Buscar

Deveres e Poderes do Juiz no Novo CPC

Prévia do material em texto

SUJEITOS DO PROCESSO II: MAGISTRADOS E AUXILIARES DA JUSTIÇA. ATOS, ÔNUS E PODERES
Profa. Iris Saraiva Russowsky
DO JUIZ E DOS AUXILIARES DA JUSTIÇA
DOS DEVERES, PODERES E RESPONSABILIDADE DO JUIZ
Art. 139 CPC. 
É muito importante saber que o novo CPC traz o juiz como agente colaborador do processo para se atingir a prestação jurisdicional. Ele não é uma figura isolada que decide sem a participação das partes.
Princípio da cooperação. Art. 6 CPC. Todos os sujeitos devem cooperar entre si, incluindo o juiz. Na medida em que o princípio da cooperação passa a ser expressamente adotado no ordenamento jurídico processual
brasileiro, expande-se o papel presidencial (diretivo) do juiz. Antes, exclusivamente no controle da relação processual e na tomada de decisões. Agora, como órgão colaborativo, cooperador, a trabalhar em conjunto com as partes para que se alcance o melhor resultado
O CPC 2015 aumentou muito a responsabilidade do juiz em relação aos chamados poderes-deveres, devendo ser mais participativo. O PROCESSO É UM DIÁLOGO ENTRE JUIZ E PARTES. 
Art. 139.  O juiz dirigirá o processo conforme as disposições deste Código, incumbindo-lhe:
Caberá ao juiz presidir o processo, o processo, como instrumento estatal que é, serve para a solução dos conflitos. A presidencia do processo pelo juiz não o torna figura principal do processo, tampouco lhe dá ascendência hierarquica sobre os demais membros do processo, mas caberá a ele controlar a relação processual, fazendo com que se desenvolva de forma ética. 
I - assegurar às partes igualdade de tratamento;
O juiz deve tratar as partes de forma igual, isso não impede que o juiz atue em colaboração com as partes, mas impede que atue em colaboração com apenas uma deles. 
Essa igualdade de tratamento é substancial ou seja, devem ser tratadas iguais na medidade de sua igualdade, o que não impede que haja um prazo dilatado para produção de provas de u´ma parte prova assistida pela DP. 
II - velar pela duração razoável do processo;
Principio da duração razoável do processo. Consagrado na CF e no CPC. MAS ATENÇÃO: celeridade não pode ser confundida com precipitação e segurança não pode ser confundida com eternização. Deve-se encontrar o justo equilíbrio entre segurança e celeridade.
III - prevenir ou reprimir qualquer ato contrário à dignidade da justiça e indeferir postulações meramente protelatórias;
Deve o juiz, em razão de ser presidente do processo, indeferir postulações meramente protelatórias . 
Tem-se a aplicação do principio da boa-fé processual, onde as partes não devem requerer a produção de provas inuteis ao processo e se assim requererem, deve o juiz indeferir a diligência. Art. 370 CPC. 
IV - determinar todas as medidas indutivas, coercitivas, mandamentais ou sub-rogatórias necessárias para assegurar o cumprimento de ordem judicial, inclusive nas ações que tenham por objeto prestação pecuniária;
Princípio da efetivação. A atividade jurisdicional ela nem sempre se completa com a mera declaração do direito, é necessário que as atividades sejam cumpridas, efetivadas. 
V - promover, a qualquer tempo, a autocomposição, preferencialmente com auxílio de conciliadores e mediadores judiciais;
Principio infraconstitucional da tentativa de conciliação das partes a qualquer tempo. É indispensável que haja a tentativa de conciliação antes do julgamento. 
Ex.: obrigatoriedade da audiência de conciliação como primeiro ato do processo. Inclusive aquele que não comparecer será apenado com multa 
VI - dilatar os prazos processuais e alterar a ordem de produção dos meios de prova, adequando-os às necessidades do conflito de modo a conferir maior efetividade à tutela do direito;
Flexibilização legal do procedimento. As formas não devem ser um embaraço ao processo impedindo o sufocamento da substância do direito. 
VII - exercer o poder de polícia, requisitando, quando necessário, força policial, além da segurança interna dos fóruns e tribunais;
O juiz deve zelar pela segurança de todos os atores processuais. 
VIII - determinar, a qualquer tempo, o comparecimento pessoal das partes, para inquiri-las sobre os fatos da causa, hipótese em que não incidirá a pena de confesso;
Dever de esclarecimento. Julgador deve esclarecer-se junto às partes sobre dúvidas que tenha em relação às alegações, pedidos e fatos.
Interrogatório é diferente de depoimento pessoal. O interrogatório é determinado de oficio pelo juiz para esclarecimento sobre algo da causa pela parte, se essa não comparecesse não haveria presunção de veracidade dos fatos; já o depoimento pessoal é requerido pela parte contraria, sendo meio de prova, se a parte não comparecesse havia-se presunção de veracidade. 
Esse inciso consagra a possibilidade do juiz interrogar a parte para esclarecer algo sobre a causa, podendo ainda pedir esclarecimento por escrito. 
IX - determinar o suprimento de pressupostos processuais e o saneamento de outros vícios processuais;
Dever de prevenção. Juiz deve apontar as deficiências da postulação das partes para que elas possam ser supridas. Ex.: caso em que o juiz aponta o que deve ser emendado na inicial.
Dever de auxilio: magistrado deve auxiliar as partes na remoção de dificuldades ao exercicio dos seus direitos ou no cumprimento de ônus ou deveres processuais. 
X - quando se deparar com diversas demandas individuais repetitivas, oficiar o Ministério Público, a Defensoria Pública e, na medida do possível, outros legitimados a que se referem o art. 5o da Lei no 7.347, de 24 de julho de 1985, e o art. 82 da Lei no 8.078, de 11 de setembro de 1990, para, se for o caso, promover a propositura da ação coletiva respectiva.
A tutela coletiva de direitos individuais homogeneos é de interesse do sistema, permitindo por meio de um único processo a prolação de decisão que pode vir a beneficiar milhares de pessoas, poupando o judiciário de processamento das demandas individuais, assim, é dever do judiciário comunicar os legitimados coletivos para agirem. 
Parágrafo único.  A dilação de prazos prevista no inciso VI somente pode ser determinada antes de encerrado o prazo regular.
NON LIQUET
Os deveres e poderes do juiz é de rol exemplificativo.
Art. 140 CPC. Juiz não pode se eximir de julgar determinada causa. NON LIQUET é vedado pelo nosso ordenamento. NON LIQUET é abreviação da máxima latina “iuravi mihi non liquere, atque ita iudicatu illo solutus sum” = jurei que o caso não estava suficientemente claro e, em consequencia, fiquei livre do julgamento. 
Art. 140.  O juiz não se exime de decidir sob a alegação de lacuna ou obscuridade do ordenamento jurídico.
Parágrafo único.  O juiz só decidirá por equidade nos casos previstos em lei.
JULGAMENTO POR EQUIDADE
Paragrafo único traz a ideia do juiz julgar de acordo com a lei sendo-lhe vedada proferir decisões com base na equidade, que é a justiça ao caso concreto, pois nesse caso o juiz faria as vezes de legislador, haveria o juiz positivo, criando a lei.
Julgamento por equidade é aquele que autoriza o juiz a afastar critérios de legalidade e tomar decisões que lhe parecem mais coneniente e oportunas. DISCRICIONARIEDADE JUDICIAL. 
PRINCÍPIO DA CORRELAÇÃO/ADSTRIÇÃO/ DISPOSITIVO
Regra: não haverá tutela jurisdicional sem prévia provocação do interessado. Processo inicia-se por iniciativa da parte e desenvolve-se por impulso oficial. A causa só pode ser decidida pelo juiz nos limites em que proposta, não podendo o julgador conceder algo não pedido ou que extravase os limites estabelecidos no pedido e causa de pedir. 
É defeso (proibido), assim, proferir decisão de natureza diversa da pedida, bem como condenar o réu em quantidade superior ou em objeto diverso do que lhe foi demandado.
Exceções: há cassos expressos na lei em que o juiz poderá conhecer sem provocação :
Fatos supervenientes. Se após a propositura da ação algum fato constitutivo, modificativo ou extintivo do direito influir no julgamento de mérito, o juiz poderá toma-lo em consideração no momento de sua decisão. 
Nulidades absolutas. Nulidades absolutas devem serproferidas de oficio pelo juiz, 
RESPONSABILIDADE CIVIL DO JUIZ
Art. 143 CP. 
Se juiz praticar ato ilícito, além da responsabilidade penal e administrativa terá responsabilidade civil pelas perdas e danos causados ao Estado. 
Art. 143.  O juiz responderá, civil e regressivamente, por perdas e danos quando:
I - no exercício de suas funções, proceder com dolo ou fraude;
II - recusar, omitir ou retardar, sem justo motivo, providência que deva ordenar de ofício ou a requerimento da parte.
Parágrafo único.  As hipóteses previstas no inciso II somente serão verificadas depois que a parte requerer ao juiz que determine a providência e o requerimento não for apreciado no prazo de 10 (dez) dias.
DO IMPEDIMENTO E DA SUSPEIÇÃO
Ambos garantem a imparcialidade do juiz. O julgador deve ser imparcial no exercício da sua atividade, não devendo ter interesse pessoal no processo. O desinteresse pessoal do julgador na causa é essencial ao legítimo exercício da jurisdição no Estado Democrático de Direito. Assim, o juiz tem independência e imparcialidade. 
Para assegurar essa imparcialidade o CPC previu situações em que tal atributo estará comprometido, vedando o exercício a jurisdição, seja porque o julgador encontra-se impedido, seja porque encontra-se suspeito. 
Impedimento: retira a parcialidade do juiz de forma absoluta.
Suspeição: retira a parcialidade do juiz de forma relativa. 
A) IMPEDIMENTO. ART. 144 CPC. 
“É a hipótese mais grave de ausência de imparcialidade do juízo no processo. JUIZ PROIBIDO DE EXERCER A JURISDIÇÃO. Há presunção absoluta de parcialidade”.
Hipoteses do art. 144 CPC são taxativas. STJ, Resp. 1.080.859. 
Art. 144.  Há impedimento do juiz, sendo-lhe vedado exercer suas funções no processo:
I - em que interveio como mandatário da parte, oficiou como perito, funcionou como membro do Ministério Público ou prestou depoimento como testemunha;
Ex.: juiz, antes de passar no concurso para magistrado ele advogava em um escritório. Ao se tornar juiz acabou pegando a causa para julgar. Nesse caso há impedimento. Basta que o nome do juiz conste na procuração para considerar-se impedido o mesmo. 
II - de que conheceu em outro grau de jurisdição, tendo proferido decisão;
Ex.: juiz decidiu em primeiro grau a causa, após, ele foi nomeado desembargador e na câmara onde passa a atuar o processo tem a apelação a ser julgada. 
III - quando nele estiver postulando, como defensor público, advogado ou membro do Ministério Público, seu cônjuge ou companheiro, ou qualquer parente, consanguíneo ou afim, em linha reta ou colateral, até o terceiro grau, inclusive;
O julgador não está apto a julgar a causa com isenção sempre que a pessoa presumidamente próxima, com laços familiares, estiver atuando no processo em favor de uma das partes. 
IV - quando for parte no processo ele próprio, seu cônjuge ou companheiro, ou parente, consanguíneo ou afim, em linha reta ou colateral, até o terceiro grau, inclusive;
V - quando for sócio ou membro de direção ou de administração de pessoa jurídica parte no processo;
VI - quando for herdeiro presuntivo, donatário ou empregador de qualquer das partes;
VII - em que figure como parte instituição de ensino com a qual tenha relação de emprego ou decorrente de contrato de prestação de serviços;
Ex.: magistrado é professor na faculdade de direito da UFRGS, não poderá julgar causa envolvendo a UFRGS. 
VIII - em que figure como parte cliente do escritório de advocacia de seu cônjuge, companheiro ou parente, consanguíneo ou afim, em linha reta ou colateral, até o terceiro grau, inclusive, mesmo que patrocinado por advogado de outro escritório;
IX - quando promover ação contra a parte ou seu advogado.
§ 1o Na hipótese do inciso III, o impedimento só se verifica quando o defensor público, o advogado ou o membro do Ministério Público já integrava o processo antes do início da atividade judicante do juiz.
§ 2o É vedada a criação de fato superveniente a fim de caracterizar impedimento do juiz.
§ 3o O impedimento previsto no inciso III também se verifica no caso de mandato conferido a membro de escritório de advocacia que tenha em seus quadros advogado que individualmente ostente a condição nele prevista, mesmo que não intervenha diretamente no processo.
ATENÇÃO:
Hipotese especifica de impedimento: art. 147 CPC. julgadores do mesmo nucleo familiar
Súmula 72 STF. “No julgamento de questão constitucional, vinculada a decisão do Tribunal Superior Eleitoral, não estão impedidos os ministros do Supremo Tribunal Federal que ali tenham funcionado no mesmo processo, ou no processo originário”.
Súmula n.º 252 do STF: “Na ação rescisória, não estão impedidos juízes que participaram do julgamento rescindendo”.
B) DA SUSPEIÇÃO. Art. 145 CPC. 
“Suspeição refere-se a situações consideradas menos graves de comprometimento da imparcialidade do juiz. O juiz deve afastar-se do processo em razão de circunstâncias subjetivas que podem comprometer sua capacidade para julgar com isenção. 
Se o julgador não se abster de julgar e não houver alegação de suspeição pela parte no prazo de 15 dias do art. 146 CPC, haverá a preclusão. 
Art. 145.  Há suspeição do juiz:
I - amigo íntimo ou inimigo de qualquer das partes ou de seus advogados;
Em relação ao CPC 73 houve ampliação, pois inclusive o juiz se for amigo do advogado das partes caberá a suspeição. 
II - que receber presentes de pessoas que tiverem interesse na causa antes ou depois de iniciado o processo, que aconselhar alguma das partes acerca do objeto da causa ou que subministrar meios para atender às despesas do litígio;
Presentes recebidos pelo magistrado podem comprometer sua imparcialidade. 
Juiz que já teve contato com a causa e aconselhou uma das partes tem sua imparcialidade comprometida. 
III - quando qualquer das partes for sua credora ou devedora, de seu cônjuge ou companheiro ou de parentes destes, em linha reta até o terceiro grau, inclusive;
IV - interessado no julgamento do processo em favor de qualquer das partes.
§ 1o Poderá o juiz declarar-se suspeito por motivo de foro íntimo, sem necessidade de declarar suas razões.
Aqui o juiz não necessita declarar suas razões. Essa dispensa de declarar suas razões decorre da proteção à intimidade. 
§ 2o Será ilegítima a alegação de suspeição quando:
I - houver sido provocada por quem a alega;
II - a parte que a alega houver praticado ato que signifique manifesta aceitação do arguido.
ATENÇÃO: 
Conselho dado às partes em audiência não caracteriza suspeição, por exemplo, se juiz diz que a ação será improdutiva. STJ, Resp. 307.045. 
PROCEDIMENTO DO INCIDENTE: a parte interessada deve arguir o impedimento ou suspeição em petição autonoma, com suas razões e provas do alegado. O impedimento pode ser alegado a qualquer tempo, a suspeição deve ser alegada em 15 dias do conhecimento do fato, sob pena de preclusão. O juiz responderá ao incidente em 15 dias, podendo acolher ou não as razões, se não acolher, a petição será autuada em autos apartados e seguirá para o Tribunal respetivo. 
Art. 148 CPC: aplica-se as causas de impedimento e suspeição ao MP, auxiliares da justiça e demais sujeitos imparciais do processo. 
	IMPEDIMENTO 	SUSPEIÇÃO
	Retira a parcialidade do juiz de modo absoluto. 	Retira a parcialidade do juiz de modo relativo. 
	Acarreta a nulidade do ato praticado. 	Acarreta a anulabilidade do ato praticado, desde que requerido oportunamente.
	Constitui hipotese de rescindibilidade da sentença transitada em julgado. 	Não acarreta a rescindibilidade da sentença, pois sujeita à preclusão. 
DOS AUXIILIARES DA JUSTIÇA
Art. 149 e seguintes do CPC.
São profissionais que atuam de modo permanente ou eventual como auxiliares do juízo.
Desempenharão atividades que não podem ser desempenhadas pelos próprios juízes, mas as atividades são de importância equivalente à atividade do magistrado. 
São eles, rol exemplificativo (existem outros ao longo do CPC:
O escrivão.
Chefe de secretaria.
Oficial de justiça.
Perito. 
Depositário.
Administrador.
Interprete.
Tradutor.
Mediador.Conciliador judicial.
Partidor.
Contabilista.
Regulador de avarias. 
Os auxiliares da justiça se submetem às sanções da LIA, pois são considerados agentes públicos.
Eles estão sujeitos a impedimentos e suspeição, pois devem ter imparcialidade. 
Ler artigos do CPC. Auto explicativos.

Continue navegando