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Agravo Interno

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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DESEMBARGADOR RELATOR DA CÂMARA CÍVEL DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE
Processo de origem nº XXXXXXX
Assunto: AGRAVO INTERNO CONTRA DECISÃO MONOCRÁTICA PROFERIDA PELO RELATOR QUE NÃO CONHECEU A APELAÇÃO POR DESERÇÃO
Norberto Bobbio, já qualificado nos autos do processo em epígrafe, no qual move ação contra MegaPowerTV S.A. e Melhores Eletros Ltda., inconformado com a decisão do relator que não conheceu a apelação, sob o fundamento de deserção, vem, muito respeitosamente, à presença Vossa Excelência, por meio do seu bastante procurador, com escritório profissional identificado nos autos e subscrito, apresentar AGRAVO INTERNO, com fundamento no art. 1.021 do Código de Processo Civil (CPC), pelos fatos e fundamentos a seguir aduzidos. 
I - DA COMPETÊNCIA E DO CABIMENTO DO AGRAVO INTERNO
A decisão foi fundamentada no art. 1.021 do Código de Processo Civil. Vejamos:
Art. 1.021. Contra decisão proferida pelo relator caberá agravo interno para o respectivo órgão colegiado, observadas, quanto ao processamento, as regras do regimento interno do tribunal.
§ 1o Na petição de agravo interno, o recorrente impugnará especificadamente os fundamentos da decisão agravada.
§ 2o O agravo será dirigido ao relator, que intimará o agravado para manifestar-se sobre o recurso no prazo de 15 (quinze) dias, ao final do qual, não havendo retratação, o relator levá-lo-á a julgamento pelo órgão colegiado, com inclusão em pauta.
§ 3o É vedado ao relator limitar-se à reprodução dos fundamentos da decisão agravada para julgar improcedente o agravo interno.
§ 4o Quando o agravo interno for declarado manifestamente inadmissível ou improcedente em votação unânime, o órgão colegiado, em decisão fundamentada, condenará o agravante a pagar ao agravado multa fixada entre um e cinco por cento do valor atualizado da causa.
§ 5o A interposição de qualquer outro recurso está condicionada ao depósito prévio do valor da multa prevista no § 4o, à exceção da Fazenda Pública e do beneficiário de gratuidade da justiça, que farão o pagamento ao final.
 Assim, o presente agravo encontra correspondência direta com o disposto no Código de Processo Civil, já que objetiva combater a decisão monocrática proferida pelo relator, o qual não conheceu do recurso de apelação por alegada ausência de preparo recursal. Dessa forma, o presente agravo merece ser conhecido e provido, pelas razões delineadas a seguir.
II – Da Tempestividade
O presente recurso é tempestivo, haja vista que a publicação de intimação ocorreu em 00/00/2020. Assim, o prazo de 15 dias úteis para interposição do recurso termina no dia 00/00/2020.
III - DOS FATOS E DO DIREITO
A decisão agravada concluiu pela deserção do recurso de apelação diante da ausência do preparo recursal por parte do apelante.
Ocorre que o Novo Código de Processo Civil trouxe regramento expresso para se conceder prazo para o saneamento diante da insuficiência, ausência ou equívoco no preparo:
Art. 1.007. No ato de interposição do recurso, o recorrente comprovará, quando exigido pela legislação pertinente, o respectivo preparo, inclusive porte de remessa e de retorno, sob pena de deserção.
[...]
§ 2o A insuficiência no valor do preparo, inclusive porte de remessa e de retorno, implicará deserção se o recorrente, intimado na pessoa de seu advogado, não vier a supri-lo no prazo de 5 (cinco) dias.
[...]
§ 4o O recorrente que não comprovar, no ato de interposição do recurso, o recolhimento do preparo, inclusive porte de remessa e de retorno, será intimado, na pessoa de seu advogado, para realizar o recolhimento em dobro, sob pena de deserção.
[...]
§ 7o O equívoco no preenchimento da guia de custas não implicará a aplicação da pena de deserção, cabendo ao relator, na hipótese de dúvida quanto ao recolhimento, intimar o recorrente para sanar o vício no prazo de 5 (cinco) dias.
Ou seja, em clara redação o Novo CPC estabelece que a deserção será declarada SE E SOMENTE SE não for suprida a realização do pagamento ou a complementação necessária após intimação do Advogado, conforme clara disposição da Lei 13.105/2015, que regulamenta o Código de Processo Civil:
Art. 932. Incumbe ao relator:
(...)
Parágrafo único. Antes de considerar inadmissível o recurso, o relator concederá o prazo de 5 (cinco) dias ao recorrente para que seja sanado vício ou complementada a documentação exigível.
Portanto, não há que se falar em deserção do recurso sem que haja regular notificação do Advogado para complementação de custas.
Além do já exposto, o novo CPC trouxe inúmeras normas processuais que visam à solução meritória da controvérsia judicial, prevendo até mesmo a fungibilidade recursal, em detrimento ao excesso de formalismo repugnado pela doutrina e entendimento dos Tribunais Superiores:
"Além do compromisso com a Lei, o juiz tem um compromisso com a Justiça e com o alcance da função social do processo para que este não se torne um instrumento de restrita observância da forma se distanciando da necessária busca pela verdade real, coibindo-se o excessivo formalismo. Conquanto mereça relevo o atendimento às regras relativas à técnica processual, reputa-se consentâneo com os dias atuais erigir a instrumentalidade do processo em detrimento ao apego exagerado ao formalismo, para melhor atender aos comandos da lei e permitir o equilíbrio na análise do direito material em litígio. Recurso especial provido." (STJ - REsp: 1109357 RJ 2008/0283266-8, Relator: Ministra Nancy Andrighi)
Na hipótese do caso em tela, o apelante não poderá ver cerceado o seu direito de reexame da decisão de primeiro grau em razão de um requisito meramente formal, tendo em vista que o CPC consagra, como uma de suas normas fundamentais, o Princípio da Primazia da Decisão de Mérito, a exigir do Poder Judiciário que dispenda todos os esforços possíveis para que o mérito de uma dada postulação seja apreciado. A própria consagração do efeito regressivo do recurso de apelação nos casos em que o processo é extinto sem resolução do mérito é manifestação desse princípio.
Pois bem. Em razão da nova ótica trazida pelo Código de Processo Civil, o juiz deverá dirigir o processo de modo a permitir a efetiva tutela jurisdicional da parte, tendo em vista que acesso à justiça não limita-se apenas ao acesso ao poder judiciário, mas inclui o direito ao julgamento de mérito da questão trazida nos autos, em razão, também, do princípio da inafastabilidade do Poder Judiciário, disposto na Constituição Federal, art. 5º, XXXV, que assim dispõe: “ XXXV - a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito;”
Do mesmo modo, a Constituição também prevê o direito à tutela jurisdicional efetiva, na qual a parte deverá ter acesso ao seu direito da forma mais efetiva possível, razão pela qual a decisão agravada, bem como a decisão apelada, merece reforma, tendo em vista que não permitiu que a parte recorrente tivesse acesso à tutela efetiva do seu direito.
Neste sentido, preleciona Fredie Didier Jr. que: “os direitos devem ser ‘efetivados’, não apenas reconhecidos. Processo devido é processo efetivo” e, mais ainda:
O art. 4º do CPC, embora em nível infraconstitucional, reforça esse princípio como norma fundamental ao processo civil brasileiro, ao incluir o direito à atividade satisfativa, que é o direito à execução: ‘Art. 4º As partes têm o direito de obter um prazo razoável a solução integral do mérito, incluída a atividade satisfativa’. (DIDIER JR., et al., Curso de Direito Processual Civil: execução. 2017, p. 65).
Dessa forma, em razão dos princípios da inafastabilidade do Poder Judiciário, do princípio da primazia do julgamento de mérito, bem como do direito à tutela jurisdicional efetiva, deve ser julgado procedente o presente agravo interno, para destrancamento da apelação, conhecendo-a, em razão da complementação do preparo, e dando-se o seu regular seguimento até o ulterior provimento, por ser de inteira justiça.
IV - DO PEDIDO
Requer o agravante que seja reconsiderada a decisão e se dê prosseguimento ao apelo, tendoem vista que foi foi lhe concedido devido prazo para a realização do preparo, ainda que em dobro e mediante intimação, privando o apelante de acesso à justiça pelo não cumprimento de requisito meramente formal. Em não havendo reconsideração, requer seja este recurso distribuído para julgamento pelo colegiado desta Câmara Cível.
Isto posto, que seja revista da decisão que não conheceu a apelação, dando-se o regular prosseguimento ao feito, com análise de mérito pertinente ao caso concreto colocado na ação principal, consoante as razões expostas no recurso de apelação.
Termos em que,
Pede deferimento.
Consumilândia, 00/00/2020.
ADVOGADO
OAB

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