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LUTAS PROFESSORES Dr. Leonardo Vidal Andreato Dr. Victor Silveira Coswig 2 LUTAS Coordenador(a) de Conteúdo Mara Cecilia Rafael Lopes, Projeto Gráfico José Jhonny Coelho, Editoração Lucas Pinna Silveira Lima, Designer Educacional Bárbara Neves, Revisão Textual Talita Dias Tomé e Cintia Prezoto Ferreira Ilustração Ilustrador, Fotos Shutterstock. C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação a Distância; Coswig, Victor Silveira, Andreato Leonardo Vidal. Lutas. Leonardo Vidal Andreato; Victor Silveira Coswig. Maringá - PR.:Unicesumar, 2018. 471 p. “Graduação em Educação Física - EaD”. 1. Lutas . 2. Pedagogia . 3. Preparação Física 4. EaD. I. Título. ISBN 978-85-459-1155-5 CDD - 22ª Ed. 796 CIP - NBR 12899 - AACR/2 Ficha Catalográfica Elaborada pelo Bibliotecário João Vivaldo de Souza - CRB-8 - 6828 NEAD Núcleo de Educação a Distância Av. Guedner, 1610, Bloco 4 Jd. Aclimação - Cep 87050-900 Maringá - Paraná www.unicesumar.edu.br | 0800 600 6360 DIREÇÃO UNICESUMAR Reitor Wilson de Matos Silva, Vice-Reitor Wilson de Matos Silva Filho, Pró-Reitor Executivo de EAD William Victor Kendrick de Matos Silva, Pró-Reitor de Ensino de EAD Janes Fidélis Tomelin, Presidente da Mantenedora Cláudio Ferdinandi. NEAD - NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Diretoria Executiva Chrystiano Minco�, James Prestes, Tiago Stachon, Diretoria de Graduação e Pós-graduação Kátia Coelho, Diretoria de Permanência Leonardo Spaine, Diretoria de Design Educacional Débora Leite, Head de Produção de Conteúdos Celso Luiz Braga de Souza Filho, Head de Curadoria e Inovação Tania Cristiane Yoshie Fukushima, Gerência de Produção de Conteúdo Diogo Ribeiro Garcia, Gerência de Projetos Especiais Daniel Fuverki Hey, Gerência de Processos Acadêmicos Taessa Penha Shiraishi Vieira, Gerência de Curadoria Carolina Abdalla Normann de Freitas, Supervisão de Produção de Conteúdo Nádila Toledo. Viver e trabalhar em uma sociedade global é um grande desafio para todos os cidadãos. A busca por tecnologia, informação, conhecimento de qualidade, novas habilidades para liderança e solução de problemas com eficiência tornou-se uma questão de sobrevivência no mundo do trabalho. Cada um de nós tem uma grande responsabilidade: as escolhas que fizermos por nós e pelos nossos fará grande diferença no futuro. Wilson Matos da Silva Reitor da Unicesumar Com essa visão, o Centro Universitário Cesumar assume o compromisso de democratizar o conhecimento por meio de alta tecnologia e contribuir para o futuro dos brasileiros. No cumprimento de sua missão – “promover a educação de qualidade nas diferentes áreas do conhecimento, formando profissionais cidadãos que contribuam para o desenvolvimento de uma sociedade justa e solidária” –, o Centro Universitário Cesumar busca a integração do ensino-pesquisa- extensão com as demandas institucionais e sociais; a realização de uma prática acadêmica que contribua para o desenvolvimento da consciência social e política e, por fim, a democratização do conhecimento acadêmico com a articulação e a integração com a sociedade. Diante disso, o Centro Universitário Cesumar almeja ser reconhecida como uma instituição universitária de referência regional e nacional pela qualidade e compromisso do corpo docente; aquisição de competências institucionais para o desenvolvimento de linhas de pesquisa; consolidação da extensão universitária; qualidade da oferta dos ensinos presencial e a distância; bem-estar e satisfação da comunidade interna; qualidade da gestão acadêmica e administrativa; compromisso social de inclusão; processos de cooperação e parceria com o mundo do trabalho, como também pelo compromisso e relacionamento permanente com os egressos, incentivando a educação continuada. boas-vindas Prezado(a) Acadêmico(a), bem-vindo(a) à Comunidade do Conhecimento. Essa é a característica principal pela qual a Unicesumar tem sido conhecida pelos nossos alunos, professores e pela nossa sociedade. Porém, é importante destacar aqui que não estamos falando mais daquele conhecimento estático, repetitivo, local e elitizado, mas de um conhecimento dinâmico, renovável em minutos, Willian V. K. de Matos Silva Pró-Reitor da Unicesumar EaD EDUCAÇÃO FÍSICA 7 atemporal, global, democratizado, transformado pelas tecnologias digitais e virtuais. De fato, as tecnologias de informação e comunicação têm nos aproximado cada vez mais de pessoas, lugares, informações, da educação por meio da conectividade via internet, do acesso wireless em diferentes lugares e da mobilidade dos celulares. As redes sociais, os sites, blogs e os tablets aceleraram a informação e a produção do conhecimento, que não reconhece mais fuso horário e atravessa oceanos em segundos. A apropriação dessa nova forma de conhecer transformou-se hoje em um dos principais fatores de agregação de valor, de superação das desigualdades, propagação de trabalho qualificado e de bem-estar. 8 LUTAS Logo, como agente social, convido você a saber cada vez mais, a conhecer, entender, selecionar e usar a tecnologia que temos e que está disponível. Da mesma forma que a imprensa de Gutenberg modificou toda uma cultura e forma de conhecer, as tecnologias atuais e suas novas ferramentas, equipamentos e aplicações estão mudando a nossa cultura e transformando a todos nós. Então, priorizar o conhecimento hoje, por meio da Educação a Distância (EAD), significa possibilitar o contato com ambientes cativantes, ricos em informações e interatividade. É um processo desafiador, que ao mesmo tempo abrirá as portas para melhores oportunidades. Como já disse Sócrates, “a vida sem desafios não vale a pena ser vivida”. É isso que a EAD da Unicesumar se propõe a fazer. Seja bem-vindo(a), caro(a) acadêmico(a)! Você está iniciando um processo de transformação, pois quando investimos em nossa formação, seja ela pessoal ou profissional, nos transformamos e, consequentemente, transformamos também a sociedade na qual estamos inseridos. De que forma o fazemos? Criando oportunidades e/ou estabelecendo mudanças capazes de alcançar um nível de desenvolvimento compatível com os desafios que surgem no mundo contemporâneo. boas-vindas Débora do Nascimento Leite Diretoria de Design Educacional Janes Fidélis Tomelin Pró-Reitor de Ensino de EAD Kátia Solange Coelho Diretoria de Graduação e Pós-graduação Leonardo Spaine Diretoria de Permanência O Centro Universitário Cesumar mediante o Núcleo de Educação a Distância, o(a) acompanhará durante todo este processo, pois conforme Freire (1996): “Os homens se educam juntos, na transformação do mundo”. Os materiais produzidos oferecem linguagem dialógica e encontram-se integrados à proposta pedagógica, contribuindo no processo educacional, complementando sua formação profissional, desenvolvendo competências e habilidades, e aplicando conceitos teóricos em situação de realidade, de maneira a inseri-lo no mercado de trabalho. Ou seja, estes materiais têm como principal objetivo “provocar uma aproximação entre você e o conteúdo”, desta forma possibilita o desenvolvimento da autonomia em busca dos conhecimentos necessários para a sua formação pessoal e profissional. Portanto, nossa distância nesse processo de crescimento e construção do conhecimento deve ser apenas geográfica. Utilize os diversos recursos pedagógicos que o Centro Universitário Cesumar lhe possibilita. Ou seja, acesse regularmente o AVA – Ambiente Virtual de Aprendizagem, interaja nos fóruns e enquetes, assista às aulas ao vivo e participe das discussões. Além disso, lembre-se que existe uma equipe de professores e tutores que se encontra disponível para sanar suas dúvidas e auxiliá-lo(a) em seu processo de aprendizagem, possibilitando-lhe trilhar com tranquilidade e segurança sua trajetória acadêmica. 12 autores Dr. Leonardo Vidal Andreato Tem experiência na área de Fisiologia do Ex- ercício, atuando principalmente nos seguintes temas:preparação física para esportes de combate, avaliação física, treinamento inter- valado de alta intensidade e obesidade. Dou- torado em Ciências do Movimento Humano pela Universidade do Estado de Santa Cata- rina (UDESC), sendo atualmente professor colaborador na mesma instituição. Mestrado em Ciências na área de Estudos do Esporte pela Universidade de São Paulo (USP) e es- pecialização em Fisiologia do Exercício pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). Graduação em Educação Física pela Univer- sidade Estadual de Maringá (UEM). Currículo Lattes disponível em: <http://bus- catextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv. do?id=K4249428A5 > 14 autores Dr. Victor Silveira Coswig É Integrante do Grupo de Estudos e Pesqui- sas em Treinamento Esportivo e Desempen- ho Físico (GEPETED). Atualmente é Profes- sor Adjunto na Universidade Federal do Pará (UFPA). Tem experiência na área de Educação Física, com ênfase em Fisiologia do Exercício e Treinamento Desportivo, especialmente com lutadores. Possui Doutorado na linha de Desempenho e Metabolismo Humano (ESEF/ UFPel- 2017) e mestrado em Atividade Físi- ca e Desempenho pela ESEF/UFPel (2014). Pós-graduação em Fisiologia do Exercício e 15 prescrição para academias e Personal Trainer pelo Centro Universitário de Volta Redonda (UniFOA/2011). Tem graduação em Educação Física pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel /2010). Currículo Lattes disponível em: <http://lattes. cnpq.br/0097939661129545> 16 apresentação do material LUTAS Prezado(a) aluno(a), seja bem-vindo(a)! Caro(a) aluno(a), este livro tem por objetivo apresentar aspectos relevantes e atuais sobre diferentes perspecti- vas relacionadas às Lutas, Artes Marciais e Modalidades Esportivas de Combate. Inicialmente, é preciso desta- car que as Lutas fazem parte da cultura do movimento humano, juntamente com o Esporte, a Ginástica, o Jogo e a Dança. De fato, a dimensão “Luta” ainda perpassa pelas demais expressões e, por vezes, confunde-se com o Esporte, com o Jogo e, até mesmo, com a Dança. Dito isto, este conteúdo faz parte da base da Educação Física e a atuação dos professores e profissionais deve (ao menos deveria) contemplar aspectos históricos, so- ciais, técnicos, científicos e pedagógicos relacionados às lutas. Ademais, especialmente nos aspectos científicos, apresenta-se um crescimento em volume e relevância 17 apresentação do material das pesquisas na área das ciências dos esportes de combate. Considerando, então, as Lutas como conteúdo base da Educação Física e reconhecendo seu papel na sociedade e na ciência, torna-se indispensável que você seja capaz de dialogar sobre a temática com criticidade e por diferentes óticas. Neste contexto, este livro busca proporcionar bases teóricas e metodológicas para dar suporte a sua atua- ção nos estágios e no mercado de trabalho, bem como em diversos espaços da comunidade. Para isso, inicial- mente, são apresentados os conceitos terminológicos e aspectos históricos que ilustram o modo em que as Lutas estão enraizadas no DNA dos seres humanos (Fi- gurativa e literalmente). Sim, literalmente, já que traços do nosso DNA primitivo diferenciam povos que saíram da África e conquistaram a Eurásia e o mundo daqueles que pereceram. Essas diferenças envolviam o modo de resolver conflitos e as práticas de lutas como rituais. 18 apresentação do material Na sequência, é dado foco na atuação didática e peda- gógica que envolve o ato de lutar. Você será convidado a refletir criticamente sobre o modelo vigente de ensino nos diferentes espaços que oferecem práticas de lutas, bem como ao Sistema Iemoto, que é carregado de hie- rarquia e comando. Obviamente, não serão traçadas apenas as críticas, mas serão também sugeridos os modelos alternativos que deverão servir de referência para as práticas dos futuros professores e profissionais. Ainda fazem parte do escopo deste livro as questões relativas ao perfil físico e fisiológico de lutas e lutado- res de modalidades esportivas de combate, bem como acerca das avaliações e prescrições de treinamento específicas das Lutas, já que estas apresentam carac- terísticas distintas de outras modalidades esportivas. Por fim, esperamos que este livro ajude a qualificar sua carreira profissional e acadêmica. Mais do que isso, esperamos que você seja encorajado a pensar com criticidade e que possa conhecer melhor um dos 19 apresentação do material conteúdos base e que, por vezes, não recebe o prota- gonismo que lhe é devido. Boa leitura! Boa aula! sumário UNIDADE I CONCEITOS E HISTÓRICO DAS LUTAS 30 Conceitos em Lutas, Artes Marciais e Esportes de Combate 42 Origem e Desenvolvimento das Lutas 51 Histórico das Lutas na Perspectiva Oriental 82 Considerações Finais UNIDADE II ENSINO DE LUTAS 108 O Ensino das Lutas e a Educação Física 123 Categorizações, Regras de Ação e Jogos de Oposição 136 Modelos de Ensino Tradicional e Predominante 144 Modelos de Ensino das Lutas por Meio da Tática 156 Organização e Trato Pedagógico das Lutas 170 Considerações Finais sumário UNIDADE III PLANEJAMENTO DE AULAS DE LUTAS 192 Do Ensino Fundamental ao Ensino Médio 202 Ensino de Lutas no Ambiente Escolar 209 Abordagem de Temas Transversais por Meio do Ensino de Lutas 234 Montando a Aula 250 Festivais e Competições 259 Considerações Finais UNIDADE IV AVALIAÇÃO E PREPARAÇÃO FÍSICA DE LUTADORES 274 Avaliações Físicas Gerais para Lutadores 290 Avaliações Físicas Específicas para Lutadores 298 Métodos para Condicionamento Metabólico de Lutadores 310 Métodos para Condicionamento Neuromuscular de Lutadores 319 Periodização e Organização do Treinamento de Lutadores 327 Considerações Finais UNIDADE V FISIOLOGIA E PERFIL DAS MODALIDADES ESPORTIVAS DE COMBATE 352 Duração de Luta em Esportes de Combate 369 Categorias de Peso e Perda de Peso em Esportes de Combate 385 Estrutura Temporal nos Esportes de Combate 400 Perfil Antropométrico e Funcional de Atletas de Esportes de Combate 422 Respostas Fisiológicas e Perceptivas em Esportes de Combate 439 Considerações Finais 470 Conclusão Geral Professor Dr. Victor Silveira Coswig Plano de Estudo A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade: • Conceitos em lutas, artes marciais e esportes de combate • Origem e desenvolvimento das lutas • Histórico das lutas na perspectiva oriental • Histórico das lutas na perspectiva ocidental • As lutas no Brasil Objetivos de Aprendizagem • Conceituar Lutas, Artes Marciais e Modalidades Esportivas de Combate. • Indicar panorama histórico-cultural das Lutas e seu papel na sociedade. • Apresentar a evolução das lutas no oriente. • Apresentar a evolução das lutas no ocidente. • Apresentar a evolução das lutas no Brasil. CONCEITOS E HISTÓRICO DAS LUTAS unidade I INTRODUÇÃO Olá, seja bem-vindo(a)! Esta unidade se inicia com uma breve contex- tualização acerca da terminologia que define as práticas corporais de combate como Luta, Arte Marcial ou Modalidade Esportiva de Combate. De modo adicional, faremos uma diferenciação entre estes termos e outros que, erroneamente, também são associados às lutas, que são as brigas e guerras. É fato, inclusive, que ainda hoje muitas pessoas desencorajam seus filhos ou a si próprios da prá- tica de Lutas por acreditarem que é um modo de incitar a violência. Esta é uma associação infeliz, já que a prática de Lutas, Artes Marciais e Moda- lidades Esportivas de Combate pode, na verdade, ser uma ferramenta importante para auxiliar na INTRODUÇÃO redução da violência (OLIVIER, 2000). Mas de onde surgem os combates? Os homens das cavernas lutavam? Qual a importância disso para a evolução humana e a construção da so- ciedade? Existem diferenças entre regiões? E, no Brasil, existe relação entre Lutas e a nossa cultu- ra? Nesta unidade, você será convidado a viajar dos primórdios da existência humana até os dia atuais e acompanhar a evolução das práticas cor- porais e suaassociação à construção cultural de cada sociedade ao longo dos séculos. Para tentar responder a todas estas perguntas, vamos iniciar entendendo de que modo a presença de rituais de luta podem ter diferenciado os primeiros Homo Sapiens de outros humanos primitivos e contribu- ído para que estes prosperassem e conquistassem a Ásia e a Europa após a saída da África (MORE- NO, 2011). Saindo da pré-história para a história, temos uma dissociação entre as práticas orientais e ocidentais que podem ser percebidas ainda hoje, de acordo com os modelos de ensino utilizados (DEL VECCHIO; FRANCHINI, 2006). Por fim, você será apresentado às práticas de lutas genuina- mente brasileiras, como a Capoeira, o Huka-Huka e a Agarrada Marajoara, que são expressões cultu- rais fortemente regionalizadas. 30 LUTAS Conceitos em Lutas, Artes Marciais e Esportes de Combate EDUCAÇÃO FÍSICA 31 Caro(a) aluno(a), você, possivelmente, já utilizou os termos “Lutas”, “Artes Marciais” e “Modalidades Esportivas de Combate” como sinônimos. É ver- dade que até mesmo as recomendações de utiliza- ção de termos para aumento da visibilidade dos artigos científicos relacionados à temática suge- rem que estes (e outros) podem ser utilizados sem discriminação (PÉREZ-GUTIÉRREZ; GUTIÉR- REZ-GARCÍA; ESCOBAR-MOLINA, 2011). Por outro lado, é importante que você perceba que es- tas terminologias apresentam noções e contextos diversificados (CORREIA; FRANCHINI, 2010) e que a falta de clareza nestas definições pode di- ficultar a fundamentação teórica para as práticas pedagógicas (FRANCHINI, 1998). O ato de lutar, patrimônio cultural da huma- nidade (DEL VECCHIO; FRANCHINI, 2006), está presente em registros pré-históricos e parece 32 LUTAS ter tido papel fundamental na evolução da espécie humana e em seu desenvolvimento (MORENO, 2011; MORGAN; CARRIER, 2013). É fato que, atualmente, a premissa de lutar não se relaciona diretamente com sua origem, que era decorrente de fatores associados à sobrevivência, como con- quista/manutenção de territórios, alimentação e reprodução (PAIVA, 2015). Neste sentido, parece ser indicado que a compreensão do termo “Luta”, no contexto da Educação Física (diferente da apli- cação em outros contextos sociais, como a luta de classes, por exemplo), está associada a um conte- údo da cultura corporal, juntamente com o jogo, esporte, ginástica e dança (BRASIL, 1997). Ape- sar de reconhecer as limitações quanto às defini- ções absolutas de Lutas, Artes Marciais e Esportes de Combate, convido você a conhecer as propos- tas mais sugeridas atualmente para tais conceitos, EDUCAÇÃO FÍSICA 33 mas reforço que se trata de uma proposta que visa facilitar didática e pedagogicamente o seu enten- dimento sobre a temática. 34 LUTAS ARTES MARCIAIS Fortemente associadas à cultura de um povo/nação, esta manifestação das Lutas se remete às práticas de guerra. Este fato reforça a utilização da nomencla- tura “Marcial” que deriva de “Marte”, deus romano da guerra; enquanto o termo “Arte” remete a de- mandas expressivas, lúdicas e criativas (CORREIA; FRANCHINI, 2010). Neste sentido, entende-se que, apesar da forte associação das Artes Marciais EDUCAÇÃO FÍSICA 35 ao processo militarista e bélico, suas possibilidades transcendem a este contexto, o que indica que estas práticas recebem relevante influência étnica/cultu- ral e abrangem concepções físicas, espirituais e so- ciais (CORREIA; FRANCHINI, 2010; DEL VEC- CHIO; FRANCHINI, 2006; PAIVA, 2015). Esta ideia parece ser mais facilmente percebida quando estudamos a origem das Artes Marciais e sua abor- dagem filosófica de base oriental, derivada essen- cialmente do budismo, que valoriza a trajetória do lutador, popularmente conhecido como “caminho do guerreiro” (REID; CROUCHER, 2003). Este tema será aprofundado nos Tópicos 2 e 3. 36 LUTAS MODALIDADES ESPORTIVAS DE COMBATE São lutas que têm como base as Artes Marciais, mas que foram “esportivizadas” (CORREIA; FRAN- CHINI, 2010; DEL VECCHIO; FRANCHINI, 2006; PAIVA, 2015). Este termo refere-se ao fato que características inerentes ao esporte foram in- seridas, ao passo que o plano de fundo espiritu- al, social, religioso e/ou ritualístico acabou por ser reduzido (PAIVA, 2015). Neste processo, você pode identificar características específicas desta “esportivização” que envolvem a prática regrada a partir do controle por entidades institucionais que regulamentam a prática (associações, federações e confederações) e que regem competições, premia- ções e rankings (DEL VECCHIO; FRANCHINI, 2006). Percebe-se, ainda, que, diferentemente das Artes Marciais, existe espaço delimitado e adequa- do, gestos/golpes permitidos e proibidos e pontu- EDUCAÇÃO FÍSICA 37 ações, além de equipamentos de proteção, já que existe importante preocupação com a integridade física dos praticantes. São exemplos de Modali- dades Esportivas de Combate aquelas Olímpicas que são o boxe, a luta olímpica, a esgrima, o judô, o taekwondo e o karatê (que estará nos jogos de 2020) e as não Olímpicas como, o Jiu-Jitsu bra- sileiro, o Sambô, o Muay-Thai e o Mixed Martial Arts (MMA- Artes Marciais Misturadas). LUTAS Além do contexto geral de se referir às práticas cor- porais de combate genericamente como “Lutas”, sejam elas Artes Marciais ou esportivas, podemos ter uma interpretação mais específica e que reme- te diretamente às práticas pedagógicas que serão aprofundadas na Unidade II. Essa classificação diz respeito à interpretação de que as lutas fazem 38 LUTAS parte dos jogos categorizados como de oposição (Agon) (CALLOIS, 2001), que apresenta como ca- racterísticas básicas como ter por alvo o próprio adversário, ser praticados por duas ou mais pesso- as e apresentar ataque e defesa simultâneos (DEL VECCHIO; FRANCHINI, 2006; PAIVA, 2015). É possível, ainda, encontrar menções com os termos jogos de combate ou brincadeiras de luta. GUERRAS E BRIGAS Infelizmente, é preciso reconhecer que, talvez, você já tenha utilizado os termos que dão título a este tópico como sinônimos de Lutas. Digo infe- Quais são as características observáveis que di- ferem entre lutas e brigas? REFLITA EDUCAÇÃO FÍSICA 39 lizmente, pois esta associação, por muitas vezes, acaba por afastar e distanciar da prática de lutas quem acredita que Artes Marciais ou Modalida- des de Combate apresentam relação direta com o ato de brigar ou guerrear. Se você considerar que guerras envolvem oposição direta entre nações ou comunidades, utilização de tecnologia ilimitada e meios de destruição em massa com objetivo terri- torial, econômico/financeiro ou ideológico pode facilmente associar ao termo Arte Marcial men- cionado anteriormente. Não obstante, as brigas podem ser caracterizadas pela oposição direta, entre duas ou mais pessoas, que, se não fosse a au- sência de regras, a não ser as intrínsecas ao próprio indivíduo, poderia ser associada às modalidades esportivas de combate. Por outro lado, apesar de as diferenças terminológicas serem relativamen- te pequenas, o contexto sócio-histórico-cultural é 40 LUTAS oposto. Por exemplo, enquanto as brigas são gera- das e guiadas por sentimentos de aversão, repúdio e/ou ódio, as modalidades de combate devem se- guir o espírito esportivo, ou seja, o indivíduo pra- ticante respeita e precisa do seu adversário, já que, sem ele, não há prática. Atualmente, é possível que você, especialmente por ser estudante de Educação Física, esteja fa- miliarizado(a) com manifestações de Lutas, Artes Marciais e Modalidades Esportivas de Comba- te que vão além das definições apresentadas. Um exemplo é a utilização de gestos motores das Lutas para atender objetivos relacionados à aptidão física e saúde, que estão presentes em academias e clubes. E estas se apresentam em aulas de ginástica (Body CombatTM, Fitboxing...) SAIBA MAIS EDUCAÇÃO FÍSICA 41 Agora você já sabe diferenciar Lutas, Artes Mar-ciais e Esportes de Combate e, deste modo, come- çar a refletir sobre quais destas práticas podem ser abordadas nas aulas de Educação Física, aca- demia, clubes, entro outros espaços, bem como já pode entender que possibilidades de aplicação cada uma destas manifestações das práticas cor- porais de combate tem nos diversos contextos. ou em protocolos de HIIT (exercícios intermitente de alta intensidade) e, de fato, parecem ser uma estratégia interessante para aumentar a adesão, a motivação, a aptidão física e o gasto calórico, inclusive em idosos. Fonte: Cheema et al. (2015). 42 LUTAS Origem e Desenvolvimento das Lutas EDUCAÇÃO FÍSICA 43 Neste ponto, você já foi apresentado às diferenças terminológicas entre Lutas, Artes Marciais e Mo- dalidades Esportivas de Combate. Daqui em dian- te, o termo “Lutas” será utilizado de modo gené- rico neste e nos próximos tópicos, de modo que aborde as diferentes manifestações deste fenôme- no cultural, social e esportivo. Mas de onde se ori- ginam as Lutas? Os homens das cavernas lutavam? E de que modo estas práticas corporais evoluíram até o ponto como conhecemos hoje? Neste tópico, estudaremos questões sobre a origem e evolução das perspectivas relacionadas às Lutas. Conforme anteriormente mencionado de modo breve, o ato de lutar faz parte da história dos seres humanos e de outros grandes primatas. Imagine que você vive na pré-história em um ambiente al- tamente hostil, no qual sua principal preocupação envolve a sua sobrevivência e a de sua espécie. 44 LUTAS Neste ambiente primitivo, guiado principalmen- te pela necessidade de se alimentar e se defender de outros agressores, escolher não lutar parece não ser uma opção. Porém, além disso, o ato de lutar já era associado à conquista de poder, seja pela conquista de território ou para disputas relacionadas à dominação sexual de parceiros para acasalamento (PAIVA, 2015). Mas estas lutas se limitavam a expressões irracio- nais e instintivas de sobrevivência e conquistas? Pa- rece que não. Em um estudo importante, Moreno (2011) busca entender o papel das lutas na socieda- O ato de lutar acompanha a evolução dos seres humanos desde a pré-história. Por isso você pode ir além dos gestos motores e relacionar as práticas de luta ao seu contexto sócio-histórico-cultural.. REFLITA EDUCAÇÃO FÍSICA 45 de primitiva de Homo Sapiens que migrou da Áfri- ca para povoar a Europa e a Ásia há, aproximada- mente, 80.000 anos. Por meio de análises genéticas, etnográficas e arqueológicas, os resultados indicam que os hominídeos do período que prosperaram conquistando outros continentes eram agressivos, resolviam conflitos com assassinatos e praticavam rituais de lutas, que poderiam envolver atividades simples associadas à música e dança ou mais com- plexas, como treinamentos de guerreiros para futu- ros conflitos entre tribos ou sacrifícios ofertados aos deuses. Por outro lado, as tribos que não apresenta- vam estes comportamentos acabaram extintas. De modo adicional, teoriza-se que os hominídeos que povoavam a Europa e a Ásia neste mesmo período (Homo Neanderthalensis e Homo Erectus, respec- tivamente) acabaram sendo substituídos por estas tribos. O status de tribo guerreira foi, portanto, re- 46 LUTAS lacionado à prosperidade destes grupos de 1000 a 1500 indivíduos caçadores-coletores, enquanto tri- bos que preferiam se deslocar para evitar conflitos não evoluíram. Este estudo indica que há uma relação forte en- tre aspectos herdados geneticamente e os aspec- tos culturalmente construídos ao longo da evolu- ção da espécie humana. Então isso significa que o ato de lutar foi passado geneticamente entre ge- rações? Não necessariamente. Na verdade, indica que as construções culturais ao longo da história apresentam uma força hereditária quase tão forte quanto os fatores genéticos (PAIVA, 2015). Porém, a partir disso, de que modo as Lutas evoluem? E qual seu papel nas sociedades que se formam ao longo da história? Estas práticas de luta que inicialmente estavam relacionadas espe- cialmente ao sacrifício (oferendas aos deuses) ou EDUCAÇÃO FÍSICA 47 ao ciclo de vida do guerreiro (transição para fase adulta) passam a ser praticadas em tempos de paz, como forma de preparação física e técnica para os combates que viriam. Este fato, acredita-se, acaba por originar as Artes Marciais ao longo da histó- ria (POLIAKOFF, 1987). Curiosamente, a prática de combates para transição do jovem para o adul- to permanece em diferentes sociedades ao longo dos séculos e, até mesmo, atualmente. No Brasil, a prática é presente na cultura dos povos indígenas do Alto Xingu, por meio do Huka-Huka (CUR- BY; JOMAND, 2015), que será melhor abordado à frente, ainda nesta unidade. De modo paralelo, o avanço destes rituais de lutas evoluem tanto de modo bélico e militar, con- forme estudamos a caracterização das Artes Mar- ciais, quanto de modo cultural e social, ganhando características que podem ser fortemente associa- 48 LUTAS das aos jogos com regras que se transformam em espetáculo, inclusive estando presentes nos Jogos olímpicos da Antiguidade (PAIVA, 2015). Parece, ainda, haver uma relação inversa quando as práti- cas militarizadas de combate corporal perdem re- levância com a inserção de avanços tecnológicos nos campos de batalha, que se inicia com o avanço armamentista e de tecnologias de guerra que são seguidos pela invenção da pólvora. EDUCAÇÃO FÍSICA 49 Neste tópico, estudamos a origem e a evolução das lutas. Acredito que você tenha percebido que o ato de lutar contribuiu de diversas formas para a evo- lução humana. Ainda, fica evidente que, para en- Além da evolução cultural apresentada, existem indícios que apontam que a morfologia humana também sofreu adaptações associadas aos com- bates corporais. Análises biomecânicas a anatô- micas mostram que o ato de “cerrar os punhos” ou simplesmente fechar as mãos para socar pode ser uma adaptação que proporciona maior im- pacto no alvo e maior segurança para o punho durante os golpes quando comparados aos gestos executados com as mãos abertas. Este “encaixe” na estrutura das mãos não é visto em outros pri- matas, o que pode ter influenciado na seleção natural entre hominídeos. Fonte: Morgan e Carrier (2013). SAIBA MAIS 50 LUTAS tender a sociedade atual, é preciso aprofundar o entendimento sobre componentes de sua estrutura histórica e cultural, sendo que, para isso, é preciso estudar os fenômenos relacionados às práticas de combate em suas diversas manifestações. 51 Histórico das Lutas na Perspectiva Oriental 52 LUTAS No tópico anterior, você pôde acompanhar o modo como as Lutas estão enraizadas na cultura e na evolução humana. De modo geral, foi apresenta- da uma perspectiva de como estas práticas evoluí- ram ao longo da história e ainda carregam marcas primitivas nos dias de hoje. Neste e no próximo tópico, convido você a estudar, de modo mais es- pecífico, como as lutas se desenvolveram de modo diferente de acordo com as características dos po- vos orientais e ocidentais, respectivamente, até as modalidades esportivas que conhecemos. Em cada tópico, você será convidado a refletir sobre como as características diferentes influenciaram a construção técnica e filosófica das Lutas, Artes Marciais e Modalidades Esportivas de Combate e como estas características moldaram os sistemas de ensino sob cada ótica. EDUCAÇÃO FÍSICA 53 No tópico anterior, você pôde acompanhar o papel do ato de lutas na evolução dos seres huma- nos durante a pré-história. Daí em diante, indi- ca-se que, desde a transição da pré-história, para o que chamamos de história (após a invenção da escrita em aprox. 4000 a.C), existem indícios de homens lutando, como as descrições encontradas em um túmulo em Beni Hasan, datado do sécu- lo 20 a.C. Até mesmo antes disso, placas encon- tradas em escavações na Antiga Mesopotâmia (3500 a.C) indicavam aprática de modalidades de lutas com socos (MURRAY, 2008). Neste sen- tido, a Índia e o Egito antigos apresentam apri- moramento nas práticas corporais de combate e parece que, ainda na antiguidade, a China passa a receber maiores influências das práticas do sul da Ásia enquanto que os impérios grego e, pos- teriormente, o romano acabam por ter maiores 54 LUTAS influências egípcias (POLIAKOFF, 1987; REID; CROUCHER, 2003). Essas influências geram di- ferenças entre estas abordagens orientais (Asiá- tica) e ocidentais (Europeia e Norte Americana) que permanecem até o presente momento. Na perspectiva oriental, um ponto marcante parece ter sido a chegada de um monge indiano à China, em 520 d.C. Bodhidharma é conhecido por alguns como padroeiro das Artes Marciais orientais e seria criador do estilo de luta Shaolin e do Budismo Zen. De modo resumido, as práticas corporais foram introduzidas por ele no contex- to do monastério com objetivo de condicionar os monges que permaneciam por longos períodos em meditação (REID; CROUCHER, 2003). Por outro lado, existem relatos chineses anteriores (200 d.C) que já indicavam a presença de exercí- cios de luta baseados em movimentos de animais, EDUCAÇÃO FÍSICA 55 como o tigre, o urso e o macaco e outros relatos de práticas de Wushu (popularmente conhecido por Kung-Fu) que datariam de 5000 anos atrás. Independentemente de você acreditar na lenda de Bodhidharma ou não, é da elevada probabilida- de de a China já apresentar suas próprias práticas de lutas à época, é inegável a influência do Tem- plo Shaolin no desenvolvimento das Artes Mar- ciais deste ponto em diante (REID; CROUCHER, 2003). A partir deste momento, as Artes Marciais chinesas se disseminam pela Ásia, chegando à Coréia e ao Japão, entre outros países. Novamen- te, é pouco provável que estes países já não tives- sem suas próprias Artes Marciais, porém, a influ- ência chinesa parece induzir de modo importante no avanço destas práticas. De qualquer modo, ao avançar da história, esta conexão entre espiritua- lidade e prática corporal de combate permanece. 56 LUTAS Apesar de esta contextualização histórica se fazer necessária como base para as próximas reflexões, este não é o objetivo central deste tópico. Então va- mos a ele. Conhecendo esta perspectiva de origem oriental e o desenvolvimento das Artes Marciais, você consegue perceber como isso influenciou o modo como estas práticas são ensinadas ainda nos dias de hoje e os componentes que ainda perma- necem? Mesmo após a “esportivização” que viria posteriormente, elementos essenciais estão presen- tes no ensino de lutas orientais em todo mundo. Você pode constatar isso ao analisar modalidades que apresentam indumentária específica de caráter oriental, nas quais o professor utiliza contagem em idiomas, como coreano, japonês ou chinês. Nestas práticas, o Sensei (professor ou mestre em Japonês) não se trata apenas de alguém que passa técnicas e golpes aos seus alunos, mas é aquele indivíduo que EDUCAÇÃO FÍSICA 57 se mantem acima hierarquicamente, responsável por ensinar valores, como relacionamento, a frater- nidade, a disciplina, o civismo e o respeito (VIRGÍ- LO, 2000). Este modelo é baseado no Sistema Ie- moto (Mestre proprietário) que é caracterizado por Franchini, Emerson e Del Vecchio (2007): • Relação professor-aluno de pura submissão, na qual o professor é detentor de todo conhecimen- to e não deve ser questionado. Ao aluno também não é permitido trocar de professor/equipe. • Hierarquia contínua, que permite que o alu- no que permanece tempo suficiente e progri- de de graduações tenha seus próprios alunos, mas sempre sob a tutela de seu “mestre”. • Autoridade do Iemoto, que indica que o mes- tre mais graduado é responsável por toda a organização e do licenciamento dos futuros mestres, gerindo as graduações superiores. 58 LUTAS • Relação pseudoconexão, que se refere ao fato de se procurar manter a relação dos dirigen- tes das associações sob tutela de descenden- tes identificáveis do criado original. Você percebe que um dos motivos que dificultam a inserção das lutas no ensino escolar pode estar associado ao fato de que somos condicionados a pensar as lutas de modo semelhante ao Sistema remoto? REFLITA EDUCAÇÃO FÍSICA 59 Apesar dos esforços para manutenção deste mo- delo organizacional, é possível identificar que sua aplicação em espaços de ensino formais e não-for- mais nos dias de hoje apresenta problemas. Estes problemas e as sugestões alternativas de sistemas de ensino serão abordadas de modo mais profun- do na Unidade II. Porém, cabe adiantar que as sugestões para o ensino, em especial de crianças, perpassam por práticas mais reflexivas e inclusi- vas, que busquem o desenvolvimento crítico e o empoderamento do praticante (DEL VECCHIO; FRANCHINI, 2006; ROGERIO, 2008). Atualmente, oriundas desta vertente, algumas modalidades recebem certo destaque em sua po- pularidade. Dentre as chinesas estão o Wushu, o Kempô, o Tai chi chuan e o Sanshou. Enquanto das japonesas destacam-se o Sumô, o Kendô, o Aikidô, o Caratê, o Jiu-Jitsu tradicional (ou Inter- 60 LUTAS nacional) e o Judô. Já entre as coreanas destacam- -se o Hapkidô e o Taekwondo. Por fim, apresen- ta-se, também, o Muay-Thai como representante da Tailândia. Vale destacar que destas o Judô e o Taekwondo fazem parte dos jogos Olímpicos da era moderna, sendo que o Caratê será inserido no quadro de 2020. Já mencionei anteriormente que o termo “Artes Marciais” pode ser traduzido por Arte da Guerra e tem origem ocidental. No contexto oriental, ou- tros termos com significado semelhante recebem destaque como, por exemplo, o Wushu, na China, e o Bujutsu, no Japão. Atualmente, o termo mais frequente no Japão é o Budô, que associa a filoso- fia do budismo e recebe um caráter mais voltado ao processo de formação, podendo ser traduzido como “Caminho ou via marcial”. Lembre-se, ainda, SAIBA MAIS EDUCAÇÃO FÍSICA 61 Neste tópico, você foi levado a refletir sobre o de- senvolvimento das lutas na perspectiva oriental, que apresenta, ainda hoje, forte ligação com fato- res tradicionais e com um sistema de ensino rígi- do e autoritário. Por outro lado, percebe, também, que existe uma preocupação voltada não apenas pela aquisição de proficiência nos gestos e golpes, mas também pelo caminho a ser percorrido para se tornar guerreiro (Budô) e a valores de cunho comportamental e social. que o termo Kung Fu, popularmente utilizado no ocidente, significa “trabalho duro” ou aquilo que é conquistado com esforço, não sendo limitado apenas às lutas, o termo adequado para relacionar ao que envolve combates, portanto, é o Wushu. Fonte: adaptado de Paiva (2015). 62 LUTAS HISTÓRICO DAS LUTAS NA PERSPECTIVA OCIDENTAL Caro(a) aluno(a) depois de viajar pelo tempo, dos primórdios aos dias atuais a partir da ótica das Lu- tas, Artes Marciais e Modalidades Esportivas de Combate, estudamos, no tópico anterior, o modo como as lutas se desenvolveram pelas influências advindas, principalmente, do sul da Ásia. Neste tó- pico, vamos usar uma abordagem semelhante, mas agora seguindo em direção à Europa e, posteriormente, a América do Norte. Conforme mencio- nei anteriormente, as vertentes grega e roma- na acabam por influen- ciar mais fortemente o de- senvolvimento de práticas de EDUCAÇÃO FÍSICA 63 combate na Europa (POLIAKOFF, 1987). Ainda na Idade Antiga, que se estende até a queda do im- pério romano, a luta grega recebe forte influência do Wrestling (aqui sinônimo de luta) egípcio. Na Grécia, ainda no século 8 a.C., iniciam-se os Jogos Olímpicos da Antiguidade que, dentre outras mo- dalidades, continham o boxe, a luta (Wrestling) e uma modalidade chamada Pankration, que apre- sentava características de agarre e de impacto, de modo semelhante ao Mixed Martial Arts (MMA, Artes Marciais Misturadas) que conhecemos hoje (PAPANTONIOU, 2008; POLIAKOFF,1987). Mesmo com uma caracterização que remete ao que hoje conhecemos como Esporte, as práticas na Grécia Antiga apresentavam elevado teor reli- gioso, ou seja, inicialmente, competir era, na ver- dade, um modo de prover oferendas aos deuses, em especial a Zeus (PAPANTONIOU, 2008). Digo 64 LUTAS inicialmente, pois acaba sendo crescente o ato de competir pela glória de vencer em si, conquistada pela nobreza das competições. Uma luta de boxe na Grécia Antiga não apresen- tava categorias de peso ou rounds e o objetivo era golpear o adversário até que este fosse a knockout ou desistisse levantando um dedo (MURRAY, 2008). Vestindo apenas as luvas, aos lutadores não era per- mitido morder, agarrar ou arranhar (POLIAKOFF, 1987), ao passo que a permissão de chutes ainda é discutida pelos historiadores (MURRAY, 2008). Estas práticas avançam na história e parecem ficar ainda mais violentas quando praticadas na Roma Antiga, momento no qual é inserido o Caestus, uma espécie de luvas com componentes de metal que aumentam substancialmente a brutalidade das lutas (MURRAY, 2008; PEATFIELD, 2007). EDUCAÇÃO FÍSICA 65 Ao avançar da histó- ria no século 2 a.C. ocor- re, em Roma, o primeiro combate documentado entre gladiadores, prá- tica que atingiria seu auge com a inauguração do Coliseu em meados de 72 d.C. e permanece- ria em alta por mais 300 anos. As técnicas e ar- mas de combate seguem a evoluir e as práticas europeias de lutas ganham um caráter ainda mais esportivo, inicialmente com os cavaleiros durante a era medieval e depois com o pugilismo na Ingla- terra (entre 1000 e 1800 d.C.). Em 1896, ocorre a primeira edição dos Jogos Olímpicos da Era Mo- 66 LUTAS derna e já nesta edição estão presentes a Luta e a Esgrima. Nos Jogos de Atenas, em 1908, é inseri- do o boxe no programa olímpico. Deste ponto em diante, após o fim da II Guerra Mundial, ocorre uma interação maior entre Oriente e Ocidente, e o Judô (1972) e o Taekwondo (2000) são inseridos como modalidades olímpicas. Novamente reforço que essa contextualização histórica é importante para que possamos enten- der algumas diferenças relevantes quanto à evo- lução das Lutas, Artes Marciais e Modalidades Esportivas de Combate. No entanto, conforme fa- lamos no tópico anterior, a sua dúvida, neste pon- to, provavelmente tem algo a ver com: mas de que modo estas práticas ocidentais se diferenciam das orientais? De que modo o modelo de ensino se apresenta neste contexto? EDUCAÇÃO FÍSICA 67 Bom, enquanto no modelo Oriental o Sistema predominante era o Iemoto, no qual o professor (Sensei) era detentor do conhecimento que ia além da prática corporal e avançava para fatores filosó- ficos; no modelo Ocidental, as características são diferentes. O professor não precisava (e ainda não precisa) ser, necessariamente, alguém que passou por um processo de graduação e atravessou um mar de hierarquias e graduações. Também não pre- 68 LUTAS cisava dominar a arte da meditação e este não tem, necessariamente, poder sobre o aluno submisso. O “Professor” das modalidades da Grécia Antiga, por exemplo, era chamado do “Paidotribo” e normal- mente era um ex-campeão que passava adiante seus conhecimentos sobre as técnicas das modalidades, somado a algumas noções de terapias e medicina (DEL VECCHIO; FRANCHINI, 2006; POLIAKO- FF, 1987). Mais uma vez, a participação do aluno é nada reflexiva, é coadjuvante e se limita à imitação dos gestos executados pelo indivíduo mais expe- riente (DEL VECCHIO; FRANCHINI, 2006). Independentemente da sociedade, geografia ou data, os seres humanos lutam desde sua origem, seja por fins bélicos, status social, poder, estética, aptidão física, religião ou por fins espirituais. REFLITA EDUCAÇÃO FÍSICA 69 Nestes dois últimos tópicos, vimos que, apesar das diferentes perspectivas de evolução das Lutas, Ar- tes Marciais e Modalidades Esportivas de Comba- te, seja no ocidente ou no oriente, os modelos de ensino parecem não atender às demandas peda- gógicas atualmente sugeridas. Na próxima unida- de, discutiremos, de modo mais aprofundado, as consequências disso e as alternativas para o ensi- no das lutas em diferentes contextos. 70 LUTAS AS LUTAS NO BRASIL Agora que você já teve um panorama internacional da origem e da evolução das Lutas, Artes Marciais e Esportes de Combate, faz-se necessário conhe- cer algumas características destas práticas corpo- rais associadas à cultura brasileira. EDUCAÇÃO FÍSICA 71 Você já se perguntou se existem Lutas original- mente brasileiras? Se sim, é possível que a Capo- eira tenha vindo à sua mente. Mas você sabia que existem outras modalidades que podem ser consi- deradas como tendo sua origem por aqui? Obvia- mente, por ter acompanhado os tópicos anterio- res, você sabe que, de algum modo, as Lutas que se originaram no Brasil apresentam influências de civilizações anteriores, já que a prática de com- bates corporais é constante em toda história da humanidade. Mas existem práticas que sofreram influência local a ponto de terem sido “naturali- zadas” brasileiras? A resposta é sim. E o objetivo deste tópico será abordar estas modalidades e sua relação com a nossa cultura. 72 LUTAS CAPOEIRA A Capoeira está fortemen- te associada à cultura e à his- tória afro-bra- sileira. Em uma época na qual a escravidão e o tráfico de pessoas eram permitidos, negros trazidos da África eram submetidos ao tra- balho árduo de sol a sol, com sessões de tortura frequente a base de chicotadas (entre outras estra- tégias de tortura) e alimentação limitada. Um dos objetivos dessas ações pelo regime escravocrata era de limitar o potencial de rebelião destes escra- vos. Sem armas ou qualquer outro meio de defesa, em um determinado momento, grupos de negros escravizados passam a praticar uma modalidade EDUCAÇÃO FÍSICA 73 de luta baseada em movimentos de animais e em práticas de luta africana. Inicialmente praticada às escondidas, já que havia tortura adicional quando a prática era percebida. Elementos de jogos, brin- cadeira e dança (outros componentes da cultura do movimento humano) foram adicionados, a fim de mascarar em forma de ritual o que se tratava de uma prática de aprimoramento técnico e físi- co. Neste ponto, o Berimbau, instrumento carac- terístico que dá ritmo à Capoeira, torna-se ponto chave, visto que, dependendo do modo como era tocado, indicava se a prática deveria ser “suaviza- da” ou se podia seguir sem limitações (FRIGEI- RO, 1989; SENNA, 1980). Mesmo após a abolição da escravatura, em 1888, os capoeiristas seguiram sendo marginalizados e perseguidos, o que chegou ao ponto de gerar proi- bição por lei com pena de 2 a 6 meses de prisão 74 LUTAS a quem fosse visto fazendo “capoeiragens”. Esta proibição só seria revista na década de 30, com a liberação da prática vigiada e em locais fecha- dos que tivessem alvará. Inicialmente classificada como “Arte Marcial Brasileira” pela sua proximida- de com golpes de modalidades asiáticas com pre- dominância de utilização dos membros inferiores, atualmente (desde 1972) a capoeira pode ser en- tendida (também) como modalidade esportiva de combate, por atender aos preceitos que você co- nheceu no início desta unidade (FRIGEIRO, 1989; SENNA, 1980). Para além disso, você, na posição de docente, pode abordar a Capoeira em sua ex- pressão mais ampla, que não se limita ao esporte, mas que avança para fatores culturais e folclóricos que envolvem a dança, a música, a arte, a religião e, em especial, a luta entre classes sociais. EDUCAÇÃO FÍSICA 75 HUKA-HUKA A luta Huka-Huka é de origem indígena, de modo mais específico, é praticada pelos índios do Alto Xingu, localizado no estado do Mato Grosso. A modalidade de agarre tem por objetivo projetar o oponente ao solo, sendo vencedor, ainda, o lutador que agarrar a região posterior da coxa do adversá- 76 LUTAS rio, levantá-lo do solo ou ficar sobresuas costas. Além das competições, o Huka-Huka faz parte do Quarup (ritual de homenagens a mortos ilustres), encerrando o ritual (GUERREIRO, 2015). Infelizmente, as informações científicas sobre a modalidade são escassas, mesmo assim gosta- ria de propor uma reflexão sobre o significado da prática do Huka-Huka para estas tribos. Jo- vens que objetivam se tornar líderes ou grandes campeões passam por uma preparação específica que envolve alimentação especial, ensinamentos dos mais velhos, treinamentos intensos e diários, além de longos períodos de reclusão (chegando a 6 anos) e o adiamento do início da vida sexual até que este se torne um grande lutador (MADEI- RA, 2006; PAIVA, 2015). A relação destas práticas com o passado da tribo e com a espiritualidade as- sociada aos seus deuses parece remeter ao que foi EDUCAÇÃO FÍSICA 77 visto junto aos primórdios do início das práticas de luta, apesar de que, atualmente, a modalidade ganha características esportivas, mas tem por ob- jetivo manter viva a memória dos ancestrais e dos tempos de guerra, mantendo, ainda, os indivíduos em constante preparação. AGARRADA MARAJOARA A Agarrada Marajoara é uma modalidade de com- bate típica da região norte do Brasil, de modo mais específico no arquipélago do Marajó, no Estado do Pará. Com elementos semelhantes ao Huka-Huka, a Agarrada Marajoara é, também, uma luta de agar- re, em que o objetivo é sujar as costas do oponente ao promover contato com o solo. Teoriza-se que a origem da modalidade tem ligação com a observa- ção do modo como os búfalos da região lutavam. 78 LUTAS A prática apresenta rela- ção altamente íntima a outros elementos cul- turais do local, sendo prati- cada, em sua maioria (98%), pelo homem do campo marajoara, em geral vaqueiros que declaram recorrer a santos protetores, o que denota a conexão entre a práti- ca desportiva com fatores religiosos e espirituais (ASSIS; PINTO; SANTOS, 2017). A prática ain- da se mostra tão fortemente ligada ao cotidiano do povo local que, além da prática de treinamento para os eventos competitivos institucionalizados, os indivíduos chamados “caboclos” utilizavam-na ao final do dia para aquecer o corpo antes do ba- EDUCAÇÃO FÍSICA 79 nho. Eles declaram, ainda, que a prática foi criada localmente em função do ambiente de luta e re- conhecem como elemento cultural da região, jun- tamente a outros elementos conhecidos como as ervas medicinais, o artesanato e o Círio de Nazaré. O Brasil ainda apresenta um papel importante no de- senvolvimento de outras modalidades de combate, a exemplo do Jiu-Jitsu que se tornou Brazilian Jiu-Jitsu ao ser adaptado pela família Gracie e recebe, hoje, popu- laridade internacional reconhecida como modalidade brasileira. Por outro lado, diferentemente das três mo- dalidades estudadas neste tópico, o Brazilian Jiu-Jitsu carrega, ainda, uma identidade cultural fortemente oriental, que pode ser vista pela indumentária de prá- tica (Gi ou Kimono) e pelos termos frequentemente utilizados em idioma japonês, como a expressão “Oss” que significa “perseverança sob pressão” e frequen- temente é utilizada como sinônimo de “sim senhor”. Fonte: Gracie (2008). SAIBA MAIS 80 LUTAS Seja Capoeira, Huka-Huka ou Agarrada Marajoa- ra, fica evidente que essas modalidades de comba- te fazem parte da identidade cultural brasileira de modo muito particular. Deste modo, convido você a pensar a prática de lutas não apenas no aspecto técnico e esportivo, mas ministrar aulas que rela- cionem os conteúdos de modo a inserir os com- ponentes sócio-culturais e propor reflexões que transcendam aos fatores tecnicistas. EDUCAÇÃO FÍSICA 81 considerações finais 82 Nesta unidade, foi possível estudar o modo como surgem e evoluem as lutas de modo associado à evolução humana, não só biológica, mas, princi- palmente, como seres sociais. Além disso, você deve ser capaz de entender a terminologia deba- tida e identificar as diferentes expressões destas práticas de combate. Por outro lado, não existe necessidade real de classificar uma prática espe- cífica como Luta, Arte Marcial ou Modalidade de Combate, o que existe é a necessidade de contex- tualizar o que será abordado de acordo com uma destas perspectivas. É importante que você identifique, nos tópicos abordados, que as práticas corporais de comba- te sempre estiveram presentes, desde a sociedade mais primitiva até a mais evoluída. Negar a rela- ção da luta com nossa história parece ser seme- lhante a reprimir instintos que são naturalmente considerações finais 83 humanos, o que, teoricamente, poderia desenca- dear situações extremas que geram conflitos e bri- gas. Ao contrário, vivenciar e conhecer o dano que pode ser causado e recebido em embates corpo- rais pode aumentar a capacidade do indivíduo de avaliar quando entrar ou não em confronto. Atualmente, as práticas de combate receberam uma conotação “esportivizada”, mas você, sendo professor/profissional de Educação Física, não deve se limitar aos Esportes de luta. Nesta unida- de, você pôde perceber que Lutar apresenta relação com significados filosóficos, sociais e culturais que não devem ser esquecidos. Evitar práticas pouco reflexivas e contextualizá-las pode aumentar o in- teresse e o fascínio dos alunos. As estratégias para fazer isso serão apresentadas ao longo da próxima unidade, mas já adianto que tematizar as aulas de lutas pode ser uma escolha inteligente para esti- atividades de estudo 84 mular o componente lúdico e a fuga da realidade. Por fim, são apresentados elementos que permi- tem que você associe estes conteúdos a outras dis- ciplinas em uma abordagem interdisciplinar. atividades de estudo 85 1. Os termos nominais para lutas são fundamentais para au- mento da visibilidade dos artigos científicos relacionados à temática, sugerindo que estes (e outros) podem ser utiliza- dos sem discriminação, como potencial especificação des- tas modalidades esportivas. Sobre terminologia aplicada às Lutas, assinale a alternativa correta. a. Estes termos são sinônimos. b. Lutas não têm relação com fatores culturais. c. Artes Marciais e guerras são sinônimos. d. Modalidades esportivas de combate e jogos de oposição são sinônimos. e. Nenhuma das anteriores. 2. A presença de rituais de luta podem ter diferencia- do os primeiros Homo Sapiens de outros humanos primitivos e contribuído para que estes prosperas- sem. Os primeiros relatos de expressões corporais relacionadas às lutas remetem a: a. Índia. b. Grécia. c. África antiga. d. China antiga. e. Egito antigo. atividades de estudo 86 3. A histórica das lutas é muito importante para que possamos entender algumas diferenças relevantes quanto à evolução das diferentes modalidades que as envolve. Principalmente, os modelos metodológi- cos empregados. Assinale a alternativa que não cor- responde à característica do sistema Iemoto: a. Relação professor-aluno de pura submissão, na qual o professor é detentor de todo conhecimen- to e não deve ser questionado. Ao aluno também não é permitido trocar de professor/equipe. b. Hierarquia inexistente, que permite que o aluno permaneça tempo suficiente, progrida de gra- duações e tenha seus próprios alunos, mas sem necessidade de tutela de seu “mestre”. c. Autoridade do Iemoto, que indica que o mestre mais graduado é responsável por toda a organi- zação e do licenciamento dos futuros mestres, gerindo as graduações superiores. d. Relação pseudoconexão, que se refere ao fato de se procurar manter a relação dos diri- gentes das associações sob tutela de descen- dentes identificáveis do criador original. atividades de estudo 87 4. As Lutas que se originaram no Brasil apresentam in- fluências de civilizações anteriores, já que a prática de combates corporais é constante em toda histó- ria da humanidade. No Brasil, três modalidades re- cebem destaque, o Huka-Huka, a agarrada Marajo- ara e a Capoeira. Das modalidades citadasa seguir, indique qual recebeu grande contribuição a ponto de ser internacionalmente conhecida brasileira. a. Judô. b. Boxe. c. Muay-Thai. d. Jiu-Jitsu. e. Karatê. 5. Nos dias atuais, as práticas de combate receberam uma conotação “esportivizada”, o que não deve se limitar aos Esportes de luta e suas origens históri- cas. Indique as principais diferenças que podem ser percebidas ainda hoje nas modalidades de comba- te, de acordo com sua origem oriental ou ocidental. 88 LEITURA COMPLEMENTAR LUTAS COMO CULTURA CORPORAL E A EDUCAÇÃO FÍSICA Partindo de que os movimentos naturais do ser humano (andar, correr, saltar, trepar, nadar, etc.) sejam inerentes ao ser humano pré-histórico, provavelmente, o primeiro gesto abstraído, pen- sado, tenha sido aquele ligado a gestos de defesa ou de ataque. Quando pensamos em lutas, não podemos deixar de citar as Artes Marciais. Entendemos por artes marciais as formas de lutas praticadas e guiadas por princípios religiosos e/ou filosóficos. Também aquelas formas de lutas que tenham sido usadas comprovadamente em conflitos de guerra. Aqui se encaixam os exemplos de lutas orientais indianas, chinesas, japonesas e coreanas. 89 Devemos salientar que, em algum momento, a maioria das modalidades tratadas a seguir foram consideradas artes marciais, pois foram criadas para guerra, mas estamos contextualizando a par- tir da atualidade, após sistematizações para se tornarem esporte para possíveis práticas com cun- ho educacional e competitivo, sendo agregadas re- gras para praticantes de todos os gêneros e faixa etária sem distinção. Assim, sua caracterização é por maior predominância, atualmente, podendo ser categorizada em uma classificação de luta. Hoje, quando pensamos em ataque e defesa, car- acterizamos da seguinte maneira. As técnicas de ataque e defesa são formas abreviadas de Artes Marciais aplicadas de forma prática por profis- sionais de segurança (agentes de segurança do metrô, seguranças pessoais), formas de combate corpo-a-corpo desenvolvida por policiais militares 90 LEITURA COMPLEMENTAR e soldados das forças armadas. Também são for- mas de técnicas de ataque e defesa as lutas cria- das para este fim. Exemplo disto é a luta israelense conhecida como Krav-maga. As lutas folclóricas e/ou culturais são aqui con- ceituadas por aqueles folguedos feitos por uma cultura ou país com características de confronto, pertencente à tradição de determinado país. As- sim, poderíamos dizer que existe, para cada país, uma formas de luta típica. Por exemplo: Damnyè ou Ladja da Martinica, no Caribe. O Many de Cuba. Cheibi gad ga de Manipur na Índia, Chausson ou Savate francês, Escrima ou Arnis das Filipinas, Kra- bi-krabong e Muay thai da Tailândia, Guresh da Turquia, Glima da Islândia, Pentjak silat da Indoné- sia, Gouren Bretão e o Uka uka de índios no alto Xingu, entre outros. Também podemos enquadrar como lutas folclóri- cas e culturais as brincadeiras infantis, realizadas 91 em forma de confronto. Enquadram-se, aqui, os desafios de cabo de guerra, desafios de dese- quilíbrio, as brigas de galo, e outros, típicos dos conteúdos das aulas de Educação Física infantil. Algumas modalidades de lutas foram tão difun- didas que acabaram se esportivizando. Sendo as- sim, por esporte de combate entendemos as Artes Marciais que se tornaram competitivas, tais como o Judô e o Taekwondô. Para se tornarem modali- dades esportivas, foi necessário minimizar de al- guma maneira sua forma de execução tradicional, criando-se regras para as competições. Também podemos entender por esporte de com- bate as lutas historicamente feitas nos Jogos Olímpi- cos, tais como boxe, luta olímpica e greco-romana. Estas últimas derivadas do antigo Pankracio grego, luta realizada nos Jogos Olímpicos da antiguidade. Ainda como esporte de combate entendemos como as lutas criadas para competição. Exemplos 92 LEITURA COMPLEMENTAR são o Full Contact e o Kick boxing. O primeiro cria- do na década de 70 quando caratecas americanos criaram regras específicas para competições des- ta modalidade. Já o Kickboxing é uma junção de técnicas de chutes ao boxe tradicional.” Fonte: Oliveira, Rodrigo e Suzuki (2009). material complementar 93 Olhar Clínico nas Lutas, Artes Marciais e Modalidades de Com- bate Leandro Paiva Editora: OMP Sinopse: o livro Olhar Clínico nas Lutas é uma obra completa com informações in- éditas sobre o universo das Lutas e Artes Marciais. Pode ser compreendido em duas partes macro. A primeira abrange a área de Preparação Física, Nu- trição (perda de ‘peso’), Psicologia e Medicina Es- portiva. A segunda, História, Antropologia, Socio- logia e História da Arte. Completamente em cores e escrito em linguagem bem acessível, aguça a cu- riosidade de qualquer indivíduo, quer seja aficio- nado, fã, pesquisador, universitário, atleta, prat- icante, técnico ou outro profissional, até mesmo se estiver deparando pela primeira vez com esta área. Após o lançamento no Rio de Janeiro, o livro foi aclamado pelos críticos e é forte candidato ao Prêmio Jabuti - 2016. Indicação para Ler material complementar 94 Terra de luta Ano: 2017 Sinopse: o documentário faz uma viagem pelas origens da luta no Brasil, partindo dos pri- meiros registros arqueológicos pré-históricos encontrados no Brasil, na Serra da Capivara (PI); passando pela Huka-Huka dos ín- dios do Xingu, no Mato Grosso; pela Luta Mara- joara, da Ilha de Marajó (PA), até a Capoeira em Salvador (BA). Indicação para Assistir referências 95 ASSIS, J. W. P.; PINTO, R. F.; SANTOS, C. A. S. A Agarrada Marajoara como manifestação de iden- tidade cultural da ilha do Marajó, Pará. Lecturas- -EFDeportes, p. 1–7, 2017. BRASIL, S. D. E. F. Parâmetros Curriculares Na- cionais: Introdução aos Parâmetros Curriculares Nacionais. Ministério da Educação (MEC), 1997. CALLOIS, R. Man, Play and Games. Chicago: University of Illinois Press., 2001. CHEEMA, B. S. et al. The feasibility and effective- ness of high-intensity boxing training versus mo- derate-intensity brisk walking in adults with abdo- minal obesity: a pilot study. BMC Sports Science, Medicine and Rehabilitation, v. 7, n. 1, p. 3, 2015. CORREIA, W. R.; FRANCHINI, E. Produção acadêmica em lutas, artes marciais e esportes de combate. Motriz. Revista de Educacao Fisica, v. 16, n. 1, p. 1–9, 2010. CURBY, D. G.; JOMAND, G. 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ENSINO DE LUTAS Professor Dr. Victor Silveira Coswig unidade II INTRODUÇÃO Apesar de ser altamente indicado por diferentes diretrizes de ensino da Educação Física, sabe-se que o ensino das lutas neste contexto é extrema- mente raro. Infelizmente, outros conteúdos são “preferidos” e, normalmente, envolvem modali- dades esportivas coletivas, como futebol, futsal, handebol, basquetebol e voleibol. Nos piores ce- nários, as modalidades coletivas dominam a tota- lidade das aulas de Educação Física, ainda em uma perspectiva na qual a Educação Física se confunde com o ensino de esportes. Além disso, esporte é apenas uma das dimen- sões da cultura do movimento humano, ao lado dos jogos, ginástica, dança e as lutas. Por isso, não são apenas as lutas que acabam por receber me- INTRODUÇÃO nor atenção do que o ideal. É possível perceber essa disparidade, inclusive, em programas gover- namentais, como o Segundo Tempo, ou ainda, em diretrizes com a Base Comum Curricular. Para ter como exemplo, no primeiro, existem sugestões sobre modalidades “para aprender” e modalida- des “para conhecer”. Não surpreende que aquelas que estão na primeira categoria são usualmente coletivas, enquanto as lutas se apresentam (quan- do muito) na segunda. Mas você provavelmente já conhece essa reali- dade. Se pergunte quantas aulas de lutas você teve no ensino fundamental e médio. Agora faça este mesmo exercício com a turma. Caso vocês estejam na média do que se conhece do ensino no Brasil, poucos indicarão contato com as lutas e, destes, serão relatos sobre atividades isoladas. Nesta unidade, vamos problematizar estes as- pectos e o modelo vigente de ensino de luta. Além disso, é objetivo dar condições teóricas e indica- ções diretas sobre como modificar essa realidade! Vamos lá! 108 LUTAS O Ensino das Lutas e a Educação Física EDUCAÇÃO FÍSICA 109 Caro(a) aluno(a), permita-me iniciar este tópico com algumas provocações sobre o ensino das lu- tas. Primeiramente, gostaria de perguntar sobre sua opinião quanto ao ensino das Lutas na Edu- cação Física Escolar. Você acredita que ensinar lutas na escola é algo positivo ou apresenta mais riscos do que benefícios? E quanto ao ensino de lutas para crianças e jovens fora do ambiente esco- lar? É algo a ser estimulado ou os fatores negativos são maiores que os positivos? Neste tópico, vamos aprofundar nestas questões, em especial, focando nos benefícios e riscos da utilização do conteúdo lutas na Educação Física. Se você respondeu às perguntas anteriores de acordo com o senso comum e de acordo com grande parte dos Professores de Educação Física, possivelmente indicou que existem riscos que se sobrepõem aos benefícios acerca da aplicação de 110 LUTAS lutas na escola. Por outro lado, possivelmente tam- bém indicou que, fora da escola, a prática apresen- ta mais benefícios do que riscos, e que pode ajudar a disciplinar os alunos (entre outros benefícios). Mas por que existe essa contradição? Por que lu- tar fora da escola parece ser interessante enquanto que, no ambiente escolar, ficamos cheios de “de- pendes”. Se você me permite, ainda vou além. Bus- que na memória seu histórico com Lutas e Edu- cação Física Escolar, compartilhe essas memórias com seus colegas, amigos e familiares. Possivel- mente poucas pessoas participaram de atividades de lutas na escola (lembre-se que luta é diferente de briga) e, quando houve, provavelmente foi por meio de alguma atividade com professores de mo- dalidades esportivas de combate convidados. Isso nos leva a outra questão: para dar aula de lutas, na escola, o professor precisa ter experiência com EDUCAÇÃO FÍSICA 111 Modalidades Esportivas de Combate? No decor- rer desta aula vou tentar ajudar você a encontrar argumentos que lhe permitam responder a todas essas questões. Vamos lá! De acordo com um estudo feito no sul do Brasil, as contradições acerca do tema parecem ser profundas (FONSECA; FRANCHINI; DEL VECCHIO, 2013). Neste trabalho, dos 69 docen- tes entrevistados, apenas 6,25% indicou que a prá- tica de lutas na escola é inadequada, o que eu e A ritualização ou tematização das Lutas pode sig- nificar “brincar de fazer como se fosse”, sem vio- lência, já que esta não faz parte do jogo e fazê-lo seria acabar com a brincadeira. (Jean-Claude Olivier) REFLITA 112 LUTAS você entendemos como algo positivo. Por outro lado, desses mesmos docentes, 91,3% indicou não contemplar lutas como conteúdo de suas aulas e, quando o faziam, era por meio de atividades lú- dicas, vídeos ou por um especialista convidado. Outra pesquisa indica que, dentre as práticas ofer- tadas nas disciplinas de educação física, 93% en- volve Futebol/Futsal, 90% jogos, 75% Handebol, 70% Voleibol, 60% Dança, Ginástica e Atletismo, 40% Basquetebol, enquanto Lutas aparece com 14%, atrás, até mesmo, da opção “outros”, que fica com 30% (VIEIRA; SOUZA, 2007). E como isso se justifica? Os argumentos são diversos, mas aca- bam envolvendo, de modo geral, a falta de estru- tura, a falta de preparação específica do professor, resistência dos pais e o risco de promover situa- ções violentas, além, é claro, daqueles que indicam que o conteúdo Lutas é inapropriado para esco- EDUCAÇÃO FÍSICA 113 las (FONSECA; FRANCHINI; DEL VECCHIO, 2013; REGO; FREITAS; MAIA, 2011; VIEIRA; SOUZA, 2007). A partir de agora, convido você a aprofundar cada um desses argumentos. FALTA DE ESTRUTURA FÍSICA A ausência de estrutura e material adequado fa- zem parte da realidade dos professores de Edu- cação Física. Mas será que isso impede a rea- lização de práticas de combate?Se, para você, a prática das atividades de luta na escola remete à prática esportiva, você deve estar calculando que, para uma atividade destas, você precisaria de roupas adequadas (Ki- 114 LUTAS mono, Gi, Dobok etc.), protetores (capacetes, ca- neleiras, luvas e bucais) e piso adequado (Tatame). Mas se você lembrar da classificação do termo luta na unidade anterior, perceberá que existem possi- bilidades para além das propostas esportivas e que não exigem materiais tão específicos (OLIVIER, 2000). De fato, muitas das atividades de luta não precisam, sequer, de material, outras são possíveis apenas com lenços, prendedores de roupas e cor- das. Em último caso, para vivências mais especí- ficas, visitas a espaços de treinamento podem ser uma estratégia interessante. FALTA DE PREPARAÇÃO ESPECÍFICA DO PROFESSOR O professor de Educação Física precisa ter sido lu- tador ou ser um faixa preta para ministrar suas aulas de lutas na educação física escolar? Não, não EDUCAÇÃO FÍSICA 115 precisa. Um estudo interessante comparou o pon- to de vista de três professores: a. Professor/Treinador de Modalidades Esporti- vas de Combate em ambientes não-escolares. b. Professor de Educação Física em escola, mas sem experiência pessoal com lutas. c. Professor de Educação Física em escola com experiência pessoal com lutas. Os achados, apesar de preliminares, indicam que, enquanto o professor/treinador (a) sugere foco em aspectos técnicos, específicos e que especializam os alunos, o professor (b) aborda as Lutas como con- teúdo da cultura corporal, de modo que mantém presente reflexões sobre brigar e lutar, sobre valo- res e sobre aspectos históricos, sociais e filosóficos dessas práticas. Além disso, o professor (b) ressalta a lógica não necessariamente pelo aprimoramen- 116 LUTAS to de gestos técnicos, mas pela relação dos movi- mentos na composição do leque motor dos alunos (SO; BETTI, 2009). De modo geral, a experiência do professor poderia até mesmo prejudicar sua vi- são mais ampla de conteúdo, limitando o conteúdo Lutas ao que se relaciona às suas particularidades. EDUCAÇÃO FÍSICA 117 LUTAS E VIOLÊNCIA NA ESCOLA Como vimos, apesar de não ser o pensamento da maioria dos docentes, a prática de Lutas para crianças ainda é vista como possível catalisado- ra de ações violentas (FONSECA; FRANCHINI; DEL VECCHIO, 2013; REGO; FREITAS; MAIA, 2011; VIEIRA; SOUZA, 2007). Mas será que isso reflete a realidade? Alguns desses indivíduos indi- cam que depende da abordagem do professor. Pois bem, inicialmente vamos diferenciar uma briga de uma brincadeira de luta? De acordo com Marques (2010), as características de cada uma destas situa- ções se mostram de acordo com o quadro a seguir: 118 LUTAS Quadro 1 - Jogo de luta versus Luta a sério Dimen- sões Jogo de luta Luta a sério Com- porta- mento Movimentos vi- gorosos (bater, caçar), sem con- tatos, ou com as mãos abertas. Movimentos vi- gorosos com contato físico vo- luntário e inten- cional. Afetivi- dade Positivo, faces sorridentes, re- laxadas, boca aberta (face de jogo). Negativo, faces franzidas, boca fechada (dentes cerrados). Conse- quên- cias Ficam juntos após a luta. Afastam-se após a luta. Estrutu- ra As crianças alter- nam os papéis de caçador e caça. Sem mudança de papéis. Nº de alunos Pode envolver vá- rias crianças em simultâneo. Quase sempre acontece entre duas crianças. EDUCAÇÃO FÍSICA 119 Ecologia Frequentemente acontece em su- perfícies macias. Acontece em qualquer área. Obser- vadores Não tem obser- vadores. Atrai muitos ob- servadores. Fonte: Marques (2010). Percebe-se, portanto, que as situações são ampla- mente diferentes e a distinção entre elas não é di- fícil, facilitando, assim, o julgamento de quando intervir ou não. E o jogo de luta pode levar à briga? Segundo Olivier (2000), a proposta é justamente o inverso. Em um mundo informatizado, é perceptível que a prática de lutas é frequentemente associada à re- solução de conflitos sociais, vide novelas, filmes, telejornais e a própria convivência em comuni- dade. Por outro lado, torna-se papel do professor de Educação Física e da escola desmistificar esta ideia e transformar as brigas em jogos de luta que 120 LUTAS sejam regrados, relacionados aos valores ineren- tes às práticas corporais e reflexivo, no sentido controle da agressividade e o conhecimento desta ação oposta do outro. De modo adicional, a ciência têm confirma- do a hipótese de que a prática de Lutas parece reduzir e não aumentar a violência. Uma meta- -análise recente, realizada a partir de 9 estudos que reuniram 507 crianças de 6 a 18 anos, mos- trou que a prática de Artes Marciais reduziu o comportamento antissocial e de externalização e promoveu maior autocontrole, autoconfian- ça, autoestima e estabilidade emocional (HA- RWOOD; LAVIDOR; RASSOVSKY, 2017). No mesmo sentido, outra pesquisa investigou o efeito da prática de Artes Marciais em relação à práticas de bullying. Os achados indicam que aqueles alunos que mais frequentaram as ativi- EDUCAÇÃO FÍSICA 121 dades de luta apresentaram a menor frequência de agressões e a maior frequência de compor- tamento de suporte (ajuda a quem é vítima de bullying). Os autores relacionaram os resulta- dos à melhoria de empatia e ao autocontrole, além de estratégias pacificadoras (TWEMLOW et al., 2008). Tomando estes argumentos em conjunto, perce- bemos que existe a possibilidade de qualificar o ensino das lutas, especialmente para crianças. Mas talvez tudo isto ainda pareça um pouco abstrato para você. Por isso, adianto aqui um exemplo que será aprofundado nos próximos tópicos: Imagine que você solicita aos alunos que formem duplas e que fiquem de frente para o colega. Ao seu sinal o objetivo do aluno será tocar em um dos ombros do seu adversário que, obviamente, irá ten- SAIBA MAIS 122 LUTAS tar defender e contra-atacar. Esta atividade ocorre entre duas ou mais pessoas? (Sim!). Apresenta ata- que e defesa de modo mútuo e simultâneo? (Sim!). O objetivo é ou está no corpo do oponente? (Sim!). Portanto é Luta! E quanto material especial você precisaria para executar esta atividade? O quanto de conhecimento específico de gestos e golpes você precisará ensinar? Será que um pai/mãe proibiria esta prática? Será que esta é realmente uma prá- tica que estimula a violência? Fonte: o autor. EDUCAÇÃO FÍSICA 123 Categorizações, Regras de Ação e Jogos de Oposição 124 LUTAS Neste ponto você já avançou consideravelmente no entendimento sobre o conteúdo Luta. Inicial- mente quanto a origem histórica e a evolução ao longo dos séculos na Unidade I e no tópico an- terior quanto a reflexões específicas da aplicação deste conteúdo nas aulas de Educação Física. A partir de agora, pressupondo que você entendeu a importância de inserir esta temática na educa- ção de crianças e jovens, avançaremos para fato- res de instrumentalização, ou seja, vamos focar no “como fazer”. Vamos nessa? Como visto anteriormente, a prática de lutar está inserida na classificação dos jogos, neste con- texto, considere as seguintes manifestações dos jogos, propostas por Callois (2001) e sua relação com as modalidades de combate: Alea: remete-se a fatores que não podem ser controlados pelo jogador, ou seja, o jogador é nor- EDUCAÇÃO FÍSICA 125 malmente passivo e o vencedor é definido por fa- tores associados ao acaso, pelo destino, por sorte. Nestes jogos de azar encontramos relações ape- nas indiretas relacionadas às Lutas. Quando, por exemplo, o lutador depende de um chaveamento por sorteio, quando um apostador investe dinhei- ro ao “adivinhar” quem vencerá ou mesmo quan- do a vitória é alcançada por um motivo diferente do desempenho do lutador (Lesão do oponente, por exemplo). 126 LUTAS Ilynx: remete-se à busca da vertigem, a exemplo de práticas em que crian- ças giram até sentirem tontura. Não será difícil
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