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Indaial – 2019 Direito ConstituCional Ana Paula Tabosa dos Santos Sanches Anderson de Miranda Gomes Gabriela Wolff 1a Edição Copyright © UNIASSELVI 2019 Elaboração: Ana Paula Tabosa dos Santos Sanches Anderson de Miranda Gomes Gabriela Wolff Revisão, Diagramação e Produção: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. Impresso por: SA194d Sanches, Ana Paula Tabosa dos Santos Direito constitucional. / Ana Paula Tabosa dos Santos Sanches; Anderson de Miranda Gomes; Gabriela Wolff. – Indaial: UNIASSELVI, 2019. 231 p.; il. ISBN 978-85-515-0423-9 1. Direito constitucional. - Brasil. I. Sanches, Ana Paula Tabosa dos Santos. II. Gomes, Anderson de Miranda. III. Wolff, Gabriela. IV. Centro Universitário Leonardo Da Vinci. CDD 342.1 III apresentação Caro acadêmico! Seja bem-vindo à disciplina Direito Constitucional! O Direito Constitucional é o ramo do direito que se dedica à análise e interpretação das normas constitucionais, que são as Leis Supremas do Estado. Ele tem a função de regulamentar o poder estatal, delimitando-o e garantindo os direitos considerados fundamentais dos indivíduos. O Direito Constitucional aborda as normas organizacionais do funcionamento do Estado relativas a sua constituição política e comercial. Trata-se de uma disciplina estruturante na formação básica do curso de Ciência Política, pois apresenta a construção e a organização política e jurídica contemporânea dos Estados. Sendo assim, tal disciplina é essencial para o diálogo interdisciplinar requerido pelo campo das Ciências Políticas. Nesse contexto, abordaremos as funções do Estado, como nós o conhecemos, desde a sua formação e reformulação ao longo do processo histórico. É buscada uma reconstituição das perspectivas políticas e jurídicas do Estado, com passagem do Estado Liberal para o constitucionalismo social até se chegar ao Estado Democrático de Direito. Nesse contexto, esse material busca entender o Estado como resultado dos fenômenos históricos e políticos, sob uma perspectiva teórica que demanda a compreensão de alguns conceitos pertinentes à Ciência Política para desenvolver uma reflexão jurídica da estrutura e conjuntura do Estado. Esse ator central de nossa disciplina está intrinsecamente atrelado à sociedade civil, construindo os alicerces de um discurso democrático e potencializando as inevitáveis transformações sociais. Destarte, tal disciplina representa uma importante ferramenta para a capacitação profissional do acadêmico, ampliando o seu campo de atuação nas atividades que englobam as arenas teóricas e práticas das Ciências Políticas. A Unidade 1, deste livro didático, está dividida em três tópicos que servirão de base para que o acadêmico possa entender a formação do Direito Constitucional dentro dos Estados Contemporâneos e como esse é responsável por assegurar a estabilidade social dentro dos territórios nacionais. O Tópico 1 traz uma revisão cronológica do Estado, desde sua fundação mais remota, passando pelas diversas transformações históricas e culminando na estrutura Estatal, a qual nos é familiar. O Tópico 2 refere-se à Ciência Política como disciplina que está intrinsicamente ligada ao Estado Contemporâneo. Por fim, no Tópico 3, tem-se a centralização e descentralização do Estado como forma de organização política e jurídica do território. IV Na Unidade 2 está apresentada a configuração da Teoria Geral do Estado como uma ciência que possui conceitos responsáveis por deflagrar alguns institutos como, por exemplo, a política, o direito e a sociedade. O objetivo principal do Tópico 1 é trazer essa perspectiva do Direito Constitucional como responsável pela manutenção da ordem social e política do território Nacional, personificado pelas instituições que compõe o Estado. O Tópico 2 aborda os elementos e as características que constituem o Estado. Por fim, o Tópico 3 traz a discussão sobre o que significa o Estado de Direito e suas características. A Unidade 3 traz a íntima relação entre a política e o Estado, principalmente os aspectos mais contemporâneos dessa relação. Assim, no Tópico 1, será abordado e aprofundado o conhecimento acerca das Formas e Regimes de Governo no Estado. O Tópico 2 tem por objetivo apresentar os conceitos de constitucionalismo, em suas vertentes jurídica, sociológica e econômica, bem como esse importante instituto afeta diariamente a construção de uma sociedade justa e igualitária. No Tópico 3, o propósito é esmiuçar o histórico constitucional brasileiro, bem como a atual Constituição e seus desdobramentos, a origem das Constituições, os avanços, os direitos e deveres que cada uma proporcionou, os princípios resguardados, os tipos de ações tuteladas como também as novas perspectivas esperadas para os próximos anos. Bons estudos! Prof. Anderson de Miranda Gomes Profª. Ana Paula Tabosa dos Santos Sanches Profª. Gabriela Wolff V Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novidades em nosso material. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto em questão. Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar seus estudos com um material de qualidade. Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes – ENADE. Bons estudos! NOTA VI VII Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma disciplina e com ela um novo conhecimento. Com o objetivo de enriquecer seu conhecimento, construímos, além do livro que está em suas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, por meio dela você terá contato com o vídeo da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complementares, entre outros, todos pensados e construídos na intenção de auxiliar seu crescimento. Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo. Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada! LEMBRETE VIII IX UNIDADE 1 – O ESTADO E A CIÊNCIA POLÍTICA ........................................................................1 TÓPICO 1 – A EVOLUÇÃO DO ESTADO E DAS SOCIEDADES POLÍTICAS ..........................3 1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................................................3 2 ESTADO ANTIGO: ESTADO TEOCRÁTICO .................................................................................3 3 O ESTADO GREGO ...............................................................................................................................5 4 ESTADO MEDIEVAL.............................................................................................................................9 5 ESTADO MODERNO ..........................................................................................................................136 ESTADO LIBERAL ..............................................................................................................................17 7 ESTADO CONTEMPORÂNEO .........................................................................................................19 RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................22 AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................23 TÓPICO 2 – A CIÊNCIA POLÍTICA E ESTADO ..............................................................................25 1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................25 2 CONCEITO DE SOCIEDADE ............................................................................................................26 2.1 A INTERPRETAÇÃO DA TEORIA ORGANICISTA DA SOCIEDADE .................................27 2.2 A INTERPRETAÇÃO DA TEORIA MECANICISTA DA SOCIEDADE .................................28 2.3 A INTERPRETAÇÃO DA TEORIA ECLÉTICA DA SOCIEDADE .........................................29 3 SOCIEDADE E COMUNIDADE ......................................................................................................29 4 CONCEITO DE ESTADO ..................................................................................................................30 5 SOCIEDADE E O ESTADO ...............................................................................................................32 6 NAÇÃO E ESTADO .............................................................................................................................33 7 AS CARACTERÍSTICAS MATERIAIS DO ESTADO...................................................................35 RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................37 AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................38 TÓPICO 3 – ESTADO, CENTRALIZAÇÃO E DESCENTRALIZAÇÃO POLÍTICA .................41 1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................41 2 CENTRALIZAÇÃO E DESCENTRALIZAÇÃO COMO CONCEITOS JURÍDICOS .............41 2.1 CONCEITO ESTÁTICO DA CENTRALIZAÇÃO E DESCENTRALIZAÇÃO .......................42 3 CRITÉRIOS DOS GRAUS DE CENTRALIZAÇÃO E DESCENTRALIZAÇÃO .....................43 3.1 MÉTODO PARA RESTRINGIR A ESFERA TERRITORIAL DE ATUAÇÃO ..........................44 4 CONCEITOS ESTÁTICOS E DINÂMICOS DE CENTRALIZAÇÃO E DESCENTRALIZAÇÃO ......................................................................................................................44 4.1 AS FORMAS DE GOVERNO E SUA ORGANIZAÇÃO ............................................................45 4.2 DEMOCRACIA E DESCENTRALIZAÇÃO ................................................................................46 5 ESTADO FEDERAL E CONFEDERAÇÃO DE ESTADOS ...........................................................47 5.1 DISTRIBUIÇÃO DAS COMPETÊNCIAS EM UM ESTADO FEDERAL ................................50 LEITURA COMPLEMENTAR ...............................................................................................................56 RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................59 AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................60 sumário X UNIDADE 2 – TEORIA GERAL DO ESTADO ..................................................................................63 TÓPICO 1 – TEORIA GERAL DO ESTADO......................................................................................65 1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................65 2 ASPECTOS ESPECÍFICOS DATEORIA GERAL DO ESTADO .................................................65 3 A RELAÇÃO ENTRE O DIREITO E TEORIA GERAL DO ESTADO .......................................66 3.1 DIREITO NATURAL E POSITIVO ................................................................................................68 3.2 RAMOS DO DIREITO POSITIVO ................................................................................................69 4 TEORIA GERAL DO ESTADO ..........................................................................................................70 5 NASCIMENTO E EXTINÇÃO DOS ESTADOS ............................................................................72 5.1 APARECIMENTO DO ESTADO ..................................................................................................73 5.2 FORMAÇÃO ORIGINÁRIA .........................................................................................................74 5.3 FORMAÇÃO DERIVADA .............................................................................................................75 5.4 EXTINÇÃO DOS ESTADOS ..........................................................................................................77 RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................78 AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................79 TÓPICO 2 – ELEMENTOS CONSTITUINTES DO ESTADO ........................................................81 1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................81 2 CONCEITO DE POPULAÇÃO ..........................................................................................................82 2.1 INFLUÊNCIA GENÉTICA .............................................................................................................83 2.2 CONCEITO DE POVO ...................................................................................................................84 2.3 ELEMENTO HUMANO .................................................................................................................86 3 TERRITÓRIO ........................................................................................................................................86 3.1 SOLO ..................................................................................................................................................88 3.2 SUBSOLO .........................................................................................................................................89 3.3 ESPAÇO AÉREO .............................................................................................................................89 3.4 MAR TERRITORIAL ......................................................................................................................90 4 GOVERNO ............................................................................................................................................93 RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................96 AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................97 TÓPICO 3 – O ESTADO DE DIREITO ...............................................................................................99 1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................99 2 O ESTADO DE DIREITO ..................................................................................................................1002.1 ORIGEM E EVOLUÇÃO ..............................................................................................................100 3 O ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO ................................................................................102 3.1 TEORIA TRIPARTIÇÃO DE PODERES ....................................................................................104 3.1.1 Poder Legislativo .................................................................................................................106 3.1.1.1 Poder Legislativo Federal ......................................................................................107 3.1.1.2 Processo Legislativo ................................................................................................112 3.1.2 PODER EXECUTIVO ...........................................................................................................116 3.1.3 Poder Judiciário ...................................................................................................................121 4 ESTADO DEMOCRÁTICO E SOCIAL DE DIREITO ................................................................131 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................133 RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................136 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................138 UNIDADE 3 – A POLÍTICA E O ESTADO .......................................................................................139 TÓPICO 1 – REGIMES E FORMA DE GOVERNO ........................................................................141 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................141 XI 2 FORMA DE GOVERNO ...................................................................................................................141 2.1 ANTIGAS E MODERNAS ...........................................................................................................142 2.1.1 Platão .....................................................................................................................................142 2.1.2 Aristóteles ..............................................................................................................................144 2.1.3 Políbio ....................................................................................................................................145 2.1.4 Cícero ......................................................................................................................................145 2.1.5 Nicolau Maquiavel ..............................................................................................................146 2.1.6 Montesquieu ........................................................................................................................147 2.1.7 Jean-Jacques Rousseau ........................................................................................................148 2.1.8 Hans Kelsen ..........................................................................................................................149 2.2 CLÁSSICAS ...................................................................................................................................150 2.2.1 Monarquia..............................................................................................................................150 2.2.2 República ...............................................................................................................................152 2.3 TIRANIA ........................................................................................................................................156 2.4 OLIGARQUIA ...............................................................................................................................157 2.5 DEMAGOGIA E OCLOCRACIA ................................................................................................158 2.6 DITADURA .....................................................................................................................................158 3 REGIME DE GOVERNO .................................................................................................................161 3.1 PARLAMENTARISMO ................................................................................................................161 3.2 PRESIDENCIALISMO ..................................................................................................................165 3.3 SEMIPRESIDENCIALISMO .........................................................................................................166 RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................168 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................170 TÓPICO 2 – AS TEORIAS CONSTITUCIONALISTAS ................................................................171 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................171 2 CONSTITUCIONALISMO ............................................................................................................171 2.1 EVOLUÇÃO HISTÓRICA CONSTITUCIONALISMO E SUAS TEORIAS ..........................172 2.1.1 Constitucionalismo antigo ...................................................................................................173 2.1.2 Constitucionalismo clássico ................................................................................................174 2.1.3 Constitucionalismo moderno ..............................................................................................176 2.1.4 Neoconstitucionalismo .......................................................................................................177 3 PODER CONSTITUINTE ................................................................................................................181 3.1 CLASSIFICAÇÕES DO PODER CONSTITUINTE ..................................................................182 3.1.1 Originário ..............................................................................................................................182 3.1.2 Derivado .................................................................................................................................183 3.1.3 Difuso .....................................................................................................................................184 3.1.4 Supranacional ........................................................................................................................185 RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................186 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................187 TÓPICO 3 – A CONSTITUIÇÃO: PAPÉIS E ORIGENS ................................................................189 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................189 2 CONCEITO DE CONSTITUIÇÃO .................................................................................................189 2.1 CLASSIFICAÇÃO DA CONSTITUIÇÃO ..................................................................................194 2.2 ESTRUTURA DA CONSTITUIÇÃO BRASILEIRA DE 1988 ...................................................197 3 REMÉDIOSCONSTITUCIONAIS ................................................................................................198 3.1 HABEAS CORPUS .........................................................................................................................199 3.2 HABEAS DATA ..............................................................................................................................200 3.3 MANDADO DE SEGURANÇA ..................................................................................................200 3.4 MANDADO DE SEGURANÇA COLETIVO .............................................................................201 3.5 MANDADO DE INJUNÇÃO .......................................................................................................202 XII 3.6 AÇÃO POPULAR ..........................................................................................................................202 3.7 AÇÃO CIVIL PÚBLICA ................................................................................................................203 4 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA CONSTITUIÇÃO BRASILEIRA .............................................204 4.1 CONSTITUIÇÃO DE 1824 ...........................................................................................................204 4.2 CONSTITUIÇÃO DE 1891 ............................................................................................................206 4.3 CONSTITUIÇÃO DE 1934 ............................................................................................................209 4.4 CONSTITUIÇÃO DE 1937 ............................................................................................................210 4.5 CONSTITUIÇÃO DE 1946 ............................................................................................................211 4.6 CONSTITUIÇÕES DE 1967 E 1969 ..............................................................................................212 4.7 CONSTITUIÇÃO DE 1988 ............................................................................................................215 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................217 RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................222 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................224 REFERÊNCIAS .......................................................................................................................................227 1 UNIDADE 1 O ESTADO E A CIÊNCIA POLÍTICA OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de: • possibilitar aos acadêmicos uma revisão sistêmica e cronológica da For- mação dos Estados Nacionais; • compreender o objeto, campo de estudo, gênese e desenvolvimento do Estado dentro do campo específico das Ciências Políticas; • compreender como se dá o processo de centralização e descentralização política dentro das unidades estatais; • possibilitar ao acadêmico o entendimento do estudo do direito constitu- cional sobre a perspectiva da grande área das Ciências Políticas. Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 – A EVOLUÇÃO DO ESTADO E DAS SOCIEDADES POLÍTICAS TÓPICO 2 – A CIÊNCIA POLÍTICA E ESTADO TÓPICO 3 – ESTADO, CENTRALIZAÇÃO E DESCENTRALIZAÇÃO POLÍTICA Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações. CHAMADA 2 3 TÓPICO 1 UNIDADE 1 A EVOLUÇÃO DO ESTADO E DAS SOCIEDADES POLÍTICAS 1 INTRODUÇÃO A compreensão da evolução do Estado está ligada na revisão das organizações territoriais segundo o seu desenvolvimento econômico e social, desde a antiguidade até alcançar a sua configuração contemporânea. Apesar das inúmeras definições e conceitos de Estado, distribuídas nas mais diversas correntes filosóficas, políticas e jurídicas para indicar a finalidade ou a causa material da sociedade politicamente organizada, foi a partir da obra de Maquiavel, que o termo Estado passou a designar uma “unidade política global”. Nesse contexto, o conceito moderno de Estado trabalhado no curso é “a nação politicamente organizada, um complexo político, social e jurídico, que envolve a administração de uma sociedade estabelecida em caráter permanente em um território e dotado de poder autônomo” (NADER, 2013, p. 130). Antes de discutir o conceito de Estado, precisamos entender o seu processo de formação como estrutura organizacional. O ponto de partida para entendermos esse processo é a identificação de como a população humana passou a se chamar humanidade, deixando de enfrentar apenas a sobrevivência e passando a lidar como o estágio de convivência. Em outras palavras, o processo de formação das sociedades antigas e o seu desenvolvimento. 2 ESTADO ANTIGO: ESTADO TEOCRÁTICO O Estado Antigo surgiu aproximadamente 3000 a.C., e, no século V d.C., a denominação dada por muitos autores às formas mais primitivas e fundamentais do que hoje conhecemos como Estado representa o surgimento e o estágio fundamental das organizações políticas. Oares (2008, p. 86) traz que “o Estado é a forma histórica de organização jurídica de poder, na sua manifesta qualidade do poder soberano, peculiar às sociedades civilizadas, que sucede a outras formas de organização política”. A presença da religião no Estado Antigo foi tão marcante que foi qualificado como Estado Teocrático (do grego Teo: Deus; cracia: poder), ou seja, o poder de governar estaria relacionado às questões divinas. Pode-se entender que o fator religioso sempre foi de grande influência nos governos, nas normas individuais e no coletivo. UNIDADE 1 | O ESTADO E A CIÊNCIA POLÍTICA 4 Os grupos sociais como organização religiosa, família, ordem econômica e o Estado eram facilmente confundidos entre si, pois não se tinha uma diferenciação explícita entre eles. Desta forma, não era possível fazer a separação do pensamento político da religião, da moral, das doutrinas econômicas ou da filosofia. Pode-se, assim, definir o Estado Teocrático como: Teocracia significa o governo de Deus. Estados Teocráticos são aqueles em que o chefe religioso e o chefe de Estado são a mesma pessoa, o governante e o sacerdote se unem, onde não há separação entre política e religião, sendo que a religião domina toda a vida social. O governante é um enviado de Deus ou é um Deus (como ocorria com os faraós do Egito), sendo que este e o sacerdote são a mesma pessoa (GOMES, 2013, s. p.). Como evidenciado, a presença da religião nesse período foi tão marcante, que influenciou os governos e nas normas individuais e coletivas. Dois traços fundamentais do Estado Antigo ou Teocrático são: a natureza unitária, na qual o Estado aparece sempre como algo indivisível e organicamente único; e a religiosidade que predominava em todos os campos e nas decisões dos governantes (DALLARI, 2012). Essa característica unitária se manteve constante durante toda a evolução política dessa época. Com a influência da religião, o Estado era marcado como uma expressão da vontade divina, assim, afirmando que toda autoridade dos governantes e as normas de comportamento individual e coletivo eram comandadas pela religião. As doutrinas teocráticas têm um ponto comum: a base divina que emprestam ao poder. Apresentam, todavia, consideráveis variações, que assinalam o desenvolvimento da concepção teocrática da soberania, com respeito ao papel dos governantes no desempenho do poder (BONAVIDES, 2000, s. p.). Em alguns casos, o governante é considerado um representante do poder divino, confundindo-se, às vezes, com a própria divindade. Avontade do governante é sempre semelhante à da divindade, dando-se ao Estado um caráter de objeto, submetido a um poder estranho e superior a ele. FIGURA 1 – FARAÓ COM SUAS INSÍGNIAS DE PODER E DIVINDADE RECEBE A SAUDAÇÃO DOS SÚDITOS FONTE: Bezerra (2019, s.p.) TÓPICO 1 | A EVOLUÇÃO DO ESTADO E DAS SOCIEDADES POLÍTICAS 5 Outra situação é quando o poder do governante é limitado pela vontade da divindade, cujo veículo, porém, é um órgão especial: a classe sacerdotal. Há uma convivência de dois poderes, um humano e um divino, variando a influência deste segundo em circunstâncias de tempo e lugar. Em síntese, um estado teocrático tem suas ações políticas, conduta ética e moral, ações jurídicas e até mesmo a força policial geridas pelas regras e bases de uma doutrina religiosa daquele território. Mesmo atualmente, encontramos exemplos de Estados teocráticos, como o Vaticano, que representa a Igreja Católica; Israel, que representa e segue as doutrinas de um Estado Judeu; e o Irã, que tem como fundamentos a República Islâmica (MEUS DICIONÁRIOS, 2019). FIGURA 2 – PAPA FRANCISCO SE DIRIGE A MULTIDÃO EM MENSAGEM DE URBI ET ORBI (PARA A CIDADE E PARA O MUNDO) DO BALCÃO DA BASÍLICA DE SÃO PEDRO, NO VATICANO FONTE: <http://www.osservatoreromano.va/pt>. Acesso em: 18 nov. 2019. 3 O ESTADO GREGO Foi após o fim do Período Pré-Homérico que a civilização grega atravessou a fase das comunidades gentílicas, que são definidas pela associação de indivíduos através dos laços consanguíneos. Aproximadamente em torno do séc. VIII a.C., cresceu a complexidade para à formação dessas comunidades, que deram origem às cidades-Estados. Esse momento foi acompanhado pela consolidação da distinção entre classes sociais: a classe dos patrícios e a classe dos plebeus. Ao que se refere ao Estado Grego, precisa-se compreender que a Grécia não era formada por um único Estado centralizado. Por volta do século VI a.C., as cidades-Estados já se tornaram todas repúblicas, mas havia distinções a se fazer (CICCO; GONZAGA, 2016). O Estado Grego era dividido por várias comunidades independentes, que muitas vezes se guerreavam entre si. As comunidades que se destacavam eram os Aqueus, que fundaram o Reino de Minos, os Eólios (Macedônia), os Dórios (Esparta) e os Jônios (Atenas). Sendo assim, os gregos não eram um único povo, mas sim a mistura de várias comunidades (FABER, 2019). http://www.osservatoreromano.va/pt UNIDADE 1 | O ESTADO E A CIÊNCIA POLÍTICA 6 Padoveze (2019, p. 79) afirma que “a cidade-Estado foi a primeira forma efetiva de Estado como o conhecemos. Dispunha de povo, território, governo, soberania e complexidade estrutural. Seria a forma mais básica de um Estado”. Em virtude dos fatos narrados, principalmente no entendimento do que seria o Estado Grego, precisa-se compreender melhor o conceito de polis e a estrutura política e administrativa das cidades-Estados. “Para os gregos, o termo civitas ou polis equivaliam a Estado, igual a res publica dos romanos. No Império Romano, no auge de sua expansão, os vocábulos Imperium e Regnum passaram a exprimir a ideia de Estado” (PADOVEZE, 2009, p. 14, grifo do original). Aristóteles traz que polis era “um tipo de associação, e toda associação é estabelecida tendo em vista algum bem, pois, os homens sempre agem visando a algo que consideram ser um bem” (ARISTÓTELES, 2003, p. 55). As cidades-Estados eram polis, organizadas como comunidades independentes uma da outra, sendo que cada uma tinha a seu próprio sistema administrativo. Dentro dessas polis, as que mais se destacavam eram Esparta e a Atenas. A democracia era algo presente na comunidade de Atenas como a filosofia e as artes, e, já na comunidade Esparta, a democracia nunca teve espaço, a sociedade era militar e rigidamente mantida (FABER, 2019). No setor político-econômico, as duas cidades-Estados eram mantidas pela agricultura local, a pecuária e o comércio de longa distância. O caráter político desta economia da “cidade-Estado”, na Grécia clássica, leva o cidadão a dar seu sangue à cidade durante a guerra e dedicar-lhe seu tempo durante a paz. Os negócios públicos reclamam- lhe a atenção, em primeiro lugar acima de tudo; os negócios privados vêm em segundo plano. E de tal modo absorventes são os deveres do cidadão que pouco tempo lhes deixam para se dedicarem a atividades econômicas. A maior parte dessas é relegada aos escravos enquanto a comercial é privativa de estrangeiros. A posse do ouro e da prata é também vetada ao cidadão grego; vedados igualmente os empréstimos a juros. A propriedade de cada cidadão se limita, no máximo, a quatro lotes de terra; e se por acaso, em virtude de uma herança, exceder esse limite, ao Estado caberá o excesso [...]. E particularmente em virtude desse desprezo pelos bens materiais teve o pensamento dos filósofos como consequência impedir o desenvolvimento da riqueza: nesse sentido é essencialmente antieconômico (HUGON, 1973, p. 34). Esparta fundou a Liga do Peloponeso, a qual tinha o intuito de buscar a melhoria das relações comerciais e militar na região Sul da Grécia, onde se localizava. Longe de ser forjada por acordos pacíficos, a Liga do Peloponeso recrutava seus membros na base da imposição militar. Assim, Esparta detinha hegemonia política e militar sobre Argos, a segunda cidade-Estado mais poderosa da região. Também foi através da Liga do Peloponeso que Esparta adquiriu dois fortes aliados Corinto e Élida, além de agregar uma aliança defensiva permanente com outras cidades-Estado, ponto decisivo para a política externa espartana (FABER, 2019). TÓPICO 1 | A EVOLUÇÃO DO ESTADO E DAS SOCIEDADES POLÍTICAS 7 A Liga do Peloponeso, também conhecida como Aliança do Peloponeso, Liga Peloponésia ou Confederação do Peloponeso foi uma aliança de várias cidades-Estado na península do Peloponeso, na Grécia Antiga, durante os séculos VI e V a.C. NOTA Atenas, por sua vez, fundou, em 476 a.C., a Liga de Delos, na qual os atenienses conseguiam também liderar a confederação de Estado-cidades independentes e impulsionar sua economia. No início, Esparta e suas aliadas do Peloponeso entraram na Liga, mas depois consideraram que o perigo das invasões persas não era mais expressivo, abandonando-a. Na Liga de Delos, as grandes cidades-Estados forneceram tropas e navios, enquanto as menores pagaram uma contribuição, Phoros ao tesouro de Delos. Após a vitória contra os persas, Atenas tornou a contribuição em impostos, Syntaxes. Nesse período, o tesouro da Liga fora transferido de Delos para Atenas, sendo usado em sua reconstrução e a manutenção de sua era mais rica e esplendorosa. Com a prosperidade das duas cidades-Estados, houve uma progressiva modernização da polis (FABER, 2019). Liga de Delos foi uma união militar organizada por Atenas durante as Guerras Médicas, que tinha por principal objetivo a defesa das cidades gregas de um ataque persa. Seu nome se dá porque a sede da Liga era na cidade de Delos. NOTA A prosperidade gerada com a Liga de Delos trouxe a Atenas o surgimento de uma classe ociosa de intelectuais e, com isso, as artes e a filosofia ganharam grande impulso. O grande momento da cidade ocorreu durante o governo democrático de Péricles que foi, aproximadamente, entre 461-431 a.C. Mesmo garantindo prosperidade a Atenas, foi também nesta época que a rivalidade com os espartanos foi acentuada (FABER, 2019). UNIDADE 1 | O ESTADO E A CIÊNCIA POLÍTICA 8 A Liga de Delos foi, portanto, a base do poder e da hegemonia ateniense no século V a.C., considerado o período clássico ateniense. Como Atenas ganhava muito poder e arrecadava muitos impostos via Liga, tornava-se difícil sair dela sem contrariar Atenas. Por isso são datadas do período diversas contestações e rebeliões de cidades que buscavam se ver livres do poder ateniense. Além disso a forma de arrecadação pesava para as cidades que compunham a Liga: as de grande porte contribuíam com o envio de tropas e navios, enquantoas menores ficavam responsáveis por contribuições em forma de impostos. Após a vitória sobre os persas Atenas continuou a cobrar os impostos, obrigando todas as cidades a contribuírem e gerando seu enriquecimento (RODRIGUES, 2017, s.p.). A grande concentração de poder na cidade de Atenas gerou diversas consequências no Mundo Antigo e afetando todo o Estado Grego. Nesse período aconteceu a padronização monetária e de peso, e a expansão da escravidão em Atenas. A grande transformação de Atenas em um centro cultural que espalhava o modelo de pensamento e de formas de vida para o Mundo Antigo. Nesse período, ainda, foi estabelecida a democracia ateniense, conquistada, dentre outras razões, pelo uso do ostracismo (expulsão pelo período de dez anos) como estratégia de controle social. Ao mesmo tempo, Atenas estabeleceu regras mais rígidas: somente os filhos de pai e mãe atenienses poderiam ser considerados cidadãos plenos (RODRIGUES, 2017). Por sua vez, Esparta era uma cidade-Estado em que, ao contrário dos atenienses que viviam sob a democracia direta e as descobertas culturais, sua estrutura política era baseada no militarismo. Os conflitos, que eram marcados por grandes disputas entre Atenas e Esparta, foram o foco das relações de poder no Mundo Antigo, que deixou muito evidente a grande necessidade de controle dos portos e do Mediterrâneo, rota para o comércio na antiguidade (RODRIGUES, 2017). A disputa entre as ligas de Delos e do Peloponeso é uma das batalhas mais conhecidas na história, a Guerra do Peloponeso. Também conhecida como Guerra Mundial da antiga Grécia, foi um conflito entre Atenas e Esparta entre os anos de 431 e 404 a.C. Sua narrativa se deu pelos historiadores da Grécia Antiga, Xenofonte e Tucídides. Os principais motivos da guerra foram as tensas relações entre espartanos e atenienses. Corinto, um dos principais aliados da Liga do Peloponeso, fazia uma grande pressão à Esparta para atacar Atenas e iniciar uma guerra. Atenas enfrentava problemas comerciais com Corinto, os espartanos viam sempre com muita desconfiança, ameaçando o desenvolvimento econômico e o aumento da influência política de Atenas. Assim, havia uma disputa na hegemonia política e econômica na região com grande tensão na relação entre as duas Ligas (RODRIGUES, 2017). TÓPICO 1 | A EVOLUÇÃO DO ESTADO E DAS SOCIEDADES POLÍTICAS 9 FIGURA 3 – DIVISÃO DOS TERRITÓRIOS ALIADOS NA GUERRA DO PELOPONESO FONTE: <https://static.todamateria.com.br/upload/gu/er/guerra_do_peloponeso_mapa_ bb.jpg>. Acesso em: 29 jul. 2019. Após anos de conflito entre as cidades-Estados, entre períodos de combate e trégua, Esparta derrotou Atenas e seus aliados. Esses conflitos deixaram uma situação de grande destruição e enfraquecimento das estruturas humanas e materiais de ambos os lados. Esparta não conseguiu a hegemonia nas demais cidades, sendo que a cidade de Tebas, sua antiga aliada, rebelou-se, e os tebanos expulsaram os espartanos do seu território. Esparta, Atenas e Tebas iniciaram um novo conflito, acabando por enfraquecer ainda mais as poucas forças que haviam sobrado das antigas cidades- Estados. Em 335 a.C., os exércitos da Macedônia invadiram Tebas, as cidades gregas não conseguiram resistir ao domínio dos macedônios (TODO ESTUDO, 2019). 4 ESTADO MEDIEVAL A Idade Média ou Era Medieval foi o período que se estendeu desde a queda do Império Romano no Ocidente, ocasionado pela invasão dos bárbaros em aproximadamente 476 d.C., até a tomada de Constantinopla pelos turcos em 1453 (QUERIQUELLI, 2014). Esse período de mil anos pode ser subdividido em Alta Idade Média (séc. V ao séc. XII) e Baixa Idade Média (séc. XIII ao séc. XV) (RODRIGUES, 2017). UNIDADE 1 | O ESTADO E A CIÊNCIA POLÍTICA 10 No plano de Estado é tido como o período mais difícil, extremamente instável e heterogêneo, não sendo uma tarefa fácil explicar as características de um Estado Medieval (STRECK; MORAIS, 2014). Os três principais elementos que se fizeram presentes na sociedade medieval e caracterizaram o Estado Medieval foram: as Invasões Bárbaras, o Cristianismo e o Feudalismo (STRECK; MORAIS, 2014). Com o esfacelamento do Império Romano, houve uma grande migração de povos não cristãos pela Europa entre os séculos IV e IX, conhecida como Invasões dos Bárbaros. Foi quando ocuparam diversas áreas do continente Europeu, até então sob domínio do Império Romano. “O nome ‘bárbaro’ veio do grego e queria dizer, originalmente, ‘estrangeiro’. Para os romanos (como para os gregos antigos), bárbaros eram todos os povos que não partilhavam de seus costumes, de sua cultura e de seu idioma” (IN BRITANNICA ESCOLA, 2019). Os romanos foram enfraquecidos no século IV por meio da política e das investidas militares, os quais não conseguiam manter os limites territoriais de seu vasto império. Desta forma, não demorou em chamar atenção dos que viviam nas redondezas para as suas terras férteis e seu clima ameno. De antemão, a proximidade entre romanos e bárbaros foi tranquila. No rio Reno ficava fronteira do império e, nessa região, o contato entre bárbaros e romanos era constante. Para que os vários bárbaros que viviam nessa região ganhassem o direito de viver, teriam que proteger as fronteiras das invasões de outros povos. As invasões bárbaras propiciaram profundas transformações na ordem estabelecida, sendo que os povos invasores estimularam as regiões invadidas a se afirmar como unidades políticas independentes. “Percebe-se, pois, que no Medievo a ordem era bastante precária, pelo abandono de padrões tradicionais, constante situação de guerra, indefinição de fronteiras políticas etc.” (STRECK; MORAIS, 2014, s. p.). Entretanto, o cenário mudou nos meados dos séculos IV e V, ganhando contornos de conflito e causando grandes mudanças na Europa e o fim definitivo do Império Romano no Ocidente. Desta forma, inaugurou o início da Idade Média, que ficou marcada essa época, entre outras coisas, por instituições e costumes que eram tanto de origem romana e germânica. Uma nova instituição se formou e se consolidou com o fim do Império Romano, o Cristianismo. A religião foi a grande influência e se tornou uma das principais instituições do mundo medieval. Na Idade Média, também como na Antiguidade, a religiosidade se tornava presente e fixada à política. Com a relação existente da política e religião na Idade Média, havia uma diferença crucial. “Pois no período medieval, surge uma instituição que, ao lado da nobreza, definiria a ordem mundial por cerca de um milênio: a Igreja Católica” (QUERIQUELLI, 2014, p. 40). TÓPICO 1 | A EVOLUÇÃO DO ESTADO E DAS SOCIEDADES POLÍTICAS 11 Nessa época, “através da centralização de seus princípios e da formulação de uma estrutura hierárquica, a Igreja teve condições suficientes para alargar o seu campo de influências durante a Idade Média” (SOUSA, 2018, s. p.). Nesse caso, o segundo elemento do Estado Medieval, o Cristianismo, tinha a unidade da Igreja como uma estrutura principal, muito mais importante que uma unidade política. A ideia era de que todos deveriam pertencer a uma só sociedade política cristã, sendo inevitável a ideia de Estado Universal, o qual todos seriam guiados pelas mesmas normas de comportamento público e particular, com as mesmas ideologias. Essa dinâmica social era estimulada pela própria igreja, com a ideia de ser um Estado Universal (STRECK; MORAIS, 2014). Desta forma, o papel exercido por essa instituição religiosa, durante a Idade Média, foi uma base sólida de reflexão sob tal período histórico. “Com a expansão do feudalismo por toda a Europa Medieval, observamos a ascensão de uma das mais importantes e poderosas instituições desse mesmo período: a Igreja Católica” (SOUSA, 2018, s. p.). A Igreja transformou sua autoridade religiosa em poder político. Em um mundo onde predominava o pensamento religioso, a Igreja, como única intercessora entre Deus e os homens, detinha o “monopólio da salvação”, exercendo, assim,um forte poder de manipulação ideológica sobre o povo. Ela, portanto, ditava os costumes, regulando o comportamento social (QUERIQUELLI, 2014, p. 40). Com o mundo romano esfacelado, sem a presença de um poder centralizador, os guerreiros recompensados viram-se cada vez mais independentes e, aos poucos, tornaram-se senhores de suas terras. “Surgia, assim, não apenas um novo modelo de organização fundiária, mas uma nova forma de organização política: o feudo” (QUERIQUELLI, 2014, p. 38). O feudo era o espaço utilizado para produção e fonte de renda autossustentável, sendo que a propriedade territorial era concedida aos indivíduos por um poderoso senhor (membro da alta nobreza) em troca de fidelidade e ajuda militar. Essa era uma prática desenvolvida na alta Idade Média (século V ao XV) após o fim do Império Romano e constituiu a base para o estabelecimento de uma aristocracia fundiária. A palavra tem origem do termo germânico vieh e significa “gado", “posse” ou “propriedade” (SIGNIFICADOS, 2019). Assim, “o Feudalismo é a organização econômica e social que existiu na Europa Centro-Ocidental, durante os séculos V e XV, derivado dos feudos, unidades de habitação e produção que eram características do período” (PINTO, 2017, s. p.). As grandes propriedades agrárias eram comuns no continente europeu e ilhas britânicas, por ser uma sociedade de ruralização. Também havia a transformação de um período de escravismo na forma de organização dos trabalhadores para a de servidão (STRECK; MORAIS, 2014). UNIDADE 1 | O ESTADO E A CIÊNCIA POLÍTICA 12 Nesse sentindo, ressalta-se que essas formações políticas revelam um grande fracionamento do poder e nebulosa noção de autoridade. E quanto maior a fraqueza demonstrada no estabelecimento de autoridade política nessas organizações territoriais, maior era o desejo de se firmar uma unidade política, que desse segurança aos cidadãos, como na época de Roma. Ainda, reitera-se que “a insegurança talvez tenha sido a maior das aflições sofridas pelos que viveram nessa época” (QUERIQUELLI, 2014, p. 38). FIGURA 4 – EXEMPLO DA DIVISÃO TERRITORIAL DE UM FEUDO FONTE: Significados (2019, s. p.) A estrutura da sociedade feudal era estamental, ou seja, uma estrutura social fixa hierarquizada, a qual cada “estamento” era bem definido e representado por seus grupos sociais. Primeiramente, tinha-se a figura do Rei, que detinha o maior poder (apesar desse poder não ser absoluto e subjugado à igreja), que governava e recebia os impostos dos outros grupos sociais. O Clero representava a camada relacionada ao sagrado (e que influenciavam na política por meio da religião católica), representado pelos papas, bispos, cardeais, monges, abades e padres. A Nobreza, por sua vez, era composta pelos senhores feudais, donos das terras e das riquezas e os guerreiros, responsáveis pela proteção do feudo. Na base da pirâmide estava o Povo, composto pelos camponeses, servos, ou seja, aqueles que trabalhavam nos feudos (produção de alimentos e construções) em troca de habitação, comida e proteção. TÓPICO 1 | A EVOLUÇÃO DO ESTADO E DAS SOCIEDADES POLÍTICAS 13 FIGURA 5 – ESTRUTURA SOCIAL NA IDADE MÉDIA FONTE: <https://static.todamateria.com.br/upload/57/3e/573e14795d383-sociedade-feudal. jpg>. Acesso em: 18 out. 2019. O Estado Medieval foi caracterizado por uma grande instabilidade política, econômica e social, gerando uma intensa necessidade de ordem e de autoridade, que seria o início da criação do Estado Moderno. Dois fatores influenciaram no seu consequente desmantelamento: • Primeiramente, existiam-se inúmeros centros de poderes, reinos, senhorios, as comunas, as organizações religiosas, as corporações de ofícios, sendo que todos tinham grande apego por autoridade e de sua independência. Sendo assim, jamais iriam se submeter à autoridade de imperadores. • O segundo fator era a recusa do próprio imperador a submeter-se a autoridade religiosa. Alguns imperadores pretendiam influenciar os eclesiásticos, que também buscavam o papel de liderança não apenas nos assuntos de ordem espiritual, mas também nos outros assuntos de ordem temporal. Essa luta entre papa e imperador, marcou os últimos séculos da Idade Média, culminando no nascimento do Estado Moderno, quando é firmado pela supremacia absoluta dos monarcas na ordem temporal (STRECK; MORAIS, 2014). 5 ESTADO MODERNO O surgimento do Estado Moderno se deu no século XV, por meio da centralização do poder político na monarquia. O Estado Medieval, baseado no Feudalismo, foi perdendo forças e o rei centralizou as forças até o extremo absolutismo, característica principal do Estado Moderno (SCHLICKMANN; KOCH, 2013). Essa transição resultou em grandes transformações de ordem religiosa e cultural: culminando no período conhecido como Renascimento e um evento muito singular, a Reforma da Igreja (SCHLICKMANN; KOCH, 2013). UNIDADE 1 | O ESTADO E A CIÊNCIA POLÍTICA 14 O Renascimento representou um importante movimento cultural, artístico, científico e político entre o século XIV e o fim do século XVI, caracterizando a passagem da Idade Média para a Moderna. Apresentou um novo conjunto de temas e interesses aos meios científicos e culturais de sua época. Tem esse nome baseado na retomada de referências da Antiguidade Clássica, havendo um progressivo abrandamento da influência do misticismo sobre a cultura e a sociedade e uma substituição progressiva pela valorização da racionalidade e do mercantilismo. IMPORTANT E A Reforma da Igreja, ou Reforma Protestante, foi um movimento do século XVI liderado por Martinho Lutero na publicação de suas 95 Teses na porta da Igreja do Castelo de Wittenberg. Tal movimento tornou-se conhecido como um protesto contra os abusos do clero, evoluindo para uma proposta de reforma no catolicismo romano a partir da mudança em diversos pontos da doutrina da Igreja Católica Romana. IMPORTANT E A consolidação da autoridade do rei substitui o cenário antecessor de poderes descentralizados, pautados pela desordem e insatisfação da burguesia da época. Diante do exposto, a formação do Estado Moderno trouxe uma nova perspectiva intelectual que apoiasse a nova realidade. Um teórico que trouxe grandes mudanças para o fortalecimento do Estado, Nicolau Maquiavel, que defende a ideia do centralismo político nas mãos de um monarca (OLIVEIRA; SOUSA, 2015). Nicolau Maquiavel, nascido na República de Florença, em 1469, foi um filósofo, historiador, poeta, diplomata e músico. É um dos mais reconhecidos pensadores da ciência política moderna. Seu trabalho se imortalizou ao descrever as relações sobre o Estado e o governo como realmente são e não como deveriam ser. Maquiavel viveu a juventude sob a República Florentina durante o governo de Lourenço de Médici e entrou para a política aos 29 anos de idade no cargo de Secretário da Segunda Chancelaria. Nesse cargo, Maquiavel observou o comportamento de grandes nomes da época, e a partir dessa experiência retirou alguns postulados para sua obra. Suas obras principais foram O príncipe e os Discursos sobre a primeira década de Tito Lívio. Essas obras foram escritas em uma época em que a Itália era dividida em principados e repúblicas, todas rivais entre si, sendo as traições e a astúcia muito frequentes, inclusive no clero. TÓPICO 1 | A EVOLUÇÃO DO ESTADO E DAS SOCIEDADES POLÍTICAS 15 O foco dos escritos de Maquiavel sempre foi o Estado (aquele capaz de impor a ordem) e o ponto de partida a realidade corrente, ou seja, a realidade como realmente é e não como gostaríamos que fosse. O cerne das discussões do autor era como o príncipe (soberano) deveria garantir a segurança de seu Estado. Para isso, ele descreve a natureza como desordenada e pautada em duas forças, seja qual for a sociedade: • Ninguém quer ser dominado e oprimido pelos maiores. • Os maiores querem dominar e oprimir. Quando Maquiavel diz que a relação entre os Estados é desordenada do ponto de vista internacional, ele entende queas grandes nações querem sempre dominar as menores e que, por outro lado, todos os Estados querem ser independentes. Com essa máxima, Maquiavel acreditava que o príncipe seria o responsável e quem teria as forças militares e legais para conservar o seu Estado e conquistar os outros. “Os principais fundamentos que todos os Estados possuem, tanto novos, como velhos ou mistos, são boas leis e bons exércitos. E porque não pode haver boas leis sem bom exército e como há exércitos, convém que haja boas leis” (MAQUIAVEL, 1997, p. 81). É importante, desta maneira, explicitar que, “historicamente, o termo Estado foi empregado pela primeira vez por Nicolau Maquiavel, no início de sua obra O príncipe, escrita em 1513 e publicada em 1532” (CICCO; GONZAGA, 2016, s. p.). Maquiavel foi o defensor do processo político centralizado, sendo um dos teóricos que mais usou o conceito que servia para resumir o poder do rei, o Absolutismo. Diante disso, pode-se dizer que o Absolutismo foi aclamado por Maquiavel, o processo organização do Estado Moderno. Nicolau sempre esteve envolvido com a política local na Península Itálica, onde desempenhou funções políticas, administrativas e diplomáticas na cidade de Florença, por isso tinha total conhecimento sobre o funcionamento da política local, por isso esteve engajado em apoiar a formação de um Estado Moderno na Península Itálica, que ainda era um território fragmentado, e Nicolau via como necessário unificar esses territórios em torno de um poder central (OLIVEIRA; SOUSA, 2015, s. p.). A monarquia teria a responsabilidade de governar esse Estado, além de conseguir agradar o povo, estabelecendo o seu poder e a sua ordem. Maquiavel trouxe um “divisor de águas” para o cenário da política ao propor a separação da moral e a religação das organizações política (OLIVEIRA; SOUSA, 2015). Para fortalecer e organizar o Estado, a monarquia passou a interceder nos seguintes métodos: burocracia administrativa, força militar, leis e justiça unificadas e sistema tributário. “O Estado Moderno é fruto do desenvolvimento histórico do Estado, caracterizando-se como uma de suas diversas fases através dos tempos” (SCHLICKMANN; KOCH, 2013, s. p.). UNIDADE 1 | O ESTADO E A CIÊNCIA POLÍTICA 16 O Estado Moderno revela a sua primeira característica, a autonomia, referindo-se como a plena soberania, ou seja, a autoridade do Estado não deve depender de nenhuma outra interferência político administrativa. “Assim surgiu o Estado Moderno, com um território que um povo declarou seu, com um povo que se proclamou independente perante outros povos, com um poder que, pela força e pelo direito, organizou-se para a independência do território e do povo” (REALE, 2000, p. 44). A segunda particularidade é, por sua vez, a diferenciação entre a sociedade civil e o Estado. No século XVII se tem o crescimento do poder da burguesia na Inglaterra, sendo que o Estado se abre a interesses de diferentes segmentos da sociedade civil. Nesta perspectiva, se pressupunha a garantia da representação popular, bem como a publicização das decisões no âmbito do Estado, estabelecendo um novo conceito de lei através de uma Constituição escrita. É com o desenho moderno de Estado que se estabelece a distinção entre Estado e Sociedade Civil, “[...] muito embora Estado seja a expressão da sociedade civil” (SIQUEIRA, 2005, p. 15). Como terceira característica, vem a diferenciação do Estado Moderno do modelo de Estado na Idade Média. Como mencionado anteriormente, o Estado Medieval era marcado como propriedade dos governantes, que eram donos do território e de tudo que se encontra nele. Já no Estado moderno, existe um reconhecimento absoluto entre o Estado e o monarca, o qual demonstra a soberania estatal. O Estado Moderno é visto da seguinte forma, segundo Streck e Morais (2014, p. 24): [...] naquilo que se passou a denominar de Estado Moderno, o Poder se torna instituição (uma empresa a serviço de uma ideia, com potência superior à dos indivíduos). É a ideia de uma dissociação da autoridade e do indivíduo que a exerce. O Poder despersonalizado precisa de um titular: O Estado. Assim, o Estado procede da institucionalização do Poder, sendo que suas condições de existência são o território, a nação, mais potência e autoridade. Esses elementos dão origem à ideia de Estado, ou seja, o Estado Moderno deixa de ser patrimonial. Ao contrário da forma estatal medieval, em que os monarcas, marqueses, condes e barões eram donos do território e de tudo o que neles se encontrava (homens e bens), no Estado Moderno passa a haver a identificação absoluta entre Estado e monarca em termos de soberania estatal. Referidos doutrinadores, trazem que o Estado Moderno deixa de ser patrimonial como o Estado Medieval, nesse novo momento, uma dissolução entre a autoridade e o indivíduo que o exerce, necessitando da transformação do poder, de modo que território, nação, mais potência e autoridade são as suas condições de existência (SCHLICKMANN; KOCH, 2013, s. p.). Ainda sobre a passagem do Estado Medieval para o Estado Moderno, têm-se as transformações relacionadas às ordens de poder. TÓPICO 1 | A EVOLUÇÃO DO ESTADO E DAS SOCIEDADES POLÍTICAS 17 O rompimento paradigmático da velha ordem medieval para a nova ordem se dá principalmente através da passagem das relações de poder (autoridade, administração da justiça etc.), para a esfera pública (o Estado centralizado). Ou seja, na medida em que ocorria a alteração do modo de produção, a sociedade civil agregava novas exigências ao que até então era exercido pelo poder privado (comunicações, justiça, exército, cobrança de impostos etc.) (STRECK; MORAIS, 2014, p. 28). Deste modo, a divisão de poderes foi acontecendo de forma gradual, surgindo a esfera pública com o poder centralizado. Trata-se do rompimento da situação anterior, a qual na Idade Média o poder político do controle social estava nas mãos privadas. A separação dos poderes, com a divisão de público-privada no poder político do econômico resultou nas separações das funções administrativas e políticas da sociedade civil (SCHLICKMANN; KOCH, 2013). 1) centralização e concentração do poder; 2) supressão ou rarefação das instituições e poderes de nível intermediário dotados de alguma autonomia; 3) redução da população a uma massa indistinta com igualdade abstrata de sujeição comum a um poder direto e imediato; e 4) do movimento que destaca e isola o Poder da sociedade. Bobbio e outros doutrinadores acrescentam que os traços essenciais do Estado moderno — que representa uma nova forma de organização política — consistem numa progressiva centralização do poder segundo uma instância mais ampla, que termina por compreender o âmbito completo das relações políticas e, fundado na afirmação do princípio da territorialidade da obrigação política, uma progressiva aquisição da impessoalidade do comando político (STRECK; MORAIS, 2014, p. 28-29). O Estado moderno possui uma versão pautada no modelo liberal e a ascensão da burguesia nas relações de poder. Conforme estudamos até o presente momento, o Estado Moderno recorre aos princípios materiais como forma de sustentação do poder. Nesse sentido, tem-se uma relação mais centralizada dos territórios e do povo com aspectos formais de governo, poder, autoridade soberana (SCHLICKMANN; KOCH, 2013). 6 ESTADO LIBERAL O Estado Liberal é, muitas vezes, referido como “liberalismo”, tendo a sua formação como doutrina econômica e com a sua ideologia social ao longo dos séculos XVII a XX. O liberalismo baseou-se no fato de que o indivíduo possui direitos naturais e intransferíveis, como direito a se expressar publicamente à liberdade religiosa e o direito natural. O surgimento do Estado Liberal trouxe uma alta ebulição social, política e econômica. Nesta nova etapa do desenvolvimento do Estado, houve a elevação da burguesia e do mercado como principal entidade política e econômica (POLANYI, 1957). O Liberalismo econômicofoi formado pelo mercado natural que é contra as intervenções do Estado. Já o Liberalismo jurídico, está focado nos direitos dos UNIDADE 1 | O ESTADO E A CIÊNCIA POLÍTICA 18 indivíduos, esses direitos protegidos pelo Estado, garantiam contra o uso do poder arbitral dos governantes (MATTEUCI, 1983, p. 688). Assim, temos uma concepção da relação liberal do Estado: Entre as implicações de tal concepção, está a consideração de que o Estado não pode interferir na propriedade do sujeito, uma vez que a adesão a ele foi justificada pela defesa do direito à propriedade individual, através de um corpo político imparcial, apto a resolver questões cuja solução em estado de natureza – incluindo questões relacionadas à propriedade – estaria comprometida por interesses individuais (QUERIQUELLI, 2014, p. 80). A Revolução Francesa (1789 e 1799), que deu o fim ao Absolutismo, foi a responsável pela formatação das linhas mestras da política e ideologia do século XIX, início da predominação liberal e seu respectivo modelo de Estado (HOBSBAWN, 1979). […] a França que fez suas revoluções e a elas deu suas ideias, a ponto de bandeiras tricolores de um tipo ou de outro terem-se tornado o emblema de todas as nações emergentes […]. A França forneceu o vocabulário e os temas da política liberal e radical-democrática para a maior parte do mundo. A França deu o primeiro grande exemplo, o conceito e o vocabulário do nacionalismo […]. A ideologia do mundo moderno atingiu as antigas civilizações que tinham até então resistido às ideias europeias inicialmente através da influência francesa. Essa foi a obra da Revolução Francesa (HOBSBAWM, 2014, p. 98). Nesse primeiro momento, os únicos beneficiados pela Revolução Francesa foram os burgueses, ou seja, os proprietários das terras e os comerciantes. Esses viam o Estado de Política pré-revolucionário como uma instituição com restrições completamente engessadas, inviabilizando a realização de seus interesses (BEZERRA, 2019). A burguesia francesa, preocupada em desenvolver a indústria no país, tinha como objetivo destruir as barreiras que restringiam a liberdade de comércio internacional. Desta forma, era preciso que se adotasse na França, segundo a burguesia, o liberalismo econômico. A burguesia exigia também a garantia de seus direitos políticos, pois era ela quem sustentava o Estado, posto que o clero e a nobreza estavam livres de pagar impostos. Apesar de ser a classe social economicamente dominante, sua posição política e jurídica era limitada em relação ao Primeiro e ao Segundo Estados (BEZERRA, 2019, s. p.). O Direito com a relação da economia no Estado Liberal tornou-se a nova ordem inaugurada pelo Estado. Assim, o mercado natural sendo o aspecto central de todo o comportamento dos participantes, “buscava a realização dos interesses individuais sem amarras, sucedendo ao mercado artificial, repleto de limitações sobre a produção das corporações de ofício e prensado na incerteza gerada pelo poder do soberano” (MOREIRA, 1973, p. 74). TÓPICO 1 | A EVOLUÇÃO DO ESTADO E DAS SOCIEDADES POLÍTICAS 19 O ponto fundamental para o Estado Liberal são as limitações ao poder do soberano. Essas limitações foram o propósito do primeiro movimento do que terminou no Estado Liberal, pois na Revolução Francesa delineava a criação de um mercado autorregulado imune a intervenções estatais. Levando em consideração que a Revolução Francesa foi um dos passos mais importantes para a consolidação desse modelo estatal e que foi criada em razão da burguesia, pode-se dizer que o Estado Liberal é um Estado Burguês (MIRANDA, 1997). Esse espírito vai ser abalado com a Primeira Guerra Mundial, pois começava a surgir uma forte tendência ao Estado do Bem-Estar. Até a Primeira Guerra Mundial, o Estado Liberal liderou os europeus, exceto os que eram adeptos ao marxismo e outras doutrinas, que seriam a socialista. Porém, as críticas eram relacionadas a percepção que era imposta, que garantia a burguesia um domínio quase total dos bens de produção e das riquezas em geral, simultaneamente era deixado para a classe capitalista, uma magra subsistência (LASKI, 1973). O enfraquecimento do Liberalismo foi dado pela transformação econômica e pelos constantes crescimentos das empresas, com a mudança de estrutura social. Com esse crescimento da estrutura de poder das empresas, os indivíduos começam a buscar os seus direitos trabalhistas, previdenciários e sociais em geral (MOREIRA, 1973; BONAVIDES, 2000). Por fim, a admissão da necessidade de intervenção da economia pelo Estado desenvolveu as linhas da ordem liberal e deu lugar a uma perspectiva que abarcasse um modelo de Estado que interpõem na ordem social e econômica. O Estado Contemporâneo, apesar de muitas vezes adotar comportamentos neoliberais, está cada vez mais sendo influenciado pelos grupos de interesses e pela sociedade civil. 7 ESTADO CONTEMPORÂNEO O Estado contemporâneo, como nós conhecemos, tem os pilares do Estado Social de Direito e advém do período turbulento dos anos 20 e 30, caracterizado por uma agitação totalitária da Europa, quando há uma avalanche de transformações devido ao deslocamento da primazia do setor primário de produção, ou seja, a agricultura para o setor industriário; da família patriarcal, tradicional e eminentemente conservadora para a família nuclear, que impera o individualismo e a escassez de padrões previamente estabelecidos (SOUZA, 1999). Deste modo, tais acontecimentos, iriam refletir não só no nível econômico, mas também social. Esse foi um período de transformações em que vigorava a crise da Democracia e a impopularidade do Estado de Direito. O Estado Estático, com normas inadequadas para as transformações econômicas e sociais, fez com que o indivíduo compreendesse a dura realidade em que vive e a necessidade de uma grande mudança no Estado de Direito (BONAVIDES, 2000). UNIDADE 1 | O ESTADO E A CIÊNCIA POLÍTICA 20 Na Constituição da Alemanha de 1949, período pós-guerra, foi institucionalizada a ideia de Estado Social, bem como a proposta histórica do processo de evolução tecnológica. O Estado Social pode ser descrito como uma adaptação do Estado Liberal, trazendo as circunstâncias econômicas e sociais da civilização industrial e do pós-industrial com seus novos e complexos problemas. Nesse estágio, o Estado não contrai a propriedade dos meios de produção, mas toma para si as tarefas de orientar e conduzir o sistema econômico. Assim, a política está preocupada com a racionalização dos impactos de uma alteração contínua dos meios de produção e das formas de distribuição de rendas (SOUZA, 1999). Assim, tem-se a tentativa de adaptação do Estado com as frequentes transformações das novas condições sociais da civilização industrial e pós- industrial. Acredita-se que o Estado está sob constantes pressões e com as crises políticas permanecentes foram gerando as crises sociais. O Estado depende para a sua sobrevivência, das adequações a essas crises, sendo necessário a regulamentação do sistema social, ou seja, a observação de normas sociais visando a preferência do coletivo, o bem-estar da sociedade no estado. Por tudo o que foi aqui exposto, é evidente que o Estado Contemporâneo representa uma evolução das reivindicações sociais, nos mais diferentes âmbitos, no passar do tempo, sendo uma das importantes conquistas da humanidade. Com efeito, ele é a síntese e a expressão de avanços gradativos, que foram ocorrendo através dos séculos, com o reconhecimento, consagrado na Declaração Universal dos Direitos Humanos, de que todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos. Foi resultado de muita resistência de pessoas e grupos que, valendo-se de algum fator de superioridade, alguma espécie de poder, pretendiam ter o comando da organização e das relações na busca da consciência de que o ser humano tem uma dignidade essencial e tem valores da mais alta relevância que devem ser reconhecidos comodireitos fundamentais de todos os seres humanos. Por esse caminho foram sendo introduzidas, gradativamente, novas formas de convivência, primeiramente num âmbito local, no relacionamento direto entre governantes e governados num espaço relativamente limitado. E gradativamente os relacionamentos foram estabelecidos com muito maior amplitude, acabando por envolver as relações entre grupos sociais mais ou menos numerosos e independentes entre si. Por esse caminho, através do reconhecimento e da afirmação da independência e peculiaridade dos diferentes agrupamentos, chegou-se à noção de Estado, com o mesmo valor e a mesma ênfase do reconhecimento de que todos têm direitos como indivíduos e como membros de um Estado, chegando-se à proclamação e consagração da afirmação da soberania dos Estados e de seu dever de respeitar a independência dos demais, assim como de reconhecer e respeitar os direitos das pessoas que integram outro Estado. E assim ocorreu um avanço de extraordinária importância, com a generalização do reconhecimento dos direitos fundamentais da pessoa humana, independentemente do Estado a que pertencem, a par da exigência de respeito recíproco entre os próprios Estados (DALLARI, 2017, s. p.). TÓPICO 1 | A EVOLUÇÃO DO ESTADO E DAS SOCIEDADES POLÍTICAS 21 Essa caminhada rumo à afirmação de que as unidades políticas em territórios soberanos estão longe de ser toda a história dos Estados. Não obstante, tal narrativa sintética é interessante para que possamos pensar sobre o desejo de igualdade e surgimento do direito constitucional, essencial a todos os seres humanos para gozo da dignidade e direitos. Essa trajetória não ocorreu pacificamente, pois sempre houve pessoas e grupos sociais que não estiveram dispostos a abrir mão de seus privilégios, mas as conquistas da humanidade, consagradas nas Constituições de cada Estado e nos documentos jurídicos de âmbito internacional. FIGURA 6 – CARACTERÍSTICAS PRINCIPAIS DA EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO ESTADO: RESUMO DO TÓPICO FONTE: O autor 22 Neste tópico, você aprendeu que: • O conceito moderno de Estado como nação politicamente organizada, é um complexo político, social e jurídico, que envolve a administração de uma sociedade estabelecida em caráter permanente em um território e dotado de poder autônomo. • O Estado Teocrático caracterizado pela não separação do pensamento político da religião, da moral, das doutrinas econômicas ou da filosofia. • O Estado Grego como uma organização dividida por várias comunidades independentes, as cidades-Estados, as quais muitas vezes guerreavam entre si. • O Estado Medieval, surgido com a queda do Império Romano no Ocidente e detentora de três principais elementos caracterizantes: as Invasões Bárbaras, o Cristianismo e o Feudalismo. • O surgimento do Estado Moderno por meio da centralização do poder político na monarquia, resultando em grandes transformações de ordem religiosa e cultural. • O Estado Liberal formado como doutrina econômica, baseado na alegação de que o indivíduo possui direitos naturais e intransferíveis, como direito a se expressar publicamente à liberdade religiosa e o direito natural. Essa nova etapa do desenvolvimento do Estado é caracterizada pela elevação da burguesia e do mercado como principal entidade política e econômica. • O Estado Contemporâneo representando uma evolução das reivindicações sociais frente ao processo de liberalização econômica. RESUMO DO TÓPICO 1 23 1 A respeito do conceito de Estado Teocrático, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas: ( ) Em alguns casos, as instituições religiosas participam formalmente do governo, com autoridade para aprovar ou rejeitar leis que desrespeitem o credo. ( ) O governo Talibã, no Afeganistão, promoveu a criação e manutenção de um Estado religioso de modalidade objetiva. ( ) É aquele em que a religião interfere em alguma medida na administração, legislação ou gestão pública e é também chamado de Estado confessional. Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: a) ( ) F, V, V. b) ( ) V, V, V. c) ( ) F, V, F. d) ( ) V, F, V. 2 (PUC-SP, 2015) No sentido contemporâneo do termo, sobretudo com implicações de unidade política, a palavra nação não pode ser aplicada à Grécia Antiga. Tanto que: a) ( ) prevaleciam padrões culturais diferenciados nas várias regiões. b) ( ) as formas de governo foram únicas, mas guardavam total autonomia. c) ( ) não havia unidade de língua e religião entre as várias populações urbanas. d) ( ) as cidades eram independentes nos assuntos de seu próprio interesse. e) ( ) predominavam as tendências à proibição de atividades econômicas semelhantes. 3 Sobre os dois fatores que influenciaram no desmantelamento do Estado Medieval, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas: I- ( ) Havia inúmeros centros de poderes, reinos, senhorios, as comunas, as organizações religiosas, as corporações de ofícios sendo que todos tinham grande apego por autoridade e de sua independência. II- ( ) Os centros de poderes descentralizados tinham grande apego por sua autoridade e dependência ao poder central. III- ( ) Alguns imperadores pretendiam influenciar os eclesiásticos, que também buscavam o papel de liderança não apenas nos assuntos de ordem espiritual, mas também nos outros assuntos de ordem temporal. IV- ( ) Essa luta entre Papa e Imperador, marcou os últimos séculos da Idade Média, culminando no nascimento do Estado Contemporâneo. AUTOATIVIDADE 24 4 Sobre a concepção Liberal do Estado surgida com a Revolução Francesa, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) A concepção da relação liberal do Estado está na consideração de que o Estado pode interferir na propriedade do sujeito. b) ( ) Essa concepção é justificada pela defesa do direito à propriedade individual, através de um corpo político parcial. c) ( ) Essa concepção busca resolver questões cuja solução em estado de natureza — incluindo questões relacionadas à propriedade — estaria comprometida por interesses individuais. d) ( ) Tem uma visão centralizada e concentrada na mão do poder absoluto do soberano. 5 Com relação à ideia de Estado Social, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) O Estado Social pode ser descrito como uma adaptação do Estado Moderno, trazendo as circunstâncias econômicas e sociais da civilização industrial e do pós-industrial com seus novos e complexos problemas. b) ( ) O Estado não contrai a propriedade dos meios de produção, porém, com a finalidade de tomar si as tarefas de orientar e conduzir o sistema econômico. c) ( ) A política está preocupada com a racionalização dos impactos de uma estatização das relações econômicas e sociais através dos meios de produção e das formas de distribuição de rendas. d) ( ) Resultou no fortalecimento do Liberalismo dado pela transformação econômica e pelos constantes crescimentos das empresas, com a mudança de estrutura social. 25 TÓPICO 2 A CIÊNCIA POLÍTICA E ESTADO UNIDADE 1 1 INTRODUÇÃO Neste tópico, será analisado a relação do Estado e a Sociedade, bem como os seus diversos aspectos que norteiam o funcionamento das instituições encarregadas pela sociedade, como Estado, Governo, Democracia, Legitimidade. Nesse sentindo, a Teoria Geral do Estado corresponde o Norte dessa seção primordial da nossa disciplina dentro do curso de Ciências Políticas. Como já mencionado na apresentação desse material, a Ciência Política é um ramo das ciências sociais que busca analisar o Estado, regimes políticos, governos, soberania e a hegemonia. Esse ramo busca trazer um direcionamento histórico das relações de poder e convivência dos povos desde a antiguidade até os tempos atuais. Nesse sentido, entendemos a Ciência Política como um saber operativo, um instrumento apto a intervir na realidade que estudamos (Giovani Sartori). A Ciência Política será, assim, essa disciplina que, mediante um processo
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