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EMPREENDEDORISMO E PLANO DE NEGÓCIOS ALEXANDRE PEREIRA AURÉLIA ADRIANA DE MELO CARLOS EDUARDO DOS SANTOS SABRITO GUSTAVO DA SILVA COSTA IZABEL CRISTINA DA ROSA DOS SANTOS IVAN BRASIL GALVÃO DOS SANTOS JONAS CARDONA VENTURINI JOSÉ FERNANDO DRESCH KRONBAUER JOSEFINA MARIA FONSECA COUTINHO JUSSANA RAMOS DOS SANTOS LUCIANA MAINES DA SILVA MAIARA BITTENCOURT LAUXEN ODAIR GONÇALVES RODRIGO ROCHA GUTTERRES VANESSA DE SOUZA BATISTI (ORG.) Editora Unisinos, 2014 SUMÁRIO Apresentação Parte I Capítulo 1 – Empreendedorismo e inovação: começando as discussões Capítulo 2 – O empreendedor: definições, tipologias e suas implicações Capítulo 3 – Identificação e análise de oportunidades para negócios Parte II Capítulo 4 – O Plano de Negócios – Uma introdução Capítulo 5 – Modelando o negócio: o uso de ferramentas inovadoras para pensar na definição do produto ou serviço Capítulo 6 – O marketing e as vendas Capítulo 7 – As operações Capítulo 8 – As finanças Capítulo 9 – As questões estratégicas Parte III Capítulo 10 – Organização e constituição de empresas Capítulo 11 – Parques tecnológicos e incubadoras: ambientes de inovação e empreendedorismo Apêndice A – Roteiro do Plano de Negócio Apêndice B – Indicações para complementação de estudos Informações técnicas APRESENTAÇÃO Este livro faz parte da coleção de obras destinada aos alunos dos cursos de graduação da modalidade a distância da UNISINOS. Tem como objetivo principal apoiar o desenvolvimento das competências previstas para a atividade de Empreendedorismo e Plano de Negócios do curso superior de Tecnologia em Gestão Comercial da universidade. Os temas propostos têm em vista colaborar para o entendimento da importância do empreendedor e de inovar na economia e na sociedade em que vivemos hoje. Mais do que abrir um novo negócio, o empreendedorismo deve ser visto como uma competência que diferencia as pessoas no mercado, a qual pode ser reconhecida nos indivíduos que fazem acontecer. O empreendedorismo também deve ser encarado como um processo social, que praticamos desde muito cedo, quando ainda na infância damos os nossos primeiros passos e realizamos nossas primeiras descobertas. Assim, acreditando nesta abordagem mais ampla de empreendedorismo e na necessidade de mostrar aos seus estudantes outra possib ilidade de carreira, a UNISINOS intensificou sua oferta de atividades curriculares sobre o tema, nos cursos de graduação a partir de 2011. A partir daí, constituiu um grupo de professores de diversas áreas de formação para trabalhar estas atividades sob uma perspectiva multidisciplinar. Alguns desses professores, participaram ativamente da produção deste livro. O livro é dividido em três partes, totalizando 11 capítulos. A Parte I introduz o leitor à temática do empreendedorismo, para depois trabalhar com o comportamento e o processo empreendedor. Ela aborda os conceitos básicos de empreendedorismo, os fatores de estímulo ao ato de empreender, o comportamento e as tipologias dos empreendedores, além do processo empreendedor — detalhando especialmente a primeira etapa do processo de identificação e análise de oportunidades. A Parte II traz as ferramentas necessárias para que o empreendedor avance no processo de empreender, ou seja, para o planejamento do seu negócio: o Business Model Generation, ou modelo Canvas, o Design Thinking e o plano de negócios. Por fim, a Parte III apresenta os aspectos relacionados à abertura e registro de empresas, além de abordar os ambientes de inovação, como parques tecnológicos e incubadoras de empresas. Pretende-se, com isso subsidiar aos que se interessarem em abrir seu próprio negócio com informações que possam guiar os próximos passos. Ao final do livro, o leitor ainda encontra dois apêndices — (A) o roteiro sugerido de plano de negócio e (B) indicação de sites e vídeos para aprofundamento do estudo. A partir da leitura deste livro, que, obviamente, não esgota o tema, espera-se que mais estudantes despertem para o empreendedorismo — lembrando que empreendedor não é somente o indivíduo que cria um novo negócio, mas, sim, aquele que quer fazer a diferença, transformando sua realidade. Boa leitura e bom proveito! Vanessa de Souza Batisti PARTE I Introdução à temática do empreendedorismo. Características do comportamento e processo empreendedor. “Ser um empreendedor é executar os sonhos, mesmo que haja riscos. É enfrentar os problemas, mesmo não tendo forças. É caminhar por lugares desconhecidos, mesmo sem bússola. É tomar atitudes que ninguém tomou. É ter consciência de que quem vence sem obstáculos triunfa sem glória. É não esperar uma herança, mas construir uma história...” Augusto Cury CAPÍTULO 1 EMPREENDEDORISMO E INOVAÇÃO: COMEÇANDO AS DISCUSSÕES Izabel Cristina da Rosa dos Santos1 Maiara Bittencourt Lauxen2 Vanessa de Souza Batisti3 Inicialmente, este capítulo contempla os conceitos básicos de empreendedorismo, o histórico do empreendedorismo no mundo e no Brasil, além de apresentar a relação do empreendedorismo com a inovação. O capítulo ainda comenta os fatores de estímulo ao empreendedorismo, como o histórico familiar, a base educacional e o perfi l psicológico. Por fim, o processo do empreendedor e suas etapas são abordados. 1.1 Empreendedorismo O termo empreendedorismo é de origem francesa (entrepreneurship), sendo utilizado para identificar os estudos voltados ao empreendedor, seu perfil, suas origens, seu sistema de atividades e seu universo de atuação. Este termo é considerado um fenômeno cultural e os empreendedores podem nascer por influência do meio em que vivem (DOLABELA, 2006). Para Drucker (2002, p. 60), empreendedorismo não é arte nem ciência, mas sim uma prática, uma disciplina, uma busca constante de mudanças e novas oportunidades de negócios. Para esse autor, a inovação sistemática é uma característica singular dos empreendedores. Para Baron e Shane (2011), o empreendedorismo, em essência, requer o ato de criar ou de reconhecer uma aplicação comercial para uma coisa nova. Quando se indica a nova aplicação comercial, entende-se que esta pode assumir diferentes formas. No entanto, simplesmente inventar uma nova tecnologia, produto ou serviço ou produzir uma nova ideia não é, por si só, suficiente. Ao contraponto de que não oferecem um benefício comercial, muitas invenções nunca resultaram em produtos reais, talvez até porque nunca tenha se imaginado comercializá-las, e, dessa forma, não serve de base para uma nova empresa lucrativa. Em quase todas as definições de empreendedorismo, temos um consenso comum de que se está discutindo um tipo de comportamento que abrange: tomar iniciativa; organizar e reorganizar mecanismos tanto sociais, quanto econômicos com o intuito de remodelar recursos e situações para proveito prático; e aceitar os riscos, de sucesso ou fracasso (SHAPERO; SKOL, 1982). Nas últimas décadas, é possível perceber que ocorreram alterações na economia, de forma significativa, apontadas como um dos fatores para a expansão do empreendedorismo, inclusive no Brasil. Além disso, o empreendedorismo pode ser considerado um dos principais elementos de um processo dinâmico de criação de riquezas que proporciona ciclos de crescimento econômico por indivíduos que assumem riscos, que buscam a inovação constante, que investem tempo e perspectivas de carreira, para que possam produzir bens e serviços com recursos que lhes são disponibilizados (HISRICH; PETERS; SHEPHERD, 2009). Podemos caracterizar, então, o termo empreendedorismo como um processo de conceber algo novo, dinâmico e inovador, agregando valor tanto econômico quanto social, dedicando tempo e esforços necessários, assumindo os riscos calculados financeiros e sociais e inerentes a qualquer tipo de negócio e recebendo as recompensas da satisfação e independência econômica e pessoal, consequências do esforço, da dedicação e do comprometimento empregado na realização do negócio. 1.1.1 Empreendedorismo na história A história do empreendedorismo é capaz de ser entendida quando analisada com algumas ciências sociais,que dão o embasamento e contribuem para sua compreensão. Dentre essas ciências, citam-se a sociologia, a psicologia, a antropologia e a economia (CHIAVENATO, 2008). Cronologicamente, torna-se mais fácil contar esta história fazendo referência aos primeiros traços de surgimento do empreendedorismo que marcaram as épocas. De acordo com Dornelas (2014), o empreendedorismo assumiu sua primeira forma no Oriente Médio, com as rotas comerciais e seus intermediários, maneira como foram denominados os então empreendedores. Marco Polo foi o primeiro a intermediar contratos de venda de mercadorias com capitalistas. Hisrich e Peters (2004) lembram que empreendedores, na Idade Média, eram identificados como administradores de grandes projetos, que eram financiados por recursos alheios. Nesse sentido, correr risco é uma expressão que define os empreendedores desde os primórdios de sua existência. Antes mesmo de serem definidos de fato como empreendedores, utilizando-se de todo sentido que há por trás dessa denominação, o fato de correrem algum tipo de risco já os diferenciava dos demais administradores. No século XVII, ao firmarem contratos de valor fixado com o governo, esses administradores passaram a correr risco, em que ganhar ou perder ficava por conta do empreendedor (DORNELAS, 2014). Dornelas (2014) ainda traz que, no século XVIII, juntamente com a industrialização, considerou-se uma nova forma de enxergar esses administradores, ou seja, os que necessitavam de capital e os que detinham capital. Assim, diferenciou-se o empreendedor que executaria o projeto daquele fornecedor de capital, que, efetivamente, correria os riscos. Aqui, percebe-se que a forma de empreendedorismo existente nos dias de hoje é apenas um reflexo aprimorado de toda a base constituída em séculos passados. Assim, o empreendedorismo é a junção de todos os fatos dispersos nos séculos, formando um novo perfil a partir do antigo. Seguindo ainda na compreensão do empreendedorismo ao longo das ciências sociais, torna-se possível analisar a sua forma de entendimento pela ótica dos economistas, que revelam os porquês do seu acontecimento, trazendo explicações relevantes sobre o seu surgimento e interação com a economia. Segundo Cantillon (1755, apud CHIAVENATO, 2008), empreendedores eram aqueles que adquiriam matérias-primas a um determinado valor e as revendiam a um preço incerto. No seu entendimento, obter lucro além do esperado dava-se pela inovação. Ainda para este autor, empreendedores estavam intimamente ligados ao risco, à inovação e ao lucro, ou seja, buscavam oportunidades que lhes fossem lucrativas, mesmo diante dos riscos. De acordo com Drucker (2010), em meados dos anos 1970, a economia dos Estados Unidos teve uma brusca mudança de posicionamento. Antes de caráter estritamente gerencial, voltava-se, então, ao empreendedorismo, não só porque a população jovem, ingressante no mercado de trabalho, aumentava significativamente seus índices, mas também porque mulheres casadas, até então inexistentes nesse espaço, começaram a buscar também uma fatia desse mercado. O mesmo autor afirma que a economia dos Estados Unidos desenvolveu-se plenamente nessa época, à medida que o número de novos empregos também crescia ao mesmo nível em que era demandado. A dinâmica dessa economia era concentrar-se em empresas já estabelecidas e grandes, com tendência de crescer cada vez mais, como governo federal, estadual e municipal, universidades, escolas e hospitais. Essa economia empreendedora pode ser interpretada tanto como evento cultural e psicológico, como econômico ou tecnológico. Toda essa mudança de percepções sociais e econômicas deve-se às novas formas de utilização de uma tecnologia chamada de administração (DRUCKER, 2010). Como exemplo dessa nova forma de administração, pode-se citar: novos empreendimentos, diferindo sua aplicação de empresas já existentes; pequenos empreendimentos, devendo-se pensar a administração para pequenos e não grandes estabelecimentos; empreendimentos não comerciais, desligando a imagem de que administração refere-se somente ao ato de administrar empresas; inovação, novas oportunidades, satisfação dos desejos e necessidades humanas. Mas e no Brasil? O termo empreendedorismo é recente no Brasil. Segundo Dornelas (2014), ele começou a tomar consistência no início da década de 1990, com o processo de abertura econômica pelo qual o país passou, que estimulou a concorrência e a instituição das seguintes entidades: Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) e Sociedade Brasileira para Exportação de Softwares (Softex). Antes disso, o empreendedor não possuía nenhum apoio na busca por informações e instruções de como iniciar seu próprio negócio, e tinha à sua frente um ambiente político e econômico muito mais instável que o atual. O Sebrae foi criado com o objetivo de oferecer suporte aos pequenos e microempresários do país na abertura de seu negócio, bem como prestar consultoria para solucionar problemas que possam ocorrer na gestão do negócio. Em relação à Softex, o intuito foi o de estimular e aumentar a participação das empresas brasileiras de softwares nas exportações. O surgimento destas instituições foi essencial para despertar o movimento empreendedor no país (DORNELAS, 2014). Dessa forma, o tema empreendedorismo começou a ser conhecido e a despertar o interesse no Brasil com o apoio do Sebrae, dos programas criados pela Softex, em conjunto com incubadoras de empresas e instituições de ensino. A pesquisa GEM4 apresenta o estudo sobre o empreendedorismo e a inovação no Brasil. Esse estudo, de 2012, conta com a participação do Brasil pelo 13º ano consecutivo, sendo considerado o maior estudo contínuo sobre a dinâmica empreendedora no mundo. Começou com uma parceria entre a London Business School e a Babson College, em 1999, com a participação de dez países. Hoje, são mais de 68 países, sendo que a primeira participação do Brasil ocorreu no ano 2000. O estudo revelou que o brasileiro empreende. Isto é um fato real, independentemente do nível de sofisticação dos empreendimentos e dos motivos que levaram ao estabelecimento de novos negócios. É considerado como extremamente positivo o fato de ter entre as suas principais bases a mentalidade e a atitude da população. Este fato pode beneficiar as sociedades com a presença de pessoas que “[...] sejam capazes de reconhecer oportunidades de negócios no ambiente, bem como por aqueles que percebem a própria capacidade e habilidades para explorar tais oportunidades” (GEM, 2014). Considerando que a alteração do cenário no mundo e no Brasil não fica restrita à economia, as pessoas também mudam. Mudam sua visão e personalidade no sentido de imaginar o mercado de trabalho, no qual em vez de estarem nele por estar, querem compor, atuar de forma efetiva, ampliando e vislumbrando novos horizontes, não mais apenas como peças executoras de um processo. O espírito contido nos empreendedores está também presente em todas aquelas pessoas que cercam esse universo descrito, em que, mesmo sem fundarem uma empresa ou possuírem seus próprios negócios, estão preocupadas e focadas em assumir os riscos e inovar continuamente (CHIAVENATO, 2008). Inovar, inovação. Todas, ou talvez a maioria das definições do empreendedorismo, correlacionam-se com esta palavra ou ato. Na seguinte seção, serão abordados alguns fatores contextuais que darão melhor embasamento e entendimento dos porquês dessa ligação. 1.1.2 Empreendedorismo e inovação Muitas são as definições de empreendedor. Para Schumpeter (1949), o empreendedor é aquele indivíduo que destrói a ordem econômica existente pela introdução de novos produtos e serviços, pela concepção de novas formas de organização ou pela exploração de novos recursos materiais, o que de fato permite sinalizar a introdução da inovação nos conceitos do empreendedorismo. A palavra novo/a é citada diversas vezes por Schumpeter talvez na tentativa de salientar ao leitor a importância, a ligação e a constante presença da inovação noempreendedorismo e vice-versa. A destruição criada por parte dos empreendedores nada mais é do que a reformulação do mundo dos negócios. Com a introdução dessa nova forma de perceber a administração e a economia por parte das empresas, até as mais clássicas voltam-se ao que é inovador, mesmo que seja de forma forçada. Se as empresas não inovarem tanto em produtos e serviços como na forma de enxergar o mercado, o mercado inova e muda a forma de enxergar as empresas. Autores como Filion (1991) caracterizam os empreendedores como pessoas criativas, capazes de estabelecer e atingir objetivos, mantendo alto nível de conhecimento sobre o ambiente em que vivem e utilizando esse conhecimento para detectar novas oportunidades de negócio. Ainda para o mesmo autor, empreendedor é aquele que imagina, desenvolve e realiza visões. Boa parte do progresso norte-americano é produto do indivíduo que teve uma ideia, foi atrás dela, modelou-a, ateve-se firmemente a ela durante todas as adversidades e então produziu essa ideia, vendendo-a e lucrando com ela. (HUMPHREY, 1966 apud BARON; SHANE, 2011, p. 4). Por isso, o empreendedor é aquele que tem uma ideia, acredita, vai atrás, ajusta, melhora até tirá-la do papel. Todos esses passos para empreender podem ser relacionados à inovação, uma vez que a ideia se mistura e se confunde com a concepção do novo, do desconhecido. A inovação é o instrumento específico dos empreendedores, o meio pelo qual eles exploram a mudança como uma oportunidade para um negócio diferente ou um serviço diferente. Ela pode bem ser apresentada como uma disciplina, ser apreendida e ser praticada. Os empreendedores precisam buscar, com propósito deliberado, as fontes de inovação, as mudanças e seus sintomas que indicam oportunidades para que uma inovação tenha êxito. E os empreendedores precisam conhecer e pôr em prática os princípios da inovação bem-sucedida. (DRUCKER, 2010, p. 25). Para Hisrich e Peters (2004), a inovação e a novidade são partes integrantes do conceito de empreendedorismo. De fato, inovar ou lançar algo novo ao mercado é uma das tarefas mais difíceis para o empreendedor. Ele deve ter mais do que a capacidade de criação e contextualização, ele deve ter a capacidade de entender todas as forças que cercam o ambiente. Como exemplo, a inovação pode ser desde um novo produto ou processo, um novo sistema e até mesmo um novo método de desenvolver uma diferente estrutura organizacional. Na literatura, é possível encontrar definições a respeito da inovação conceituando a sua aparição a partir de dois conceitos distintos, sendo que um trata da inovação como radical, e o outro a traduz de forma incremental. Autores como Luecke (2003, apud BENEDETTI; REBELLO; REYES, 2006) exemplificam que a inovação radical é algo absolutamente novo e que, consequentemente, envolve novos meios de produção e tecnologia. E, ainda, a inovação incremental é aquela mergulhada em processos, tecnologias e produtos já conhecidos a fim de desenvolver melhorias em suas performances. O mesmo autor ainda esclarece que ambas as inovações são passíveis de serem vistas lado a lado, uma vez que a inovação radical cria e a inovação incremental estuda essa primeira para que sejam aprimorados seus processos. Bessant e Tidd (2009) exemplificam de maneira clara que a inovação faz, realmente, uma grande diferença para todas as empresas, independentemente de tipos e tamanhos. E a explicação é simples: uma vez que se estagna aquilo que é oferecido ao mundo, sem mudanças nos bens ou serviços, na forma de criação ou até mesmo na oferta, corre-se o risco de ser superado por quem os faça. Conforme citado por Silva e Libermann (2010), inovar é quebrar a lógica existente, fazendo diferente na prática. As empresas procuram inovar com o intuito de melhorar seu desempenho diante do mercado, no qual a apresentação de uma nova descoberta tecnológica pode proporcionar vantagem competitiva a esse inovador. Se a inovação surgir por parte de um processo, a empresa poderá ganhar em termos de produtividade, reduzindo, assim, seus custos. Já, se surgir por parte de um produto ou serviço, a empresa pode mudar seu posicionamento por ser a pioneira no lançamento de um produto inovador no mercado. Quando inova, a empresa cria as condições necessárias para dar sustento ao seu crescimento e lucratividade (GAMBIM, 1998 apud BENEDETTI; REBELLO; REYES, 2006). A inovação e o empreendedorismo andam juntos, senão na forma de elaborar produtos novos, na forma de readaptar aquilo que já existe, dando uma cara nova ao cenário em que estão inseridos. O empreendedorismo tem sido visto como um engenho que direciona a inovação e promove o desenvolvimento econômico (REYNOLDS, 1997; SCHUMPETER, 1934 apud CHIAVENATO, 2008). Mas o que influencia um indivíduo a empreender e como ocorre tal processo? É o que veremos nas próximas seções. 1.2 Fatores estimuladores do empreendedorismo Entendendo os anseios e as características pessoais dos empreendedores (veja o Capítulo 2), torna-se necessário compreender quais os fatores ambientais que regem e estimulam tais atitudes. Se esses indivíduos já nascem dotados dessas características ou se estas surgem como meio de resposta ao cenário em que estão inseridos, sendo, portanto, uma reação e uma soma de características pessoais, com os fatores expostos e contidos no ambiente. Sabe-se que o empreendedorismo é um fenômeno cultural, ou seja, é fruto de hábitos, práticas e valores das pessoas. Existem famílias (assim como cidades, regiões, países) mais empreendedoras do que outras. Na verdade, a pessoa aprende a ser empreendedora no convívio com outros empreendedores, num clima em que ser dono do próprio nariz, ter um negócio é considerado algo muito positivo. Pesquisas indicam que as famílias de empreendedores têm maior chance de gerar novos empreendedores e que os empreendedores de sucesso quase sempre têm um modelo, alguém que admiram e imitam. (FILION, 1991 apud DORNELAS, 2008, p. 29). Dornelas (2008) considera que três tipos de relações podem explicar os fatores motivacionais e estimulantes ao empreendedorismo: (a) o nível primário de relações, que se refere ao convívio familiar e com pessoas conhecidas, em diferentes atividades; (b) o nível secundário de relações, no qual situam-se os relacionamentos gerados a partir de determinadas atividades, rede de ligações; (c) o nível terciário de relações, no qual estão os cursos, os livros, as viagens, os congressos e eventos etc. O autor ainda afirma que a principal fonte formadora de empreendedores encontra-se no nível primário das relações, ou seja, na família e nas amizades. Sarkar (2008) cita Gibb (1987) na identificação de cinco principais etapas, nas quais se torna possível estar diante dessas influências e adquiri-las: na infância, na adolescência, na idade adulta, na meia idade e, por fim, na terceira idade. O Quadro 1 apresenta as influências identificadas em cada etapa. Quadro 1 – Etapas versus influências empreendedoras Etapas Influências Infância A influência é disseminada por intermédio dos pais ou da família, ocorrendo a partir da forma e situação de trabalho destes, ou também dos valores e objetivos de vida observados. Adolescência Nessa fase, observam-se cinco fatores influenciadores, iniciando pela escolha feita pelos pais e família na educação. Seguem esses fatores a preferência vocacional, que está interligada ao terceiro fator, sendo este as escolhas disponíveis para a educação. O quarto fator é observado na forma como a educação dispõe os valores e objetivos. O último fator relaciona-se à amizade e comunidade. Idade adulta Aqui são considerados cinco fatores estimulantes ao empreendedorismo, sendo o primeiro relacionado à possibil idade de escolha para educação e formação. Seguem os fatores baseados nas escolhas da turma, na comunidade em que se insere (sociedade e círculo de amizades), influência residual da família e a natureza do trabalho que se exerce. Meia idade Durante a meia idade, fatores externos podem vir a influenciar a atitudeempreendedora, sendo visto como a mobilidade entre as classes, a natureza e as relações de trabalho, a família e os amigos, a recompensa e a satisfação no trabalho e as interações com este ambiente, tanto de maneira social, como no formato da execução. Terceira idade Nessa fase, as principais influências surgem por intermédio do rendimento obtido, a situação familiar, os objetivos relacionados à comunidade a que se pertence, as oportunidades extras e satisfação no trabalho, aposentadoria antecipada e pensões. Fonte: elaborado pelas autoras com base em Gibb (1987, apud SARKAR, 2008, p. 64). Independentemente do autor ou do formato em que se discutem os fatores motivacionais e influenciadores ao processo empreendedor, fica claro que esses fatores são resultado e também resposta às relações do meio e dos indivíduos com quem convivem estes possíveis empreendedores. Assim, suas opções e também os fatores educacionais interferem diretamente nesse processo. Bessant e Tidd (2009) avaliam que a tentativa de explicar o comportamento empreendedor deve ser um exame minucioso da junção entre suas características e traços individuais, com a influência dos fatores contextuais e externos. Ambas as perspectivas devem estar relacionadas. Os mesmos autores ainda declaram que fatores como histórico religioso e familiar, educação formal e experiência profissional prévia e o perfil psicológico são também possíveis estímulos à abertura de novos empreendimentos. O efeito do histórico familiar deve-se ao fato de que, muitas vezes, o empreendedor já possui pais empreendedores, servindo-lhe de modelo e apoio. E quanto ao efeito religioso, observa-se em algumas religiões uma predisposição para terem mais empreendedores técnicos, não sabendo se a fonte geradora, nesses casos, é a cultura a que pertencem, ou a sua situação de minoria. A base educacional interfere nesse processo empreendedor no sentido de que indivíduos com grau de escolaridade menor têm maior propensão ao empreendedorismo. A educação e o grau de escolaridade inferior estimulam ou até forçam certos indivíduos a buscarem sua realização e satisfação profissional em atividades diferentes daquelas ditas convencionais. O tipo de educação e as experiências profissionais prévias podem ter um efeito mais profundo. Apesar de muitas escolas, faculdades e universidades, atualmente, terem aulas e cursos sobre empreendedorismo, as tradições de pedagogia e aprendizado, em geral, ainda refletem a necessidade do emprego e enfatizam o conteúdo e a aquisição de conhecimento em vez de habilidades e prática. (BESSANT; TIDD, 2009, p. 290). Quanto ao perfil psicológico dos empreendedores, basta aqui mencionar que empreendedores possuem traços marcantes e específicos, que serão abordados no Capítulo 2 deste livro. Esses traços e características resultam nesse comportamento empreendedor. É relevante ressaltar que treinamento, prática, experiência e apoio podem fomentar tal comportamento. Dessa forma, Bessant e Tidd (2009) concluem que o empreendedorismo não é uma marca inerente, mas sim, de forma mais ampla, pode ser desenvolvido e requerido. A personalidade do indivíduo interage, então, com o desenvolvimento, o contexto e a oportunidade. 1.3 Processo empreendedor O processo empreendedor inicia quando existe um evento gerador de fatores que possibilitem ao empreendedor aproveitar uma oportunidade de negócio. Este processo poderá ser o somatório de fatores condicionados ao ambiente social e de aptidões pessoais, que serão direcionados à produção de resultados positivos para a empresa ou para a criação do próprio negócio (DORNELAS, 2014). É importante compreender que o processo empreendedor não é um processo pronto, que possa ser adquirido. Na verdade, ele varia de acordo com cada empreendedor e empreendimento, cada ambiente, cada mercado, cada visão e cada talento. É o start de tal processo. Tal processo inclui a prática do saber e, principalmente, reconhecer as limitações impostas, a fim de minimizar problemas e maximizar resultados. O talento empreendedor resulta da percepção, direção, dedicação e muito trabalho dessas pessoas especiais, que fazem acontecer. Onde existe este talento, há a oportunidade de crescer, diversificar e desenvolver novos negócios. Mas talento sem ideias é como uma semente sem água. Quando talento é somado à tecnologia e as pessoas têm boas ideias viáveis, o processo empreendedor está na iminência de ocorrer. Porém, existe ainda a necessidade de um combustível essencial para que finalmente o negócio saia do papel: o capital. O componente final é o know- how, ou seja, o conhecimento e a habilidade de conseguir convergir em um mesmo ambiente o talento, a tecnologia e o capital que fazem a empresa crescer. (TORNATZKY et al., 1996 apud DORNELAS, 2014, p. 41). Independentemente do tipo e do perfil do empreendedor, o processo de empreender — seja um novo negócio, seja determinado projeto — contempla a identificação e avaliação de uma oportunidade; o planejamento do projeto ou do negócio; a captação dos recursos necessários; a implementação; e o gerenciamento e acompanhamento. Para Dornelas (2014), após a decisão de tornar-se empreendedor há uma sequência proposta de quatro fases para a efetivação do processo empreendedor, sendo que estas fases não precisam ser completamente concluídas, de forma sequencial, para que se inicie a fase seguinte. São elas: identificar e avaliar a oportunidade; desenvolver o plano de negócios; determinar e captar recursos necessários; e gerenciar a empresa criada, conforme Figura 1. Figura 1 – O processo empreendedor. Fonte: Dornelas (2014, p. 32). A primeira fase, de identificação e avaliação da oportunidade, é o processo no qual o empreendedor percebe a oportunidade para um novo empreendimento. Na segunda fase — desenvolvimento do plano de negócios —, é realizada a descrição da direção futura da empresa, ou seja, seu norte. Na terceira fase, de determinação e captação dos recursos necessários, o empreendedor define o montante de recursos que será necessário para começar a operar seu negócio. Por fim, na quarta fase, de gerenciamento da empresa criada, o empreendedor administra a empresa resultante desse processo. Na concepção de Chiavenato (2008), o processo empreendedor pode ser dividido em seis passos: (1) identificação e desenvolvimento de uma oportunidade na forma de visão; (2) validação e criação de um conceito de negócio e estratégias que ajudem a alcançar essa visão, por meio de criação, aquisição, franquia etc.; (3) captação dos recursos necessários para implementar o conceito, ou seja, talentos, tecnologia, capital e crédito, equipamentos etc.; (4) implementação do conceito empresarial ou do empreendimento para fazê-lo começar a trabalhar; (5) captura da oportunidade por meio do início e crescimento do negócio; e (6) extensão do crescimento do negócio por meio da atividade empreendedora sustentada. 1.4 Ideias destacadas neste capítulo Empreendedorismo não é arte e sim prática. Muito mais transpiração que inspiração. Historicamente, o termo empreendedorismo evoluiu, iniciando com a prática dos homens que intermediavam o comércio nas rotas do Oriente Médio, aos administradores de grandes projetos da Idade Média, chegando aos indivíduos que correm riscos. No Brasil, o empreendedorismo tornou-se relevante apenas a partir da década de 1990, com a abertura comercial, a estabilização econômica e a criação de instituições de apoio como Sebrae e Softex. O empreendedorismo, visto como processo capaz de promover o desenvolvimento socioeconômico, relaciona-se com a inovação, seja para conceber novos produtos e serviços, seja para adaptar aquilo que já existe mantendo as empresas competitivas no mercado. Diversos fatores podem estimular ou não o indivíduo a empreender, dentre os quais destacam-se: o histórico familiar e religioso, a base educacional, a experiência profissional precoce e o perfil psicológico. O processo de empreender inicia a partir da identificação e análise de uma oportunidade de negócio. Emseguida, o empreendedor deve planejar seu negócio, utilizando ferramentas como o plano de negócios. Depois é necessário identificar e captar os recursos necessários para, na sequência, implantar o negócio. Por fim, após sua implantação, o empreendedor tem de gerenciar e acompanhar seu negócio em operação. REFERÊNCIAS BARON, Robert A.; SHANE, Scott A. Empreendedorismo: uma visão do processo. São Paulo: Cengage Learning, 2011. BENEDETTI, M. H.; REBELLO, K. M. R.; REYES, D. E. C. Empreendedores e inovação: contribuições para a estratégia do empreendimento. Revista Eletrônica de Ciência Administrativa (Recadm), Campo Largo, v. 5, n. 1, p. 1-15, 2006. Disponível em: <http://revistas.facecla.com.br/index.php/recadm/article/view/375/278>. Acessado em: 12 fev. 2014. BESSANT, John; TID, Joe. Inovação e empreendedorismo. Porto Alegre: Bookman, 2009. CHIAVENATO, Idalberto. Empreendedorismo: dando asas ao espírito empreendedor: empreendedorismo e viabilização de novas empresas. São Paulo, Saraiva, 2008. DOLABELA, Fernando. O segredo de Luísa. Rio de Janeiro: Sextante, 2008. ______. Oficina do empreendedor. Rio de Janeiro: Sextante, 2008. DORNELAS, J. C. A. Empreendedorismo: transformando ideias em negócio. Rio de Janeiro: LTC, 2014. DRUCKER, Peter F. Inovação e espírito empreendedor (Entrepreneurship): práticas e princípios. São Paulo, Pioneira, 1986. http://revistas.facecla.com.br/index.php/recadm/article/view/375/278 ______. Inovação e espírito empreendedor (Entrepreneurship): práticas e princípios. São Paulo: Cengage Learning, 2010. FILION, Louis Jaques. O planejamento de seu sistema de aprendizagem empresarial: identifique uma visão e avalie o seu sistema de relações. São Paulo: Revista de Administração de Empresas (RAE), v. 31, n. 3, jul.-set. 1991, p. 63-72. ______. Empreendedorismo: empreendedores e proprietários-gerentes de pequenos negócios. São Paulo: Revista de Administração de Empresas (RAE), v. 34, n. 2, abr.-jun. 1999, p. 5-28. 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Mestre em Ciência da Comunicação e graduada em Administração – Comércio Exterior, ambas pela UNISINOS. Atualmente, assessora da gerência acadêmica da Unidade Acadêmica de Graduação (Uagrad) da UNISINOS e professora nos cursos de graduação e pós-graduação nesta mesma universidade. http://www.gemconsortium.org 2 Maiara Bittencourt Lauxen. Graduada em Administração de Empresas pela UNISINOS. 3 Vanessa de Souza Batisti. Doutoranda em Planejamento Urbano e Regional pela UFRGS, mestre em Economia pela UNISINOS e graduada em Ciências Econômicas pelo Unilasalle. Atualmente, coordenadora do Núcleo de Empreendedorismo e Inovação (NEI), coordenadora do curso de graduação tecnológica em Processos Gerenciais e professora nos cursos de graduação e pós-graduação da UNISINOS. 4 A pesquisa GEM estuda os indivíduos que criam e fazem a gestão de um negócio e entende que o empreendedorismo é um processo. As observações deste estudo são em relação às ações dos empreendedores que estão em diferentes fases do processo de criação e desenvolvimento de um negócio. CAPÍTULO 2 O EMPREENDEDOR: DEFINIÇÕES, TIPOLOGIAS E SUAS IMPLICAÇÕES Aurélia Adriana de Melo5 Izabel Cristina da Rosa dos Santos Este capítulo volta sua atenção para o empreendedor. Principal agente do empreendedorismo, a definição e funções do empreendedor foram sendo elaboradas ao longo do tempo até tomar o formato que se observa nos dias atuais. Este texto resgata essa trajetória e, apoiando-se na literatura sobre o tema, apresenta e discute características comportamentais e tipologias sobre o empreendedor. 2.1 Definindo o termo empreendedor O empreendedor é o agente do empreendedorismo. Esta definição, a priori simples, carrega consigo a mesma dificuldade encontrada para definir e investigar o fenômeno empreendedorismo: ter diversidade de definições e ausência de consensos. Boava e Macedo (2007) relacionam tal dificuldade ao estágio de amadurecimento epistemológico em que se encontra a área de conhecimento. Para os autores, este campo de estudo encontra-se em construção, configurando uma fase pré-paradigmática em que consensos ainda são difíceis e diversas áreas de conhecimento, a exemplo da economia, sociologia, antropologia, psicologia, gestão, finanças, marketing, engenharia, apropriam-se de aspectos distintos na tentativa de compreender e explicar o fenômeno. Entretanto, para Danjou (2002 apud BOAVA; MACEDO, 2007), é possível identificar três abordagens de investigação sobre empreendedorismo: (1) a do contexto: explora as condições da ação empreendedora; (2) a do ator: enfatiza o empreendedor; (3) a da ação: focaliza o processo empreendedor. Neste texto, a discussão tem como foco a segunda abordagem, ou seja, o ator. Nosso objetivo aqui é entender quem é este agente e quais são suas características comportamentais. Nesta linha, primeiramente, é importante ressaltar o desenvolvimento do termo empreendedor ao longo do tempo. Neste esforço, Hisrich et al. (2009) resgatam a origem francesa da palavra, entrepreuner, que significa intermediário. Assim, empreendedor era, inicialmente e de forma geral, aquele que intermediava a transação entre uma necessidade e uma oferta. Com base nesse significado, os autores remontam à Idade Média, quando era designado empreendedor aquele que administrava ou participava de grandes projetos de produção usando recursos fornecidos pelos governos. Nesta função, um típico empreendedor era o clérigo. Já no século XVII, empreendedor era a pessoa que firmava um acordo contratual com o governo para fornecer produtos ou serviços estipulados, assumindo os riscos da transação. Como o valor do contrato era fixo, lucros ou prejuízos eram do empreendedor (HISRICH et al., 2009). É desta época a primeira associação do termo com o aspecto riscos. Esta associação foi feita por Richard Cattilon, economista franco-irlandês, em 1755, no Essai sur la nature du commerce en général. Assim, empreendedor passou a ser aquele que se lançava em um empreendimento e corria riscos. No século XVIII, a figura do empreendedor adquiriu novos papéis, os quais se aproximam da perspectiva atual que se tem para o termo. Era empreendedor quem tinha uma ideia e a executava, porém faltavam-lhe os recursos financeiros. Estes eram providos pelo capitalista (atual investidor de risco). Logo, o empreendedor era quem também criava o empreendimento, além de desenvolver e implantar um projeto, mas não necessariamente o financiava. No final do século XIX e XX, a perspectiva econômica assume centralidade na discussão. Nela, é também considerado empreendedor aquele que dirige negócios e, nesta direção, reforma e revoluciona um padrão de produção vigente por meio da exploração de uma invenção (HISRICH et al., 2009). Nesta perspectiva, vale recuperar algumas ideias do trabalho de Schumpeter, desenvolvido no início do século XX (primeira publicação da obra em alemão ocorre em 1911, com tradução para o inglês em 1934), e no qual se discute o fenômeno do desenvolvimento econômico. No texto, Schumpeter (1985) ressalta a existência, na esfera social,de um grupo especial de indivíduos caracterizados por um comportamento econômico voltado para a concepção de novos bens ou serviços visando à obtenção de vantagem econômica. Para o autor, são estes indivíduos que, via de regra, iniciam as mudanças revolucionárias que promovem o desenvolvimento econômico. São eles que apresentam o novo e, por esta razão, também são eles que ensinam e educam os consumidores a querer o novo. Nas palavras de Schumpeter, o que move estes indivíduos é“a alegria de criar, fazer as coisas ou simplesmente exercitar a energia e a engenhosidade. [...] Eles buscam as dificuldades, mudam por mudar, deliciam-se com a aventura”(SCHUMPETER, 1985 p. 65). O autor também diferenciava os capitalistas (bancos/investidores) — cujo papel era fornecer crédito — dos empreendedores, homens de negócio voltados à criação. Outras definições para empreendedor vão ser encontradas na literatura acadêmica ao longo dos séculos XX e XXI, conforme apresenta o Quadro 2. Quadro 2 – Definições de empreendedor ao longo dos séculos XX e XXI Autor Definição Knight (1921) Empreendedor é aquele que toma decisões em condições de incerteza. McClelland (1961) Empreendedor é o indivíduo que controla os meios de produção e produz mais do que consome, correndo riscos moderados. Druker (1969) Empreendedor é aquele que maximiza oportunidades. Hayeck (1974) Empreendedor é aquele que capta e uti l iza informações para encontrar oportunidades. Liles (1974) O empreendedor é aquele que identifica, cria oportunidades e inova. Albert Shapero (1975) Empreendedor é o indivíduo que organiza meios econômicos e sociais para obtenção de resultados e aceita o risco do fracasso. Casson (1982) O empreendedor é o indivíduo que lida com recursos escassos e sabe discernir. Carland et al. (1984) Empreendedor é aquele que inova. Stevenson e Gumpert (1985) Empreendedor é aquele que persegue oportunidades sem se deixar limitar pelos recursos que controla. Bracker, Keats e Pearson (1988) Empreendedor é aquele que, por meio da gestão estratégica, inova. Dornelas (2001) Empreendedor é aquele que faz as coisas acontecerem. Ele antecipa-se aos fatos e tem uma visão de futuro. Hisrich et al. (2009) Empreendedor é o indivíduo que, movido por uma ideia, dedica tempo e esforço necessários à sua implantação, assumindo os riscos financeiros, psíquico e sociais e recebendo as consequentes recompensas da satisfação e da independência financeira e pessoal. Fonte: adaptado pelas autoras com base em Boava e Macedo (2007) e Hisrich (2009). Nas definições aqui apresentadas, é possível identificar alguns aspectos recorrentes: identificação de oportunidades, criação de valor, assunção de riscos, expectativas de recompensas. Tais aspectos, por sua vez, possibilitam entender o empreendedor como o agente principal de um processo que se inicia pela identificação de uma oportunidade e pela sua subsequente implementação. Nesta caminhada, ele é movido por uma visão de futuro, na qual se observam expectativas de recompensa financeira e de satisfação pessoal. Tal visão é o combustível que lhe permite antecipar, compreender e suportar riscos de natureza financeira, social e psíquica. Ressalta-se, porém, que essa tentativa de consolidação das diversas definições de empreendedor carrega consigo uma questão iminente que suscita admitir que, em uma sociedade, os empreendedores constituem um grupo específico e diferenciado de indivíduos. De um lado, tal concepção já é encontrada na perspectiva schumpeteriana e também aparece em autores mais atuais, a exemplo de Dornelas (2014, p. 8), para quem os empreendedores [...] são pessoas diferenciadas, que possuem motivação singular, são apaixonadas pelo que fazem, não se contentam em ser mais um na multidão, querem ser reconhecidas e admiradas, referenciadas e imitadas, querem deixar um legado. De outro lado, porém, há os que, apoiados em uma perspectiva de estudo mais contextual do fenômeno do empreendedorismo, acentuam a importância das condições ambientais na geração de empreendedores (FILION, 1991; DOLABELA, 2006; BOAVA; MACEDO, 2007, HISRICH et al., 2009). Nesta linha, e segundo Dolabela (2006, p.28), “o empreendedor é um ser social, produto do meio em que vive (época e lugar). Se uma pessoa vive em um ambiente em que ser empreendedor é visto como algo positivo, então terá motivação para criar seu próprio negócio”. O meio em que vive o empreendedor pode ser considerado a família, a escola, os amigos com os quais ele convive e que poderão contribuir para sua formação empreendedora (FILION, 1991). Assim, se um indivíduo vive em um ambiente favorável à prática do empreendedorismo, ele o perceberá como algo positivo e se sentirá estimulado a esta prática. A concepção que advoga ser o empreendedor o produto do seu contexto alimenta iniciativas deliberadas de fomento ao empreendedorismo e ao seu resultado mais esperado: a criação de valor via inovação. Assim, são encontradas ações de estabelecimento de parques tecnológicos tendo-se como exemplo icônico o Vale do Silício, na Califórnia, modelo de região concebida para fomentar o empreendedorismo e fixar empreendedores — inicialmente, estudantes da Universidade de Stanford. No Brasil, esta iniciativa também se espalha por quase todas as regiões do país. Na Região do Vale dos Sinos, encontra-se, por exemplo, o Parque Tecnológico de São Leopoldo (Tecnosinos). Somado a este esforço, o estímulo à geração de empreendedores também encontra espaço nos meios virtuais. Tal propósito é flagrante na missão de organizações voltadas à promoção da cultura empreendedora no mundo, a exemplo da Endeavor (2014), de cuja página é possível extrair frases como: “somos um agente que mobiliza a sociedade para promover mudanças e multiplicar o número de empreendedores que transformam o Brasil”. A missão de promover o empreendedorismo por meio da formação de empreendedores suscita entendê-lo como uma competência que pode ser adquirida. Como a competência consubstancia-se no conjunto de conhecimentos, habilidades e atitudes (CHAs) expresso pelo indivíduo quando diante de uma determinada situação (MUNCK et al., 2010), é possível concluir que a formação do empreendedor demanda sua instrumentalização teórica sobre o processo empreendedor, a possibilidade de praticá-lo visando desenvolver conhecimento tácito e, consequentemente, habilidades empreendedoras, e, por fim, a identificação e promoção de situações que provoquem respostas comportamentais na direção do que se espera do empreendedor. Em outras palavras, e conforme Dolabela (1999), além do conjunto de conhecimentos formal e tácito, demanda-se do empreendedor a introjeção de valores e atitudes manifestos nas formas de percepção do mundo e de si mesmo e dirigidos às atividades em que o risco, a capacidade de inovar, de perseverar e de conviver com a incerteza. Dessa forma, para a formação empreendedora, faz-se necessário fazer emergir um comportamento proativo do indivíduo, por meio do qual ele deve desejar “aprender a pensar e agir por conta própria” (DOLABELA, 1999, p.12). 2.2 Características do comportamento empreendedor (CCE) Como apresentado antes, o desenvolvimento da competência empreendedora impõe um tratamento do aspecto comportamental. Pode- se argumentar que este aspecto, enquanto detonador do processo de formação daquele que deseja ser empreendedor, assume importância crucial, pois a tomada de decisão nesta direção é de fórum íntimo. Porém, para decidir sobre algo, faz-se necessário conhecimento prévio, o que reforça a necessidade da introdução de conteúdos sobre empreendedorismo nos diversos níveis de qualificação formal pelos quais passa um indivíduo. Talvez seja este um dos principais pontos na criação de um contexto favorável ao empreendedor. No que tange ao aspecto comportamental, quanto mais cedo for o indivíduo despertado para o conjunto de atitudes empreendedoras, mais naturalmente poderá cultivá-las e desenvolvê-las. Para tanto, faz-se necessária a identificação destas atitudes. Com esteobjetivo, um dos trabalhos importantes foi realizado na década de 1980, sob coordenação de David McClelland. Intitulado “Projeto de Desenvolvimento do Espírito Empreendedor e da Pequena Empresa”, este estudo visou à identificação das características pessoais associadas ao espírito empreendedor e à iniciativa empresarial bem-sucedida (MARIANO, 2008). Financiado durante cinco anos pela Agência dos Estados Unidos para Desenvolvimento Internacional (Usaid), o projeto confirmou a ideia de que era possível treinar pessoas para que elas pudessem desenvolver o comportamento empreendedor, o que determinou a criação do Empretec, um importante programa de desenvolvimento de capacidades empreendedoras conduzido pela Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento (UNCTAD). O Empretec adota um conjunto de dez características do comportamento empreendedor (CCE) distribuídas em três indicadores comportamentais listados a seguir (MARIANO, 2008): 2.2.1 Conjunto de realização Busca de oportunidade e iniciativa: o empreendedor deve ser proativo, ou seja, agir antes de ser solicitado ou de ser forçado pelas circunstâncias e, também, deve procurar identificar oportunidades, novas áreas de atuação, produtos ou serviços relacionados ao seu negócio. Persistência: o empreendedor reage diante de um obstáculo, procurando ter a humildade necessária para mudar a estratégia, quando necessário, para que possa enfrentar o desafio ou superar obstáculo, assumindo responsabilidade de atingir as metas e os objetivos. Comprometimento: focado em objetivos, o empreendedor agrega esforços para que estes sejam atingidos. Assim, ele assume um compromisso com sua equipe de trabalho e, principalmente, com seus clientes. Exigência de qualidade e eficiência: o empreendedor deve buscar sempre a melhor relação custo-benefício para cada ação, procurando cumprir os prazos e garantir padrões de excelência, não interferindo na qualidade desta ação. Hábito de correr riscos calculados: deve ser permanente para o empreendedor o controle das ações, procurando buscar alternativas, de forma sistemática, para consequências não desejadas e de riscos. 2.2.2 Conjunto do planejamento Estabelecimento de metas: o empreendedor define metas e objetivos de curto e longo prazo, que sejam mensuráveis e que possam garantir o sucesso do negócio. Busca constante de informações: o empreendedor deverá dedicar- se, constantemente, a obter informações referentes aos seus clientes, fornecedores e concorrentes, investigando como fabricar um determinado produto ou mesmo como fornecer um serviço. Além disso, deve procurar consultar especialistas no intuito de obter assessoria técnica ou comercial e participar de eventos especializados naquilo em que esteja inserido. Planejamento e monitoramento sistemáticos: o empreendedor divide de forma clara as tarefas com sua equipe para que possa desenvolver e acompanhar permanentemente os resultados que serão obtidos e operar as mudanças circunstanciais. Outro ponto importante neste item é a preocupação em manter os registros das ações e utilizá-los para tomada de decisões. 2.2.3 Conjunto de poder Rede de contatos: a preocupação em formar rede de apoio em suas relações sociais e comerciais é outro aspecto importante no comportamento empreendedor. Estas redes facilitam a obtenção de informação e suportam o andamento de ações. Com este objetivo, o empreendedor deve agir eticamente para desenvolver, manter e fortalecer a rede de apoio. Saber com quem falar e a quem se dirigir justamente para articular e mediar é uma atividade que deve ser constante. Independência e autoconfiança (otimismo): o empreendedor precisa se engajar em propostas nas quais ele acredite, pois, desta forma, mesmo que esteja diante de oposições ou de resultados inicialmente desfavoráveis, ele irá expressar confiança ao longo de todo o desenvolvimento e execução do desafio. Para Filion (apud Dolabela, 1999), as características dos empreendedores alteram-se de acordo com as atividades executadas em uma determinada época ou etapa de desenvolvimento do empreendimento em que atua. Tais alterações são naturais e decorrentes da aquisição e consolidação de habilidades empreendedoras. Neste processo, à medida que experimenta situações diversas, o empreendedor elabora um modus operandi, uma espécie de heurística que se fortalece e se institucionaliza pela obtenção de resultados exitosos (MARTINELLI; FLEMING, 2010). 2.3 Tipos de empreendedor Embora características comportamentais e o conjunto de conhecimentos e habilidades empreendedoras sejam de natureza genérica, ou, conforme palavras de Dornelas (2001, p. 11), “tornar-se empreendedor é algo que pode acontecer a qualquer um”, a investigação da trajetória de vida de empreendedores sugere a estruturação de tipologias que permitem evidenciar grupos de empreendedores caracterizados tanto pela natureza da ação empreendedora como pelo fator mobilizante desta ação. Para Dornelas (2001), há diversas possibilidades de empreendedorismo. Apoiando-se em pesquisa realizada com 399 empreendedores, o autor propõe uma tipologia estruturada em oito tipos de empreendedores (Quadro 3). Quadro 3 – Tipologia de empreendedores, segundo José Dornelas Tipo de Empreendedor Descrição Nato (Mitológico) Em geral, tem origem pobre, começou a trabalhar muito jovem e conseguiu criar e desenvolver grandes negócios. Aprendiz (Inesperado) Tipo de indivíduo que começa a empreender por acaso. Antes disso, julgava-se incapaz de assumir riscos. Serial Indivíduo que gosta da emoção de iniciar empreendimentos, Serial Indivíduo que gosta da emoção de iniciar empreendimentos, desenvolvê-los e passá-los adiante. Corporativ o Indivíduo que desenvolve a ação empreendedora no interior de organizações das quais é funcionário. Embora não tenha total autonomia, destaca-se pelo poder de persuasão. Social Indivíduo engajado em causas humanitárias, comprometido com o sonho de construir um mundo melhor. Este tipo de empreendedor realiza-se criando oportunidades para aqueles que não tiveram acesso a elas. Herdeiro (Sucessão familiar) Empreendedor que descende de família empreendedora e tem como missão levar adiante seu legado. Há aqueles que cumprem esta missão rompendo com o status quo e os conservadores. Por necessidade Indivíduo que começa a empreender porque não tem outra alternativa para se manter, seja porque foi demitido ou mesmo porque não consegue se inserir no mercado de trabalho. Este tipo de empreendedor geralmente se envolve em negócios informais. Normal (Planejado) Empreendedor que gosta de estabelecer planos formais, com metas e indicadores definidos. Fonte: adaptado pelas autoras com base em Dornelas (2001). Miner (1998 apud SARKAR, 2008; LENZI; VENTURI; DUTRA, 2005), que aborda a personalidade do empreendedor em uma perspectiva funcional, desenvolve uma tipologia baseada em quatro tipos de empreendedores apresentados no Quadro 4: Quadro 4 – Tipologia de empreendedores, segundo John Miner (1998) Tipo de Empreendedor Descrição Gerente Gosta de operar por rotinas, respeita a autoridade e almeja obtê-la. É competitivo, decidido e aprecia promoções, apresenta elevada capacidade de supervisão e comunicação. Util iza persuasão eficaz e lógica. Destaca-se por levar empreendimentos a crescimentos significativos. Gerador de ideias Empreendedor que gosta de resolver problemas de forma inovadora. Destaca-se pela elevada tolerância ao risco e autoconfiança. É fortemente atraído para o mundo das ideias. Superv endedor Empreendedor com elevada habilidade para construir alianças. Caracteriza-se pela empatia e por valorizar o processo social e os relacionamentos. Realizador Empreendedor com elevada motivação interna. Gosta de planejar e estabelecer metas para realizações futuras. Dotado de muita estabelecer metas para realizações futuras. Dotado de muita iniciativa e forte compromisso com o empreendimento. Fonte: adaptado pelas autoras com base em Lenzi, Venturi, Dutra (2005) e Sarkar (2008). É interessante observar que as descriçõesdos tipos propostos por Miner (1998), ao enfatizar a forma como a ação empreendedora é desenvolvida, aplicam-se tanto a empreendedores que criam um empreendimento quanto a empreendedores que implementam ou dirigem um empreendimento, ou seja, empreendedores corporativos, conforme tipologia de Dornelas (2001). Miner (1998) observa ainda que é possível a um empreendedor apresentar um perfil que resulte da combinação dos tipos apresentados no Quadro 4. Segundo o autor, há empreendedores que apresentam os quatro estilos e podem se envolver em atividades diversas. Porém, ele também recomenda a empreendedores não perder tempo em atividades estranhas às suas características. Apesar de também considerar as diversas possibilidades de empreendedorismo e da ação empreendedora, Martinelli e Fleming (2010) orientaram esforços no sentido de evidenciar traços comuns na personalidade empreendedora. Os resultados de seus estudos revelaram que empreendedores que atuam em empreendimentos de risco evidenciam necessidade de controle de sua própria ação empreendedora. Apoiados no trabalho de Caird (1991) e Hisrich et al. (2009), Martinelli e Fleming (2010) enfatizam a importância de observar o locus deste controle. Este pode ser interno ou externo. Para os autores, a atitude de empreender baseada na assunção de riscos é mais intensa em indivíduos impulsionados por uma necessidade interna de vencer. Além disso, estes empreendedores também apresentam um forte sentimento de independência e consciência de que o sucesso depende, preponderantemente, de esforço e trabalho dedicados. 2.4 Diferenças entre empreendedor e empresário Se, como afirmou Dornelas (2001), qualquer um pode se tornar um empreendedor, é também possível observar que nem todos manifestam todas as características do comportamento empreendedor voltadas à abertura de novos negócios, haja vista as tipologias apresentarem um tipo de empreendedor que atua dentro de organizações. Schumpeter, em 1911, já chamava atenção para este fato ao caracterizar o trabalho do dirigente (empresário). Para o autor, o trabalho do empresárioé criativo na medida em que estabelece seus próprios fins e toma decisões. Para tanto, ele toma como referência os sinais do ambiente externo e suas tendências. Assim, segue as mudanças da melhor forma que pode, removendo discrepâncias. Seu objetivo é atender necessidades objetivas e conhecidas. Já o empreendedor schumpeteriano diferencia-se por não seguir tendências nem atender necessidades, mas criá-las. Mais recentemente, a diferença entre empresário e empreendedor ainda é um tema em pauta. Dolabela (1999, p. 120) afirma que esta diferença está na “[...] forma de abordar a empresa, no comportamento, nas atitudes e visão de mundo”. Sua caracterização do trabalho do empresário e do empreendedor aproxima-se da visão schumpeteriana, conforme pode ser visto no Quadro 5. Quadro 5 – Comparação entre empresário e empreendedor Empresário Empreendedor A disponibil idade de recursos e sua otimização é o ponto de partida para o estabelecimento de metas. Primeiramente, estabelece objetivos e metas, para depois localizar os recursos. Opera dentro de uma estrutura organizacional existente. Transforma a estrutura organizacional, por meio da definição de novos papéis e funções. Prioriza aquisição de conhecimentos gerenciais e técnicos (conhecimento formal). Investe na aquisição de conhecimento formal, mas também busca adquirir habil idades (know-how) e formas de relações (know-who), apoiando-se na autoimagem e na visão de futuro. Adapta-se a mudanças. Inicia mudanças. Opera processos existentes. Desenvolve novos processos. Seu padrão de trabalho implica análise racional. Seu padrão de trabalho envolve inovação e criatividade. Apoia-se na cultura de afil iação. Apoia-se na cultura de liderança. Centrado no trabalho em grupo e na comunicação grupal. Ênfase na realização individual. Volta-se para o desenvolvimento de habilidade(know-how) em gerenciamento de recursos e na sua especialidade. Volta-se para o desenvolvimento de habilidade(know-how) em definir contextos que levem à ocupação de mercados. Desenvolve padrões para a busca de regras gerais e abstratas. Busca princípios que possam se transformar Lida com situações concretas e específicas. Considera que uma situação é única e deve ser tratada de forma diferenciada. em comportamentos empresariais de eficácia. Fonte: adaptado pelas autoras com base em Dolabela (1999, p. 119). A observar o comportamento de pequenos empresários e de gerentes e compará-lo ao de empreendedores, Filion (1999, p. 12) conclui: Gerentes e pequenos empresários buscam atingir metas e objetivos a partir dos recursos disponíveis, dentro de uma estrutura predefinida ou copiada. Os empreendedores, por outro lado, gastam boa parte de seu tempo imaginando onde querem chegar e como farão para chegar lá. De alguma forma, os empreendedores são detectores de espaços de mercado e criadores de contextos. Para o autor, as qualidades da “consciência de si” (self-awareness) de empresários e empreendedores diferem muito. Também é diferente o conhecimento, uma vez que o empresário é voltado para a organização de recursos da empresa, enquanto o empreendedor se direciona para a definição de contextos onde a empresa está inserida (DOLABELA, 1999, p. 120). 2.5 Ideias destacadas neste capítulo Neste capítulo, recupera-se a trajetória de elaboração do significado do termo empreendedor, visando identificar convergências entre as diversas definições que apareceram desde o momento inicial de aplicação do termo. Com este objetivo, propõe-se definir o empreendedor como o agente principal de um processo que se inicia pela identificação de uma oportunidade e pela sua subsequente implementação. Nesta caminhada, ele é movido por uma visão de futuro, na qual se observam expectativas de recompensa financeira e de satisfação pessoal. Tal visão é o combustível que lhe permite antecipar, compreender e suportar riscos de natureza financeira, social e psíquica. O processo protagonizado pelo empreendedor demanda-lhe competências que se consubstanciam em um conjunto de conhecimentos, habilidades e atitudes. Tal conjunto pode ser adquirido e fomentado em contextos específicos voltados à promoção do empreendedorismo. Nesta linha, o empreendedor competente tem conhecimento sobre o processo empreendedor no que concerne a suas etapas, bem como aos instrumentos e técnicas necessários à operacionalização das mesmas. Por meio da aplicação deste conhecimento em situações reais, ele desenvolve habilidades empreendedoras e, ao mesmo tempo, depara-se com a necessidade de manifestar atitudes comportamentais importantes para efetivar a ação de empreender. Porém, o papel do empreendedor deve ser concebido em uma abordagem mais ampla e, ao mesmo tempo, focada na realização de um empreendimento, o que não se restringe à abertura de novos negócios, mas contempla também outros formatos e outras possibilidades de empreender, como é o caso dos empreendedores corporativos. À guisa de conclusão, este texto alia-se a perspectivas que veem o homem como um ser para empreender (BOAVA; MACEDO, 2007), um arquiteto de sua própria existência, um ser que se faz, que se projeta. Assim, a natureza empreendedora é um aspecto do ser humano que, ao encontrar contextos favoráveis, revela o empreendedor. REFERÊNCIAS BOAVA, Diego Luís Henrique; MACEDO, Fernanda Maria Felício. Constituição ontoteleológica do empreendedorismo. In: XXXI Encontro nacional de pós-graduação em Administração (Anpad), 2007, Rio de Janeiro. DEGEN, Ronald Jean. O empreendedor: fundamentos da iniciativa empresarial. São Paulo: Makron, 1989. DOLABELA, Fernando. 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Doutora em Administração pela UFRGS, mestre em Política Científica e Tecnológica e graduada em Engenharia Mecânica, ambas pela Unicamp, além de especialista em Gestão da Produção pela UFRGS. Atualmente, professora nos cursos de graduação da UNISINOS. http://www.ibqp.org.br/portal/files/artigoEntrevista/20090304_SZarpellon_RevistaIberoamericana.pdf CAPÍTULO 3 IDENTIFICAÇÃO E ANÁLISE DE OPORTUNIDADES PARA NEGÓCIOS Gustavo da Silva Costa6 Luciana Maines da Silva7 Vanessa de Souza Batisti Este capítulo trata da identificação e da análise de oportunidades de negócios, uma das mais importantes etapas do processo empreendedor. Para tanto, primeiramente apresenta-se a diferença entre ideia e oportunidade. Depois, como identificar as ideias e oportunidades, incluindo os tipos de oportunidades. Por fim, os critérios para avaliação das oportunidades são expostos, a partir de três propostas distintas. 3.1 Diferença entre ideia e oportunidade O sonho de todo empreendedor é o de que a oportunidade “bata à sua porta”. Mas para que isso ocorra é imprescindível que o empreendedor perceba o que pode ser uma oportunidade, e o que não é. O poeta e escritor português Fernando Pessoa, no final da década de 1920, já falava sobre oportunidade. Uma das palavras que mais maltratadas têm sido, no entendimento que há delas, é a palavra oportunidade. Julgam muitos que por oportunidade se entende um presente ou favor do destino, análogo a oferecerem-nos o bilhete que há de ter a sorte grande. Algumas vezes assim é. Na realidade cotidiana, porém, oportunidade não quer dizer isto, nem o aproveitar-se dela significa o simplesmente aceitá-la. Oportunidade, para o homem consciente e prático, é aquele fenômeno exterior que pode ser transformado em consequências vantajosas por meio de um isolamento nele, pela inteligência, de certo elemento ou elementos, e a coordenação, pela vontade, da util ização desse ou desses. Tudo mais é herdar do tio brasileiro ou não estar onde caiu a granada. (PESSOA, 1928 apud CHÉR, 2002, p. 60). Muitas pessoas confundem ideia com oportunidade. Seriam ideia e oportunidade a mesma coisa? Seriam complementares? E como identificar uma oportunidade? Ideia e oportunidade são diferentes. A ideia é a base da oportunidade. Quando o empreendedor se depara com uma determinada situação, que lhe gera uma ideia, o passo seguinte será identificar se essa ideia é uma oportunidade, ou não, a partir da avaliação da oportunidade. 3.1.1 Como identificar uma ideia “Gênio é 1% de inspiração e 99% transpiração.” (Thomas Edison) Às vezes, algumas pessoas se perguntam “por que não pensei nisso antes?” Quando estas pessoas se dão conta disso, é porque alguém já pensou. Muitas vezes, também, os indivíduos se consideram pouco criativos e sem boas ideias. Mas para se ter boas ideias e desenvolver a criatividade (sim, é possível desenvolvê-la), é imprescindível ter a mente aberta e estar sempre questionando, criticando e duvidando (DORNELAS, 2014). O empreendedor deve ficar atento a tudo o que acontece a sua volta. Notícias de jornal, novos negócios no bairro, conversa com amigos, são algumas das fontes para vislumbrar a possibilidade de um novo negócio. Além disso, a pesquisa acerca das linhas de financiamento que estão sendo oferecidas pelos governos (no âmbito municipal, estadual e federal), assim como recursos internacionais voltados para determinadas áreas, também servem de inspiração. E a fonte de inspiração mais simples, e que pode gerar grandes ideias, é verificar que problemas do cotidiano são enfrentados. O seu problema pode trazer uma boa ideia de negócio Ideia inspirada no cotidiano de uma mãe A partir de um dilema que a carioca Carla Coelho Coutinho enfrentava no seu dia a dia como mãe (não encontrava para comprar uma bolsa que comportasse todos os seus objetos e os que precisava levar para sua fi lha como mamadeira, chupeta, fralda, papinha, lenços umedecidos, brinquedos…), durante a gravidez de sua segunda fi lha, começou a desenhar modelos de bolsas que unissem essas características. Fonte: adaptado pelos autores com base em Papo de Empreendedor (2014). Juntamente com os problemas e da vivência do dia a dia, as ideias também podem se originar das seguintes fontes: experiência pessoal do empreendedor, clientes, concorrentes, fornecedores e canais de distribuição, funcionários, associações e outras entidades empresariais, dentre outras (SARKAR, 2008). Dornelas (2014) ainda traz outros exemplos de como gerar ideias: pesquisar novas patentes e licenciamentos de produtos, em áreas nas quais o empreendedor tem intenção de atuar com um novo negócio, pode produzir conclusões interessantes que definirão a estratégia da empresa; estar atento aos acontecimentos sociais de sua região, tendências, preferências da população, mudanças no estilo e padrão de vida das pessoas e hábitos dos jovens (futuros e até atuais consumidores para determinados produtos e serviços) e também dos mais velhos (mercado promissor e em crescente ascensão em virtude do aumento da expectativa de vida da população); visitar institutos de pesquisa, universidades, feiras de negócios etc.; participar de conferências e congressos da área. O mais importante é ter em mente que, nesta etapa, tudo é válido, das ideias mais simples até as mais absurdas, pois é somente na próxima etapa (análise da oportunidade), que critérios mais racionais de negócio serão explorados. 3.1.2 Como identificaruma oportunidade “As oportunidades são criadas, ou construídas, uti l izando-se ideias e criatividade empreendedora.” (Dornelas, 2010) Ter a ideia de um novo negócio é relativamente simples, o desafio maior é transformar tal ideia em oportunidade real de negócio (AIDAR, 2007, p. 29). Ou seja, a dificuldade não está na ideia, mas sim na capacidade do empreendedor, que vislumbrou a ideia, de criar valor para o cliente, atendendo às necessidades de certo público com o produto ou serviço a ser desenvolvido e ofertado no mercado. Todo negócio deve atender às necessidades de clientes, mediante a oferta de algum produto ou serviço, pelo qual eles estão dispostos a pagar. Portanto, o caminho principal para identificar oportunidades de negócio é procurar necessidades de potenciais clientes que não estão sendo satisfeitas e desenvolver produtos ou serviços para satisfazê-las a um custo que os clientes estejam dispostos a pagar. (DEGEN, 2009, p. 32). Tais necessidades podem ser percebidas a partir de diversas fontes de ideias empreendedoras, conforme apresentado anteriormente. Porém, pesquisadores no assunto apontam três principais fontes de oportunidade: (1) mudança tecnológica; (2) mudança política ou de regulamentos; e (3) mudança social e demográfica. 3.1.2.1 Fatores tecnológicos Por vários séculos, a vida das pessoas pouco ou quase não mudava. O meio de transporte, a forma de fazer negócio, as rotinas diárias, tudo acontecia da mesma forma por gerações. Há pouco mais de um século, vive-se em constante transformação. Invenções como o motor a vapor (ou máquinas a vapor, na Inglaterra do século XVIII) deram início a uma transformação na forma de se produzir e transportar bens. De lá para cá, muito foi criado e passou a se tornar item necessário em nossas vidas. Não se vive mais sem celular ou internet. Desde produtos tecnológicos a sistemas de gestão, existe um universo de oportunidades aguardando pelo empreendedor, que reforça a importância do fator tecnológico como fonte de oportunidade. 3.1.2.2 Fatores político-regulatórios O empreendedor pode perceber duas fontes de oportunidade no que se refere aos fatores político-regulatórios. O primeiro deles é aproveitar a desregulamentação, pois, nesses casos, facilita a entrada de novos participantes em setores específicos. Pode-se utilizar como exemplo o setor de telecomunicações no Brasil, que, até 1998, era explorado com exclusividade por instituições públicas. A partir dessa data, empresas privadas puderam participar do setor. A segunda fonte é a regulamentação que protege específicos tipos de atividades, pois permite que pessoas que respondem adequadamente às mudanças obtenham ganhos. A “Lei Seca”, por exemplo, compromete o faturamento de bares e restaurantes, pois inibe o consumo. Por outro lado, gera oportunidade para aqueles que oferecem serviços de transporte aos seus clientes. 3.1.2.3 Fatores sociais e demográficos As mudanças sociais e demográficas são fortes fontes de oportunidade, pois ambas alteram a demanda por produtos e serviços ao criar oportunidade para produzir coisas diferentes. Além disso, a solução para atender necessidades dos clientes normalmente é mais produtiva do que as disponíveis atualmente. Como exemplo de oportunidade nas mudanças sociais aponta-se o crescente número de pessoas que moram sozinhas. Com isso, surgiu uma gama de produtos alimentícios em porções menores ou individuais, principalmente de congelados. Como exemplo de mudança demográfica destaca-se o aumento da expectativa de vida da população. Com isso, empresas de turismo estão oferecendo pacotes de viagem para o público da terceira idade, que tem algumas restrições de locomoção e cuidados com a saúde. O Caso Nespresso E a família, como vai? Uma bala azedinha: o cheiro de pão feito em casa; o som da feira; o nhoque da avó; um abraço. Todas estas lembranças nos remetem a bons momentos de nossas vidas, momentos estes que nos alegram e tornam a vida mais leve. Assim, a Nestlé descobriu uma nova oportunidade em um segmento em que nunca havia alcançado a liderança, o segmento de café. Com a NESPRESSO, a Nestlé não reinventou o café, mas simplesmente a forma de bebê-lo. Em casa ou no escritório, o objetivo da NESPRESSO é lembrar o consumidor que beber um bom café é uma das boas coisas da vida, assim como tantas outras que nos remetem a boas recordações. Resumindo, a estratégia comercial da NESPRESSO era bastante simples. Transformar o ato de beber um bom café em um momento confortável, alegre e descontraído. Na década de 1970, o departamento de P&D da Nestlé desenvolveu uma máquina de café expresso que util izava cápsulas de café moído em porções específicas, com um sabor que imitava os cafés de maior categoria italianos. Registrada a sua patente em 1976, a NESPRESSO só começou a ser vendida em 1986, quando foi definida a estratégia de marketing do novo produto. Nos últimos anos, a NESPRESSO optou pela estratégia de um produto cada vez mais premium, caracterizando seus consumidores como membros do clube (consumidores que compram a máquina de café expresso e/ou participam interativamente das discussões e promoções da NESPRESSO em seu site). Atualmente, a empresa é líder mundial do mercado de café premium em porções individuais, atuando em mais de cinquenta países. Pelo terceiro ano consecutivo, foi nomeada a marca de crescimento mais rápido do Grupo Nestlé. Remeter os consumidores a boas recordações, além de tornar seus consumidores uma família em torno de um produto, foi a oportunidade identificada pela Nestlé para sofisticar um produto que até vinte anos atrás era praticamente uma commodity dentro do mercado, concorrendo unicamente por distribuição e preço. Fonte: adaptado pelos autores com base em Nespresso (2011). 3.1.3 Formas de exploração da oportunidade Cada uma das fontes de oportunidade (mudança tecnológica, mudança política ou de regulamentos, ou mudança social e demográfica) pode ser explorada de cinco formas distintas: novo produto ou serviço, nova forma de organização, novo mercado, novos métodos de produção e nova matéria-prima. O Quadro 6 apresenta estas possibilidades de exploração, a partir da fonte mudança tecnológica. Quadro 6 – Formas de exploração da oportunidade a partir de mudanças tecnológicas Forma de Exploração da Oportunidade Mudança Tecnológica Exemplo de uma Ideia de Negócio em Resposta à Oportunidade Justificativ a Novo produto ou serviço Comunicação Telefone celular Permite a comunicação em diferentes lugares. Nova forma de organização Internet Sites de compra coletiva Venda de produtos para um número maior de pessoas. Novo mercado Medicina estética Botox Criado originalmente como alternativa para o tratamento não cirúrgico do estrabismo, hoje é uti l izado para eliminar ou reduzir as rugas de expressão. Novos Computador Telecirurgia Sistema em que especialistas métodos de produção movimentam os braços robóticos durante a cirurgia por meio de um joystick acoplado ao computador. Nova matéria- prima Plástico Verde Embalagem de produtos Possui propriedades idênticas às do plástico tradicional e tem aplicação em mercados como o automobilístico, indústria de brinquedos, embalagens para alimentos e produtos de higiene, entre outras. Fonte: adaptado pelos autores com base em Baron e Shane (2007). Da mesma forma que se realizou este exercício pensando-se exemplos de negócios da fonte de oportunidade e mudança tecnológica, pode-se fazê-lo para as duas outras fontes aqui não exploradas. 3.2 Critérios para avaliação de oportunidades de negócio Depois de identificar ideias e oportunidades para novos negócios, a etapa seguinte refere-se à avaliação da oportunidade identificada. Existem diversas bases para comparar ou julgar uma oportunidade de negócios; porém, como as chances de cometer um erro nunca são iguais a zero, é importante possuir um argumento racional que guie os passos do empreendedor em futuros empreendimentos. Tais bases, que na sequência serão tratadas como roteiro ou plano, “[...] não
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