preço medido em centavos por unidade. A função custo da empresa é expressa pela equação: 5 Economia Industrial Aulas 7 e 8 - Monopólio Março de 2020 C = 60Q+ 25000 Supondo que a empresa maximize seus lu- cros: (a) Quais serão, respectivamente, em cada semana, seu ńıvel de produção, seu preço e seu lucro total? (b) Quais serão, em cada semana, o exce- dente do consumidor, o excedente do produtor e o peso-morto? (2) Uma empresa monopolista defronta- se com uma curva de demanda com elasticidade-preço constante de −2. A em- presa tem um custo marginal constante de $20 por unidade e estabelece preço para maximizar lucro. Assim: (a) Qual é o preço cobrado? (b) Se o custo marginal subisse 25%, o preço estabelecido pela empresa subiria 25%? Demonstre matematica- mente o resultado. (3) Suponha que um setor possua as seguintes caracteŕısticas: (i) C = 100 + 2q2 é a função de custo total de cada empresa; (ii) CMg = 4q é a função de custo marginal de cada empresa; (iii) P = 90− 2Q é a função de demanda inversa do setor; (iv) RMg = 90 − 4Q é função de receita marginal do setor. Com base em tais caracteŕısticas, responda: (a) Se houver apenas uma empresa no se- tor, qual será o preço, a quantidade e o ńıvel de lucro desse monopólio? (b) Qual é o preço, a quantidade e o ńıvel de lucro se o setor for competitivo? (c) Ilustre graficamente a curva de de- manda, a curva de receita marginal, a curva de custo marginal e a curva de custo médio. Identifique a diferença entre o ńıvel de lucro no monopólio e o ńıvel de lucro no setor competitivo. (4) Seja a função de demanda dada por Q = 100/P e a função custo total de um monopolista dada por C = Q2. (Note que a função demanda não é definida para os pontos Q = 0 e P = 0). Responda: (a) Qual a elasticidade-preço da de- manda? (Dica: Lembre-se de substi- tuir Q = 100/P na fórmula da elasti- cidade.) (b) Qual será o valor da receita marginal para Q > 0? (c) Qual é a função de custo marginal? (d) Para Q > 0, o custo marginal será positivo, negativo ou nulo? Demonstre matematicamente. (e) Dados o custo marginal e a receita marginal para Q > 0, a firma á capaz de maximizar seus lucros? Justifique matematicamente sua resposta. 6
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