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O princípio da isonomia e a necessidade de intervenção do Estado em tempos de crise por conta do COVID-19

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O princípio da isonomia e a necessidade de intervenção do Estado em tempos de crise por conta do COVID-19
Cíntia Rodella Assunção
Esse trabalho, visa analisar a necessidade da intervenção do Estado no momento de Pandemia por conta do COVID-19 e fazer uma reflexão acerca da isonomia material para a construção da MP 936/2020.
A intervenção do Estado no domínio econômico, nada mais é do que todo ato ou medida legal que restrinja, condiciona ou tenha por fim suprimir a iniciativa privada em determinada área, visando assim, o desenvolvimento nacional e a justiça social, assegurados os direitos e garantias individuais.
Dentre os motivos determinantes para o surgimento da intervenção estatal na economia, despontam o fracasso do mercado e a necessidade de recriá-lo com o Estado que assumisse determinadas responsabilidades.
De tal modo, o Estado passou a atuar em prol da justiça social por meio de uma distribuição justa de renda, e finalmente, passa a atuar na atividade econômica como empresário, tendo como intuito conseguir mais prontamente metas que demandariam maior tempo pelos particulares.
No dia 31 de dezembro de 2019, foi identificado em Wuhan, na China, o primeiro caso de contágio pelo novo coronavírus (Covid-19 ou Corona Virus Disease). Em março de 2020, a Organização Mundial da Saúde (OMS) definiu o surto da doença como uma pandemia. Desde então, o mundo tem convivido com medidas drásticas de isolamento e distanciamento social, crises nos sistemas de saúde e inúmeros reveses concernentes, especialmente, aos setores de economia e empresarial
Ao Brasil, o vírus chegou no final do mês de fevereiro de 2020, por intermédio de um cidadão brasileiro residente do Estado de São Paulo e com histórico de viagem para a região da Lombardia, na Itália, e, desde então, tem se alastrado pelos demais Estados da federação, exigindo a adoção de ações concretas de combate à pandemia.
Para Mankiw (2020), “Há dois motivos para que um governo intervenha na economia — promover a eficiência e promover a igualdade”. Isso se dá, principalmente, porque até mesmo o mais eficiente dos mercados não consegue “alocar os recursos de forma eficiente para maximizar o tamanho do bolo econômico”. E essa dificuldade de melhor alocação dos recursos é conceituada, na Economia, como uma falha de mercado. 
Tal falha pode ser provocada por vários fatores, muitos deles alheios ao mercado em si, como o que está ocorrendo hoje: uma pandemia que levou vários governos, inclusive o Governo Federal, a propor a decretação de calamidade pública. Em momento de crise como esse, a atuação estatal se faz ainda mais relevante e necessária.
O momento por que passam o Brasil e o mundo se enquadra com perfeição nesse conceito: o combate à pandemia é, ou pelo menos deveria ser, o “interesse geral da sociedade”. Logo, tem-se configurada, sem maior esforço intelectivo, ao menos uma das situações que legitimam a intervenção do Estado na Economia.
Em situações tais, necessária se faz a intervenção do Estado para garantir a ordem econômica, o que pode se dar de várias formas, como, por exemplo, criando-se um benefício para garantir o mínimo existencial para famílias de baixa renda ou instituindo programas que atenuem os impactos econômicos da pandemia nas empresas.
E é exatamente isso que vem se observando nos últimos dias, como, por exemplo, com a aprovação, no Senado Federal, do Projeto de Lei 1.282/2020, que institui o Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Pronampe), que tem como objetivo a oferta de crédito aos microempresários e aos empresários de pequeno porte, com recursos oriundos do Tesouro Nacional. Ou a Medida Provisória 936 /2020, que institui o Programa Emergencial de Manutenção do Emprego e da Renda, que prevê uma série de medidas com o objetivo de preservar empregos e renda, entre elas a redução da jornada de trabalho e a suspensão do contrato de trabalho
A MP 936, vem como um bálsamo para a sociedade, pois muito se falava em como resolver a questão dos contratos de trabalho de forma a não infringir as normas constitucionais e manter a ordem econômica financeira do Estado e por conseguinte da propriedade privada. 
Muito se falava em suspensão e interrupção dos contratos de trabalho para diminuir os custos dos empresários e a manutenção dos empregos, mas em contra partida, não se poderia causar um outro caos econômico e social, simplesmente ajudando o empresário a reduzir sua folha de pagamento e por outro lado desempregando milhões de pessoas, que deixariam de receber salários, deixariam de consumir , por conseguinte as empresas deixariam de vender e o fechamento destas, seria mais uma vez inevitável, ou seja, apenas suspender os contratos de trabalho, não seria a melhor opção para o momento vivido.
A referida medida provisória, traz a normatização de um acontecimento que estava ocorrendo de fato na vida real, outro assim, percebe-se que, o Direito, mais uma vez está para a sociedade, bem como a sociedade está para o Direito. Haja vista, as normas do Direito, não são meras coincidências com a vida real, elas são, ou pelo menos se almeja que seja, um retrato fiel, da sociedade que vivemos. Temos assim, o Direito como fato social. 
O que se vê é que, especialmente em momentos de crise, que a intervenção estatal não somente se faz necessária, mas, sim, essencial para a manutenção da ordem econômica. Ou seja, desde a criação de um auxílio para as pessoas de baixa renda até a abertura de linhas de crédito de bilhões de reais, para socorrer as empresas, a “mão do Estado” se faz presente para amparar a sociedade.
Contudo, essa intervenção, não pode se dá de qualquer forma, já dito anteriormente, deve-se observar dentre outras questões o princípio da isonomia. A Isonomia é, tão somente a igualdade material. Ela assegura às pessoas oportunidades iguais, considerando suas condições diferentes. Por isso, é frequentemente traduzida na frase: “tratar desigualmente os desiguais, na medida de sua desigualdade”. 
O princípio da igualdade pode ser entendido em dois aspectos: igualdade formal e igualdade material.
A igualdade formal é a igualdade jurídica onde todos devem ser tratados de maneira igual, sem quaisquer distinções. A igualdade formal é a ideia de que o Direito não diferencia ninguém. Por exemplo, quando a Constituição determina que “homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta Constituição” (art. 5º, I), está estabelecendo igualdade formal entre homens e mulheres. 
A igualdade material é a busca pela igualdade real, tratando de forma desigual pessoas que se encontram em condições desiguais, na medida e proporção de suas desigualdades. Desta igualdade, que iremos discorrer, neste trabalho.
Segue um breve resumo acerca da ajuda do governo sobre a suspensão do contrato e pagamento do Benefício Emergencial:
Os empregados que tiverem a suspensão temporária de seu contrato de trabalho continuarão a receber todos os benefícios que lhes são dados pelo empregador, como vale refeição, vale alimentação, plano de saúde, etc.   
Além disso, os empregados poderão recolher as contribuições ao INSS como segurado facultativo para ter o período considerado para fins de aposentadoria e manutenção de outros benefícios, uma vez que os recolhimentos previdenciários não serão realizados pelo empregador.  
A forma do pagamento da remuneração do empregado dependerá da receita bruta anual do empregador, da seguinte forma: 
*empregador com receita bruta anual inferior a R$ 4,8 milhões no ano de 2019: o empregador suspende totalmente o pagamento do salário e os empregados farão jus ao Benefício Emergencial de Preservação do Emprego e da Renda, que será custeado com recursos da União no valor de 100% do seguro-desemprego que o empregado teria direito; 
*empregador com receita bruta anual superior a R$ 4,8 milhões no ano de 2019: o empregador paga uma ajuda compensatória de 30% do salário do empregado e o Benefício Emergencial de Preservação do Emprego e da Renda será devido no valor de 70% do seguro-desemprego queo empregado teria direito. 
É sabido da diversidade de formas de auxílio da MP, mas faremos apenas a análise das empresas que tenham auferido, em 2019, receita bruta superior a R$4.800.000,00 (quatro milhões e oitocentos mil reais),onde o governo paga 70% do seguro-desemprego a que o empregado teria direito, e a empresa paga os 30% restantes. 
Sabemos que as empresas que possuem faturamento anual superior a R$ 4,8 milhões de reais, presume-se possuir a chamada “gordurinha”, reservas e ou aplicações financeiras em caixa. Fato que, dispensariam essa ajuda emergencial do Governo Federal nesse momento de pandemia, ou que pelo menos, essa ajuda não fosse ofertada de modo indiscriminado, mas que, para ser adquirida, tivesse que comprovar, com seus demonstrativos contábeis sua real necessidade para a liberação do auxílio.
Dessa forma, os valores a juros baixos, com carência para pagamentos das parcelas iniciais e parcelas para serem pagas em até 2 anos, que são destinadas a essas empresas, que muitas vezes não precisariam deste auxilio, farão uso destes, para outros fins, muitas vezes. 
Percebe-se a necessidade do uso da isonomia material, para a contemplação desse benefício para as empresas de grandes vultos econômicos. A máxima dita em tratar desigualmente os desiguais, na medida de sua desigualdade, aqui deveria ter sido observada. 
Finalmente, à lição de Merkel, onde diz no seu artigo na revista Exame que:
“Somente a solidariedade comum, a englobar pessoas, empresas e, de modo enfático, o próprio Estado, é capaz de gerar um eficaz enfrentamento à pandemia da Covid-19. Sem a intervenção estatal, corre-se o risco de se avolumarem os impactos sociais causados pelo vírus e de não se concretizar o desenvolvimento da nação. Mesmo para o setor produtivo, da ação do Estado dependerá a retomada de diversos setores da relação econômica.” 
Corrobora Neto (2003):
 “Apenas em contexto de igualdade, poderiam prevalecer a vontade geral e a ética comunitária que é por ela proposta, em substituição ao individualismo do homem hobbesiano, criticado por Rosseau. Em uma sociedade igualitária, a política democrática deixaria de ser uma opção second best, para passar como um fundamento moral capaz de provocar a adesão da generalidade do cidadão. Na obra de Rosseau a igualdade material é tão importante que o autor a alça à condição de grande objetivo do governo: “precisamente por sempre tender a força das coisas a destruir a igualdade, a força da legislação deve sempre tender a mantê-la.”
Não obstante, faz-se mister, provocar a reflexão acerca dessas medidas editadas pela classe dominante, para a classe dominante, muitas vezes. É percebido que muitos que não precisam, vão se beneficiar e muitos que precisam muito mais, do que apenas uma ajuda para o adimplemento da folha de pagamento, por possuir baixo faturamento, ou faturamento zero, não irão perceber de fato essa intervenção do Estado na economia, tendo reflexão diretamente na sociedade.
Podemos enfatizar que, os valores que não fossem usados por empresas que realmente não possuem real necessidade, poderiam ser revertidos para as empresas com faturamento zero, já que os custos e manutenção de uma empresa, não são resumidos a folha de pagamento.
Nesse momento de Pandemia, caos econômico e por que não dizer, de caos social, os princípios constitucionais, e principalmente o princípio da isonomia material, deveriam nortear toda e qualquer decisão do Estado, para que as diferenças sociais e econômicas, não se tornem ainda maiores.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
MANKIW, N. Gregory. Introdução à Economia. 8. ed. São Paulo: Cengage, 2020. Tradução de: Allan Vidigal Hastings, Elisete Paes e Lima, Ez2 Translate. p. 9-10.
EXAME. Merkel: Coronavírus é o maior desafio da Alemanha desde 2ª Guerra Mundial. Disponível em: <https://exame.abril.com.br/mundo/merkel-coronavirus-e-o-maior-desafio-da-alemanha-desde-2a-guerra-mundial/>. Acesso em: 3 maio. 2020.
NETO, Cláudio Pereira de Souza e outros. Teoria da Constituição – estudos sobre o lugar da política no Direito Constitucional. Lumen Juris, 2003, Rio de Janeiro, p. 6

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