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1 Curso Ênfase © 2019 DIREITO PENAL - PARTE GERAL – MARCELO UZEDA AULA15 - TEORIAS DA CONDUTA PARTE 2 1.TEORIA DO CRIME Serão abordados nesta aula, dentro da Teoria do Crime, os elementos do crime. O professor explica que apresentará o estudo da teoria do crime dividindo aspectos do conceito analítico do crime, estes são: fato típico, ilicitude e culpabilidade. Essa divisão será feita com a análise da evolução das teorias, que surgiram e formaram o conceito do elemento que compõem o conceito analítico do crime. Deve-se partir do pressuposto de que a teoria do crime não é uma obra acabada, seu conceito está ainda em evolução. Em suma, os três elementos do crime são: FATO TÍPICO, ILICITUDE e CULPABILIDADE. A aula se iniciará pelo fato típico, o primeiro elemento do estudo. 1.1. FATO TÍPICO Doutrinariamente, divide-se o fato típico em quatro elementos: conduta, resultado, relação de causalidade e tipicidade penal. Inicialmente, serão analisadas as teorias da conduta e sua evolução, partindo da teoria clássica, até os conceitos mais modernos do pós finalismo e as propostas funcionalistas de Roxin e Jakobs. 1. TEORIA CAUSAL NATURALISTA (SISTEMA CLÁSSICO): Presente no final do século XIX, com Von Liszt, tendo influência do pensamento científico-natural. Para essa teoria, o conceito de conduta é a ação que consiste em modificação causal do mundo exterior, perceptível pelos sentidos, produzida por uma manifestação de vontade (ação ou omissão voluntária). Nesse momento há forte influência do pensamento científico-natural (positivismo). A teoria clássica, dentro do sistema causal naturalista, afirma que a ação consiste em uma modificação causal do mundo exterior, perceptível pelos sentidos e produzida por manifestação de vontade (Ação ou omissão voluntária). O conceito clássico do delito, é fruto do pensamento jurídico característico do positivismo científico, que afastava qualquer contribuição das valorações filosóficas, psicológicas e sociológicas. Rememorem que a visão clássica volta-se na sistematização, no cientificismo. Afastava-se da teoria do crime qualquer abordagem axiológica, normativa ou psicológica, havendo a busca constante de uma visão puramente científica. O formalismo e a exclusão de juízos de valor do método positivista, eram uma forma de analisar, reconstruir e aplicar o direito, evitando o risco de manipulação subjetiva por parte do intérprete. Por esse motivo, tudo deve ser bem enquadrado em conceito empiricamente Direito Penal - Parte Geral – Marcelo Uzeda Aula15 - Teorias da Conduta Parte 2 2 Curso Ênfase © 2019 comprovado. O grande mérito dessa teoria, foi conceder certa segurança jurídica, permitir a garantia dos indivíduos diante do poder punitivo do Estado. O lado negativo da adoção dessa filosofia positivista do conhecimento científico para o Direito Penal, está exatamente no engessamento, no exagerado formalismo para a análise do comportamento humano delituoso. O fenômeno do crime, para o positivismo, é sobrepujado por explicações e conceitos formalistas, não considerando o aspecto humano, subjetivo e valorações de cada caso ou qualquer influência sociológica e psicológica. Representa visão Laboratorial do crime, uma visão com muito cientificismo. No conceito clássico do delito a ação típica, antijurídica e culpável, delineava-se em dois aspectos: EXTERNO (injusto penal) – objetivo – ação típica e antijurídica e o INTERNO – subjetivo – culpabilidade (vínculo psicológico que liga o agente ao fato praticado). No conceito clássico, a conduta da ação típica permanecia no aspecto externo do delito, enquanto o aspecto interno era a culpabilidade, que meramente desenhava o vínculo psicológico ligando o agente ao fato praticado. Von Liszt dizia que "a ação é o fato que repousa sobre a vontade humana, a mudança no mundo exterior referível à vontade do homem (lembra que o dolo está na culpabilidade, essa vontade humana diz respeito ao movimento corporal, à inervação ao impulso cerebral). Sem ato de vontade não há ação, não há injusto, não há crime: cogitationis poenam nemo patitur (o direito não pode punir o pensamento, desejos ou estados interiores, não há relevância a mera vontade se ele não for exteriorizado). Mas também não há ação, não há injusto, não há crime, sem uma mudança operada no mundo exterior, sem um resultado”. O conceito de ação no sistema clássico causal-naturalista, é necessariamente a modificação, a alteração trazida pela conduta ao mundo exterior. Logo, ninguém deveria ser punido por pensamentos, por estados interiores, por atitudes internas ou por desejos. O Direito Penal, exige a ocorrência do fato, a exteriorização do comportamento. Não há crime sem mudança operada do mundo exterior, sem resultado. Portanto, o professor explica que não basta meramente a exteriorização do comportamento, é necessário que esse comportamento gere mudança no mundo exterior (fruto da conduta voluntária). Conclui-se, portanto, que a ação é o movimento corporal voluntário causadora de modificação no mundo exterior. Existem três elementos da conduta: manifestação de vontade, que possui o aspecto volição (impulso de vontade) e a inervação (fisiológico – aspecto mecânico); Direito Penal - Parte Geral – Marcelo Uzeda Aula15 - Teorias da Conduta Parte 2 3 Curso Ênfase © 2019 resultado e, por fim, a relação de causalidade (vínculo objetivo entre a manifestação de vontade e o resultado). Na teoria clássica, a culpabilidade envolve o vínculo psicológico que une o agente ao fato praticado, logo, não confunde-se o dolo na conduta, visto que este encontra-se na culpabilidade no momento. O segundo elemento da conduta é o resultado. Este é naturalístico, a alteração produzida pela conduta. Por fim, o terceiro elemento é a relação de causalidade. Percebe-se que, com o somatório desses três elementos, chega-se ao conceito de Von Liszt. Repisa-se, ação é o movimento humano voluntário que causa alteração no mundo exterior (resultado naturalístico). Ação é a inervação muscular produzida por energias de impulso cerebral, que, comandadas pelas Leis da natureza, punham transformação no mundo exterior. O conceito desta engloba o ato de vontade, o resultado. Abstrai-se do conceito, o conteúdo da vontade, alocado na culpabilidade (Dolo ou Culpa). Há a separação taxativa dos aspectos da ação: aspectos objetivos referem-se ao processo causal externo – ação e resultado – e os aspectos subjetivos referem-se ao processo interno – conteúdo da vontade, a culpabilidade (está no terceiro elemento). Os efeitos do querer do agente fazem parte da ação, sendo irrelevante se estes são conteúdo da consciência e do querer do agente, porque essa análise encontra-se na culpabilidade. O conteúdo da vontade (Dolo ou Culpa), no momento, é irrelevante, importando unicamente na análise da culpabilidade (aspecto interno – subjetivo). No momento, - no estudo da ação da conduta do fato típico - não discute-se o conteúdo da vontade, basta a demonstração da voluntariedade. Sendo o comportamento voluntário, logo, há conduta. Em suma, há conduta somente quando há comportamento voluntário, desde que esse gere alteração no mundo exterior. O conteúdo da vontade (Dolo ou Culpa) passa a ser analisado somente no momento do estudo da culpabilidade: Essa é a lógica do sistema causal naturalista. Os problemas da teoria causal da ação, são os crimes omissivos, os culposos e a tentativa. Nos crimes omissivos, o problema insere-se no fato de que a omissão não detém relação de causalidade entre a abstenção/inação e o resultado, porque nestes sequer existe resultado (o resultado não é naturalístico na omissão). Direito Penal - Parte Geral – Marcelo Uzeda Aula15 - Teorias da Conduta Parte 2 4 Curso Ênfase © 2019 Nos crimes culposos, o fatodecisivo para a compreensão é o desvalor da ação, observe que ao deslocar o desvalor da ação para a culpabilidade, como espécie de culpabilidade, - culpa na visão clássica - não há como compreender o tipo culposo. Na tentativa, reconheceu-se que se o Dolo é elemento da culpabilidade, é possível somente identifica-lo no crime consumado. Desta forma, o problema nos crimes omissivos é que, na omissão falta a relação de causalidade, isto é, não tem relação de causalidade no não fazer, na inação, na conduta omissiva (na omissão falta uma relação de causa entre abstenção e o resultado). Esta era uma dificuldade que a teoria clássica não conseguiu explicar adequadamente. Nos crimes culposos, o fator decisivo para a compreensão é o desvalor da ação. A teoria clássica abstrai de qualquer compreensão valorativa à análise normativa, dificultando o entendimento de culpa. Isto porque, para haver conduta basta voluntariedade (não discute-se se a conduta é dolosa ou culposa, essa parte fica para culpabilidade) e na conduta culposa não há voluntariedade, torna-se difícil reconhecer o comportamento como doloso ou culposo. Outra dificuldade do sistema causal naturalista, decifrar a correta análise da tentativa. Reconheceu-se que o Dolo é elemento da culpabilidade somente no crime consumado, a consumação permanecia no campo da culpabilidade. No entanto, e na tentativa? Não ocorrendo resultado, como é possível definir a vontade do agente? Se o sujeito esfaqueia a vítima, este queria matá-la (tentativa de homicídio) ou queria causar lesão corporal ao esfaqueá-la? Se o Dolo era de matar, a análise do dolo permaneceria na culpabilidade, porém, se a intenção era apenas causar lesão corporal, não consumou-se o homicídio. Esse era o grande problema que rondava a explicação da tentativa no sistema clássico. Estes problemas surgem, haja vista que os três elementos, crimes omissivos, culposos e tentativa, devem apenas ser compreendidos com análise valorativa e normativa, não podendo ser compreendidos de forma puramente objetiva. 2. TEORIA CAUSAL-VALORATIVA DA AÇÃO (SISTEMA NEOCLÁSSICO): Como reação ao Sistema Clássico, trouxe fundamentação metodológica permitindo a melhor compreensão dos institutos jurídicos penais, como conceitos valorativos, sem renunciar à pretensão de cientificidade. O pensamento neokantista ocupava-se em distinguir as ciências naturais, que observam a realidade empírica de maneira neutra, formal e subjetiva, das ciências culturais (ou do espírito), em que a realidade é necessariamente imersa em análise valorativa. A visão clássica, influenciada Direito Penal - Parte Geral – Marcelo Uzeda Aula15 - Teorias da Conduta Parte 2 5 Curso Ênfase © 2019 pelo positivismo, enquadra o Direito Penal na observação e na descrição, que seria mais uma abordagem de neutralidade, de formalidade. A visão neoclássica agrega valoração, por este motivo é causal-valorativa. As ciências humanas não são neutras, existe valoração. O sistema neoclássico surge, portanto, como teoria causal valorativa da ação, sendo reação ao sistema clássico. É o segundo momento da teoria causalista, dividida em clássica e neoclássica. Este agrega carga valorativa àqueles conceitos objetivos da teoria clássica. A dificuldade deixada pela teoria causal naturalista do conceito de ação, estava vinculada à abstração dos elementos normativos, vez que a teoria clássica não acolhia os elementos para a compreensão da ação. Na teoria causal neoclássica da ação, contrariamente, agregou-se exatamente os elementos normativos com a influência do pensamento do neokantismo para a compreensão de ação. A teoria do conhecimento do neokantismo, agregou-se ao método científico-naturalístico do observar e descrever, restaurando a metodologia própria das ciências do espírito, caracterizada por compreender e valorar. Compreender e valorar influenciará o conceito de ação. Há a substituição da coerência formal de pensamento jurídico, circunscrito em si mesmo por um conceito de delito, voltado para os fins pretendidos do Direito Penal e pelas perspectivas valorativas que o embasam. Há a abordagem valorativa do DP de acordo com suas finalidades. Logo, nota-se que o tipo penal que outrora era apenas de “observar” e “descrever”, atualmente abrange os conceitos de “compreender” e “valorar”. Desta forma, os elementos do tipo penal exigirão do intérprete a valoração e não meramente uma análise objetiva e descritiva. Isto posto, a ação deixa de ser absolutamente natural para inspirar-se de certo sentido normativo, permitindo a compreensão tanto da ação em sentido estrito (positivo), como da omissão (não fazer), da culpa e da tentativa. A teoria neoclássica buscou ligar elementos valorativos na análise dos Elementos do Crime, tanto do fato típico, quanto na ilicitude e na culpabilidade. Desta forma, a ação deixa de ser absolutamente natural e passa a agregar sentido normativo, permitindo a compreensão da omissão, da culpa e da tentativa. Por que o agente merece ser punido na omissão? E na tentativa? A relevância da omissão deve ser percebida meramente no plano normativo, assim como a culpa e a tentativa. A conduta culposa, - em que a culpa esteja na culpabilidade - deve ser construída a partir da carga valorativa. Inserido na estrutura estudada anteriormente na teoria neoclássica, passa-se à compreensão no sentido normativo dos três aspectos (culpa, omissão e tentativa), impossíveis na teoria clássica. Direito Penal - Parte Geral – Marcelo Uzeda Aula15 - Teorias da Conduta Parte 2 6 Curso Ênfase © 2019 A conduta relevante para o Direito Penal, é um comportamento humano voluntário causador de resultado (tanto naturalístico, quanto jurídico). Na teoria neoclássica, o conceito de conduta/ação recebe carga valorativa e abrange não somente resultado naturalístico, mas igualmente resultado jurídico. Percebe-se que, a teoria transforma totalmente a perspectiva da teoria clássica no sistema causal naturalista, visto que a preocupação desta, era a modificação/alteração do mundo exterior provocada pela conduta, enquanto naquela a ação/conduta é relevante para o direito, em virtude de ser um comportamento humano voluntário, causador de resultado (não necessariamente naturalístico, mas similarmente no campo jurídico normativo). O professor reforça a ideia de que ação é um comportamento humano voluntário, manifestado no mundo exterior. Agregando-se meramente a carga valorativa na ação, tornou-se possível entender o crime omissivo, a tentativa e a culpa, conceitos deixados em aberto pela teoria clássica. No próximo encontro o professor abordará o tema sobre o sistema finalista quanto à conduta, surgido como crítica ao sistema causal naturalista neoclássico.
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