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relações internacionais

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RELAÇÕES INTERNACIONAIS 
APRESENTAÇÃO 
 
Professora Especialista Margarete Campos Vieira 
 
● Mestranda em Teoria Econômica pela Universidade Estadual de Maringá (UEM 
2020/ 2021) 
● Pós Graduação em Tecnologias aplicadas ao EAD 
● Graduada em Ciências Econômicas pela Universidade Estadual de Maringá 
● Pós graduação em Gestão Empresarial com Ênfase em Consultoria e Instrutoria 
- Unicesumar, 
● Pós Graduada em Engenharia de Produção (Incompleta) Unicesumar. 
● Pós Graduação em Docência do Ensino Superior (Unicesumar) 
 
Atuo com Consultoria Empresarial desde 2008 e, com implantação e treinamentos em 
Gestão de Processos, mapeamento e melhoria de processos, Engenharia de Processos, 
Engenharia de produtos, PPCP (Planejamento, Programação e Controle da Produção), 
Logísticas e Gestão da Cadeia de Suprimentos, etc. Docente na UNIFCV (Centro 
Universitário Cidade Verde Maringá 2016 até o momento) ministrando disciplinas de: 
Sistema de Informação Gerencial, Administração e Estratégia de Marketing, 
Empreendedorismo, Diagnóstico Organizacional, Mercado de Capitais, História 
Econômica Geral, Logística e Cadeia de Suprimentos e Planejamento Programação e 
Controle de Produção, Gestão da Qualidade, Logística Internacional etc. Áreas de 
interesse: Organização Industrial e Estudos Industriais, economia brasileira, economia 
internacional, economia monetária, indústria de transformação, desenvolvimento 
econômico e inovação tecnológica. Macroeconomia e Microeconomia, mercado de 
capitais, gestão de processos industriais, qualidade e produtividade. 
 
Endereço para acessar este CV: http://lattes.cnpq.br/4612802492948047 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
APRESENTAÇÃO DA APOSTILA 
 
Seja muito bem-vindo(a)! 
 
 
Prezado(a) aluno(a), se você se interessou pelo assunto desta disciplina, isso já 
é o início de uma grande jornada que vamos trilhar juntos a partir de agora. Proponho, 
junto com você, construir nosso conhecimento sobre os conceitos fundamentais da 
disciplina Relações Internacionais. Além de conhecer seus principais conceitos e 
definições, vamos explorar as mais diversas áreas de conhecimento e atuações das 
Relações Internacionais. 
Na unidade I vamos conhecer a conceituação geral e ambientação e com isso 
conhecer as origens das relações internacionais, pensamento político e o fundamento 
das relações internacionais. Vamos conhecer também a teoria da sociedade civil 
internacional e o funcionamento das relações internacionais. 
Já na unidade II vamos ampliar nossos conhecimentos e você irá saber mais 
sobre os destaques internacionais. Além destes destaques você conhecerá ainda os 
principais marcos metodológicos, análise da Teoria das Relações Internacionais, bem 
como, os principais autores e suas correntes clássicas e as principais correntes e 
relações brasileiras. 
Na sequência na unidade III falaremos a respeito do GLOBALISMO. Nesta 
unidade destacamos o Brasil e as relações internacionais voltadas ao comércio, e 
também às relações internacionais e meio ambiente. Sendo assim, falaremos sobre os 
impactos das relações internacionais e os principais acordos internacionais brasileiro. E 
por último nesta unidade, trataremos do globalismo na era moderna. 
Na unidade IV, vamos entender o conteúdo dessa disciplina com o assunto Brasil 
e as relações internacionais e trazer temas de análise das relações internacionais 
contemporâneas, integração econômica: acordos multilaterais e acordos 
regionais/plurilaterais.E para finalizar esta unidade vamos entender as ameaças e 
oportunidades empresariais e acordos comerciais e as cadeias globais de valor. 
 Aproveito para reforçar o convite a você, para junto conosco percorrer esta 
jornada de conhecimento e multiplicar os conhecimentos sobre tantos assuntos 
abordados em nosso material. Esperamos contribuir para seu crescimento pessoal e 
profissional. 
 
 
 
Muito obrigado e bom estudo! 
 
UNIDADE I 
CONCEITUAÇÃO GERAL E AMBIENTAÇÃO 
Professora Especialista Margarete Campos Vieira 
 
 
Plano de Estudo: 
 
 
● Origem das relações internacionais; 
● Pensamento político e o fundamento das relações internacionais; 
● A teoria da sociedade civil internacional; 
● Funcionamento das relações internacionais. 
 
 
Objetivos de Aprendizagem: 
 
● Conceituar e contextualizar a origem das relações internacionais; 
● Compreender o pensamento político e o fundamento das relações 
internacionais; 
● Contextualizar a importância da teoria da sociedade civil internacional; 
● Compreender o funcionamento das relações internacionais. 
 
 
 
INTRODUÇÃO 
 
Caro (a) aluno, você deve ter ouvido falar bastante sobre Relações Internacionais 
(RI) e a partir de agora, você entenderá melhor como as RI iniciaram, Para isso, vou 
resgatar um pouco da história para adentrar e chegar ao objetivo principal. 
Vou começar então falando das últimas décadas do século XX marcadas pela 
intensificação das relações entre os povos, de uma maneira como nunca havia ocorrido 
anteriormente. 
Você observa que cada vez mais as distâncias ficam menores? Ou seja, você 
observa que a globalização trouxe e traz constantemente informações rápidas vindas de 
todo mundo e com isso, tempo e espaço perdem o significado que tinham para nossos 
pais e avós, e as pessoas de diferentes locais do globo tomam consciência de que “a 
menor distância entre dois pontos é uma tecla”. 
Mas, o século XXI chega trazendo também grandes conquistas: o mundo está 
menor, globalizado, interligado física e eletronicamente; pode-se tomar café em 
Londres e almoçar em Washington; as fronteiras perdem sua importância; o 
sistema internacional vê-se cada vez mais integrado; a tecnologia alcança milhões de 
pessoas, e não há limite ao conhecimento humano. O último século do segundo milênio 
presenciou uma evolução tecnológica inimaginável! 
Neste primeiro e-book, você irá viajar comigo para a história das relações 
internacionais e conhecer um pouco mais sobre como surgiram e os principais motivos 
desse surgimento. Sendo assim, vou apresentar a você, a origem das relações 
internacionais, depois o pensamento político e o fundamento das relações internacionais, 
depois apresento a teoria da sociedade civil internacional e por último como é o 
funcionamento das relações internacionais. 
Ah, e no final deste conteúdo, apresento a você algumas indicações de leituras e 
sites que você poderá encontrar muitas outras informações sobre as relações 
internacionais. 
Convido você para iniciar nossa viagem pelas origens e história das relações 
internacionais.
 
 
1 ORIGEM DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS 
 
 
Fonte: www.shutterstock.com/ 624470984 
 
Caro acadêmico (a), você já parou para pensar como surgiram as relações 
internacionais? Começo este estudo iniciando a história da RI que, de acordo com os 
estudos apresentados por Magnoli (2013 p. 17) 
 
Iniciou-se na Grécia antiga, onde os embaixadores eram enviados 
esporadicamente em missões especiais a diferentes cidades-estados, a fim de 
entregar mensagens, intercambiar, ou seja, trocar mensagens e até mesmo 
oferendas. Sendo assim estas ações encontram-se na origem da diplomacia. 
Mas, desde aquele tempo, o diplomata criava uma entidade política de acordo 
com seu perfil, diferenciando entre público e provado. (MAGNOLI, 2013 p.17) 
 
Sendo assim, segundo ele, os diplomatas italianos, lançaram as bases modernas 
e diplomáticas criando condições de anarquias prevalecentes no sistema das cidades-
estados e com isso traz sentido de insegurança das unidades políticas formaram o 
terreno histórico tanto para as intermináveis guerras de conquista quanto para a 
generalização de códigos e práticas diplomáticas que ainda sobrevivem. 
Assim, foi se consolidando o uso dos embaixadores permanentes constituindo-se 
chancelarias estáveis, garantindo imunidades diplomáticas e os privilégios de trânsito e 
acesso a informaçõesestabelecendo o conceito das missões estrangeiras. 
 
A partida da época do tratado de Westfália1 na Europa setecentista definiu a 
missão diplomática– a defesa do interesse nacional com a missão do diplomata. A partir 
daquela época a presença dos diplomatas estrangeiros nas capitais tornou-se um sinal 
de existência de uma sociedade de Estados que tem como principal característica as 
regras que constituem o cenário em que se definem estratégias nacionais. Por isso, o 
diplomata representa o interesse de um Estado particular, a diplomacia simboliza a 
consciência geral de que há uma sociedade internacional. 
Neste contexto Hedley Bull2 enfatizou a importância e a permanência dos antigos 
símbolos da diplomacia europeia na atualidade: 
 
[...] No sistema global internacional — em que os Estados são mais 
numerosos,mais profundamente divididos e menos explicitamente participantes 
de uma cultura comum — a função simbólica dos mecanismos diplomáticos 
torna-se, exatamente por essas razões, ainda mais importante. A vontade notória 
de Estados de todas as regiões, culturas, ideologias e de todos os estágios de 
desenvolvimento de abraçar procedimentos diplomáticos muitas vezes 
estranhos e arcaicos, que nasceram na Europa em outra época, é atualmente 
um dos raros indícios observáveis da aceitação universal da noção de uma 
sociedade internacional. (HEDLEY BULL, 1977, p. 183). 
 
Além da função que simboliza a diplomacia, Bull (1977) identificou outras quatros 
funções no interior do sistema internacional. A característica principal da primeira função 
objetiva facilitar a comunicação entre os líderes políticos entre os Estados. A essa função 
de mensageiro, realizada pelos diplomatas, associa-se ao privilégio de imunidade e o 
direito de trânsito. Os Estados, reconhecendo a existência de uma sociedade 
 
1 Tratados de Westfália chamada Paz de Vestfália (ou de Vestefália, ou ainda Westfália), também 
conhecida como os Tratados de Münster e Osnabruque (ambas as cidades atualmente na Alemanha), 
designa uma série de tratados que encerraram a Guerra dos Trinta Anos e também reconheceram 
oficialmente as Províncias Unidas e a Confederação Suíça O Tratado Hispano-Neerlandês, que pôs fim 
à Guerra dos Oitenta Anos, foi assinado no dia 30 de janeiro de 1648 (em Münster). Já o tratado de 
Vestfália, assinado em 24 de outubro de 1648, em Osnabruque, entre Fernando III, Imperador Romano-
Germânico, os demais príncipes alemães, França e Suécia, pôs fim ao conflito entre estas duas últimas 
potências e o Sacro Império. O Tratado dos Pirenéus (1659), que encerrou a guerra entre França 
e Espanha, também costuma ser considerado parte da Paz de Vestfália. A Paz de Westfália estabeleceu 
os princípios que caracterizam o estado moderno, destacando-se a soberania, a igualdade jurídica entre 
os estados, a territorialidade e a não intervenção. Disponível em: 
https://pt.wikipedia.org/wiki/Paz_de_Vestf%C3%A1lia. Acesso em: 27 de jul. 2021. 
2 HEDLEY, Bull. The anarchical society: a study of world politics. London: The Macmillan Press, 1977, p. 
183. 
 
 
internacional, comprometem-se a não ofender, agredir ou os movimentos dos portadores 
de mensagens de outros participantes da sociedade. 
As negociações e acordos entre os Estados associados consistem na principal 
característica que simboliza a diplomacia internacional. Esse papel de mediação baseia-
se no interesse nacional e exige a identificação de interesses compartilhados pelas 
unidades políticas. 
A segunda das funções identificadas por Bull (1977) (a de mediação e persuasão) 
merece atenção especial, pois atrás dela tem a distinção entre a política externa em 
tempos normais e a política externa em tempos de revolução. 
A terceira função consiste em reunir informações importantes sobre as demais 
unidades políticas. Em relação a atividade de inteligência realiza-se em duplo sentido, 
ou seja, ao mesmo tempo que obtém acesso a informações essenciais sobre os Estados, 
o diplomata busca preservar na incerteza as informações percebidas como importantes 
por seu Estado. 
É importante reforçar caro aluno (a), que a dimensão no sentido de extensão de 
inteligência da diplomacia é aceita e reconhecida como verdadeira no sistema 
internacional, ao menos enquanto as fronteiras que a separam da espionagem 
permanecerem compreensíveis pois, nem sempre essa fronteira é clara e, com relativa 
frequência, ocorrem episódios de expulsão de diplomata acusado de espionagem. 
Vamos para quarta e última função identificada por Bull (1977), da diplomacia que 
tem por objetivo minimizar as fricções no relacionamento entre Estados. Essa função de 
comunicação está associada à utilização de integrações diplomáticas, instrumentos para 
estabelecimento de uma linguagem comum, que esclarece regras, princípios e direitos e 
reduz o campo do exercício do orgulho e da vaidade nacionais. 
Portanto, caro aluno (a), é importante salientar que na antiga Grécia os Estados 
cultivavam relações económicas e comerciais entre si em um grau sem precedente. As 
Cidades- Estados cultivavam relações pacíficas entre si e ao mesmo tempo disputavam 
o poder. 
É importante revisitar o passado para o estudo das Relações Internacionais 
porque a maior parte dos eventos a estudar: Estado, Balance of Power, Nação, só 
 
podemos perceber sistema internacional, do passado, pois foram desenvolvidos ao longo 
da história. 
 
 
2 PENSAMENTO POLÍTICO E O FUNDAMENTO DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS 
 
 
Fonte: www.shutterstock.com/ 1022451757 
 
No tópico 1, você conheceu um breve resumo da história das Relações 
Internacionais, neste tópico você conhecerá o pensamento político e os fundamentos 
das relações internacionais. 
Por isso, caro aluno (a) inicio este tópico apresentando o pensamento 
contratualista, (o contratualismo é uma teoria política e filosófica baseada na ideia de 
que existe uma espécie de pacto ou contrato social que retira o ser humano de seu 
estado de natureza e coloca-o em convivência com outros seres humanos em 
sociedade), seja em sua vertente liberal (Locke) ou realista (Hobbes), por fornecer os 
fundamentos do pensamento político moderno, exerceu forte influxo sobre a teoria das 
Relações Internacionais. 
 
Partindo da percepção de que as Relações Internacionais apresentam dois eixos 
(cooperação e conflito), que podem ser abordadas em correntes divergentes (realismo e 
liberalismo, por exemplo), sendo assim, uma linha evolutiva das correntes que aborda, 
bem como seus aspectos gerais. 
Sendo assim, o realismo político segue a seguinte linha cronológica de 
desenvolvimento: 
● Tucídides (e a idéia de equilíbrio de poder), 
● Maquiavel (moral política e razão de Estado), 
● Hobbes (estatocentrismo e sistema de estados anárquico), 
● Carr (crítica ao idealismo), 
● Morgenthau (pressupostos do realismo: interesse nacional definido em 
termos de poder), 
● Waltz (neorealismo; análise sistêmica). 
 
A partir destes fundamentos, a filosofia política elaborada por Maquiavel e Hobbes 
forneceram os princípios basilares do realismo político nas relações internacionais, 
organizados teoricamente por Morgenthau e revisados por Waltz, cuja lógica é a do 
conflito e poder, e os pressupostos são os seguintes: 
● Natureza humana é má; 
● Centralidade do Estado cujo interesse é a sobrevivência e maximização de 
ganhos; 
● O objetivo das relações internacionais é a busca do equilíbrio de poder; 
● O Sistema internacional é visto como anárquico, onde guerra e conflitos 
são latentes. 
 
A corrente liberal, por outro lado, pode ser esquematizada cronologicamente da 
seguinte forma: 
● Locke (idéia de que o homem em estado de natureza é bom), 
● Montesquieu (divisão dos poderes e análise filosófica da organização 
jurídica do Estado), 
● Jeremy Bentham (idéia de direito internacional), 
 
● John Stuart Mill (livre comércio), 
● Immanuel Kant (ideal de Federação Republicana),● Woodrow Wilson (apresentou um projeto político em relações 
internacionais, a partir de concepções de corte liberal-idealista), 
● Keohane e Nye (neoliberalismo; teoria da interdependência complexa). 
 
Por isso, segundo PECEQUILO (2004), os pressupostos gerais dessa corrente, seriam: 
 
● Natureza humana é boa (o homem é pacífico e tende à cooperação); 
● O sistema internacional é anárquico, mas regulado por leis e propenso à 
cooperação e comércio; 
● Interdependência econômica, disseminação das democracias e 
instituições internacionais como fatores que geram a cooperação no meio 
internacional; 
● Filosofia da paz e do progresso; 
● Percepção de que a complexificação do sistema internacional faz com 
que, além dos Estados, as forças transnacionais e as organizações 
internacionais exerçam influência no sistema internacional (PECEQUILO, 2004, 
p. 115 - 156). 
 
Conclui-se neste sentido, que a preocupação com o fenômeno da guerra e a 
busca da paz é a temática que deu origem ao estudo das relações internacionais. Trata-
se, portanto, de um campo de estudos que produziu uma gama considerável de tratados 
e reflexões filosóficas sobre o tema. 
Conforme Fonseca (2008), a percepção de Waltz está ancorada em uma visão 
realista que objetiva tecer críticas ao institucionalismo liberal (que ganhou força nas 
décadas de 1970 - 1980), cujo fundamento político filosófico é, de um lado, o liberalismo 
(Locke, Adam Smith) e, de outro, o institucionalismo em relações internacionais, presente 
em Kant e no Abade de Saint-Pierre e o projeto da "paz perpétua" através de uma 
confederação de repúblicas. Nesse sentido, como não poderia deixar de ser, Waltz vai 
até Rousseau, já que este traçou considerações sobre o campo das relações 
internacionais a partir de sua leitura das proposições de Saint-Pierre, além de ser um 
crítico do liberalismo. 
(...) ao compreender que "a possibilidade de guerra é, então, inerente a um 
sistema de soberanos", havendo uma "dimensão sistêmica na explicação da 
origem das guerras", é que Rousseau desacredita na viabilidade da proposta de 
"transformar, pela razão, o que foi iniciado pela fortuna, criando-se um 'corpo 
político' com as características de uma confederação de Estados" pois, para 
Rousseau, "o importante é mostrar que o caminho possível para a paz perpétua 
 
deveria ser necessariamente levar em conta as relações de poder". Trata-se de 
um realismo rousseauniano, que "anuncia uma compreensão estrutural do 
fenômeno da guerra: os Estado entram em conflito não porque sejam compostos 
de homens naturalmente agressivos, mas porque, ao serem formados, tornam-
se agressivos para se preservar como Estados" (FONSECA 2008, p. 316). 
 
Segundo Fonseca (2008), de qualquer forma, a opção por Maquiavel, Hobbes, 
Rousseau, Locke ou Kant, demonstra que a pluralidade de abordagens no que tange às 
relações internacionais, ao se ancorar em diferentes matrizes da filosofia política, aponta 
para a heterogeneidade epistemológica como fator marcante da área de estudos, já que 
um mesmo fenômeno (seja a guerra/conflito ou a paz/cooperação) pode ser interpretado 
de formas diversas, dependendo do aporte teórico metodológico escolhido para a 
análise. 
 
 
 
 
 
 
 
 
3 A TEORIA DA SOCIEDADE CIVIL INTERNACIONAL 
 
 
Fonte: www.shutterstock.com/178286081 
 
Caro aluno (a) até aqui, eu e você já conhecemos um bom começo sobre o 
assunto Relações Internacionais, mas ainda há muitas informações e conhecimentos 
interessantes que irei tratar com você. Neste tópico, vou falar com você sobre a teoria 
da sociedade civil internacional, vem comigo para conhecer um pouco mais. 
Segundo os estudos pesquisados pode-se afirmar que “sociedade civil” é um dos 
conceitos da teoria política clássica mais usados no discurso social e político 
contemporâneo.Porém, há Inúmeras classificações feitas por vários autores diferentes, 
desde sua recuperação no período medieval através da tradução da Política de 
Aristóteles o conceito tem sido reformulado por quase todos os filósofos políticos 
ocidentais significativos, passando por Hobbes, Locke, Rousseau, Ferguson, Smith, 
Kant, Hegel, Tocqueville, Marx, Gramsci e, contemporaneamente, Arato & Cohen. 
Na verdade, se visto de uma perspectiva histórica, notar-se que o conceito de 
sociedade civil, que para Hobbes, Locke, Rousseau e Ferguson, por exemplo, era 
sinônimo de Estado – em oposição ao “estado de natureza” que é visto sob três 
argumentos diferentes acerca da sociedade civil: 
 
1) Família jusnaturalista; 
 
2) Família ligada a Hegel; 
3) Família ligada ao associativismo. 
Segundo Magnoli (2013) o conceito de sociedade civil era visto como sinônimo de 
Estado, como uma comunidade política enraizada nos princípios da cidadania. E até o 
século XVIII a preocupação comum dos teóricos como (Hobbes, Locke, Rousseau, 
Ferguson, Smith, Montesquieu e Hume) por exemplo era a de examinar as condições 
sob as quais os seres humanos poderiam escapar do Estado de natureza e entrar em 
uma forma contratual de governo baseada na regra da lei, isto é, em uma sociedade civil. 
Desta maneira, um componente importante do uso do termo sociedade civil era seu 
contraste com um estado de natureza imaginário. Ou seja, o termo sociedade civil 
evidenciaria um novo estágio na evolução do governo e da civilidade humana: “a idéia 
de um estágio pré-estatal da humanidade inspira-se não tanto na antítese 
sociedade/Estado quanto na antítese natureza/civilização” (BOBBIO, 1991, p. 27). 
 O primeiro filósofo político moderno a colocar a questão das Origens da sociedade 
de uma forma sistemática, foi talvez Thomas Hobbes. Pois para ele, era importante 
estabelecer uma distinção entre o estado de natureza e a sociedade civil a fim de 
justificar sua defesa do “Leviatã” como expressão da livre associação entre homens 
racionais.Sendo assim, o próprio Hobbes deixa explícito este ponto quando, no capítulo 
17 do “Leviatã”, afirma que o acordo entre os animais é algo natural ao passo que o 
acordo entre os homens é algo necessariamente artificial e, essa formulação do conceito 
de sociedade civil dada por Hobbes influenciou muito os teóricos seguintes, como Locke 
e Rousseau. 
Mas, observa-se que para estes e outros autores o termo sociedade civil era 
intimamente relacionado ao termo civilidade, isto é, 
 
respeito pela autonomia individual, baseada na segurança e na confiança entre 
as pessoas (...). (Civilidade) requeria regularidade de comportamento, regras de 
conduta, respeito pela lei, e controle da violência. Por isso, uma sociedade civil 
era sinônimo de sociedade cortês, uma sociedade na qual estranhos agem de 
uma maneira civilizada com relação aos outros, tratando cada um com respeito 
mútuo, tolerância e confiança, uma sociedade na qual o debate racional e a 
discussão se tornam possíveis. (KALDOR, 2003, p. 17). 
 
De acordo com Bobbio (1991) seria possível notar um processo de racionalização 
do Estado na teoria política moderna que partiria de um modelo dicotômico que 
 
contrapõe o Estado enquanto momento positivo à sociedade pré-estatal ou anti-estatal, 
como momento negativo. Dentro desse modelo, seria possível distinguir três variantes 
principais: 
1) O Estado como negação radical e, portanto, como eliminação e inversão do 
Estado de natureza (modelo Hobbes-Rousseau); 
2) O Estado como conservação-regulamentação da sociedade natural e, portanto, 
não mais como alternativa mas como aperfeiçoamento da fase que o precede (modelo 
Locke-Kant); 
3) o Estado como conservação e superação da sociedade pré-estatal. 
 
Desta forma, pode-se dizer que o trabalho de Locke e de Rousseau seria uma 
elaboração da versão hobbesiana de sociedade civil. Sendo assim, entre os pontos 
comuns, há um ponto crucial que diferencia Hobbes dos outros autores supracitados, 
que é o papel da propriedade privada no desenvolvimento da sociedade civil. Rousseau 
afirma que“o primeiro homem que, tendo cercado um pedaço de terra, “(...) dizendo ‘isto 
é meu’ e encontrando pessoas simples o bastante para acreditar nele, foi o fundador real 
da sociedade civil” (ROUSSEAU apud COLÁS, 2002, p. 32).” Locke, por sua vez, 
apresenta uma visão de sociedade civil marcada por ambigüidades com relação ao lugar 
da propriedade privada na gênese e no desenvolvimento da sociedade civil. 
Estas diferenças levaram a ver Locke como um teórico político do “individualismo 
possessivo” (COLÁS, 2002). Na verdade, o relacionamento de Locke com a propriedade 
privada aponta para outro fato, a saber, a relação deste autor com uma sociedade que 
começa a ser transformada pelo capitalismo agrário, mudanças estas que se encontram 
expressas em seu pensamento. É importante destacar que foi precisamente esta 
transformação social que encorajou a identificação da sociedade civil com a categoria 
analítica e prática da economia nas décadas seguintes. 
Segundo Magnoli (2013), por volta do final do século XVIII, a associação da 
sociedade civil com a sociedade capitalista de mercado foi acompanhada pela 
emergência da economia política. De maneira mais específica, através dos escritos de 
Adam Ferguson, Adam Smith e Karl Marx a sociedade civil se tornou intimamente ligada 
 
à divisão do trabalho, à produção em massa das commodities e à extensão das relações 
de propriedade privada características do capitalismo moderno. 
Conforme Magnoli (2013) em relação Segundo ele, à abordagem da ideia de 
sociedade civil pelo Iluminismo Escocês – Ferguson e Smith, por exemplo, nota-se um 
sentido bem particular com relação ao significado de conceitos como história, civilidade 
e sociedade. Em primeiro lugar, cumpre destacar a crença destes autores na ideia de 
sociabilidade aperfeiçoamento mas algo novo que, por outro lado, não representa uma 
negação absoluta da fase precedente. “Foi Locke o primeiro a introduzir a noção de 
propriedade privada como uma condição para a sociedade civil” (KALDOR, 2003, p. 18). 
Neste sentido, conforme Magnoli (2013) endossa a idéia de Montesquieu segundo 
a qual “os homens nascem em sociedade (...)” A questão então deixa de ser a 
sociabilidade e passa a ser porquê e como as sociedades se diferem no tempo e no 
espaço. Para responder tais perguntas esses autores adotam uma distinta filosofia da 
história, vendo assim a história como uma progressão da humanidade através de vários 
estágios o que diferenciaria as formas prévias de sociedade da sociedade civil moderna. 
Ou seja, para que fosse possível explicar a sociedade presente, fazia-se necessário 
examinar sua evolução, imputando assim uma lógica ou dinâmica particular à história. 
Mas o que acionaria essa lógica ou dinâmica? 
 Para Magnoli (2013), o motor da mudança histórica seria a propriedade: “parece 
evidente que o progresso é uma questão de propriedade (...) ela é na realidade a principal 
distinção das nações em estado avançado de arte mecânica” 
Em resumo seria apenas através do modo de subsistência caracterizado pela 
propriedade privada, pela divisão do trabalho e pela troca de commodities que as 
pessoas passariam a viver em uma sociedade civil. Nota-se, assim, que os autores do 
Iluminismo Escocês identificavam a sociedade civil com a sociedade de mercado 
capitalista. Para estes autores, somente a divisão do trabalho e a extensão do comércio 
poderiam gerar estabilidade e prosperidade, características fundamentais da sociedade 
civil. Ou seja, o Iluminismo Escocês representou o ápice de uma mudança gradual do 
entendimento político para o entendimento econômico da sociedade civil. Apesar de ser 
um autor controverso cuja teoria da sociedade civil é um amálgama original de reflexões 
 
prévias sobre este tema a partir de fontes tão diversas quanto o republicanismo antigo e 
a economia política iluminista, Hegel é outro autor relevante para a presente discussão. 
De acordo com Magnoli (2013), a sociedade civil (bürgerliche Gesellschaft) era 
constituída por associações, comunidades e corporações que teriam um papel normativo 
e sociológico fundamental na relação entre os indivíduos e o Estado. Neste sentido, a 
esfera distinta da sociedade civil – embora de certa forma subordinada ao interesse 
universal do Estado racional – é reconhecida como tendo uma importante função dentro 
do projeto de uma Vida Ética. 
Conforme citado por Magnoli (2013), de maneira mais específica, identificava a 
sociedade civil como um espaço historicamente concreto de interação social entre 
indivíduos. Tal interação era condicionada por três elementos: 
1. Um “sistema de necessidades” ou de maneira mais ampla, a economia; 
2. Uma “administração da justiça” que protege a propriedade como a fonte da 
liberdade individual; 
3. E“a polícia e a corporação” como reguladores das duas esferas 
precedentes. 
Portanto, caro aluno (a), observa-se, aqui, a relação de Hegel com seus 
predecessores: o conceito de “sistema de necessidades” é originado diretamente dos 
economistas políticos escoceses; Da ênfase hegeliana na idéia de que a sociedade civil 
é habitada por indivíduos detentores de direitos se remete à formulação lockeana; e a 
noção de que a sociedade civil é um produto de uma época histórica distinta é 
compartilhada pelos iluministas. Aqui, Hegel reconhece o papel desempenhado pelas 
organizações sociais, corporações, associações e comunidades da sociedade civil na 
mediação do relacionamento político entre o indivíduo e o Estado (COLÁS, 2002). Tal 
reconhecimento do papel das associações e organizações intermediárias deve 
necessariamente ser visto dentro do contexto do projeto normativo de Hegel. 
Pode-se observar que na verdade, um dos propósitos desse autor era o de 
apresentar uma alternativa política e ética à crescente alienação individual imposta pela 
sociedade moderna: se por um lado Hegel reconhece as realizações da moralidade 
moderna – embasada na racionalidade universal e no seu respeito à consciência 
 
individual –, por outro crê que a moralidade só faz sentido dentro de uma comunidade, 
através do envolvimento dos indivíduos na vida pública. 
Portanto é neste sentido que os elementos associativos da sociedade civil 
assumem um papel tanto representativo quanto ético: integrando os indivíduos em uma 
comunidade mais ampla e educando-os nas virtudes da vida cívica. 
Por isso,é possível identificar duas inovações na teoria da sociedade civil de Hegel: 
1. O reconhecimento da importância das associações independentes como 
componentes fundamentais da sociedade civil que desempenham o papel de 
mediadoras entre os indivíduos e o Estado – ou seja, em Hegel “a sociedade civil 
constitui o momento intermediário entre a família e o Estado (...)” (BOBBIO, 
1991, p. 30). 
2. Devido à importância que dá às dimensões comunais da existência 
humana, o conceito hegeliano de sociedade civil reconhece a centralidade dos 
indivíduos conscientes e reflexivos na construção da sociedade civil moderna 
(COLÁS, 2002, p. 32). 
 
Além disso, nota-se também uma inovação em relação às teorizações anteriores 
na medida em que Hegel chama de sociedade civil aquela que seria a sociedade pré-
política, isto é, a fase da sociedade humana que era até então chamada de sociedade 
natural (BOBBIO, 1991). 
Em relação, à contribuição de Karl Marx, conforme relatado por Magnoli (2013) 
para o entendimento da idéia de sociedade civil, nota-se que se trata por um lado de uma 
resposta à Hegel e por outro de uma interpretação deveras influenciada pelos teóricos 
políticos do Iluminismo Escocês. Isso fica claro quando consideramos dois elementos 
básicos da visão de sociedade civil de Marx: a associação desta com a esfera de 
produção e seu caráter histórico como limiar da modernidade. Marx define a sociedade 
civil acima de tudo como a arena da luta de classes. Seguindo a formulação hegeliana 
de sociedade civil como um “sistema de necessidades”,para Marx (1993, p.53) a 
sociedade civil consiste de massas separadas cuja formação é fortuita e não remonta a 
uma organização. 
Essas massas separadas são definidas em relação à esfera produtiva. Desta 
forma, vê-se que Marx busca destacar como as relações sociais de poder sob a 
sociedade civil são definidas pela emergência de duas classes antagônicas: burguesia e 
proletariado, cuja existência “Uma resolução do problema da democracia requer que se 
encontre um local para a liberdade, para a excelência humana, para a re-emergência da 
 
virtude pública, e para a possibilidade de grandeza” remonta a uma organização 
particular da produção. A sociedade civil de Marx é a bürgerliche Gesellschaft que, 
especialmente após Hegel e sua interpretação por parte da esquerda hegeliana, passou 
a significar “sociedade burguesa” no sentido próprio de sociedade de classe. Tal 
sociedade burguesa tem por sujeito histórico a burguesia, uma classe que completou a 
sua emancipação política libertando-se dos vínculos do Estado absolutista e contrapondo 
a este Estado tradicional os direitos do homem e do cidadão que são, na verdade, os 
direitos que protegem os interesses particulares da classe burguesa (BOBBIO, 1991). 
Segundo Magnoli (2013) para a sociedade civil seria o momento do 
desenvolvimento das relações econômicas que precede e determina “em última 
instância” o momento político. De maneira mais específica, “o Estado, a ordem política, 
é o elemento subordinado, enquanto a sociedade civil, o reino das relações econômicas, 
é o elemento decisivo”. Neste ponto é possível identificar uma semelhança e uma 
condição prévia para a emergência da sociedade civil, que se encontra na separação de 
uma esfera privada da produção e da troca da arena pública do Estado político. 
Além disso, esse domínio privado da produção seria caracterizado por uma 
divisão do trabalho que facilitava a troca de commodities entre indivíduos livres e iguais. 
A sociedade civil é, para Marx, associada ao reino privado das relações entre indivíduos, 
ou seja, um espaço social que foi vagarosamente desvinculado tanto do universo afetivo 
da família quanto do domínio formal do Estado mediante o triunfo das relações 
capitalistas de produção na Europa: “a sociedade civil abrange todo o intercâmbio 
material dos indivíduos, no interior de um fase determinada de desenvolvimento das 
forças produtivas. (...) A sociedade civil, como tal, desenvolve-se apenas com a 
burguesia” (MARX, 1993, p. 53). 
Nota-se, assim, que para Marx (1993) o Estado não expressa uma superação da 
sociedade civil mas sim um reflexo desta. Na verdade, o Estado contém a sociedade civil 
a fim de conservá-la tal como ela é. 
(...) A forma de intercâmbio, condicionada pelas forças de produção existentes 
em todas as fases históricas anteriores e que, por sua vez, as condiciona, é a 
sociedade civil (grifo do autor); (...) Sendo assim, esta sociedade civil é a 
verdadeira fonte, o verdadeiro cenário de toda a história, e quão absurda é a 
concepção histórica anterior que, negligenciando as relações reais, limitava-se 
às ações altissonantes dos príncipes e dos Estados”. (MARX, 1993, p. 53). 
 
 
Portanto, é possível notar, que há uma variação muito grande no significado do 
termo “sociedade civil”. Na medida em que mudam os autores, mudam as épocas, 
mudam os contextos históricos e mudam as perspectivas políticas, o que influencia e 
enriquece deveras esse conceito tão relevante para a teoria política. Estes são apenas 
alguns dos autores clássicos que influenciaram e influenciam até os dias de hoje as 
discussões sobre o conceito de sociedade civil. 
 
 
 
4 FUNCIONAMENTO DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS 
 
 
Fonte: www.shutterstock.com/ 1156923271 
 
Conforme Magnoli (2013), as teorias políticas clássicas concentram seu interesse 
nas relações internas aos Estados, entre o governante e a sociedade em geral. O estudo 
das relações internacionais, ou seja, das relações estabelecidas entre os Estados, é 
muito mais recente e ganhou o estatuto de disciplina acadêmica apenas no século XX. 
A preocupação com o sistema internacional de Estados foi estimulada pela 
constituição progressiva de uma economia integrada, de âmbito mundial. As 
transformações na produção e circulação de mercadorias típicas dos séculos XVIII e XIX 
— a época da Revolução Industrial — aumentaram a relevância dos estudos de relações 
internacionais. A própria análise do Estado foi cada vez mais influenciada pelas 
considerações relacionais, ou seja, pela investigação da posição ocupada e do papel 
desempenhado por cada Estado no sistema geral e no subsistema particular no qual está 
inserido. 
O vasto campo de estudo das relações internacionais não é definido de forma 
consensual. Diferentes autores encaram de modo divergente — e muitas vezes 
conflitante — o objeto das relações internacionais. Grosso modo, é possível identificar 
 
três tradições divergentes que informam a produção acadêmica de teorias sobre as 
relações internacionais. 
A primeira dessas tradições gerou a chamada escola idealista. Oriunda do 
pensamento iluminista, a escola idealista enfatiza a comunidade de normas, regras e 
idéias que sustenta o sistema de Estados. Sua fonte é a noção do direito natural que, 
aplicada ao sistema internacional, implica a definição de justiça como arcabouço das 
relações entre os Estados. 
Dessa forma, conforme Magnoli (2013), no pensamento idealista, o uso eventual 
da força pelos Estados encontra justificativa apenas quando orientado pelo desígnio de 
eliminar a força do interior do sistema, resguardando a justiça internacional das 
agressões de agentes que não compartilham as regras consensuais. Sendo assim, os 
ecos da visão rousseauniana do contrato social ressurgem aqui, em um contexto 
específico. Os Estados formam uma “comunidade internacional”, assentada sobre um 
“contrato moral” baseado na noção de justiça. 
Essa antiga tradição filosófica corporificou-se no mundo anglo-saxão sob a forma 
de reação moral aos horrores da Primeira Guerra Mundial (1914 - 1918). As doutrinas e 
políticas formuladas nos Estados Unidos e na Grã-Bretanha no final da guerra e no entre-
guerras expressaram a rejeição às práticas estabelecidas da “política da força” e 
refletiram a vontade de submeter as relações entre os Estados ao império da lei. 
A escola idealista assenta-se sobre a ideia iluminista da possibilidade de uma 
sociedade perfeita. Essa meta moral condiciona o caráter francamente reformista dos 
autores idealistas, que se preocupam em adaptar o sistema internacional às exigências 
do direito e da justiça. Os célebres “Catorze Pontos” do presidente americano Woodrow 
Wilson, bem como os princípios fundadores da Liga das Nações, inscrevem-se como 
exemplos da influência idealista na diplomacia do século XX. 
Até certo ponto, a “política do apaziguamento” de Chamberlain e Daladier foi 
facultada por essa corrente de ideias. 
A segunda tradição informa a escola realista. Sua ênfase não recai numa 
comunidade ideológica do sistema internacional, mas em seu potencial conflitivo. As 
raízes dessa corrente de pensamento encontram-se essencialmente em Maquiavel e 
Hobbes. Maquiavel sublinhou a importância da força na prática política, que não está 
 
limitada por constrangimentos morais, e conferiu plena legitimidade aos interesses do 
soberano. Em seu pensamento, os fins selecionam e condicionam os meios. Hobbes, 
como Maquiavel, nutria profundo pessimismo em relação à natureza humana. Seus 
comentários sobre o sistema internacional traçam um paralelo entre as relações 
estabelecidas pelos Estados e as relações estabelecidas pelas pessoas na ausência de 
Leviatã. Por essa via, ele realça uma ideia que se tornou a fonte da argumentação básica 
da escola realista: a ausência de um poder soberano e imperativo nas relações 
internacionais. 
Segundo Magnoli (2013) às doutrinas realistas formama mais densa tradição de 
política externa desde que se configurou o moderno sistema de Estados. Contudo, no 
plano acadêmico, a escola realista desenvolveu-se como reação aos melancólicos e 
trágicos fracassos da “política do apaziguamento” conduzida na Europa do entre-
guerras. Hans Morgenthau, autor de Politics Among Nations, é considerado o fundador 
do pensamento realista contemporâneo. Substituindo a meta moral da reforma do 
sistema internacional pela análise das condições objetivas que determinam o 
comportamento dos Estados, os pensadores realistas ancoraram sua argumentação nas 
noções da anarquia inerente ao sistema e da tendência ao equilíbrio de poder como 
contraponto a essa anarquia. 
As divergências entre os autores realistas a respeito das condicionantes do 
comportamento dos Estados originaram a corrente neo-realista, também conhecida 
como realismo estrutural. Contrariamente a Morgenthau, que se contentou em definir o 
comportamento dos Estados como ânsia de poder, os neo-realistas preferiram identificar 
a busca da segurança como causa última da prática política no sistema internacional. 
Esse enfoque realça a problemática da estrutura do sistema, que define as formas e os 
graus da insegurança experimentados por cada agente isoladamente. 
No pós-guerra, o desenvolvimento de uma densa rede de instituições 
internacionais conduziu uma corrente de autores a rever a noção de anarquia inerente 
ao sistema internacional. Esses autores, dentre os quais se destacam Robert Keohane, 
Joseph Nye e Stanley Hoffmann, estabeleceram, no interior do campo realista, uma 
corrente institucionalista. Os institucionalistas enfatizam a abrangência crescente do 
direito internacional, corporificado em instituições que balizam a atuação dos Estados. O 
 
impacto da existência da rede de instituições internacionais sobre a percepção de 
segurança e as estratégias estatais, principalmente no cenário europeu, é o tema de 
investigação dessa corrente. Seu argumento central consiste em destacar a limitação da 
soberania e a paralela redução da insegurança decorrentes dos compromissos 
institucionais. 
A terceira tradição plasmou a chamada escola radical. Suas raízes, mais recentes, 
ancoram-se no pensamento de Karl Marx e, por isso, a escola radical é também 
denominada neomarxista. Karl Marx não produziu uma teoria do sistema internacional, 
mas da História e da revolução social. Ao contrário das tradições citadas anteriormente, 
seu objeto não é a cooperação ou o conflito entre Estados, mas o conflito entre as classes 
sociais.O Estado é um elemento marginal no pensamento marxista, e o comportamento 
dos Estados, quando enfocado, surge apenas como veículo para interesses econômicos, 
políticos ou ideológicos de outros agentes (classes socioeconômicas e corporações 
industriais e financeiras, por exemplo). Contudo, principalmente com Lenin, a tradição 
marxista forjou um pensamento sobre as relações internacionais. 
O ambiente internacional das últimas décadas do século XIX e início do século 
XX condicionou a teorização leninista sobre o imperialismo. A expansão neocolonial das 
potências europeias na Ásia e na África e as políticas semicoloniais dos Estados Unidos 
no Caribe e no Pacífico, e as do Japão no Extremo Oriente, constituíam o foco das 
preocupações do russo. Lenin apoiou-se na obra Imperialism, do britânico não-marxista 
John Hobson, para produzir uma versão marxista: Imperialismo, o estágio superior do 
capitalismo.Nessa obra, que influenciou duradouramente o pensamento de partidos e 
organizações de esquerda, o líder revolucionário russo estabelecia interessantes 
conexões entre a economia política do capitalismo, a luta pela divisão de mercados e o 
imperialismo neocolonial. Entretanto, o argumento original de Lenin consistia na ligação 
entre a prática imperialista e a guerra entre potências. 
O imperialismo abre as portas para a guerra — e, assim, para a revolução social, 
essa era a mensagem.O arcabouço das teorias neomarxistas sobre o sistema 
internacional ampara-se na análise das relações de subordinação econômica entre 
países em estágios desiguais de desenvolvimento industrial e tecnológico. Immanuel 
Wallerstein, um dos mais importantes pensadores radicais e autor de The capitalist world 
 
economy, forneceu as bases conceituais para uma teoria dos sistemas mundiais. O foco 
dessa teoria está nos padrões de dominação e na rede de relações econômicas entre as 
sociedades, não na estrutura do sistema internacional de Estados. Ela traça a evolução 
do sistema capitalista distinguindo áreas centrais e periféricas e procurando as raízes do 
desenvolvimento e do subdesenvolvimento. 
Os enfoques da escola radical adquirem especial interesse na abordagem dos 
fenômenos contemporâneos da globalização: fluxos de capital e mercadorias, mercados 
financeiros, mundialização das corporações industriais e configuração de blocos 
econômicos macrorregionais. Do ponto de vista metodológico, as análises neomarxistas 
contribuem principalmente para lançar luz sobre os agentes do sistema internacional que 
não são Estados: grupos econômicos e corporações transnacionais, igrejas, instituições 
privadas multilaterais, organizações sindicais, ambientais e não-governamentais em 
geral. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SAIBA MAIS 
 
Termos e Conceitos Importantes 
 
 
Monarquias absolutas 
Monarquias européias da Idade Moderna, assentadas sobre o princípio do direito divino 
do rei, que subordina e enquadra a nobreza. O reinado de Luís XIV na França (1643- 
1715) representou o apogeu do absolutismo. 
 
Reinos medievais 
Unidades políticas da Idade Média européia, caracterizadas pela fragmentação do poder. 
Nesses reinos, o poder real diluiu-se, horizontalmente, entre a nobreza feudal e 
subordinou-se, verticalmente, à Igreja de Roma. 
 
Estado territorial 
Modelo de Estado que emerge na Idade Moderna, com o advento das monarquias 
absolutas europeias. Caracteriza-se pela constituição de aparatos burocráticos e 
militares centrais e pela definição das fronteiras políticas. 
 
Tribunos da plebe 
Representantes dos plebeus, os cidadãos que não pertenciam à aristocracia patrícia, no 
governo da República romana. 
 
Modelo jusnaturalista 
Doutrina segundo a qual existe um direito natural, anterior e superior ao direito positivo 
estabelecido pelo Estado. 
 
Estado-Nação 
Modelo de Estado que emerge na Idade Contemporânea, com a Revolução Americana 
e a Revolução Francesa. Caracteriza-se pelo princípio da soberania popular. 
 
Fonte: MAGNOLI, Demétrio. Relações internacionais. 2 ed. São Paulo: Saraiva, 2013. P.30. Disponível 
em: https://app.saraivadigital.com.br. Acesso em 27 de jul. 2021. 
 
REFLITA 
 
“Só há dois tipos de relação sem conflito: as de subordinação e as que não existem.” 
 
https://app.saraivadigital.com.br/
 
 Marco Aurélio Garcia. 
 
#REFLITA# 
 
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
Caro aluno (a) chegamos ao final, da unidade I onde foi possível apresentar a 
você alguns conceitos importantes referente a este rico assunto Relações Internacionais, 
onde alguns chamam de RI. 
Você estudou aqui os primeiros fatos referente a origem das relações 
internacionais, O pensamento político e o fundamento das relações internacionais Além 
disso, A teoria da sociedade civil internacional e para finalizar a unidade I, 
Funcionamento das relações internacionais. As Relações Internacionais surgem como 
um domínio teórico da Ciência Política no período imediatamente posterior à Primeira 
Guerra Mundial. Os estudos foram iniciados pelo Royal Institute of International Affairs, 
fundado em 1920, o pioneirismo no estudo exclusivo às relações internacionais. No 
mesmo período, a London School of Economics inaugurou um Departamento de 
Relações Internacionais, que posteriormente seria importante para a construção de 
teorias da escola inglesa de relações internacionais.Observa-se que historicamente, as políticas de profissionalização do corpo 
diplomático só foram deflagradas, nos países pioneiros, na segunda metade do século 
XIX. Antes disso, os diplomatas eram recrutados no círculo restrito das elites que 
gravitavam nas cortes e nos governos. Naquelas condições, a carreira desenvolvia-se 
de acordo com regras informais, dependentes, muitas vezes, de laços pessoais ou 
familiares. A herança dessa época sobrevive em hábitos e atitudes de solidariedade 
entre diplomatas de diferentes países e numa certa cultura aristocrática que se dissolve, 
aos poucos, sob o impacto da profissionalização. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LIVRO 
 
• Título: Relações internacionais. 2 ed. 
• Autor: Demétrio Magnoli. 
• Ano: 2013. 
• Editora: Saraiva. Disponível em https://app.saraivadigital.com.br 
• Sinopse: Esta é uma obra de introdução ao campo das relações internacionais. O seu 
foco está direcionado para as escolas de pensamento, as teorias e os conceitos que 
pretendem oferecer explicações para as políticas dos Estados, nas suas interações com 
os demais Estados. O seu objeto é o sistema internacional configurado a partir da Idade 
Moderna. O subtítulo Teoria e História indica uma perspectiva metodológica que deve 
ser esclarecida. Recentemente, instalou-se uma vertente que aborda as relações 
internacionais a partir de modelos conceituais baseados na teoria dos jogos — como se 
o comportamento dos Estados pudesse ser compreendido por intermédio de fatores e 
variáveis atemporais. Esta obra não compartilha dessa crença. Ela se situa no terreno 
da tradição da abordagem histórica das relações internacionais. As raízes dos tratados 
e das guerras, do conflito e da cooperação, devem ser buscadas pela interpretação de 
tramas de eventos singulares, que participam de contextos econômicos e culturais 
definidos. Segundo essa perspectiva, os Tratados da Westfália, de 1648, devem ser 
decifrados na moldura de uma Europa que transitava dos valores universais da Igreja 
para os interesses particulares dos Estados, assim como o Congresso de Viena, de 
 
1815, deve ser entendido no quadro da reação das monarquias ao expansionismo 
napoleônico. As teorias das relações internacionais são narrativas históricas. O estudo 
das relações internacionais inscreve-se na esfera da teoria política e se equilibra na 
fronteira, muitas vezes imprecisa, entre diferentes campos do conhecimento. A seção de 
Orientação Bibliográfica, que aparece no final do livro, constitui uma proposta de 
aprofundamento do estudo e um atestado da dívida que as relações internacionais 
mantêm com a Filosofia Política, a História, a Geografia Política, a Economia, a 
Sociologia e o Direito Internacional.
 
 
FILME/VÍDEO 
 
• Título. A Passage to India (Passagem para a Índia, 1984) 
• Ano: 1.984. 
• Sinopse: No final dos anos 20 Adela Quested (Judy Davis), uma rica inglesa de ideias 
liberais, viaja para fora do país pela primeira vez, indo à Índia para encontrar seu noivo. 
O choque cultural acontece, mas quando tudo parecia facilitar a integração Adela acusa 
o jovem Dr. Aziz (Victor Banerjee) de tentativa de estupro durante um passeio até as 
cavernas de Maraba 
• Link do trailer: https://www.youtube.com/watch?v=1wJiTsARqrE 
 
 
WEB 
 
Ministério das Relações Exteriores: http://www.mre.gov.br 
 
 
REFERÊNCIAS 
 
HEDLEY, Bull. The anarchical society: a study of world politics. London: The 
Macmillan Press, 1977 
 
BOBBIO, Norberto. Thomas Hobbes. Rio de Janeiro: Campus, 1991. 
 
COLÀS, Alejandro. International civil society. Social movements in world politics. 
Cambridge: Polity. 2002. 
 
FONSECA JR, Gelson. O interesse e a regra: ensaios sobre multilateralismo. São 
Paulo: Paz e Terra, 2008 
 
LESSA, Mônica Leite; GONÇALVES, da Silva Williams. História das Relações 
internacionais: teoria e processos / Organizadores, Rio de Janeiro: EdUERJ, 2007. 
250 p. – (Coleção Comenius) 
 
MAGNOLI, Demétrio. Relações internacionais. 2 ed. São Paulo: Saraiva, 2013. 
Disponível em: https://app.saraivadigital.com.br. Acesso em 27 de jul. 2021. 
 
MARX, Karl. Manuscritos econômico-filosóficos. Lisboa: Edições 70, LDA, 1993. 
 
PECEQUILO, Cristina Soreanu. Introdução às Relações Internacionais. Temas, 
atores e visões. Petrópolis: Editora Vozes, 2004. 
 
 
 
 
https://app.saraivadigital.com.br/
 
UNIDADE II 
DESTAQUES INTERNACIONAIS 
Professora Especialista Margarete Campos Vieira 
 
 
Plano de Estudo: 
 
● Principais marcos metodológicos; 
● Análise da Teoria das Relações Internacionais; 
● Principais autores e suas correntes clássicas; 
● Principais correntes e relações brasileiras. 
 
 
Objetivos de Aprendizagem: 
 
● Apresentar os Principais marcos metodológicos; 
● Analisar as principais teorias das Relações Internacionais; 
● Estudar os principais autores e suas correntes clássicas; 
● Estudar as principais correntes e relações brasileiras. 
 
 
 
INTRODUÇÃO 
 
 
Prezado (a) acadêmico (a) nesta nesta unidade irei apresentar alguns destaques 
em relação às relações internacionais. É importante sempre lembrar que no final desta 
unidade você terá também algumas curiosidades e dicas de filmes e livros para 
complementar seus estudos. Não deixe de apreciar os conteúdos oferecidos aqui. Para 
iniciar nossos estudos, iremos apresentar os principais marcos metodológicos, marcos 
estes que foram importantes nos estudos das relações internacionais e você poderá 
entender melhor a importância deles para os estudos propostos. 
Após apresentados os principais marcos, irei também apresentar a você e trazer 
algumas análises sobre as principais teorias das Relações Internacionais. E para 
aprimorar este estudo, convido você a estudar os principais autores e suas correntes 
clássicas. Entre estes autores, destacam-se alguns como: Sun Tzu, Tucídides, Tito Lívio 
e Maquiavel, Hobbes e Richelieu, respectivamente. 
E para finalizar esta unidade irei apresentar algumas estudar as principais 
correntes e relações brasileiras em relação aos momentos políticos marcantes da época. 
Portanto, é importante destacar que o pensamento das Relações Internacionais 
buscou na referências clássicas que explique melhor os fatos. Sendo assim, destacaram-
se vários autores em que o poder é o elemento central de suas teorias. 
 Como já estudado na Unidade I, para o realismo do século XX que estava se 
construindo, diversos conceitos como sobrevivência, poder, estado de natureza, auto 
interesse era o enfoque dado na leitura desses clássicos. Nas teorias realistas das 
relações internacionais, que reivindicam um caráter objetivo, empírico e pragmático, o 
Estado é colocado no centro das discussões, pois se considera que o Estado é o ator 
principal das relações internacionais. 
 
Obrigado por continuar comigo e desejo bons estudos! 
 
 
1 PRINCIPAIS MARCOS METODOLÓGICOS 
 
 
Fonte: www.shutterstock.com/ 476588971 
 
Prezado (a) acadêmico (a) neste tópico você irá estudar sobre os principais 
marcos metodológicos que marcam as relações internacionais. Sabe-se que todo 
método opera uma forma de caminho conhecido para a produção da ciência. Os 
primeiros registros do conhecimento sobre a natureza e a ciência partem das 
observações humanas ao longo dos tempos, conforme Castro (2012, p. 271): 
 
O método corresponde, nas pesquisas científicas em Relações Internacionais, à 
determinação de rota factível (dentre as várias trilhas disponíveis ao sujeito e 
seus interlocutores) para o processo de investigação. Tem duplos sentidos: 
atender ao próprio pesquisador na análise dos conceitos, na construção formal 
da pesquisa e no processamento das variáveis no bojo da mecânica da produção 
acadêmica e revelar, ao público interessado (leitores em geral), os meios 
utilizados no desenho dos resultados encontrados. Método e conhecimento são 
aportes de construção para o processo científico. Método e ciência trazem 
complementaridadese necessitam de mútua correlação sob a égide de 
constante verificação ou testes. (CASTRO, 2012, p. 271). 
 
Por isso, não há como os dois serem separados. Não existe processo nem 
tampouco cientificidade sem o devido método. A ciência normal, como assim entende 
Kuhn, são construções metódicas formadas (e reformadas) 
http://www.shutterstock.com/
 
Conforme Castro (2012, p. 271) as seguintes reflexões iniciais são de provocação 
importantes para o estudos das metodologias em relações internacionais: 
 
Será mesmo um caminho conhecido ou meramente um caminho apenas 
(re)conhecido pela comunidade acadêmica? O reconhecimento do caminho já 
amplamente trilhado anteriormente pelos sistemas de teorias (Popper) é uma 
forma de inovação nas Relações Internacionais? ao longo do tempo, 
acarretando, assim, os paradigmas aceitos perante uma comunidade científica. 
Assim, o método e sua sistematização formal, denominada de metodologia, 
vislumbram maneiras que possibilitam o avanço da produção científica e a 
elevação dos padrões de pensamento crítico e reflexivo. (CASTRO, 2012, p. 
271). 
 
Observa-se que todo método segue uma lógica formal posta e aceita como ponto 
estruturado de partida e de chegada. Não há dúvidas quanto ao imperativo do ponto de 
partida; o questionamento reside no caráter e no tipo de lógica formal posta e aceita para 
tal. Conforme Castro (2012, p. 272) há alguns questionamentos relevantes: 
 
Haveria, objetivamente, lógicas formais que melhor atenderiam os ditames 
complexos das Relações Internacionais? Existem dados confiáveis para refutar 
os saberes científicos da área internacional? Como se poderiam construir 
parâmetros lógico-sistêmicos de validação da pesquisa em RI? Muitas dessas 
perguntas são aqui deixadas pairando no ar, De toda maneira, há uma 
estruturação racional (cartesiana) crítica inerente ao processo metódico para as 
ciências e humanas, como também para as ciências chamadas duras ou para as 
ciências da natureza. Tal construção racional é produto de longo processo 
histórico no campo da filosofia da ciência, do cognitivismo e da 
epistemologia.(CASTRO, 2012, p. 272). 
 
1. 1 Do Método Dedutivo Cartesiano 
 
Segundo Castro (2012) O processo de organização e elaboração do método 
passa, necessariamente, pela construção e reconstrução do discurso, tendo sido 
Descartes1 seu principal articulador. O racionalismo cartesiano é, em grande medida, 
divisor de águas na filosofia renascentista não somente em razão do cogito (“penso logo 
existo”), mas, principalmente, pela sistemática estabelecida, por ele, sobre a constante 
refutação e sobre a dinâmica do questionamento como base da experiência da razão. O 
 
1 DESCARTES, René. Discurso do Método. São Paulo, Nova Cultural, 1999. p. 49 - 51. 
 
 
célebre fundador do racionalismo no século XVII recebeu educação formal jesuíta e 
exerceu expressiva influência em Spinoza e em Leibniz. 
Segundo o filósofo francês, há quatro etapas na construção racional-
epistemológica da lógica formal dedutiva com sua cientificidade, assim expressa em sua 
obra Discurso do Método: 
 
O primeiro era o de nunca aceitar algo como verdadeiro que eu não conhecesse 
claramente como tal. [...] O segundo, o de repartir cada uma das dificuldades que 
eu analisasse em tantas parcelas quantas fossem possíveis e necessárias a fim 
de melhor solucioná-las. O terceiro, o de conduzir por ordem meus pensamentos, 
iniciando pelos objetos mais simples e mais fáceis de conhecer, para elevar-me, 
pouco a pouco, como galgando degraus, até o conhecimento dos meus 
compostos, e presumindo até mesmo uma ordem entre os que se procedem 
naturalmente uns aos outros. E o último, o de efetuar em toda parte relações 
metódicas tão completas e revisões tão gerais nas quais tivesse certeza de nada 
omitir. (DESCARTES, 1999, p. 49 - 51). 
 
Para Descartes (1999) a lógica formal do método dedutivo se estrutura na busca 
por evidência, na análise, na síntese e, por fim, na enumeração, como apresentado 
acima. O método dedutivo apresenta-se como inferência do geral para o particular de 
maneira convergente. O método indutivo, por seu turno, defende que os dados 
particulares, quando evidenciados, geram generalizações mais amplas e válidas. 
Segundo ele, o método dedutivo, portanto, assevera que, se todas as premissas são 
verdadeiras, então, por conseguinte, a conclusão deve ser também verdadeira. As 
informações que fazem parte da conclusão já devem estar presentes nas premissas. No 
dedutivismo, para que uma determinada conclusão seja falsa, pelo menos uma de suas 
premissas teriam de ser falsas. Exemplo:Todos os países que são continentais possuem 
grande estatura de poder internacional. Ora, o Brasil é um país continental, logo, o Brasil 
tem capital de força-poder-interesse (PI) de expressão internacional” : (LAKATOS, 2000, 
p. 63) 
Uma lógica diferente e inversa ao método dedutivo deverá ser posta em prática 
pelo método indutivo, como veremos a seguir. 
 
 
1. 2 Do Método Indutivo no Experimentalismo de Bacon 
 
 
Conforme Castro (2012), um dos contemporâneos de Descartes, Francis Bacon, 
foi considerado como inventor do “método experimental”, tendo substanciais 
contribuições para o método teórico da indução científica tal qual Galileu Galilei. 
Enquanto que Descartes propunha a dedução como método para alcançar a 
cientificidade por meio das refutações e questionamentos constantes, Galileu e Bacon 
consideram que o meio para atingi-lo era pelo indutivismo (método científico que obtém 
conclusões gerais a partir de premissas individuais. Isto é, uma forma de levar de forma 
real o método indutivo é sugerir, com base na observação ocorridas com de 
acontecimentos da mesma natureza, uma conclusão para todos os objectos ou eventos 
dessa natureza). 
Para BACON (1999) a tese de que o método científico experimental deveria ter 
cinco elementos cardeais conforme lê-se: 
 
(...) a experimentação, a formulação de hipóteses, a repetição, o teste das 
hipóteses e, finalmente, a formulação de generalizações e leis aplicáveis ao 
mundo real O método dedutivo e indutivo são formas de estruturar as trilhas 
percorridas pela produção científica na busca de respostas e nas explicações 
das muitas questões das ciências e, em particular, das Relações Internacionais. 
Sendo assim, se o processo de reflexão formal e construção metodológica for 
realizado de maneira imprecisa e imperfeita, os resultados obtidos trarão vieses, 
gerando, assim, falácias e ambiguidades. A metodologia deve conter, 
rigorosamente, e aplicar o princípio da coesão e coerência, cotejando com 
objetividade e subjetividade interpretativa, pois assim será possível articular 
melhor os saberes internacionais com suas construções multidisciplinares. 
Sendo assim, o método e o sistema perfazem a essência do saber científico, no 
qual o sistema representa o aspecto de conteúdo e o método, o aspecto formal.” 
Desse modo, método, metódica, metodologia e ciência são construções formais 
e partes integrantes de processo intrínseco, ao saber investigativo, que merecem 
observações e detalhamentos bem específicos para diferenciar suas esferas de 
abrangência e fronteiras.(BACON, 1999, p. 37) 
 
 
Segundo Castro (2012), como ciência autônoma e sistematizada, às Relações 
Internacionais possuem recorte metodológico próprio, mesmo que este seja baseado em 
fontes diversas do conhecimento humano. Além disso, tem-se advogado o 
reconhecimento do locus específico das Relações Internacionais, como uma ciência de 
vertente política. A inter e a transdisciplinaridade são enfatizadas e defendidas como 
canais válidos de argumentação e investigação das Relações Internacionais. Seu 
nascedouro acadêmico-disciplinar como ciência humana, social e política – na escala 
 
ampliada dedutiva – revela que, de forma crescente, tem havido uma necessidade de 
reconhecimento de sua autonomia por meio de um arcabouço metodológico próprio. 
 
Conforme Castro(2012), Bacon assevera a importância hierárquica do 
experimentalismo como base da intuição e da cientificidade dos objetos sociais. 
Observemos suas palavras abaixo: 
 
A melhor demonstração é, de longe, a experiência, desde que se atenha 
rigorosamente ao experimento. Se procurarmos aplicá-la a outros fatos tidos por 
semelhantes, a não ser que se proceda de forma correta e metódica, é falaciosa. 
[...] Dessa forma, ocorre que os homens realizam os experimentos levianamente, 
como em um jogo, variando pouco os experimentos já conhecidos e, se não 
alcançam os resultados, aborrecem-se e põem de lado os seus 
desígnios.(BACON, 1999, p. 37 - 97). 
 
Bacon (1999) é referência para o indutivismo no processo de experimentalismo 
científico. Aplicar o indutivismo para as Relações Internacionais é referendar uma 
determinada estratégia para verificação das variáveis aplicadas ao método. Bacon 
(1999) reforça a essencialidade da confirmação das premissas para validação das 
conclusões dos objetos analíticos das Relações Internacionais. Portanto, no indutivismo, 
se todas as premissas são verdadeiras, a conclusão é, provavelmente, verdadeira, 
porém, podendo ser ou não totalmente verdadeiras suas premissas estruturantes. A 
conclusão apresenta uma informação final por meio da inferência que nem sempre está 
presente nas premissas. Por exemplo, os países em desenvolvimento que foram 
estudados recentemente possuíam políticas cambiais de desvalorização de sua moeda 
nacional. Logo, todos os dez países que pertencem ao ASEAN têm práticas de 
desvalorização cambial. Ora, tais assertivas carecem de profundidade, rigor e maior 
formalismo de observação e de metodologia no que tange ao processo de verificação e 
testes da conclusão. 
 
1. 3 O Método Hipotético-dedutivo de Popper 
 
Conforme Castro (2012), Karl Popper é crítico veemente do método indutivo por 
entender que uma construção teórica leva em consideração todo o arcabouço de 
construção anterior com seus erros e acertos além de entender que a ciência deve 
 
sempre ser submetida a testes dedutivos. O experimentalismo dedutivo deve ser 
orientado pela formulação de um problema que, de maneira objetiva, gerará conjecturas 
e refutações, acarretando, assim, rejeição ou corroboração (aceitação), por via de testes 
e verificação. O falseamento também deverá assumir papel importante como erro a ser 
evitado na elaboração e formulação de novas teorias. 
O método hipotético-dedutivo oferece meios de construir, metodologicamente, a 
pesquisa em RI de maneira a traçar o levantamento das variáveis (dependente e 
independente) por meio da formulação inicial de um problema. A problematização deve 
ser resultado de eventuais contradições, lacunas e conflitos de expectativas existentes 
na corrente teórica predominante. Ou seja, quando as principais correntes teóricas não 
conseguem, devidamente, responder às questões atuais do foco da pesquisa. Uma 
conjectura é então formatada para responder, tentativamente, ao problema inicialmente 
posto. A criação de hipóteses, neste ponto, é fundamental para responder à 
problematização gerada pelo pesquisador. A hipótese deve ser verificada por meio de 
ferramentas estatísticas a depender dos objetivos delineados no desenho da pesquisa 
ou também a depender da amostragem.Com isso, testes diversos devem ser realizados 
pela observação, pela experimentação e pelas análises com vistas à aprovação ou 
rejeição da pesquisa. Se positiva, então uma nova teoria é formada. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
2 ANÁLISE DA TEORIA DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS 
 
Fonte: www.shutterstock.com/ 1054169000 
 
Caro (a) acadêmico (a) neste tópico, você irá estudar a análise da História 
Diplomática e perceberá que ela revela características distintas e, isso é o que define o 
objeto e a metodologia usada pelos historiadores nas relações internacionais. 
Conforme Castro (2012) sabe-se que as relações internacionais têm sido objeto 
de grande atenção por parte daqueles que se dedicam às Ciências Sociais. Esse 
interesse começou a se manifestar no início da década de 1990, quando o fim da Guerra 
Fria deu partida à intensa discussão a respeito do processo de globalização, e confirmou-
se desde os ataques terroristas aos alvos norte-americanos, em setembro de 2001. 
Todos esses acontecimentos despertaram a atenção dos estudiosos das Ciências 
Sociais, pois contribuíram decisivamente para a consolidação de uma ideia apresentada 
anteriormente, segundo a qual os Estados haviam se elevado a um grau de 
interdependência irreversível. 
http://www.shutterstock.com/
 
Sendo assim, passou a predominar a ideia de que já não havia mais como 
diferenciar os processos internos dos externos. Ou seja, inevitavelmente, todas as 
decisões relativas a questões internas passavam a apresentar efeitos externos, 
enquanto as decisões relativas a questões externas acabavam produzindo efeitos 
internos. 
Por isso caro (a) acadêmico (a), o conhecimento da realidade, em todas as suas 
dimensões, passou a incluir, necessariamente, o conhecimento das relações 
internacionais. Segundo Lessa e Gonçalves (2007), o movimento intelectual decorrente 
dessa nova maneira de perceber as relações internacionais mobilizou não apenas 
politólogos (especialistas em ciências políticas), economistas e juristas, mas também 
historiadores. Devido à sua complexidade, o conhecimento dos problemas internacionais 
contemporâneos requer a análise histórica. 
Portanto, neste sentido, não basta compreender o funcionamento das instituições 
e a capacidade de codificação conceitual de certos aspectos da realidade. Mas, para a 
produção do conhecimento, é indispensável acrescentar a esse trabalho intelectual de 
interpretação da realidade a articulação dos elementos ao longo do tempo. Somente 
quando examinados à luz de sua dimensão temporal, os fenômenos sociais, políticos, 
econômicos e culturais tornam-se cognoscíveis. Essa mobilização em torno dos 
historiadores para a produção de conhecimento acerca das relações internacionais teve 
como importante efeito despertar a atenção dos estudiosos para a História das Relações 
Internacionais. 
Conforme Lessa e Gonçalves (2007) os estudos históricos, que por tanto tempo 
ficará relegado a plano secundário, volta a ter posição de destaque. O caráter de 
urgência que passou a marcar o conhecimento sobre determinadas questões 
internacionais demonstrou que, sem o concurso da História das Relações Internacionais, 
os fenômenos do presente revelavam-se incompreensíveis. Por isso, quem se sente 
motivado a elevar seus conhecimentos referentes à História das Relações Internacionais 
para participar positivamente do debate sobre as questões internacionais 
contemporâneas depara-se, no entanto, com a falta de literatura específica. Embora os 
historiadores estejam permanentemente empenhados em refletir sobre sua prática, 
procurando reformular teorias, métodos e técnicas de pesquisa, com vistas a produzir 
 
um conhecimento da história socialmente útil, a dimensão internacional da história tem 
sido objeto de preconceitos ou ignorada pelos historiadores. 
Conforme contexto, ainda assim, muitos têm produzido admiráveis trabalhos de 
pesquisa, que contribuem significativamente para o conhecimento das questões 
internacionais. Entretanto, essa prática não tem se traduzido numa explicitação das 
questões teóricas que envolvem seu trabalho. Por isso, a carência em relação às 
questões teóricas relativas à História das Relações Internacionais, fixamos como objetivo 
deste texto elaborar algumas notas introdutórias sobre o assunto. 
Caro (a) acadêmico (a) para você entender melhor as Relações Internacionais, é 
importante entender também uma breve história e conceitos da História Diplomática que 
constitui o protótipo da História institucional. Seu desenvolvimento se deu no século XIX, 
simultaneamente à consolidação do moderno Estado nacionalna Europa e nas 
Américas. 
Segundo, Marc Ferro (1989) referente à História institucional, tem como objetivo 
justificar e legitimar a existência da instituição, sua organização e seus preceitos. A 
instituição pode ser o Estado, uma Igreja ou um partido político. Por meio da história do 
Estado, por exemplo, consagram-se determinadas interpretações de processos políticos 
considerados decisivos para sua formação, exaltam-se as personalidades heróicas que 
deram a vida em favor da nação e, enfim, glorifica-se a nacionalidade, distinguindo-a das 
demais. No caso da História Diplomática, a instituição em causa é o Estado em sua 
dimensão externa. 
Assim, privilegia-se a luta travada por ele para proteger a nacionalidade dos 
inimigos que ameaçam sua soberania. Para o melhor entendimento dessa relação entre 
história diplomática e Estado nacional, é conveniente definir o significado da palavra 
diplomacia. Essa palavra é uma derivação do verbo grego diploun, cujo significado é 
dobrar. Daí o significado original de diploma: peça oficial gravada numa placa dupla de 
bronze formando um díptico. 
 
No tempo do Império Romano, essa placa dobrada era usada como passaporte 
para as pessoas e salvo-conduto para as viaturas em trânsito pelas rotas 
imperiais. Mais tarde, o nome do diploma estendeu-se aos documentos oficiais, 
já não mais metálicos, que conferiam privilégios a seus portadores ou então 
 
registravam os acordos realizados com as comunidades estrangeiras. (MARC 
FERRO, 1989, p. 11) 
 
Devido ao acúmulo de grandes quantidades de tratados, os arquivos imperiais 
ficaram repletos de documentos pequenos, dobrados e redigidos de uma determinada 
maneira. Para conservar, decifrar e catalogar esses documentos, pessoas 
especialmente qualificadas passaram a ser empregadas: eram os letrados, que 
inauguraram assim as profissões de paleógrafo e arquivista. Segundo Harold Nicolson 
(1948) relata que: 
 
(...) até o fim do século XVII essas duas ocupações foram denominadas res 
diplomática, que designavam tudo aquilo que se relacionava com os arquivos ou 
com os diplomas. Os diplomas são, portanto, os mais antigos documentos 
oficiais escritos. Os letrados – aos quais cabia a tarefa de zelar por sua 
conservação e interpretar corretamente seu conteúdo – eram os funcionários do 
Estado habilitados a informar às autoridades tudo aquilo considerado necessário 
a respeito dos outros povos, com vistas a orientar a conduta destas em suas 
negociações. O grau de conhecimento acerca dos interlocutores e, 
consequentemente, o êxito nas negociações externas dependiam, em grande 
medida, da qualidade da res diplomática. (HAROLD NICOLSON, 1948, p. 24). 
 
A partir da mesma origem, consolidou-se o significado de diplomacia como “a 
maneira de conduzir os assuntos exteriores de um sujeito de direito internacional, 
utilizando meios pacíficos e principalmente a negociação” (PINO, 2001, p. 21). A História 
Diplomática é a história das relações do Estado com os outros povos, contada com base 
nos documentos oficiais do Estado (diplomas). Tendo a história brasileira como 
referência, José Honório Rodrigues apresenta a seguinte definição: 
 
A história diplomática investiga e relata a defesa dos direitos nacionais e as 
relações econômicas, sociais e políticas que se codificaram em tratados e 
convenções. Compreende o exame das origens e dos resultados de nossas 
negociações diplomáticas, as reparações pacíficas de afrontas, às aquisições 
sem guerra de partes de nosso território, as incorporações definitivas à custa de 
argumentos históricos e geográficos de grandes trechos, objetos de litígio, como 
as questões das Missões e do Amapá (RODRIGUES, 1978, p. 169). 
 
Conforme Lessa e Gonçalves (2007) convém enfatizar que a definição dada por 
Rodrigues é de uma razão irretocável. Isso porque o autor identifica com precisão “a 
defesa dos direitos nacionais” como o elemento essencial da História Diplomática, numa 
demonstração inequívoca de que todo o trabalho de pesquisa do historiador consiste em 
 
produzir o relato mais completo e verídico possível das negociações diplomáticas – o 
que depende do sucesso de seu esforço em decodificar as relações diplomáticas 
consubstanciadas em tratados e convenções. 
A História Diplomática ganhou forma no século XIX. Seu início foi praticamente 
determinado pela Revolução Francesa e suas consequências. Segundo o historiador 
francês J. Thobie: 
 
(...) as mudanças que dela resultaram estimularam as pesquisas e as reflexões, 
enquanto os Estados aperfeiçoavam o instrumento ministerial necessário para a 
eficácia de suas políticas exteriores e buscavam os meios de pôr os seus 
arquivos à disposição dos pesquisadores (J. THOBIE,1986, p. 198). 
 
Sendo assim, a reação das monarquias europeias à Revolução Francesa e, logo 
a seguir, a tentativa de Napoleão Bonaparte de construir um grande império francês na 
Europa geraram uma crise internacional que durou mais de duas décadas (1792 - 1815). 
No plano político-ideológico, a Revolução Francesa e o projeto napoleônico levaram o 
absolutismo ao descrédito, introduziram o princípio das nacionalidades na agenda 
internacional e criaram condições excepcionalmente favoráveis à independência das 
colônias ibéricas nas Américas. 
Segundo Castro (2012), para estabilizar o quadro político europeu e garantir uma 
paz duradoura, as potências vencedoras reunidas no Congresso de Viena (1815) 
tomaram uma série de medidas para apagar as profundas marcas produzidas pela 
intervenção napoleônica. 
Entre elas, as mais importantes foram: restaurar o poder dos príncipes, proteger 
a integridade dos Estados multinacionais e conter o processo das independências. Com 
base nos princípios da legitimidade dos príncipes e do concerto europeu e mediante a 
formação da Santa Aliança, as potências europeias conseguiram, pelo menos até a 
década de 1830, alcançar parcialmente seus objetivos. 
Conforme Castro (2012) A Primeira Guerra Mundial fez aumentar ainda mais o 
interesse pela História Diplomática, levando-a a atingir seu apogeu. O desenvolvimento 
e os surpreendentes resultados da guerra determinaram a exigência intelectual de 
encontrar uma explicação convincente para sua eclosão. A sociedade reclamava o 
conhecimento das causas daquele desastre que consumiu tantas vidas e deixou enorme 
 
destruição material. Competia aos historiadores, portanto, desvendar as razões que 
levaram a sociedade europeia à perda da ilusão que, durante muito tempo, alimentava a 
respeito da superioridade de sua civilização. Era o caso de se interrogar sobre a falência 
da diplomacia europeia, objetivada no colapso de seu sistema de alianças políticas, que 
romperá tão violentamente o secular equilíbrio das potências. 
Segundo Castro (2012), no Brasil, a produção de História Diplomática mais 
importante se deu ao longo da primeira metade do século XX. Os objetos prioritários da 
produção brasileira eram formados pelas questões de limites, pela Independência e pela 
República. Como para os historiadores europeus, a questão central para os historiadores 
brasileiros era a história da formação e da consolidação do Estado brasileiro, no que 
dizia respeito às suas relações com os demais países. 
Sendo assim, Castro (2012) escreve que a maioria das obras conhecidas de 
História Diplomática foram produzidas depois da Primeira Guerra Mundial. Isso se 
explica pelo impacto que a guerra provocou, resultando simultaneamente numa grande 
decepção em relação ao Velho Continente – que constituía o paradigma civilizacional 
das elites brasileiras – e numa necessidade de revelar a verdadeira identidade do Brasil. 
Além disso, colaborou significativamente para esse interesse pela história diplomática do 
Brasil a obra executada pelo Barão do Rio Branco, que, por meios exclusivamente 
pacíficos – negociação direta, compra e arbitragem – solucionou todos os problemas de 
fronteira do país com as nações vizinhas.

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