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As Alegorias de C. S. Lewis 
 
O cristianismo nas terras de Nárnia 
 
 
Rieri de Oliveira Frugieri 
 
 
 
“Eu acredito no cristianismo como acredito que o sol nasce 
todos os dias. Não apenas porque o vejo, mas porque através 
dele eu vejo tudo ao meu redor. ” – C. S. Lewis 
 
 
 
 
1. INTRODUÇÃO 
 
 
Clive Staples Lewis, mais conhecido como C. S. Lewis, nasceu na Irlanda do 
Norte e foi um autor, professor universitário e teólogo anglicano. Ganhou destaque com 
seus trabalhos acadêmicos sobre literatura medieval e com a apologia cristã apresentada 
em suas diversas obras e palestras. 
 
Vendo toda a relação de Lewis com o cristianismo pode-se pensar que o mesmo 
foi criado em um meio cristão, mas, na verdade, Clive passou anos de sua vida sendo 
ateu, até que seu amigo, o também autor, J. R. R. Tolkien (O Senhor dos Anéis) o 
converteu. A partir deste momento, Lewis sentiu a necessidade de transmitir a quem lia 
sua obra um pouco do que havia aprendido, estudado e trazido para si como fé. Além de 
escrever diversas obras próprias com a temática cristã, o autor decidiu colocar, no que 
seria sua obra mais famosa, diversas alegorias que remetessem a bíblia e a prática cristã. 
 
Antes de seguirmos, é importante entender o que é alegoria. Tal figura de 
linguagem permite que se apresente informações, ideias, qualidades e pensamentos sob uma 
forma figurada. Quando vemos uma caveira com ossos cruzados logo vem em nossa mente 
um navio pirata ou um aviso de perigo. Quintiliano, ao rememorar a definição da 
 
Retórica a Herênio, diz tão-só que a alegoria ostenta uma coisa pelas palavras, outra 
pelo sentido, de maneira que também ele não explica o que seja aquilo que se demonstra 
com as palavras, nem o que seja aquilo que se demonstra com o sentido. 
 
Entendendo o que é uma alegoria, veremos através deste artigo, como tal figura 
de linguagem é presente na obra mais famosa de Lewis: As Crônicas de Nárnia. Série 
de fantasia composta por sete livros e escrita entre a década de 40 e 50. Obra que aos 
nossos olhos pode parecer de teor infantil, mas é onde está contido grande parte do 
conteúdo que o autor queria passar para o leitor a respeito do cristianismo e fé. 
A obra acompanha as aventuras de crianças que desempenham um papel 
importante e descobrem o ficcional Reino de Nárnia, onde a magia é comum, os 
animais falam e ocorrem frequentemente batalhas entre o bem e o mal. Na maioria das 
crônicas, exceto O Cavalo e Seu Menino, os personagens são do mundo real e de 
alguma forma mágica são transportadas para Nárnia com o objetivo de realizarem 
algum feito com a ajuda de um Grande Leão chamado Aslam. 
 
A importância de analisarmos As Crônicas de Nárnia é pelo fato desta ser uma 
das mais famosas obras dentre os clássicos britânicos. Os escritos de Nárnia repercutem 
até hoje no cinema, na televisão e no teatro, devido ao fato de apresentarem um 
conteúdo muito mais profundo e moralista do que infantil. 
 
2. O CONCEITO DE ALEGORIA 
 
 
A definição predominante de alegoria entre os gramáticos gregos e latinos é a 
que afirma que a alegoria diz uma coisa e entende outra. Assim, usaremos como base o 
artigo de Marcos Martinho publicado na revista Classica (p. 252-264, 2008) e veremos 
alguns gramáticos dando sua opinião a respeito e demostrando diversas vertentes sobre 
essa figura de linguagem que se aproxima muito da metáfora. 
 
Segundo Marcos Martinho, Cícero diz que uma coisa se diz e outra é para 
entender, mostrando que as palavras próprias de um caso são transferidas a outro caso. 
A alegoria, portanto, seria o caso em que as palavras têm seu sentido próprio em 
contraponto com outro caso em que as palavras são transferidas para um sentido. 
 
Caio Júlio Vitor (J. Vict . Ars rhet. 20: RLM p. 432) define a alegoria dizendo 
que uma coisa se diz, e outra se entende. Entretanto, não há uma explicação de um lado 
para que se entenda o outro. 
 
Pompeio (Pomp . Com. art. Don.: GL V p. 310) explica a oposição de dizer e 
significar, de modo que as palavras soam uma coisa, mas o sentido é outro. O 
Comentário de Einsiedeln ao Barbarismo de Donato diz que uma coisa soa nas 
palavras, e outra se entende no sentido. 
 
Gramáticos gregos, assim como os citados acima, continuam o pensamento de 
que a alegoria acontece quando a escrita fala uma coisa, e a intelecção, outra. 
 
Em suma, tais gramáticos afirmam que a alegoria sobrepõe uma transferência de 
um caso à referência ao caso próprio. 
A definição de alegoria se aproxima muito da definição de metáfora, como 
podemos ver pela descrição proposta por Cícero. Compare a primeira descrição de 
alegoria com a segunda descrição de metáfora. 
 
 
Sumpta re simili, verba eius rei propria deinceps in rem aliam, 
ut dixi, transferuntur (Cic . De or. 3.41.167) 
 
Tomado um caso semelhante, as palavras próprias desse caso, 
como disse, são transferidas depois a outro caso, 
 
 
Tralata ea dico, ut saepe iam, quae per similitudinem ab alia re 
 
[…] transferuntur (Cic . Or. 27.92) 
 
Translatas digo, como já amiúde, aquelas [palavras] que 
são transferidas […] de outro caso por meio de semelhança. 
 
 
É importante destacar que a transferência alegórica é diferente da transferência 
metafórica. Mesmo que hajam semelhanças em específico, são diferentes no gênero. O 
próprio Cícero diz que a alegoria se faz quando várias translações se implicam e é nesse 
ponto que a alegoria se difere da metáfora. Enquanto a metáfora se confina a uma única 
palavra fazendo com que a oração se mantenha própria, a alegoria altera a intelecção e 
torce a oração toda. 
 
Cícero afirma que a metáfora gera a alegoria e desta nasce o enigma. Ora, se a 
metáfora está implícita no conceito de uma palavra e a alegoria está implícita no 
conceito de uma oração inteira, o enigma está implícito em um contexto mais amplo. 
 
Entende-se por enigma a parte mais obscura da alegoria, aquilo que o autor 
deixa tão escondido nas entrelinhas que passa despercebido pelo leitor que não faz essa 
 
“transferência” que a alegoria exige para o entendimento completo. 
 
Em suma, a alegoria é uma figura de linguagem que permite que uma ideia ou 
sentido seja transmitida com palavras que, quando interpretadas de forma correta, leva o 
leitor a entender a referência do que o autor realmente quer dizer. É isto que veremos a 
seguir com as alegorias do autor britânico C. S. Lewis. 
 
3. AS ALEGORIAS DE C. S. LEWIS 
Na década de 60, C. S. Lewis enviou uma carta para um fã dizendo que sua 
principal inspiração para escrever As Crônicas de Nárnia era responder a seguinte pergunta: 
se houvessem outros mundos, além do nosso, como Jesus se manifestaria neles? 
 
A partir disso, analisaremos O Sobrinho do Mago, uma das crônicas escritas por 
Lewis e veremos como ele retrata diversas passagens e personagens da Bíblia. 
A primeira crônica do compilado foi publicada originalmente em 1955 sob o 
nome de O Sobrinho do Mago. Na história, Digory e Polly encontram uma passagem 
secreta para o escritório do tio do garoto e lá descobrem anéis mágicos, capaz de os 
transportarem para outros mundos. Os amigos viajam por diversos mundos até 
encontrarem Nárnia e ali conhecerem Aslam e vivem várias aventuras. As alegorias 
presentes na história são essencialmente retiradas do livro de Gênesis (primeiro livro da 
Bíblia), onde é apresentado a criação do mundo e dos seres viventes, assim como a 
tentação do fruto e o primeiro pecado. Analisemos os seguintes trechos. 
 
 
No capítulo 3, Um Bosque entre Dois Mundos, encontramos o seguinte trecho: 
 
 
“Não seria possível imaginar bosque mais calmo. Não havia 
pássaros, nem insetos, nem bichos, nem vento.” (LEWIS, C. S. 
O Sobrinho do Mago. Martins Fontes, 2002. p. 23). 
 
 
Comparando o trecho com Gênesis 1:2: 
 
 
“E a terra era sem forma e vazia; e havia trevas sobre a face do 
abismo...” (Bíblia Sagrada). 
 
 
No capítulo 9, A Criação de Nárnia, encontramoso seguinte trecho: 
 
 
“O leão andava de um lado para o outro na terra nua, cantando a 
nova canção. Era mais suave e ritmada do que a canção com a 
qual convocara as estrelas e o sol [...]. À medida que caminhava 
e cantava, o vale ia ficando verde de capim [...].” (LEWIS, C. S. 
O Sobrinho do Mago. Martins Fontes, 2002. p. 59). 
 
Comparando com os trechos de Gênesis 1:1 e 3: 
 
 
“No príncipio criou Deus os céus e a terra. E disse Deus: Haja 
luz; e houve luz” (Bíblia Sagrada). 
 
 
No capítulo 12, A Aventura de Morango, encontramos os seguintes trechos: 
 
 
“No cume desse monte há um jardim. No centro do jardim há 
uma árvore. Apanhe uma maçã dessa árvore e traga a fruta para 
mim.” (LEWIS, C. S. O Sobrinho do Mago. Martins Fontes, 
2002. p. 78). 
 
“Apanhe o meu fruto para outro”, disse Digory para sim mesmo. 
“É isso que vou fazer. Significa que eu mesmo não posso comer o 
fruto, acho.” (LEWIS, C. S. O Sobrinho do Mago. 
Martins Fontes, 2002. p. 85). 
 
“Não está vendo, bobo, que uma mordida nessa maça pode curar a 
sua mãe? Está no seu bolso. Aqui estamos por nossa conta. 
O Leão está muito longe.” (LEWIS, C. S. O Sobrinho do Mago. 
 
Martins Fontes, 2002. p. 86). 
 
 
 
 
Comparando com os trechos de Gênesis 2:15, 16, 17 e 3:5: 
 
 
“E tomou o Senhor Deus o homem, e o pôs no jardim do Éden 
para o lavrar e o guardar. E ordenou o Senhor Deus ao homem, 
dizendo: De toda a árvore do jardim comerás livremente, mas da 
árvore do conhecimento do bem e do mal, dela não comerás; 
porque no dia em que dela comeres, certamente morrerá” 
(Bíblia Sagrada). 
 
“Porque Deus sabe que no dia em que dele comerdes se abrirão 
os vossos olhos, e sereis como Deus, sabendo o bem e o mal”. 
(Bíblia Sagrada) 
Os trechos da obra de Lewis são parecidos, quando não idênticos, com os textos 
bíblicos de Gênesis. A leitura permite identificar facilmente tais alegorias que 
demostram os acontecimentos dos três primeiros capítulos de Gênesis. 
 
O bosque vazio e sem vida é uma alegoria à terra vazia e sem forma. O poder do 
leão para criar a terra de Nárnia com apenas uma canção é uma representação de Deus 
criando luz apenas ao dizer “E haja luz”. As instruções de Aslam para a busca do fruto 
são como as de Deus para que Adão e Eva não comessem do fruto da árvore proibida e 
a tentação da feiticeira é como a tentação da serpente. 
 
Além destas alegorias da bíblia, temos uma alegoria da bomba de Hiroshima. 
Quando Aslam cita que com uma só palavra, a feiticeira exterminou seu mundo inteiro, 
Lewis traz essa ideia de que uma só bomba pode causar tamanha destruição e 
exterminação. 
 
 
4. CONCLUSÃO 
 
 
Concluímos, portanto, que a alegoria se difere da metáfora. Enquanto a metáfora 
está presa a um sentido de uma só palavra, a alegoria possui um sentido muito mais 
amplo e complexo, muitas vezes contido no sentido da oração inteira. 
 
A alegoria é o fenômeno de apresentar um sentido querendo mostrar outro. É 
colocar um sentido que deverá ser transcrito através das entrelinhas e da leitura 
complexa e profunda do leitor. 
 
Esta técnica é muito usada por autores como C. S. Lewis, que utilizou de sua escrita 
para divulgar o cristianismo. Podemos notar que no primeiro livro de sua coletânea 
 
As Crônicas de Nárnia, Lewis utiliza de elementos que, quando não iguais, remetem ao 
primeiro livro da Bíblia, Gênesis. 
 
Tendo em vista tudo apresentado, podemos perceber como a alegoria, quando 
muito bem construída, pode deixar um texto aparentemente simples e infantil e uma 
obra com um sentido muito mais amplo e grandioso. 
 
 
BIBLIOGRAFIA 
 
 
GUIMARÃES, Hélio de Seixas. Figuras de linguagem. 2. ed. São Paulo: Atual 1988. 
74 p. 
DALBONI, Pedro. Crônicas de Nárnia e a Bíblia: relações, influências e O Cristo. 
Disponível em: http://literatortura.com/2013/10/cronicas-de-narnia-e-a-biblia-relacoes-
influencias-e-o-cristo/. Acesso em: 25/09/15. 
 
MARTINHO, Marcos. A definição de alegoria segundo os gramáticos e rétores 
gregos e latinos. Classica (Brasil) 21.2, 252-264, 2008 
http://literatortura.com/2013/10/cronicas-de-narnia-e-a-biblia-relacoes-influencias-e-o-cristo/
http://literatortura.com/2013/10/cronicas-de-narnia-e-a-biblia-relacoes-influencias-e-o-cristo/

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