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Teoria Realista e Idealista das Rel Internacionais

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Geopolítica, ReGionalização e inteGRação
Porém, não discutiremos aqui a validade lógica dos muitos discursos dos quais os analistas lançaram mão para 
conferir sentido à realidade desde a primeira metade do século passado. Desse modo, nos ateremos tão somente 
a identificar a visão de cooperação e de organizações internacionais a partir do prisma de dois importantes 
debates das teorias das relações internacionais: idealismo e realismo e realismo e interdependência.
2.1 A noção de cooperação para os teóricos idealistas e realistas
Os resultados destruidores da Primeira Guerra Mundial, com o número de vítimas civis e militares, o 
nível de violência e a extensão do conflito, impulsionaram o desenvolvimento das relações internacionais 
como campo de estudo científico a partir da percepção de um mundo ideal, da qual pretendeu-se pautar 
as relações internacionais desde então. Essa percepção ficou conhecida como idealismo.
O idealismo é concebido como:
[...] um conjunto de princípios universais que defende a necessidade de 
estruturar o mundo buscando o entendimento, através de condutas pacifistas, 
onde a confiança e a boa vontade sejam os motores que movimentam a 
história (MIYAMOTO et al., 2004, p. 15).
Ao vislumbrar a possibilidade de superação do “estado de natureza” em que se encontravam os 
Estados – conflito armado e hostilidades – e a construção de uma nova ordem jurídica internacional, 
o surgimento do idealismo contemporâneo se materializou por meio de uma espécie de pacto social 
mundial nos famosos 14 pontos de Wilson.
 Observação
Os famosos 14 pontos de Wilson, como ficaram conhecidos, marcam o 
surgimento do idealismo contemporâneo, que vislumbrava a possibilidade 
de superação do “estado de natureza” em que se encontravam os Estados 
– conflito armado e hostilidades – e a construção de uma nova ordem 
jurídica internacional por meio de uma espécie de pacto social mundial.
Na visão idealista, a ordem internacional no período pós Primeira Guerra deveria ser disciplinada 
por organizações internacionais capazes de fazer prevalecer os princípios éticos e os preceitos morais, 
refreando, assim, os nacionalismos exacerbados e a desconfiança generalizada. Por conseguinte, 
“assegurar-se-iam a ordem e a paz entre as nações com a utilização de instrumentos jurídicos para 
dirimir os conflitos de interesses” (BELLI, 1994, p. 14).
O objetivo dos idealistas era:
[...] que a cooperação internacional, através do direito internacional 
repassado de um moralismo idealista, pudesse oferecer os meios para a 
manutenção de uma paz duradoura (CASTRO, 2001, p. 14).
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A Liga das Nações foi criada como uma tradução prática desse ideário. Tratava-se de uma organização 
política interestatal permanente que tinha por intuito oferecer garantias mútuas de independência 
política, integridade territorial e preservação da paz. Entretanto, os fatos que se sucederam pareciam 
contradizer as esperanças idealistas. Tem-se que “a história conturbada [da Liga das Nações] não 
demonstrou outra coisa senão o triunfo da desconfiança recíproca e dos nacionalismos exacerbados 
sobre o idealismo wilsoniano” (BELLI, 1994, p. 15).
Em linhas gerais, as principais preocupações condensadas nos 14 pontos de Wilson passavam pela 
“supressão da diplomacia secreta, liberdade dos mares, limitação dos armamentos, remoção das barreiras 
comerciais, reajustamento dos territórios, fim da exploração colonial e criação de uma Sociedade das 
Nações” (BELLI, 1994, p. 14).
Ao se concretizar algumas das ideias veiculadas nos “projetos de paz perpétua” dos séculos anteriores, 
foi criada a “Liga das Nações”, uma organização política interestatal que oferecia garantias mútuas de 
independência política, integridade territorial e preservação da paz, como mencionado anteriormente.
O idealismo encontra seu momento de maior aceitação no período entreguerras. Importantes 
publicações de autores e estudos contribuíram para o desenvolvimento inicial da obra Relações 
internacionais como campo de estudos, de Lytton L. Guimarães. Identificar as causas da guerra e buscar 
caminhos para a paz eram preocupações iniciais que, posteriormente, estiveram voltadas também para 
questões como os problemas de segurança, os desarmamentos, o imperialismo e suas consequências, a 
negociação diplomática, a balança de poder, a geopolítica etc. (GUIMARÃES, 2001, p. 24).
Mesmo dominando os discursos políticos e acadêmicos nesse período, as propostas idealistas não 
vieram a se concretizar, sendo a evidência fática disso um novo conflito mundial.
O fracasso iminente do idealismo na política internacional veio com a conflagração da Segunda Guerra 
Mundial, em 1939, de proporções ainda maiores do que as da Primeira Guerra Mundial. O idealismo perdeu 
então sua capacidade de persuasão e ficou exposto às críticas de intelectuais realistas. Ele “atingiu o que 
se considerou o caráter ingênuo e normativo do idealismo” (BELLI, 1994, p. 15), sobretudo a partir do 
momento em que foi publicado o livro The Twenty Years’ Crisis, 1919-1939 (1939), de Edward H. Carr.
A partir dessa publicação, a visão teórica realista de política internacional ganhou força. A obra 
de Carr tornou-se referência e iniciou o debate entre as teorias idealista e realista. Conforme ressalta 
Castro (2001), essa obra emblematiza o começo do estudo científico das relações internacionais e marca 
o começo da tradição da teoria das relações internacionais.
A deflagração da Segunda Guerra Mundial contrapôs o argumento realista às propostas idealistas 
de cooperação por meio de instituições calcadas em princípios éticos e morais como base do convívio 
internacional pacífico. O debate entre o idealismo e o realismo ocorreu entre o final da Segunda Guerra 
Mundial e meados dos anos 1950.
Nas raízes remotas do pensamento realista, observam-se as obras já citadas de Maquiavel (O 
Príncipe) e Thomas Hobbes (Leviatã). No entanto, além de Carr, outros autores realistas se destacaram 
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e constituem peças fundamentais para a consolidação do realismo nos anos que se seguiram à guerra, 
como é o caso de Hans J. Morgenthau (1904-1980) (GUIMARÃES, 2001, p. 44).
A visão realista de mundo postula os Estados como os principais agentes do sistema internacional e 
sua interação consiste no mais importante processo em curso nas relações internacionais, o que permite 
que se entenda, por conseguinte, que:
[...] todos os outros processos, assim como o comportamento de todos os 
outros agentes, são influenciados, direta ou indiretamente, em maior ou 
menor grau, pelas relações de poder existentes entre os Estados soberanos 
no plano internacional (ROCHA, 2002, p. 266).
Dessa forma, as organizações internacionais e, consequentemente, a ideia de cooperação no 
contexto realista são de menor de importância em virtude de estarem limitadas aos poderes dos Estados 
e à supremacia da força militar.
O sistema internacional, por sua vez, é entendido como anárquico e conflituoso. Nele, nenhum 
Estado reconhece em outro a capacidade de estabelecer regras e fazê-las cumprir no plano internacional. 
Ademais, o processo político era visto como uma luta pelo poder e pelo uso recorrente da força.
Nesse sentido, se atribuiu aos Estados um comportamento racional, capaz de estabelecer uma 
hierarquia de objetivos coerente com os interesses nacionais. Segundo essa visão, havia uma preocupação 
constante com a preservação da soberania e da segurança em detrimento das relações econômicas e das 
ações de cooperação.
Dessa maneira, o realismo político compreende as relações internacionais como sendo determinadas 
por elementos de segurança e militarização. No entender de Castro (2001), a característicapreponderante 
dessa visão é a justificação do uso da força, seja como condição inevitável da vida em sociedade, seja 
como meio de se atingir a paz no mundo.
Em ascensão, o realismo passou a influenciar formuladores de política externa, sobretudo os da 
política externa americana dos anos 1950. Isso se deu à medida que, segundo Belli (1994, p. 17), esse 
realismo “(...) parecia refletir não uma conjuntura passageira ou um momento de tensão, mas toda a 
história da humanidade marcada por conflitos armados e disputas variadas”.
Como se pode verificar, embora os primeiros pressupostos (clássicos) do realismo fossem 
flexibilizados a partir de pensadores como Waltz e, posteriormente, como Gilpin – ambos autores 
de uma linhagem neorrealista da década de 1970 –, com o decorrer do tempo as características 
principais da política internacional defendidas pelo realismo – Estado como agente principal, 
sistema internacional anárquico, processo político de luta pelo poder e uso sistemático da força 
como meio de solução de conflito – começaram a ser questionadas, dando margem para que as 
relações internacionais fossem analisadas como um conjunto mais complexo de novos atores e 
processos.
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 Saiba mais
Para verificar uma discussão sobre o aperfeiçoamento da abordagem 
realista, leia:
BELLI, B. Capítulo 1. In: Interdependência assimétrica e negociações 
multilaterais: o Brasil e o regime internacional de comércio (1985 a 1989). 
Dissertação de Mestrado, Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, 
Universidade Estadual de Campinas, São Paulo, 1994.
O realismo se mostra realmente frágil quando manifesta uma vaga noção de natureza humana 
essencialmente egoísta e imutável que, na condição de crença, não se presta à comprovação científica. 
Nesse sentido, refletindo as características fundamentais dos dois debates abordados até aqui, Belli 
(1994) ressalta que:
Se é verdade que o idealismo enfatizou a possibilidade de cooperação e a 
convergência em detrimento da dimensão do conflito, não é menos verdade 
que os teóricos realistas clássicos desprezaram em suas análises a questão 
da cooperação, deixando de lado uma dimensão igualmente importante das 
relações internacionais (BELLI, 1994, p. 18).
Além disso, as transformações no cenário internacional do século XX tornaram inegáveis a 
importância das grandes corporações transnacionais para as economias domésticas e a influência na 
política internacional tanto das organizações internacionais de fórum multilateral como das organizações 
não governamentais. Os Estados deixaram a condição de únicos e mais importantes atores da cena 
internacional e passaram a dividir espaço com novos atores.
Da mesma forma, questões de segurança e militarização, que encabeçavam a agenda da política 
internacional, foram aos poucos perdendo lugar na pauta para questões que ganharam papel de maior 
relevo no cenário internacional contemporâneo, como é o caso das relações econômicas, financeiras, 
sociais e culturais.
2.2 A noção de cooperação para os teóricos da interdependência
A teoria da interdependência surge como uma tentativa de dar respostas mais satisfatórias a uma 
realidade internacional em acelerado processo de transformação. Sem descartar a contribuição realista, os 
precursores da teoria da interdependência, Robert O. Keohane e Joseph S. Nye, construíram um programa 
de pesquisa mais abrangente no início dos anos 1970, com o livro Poder e interdependência (1988 [1977]).
Nesse programa, havia espaço para o desenvolvimento de análises que focalizavam agentes distintos 
do Estado nacional e processos complementares ao problema da segurança, o que estabelecia, assim, 
um contraste com a abordagem realista.

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