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História da Arte Contemporânea Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Profa. Ms. Rita Garcia Jimenez Revisão Textual: Profa. Ms. Alessandra Fabiana Cavalcanti Pop Art • Introdução • Reino Unido: Quando a Pop Art se torna pop • Do outro lado do Atlântico – A Pop Art Americana • Recebidos com Incompreensão • 1960: A Década Pop • Seja bem-vindo a The Factory, a “Fábrica” de Mr. América • A Arte Pop Veio, Fez e Venceu • Pop Art no Brasil · Conhecer os aspectos conceituais, históricos e estéticos da Pop Art no mundo e no Brasil. · Apreciar, analisar significativamente, ler e criticar as manifestações artísticas contemporâneas. · Valorizar a pesquisa sobre os aspectos conceituais, históricos e estéticos da Pop Art. · Valorizar a arte como construção de conhecimento e de cultura. OBJETIVO DE APRENDIZADO Pop Art Orientações de estudo Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem aproveitado e haja uma maior aplicabilidade na sua formação acadêmica e atuação profissional, siga algumas recomendações básicas: Assim: Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e horário fixos como o seu “momento do estudo”. Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar, lembre-se de que uma alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo. No material de cada Unidade, há leituras indicadas. Entre elas: artigos científicos, livros, vídeos e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você também encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados. Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discussão, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e aprendizagem. Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Determine um horário fixo para estudar. Aproveite as indicações de Material Complementar. Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar, lembre-se de que uma Não se esqueça de se alimentar e se manter hidratado. Aproveite as Conserve seu material e local de estudos sempre organizados. Procure manter contato com seus colegas e tutores para trocar ideias! Isso amplia a aprendizagem. Seja original! Nunca plagie trabalhos. UNIDADE Pop Art Contextualização A segunda metade do século XX é fundamental para o desenvolvimento do mundo. Após a Segunda Guerra Mundial, a tecnologia avança, resultando na criação dos meios de comunicação de massa. Surge o termo “indústria cultural”. Esse conceito implica a produção de arte e cultura nos padrões comerciais em um sistema de planejamento e de organização das fabricações em série – revistas, músicas, filmes – com uma serialização e padronização da cultura. A Europa, que sofreu a maior destruição se viu diante de uma grande crise econômica. Mas, do outro lado do Atlântico os Estados Unidos aproveitavam um momento de grande prosperidade. O país divulgava o chamado “sonho americano” e mostrava ao mundo uma imagem de opulência que encantava não só os cidadãos americanos, como também os estrangeiros. Os artistas da Grã-Bretanha captaram esse momento com a inclusão em suas obras de imagens que retratavam o consumo. Mas, foi na América que a Pop Art realmente encontrou seu destino, a partir do início dos anos 1960, sustentada pelo consumismo varejista norte-americano. Assim, temos imagens icônicas como da Coca-Cola, da sopa Campbell’s, juntamente com imagens do cinema norte-americano e de estrelas do rock’n’roll. E, talvez, ninguém tenha oferecido ao público maiores troféus dessas imagens do que Andy Warhol. Entretanto, a partir de meados dos anos 1960, Warhol volta-se para outras avaliações e irônicas especulações sobre a condição humana. O estudo desse período da arte contemporânea é, ao mesmo tempo, tão fundamental para o entendimento de sua evolução, quanto para entendermos o próprio mundo e o ser humano que o habita. 8 9 Introdução Popular (feita para o grande público); efêmera (extinção em curto prazo); descartável (facilmente esquecível); barata; produzida em massa; jovem (dirigida para a juventude); espirituosa; sexy; chamativa; glamourosa; e um grande negócio. (Richard Hamilton, 1957). Figura 1 – Whaam! (1963), de Roy Lichtenstein, óleo sobre duas telas (1,75 m x 2,04 m) Fonte: wikimedia/commons Figura 2 – Three Coke bottles (1963), tinta serigráfi ca e grafi te sobre linho (0,5 m x 0,4 m) Fonte: WARHOL, Andy Figura 3– Marilyn Monroe (1967), serigrafi a sobre papel (0,91 m x 0,91 m) Fonte: WARHOL, Andy O mundo contemporâneo tem inúmeras caras, é complexo, dinâmico, plural, cheio de ideias e, consequentemente, polêmico. Alguns teóricos o denominam de Pós-Moderno – há quem fale de Hipermodernidade. A criação artística parte, então, do diálogo e da vivência de quem a produz, enroscada nos contextos social, político, econômico, filosófico, pessoal. Esse mundo se reflete na arte, na postura do artista, no conceito da arte, nas linguagens e, também, no espectador. 9 UNIDADE Pop Art Já na primeira metade do século XX, as colagens cubistas, as performances futuristas e os eventos dadaístas começaram a desafiar o binômio pintura-escultura e a fotografia reivindicava cada vez mais seu reconhecimento como expressão artística. A partir de meados dos anos 1950, houve um forte movimento de quebra de paradigmas: A pintura não morreu, tampouco a escultura. Juntaram-se a elas instalações, objetos, textos, Internet e outros meios. Um elenco complexo e sofisticado de suportes e possibilidades matéricas se abre naturalmente aos artistas, que substituem essa preocupação com o meio por uma outra, ligada ao sentido. Artistas contemporâneos buscam sentido. Um sentido que pode estar alicerçado nas preocupações formais que são intrínsecas à arte e que se sofisticaram no desenvolvimento dos projetos modernistas do século 20, mas que finca seus valores na compreensão (e apreensão) da realidade, infiltrada dos meandros da política, da economia, da ecologia, da educação, da cultura, da fantasia, da afetividade (CANTON, 2001, p. 30). Foi justamente no início dos anos 1950 que, um grupo de jovens artistas e críticos britânicos decidiu que estava na hora de promover novas formas de pensar a arte moderna, a partir da cultura popular e da tentativa de criar arte a partir dela. Surgiu, assim, o Independent Group (Grupo Independente), associado ao Institute of Contemporary Art (ICA) de Londres, Inglaterra. Sentindo que a cultura do pós-guerra seria democrática, inclusiva e acessível, eles argumentavam, de modo convincente, que a arte moderna deveria seguir o exemplo. O grupo rejeitava a dificuldade misteriosa de grande parte da arte moderna anterior, assim como a crença de que arte e vida eram esferas separadas sem pontos de contato. Encontrando-se informalmente no ICA, o crítico de arte Lawrence Alloway e os artistas Eduardo Paolozzi (1924-2005) e Richard Hamilton (1922-2011), entre outros, discutiam a crescente cultura de massa que se manifestava no cinema, na propaganda, na ficção científica, no consumismo, na mídia e nas comunicações, no design de produtos e nas novas tecnologias que se originaram nos Estados Unidos, mas que se espalharam por todo o Ocidente. Três artistas que estudavam no Royal College of Art, em Londres (onde Paolozzi e Hamilton haviam sido contratados paralecionar), Peter Blake (1932-), Joe Tilson (1928-) e Richard Smith (1931- 2016), já produziam uma arte com base nesses preceitos. 10 11 Na época em que concluiu seus estudos no Royal College of Art, em Londres, em 1956, Peter Blake produziu pinturas eminentemente pop. O trabalho do artista é sobrecarregado de objetos disponíveis aos consumidores: revistas e enlatados, cigarros e cartões-postais, eliminando a distinção entre belas-artes e consumo de massa. Ele participaria, também, da cultura pop da década seguinte, desenhando capas de discos para bandas como os Beatles. Figura 4 – Na sacada (1955-57), de Peter Blake, óleo sobre tela (1,21 m x 0,90 m) Fonte: wikimedia/commons Figura 5 – Capa do LP Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band (1967), dos Beatles, colagem criada por Peter Blake e sua esposa Jann Haworth Fonte: wikimedia/commons Ex pl or O temo Pop Art surgiu em um artigo escrito em 1958 por Alloway, entretanto, em 1956, a colagem de Richard Hamilton O que será que torna os lares de hoje tão diferen- tes, tão atraentes? (1956) já trazia estampado “POP” na embalagem de um gigantesco pirulito Tootsie. O trabalho foi a primeira obra a al- cançar o status de ícone. Feita com anúncios tirados de revistas popu- lares americanas, foi criada para a exposição coletiva Isto é o Ama- nhã, organizada pelo Independent Group, em 1956, na Whitechapel Art Gallery, em Londres. Figura 6 – O que será que torna os lares de hoje tão diferentes, tão atraentes? (1956), colagem (0,26 m x 0,25 m) Fonte: HAMILTON, Richard A pequena colagem (26 cm x 25 cm) mostra Charles Atlas, um célebre, halterofilista da época, e uma pin-up glamourosa como o novo casal doméstico. A obra parecia introduzir uma nova era. Uma tira em histórias em quadrinhos e uma lata de presunto tomam o lugar de uma pintura e de uma escultura. Em resumo: um mundo de fantasia consumista, disponível por um bom preço, prometia uma fuga do enfadonho trabalho na vida do pós-guerra na Grã-Bretanha. 11 UNIDADE Pop Art Vejamos o que o crítico de arte Giulio Carlos Argan fala sobre o movimento: A Pop Art, em suma, assinala o ponto de chegada do processo de degradação e de dissolução do objeto enquanto termo individualizado num dualismo cognitivo, em que o outro termo é o sujeito, a pessoa; naturalmente, é também a degradação ou a dissolução da pessoa enquanto sujeito, cuja atividade pensante fundamental consiste em pôr as coisas como diferentes entre si, como objetos (...). É, pois, o fim ou a negação radical da concepção humanista, para a qual a arte era distinção entre sujeito e objeto e definição de sua relação ao mesmo tempo espacial e dialética. (ARGAN, 1992, p. 579) Reino Unido: Quando a Pop Art se torna pop O rápido desenvolvimento da Pop Art como um fenômeno artístico e midiático presente nos continentes europeu e americano ocorreu a partir do início da déca- da de 1960. No Reino Unido, a próxima geração de alunos do Royal College of Art também incorporou motivos da cultura popular a suas colagens e assemblages – reunião de materiais, objetos ou fragmentos não pensados, inicialmente, como materiais de arte – e, entre 1959 e 1962 alcançou notoriedade, principalmen- te com as exposições anuais chamadas Jovens Contemporâneos. Destacaram-se David Hockney (1937-), Allen Jones (1937-), Patrick Caulfield (1936-2005) e R. B. Kitaj (1932-2007) – este, nascido nos Estados Unidos. As obras desses artistas remetiam a um imaginário urbano que se espalhava pela publicidade, pelo grafite e em criações gráficas. Ao contrário da maioria da primeira geração de artistas britânicos, cujas obras eram decididamente figurativas, os artistas da segunda geração introduziram ele- mentos abstratos em seus trabalhos, felizes por não utilizarem apenas o consumis- mo em estilo americano como tema, mas também técnicas associadas aos pintores abstratos norte-americanos. A Arte Pop ofereceu a muitos artistas uma forma de vocabulário que foi dirigido a vários fins, desde a celebração da cultura comercial, até protestos contra a agressão norte-americana na Guerra Fria – período histórico (1945-1991) de disputas estratégicas e conflitos indiretos entre Estados Unidos e União Soviética. Figura 7 – Bathroom Mirror (1968), serigrafia em cores (0,71 m x 0,93 m) Fonte: CAULFIELD, Patrick 12 13 Cada artista tinha seu projeto e sua trajetória. Hockney, por exemplo, pro- duzia pinturas figurativas gestuais carac- terizadas pelo uso do grafite e por uma consciência aguda dos estilos artísticos anteriores. Seu sucesso na exposição Jovens Contemporâneos de 1961 foi tão grande que ele se tornou imedia- tamente uma celebridade e uma figura central da Arte Pop britânica. Suas tea paintings, de 1960 e 1961, nas quais aparecem embalagens do chá Typhoo, seus primeiros nus e até mesmo seu pri- meiro quadro de “piscina”, se basearam em fotos de revistas. Figura 8 – The second tea painting (1961) óleo sobre tela (1,55 m x 0,91 m) Fonte: HOCKNEYH, David O quadro de piscina mais conhecido é Bigger Splash (1967), que se tornou um ícone da arte. No final da década de 1960, entretanto, Hockney manifestava algum conservadorismo estético e apego a valores tradicionais como a importância do desenho da figura humana. Figura 9 – A Bigger splash (1967), tinta acrílica sobre tela (2,43 m x 2,44 m) Fonte: Wikimedia/commons 13 UNIDADE Pop Art Do outro lado do Atlântico – A Pop Art Americana O contexto social, político e econômico do início da década de 1960 caracteri- zado em parte pelo interesse corriqueiro, pela disposição de aceitar o acaso – uma herança do Dadaísmo e o reconhecimento de que na vida as coisas simplesmente acontecem – e um novo senso visual levaram a arte a duas direções: ao Pop e ao Minimalismo (movimento que iremos estudar em outra Unidade desta disciplina). O mundo internacional das artes, na época, era dominado pelo Expressionismo Abstrato, comandado pelos americanos. Entretanto, algumas manifestações inde- pendentes e paralelas ocorridas também nos Estados Unidos começaram a con- testar a hegemonia da arte vigente, a partir da produção de obras com conotações populares. Ironicamente, a Pop Art seria posteriormente identificada (de maneira equivocada) como uma criação norte-americana. Paralelamente ao trabalho dos artistas ingleses, as obras dos norte-americanos Jasper Johns (1930-), como os quadros da bandeira dos Estados Unidos da sua série Bandeira, iniciada em meados da década de 1950; e os trabalhos de Ro- bert Rauschenberg (1925-2008), cujas colagens e “combinações” tridimensionais (combine paintings) uniam pintura, escultura, ilustrações de revistas a símbolos do consumo de massa como em Bed (1955) – uma colcha verdadeira de cama, desar- rumada e suja, e um travesseiro pintado – ou garrafas de Coca-Cola, mostravam um novo tipo de imagem para a arte americana. Essas obras, na realidade, abriram caminho para a Pop Art americana. Mais tarde, os artistas participariam de um breve movimento denominado Neodadá. Figura 10 – Três bandeiras (1958), encausto (cera e pigmentos) sobre tela (0,77 m x 1,15 m x 0,11 m) Fonte: JOHNS, Jasper 14 15 Figura 11 – Cama (1955), combine painting Fonte: RAUSCHENBERG, Robert Recebidos com Incompreensão Nos Estados Unidos, os primeiros anos da década de 1960 foram fundamentais para a Pop Art com as exposições de futuros expoentes do movimento como Roy Lichtenstein (1923-1997), Tom Wesselmann (1931-2004), Claes Oldenburg (1929-), James Rosenquist (1933-) e Andy Warhol (1928-1987). Em um primeiro momento, os cartuns intensamente coloridos de Lichtenstein, como Whaam! (1963) e as reproduções em serigrafia de Warhol, como Lata de sopa Campbell’s (1964), foram recebidos com incompreensão. Ao mesmo tempo, o escultor americano de origem sueca ClaesOldenburg expunha imensas telas hiper-realistas e versões de objetos corriqueiros em espuma de borracha, como o Hambúrguer gigante (1962), identificados como Pop Art. Os consumidores tradicionais das belas-artes desconfiavam da adoção, pelos artistas, do que Lichtenstein chamou de “os traços mais descarados” da cultura comercial de massa contemporânea. A cultura popular dominada pelo dinheiro era exatamente aquilo a que os verdadeiros artistas deveriam se opor. Um ponto de convergência entre a Arte Pop na Grã-Bretanha e nos Estados Unidos é o elemento de classe social. Vários de seus principais representantes como Paolozzi e Warhol, vinham da cultura da classe trabalhadora imigrante, e tinham pouco apreço por hierarquias rígidas. 15 UNIDADE Pop Art Figura 12 – Lata de sopa Campbell’s (1964), serigrafia sobre tela (0,91 m x 0,61 m) Fonte: WARHOL, Andy Figura 13 – Hambúrguer gigante (1962), de Claes Oldenburg, tinta acrílica sobre tela com espuma de borracha e caixas de papelão (1,32 m x 2,14 m) Fonte: Wikimedia/commons A reação da crítica se deu a favor e contra a nova arte. Alguns críticos ficaram afrontados com o acolhimento da “baixa cultura” e com as técnicas da arte comercial. Max Kozloff definiu os artistas pop, em 1962, como “novos vulgares”, “mastigadores de chiclé” e “delinquentes”. Outros consideraram o pop uma nova manifestação de pintura da cena americana ou do realismo social. Em 1973, Kozloff, reconsiderou suas posições. Quer os críticos gostassem, ou não, o certo é que a Arte Pop se mostrava um sucesso comercial. A linguagem transparente da propaganda, que sugeria uma troca simples de dinheiro por gratificação, era familiar à maioria dos ocidentais nos anos 1960. Os artistas pop norte-americanos conheciam esse mundo muito bem, uma vez que vários tinham experiência em design e propaganda. Nos anos 1950, Warhol e Rosenquist desenharam decorações de vitrines para lojas como Tiffany & Co. Warhol também criou anúncios publicitários, artigos de papelaria, capas de livros, entre outros produtos. Rosenquist desenvolveu seu interesse por imagens populares, enquanto se sustentava como pintor de quadros de anúncios. Ocasionalmente, Roy Lichtenstein trabalhava com design comercial e decoração de vitrine. Warhol deixou uma carreira lucrativa e bem-sucedida na propaganda para fazer arte pop. Como um investidor corporativo, diversificou sua carteira de investimentos no final dos anos 1960, passando a incluir música, filmes, moda e edição. 16 17 1960: A Década Pop No início dos anos 1960, a arte produzida pelos artistas pop era chamada pelos críticos de diversos nomes, incluindo Novo Realismo, Arte Factual e Neodadá, entre outros, movimentos que acabaram se descolando da Pop Art. Entretanto, o termo britânico Pop Art venceu e foi adotado para designar a nova arte. Lawrence Alloway, que havia sido nomeado curador do Museu Guggenheim, em Nova York, ajudou a popularizar o nome nos Estados Unidos. Os artistas norte-americanos estavam unidos por um estilo semelhante no uso de cores vibrantes e de desenho simplificado, assim, como às vezes, por um tema comum, interesse por revistas em quadrinhos, pelo cinema de Hollywood e por fontes fotográficas. Como ocorria com seus contemporâneos britânicos – cuja obra eles não conheciam – não tinham nenhum programa, não lançaram manifestos de grupo e continuaram a trabalhar de forma individual, depois que foram identificados como os principais elementos da nova ordem artística. Embora não tivessem precursores teóricos, os norte-americanos se inspiraram na postura estética do compositor John Cage (1912-1992), cuja receptividade aos ruídos mais insignificantes e mesmo, aparentemente, triviais chamou a atenção dos artistas para as minúcias do mundo que os cercava. A Arte Pop difundiu-se pelos Estados Unidos e pela Europa, por meio de inúmeras exposições em museus e galerias. Los Angeles se mostrou um lugar particularmente receptivo, com suas tradições artísticas estratificadas e uma população jovem, abastada e disposta a colecionar arte contemporânea. Em meados da década de 1960, o significado do termo “pop” começou a se expandir para vários aspectos da cultura popular urbana. Restaram dois significados: o que se refere às belas-artes e outro uma definição cultural, ampla, que engloba música pop, cultura pop, ficção pop, etc. No final de 1962, um simpósio sobre a Pop Art, realizado no Museu de Arte Moderna de Nova York, levantou algumas questões que embalavam a produção artística do momento. Um dos participantes, o crítico Henry Geldzahler, comentou: “A imprensa popular – especialmente e, de modo muito típico, a revista Life –, a tela grande do cinema, com seus closes em preto e branco e tecnicolor, os espetáculos extravagantes dos anúncios e, finalmente, a introdução, via televisão, deste apelo espalhafatoso ao nosso olhar dentro de casa, tudo isso se tornou disponível à nossa sociedade, e também ao artista, um imaginário tão disseminado, persistente e compulsivo que tinha que ser notado”. Como a Arte Pop havia se inspirado no design comercial e na cultura popular, ela acabou também se voltando para a propaganda, para os produtos de consumo, moda, decoração de interiores e, naturalmente, para o design comercial. Duas das mais famosas criações pop nas artes gráficas são do designer norte-americano Milton Glaser (1929-): um adesivo com um coração vermelho e o texto “I Love NY” e o pôster com Bob Dylan. 17 UNIDADE Pop Art Figura 14 – Criações de Milton Glaser (1929) Fonte: GLASER, Milton No mobiliário, o pop influenciou os designers italianos Jonathan De Pas, Donato D’Urbino e Paolo Lomazzi, que criaram a poltrona Blow, que em português significa “sopro”, a primeira cadeira inflável do mundo. O apelo ao lúdico na forma, no material e nas cores a enquadra como um dos objetos característicos do Pop Design. A peça é um resumo do que os designers julgavam ser essencial em uma cadeira, ou seja, que fosse leve e, portanto, fácil de transportar, além de barata. O grupo também criou o Sofá Joe, em 1971, em homenagem ao jogador de beisebol Joe DiMaggio. A concepção do móvel provavelmente atende ao desejo do norte- americano Charles Eames, considerado pai do design orgânico, que gostaria que sua cadeira fosse tão confortável quanto uma luva de beisebol. A arte e o design pop fazem parte de uma reação ao domínio dos estilos modernistas do pós-guerra, a partir de uma rejeição à extrema seriedade, à angústia e ao elitismo associados ao Expressionismo Abstrato e à Arte Informal. Essa reação está ligada a uma época de prosperidade econômica e de expansão do mercado de arte em nível internacional. Figura 15 – Cadeira Blow (Sopro), criada em 1967 Fonte: PAS, Jonathan De, D’URBINO, Donato e LOMAZZI, Paolo 18 19 Figura 16 – Sofá Joe (1971) Fonte: PAS, Jonathan De, D’URBINO, Donato e LOMAZZI, Paolo Em 1964, a Pop Art norte-americana foi mostrada na Bienal de Veneza, representada por Jasper Johns, Jim Dine e Claes Oldenburg. O movimento ganhou repercussão mundial. Robert Rauschenberg ganhou o Grande Prêmio Internacional de Pintura – a primeira premiação a um artista dos Estados Unidos em Veneza. Pelo resto da década, a Arte Pop foi presença obrigatória em exposições internacionais. Combinada a esse reconhecimento, veio a valorização das obras, especialmente de Warhol e de Lichtenstein. No início dos anos 1980, eles estavam ganhando mais de um milhão de dólares por ano. Os artistas pop, ao se voltarem para a cultura do consumidor como tema de sua obra, tornaram-se homens do mundo. Promovidos por marchands agressivos, colecionadores conhecidos e novos ricos, os artistas pop rapidamente angariaram fama e fortuna concedidas às celebridades que, várias vezes, eles retratavam. Seja bem-vindo a The Factory, a “Fábrica” deMr. América Figura 17 – Ilustração de João Menoni com base na fotografi a Self-portrait (Fright Wig), 1986 Fonte: MENONI, João 19 UNIDADE Pop Art A exposição de Andy Warhol na Ferus Gallery, em Los Angeles, em 1962, foi marcante. Ele apresentou 32 telas pintadas com latas individuais de sopa Campbell’s apoiadas sobre uma estreita prateleira ao longo das paredes. Pinturas subsequentes com múltiplas imagens de latas de sopa, garrafas de Coca-Cola, cupons de desconto e dinheiro reiteraram a ideia das obras de arte como mercadorias, que seria ainda mais reforçada, em 1964, pelas pilhas de Caixa de Brillo. O artista apresentou as caixas na exposição The American Supermarket, realizada em Nova York, e as vendeu por 350 dólares cada. O evento foi fundamental para a aceitação da Pop Art nos Estados Unidos. Em outra exposição, na galeria de Leo Castelli, Warhol cobriu as paredes com uma imagem repetida de flor, e na Stable Gallery, encheu o espaço com reproduções de caixas de sopa Campbell’s. Mais tarde, em 1966, também na galeria de Castelli, o artista “redecorou” o local com Papel de parede – Vaca (rosa no amarelo). Figura 18 – Campbell’s Soup Cans (1962), ou 32 Latas de Sopa Campbell’s, pintura sintética de polímero sobre tela (cada tela: 0,5 m x 0,4 m) Fonte: WARHOL, Andy Figura 19 – Cinco garrafas de Coca (1962), tinta polimerizada sintética e tinta de serigrafia sobre tela (0,4 m x 0,5 m) Fonte: WARHOL, Andy 20 21 Figura 20 – Caixas Brillo (1964), esmalte sobre compensado (0,43 m x 0,51 m x 0,43 m) Fonte: WARHOL, Andy Figura 21 – Cow Wallpaper – Rosa no amarelo (1966), serigrafi a em papel de parede Fonte: WARHOL, Andy Warhol entendia o mercado melhor que qualquer outro artista pop, praticamen- te abandonou a tradicional pintura de cavalete, em 1962, para se concentrar na serigrafia. A vantagem dessa técnica em relação à pintura vinha da produção de múltiplas cópias de imagens únicas, de modo que mais pessoas podiam comprar a mesma obra. O artista confessou, em 1975: “Ser bom nos negócios é o mais fascinante tipo de arte (...). Ganhar dinheiro é arte, trabalhar é arte e um bom ne- gócio é a melhor arte”. Ele entendia que os artistas, ao invés de pertencerem a uma linhagem à parte ou a uma irmandade sagrada alienada da cultura, faziam parte do mundo contemporâneo tanto quanto qualquer homem de negócios bem-sucedido. 21 UNIDADE Pop Art Quando produzia com os assistentes de seu ateliê, denominado The Factory (A Fábrica), inaugurado em Nova York, em 1963, Warhol era capaz de “fabricar” obras em massa, garantindo a ele uma maior parcela do mercado da arte. Ao morrer, em 1987, deixou um espólio avaliado em mais de 100 milhões de dólares e era tão conhecido em todo o mundo quanto Picasso. Nas mãos do artista, caixas de sucrilhos Kellogg’s, pêssegos Del Monte e de sopas Campbell’s significavam abundância em uma escala inimaginável antes da guerra, como faziam as serigrafias de Warhol. Era um mundo duplicado de objetos postos à venda. As coisas representadas nas pinturas estavam, agora, disponíveis a pessoas de quase todas as classes, enquanto as próprias pinturas, que se mostravam altamente vendáveis como mercadorias de arte, estavam igualmente disponíveis, especialmente quando reproduzidas como gravuras, pôsteres e cartões postais. Desse modo, os artistas pop podiam usar o sucesso de mercado de certos produtos amplamente conhecidos – como a Coca-Cola, por exemplo – para ajudar a vender seu próprio trabalho. Filmes, Música e Revista by Warhol A partir de 1963, Warhol passa a fazer filmes experimentais. Com o uso da câmera fixa, ausência de estrutura narrativa e grandes durações, Sleep, de 1963, mostra um homem dormindo; e, em Império, de 1964, uma tomada estática do edifício Empire State, em Nova York. O artista mostra uma nova relação entre o tempo real e o tempo fílmico ao pesquisar a qualidade da atenção dada pela audiência, quando confrontada com imagens pictóricas. Mas, seus filmes tornaram-se mais sofisticados, com a inclusão de som e de argumento como Chelsea Girls, de 1966, rodado no famoso Hotel Chelsea, em Nova York, e em outros locais da cidade. É o filme mais conhecido do artista, sendo um marco no cinema experimental e também por apresentar uma tela dividida ao meio, sendo que um lado é preto e branco, e o outro, colorido. Foi um dos primeiros filmes underground a ser apresentado em uma sala de cinema comercial. Outro filme interessante dirigido por Warhol foi Salvador Dalí (1966) com 35 minutos de duração, que mostra o pintor surrealista visitando a The Factory e conhecendo a banda de rock The Velvet Underground, produzida por Warhol. Além de empresário, ele era amigo e guru do grupo. Em 1969, ele publica a primeira edição da revista Interview, da Warhol Enterprises Inc. e, em 1971, cria a capa do disco Sticky Fingers, dos Rolling Stones. 22 23 Figura 22 – Warhol fez a capa do icônico LP The Velvet Underground & Nico (1967),um dos maiores símbolos da cultura pop Fonte: WARHOL, Andy 15 Minutos de Fama A conhecida e famosa previsão de Andy Warhol de que “No futuro, todos serão mundialmente famosos por 15 minutos” rendeu – e ainda rende – muitos comentários. O prognóstico tinha como base dois temas de grande interesse para os artistas pop: meios de comunicação de massa – a partir do boom ocorrido, na época, da televisão e das revistas populares que celebravam a abundância norte- americana – e o mundo das celebridades, no qual a fama dependia do reconhecimento público, por meio da exposição na mídia. Talvez mais do que qualquer outro artista pop, ele tenha entendido a necessidade de imagens facilmente reconhecíveis e infinitamente repetidas para estabelecer a fama por meio da mídia. 23 UNIDADE Pop Art A morte Marilyn Monroe, em 1962, e a ado- ção da serigrafia deram a Warhol seu primeiro ícone e uma forma eficiente para efetivar seu trabalho. Ele escolheu uma fotografia de publici- dade, quando Marilyn era jovem, cortou-a para chamar a atenção para o rosto dela – especial- mente o cabelo ligeiramente despenteado, os lábios cheios e os olhos sonolentos – e a impri- miu em uma série de telas. Warhol encontrou na atriz a fusão de dois dos temas mais recorrentes em toda a sua obra: a morte e o culto à celebri- dade. O contraste entre cor e preto-e-branco na tela de Díptico de Marilyn (1962), composta por 50 representações da atriz, sugerem, segun- do a crítica, uma mortalidade inevitável. Além de Marilyn, ele produziu serigrafias coloridas dos rostos de celebridades como Elvis Presley, Jac- queline Kennedy e Elizabeth Taylor, e políticos e líderes como Che Guevara e Mao Tsé-tung, entre outras personalidades. Figura 23 – Marilyn Monroe dourada (1962), tinta polimerizada sintética serigrafada e óleo sobre tela (2,11 m x 1,44 m) Fonte: WARHOL, Andy Figura 24 –Díptico de Marilyn (1962), tinta de serigrafia sobre tinta polimerizada sintética sobre tela (2,08 m x 2,89 m) Fonte: WARHOL, Andy 24 25 Estas obras foram um grande sucesso, o que não aconteceu com a sua série Death and Disaster (Morte e Desastre), que consistia em reproduções monocro- máticas de desastres brutais de automóvel, suicídios, de uma nuvem em forma de cogumelo e de uma cadeira elétrica. Todas as serigrafias derivaram de fontes da mídia e reduziam significativamente o glamour, por exemplo, de se dirigir em uma estrada aberta, enquanto que os suicídios (sendo o mais famoso o de Marilyn Monroe) sugeriam a falência das promessas de riqueza e de felicidade da mídia e o desespero de muitas pessoas que não encontraram a tal “felicidade”. A forma de cogumelo marcava os 20 anos da explosão da bomba atômica no Japão, em 1945, e a cadeira elétrica era o emblema mais público da crença dos norte-ameri- canos na pena capital. A série detrabalhos de Warhol abranda a nossa capacidade de ler a Pop Art como aceitação conformada da vida contemporânea. O artista volta-se para outras avaliações e irônicas especulações sobre a condição humana. Figura 25 – Cadeira elétrica (1964), serigrafi a e tinta acrílica sobre tela (0,56 m x 0,71 m) Fonte: WARHOL, Andy Figura 26 – Ambulance disaster (1963-64), tinta serigráfi ca e acrílica sobre linho (3,02 m x, 2,03 m) Fonte: WARHOL, Andy 25 UNIDADE Pop Art A Arte Pop Veio, Fez e Venceu No decorrer de uma década inteira, a Pop Art foi um dos movimentos centrais na arte inglesa e norte-americana, criando vários talentos, modificando significativamente o curso da arte no mundo e reconfigurando o entendimento de cultura do século XX. O movimento evitou a rigidez e a censura de algumas manifestações do Modernismo, em favor de uma arte que era visual e verbal, figurativa e abstrata, criada e apropriada, artesanal e produzida em massa, irônica e sincera, tão complexa quanto o momento no qual os artistas lhe deram vida. No fim dos anos 1960 a Pop Art arrefeceu rapidamente, embora muitos artistas continuassem a produzir bons trabalhos nesse estilo. Algumas obras pop ficaram tão ligadas à época em que foram criadas que seu maior valor nos dias de hoje é como objeto de registro e de lembrança. Londres espetacular 67 (1967), de Richard Hamilton, reprodução de uma fotografia, que mostra Mick Jagger e o marchand Robert Fraser algemados depois de uma apreensão policial de drogas, é um bom exemplo. Figura 27 – Londres espetacular 67 (1967), tinta acrílica, emulsão, serigrafia e colagem sobre tela (0,67 m x 0,85 m) Fonte: HAMILTON, Richard A Pop Art foi um dos primeiros movimentos artísticos pós-modernos e também uma das primeiras tentativas sérias para se tentar descobrir qual é o lugar do artista e do seu produto – a obra de arte única, assinada pelo autor – no mundo moderno do consumo e da comunicação de massa. Apesar de sua ambição de romper a barreira entre cultura e elite e cultura de massa, os artistas pop acabaram, quase que invariavelmente, criando obras para as galerias de arte e os colecionadores, com elevados preços. Excepcionalmente, cruzaram a fronteira da cultura popular, especialmente com a criação de capas de discos de música pop. 26 27 Pop Art no Brasil A Guerra Fria – período histórico (1945-1991) de disputas estratégicas e conflitos indiretos entre Estados Unidos e União Soviética – respingou na América Latina entre pan-americanismo e latinoamericanidad, sendo Cuba o pivô dessa dicotomia. Em apoio ao pan-americanismo ocorreram diversas exposições latino- americanas nos Estados Unidos, mas, em oposição à integração das Américas surge uma consciência de identidade de América Latina, excludente dos Estados Unidos, alimentada por esperanças e por transformações da Revolução Cubana. A crise do objeto e do conceito moderno de arte, trazida pela Pop Art, abria a possibilidade de novas pesquisas artísticas no Brasil, dentro de um contexto social e político específico. As mostras Nova Figuração da Escola de Paris (1963) e Opinião 65 (1965), realizadas no Rio de Janeiro; e Proposta 65 (1965), realizada em São Paulo, mostraram um novo posicionamento dos artistas brasileiros, com forte presença do movimento pop em forma e técnica, mas não em conteúdo, especialmente nas obras de Rubens Gerchman (1942-2008) e Antonio Dias (1944-). Entretanto, ligada diretamente aos Estados Unidos, a influência pop era um incômodo para muitos artistas, por relacionar-se ao “centro do imperialismo mundial”. De acordo com Paulo Herkenhoff, curador, crítico e historiador de arte brasileiro, Wesley Duke Lee – artista paulistano, que morou em Nova York entre 1952 e 1955 – polemizou sobre a ocorrência da Arte Pop no Brasil: “Não creio que estivesse recebendo influência da pop”. Conforme o autor, “Proliferam artistas brasileiros que negam referências históricas óbvias”. A ditadura brasileira, segundo ele, “empurrou o grupo concretista para o impasse e para a adesão ao vocabulário pop (Geraldo de Barros, Waldemar Cordeiro, Judith Lauand e Maurício Nogueira Lima)” (HERKENHOFF, P. Andy Warhol Mr. America, 2010). Figura 28 – O helicóptero (1969), instalação, polimatérica (Ø 4 m) Fonte: LEE, Wesley Duke 27 UNIDADE Pop Art A leitura mais crítica da Arte Pop pelos artistas brasileiros em Opinião 65 e a discussão do Realismo, presente em Propostas 65, buscavam uma nova condição da produção artística ao reforçarem a ligação do debate artístico com a realidade. A obra de Warhol, por exemplo, mostra os meios de comunicação de massa, da publicidade e das celebridades, enquanto a produção artística brasileira estava voltada para o analfabetismo, a censura e o subdesenvolvimento. Em 1972, Warhol surpreendeu com a série Mao (1972), consequência da visita do presidente Nixon à China de Mao Tsé-Tung. A tortura no Brasil encontra em Introdução a uma nova crítica (1969), de Cil- do Meireles (1948-) uma aflição: uma tenda sob a qual se encontra uma cadeira comum forrada com pontas de prego. Se a obra de Warhol associava noções de glamour, no Brasil executava-se o kitsch como em O rei do mau gosto (1966), de Gerchman. Figura 29 – Introdução a uma nova crítica (1969), tenda com uma cadeira cravejada de pregos em seu assento Fonte: MEIRELES, Cildo Figura 30 – O rei do mau gosto (1966), acrílico, vidro bisoté e asas de borboleta sobre madeira (2 m x 2 m) Fonte: GERCHMAN, Rubens Parâmetros ideológicos de três ícones pop receberam contornos próprios no Brasil: Coca-Cola, Marilyn Monroe e Che Guevara. Os dois personagens mais importantes da obra pictórica de Gerchman, Lindoneia – A Gioconda do subúrbio (1966) e Monalou (1975) mostram a tradução de ícones fundamentais de Warhol: Gold Marilyn Monroe (1962) e a Mona Lisa (1963). Figura 31– Lindoneia - A Gioconda do subúrbio (1966), vidro, colagem e metal sobre madeira (0,6 m x 0,6 m) Fonte: GERCHMAN, Rubens 28 29 Figura 32 – Monalou (1975), tinta óleo sobre fotografi a colada em Eucatex (0,63 m x 0, 42 m) Fonte: GERCHMAN, Rubens Assim como alguns artistas pop ingleses e norte-americanos, Gerchman também criou uma capa de disco para o LP Tropicália ou panis et circencis, em 1968. O álbum de estúdio contava com Caetano Veloso, Gal Costa, Gilberto Gil, Nara Leão, Os Mutantes e Tom Zé, acompanhados dos poetas Capinam e Torquato Neto, e do maestro Rogério Duprat, responsável pelos arranjos. Figura 33 – Capa do LP Tropicália ou panis et circencis (1968) Fonte: GERCHMAN, Rubens 29 UNIDADE Pop Art Che Guevara seria o ícone de lutas revolucionárias latino-americanas no final dos anos 1960 – lembrado por Warhol – e, na década seguinte, consumido como pop star. Da utopia de Che surgiram obras de Gerchman e Claudio Tozzi (1944-), além de outros artistas brasileiros e na América Latina e em outras partes do mundo. Figura 34 – Che Guevara (1962), serigrafia (0,9 m v 0,6 m) Fonte: WARHOL, Andy Figura 35 – Che Guevara (1967), acrílica sobre papel (0,6 m x 0.4 m) Fonte: GERCHMAN, Rubens Figura 36 – Guevara, vivo ou morto (1967), tinta em massa e acrílica sobre aglomerado (1,75 m x 3 m) Fonte: TOZZI, Claudio Cildo Meireles gravou, em 1970, em garrafas de Coca-Cola (embalagens de retorno) informações e opiniões críticas, e as devolveu à circulação. Utilizou o processo de serigrafia com tinta branca vitrificada, que não aparece quando a garrafa está vazia, mas sim quando está cheia, quando fica visível a inscrição contra o líquido. Na Cosmococa intitulada CC5 HENDRIX WAR (1973), Hélio Oiticica (1937-1980) e o cineasta Neville d’Almeida (1941-) incluíram uma caixa de fósforos com a marca Coca-Cola, fazendo alusão à cocaína. 30 31 Figura 37– Inserções em circuitos ideológicos: Projeto Coca-Cola (1970), garrafas de Coca-Cola(decalque em serigrafi a) Fonte: MEIRELES, Cildo Figuras 38 e 39 – CC5 HENDRIX WAR (1973), de Hélio Oiticica (1937-1980) e do cineasta Neville d’Almeida, instalação com projetores, slides, redes, trilha sonora e equipamento de áudio Fonte: OITICICA, Hélio e ALMEIDA, Neville d’ Pintor, desenhista, cenógrafo, Nelson Leirner (1932-) apresentou, a partir da década 1960, uma obra experimental e transgressiva, buscando espaços alterna- tivos para a prática artística, com engajamento político frente à ditadura. A partir do popular cria uma obra repleta de ironia e de polêmica. Questionador, utilizou diversas linguagens para reflexão sobre a arte no mundo e na própria sociedade. Leirner foi um dos artistas pioneiros no modo de levar o humor a sério, trazendo-o para o centro da produção cultural sob formas e ações transgressivas. No final da década de 1960, apresenta serigrafias com nítida influência pop nas cores, formas e na repetição, não só em obras bidimensionais. 31 UNIDADE Pop Art Figura 40 – Que horas São Dona Cândida? (1965), de Nelson Leirner, metal e madeira (2,20 m x 2,20 m) Fonte: LEIRNER, Nelson Figura 41 – Projeto Care (1967) Fonte: LEIRNER, Nelson Figura 42 – O mosqueteiro (1967), serigrafia sobre tecido (1.31 m x 1,35 m) Fonte: LEIRNER, Nelson 32 33 Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Sites Andy Warhol Museum A coleção inclui 900 quadros, cerca de 100 esculturas, cerca de 2 mil obras sobre papel, mais de mil publicados e únicas impressões e 4 mil fotografias. http://www.warhol.org/ Philadelphia Museum of Art Mais de 112 mil objetos da coleção do Museu estão disponíveis no banco de dados das coleções on-line. http://www.philamuseum.org/ Livros O que é arte? GERCHMAN, C. O que é arte?. São Paulo: J.J. Carol/Funarte, 2013. O livro apresenta a obra do artista plástico brasileiro Rubens Gerchman. Disponível para download gratuito em: https://goo.gl/ieVuxu O que é arte? GOMPERTZ, W. O que é arte? Rio de Janeiro: Zahar, 2013. Original, irreverente, acessível e tecnicamente impecável, o livro conduz o leitor por uma viagem através de mais de 150 anos de arte moderna, do Impressionismo até os dias de hoje. Filmes Basquiat – Traços de uma vida Direção: Julian Schnabel, 1996, cor, 1h48min, Estados Unidos. Sinopse: A história de Jean-Michel Basquiat, que começou sua carreira de artista morando nas ruas de Nova York e se tornou nome importante da arte contemporânea. Ainda nas ruas, Baquiat conhece o célebre Andy Warhol (David Bowie), mostra-lhe suas pinturas e consegue sua ajuda para entrar na alta roda do mundo das artes. Mas sua trajetória, que inclui romances, drogas, rebeldia, crítica e desprezo ao dinheiro, termina rapidamente, com sua morte aos 27 anos, em 1988. Retrato completo de Andy Warhol Direção: Chris Rodley, 2002, cor, 1h40min, Grã-Bretanha. Sinopse: um dos documentários mais completos sobre a vida de Andy tem segredos revelados por irmãos, amigos, colegas e jornalistas. Mais de 60 entrevistas com amigos próximos de Warhol, colaboradores, os astros, as coortes de Fábrica e da família, bem como filósofos ilustres, historiadores de arte e comentaristas culturais, constituem um perfil documental sem precedentes em sua profundidade, alcance e escala. The Velvet Underground & Nico Direção: Andy Warhol, 1966, pb, 1h10min, Estados Unidos. Sinopse: a vocalista Nico e os músicos da banda fazem uma performance ensurdecedora na Factory, ateliê de Warhol em Nova York, que termina com a chegada da polícia depois de diversas reclamações dos vizinhos. 33 UNIDADE Pop Art Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Visite Instituto Cultural Inhotim Um dos mais relevantes acervos de arte contemporânea do mundo e uma coleção botânica que reúne espécies raras e de todos os continentes. Os acervos são mobilizados para o desenvolvimento de atividades educativas e sociais para públicos de faixas etárias distintas. Rua B, 20, Brumadinho/MG, fone: 31 3571-9700. Terça a sexta- feira: 9h30 às 16h30; sábado, domingo e feriado: 9h30 às 17h30. www.inhotim.org.br 34 35 Referências ARCHER, M. Arte contemporânea – Uma história concisa. São Paulo: Martins Fontes, 2001. ARGAN, G. C. Arte moderna. São Paulo: Companhia das Letras, 1992. BELL, J. Uma nova história da arte. São Paulo: Martins Fontes, 2007. CANTON, K. Novíssima Arte Brasileira – um guia de tendências. São Paulo: Iluminuras Ltda., 2001. CAUQUELIN, A. Arte contemporânea – Uma introdução. São Paulo: Martins Fontes, 2005. DEMPSEY, A. Estilos, escolas e movimentos – Guia enciclopédico da arte moderna. São Paulo: Cosac & Naify, 2003. FARIAS, A. Arte brasileira hoje. São Paulo: Publifolha, 2002. FARTHING, S (org.). Tudo sobre arte – Os movimentos e as obras mais importantes de todos os tempos. Rio de Janeiro: Sextante, 2011. GRAHAM-DIXON, A. (ed.). Arte – O guia visual definitivo da arte: da pré- história ao século XXI. São Paulo: Publifolha, 2012. LARRATT-SMITH, P. Andy Warhol, Mr. America. São Paulo: Pinacoteca do Estado, 2010. REIS, P. R. O. Arte de vanguarda no Brasil: os anos 60. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2006. SESI-SP. Nelson Leirner 2011-1961 = 50 anos. São Paulo: Sesi-SP Editora, 2011. Sites Visitados PENHA, N. G. Pop Arte e a linguagem publicitária: relação entre imagem e texto. Instituto de Artes / Departamento de Artes Visuais / Universidade de Brasília, 2012. Disponível em: http://bdm.unb.br/bitstream/10483/5661/1/2012_ NormaGonzagadaPenha.pdf Acessado em 07 de jul de 2016. SÁ, J. R. C. de, SOCORRO, J. M. R. e DEMARCHI, R. C. (orientadora). Arte Pop, indústria cultural e Publicidade: um estudo iniciante sobre a sedução. Centro de Comunicação e Letras / Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo/SP. Disponível em: http://www.mackenzie.br/fileadmin/Graduacao/CCL/ Pesquisa_e_Extensao/Arte_Pop_industria_cultural_e_publicidade_Um_estudo_ iniciante_sobre_a_seducao.pdf Acessado em 07 de jul de 2016. VEIGA NETTO, J. C. “Pop Art” com Sotaque Brasileiro. 16° Encontro Nacional da Associação Nacional de Pesquisadores de Artes Plásticas Dinâmicas Epistemológicas em Artes Visuais, Florianópolis/SC, 2007. Disponível em: http://anpap.org.br/ anais/2007/2007/artigos/022.pdf Acessado em 07 de jul de 2016. 35
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