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FILOSOFIA 1

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FILOSOFIA
Caderno: Convite à Filosofia
13ª. Ediçaõ/2003
Marilena Chauí
O NASCIMENTO DA FILOSOFIA
# De acordo com os historiadores da Filosofia ela nasceu no final do século VII a.C. e início do séc. VI a.C. nas colônias gregas da Ásia Menor (particularmente as que formavam uma região denominada Jônia na cidade de Mileto). O primeiro filósofo foi Tales de Mileto.
# A filosofia nasce como um conhecimento racional da ordem do mundo ou da natureza – uma cosmologia.
# Os historiadores, durante séculos, buscaram saber se a Filosofia, que é um fato especificamente grego, nasceu por si mesma ou dependeu de contribuições da sabedoria oriental (egípcios, assírios, persas, caldeus, babilônios) e da sabedoria de civilizações que antecederam à grega, na região que, antes de ser Grécia ou a Hélade, abrigava a civilizações de Creta, Minos, Tirento e Micenas.
# Durante muito tempo, considerou-se que a Filosofia nascera por transformações que os gregos operaram na sabedoria oriental. Por isso, os filósofos Platão e Aristóteles afirmavam a origem oriental da Filosofia: a agrimensura dos egípcios (usada para medir as terras após as cheias do Nilo); a astrologia dos caldeus e dos babilônios; as genealogias dos persas; os mistérios religiosos orientais referentes aos rituais de purificação da alma – a Filosofia teria nascido pelas transformações que os gregos impuseram a esses conhecimentos.
# Assim, da agrimensura, os gregos fizeram nascer duas ciências: a aritmética e a geometria; da astrologia, fizeram também surgir duas ciências: a astronomia e a meteorologia; das genealogias, fizeram surgir mais outra ciência: a história; dos mistérios religiosos de purificação da alma, fizeram surgir a PSICOLOGIA ou as teorias filosóficas sobre a natureza e o destino da alma humana.
# Todos esses conhecimentos, propriamente gregos, teriam propiciado o aparecimento da Filosofia – tendo então ela surgido do pensamento oriental. Tal ideia foi defendida durante oito séculos depois de seu nascimento (durante os séculos II e III d.C.) – período do Império Romano. A origem oriental da Filosofia grega era defendida porque em toda a Antiguidade clássica e para os poderosos da época – os romanos – era ela a forma superior ou mais elevada do pensamento e da moral.
# Os judeus aceitaram essa origem, dizendo que pensamentos de filósofos importantes como Platão tinha surgido no Egito, onde também se originara o pensamento de Moisés para ligar a Filosofia grega à Bíblia (valorizando esta última ao mesmo campo de saber que a Filosofia) e os cristãos queriam mostrar que os filósofos gregos estavam filiados a correntes de pensamento místico e oriental e desta maneira estariam próximos ao cristianismo que é uma religião oriental.
# No entanto, nem todos aceitaram a tese chamada “orientalista”, e muitos, sobretudo no século XIX da nossa era, passaram a falar da Filosofia como sendo o “milagre grego”.
# Com a palavra “milagre” queriam dizer: 1. Que a Filosofia surgiu na Grécia sem que nada anterior a preparasse; 2. Que a Filosofia grega foi um acontecimento espontâneo, único e sem par, como é o próprio milagre; 3. Que os gregos foram um povo excepcional e que por isso somente eles poderiam ter sido capazes de criar a Filosofia, como foram os únicos a criar as ciências e a dar às artes uma elevação que nenhum outro povo conseguiu, nem antes nem depois deles.
NEM ORIENTAL NEM MILAGRE
# Durante os séculos XIX e XX, os dois exageros da origem da Filosofia foram corrigidos: tanto o da sua origem oriental quanto o do “milagre grego’.
# Sem os exageros do “orientalismo”, de fato a Filosofia tem dívidas com a sabedoria dos orientais, não só porque as viagens colocaram os gregos em contato com os conhecimentos produzidos por outros povos, mas também os dois maiores formadores da cultura grega antiga, os poetas Homero e Hesíodo, encontraram nos mitos e nas religiões dos povos orientais, bem como nas culturas que precederam a grega, os elementos para elaborar a mitologia grega, que, depois, seria transformada racionalmente pelos filósofos. 
# Assim, estudos recentes mostraram que mitos, cultos religiosos, instrumentos musicais, dança, música, poesia, utensílios domésticos e de trabalho, forma de habitação, formas de parentescos e formas de organização tribal dos gregos foram resultado de contatos profundos com as culturas mais avançadas do Oriente e com a herança deixada pelas culturas que antecederam a grega nas regiões onde ela se implantou.
# Desconsiderando os exageros, podemos ver o que havia de verdade nessa tese. Os gregos, de fato imprimiram mudanças de qualidade tão profundas no que receberam do Oriente e das culturas precedentes, que até parecia terem criado sua própria cultura a partir de si mesmos. Dessas mudanças, pode-se mencionar quatro que nos darão uma ideia da originalidade grega.
1. Com relação aos mitos: quando comparamos os mitos orientais, cretenses, micênicos, minóicos e os que aparecem nos poetas Homero e Hesíodo, vemos que eles retiraram os aspectos apavorantes e monstruosos dos deuses e do início do mundo; humanizaram os deuses, divinizaram os homens; deram racionalidade às narrativas sobre as origens das coisas, dos homens, das instituições humanas (como o trabalho, as leis, a moral).
2. Com relação aos conhecimentos: os gregos transformaram em ciência (isto é, num conhecimento racional, abstrato e universal) aquilo que eram elementos de uma sabedoria prática para o uso direto da vida.
Transformaram em matemática (aritmética, geometria, harmonia) o que eram expedientes práticos para medir, contar e calcular; transformaram em astronomia (conhecimento racional da natureza e do movimento dos astros) aquilo que eram práticas de adivinhação e previsão do futuro; transformaram em medicina (conhecimento racional sobre o corpo humano, a saúde e a doença) aquilo que eram práticas de grupos religiosos secretos para uma cura misteriosa das doenças. E assim por diante.
3. Com relação à organização social e política: os gregos não inventaram apenas a ciência ou a Filosofia, mas inventaram também a política. Todas as sociedades anteriores a eles conheciam e praticavam a autoridade e o governo. Mas por que não inventaram a política propriamente dita? Porque não separaram o poder político e duas outras formas tradicionais de autoridade: a do chefe de família e a do sacerdote ou mago.
De fato, nas sociedades orientais e não-gregas, o poder e o governo eram exercidos como autoridade absoluta da vontade pessoal e arbitrária de um só homem (o chefe) ou de um pequeno grupo de homens (os chefes), que possuíam o poder militar, religioso e econômico e decidiam sobre tudo, sem consultar nem justificar suas decisões a ninguém.
Os gregos inventaram a política (palavra que vem de pólis, que em grego significa “cidade organizada por leis e instituições”) porque separaram o poder público e o poder privado, assim como distinguiram o poder público e o religioso. Em outras palavras, porque instituíram práticas pelas quais as decisões eram tomadas com bases em discussões e debates públicos e eram adotadas ou revogadas por voto em assembleias públicas (tribunais, assembleias , separação entre autoridade do chefe da família e autoridade pública, entre autoridade político-militar e autoridade religiosa) e sobretudo porque criaram a ideia da lei e da justiça como expressões da vontade coletiva pública e não como imposição da vontade de um só ou de um grupo, em nome de divindades.
4. Com relação ao pensamento: diante da herança recebida, os gregos inventaram a ideia ocidental da razão como um pensamento sistemático que segue necessariamente regras, normas e leis universais, isto é, as mesmas em todos os tempos e lugares, como vimos ao examinar o legado da Filosofia.
MITO E FILOSOFIA
# Em esclarecido o problema da origem da Filosofia, temos um outro que muito tem preocupado os estudiosos: a Filosofia nasceu realizando uma transformação gradual nos mitos gregos ou nasceu por uma ruptura radical com os mitos?
O que é um mito?
Um mito é uma narrativasobre a origem de alguma coisa (origem dos astros, da Terra, dos homens das plantas, dos animais, do fogo, da água, dos ventos, do bem e do mal, da saúde e da doença, da morte, dos instrumentos de trabalho, das raças, das guerras, do poder etc.)
# A palavra mito vem do grego mythos e tanto significa contar, narrar falar alguma coisa para outros, quanto conversar, contar anunciara nomear, designar. Para os gregos mito é um discurso pronunciado ou proferido para ouvintes que recebem a narrativa como verdadeira porque confiam naquele que narra; é uma narrativa feita em público, baseada na autoridade e confiabilidade da pessoa do narrador. Essa autoridade vem do fato de que o narrador ou testemunhou diretamente o que está narrando ou recebeu a narrativa de quem testemunhou os acontecimentos narrados.
O mito é sagrado porque vem de uma revelação divina: o mito é, pois, incontestável e inquestionável.
# Como o mito narra a origem do mundo e de tudo que nele existe?
 De três maneiras principais:
1. Encontrando o pai e a mãe das coisas e dos seres, isto é, tudo que existe decorre de relações sexuais entre forças divinas pessoais. Essas relações geram os demais deuses: os titãs (seres semi-humanos e semidivinos); os heróis (filhos de um deus com uma humana ou de uma deusa com um humano); os humanos; os metais; as plantas; os animais; as qualidades (como quente e frio, seco e úmido, claro e escuro, bem e mal, justo e injusto, belo e feio, certo e errado etc.).
A narração da origem é, assim, uma genealogia, uma narrativa da geração dos seres, das coisas, das qualidades, por outros seres, que são seus pais ou antepassados.
Tomemos um exemplo da narrativa mítica:
Observando que as pessoas apaixonadas estão sempre cheias de ansiedade e de plenitude, inventam mil expedientes para estar com a pessoa amada ou para seduzi-la e também serem amadas – o mito narra a origem do amor – o nascimento do deus Eros (que conhecemos mais com o nome de cupido).
Houve uma grande festa entre os deuses. Todos foram convidados, menos a deusa Penúria, sempre miserável e faminta. Quando a festa acabou, Penúria apareceu, comeu os restos e dormiu com o deus Poros (o astuto engenhoso). Dessa relação sexual nasceu Eros (ou Cupido), que, como sua mãe está sempre faminto, sedento e miserável, mas, como seu pai, tem mil astúcias para se satisfazer e se fazer amado. Por isso, quando Eros fere alguém com sua flecha, esse alguém se apaixona e logo se sente faminto e sedento de amor, inventa astúcias para ser amado e satisfeito, ficando ora maltrapilho e desanimado, ora rico e cheio de vida.
2. Encontrando uma rivalidade ou uma aliança entre os deuses que fazem surgir alguma coisa no mundo. Nesse caso, o mito narra uma guerra entre as forças divinas, ou uma aliança entre elas para provocar alguma coisa no mundo dos homens. 
O poeta Homero, na Ilíada, que narra a guerra de Tróia, explica por que, em certas batalhas, os troianos eram vitoriosos e, em outras, a vitória cabia aos gregos. Os deuses estavam divididos, alguns a favor de um lado e outros a favor do outro. A cada vez, o rei dos deuses, Zeus, ficava com um dos partidos, aliava-se com um grupo e fazia um dos lados – ou os troianos ou os gregos – vencer uma batalha.
A causa da guerra, foi uma rivalidade entre as deusas. Elas apareceram em sonho para o príncipe troiano Páris, oferecendo a ele seus dons e ele escolheu a deusa do amor, Afrodite. As outras deusas, enciumadas, o fizeram raptar a grega Helena, mulher do general grego Menelau, e isso deu início à guerra entre os humanos
3. Encontrando as recompensas ou castigo que os deuses dão a quem lhes desobedece ou a quem lhes obedece.
Como o mito narra, por exemplo, o uso do fogo pelos homens? Para os homens, o fogo é essencial, pois com ele se diferenciam dos animais, a iluminar caminhos na noite, a se aquecer no inverno, como podem fabricar instrumentos de metal para o trabalho e para a guerra. Mas o fogo era possuído apenas pelos deuses.
Um titã, Prometeu, mais amigo dos homens do que dos deuses, roubou uma centelha do fogo divino e a trouxe de presente para os humanos. Prometeu foi castigado (amarrado num rochedo para que as aves de rapina, eternamente, devorassem seu fígado) e os homens também. Qual foi o castigo dos homens?
Os deuses fizeram uma mulher encantadora, a quem foi entregue uma caixa que conteria coisas maravilhosas, mas que nunca deveria ser aberta. Pandora foi enviada aos humanos e, cheia de curiosidade e querendo dar a eles as maravilhas, abriu a caixa. Dela saíram todas as desgraças, doenças, pestes, guerras e, sobretudo, a morte. Explica-se assim a origem dos males do mundo.
Vemos, então, que o mito narra a origem das coisas por meio de lutas, alianças e relações sexuais entre forças sobrenaturais que governam o mundo e o destino dos homens. Visto que os mitos sobre a origem do mundo são genealogias, diz-se que são cosmogonias e teogonias. *
* A palavra gonia se origina de um verbo grego e significa engendrar, gerar, fazer nascer e crescer e de um substantivo que quer dizer nascimento, gênese, descendência, gênero, espécie. Gonia, portanto, quer dizer “geração, nascimento a partir da concepção sexual e do parto”. Cosmos, como já vimos, quer dizer “mundo ordenado e organizado”. Assim, a cosmogonia é a narrativa sobre o nascimento e a organização do mundo a partir de forças geradoras (pai e mãe) divinas.
Teogonia é uma palavra composta de gonia e theos, que em grego significa “as coisas divinas, os seres divinos, os deuses”. A teogonia é, portanto, a narrativa da origem dos próprios deuses a partir de seus pais e antepassados.
Qual é a pergunta dos estudiosos? É a seguinte:
Ao surgir, a Filosofia não é uma cosmogonia e sim uma cosmologia, uma explicação racional sobre a origem do mundo e sobre as causas das transformações e repetições das coisas; mas a cosmologia nasce de uma transformação gradual dos mitos ou de uma ruptura radical com os mitos? A Filosofia continua ou rompe com a cosmogonia e a teogonia?
Duas foram as respostas dadas:
A primeira delas foi dada nos fins do século XIX e começo do século XX, quando reinava um grande otimismo com relação aos poderes científicos e capacidades técnicas do homem. Dizia-se, então, que a Filosofia teria nascido por uma ruptura radical com os mitos, sendo a primeira explicação científica da realidade produzida pelo Ocidente.
A segunda resposta foi dada a partir de meados do século XX, quando os estudiosos dos antropólogos e historiadores mostraram a importância dos mitos na organização social e cultural das sociedades e como os mitos estão profundamente entranhados nos modos de pensar e de sentir de uma sociedade. Por isso, dizia-se que os gregos, como qualquer outro povo, acreditavam em seus mitos e que a Filosofia nasceu, vagarosa e gradualmente, dos próprios mitos, como uma racionalização deles.
Atualmente, consideram-se as duas respostas exageradas e afirma-se que a Filosofia, percebendo as contradições e limitações dos mitos, foi reformulando e racionalizando as narrativas míticas, transformando-as numa outra coisa, numa explicação inteiramente nova e diferente.
IMPORTANTE !!!!!!!!!!
Quais são as diferenças entre Filosofia e mito? Podemos apontar três como as mais importantes:
1. O mito pretendia narrar como as coisas eram ou tinham sido no passado imemorial., longínquo e fabuloso, voltando-se para o que era antes que tudo existisse tal como existe no presente. A Filosofia, ao contrário, se preocupa em explicar como e por que, no passado, no presente e no futuro (isto é, na totalidade do tempo, as coisas são como são; 
2. O mito narrava a origem por meio de genealogias e rivalidades ou alianças entre forças divinas sobrenaturais e personalizadas, enquanto a Filosofia, ao contrário, explica a produção natural das coisas por elementos naturais primordiais (esses elementos são: água ou úmido, fogo ou quente, ar ou frio e terra ou seco) por meio de causas naturais e impessoais (ações e movimentos de combinação, composição e separação entre os quatroelementos primordiais).
Assim, por exemplo, o mito falava dos deuses Urano, Ponto e Gaia; a Filosofia falava em céu, mar e terra. O mito narrava a origem dos seres celestes (os astros), terrestres (plantas, animais, homens) e marinhos pelos casamentos de Gaia com Urano e Ponto. A Filosofia explicava o surgimento do céu , do mar e da terra e dos seres que neles vivem explicando os movimentos e ações de composição, combinação e separação dos quatro elementos – úmido, seco, quente e frio.
3. O mito não se importava com contradições, com o fabuloso e o incompreensível, não só porque esses eram traços próprios da narrativa mítica, como também a confiança e a crença no mito vinham da autoridade religiosa do narrador. 
A Filosofia, ao contrário, não admite contradições, fabulação e coisas incompreensíveis, mas exige que a explicação seja coerente, lógica e racional; além disso, a autoridade da explicação não vem da pessoa do filósofo, mas da razão, que é a mesma em todos os seres humanos.
CONDIÇÕES HISTÓRICAS PARA O SURGIMENTO DA FILOSOFIA
# Resolvido o problema da relação entre Filosofia e mito, temos ainda um último a solucionar: o que tornou possível o surgimento da Filosofia na Grécia ao final do século VII e início do século VI a.C.? Quais as condições materiais (econômicas, sociais, políticas e históricas) que permitiram o surgimento da Filosofia?
# Podemos apontar como principais condições históricas para o surgimento da Filosofia na Grécia: 
1. AS VIAGENS MARÍTIMAS, que permitiram aos gregos descobrir que os locais que os mitos diziam habitados por deuses titãs e heróis eram habitados por outros seres humanos; e que as regiões dos mares que os mitos diziam habitados por monstros e seres fabulosos não possuíam monstros nem monstros fabulosos. As viagens produziram o desencantamento ou a desmistificação do mundo, que passou, assim, a exigir uma explicação sobre a sua origem, explicação que o mito já não podia oferecer;
2. A INVENÇÃO DO CALENDÁRIO que é uma forma de calcular o tempo segundo as estações do ano, as horas do dia, os fatos importantes que se repetem, revelando uma capacidade de abstração nova ou uma percepção do tempo como algo natural e não como uma força divina incompreensível.
3. A INVENÇÃO DA MOEDA que permitiu uma forma de troca que não se realiza como escambo (coisas trocadas por outras coisas) e sim uma troca abstrata uma troca feita pelo cálculo do valor semelhante das coisas diferentes revelando uma nova capacidade de abstração e de generalização.
4. O SURGIMENTO DA VIDA URBANA, com o predomínio do comércio e do artesanato, dando desenvolvimento a técnicas de fabricação e de troca, e diminuindo o prestígios das famílias da aristocracia proprietária de terras, por quem e para quem os mitos foram criados; além disso o surgimento de uma classe de comerciantes ricos, que precisava encontrar pontos de poder e de prestígio para suplantar o velho poderio da aristocracia de terras e de sangue (as linhagens constituídas pelas famílias), fez com que essa nova classe social procurasse o prestígio pelo patrocínio e estímulo às artes, às técnicas e aos conhecimentos, favorecendo um ambiente em que a Filosofia poderia surgir.
Sofistas
Os sofistas eram considerados mestres da retórica e da oratória, acreditavam que a verdade é múltipla, relativa e mutável. Protágoras foi um dos mais importantes sofistas.
Publicado por: Wigvan Junior Pereira dos Santos em Filosofia 0 Comentários 
O deus grego Apolo representa a idealização do homem, “a medida de todas as coisas” para Protágoras 
Na Grécia Antiga, haviam professores itinerantes que percorriam as cidades ensinando, mediante pagamento, a arte da retórica às pessoas interessadas. A principal finalidade de seus ensinamentos era introduzir o cidadão na vida política. Tudo o que temos desses professores são fragmentos e citações e, por isso, não podemos saber profundamente sobre o que eles pensavam. Aquilo que temos de mais importante a respeito deles foi aquilo que disseram seus principais adversários teóricos, Platão e Aristóteles.
Eles eram chamados de sofistas, termo que originalmente significaria “sábios”, mas que adquiriu o sentido de desonestidade intelectual, principalmente por conta das definições de Aristóteles e Platão. Aristóteles, por exemplo, definiu a sofística como "a sabedoria (sapientia) aparente mas não real”. Para ele, os sofistas ensinavam a argumentação a respeito de qualquer tema, mesmo que os argumentos não fossem válidos, ou seja, não estavam interessados pela procura da verdade e sim pelo refinamento da arte de vencer discussões, pois para eles a verdade é relativa de acordo com o lugar e o tempo em que o homem está inserido.
O contexto histórico e sociopolítico é importante para que se compreenda o papel e o pensamento dos sofistas para a sociedade grega. Embora Anaxágoras tenha sido o filósofo oficial de Atenas na época do regime de Péricles, não havia um sistema público de ensino superior, então jovens que podiam pagar por instrução recorriam aos sofistas a fim de se prepararem para as dificuldades que enfrentariam na vida adulta. Uma delas, imposta pelo exercício da democracia, era a dificuldade de resolver divergências pelo diálogo tendo em vista um interesse comum. O termo “sofista” não corresponde, portanto, a uma escola filosófica e sim a uma prática. Mesmo assim, podemos elencar algumas caracterizações comuns aos sofistas:
a) Oposição entre natureza (phýsis) e cultura (nómos): Pelo que sabemos, podemos dizer que a maior parte dos sofistas tinha seu interesse filosófico concentrado nos problemas do homem e da natureza. Isso significa que aquilo que é dado por natureza não pode ser mudado, como a necessidade que os homens têm de se alimentar. O que é dado por cultura pode ser mudado, como, por exemplo, aquilo que os homens escolhem como alimento. Ou seja, todos nós precisamos da alimentação para continuarmos vivos, mas na China, a carne dos cães pode fazer parte do cardápio e, na Índia, o homem não pode se alimentar da carne bovina, pois a vaca é considerada um animal sagrado.
b) Relativismo. Para os sofistas, tudo o que se refere à vida prática, como a religião e a política, era considerado fatores culturais, logo podiam ser modificados. Dessa forma, colocavam as normas e hábitos em dúvida quanto à sua pertinência e legitimidade. Como eles eram relativistas, suas questões podiam ser levadas para o seguinte sentido: as leis estabelecidas são pertinentes para essa cidade ou precisam ser mudadas?
c) A existência dos deuses. Para os sofistas, é mais provável que os deuses não existam, mas eles não rejeitam completamente a existência, como Platão, por exemplo. Portanto, eles são mais próximos do agnosticismo do que do ateísmo. A diferença entre os sofistas e aqueles que acreditavam nos deuses – e a educação grega esteve, no início, ligada à existência e interferência dos deuses nos destinos da humanidade – é que eles preferiam não se pronunciar a respeito. Mas, se os deuses existissem, eles não teriam formas e pensamentos humanos.
d) A natureza da alma. A definição de alma para os sofistas é de uma natureza passiva e podia ser modelada pelo conhecimento que vem do exterior. Isso é muito importante para a prática que eles exerciam, pois, se as pessoas possuem almas passivas, elas podem ser convencidas de qualquer discurso proferido de forma encantadora. Por isso, era preciso lapidar a técnica a fim de levar as pessoas a pensarem de um modo que favoreça o orador, ou seja, aquele que está falando para o público. A resistência que alguma pessoa oferece a algo que é dito não seria proveniente da capacidade de refletir ou questionar e sim era decorrência da inabilidade discursiva do orador.
e) Rejeitam questões metafísicas. Os sofistas estavam bastante empenhados em resolver questões da vida prática da pólis. Aquilo que contribuiria para uma vida melhor com os outros ou para atender às necessidades imediatas era o centro de suas preocupações. Por concentrarem seus esforços para pensar naquilo que consideravamútil, questões como a origem do seres, a vida após a morte e a existência dos deuses, ou seja, questões de ordem metafísica, eram rejeitadas.
f) A habilidade de argumentar, mesmo se as teses fossem contraditórias, também era um de seus fundamentos. Apesar da dura crítica feita a eles, o trabalho dos sofistas respondia a uma necessidade da época: com o desenvolvimento e a consolidação da democracia na Atenas do século V a.C., era imprescindível desenvolver a habilidade de argumentar em público, defender suas próprias ideias e convencer a maior parte da assembleia a concordar com aquilo que os beneficiaria individualmente.
g) Antilógica. Uma estratégia de ensino comum aos sofistas era ensinar os jovens a defenderem uma posição para, em seguida, defenderem seu oposto. Essa técnica argumentativa foi chamada de antilógica e foi criticada por Platão e Aristóteles por corromper os jovens com a prática da mentira. Historiadores contemporâneos, no entanto, consideram essa técnica como uma atividade característica do espírito democrático por respeitar a existência de opiniões diferentes (cf. CHAUÍ, Marilena).
Os mais conhecidos sofistas foram Protágoras de Abdera (c. 490-421 a.C.), Górgias de Leontinos (c. 487-380 a.C.), Hípias de Élis, Isócrates de Atenas, Licofron, Pródicos e Trasímaco. Vamos agora conhecer um dos mais importantes, Protágoras.
Protágoras: “O homem é a medida de todas as coisas”
Um dos responsáveis para que Protágoras se tornasse um dos mais conhecidos sofistas foi Platão, que dedicou a ele uma obra, o que mostra que o filósofo, mesmo sem concordar com o sofismo, respeitou o pensamento de Protágoras ao ponto de se dedicar a elaborar objeções. Além de ensinar a arte do debate aos jovens em suas muitas visitas a Atenas (lembre-se de que os sofistas eram professores itinerantes, isto é, não residiam em um lugar específico), foi nomeado por Péricles para redigir a constituição de uma colônia ateniense (cf. KENNY, Anthony).
No diálogo Teeteto, Platão traz um importante pensamento de Protágoras: “O homem é a medida de todas as coisas, das que são como são e das que não são como não são”. Isso significa, em outras palavras, que se uma pessoa pensa que uma coisa é verdade, tal coisa é a verdade para ela. Ou seja, a verdade é subjetiva e relativa, não objetiva e absoluta. Por exemplo, se uma pessoa está com febre, ela pensa que a temperatura do ambiente está baixa, mesmo que ela esteja em Fortaleza e os termômetros apontem 38 graus.
Como não há uma verdade objetiva a ser considerada, a verdade sempre seria relacionada aos indivíduos. Em relação à crença nos deuses (como sabemos, a sociedade grega era politeísta), o relativismo tem a consequência de que não há uma crença mais correta do que a outra, todas devem ser respeitadas, pois o homem não pode saber nada a respeito dos deuses, se existem ou como são. Quando diz isso, Protágoras se aproxima do agnosticismo. Em suas palavras, que chegaram a nós por Diogenes Laertios:
“No que diz respeito aos deuses, não posso ter a certeza de que existem ou não, ou de como eles são; pois entre nós e o conhecimento deles há muitos obstáculos, quer a dificuldade do assunto, quer a pouca duração da vida humana”.
Diogenes Laertios, ao criticar Protágoras, nota que sua obra foi queimada em praça pública por atenienses que acreditavam que ele corrompia a juventude e ironiza, dizendo que ele foi o primeiro homem a dizer que em relação a qualquer assunto há duas afirmações contraditórias. Depois, Platão objetou que se todas as crenças são verdadeiras, a crença de que nem todas as crenças são verdadeiras também é verdadeira.
A técnica argumentativa dos sofistas foi registrada por Protágoras em sua obra Antilogia. Para ele, era preciso aprender a argumentar pró e contra determinada posição, pois todas são verdadeiras. A antilógica era um bom recurso para se preparar para debates, pois ao se conhecer profundamente os principais argumentos contra e a favor de determinado assunto, é possível defender bem qualquer posição tomada sobre ele e objetar com eficácia os argumentos dos adversários.
Resumindo
* Contexto histórico: Consolidação da democracia em Atenas no século V. a.C.
* Os sofistas: não se trata de uma escola filosófica;
* Eram professores itinerantes que ensinavam os jovens, mediante pagamento, a arte da oratória, imprescindível para a vida adulta em um regime democrático;
* O que sabemos deles é em grande parte aquilo que foi citado por seus principais adversários teóricos e, por isso, não podemos ter uma conclusão adequada sobre o que eles pensavam;
* Entre os mais importantes sofistas estão Protágoras e Górgias.
* Protágoras pensava que o homem é a medida de todas as coisas, inclusive da verdade que não poderia ser pautada, portanto, pela fé nos deuses. Seu pensamento pode ser considerado humanista e relativista.
CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo, Editora Ática, 2000.
KENNY, Anthony. História Concisa da Filosofia Ocidental. Lisboa, Temas e Debates, 1999.
LAÊRTIOS; D. Vidas e doutrinas dos filósofos ilustres. Tradução, introdução e notas: Mário da Gama Kury. 2ed. Brasília, editora Universidade de Brasília, 2008.
PLATÃO. Diálogos I : Teeteto (ou do conhecimento), Sofista (ou do ser), Protágoras (ou sofistas). Tradução e textos complementares: Edson Bini. Editora: EDIPRO. Bauru, 2007.

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