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1 Graduandos em Engenharia Ambiental e Geologia pela UNESP – Rio Claro (SP); Avenida 24A, 1515 CEP: 13506-900 Rio Claro (SP); (19) 3526-9314; anapborto@gmail.com; marina.mcoura@gmail.com; willianderek@hotmail.com; flaviab.demarchi@gmail.com. 2 Professor Doutor DGA/ UNESP Rio Claro (SP); Avenida 24A, 1515 CEP:13506-900 Rio Claro (SP); (19) 3526-9316; fabioreis@rc.unesp.br. 3 Ecóloga e Engenheira Ambiental. Doutora pela UNESP – Rio Claro (SP); Avenida 24A, 1515 CEP:13506-900 Rio Claro (SP); (19) 3526-9314; lcg@ecogeologia.com.br. 15º Congresso Brasileiro de Geologia de Engenharia e Ambiental AVALIAÇÃO DA SUSCETIBILIDADE À OCORRÊNCIA DE ESCORREGAMENTOS NAS ENCOSTAS MARGINAIS DE BARRAGENS DE TERRA: ESTUDO DE CASO NA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO DAS ARARAS Ana Paula Bortolucci1; Fábio Augusto Gomes Vieira Reis2; Lucilia do Carmo Giordano3; Marina Mendes Coura1; Willian Derek Ruiz1; Flávia Beatriz Demarchi1 Resumo - A ocorrência de escorregamentos no entorno de barragens de pequeno e médio porte pode ocasionar o rompimento do barramento e, por consequência, gerar processos de corridas de massa. O presente artigo tem como objetivo avaliar a suscetibilidade à ocorrência de escorregamentos em encostas no entorno de barragens de terra na bacia hidrográfica do Rio das Araras, considerando as características fisiográficas do terreno na escala 1:50.000 e o uso e ocupação do solo. Para desenvolvimento da pesquisa foram executadas as seguintes etapas: levantamento bibliográfico, para compreensão dos processos de escorregamento, de seus condicionantes e dos métodos para avaliação de suscetibilidade a escorregamentos; levantamento da base cartográfica na escala 1:50.000 e obtenção de imagens de satélite; caracterização dos reservatórios na bacia do Rio das Araras, verificando sua situação legal em termos de outorga junto ao DAEE (Departamento de Águas e Energia Elétrica do Estado de São Paulo); definição da suscetibilidade a escorregamento, com classificação dos critérios e fatores condicionantes; e elaboração do Mapa de Suscetibilidade a Escorregamentos. Na bacia do Rio das Araras foram identificadas 66 barragens, dentre estas apenas 23 possuem outorga no DAEE. As áreas com alta suscetibilidade a escorregamentos identificadas se relacionam com as unidades fisiográficas V (Formação Pirambóia) e VIII (formações Tatuí e Itararé) associadas a área urbana, culturas sazonais, áreas de mineração e de solo exposto. Recomenda-se a realização de trabalhos de campo para caracterização mais detalhada das áreas com alta suscetibilidade, focando as adjacências das barragens e na identificação de ocorrência de processos de escorregamento e erosão. Abstract – The landslide events at mid and low size dams surroundings may entail a dam rupture, and, by consequence, generate landslides processes. The goal of this article is to evaluate the susceptibility to landslides on slopes in the vicinity of earth dams in the basin of Rio das Araras, while considering the physiographic characteristics of the ground at the 1: 50,000 scale and the soil use and occupation. To develop the research the following steps were performed: literature, to understand the slide processes, their conditions and methods for assessing susceptibility to landslides; survey of cartographic base at the 1: 50,000 scale and obtaining satellite images; ; characterization of reservoirs in the Rio das Araras basin, verifying their legal situation in terms of grants by the DAEE (Department of Water and Energy of the State of São Paulo); definition of susceptibility to slide, with classification criteria and conditioning factors; ; and elaboration of the Landslide Susceptibility Map. In the Rio das Araras basin, 66 dams have been identified, only 23 have a DAAE granted. The identified areas with high susceptibility to landslides are related to the physiographic units V (Pirambóia Formation) and VIII (Tatuí and Itararé formations) associated with urban areas, seasonal cultures, mining areas and exposed soil. It is recommended to conduct field work for more detailed characterization of the areas with high susceptibility, focusing on the vicinity of dams and identifying occurrence of slide and erosion processes. Palavras-Chave – Suscetibilidade a escorregamentos, Barragens de terra, Rio das Araras. 15º Congresso Brasileiro de Geologia de Engenharia e Ambiental 2 1 - INTRODUÇÃO As barragens de pequeno e médio porte em geral são projetadas e executadas sem acompanhamento técnico, sendo um problema potencial, principalmente na zona rural. Jorge (1984) afirma que as barragens alteram significativamente a área de implantação e regiões vizinhas, acarretam mudanças principalmente no meio físico, entre eles a elevação do nível freático. O mesmo autor afirma que, estas alterações podem provocar erosão das áreas marginais, geração de sismos, assoreamento e fenômenos de instabilidade e escorregamentos em suas encostas marginais. As barragens estão constantemente expostas a problemas que podem afetar sua estrutura, como uso e ocupação do solo no entorno, cheias, erosão interna, falhas em sua fundação, assim como à ocorrência de escorregamentos no maciço da barragem ou nas encostas no seu entorno. Entre os principais condicionantes para a ocorrência de escorregamentos e outros movimentos de massa, pode-se citar a declividade do terreno, o uso e ocupação do solo, as características geológicas e geotécnicas da área, o índice de pluviosidade e a presença da vegetação e de corpos d'água (AUGUSTO FILHO, 1992; CERRI, 1993). Nesse sentido, a vulnerabilidade de uma barragem é a avaliação da exposição aos riscos e ameaças à que essa barragem está sujeita. Quanto maiores forem às probabilidades dos fatores de risco ocorrer e quanto mais à barragem estiver sujeita a esses fatores, maior é a sua vulnerabilidade à rupturas e acidentes. Já a suscetibilidade é a probabilidade a ocorrência de um evento ou processo (CERRI, 1993). O termo suscetibilidade pode ser aplicado como a probabilidade de ocorrência do escorregamento, considerando as características da área de estudo em relação aos principais condicionantes do processo. A análise da suscetibilidade consiste em avaliar os condicionantes aos processos de escorregamento na área estudada, indicando o grau de predisposição à ocorrência. A análise multicriterial tem sido empregada em diversos estudos relacionados ao planejamento ambiental entre eles: definição de áreas mais adequadas para instalação de empreendimentos, análise de risco ambiental, análise de sensibilidade ambiental e planejamento de uso das terras (SARTORI; POLONIO; ZIMBACK, 2014). Gusmão Filho et. al. (1992) usaram esta metodologia, no qual os multicritérios são avaliados conforme as evidências obtidas de várias fontes de conhecimento e classificados com termos linguísticos. Os critérios também podem ser classificados de forma quantitativa, atribuindo pesos baseados na influência para escorregamentos de cada fator (FERREIRA et. al., 2008; GUZZETTI et. al., 2012; SANTOS et. al., 2007). Caso ocorra um acidente em uma barragem, sua ruptura pode originar movimentos de massa na forma de corridas. No estudo feito por Skermer e Tannant (2013), acidentes com barragens de terra estão intimamente ligados a corridas de massa, sendo que falhas em pequenas barragens de terra causam frequentemente corridas de lama e/ou detritos. Deste modo, é de extrema importância analisar a suscetibilidade à ocorrência de escorregamentos nas encostas de barragens de terra, pois, um possível rompimento dos barramentos podem ocasionar sérias consequências sociais, econômicas e ambientais, como foram os casos recentes de rompimento de barragens de minerações nas regiões de Leme e Analândia (REIS, et. al., 2014). O objetivo principal deste trabalho é avaliar a suscetibilidade à ocorrência de escorregamentos em encostas no entorno de barragens de terra na bacia hidrográfica do Rio das Araras, considerandoas características fisiográficas do terreno na escala 1:50.000, o uso e ocupação do solo e as características das barragens em cada sub-bacia. A área escolhida para a realização deste estudo se refere à bacia hidrográfica do Rio das Araras, que está localizada no município de Araras, estado de São Paulo (Figura 1). Ocupa uma área de aproximadamente 400 km² na porção central do Município, na margem esquerda da macrobacia do Rio Mogi-Guaçu, apresentando um padrão dendrítico (AVANCINI et. al., 2008). O município possui uma população aproximada de 120 mil habitantes (IBGE, 2010), com economia baseada na agropecuária e agroindústria. Os principais usos do solo na região são o cultivo de cana-de-açúcar e a citricultura (AVANCINI et. al., 2008). Sendo assim, as barragens na zona rural são usadas principalmente para irrigação das áreas agricultáveis. A cidade conta também com reservatórios artificiais para o abastecimento público de água e em minerações. 15º Congresso Brasileiro de Geologia de Engenharia e Ambiental 3 Figura 1: Localização da Bacia do Rio das Araras, no Estado de São Paulo, inserida na Bacia Hidrográfica do Rio Mogi. 2 - MATERIAIS E MÉTODOS O método utilizado no presente trabalho envolve as seguintes etapas de trabalho: Levantamento Bibliográfico, para compreensão dos processos de escorregamento, de seus condicionantes e dos métodos para avaliação de suscetibilidade a escorregamentos. Levantamento da base cartográfica na escala 1:50.000 e obtenção de imagens de satélite. Caracterização dos reservatórios na bacia do Rio das Araras, verificando sua situação legal em termos de outorga junto ao DAEE (Departamento de Águas e Energia Elétrica do Estado de São Paulo). Definição da suscetibilidade a escorregamento, com classificação dos critérios e fatores condicionantes. Elaboração do Mapa de Suscetibilidade a Escorregamentos. A área de estudo refere-se às cartas topográficas Araras (Folha SF-23-M-II-3), Leme (Folha SF-23-Y-A-II-1) e Conchal (Folha SF-23-Y-A-II-4), na escala 1:50.000, ano 1969 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Foram utilizadas as imagens de satélite da área de estudo disponível no software ArcGis 10.1. A partir das imagens e da base cartográfica foram localizadas as barragens outorgadas pelo DAEE, pelas coordenadas dos empreendimentos no banco de dados do referido órgão. Também foram localizados os reservatórios não outorgados no DAEE, pela observação visual minuciosa de cada curso d'água nas imagens de aéreas. Os reservatórios encontrados foram classificados de acordo com seu tipo, considerando as seguintes classes: tanques de água, reservatórios em mineração, lagoa natural e barragem. As características da área de estudo foram obtidas pelo Mapa de Compartimentação Fisiográfica e de Uso e Ocupação da Terra da Bacia Hidrográfica do Rio das Araras, desenvolvidos por Reis et. al. (2014). Os critérios e as classes de suscetibilidade ao escorregamento foram definidos com base no levantamento bibliográfico. Os pesos foram adotados segundo a influência das classes à ocorrência de escorregamentos, definindo três classes de suscetibilidade, classificadas em baixa, média e alta suscetibilidade a escorregamentos. E, para cada fator foram definidos os pesos de influência (em porcentagem), indicando a representatividade de cada fator para os processos de escorregamentos. O mapa de suscetibilidade a escorregamentos foi confeccionado com base na análise multicriterial no software ArcGIS 10.1, com base nos mapas da compartimentação fisiográfica e o do uso e ocupação do solo da bacia hidrográfica do Rio das Araras (REIS et. al., 2014), ambos com os critérios já classificados com os valores de suscetibilidade correspondentes apresentados anteriormente. Os mapas foram correlacionados com a relação 55% de peso de influência para a 15º Congresso Brasileiro de Geologia de Engenharia e Ambiental 4 compartimentação fisiográfica e 45% de peso para o uso e ocupação do solo, usando a ferramenta Raster Calculator (CORREA, 2013; ROSS, 1995). O fatiamento nas classes de suscetibilidade, alta, média e baixa, foi realizado pela ferramenta de classificação Natural Breaks. 3 – RESULTADOS E DISCUSSÕES 3.1. Caracterização dos Reservatórios na Bacia do Rio das Araras Na bacia hidrográfica do Rio das Araras, por meio da análise visual das imagens de satélite, foram identificados 116 reservatórios. Pelos dados obtidos no banco de dados do DAEE foram identificados 29 reservatórios de água com outorga. Pela classificação dos reservatórios adotada na pesquisa, obteve-se os seguintes resultados, apresentados na Tabela 1. Tabela 1. Resultado da classificação de reservatórios existentes na bacia hidrográfica do Rio das Araras. Classificação do Reservatório Com Outorga do DAEE Sem Outorga do DAEE Barragem 23 43 Mineração 1 --- Tanque 5 33 Lagoa Natural 11 3.2 – Condicionantes a Processos de Escorregamento Gusmão Filho et. al.. (1992) definiram critérios para ocorrência a processos de erosão e escorregamentos, baseados em três fatores de risco: fatores topográficos (declividade e morfologia da encosta), fatores geológicos (litologia e processos de erosão) e os fatores ambientais (vegetação e densidade de ocupação). A declividade pode ser considerada um dos fatores de maior influência na ocorrência de movimentos. A declividade da encosta é uma das principais causas predisponentes na deflagração de escorregamentos (ARAÚJO 2004; LOPES, 2006). Valores maiores de declividade indicam alta possibilidade de ocorrência de movimentos de massa, pois com declividade mais acentuada, a velocidade do escoamento superficial das águas pluviais é maior, o que implica em maior capacidade erosiva da encosta (FORNASARI FILHO; INFANTI Jr., 1998). Marcelino (2003) afirma que “a maior parte dos escorregamentos tem ocorrido principalmente em declividades na faixa de 20º a 45º”. Fernandes et. al. (2004) atestaram que, na Serra do Mar no Rio de Janeiro, os escorregamentos mais frequentes ocorrem entre 18,6° e 37,0°. Quanto aos tipos de solos, para solos argilosos, a resistência à erosão e aos movimentos de massa serão maiores, pois possuem maior coesão (BRAGA et. al., 2002). Ao contrário dos solos arenosos que, apesar de possuírem maior permeabilidade, tem menor coesão entre os grãos, facilitando a desestabilização e ocorrência de movimentos de massa. Os depósitos de solos e materiais inconsolidados, como colúvios, em geral são muito porosos, dando origem a solos bem drenados, facilmente colapsíveis com a saturação e o carregamento (VAZ, 1996). Os depósitos de tálus, em muitos casos, apresentam-se saturados e submetidos a deslocamentos, que podem ser acelerados, tornando difícil a contenção do movimento. Interferem também no comportamento da água em subsuperfície; os blocos, como superfícies impermeáveis, funcionam como barreiras a percolação lateral das águas subsuperficiais, induzindo à erosão ao redor dos blocos (CASTRO JR, 1991 apud COELHO NETTO, 2000). Com relação às formas das encostas, as seções côncavas das encostas (hollows), por serem zonas de convergência, concentram sedimentos e fluxos d’água, são as mais favoráveis para a ocorrência de escorregamentos em geral (FERNANDES; AMARAL, 2000; FERNANDES et. al., 2004; MARCELINO, 2003). Araújo (2004) ressalta que as vertentes de forma retilínea e côncava apresentaram maior correlação espacial com os eventos de escorregamentos registrados 15º Congresso Brasileiro de Geologia de Engenharia e Ambiental 5 nas áreas, devido ao acúmulo de materiais nas vertentes côncavas e aos escorregamentos planares nas vertentes retilíneas. As formas de relevo são relacionadas à topografia e declividade do terreno. As planícies aluviais são formas de acumulação de origem fluvial, com terrenos baixos, predominantemente planos. Já os terraços baixos, acumulação fluvial de forma plana, são terrenos levemente inclinados,com declividades muito baixas de 0 a 3%. (INPE, 1992; IBGE, 2009). Nas colinas, com relevo plano e suave ondulado, predominam declividades médias, de 3 a 20%. E as serras e morros apresentam declividades altas, de 40 a 60%. (INPE, 1992) Perturbação ou alteração dos padrões de drenagem, desestabilização das encostas e remoção da vegetação são fatores comuns, induzidos pelo homem, que podem dar início a deslizamentos de terra (HIGHLAND; BOBROWSKY, 2008). Em áreas agrícolas, Guerra (2013) alega que o remanejamento de partes do subsolo para cima e vice-versa, devido à mecanização das lavouras, pode causar diminuição da espessura do solo e da matéria orgânica, diminuindo a resistência do solo. A presença de vegetação em uma área contribui para a diminuição da suscetibilidade a escorregamentos. A cobertura vegetal retarda e diminui a infiltração de água no solo e impede o impacto direto da gota de chuva com o solo (AUGUSTO FILHO; VIRGÍLI, 1998; GUERRA; CUNHA, 2000; GUIDICINI; NIEBLE, 1983; SUAREZ, 1997). 3.3. Definição da Suscetibilidade a Escorregamento Para avaliação da susceptibilidade a movimentos de massa foram considerados, dois critérios principais: o meio físico e o meio antrópico. Dentro destes, foram analisados os fatores principais que contribuem para o desencadeamento de escorregamentos: Meio Físico: solo e materiais inconsolidados, formas de encostas, formas de relevo, declividade, amplitude; e, Meio Antrópico: uso e ocupação do solo. A partir de análise bibliográfica foram selecionados os principais fatores que influenciam na suscetibilidade a escorregamentos, como indicado na tabela 2. Para cada fator foi definido um peso que indica sua influência na suscetibilidade. Para calcular o peso de cada fator foi realizada uma comparação pareada entre fatores para determinar a importância relativa de cada um deles (SARTORI; POLONIO; ZIMBACK, 2014). Em complemento para fator foram apresentadas as características conforme sua classe de suscetibilidade a escorregamento em: baixa suscetibilidade (classe 1), média (classe 2) e alta (classe 3). Para avaliar os critérios, utilizou-se o mapa de compartimentação do Rio das Araras, elaborado por Reis et. al. (2014), que apresenta oito unidades fisiográficas. Todas as unidades foram classificadas com seus respectivos pesos de suscetibilidade a escorregamentos, baseadas em suas características físicas, como apresentado na tabela 3. Para a análise do meio antrópico à suscetibilidade a escorregamento na área de estudo, utilizou-se também o mapa de uso e ocupação do solo da bacia do Rio das Araras, elaborado por Reis et. al. (2014). No mapa foram determinadas três classes de diferentes usos para a área, que foram classificados de acordo com seus pesos de suscetibilidade de acordo com a tabela 4. No mapa de suscetibilidade a escorregamentos, as classes de suscetibilidade foram separadas em alta, média e baixa. As classes foram definidas automaticamente pelo classificador do software ArcGis 10.1, pelo método de classificação Natural Breaks, conforme apresentado na figura 2. Os intervalos de pesos para as três classes definidas para a suscetibilidade a escorregamentos foram: ● Baixa suscetibilidade (área verde): valores entre 56 - 80,78 ● Média suscetibilidade (área amarela): valores entre 80,78 – 100,92 ● Alta suscetibilidade (área vermelha): valores entre 100,92 - 135 No mapa as áreas com alta suscetibilidade a escorregamentos identificadas se relacionam com as unidades fisiográficas V e VIII, ambas apresentam altas declividades. A unidade V 15º Congresso Brasileiro de Geologia de Engenharia e Ambiental 6 (Formação Pirambóia) caracteriza-se pelo solo residual e coluvionar arenoso, pelas vertentes côncavas e pela declividade alta, estando associada em geral em relevo de meia encosta, principalmente, em escarpas localizadas. Em complemento, a amplitude local é alta e a tendência é para encostas côncavas concentradoras. A Unidade VIII (formações Tatuí e Itararé) apresenta solo coluvionar areno-siltoso a areno-argiloso, com a presença de seixos localizados, associada a encostas declivosas convexas e côncavas, com declividades altas e amplitude local baixa. A área urbana, culturas sazonais, áreas de mineração e de solo exposto estão associadas às áreas de alta suscetibilidade (Figura 2). Estes tipos de uso do solo indicam instabilidade e falta de proteção aos solos. Nas áreas urbanas, as construções e a pavimentação impedem a infiltração, causando efeitos negativos devido ao aumento do escoamento superficial e redução na recarga da água subterrânea. Os solos sem cobertura vegetal estão expostos diretamente ao impacto da chuva e da ação dos ventos, aumentando os efeitos do escoamento superficial e da erosão (GUERRA, 2013). As áreas de média suscetibilidade são, na maioria, áreas com monoculturas sazonais e pastagens. As áreas com baixa suscetibilidade a escorregamentos estão relacionadas com as unidades fisiográficas de baixa declividade e amplitude, principalmente as unidades I (planície aluvial) e II (terraços). Na região de baixa suscetibilidade predominam as áreas de mata e de cultura perene. A cobertura vegetal atua como proteção e interceptação à água da chuva, à ação do vento, aos raios solares diretos, promovendo a diminuição da velocidade do escoamento superficial, enquanto o sistema radicular atua no aumento da resistência ao cisalhamento do solo, fornecendo estruturação e reduzindo a infiltração de água, aumentando assim a coesão do solo (GUIDICINI; NIEBLE, 1983). Tabela 2. Pesos e critérios para classificação de suscetibilidade a escorregamentos adotados. Critérios Fatores Pesos de influência Características Classes de Suscetibilidade M e io F ís ic o Tipo de solo e materiais inconsolidados 10% Afloramento rochoso e elúvio; Solo argiloso bastante coeso 1 Solo arenoso e areno-argiloso 2 Solo arenoso e areno-siltoso Depósitos de tálus e colúvios 3 Formas de Encostas/Vertentes 5% Convexas (dispersoras) e superfícies planas 1 Retilíneas 2 Côncavas (concentradoras) 3 M e io F ís ic o Tipo/Formas de Relevo 5% Planícies Aluvionares Relevo de baixa encosta Terraços 1 Colinas e Morrotes Relevo de meia encosta 2 Morros e Serras 3 Amplitude Local 5% Baixa (0 a 100m) 1 Média (100 a 300 m) 2 Alta (> 300 m) 3 Declividade predominante 30% Baixa/Suave (< 10º ) 1 Intermediária (10 a 30º) 2 Alta (> 30º) 3 M e io A n tr ó p ic o Uso e Ocupação do Solo 45% Mata (fragmentos florestais) e Cultura perene (plantio de eucalipto, laranja, café, etc) 1 Pastagens, cultura sazonal (plantio de cana de açúcar, milho, soja, etc) e área urbana consolidada com crescimento urbano ordenado 2 Solo exposto, área de minerações e lixões e área urbana periférica com crescimento desordenado 3 15º Congresso Brasileiro de Geologia de Engenharia e Ambiental 7 Tabela 3. Unidades fisiográficas da bacia do Rio das Araras e suas respectivas características e classificação da suscetibilidade a escorregamentos. Unidade Fisiográfica Características principais Valor da suscetibilidade I - Planície Aluvial Solo areno-argiloso em superfícies planas. 65 II – Terraços Sedimentos inconsolidados de areia, cascalhos e argilas, declividade e amplitude baixas. 70 III – Colúvios Sedimentos inconsolidados de textura areno-argilosa, com relevo colinoso e amplitude média. 85 IV - Diabásio Serra Geral Solo laterítico argiloso em relevos de fundo de vale, com declividade e amplitude médias. 100 V - Formação Pirambóia Solo residual e coluvionar arenoso em relevo de meia encosta, com vertentes côncavas e declividade alta, 160 VI - Formação Corumbataí Solo argiloso residual em relevo de meia encosta, com médias declividades e baixas amplitudes. 95 VII - Formação Irati Solo argiloso residual em relevo de meia encosta, com vertentes côncavas e médias declividades.110 VIII – Tatuí e Itararé Solos areno-siltosos a areno-argilosos, com a presença de seixos localizados em encostas declivosas, com declividades médias a altas 135 Tabela 4. Classificação da suscetibilidade dos usos do solo da bacia do Rio das Araras. Usos do solo Classes de Suscetibilidade Valor da suscetibilidade Campo sujo, mata, água, cultura perene, 1 45 Cultura sazonal, pastagem, área urbana e construções rurais 2 90 Solo exposto e mineração 3 135 4 – CONSIDERAÇÕES FINAIS O levantamento bibliográfico abrangeu várias bases nacionais e internacionais, podendo-se estabelecer os condicionantes a processos de escorregamentos, a partir desses resultados foram definidos critérios condicionantes em: tipo e espessura das rochas, solo e materiais inconsolidados; formas de encostas/vertentes; tipo/formas de relevo; amplitude local; declividade predominante; e uso e ocupação do solo. Os reservatórios de água identificados mostraram a situação irregular das barragens e tanques, que existem sem outorga no DAEE. A análise visual como metodologia para identificação destes reservatórios se mostrou eficaz com imagens de alta resolução. O uso dos mapas de compartimentação fisiográfica e do uso e ocupação do solo mostrou-se adequado para a elaboração do mapa de suscetibilidade a escorregamentos, por apresentar os fatores condicionantes ao processo em cada unidade, sendo possível atribuir valores de suscetibilidade de acordo com suas influências. Houve certa dificuldade em classificar determinados critérios de algumas unidades, pois, ressalta-se que o mapa de compartimentação usado não foi elaborado com o objetivo específico para identificar áreas de escorregamento. O mapa de suscetibilidade a escorregamentos indicou que as áreas urbanas, de mineração e solo exposto, e a unidade fisiográfica V, foram as áreas com mais suscetibilidade à ocorrência de escorregamentos. De acordo com os fatores condicionantes estabelecidos e seus respectivos pesos, estas áreas seriam as de maior probabilidade de desencadear processos de escorregamentos. Portanto, recomenda-se a realização de trabalhos de campo para caracterização mais detalhada das áreas com alta suscetibilidade, focando as adjacências das barragens e na identificação de ocorrência de processos de escorregamento e erosão. 15º Congresso Brasileiro de Geologia de Engenharia e Ambiental 8 Figura 2. Mapa de suscetibilidade a escorregamentos na bacia do Rio das Araras. AGRADECIMENTOS Os autores agradecem a FAPESP pelo auxílio na forma de bolsa de iniciação científica e ao Instituto de Geociências e Ciências Exatas, Unesp – Rio Claro (SP) pelo suporte oferecido. 15º Congresso Brasileiro de Geologia de Engenharia e Ambiental 9 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ARAÚJO, P. C. de. Análise da suscetibilidade a escorregamentos: uma abordagem probabilística. 2004. ix, 172 f. Tese (doutorado) - Universidade Estadual Paulista, Instituto de Geociências e Ciências Exatas, 2004. AUGUSTO FILHO, O. 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