Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
MATERIAL DIDÁTICO HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA CREDENCIADA JUNTO AO MEC PELA PORTARIA Nº 2.861 DO DIA 13/09/2004 0800 283 8380 www.portalprominas .com.br 2 SUMÁRIO UNIDADE 1 - INTRODUÇÃO ............................ .......................................................... 3 UNIDADE 2 - JOSÉ SARNEY (1985-1990) ............... ................................................. 9 UNIDADE 3 - COLLOR DE MELLO (1990-1992) ........... .......................................... 12 UNIDADE 4 - ITAMAR FRANCO (1992-1994) ............. ............................................ 17 UNIDADE 5 - FERNANDO HENRIQUE CARDOSO (1995-2002) . ........................... 22 UNIDADE 6 - LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA (2003-2010) . ..................................... 41 UNIDADE 7 - DILMA ROUSSEFF (2011 - ) .............. ................................................ 46 UNIDADE 8 - A HISTÓRIA NO CONTEXTO DA PÓS-MODERNIDA DE ................. 49 REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 55 3 UNIDADE 1 - INTRODUÇÃO Para discorrermos sobre o último período da história da Brasil ao qual chamamos de redemocratização1, requer uma breve explicação do ocorrido em fins do período militar. Na história do Brasil, dois processos ocorridos em períodos distintos recebem essa designação de redemocratização: o primeiro, culminado em 1945, com a deposição de Getúlio Vargas, dando fim a uma ditadura iniciada com o golpe de 1937; no segundo, após o período ditatorial iniciado com o Golpe de 1964, o processo de redemocratização teve início no governo do general João Baptista Figueiredo, com a anistia aos acusados ou condenados por crimes políticos, processo perturbado pela chamada linha dura. No período da ditadura, o Brasil teve um grande crescimento econômico e sua renda per capita ficou bem maior, essa é uma verdade, mas a distribuição foi totalmente desigual, o que é outra verdade. Segundo o IBGE, em 1980, aos 5% mais ricos cabiam 37,9% do total da renda do país, e aos 50% mais pobres sobravam 12,6%. Portanto, o montante a ser partilhado pelos 5% mais ricos era três vezes maior que o montante para o resto da população. Devido a altas inflações, o governo Figueiredo decretou várias leis que deveriam proibir aumentos salariais para compensar a inflação. Mas os tempos já eram outros e o Congresso Nacional barrou as medidas. A dívida externa alcançou cifras absurdas: quase 100 bilhões de dólares, o que levou o país a pagar anualmente, bilhões de dólares referentes a juros. Enfim, era um período complicado para a nação brasileira. A partir de 1982, o país começou a negociar com o FMI (Fundo Monetário Internacional) para ajudar no pagamento da dívida externa. O FMI, como sempre, fez exigências que diríamos, foram cruéis: o Brasil deveria reduzir os salários, cortar os gastos públicos (menos dinheiro para as escolas e universidades, para os 1 Redemocratização é o processo de restauração da democracia e do estado de direito em países ou regiões que passaram por um período de autoritarismo ou ditadura. A redemocratização pode acontecer de maneira gradual, pela qual o poder restaura os direitos civis lentamente, ou abrupta, como é, em geral, o caso quando isso acontece através de revoluções. 4 hospitais, para investir na economia), aceitar que a economia parasse de crescer. Tudo isso em nome da estabilização econômica. Para a oposição, recorrer ao FMI era colocar a economia do Brasil nas mãos do capitalismo internacional. Na verdade, o crescimento dos tempos do regime militar, conhecido como “milagre econômico” era ilusório: um país não pode crescer por muito tempo mantendo tanta injustiça social. Então, em 1981, aconteceu, pela primeira vez desde os anos da crise de 1929, o crescimento negativo da economia do país. O Brasil tinha ficado mais pobre ainda. Era a terrível estagflação, mistura de estagnação econômica (tudo parando) com inflação. Enfim, no governo de Figueiredo a abertura política foi lenta e gradual. Realmente, Figueiredo era tolerante com as manifestações democráticas, não foi à toa que os generais mais extremistas não concordavam. Mas não se deve esquecer o lado repressor que permeou todos os governos militares: reprimir greves; prender militantes do PCB e do PC do B; expulsar padres estrangeiros que colaboravam com a luta camponesa pela reforma agrária; imposição de novidades nas regras eleitorais, para favorecer o governo. Pelo lado da extrema direita vimos um atentado terrorista à secretaria da Ordem dos Advogados do Brasil, em 1980. No ano seguinte, durante um show de Música Popular Brasileira (MPB) comemorando o dia 1º de maio, várias bombas foram instaladas no Riocentro (Rio de Janeiro). Se tivessem explodido, poderíamos imaginar quantos morreriam. Só uma delas estourou no colo de um sargento do Exército que estava num carro estacionado por lá. O inquérito policial-militar concluiu que ambos foram “vítimas”. A anistia aos exilados políticos e, por tabela, aos torturadores, veio em 1979, o que poderíamos chamar com certo sarcasmo de “ampla, geral e irrestrita”. De qualquer modo, ela permitiu o retorno dos exilados e a libertação dos presos políticos. Os reencontros no aeroporto e na saída da cadeia emocionaram uma geração que havia sacrificado sua juventude por seu patriotismo. Conforme Cardoso (1998, p. 32), A lei não é ampla, nem geral, nem irrestrita. Árdua batalha perdida pela oposição que tentou ampliá-la (…) Por antecipação, temendo alguma revanche, são anistiados também os autores de crimes ‘conexos’ aos políticos: os torturadores e os assassinos. 5 Nova política partidária O governo falava em abertura, mas criava artifícios para manter o controle da situação. A ditadura militar tinha a participação ativa de muitos civis, incluindo empresários, administradores e os políticos da Arena. Para dividir as oposições, Figueiredo baixou a Nova Lei Orgânica dos Partidos (1979) que acabava com a divisão Arena e MDB. Foi assim que nasceram cinco novos partidos políticos: O PDS (Partido Democrático Social) era o novo nome da Arena. Representava os políticos que apoiaram a ditadura. Portanto, tinha bem pouco de democrático e quase nada de social. O líder era o senador José Sarney, do Maranhão. O PMDB (Partido do Movimento Democrático Brasileiro) herdava o antigo MDB. Continuou sendo o grande partido da oposição, reunindo diversas correntes políticas, incluindo conservadores moderados, liberais e até os comunistas (os PCs ainda estavam proibidos de funcionar). O líder era o deputado Ulisses Guimarães, figura importante na luta contra o regime militar. O PDT (Partido Democrático Trabalhista) era chefiado por Leonel Brizola, que tinha voltado do exílio. Naquela época, Brizola gozava de enorme prestígio como o homem contrário a tudo de ruim do regime militar. Ele quis refundar o antigo PTB, mas foi impossibilitado. Propunha ser herdeiro do trabalhismo de Vargas e Jango, misturado à socialdemocracia, que ele tinha aprendido a admirar na França, na Alemanha e na Suécia (uma espécie de capitalismo reformado com medidas inspiradas no socialismo). O PTB (Partido Trabalhista Brasileiro) não tinha nada a ver com o antigo PTB. Pelo contrário, chegou a abrigar antigos udenistas e até algumas figuras da antiga Arena. Ficou nas mãos da deputada Ivete Vargas e foi visto como uma criação ardilosa do regime, uma espécie de filial camuflada do PDS. O PT (Partido dos Trabalhadores) aparecia como o grande partido de esquerda do Brasil. Na sua origem, o movimento operário organizado no ABC paulista, liderado por Lula, e também por dirigentes sindicais de outras categorias operárias e até de setores como o bancário, o de professores e de funcionáriospúblicos. O PT também recebeu apoio de setores da Igreja Católica (ligados à 6 Teologia da Libertação), estudantes universitários e intelectuais, reunindo desde marxistas a socialdemocratas. Ainda houve um partido de existência efêmera, o PP (Partido Popular), que tinha pouco de popular, já que sua liderança estava nas mãos de grandes banqueiros e políticos tradicionais como Tancredo Neves. Mas, como a lei eleitoral de 1982 obrigava a votação de todos os candidatos (de vereador a governador) do mesmo partido, o PP acabou se fundindo ao PMDB. Em 1982, com as eleições diretas para governador restabelecidas, a oposição obteve vitórias espetaculares: Franco Monturo (PMDB-SP), Leonel Brizola (PDT-RJ) e Tancredo Neves (PMDB-MG), embora tenha perdido no Rio Grande do Sul. As “Diretas-Já!” O acontecimento final do governo do general Figueiredo foi a campanha pelas Diretas Já, em 1984. Um evento de tal proporção na qual praticamente o país inteiro tomou parte, lutando pelo direito de votar para presidente. Nos últimos comícios, no Rio de Janeiro e em São Paulo, reuniram-se milhões de pessoas. Foram as maiores manifestações de massa da história do Brasil (MANSANO, 2009). No dia em que a Emenda Dante de Oliveira, restabelecendo as diretas, foi votada pela Câmara dos Deputados, Brasília ficou em estado de emergência. O pior aconteceu: apesar de os “sim” ganharem de 298 a 65, inclusive com alguns votos do PDS, faltaram 22 votos para a vitória. Na verdade, uma batalha tinha sido perdida, mas não a guerra. Ainda dava para colocar o povo de novo na rua para protestar e exigir uma nova votação. Mas a cúpula do PMDB já estava armando um acordo com políticos descontentes do PDS. Praticamente só o PT, ainda pequeno, protestou contra a armação. Pelas regras antigas que foram mantidas, o presidente seria eleito indiretamente pelo Colégio Eleitoral. Thomas Skidmore (1988, p. 472) ressalta sobre os resultados desse movimento: 7 O presidente, o Planalto, a liderança do PDS e os militares foram todos apanhados com a guarda baixa. Não podiam interromper nem ignorar a robusta campanha que empolgava o país. (…) Era o ressurgimento do espírito cívico com uma dimensão sem precedentes, acrescendo que nenhum candidato estava pedindo voto para si mesmo. Ao contrário, o objetivo era restraurar o direito de voto. Era uma dramática mensagem da sociedade civil que firmemente reconquistava a sua voz. O Colégio Eleitoral, formado pelo Congresso e por deputados estaduais (seis por cada Assembleia Estadual, do partido majoritário no respectivo estado), era uma armação que sempre dava vitória ao governo. Acontece que o candidato oficial do PDS, Paulo Maluf, devido às suas ligações com o regime militar criava descontentamento na população. Se ele fosse presidente seria uma decepção muito grande para o Brasil. Muitos políticos do PDS perceberam a situação e liderados pelo senador José Sarney, formaram a Frente Liberal que, no Colégio Eleitoral, elegeu Tancredo Neves presidente do Brasil (o vice era Sarney). Pouco depois, esse pessoal, que saiu do PDS, mas que mantinha as velhas ideias conservadoras, fundou o PFL (Partido da Frente Liberal). Tancredo Neves fez carreira no PSD junto das oligarquias mineiras. Foi ministro da Justiça de Getúlio e esteve no MDB. Moderado, nunca tivera atritos graves com o regime militar. Um político hábil, mas que nunca se ligou a nenhuma luta popular, seria o mais indicado, entretanto, seu falecimento levou José Sarney, vice de Tancredo a colocar o fim ao regime militar (SKIDMORE, 1988; REZENDE, 1996). A “Nova” República “O Brasil está mudando”, esta frase foi muito ouvida na chamada “Nova República”. De certo modo, expressava o que muitos brasileiros gostariam que acontecesse. Tancredo Neves, José Sarney, Fernando Collor, Itamar Franco, Fernando Henrique Cardoso e Lula. Um novo Brasil com velhas coisas. Inflação, miséria, violência, corrupção, desigualdade social, práticas de favor, políticos venais, sem desmerecer os méritos de cada um, entre outros. 8 Aos mais conservadores, o modo como foi exposto, o olhar dessa introdução parece uma ferrenha crítica ao regime militar e mesmo aos novos governantes da “Nova República”, mas deixamos bem claro que a história contada, principalmente nos livros didáticos geralmente é “bonita”, maquiada e pouco crítica. Contam os fatos e não as entrelinhas. Os desdobramentos deste último período que antecede a redemocratização do Brasil têm de ser analisados com clareza para podermos entender o rumo da política brasileira nos dias de hoje. Acreditamos que, mais que os fatos em si, o que se passa pelas entrelinhas nos leva a refletir e a analisar o presente buscando perspectivas melhores. Salientamos que este trabalho é uma compilação de estudos de vários autores e material do que entendemos ser o mais importante em termos de Brasil pós-período da Ditadura. Dúvidas podem surgir e pedimos desculpas por eventuais lacunas, mas tanto por isso, ao final da apostila estão diversas referências utilizadas e consultadas através das quais poderão aprofundar algum conhecimento que chame a atenção ou tenha despertado dúvida. 9 UNIDADE 2 - JOSÉ SARNEY (1985-1990) Após a lenta transição do Regime Militar para o Democrático, contrariando o desejo do povo, que queria eleições diretas para a presidência da república, foi eleito indiretamente Tancredo Neves. Mesmo antes de assumir o cargo de Presidente, Tancredo teve de ser internado às pressas e acabou morrendo em 21 de abriu de 1985. Em seu lugar assumiu o maranhense José Sarney que começou governando de acordo com os intentos de Tancredo Neves. Como sempre o país sofria com a alta inflação, que beirava a casa dos 230%, e também havia o problema da dívida externa do país que ultrapassava 100 bilhões de dólares. Foi então criado, com a ajuda do então ministro da fazenda Dílson Funaro, o “Plano Cruzado”, para resolver os problemas do Brasil. Os principais pontos deste plano eram: • Adoção do cruzado no lugar do cruzeiro; • Fim da correção monetária; • Congelamento e tabelamento dos preços; • Reajuste salarial quando a inflação passasse dos 20%. No começo o plano foi bem aceito pelo povo e até parecia ser eficiente, porém após alguns meses, o congelamento de preços perdeu sua eficácia e o governo não conseguia controlar seus gastos. Assim o Plano Cruzado ruiu. Até o final do mandato de Sarney – junto com sua equipe – não foi possível acabar com a grave crise econômica vivida pelo país desde sua chegada ao poder, envolvendo três grandes problemas: 1. Inflação elevada; 2. Dívida externa; 3. Dívida Interna. 10 Em janeiro de 1987, o governo chegou a decretar uma moratória2 – o país devia então 107 bilhões de dólares aos credores internacionais (COTRIM, 2008). Dentre tantos problemas, o maior feito do governo Sarney foi a Constituição de 1988, a qual começou a ser criada dois anos antes, por uma Assembleia Constituinte. Em 1988, Ulysses Guimarães, presidente do Congresso, a declarou promulgada. Suas principais características foram: • Estabelecimento de um Estado de direito e democrático. • Voto facultativo para analfabetos e menores acima dos 16 anos. • Direito a greve. • Direitos trabalhistas aos funcionários domésticos. • Criação da licença paternidade. • Definição da jornada semanal de trabalho em 44 horas. • Incriminação do racismo e terrorismo. A constituição Federal de 1988 confere amplos direitos aos cidadãos. E somente quando os direitos são exercidos é que existe, efetivamente, cidadania. Isso quer dizer que a cidadania não deve ser vista como doação do Estado à Sociedade. Cidadania é uma realidade em construção, que resulta de um processo constante de lutas e conquistas dos sujeitos e grupos sociais. Vejamos, então, alguns pontosda atual Constituição federal que se referem a esses direitos fundamentais do cidadão: • Igualdade jurídica – todos sã iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza. Aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no país está garantida a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade. Homens e mulheres são iguais em direitos e deveres. 2 Dispositivo legal por meio do qual as autoridades de um Estado declaram a suspensão do pagamento dos serviços da sua dívida externa. 11 • Subordinação de todos à lei – ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude da lei. Significa que a liberdade de cada pessoa só tem como limite os mandamentos contidos nas normas jurídicas, e não o arbítrio de outra pessoa, por mais influente que seja. • Liberdade de pensamento, de crença religiosa, de ex pressão intelectual, de locomoção, de associação – é livre a manifestação do pensamento (sendo assegurado o direito de resposta); é livre o exercício dos cultos religiosos; é livre a expressão intelectual (artística, científica e de comunicação), independentemente de censura ou licença; é livre a locomoção pelo território nacional em tempo de paz (direito de ir e vir); é livre o direito de reunião e de associação para fins lícitos. É lícito o ato que não contraria o direito. • Relação dos direitos sociais – são direitos sociais os direitos à educação, à saúde, ao trabalho, ao lazer, à segurança, à previdência social, à proteção à maternidade e à infância, à assistência aos desamparados (COTRIM, 1999). 12 UNIDADE 3 - COLLOR DE MELLO (1990-1992) Fernando Collor de Mello nasceu em 1949, no Rio de Janeiro. Proveniente de uma tradicional família de políticos, passou a adolescência em Brasília e se graduou em Economia pela Universidade de Brasília. No ano de 1973, ele foi para Alagoas e assumiu o jornal Gazeta de Alagoas, pertencente à sua família. Em 1979, foi nomeado prefeito de Alagoas pelo Governo Militar. Passados três anos, Collor foi eleito deputado federal pelo PDS (Partido Democrático Social). No ano de 1986, concorreu e venceu as eleições para governador de Alagoas. Em seu mandato ganhou notoriedade por combater os “marajás”, funcionários públicos acusados de receberem salários astronômicos. Após quase 30 anos sem eleições diretas para presidente da República, os eleitores brasileiros voltaram a exercer esse direito nos dias 15 de novembro e 17 de dezembro de 1989 (primeiro e segundo turnos). Ao final de uma agitada campanha eleitoral, o candidato vitorioso foi o ex-governador de Alagoas, Fernando Collor de Mello, tendo como vice Itamar Franco. Eles concorreram por uma pequena agremiação política, o Partido da Renovação Nacional (PRN), onde Collor criou uma chapa para concorrer ao cargo de presidente. Contrariando os prognósticos daquela disputa eleitoral, Fernando Collor venceu as eleições e se sagrou como o primeiro Presidente da República eleito pelo voto direto após o fim da ditadura militar. No segundo turno, Collor recebeu o apoio do PFL, PDS e PTB, além do apoio de diversas legendas menores. Derrotou por pequena diferença de votos o ex-líder sindicalista Luiz Inácio Lula da Silva, do Partido dos Trabalhadores (PT), que concorria pela primeira vez à presidência da República e recebera apoio de lideranças do PMDB, PSDB e PDT. Durante a campanha eleitoral, Collor apresentou uma imagem de político renovador e um discurso centrado na moralização do serviço público e no combate aos marajás. Outra proposta de seu programa de governo era modernizar a administração do Estado e a economia do país conforme a cartilha neoliberal, isto é, privatizar (vender para a iniciativa privada) empresas estatais, combater os monopólios, abrir o país à concorrência internacional e desburocratizar as regulamentações econômicas, entre outras propostas (COTRIM, 2008). 13 No ano anterior ao início de seu governo, a inflação oficial medida pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) alcançou a inacreditável cifra de 1.764% e em razão desse flagelo, o presidente Collor elegeu como sua prioridade a luta contra a espiral inflacionária através do chamado Plano Brasil Novo, popularmente denominado de Plano Collor. Ousado em sua concepção, o referido plano era a quarta tentativa empreendida pelo governo federal visando o combate à hiperinflação, três das quais empreendidas ao longo do governo Sarney. A situação econômica do país era de tal modo complicada, que a discussão não girava em torno da adoção de medidas na seara econômica e sim quando (e como) tais medidas seriam implementadas e nisso veio a primeira surpresa: na véspera de sua posse, Fernando Collor fez uma solicitação ao governo Sarney para que fosse decretado feriado bancário, o que só aumentou as especulações a respeito das medidas que seriam anunciadas. Empossado numa quinta-feira, o governo Collor anunciou seu plano econômico no dia seguinte à posse: anunciou o retorno do cruzeiro como unidade monetária em substituição ao cruzado novo, vigente desde 15 de janeiro de 1989, quando houve o último choque econômico patrocinado por seu antecessor. O cruzeiro voltaria a circular em 19 de março de 1990 em sua terceira, e última, incursão como moeda corrente nacional, visto que seria substituída pelo cruzeiro real em 1993. Além disso, as medidas de Collor para a economia incluíram ainda ações de impacto como: o confisco dos depósitos bancários superiores a Cr$ 50.000,00 (cinquenta mil cruzeiros), por um prazo de dezoito meses visando reduzir a quantidade de moeda em circulação, alteração no cálculo da correção monetária e também na sistemática das aplicações financeiras, redução da máquina administrativa com a extinção ou fusão de ministérios e órgãos públicos, demissão de funcionários públicos e o congelamento de preços e salários (embora tenha sido em seu governo que os aposentados rurais tenham conquistado o direito a um salário mínimo como benefício básico ao invés do meio salário até então vigente). Mesmo sendo o confisco bancário um flagrante desrespeito ao direito constitucional de propriedade, o plano econômico conduzido pela Ministra da Economia Zélia Cardoso de Mello foi aprovado pelo Congresso Nacional em questão de poucos dias. 14 Bem avaliado em seus dois primeiros meses, o Plano Collor (que seria complementado por uma série de outras medidas em janeiro de 1991) acabou por aprofundar a recessão econômica, corroborada pela extinção, em 1990, de mais de 920 mil postos de trabalho e uma inflação na casa dos 1200% ao ano. O descontentamento da elite político-empresarial do país com o arrocho viria a ser aplainado por medidas inspiradas no modelo econômico neoliberal adotado pelo governo, tais como: • A abertura da economia brasileira ao mercado externo (o que facilitou as importações e o ingresso do capital estrangeiro no país); • O início do Programa Nacional de Desestatização (cujo marco inicial foi a venda de empresas siderúrgicas); e, • A modernização de nosso parque industrial. Todavia, como faltou a devida regulamentação, tais medidas logo perderiam o impacto ante o recrudescimento da crise econômica. Entretanto, a desregulamentação econômica iniciada em seu governo serviu como paradigma para muitas das medidas adotadas nos anos seguintes, em especial na gestão de Fernando Henrique Cardoso entre o final do século XX e o início do século XXI. Segundo um artigo do acadêmico Carlos Eduardo Carvalho (2006), Professor do Departamento de Economia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e coordenador do Programa de Governo da candidatura do PT à Presidência da República em 1989, a medida política executada pelo Governo Collor, que ficou conhecida como confisco,não fazia parte, originalmente, do Plano Collor e foi gestada quase às vésperas de sua implementação. O confisco já era um tema em debate entre os candidatos à eleição presidencial: A gênese do Plano Collor, ou seja, como e quando foi formatado o programa propriamente dito, desenvolveu-se na assessoria de Collor a partir do final de dezembro de 1989, depois da vitória no segundo turno. O desenho final foi provavelmente muito influenciado por um documento [de Luiz G. Belluzzo e Júlio S. Almeida] discutido na assessoria do candidato do PMDB, Ulysses Guimarães, e depois na assessoria do candidato do PT, Luís Inácio Lula da Silva, entre o primeiro turno e o segundo. 15 Apesar das diferenças nas estratégias econômicas gerais, as candidaturas que se enfrentavam em meio à forte aceleração da alta dos preços, submetidas aos riscos de hiperinflação aberta no segundo semestre de 1989, não tinham políticas de estabilização próprias. A proposta de bloqueio teve origem no debate acadêmico e se impôs às principais candidaturas presidenciais. Quando ficou claro o esvaziamento da campanha de Ulysses, a proposta foi levada para a candidatura de Luís Inácio Lula da Silva, do PT, obteve grande apoio por parte de sua assessoria econômica e chegou à equipe de Zélia depois do segundo turno, realizado em 17 de dezembro. Denúncias de corrupção Depois de dois anos de mandato de Fernando Collor, começaram a surgir na imprensa do país inúmeras denúncias de corrupção envolvendo a cúpula governamental e a própria família Collor. CPI do PC A gravidade das denúncias, aliada à grande repercussão alcançada na mídia, levou a Câmara dos Deputados a instituir uma comissão parlamentar de inquérito (CPI), em maio de 1992, destinada a apurar as eventuais irregularidades. Aos poucos, foi desmontada e exposta ao público a rede de corrupção, sonegação fiscal e contas “fantasmas” do chamado “esquema PC”: uma série de negócios obscuros dirigidos por Paulo César Farias (o PC), amigo e ex-tesoureiro da campanha presidencial de Collor. Ao final dos trabalhos, a CPI apresentou um relatório que incriminava o presidente Collor. Estava aberto o caminho legal para o impeachment, que foi aprovado pela Câmara Federal em 29 de setembro de 1992. Assim, Fernando Collor foi impedido de exercer a função de presidente da República para ser julgado pelo Senado Federal (COTRIM, 2008). No dia 2 de outubro de 1992, o vice-presidente Itamar Franco assumiu a presidência da República, governando interinamente até 29 de dezembro, quando, durante julgamento no Senado Federal, Collor entregou sua carta-renúncia. Mesmo 16 após a apresentação da renúncia, o Senado prosseguiu o julgamento de Collor, cassando seus direitos políticos por oito anos. 17 UNIDADE 4 - ITAMAR FRANCO (1992-1994) Eleito Vice-presidente da República, o mineiro Itamar Franco assumiu a presidência interinamente entre outubro e dezembro de 1992, e em caráter definitivo em 29 de dezembro de 1992, após o Impeachment de Fernando Collor de Mello. Ele cumpre o restante do mandato cuja duração vai até 31 de dezembro 1994. Itamar recebe um país traumatizado pelo processo que levou à destituição do Presidente e procura administrá-lo com equilíbrio. Ao deixar o governo, seu índice de popularidade está entre os mais altos da República. Governo de coalizão Segundo Cotrim (2008), com estilo diferente de seu antecessor, e sob o impacto do processo de impeachment e suas repercussões, o novo presidente procurou compor um governo com apoio de todos os partidos. Itamar Franco recebeu o governo com uma pesada herança de graves problemas socioeconômicos: • A persistência da inflação; • A altíssima concentração de renda; • A recessão econômica e o desemprego; • O agravamento dos problemas da fome e da indigência, que atingiam milhões de brasileiros. A fim de enfrentar esse desafio, Itamar convidou para compor seu ministério figuras das mais variadas tendências ideológicas, vindas de diversos partidos políticos. Formou, assim, o que alguns analistas chamaram de governo de coalizão. Plebiscito Dentre os fatos que marcaram o governo de Itamar Franco, temos o plebiscito. Em Abril de 1993, cumprindo com o previsto na Constituição, o governo realiza um plebiscito para a escolha da forma e do sistema de governo no Brasil. 18 Quase 30% dos votantes não compareceram ao plebiscito ou anularam o voto. Dos que comparecem às urnas, 66% votaram a favor da república, contra 10% favoráveis à monarquia. O presidencialismo recebeu cerca de 55% dos votos, ao passo que o parlamentarismo obteve 25% dos votos. Em função dos resultados, foi mantido o regime republicano e presidencialista. Plano Real No campo econômico, o governo enfrentou sérias dificuldades. A falta de resultados na política de combate à inflação agravou o desequilíbrio do governo e abalou o prestígio do próprio Presidente da República. Os ministros da Economia sucederam-se (três foram substituídos seguidamente), até que o chanceler (titular da pasta de Relações Exteriores), Fernando Henrique Cardoso, é nomeado para o cargo. No final de 1993, ele anunciou seu plano de estabilização econômica, o Plano Real, desenvolvido por uma equipe de economistas (Persio Arida, André Lara Resende, Gustavo Franco, Pedro Malan, Edmar Bacha, Clóvis Carvalho, Winston Fritsch, entre outros) que o assessoravam, a ser implantado ao longo de 1994. O objetivo básico do plano era controlar a hiperinflação brasileira, considerada crônica. De acordo com esse plano, desenvolvido em etapas, em 1º de julho de 1994 entrou em vigor no país uma nova moeda: o real. Por isso, o plano ficou conhecido como Plano Real. O governo Itamar Franco sofreu as consequências das investigações da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Congresso Nacional, entre 1993 e 1994, em função de denúncias de irregularidades na elaboração do Orçamento da União. A CPI do Orçamento provou o envolvimento de ministros, de parlamentares e de altos funcionários num amplo esquema de manipulação do Orçamento. Confirmou-se o tráfico de influências, o desvio sistemático de verbas para empreiteiras, entidades filantrópicas fantasmas, apadrinhados políticos, entre outros. Dos dezoito deputados acusados, apenas seis tiveram seus mandatos cassados, perdendo os direitos políticos até 2001. Outros quatro renunciaram e oito foram absolvidos (COTRIM, 2008). 19 A autoridade do Presidente, contudo, não foi abalada pelos resultados das investigações. No final de seu mandato, Itamar Franco apoia a candidatura do ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso, à Presidência da República. Itamar foi o único presidente da República desde Artur Bernardes a eleger seu sucessor. Com a vitória de seu candidato, Itamar foi nomeado embaixador brasileiro em Portugal, e posteriormente embaixador brasileiro junto a Organização dos Estados Americanos (OEA) em Washington, Estados Unidos. No entanto, Itamar tornou-se um crítico feroz do governo de Fernando Henrique Cardoso, discordando do programa de privatização das empresas estatais. Além disso, Itamar pretendia se candidatar à Presidência novamente nas eleições de 1998, porém viu seus planos serem desfeitos quando o então presidente Fernando Henrique resolveu mudar a Constituição, para se reeleger para um outro mandato consecutivo. Mesmo com essa nova mudança nas normas eleitorais, Itamar tenta se candidatar a presidência, mas não consegue obter a indicação do PMDB, numa ação creditada à enorme pressão exercida pelo então presidente Fernando Henrique que não gostaria de ter Itamar como adversário. Esse foi um dos motivos apontados para o rompimento de Itamar com Fernando Henrique. Sem a indicação para a presidência, Itamar se candidata então ao governo de Minas Gerais, fazendo forte oposição ao governodo presidente Fernando Henrique, ganhando a eleição contra o então governador Eduardo Azeredo do PSDB, apoiado por Fernando Henrique. Itamar Franco foi eleito governador de Minas Gerais em 1998 pelo PMDB, obtendo ampla vitória sobre o então governador Eduardo Azeredo. Governou Minas Gerais de 1999 a 2003, e não conseguiu a indicação do PMDB para se candidatar à presidência da república em 2002. Naquela oportunidade, a convenção nacional do PMDB optou pela coligação com o PSDB, lançando a então deputada Rita Camata (do Espírito Santo) a vice-presidente na chapa encabeçada por José Serra (SP). Assim que tomou posse, Itamar Franco decretou a moratória do Estado de Minas Gerais. Entre outros aspectos, o governador alegava a necessidade de se empreender uma auditoria na dívida estadual que, entre outros pontos, era atrelada a uma taxa de juros de 7,5% ao ano, enquanto estados como São Paulo negociaram 20 suas dívidas a uma taxa de 6%. Tentou, com um conjunto de ações na área financeira, reverter uma situação herdada do governo anterior, na qual, conforme Rocha; Noronha (1998), “as despesas apresentavam crescimento mais acelerado que as receitas tributárias e encontravam-se concentradas em funções de baixa capacidade distributiva, comprometendo a promoção de um processo de desenvolvimento socialmente justo”. Esta atitude polêmica levou Itamar a ser acusado pelo Presidente do Banco Central Armínio Fraga de agir contra a estabilidade de regras necessária à atração de investimentos estrangeiros. Em que pese essa ação inicial, foi em seu governo que a dívida mineira foi equacionada e começou a ser quitada, conforme esclarece Fabrício Augusto de Oliveira. Contrário à política de privatizações, retomou judicialmente o controle acionário da estatal geradora de energia elétrica de Minas Gerais (CEMIG), parcialmente vendida por seu antecessor, o então governador Eduardo Azeredo, que somente conseguiu fechar as contas estaduais em seus dois últimos anos de governo desfazendo-se de parte do patrimônio público mineiro, que foi privatizado, em um processo de reorganização das estatais mineiras que estaria na gênese do chamado “esquema Marcos Valério” (REVISTA CARTA CAPITAL, 2010) cuja “origem dos recursos” seriam “as empresas públicas de Minas Gerais” (AZENHA, 2010). Itamar também insurgiu-se contra a privatização da empresa energética Furnas, mobilizando a Polícia Militar de Minas Gerais para “intervir em caso de necessidade” (REVISTA VEJA, 1999) A recomposição do setor público em bases burocráticas, passando essencialmente pela valorização do servidor público, pelo reaparelhamento das principais agências de ação estatal e pelo ajuste fiscal, marcou a gestão Itamar Franco, conforme analisam Wladimir Rodrigues Dias e Roberto Sorbilli Filho, segundo os quais não houve grandes inovações em seu governo, mas uma importante organização da administração pública, desmantelada por seu antecessor (DIAS; SORBILLI FILHO, 2010). 21 Itamar se opôs a atividades típicas da política tradicional, como as vinculadas ao clientelismo político. Extinguiu as subvenções sociais distribuídas por deputados e não negociou emendas parlamentares, deixando de exercer a habitual dominação que o Executivo exerce sobre o Legislativo. Em décadas, foi o governador com maior número de projetos rejeitados na Assembleia mineira, retaliado pelo rompimento com o pacto clientelista (DIAS, 2010). Terminando seu mandato no governo de Minas Gerais, no final de 2002, Itamar resolve não se candidatar a reeleição e apoia a candidatura de Aécio Neves para o governo do Estado e de Luiz Inácio Lula da Silva para a presidência da República, contra o candidato José Serra, apoiado pelo presidente Fernando Henrique. Em Minas, Itamar faz seu sucessor, e com a vitória de Lula no plano nacional, Itamar é nomeado embaixador brasileiro na Itália, cargo que decidiu deixar voluntariamente em 2005. Embora na memória da maioria permaneça um governador mais atento aos problemas nacionais e a uma eventual candidatura à presidência da república, foi em seu governo que se reorganizaram as finanças e a administração estadual, possibilitando ao governador seguinte, Aécio Neves, eleito com seu apoio, implantar o chamado “choque de gestão”. Nas eleições de 3 de outubro de 2010, foi eleito senador pelo estado de Minas Gerais, derrotando Fernando Pimentel do PT. 22 UNIDADE 5 - FERNANDO HENRIQUE CARDOSO (1995- 2002) Formando uma coligação entre o PSDB e o PFL, Fernando Henrique Cardoso - também conhecido como FHC - venceu, no primeiro turno, as eleições de 3 de outubro de 1994, com quase 55% dos votos válidos. Assumiu a presidência da República em 1º de janeiro de 1995 para cumprir um mandato que terminaria em 1º de janeiro de 1999. Em 1997, porém, foi aprovada, pelo Congresso Nacional, uma emenda constitucional permitindo a reeleição do presidente da República, de governadores de estado e de prefeitos. Novamente apoiado pelo PFL e por seu partido, Fernando Henrique concorreu à reeleição e saiu outra vez vitorioso em primeiro turno. Tornou- se, assim, o primeiro presidente brasileiro a exercer dois mandatos consecutivos. O segundo mandato de Fernando Henrique iniciou-se em 1º de janeiro de 1999 e encerrou-se em 1º de janeiro de 2003. Nas duas eleições, seu principal adversário foi Luiz Inácio Lula da Silva, do PT, dando início a um período em que PT e PSDB passaram a dominar e a polarizar progressivamente o cenário político brasileiro. Quem é FHC? Fernando Henrique Cardoso nasceu na cidade do Rio de Janeiro em 18 de junho de 1931. Sociólogo e cientista político brasileiro. Professor Emérito3 da Universidade de São Paulo, lecionou também no exterior, notadamente na Universidade de Paris. Foi funcionário da CEPAL4, membro pesquisador e diretor do CEBRAP5, Senador da República (1983 a 1992), Ministro das Relações Exteriores (1992), Ministro da Fazenda (1993 e 1994). Graduado em Sociologia pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP, desenvolveu considerável carreira acadêmica, tendo produzido diversos 3 O título de professor emérito é conferido a professores que se distinguiram no exercício da atividade acadêmica nos seus relevantes serviços à ciência e à instituição. 4 Comissão Econômica para América Latina e Caribe. 5 Centro Brasileiro de Análise e Planejamento. 23 estudos sociais em nível regional, nacional e global, e recebido diversos prêmios e menções honrosas pelos trabalhos. Foi eleito o 11º pensador global mais importante, pela revista Foreign Policy, em 2009, pelo pensamento e contribuição para o debate sobre a política antidrogas. É co-fundador, filiado e presidente de honra do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB). Foi o intérprete das palestras do filósofo francês Jean-Paul Sartre no Brasil, em 1960. Durante o regime militar, esteve exilado no Chile e na França. Em 1968, voltou ao Brasil e assumiu por concurso público a cátedra de Ciência Política da USP, mas foi afastado pelo Decreto-lei 477, o “AI-5 das universidades”. Lecionou no Chile, na França, Inglaterra e nos Estados Unidos. Na França, acompanhou de perto o movimento de Maio, de 1968, iniciado justamente na Universidade que Fernando Henrique lecionava: Universidade de Paris X - Nanterre, em 22 de março de 1968. Radicou-se em São Paulo, tendo casado com a antropóloga Ruth Cardoso, com quem teve três filhos. Atualmente, preside o Instituto Fernando Henrique Cardoso (iFHC, São Paulo) e participa de diversos conselhos consultivos em diferentes órgãos no exterior, como o Clinton Global Initiative, Brown University e United Nations Foundation. Como sociólogo, FHC escreveu obras importantes para a teoria do desenvolvimento econômico e das relações internacionais. Algumas das obrasescritas por FHC sobre política e governo: • Relembrando o que escrevi: da reconquista da democracia aos dias atuais. Editora Civilização Brasileira, 2010. • A arte da política — A história que vivi. Editora Civilização Brasileira, 2006. • Cartas a um jovem político — Para construir um Brasil melhor. Editora Alegro, 2006. • O mundo em português. Editora Paz e Terra,1998. • O presidente segundo o sociólogo. Editora Companhia das Letras, 1998. • Mãos à Obra. Brasil, 1994. • Perspectivas. Editora Paz e Terra, 1983. • Dependência e Desenvolvimento na América Latina. Editora México, 1969. 24 Dedicou-se ao aprofundamento de suas teorias durante o período em que viveu no exílio durante o regime militar, ou golpe militar de 1964. Foi um dos ideólogos da corrente dependentista ou desenvolvimentista. Participando dos grupos de estudos que resultaram na elaboração da Teoria da Dependência, diferenciando-se, porém, da vertente marxista, liderada por Theotonio dos Santos e Ruy Mauro Marini. Sua teoria sugere que os países subdesenvolvidos devam se associar entre si, buscando um caminho capitalista alternativo para o desenvolvimento, livrando-se da dependência das grandes potências. FHC era contrário à tese de que os países do terceiro mundo se desenvolveriam só se tivessem uma revolução socialista. Em julho de 1995, Fernando Henrique Cardoso foi homenageado com os graus de doutor honoris causa da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra e da Faculdade de Economia da Universidade do Porto. Questões pontuais da gestão FHC Reformas na gestão econômica No plano econômico, o governo FHC teve como um dos principais marcos, o combate à hiperinflação do país, dando prosseguimento ao Plano Real. Adotando, entre outras medidas, uma política de juros altos, o resultado desse combate pode ser percebido pelos seguintes indicadores: • De 1988 a 1993, a taxa média da inflação brasileira havia sido de 1280,9% ao ano. • Com a implantação do Plano Real, de julho de 1994 até maio de 2000, a taxa média de inflação caiu para 11,4% ao ano (com base no índice de Preços ao Consumidor Amplo – IPCA, apurado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE). Outro aspecto marcante da gestão de Fernando Henrique foi a retomada da reforma do Estado e da economia, projeto que tinha certos antecedentes no Governo Collor. A ideia defendida pela equipe do governo era romper com o modelo de Estado interventor, instalado desde a Era Vargas. 25 Programa de privatizações Assim, adotando uma política econômica considerada neoliberal por uns, ou liberal-reformista por outros, o governo FHC procurou reduzir o papel do Estado como produtor de bens e serviços diretos, promovendo uma série de privatizações de empresas públicas. Foram privatizadas, por exemplo, empresas de telecomunicações (Sistema Telebrás), de geração e distribuição de energia elétrica (Eletrobrás), de mineração (Companhia Vale do Rio Doce), de siderurgia (Usiminas, Cosipa, Companhia Siderúrgica Nacional) e do setor químico (Copene, Copesul). Para supervisionar as áreas privatizadas, o governo criou diversas agências reguladoras – entidades públicas independentes dos governos, idealizadas com o propósito de não ser suscetíveis a pressões políticas. São exemplos a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), a Agência Nacional do Petróleo (ANP) e a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), entre outras. As autoridades responsáveis pelo programa de privatização defenderam esse processo argumentando, principalmente, que: • era preciso fortalecer o Estado regulador em detrimento do Estado empresário. Desse modo, retirando-se do setor empresarial, o Estado poderia cumprir melhor seu papel de provedor e executor de políticas sociais nas áreas da segurança, saúde, educação, entre outras; • as privatizações atrairiam capital estrangeiro, modernizariam os diversos setores econômicos, expandiriam a cobertura dos serviços e dinamizariam a economia; • o dinheiro arrecadado pelo governo com a venda das estatais seria usado para pagar parte da dívida do país (interna e externa). O programa de privatizações empreendido pelo governo teve de enfrentar a dura oposição de grupos corporativos em defesa de seus interesses. Também se defrontou com a reprovação daqueles que, por princípio ideológico, eram (e são) contrários à desestatização. Mas as privatizações também foram criticadas por outros motivos: 26 • segundo diversos analistas, a liquidação do patrimônio público teria sido feita por preços muito baixos; • essa privatização não teve como contrapartida a necessária melhoria da qualidade dos serviços públicos sociais; • o pagamento das dívidas interna e externa do país com os recursos arrecadados com as privatizações não alcançou o efeito esperado; ao contrário, durante o mandato de Fernando Henrique, as dívidas interna e externa do país aumentaram muito. Lei de Responsabilidade Fiscal Uma iniciativa do governo FHC considerada importante para o aprimoramento da gestão das finanças públicas foi a aprovação da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), em 4 de maio de 2000. A LRF estabeleceu regras precisas para todo administrador público – seja no âmbito municipal, estadual ou federal – com o propósito de alcançar um equilíbrio entre receitas e despesas na gestão das contas públicas. O princípio fundamental da LRF consiste em proibir a criação de uma nova despesa (por mais de dois anos) nos orçamentos públicos sem a indicação de receita correspondente ou de redução equivalente de gastos já previstos para cobri- Ia. Ou seja, não se pode gastar mais do que o arrecadado. O desrespeito do administrador público às determinações da LRF pode gerar graves punições, como perda dos direitos políticos, pagamento de pesadas multas e prisão dos infratores. Avanços sociais Durante o governo FHC, as injustiças sociais históricas do país não foram eliminadas. No entanto, houve avanços positivos em setores como, por exemplo, a educação e a saúde. Redução do analfabetismo Na educação, durante o governo FHC, o Brasil praticamente alcançou a universalização do ensino fundamental, garantindo o acesso à escola para 97% das crianças do país com idade entre 7 e 14 anos (dados de 2002). 27 Além disso, houve significativa queda na taxa de analfabetismo entre a população com mais de 10 anos de idade. Em 1990, havia no país cerca de 18,3% de analfabetos; em 2002, esse percentual caiu para 12,8%. A redução mais notável ocorreu entre os jovens de 15 a 19 anos, faixa etária em que a taxa de analfabetismo baixou de 12% para 6%. Essa redução entre os jovens indica que o analfabetismo, no Brasil atual, tende a se confinar entre as gerações mais velhas, não alcançadas pelas recentes políticas de alfabetização. No entanto, quando comparadas a muitos outros países, a taxa de analfabetismo brasileira ainda é bastante elevada. Observe a tabela. Apesar desses progressos na educação brasileira em termos quantitativos, resta ainda um imenso trabalho a ser desenvolvido quanto à qualidade dos ensinos público e privado no país (pensando até o governo FHC). Queda da mortalidade infantil Na área da saúde, o governo FHC expandiu o atendimento médico- hospitalar e as campanhas públicas de vacinação. Esses esforços refletiram-se, por exemplo, na queda da taxa de mortalidade infantil: em 1994, essa taxa era de 36,5 mortes por mil nascidos vivos; em 2002, caiu para 27,8 mortes. Expressando também uma melhoria nas condições gerais de saúde, houve uma ampliação da esperança de vida no país. Em 1980, o brasileiro vivia, em média, 60 anos; em 2002, a esperança média de vida subiu para 71 anos. 28 Apesar dos progressos apontados, ainda são muitos os problemas que afetam as condições da saúde pública no Brasil. Na tabelaseguinte podemos comparar as taxas de mortalidade infantil e esperança de vida do Brasil com as de alguns países selecionados. Final da Era FHC No último ano do segundo mandato de Fernando Henrique, cresceram o descontentamento popular e as críticas de parte da imprensa em relação ao desempenho de seu governo. Vários fatores contribuíram para isso: • crise de fornecimento de energia elétrica no país, gerando risco de um apagão: na época atribuiu-se o problema à falta de investimentos do governo em infraestrutura e às privatizações no setor energético; • crescimento intenso da dívida externa e da dívida interna do setor público, gerando desconfiança na capacidade do governo de honrar seus compromissos e pondo em dúvida a efetividade do processo de privatizações; • retorno da pressão inflacionária, levando a certa desilusão com o Plano Real; • elevadas taxas de desemprego, causando insatisfação popular. 29 A insatisfação social desse período converteu-se em anseio por mudanças políticas que, em grande medida, foram direcionadas para o candidato da oposição, Luiz Inácio Lula da Silva, nas eleições à presidência da República em 2002. Denúncias de corrupção Como nos governos anteriores, desde a redemocratização do país, durante o mandato de Fernando Henrique, houve diversas denúncias de corrupção e irregularidades envolvendo parlamentares, assessores, altos funcionários públicos e empresários ligados ao governo. Algumas dessas denúncias converteram-se em investigações parlamentares, como a CPI do Sivam (Sistema de Vigilância da Amazônia) e a CPI dos Bancos. Grande parte dessas investigações não foi avante no Congresso, vencida pela maioria política ligada ao governo. Entre elas podem ser destacadas duas: a suposta compra de votos de parlamentares para a aprovação da emenda constitucional da re-eleição – indicada por gravações telefônicas que levaram à expulsão de alguns deputados do PFL – e diversas denúncias reunidas num dossiê, que sustentariam uma CPI da Corrupção. A favor do governo e do presidente ficou o fato de que não houve comprovação jurídica para muitas dessas denúncias, atribuídas ao jogo político dos oposicionistas. Porém restou a suspeita levantada pela oposição, dado o empenho dos governistas em impedir que as investigações fossem levadas adiante. Primeiro governo FHC mediante análises de Cláudio C outo e Fernando Abrúcio O primeiro governo Fernando Henrique Cardoso foi marcado por duas agendas principais: a estabilização monetária e as reformas constituciona is . Outras ações importantes levadas a cabo pelo Executivo articularam-se e entrelaçaram-se a essas duas agendas. É o caso das privatizações, da reforma do sistema financeiro e do acordo da dívida dos estados (COUTO; ABRÚCIO, 2003). A estabilização monetária, promovida pelo Plano Real, veio debelar uma inflação crônica, que acometia o país desde o início dos anos de 1980. Seu encaminhamento encaixava-se, antes de tudo, numa agenda emergencial, já que 30 sem um mínimo de estabilidade, pouca coisa poderia ser encaminhada na reestruturação de um modelo econômico que dava sérios sinais de fadiga. A deflagração do Plano Real deu-se ainda no governo Itamar Franco, quando Fernando Henrique, guindado ao Ministério da Fazenda, logrou montar uma coesa e prestigiosa equipe de economistas que, lançando mão de mecanismos anti- inerciais, teve grande sucesso na contenção de uma inflação que já havia superado os cinquenta pontos percentuais. O sucesso na política anti-inflacionária fez-se sentir ainda no segundo semestre de 1994, assegurando uma vitória relativamente fácil de FHC já no primeiro turno das eleições presidenciais. O sucesso de público do Plano Real foi tal monta que diversos postulantes aos governos estaduais e mesmo candidatos à presidência de partidos adversários buscavam mostrar-se como seus defensores – o então postulante pelo PPB, Esperidião Amin, por exemplo, afirmava no horário eleitoral gratuito que seria ele e não FHC o homem mais capacitado para defender o Plano Real. Apenas o PT e seus aliados mais próximos insistiam que se tratava de mais um plano eleitoreiro, de curto prazo, visando apenas a garantir a vitória dos candidatos situacionistas (COUTO; ABRÚCIO, 2003). A “era do Real” teve o significado de uma “conjuntura crítica”, isto é, de uma grande mudança na posição relativa dos atores políticos e sociais em relação aos instrumentos de poder e às preferências (PIERSON, 2000). A essa mudança na situação dos agentes somou-se a capacidade do presidente Fernando Henrique de montar e manter por um bom tempo uma coalizão capaz de fazer alterações na antiga estrutura, segundo os objetivos determinados por FHC. Nesse sentido, trata-se, também, de um “momento maquiaveliano”, no qual a mudança da “Fortuna” (condições objetivas, no sentido marxista) realiza seu potencial na virtude do condutor da mudança, que cria uma nova ordem institucional (SOLA et al., 2002). Uma bem-sucedida política anti-inflacionária tornava-se um importante recurso de poder para seus patrocinadores, facilitando a vitória eleitoral num primeiro momento e a construção de coalizões num segundo. A partir da posse, em 1º de janeiro de 1995, a preservação dos sucessos iniciais do Real e seu 31 prosseguimento eram apresentados como prioridade máxima, não do governo, mas do país. Sendo assim, passou-se a defender como sinal de responsabilidade política a adesão e o apoio à agenda do Plano Real, que implicava sustentar também reformas estruturais apontadas como vinculadas à estabilidade de longo prazo. Isso, por um lado, reduzia o campo de manobra da oposição, por outro, amortizava substancialmente os custos da adesão ao governo e, consequentemente, da entrada na coalizão governamental (COUTO; ABRÚCIO, 2003). O segundo governo FHC Se, por um lado, a reeleição de Fernando Henrique Cardoso – e ainda no primeiro turno – representou um sucesso político inegável por si só, por outro, seu segundo governo não realizou o projeto alentado pelo presidente e pelas principais lideranças do seu partido: de mudar a bandeira política que legitimava o governo, transitando da agenda estabilizadora para a retomada do crescimento sustentado. O projeto de mudança de rumos contido na reeleição foi abalado pela crise cambial e pela maneira como ela ocorreu. A despeito de uma política de desvalorizações gradativas e controladas acima do índice de inflação, o ritmo não era suficiente para sinalizar aos agentes de mercado que o Real aproximava-se de uma cotação adequada em relação ao dólar. Com isso, as reiteradas crises externas e a consequente drenagem de divisas que acarretavam foram mais fortes do que qualquer escolha que fizessem as autoridades monetárias. Embora o país estivesse em situação de default desde outubro de 1998, o presidente Fernando Henrique acreditava que os recursos obtidos junto ao FMI – a gigantesca quantia de U$40 bilhões – seriam suficientes para conter a especulação financeira contra o Real e, aos poucos, alterar o modelo da âncora cambial. Ledo engano: o Banco Central não conseguiu segurar o valor da moeda seguindo os cânones da política da dupla Gustavo Franco/Pedro Malan, o que levou à queda do presidente do BC e, depois de alguma relutância, a uma mudança substancial de política econômica, com a adoção do câmbio flutuante. Aqui, o mercado venceu a queda de braço com o governo. 32 Esta alteração brusca dos rumos traçados resultou num crescimento econômico próximo de zero, logo no primeiro ano do segundo mandato, que estava programado para ser o “ano da virada”. Isso fez com que rapidamente se desintegrasse a imagem positiva do governo do presidente Fernando Henrique – percebido à época da fácil reeleição como o único capaz de conduzir o país a um porto seguro. Os índices de impopularidadeelevaram-se significativamente e o quadro não foi revertido até o fim do segundo mandato. A Tabela 3 traz os dados de pesquisa realizada pelo Ibope no final de 2000. Tabela 3 Mais do que o resultado econômico imediato, o efeito da crise cambial, somada ao episódio das “fitas do BNDES”, foi inviabilizar a mudança no modelo econômico. A inflação mantinha-se sob certo controle, mas o país não crescia nem gerava empregos, fatos que reduziam o encanto do Plano Real. A gestão de Armínio Fraga no Banco Central foi bem-sucedida no combate às consequências da desvalorização, porém suas medidas supunham uma saída da crise que decerto estava distante do “desenvolvimentismo” presente no ideário de muitos da cúpula tucana. A manutenção dessa política garantia que, no máximo, o segundo governo seria capaz de completar a agenda econômica do primeiro, como no caso da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF). 33 O desempenho inicial de Fraga no comando do Banco Central – com cortes sucessivos nas taxas de juros e boa condução da questão da dívida pública –, a tramitação tranquila e bem-sucedida da Lei de Responsabilidade Fiscal (aprovada em maio de 2000)6 e a volta de um ótimo crescimento econômico de 4,36% em 2000 (o maior de todo o período Fernando Henrique) chegaram a ser apontados como fatores capazes não só de completar o que faltara no primeiro mandato de FHC, como também conseguiriam recuperar a popularidade do presidente e a força do governo. Esse sucesso conjuntural, no entanto, não favorecia a mudança do modelo econômico em prol do desenvolvimentismo, pois as vitórias da ocasião, embora razoavelmente diferentes do receituário de Gustavo Franco, ainda estavam distantes de qualquer alteração substancial no sentido da política econômica adotada por Pedro Malan. Mesmo assim, o êxito econômico poderia permitir a Fernando Henrique que controlasse sua sucessão, talvez até lançando um candidato de perfil mais próximo às origens do PSDB. Esse êxito, contudo, não ocorreu, como mostra a Tabela 4. Tabela 4 6 É importante notar que a tramitação da LRF foi uma das mais rápidas do período no campo da legislação complementar, além de ter obtido um elevado índice de votos favoráveis na Câmara Federal: 385 votos a favor, 86 contra e quatro abstenções, quando eram necessários apenas 257, resultando numa margem de segurança de 128 votos (ASAZU, 2003, p. 80). 34 Três fatores prejudicaram os planos do presidente Fernando Henrique de obter melhor desempenho econômico e controlar o processo sucessório. O primeiro foi a crise energética ocorrida em 2001, que obrigou o Executivo federal a propor medidas de racionamento, as quais reduziram consideravelmente o nível de atividade econômica. Além disso, o chamado “apagão” atingiu uma das facetas mais prezadas do período FHC, qual seja, a da eficiência técnica, o que minou seu prestígio e, consequentemente, a confiança da população na capacidade de o governo resolver os problemas do país. A capacidade administrativa da gestão tucana, ao final, demonstrou-se mais eficaz no plano da agenda negativa, do fiscalismo e da estabilização, do que na construção de um projeto positivo de desenvolvimento. O episódio do “apagão”, na verdade, resultou de dois aspectos que tinham suas raízes no primeiro mandato. Um deles deriva dos erros no modelo de regulação. A privatização e a criação de marcos regulatórios percorreram caminhos distintos nas diversas áreas, tendo um relativo sucesso no âmbito das Telecomunicações e um retumbante fracasso no setor elétrico. Neste, a soma de equívocos foi fatal: a regulação foi instituída depois de várias empresas já terem sido vendidas para o setor privado, a Agência Reguladora nasceu fraca politicamente e sem uma elite técnica que a orientasse, afora o Ministério das Minas e Energia ter sido entregue a membros do PFL baiano incapazes de superar o puro clientelismo. Não por acaso, o problema energético precisou de uma saída à Juscelino (administração paralela), que foi a criação de uma Câmara de Gestão da Crise composta por funcionários escolhidos por sua competência técnica – o próprio nome dessa instância decisória revela o momento negativo do segundo governo (COUTO; ABRÚCIO, 2003). É claro que um problema de tal envergadura não poderia ter passado despercebido pelo núcleo central do governo. Porém, com exceção da questão fiscal, a coordenação das políticas intersetoriais foi bastante débil ao longo do segundo mandato – está aí a segunda razão do “apagão”. E isso se deu pela dificuldade de o presidente Fernando Henrique escolher alguém que articulasse o governo a partir da Casa Civil ou órgão correlato, fato que fora agravado pelos 35 conflitos que o ministro Clóvis Carvalho arranjara com os partidos da base aliada durante o primeiro período governamental e pela morte do ministro Sérgio Motta, que tinha uma visão integradora das ações governamentais. O segundo fator que prejudicou o desempenho do presidente reeleito foi a incapacidade de reformar o modelo econômico com vistas a reduzir a vulnerabilidade externa e gerar maior crescimento. O predomínio da visão fiscalista, que se expandiu no segundo governo para o Banco Nacional do Desenvolvimento – BNDES – na gestão de Francisco Gros, que transformou esse banco numa mera instituição financeira –, tornou-se um obstáculo para todas as tentativas mais agressivas de política industrial e de auxílio à exportação. Mesmo que no final do período FHC tenha havido certa reversão dos déficits externos, isto se deu mais pela desvalorização não programada do Real do que pela adoção de uma série de medidas nesse sentido. A vitória do fiscalismo, por outro lado, consolidou e aprofundou as reformas fiscais, tal qual se percebe com a busca dos superávits primários, ausentes do primeiro período de Fernando Henrique. Esse ganho, ressalte-se, foi realizado à revelia do desenvolvimentismo, o que não era inexorável, mas se tornou uma opção em razão da agenda e das preferências dos atores dominantes, bem como do poder e das escolhas institucionais que fizeram. O gráfico 1 mostra o resultado primário dos governos FHC desde janeiro de 1997. Note-se que à exceção de uns poucos meses, o saldo é sempre positivo e bastante significativo, rendendo resultados anualizados bastante satisfatórios desse ponto de vista (COUTO; ABRÚCIO, 2003). 36 Oposição versus Governo No Congresso Nacional, as oposições, que taxavam as políticas governamentais de “neoliberais”, não tiveram forças para se opor, mas seguiram acusando o governo de defender os interesses do capital estrangeiro, de transferir para a iniciativa privada o patrimônio público, de eliminar direitos trabalhistas e de prosseguir com uma política econômica que prejudicava as camadas mais pobres. O governo Fernando Henrique Cardoso rebateu as críticas, demonstrando que foram implementadas uma série de políticas sociais de transferência de renda para as populações mais pobres, através de programas como o bolsa-escola, o vale- gás e o bolsa-alimentação. Avanços significativos foram alcançados nas áreas da educação, saúde (com a distribuição gratuita de medicamentos contra a AIDS e a criação dos remédios genéricos, vendidos a preços baixíssimos) e principalmente na questão agrária (com a implementação de um sólido programa de reforma agrária). Apesar disso, durante toda a gestão Fernando Henrique Cardoso, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) promoveu por todo o país numerosas manifestações e invasões de propriedades agrárias, produtivas e improdutivas. 37 Estabilidade política e governabilidade Apesar das críticas dos partidos de oposição às alianças políticas do governo, foi a forte base parlamentar de apoio a Fernando Henrique Cardoso que contribuiudecisivamente para a estabilidade política, um dos traços importantes da gestão FHC, pois, além de assegurar a governabilidade, consolidou a jovem e frágil democracia brasileira. Reorganização das oposições No primeiro mandato governamental, Fernando Henrique Cardoso conseguiu conter a oposição e aprovar com facilidade projetos políticos e reformas constitucionais. Porém, no segundo mandato, o presidente teve maior dificuldade de governar devido à reorganização das oposições. No Congresso Nacional, o Partido dos Trabalhadores (PT) liderava a oposição. O PT articulou os movimentos sociais e sindicais e as esquerdas de modo geral, formando uma ampla frente de oposição parlamentar. O MST continuou a pressionar o governo, invadindo propriedades agrárias e ocupando sedes de órgãos governamentais. Em muitas ocasiões, as invasões desencadearam conflitos armados no campo. As centrais sindicais, também influenciadas pelo PT, promoveram diversas marchas e manifestações em defesa de reajustes e aumentos salariais. Vitória da oposição Ao se aproximar o pleito que escolheria o sucessor de Fernando Henrique Cardoso, o governo apoiou a candidatura do ministro da saúde, José Serra, do PSDB, em aliança com o PMDB. Os outros candidatos que disputaram o pleito foram: Luiz Inácio Lula da Silva (PT / PC do B / PL / PMN / PCB), Anthony Garotinho (PSB / PGT / PTC), Ciro Gomes (PPS / PDT / PTB), José Maria de Almeida (PSTU) e Rui Costa (PCO). Nenhum obteve índice de votação suficiente para se eleger no primeiro turno. Os dois candidatos mais votados foram Luiz Inácio Lula da Silva e José Serra. No segundo turno das eleições, Lula obteve 61,3 % dos votos; e José Serra, 38,7 %. 38 Eleito o novo presidente, Fernando Henrique Cardoso organizou a transição de modo a facilitar o acesso antecipado da nova administração às informações relevantes ao exercício do governo, fato até então inédito na história do país. FHC e o Neoliberalismo O neoliberalismo chegou lentamente ao Brasil. Sallum Jr. (1994) identifica na crise que assola o final do regime militar brasileiro o surgimento de alternativas amparadas por esse ideário. Representada então pela candidatura de Paulo Maluf, tal alternativa imaginava que a solução da crise brasileira e a estabilização da economia viriam da quebra da intervenção estatal, com o fim dos subsídios e transferências para as empresas estatais e pelo aprofundamento dos mecanismos de mercado. Ela propunha ainda que o Brasil se abrisse à divisão internacional do trabalho, voltando-se a agricultura e a produção industrial cuja tecnologia já fosse assimilada e permitindo a entrada de produtos estrangeiros de tecnologia avançada. Mas Maluf foi derrotado e Tancredo Neves elegeu-se presidente pelo Colégio Eleitoral – depois da derrota do movimento pelas diretas, mas morreu sem tomar posse. Em seu lugar, assumiu o vice-presidente eleito José Sarney que, com pouca legitimidade, manteve a composição do ministério desenhada por Tancredo. Esse ministério procurava conciliar duas perspectivas distintas de política econômica: de um lado, no Planejamento, Tancredo tinha colocado João Sayad, peemedebista identificado com setores heterodoxos, com vínculos estruturalistas e próximo à socialdemocracia. A ele caberiam os projetos de longo prazo. Para o curto prazo, no entanto, o conservador Tancredo tinha reservado o ministério da Fazenda para seu sobrinho Francisco Dornelles, economista ortodoxo, identificado com o receituário recessivo do Fundo Monetário Internacional e com o neoliberalismo (NEGRÃO, 2008). Sarney mantém essa dualidade e Planejamento e Fazenda seguem não falando a mesma língua até que Dornelles é demitido e em seu lugar assume Dílson Funaro, que viria a ser o executor do Plano Cruzado (MARTINS, 1995). Com isso, os neoliberais perdem espaço no governo. Após o insucesso do Cruzado, sucedem-se outros planos econômicos igualmente incapazes de deter a inflação, e o governo Sarney chega ao final se arrastando. 39 Se no Brasil o neoliberalismo vinha aos poucos ganhando espaço como alternativa política à crise, é no período Collor que efetivamente ele se torna a ideologia dominante entre os setores do capital, dos partidos políticos conservadores e do centro do espectro político, da grande imprensa brasileira e mesmo de setores significativos do pequeno e médio empresariado e, especialmente, daquela parcela do movimento organizado dos trabalhadores identificada com a Força Sindical. Teve início o processo de privatização das estatais, o Brasil abriu sua economia para o capital estrangeiro e o mercado passou a ser o grande agente organizador da Nação, enquanto os trabalhadores, como classe, começaram a sofrer um bombardeio incessante em seus direitos (NEGRÃO, 2008). E se Collor, por conta da corrupção desabrida sofreu o impeachment e não deu certo como condutor do projeto neoliberal, nada permite supor que o neoliberalismo no Brasil afundou junto com ele ou sofreu abalos significativos na sua pretensão de hegemonia. Pelo contrário, o ideário neoliberal se reapresenta na disputa eleitoral sucessória a Itamar Franco –– que como vice-presidente assumiu a Presidência com o impeachment de Collor. Naquele momento, dois projetos se apresentaram ao eleitorado. Um, o de Lula, tinha por meta a ampliação do mercado interno, buscando agregar ao consumo a enorme massa de excluídos do país; a ampliação da democracia do campo da política para os campos social, econômico e cultural e a presença do Estado (democraticamente controlado) nos setores fundamentais e estratégicos. O outro, o de FHC, era o continuador do projeto neoliberal – e, por isso, contou com uma gama impressionante de apoios entre os partidos e setores conservadores da sociedade. Mas o grande eleitor de FHC foi o Plano Real, que conseguiu baixar e manter a inflação em níveis aceitáveis, estabilizando a economia. E se isso, sem dúvida, é muito importante, parece claro que não é suficiente: mesmo que tenha havido uma pequena melhora na renda da população mais pobre, por conta do fim do imposto inflacionário, o desemprego aberto e o emprego na economia informal crescem a olhos vistos. A última pesquisa Dieese/Seade aponta para o índice de 16% de desemprego da PEA da Grande São Paulo, algo próximo a 1,5 milhão de pessoas. 40 Só isso, porém – embora trágico – não é suficiente para caracterizar o governo FHC como neoliberal. Mas há outras atitudes e medidas que permitem enquadrá-Io nessa caracterização, tomando por base o conceito mais operacional desenvolvido por Luis Fernandes (1995). Vejamos: I) Há estudos no Ministério do Trabalho para permitir a precarização legal da contratação de trabalhadores. 2) As reformas propostas por FHC, como as da Previdência, Administrativa e da área econômica intentam abrir espaço para o mercado, diminuindo o papel do Estado. 3) Sofremos de “executivismo”: nunca antes o Executivo legislou tanto, seja por meio das medidas provisórias ou de projetos enviados ao Congresso. Ao mesmo tempo, se procura evitar que a oposição modifique determinadas medidas, através do fim dos chamados destaques de votação em separado. 4) O programa de privatizações continua em marcha, ainda aceitando as moedas podres. 5) A taxa de juros, mantida excessivamente alta, ao lado da abertura ao capital financeiro internacional, é uma forma de atrair para cá o chamado capital volátil, em boa parte especulativo. 6) A falta de medidas protecionistas leva de roldão setores inteiros da economia brasileira, como calçados, têxteis e autopeças. E com eles, vão-se os empregos, enquanto os “consumidores” podem comprar tênis americanos da Nike fabricados na China, na Coréia, na Indonésia, na Tailândia, onde adolescentes e mulheres trabalham 15, 16 horas por dia em troca de um salário diário de US$ 1,80 e o Wal-Mart,recém-instalado no Brasil, vende camisas, pastas, mochilas e – o mais incrível – bolas de futebol fabricadas no Paquistão, onde o salário também beira os 30 dólares mensais. Essas, entre outras, permitem caracterizar o governo FHC como sendo de cunho neoliberal. Somadas, essas medidas mostram a tendência deste governo: retirar os eventuais obstáculos a acumulação ampliada do capital, mesmo que isso, a longo – ou mesmo médio – prazo signifique mais concentração de riqueza e exclusão (NEGRÃO, 2008). 41 UNIDADE 6 - LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA (2003-2010) Depois de três tentativas fracassadas para alcançar a presidência da República, Luiz Inácio Lula da Silva, candidato do PT, finalmente conseguiu vencer as eleições em 2002. Para isso, precisou mudar sua estratégia anterior de alianças, formando a chapa com José de Alencar, do Partido Liberal (PL), além de manter aliados tradicionais, como PC do B, PCB e PMN (Partido da Mobilização Nacional). Sua vitória deu-se no segundo turno, tendo alcançado 61,3 % dos votos válidos. Seu adversário foi José Serra, do PSDB. Pela primeira vez na história republicana brasileira, um líder político de origem autenticamente popular (ex-torneiro mecânico, ex-Iíder sindical e um dos fundadores de um partido que abrigava uma ideologia de esquerda, o PT) assumia a presidência da República. Em 2006, ao final de seu mandato, Lula disputou nova eleição e foi re-eleito para a presidência, no segundo turno, com pouco mais de 60% dos votos válidos. Seu adversário foi Geraldo Alckmin, também do PSDB. Agora em 2010, apoiou Dilma Rousseff, sua ministra da Casa Civil, a qual ganhou em 2º turno do então candidato José Serra. Quem é Lula? Pernambucano da cidade de Caetés, nasceu em 27 de outubro de 1945. Um político e ex-sindicalista brasileiro. Ele é o trigésimo quinto presidente da República Federativa do Brasil, cargo que exerceu desde o dia 1º de janeiro de 2003 ao dia 31 de dezembro de 2010. Lula, forma hipocorística de “Luís”, é sua alcunha desde os tempos em que era representante sindical. Posteriormente, este apelido foi oficialmente adicionado ao seu nome legal para poder representá-lo eleitoralmente. É cofundador e presidente de honra do Partido dos Trabalhadores (PT). Em 1990, foi um dos fundadores e organizadores, junto com Fidel Castro, do Foro de São Paulo, que congrega parte dos movimentos políticos de esquerda da América Latina e do Caribe. 42 Lula é o brasileiro que mais vezes se candidatou à presidência da República do Brasil, sendo candidato por cinco vezes. Em 2006 ultrapassou Rui Barbosa, que se candidatou quatro vezes. Com carreira política feita no estado de São Paulo, Lula é o único presidente do Brasil nascido em Pernambuco. Segundo a revista norte-americana Newsweek, Lula se encontrava no fim de 2008 no 18° lugar das pessoas mais poderosas do mundo, ocupando a liderança do ranking na América Latina. Em lista divulgada pela revista Forbes, em novembro de 2009, Lula foi considerado a 33ª pessoa mais poderosa do mundo. Em ambas as listas, primeira colocação mundial é ocupada pelo presidente dos Estados Unidos, Barack Obama. Em 2009, foi considerado o homem do ano pelos jornais Le Monde e El País. De acordo com o jornal britânico Financial Times foi uma das 50 pessoas que moldaram a década pelo seu “charme e habilidade política” e também por ser “o líder mais popular da história do país”. Para o Instituto Datafolha, Lula era a personalidade mais confiável dentre uma lista de 27, em pesquisa publicada no primeiro dia do ano de 2010. No Fórum Econômico Mundial de 2010 realizado em Davos na Suíça, recebeu a premiação inédita de Estadista Global, pela sua atuação no meio ambiente, erradicação da pobreza, redistribuição de renda e ações em outros setores com a finalidade de melhorar a condição mundial. Lula não foi pessoalmente receber o prêmio, pois estava com pressão alta. No seu lugar foi escalado o chanceler Celso Amorim que leu o discurso de Lula, quebrando o protocolo de Davos, que diz que uma terceira pessoa não pode ler o discurso de outra. Primeiro mandato (2003-2006) Lula assumiu a presidência em 1º de janeiro de 2003. Seu programa de governo propunha-se a resgatar as dívidas sociais fundamentais que o país tem com a maioria do povo brasileiro. Ele também prometia preservar os fundamentos da ordem econômica, respeitar os contratos e reconhecer seus compromissos com os credores da dívida externa do país. 43 Continuidade da política econômica, o compromisso de campanha foi cumprido durante o primeiro mandato. O governo Lula procurou desde o início, tranquilizar os mercados, ganhar a confiança dos grandes empresários (banqueiros, industriais, comerciantes, entre outros), preservar a estabilidade da moeda e conter a pressão inflacionária (COTRIM, 2008). Para isso, a equipe econômica do governo adotou uma conduta em grande parte assemelhada à da gestão anterior, o que gerou muitas críticas daqueles que esperavam mais ousadia. Mas essa estratégia deu alguns bons resultados, como: • a inflação foi mantida sob controle; • as exportações brasileiras cresceram; • os índices de desemprego tiveram ligeira queda. Mesmo assim, o desempenho geral da economia foi considerado tímido. Entre 2003 e 2006, o PIB (a soma de todos os bens e serviços produzidos no país) cresceu num ritmo médio de 3,40% ao ano, taxa superior a do governo anterior. Observe os dados da tabela a seguir: Denúncias de corrupção O governo Lula também sofreu denúncias de corrupção em seu primeiro mandato. Algumas delas foram investigadas pelos parlamentares, como a CPI dos Bingos e a CPI do Correio. A denúncia mais grave, porém, foi outra. Desde 2003, o governo procurou reunir, no Congresso Nacional, o apoio de um número de parlamentares que garantisse a aprovação das propostas legislativas de interesse do Executivo. Para isso, promoveu alianças e acordos com membros de diversos partidos, como PL, PP, PTB, PMDB, entre outros. 44 A partir de 2005, o mecanismo de sustentação dessas alianças causou suspeita: denúncias apontaram para a existência de um esquema, coordenado por líderes do PT, pelo qual um grupo de parlamentares da base governista recebia pagamentos em dinheiro em troca de seu apoio. Era o escândalo do chamado “mensalão” (em referência a um suposto pagamento mensal aos parlamentares). O presidente Lula afirmou desconhecer a existência do esquema denunciado e conclamou todos os órgãos policiais e judiciais competentes a apurar as denúncias. Investigadas por mais de uma CPI e pele Polícia Federal, essas denúncias e seus desdobramentos receberam destaque na grande imprensa, dando repercussão às acusações feitas a membros do PT. Após 120 dias de investigação, a CPI do Mensalão não conseguiu provas conclusivas a respeito das principais acusações ao governo. No entanto, vários deputados denunciados renunciaram, e três foram cassados. E, por iniciativa da Procuradoria Geral da República, muitas dessas denúncias foram encaminhadas ao Supremo Tribunal Federal, que decidiu abrir processo contra vários dos indiciados (COTRIM, 2008). Segundo mandato (2006-2010) Apesar do bombardeio de denúncias promovido pela oposição e pela grande imprensa, Lula conseguiu reeleger-se em 2006. Alguns analistas entenderam essa vitória como uma demonstração de que a maior parte do eleitorado ainda considerava Lula um político comprometido com as causas populares. Outros atribuíram a reeleição ao Programa Bolsa-Família, um programa de distribuição de renda que beneficiou cerca de 11 milhões de famílias pobres do país durante o primeiro mandato. Posteriormente, o programa foi ampliado, alcançando cerca de 25% da população do país, em meados de 2007. Desigualdade: o grande desafio Um dos principais desafios do governo Lula consiste em promover
Compartilhar