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Módulo 24 - HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA

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MATERIAL DIDÁTICO 
 
 
HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA 
 
 
 
 
 
 
 
CREDENCIADA JUNTO AO MEC PELA 
PORTARIA Nº 2.861 DO DIA 13/09/2004 
 
0800 283 8380 
 
www.portalprominas .com.br 
 
 
 
2
 
SUMÁRIO 
 
UNIDADE 1 - INTRODUÇÃO ............................ .......................................................... 3 
UNIDADE 2 - JOSÉ SARNEY (1985-1990) ............... ................................................. 9 
UNIDADE 3 - COLLOR DE MELLO (1990-1992) ........... .......................................... 12 
UNIDADE 4 - ITAMAR FRANCO (1992-1994) ............. ............................................ 17 
UNIDADE 5 - FERNANDO HENRIQUE CARDOSO (1995-2002) . ........................... 22 
UNIDADE 6 - LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA (2003-2010) . ..................................... 41 
UNIDADE 7 - DILMA ROUSSEFF (2011 - ) .............. ................................................ 46 
UNIDADE 8 - A HISTÓRIA NO CONTEXTO DA PÓS-MODERNIDA DE ................. 49 
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 55 
 
 
 
3
 
UNIDADE 1 - INTRODUÇÃO 
 
Para discorrermos sobre o último período da história da Brasil ao qual 
chamamos de redemocratização1, requer uma breve explicação do ocorrido em fins 
do período militar. 
Na história do Brasil, dois processos ocorridos em períodos distintos 
recebem essa designação de redemocratização: o primeiro, culminado em 1945, 
com a deposição de Getúlio Vargas, dando fim a uma ditadura iniciada com o golpe 
de 1937; no segundo, após o período ditatorial iniciado com o Golpe de 1964, o 
processo de redemocratização teve início no governo do general João Baptista 
Figueiredo, com a anistia aos acusados ou condenados por crimes políticos, 
processo perturbado pela chamada linha dura. 
No período da ditadura, o Brasil teve um grande crescimento econômico e 
sua renda per capita ficou bem maior, essa é uma verdade, mas a distribuição foi 
totalmente desigual, o que é outra verdade. 
Segundo o IBGE, em 1980, aos 5% mais ricos cabiam 37,9% do total da 
renda do país, e aos 50% mais pobres sobravam 12,6%. Portanto, o montante a ser 
partilhado pelos 5% mais ricos era três vezes maior que o montante para o resto da 
população. 
Devido a altas inflações, o governo Figueiredo decretou várias leis que 
deveriam proibir aumentos salariais para compensar a inflação. Mas os tempos já 
eram outros e o Congresso Nacional barrou as medidas. 
A dívida externa alcançou cifras absurdas: quase 100 bilhões de dólares, o 
que levou o país a pagar anualmente, bilhões de dólares referentes a juros. Enfim, 
era um período complicado para a nação brasileira. 
A partir de 1982, o país começou a negociar com o FMI (Fundo Monetário 
Internacional) para ajudar no pagamento da dívida externa. O FMI, como sempre, 
fez exigências que diríamos, foram cruéis: o Brasil deveria reduzir os salários, cortar 
os gastos públicos (menos dinheiro para as escolas e universidades, para os 
 
1 Redemocratização é o processo de restauração da democracia e do estado de direito em países ou regiões que 
passaram por um período de autoritarismo ou ditadura. A redemocratização pode acontecer de maneira gradual, 
pela qual o poder restaura os direitos civis lentamente, ou abrupta, como é, em geral, o caso quando isso 
acontece através de revoluções. 
 
 
4
 
hospitais, para investir na economia), aceitar que a economia parasse de crescer. 
Tudo isso em nome da estabilização econômica. Para a oposição, recorrer ao FMI 
era colocar a economia do Brasil nas mãos do capitalismo internacional. 
Na verdade, o crescimento dos tempos do regime militar, conhecido como 
“milagre econômico” era ilusório: um país não pode crescer por muito tempo 
mantendo tanta injustiça social. Então, em 1981, aconteceu, pela primeira vez desde 
os anos da crise de 1929, o crescimento negativo da economia do país. O Brasil 
tinha ficado mais pobre ainda. Era a terrível estagflação, mistura de estagnação 
econômica (tudo parando) com inflação. 
Enfim, no governo de Figueiredo a abertura política foi lenta e gradual. 
Realmente, Figueiredo era tolerante com as manifestações democráticas, não foi à 
toa que os generais mais extremistas não concordavam. Mas não se deve esquecer 
o lado repressor que permeou todos os governos militares: reprimir greves; prender 
militantes do PCB e do PC do B; expulsar padres estrangeiros que colaboravam com 
a luta camponesa pela reforma agrária; imposição de novidades nas regras 
eleitorais, para favorecer o governo. 
Pelo lado da extrema direita vimos um atentado terrorista à secretaria da 
Ordem dos Advogados do Brasil, em 1980. No ano seguinte, durante um show de 
Música Popular Brasileira (MPB) comemorando o dia 1º de maio, várias bombas 
foram instaladas no Riocentro (Rio de Janeiro). Se tivessem explodido, poderíamos 
imaginar quantos morreriam. Só uma delas estourou no colo de um sargento do 
Exército que estava num carro estacionado por lá. O inquérito policial-militar concluiu 
que ambos foram “vítimas”. 
A anistia aos exilados políticos e, por tabela, aos torturadores, veio em 1979, 
o que poderíamos chamar com certo sarcasmo de “ampla, geral e irrestrita”. De 
qualquer modo, ela permitiu o retorno dos exilados e a libertação dos presos 
políticos. Os reencontros no aeroporto e na saída da cadeia emocionaram uma 
geração que havia sacrificado sua juventude por seu patriotismo. Conforme Cardoso 
(1998, p. 32), 
A lei não é ampla, nem geral, nem irrestrita. Árdua batalha perdida pela 
oposição que tentou ampliá-la (…) Por antecipação, temendo alguma 
revanche, são anistiados também os autores de crimes ‘conexos’ aos 
políticos: os torturadores e os assassinos. 
 
 
 
5
 
Nova política partidária 
O governo falava em abertura, mas criava artifícios para manter o controle 
da situação. A ditadura militar tinha a participação ativa de muitos civis, incluindo 
empresários, administradores e os políticos da Arena. Para dividir as oposições, 
Figueiredo baixou a Nova Lei Orgânica dos Partidos (1979) que acabava com a 
divisão Arena e MDB. Foi assim que nasceram cinco novos partidos políticos: 
O PDS (Partido Democrático Social) era o novo nome da Arena. 
Representava os políticos que apoiaram a ditadura. Portanto, tinha bem pouco de 
democrático e quase nada de social. O líder era o senador José Sarney, do 
Maranhão. 
O PMDB (Partido do Movimento Democrático Brasileiro) herdava o antigo 
MDB. Continuou sendo o grande partido da oposição, reunindo diversas correntes 
políticas, incluindo conservadores moderados, liberais e até os comunistas (os PCs 
ainda estavam proibidos de funcionar). O líder era o deputado Ulisses Guimarães, 
figura importante na luta contra o regime militar. 
O PDT (Partido Democrático Trabalhista) era chefiado por Leonel Brizola, 
que tinha voltado do exílio. Naquela época, Brizola gozava de enorme prestígio 
como o homem contrário a tudo de ruim do regime militar. Ele quis refundar o antigo 
PTB, mas foi impossibilitado. Propunha ser herdeiro do trabalhismo de Vargas e 
Jango, misturado à socialdemocracia, que ele tinha aprendido a admirar na França, 
na Alemanha e na Suécia (uma espécie de capitalismo reformado com medidas 
inspiradas no socialismo). 
O PTB (Partido Trabalhista Brasileiro) não tinha nada a ver com o antigo 
PTB. Pelo contrário, chegou a abrigar antigos udenistas e até algumas figuras da 
antiga Arena. Ficou nas mãos da deputada Ivete Vargas e foi visto como uma 
criação ardilosa do regime, uma espécie de filial camuflada do PDS. 
O PT (Partido dos Trabalhadores) aparecia como o grande partido de 
esquerda do Brasil. Na sua origem, o movimento operário organizado no ABC 
paulista, liderado por Lula, e também por dirigentes sindicais de outras categorias 
operárias e até de setores como o bancário, o de professores e de funcionáriospúblicos. O PT também recebeu apoio de setores da Igreja Católica (ligados à 
 
 
6
 
Teologia da Libertação), estudantes universitários e intelectuais, reunindo desde 
marxistas a socialdemocratas. 
Ainda houve um partido de existência efêmera, o PP (Partido Popular), que 
tinha pouco de popular, já que sua liderança estava nas mãos de grandes 
banqueiros e políticos tradicionais como Tancredo Neves. Mas, como a lei eleitoral 
de 1982 obrigava a votação de todos os candidatos (de vereador a governador) do 
mesmo partido, o PP acabou se fundindo ao PMDB. 
Em 1982, com as eleições diretas para governador restabelecidas, a 
oposição obteve vitórias espetaculares: Franco Monturo (PMDB-SP), Leonel Brizola 
(PDT-RJ) e Tancredo Neves (PMDB-MG), embora tenha perdido no Rio Grande do 
Sul. 
 
As “Diretas-Já!” 
O acontecimento final do governo do general Figueiredo foi a campanha 
pelas Diretas Já, em 1984. Um evento de tal proporção na qual praticamente o país 
inteiro tomou parte, lutando pelo direito de votar para presidente. Nos últimos 
comícios, no Rio de Janeiro e em São Paulo, reuniram-se milhões de pessoas. 
Foram as maiores manifestações de massa da história do Brasil (MANSANO, 2009). 
No dia em que a Emenda Dante de Oliveira, restabelecendo as diretas, foi 
votada pela Câmara dos Deputados, Brasília ficou em estado de emergência. O pior 
aconteceu: apesar de os “sim” ganharem de 298 a 65, inclusive com alguns votos do 
PDS, faltaram 22 votos para a vitória. 
Na verdade, uma batalha tinha sido perdida, mas não a guerra. Ainda dava 
para colocar o povo de novo na rua para protestar e exigir uma nova votação. Mas a 
cúpula do PMDB já estava armando um acordo com políticos descontentes do PDS. 
Praticamente só o PT, ainda pequeno, protestou contra a armação. Pelas regras 
antigas que foram mantidas, o presidente seria eleito indiretamente pelo Colégio 
Eleitoral. 
Thomas Skidmore (1988, p. 472) ressalta sobre os resultados desse 
movimento: 
 
 
 
7
 
O presidente, o Planalto, a liderança do PDS e os militares foram todos 
apanhados com a guarda baixa. Não podiam interromper nem ignorar a 
robusta campanha que empolgava o país. (…) Era o ressurgimento do 
espírito cívico com uma dimensão sem precedentes, acrescendo que 
nenhum candidato estava pedindo voto para si mesmo. Ao contrário, o 
objetivo era restraurar o direito de voto. Era uma dramática mensagem da 
sociedade civil que firmemente reconquistava a sua voz. 
 
O Colégio Eleitoral, formado pelo Congresso e por deputados estaduais 
(seis por cada Assembleia Estadual, do partido majoritário no respectivo estado), era 
uma armação que sempre dava vitória ao governo. Acontece que o candidato oficial 
do PDS, Paulo Maluf, devido às suas ligações com o regime militar criava 
descontentamento na população. Se ele fosse presidente seria uma decepção muito 
grande para o Brasil. 
Muitos políticos do PDS perceberam a situação e liderados pelo senador 
José Sarney, formaram a Frente Liberal que, no Colégio Eleitoral, elegeu Tancredo 
Neves presidente do Brasil (o vice era Sarney). Pouco depois, esse pessoal, que 
saiu do PDS, mas que mantinha as velhas ideias conservadoras, fundou o PFL 
(Partido da Frente Liberal). 
Tancredo Neves fez carreira no PSD junto das oligarquias mineiras. Foi 
ministro da Justiça de Getúlio e esteve no MDB. Moderado, nunca tivera atritos 
graves com o regime militar. Um político hábil, mas que nunca se ligou a nenhuma 
luta popular, seria o mais indicado, entretanto, seu falecimento levou José Sarney, 
vice de Tancredo a colocar o fim ao regime militar (SKIDMORE, 1988; REZENDE, 
1996). 
 
A “Nova” República 
“O Brasil está mudando”, esta frase foi muito ouvida na chamada “Nova 
República”. De certo modo, expressava o que muitos brasileiros gostariam que 
acontecesse. 
Tancredo Neves, José Sarney, Fernando Collor, Itamar Franco, Fernando 
Henrique Cardoso e Lula. Um novo Brasil com velhas coisas. Inflação, miséria, 
violência, corrupção, desigualdade social, práticas de favor, políticos venais, sem 
desmerecer os méritos de cada um, entre outros. 
 
 
8
 
Aos mais conservadores, o modo como foi exposto, o olhar dessa introdução 
parece uma ferrenha crítica ao regime militar e mesmo aos novos governantes da 
“Nova República”, mas deixamos bem claro que a história contada, principalmente 
nos livros didáticos geralmente é “bonita”, maquiada e pouco crítica. Contam os 
fatos e não as entrelinhas. 
Os desdobramentos deste último período que antecede a redemocratização 
do Brasil têm de ser analisados com clareza para podermos entender o rumo da 
política brasileira nos dias de hoje. 
Acreditamos que, mais que os fatos em si, o que se passa pelas entrelinhas 
nos leva a refletir e a analisar o presente buscando perspectivas melhores. 
Salientamos que este trabalho é uma compilação de estudos de vários 
autores e material do que entendemos ser o mais importante em termos de Brasil 
pós-período da Ditadura. Dúvidas podem surgir e pedimos desculpas por eventuais 
lacunas, mas tanto por isso, ao final da apostila estão diversas referências utilizadas 
e consultadas através das quais poderão aprofundar algum conhecimento que 
chame a atenção ou tenha despertado dúvida. 
 
 
9
 
UNIDADE 2 - JOSÉ SARNEY (1985-1990) 
 
Após a lenta transição do Regime Militar para o Democrático, contrariando o 
desejo do povo, que queria eleições diretas para a presidência da república, foi 
eleito indiretamente Tancredo Neves. 
Mesmo antes de assumir o cargo de Presidente, Tancredo teve de ser 
internado às pressas e acabou morrendo em 21 de abriu de 1985. Em seu lugar 
assumiu o maranhense José Sarney que começou governando de acordo com os 
intentos de Tancredo Neves. 
Como sempre o país sofria com a alta inflação, que beirava a casa dos 
230%, e também havia o problema da dívida externa do país que ultrapassava 100 
bilhões de dólares. Foi então criado, com a ajuda do então ministro da fazenda 
Dílson Funaro, o “Plano Cruzado”, para resolver os problemas do Brasil. 
Os principais pontos deste plano eram: 
• Adoção do cruzado no lugar do cruzeiro; 
• Fim da correção monetária; 
• Congelamento e tabelamento dos preços; 
• Reajuste salarial quando a inflação passasse dos 20%. 
 
No começo o plano foi bem aceito pelo povo e até parecia ser eficiente, 
porém após alguns meses, o congelamento de preços perdeu sua eficácia e o 
governo não conseguia controlar seus gastos. Assim o Plano Cruzado ruiu. 
Até o final do mandato de Sarney – junto com sua equipe – não foi possível 
acabar com a grave crise econômica vivida pelo país desde sua chegada ao poder, 
envolvendo três grandes problemas: 
1. Inflação elevada; 
2. Dívida externa; 
3. Dívida Interna. 
 
 
10
 
Em janeiro de 1987, o governo chegou a decretar uma moratória2 – o país 
devia então 107 bilhões de dólares aos credores internacionais (COTRIM, 2008). 
Dentre tantos problemas, o maior feito do governo Sarney foi a Constituição 
de 1988, a qual começou a ser criada dois anos antes, por uma Assembleia 
Constituinte. Em 1988, Ulysses Guimarães, presidente do Congresso, a declarou 
promulgada. 
Suas principais características foram: 
• Estabelecimento de um Estado de direito e democrático. 
• Voto facultativo para analfabetos e menores acima dos 16 anos. 
• Direito a greve. 
• Direitos trabalhistas aos funcionários domésticos. 
• Criação da licença paternidade. 
• Definição da jornada semanal de trabalho em 44 horas. 
• Incriminação do racismo e terrorismo. 
 
A constituição Federal de 1988 confere amplos direitos aos cidadãos. E 
somente quando os direitos são exercidos é que existe, efetivamente, cidadania. 
Isso quer dizer que a cidadania não deve ser vista como doação do Estado à 
Sociedade. Cidadania é uma realidade em construção, que resulta de um processo 
constante de lutas e conquistas dos sujeitos e grupos sociais. 
Vejamos, então, alguns pontosda atual Constituição federal que se referem 
a esses direitos fundamentais do cidadão: 
• Igualdade jurídica – todos sã iguais perante a lei, sem distinção de qualquer 
natureza. Aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no país está garantida 
a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à 
propriedade. Homens e mulheres são iguais em direitos e deveres. 
 
2 Dispositivo legal por meio do qual as autoridades de um Estado declaram a suspensão do 
pagamento dos serviços da sua dívida externa. 
 
 
11
 
• Subordinação de todos à lei – ninguém será obrigado a fazer ou deixar de 
fazer alguma coisa senão em virtude da lei. Significa que a liberdade de cada 
pessoa só tem como limite os mandamentos contidos nas normas jurídicas, e 
não o arbítrio de outra pessoa, por mais influente que seja. 
• Liberdade de pensamento, de crença religiosa, de ex pressão intelectual, 
de locomoção, de associação – é livre a manifestação do pensamento 
(sendo assegurado o direito de resposta); é livre o exercício dos cultos 
religiosos; é livre a expressão intelectual (artística, científica e de 
comunicação), independentemente de censura ou licença; é livre a 
locomoção pelo território nacional em tempo de paz (direito de ir e vir); é livre 
o direito de reunião e de associação para fins lícitos. É lícito o ato que não 
contraria o direito. 
• Relação dos direitos sociais – são direitos sociais os direitos à educação, à 
saúde, ao trabalho, ao lazer, à segurança, à previdência social, à proteção à 
maternidade e à infância, à assistência aos desamparados (COTRIM, 1999). 
 
 
12
 
UNIDADE 3 - COLLOR DE MELLO (1990-1992) 
 
Fernando Collor de Mello nasceu em 1949, no Rio de Janeiro. Proveniente 
de uma tradicional família de políticos, passou a adolescência em Brasília e se 
graduou em Economia pela Universidade de Brasília. No ano de 1973, ele foi para 
Alagoas e assumiu o jornal Gazeta de Alagoas, pertencente à sua família. 
Em 1979, foi nomeado prefeito de Alagoas pelo Governo Militar. Passados 
três anos, Collor foi eleito deputado federal pelo PDS (Partido Democrático Social). 
No ano de 1986, concorreu e venceu as eleições para governador de Alagoas. Em 
seu mandato ganhou notoriedade por combater os “marajás”, funcionários públicos 
acusados de receberem salários astronômicos. 
Após quase 30 anos sem eleições diretas para presidente da República, os 
eleitores brasileiros voltaram a exercer esse direito nos dias 15 de novembro e 17 de 
dezembro de 1989 (primeiro e segundo turnos). Ao final de uma agitada campanha 
eleitoral, o candidato vitorioso foi o ex-governador de Alagoas, Fernando Collor de 
Mello, tendo como vice Itamar Franco. Eles concorreram por uma pequena 
agremiação política, o Partido da Renovação Nacional (PRN), onde Collor criou uma 
chapa para concorrer ao cargo de presidente. Contrariando os prognósticos daquela 
disputa eleitoral, Fernando Collor venceu as eleições e se sagrou como o primeiro 
Presidente da República eleito pelo voto direto após o fim da ditadura militar. 
No segundo turno, Collor recebeu o apoio do PFL, PDS e PTB, além do 
apoio de diversas legendas menores. 
Derrotou por pequena diferença de votos o ex-líder sindicalista Luiz Inácio 
Lula da Silva, do Partido dos Trabalhadores (PT), que concorria pela primeira vez à 
presidência da República e recebera apoio de lideranças do PMDB, PSDB e PDT. 
Durante a campanha eleitoral, Collor apresentou uma imagem de político 
renovador e um discurso centrado na moralização do serviço público e no combate 
aos marajás. Outra proposta de seu programa de governo era modernizar a 
administração do Estado e a economia do país conforme a cartilha neoliberal, isto é, 
privatizar (vender para a iniciativa privada) empresas estatais, combater os 
monopólios, abrir o país à concorrência internacional e desburocratizar as 
regulamentações econômicas, entre outras propostas (COTRIM, 2008). 
 
 
13
 
No ano anterior ao início de seu governo, a inflação oficial medida pelo 
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) alcançou a inacreditável cifra de 
1.764% e em razão desse flagelo, o presidente Collor elegeu como sua prioridade a 
luta contra a espiral inflacionária através do chamado Plano Brasil Novo, 
popularmente denominado de Plano Collor. 
Ousado em sua concepção, o referido plano era a quarta tentativa 
empreendida pelo governo federal visando o combate à hiperinflação, três das quais 
empreendidas ao longo do governo Sarney. A situação econômica do país era de tal 
modo complicada, que a discussão não girava em torno da adoção de medidas na 
seara econômica e sim quando (e como) tais medidas seriam implementadas e nisso 
veio a primeira surpresa: na véspera de sua posse, Fernando Collor fez uma 
solicitação ao governo Sarney para que fosse decretado feriado bancário, o que só 
aumentou as especulações a respeito das medidas que seriam anunciadas. 
Empossado numa quinta-feira, o governo Collor anunciou seu plano 
econômico no dia seguinte à posse: anunciou o retorno do cruzeiro como unidade 
monetária em substituição ao cruzado novo, vigente desde 15 de janeiro de 1989, 
quando houve o último choque econômico patrocinado por seu antecessor. 
O cruzeiro voltaria a circular em 19 de março de 1990 em sua terceira, e 
última, incursão como moeda corrente nacional, visto que seria substituída pelo 
cruzeiro real em 1993. Além disso, as medidas de Collor para a economia incluíram 
ainda ações de impacto como: o confisco dos depósitos bancários superiores a Cr$ 
50.000,00 (cinquenta mil cruzeiros), por um prazo de dezoito meses visando reduzir 
a quantidade de moeda em circulação, alteração no cálculo da correção monetária e 
também na sistemática das aplicações financeiras, redução da máquina 
administrativa com a extinção ou fusão de ministérios e órgãos públicos, demissão 
de funcionários públicos e o congelamento de preços e salários (embora tenha sido 
em seu governo que os aposentados rurais tenham conquistado o direito a um 
salário mínimo como benefício básico ao invés do meio salário até então vigente). 
Mesmo sendo o confisco bancário um flagrante desrespeito ao direito constitucional 
de propriedade, o plano econômico conduzido pela Ministra da Economia Zélia 
Cardoso de Mello foi aprovado pelo Congresso Nacional em questão de poucos 
dias. 
 
 
14
 
Bem avaliado em seus dois primeiros meses, o Plano Collor (que seria 
complementado por uma série de outras medidas em janeiro de 1991) acabou por 
aprofundar a recessão econômica, corroborada pela extinção, em 1990, de mais de 
920 mil postos de trabalho e uma inflação na casa dos 1200% ao ano. 
O descontentamento da elite político-empresarial do país com o arrocho viria 
a ser aplainado por medidas inspiradas no modelo econômico neoliberal adotado 
pelo governo, tais como: 
• A abertura da economia brasileira ao mercado externo (o que facilitou as 
importações e o ingresso do capital estrangeiro no país); 
• O início do Programa Nacional de Desestatização (cujo marco inicial foi a 
venda de empresas siderúrgicas); e, 
• A modernização de nosso parque industrial. 
 
 Todavia, como faltou a devida regulamentação, tais medidas logo perderiam 
o impacto ante o recrudescimento da crise econômica. Entretanto, a 
desregulamentação econômica iniciada em seu governo serviu como paradigma 
para muitas das medidas adotadas nos anos seguintes, em especial na gestão de 
Fernando Henrique Cardoso entre o final do século XX e o início do século XXI. 
Segundo um artigo do acadêmico Carlos Eduardo Carvalho (2006), 
Professor do Departamento de Economia da Pontifícia Universidade Católica de São 
Paulo e coordenador do Programa de Governo da candidatura do PT à Presidência 
da República em 1989, a medida política executada pelo Governo Collor, que ficou 
conhecida como confisco,não fazia parte, originalmente, do Plano Collor e foi 
gestada quase às vésperas de sua implementação. 
O confisco já era um tema em debate entre os candidatos à eleição 
presidencial: A gênese do Plano Collor, ou seja, como e quando foi formatado o 
programa propriamente dito, desenvolveu-se na assessoria de Collor a partir do final 
de dezembro de 1989, depois da vitória no segundo turno. O desenho final foi 
provavelmente muito influenciado por um documento [de Luiz G. Belluzzo e Júlio S. 
Almeida] discutido na assessoria do candidato do PMDB, Ulysses Guimarães, e 
depois na assessoria do candidato do PT, Luís Inácio Lula da Silva, entre o primeiro 
turno e o segundo. 
 
 
15
 
Apesar das diferenças nas estratégias econômicas gerais, as candidaturas 
que se enfrentavam em meio à forte aceleração da alta dos preços, submetidas aos 
riscos de hiperinflação aberta no segundo semestre de 1989, não tinham políticas de 
estabilização próprias. A proposta de bloqueio teve origem no debate acadêmico e 
se impôs às principais candidaturas presidenciais. Quando ficou claro o 
esvaziamento da campanha de Ulysses, a proposta foi levada para a candidatura de 
Luís Inácio Lula da Silva, do PT, obteve grande apoio por parte de sua assessoria 
econômica e chegou à equipe de Zélia depois do segundo turno, realizado em 17 de 
dezembro. 
 
Denúncias de corrupção 
Depois de dois anos de mandato de Fernando Collor, começaram a surgir na 
imprensa do país inúmeras denúncias de corrupção envolvendo a cúpula 
governamental e a própria família Collor. 
 
CPI do PC 
A gravidade das denúncias, aliada à grande repercussão alcançada na 
mídia, levou a Câmara dos Deputados a instituir uma comissão parlamentar de 
inquérito (CPI), em maio de 1992, destinada a apurar as eventuais irregularidades. 
Aos poucos, foi desmontada e exposta ao público a rede de corrupção, 
sonegação fiscal e contas “fantasmas” do chamado “esquema PC”: uma série de 
negócios obscuros dirigidos por Paulo César Farias (o PC), amigo e ex-tesoureiro da 
campanha presidencial de Collor. 
Ao final dos trabalhos, a CPI apresentou um relatório que incriminava o 
presidente Collor. Estava aberto o caminho legal para o impeachment, que foi 
aprovado pela Câmara Federal em 29 de setembro de 1992. Assim, Fernando Collor 
foi impedido de exercer a função de presidente da República para ser julgado pelo 
Senado Federal (COTRIM, 2008). 
No dia 2 de outubro de 1992, o vice-presidente Itamar Franco assumiu a 
presidência da República, governando interinamente até 29 de dezembro, quando, 
durante julgamento no Senado Federal, Collor entregou sua carta-renúncia. Mesmo 
 
 
16
 
após a apresentação da renúncia, o Senado prosseguiu o julgamento de Collor, 
cassando seus direitos políticos por oito anos. 
 
 
17
 
UNIDADE 4 - ITAMAR FRANCO (1992-1994) 
 
Eleito Vice-presidente da República, o mineiro Itamar Franco assumiu a 
presidência interinamente entre outubro e dezembro de 1992, e em caráter definitivo 
em 29 de dezembro de 1992, após o Impeachment de Fernando Collor de Mello. Ele 
cumpre o restante do mandato cuja duração vai até 31 de dezembro 1994. Itamar 
recebe um país traumatizado pelo processo que levou à destituição do Presidente e 
procura administrá-lo com equilíbrio. Ao deixar o governo, seu índice de 
popularidade está entre os mais altos da República. 
 
Governo de coalizão 
Segundo Cotrim (2008), com estilo diferente de seu antecessor, e sob o 
impacto do processo de impeachment e suas repercussões, o novo presidente 
procurou compor um governo com apoio de todos os partidos. 
Itamar Franco recebeu o governo com uma pesada herança de graves 
problemas socioeconômicos: 
• A persistência da inflação; 
• A altíssima concentração de renda; 
• A recessão econômica e o desemprego; 
• O agravamento dos problemas da fome e da indigência, que atingiam milhões 
de brasileiros. 
 
A fim de enfrentar esse desafio, Itamar convidou para compor seu ministério 
figuras das mais variadas tendências ideológicas, vindas de diversos partidos 
políticos. Formou, assim, o que alguns analistas chamaram de governo de coalizão. 
Plebiscito 
Dentre os fatos que marcaram o governo de Itamar Franco, temos o 
plebiscito. 
Em Abril de 1993, cumprindo com o previsto na Constituição, o governo 
realiza um plebiscito para a escolha da forma e do sistema de governo no Brasil. 
 
 
18
 
Quase 30% dos votantes não compareceram ao plebiscito ou anularam o voto. Dos 
que comparecem às urnas, 66% votaram a favor da república, contra 10% 
favoráveis à monarquia. O presidencialismo recebeu cerca de 55% dos votos, ao 
passo que o parlamentarismo obteve 25% dos votos. Em função dos resultados, foi 
mantido o regime republicano e presidencialista. 
 
Plano Real 
No campo econômico, o governo enfrentou sérias dificuldades. A falta de 
resultados na política de combate à inflação agravou o desequilíbrio do governo e 
abalou o prestígio do próprio Presidente da República. Os ministros da Economia 
sucederam-se (três foram substituídos seguidamente), até que o chanceler (titular da 
pasta de Relações Exteriores), Fernando Henrique Cardoso, é nomeado para o 
cargo. No final de 1993, ele anunciou seu plano de estabilização econômica, o Plano 
Real, desenvolvido por uma equipe de economistas (Persio Arida, André Lara 
Resende, Gustavo Franco, Pedro Malan, Edmar Bacha, Clóvis Carvalho, Winston 
Fritsch, entre outros) que o assessoravam, a ser implantado ao longo de 1994. 
O objetivo básico do plano era controlar a hiperinflação brasileira, 
considerada crônica. De acordo com esse plano, desenvolvido em etapas, em 1º de 
julho de 1994 entrou em vigor no país uma nova moeda: o real. Por isso, o plano 
ficou conhecido como Plano Real. 
O governo Itamar Franco sofreu as consequências das investigações da 
Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Congresso Nacional, entre 1993 e 
1994, em função de denúncias de irregularidades na elaboração do Orçamento da 
União. 
A CPI do Orçamento provou o envolvimento de ministros, de parlamentares 
e de altos funcionários num amplo esquema de manipulação do Orçamento. 
Confirmou-se o tráfico de influências, o desvio sistemático de verbas para 
empreiteiras, entidades filantrópicas fantasmas, apadrinhados políticos, entre outros. 
Dos dezoito deputados acusados, apenas seis tiveram seus mandatos cassados, 
perdendo os direitos políticos até 2001. Outros quatro renunciaram e oito foram 
absolvidos (COTRIM, 2008). 
 
 
19
 
A autoridade do Presidente, contudo, não foi abalada pelos resultados das 
investigações. No final de seu mandato, Itamar Franco apoia a candidatura do 
ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso, à Presidência da República. 
Itamar foi o único presidente da República desde Artur Bernardes a eleger 
seu sucessor. Com a vitória de seu candidato, Itamar foi nomeado embaixador 
brasileiro em Portugal, e posteriormente embaixador brasileiro junto a Organização 
dos Estados Americanos (OEA) em Washington, Estados Unidos. 
No entanto, Itamar tornou-se um crítico feroz do governo de Fernando 
Henrique Cardoso, discordando do programa de privatização das empresas estatais. 
Além disso, Itamar pretendia se candidatar à Presidência novamente nas 
eleições de 1998, porém viu seus planos serem desfeitos quando o então presidente 
Fernando Henrique resolveu mudar a Constituição, para se reeleger para um outro 
mandato consecutivo. Mesmo com essa nova mudança nas normas eleitorais, 
Itamar tenta se candidatar a presidência, mas não consegue obter a indicação do 
PMDB, numa ação creditada à enorme pressão exercida pelo então presidente 
Fernando Henrique que não gostaria de ter Itamar como adversário. Esse foi um dos 
motivos apontados para o rompimento de Itamar com Fernando Henrique. 
Sem a indicação para a presidência, Itamar se candidata então ao governo 
de Minas Gerais, fazendo forte oposição ao governodo presidente Fernando 
Henrique, ganhando a eleição contra o então governador Eduardo Azeredo do 
PSDB, apoiado por Fernando Henrique. 
Itamar Franco foi eleito governador de Minas Gerais em 1998 pelo PMDB, 
obtendo ampla vitória sobre o então governador Eduardo Azeredo. 
Governou Minas Gerais de 1999 a 2003, e não conseguiu a indicação do 
PMDB para se candidatar à presidência da república em 2002. Naquela 
oportunidade, a convenção nacional do PMDB optou pela coligação com o PSDB, 
lançando a então deputada Rita Camata (do Espírito Santo) a vice-presidente na 
chapa encabeçada por José Serra (SP). 
Assim que tomou posse, Itamar Franco decretou a moratória do Estado de 
Minas Gerais. Entre outros aspectos, o governador alegava a necessidade de se 
empreender uma auditoria na dívida estadual que, entre outros pontos, era atrelada 
a uma taxa de juros de 7,5% ao ano, enquanto estados como São Paulo negociaram 
 
 
20
 
suas dívidas a uma taxa de 6%. Tentou, com um conjunto de ações na área 
financeira, reverter uma situação herdada do governo anterior, na qual, conforme 
Rocha; Noronha (1998), “as despesas apresentavam crescimento mais acelerado 
que as receitas tributárias e encontravam-se concentradas em funções de baixa 
capacidade distributiva, comprometendo a promoção de um processo de 
desenvolvimento socialmente justo”. 
Esta atitude polêmica levou Itamar a ser acusado pelo Presidente do Banco 
Central Armínio Fraga de agir contra a estabilidade de regras necessária à atração 
de investimentos estrangeiros. 
Em que pese essa ação inicial, foi em seu governo que a dívida mineira foi 
equacionada e começou a ser quitada, conforme esclarece Fabrício Augusto de 
Oliveira. 
Contrário à política de privatizações, retomou judicialmente o controle 
acionário da estatal geradora de energia elétrica de Minas Gerais (CEMIG), 
parcialmente vendida por seu antecessor, o então governador Eduardo Azeredo, 
que somente conseguiu fechar as contas estaduais em seus dois últimos anos de 
governo desfazendo-se de parte do patrimônio público mineiro, que foi privatizado, 
em um processo de reorganização das estatais mineiras que estaria na gênese do 
chamado “esquema Marcos Valério” (REVISTA CARTA CAPITAL, 2010) cuja 
“origem dos recursos” seriam “as empresas públicas de Minas Gerais” (AZENHA, 
2010). 
Itamar também insurgiu-se contra a privatização da empresa energética 
Furnas, mobilizando a Polícia Militar de Minas Gerais para “intervir em caso de 
necessidade” (REVISTA VEJA, 1999) 
A recomposição do setor público em bases burocráticas, passando 
essencialmente pela valorização do servidor público, pelo reaparelhamento das 
principais agências de ação estatal e pelo ajuste fiscal, marcou a gestão Itamar 
Franco, conforme analisam Wladimir Rodrigues Dias e Roberto Sorbilli Filho, 
segundo os quais não houve grandes inovações em seu governo, mas uma 
importante organização da administração pública, desmantelada por seu antecessor 
(DIAS; SORBILLI FILHO, 2010). 
 
 
21
 
Itamar se opôs a atividades típicas da política tradicional, como as 
vinculadas ao clientelismo político. Extinguiu as subvenções sociais distribuídas por 
deputados e não negociou emendas parlamentares, deixando de exercer a habitual 
dominação que o Executivo exerce sobre o Legislativo. Em décadas, foi o 
governador com maior número de projetos rejeitados na Assembleia mineira, 
retaliado pelo rompimento com o pacto clientelista (DIAS, 2010). 
Terminando seu mandato no governo de Minas Gerais, no final de 2002, 
Itamar resolve não se candidatar a reeleição e apoia a candidatura de Aécio Neves 
para o governo do Estado e de Luiz Inácio Lula da Silva para a presidência da 
República, contra o candidato José Serra, apoiado pelo presidente Fernando 
Henrique. 
Em Minas, Itamar faz seu sucessor, e com a vitória de Lula no plano 
nacional, Itamar é nomeado embaixador brasileiro na Itália, cargo que decidiu deixar 
voluntariamente em 2005. 
Embora na memória da maioria permaneça um governador mais atento aos 
problemas nacionais e a uma eventual candidatura à presidência da república, foi 
em seu governo que se reorganizaram as finanças e a administração estadual, 
possibilitando ao governador seguinte, Aécio Neves, eleito com seu apoio, implantar 
o chamado “choque de gestão”. 
Nas eleições de 3 de outubro de 2010, foi eleito senador pelo estado de 
Minas Gerais, derrotando Fernando Pimentel do PT. 
 
 
22
 
UNIDADE 5 - FERNANDO HENRIQUE CARDOSO (1995-
2002) 
 
Formando uma coligação entre o PSDB e o PFL, Fernando Henrique 
Cardoso - também conhecido como FHC - venceu, no primeiro turno, as eleições de 
3 de outubro de 1994, com quase 55% dos votos válidos. Assumiu a presidência da 
República em 1º de janeiro de 1995 para cumprir um mandato que terminaria em 1º 
de janeiro de 1999. 
Em 1997, porém, foi aprovada, pelo Congresso Nacional, uma emenda 
constitucional permitindo a reeleição do presidente da República, de governadores 
de estado e de prefeitos. Novamente apoiado pelo PFL e por seu partido, Fernando 
Henrique concorreu à reeleição e saiu outra vez vitorioso em primeiro turno. Tornou-
se, assim, o primeiro presidente brasileiro a exercer dois mandatos consecutivos. 
O segundo mandato de Fernando Henrique iniciou-se em 1º de janeiro de 
1999 e encerrou-se em 1º de janeiro de 2003. Nas duas eleições, seu principal 
adversário foi Luiz Inácio Lula da Silva, do PT, dando início a um período em que PT 
e PSDB passaram a dominar e a polarizar progressivamente o cenário político 
brasileiro. 
 
Quem é FHC? 
Fernando Henrique Cardoso nasceu na cidade do Rio de Janeiro em 18 de 
junho de 1931. Sociólogo e cientista político brasileiro. 
Professor Emérito3 da Universidade de São Paulo, lecionou também no 
exterior, notadamente na Universidade de Paris. Foi funcionário da CEPAL4, 
membro pesquisador e diretor do CEBRAP5, Senador da República (1983 a 1992), 
Ministro das Relações Exteriores (1992), Ministro da Fazenda (1993 e 1994). 
Graduado em Sociologia pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da 
USP, desenvolveu considerável carreira acadêmica, tendo produzido diversos 
 
3 O título de professor emérito é conferido a professores que se distinguiram no exercício da atividade 
acadêmica nos seus relevantes serviços à ciência e à instituição. 
 
4 Comissão Econômica para América Latina e Caribe. 
5 Centro Brasileiro de Análise e Planejamento. 
 
 
23
 
estudos sociais em nível regional, nacional e global, e recebido diversos prêmios e 
menções honrosas pelos trabalhos. Foi eleito o 11º pensador global mais importante, 
pela revista Foreign Policy, em 2009, pelo pensamento e contribuição para o debate 
sobre a política antidrogas. É co-fundador, filiado e presidente de honra do Partido 
da Social Democracia Brasileira (PSDB). 
Foi o intérprete das palestras do filósofo francês Jean-Paul Sartre no Brasil, 
em 1960. 
Durante o regime militar, esteve exilado no Chile e na França. Em 1968, 
voltou ao Brasil e assumiu por concurso público a cátedra de Ciência Política da 
USP, mas foi afastado pelo Decreto-lei 477, o “AI-5 das universidades”. Lecionou no 
Chile, na França, Inglaterra e nos Estados Unidos. Na França, acompanhou de perto 
o movimento de Maio, de 1968, iniciado justamente na Universidade que Fernando 
Henrique lecionava: Universidade de Paris X - Nanterre, em 22 de março de 1968. 
Radicou-se em São Paulo, tendo casado com a antropóloga Ruth Cardoso, 
com quem teve três filhos. Atualmente, preside o Instituto Fernando Henrique 
Cardoso (iFHC, São Paulo) e participa de diversos conselhos consultivos em 
diferentes órgãos no exterior, como o Clinton Global Initiative, Brown University e 
United Nations Foundation. 
Como sociólogo, FHC escreveu obras importantes para a teoria do 
desenvolvimento econômico e das relações internacionais. 
Algumas das obrasescritas por FHC sobre política e governo: 
• Relembrando o que escrevi: da reconquista da democracia aos dias atuais. 
Editora Civilização Brasileira, 2010. 
• A arte da política — A história que vivi. Editora Civilização Brasileira, 2006. 
• Cartas a um jovem político — Para construir um Brasil melhor. Editora Alegro, 
2006. 
• O mundo em português. Editora Paz e Terra,1998. 
• O presidente segundo o sociólogo. Editora Companhia das Letras, 1998. 
• Mãos à Obra. Brasil, 1994. 
• Perspectivas. Editora Paz e Terra, 1983. 
• Dependência e Desenvolvimento na América Latina. Editora México, 1969. 
 
 
24
 
Dedicou-se ao aprofundamento de suas teorias durante o período em que 
viveu no exílio durante o regime militar, ou golpe militar de 1964. 
Foi um dos ideólogos da corrente dependentista ou desenvolvimentista. 
Participando dos grupos de estudos que resultaram na elaboração da Teoria da 
Dependência, diferenciando-se, porém, da vertente marxista, liderada por Theotonio 
dos Santos e Ruy Mauro Marini. Sua teoria sugere que os países subdesenvolvidos 
devam se associar entre si, buscando um caminho capitalista alternativo para o 
desenvolvimento, livrando-se da dependência das grandes potências. FHC era 
contrário à tese de que os países do terceiro mundo se desenvolveriam só se 
tivessem uma revolução socialista. 
Em julho de 1995, Fernando Henrique Cardoso foi homenageado com os 
graus de doutor honoris causa da Faculdade de Economia da Universidade de 
Coimbra e da Faculdade de Economia da Universidade do Porto. 
 
Questões pontuais da gestão FHC 
 
Reformas na gestão econômica 
No plano econômico, o governo FHC teve como um dos principais marcos, o 
combate à hiperinflação do país, dando prosseguimento ao Plano Real. 
Adotando, entre outras medidas, uma política de juros altos, o resultado 
desse combate pode ser percebido pelos seguintes indicadores: 
• De 1988 a 1993, a taxa média da inflação brasileira havia sido de 1280,9% 
ao ano. 
• Com a implantação do Plano Real, de julho de 1994 até maio de 2000, a 
taxa média de inflação caiu para 11,4% ao ano (com base no índice de Preços ao 
Consumidor Amplo – IPCA, apurado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e 
Estatística – IBGE). 
Outro aspecto marcante da gestão de Fernando Henrique foi a retomada da 
reforma do Estado e da economia, projeto que tinha certos antecedentes no 
Governo Collor. A ideia defendida pela equipe do governo era romper com o modelo 
de Estado interventor, instalado desde a Era Vargas. 
 
 
25
 
Programa de privatizações 
Assim, adotando uma política econômica considerada neoliberal por uns, ou 
liberal-reformista por outros, o governo FHC procurou reduzir o papel do Estado 
como produtor de bens e serviços diretos, promovendo uma série de privatizações 
de empresas públicas. Foram privatizadas, por exemplo, empresas de 
telecomunicações (Sistema Telebrás), de geração e distribuição de energia elétrica 
(Eletrobrás), de mineração (Companhia Vale do Rio Doce), de siderurgia (Usiminas, 
Cosipa, Companhia Siderúrgica Nacional) e do setor químico (Copene, Copesul). 
Para supervisionar as áreas privatizadas, o governo criou diversas agências 
reguladoras – entidades públicas independentes dos governos, idealizadas com o 
propósito de não ser suscetíveis a pressões políticas. São exemplos a Agência 
Nacional de Telecomunicações (Anatel), a Agência Nacional do Petróleo (ANP) e a 
Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), entre outras. 
As autoridades responsáveis pelo programa de privatização defenderam 
esse processo argumentando, principalmente, que: 
• era preciso fortalecer o Estado regulador em detrimento do Estado 
empresário. Desse modo, retirando-se do setor empresarial, o Estado poderia 
cumprir melhor seu papel de provedor e executor de políticas sociais nas áreas da 
segurança, saúde, educação, entre outras; 
• as privatizações atrairiam capital estrangeiro, modernizariam os diversos 
setores econômicos, expandiriam a cobertura dos serviços e dinamizariam a 
economia; 
• o dinheiro arrecadado pelo governo com a venda das estatais seria usado 
para pagar parte da dívida do país (interna e externa). 
 
O programa de privatizações empreendido pelo governo teve de enfrentar a 
dura oposição de grupos corporativos em defesa de seus interesses. Também se 
defrontou com a reprovação daqueles que, por princípio ideológico, eram (e são) 
contrários à desestatização. 
Mas as privatizações também foram criticadas por outros motivos: 
 
 
26
 
• segundo diversos analistas, a liquidação do patrimônio público teria sido 
feita por preços muito baixos; 
• essa privatização não teve como contrapartida a necessária melhoria da 
qualidade dos serviços públicos sociais; 
• o pagamento das dívidas interna e externa do país com os recursos 
arrecadados com as privatizações não alcançou o efeito esperado; ao contrário, 
durante o mandato de Fernando Henrique, as dívidas interna e externa do país 
aumentaram muito. 
 
Lei de Responsabilidade Fiscal 
Uma iniciativa do governo FHC considerada importante para o 
aprimoramento da gestão das finanças públicas foi a aprovação da Lei de 
Responsabilidade Fiscal (LRF), em 4 de maio de 2000. A LRF estabeleceu regras 
precisas para todo administrador público – seja no âmbito municipal, estadual ou 
federal – com o propósito de alcançar um equilíbrio entre receitas e despesas na 
gestão das contas públicas. 
O princípio fundamental da LRF consiste em proibir a criação de uma nova 
despesa (por mais de dois anos) nos orçamentos públicos sem a indicação de 
receita correspondente ou de redução equivalente de gastos já previstos para cobri-
Ia. Ou seja, não se pode gastar mais do que o arrecadado. O desrespeito do 
administrador público às determinações da LRF pode gerar graves punições, como 
perda dos direitos políticos, pagamento de pesadas multas e prisão dos infratores. 
 
Avanços sociais 
Durante o governo FHC, as injustiças sociais históricas do país não foram 
eliminadas. No entanto, houve avanços positivos em setores como, por exemplo, a 
educação e a saúde. 
 
Redução do analfabetismo 
Na educação, durante o governo FHC, o Brasil praticamente alcançou a 
universalização do ensino fundamental, garantindo o acesso à escola para 97% das 
crianças do país com idade entre 7 e 14 anos (dados de 2002). 
 
 
27
 
Além disso, houve significativa queda na taxa de analfabetismo entre a 
população com mais de 10 anos de idade. Em 1990, havia no país cerca de 18,3% 
de analfabetos; em 2002, esse percentual caiu para 12,8%. A redução mais notável 
ocorreu entre os jovens de 15 a 19 anos, faixa etária em que a taxa de 
analfabetismo baixou de 12% para 6%. 
Essa redução entre os jovens indica que o analfabetismo, no Brasil atual, 
tende a se confinar entre as gerações mais velhas, não alcançadas pelas recentes 
políticas de alfabetização. No entanto, quando comparadas a muitos outros países, 
a taxa de analfabetismo brasileira ainda é bastante elevada. Observe a tabela. 
 
Apesar desses progressos na educação brasileira em termos quantitativos, 
resta ainda um imenso trabalho a ser desenvolvido quanto à qualidade dos ensinos 
público e privado no país (pensando até o governo FHC). 
 
Queda da mortalidade infantil 
Na área da saúde, o governo FHC expandiu o atendimento médico-
hospitalar e as campanhas públicas de vacinação. Esses esforços refletiram-se, por 
exemplo, na queda da taxa de mortalidade infantil: em 1994, essa taxa era de 36,5 
mortes por mil nascidos vivos; em 2002, caiu para 27,8 mortes. 
Expressando também uma melhoria nas condições gerais de saúde, houve 
uma ampliação da esperança de vida no país. Em 1980, o brasileiro vivia, em média, 
60 anos; em 2002, a esperança média de vida subiu para 71 anos. 
 
 
28
 
Apesar dos progressos apontados, ainda são muitos os problemas que 
afetam as condições da saúde pública no Brasil. Na tabelaseguinte podemos 
comparar as taxas de mortalidade infantil e esperança de vida do Brasil com as de 
alguns países selecionados. 
 
Final da Era FHC 
No último ano do segundo mandato de Fernando Henrique, cresceram o 
descontentamento popular e as críticas de parte da imprensa em relação ao 
desempenho de seu governo. Vários fatores contribuíram para isso: 
• crise de fornecimento de energia elétrica no país, gerando risco de um 
apagão: na época atribuiu-se o problema à falta de investimentos do governo em 
infraestrutura e às privatizações no setor energético; 
• crescimento intenso da dívida externa e da dívida interna do setor público, 
gerando desconfiança na capacidade do governo de honrar seus compromissos e 
pondo em dúvida a efetividade do processo de privatizações; 
• retorno da pressão inflacionária, levando a certa desilusão com o Plano 
Real; 
• elevadas taxas de desemprego, causando insatisfação popular. 
 
 
29
 
A insatisfação social desse período converteu-se em anseio por mudanças 
políticas que, em grande medida, foram direcionadas para o candidato da oposição, 
Luiz Inácio Lula da Silva, nas eleições à presidência da República em 2002. 
 
Denúncias de corrupção 
Como nos governos anteriores, desde a redemocratização do país, durante 
o mandato de Fernando Henrique, houve diversas denúncias de corrupção e 
irregularidades envolvendo parlamentares, assessores, altos funcionários públicos e 
empresários ligados ao governo. 
Algumas dessas denúncias converteram-se em investigações 
parlamentares, como a CPI do Sivam (Sistema de Vigilância da Amazônia) e a CPI 
dos Bancos. Grande parte dessas investigações não foi avante no Congresso, 
vencida pela maioria política ligada ao governo. Entre elas podem ser destacadas 
duas: a suposta compra de votos de parlamentares para a aprovação da emenda 
constitucional da re-eleição – indicada por gravações telefônicas que levaram à 
expulsão de alguns deputados do PFL – e diversas denúncias reunidas num dossiê, 
que sustentariam uma CPI da Corrupção. 
A favor do governo e do presidente ficou o fato de que não houve 
comprovação jurídica para muitas dessas denúncias, atribuídas ao jogo político dos 
oposicionistas. Porém restou a suspeita levantada pela oposição, dado o empenho 
dos governistas em impedir que as investigações fossem levadas adiante. 
 
Primeiro governo FHC mediante análises de Cláudio C outo e Fernando Abrúcio 
O primeiro governo Fernando Henrique Cardoso foi marcado por duas 
agendas principais: a estabilização monetária e as reformas constituciona is . 
Outras ações importantes levadas a cabo pelo Executivo articularam-se e 
entrelaçaram-se a essas duas agendas. É o caso das privatizações, da reforma do 
sistema financeiro e do acordo da dívida dos estados (COUTO; ABRÚCIO, 2003). 
A estabilização monetária, promovida pelo Plano Real, veio debelar uma 
inflação crônica, que acometia o país desde o início dos anos de 1980. Seu 
encaminhamento encaixava-se, antes de tudo, numa agenda emergencial, já que 
 
 
30
 
sem um mínimo de estabilidade, pouca coisa poderia ser encaminhada na 
reestruturação de um modelo econômico que dava sérios sinais de fadiga. 
A deflagração do Plano Real deu-se ainda no governo Itamar Franco, 
quando Fernando Henrique, guindado ao Ministério da Fazenda, logrou montar uma 
coesa e prestigiosa equipe de economistas que, lançando mão de mecanismos anti-
inerciais, teve grande sucesso na contenção de uma inflação que já havia superado 
os cinquenta pontos percentuais. O sucesso na política anti-inflacionária fez-se 
sentir ainda no segundo semestre de 1994, assegurando uma vitória relativamente 
fácil de FHC já no primeiro turno das eleições presidenciais. 
O sucesso de público do Plano Real foi tal monta que diversos postulantes 
aos governos estaduais e mesmo candidatos à presidência de partidos adversários 
buscavam mostrar-se como seus defensores – o então postulante pelo PPB, 
Esperidião Amin, por exemplo, afirmava no horário eleitoral gratuito que seria ele e 
não FHC o homem mais capacitado para defender o Plano Real. Apenas o PT e 
seus aliados mais próximos insistiam que se tratava de mais um plano eleitoreiro, de 
curto prazo, visando apenas a garantir a vitória dos candidatos situacionistas 
(COUTO; ABRÚCIO, 2003). 
A “era do Real” teve o significado de uma “conjuntura crítica”, isto é, de uma 
grande mudança na posição relativa dos atores políticos e sociais em relação aos 
instrumentos de poder e às preferências (PIERSON, 2000). 
A essa mudança na situação dos agentes somou-se a capacidade do 
presidente Fernando Henrique de montar e manter por um bom tempo uma coalizão 
capaz de fazer alterações na antiga estrutura, segundo os objetivos determinados 
por FHC. Nesse sentido, trata-se, também, de um “momento maquiaveliano”, no qual 
a mudança da “Fortuna” (condições objetivas, no sentido marxista) realiza seu 
potencial na virtude do condutor da mudança, que cria uma nova ordem institucional 
(SOLA et al., 2002). 
Uma bem-sucedida política anti-inflacionária tornava-se um importante 
recurso de poder para seus patrocinadores, facilitando a vitória eleitoral num 
primeiro momento e a construção de coalizões num segundo. A partir da posse, em 
1º de janeiro de 1995, a preservação dos sucessos iniciais do Real e seu 
 
 
31
 
prosseguimento eram apresentados como prioridade máxima, não do governo, mas 
do país. 
Sendo assim, passou-se a defender como sinal de responsabilidade política 
a adesão e o apoio à agenda do Plano Real, que implicava sustentar também 
reformas estruturais apontadas como vinculadas à estabilidade de longo prazo. Isso, 
por um lado, reduzia o campo de manobra da oposição, por outro, amortizava 
substancialmente os custos da adesão ao governo e, consequentemente, da entrada 
na coalizão governamental (COUTO; ABRÚCIO, 2003). 
 
O segundo governo FHC 
Se, por um lado, a reeleição de Fernando Henrique Cardoso – e ainda no 
primeiro turno – representou um sucesso político inegável por si só, por outro, seu 
segundo governo não realizou o projeto alentado pelo presidente e pelas principais 
lideranças do seu partido: de mudar a bandeira política que legitimava o governo, 
transitando da agenda estabilizadora para a retomada do crescimento sustentado. 
O projeto de mudança de rumos contido na reeleição foi abalado pela crise 
cambial e pela maneira como ela ocorreu. A despeito de uma política de 
desvalorizações gradativas e controladas acima do índice de inflação, o ritmo não 
era suficiente para sinalizar aos agentes de mercado que o Real aproximava-se de 
uma cotação adequada em relação ao dólar. 
Com isso, as reiteradas crises externas e a consequente drenagem de 
divisas que acarretavam foram mais fortes do que qualquer escolha que fizessem as 
autoridades monetárias. Embora o país estivesse em situação de default desde 
outubro de 1998, o presidente Fernando Henrique acreditava que os recursos 
obtidos junto ao FMI – a gigantesca quantia de U$40 bilhões – seriam suficientes 
para conter a especulação financeira contra o Real e, aos poucos, alterar o modelo 
da âncora cambial. Ledo engano: o Banco Central não conseguiu segurar o valor da 
moeda seguindo os cânones da política da dupla Gustavo Franco/Pedro Malan, o 
que levou à queda do presidente do BC e, depois de alguma relutância, a uma 
mudança substancial de política econômica, com a adoção do câmbio flutuante. 
Aqui, o mercado venceu a queda de braço com o governo. 
 
 
32
 
Esta alteração brusca dos rumos traçados resultou num crescimento 
econômico próximo de zero, logo no primeiro ano do segundo mandato, que estava 
programado para ser o “ano da virada”. Isso fez com que rapidamente se 
desintegrasse a imagem positiva do governo do presidente Fernando Henrique – 
percebido à época da fácil reeleição como o único capaz de conduzir o país a um 
porto seguro. Os índices de impopularidadeelevaram-se significativamente e o 
quadro não foi revertido até o fim do segundo mandato. A Tabela 3 traz os dados de 
pesquisa realizada pelo Ibope no final de 2000. 
Tabela 3 
 
Mais do que o resultado econômico imediato, o efeito da crise cambial, 
somada ao episódio das “fitas do BNDES”, foi inviabilizar a mudança no modelo 
econômico. A inflação mantinha-se sob certo controle, mas o país não crescia nem 
gerava empregos, fatos que reduziam o encanto do Plano Real. 
A gestão de Armínio Fraga no Banco Central foi bem-sucedida no combate 
às consequências da desvalorização, porém suas medidas supunham uma saída da 
crise que decerto estava distante do “desenvolvimentismo” presente no ideário de 
muitos da cúpula tucana. A manutenção dessa política garantia que, no máximo, o 
segundo governo seria capaz de completar a agenda econômica do primeiro, como 
no caso da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF). 
 
 
33
 
O desempenho inicial de Fraga no comando do Banco Central – com cortes 
sucessivos nas taxas de juros e boa condução da questão da dívida pública –, a 
tramitação tranquila e bem-sucedida da Lei de Responsabilidade Fiscal (aprovada 
em maio de 2000)6 e a volta de um ótimo crescimento econômico de 4,36% em 2000 
(o maior de todo o período Fernando Henrique) chegaram a ser apontados como 
fatores capazes não só de completar o que faltara no primeiro mandato de FHC, 
como também conseguiriam recuperar a popularidade do presidente e a força do 
governo. 
Esse sucesso conjuntural, no entanto, não favorecia a mudança do modelo 
econômico em prol do desenvolvimentismo, pois as vitórias da ocasião, embora 
razoavelmente diferentes do receituário de Gustavo Franco, ainda estavam distantes 
de qualquer alteração substancial no sentido da política econômica adotada por 
Pedro Malan. Mesmo assim, o êxito econômico poderia permitir a Fernando 
Henrique que controlasse sua sucessão, talvez até lançando um candidato de perfil 
mais próximo às origens do PSDB. Esse êxito, contudo, não ocorreu, como mostra a 
Tabela 4. 
Tabela 4 
 
 
6 É importante notar que a tramitação da LRF foi uma das mais rápidas do período no campo da legislação 
complementar, além de ter obtido um elevado índice de votos favoráveis na Câmara Federal: 385 votos a favor, 
86 contra e quatro abstenções, quando eram necessários apenas 257, resultando numa margem de segurança de 
128 votos (ASAZU, 2003, p. 80). 
 
 
34
 
Três fatores prejudicaram os planos do presidente Fernando Henrique de 
obter melhor desempenho econômico e controlar o processo sucessório. 
O primeiro foi a crise energética ocorrida em 2001, que obrigou o Executivo 
federal a propor medidas de racionamento, as quais reduziram consideravelmente o 
nível de atividade econômica. 
Além disso, o chamado “apagão” atingiu uma das facetas mais prezadas do 
período FHC, qual seja, a da eficiência técnica, o que minou seu prestígio e, 
consequentemente, a confiança da população na capacidade de o governo resolver 
os problemas do país. 
A capacidade administrativa da gestão tucana, ao final, demonstrou-se mais 
eficaz no plano da agenda negativa, do fiscalismo e da estabilização, do que na 
construção de um projeto positivo de desenvolvimento. 
O episódio do “apagão”, na verdade, resultou de dois aspectos que tinham 
suas raízes no primeiro mandato. Um deles deriva dos erros no modelo de 
regulação. A privatização e a criação de marcos regulatórios percorreram caminhos 
distintos nas diversas áreas, tendo um relativo sucesso no âmbito das 
Telecomunicações e um retumbante fracasso no setor elétrico. 
Neste, a soma de equívocos foi fatal: a regulação foi instituída depois de 
várias empresas já terem sido vendidas para o setor privado, a Agência Reguladora 
nasceu fraca politicamente e sem uma elite técnica que a orientasse, afora o 
Ministério das Minas e Energia ter sido entregue a membros do PFL baiano 
incapazes de superar o puro clientelismo. Não por acaso, o problema energético 
precisou de uma saída à Juscelino (administração paralela), que foi a criação de 
uma Câmara de Gestão da Crise composta por funcionários escolhidos por sua 
competência técnica – o próprio nome dessa instância decisória revela o momento 
negativo do segundo governo (COUTO; ABRÚCIO, 2003). 
É claro que um problema de tal envergadura não poderia ter passado 
despercebido pelo núcleo central do governo. Porém, com exceção da questão 
fiscal, a coordenação das políticas intersetoriais foi bastante débil ao longo do 
segundo mandato – está aí a segunda razão do “apagão”. E isso se deu pela 
dificuldade de o presidente Fernando Henrique escolher alguém que articulasse o 
governo a partir da Casa Civil ou órgão correlato, fato que fora agravado pelos 
 
 
35
 
conflitos que o ministro Clóvis Carvalho arranjara com os partidos da base aliada 
durante o primeiro período governamental e pela morte do ministro Sérgio Motta, 
que tinha uma visão integradora das ações governamentais. 
O segundo fator que prejudicou o desempenho do presidente reeleito foi a 
incapacidade de reformar o modelo econômico com vistas a reduzir a 
vulnerabilidade externa e gerar maior crescimento. O predomínio da visão fiscalista, 
que se expandiu no segundo governo para o Banco Nacional do Desenvolvimento – 
BNDES – na gestão de Francisco Gros, que transformou esse banco numa mera 
instituição financeira –, tornou-se um obstáculo para todas as tentativas mais 
agressivas de política industrial e de auxílio à exportação. Mesmo que no final do 
período FHC tenha havido certa reversão dos déficits externos, isto se deu mais pela 
desvalorização não programada do Real do que pela adoção de uma série de 
medidas nesse sentido. 
A vitória do fiscalismo, por outro lado, consolidou e aprofundou as reformas 
fiscais, tal qual se percebe com a busca dos superávits primários, ausentes do 
primeiro período de Fernando Henrique. Esse ganho, ressalte-se, foi realizado à 
revelia do desenvolvimentismo, o que não era inexorável, mas se tornou uma opção 
em razão da agenda e das preferências dos atores dominantes, bem como do poder 
e das escolhas institucionais que fizeram. 
O gráfico 1 mostra o resultado primário dos governos FHC desde janeiro de 
1997. Note-se que à exceção de uns poucos meses, o saldo é sempre positivo e 
bastante significativo, rendendo resultados anualizados bastante satisfatórios desse 
ponto de vista (COUTO; ABRÚCIO, 2003). 
 
 
36
 
 
Oposição versus Governo 
No Congresso Nacional, as oposições, que taxavam as políticas 
governamentais de “neoliberais”, não tiveram forças para se opor, mas seguiram 
acusando o governo de defender os interesses do capital estrangeiro, de transferir 
para a iniciativa privada o patrimônio público, de eliminar direitos trabalhistas e de 
prosseguir com uma política econômica que prejudicava as camadas mais pobres. 
O governo Fernando Henrique Cardoso rebateu as críticas, demonstrando 
que foram implementadas uma série de políticas sociais de transferência de renda 
para as populações mais pobres, através de programas como o bolsa-escola, o vale-
gás e o bolsa-alimentação. 
Avanços significativos foram alcançados nas áreas da educação, saúde 
(com a distribuição gratuita de medicamentos contra a AIDS e a criação dos 
remédios genéricos, vendidos a preços baixíssimos) e principalmente na questão 
agrária (com a implementação de um sólido programa de reforma agrária). 
Apesar disso, durante toda a gestão Fernando Henrique Cardoso, o 
Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) promoveu por todo o país 
numerosas manifestações e invasões de propriedades agrárias, produtivas e 
improdutivas. 
 
 
 
37
 
Estabilidade política e governabilidade 
Apesar das críticas dos partidos de oposição às alianças políticas do 
governo, foi a forte base parlamentar de apoio a Fernando Henrique Cardoso que 
contribuiudecisivamente para a estabilidade política, um dos traços importantes da 
gestão FHC, pois, além de assegurar a governabilidade, consolidou a jovem e frágil 
democracia brasileira. 
 
Reorganização das oposições 
No primeiro mandato governamental, Fernando Henrique Cardoso 
conseguiu conter a oposição e aprovar com facilidade projetos políticos e reformas 
constitucionais. Porém, no segundo mandato, o presidente teve maior dificuldade de 
governar devido à reorganização das oposições. 
No Congresso Nacional, o Partido dos Trabalhadores (PT) liderava a 
oposição. O PT articulou os movimentos sociais e sindicais e as esquerdas de modo 
geral, formando uma ampla frente de oposição parlamentar. 
O MST continuou a pressionar o governo, invadindo propriedades agrárias e 
ocupando sedes de órgãos governamentais. Em muitas ocasiões, as invasões 
desencadearam conflitos armados no campo. As centrais sindicais, também 
influenciadas pelo PT, promoveram diversas marchas e manifestações em defesa de 
reajustes e aumentos salariais. 
 
Vitória da oposição 
Ao se aproximar o pleito que escolheria o sucessor de Fernando Henrique 
Cardoso, o governo apoiou a candidatura do ministro da saúde, José Serra, do 
PSDB, em aliança com o PMDB. 
Os outros candidatos que disputaram o pleito foram: Luiz Inácio Lula da 
Silva (PT / PC do B / PL / PMN / PCB), Anthony Garotinho (PSB / PGT / PTC), Ciro 
Gomes (PPS / PDT / PTB), José Maria de Almeida (PSTU) e Rui Costa (PCO). 
Nenhum obteve índice de votação suficiente para se eleger no primeiro 
turno. Os dois candidatos mais votados foram Luiz Inácio Lula da Silva e José Serra. 
No segundo turno das eleições, Lula obteve 61,3 % dos votos; e José Serra, 38,7 %. 
 
 
38
 
Eleito o novo presidente, Fernando Henrique Cardoso organizou a transição 
de modo a facilitar o acesso antecipado da nova administração às informações 
relevantes ao exercício do governo, fato até então inédito na história do país. 
 
FHC e o Neoliberalismo 
O neoliberalismo chegou lentamente ao Brasil. Sallum Jr. (1994) identifica na 
crise que assola o final do regime militar brasileiro o surgimento de alternativas 
amparadas por esse ideário. Representada então pela candidatura de Paulo Maluf, 
tal alternativa imaginava que a solução da crise brasileira e a estabilização da 
economia viriam da quebra da intervenção estatal, com o fim dos subsídios e 
transferências para as empresas estatais e pelo aprofundamento dos mecanismos 
de mercado. Ela propunha ainda que o Brasil se abrisse à divisão internacional do 
trabalho, voltando-se a agricultura e a produção industrial cuja tecnologia já fosse 
assimilada e permitindo a entrada de produtos estrangeiros de tecnologia avançada. 
Mas Maluf foi derrotado e Tancredo Neves elegeu-se presidente pelo 
Colégio Eleitoral – depois da derrota do movimento pelas diretas, mas morreu sem 
tomar posse. Em seu lugar, assumiu o vice-presidente eleito José Sarney que, com 
pouca legitimidade, manteve a composição do ministério desenhada por Tancredo. 
Esse ministério procurava conciliar duas perspectivas distintas de política 
econômica: de um lado, no Planejamento, Tancredo tinha colocado João Sayad, 
peemedebista identificado com setores heterodoxos, com vínculos estruturalistas e 
próximo à socialdemocracia. A ele caberiam os projetos de longo prazo. Para o curto 
prazo, no entanto, o conservador Tancredo tinha reservado o ministério da Fazenda 
para seu sobrinho Francisco Dornelles, economista ortodoxo, identificado com o 
receituário recessivo do Fundo Monetário Internacional e com o neoliberalismo 
(NEGRÃO, 2008). 
Sarney mantém essa dualidade e Planejamento e Fazenda seguem não 
falando a mesma língua até que Dornelles é demitido e em seu lugar assume Dílson 
Funaro, que viria a ser o executor do Plano Cruzado (MARTINS, 1995). Com isso, os 
neoliberais perdem espaço no governo. 
Após o insucesso do Cruzado, sucedem-se outros planos econômicos 
igualmente incapazes de deter a inflação, e o governo Sarney chega ao final se 
arrastando. 
 
 
39
 
Se no Brasil o neoliberalismo vinha aos poucos ganhando espaço como 
alternativa política à crise, é no período Collor que efetivamente ele se torna a 
ideologia dominante entre os setores do capital, dos partidos políticos conservadores 
e do centro do espectro político, da grande imprensa brasileira e mesmo de setores 
significativos do pequeno e médio empresariado e, especialmente, daquela parcela 
do movimento organizado dos trabalhadores identificada com a Força Sindical. Teve 
início o processo de privatização das estatais, o Brasil abriu sua economia para o 
capital estrangeiro e o mercado passou a ser o grande agente organizador da 
Nação, enquanto os trabalhadores, como classe, começaram a sofrer um 
bombardeio incessante em seus direitos (NEGRÃO, 2008). 
E se Collor, por conta da corrupção desabrida sofreu o impeachment e não 
deu certo como condutor do projeto neoliberal, nada permite supor que o 
neoliberalismo no Brasil afundou junto com ele ou sofreu abalos significativos na sua 
pretensão de hegemonia. Pelo contrário, o ideário neoliberal se reapresenta na 
disputa eleitoral sucessória a Itamar Franco –– que como vice-presidente assumiu a 
Presidência com o impeachment de Collor. Naquele momento, dois projetos se 
apresentaram ao eleitorado. 
Um, o de Lula, tinha por meta a ampliação do mercado interno, buscando 
agregar ao consumo a enorme massa de excluídos do país; a ampliação da 
democracia do campo da política para os campos social, econômico e cultural e a 
presença do Estado (democraticamente controlado) nos setores fundamentais e 
estratégicos. O outro, o de FHC, era o continuador do projeto neoliberal – e, por 
isso, contou com uma gama impressionante de apoios entre os partidos e setores 
conservadores da sociedade. 
Mas o grande eleitor de FHC foi o Plano Real, que conseguiu baixar e 
manter a inflação em níveis aceitáveis, estabilizando a economia. E se isso, sem 
dúvida, é muito importante, parece claro que não é suficiente: mesmo que tenha 
havido uma pequena melhora na renda da população mais pobre, por conta do fim 
do imposto inflacionário, o desemprego aberto e o emprego na economia informal 
crescem a olhos vistos. A última pesquisa Dieese/Seade aponta para o índice de 
16% de desemprego da PEA da Grande São Paulo, algo próximo a 1,5 milhão de 
pessoas. 
 
 
40
 
Só isso, porém – embora trágico – não é suficiente para caracterizar o 
governo FHC como neoliberal. Mas há outras atitudes e medidas que permitem 
enquadrá-Io nessa caracterização, tomando por base o conceito mais operacional 
desenvolvido por Luis Fernandes (1995). Vejamos: 
I) Há estudos no Ministério do Trabalho para permitir a precarização legal da 
contratação de trabalhadores. 
2) As reformas propostas por FHC, como as da Previdência, Administrativa e 
da área econômica intentam abrir espaço para o mercado, diminuindo o papel do 
Estado. 
3) Sofremos de “executivismo”: nunca antes o Executivo legislou tanto, seja 
por meio das medidas provisórias ou de projetos enviados ao Congresso. Ao mesmo 
tempo, se procura evitar que a oposição modifique determinadas medidas, através 
do fim dos chamados destaques de votação em separado. 
4) O programa de privatizações continua em marcha, ainda aceitando as 
moedas podres. 
5) A taxa de juros, mantida excessivamente alta, ao lado da abertura ao 
capital financeiro internacional, é uma forma de atrair para cá o chamado capital 
volátil, em boa parte especulativo. 
6) A falta de medidas protecionistas leva de roldão setores inteiros da 
economia brasileira, como calçados, têxteis e autopeças. E com eles, vão-se os 
empregos, enquanto os “consumidores” podem comprar tênis americanos da Nike 
fabricados na China, na Coréia, na Indonésia, na Tailândia, onde adolescentes e 
mulheres trabalham 15, 16 horas por dia em troca de um salário diário de US$ 1,80 
e o Wal-Mart,recém-instalado no Brasil, vende camisas, pastas, mochilas e – o mais 
incrível – bolas de futebol fabricadas no Paquistão, onde o salário também beira os 
30 dólares mensais. Essas, entre outras, permitem caracterizar o governo FHC 
como sendo de cunho neoliberal. Somadas, essas medidas mostram a tendência 
deste governo: retirar os eventuais obstáculos a acumulação ampliada do capital, 
mesmo que isso, a longo – ou mesmo médio – prazo signifique mais concentração 
de riqueza e exclusão (NEGRÃO, 2008). 
 
 
 
41
 
UNIDADE 6 - LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA (2003-2010) 
 
Depois de três tentativas fracassadas para alcançar a presidência da 
República, Luiz Inácio Lula da Silva, candidato do PT, finalmente conseguiu vencer 
as eleições em 2002. Para isso, precisou mudar sua estratégia anterior de alianças, 
formando a chapa com José de Alencar, do Partido Liberal (PL), além de manter 
aliados tradicionais, como PC do B, PCB e PMN (Partido da Mobilização Nacional). 
Sua vitória deu-se no segundo turno, tendo alcançado 61,3 % dos votos válidos. Seu 
adversário foi José Serra, do PSDB. 
Pela primeira vez na história republicana brasileira, um líder político de 
origem autenticamente popular (ex-torneiro mecânico, ex-Iíder sindical e um dos 
fundadores de um partido que abrigava uma ideologia de esquerda, o PT) assumia a 
presidência da República. 
Em 2006, ao final de seu mandato, Lula disputou nova eleição e foi re-eleito 
para a presidência, no segundo turno, com pouco mais de 60% dos votos válidos. 
Seu adversário foi Geraldo Alckmin, também do PSDB. 
Agora em 2010, apoiou Dilma Rousseff, sua ministra da Casa Civil, a qual 
ganhou em 2º turno do então candidato José Serra. 
 
Quem é Lula? 
Pernambucano da cidade de Caetés, nasceu em 27 de outubro de 1945. Um 
político e ex-sindicalista brasileiro. Ele é o trigésimo quinto presidente da República 
Federativa do Brasil, cargo que exerceu desde o dia 1º de janeiro de 2003 ao dia 31 
de dezembro de 2010. 
Lula, forma hipocorística de “Luís”, é sua alcunha desde os tempos em que 
era representante sindical. Posteriormente, este apelido foi oficialmente adicionado 
ao seu nome legal para poder representá-lo eleitoralmente. É cofundador e 
presidente de honra do Partido dos Trabalhadores (PT). Em 1990, foi um dos 
fundadores e organizadores, junto com Fidel Castro, do Foro de São Paulo, que 
congrega parte dos movimentos políticos de esquerda da América Latina e do 
Caribe. 
 
 
42
 
Lula é o brasileiro que mais vezes se candidatou à presidência da República 
do Brasil, sendo candidato por cinco vezes. Em 2006 ultrapassou Rui Barbosa, que 
se candidatou quatro vezes. 
Com carreira política feita no estado de São Paulo, Lula é o único presidente 
do Brasil nascido em Pernambuco. 
Segundo a revista norte-americana Newsweek, Lula se encontrava no fim de 
2008 no 18° lugar das pessoas mais poderosas do mundo, ocupando a liderança do 
ranking na América Latina. Em lista divulgada pela revista Forbes, em novembro de 
2009, Lula foi considerado a 33ª pessoa mais poderosa do mundo. Em ambas as 
listas, primeira colocação mundial é ocupada pelo presidente dos Estados Unidos, 
Barack Obama. 
Em 2009, foi considerado o homem do ano pelos jornais Le Monde e El 
País. De acordo com o jornal britânico Financial Times foi uma das 50 pessoas que 
moldaram a década pelo seu “charme e habilidade política” e também por ser “o 
líder mais popular da história do país”. 
Para o Instituto Datafolha, Lula era a personalidade mais confiável dentre 
uma lista de 27, em pesquisa publicada no primeiro dia do ano de 2010. 
No Fórum Econômico Mundial de 2010 realizado em Davos na Suíça, 
recebeu a premiação inédita de Estadista Global, pela sua atuação no meio 
ambiente, erradicação da pobreza, redistribuição de renda e ações em outros 
setores com a finalidade de melhorar a condição mundial. Lula não foi pessoalmente 
receber o prêmio, pois estava com pressão alta. No seu lugar foi escalado o 
chanceler Celso Amorim que leu o discurso de Lula, quebrando o protocolo de 
Davos, que diz que uma terceira pessoa não pode ler o discurso de outra. 
 
Primeiro mandato (2003-2006) 
Lula assumiu a presidência em 1º de janeiro de 2003. Seu programa de 
governo propunha-se a resgatar as dívidas sociais fundamentais que o país tem com 
a maioria do povo brasileiro. Ele também prometia preservar os fundamentos da 
ordem econômica, respeitar os contratos e reconhecer seus compromissos com os 
credores da dívida externa do país. 
 
 
43
 
Continuidade da política econômica, o compromisso de campanha foi 
cumprido durante o primeiro mandato. O governo Lula procurou desde o início, 
tranquilizar os mercados, ganhar a confiança dos grandes empresários (banqueiros, 
industriais, comerciantes, entre outros), preservar a estabilidade da moeda e conter 
a pressão inflacionária (COTRIM, 2008). 
Para isso, a equipe econômica do governo adotou uma conduta em grande 
parte assemelhada à da gestão anterior, o que gerou muitas críticas daqueles que 
esperavam mais ousadia. Mas essa estratégia deu alguns bons resultados, como: 
• a inflação foi mantida sob controle; 
• as exportações brasileiras cresceram; 
• os índices de desemprego tiveram ligeira queda. 
Mesmo assim, o desempenho geral da economia foi considerado tímido. 
Entre 2003 e 2006, o PIB (a soma de todos os bens e serviços produzidos no país) 
cresceu num ritmo médio de 3,40% ao ano, taxa superior a do governo anterior. 
Observe os dados da tabela a seguir: 
 
Denúncias de corrupção 
O governo Lula também sofreu denúncias de corrupção em seu primeiro 
mandato. Algumas delas foram investigadas pelos parlamentares, como a CPI dos 
Bingos e a CPI do Correio. A denúncia mais grave, porém, foi outra. 
Desde 2003, o governo procurou reunir, no Congresso Nacional, o apoio de 
um número de parlamentares que garantisse a aprovação das propostas legislativas 
de interesse do Executivo. Para isso, promoveu alianças e acordos com membros 
de diversos partidos, como PL, PP, PTB, PMDB, entre outros. 
 
 
44
 
A partir de 2005, o mecanismo de sustentação dessas alianças causou 
suspeita: denúncias apontaram para a existência de um esquema, coordenado por 
líderes do PT, pelo qual um grupo de parlamentares da base governista recebia 
pagamentos em dinheiro em troca de seu apoio. Era o escândalo do chamado 
“mensalão” (em referência a um suposto pagamento mensal aos parlamentares). 
O presidente Lula afirmou desconhecer a existência do esquema 
denunciado e conclamou todos os órgãos policiais e judiciais competentes a apurar 
as denúncias. Investigadas por mais de uma CPI e pele Polícia Federal, essas 
denúncias e seus desdobramentos receberam destaque na grande imprensa, dando 
repercussão às acusações feitas a membros do PT. 
Após 120 dias de investigação, a CPI do Mensalão não conseguiu provas 
conclusivas a respeito das principais acusações ao governo. No entanto, vários 
deputados denunciados renunciaram, e três foram cassados. E, por iniciativa da 
Procuradoria Geral da República, muitas dessas denúncias foram encaminhadas ao 
Supremo Tribunal Federal, que decidiu abrir processo contra vários dos indiciados 
(COTRIM, 2008). 
 
Segundo mandato (2006-2010) 
Apesar do bombardeio de denúncias promovido pela oposição e pela grande 
imprensa, Lula conseguiu reeleger-se em 2006. Alguns analistas entenderam essa 
vitória como uma demonstração de que a maior parte do eleitorado ainda 
considerava Lula um político comprometido com as causas populares. 
Outros atribuíram a reeleição ao Programa Bolsa-Família, um programa de 
distribuição de renda que beneficiou cerca de 11 milhões de famílias pobres do país 
durante o primeiro mandato. Posteriormente, o programa foi ampliado, alcançando 
cerca de 25% da população do país, em meados de 2007. 
 
Desigualdade: o grande desafio 
Um dos principais desafios do governo Lula consiste em promover

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