Logo Passei Direto
Buscar

Metodos de Pesquisa Aplicados a Gestão Pública

Ferramentas de estudo

Material
páginas com resultados encontrados.
páginas com resultados encontrados.
left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

Prévia do material em texto

MÉTODOS 
DE PESQUISA 
APLICADOS À 
GESTÃO PÚBLICA
Professor Dr. Éder Rodrigo Gimenes
GRADUAÇÃO
Unicesumar
Acesse o seu livro também disponível na versão digital.
C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação a 
Distância; GIMENES, Éder Rodrigo. 
 
 Métodos de Pesquisa Aplicados à Gestão Pública. Éder 
Rodrigo Gimenes.
 Maringá-Pr.: Unicesumar, 2019. Reimpressão 2020 
 224 p.
“Graduação - EaD”.
 
 1. Métodos. 2. Pesquisa Aplicada. 3. Gestão Pública 4. EaD. I. 
Título.
ISBN 978-85-459-1776-2
CDD - 22 ed. 001.42
CIP - NBR 12899 - AACR/2
Ficha catalográica elaborada pelo bibliotecário 
João Vivaldo de Souza - CRB-8 - 6828
Impresso por:
Reitor
Wilson de Matos Silva
Vice-Reitor
Wilson de Matos Silva Filho
Pró-Reitor Executivo de EAD
William Victor Kendrick de Matos Silva
Pró-Reitor de Ensino de EAD
Janes Fidélis Tomelin
Presidente da Mantenedora
Cláudio Ferdinandi
NEAD - Núcleo de Educação a Distância
Diretoria Executiva
Chrystiano Minco�
James Prestes
Tiago Stachon 
Diretoria de Graduação e Pós-graduação 
Kátia Coelho
Diretoria de Permanência 
Leonardo Spaine
Diretoria de Design Educacional
Débora Leite
Head de Produção de Conteúdos
Celso Luiz Braga de Souza Filho
Head de Curadoria e Inovação
Tania Cristiane Yoshie Fukushima
Gerência de Produção de Conteúdo
Diogo Ribeiro Garcia
Gerência de Projetos Especiais
Daniel Fuverki Hey
Gerência de Processos Acadêmicos
Taessa Penha Shiraishi Vieira
Gerência de Curadoria
Carolina Abdalla Normann de Freitas
Supervisão de Produção de Conteúdo
Nádila Toledo
Coordenador de Conteúdo
Eder Rodrigo Gimenes
Designer Educacional
Patrícia Ramos Peteck
Projeto Gráico
Jaime de Marchi Junior
José Jhonny Coelho
Arte Capa
Arthur Cantareli Silva
Ilustração Capa
Bruno Pardinho
Editoração
Arthur Murilo Heicheberg
Qualidade Textual
Jaqueline Mayumi Ikeda Loureiro
Ilustração
Bruno Pardinho
Em um mundo global e dinâmico, nós trabalhamos 
com princípios éticos e proissionalismo, não so-
mente para oferecer uma educação de qualidade, 
mas, acima de tudo, para gerar uma conversão in-
tegral das pessoas ao conhecimento. Baseamo-nos 
em 4 pilares: intelectual, proissional, emocional e 
espiritual.
Iniciamos a Unicesumar em 1990, com dois cursos 
de graduação e 180 alunos. Hoje, temos mais de 
100 mil estudantes espalhados em todo o Brasil: 
nos quatro campi presenciais (Maringá, Curitiba, 
Ponta Grossa e Londrina) e em mais de 300 polos 
EAD no país, com dezenas de cursos de graduação e 
pós-graduação. Produzimos e revisamos 500 livros 
e distribuímos mais de 500 mil exemplares por 
ano. Somos reconhecidos pelo MEC como uma 
instituição de excelência, com IGC 4 em 7 anos 
consecutivos. Estamos entre os 10 maiores grupos 
educacionais do Brasil.
A rapidez do mundo moderno exige dos educa-
dores soluções inteligentes para as necessidades 
de todos. Para continuar relevante, a instituição 
de educação precisa ter pelo menos três virtudes: 
inovação, coragem e compromisso com a quali-
dade. Por isso, desenvolvemos, para os cursos de 
Engenharia, metodologias ativas, as quais visam 
reunir o melhor do ensino presencial e a distância.
Tudo isso para honrarmos a nossa missão que é 
promover a educação de qualidade nas diferentes 
áreas do conhecimento, formando proissionais 
cidadãos que contribuam para o desenvolvimento 
de uma sociedade justa e solidária.
Vamos juntos!
Seja bem-vindo(a), caro(a) acadêmico(a)! Você está 
iniciando um processo de transformação, pois quan-
do investimos em nossa formação, seja ela pessoal 
ou proissional, nos transformamos e, consequente-
mente, transformamos também a sociedade na qual 
estamos inseridos. De que forma o fazemos? Crian-
do oportunidades e/ou estabelecendo mudanças 
capazes de alcançar um nível de desenvolvimento 
compatível com os desaios que surgem no mundo 
contemporâneo. 
O Centro Universitário Cesumar mediante o Núcleo de 
Educação a Distância, o(a) acompanhará durante todo 
este processo, pois conforme Freire (1996): “Os homens 
se educam juntos, na transformação do mundo”.
Os materiais produzidos oferecem linguagem dialógi-
ca e encontram-se integrados à proposta pedagógica, 
contribuindo no processo educacional, complemen-
tando sua formação proissional, desenvolvendo com-
petências e habilidades, e aplicando conceitos teóricos 
em situação de realidade, de maneira a inseri-lo no 
mercado de trabalho. Ou seja, estes materiais têm 
como principal objetivo “provocar uma aproximação 
entre você e o conteúdo”, desta forma possibilita o 
desenvolvimento da autonomia em busca dos conhe-
cimentos necessários para a sua formação pessoal e 
proissional.
Portanto, nossa distância nesse processo de cresci-
mento e construção do conhecimento deve ser apenas 
geográica. Utilize os diversos recursos pedagógicos 
que o Centro Universitário Cesumar lhe possibilita. 
Ou seja, acesse regularmente o Studeo, que é o seu 
Ambiente Virtual de Aprendizagem, interaja nos fó-
runs e enquetes, assista às aulas ao vivo e participe 
das discussões. Além disso, lembre-se que existe uma 
equipe de professores e tutores que se encontra dis-
ponível para sanar suas dúvidas e auxiliá-lo(a) em 
seu processo de aprendizagem, possibilitando-lhe 
trilhar com tranquilidade e segurança sua trajetória 
acadêmica.
A
U
T
O
R
Professor Dr. Éder Rodrigo Gimenes
Doutor em Sociologia Política pela Universidade Federal de Santa Catarina 
(UFSC), com Mestrado em Ciências Sociais pela Universidade Estadual de 
Maringá (UEM). Segundo Líder do grupo de pesquisa “Cultura Política, 
Comportamento e Democracia” (UEM/CNPq), pesquisador do “Núcleo de 
Pesquisas em Participação Política” (NUPPOL - UEM). Professor permanente 
do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais e colaborador do 
Programa de Pós-Graduação em Políticas Públicas da UEM, docente dos 
cursos de Gestão Pública e de Gestão das Organizações do Terceiro Setor no 
Centro Universitário de Maringá (UniCesumar), com experiência no ensino 
presencial e à distancia para cursos de graduação e de pós-graduação e 
ministração de disciplinas sobre métodos e técnicas de pesquisa no curso de 
graduação em Gestão Pública e nos Programas de Pós-Graduação em Ciências 
Sociais e em Políticas Públicas. É autor de capítulos, de artigos publicados 
em periódicos nacionais e internacionais, do livro “Eleitores e partidos 
políticos na América Latina” e organizador das coletâneas “Participação 
política e democracia no Brasil contemporâneo”, “Comportamento político e 
opinião pública: estudos sobre Brasil e América Latina” e “Poder legislativo 
e cultura política: valores, atitudes, trajetória e comportamento político dos 
vereadores e vereadoras do Estado de Santa Catarina”. Atua também como 
parecerista junto a periódicos nacionais e internacionais, tem experiência 
na organização e análise de dados quantitativos e desenvolve pesquisas 
relacionadas a comportamento político e opinião pública, principalmente 
nos seguintes temas: atitudes e valores políticos, comportamento político, 
participação política e partidarismo. Desenvolve, ainda, cursos e atividades 
de extensão relacionados à metodologia quantitativa de análise de dados 
e atualmente cursa a Especialização em Docência no Ensino Superior: 
Tecnologias Educacionais e Inovação no UniCesumar.
Currículo Lattes disponível em: <http://lattes.cnpq.br/1358973527170925>.
SEJA BEM-VINDO(A)!
O campo da Gestão Pública é caracterizado por normas, leis, processos, sistemas de ges-
tão e um amplo conjunto de aspectos que remetem à burocracia. É também um campo 
que tem cada vez mais se pautado pela necessidade e pela recorrência de inovação.
Nesse contexto, aos proissionais que atuam na área cabe mais do que o desempenho 
de funções e atividades relacionadas à gestão pública, mas também o desenvolvimento 
de habilidades e conhecimentos que lhes permitam se tornarem analistas e pesquisa-
dores, uma vez que a realidade social se revela multifacetada, de modo que cabe aos 
gestorespúblicos o cuidado com recursos, demandas e políticas que atendam à popu-
lação e ao bem público.
Este material didático tem o objetivo de contribuir ao aprimoramento de tais habilida-
des, competências e conhecimentos, por meio da exposição de temáticas relacionadas 
aos métodos de pesquisa que podem ser utilizados no campo da Gestão Pública.
A obra em questão apresenta os diferentes métodos de pesquisa existentes, bem como 
técnicas que conformam aos métodos e, ainda, a perspectiva de estabelecimento de 
diálogos entre as diferentes maneiras de como as pesquisas podem ser estruturadas.
Para tanto, a primeira unidade de estudos trata do campo de atuação e de pesquisa em 
gestão pública e reúne elementos referentes ao conceito e à estrutura de pesquisa e às 
deinições de população, de censo e de amostragem.
As unidades seguintes se referem à apresentação de métodos e à discussão sobre téc-
nicas de pesquisa distintas, sendo que a segunda unidade do livro trata de aspectos 
qualitativos e a terceira unidade reúne elementos quantitativos de pesquisa. Para cada 
tema, há análises de exemplos e são oferecidas possibilidades de pesquisa.
A quarta unidade de estudo versa sobre a complexidade referente à realização de 
pesquisas, para que sejam apresentadas considerações a im de que futuros gestores 
públicos compreendam que métodos e técnicas de pesquisa podem ser utilizadas de 
maneira combinada ou conjunta. Nesse sentido, na referida unidade, são abordados as-
pectos sobre estudos de casos e sobre a triangulação de métodos e técnicas aplicadas 
ao âmbito da gestão pública.
Por im, a quinta unidade de estudos diz respeito a aspectos que tangenciam as pes-
quisas em gestão pública de modo geral, independentemente de métodos ou técnicas 
utilizadas, individualmente ou em conjunto. Nesse sentido, os tópicos apresentados di-
zem respeito a aspectos éticos gerais relacionados à gestão pública e especíicos com 
relação à realização de pesquisas e referentes à apresentação de resultados de pesquisa, 
com foco na construção de relatórios.
De modo geral, a expectativa deste material de estudos não é de formar especialistas 
em métodos e técnicas de pesquisas, mas de contribuir para que os gestores públicos 
em formação se tornem proissionais com peril que possibilite a investigação, uma vez 
que o conhecimento acerca de métodos e técnicas pode contribuir para a melhor per-
cepção dos proissionais quanto aos caminhos necessários e/ou adequados para a reso-
lução de questões ou problemas.
APRESENTAÇÃO
MÉTODOS DE PESQUISA APLICADOS À GESTÃO 
PÚBLICA
Assim, a própria disciplina é, se pensarmos no curso de Gestão Pública como um 
todo, parte de um caminho maior que conduzirá cada um à realidade social e prois-
sional futura. Que seja um caminho de desaios, mas também de construção cons-
tante de conhecimento!
APRESENTAÇÃO
SUMÁRIO
09
UNIDADE I
A PESQUISA
14 Introdução
15 O Campo de Atuação e de Pesquisa em Gestão Pública 
20 Conceito e Estrutura de Pesquisa 
29 População, Censo e Amostragem 
42 Considerações Finais 
49 Referências 
51 Gabarito 
UNIDADE II
O MÉTODO DE PESQUISA QUALITATIVA
54 Introdução
55 Conceito de Pesquisa Qualitativa 
64 Técnicas e Instrumentos de Coleta de Dados Qualitativos 
78 Técnicas de Análise de Dados Qualitativos 
85 Considerações Finais 
92 Referências 
95 Gabarito 
SUMÁRIO
10
UNIDADE III
O MÉTODO DE PESQUISA QUANTITATIVA
98 Introdução
99 Conceito de Pesquisa Quantitativa 
106 Técnicas e Instrumento de Coleta de Dados Quantitativos 
124 Técnicas de Análise de Dados Quantitativos 
151 Considerações Finais 
158 Referências 
161 Gabarito 
UNIDADE IV
TRIANGULAÇÃO DE DADOS
164 Introdução
165 A Complexidade da Pesquisa 
169 Estudo de Caso 
174 Triangulação de Métodos na Gestão Pública 
184 Considerações Finais 
191 Referências 
193 Gabarito 
SUMÁRIO
11
UNIDADE V
TÓPICOS ESPECIAIS SOBRE A PESQUISA EM GESTÃO PÚBLICA
196 Introdução
197 Ética Proissional e na Pesquisa em Gestão Pública 
202 Relatórios de Pesquisas em Gestão Pública: Contexto e Referencial 
207 Relatórios de Pesquisas em Gestão Pública: Resultados e Conclusões 
216 Considerações Finais 
222 Referências 
223 Gabarito 
224 CONCLUSÃO
U
N
ID
A
D
E I
Professor Dr. Éder Rodrigo Gimenes
A PESQUISA
Objetivos de Aprendizagem
 ■ Conhecer os campos em que os gestores públicos atuam e nos quais 
podem desenvolver pesquisas.
 ■ Compreender o que é e quais aspectos compõem uma pesquisa.
 ■ Desenvolver a percepção sobre tamanhos e potencialidades de 
investigação a partir da deinição dos objetos de análise.
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
 ■ O campo de atuação e de pesquisa em gestão pública
 ■ Conceito e estrutura de pesquisa
 ■ População, censo e amostragem
INTRODUÇÃO
Por que a pesquisa é importante na gestão pública? Como realizá-la?
Tais perguntas são centrais à primeira unidade de estudos desta disciplina. 
Nossa expectativa é de que possamos percorrer juntos o caminho que nos levará 
ao conhecimento necessário para responder essas questões e outras que serão 
destacadas nas próximas unidades de estudos.
Para tanto, nosso primeiro contato com a temática parte de uma aproxima-
ção entre os métodos de pesquisa e o campo de formação em que dialogamos. 
Nesse sentido, iniciamos esta unidade de estudos com esboços de possibilida-
des de campos em que os gestores públicos podem desenvolver pesquisas, com a 
inalidade de otimizar sua atuação proissional e de contribuir para a melhor uti-
lização de recursos públicos de ordem inanceira, humana, material e de tempo.
Na sequência, avançamos no sentido de dialogar de maneira mais efetiva 
sobre o universo da pesquisa, com vistas à compreensão do conceito, da estru-
tura e dos aspectos mais relevantes à sua realização, tendo sempre como objetivo 
aliar a explanação teórica com exemplos que ilustrem o debate.
Seguindo a mesma perspectiva, a terceira seção desta unidade de estudos 
se debruça sobre um dos aspectos mais relevantes à realização de pesquisas, 
de modo geral, que tem consequências relevantes quanto à sua observação no 
âmbito da gestão pública: o conjunto de casos que será considerado como objeto 
de análise da pesquisa. 
Tendo em vista que tal deinição inluencia não apenas a maneira como 
investigamos um problema ou situação, mas também o alcance e as possibilida-
des de melhorias de processos e/ou de resultados de políticas públicas, o gestor 
público precisa ter clareza sobre o que compõe uma população e uma amostra, 
a im de deinir a abordagem mais adequada a cada pesquisa.
Bons estudos!
Introdução
R
ep
ro
d
u
çã
o
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o
 C
ó
d
ig
o
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
ir
o
 d
e 
19
98
.
15
A PESQUISA
R
ep
ro
d
u
ção
 p
ro
ib
id
a. A
rt. 184 d
o
 C
ó
d
ig
o
 Pen
al e Lei 9.610 d
e 19 d
e fevereiro
 d
e 1998.
IU N I D A D E16
O CAMPO DE ATUAÇÃO E DE PESQUISA EM GESTÃO 
PÚBLICA
A gestão pública compõe o campo de atuação, de conhecimento e de produ-
ção de pesquisas, cujos resultados têm capacidade de efetivação direta sobre a 
realidade social, uma vez que se trata do âmbito em que o Estado atua no desen-
volvimento de ações que podem contribuir para alterações positivas nas vidas 
dos indivíduos e na coletividade.
De acordo com Teixeira, Zamberlan e Rasia (2008), um bom gestor público 
precisa ter conhecimento sobre sua área de atuação, bem como habilidades e 
competências que lhe permitam tomar decisões de maneira rápida e precisa. 
Para tanto, conhecer o ambiente em que desenvolve suas atividades e os esco-
pos e as temáticas a ele relacionados é essencial. A pesquisa em gestão pública 
encontra-se nesse contexto.
A realização de pesquisas no âmbito da gestão pública pode contemplar dis-
tintos objetivos e temas, assim como pode atender a diferentes públicos. Nesse 
sentido, faz-se importantedestacar as potencialidades da pesquisa na área antes 
de avançarmos, neste livro, na discussão acerca de métodos e técnicas de coleta 
e de análise de dados e informações.
O Campo de Atuação e de Pesquisa em Gestão Pública
R
ep
ro
d
u
çã
o
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o
 C
ó
d
ig
o
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
ir
o
 d
e 
19
98
.
17
É relevante que os gestores públicos busquem o conhecimento daquilo que diz 
respeito ao seu campo de atuação. Para tanto, é preciso saber lidar com ques-
tões econômicas, jurídicas e administrativas ou organizacionais. Sobre aspectos 
econômicos, a realização de análises de conjuntura e de prospecção são centrais 
aos gestores públicos, os quais precisam ter em mãos, para a melhor tomada de 
decisões, dados e informações de ordem macro e microeconômica, como taxas 
e indicadores de desemprego, desempenho da economia, dívida pública e vul-
nerabilidade social, por exemplo.
No que tange ao campo da legislação, os fundamentos constitucionais das 
políticas públicas, da administração pública, da responsabilidade civil dos entes 
estatais e das relações estabelecidas no âmbito intergovernamental são relevan-
tes, assim como aspectos de ordem administrativa, organizacional e burocrática, 
como o conhecimento sobre debilidades e necessidades com relação ao conjunto 
de servidores, de serviços e de infraestrutura do ente público.
Outro foco de preocupação dos gestores públicos deve ser a consecução de 
sua atuação para além dos aspectos burocráticos, para que o conhecimento sobre 
o planejamento de ações que busquem uma gestão social e o desenvolvimento 
local sejam prementes. Compreender o que são e quais são os métodos de pla-
nejamento estratégico, seus instrumentos legais — Plano Plurianual (PPA), Lei 
de Diretrizes Orçamentárias (LDO), Lei do Orçamento Anual (LOA) e a Lei de 
Responsabilidade Fiscal — que permitem avançar na qualiicação do trabalho dos 
gestores e nas competências dos órgãos públicos em que exercem suas atividades.
Todos os fatos, registros, estatísticas, fenômenos, processos ou percepções 
são considerados dados. As informações são dados organizados com vistas 
a responder especiicamente às questões de pesquisa. Ambos podem ser 
apurados em função da própria pesquisa (dados e informações primárias) 
ou ser coletados junto a publicações, dados oiciais ou outras fontes que 
coletaram-nos com outras inalidades (dados e informações secundárias)
Fonte: Antonio Carlos Gil .
A PESQUISA
R
ep
ro
d
u
ção
 p
ro
ib
id
a. A
rt. 184 d
o
 C
ó
d
ig
o
 Pen
al e Lei 9.610 d
e 19 d
e fevereiro
 d
e 1998.
IU N I D A D E18
Pesquisar sobre como realizar o planejamento e a execução das ações, con-
tudo, supera o conhecimento acerca da legislação e deve ser construído sob a 
perspectiva do desenvolvimento territorial, uma vez que não são raros no Brasil 
os consórcios intermunicipais e entre esferas de governo para a consecução da 
gestão social. Em tal contexto, tem se destacado o debate sobre o empoderamento 
de comunidades e a expansão da visibilidade de pautas relacionadas a temas 
ambientais e de direitos de grupos especíicos, como mulheres, negros, indíge-
nas, homossexuais, deicientes e idosos, por exemplo. As relações entre Estado 
e formas de ação coletiva — associativismo, movimentos sociais e organizações 
da sociedade civil — também competem às pesquisas pelos gestores públicos.
Ademais, em sendo as políticas públicas os mecanismos por meio dos quais os 
direitos sociais previstos no texto constitucional se efetivam (GIMENES, 2018), 
a gestão pública deve atentar-se ao seu desenvolvimento e desempenho, uma vez 
que tais políticas contribuem para a realização do objeto do Estado em buscar 
o atendimento de coletividades no regime democrático. Assim, a avaliação das 
políticas públicas implementadas e a disseminação de informações são essen-
ciais ao mesmo propósito democrático.
O Campo de Atuação e de Pesquisa em Gestão Pública
R
ep
ro
d
u
çã
o
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o
 C
ó
d
ig
o
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
ir
o
 d
e 
19
98
.
19
Nesses termos, estudos sobre a formação da agenda pública, os processos 
de tomadas de decisões e suas consequentes implementações e monitoramento 
também são objetos de pesquisa ao gestor público. Em outras palavras, signiica 
airmar que acompanhar os ciclos de políticas públicas e investigar necessidades 
e debilidades nas áreas dessas políticas demandam atuação ativa dos gestores.
Além da estrutura e das perspectivas de funcionamento do poder público, 
os gestores precisam, ainda, atentar-se aos desaios que se colocam ao seu tra-
balho, para o que a realização de pesquisas também contribui, uma vez que o 
conjunto de envolvidos nos processos oscila, em alguma medida, por conta da 
circulação de indivíduos que não pertencem à carreira pública, mas são nomea-
dos para cargos ou funções de acordo com o grupo político que ocupa os postos 
eletivos do Executivo e do Legislativo.
Para além do luxo de indivíduos, é preciso considerar também a luidez com 
que informações, técnicas e legislações são alteradas ou reformuladas, bem como 
ter em mente que a população tem se revelado cada vez mais ativa em termos 
de engajamento social, tendo em vista a expansão das instituições participati-
vas, como conselhos de políticas públicas, audiências públicas, conferências de 
políticas públicas, planos diretores e orçamentos participativos, por exemplo.
A internet e a disseminação de valores democráticos, ao longo dos anos, 
têm reforçado a necessidade, à gestão pública, de atuação em redes com outros 
entes estatais, de estabelecimento de parcerias com empresas e com organiza-
ções da sociedade social e de utilização do ciberespaço para uma gestão social 
responsável e transparente.
Por im, uma última temática para a realização de pesquisas no âmbito da 
gestão pública tem relação com o campo do ensino superior. Estudar, pesqui-
sar, discutir e apresentar propostas de otimização e adequação da gestão social 
à gestão pública é alvo de debates, para além do espaço burocrático tradicional 
em que se realiza a temática, de modo que muitos pesquisadores têm contribu-
ído ao avanço do conhecimento sobre a gestão pública a partir de pesquisas nas 
universidades e centros universitários.
Nesse sentido, destacam-se os cursos de graduação em gestão pública, admi-
nistração pública e políticas públicas, bem como programas de pós-graduação 
nessas mesmas áreas, tanto em modalidades acadêmicas quanto proissionais. As 
A PESQUISA
R
ep
ro
d
u
ção
 p
ro
ib
id
a. A
rt. 184 d
o
 C
ó
d
ig
o
 Pen
al e Lei 9.610 d
e 19 d
e fevereiro
 d
e 1998.
IU N I D A D E20
pesquisas decorrentes de tais espaços investigam programas e políticas públicas, 
tanto com relação à sua composição quanto aos seus efeitos sobre a realidade 
social e seu papel e inluência na conformação da rede pública de atendimento 
às demandas da população.
Um exemplo que ilustra as pesquisas acadêmicas que tratam de gestão pública 
é a relação entre a ampliação do número de vagas ao ensino superior e as políti-
cas públicas que permitem o maior ingresso da população com condições sociais 
de menor privilégio. De um lado, tem-se programas e projetos, como o Exame 
Nacional do Ensino Médio (ENEM), o Sistema de Seleção Uniicada (SiSU) e 
as cotas sociais e raciais, que ampliam o acesso de estudantes à educação supe-
rior, assim como o Fundo de Financiamento Estudantil (FIES) e o Programa 
Universidade para Todos (PROUNI) para que estudantes com baixa renda pos-
sam inanciar ou mesmo cursar gratuitamente um curso de graduação. 
Por outro lado, há pesquisas realizadas no âmbito das instituições de ensino 
que recebem tais alunos, as quais investigam a qualidade da educação, os meca-
nismos que constrangem ou contribuem para a permanência dos estudantes 
beneiciados pelas mencionadaspolíticas públicas na universidade e a necessi-
dade de maior democratização da educação e de ampliação da capacitação da 
população (GIMENES, 2018).
É nesse contexto que este curso de graduação em Gestão Pública se insere. 
Nas próximas seções e unidades de estudo deste material didático, trataremos 
de aspectos relacionados à consecução de pesquisas, coleta e análises de dados, 
com vistas a atender as necessidades e temáticas aqui destacadas.
Que motivações os movem, enquanto gestor público em processo de for-
mação, a pesquisar soluções para determinadas demandas ou problemas 
que se colocam a sua atuação no âmbito do Estado?
Conceito e Estrutura de Pesquisa
R
ep
ro
d
u
çã
o
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o
 C
ó
d
ig
o
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
ir
o
 d
e 
19
98
.
21
CONCEITO E ESTRUTURA DE PESQUISA
Tendo em vista a relevância e a diversidade de possibilidades e perspectivas à rea-
lização de pesquisas no campo da gestão pública, é preciso compreender quais 
são os elementos que permeiam sua elaboração. Nesse sentido, a presente seção 
trata de tipos de conhecimento, da deinição de pesquisa, da relação estabele-
cida entre problema e objetivo, da deinição de dados e de informações e dos 
elementos que nos permitem construir cenários para planejar e executar ações 
de gestão social e de políticas públicas.
Em se tratando dos tipos de conhecimento, há duas classiicações recorren-
tes. A primeira diz respeito ao conhecimento de modo geral, enquanto a segunda 
refere-se especiicamente à classiicação do conhecimento no âmbito da gestão.
Com relação à primeira classiicação, Teixeira, Zamberlan e Rasia (2008, p. 
19) airmam que
as principais formas especíicas de conhecimento atualmente reconhe-
cidas são relexos das várias fases da evolução da vida em sociedade e 
da própria humanidade, das formas de concepção da realidade e de 
entendimento na busca da verdade.
Nesse sentido, os referidos autores se iliam a Lakatos e Marconi (1991) em sua 
classiicação de tipos de conhecimento, quais sejam: popular, religioso, ilosóico 
A PESQUISA
R
ep
ro
d
u
ção
 p
ro
ib
id
a. A
rt. 184 d
o
 C
ó
d
ig
o
 Pen
al e Lei 9.610 d
e 19 d
e fevereiro
 d
e 1998.
IU N I D A D E22
e cientíico. O tipo que podemos denominar como mais simples ou menos com-
plexo seria o conhecimento popular, também denominado empírico, vulgar ou 
o senso comum, que consistiria no conjunto de crenças e informações que acu-
mulamos ao longo da vida, sem preocupação direta com atos relexivos ou com 
investigações.
O conhecimento religioso ou teológico tem como premissa a busca por ver-
dades absolutas, que seriam aquelas que somente a fé seria capaz de explicar. Tal 
conhecimento não seria passível de veriicação, uma vez que a religião seria sua 
explicação, de modo que, levado ao limite, haveria o argumento de que os valo-
res religiosos são incontestáveis.
O conhecimento ilosóico tem como premissa a relação do homem com seu 
cotidiano, analisada sob a perspectiva crítica e relexiva, porém sem preocupação 
com a efetivação dessa relação, o que signiica que é um tipo de conhecimento 
que considera especulações da relação entre o homem e seu cotidiano, sem pre-
ocupação com veriicar como essa relação, de fato, ocorre.
Por im, o conhecimento cientíico destoa dos demais tipos por conta de sua 
caracterização como falível, real e veriicável. É um tipo de conhecimento que 
emerge a partir de dúvidas e que pode ser comprovado concretamente, já que é 
passível de investigação, veriicação e replicação por meio de métodos e técni-
cas de coleta de dados, de análise e de interpretação de resultados.
Na prática, esses tipos de conhecimento não necessariamente são veriicáveis 
de maneira completamente desconexa, o que signiica que em vários momentos 
podemos nos deparar com situações em que aspectos do senso comum, religio-
sos ou ilosóicos e cientíicos são mobilizados para explicar algum fenômeno 
ou processo político, social ou cultural.
A discussão, contudo, que propomos nesta disciplina, se insere no contexto 
da formação educacional de nível superior, a qual está circunscrita no campo de 
estudos cientíicos e nos conduz a discutir a gestão pública e as potencialidades 
de otimização da atuação de seus agentes sob a perspectiva cientíica.
Para tanto, nosso foco recai sobre a pesquisa e sobre como sua realização 
pode contribuir para alterar a realidade social em que os gestores sociais desen-
volvem sua atividade proissional, uma vez que autores como Demo (1993), 
Minayo (1994), Cervo e Bervian (2002) e Gil (2008) deinem pesquisa como 
Conceito e Estrutura de Pesquisa
R
ep
ro
d
u
çã
o
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o
 C
ó
d
ig
o
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
ir
o
 d
e 
19
98
.
23
atividade básica da ciência, que se desenvolve pela indagação e pela descoberta 
da realidade.
De acordo com Demo (1993, p. 128), “pesquisa signiica o diálogo crítico e 
criativo com a realidade, culminando na elaboração própria e na capacidade de 
intervenção [...]”, ou seja, a pesquisa diz respeito às atividades que são realizadas 
com o objetivo de solucionar problemas, sejam de ordem teórica ou prática, com 
o emprego de métodos cientíicos. Para realizar tal intento, Teixeira, Zamberlan 
e Rasia (2008) airmam que são utilizados métodos de pesquisa — dedutivo, 
indutivo, hipotético-dedutivo, fenomenológico e dialético —, os quais descre-
vem de maneira sucinta.
Proposto por autores racionalistas, como René Descartes, Baruch Spinoza 
e Gottfried Wilhelm Leibniz, o método dedutivo parte do pressuposto de que 
somente a razão seria capaz de nos conduzir ao conhecimento verdadeiro e 
busca explicar o que constituiria a verdade a partir de raciocínios organizados 
em uma cadeia (ou seja, com relações) lógica e descendente, tendo como início 
um aspecto geral e avanços no sentido de aspectos mais especíicos ou particu-
lares, até que seja atingida uma conclusão.
Por sua vez, o método indutivo tem estrutura de composição inversa, pois parte-
-se de elementos especíicos ou particulares para a interpretação daquilo que seria 
geral. Nesse sentido, autores empiristas como Francis Bacon, homas Hobbes, 
John Locke e David Hume defenderam que o conhecimento seria fundamentado 
nas experiências, sem considerar princípios pré-estabelecidos, o que signiica 
que, para tais pensadores, a generalização seria resultado de constatações parti-
culares e derivaria da observação de casos da realidade concreta.
O silogismo remete a uma construção lógica na qual, a partir de duas pre-
missas com grau de generalidade ou especiicidade distinta, é possível che-
gar a uma conclusão, por meio do estabelecimento de uma relação lógica 
entre as premissas anteriores.
Fonte: o autor.
A PESQUISA
R
ep
ro
d
u
ção
 p
ro
ib
id
a. A
rt. 184 d
o
 C
ó
d
ig
o
 Pen
al e Lei 9.610 d
e 19 d
e fevereiro
 d
e 1998.
IU N I D A D E24
O método hipotético-dedutivo, também conhecido como positivista, tem 
em Karl Popper seu principal autor, que defendia uma perspectiva de realiza-
ção de pesquisas a partir de testes de hipóteses. Segundo tal método, diante de 
determinado problema ou questão, são formuladas hipóteses sobre como supe-
rar a situação, a partir das quais testa-se suas eventuais consequências a im de 
conirmá-las ou refutá-las.
Segundo Figueiredo Filho et al. (2013), o positivismo pode ser deinido por 
sua busca pela generalização ou pelo estabelecimento de explicações que res-
pondam à complexidade da realidade social de maneira objetiva. Nesse sentido, 
Della Porta e Keating (2008, p. 23) expõem que, para o método positivista, “[...] 
o mundo existe de forma objetiva, de forma independente do pesquisador, sendo 
possível conhecer integralmente a realidade. O objetivo do pesquisador é des-
crever e analisar essa realidade [...]”.
Assim, o método hipotético-dedutivo busca, ao mesmo tempo, arefutação 
de hipóteses ou soluções possíveis para um problema e também a produção de 
explicações generalizáveis ou completas sobre os problemas, de modo que é pau-
tado pela ideia de falseabilidade de hipóteses, ou seja, de testar se determinada 
consequência possível é falsa para os casos analisados e, a partir deles, tratar tal 
hipótese como falsa para os demais.
Pautada por uma construção de raciocínio totalmente distinta dos demais 
métodos apresentados anteriormente, a fenomenologia — que tem em Edmund 
Husserl seu principal expoente — tem preocupação com a descrição da experiên-
cia, situação ou fenômeno tal como se apresenta. A premissa do método é de que 
a realidade não é única, mas, ao contrário, tão múltipla ou multifacetada quanto 
forem as interpretações, as compreensões, as comunicações e as relações huma-
nas, já que o conhecimento é conformado pelos indivíduos e suas interações.
Por im, o último método destacado é o dialético, fundamentado na teoria 
de Georg Wilhelm Friedrich Hegel, que se apresenta como método de interpre-
tação dinâmica da realidade, que consistiria em uma sequência de contradições 
(nas palavras de Hegel, mas que podemos pensar como situações-problema), 
que geram novos pensamentos e outras contradições, as quais passam a reque-
rer soluções. Tendo em vista que tais contradições não ocorreriam em um vácuo, 
teriam que ser considerados sempre os aspectos que inluenciam uma situação, 
Conceito e Estrutura de Pesquisa
R
ep
ro
d
u
çã
o
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o
 C
ó
d
ig
o
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
ir
o
 d
e 
19
98
.
25
ou seja, aspectos que podem ser de natureza social, política, econômica, cultu-
ral, ambiental, tecnológica etc.
De acordo com Teixeira, Zamberlan e Rasia (2008, p. 29),
na sua função de desvendar, os métodos não estão sozinhos, eles têm 
sido apoiados em seus principais passos por técnicas ou procedimen-
tos cientíicos reconhecidos como instrumentos, ou seja, os meios ou 
táticas para assegurar que a investigação (descoberta, aprendizado, so-
luções, invenção) seja bem realizada e seus resultados reconhecidos.
Assim, conhecidos os distintos métodos que podem ser considerados para a reali-
zação de uma pesquisa, é possível avançar ao entendimento de que, à medida que 
se desenvolvem o conhecimento e os problemas, faz-se necessário utilizar técnicas 
especíicas para superar as inquietações e promover melhorias na gestão pública.
De acordo com Gil (2008), a consecução de uma pesquisa implica em atender 
a determinados aspectos. Neste material didático, optou-se tratar tal abordagem de 
maneira metafórica, considerando a pesquisa como um caminho a ser percorrido.
O início do caminho seria a identiicação de um problema, de uma neces-
sidade a ser atendida ou de um aspecto a ser melhor investigado. No campo da 
gestão pública, essa identiicação seria a constatação de que um procedimento 
ou técnica não tem gerado resultados adequados, que um setor tem sido alvo 
de reclamações recorrentes ou que uma política pública ou ação social é deici-
tária em termos de atendimento à população, por exemplo.
A partir da identiicação do problema, o passo seguinte é reletir sobre como 
superá-lo. Para tanto, cabe aos pesquisadores (os gestores públicos, neste caso) 
buscarem informações que permitam estabelecer hipóteses ou mesmo delinear 
com maior exatidão qual o objetivo a ser atingido. Em outras palavras, o segundo 
A dialética hegeliana parte da ideia de ciência como tríade tese — antítese 
— síntese, na qual a tese é uma posição inicial, a antítese diz respeito às con-
tradições e a síntese seria a relexão acerca da relação entre tese e antítese.
A PESQUISA
R
ep
ro
d
u
ção
 p
ro
ib
id
a. A
rt. 184 d
o
 C
ó
d
ig
o
 Pen
al e Lei 9.610 d
e 19 d
e fevereiro
 d
e 1998.
IU N I D A D E26
passo seria delimitar com maior clareza qual é o problema, o que se faz tendo em 
consideração que, a depender da especiicidade da questão e do conhecimento 
anteriormente produzido sobre o tema, há três diferentes níveis a estabelecer: a 
exploração, a descrição ou a causalidade (KOTLER, 2007).
O primeiro nível para a projeção e realização de uma pesquisa é a exploração. 
Como o próprio termo indica, tal nível de pesquisa é permeado pela aproxima-
ção mais básica de um pesquisador com relação ao objeto, o que signiica que 
a pesquisa exploratória é recomendada aos gestores públicos quando se encon-
tram em face de uma questão ou problema sobre a qual nada sabem. É preciso 
que o gestor público, contudo tenha em mente que uma abordagem explorató-
ria é básica no sentido de que se trata de uma busca inicial por caminhos para a 
ação, hipóteses a ser testadas ou mesmo pela identiicação de alternativas para 
solução de situações, mas é extremamente rica em termos de resultados, já que 
pode estabelecer prioridades para pesquisas posteriores.
De acordo com Gil (2008), para a realização de pesquisas exploratórias são 
empregadas mais comumente técnicas, como levantamento bibliográico, entre-
vistas e coleta de dados junto a órgãos oiciais (relatórios técnicos, legislação e 
outros documentos) ou especíicos e, ainda, a websites. Especialmente com rela-
ção à última técnica, cabe destacar como exemplos as páginas de organizações 
da sociedade civil (OSCs), redes sociais (como Facebook e Twitter), blogs e pági-
nas, nas quais usuários de serviços podem se manifestar com relação à qualidade 
do que lhes é oferecido.
Um exemplo de pesquisa exploratória relacionada à gestão pública é a inves-
tigação cientíica promovida pela socióloga Walquíria Leão Rêgo e pelo ilósofo 
Alessandro Pinzani em regiões consideradas bolsões de pobreza no Brasil, entre 
os anos de 2006 e 2011, quando entrevistaram e realizaram observação partici-
pante entre populações beneiciárias do Programa Bolsa Família. Diferentemente 
de outras pesquisas que revelaram resultados mensurados por meio de dados 
oiciais, Rêgo e Pinzani (2013) constataram resultados que pesquisas desenvolvi-
das apenas com base em dados e estatísticas não foram capazes de captar, como 
os rendimentos do referido programa, para além de contribuir inanceiramente 
com o desenvolvimento da família e dos efeitos positivos decorrentes da trans-
versalidade do programa, revelaram também a construção do sentimento de 
Conceito e Estrutura de Pesquisa
R
ep
ro
d
u
çã
o
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o
 C
ó
d
ig
o
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
ir
o
 d
e 
19
98
.
27
cidadania e de autonomia pelas beneiciárias, ainda que de maneira frágil com 
relação ao conteúdo de tais conceitos. Assim, a pesquisa que originou a premiada 
obra “Vozes do Bolsa Família” foi exploratória por conta da inédita iniciativa de 
acompanhar o cotidiano de beneiciárias de um programa social ao longo do 
tempo e dos resultados que gerou.
Quando se conhece ao menos minimamente uma situação, fenômeno ou 
problema é possível a consecução de uma pesquisa descritiva, que consiste na 
realização de uma análise sobre as características de determinada população, de 
um fenômeno e/ou de possíveis caminhos explicativos acerca de eventuais deli-
neamentos ou relações entre aspectos.
Segundo Teixeira, Zamberlan e Rasia (2008), a pesquisa descritiva pode ser 
realizada em diferentes situações, como:
Descrever as características de grupos especí�cos, como 
benefíciários de políticas públicas ou programas sociais ou 
ainda de servidores de determinada área de atuação.
Estimar a parcela de uma população que está sujeita a 
determinado problema ou em condição de vulnerabilidade 
com relação a certa especi�cidade de atuação do Estado.
Conhecer as percepções da população, dos bene�ciários, dos 
servidores ou dos gestores públicos sobre a caracterização e 
os resultados de certa política ou programa social.
Figura 1 - Aplicabilidade da pesquisa descritiva em diferentes situações 
Fonte:Teixeira, Zamberlan e Rasia (2008).
A PESQUISA
R
ep
ro
d
u
ção
 p
ro
ib
id
a. A
rt. 184 d
o
 C
ó
d
ig
o
 Pen
al e Lei 9.610 d
e 19 d
e fevereiro
 d
e 1998.
IU N I D A D E28
Em se tratando de técnicas para coleta de dados, pesquisas descritivas permitem 
considerar diversas possibilidades, como a realização de entrevistas, observação 
participante, grupos focais, surveys e painéis.
Uma análise descritiva que se apresenta como ilustrativa desse nível de pes-
quisa é o artigo de Tavares e Alves (2015), que realizaram uma análise sobre 
indicadores de gastos públicos com a educação básica em municípios de uma 
região da Paraíba, para a qual se basearam em amplo conjunto de dados oiciais 
e de análise documental. Após detida a investigação sobre tais informações e a 
comparação com dados e documentos referentes ao restante do estado, os autores 
constataram que a região dos municípios do Cariri Ocidental tem desempenho 
mais elevado com relação aos gastos públicos destinados à educação básica do 
que as demais regiões paraibanas.
O terceiro nível de pesquisa é a explicativa, também conhecida como causal. Tal 
tipo de investigação é pautada pela identiicação de fatores que condicionam, são 
determinantes ou contribuem para que determinada situação ou problema se mani-
feste ou, em contrapartida, para que certo efeito positivo ou favorável seja estabelecido. 
Nesse sentido, conforme destacam Machado e Silva (2007), pesquisas explicativas 
permitem o aprofundamento do conhecimento a respeito da realidade social.
De modo geral, esse nível de pesquisa é pautado pela busca de identiicação 
de causalidade a partir de três condições (FIGUEIREDO FILHO etal., 2013):
3 condições
para a pesquisa
explicativa
1ª Existência de relações 
entre variáveis, de modo que a 
ocorrência de um fenômeno não 
seja independente da ocorrência de 
outro, ou seja, é necessário que um 
determinado problema, situação ou 
questão tenha relação com outro aspecto, para que se possa 
investigar em que medida tal relação ocorre e como um aspecto in�uencia 
outro.
2ª 
Conceito e Estrutura de Pesquisa
R
ep
ro
d
u
çã
o
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o
 C
ó
d
ig
o
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
ir
o
 d
e 
19
98
.
29
2ª Precedência ou antecedência temporal, o que signi�ca que o 
fato/problema que explica outro deve ter ocorrência anterior – uma condição 
lógica e até mesmo intuitiva.
3ª Não espuriedade da relação, o que seria indicativo de que há relação entre 
as variáveis e esta possui explicação temporal, de modo que a terceira condição 
seria consequência da existência combinada das condições anteriores.
Figura 2 - As três condições para a pesquisa explicativa
Fonte: Figueiredo Filho et al. (2013).
Pesquisas que buscam estabelecer relações causais são pautadas majoritariamente 
por análises quantitativas, mas também é possível buscá-la por meio de técnicas 
qualitativas de pesquisa, como será detalhado em unidades de estudos posterio-
res. Como exemplo de análises de causalidade, destaco a tese de Nóbrega Junior 
(2010), que identiicou quais fatores são causas ou se encontram fatores associa-
dos aos homicídios na região Nordeste e, ainda, o relevante papel das políticas 
públicas de segurança, sendo que, quando tais políticas são eicientes e eicazes 
há redução, ou ao menos o controle dos homicídios.
A despeito da classiicação em três níveis de pesquisa, é preciso destacar que 
as investigações, tanto no âmbito cientíico quanto da gestão pública e demais 
áreas, não necessariamente se pautam por apenas um nível, sendo que ao longo 
do tempo e conforme são obtidos mais dados e informações, consequentemente, 
mais se conhece o problema, situação ou política que carece de análises, mais 
aprofundadas podem se tornar as investigações, análises, resultados e seus efei-
tos sobre a realidade pública.
O terceiro passo da pesquisa seria seu delineamento, o que perpassaria enten-
dermos o que compõe o conjunto de variáveis a ser analisada. Nesse momento, 
os gestores públicos podem se deparar com múltiplas possibilidades de objetos a 
serem investigados, como relatórios e documentos, outros gestores e servidores, 
processos e procedimentos burocráticos ou de políticas públicas, a percepção da 
população ou ainda combinações entre esses distintos aspectos.
Após conhecer, ainda que minimamente, um problema, reletir sobre o tipo 
de análise possível — se exploratória, descritiva ou causal — e delinear o objeto a 
ser analisado, é possível avançar para a deinição da população-objeto da investi-
gação, elaborar os instrumentos para coleta de dados, realizar tal coleta, analisar 
e interpretar os resultados e produzir relatórios.
A PESQUISA
R
ep
ro
d
u
ção
 p
ro
ib
id
a. A
rt. 184 d
o
 C
ó
d
ig
o
 Pen
al e Lei 9.610 d
e 19 d
e fevereiro
 d
e 1998.
IU N I D A D E30
Nesta unidade de estudos, nos deteremos ao passo de delimitação do objeto 
da análise, de modo que serão abordados tópicos acerca dos conceitos de popu-
lação, censo e amostragem na próxima seção. A elaboração dos instrumentos 
por meio dos quais a coleta de dados pode ocorrer e as possibilidades de análise 
e interpretação dos resultados serão contemplados nas unidades de estudos 2, 3 
e 4, de maneira detalhada e minuciosa, ao passo que a produção de relatórios é 
foco de nossa quinta e última unidade de estudos.
POPULAÇÃO, CENSO E AMOSTRAGEM
A realização de uma pesquisa tem, na dei-
nição da população a ser analisada, um de 
seus mais decisivos passos, uma vez que a 
maneira como a coleta de dados será con-
duzida, as análises serão realizadas, os 
resultados inais e as consequentes altera-
ções que podem ser propostas a determinada 
realidade social, no caso da gestão pública, 
decorrem dessa escolha.
Pensar a relevância de deinir como a 
população será abordada por meio de cri-
térios de seleção implica, por outro lado, também em determinar o impacto 
inanceiro, a necessidade de treinamento e a disponibilidade de recursos humanos, 
o tempo disponível para a pesquisa e a clareza acerca dos resultados esperados e 
de como apresentá-los, especialmente no caso de políticas públicas.
Isto posto, cabe esclarecer que o objeto de investigação de uma pesquisa diz 
respeito ao conjunto de casos a ser analisados. Casos são as unidades de men-
suração daquilo que pretendemos analisar, o que signiica que a determinação 
da natureza dos casos dependerá, invariavelmente, da inalidade da pesquisa ou 
do problema que o gestor público busca responder.
População, Censo e Amostragem
R
ep
ro
d
u
çã
o
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o
 C
ó
d
ig
o
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
ir
o
 d
e 
19
98
.
31
Alguns exemplos de situações-problemas que necessitam de distintas deter-
minações de casos a ser investigados são apresentados a seguir:
 ■ A necessidade de avaliação dos usuários acerca de adequações em uma 
ação, programa ou política pública como etapa de monitoramento e/ou 
avaliação da política pública, precisa ser considerado como unidade de 
análise os indivíduos que são beneiciários daquilo que se procura inves-
tigar, de modo que cada caso corresponderia a um cidadão entrevistado.
 ■ A elaboração de diretrizes para o funcionamento de uma política pública 
no âmbito municipal e as possibilidades de diálogo entre os Poderes 
Executivo e Legislativo com o conselho municipal de uma área especí-
ica de intervenção pode ser perpassada pela análise das atas de reuniões 
dos conselhos e conferências em outras instâncias (estadual ou distrital 
e federal), a im de subsidiar a identiicação de parâmetros de ação a ser 
adotada de maneira semelhante também na esfera local, o que signiica 
que cada caso a ser analisado seria uma ata.
 ■ Diante de questionamento do Ministério Público sobre o atendimento das 
solicitações dos cidadãos, uma prefeitura pode ser instada a apresentar 
informações sobre aresolução de problemas, os quais comunicados por 
meio da Ouvidoria pública, uma possibilidade seria a solicitação a cada 
secretaria de governo que encaminhasse um relatório sobre as chamadas 
iniciadas via Ouvidoria e quais as providências tomadas, o que faria das 
secretarias municipais os casos a serem analisados.
Considerando tais exemplos, percebemos situações-problemas em que os casos 
têm unidades de mensuração diferentes, ou seja, em que a constituição das popu-
lações a serem consideradas é distinta, de modo que “população é o conjunto de 
elementos para os quais desejamos que as nossas conclusões sejam válidas — o 
universo de nosso estudo” (BARBETTA, 2011, p. 15).
A população (também conhecida como universo) é, então, a totalidade do 
grupo de casos passíveis de investigação para que o gestor público possa solu-
cionar uma questão, seja a identiicação de um problema ou sua correção. A 
depender, contudo, de aspectos como método adotado e o nível de conheci-
mento para a realização da pesquisa — anteriormente abordados nesta unidade 
de estudos — e, ainda, de domínio técnico e de aspectos relacionados a recur-
sos humanos, inanceiros, materiais e de tempo, faz-se necessário optar pela 
A PESQUISA
R
ep
ro
d
u
ção
 p
ro
ib
id
a. A
rt. 184 d
o
 C
ó
d
ig
o
 Pen
al e Lei 9.610 d
e 19 d
e fevereiro
 d
e 1998.
IU N I D A D E32
maneira como tal população será abordada. A abordagem da população tam-
bém é tratada como “cobertura” e pode ser realizada de duas formas: por meio 
de pesquisas censitárias ou amostrais.
A realização de uma pesquisa censitária implica na cobertura da totalidade 
da população a ser investigada, de modo que o censo diz respeito à investiga-
ção de todos os elementos de uma população. Assim, os resultados de um censo 
dizem respeito àquilo que se pretendeu captar com a pesquisa (salvo erros na 
deinição dos objetivos de investigação, que serão abordados nas unidades pos-
teriores deste livro), uma vez que a totalidade de resultados corresponderia à 
totalidade do universo sob investigação, ou seja, seriam resultados exatos, com 
margem de erro nula.
O maior exemplo de pesquisa censitária no âmbito público brasileiro é a reali-
zação do Censo pelo Instituto Brasileiro de Geograia e Estatística (IBGE), quando 
são coletados dados sobre a totalidade dos brasileiros por meio de coletas de dados 
nos domicílios. O Censo brasileiro foi realizado pela primeira vez em 1872, tem 
periodicidade decenal e teve sua última aplicação (até o momento) em 2010.
Em termos de efeitos, os dados censitários permitem ao Governo Federal, a 
outros entes públicos estatais e não estatais (como as organizações da sociedade 
civil) e a agentes do mercado conhecer a realidade da população brasileira com 
relação a sua composição sociodemográica, utilização, necessidade e acesso a 
políticas públicas e perspectiva de consumo. Assim, os resultados do Censo podem 
contribuir para a elaboração ou adequação de políticas públicas, por exemplo.
Enquanto a grande qualidade da pesquisa censitária é a possibilidade de 
conhecer um universo de maneira geral, o principal empecilho ou característica 
negativa deste tipo de pesquisa é o fato de que pode oferecer muitos custos em se 
tratando de recursos humanos, inanceiros, materiais e do tempo envolvido na 
pesquisa, cujas etapas são, no mínimo, de elaboração do instrumento de coleta 
de dados, treinamento de equipe, coleta de dados, monitoramento da coleta, 
tabulação e análise dos dados e produção de relatórios. Nesse sentido, o censo é 
mais recomendado entre universos pequenos ou em casos nos quais o desenho 
amostral se revela complexo e extenso, como discutido na sequência desta seção.
Diante de universos grandes e complexos e/ou de diiculdades relaciona-
das à estrutura ou tempo disponível, não raras vezes, as pesquisas são realizadas 
População, Censo e Amostragem
R
ep
ro
d
u
çã
o
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o
 C
ó
d
ig
o
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
ir
o
 d
e 
19
98
.
33
tendo como objeto apenas parcelas da população a ser investigada. Tais parcelas 
constituem recortes da população e são denominadas amostras, cuja composi-
ção depende de critérios a ser considerados para tal seleção.
De acordo com Barbetta (2011), uma amostra diz respeito à coleta de dados 
entre uma parte da população que compõe o objeto de pesquisa. O autor apre-
senta de maneira didática tal conceito:
A amostragem é naturalmente usada em nossa vida diária. Por exem-
plo, para veriicar o tempero de um alimento em preparação, podemos 
provar (observar) uma pequena porção. Estamos fazendo uma amos-
tragem, ou seja, extraindo do todo (população) uma parte (amostra), 
com o propósito de termos uma ideia (inferirmos) sobre a qualidade de 
tempero de todo o alimento (BARBETTA, 2011, p. 41).
Nesse sentido, em comparação com o censo, uma pesquisa amostral tem como 
vantagens a economia e rapidez, enquanto apresenta como principal ponto nega-
tivo a redução da precisão dos resultados, uma vez que assume-se a existência 
de uma margem de erro em pesquisas amostrais.
Parâmetros são medidas que descrevem as características dos casos em um 
universo. Estimativas são valores calculados com base na amostra para ava-
liar parâmetros.
Além do Censo, o IBGE realiza coletas anuais de dados entre amostras da 
população nacional por meio da Pesquisa Nacional por Amostras de Domi-
cílios (PNAD) desde 1967, com as inalidades de gerar informações entre os 
períodos censitários e aprofundar a investigação sobre temas investigados 
de maneira insuiciente ou não abordados pelo Censo.
Fonte: IBGE ([2018], on-line)¹.
A PESQUISA
R
ep
ro
d
u
ção
 p
ro
ib
id
a. A
rt. 184 d
o
 C
ó
d
ig
o
 Pen
al e Lei 9.610 d
e 19 d
e fevereiro
 d
e 1998.
IU N I D A D E34
Em se tratando de aspectos relacionados ao processo de planejamento amostral, 
Malhotra (2001) discorreu sobre os estágios pertinentes a este aspecto, dentre 
os quais são relevantes a esta exposição a escolha da técnica amostral e a deter-
minação do tamanho da amostra.
Com relação ao primeiro aspecto, Teixeira, Zamberlan e Rasia (2008, p. 93) 
airmam que “a decisão mais importante sobre esta escolha diz respeito a utilizar 
amostragem probabilística ou não-probabilística”. Nesta apresentação, iniciemos 
pelo segundo tópico.
As amostras não-probabilísticas são pautadas pelo julgamento do pesquisa-
dor, que seleciona os casos que comporão a análise a partir de critérios arbitrários 
ou inconscientes, sendo que tal amostragem pode gerar resultados mais expres-
sivos, caso já sejam conhecidos, em alguma medida, a população e o problema 
a ser investigado. Dentre as técnicas de amostragem não-probabilística, três são 
destacadas neste estudo:
AMOSTRAGEM POR CONVENIÊNCIA
É o tipo de amostragem mais simples, uma vez que decorre das escolhas do 
pesquisador a partir da conveniência com que tem acesso a indivíduos, locais, 
documentos ou outro objeto de pesquisa. Nesse sentido, tem como pontos positi-
vos o fato de consumir menos tempo e menos recursos por conta da seleção rápida.
Por outro lado, Teixeira, Zamberlan e Rasia (2008, p. 94) atentam para a limi-
tação da utilização de tal critério: “estão presentes muitas fontes potenciais de 
tendenciosidade da seleção, inclusive a auto-seleção dos entrevistados. As amos-
tras por conveniência não são representativas de qualquer população”.
Isto posto, é salutar reforçar que os resultados decorrentes de uma pesquisa 
realizada com amostragem por conveniência não podem ser generalizados para 
a população, especialmente por conta dessa possibilidade de enviesamento da 
composição amostral.
População, Censo e Amostragem
R
ep
ro
d
u
çã
o
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o
 C
ó
d
ig
o
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
ir
o
 d
e 
19
98
.
35
AMOSTRAGEM POR COTAS
Diferentemente da amostragem por conveniência, a amostragempor cotas parte 
de critérios especíicos para sua composição, de modo que o desenho amostral é 
construído em dois momentos: o primeiro momento é de identiicação de carac-
terísticas relevantes a ser consideradas como critérios para seleção dos casos; o 
segundo momento diz respeito à seleção dos casos para análise, tendo em vista 
a observação dos critérios.
São múltiplas as dimensões que podem constituir critérios para determina-
ção desse tipo de amostra, sendo que a deinição de quais dimensões, categorias 
ou características que devem ser consideradas decorre dos passos anteriores 
da elaboração da pesquisa, os quais foram abordados nas seções preliminares 
a esta. Isso signiica que os “iltros”, pelos quais a população de casos será ava-
liada para deinição da amostra, depende das informações que os pesquisadores 
(os gestores públicos, neste caso) foram capazes de reunir de maneira explora-
tória, descritiva ou causal.
De acordo com Teixeira, Zamberlan e Rasia (2008, p. 96), “sob certas condi-
ções, a amostragem por cotas proporciona resultados próximos aos da amostragem 
probabilística convencional”, já que pode ser utilizada de modo a conferir maior 
semelhança entre os peris da população e da amostra com relação às categorias 
deinidas como centrais para a avaliação.
AMOSTRAGEM TIPO BOLA-DE-NEVE
Essa modalidade de amostragem é realizada em pesquisas nas quais há diicul-
dade para encontrar a população que precisa ser investigada e se caracteriza pela 
solicitação, àqueles que forem identiicados, de que indiquem novos casos para 
a investigação. Isso signiica que o ponto inicial da pesquisa pode ser um único 
caso e as coletas de dados subsequentes dependem de indicações (seja de pes-
soas ou por meio de documentos) sobre novos componentes do universo que 
possam ser entrevistados.
A PESQUISA
R
ep
ro
d
u
ção
 p
ro
ib
id
a. A
rt. 184 d
o
 C
ó
d
ig
o
 Pen
al e Lei 9.610 d
e 19 d
e fevereiro
 d
e 1998.
IU N I D A D E36
Teixeira, Zamberlan e Rasia (2008, p. 96) airmam que
este processo pode ser executado em ondas sucessivas, obtendo-se in-
formações a partir de dados, o que nos leva a um efeito de ‘bola-de-ne-
ve’. O objetivo principal da amostragem tipo bola-de-neve é estimar 
características raras na população.
Nesse sentido, os autores apresentam um exemplo de situação e que tal técnica de 
amostragem pode ser aplicável na gestão pública, diante da perspectiva de ação 
pública para construção de um espaço especíico destinado à prática de espor-
tes radicais por “motoqueiros” ou “jipeiros”, é importante a prefeitura conhecer 
a opinião desse grupo sobre local e condições adequadas, mas, por outro lado, 
é difícil identiicar tais indivíduos entre o conjunto dos cidadãos, de modo que 
a identiicação e indicação de um indivíduo por outro contribui em muito para 
a realização da pesquisa.
Avançando de um exemplo relacionado aos cidadãos para uma ilustração sob 
a perspectiva institucional, podemos nos colocar diante da demanda, enquanto 
gestores públicos, de propor a criação de um órgão especíico para gestão dos 
conselhos municipais de políticas públicas. Em algumas cidades, há organismos 
conhecidos como “casa dos conselhos” ou “casa de conselhos”, responsáveis pelas 
atividades burocráticas relacionadas às referidas instituições participativas. As 
informações sobre os conselhos (como existência, documentos, composição etc.), 
contudo não são amplamente acessíveis no Brasil (LÜCHMANN; ALMEIDA; 
GIMENES, 2016), de modo que as “casas” possuem, ainda, menor visibilidade.
Nesse contexto, uma estratégia para que o pesquisador/gestor público tome 
conhecimento sobre os procedimentos, legislação, estrutura e funcionamento 
das “casas de conselhos” seria, a partir do contato com a primeira, solicitar ajuda 
para estabelecer contato com outra ou outras.
Apesar de conigurar uma interessante estratégia amostral, a bola-de-neve 
pode conduzir a resultados tendenciosos, uma vez que os investigados sabem 
quais os objetivos e o conteúdo da pesquisa antes de indicarem outros à parti-
cipação, de modo que existe a possibilidade de informarem apenas indivíduos 
ou instituições que coadunem com suas opiniões ou com seu desenho estrutu-
ral, nos casos dos exemplos anteriores.
População, Censo e Amostragem
R
ep
ro
d
u
çã
o
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o
 C
ó
d
ig
o
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
ir
o
 d
e 
19
98
.
37
Cabe, nestes casos, ao pesquisador lançar seu olhar atento às indicações, sendo 
que, diante de ausência de dissonâncias, pode incitar o respondente a indicações 
de casos discrepantes ou mesmo conlitantes com relação às suas características 
ou reiniciar o processo de bola-de-neve com a busca de um novo caso que “dis-
pare” outro conjunto de coleta de dados a ser investigados.
As amostras probabilísticas decorrem de seleções ao acaso, com chance de 
que todos os elementos pertencentes ao universo possam compor a amostra e, 
ainda que seja possível, estabelecer inferências ou projeções à totalidade da popu-
lação. Três técnicas de amostragem probabilística se destacam:
AMOSTRAGEM ALEATÓRIA SIMPLES
Técnica que considera a possibilidade igual e conhecida de que todos os elemen-
tos que compõem um universo possam fazer parte da amostra a ser selecionada. 
Nesse sentido, é mais indicada para populações homogêneas, ou seja, com dis-
tribuição de características em proporções semelhantes.
Para tanto, a amostra aleatória simples é extraída por meio de um sorteio, 
de modo que antes da seleção do primeiro caso, todas as unidades que formam 
o universo têm a mesma chance de ser sorteadas. Após o sorteio do primeiro 
elemento que irá compor a amostra, todos os demais elementos concorrem ao 
novo sorteio com igual chance de serem selecionados, e assim sucessivamente.
De acordo com Teixeira, Zamberlan e Rasia (2008, p. 97), “este método equi-
vale a um sistema de loteria em que todos os nomes (população) são colocados 
em uma urna, a urna é agitada e os nomes dos ganhadores (amostra) são extra-
ídos de maneira não tendenciosa”.
AMOSTRAGEM ESTRATIFICADA
Um estrato corresponde a um segmento no interior de uma população, de modo 
que uma amostra estratiicada é uma amostra cuja composição respeita deter-
minada característica distintiva. A expectativa é de dividir uma população em 
A PESQUISA
R
ep
ro
d
u
ção
 p
ro
ib
id
a. A
rt. 184 d
o
 C
ó
d
ig
o
 Pen
al e Lei 9.610 d
e 19 d
e fevereiro
 d
e 1998.
IU N I D A D E38
subgrupos homogêneos sob determinado aspecto (estrato) de maneira que entre 
os estratos seja veriicada heterogeneidade (BARBETTA, 2011).
A estratiicação, não raras vezes, é o primeiro momento de deinição de uma 
amostra, sendo acompanhada, em momento posterior, pela determinação dos 
casos a partir de seleção aleatória simples. Um exemplo desta combinação é o 
conjunto de dados de opinião pública produzido ao redor do mundo por insti-
tutos de pesquisa, como o World Values Survey (WVS) e o Comparative Study of 
Electoral Systems (CSES), que realizam coletas de dados junto a amostras repre-
sentativas de populações nacionais de maneira periódica, as quais permitem 
conhecermos o peril, as opiniões e percepções dos indivíduos acerca de questões 
relacionadas a aspectos sociodemográicos, de participação política, coniança 
em instituições como aquelas do poder público, fontes e frequência com que se 
informam, avaliação e demandas por políticas públicas etc.
Majoritariamente, pesquisas com amostras representativas nacionais uti-
lizam como critérios deinidores (estratos) os percentuais de distribuição dos 
indivíduos por sexo, faixa etária e área de residência — região geográica, área 
rural ou urbana e ainda capital, região metropolitana ou município do interior.
Nesse sentido, os resultados de pesquisas que combinam amostragem estra-
tiicada com amostragem aleatória simples permitem aos pesquisadores produzir 
inferênciascomplexas, como:
 ■ Como homens e mulheres percebem a importância do cuidado com a 
saúde, uma vez que há resultados de pesquisas que apontam que as mulhe-
res são mais cuidadosas e atenciosas com sua saúde do que os homens.
 ■ Em que medida jovens de diferentes etnias e faixas de renda se relacio-
nam com a educação formal e com o mercado de trabalho nas diferentes 
regiões, tentando entender se a relação entre necessidade de geração de 
renda combinada com evasão escolar atinge negros e brancos e de dife-
rentes classes sociais da mesma maneira em todo o país.
 ■ Quais os efeitos da disseminação de notícias sobre o combate à corrupção 
entre segmentos da população que dispõem de distintos níveis cognitivos 
(capacidade de interpretar informações) e de acesso aos meios de comu-
nicação, com vistas a investigar se tal percepção tem estimulado a maior 
coniança nas instituições políticas por conta das investigações ou tor-
nado os cidadãos mais descrentes com relação à ética na política.
População, Censo e Amostragem
R
ep
ro
d
u
çã
o
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o
 C
ó
d
ig
o
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
ir
o
 d
e 
19
98
.
39
AMOSTRAGEM POR CONGLOMERADOS
A amostragem por conglomerados é utilizada especialmente em situações em 
que há informações que revelem a existência de grupos homogêneos entre si, 
mas heterogêneos em sua composição interna. Nesses casos, mais relevante do 
que investigar o conjunto dos grupos seria selecionar alguns desses grupos para 
analisá-lo internamente (TEIXEIRA; ZAMBERLAN; RASIA, 2008).
Assim, a amostragem por conglomerados é uma técnica muito utilizada por 
ser econômica e prática, já que a deinição de grupos ou conglomerados especí-
icos a ser investigados torna mais ágil o processo de coleta de dados.
Deinido um conglomerado, o passo seguinte é determinar se a pesquisa será 
realizada em um ou dois estágios: caso haja um único estágio, todas as unidades 
do conglomerado devem ser investigadas; caso haja dois estágios, no interior do 
conglomerado, deve ser realizada nova amostragem, cuja técnica para determi-
nação variará de acordo com os interesses do pesquisador/gestor público. No 
caso de amostragem por conglomerado em dois estágios, a seleção toma o con-
junto dos casos alocados no grupo como universo para redeinição amostral.
É importante perceber que são múltiplas as possibilidades de análises e 
de investigações, mas, mais do que ilustrar formas e combinações de técnicas 
amostrais, é preciso que os gestores públicos tenham em mente que qualquer 
fenômeno, problema, situação ou questão pode ser investigado.
A deinição da investigação passa por dois critérios: a seleção de técnicas 
para coletas de dados — se quantitativas ou qualitativas — e a determinação do 
tamanho da amostra. As técnicas, conforme anteriormente mencionado, serão 
abordadas nas próximas unidades de estudos, enquanto o tamanho da amostra 
varia de acordo com o tipo de amostragem e a técnica a ser utilizada.
Por exemplo, a amostragem tipo bola-de-neve combinada com a técnica de 
entrevistas semi-estruturadas ou não-estruturadas podem ser utilizadas até a 
exaustão das informações, ou seja, até que os resultados da coleta de dados não 
mais apresentem novos elementos para a análise e tenham em seu conteúdo ape-
nas repetições ou reformulações das mesmas informações.
À exceção de especiicidades que serão destacadas quando pertinentes, a 
exaustão é utilizada para pesquisas qualitativas e a deinição de tamanhos de 
A PESQUISA
R
ep
ro
d
u
ção
 p
ro
ib
id
a. A
rt. 184 d
o
 C
ó
d
ig
o
 Pen
al e Lei 9.610 d
e 19 d
e fevereiro
 d
e 1998.
IU N I D A D E40
amostras para pesquisas quantitativas, com destaque àquelas cujas amostras 
são probabilísticas.
Uma questão que recorrentemente se coloca aos pesquisadores diz respeito 
ao número de casos necessários à composição amostral, ou seja, o tamanho da 
pesquisa. Teixeira, Zamberlan e Rasia (2008, p. 99) destacam alguns fatores que 
devem ser considerados pelos gestores públicos quanto a determinação do tama-
nho da amostra:
 ■ A importância da decisão (quanto mais importante, menor deve ser a 
margem de erro).
 ■ A natureza da pesquisa.
 ■ Os tamanhos das amostras usadas em estudos semelhantes (o ideal é você 
procurar identiicar outras pesquisas feitas no mesmo setor para veriicar 
quantos, em média, foram pesquisados).
 ■ Taxas de preenchimento (muitas vezes, há pesquisas em que o grau de 
recusa é muito elevado).
 ■ Restrições de recursos (se há poucos recursos, a tendência é a amostra 
ser menor e a margem de erro maior).
De acordo com Barbetta (2011), o tamanho da amostra varia também em con-
formidade com o quanto o pesquisador admite que pode se equivocar em sua 
investigação, ou seja, o erro amostral tolerável. A menos que uma pesquisa seja 
censitária, sempre haverá possibilidade de existência de erro, uma vez que a infe-
rência sobre resultados decorrentes de análises amostrais para um universo, não 
necessariamente (ou, para ser mais exato, provavelmente nunca), reletirá a tota-
lidade do resultado que seria encontrado pelo censo.
Com relação à intensidade do erro amostral tolerável, não há um parâmetro 
único estabelecido, uma vez que as especiicidades com relação aos problemas e 
objetos de pesquisas demandam distintos níveis de exatidão, por conta dos efei-
tos que podem provocar.
Por exemplo, pesquisas relacionadas à produção de vacinas devem conside-
rar possibilidades ínimas de erros, pois o controle de doenças epidêmicas é uma 
das principais preocupações em saúde pública. Exames clínicos, por sua vez, não 
População, Censo e Amostragem
R
ep
ro
d
u
çã
o
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o
 C
ó
d
ig
o
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
ir
o
 d
e 
19
98
.
41
devem, em hipótese alguma, ser analisados de maneira amostral (independen-
temente de tamanho de erro), pois se tratam de diagnósticos sobre a condição 
de saúde dos indivíduos.
Em situação completamente distinta, mas com necessidade de erro amos-
tral mínimo possível, temos também as obras públicas, cujas consequências de 
falhas estruturais podem culminar em desabamentos e prejuízos não apenas às 
inanças públicas, mas também resultar em perda de vidas.
Por outro lado, a avaliação sobre o desempenho do serviço público ou de 
seus gestores não necessariamente carece de extremo rigor com relação ao erro 
amostral, uma vez que para sabermos qual a percepção da população com relação 
a determinado aspecto no âmbito do Estado podemos admitir que estimativas 
entre parcelas da população representem, em grande medida, a opinião geral.
O exemplo mais recorrente sobre o tema nos remete às pesquisas de inten-
ção de voto para eleições. É comum, ao apresentar os resultados de pesquisas 
que buscam estimar em quem os eleitores votariam nas próximas eleições, que 
o texto ou a fala do interlocutor contenham informações de que o percentual 
indicado pode variar “para mais ou para menos”. Essa indicação de variação, 
nas pesquisas de intenção de votos, costuma oscilar entre 2 a 3% correspon-
dente ao erro amostral.
Diante do exposto, o cálculo do tamanho da amostra depende, invariavel-
mente, do estabelecimento do erro amostral tolerável. Neste livro, nos deteremos 
a informar como proceder o cálculo básico de tamanho de amostra tendo em 
vista um erro amostral determinado. É, contudo, imprescindível que o estabe-
lecimento do tamanho e da técnica de amostragem sejam conduzidos por um 
proissional com conhecimento e competência especíica para tanto, no caso, 
um conhecimento estatístico.
Quando não se conhece o tamanho de uma população ou quando ela é con-
siderada pequena, o cálculo amostral pode ser realizado tendo em vista apenas 
o erro amostral tolerável, conforme expresso na fórmula a seguir (BARBETTA, 
2011, p. 58):
Considerações Finais
R
ep
ro
d
u
çã
o
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 184
 d
o
 C
ó
d
ig
o
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
ir
o
 d
e 
19
98
.
43
CONSIDERAÇÕES FINAIS
As temáticas abordadas, nesta primeira unidade, buscaram possibilitar a vocês 
compreenderem as justiicativas, a relevância e as perspectivas a serem conside-
radas na realização de pesquisas no âmbito da gestão pública.
A proposta inicial de nossa discussão foi a apresentação dos itens que con-
cernem à pesquisa. Tão importante quanto vislumbrarmos as áreas em que os 
gestores públicos podem se valer de investigações, é termos clareza sobre o que 
é uma pesquisa e como construí-la. Para tanto, nesta unidade, discorremos sobre 
os primeiros passos dessa trajetória.
Partimos da tentativa de entender as distintas formas de conhecimento e a 
relevância do conhecimento cientíico ao debate na gestão pública e no processo 
de formação de gestores públicos. A partir dessa deinição, avançamos no sen-
tido de compreender com maior detalhamento os diferentes métodos possíveis 
à realização de pesquisas, a necessidade de que o gestor público tenha clareza 
com relação à delimitação do problema que busca sanar com a investigação e os 
diferentes níveis de realização de uma pesquisa, os quais dependem de quanto 
conhecimento anterior está disponível aos pesquisadores/gestores públicos que 
se encontram diante de uma questão a resolver.
Ademais, os conceitos de população (ou universo), de censo e amostra — bem 
como suas características — e, com relação ao segundo conjunto de perspectivas, 
as diversas possibilidades de técnicas amostrais probabilísticas e não-probabi-
lísticas, foram expostos com o intuito de contribuir para que os futuros gestores 
públicos sejam capazes de vislumbrar opções para compor as amostras, o que se 
complementa com as informações em torno de como estabelecer seu tamanho.
Finalizamos a unidade tendo, então, o embasamento inicial necessário à rea-
lização de pesquisas no campo da gestão pública, de modo que esse conjunto de 
temas abordados nos fornece subsídio para seguirmos o caminho, conhecendo 
métodos e técnicas para coleta e análise de dados e informações.
44 
1. A realização de pesquisas pode ser impactada por distintos aspectos. Conside-
rando de maneira especíica o âmbito da gestão pública, abordado neste livro 
didático, analise as airmações a seguir, coloque V para airmativas verdadeiras 
e F para airmativas falsas :
I. São determinados e imutáveis os campos em que as pesquisas podem ser 
realizadas no âmbito da gestão pública.
II. Universo, população, censo, amostra e casos dizem respeito a um conjunto 
de itens a ser considerados.
III. Os objetivos que tornam necessárias as investigações no âmbito da gestão 
pública são sempre coletivos.
Tendo em vista sua análise acerca das airmações anteriores, as airmativas I, II e 
III são, respectivamente:
a) V, V e F.
b) V, F e F.
c) F, V e F.
d) V, F e V.
e) F, F e V.
2. Aos gestores públicos é facultada a possibilidade de realização de pesquisas e 
investigações sobre muitos temas, com diferentes objetivos, objetos e técnicas 
amostrais, de coleta, de análise e de apresentação de resultados por meio de 
relatórios. No que tange especiicamente às políticas públicas, é possível o de-
senvolvimento de pesquisas? Justiique.
3. A realização de uma pesquisa pode partir de distintas premissas, em se tratan-
do de métodos para sua estruturação, uma vez que o método de pesquisa é 
anterior à composição da amostra e coleta de dados, dentre outras atividades. 
Nesse sentido, o método de pesquisa que se utiliza do silogismo é:
a) Dedutivo.
b) Indutivo.
c) Hipotético-dedutivo.
d) Fenomenológico.
e) Dialético.
45 
4. A delimitação de uma pesquisa é perpassada por diferentes etapas, as quais 
constituem um caminho, em analogia, à maneira como a trajetória de constru-
ção da investigação foi deinida neste material de estudos. A primeira etapa ou 
o primeiro passo à delimitação de uma pesquisa é:
a) Deinição da técnica de amostragem.
b) Cálculo do tamanho da amostra.
c) Estruturação do relatório.
d) Identiicação do problema.
e) Estabelecimento de cronograma. 
5. No que diz respeito à realização de pesquisas no campo da gestão pública, é 
importante aos proissionais envolvidos no processo que tenham clareza sobre 
o público alvo a ser contemplado em decorrência dos resultados, bem como 
acerca da consecução da pesquisa. Nesse sentido, quando a opção dos pesqui-
sadores é de coletar dados entre todos os indivíduos que podem estar relacio-
nados ao problema de pesquisa em pauta, então, trata-se de coleta de dados:
a) Censitária.
b) Amostral por conveniência.
c) Amostral por snow-ball.
d) Amostral por cotas.
e) Amostral aleatória simples.
46 
TENDÊNCIAS E PERSPECTIVAS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA NO BRASIL
O desaio de melhorar a gestão pública é imenso. O resultado que se busca é mudar as 
práticas gerenciais, transformar a gestão pública para gerar mais bem-estar e desenvol-
vimento para os cidadãos e atores econômicos. A concretização do ideal de cidadania 
insculpido na Constituição de 1988 e o aproveitamento das oportunidades de desenvol-
vimento sinalizadas nos atuais cenários externo e interno (pré-sal, megaeventos, prestí-
gio internacional, solidez econômica, mobilidade social etc) requerem um novo conjun-
to de esforços de melhoria da gestão pública, de modo a equacionar satisfatoriamente 
dois fatores críticos: tempo e escala.
O Brasil passou os últimos 15 anos discutindo se a ‘reforma gerencial’ era boa ou se dava 
certo, aplicando-a em pequenas doses. Embora hoje haja mais clareza sobre a relevância 
do tema (gestão pública é crescentemente uma questão de política pública), direção a 
seguir e apesar de existirem casos de sucesso, no geral, os resultados concretos colhidos 
até o momento são largamente insuicientes para o salto de qualidade necessário.
Os padrões emergentes de gestão de políticas públicas em rede em todos os setores 
de intervenção governamental requerem esforços integrados de melhoria da gestão, 
abrangentes e em múltiplos níveis – envolvendo diversos setores de forma coordenada; 
envolvendo as esferas federal, estadual, municipal; os três poderes; mecanismos partici-
pativos e parceiros do poder público. Esta questão envolve mais de cinco mil governos 
municipais, 100 mil organizações públicas, 54 mil conselhos de políticas em cerca de 40 
temas, 500 mil dirigentes públicos, oito milhões de servidores e um incontável número 
de parceiros. Virtualmente todas as políticas e programas de âmbito nacional perpas-
sam esse universo – em alguns casos, destacadamente saúde e educação, perpassam 
todo este universo. Iniciativas focadas, fragmentárias, incrementalistas e episódicas têm 
sua importância e necessidade, mas, no todo, geram efeitos residuais, insigniicantes ou 
sem a devida sustentabilidade.
O Estado brasileiro, com esse imenso e complexo conjunto organizacional, segue sendo 
uma predominante combinação de burocracia ortodoxa patrimonialista de baixo de-
sempenho, limitando a cidadania, impondo uma altíssima carga tributária (relativamen-
te ao retorno) e emperrando o desenvolvimento. Apesar de avanços, a gestão pública, 
ainda é excessivamente insulada, rígida, procedimental e desalinhada do beneiciário. 
Embora haja ilhas de excelência, as organizações públicas apresentam, em sua maioria, 
signiicativos déicits estruturais de capacidade e desempenho. A complexidade do pro-
blema da governança pública no Brasil requer uma atuação integrada, imediata e em 
larga escala; uma mobilização ou esforço nacional de melhoria da gestão pública.
Alguns signiicativos passos já foram dados nesta direção. No caso, são iniciativas de 
melhoria da gestão pública que podem e devem se integrar e potencializar seus efeitos. 
Dentre outras, três categorias merecem destaque.
O Ministério do Planejamento possui programas e instrumentos voltados para o tema, 
como o Programa GesPública, que tem como mérito engendrar uma extensa rede mobi-47 
lizadora, ramiicada nas três esferas de governo, formada por praticantes de um grande 
conjunto de organizações públicas, oferecendo instrumentos elaborados de avaliação 
da gestão e melhoria do atendimento, dentre outros. Desde 2009, a lógica do programa 
vem se deslocando de uma visão essencialmente vinculada a abordagens da gestão da 
qualidade para uma ótica de resultados. Outro programa, o PNAGE, tem como mérito 
mobilizar os estados para o tema, despertando consciências e interesses e buscando 
aprimorar seus requisitos em relação ao tempo, à escala e ao custo de transação. Sua 
concepção é voltada para os estados, o diagnóstico de partida carece de atualização e 
devem ser introduzidas melhorias nos processos de contratação, manutenção de equi-
pes e disponibilidade de recursos. Da mesma forma, a agenda federativa conduzida pelo 
Ministério do Planejamento possui programas – como o Brasil Municípios – e iniciativas 
voltadas para o uso de soluções automatizadas e gratuitas de gestão pública pelos mu-
nicípios, tais como os aplicativos existentes no Portal do Software Público Brasileiro / 
e-Cidade.
O Movimento Brasil Competitivo notabilizou-se como organização nucleadora de um 
expressivo conjunto de esforços de melhoria da gestão pública em âmbito nacional, 
abrangendo todas as esferas, mediante um modelo de intervenção inanciado pela ini-
ciativa privada, rápido e eicaz. Teve um começo excessivamente focado em questões 
iscais (redução de despesas e aumento de receitas) e agora busca expandir-se para 
intervenções mais abrangentes. Um terceiro modelo de melhoria gerencial tem sido 
a atuação direta de governos e organizações públicas, pautados pela diversidade de 
abrangência (governos como um todo ou setores ou organizações) e objetos das inter-
venções.
A experiência brasileira recente revela, enim, atividade e aprendizado. Todas estas ini-
ciativas são positivas e têm gerado bons resultados, mas resultados ainda muito aquém 
do necessário e que podem e devem se potencializar. É preciso não apenas explorar e 
ampliar as complementaridades e melhorar a eiciência destas iniciativas, mas é preciso, 
sobretudo, integrá-las e expandi-las, adensando, aumentando e revigorando a massa 
crítica que geraram para promover uma reação em cadeia numa escala maior para cau-
sar uma transformação relevante. O processo como um todo de melhoria gerencial (e 
em perspectiva mais geral, de construção do Estado) carece de uma revisão crítica de 
modo a superar um paradigma fragmentário e localizado e operar segundo uma lógi-
ca mais holística. É preciso um salto quântico. E existem algumas condições básicas já 
estabelecidas, tais como recursos e reconhecimento da relevância do tema pela classe 
política, pela mídia e, em ainda pequena extensão, pelo cidadão. Mas, é preciso modelar 
soluções adequadas à complexidade e escala do problema.
Um novo ciclo de inovação da Gestão Pública representa, sobretudo, uma nova postu-
ra. Primeiramente, de recusa à postura renunciadora, alimentada pela impotência, pelo 
desconforto e aversão à complexidade, pela adesão às teorias conspiratórias (das forças 
políticas contrárias e dos fatores obstrutores), pelo complexo de inferioridade (o fata-
lismo cultural, a cultura política, etc). A sensação de satisfação plena com os pequenos 
48 
avanços que não mudam a realidade, que apenas confortam paliativamente a omissão 
e a incapacidade. É preciso romper o ciclo de mediocridade e atuar com mais ousadia 
e coragem, saindo do varejo para atuar no atacado. Jamais haverá condições ideais – é 
preciso criá-las, construindo, com bons resultados, uma arquitetura estratégica cada vez 
mais favorável. Mas nunca antes na história deste país as condições para tal proposta 
foram tão favoráveis.
Fonte: Gomes e Martins (2013).
REFERÊNCIAS
BARBETTA, P. A. Estatística aplicada às Ciências Sociais. 7. ed. Florianópolis: Uni-
versidade Federal de Santa Catarina, 2011.
CERVO, A. L.; BERVIAN, P. A. Metodologia cientíica. 5. ed. São Paulo: Pearson Pren-
tice Hall, 2002.
DELLA PORTA, D.; KEATING, M. (Ed.). Aprroaches and methodologies in the social 
sciences: a pluralist perspective. Cambridge: Cambridge University, 2008.
DEMO, P. Desaios modernos da educação. 13. ed. Petrópolis: Vozes, 1993.
FIGUEIREDO FILHO, D. B.; ROCHA, E. C.; SILVA JUNIOR, J. A.; PARANHOS, R. Causalida-
de e mecanismos em Ciência Política. Mediações, v. 18, n. 2, jul./dez. 2013. p. 10-27.
GOMES, R. C.; MARTINS, H. F. Tendências e perspectivas da Administração Pública no 
Brasil. Revista de Pesquisa em Políticas Públicas, n. 1, jul. 2013. p. 30-62.
GIL, A. C. Métodos e técnicas de pesquisa social. São Paulo: Atlas, 2008.
GIMENES, E. R. Estado, governo e políticas públicas. Maringá: Unicesumar, 2018.
HEGEL, G. W. F. Princípios da Filosoia do Direito. São Paulo: Martins Fontes, 2000.
KOTLER, P. Princípios de Marketing. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2007.
LAKATOS, E. M.; MARCONI, M. A. Fundamentos de metodologia cientíica. São 
Paulo: Atlas, 1991.
LÜCHMANN, L. H. H.; ALMEIDA, C. C. R.; GIMENES, E. R. Gênero e representação polí-
tica nos conselhos gestores no Brasil. Dados, Rio de Janeiro, v. 59, n. 3, set. 2016. p. 
789-822.
MACHADO, L.; SILVA, L. V. A pesquisa acadêmica no contexto internacional - uma 
análise exploratória dos trabalhos de conclusão de curso desenvolvidos na gradua-
ção em Administração com habilitação em Comércio Exterior, em uma universidade 
do Sul do país. In: ENCONTRO ANUAL DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PÓS-GRA-
DUAÇÃO E PESQUISA EM ADMINISTRAÇÃO - ANPAD, 31, 2007, Rio de Janeiro. Anais 
... Rio de Janeiro: ANPAD, 2007.
MALHOTRA, N. K. Pesquisa de marketing: uma orientação aplicada. 3. ed. Porto 
Alegre: Bookman, 2001.
MINAYO, M. C. S. (Org.). Pesquisa social: teoria, método e criatividade. Petrópolis: 
Vozes, 1994.
NÓBREGA JUNIOR, J. M. P. Os homicídios no Brasil, no Nordeste e em Pernambu-
co: dinâmica, relações de causalidade e políticas públicas. 270 f. Tese (Doutorado em 
Ciência Política), Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 2010.
RÊGO, W. D. L.; PINZANI, A. Vozes do Bolsa Família: autonomia, dinheiro e cidada-
nia. São Paulo: Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, 2013.
REFERÊNCIAS
51
TAVARES, V. B.; ALVES, J. F. B. Políticas públicas: uma análise dos indicadores de de-
sempenho dos gastos públicos em educação básica nos municípios do Cariri Oci-
dental da Paraíba. Revista de Administração, Contabilidade e Sustentabilidade, 
v. 5, n. 3, 2015. p. 76-92.
TEIXEIRA, E. B.; ZAMBERLAN, L.; RASIA, P. C. Pesquisa em gestão pública. Ijuí: Uni-
versidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul, 2008.
REFERÊNCIA ON-LINE
1 Em: <https://www.ibge.gov.br/institucional/o-ibge.html>. Acesso em: 04 out. 
2018.
GABARITO
1. Opção correta é a C.
2. São múltiplas as possibilidades de realização de pesquisas que tratem de políticas 
públicas. Nesta unidade de estudos, por exemplo, em muitos pontos do texto foram 
ilustradas discussões com casos de pesquisas realizadas ou de simulações de temas 
relacionados às políticas públicas, como investigações sobre o funcionamento e 
desempenho de ações e os documentos referentes aos conselhos e demais institui-
ções participativas. [Expectativa de resposta]
3. Opção correta é a A.
4. Opção correta é a D.
5. Opção correta é a A.
U
N
ID
A
D
E II
Professor Dr. Éder Rodrigo Gimenes
O MÉTODO DE PESQUISA 
QUALITATIVA
Objetivos de Aprendizagem
 ■ Apresentar o conceito de pesquisa qualitativa, bem como de seus 
principais componentes.
 ■ Discorrer sobre as diferentes técnicas para coleta de dados 
qualitativos e sobre o planejamento e elaboração de questionários.
 ■ Oferecer subsídios à realização de análise de dados qualitativos.
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
 ■ Conceito de pesquisa qualitativa
 ■ Técnicas e instrumentos de coleta de dados qualitativos
 ■ Técnicas de análise de dados qualitativos
Introdução
R
ep
ro
d
u
ção
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o
 C
ó
d
ig
o
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
ir
o
 d
e 
19
98
.
55
INTRODUÇÃO
O olhar do observador é deinidor da maneira como um determinado objeto 
será percebido. Assim, o gestor público precisa “calibrar” seu olhar, a im de vis-
lumbrar um problema ou questão da maneira mais adequadas às necessidades 
de pesquisa.
Tendo em vista o exposto, esta unidade de estudos se debruça sobre um método 
de pesquisa que busca lançar o olhar aprofundado aos objetos, a im de reali-
zar análises detalhadas das questões a serem investigadas: o método qualitativo.
Para tanto, a primeira seção desta unidade trata da deinição conceitual do 
que conforma o referido método, bem como apresenta suas principais carac-
terísticas, a im de promover uma aproximação geral dos gestores públicos em 
formação com a pesquisa qualitativa.
Na sequência, a segunda seção aborda técnicas e instrumentos para a coleta 
de dados qualitativos, de modo a localizar os pesquisadores acerca das possibi-
lidades instrumentais de abordagem dos objetos.
Por im, a última seção é dedicada a modalidades de análises de dados, com 
enfoque no conteúdo daquilo que foi observado da coleta. Destaco, contudo, desde 
esta introdução que, em se tratando de pesquisa qualitativa, a separação entre 
técnicas e instrumentos de coleta e a análise existem apenas no plano explica-
tivo, uma vez que a pesquisa qualitativa ocorre no campo, de modo que a análise 
dos dados se inicia ainda ao longo da coleta, já que o pesquisador bem prepa-
rado é capaz de construir ao menos pequenos “lampejos” de análises enquanto 
desenvolve a coleta dos dados, que permanecerão sob investigação após a ina-
lização da etapa de coleta.
Fazer pesquisa qualitativa é um desaio que demanda a depuração do pes-
quisador, que, assim como no âmbito da gestão pública, tende a desenvolver cada 
vez melhor suas atividades com a prática e a experiência.
Apresento-lhes, então, este desaio.
Bons estudos!
O MÉTODO DE PESQUISA QUALITATIVA
R
ep
ro
d
u
ção
 p
ro
ib
id
a. A
rt. 184 d
o
 C
ó
d
ig
o
 Pen
al e Lei 9.610 d
e 19 d
e fevereiro
 d
e 1998.
IIU N I D A D E56
CONCEITO DE PESQUISA QUALITATIVA
O método qualitativo é caracterizado pela investigação aprofundada a respeito 
de um determinado fenômeno, podendo esse fenômeno ser uma tradição, um 
valor compartilhado entre um grupo, uma percepção com relação a determinada 
política pública ou a maneira como um grupo especíico lida com os espaços 
públicos, por exemplo.
Tais pesquisas têm como preocupação compreender os processos por meio 
dos quais os valores, a cultura, as instituições e as relações sociais se conformam. 
Para tanto, utilizam-se de amostras não probabilísticas e não representativas, com-
postas por pequenos contingentes de casos a ser investigados, uma vez que quanto 
maior o número de casos, maior a diiculdade em realizar análises detalhadas.
Por conta de tal característica, as pesquisas de natureza qualitativa não bus-
cam e nem permitem que seus resultados sejam generalizados, o que signiica 
que a análise de um determinado fenômeno entre um certo grupo não pode ser 
utilizada para explicar um fenômeno, ainda que semelhante, entre outro grupo 
(KOTLER; ARMSTRONG, 2007).
De acordo com Alonso (2016), as pesquisas qualitativas consideram que é 
impossível isolar um fenômeno social do meio em que está inserido, de modo 
que a melhor maneira de investigá-lo seria conhecer tanto a ele quanto aos aspec-
tos que o tangenciam, ou seja, aquilo que o circula e com o que está relacionado.
Conceito de Pesquisa Qualitativa
R
ep
ro
d
u
çã
o
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o
 C
ó
d
ig
o
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
ir
o
 d
e 
19
98
.
57
Nesse sentido, ainda segundo a mesma autora:
os métodos qualitativos têm que se haver com essa problemática. Acei-
tam os limites das técnicas que utilizam e a impossibilidade do conhe-
cimento certo ou verdadeiro. Supõem que todo conhecimento é par-
cial, porque conhecimento de uma parte (não do todo) e porque, ao se 
adotar um ponto de vista, toma-se partido (ALONSO, 2016, p. 9).
De modo geral, as pesquisas qualitativas são utilizadas para compreendermos a 
ordem social e os processos que promoveram ou promovem suas alterações, de 
modo que a opção por uma determinada técnica de pesquisa implica necessaria-
mente em focar menos esforços em outro aspecto. Enquanto as análises sobre os 
processos sociais buscam estudar os objetos e questões em perspectiva tempo-
ral, as investigações sobre instituições ou estruturas fundamentam suas análises 
no espaço, com vistas a compreender os arranjos sociais em um dado momento.
A escolha entre as técnicas depende, pois, da pergunta que o pesquisa-
dor formula. E, a depender do que se investiga, o melhor caminho será 
a combinação entre elas. Não há uma superioridade intrínseca de um 
tipo sobre outro, trata-se mais de achar a adequação, o encaixe entre o 
que se quer saber e a técnica que permite responder à questão de pes-
quisa (ALONSO, 2016, p. 20).
De acordo com Roberto de Oliveira (2000), a Antropologia seria a área das 
Ciências Sociais que tem a pretensão de compreender o outro, aquele diferente 
ou o observado pelo pesquisador. Para tanto, os antropólogos produziriam lei-
turas do mundo social, atividades artesanais de pesquisas que dialogam com o 
trabalho do gestor público e deve, dentro das limitações de sua formação, ser 
potencializada ao máximo.
Nesse sentido, a realização da pesquisa qualitativa seria perpassada por 
três atos, atividades ou etapas de apreensão dos fenômenos sociais: olhar, ouvir 
e escrever. De acordo com o referido autor, tais etapas seriam permeadas pela 
percepção do pesquisador, de modo que a combinação entre tais percepções e o 
conhecimento anterior sobre o problema ou questão e a relexão sobre os dados 
coletados conduziria a resultados com qualidade.
O olhar do pesquisador deve sempre ser domesticado, ou seja, treinado e dis-
ciplinado para que seja capaz de perceber desde grandes aspectos até pequenos 
detalhes. De acordo com Oliveira (2000), o olhar que lançamos sobre um objeto, uma 
população, um espaço, um documento ou qualquer outro aspecto que pretendemos 
O MÉTODO DE PESQUISA QUALITATIVA
R
ep
ro
d
u
ção
 p
ro
ib
id
a. A
rt. 184 d
o
 C
ó
d
ig
o
 Pen
al e Lei 9.610 d
e 19 d
e fevereiro
 d
e 1998.
IIU N I D A D E58
analisar não deve ser um olhar “nu”, mas um olhar “carregado” por conhecimento 
sobre aquilo que pretendemos investigar.
Assim, antes de iniciarmos uma pesquisa e/ou uma coleta de dados, pre-
cisamos nos perguntar o que já sabemos sobre o tema que enfrentaremos. As 
respostas que encontrarmos nos ajudarão a deinir as melhores ou as possíveis 
técnicas para a abordagem, as categorias analíticas que inicialmente poderemos 
identiicar na realização da pesquisa e, estando em campo e para além dele, a dis-
posição dos dados e informações, os arranjos, as peculiaridades e repetições que 
nos permitirão elaborar um relatório que atenda às necessidades demandadas.
Se para as pesquisas em geral o olhar do pesquisador é importante, no campo 
da gestão pública esse olhar pode ser o fator de distinção entre uma abordagem 
burocrática e uma abordagem humanística ou entre observar apenas a lei ou lan-
çar um olhar para aspectos sociais.
Sabemos que, salvo raras exceções, um problema tem mais de uma pers-
pectiva para ser interpretado, de modo que espera-se dos gestores públicos a 
abordagem que considere tanto os aspectos burocráticos e legais no âmbito jurí-
dico quanto a função social do Estado e a garantia de direitos sociais previstos 
pela Constituição Federal de 1988.
Salienta, porém, Oliveira (2000), em sua discussão sobre o trabalho do antro-
pólogo, que o olhar, por si só, não é suiciente. Estendo, aqui, tal observação ao 
papel dos gestores públicos imbuídos da atividade depesquisa.
Tão importante quanto olhar é saber ouvir! Olhar e ouvir são faculdades 
que devem caminhar juntas no exercício da investigação, ou seja, são recur-
sos de que os investigadores devem dispor constante e ininterruptamente, de 
maneira complementar.
Oliveira (2000) destaca que ouvir é mais importante do falar, mas é preciso cui-
dado para não tratar os interlocutores (os entrevistados e/ou objeto da pesquisa) 
como informantes. Assim, o ambiente ideal seria aquele em que o entrevistado se 
sinta à vontade para falar por meio de um diálogo, não de uma inquisição.
Para tanto, o autor destaca que o diálogo entre pesquisador e pesquisado deve 
ser um encontro etnográico, ou seja, uma relação dialógica estabelecida com parti-
lhamento de termos, símbolos e códigos, em se tratando do campo da gestão pública.
Em outras palavras, trata-se do esforço, por parte dos gestores públicos, para 
Conceito de Pesquisa Qualitativa
R
ep
ro
d
u
çã
o
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o
 C
ó
d
ig
o
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
ir
o
 d
e 
19
98
.
59
se aproximarem de seu público, a im de estabelecerem o diálogo e tornarem pos-
sível a consecução de ações, programas, projetos, serviços e políticas públicas.
A im de exempliicar um relato de como os gestores públicos nem sempre esta-
belecem a comunicação com seus interlocutores, destaco, a seguir, um trecho 
de minhas anotações de pesquisa de campo, das quais omiti informações que 
possibilitassem a identiicação do município, período ou conselho sobre o qual 
trata o relato.
Cheguei por volta de 15 minutos antes do horário previsto para o início 
da reunião e assisti à chegada, à movimentação e à organização dos 
membros e dos demais ouvintes. Conforme chegavam, os conselheiros 
me cumprimentavam sem questionamentos sobre a minha presença, 
o que me parecer um indício de que há rotatividade entre os ouvintes, 
pois não estranharam o fato de eu estar na sala onde ocorreria a reu-
nião e não me abordaram em momento algum.
Ainda com relação à maneira como adentravam a sala, percebi que os 
membros do conselho que representavam o governo chegaram com 
mais antecedência que os representantes da sociedade civil e que mui-
tos chegaram em pares ou trios. Ao ocuparem suas cadeiras, demar-
cadas por placas identiicadas nas mesas com nomes e segmento re-
presentado, pude perceber também que os representantes do governo 
ocupavam as cadeiras mais próximas à da presidência do conselho. Não 
me pareceu uma coincidência, principalmente por considerar o fato de 
que uma servidora do próprio órgão executivo municipal era respon-
sável pela disposição dos assentos.
Já os representantes da sociedade civil chegaram praticamente todos 
sozinhos, sentaram-se em suas cadeiras após cumprimentos corriquei-
ros e pouco se falavam, o que me pareceu um indício expressivo de sua 
desarticulação enquanto segmento, ainda que eu estivesse observando, 
naquele momento, uma prática informal de sua convivência.
Considerando suas experiências como cidadão, já se percebeu sem enten-
der algo que lhe era explicado por um servidor público, que utilizava lingua-
gem técnica, termos complexos e siglas em sua fala? 
O MÉTODO DE PESQUISA QUALITATIVA
R
ep
ro
d
u
ção
 p
ro
ib
id
a. A
rt. 184 d
o
 C
ó
d
ig
o
 Pen
al e Lei 9.610 d
e 19 d
e fevereiro
 d
e 1998.
IIU N I D A D E60
[...]
Iniciada a reunião pela presidência do conselho, o primeiro item de 
pauta foi a leitura da ata, de cujo conteúdo chamou-me a atenção ime-
diatamente um trecho com o relato de que, na reunião anterior, que 
um conselheiro solicitou que os membros mais antigos do conselho 
utilizassem uma linguagem menos técnica ao se manifestar nas reuni-
ões, a im de possibilitar que os novos membros entendessem de que se 
tratava suas falas.
Ali percebi os apontamentos teóricos sobre os quais discorro como li-
mitações de espaços de participação institucional materializados, uma 
vez que um ponto negativo dos conselhos (e demais mecanismos de 
participação institucional) é a linguagem técnica que faz do espaço, que 
deveria ser dialógico, um lócus de concentração de poder e de infor-
mações.
Tal solicitação representou a mim também uma clara estratégia dos 
membros mais antigos do conselho para concentrar o poder sobre as 
discussões e deliberações, uma vez que aqueles que não entendiam o 
que estava em pauta pouco poderiam opinar, argumentar ou contribuir 
para a tomada de decisões.
Ademais, considerando a disparidade entre os fatores que permeiam 
a permanência de representantes do governo e da sociedade civil nos 
conselhos – os primeiros podem ocupar diferentes cadeiras do seg-
mento ao longo dos anos e participam das reuniões sem afetar sua con-
dição salarial, já que majoritariamente o fazem em horário de trabalho 
e a serviço de seu empregador; os segundos abrem mão da realização 
de outras atividades, inclusive com restrições aos seus ganhos inancei-
ros em alguns casos e têm sua participação circunscrita ao nicho a que 
pertencem no interior do segmento da sociedade civil – é de se esperar 
que aqueles que mais dominem a oratória e a terminologia técnica se-
jam os representantes do governo.
Assim, mais articulados, dotados de domínio dos mecanismos buro-
cráticos e com maior traquejo linguístico no ambiente dos conselhos, 
seria muito difícil que os representantes da sociedade civil conseguis-
sem encaminhar pautas que não fossem de interesse do governo (GI-
MENES, 2018, [Mimeo]).
Esse trecho do relato de campo de minha pesquisa evidencia a relação entre os 
dois aspectos destacados por Oliveira (2000) que foram abordados até aqui: olhar 
e ouvir. A partir de leituras e incursões anteriores ao campo de pesquisa, cons-
truí categorias analíticas e “treinei” meus olhos e ouvidos para captar até mesmo 
Conceito de Pesquisa Qualitativa
R
ep
ro
d
u
çã
o
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o
 C
ó
d
ig
o
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
ir
o
 d
e 
19
98
.
61
alguns detalhes que poderiam passar despercebidos por outros indivíduos.
Para além da ilustração sobre a importância de olhar e ouvir ao trabalho do 
pesquisador, meu relato também deve ser considerado como alerta aos gesto-
res públicos, uma vez que a solicitação do membro do conselho que pediu para 
que as reuniões fossem conduzidas com menor utilização de termos técnicos, 
de modo a permitir o entendimento de todos, revela uma nuance ainda débil no 
serviço público: a preocupação em aproximar-se dos cidadãos. 
A terceira ação destacada por Oliveira (2000) é o escrever. A escrita trata da tex-
tualização das observações do pesquisador. Assim, é preciso ter clareza de que 
os dados analisados nunca são “puros”, pois desde os seus registros, há uma des-
crição e interpretação daquele que olhou e ouviu.
Tomando o relato de meu caderno de campo como exemplo, minha escrita 
não foi uma descrição “pura” do que aconteceu na reunião, mas uma descrição 
permeada por uma série de categorias analíticas que pude identiicar, como os 
vínculos (ou sua falta) entre os representantes de cada segmento, a disposição 
dos assentos e a quem cabia a responsabilidade por sua organização e o destaque, 
que mencionei a um trecho curto da ata lida, mas que remeteu a diversos outros 
aspectos e mecanismos sobre os quais havia lido, ouvido ou visto anteriormente.
A forma como o relato foi apresentado nesta unidade de estudos, contudo, 
não é a mesma que consta em meu caderno de campo. De acordo com Oliveira 
(2000), a escrita do pesquisador é uma etapa posterior à coleta dos dados, um 
Olhar e ouvir são importantes e constitutivos pontos do trabalho de cam-
po, no qual deve-se tomar extremo cuidado com pré-conceitos que possam 
diicultar a capacidade interpretativa do pesquisador sobre os fenômenos 
analisados. 
Assim, essa observação é válida tanto para discutirmos o método qualitativo 
de pesquisa quanto para a relexão sobre o Estado, a organização dopoder 
público e o papel dos gestores públicos.
O MÉTODO DE PESQUISA QUALITATIVA
R
ep
ro
d
u
ção
 p
ro
ib
id
a. A
rt. 184 d
o
 C
ó
d
ig
o
 Pen
al e Lei 9.610 d
e 19 d
e fevereiro
 d
e 1998.
IIU N I D A D E62
“trabalho de gabinete”, no qual os dados coletados são minuciosamente confron-
tados com o conhecimento acumulado pelo pesquisador e a análise, preliminar 
na coleta de dados, assume caráter crítico.
Na etapa da escrita, Oliveira (2000) aponta um aspecto importante, ainda que 
seja pouco observado pela maioria de nós, a menção de pessoalidade ao texto 
analítico, sem que o autor “se esconda” por meio da impessoalidade e utilize o 
termo “eu” ao narrar fatos, explicar teorias e construir a análise.
Ao gestor público, ainda que nem sempre seja possível tal pessoalidade por 
conta de aspectos formais ou burocráticos, é salutar considerar que um relató-
rio, uma pesquisa, um resultado ou uma política pública são construídos por 
indivíduos, com seus olhares, suas escutas, suas argumentações e suas escritas.
Em se tratando de exemplos de pesquisa qualitativa no âmbito da gestão 
pública, são muitas as possibilidades, como:
 ■ Conhecer as motivações que levam idosos a frequentar as academias da 
terceira idade ou as universidades da terceira idade, espaços nos quais 
podem ter contato com outros indivíduos de mesma faixa etária, mas 
também circular entre outros grupos sociais.
 ■ Compreender as justiicativas para a resistência de mães e pais que não 
utilizam determinado serviço de saúde pública, como a vacinação, para 
a proteção e o cuidado de seus ilhos.
 ■ Entender quais são as percepções sobre saúde e sobre doença entre homens 
adultos, os quais representam as maiores vítimas de diversas doenças e 
que procuram atendimento médico e odontológico em menor medida 
do que as mulheres.
 ■ Abordar a população em situação de rua para identiicar as trajetórias 
que os levaram a tal condição e constatar as possibilidades para alterar 
seu status e lhes proporcionar alguma qualidade de vida.
 ■ Investigar a maneira que cidadãos participam de conselhos ou conferências 
de políticas públicas, de audiências públicas ou que buscam atendimentos 
nas praças de serviços dos órgãos executivos ou por meio das ouvidorias, 
entendendo que suas demandas são atendidas ou ao menos considera-
das pelo Estado.
Conceito de Pesquisa Qualitativa
R
ep
ro
d
u
çã
o
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o
 C
ó
d
ig
o
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
ir
o
 d
e 
19
98
.
63
 ■ Veriicar os argumentos mais recorrentes dentre um conjunto especíico de 
cidadãos com relação à determinada atitude, como os fatores que levaram 
indivíduos a buscar cursos de graduação a distância, a im de conhecer 
o público alvo desse mercado e reletir sobre políticas públicas na área.
Ao longo deste capítulo, iremos nos remeter, algumas vezes, ao premiado livro 
“Vozes do Bolsa Família”, porém o faremos por intermédio de um capítulo escrito 
pelos mesmos autores da obra para compor uma coletânea de estudos acerca dos 
impactos e resultados do referido programa após completada a primeira década 
de sua implantação no Brasil.
As considerações iniciais expostas pelos autores, no capítulo, constituem 
exemplo para reletirmos sobre a apresentação de uma pesquisa qualitativa. Nos 
três parágrafos, os autores expõem o objetivo da investigação, o objeto de pes-
quisa e o contexto social no qual tal temática está inserida.
O presente capítulo relata brevemente os resultados de uma investiga-
ção realizada durante cinco anos, de 2006 a 2011 (Leão Rego e Pinzani, 
2013[a]), e que teve como escopo a apreensão de certos sentidos de 
mudanças morais e políticas observadas em mulheres pobres como re-
sultado do recebimento do benefício do Programa Bolsa Família (PBF).
Procuramos ouvir pessoas que, de certa forma, estão nas piores situ-
ações sociais: vivem na pobreza extrema e habitam as regiões mais 
tradicionalmente desassistidas pelo Estado em todos os sentidos. São 
cidadãos destituídos, muitas vezes, de serviços públicos mínimos, já 
que faltam escolas, estradas, hospitais, centros de cultura, espaços de 
encontro. Isto facilita seu atomismo social e sua desagregação política, 
fazendo deles pessoas excluídas de um ambiente estimulante ao de-
senvolvimento humano. Suas vozes devem ser ouvidas, de preferência, 
mais de uma vez, para que se possa capturar uma dimensão não tan-
gível às outras modalidades de pesquisa sobre o tema. Neste sentido, o 
horizonte da pesquisa foi amplo, pois pretendíamos avaliar o impacto 
do Bolsa Família na “subjetividade” das pessoas, para tentar apreender 
os graus de autonomização alcançados e os meramente potencializados 
pela percepção de renda monetária, por menor que esta seja, como é o 
caso do PBF.
A tradicional ausência do Estado para lhes conceder e garantir direi-
tos as colocou por muito tempo na situação de pessoas sem direito a 
ter direitos. Com isto, o próprio Estado brasileiro decretou por muitos 
anos sua “morte civil”. Elas foram emudecidas porque seu direito de voz 
pública não existe, pois não possuem condições e canais institucionais 
O MÉTODO DE PESQUISA QUALITATIVA
R
ep
ro
d
u
ção
 p
ro
ib
id
a. A
rt. 184 d
o
 C
ó
d
ig
o
 Pen
al e Lei 9.610 d
e 19 d
e fevereiro
 d
e 1998.
IIU N I D A D E64
de expressão. São milhões de brasileiros com praticamente nenhuma 
escolaridade, destituídos de qualiicações e habilitações para qualquer 
tipo de emprego que exija, por exemplo, escrita e leitura e capacidade 
de obedecer a certos comandos mais qualiicados. Isto, per se, coloca 
em questão a natureza do crescimento econômico desprovido de proje-
to democrático substantivo. Neste caso, a permanência da pobreza em 
níveis tão altos evidencia, ou melhor, aponta sua insuiciência profunda 
como modo de inclusão dos habitantes de um país no mundo dos direi-
tos e da herança civilizatória da humanidade. Com intenção polêmica 
gostaríamos de dizer que esta problemática inevitavelmente repõe o 
tema iniludível da necessidade da política, como único modo de trans-
formar o sentido dos processos econômicos e não deixá-los cativos das 
forças cegas dos interesses privados (REGO; PINZANI, 2013b, p. 359).
O tom de relato dos pesquisadores se aproxima da literatura, ao que Alonso 
(2016) deine como proximidade possível, uma vez que as pesquisas qualitati-
vas buscam reconstituir fenômenos ou expressar os mecanismos envolvidos em 
processos, de modo que ao realizar pesquisas que se utilizam de tais técnicas, 
construímos narrativas.
Cada um dos exemplos expostos nesta primeira seção implica em considerar 
um recorte analítico, temporal ou espacial, bem como em estabelecer técnicas 
para coleta e para análise dos dados. Tais assuntos são abordados nas próximas 
seções desta unidade de estudos.
Técnicas e Instrumentos de Coleta de Dados Qualitativos
R
ep
ro
d
u
çã
o
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o
 C
ó
d
ig
o
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
ir
o
 d
e 
19
98
.
65
TÉCNICAS E INSTRUMENTOS DE COLETA DE DADOS 
QUALITATIVOS
Em se tratando de técnicas de pesquisa qualitativa, são múltiplas as maneiras de 
abordar os problemas ou questões e também os casos selecionados para a amos-
tragem. Nesta unidade de estudos, não há intenção de esgotar tais abordagens, 
mas o intuito de apresentar aos gestores públicos, em processo de formação, um 
rol de instrumentos que permitam a realização de pesquisas qualitativas.
Nesse sentido, apresentamos, nesta seção, uma análise sobre as seguintes 
técnicas qualitativas de coleta de dados: observação participante, entrevistas, 
grupos focais e pesquisa documental.
OBSERVAÇÃO PARTICIPANTE
A análise realizada com o objetivo de compreender como as normas, os hábi-
tos e os padrões sociais são vivenciados pelos indivíduos em sociedade compõe 
a técnica de observação participante. De acordo com Alonso (2016, p. 10), tal 
O MÉTODO DE PESQUISA QUALITATIVAR
ep
ro
d
u
ção
 p
ro
ib
id
a. A
rt. 184 d
o
 C
ó
d
ig
o
 Pen
al e Lei 9.610 d
e 19 d
e fevereiro
 d
e 1998.
IIU N I D A D E66
técnica “é um estudo das rotinas sociais, do que parece trivial e óbvio, mas que, 
por ser muito disseminado, estrutura as relações sociais”.
Quando o gestor público opta pela realização de pesquisa por meio de obser-
vação participante, assume a necessidade de acompanhar sistematicamente as 
atividades dos indivíduos ou da instituição que investiga. Para tanto, é preciso se 
inserir na rotina interna do grupo de cidadãos ou o órgão/entidade, participar das ati-
vidades como se fosse um membro pertencente àquele contexto que está sob análise.
Em outras palavras, o pesquisador precisa que aqueles, os quais estão sendo 
analisados, visualizem o ente externo como um membro do grupo, a im de que 
hajam naturalmente e desempenhem as normas, hábitos e padrões sociais da mesma 
maneira que usualmente desempenham quando não há observação exterior.
Quando o pesquisador passa incólume ou deixa de ser visto como estranho 
ao grupo, é possível investigar seus comportamentos com maior detalhamento 
e acessar atitudes que por ventura não seriam manifestadas em situação de ava-
liação ou observação rigorosamente perceptível.
O excerto do relato da participação do professor autor deste material didá-
tico em uma reunião de conselho, relete, dentre outros aspectos, a maneira como 
não fui tratado como um ente externo ao adentrar o local em que seria reali-
zada a reunião, o que me permitiu presenciar discussões cujas argumentações 
não constam no excerto exposto nesta unidade de estudos, mas são de extrema 
relevância para entender as maneiras como membros do governo e da sociedade 
civil se comportam na instituição participativa destacada.
A inserção e a interação com o grupo devem ser as mais naturais possíveis, 
de modo que o campo e espaço onde são coletados os dados da pesquisa, é o 
espaço destinado a olhar e ouvir, ainda que seja indicado ao pesquisador que 
realize algumas anotações em seu caderno ou diário de campo.
O caderno ou diário é o local no qual devem ser realizadas anotações siste-
máticas de todas as informações que o pesquisador for capaz de coletar, ou seja, 
é o instrumento para registro de atividades, falas e discursos, comportamentos, 
interações e das próprias impressões do pesquisador.
A observação participante pode ocorrer de duas maneiras. Na primeira, o 
observador atua como outsider, ou seja, observa os indivíduos e conversa com 
os mesmos acerca do fenômeno que está pesquisando, colhe relatos e toma notas 
Técnicas e Instrumentos de Coleta de Dados Qualitativos
R
ep
ro
d
u
çã
o
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o
 C
ó
d
ig
o
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
ir
o
 d
e 
19
98
.
67
daquilo que ouve e vê, sendo conhecida sua posição de pesquisador. Nessas situ-
ações, desvelar os processos sociais depende do estabelecimento de relações de 
empatia para com os membros do grupo.
Na segunda maneira, o observador atua como insider e opera incognitamente 
no interior de um grupo, de modo a partilhar suas normas, hábitos e padrões 
sociais sem revelar-se um pesquisador. Se, por um lado, tal maneira permite a 
maior participação do pesquisador nos processos que estuda, por outro lado, 
apresenta um problema sob o ponto de vista ético, pois o pesquisador oculta do 
grupo sua condição com relação aos demais.
Como principal ponto positivo da observação participante, Alonso (2016) 
destaca a possibilidade de acompanhar a consecução de hábitos e práticas, ao 
invés de apenas colher relatos sobre como ocorrem, o que pode diminuir a dis-
torção da pesquisa com relação à realidade vivenciada pelo grupo.
Em contrapartida, são negativos os fatos de que a observação participante tem 
mais qualidade conforme o tempo que o pesquisador permanece no campo, mas, 
em conlito com tal necessidade, é necessário cuidado para não desenvolver sim-
patia pelos observados, a ponto de contaminar o olhar e análise empreendidos.
Um exemplo de pesquisa que promoveu a prática da observação participante 
foi empreendida por Dourado e Anacleto (2017), que investigaram a prática de ati-
vidades físicas por grupos geracionais especíicos, quais sejam: jovens e idosos. A 
despeito das distintas formulações de ambos os grupos acerca do corpo e de saúde, 
as pesquisadoras identiicaram um elemento comum em suas falas: o aspecto da 
sociabilidade, ou seja, a busca pelo contato e a interação com outros indivíduos.
Como você se sentiria se soubesse que estava sendo observado por um 
pesquisador? Agiria com naturalidade, desconiança ou buscaria manifestar 
ideias que espera que o observador julgasse adequadas? 
O MÉTODO DE PESQUISA QUALITATIVA
R
ep
ro
d
u
ção
 p
ro
ib
id
a. A
rt. 184 d
o
 C
ó
d
ig
o
 Pen
al e Lei 9.610 d
e 19 d
e fevereiro
 d
e 1998.
IIU N I D A D E68
ENTREVISTAS
As entrevistas correspondem à técnica de coleta de dados cujo nome traz mais 
familiaridade aos leitores. Quem nunca assistiu a um programa ou leu uma repor-
tagem cujo conteúdo era uma entrevista?
De modo geral, as entrevistas buscam captar as percepções dos indivíduos 
com relação a um determinado tema: o problema ou questão que suscitou a 
necessidade de realização da pesquisa.
Segundo Alonso (2016), as entrevistas visam recolher dados sobre valores, 
opiniões, sentimentos, experiências e mecanismos por meios dos quais os indi-
víduos interpretam e agem em determinado contexto social.
São muitas as modalidades de entrevistas, sendo que as mais recorrentes são aber-
tas — pautadas em histórias de vida — e aquelas semiestruturadas ou estruturadas.
As entrevistas abertas ou não estruturadas dizem respeito ao estabeleci-
mento de conversas especíicas nas quais o pesquisador informa ao entrevistado 
sobre o tema da pesquisa e lhe permite discorrer sobre o assunto (LIMA, 2016).
As entrevistas pautadas por histórias de vida permitem aos entrevistados expor 
relatos que retomem suas vivências de maneira retrospectiva (BONI; QUARESMA, 
2005). Na prática, não haveriam questões prévias, apenas um tema, de modo que 
as questões emergiriam conforme o entrevistado construísse seu depoimento.
Segundo Debert (1986), a história de vida tem vantagens, as quais se apre-
sentam como instrumentos de pesquisa praticamente insubstituíveis, dentre elas, 
o estabelecimento de diálogo entre pesquisador e pesquisado sem a imposição 
de categorias analíticas, o que permite ao entrevistado expor as dimensões do 
fenômeno sob sua perspectiva. 
Destaca o mesmo autor que é preciso, porém, reconhecer os limites do uso 
desta técnica, uma vez que não devemos esperar
[...] que a história de vida nos forneça um quadro real e verdadeiro de 
um passado próximo ou distante. O que se espera é que a partir dela, da 
experiência concreta de uma vivência especíica, possamos reformular 
nossos pressupostos e nossas hipóteses sobre um determinado assunto 
(DEBERT, 1986, p. 142).
Técnicas e Instrumentos de Coleta de Dados Qualitativos
R
ep
ro
d
u
çã
o
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o
 C
ó
d
ig
o
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
ir
o
 d
e 
19
98
.
69
Com relação às entrevistas abertas, menciono instruções de Bourdieu et al. (1999) 
para sua realização, quais sejam: interferir o mínimo possível ao longo da fala do 
entrevistado, a im de não prejudicá-lo na articulação e exposição de seus argu-
mentos e estabelecer diálogo na mesma linguagem do entrevistado, aspecto já 
destacado na seção inicial desta unidade de estudos.
Por sua vez, as entrevistas semiestruturadas são aquelas em que o pesqui-
sador dispõe de um roteiro com questões a ser aplicadas, mas não se restringe a 
elas enquanto em trabalho de campo.
A maneira como Rego e Pinzani (2013b, p. 360) explicam a opção por tal 
técnica é ilustrativa de suas potencialidades:
Usamos em nosso trabalho de coleta de dados atécnica da entrevista 
aberta, e não a do questionário fechado, pois julgamos ser a única pos-
sível neste tipo de investigação, exatamente porque se pretende alcan-
çar alguns níveis da estrutura subjetiva dos entrevistados. Seu método 
principal, como é bastante conhecido, consiste na entrevista longa mu-
nida apenas de um roteiro de questões e na audição atenta da fala mais 
livre possível dos entrevistados.
Quando da realização de entrevistas abertas ou semiestruturadas, é possível ao 
pesquisador analisar o conteúdo coletado e realizar novas incursões ao campo, 
a im de esclarecer aspectos que não foram detalhados de maneira adequada na 
realização da entrevista.
É possível que, assim como destacado quando expusemos os aspectos carac-
terísticos da observação participante, os entrevistados necessitem desenvolver 
empatia com relação ao pesquisador para que venham, de fato, revelar aquilo 
que se espera apreender com a investigação.
Para que as mudanças morais e políticas sejam apreendidas, impõem-
-se conversas repetidas, que signiicam frequentemente a volta ao cam-
po mais de uma vez, assim como o estabelecimento de uma relação 
mais próxima [...]Por esta razão, necessariamente, a investigação exi-
ge tempos longos, tanto na coleta dos depoimentos, como na relexão 
sobre o material recolhido. A duração da entrevista é muito variável, 
pois as pessoas são muito diversas, sobretudo quando têm de falar de 
si mesmas, expor-se ao diálogo, contar suas histórias e dizer quais fo-
ram as mudanças que as novas situações trouxeram às suas vidas. A 
experiência do PBF, que fornece um rendimento regular para a grande 
maioria das mulheres, ainda é muito nova. Certamente impactou-lhes 
O MÉTODO DE PESQUISA QUALITATIVA
R
ep
ro
d
u
ção
 p
ro
ib
id
a. A
rt. 184 d
o
 C
ó
d
ig
o
 Pen
al e Lei 9.610 d
e 19 d
e fevereiro
 d
e 1998.
IIU N I D A D E70
a vida, apesar de não lhes assegurar o acesso completo a outros direi-
tos sociais, já que continuam pobres e carentes de inúmeros direitos. 
Demora certo tempo para que revelem as alterações mais complexas, 
em especial, as referentes a decisões de ordem moral, como separações 
conjugais ou o desejo de fazê-las. Um dos temas que lhes permitem 
falar com mais desenvoltura se liga à vivência, às vezes pela primeira 
vez, de mais liberdade pessoal, como ainda ao ganho de um sentimento 
precioso: a aquisição de mais respeitabilidade na vida local. Grandes 
são os limites da apreensão das questões na modalidade de investigação 
que empreendemos (REGO; PINZANI, 2013b, p. 360).
Ademais, os autores destacaram um dos aspectos mais positivos da utilização 
da técnica de entrevista semiestruturada, que é a possibilidade de adaptar ou 
adequar a maneira de abordar as temáticas e conteúdos a ser investigados com 
maleabilidade, a depender da relação de empatia e dos códigos linguísticos esta-
belecidos entre pesquisador e entrevistado.
As questões colocadas eram divididas em vários grupos. O primeiro 
dizia respeito à composição do núcleo familiar (número e idade dos 
membros da família, escolaridade etc.). O segundo abordava a maneira 
como o dinheiro do Bolsa Família era usado, em particular em relação 
à compra de alimentos, vestuários e material escolar. Um dos objetivos 
era averiguar como e em que medida a nova renda e sua regularidade 
incidiam sobre a vida cotidiana das famílias e, em particular, das mu-
lheres que, em sua maioria, airmaram se sentir mais livres (o termo 
mais usado foi “à vontade”) e menos angustiadas no que diz respeito à 
capacidade de adquirir bens primários para suas famílias. Um terceiro 
grupo de questões tinha a inalidade de fazer que as entrevistadas expri-
missem sua opinião sobre o programa e seus efeitos em sua vida (dessa 
vez de forma mais direta). Entre outras coisas, visava-se averiguar o 
que as mulheres achavam de o cartão estar no seu nome e não no do 
marido e estabelecer se consideravam o programa um favor do governo 
ou um direito delas (naturalmente, a pergunta não podia ser formulada 
diretamente nesses termos, pois o conceito de “direitos” é praticamente 
ausente do seu vocabulário). Finalmente, o quarto grupo de perguntas 
se referia à atitude das entrevistadas perante a política e o exercício do 
direito de voto. A formulação concreta das questões variava de lugar a 
lugar e de pessoa a pessoa (REGO; PINZANI, 2013b, p. 361).
Por im, o último tipo é a entrevista estruturada, realizada quando o pesquisa-
dor tem clareza sobre os assuntos que deseja interpretar e é caracterizada pela 
existência de um questionário com perguntas deinidas, sem possibilidade de 
lexibilização ou inserção de novos questionamentos.
Técnicas e Instrumentos de Coleta de Dados Qualitativos
R
ep
ro
d
u
çã
o
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o
 C
ó
d
ig
o
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
ir
o
 d
e 
19
98
.
71
Por conta desta limitação, as entrevistas estruturadas são menos recorren-
tes dentre as pesquisas qualitativas do que aquelas abertas ou semiestruturadas. 
A análise de seus dados, porém, é mais rápida, pois o volume de dados é menor 
e a existência de temáticas repetidas permite a categorização mais ágil dos con-
teúdos coletados.
Nas situações de realização de entrevistas semi-estruturadas ou estrutura-
das, a preparação do roteiro e a condução da entrevista são essenciais à coleta 
de dado com maior qualidade possível (LIMA, 2016).
Com relação ao primeiro aspecto, o roteiro deve ser iniciado com questões 
simples ou amenas, de modo que temas polêmicos ou que gerem desconforto 
aos respondentes devem ser dispostos apenas no im da entrevista. “Como todo 
roteiro, deve ser de consulta fácil e rápida: detalhado, preciso, mas com notações 
breves e claras (palavras-chave, frases nominais...)” (COMBESSIE, 2004, p. 41).
Por sua vez, com relação à condução da entrevista, sempre que possível deve 
ser utilizado algum meio adicional de coleta de dados para além das anotações 
do pesquisador, como gravações de som e imagens. Por um lado, tais recursos 
facilitam a análise posterior dos dados, pois permitem sua transcrição ou ainda a 
visualização das expressões faciais e corporais do entrevistado ao longo da entre-
vista. Por outro lado, gravadores podem constranger a livre manifestação dos 
respondentes, de modo que sempre deve ser acordado, entre as partes, a utiliza-
ção de mecanismos adicionais para coleta de dados (LIMA, 2016).
Ainda com relação às entrevistas, outro aspecto merece destaque: a sele-
ção dos indivíduos a ser entrevistados. De acordo com Alonso (2016), esta é a 
etapa de uma pesquisa qualitativa na qual há maior intervenção do pesquisador.
As possibilidades de identiicação de casos são perpassadas pelas técnicas 
de deinição de amostras descritas na unidade de estudos anterior, sendo rele-
vante, a título de exemplo, a descrição de Rego e Pinzani (2013b, p. 360-361) 
sobre os casos que analisaram:
ao longo do nosso trabalho, utilizamo-nos de contatos locais. Em al-
gumas ocasiões encontramos pessoas diretamente responsáveis pela 
implementação do programa, como assistentes sociais, gestores, pre-
feitos etc. Em outras, nos valemos da ajuda de pessoas envolvidas em 
movimentos sociais e de intelectuais locais: todas elas nos forneceram 
informações preciosas sobre as situações in loco, mas na maioria das 
O MÉTODO DE PESQUISA QUALITATIVA
R
ep
ro
d
u
ção
 p
ro
ib
id
a. A
rt. 184 d
o
 C
ó
d
ig
o
 Pen
al e Lei 9.610 d
e 19 d
e fevereiro
 d
e 1998.
IIU N I D A D E72
vezes procuramos livremente as beneiciárias, a im de evitar direcio-
namentos de qualquer tipo.
Escolhemos entrevistar beneiciárias que moram em áreas rurais ou em 
pequenas cidades do interior, por entender que sua situação se diferen-
cia muito da dos pobres urbanos, objeto já de inúmeros estudos. Os 
pobres rurais se deparam com problemas diferentes, começando pelo 
isolamento geográico que resulta, quase sempre, na impossibilidade de 
ter acesso a serviçospúblicos básicos. As regiões selecionadas foram: 
partes do Alto Sertão de Alagoas, bem como a Zona Litorânea deste 
estado; o Vale do Jequitinhonha (MG); algumas localidades do interior 
do Piauí e do interior do Maranhão; bairros muito pobres da periferia 
de São Luís (MA) e do Recife (PE). Em alguns casos, não conseguimos 
acessar beneiciárias, habitantes de zonas isoladas e sem estradas (no 
Vale do Jequitinhonha), pois seríamos obrigados a usar cavalos. Este 
isolamento faz com que suas carências sejam mais profundas e difíceis 
de satisfazer.
Deinidos os casos a ser investigados e realizadas as entrevistas, o pesquisador 
deve observar com atenção os relatos, a im de identiicar a existência de ele-
mentos complicadores ou mesmo dissonantes com relação à realidade social, 
como a manifestação de respostas que o investigado esperava que satisizesse ao 
pesquisador, o anacronismo na narrativa de fatos que ocorreram em ordem ou 
períodos distintos daqueles apontados como cronológicos pelo entrevistado e a 
própria memória dos entrevistados, sujeita a esquecimentos, omissões e confu-
sões (ALONSO, 2016; LIMA, 2016).
GRUPOS FOCAIS
Os grupos focais correspondem a entrevistas coletivas, nas quais os indivíduos 
selecionados ocupam um mesmo espaço e discorrem sobre suas opiniões, hábi-
tos, valores e percepções sobre padrões sociais não apenas ao pesquisador, mas 
ao conjunto dos presentes, de modo que não se trata de simples coleta de dados 
a partir da fala do respondente, mas também da interação entre os respondentes 
com o grupo e, em alguma medida, com o mediador (GONDIM, 2003; WELLER, 
2006; TEIXEIRA; ZAMBERLAN; RASIA, 2008).
Técnicas e Instrumentos de Coleta de Dados Qualitativos
R
ep
ro
d
u
çã
o
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o
 C
ó
d
ig
o
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
ir
o
 d
e 
19
98
.
73
De acordo com Veiga e Gondim (2001), os grupos focais constituem um 
recurso para a compreensão dos processos de conformação de representações 
sociais, em que podem, a depender de sua condução, contribuir para que os indi-
víduos revelem aspectos que não abordariam em uma entrevista, por exemplo, 
pois a interação com os demais pode estimulá-los a manifestar-se ou reduzir a 
sensação de sentir avaliado pelo pesquisador.
De acordo com Kind (2004, p. 125), a interação grupal é o principal trunfo 
dos grupos focais para a produção de dados e insights que diicilmente seriam 
coletados em abordagens individuais, já que “os dados obtidos, então, levam em 
conta o processo do grupo, tomados como maior do que a soma das opiniões, 
sentimentos e pontos de vista individuais em jogo”.
O passo inicial para a realização de um grupo focal é a clareza por parte dos 
pesquisadores acerca do objetivo que mobiliza a pesquisa, ou seja, da questão 
que precisa ser respondida, uma vez que esse aspecto é deinidor de um conjunto 
amplo de decisões, como exempliica Gondim (2003, p. 153):
as decisões metodológicas dependem dos objetivos traçados. Isto irá 
inluenciar na composição dos grupos, no número de elementos, na ho-
mogeneidade ou heterogeneidade dos participantes (cultura, idade, gê-
nero, status social etc), no recurso tecnológico empregado (face-a-face 
ou mediados por tecnologias de informação), na decisão dos locais de 
realização (naturais, contexto onde ocorre, ou artiiciais, realizados em 
laboratórios), nas características que o moderador venha a assumir (di-
retividade ou não-diretividade) e no tipo de análise dos resultados (de 
processos e de conteúdo: oposições, convergências, temas centrais de 
argumentação intra e intergrupal, análises de discurso, linguísticas etc).
Além desses aspectos, é essencial que os pesquisadores, especialmente em se tra-
tando de acadêmicos ou de gestores públicos, observem o caráter ético envolvido 
na pesquisa com técnica de grupos focais, uma vez que, na maioria das vezes, 
sua realização ocorre com gravação de áudio e/ou vídeo e é preciso garantir a 
privacidade dos participantes, até mesmo para que se sintam mais confortáveis 
e seguros em se manifestar diante dos temas propostos pelo mediador e deba-
tidos coletivamente.
Em se tratando da consecução dos grupos focais, autores como Gondim 
(2003), Kind (2004), Teixeira, Zamberlan e Rasia (2008) e Almeida (2016) dis-
correm sobre conjuntos de aspectos que devem ser observados, sobre os quais 
discorro por meio de tópicos, a seguir.
O MÉTODO DE PESQUISA QUALITATIVA
R
ep
ro
d
u
ção
 p
ro
ib
id
a. A
rt. 184 d
o
 C
ó
d
ig
o
 Pen
al e Lei 9.610 d
e 19 d
e fevereiro
 d
e 1998.
IIU N I D A D E74
 ■ A composição dos elementos do grupo é relevante, uma vez que a simples 
reunião de indivíduos não garante a qualidade de conteúdo de suas mani-
festações e interações. Assim, é preciso reletir sobre características que 
potencializariam a participação e optar entre escolher pessoas com muitas 
similaridades e algo diferente ou entre indivíduos muito diferentes, mas com 
alguma similaridade. Tal opção está relacionada ao objetivo da pesquisa.
 ■ O roteiro para estruturação do funcionamento do grupo deve ser le-
xível, a partir de um conjunto de temas e questões a serem oferecidas à 
discussão, mas sem limitar o debate ao roteiro. Essa lexibilidade permite 
a emergência de opiniões divergentes sobre determinado assunto, bem 
como contribui para reduzir a inibição dos participantes.
 ■ Com relação ao tamanho do grupo, a quantidade de participantes varia, 
sendo que a maioria dos autores mencionados anteriormente aponta que o 
ideal seria reunir entre quatro e dez indivíduos. Tal decisão deve considerar, 
contudo, o nível de envolvimento ou de conhecimento dos participantes 
com relação ao tema pesquisado ou se o assunto abordado é polêmico, já 
que, em ambas as situações, os participantes podem ter muito a manifes-
tar e duas consequências negativas podem advir de tal situação: a perda 
de controle do funcionamento do grupo pelo moderador e a polarização 
da discussão entre participantes de modo a gerar conlitos.
 ■ Em se tratando do número de grupos a ser realizados, é preciso conside-
rar o quanto cada grupo contribui para a compreensão de uma questão 
a partir dos peris selecionados para participação. Há autores, os quais 
mencionam que, no mínimo, dois grupos focais seriam necessários para 
produzir dados, enquanto que há consenso de que o limite máximo de 
grupos decorreria da saturação das alternativas de respostas, ou seja, da 
A deinição do peril de participantes deve considerar o conhecimento do 
máximo possível de características pertinentes ao tema a ser debatido, para 
o que Almeida (2016) exempliica como um modelo de questionário-iltro.
Fonte: o autor.
Técnicas e Instrumentos de Coleta de Dados Qualitativos
R
ep
ro
d
u
çã
o
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o
 C
ó
d
ig
o
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
ir
o
 d
e 
19
98
.
75
veriicação de que as interações nos grupos não são capazes de produzir 
novos argumentos.
 ■ O moderador tem papel central na condução dos grupos, pois deve, ao 
mesmo tempo, conduzir a discussão por meio da introdução de assuntos 
de maneira pertinente e limitar suas intervenções ao mínimo possível, de 
modo a permitir a luidez do debate. Uma das principais habilidades espe-
radas de um moderador é de que seja capaz de perceber o conteúdo da 
discussão a im de, ainda durante o processo de coleta, estabelecer algu-
mas análises preliminares, que direcionem sua interpretação posterior:
A única forma de evitar uma interpretação equivocada é perguntar di-
retamente ao grupo, razão porque o papel do moderador é importante, 
pois ao acompanhar o aprofundamento da discussão, ele formula in-
terpretações e averigua se elas fazem sentido para o grupo. É com base 
nisto que se airma que há uma construção no processo de pesquisa, 
pois o pesquisador como moderador tem chance de avaliar a pertinên-
cia de suas explicações e concepções teóricas junto ao próprio grupo.Isto o levará a reorientar ou conirmar sua interpretação, abordagem 
congruente em uma perspectiva metacientíica qualitativa, em que ele 
está implicado no processo de pesquisa (GONDIM, 2003, p. 155).
 ■ Há tempo pré-estabelecido para a duração do grupo focal, tanto porque 
o recrutamento de participantes implica em informar qual a duração da 
atividade quanto para que o mediador tenha condições de organizar a 
exposição ou inserção de temáticas com cuidado. Nesse sentido, autores 
como Almeida (2016) apontam o período entre 60 e 150 minutos como 
ideal, ao passo que Kind (2004) estabelece entre 90 e 120 minutos. Cabe 
ao pesquisador reletir sobre o tempo de duração tendo em vista que perí-
odos curtos podem não ser suicientes para que os participantes percam 
a inibição e se manifestem ou para que todos os assuntos deinidos sejam 
abordados, ao passo que grupos com maior duração podem implicar em 
dispersão com relação ao tema, redução do estímulo à interação e mesmo 
a diiculdade em recrutar participantes.
 ■ O local para a realização do grupo focal deve possuir uma mesa grande ou 
possibilitar a disposição dos indivíduos de modo que todos possam sen-
tar-se de frente com os demais. É interessante que cada um tenha exposta 
uma identiicação (como seu primeiro nome) para facilitar as menções 
e interações e, dentro das possibilidades, que seja realizado com auxílio 
de recursos audiovisuais, como gravadores de voz e câmeras, desde que 
consentidos por todos os participantes do grupo.
O MÉTODO DE PESQUISA QUALITATIVA
R
ep
ro
d
u
ção
 p
ro
ib
id
a. A
rt. 184 d
o
 C
ó
d
ig
o
 Pen
al e Lei 9.610 d
e 19 d
e fevereiro
 d
e 1998.
IIU N I D A D E76
Um exemplo de pesquisa realizada com grupos focais é o trabalho de Freitas 
(2011), que aplicou a técnica com o objetivo de analisar a compreensão e a 
relevância de um instrumento relacionado à Organização Mundial de Saúde, 
especiicamente, entre surdos. Para tanto, a pesquisadora realizou grupos focais 
com pessoas surdas usuárias da linguagem de Libras, com familiares de surdos 
e com intérpretes de Libras.
Cada grupo era composto de seis a nove participantes e se reuniu por duas 
vezes, sendo que a conclusão geral da pesquisa foi de que, ao tratar da saúde da 
população surda, faz-se necessária a realização de abordagens especíicas do 
referido grupo, consideradas suas diferenças com relação às necessidades de 
políticas públicas de saúde.
PESQUISA DOCUMENTAL
Diferentemente das três técnicas de pesquisa qualitativa apresentadas anteriormente 
nesta seção, a pesquisa documental não tem como foco analítico os dados coletados 
junto aos indivíduos, ou seja, os casos a ser analisados não decorrem de cidadãos 
ou grupos com determinadas características sociais, mas de fontes documentais.
De acordo com Kripka, Scheller e Bonotto (2015), tal técnica de pesquisa 
consiste em amplo e intenso exame de documentos, com a inalidade de produ-
zir novos conhecimentos, de estabelecer novas maneiras para compreendermos 
os fenômenos e de conhecer como se desenvolvem ao longo do tempo.
Nesse sentido, os dados são coletados junto a quaisquer fontes escritas de 
informações, como leis, regulamentos, cartas, memorandos, diários pessoais, 
autobiograias, reportagens de jornais e revistas, discursos, livros etc.
“O recrutamento deve reduzir as barreiras oferecendo transporte, um lanche 
durante a realização do grupo e um brinde ao inal, de acordo com as caracte-
rísticas socioculturais dos participantes”.
Fonte: Almeida (2016, p. 50).
Atenção!
Técnicas e Instrumentos de Coleta de Dados Qualitativos
R
ep
ro
d
u
çã
o
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o
 C
ó
d
ig
o
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
ir
o
 d
e 
19
98
.
77
De acordo com Marconi e Lakatos (2007), as fontes de documentos podem ser 
arquivos públicos, particulares ou de dados estatísticos. São exemplos de arquivos 
públicos os documentos oiciais, as publicações parlamentares e os documentos 
jurídicos. Por sua vez, os arquivos particulares remetem àqueles escritos para ins 
privados, sem pretensão de exposição ao público. Por im, fontes estatísticas são 
aquelas que permitem ao pesquisador identiicar aspectos relacionados à caracteri-
zação geral da população, como sua distribuição no território, taxa de crescimento, 
peril sociodemográico, condições de moradia e utilização de serviços públicos.
Um passo importante à pesquisa documental é a escolha dos documentos 
que serão analisados, os quais comporão o universo ou a amostra da pesquisa. 
Tal escolha deve decorrer dos objetivos e hipóteses construídos com aporte teó-
rico, de modo que as questões formuladas pelo pesquisador são tão importantes 
quanto os documentos que analisará, pois são os questionamentos que direcionam 
a maneira como olhamos para o objeto da investigação (MAY, 2004; CELLARD, 
2008; KRIPKA; SCHELLER; BONOTTO, 2015).
Como principais vantagens da utilização de tal técnica, Kripka, Scheller e 
Bonotto (2015) destacam, primeiramente, o fato de constituírem uma fonte está-
vel de informações, não reativa, ou seja, que não sofre interferências de eventos 
ou fenômenos externos, por se tratar de registros escritos, majoritariamente de 
períodos anteriores ao da coleta de dados.
Como aspectos diicultadores da utilização de tal técnica, destacam-se o longo 
tempo necessário à leitura e interpretação dos documentos, em muitos casos, dii-
cultada por conta da linguagem, graia, efeito danoso do tempo sobre os papéis ou 
mesmo pelo volume de dados a analisar. Ademais, a pesquisa documental pode não 
remeter a informações reais, mas a elaborações decorrentes de necessidades, obri-
gações ou intenções dos formuladores dos documentos à época de sua produção.
Em se tratando de pesquisas documentais realizadas no âmbito da gestão 
pública, Beltrão e Nogueira (2011) analisaram a produção acadêmica no campo 
da Administração Pública e Social e identiicaram que, dentre os 673 artigos publi-
cados sobre o tema nos anais do Encontro Nacional da Associação Nacional de 
Pós-Graduação em Pesquisa em Administração entre 2005 e 2009, 28,5% decla-
raram utilizar-se de pesquisa documental, dentre os quais os autores procederam 
a leitura integral de uma amostra aleatória dos artigos a im de veriicar como foi 
tratada a técnica que estamos discutindo nesta seção da unidade de estudos.
O MÉTODO DE PESQUISA QUALITATIVA
R
ep
ro
d
u
ção
 p
ro
ib
id
a. A
rt. 184 d
o
 C
ó
d
ig
o
 Pen
al e Lei 9.610 d
e 19 d
e fevereiro
 d
e 1998.
IIU N I D A D E78
De acordo com os autores, havia até aquele momento pouca preocupação, dentre 
aqueles que utilizavam a técnica de pesquisa documental, em expor de maneira deta-
lhada como selecionaram os documentos analisados e como procederam a análise.
Para além deste exemplo, a maneira como Lüchmann, Almeida e Gimenes 
(2016) realizaram a análise acerca dos desenhos institucionais de conselhos de 
políticas públicas das áreas de Assistência Social, Saúde e Meio Ambiente nas 
esferas municipal, estadual e federal é outro exemplo de utilização de pesquisa 
documental para a construção do conhecimento que pode ser útil à gestão pública.
Ainda que os autores do artigo mais recente tenham incorrido no ponto 
negativo anteriormente destacado por Beltrão e Nogueira (2011), é importante 
vislumbrarmos a maneira como analisaram documentos constitutivos das refe-
ridas instituições participativas.
Grosso modo, o desenho institucional diz respeito ao formato orga-
nizativo dos mesmos, como o conjunto de regras, critérios, espaços, 
normas, leis, que operacionalizam a participação e respondem, em boa 
medida, pela sua maior ou menor capacidade inclusiva e deliberativa. 
Para efeito deste artigo, os indicadores do desenho institucional ma-
peados foram: a composição do conselho (se paritário, se tem mais 
representantes do governo ou mais representantes da sociedade civil); 
o método de escolha dos conselheiros da sociedadecivil; e a sua com-
petência (se é consultivo ou deliberativo) (LÜCHMANN; ALMEIDA; 
GIMENES, 2016, p. 793).
A consulta a tais informações se deu por meio de visitas às páginas oiciais dos 
poderes executivos e legislativos de 140 entes — dentre municípios, unidades 
da federação e a União — e por telefone. Foram coletadas leis ordinárias e com-
plementares, decretos, editais e outros documentos que contivessem os dados 
apontados anteriormente.
Para além do desenho institucional, analisamos ainda a distribuição da ocu-
pação das cadeiras de representantes do governo e da sociedade civil por gênero 
e, dentre aqueles do segundo grupo, de acordo com o segmento que representam. 
Para tanto, foram consultados documentos como portarias e atas, que expõem a 
composição de cada gestão dos conselhos e o vínculo que cada membro representa.
Os resultados identiicados por Lüchmann, Almeida e Gimenes (2016) foram 
relevantes ao entendimento da maneira como os conselhos de diferentes áreas 
de políticas públicas se estruturam nas distintas esferas de governo, da mesma 
Técnicas de Análise de Dados Qualitativos
R
ep
ro
d
u
çã
o
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o
 C
ó
d
ig
o
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
ir
o
 d
e 
19
98
.
79
maneira como homens e mulheres e os segmentos associativos se distribuem 
nesses espaços participativos.
Assim, por meio de uma análise documental foi possível estabelecer con-
clusões que nos ajudam a visualizar a dimensão empírica do funcionamento dos 
conselhos, bem como nos permite problematizar a forma como tais espaços são 
ocupados e quem representa a sociedade civil nessas instituições participativas.
TÉCNICAS DE ANÁLISE DE DADOS QUALITATIVOS
A análise de dados qualitativos é reali-
zada desde o momento em que sua coleta 
ocorre, conforme destacado na seção 
inicial desta unidade de estudos. Nesse 
sentido, ao longo da pesquisa de campo, 
é possível construir insights ou pequenas 
interpretações, a ser melhor exploradas 
na etapa da escrita, no “gabinete”, como 
menciona Oliveira (2000).
As pesquisas de natureza qualitativa geram um extenso volume de da-
dos que precisam ser organizados e compreendidos, requerendo assim 
um processo continuado em que se procura identiicar dimensões, ca-
tegorias, tendências, padrões, relações, desvendando-lhes o signiicado 
(TEIXEIRA; ZAMBERLAN; RASIA, 2008, p. 110).
Portanto, é preciso considerar diversos aspectos na realização da análise dos 
dados coletados, de modo a produzir resultados claros, objetivos e estruturados, 
de forma que as modalidades mais recorrentes são as análises documentais, de 
conteúdo e de discurso.
Sobre as análises documentais, a maneira como o gestor público deve conduzir 
esta etapa gira em torno de sistematizar os dados coletados, sendo que tal técnica 
O MÉTODO DE PESQUISA QUALITATIVA
R
ep
ro
d
u
ção
 p
ro
ib
id
a. A
rt. 184 d
o
 C
ó
d
ig
o
 Pen
al e Lei 9.610 d
e 19 d
e fevereiro
 d
e 1998.
IIU N I D A D E80
consiste em uma “operação ou um conjunto de operações visando representar o 
conteúdo de um documento sob uma forma diferente da original, a im de facili-
tar, num estado ulterior, a sua consulta e referenciação” (BARDIN, 2008, p. 47).
A análise de conteúdo trata da interpretação pelos pesquisadores daquilo 
que foi descrito ou apresentado na realização da observação participante ou de 
entrevista (BARDIN, 2008).
A análise de discurso remete à interpretação dos sentidos daquilo que foi 
dito ou observado, com foco na construção da argumentação, da subjetivação 
e da maneira como os indivíduos interpretam e constroem suas interpretações 
da realidade (ORLANDI, 2003).
Sobre a interpretação dos dados, Gondim (2003) destaca a necessidade de 
tomarmos cuidado com o “peso” que cada aspecto recolhido do campo assu-
mirá em nossa análise. Conforme a autora, em discussão sobre grupos focais cujo 
conteúdo também pode ser estendido às observações e entrevistas, é necessário 
que, enquanto pesquisadores, saibamos diferenciar o que é importante e o que é 
interessante, uma vez que nossos entrevistados podem achar algo muito interes-
sante, mas esse aspecto não ser relevante à pesquisa ou, ao contrário, pouco nos 
informarem sobre algo que é importante para a pesquisa, mas desperta, limita-
damente, o interesse de nosso objeto.
Lima (2016) airma haver uma questão crucial na análise de entrevistas, que 
também considero relevantes às observações e aos grupos focais: é importante 
que os pesquisadores não cedam à tentação de buscar a quantiicação e a gene-
ralização dos resultados. 
Muitas análises de entrevistas erroneamente quantiicam respostas e 
peris para um conjunto de entrevistados onde não cabe a generali-
zação estatística nem do seu peril nem, muito menos, das respostas 
dadas (LIMA, 2016, p. 38).
De modo geral, diferentemente da pesquisa quantitativa, que será abordada na 
próxima unidade de estudos, a pesquisa qualitativa alia método e técnicas de 
coleta e análise de dados, de modo que a consecução das interpretações sobre o 
que foi coletado foi apresentado e explorado nas seções anteriores desta unidade, 
ao tratarmos de aspectos gerais do método qualitativo, das diferentes técnicas 
para realização de coletas de dados dessa natureza e, especialmente, por meio 
Técnicas de Análise de Dados Qualitativos
R
ep
ro
d
u
çã
o
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o
 C
ó
d
ig
o
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
ir
o
 d
e 
19
98
.
81
dos exemplos apresentados, com destaque àqueles que remetem ao texto analí-
tico qualitativo, o qual, conforme anteriormente destacado, assume, por vezes, 
caráter em alguma medida semelhante à literatura.
Para além da deinição da maneira como os dados serão interpretados, se por 
meio de análises de discursos ou de conteúdo, se buscando veriicar as recorrên-
cias ou as peculiaridades, a produção da interpretação dos dados qualitativos tem 
em sotwares de análises de dados de tal natureza um apoio relevante (NUNES 
et al., 2017), ainda que a visão positiva sobre a utilização de programas para 
análises qualitativas não seja unânime no campo cientíico (MOREIRA, 2007).
Em se tratando da utilização de sotwares para a análise de dados qualitati-
vos, Nunes et al., (2017) se apoiaram em aspectos deinidos por Moreira (2007) 
como positivos e negativos, os quais seguem dispostos a seguir:
Figura 1 - Argumentos sobre o uso de sotwares
Fonte: adaptada de Moreira (2007). 
Com relação aos sotwares, algumas ferramentas de apoio à realização das aná-
lises de dados qualitativos são Atlas.ti 6, MAXQDA 2007, NVivo 8, QDA Miner 
3.2 e Iramuteq.
O MÉTODO DE PESQUISA QUALITATIVA
R
ep
ro
d
u
ção
 p
ro
ib
id
a. A
rt. 184 d
o
 C
ó
d
ig
o
 Pen
al e Lei 9.610 d
e 19 d
e fevereiro
 d
e 1998.
IIU N I D A D E82
Em geral, os passos para a análise passam pela transcrição daquilo que 
foi observado, das entrevistas, dos grupos focais ou dos documentos, para, na 
sequência, ser iniciado o processo de codiicação do material, tendo em vista o 
referencial teórico e o objetivo da pesquisa. Essa codiicação diz respeito à iden-
tiicação de termos, categorias, atores ou aspectos que se destaquem dentre o 
material analisado.
O passo seguinte é a classiicação desses aspectos, a im de determinar a 
maneira como tais itens se relacionam. Por exemplo, é possível, a partir da repe-
tição de aspectos frequentes nas falas dos entrevistados ou nos documentos, 
veriicar em quais contextos determinados os termos são mencionados.
Esses dois passos podem ser realizados também sem a utilização de sof-
twares, mas o terceiro passo decorre do manuseio da tecnologia em favor da 
pesquisa, pois as codiicações e as classiicações permitem aos pesquisadores 
criar agrupamentos de palavras, termos, ideias ou conceitos e gerar representa-
ções esquemáticas a partir desses aspectos.
Um exemplo de tal representação esquemática é oferecidoem Nunes et al. 
(2017, p. 240), no qual as autoras demonstram as relações decorrentes de análi-
ses pautadas por codiicações e classiicações.
Técnicas de Análise de Dados Qualitativos
R
ep
ro
d
u
çã
o
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o
 C
ó
d
ig
o
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
ir
o
 d
e 
19
98
.
83
Figura 2 - Mapeamento dos temas e assuntos identiicados nas transcrições das discussões em grupo - 
Primeiro ciclo de prática de pesquisa
Fonte: Nunes et al. (2017, p. 240).
Cabe destacar, no entanto, que uma possibilidade de representação visual do mate-
rial coletado é sua exposição por meio de uma nuvem de palavras, que pode ser 
gerada online, em sotwares de análise qualitativa ou mesmo em alguns editores 
de texto e corresponde à apresentação dos termos mais recorrentes dos registros, 
sendo útil em pesquisas de diversos campos do conhecimento, com aplicação, 
inclusive, em estudos sobre gestão pública e políticas públicas.
A disposição dos termos com relação ao tamanho da fonte e ao local que 
ocupam na imagem são indicativos de sua recorrência no interior do material 
coletado, de modo que uma nuvem de palavras não tem o intuito de ilustrar a rele-
vância dos termos ou temas, mas apenas sua repetição dentre os dados coletados.
Vejamos, a seguir, dois exemplos de nuvens de palavras, recolhidos de pes-
quisas qualitativas voltadas às discussões sobre velhice e envelhecimento, no 
primeiro caso, e sobre educação de jovens e adultos, no segundo caso.
O MÉTODO DE PESQUISA QUALITATIVA
R
ep
ro
d
u
ção
 p
ro
ib
id
a. A
rt. 184 d
o
 C
ó
d
ig
o
 Pen
al e Lei 9.610 d
e 19 d
e fevereiro
 d
e 1998.
IIU N I D A D E84
Figura 3 - Nuvens de palavras gerada pelo NVivo com base nas narrativas dos idosos longevos
Fonte: Marinho et al. (2017, p. 164).
Figura 4 - Nuvem de palavras destacando os assuntos mais recentes com relação à gestão escolar
Fonte: Freitas et al. (2018, p. 16).
Com relação à primeira nuvem, os destaques relacionam a velhice com a espi-
ritualidade (Deus), a noção de velhice como privilégio (graças, sabedoria e 
experiência) e à própria condição de estar vivo (vida). Em sua análise sobre tal 
nuvem, Marinho et al. (2017) ilustram os argumentos atrelados aos aspectos em 
Técnicas de Análise de Dados Qualitativos
R
ep
ro
d
u
çã
o
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o
 C
ó
d
ig
o
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
ir
o
 d
e 
19
98
.
85
destaque com trechos de narrativas coletadas, uma estratégia válida aos gestores 
públicos quando buscarem não apenas identiicar temas mais recorrentes, mas 
também o contexto em que tais temas emergem entre a população, por exemplo.
Diante de seu conjunto de constatações, a conclusão dos autores, apontou, 
dentre outros aspectos, para a necessidade do poder público olhar com maior 
atenção para os idosos:
Assim, sugere-se que novos estudos envolvendo idosos longevos sejam 
realizados, para que haja uma melhor compreensão da velhice, uma 
vez que estudar essa faixa etária, que é a que mais cresce no Brasil, pode 
aprimorar as políticas públicas de saúde e valorizar a espiritualidade, de 
modo a alcançar um cuidado mais humanizado, que promova a saúde e 
a qualidade de vida dos idosos (MARINHO et al., 2017, p. 166).
A segunda nuvem foi extraída da pesquisa de Freitas et al. (2018), que teve o 
objetivo de compreender a gestão na educação de jovens e adultos (EJA) ofe-
recida pelo Serviço Social da Indústria (SESI), no estado da Bahia, a partir das 
percepções dos sujeitos que trabalhavam em tal espaço.
A pesquisa identiicou diferentes perspectivas nos olhares daqueles que 
ocupavam cargos de gestão e dos que não os ocupavam. Ao serem inda-
gados sobre questões gestoras, aqueles que não estavam como gestores 
destacaram os seguintes aspectos: a) “Liderança propositiva, colabo-
rativa, participativa e democrática - a liderança levanta propostas que 
dão apoio para operacionalização, além de deixar espaço aberto para 
opiniões e sugestões”; b) “Entendimento das particularidades da EJA”; e 
c) “Ações efetivas e contextualizadas que favorecem a aprendizagem do 
trabalhador da indústria”. Em contrapartida, os que eram gestores apre-
sentaram como aspectos positivos a valorização do trabalho em equipe, 
a capacitação continuada, a gestão das competências, foco no resultado 
e nos aspectos humanos e inanceiros (FREITAS et al., 2018, p. 16).
Diante do conjunto de argumentos e das principais recorrências entre gestores e 
trabalhadores que não possuíam cargos, foi possível aos autores elaborar consi-
derações pertinentes à adequação e otimização da gestão na educação de jovens 
e adultos naquela unidade da federação, em que a pesquisa contribui de maneira 
expressiva à política pública de educação.
O MÉTODO DE PESQUISA QUALITATIVA
R
ep
ro
d
u
ção
 p
ro
ib
id
a. A
rt. 184 d
o
 C
ó
d
ig
o
 Pen
al e Lei 9.610 d
e 19 d
e fevereiro
 d
e 1998.
IIU N I D A D E86
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A realização de pesquisas com utilização do método qualitativo foi abordada 
nesta unidade de estudos. Ainda que não houvesse a preocupação em esgotar a 
temática, o entendimento é de que esta unidade fornece subsídios aos gestores 
públicos para que relitam sobre estratégias para desenvolver suas investigações.
A im de contribuir com tal intuito, discorremos sobre as especiicidades 
do método e sua preocupação com o aprofundamento da pesquisa e com a 
interpretação detalhada sobre a conformação de processos sociais, tendo como 
perspectivas possíveis os recortes temporal e espacial.
Para tanto, lançamos mão dos ensinamentos de Oliveira (2000) acerca da 
necessidade de sabermos olhar, ouvir e escrever e, com relação ao último aspecto, 
destacamos — com argumentação cientíica e por meio de exemplos — a pro-
ximidade entre a escrita qualitativa e a literatura.
Para além das características gerais do método qualitativo, exploramos, na 
segunda seção desta unidade, algumas técnicas e instrumentos utilizados para 
coleta de dados, evidenciamos que, em se tratando desse tipo de pesquisas, técnica 
e instrumento não se diferenciam, por exemplo, quando tratamos de entrevis-
tas. Tratamos também de outras formas de abordar indivíduos, quais sejam: a 
observação participante e os grupos focais.
Outra técnica apresentada foi a pesquisa documental, cuja descrição tratou, 
de modo simultâneo, sobre a técnica, os objetos e a maneira de coletar e anali-
sar dados. Não por acaso se deu tal situação, uma vez que, como mencionado ao 
longo da unidade, na pesquisa qualitativa não há etapas claramente delimitadas, 
mas ocorrem, por vezes, em paralelo ou complementarmente.
Ainda em se tratando da análise dos dados, inalizamos a unidade desta-
cando as possibilidades de realização de análises de conteúdo e de discurso, bem 
como o uso de ferramentas tecnológicas como sotwares e recursos computacio-
nais para representações visuais dos resultados.
Sigamos nosso caminho abordando o método quantitativo.
87 
1. A percepção dos objetos de pesquisa pelo gestor público carece de atenção e 
cuidado em sua abordagem, de modo que cabe aos proissionais destacados a 
“calibragem” de uma ação essencial, qual seja:
a) A fala.
b) A escrita.
c) O olhar.
d) O ouvir.
e) O sentir.
2. Uma das características principais da pesquisa qualitativa é sua preocupação 
com a profundidade da investigação, mais do que com o objeto a ser anali-
sado. Nesse sentido, com relação às amostras que compõem tais pesquisas, 
analise as características a seguir como verdadeiras (V) ou falsas (F):
I. Representativas.
II. Não probabilísticas.
III. Pequenas.
Assinale a alternativa que apresenta as airmativas corretas:
a) Somente a airmativa I está correta.
b) Somente a airmativa II está correta.
c) Somente a airmativa III está correta.
d) Somente as airmativas I e II estão corretas.
e) Somente as airmativas II e III estão corretas.
3. Ao longo da primeira seção destaunidade de estudos, foi apresentada a dei-
nição e a caracterização do método de pesquisa qualitativa, sendo que houve 
destaque a uma área no interior das Ciências Sociais, cuja forma de interpretar a 
realidade e os fenômenos sociais remete ao referido método. A área descrita é:
a) Sociologia.
b) Ciência Política.
c) Antropologia.
d) Filosoia.
e) Serviço Social.
88 
4. Em se tratando de técnicas e instrumentos para coleta de dados na pesqui-
sa qualitativa, esta unidade de estudos apresentou diferentes possibilidades, 
dentre as quais uma se destaca pela coleta de dados, por meio do acompanha-
mento do cotidiano dos indivíduos. A referida técnica é denominada:
a) Observação participante.
b) Entrevista aberta.
c) Entrevista.
d) Grupo focal.
e) Pesquisa documental.
5. Com relação às técnicas para interpretação de dados qualitativos, a análise de 
conteúdo foi apresentada como uma das possibilidades e pode ser aplicada à:
a) Observação participante.
b) Entrevistas.
c) Grupos focais.
d) Pesquisa documental.
e) Todas as técnicas mencionadas.
89 
O LUGAR DA PESQUISA QUALITATIVA NA AVALIAÇÃO DE POLÍTICAS E PROGRA-
MAS SOCIAIS
Ao longo da década de 1990, na pesquisa qualitativa, a visão do pesquisador como ob-
servador passivo vai sendo gradativamente substituída por uma visão mais participativa 
e o método misto ou combinado de abordagem (quali-quantitativo) passa a ser utiliza-
do por pesquisadores das ciências sociais, quebrando a ideia da incompatibilidade entre 
métodos quantitativos e métodos qualitativos.
Em síntese, a avaliação de programas surgiu, de forma sistemática, a partir da aplicação 
de métodos de pesquisa cientíica aos problemas sociais. Ao longo do tempo, alguns fa-
tores contribuíram para aumentar a demanda de avaliação e modiicar essa visão inicial. 
Dentre eles, a necessidade de estabelecer prioridades e de contemplar programas mais 
importantes. Para que determinados programas fossem mantidos, era preciso julgar sua 
eicácia e eiciência. Além do mais, a crescente participação da sociedade civil nas dis-
cussões sobre a destinação de recursos públicos aumentou a pressão por resultados e 
transparência (CALMON, 1999).
Chega-se, assim, à moderna teoria de avaliação de programas sociais, que articula teoria 
e questões essenciais ligadas aos próprios programas que estão sendo avaliados, consi-
derando múltiplos olhares dos envolvidos (BAUER; NOVAES, 2012) [...].
Segundo Shadish, Cook e Levinton (1995), as teorias de avaliação de políticas e progra-
mas sociais evoluíram em três estágios ou gerações distintas. Segundo Lincoln (2005), 
a quarta geração é sucessora dos três modelos anteriores, mas considera premissas e 
operações distintas, principalmente a intensa participação dos envolvidos, tanto no pro-
grama avaliado quanto na organização da avaliação (FALSARELLA; LOMBARDI, 2012) [...].
O primeiro estágio surge ao longo da década de 60 e apresenta duas características fun-
damentais: a preocupação com a resolução dos principais problemas sociais e a aplica-
ção rigorosa de métodos cientíicos. [...] Uma característica fundamental desse primeiro 
estágio de evolução da teoria da avaliação social é a preocupação com a validade dos 
instrumentos de pesquisa e com a evitação de vieses ou ambiguidades na interpretação 
dos experimentos. Acreditava-se que a avaliação, se adequadamente conduzida, consti-
tuiria importante instrumento de feedback, e que os seus resultados seriam automatica-
mente utilizados pelos formuladores de políticas, decisores e administradores.
[...] O segundo estágio inicia-se na década de 1970 e seu aspecto mais relevante é a 
preocupação com as questões do pragmatismo e do incremento do uso da avaliação 
nas tomadas de decisão sobre a concepção, alteração ou continuidade de programas 
sociais. [...] Os estudos desses autores surgem da percepção de que, na prática, as infor-
mações geradas pelas avaliações nem sempre eram utilizadas adequadamente pelos 
formuladores de políticas e não conduziam necessariamente ao aperfeiçoamento dos 
programas.
90 
[...] Assim, o foco dos trabalhos do segundo estágio converge para a questão do au-
mento da utilização das informações e recomendações provenientes dos estudos de 
avaliação na melhoria dos resultados dos programas. [...] Foi no segundo estágio que 
surgiu o debate sobre a utilização de técnicas quantitativas versus técnicas qualitativas 
na avaliação de programas. Tal debate decorria do pluralismo de métodos, conceitos e 
tipos de avaliação, bem como da ausência de consenso entre os teóricos sobre as me-
lhores práticas a serem utilizadas neste universo de diversidade metodológica.
O terceiro estágio consiste basicamente na síntese dos trabalhos dos dois estágios an-
teriores. [...] Há consenso, no terceiro estágio, de que os programas são afetados politi-
camente, caracterizam-se por diversidade epistemológica e metodológica, e possuem 
prioridades múltiplas, o que impossibilita a existência de uma prática universal e ideal 
de avaliação de programas sociais. [...]
No texto Fourth-Generation Evaluation, Yvonna Lincoln (2005) explora o que ela própria 
e Egon Guba (GUBA; LINCOLN, 1989) chamam de quarta geração das teorias de avalia-
ção de programas e políticas sociais, que parte de pressupostos diferentes das três ver-
tentes anteriores e conduz a distintos modos de operação na situação a ser avaliada. A 
premissa inicial é que os diversos agentes envolvidos na avaliação reagem não somente 
à realidade física ou tangível, mas também às suas próprias construções sócio-psicoló-
gicas sobre determinada situação. Apoia-se, assim, em um paradigma interpretativo [...].
Para os propositores da quarta geração, um programa social só tem sentido quando 
desenvolvido e analisado em estreita relação com o contexto e com possíveis mudanças 
sociais que pode provocar. Além disso, como a atribuição de valores é inerente ao ser 
humano, é fundamental que os valores dos envolvidos sejam considerados. Por outro 
lado, entende-se que o conhecimento coletivamente construído na ação grupal leva à 
mudança social. [...]
Quanto ao papel do investigador, entende-se que é impossível estabelecer uma separa-
ção nítida entre ele e o objeto de estudo, pois toda a investigação apresenta marcas de 
quem a realiza. Portanto, é impossível ao observador posicionar-se apenas externamen-
te à realidade do contexto. Em vista disso, a intersubjetividade, resultante da interação 
e da colaboração entre o investigador e os stakeholders passa a ser reconhecida como 
fator interveniente na pesquisa. O investigador vai construindo, por meio de análises 
sucessivas, uma teoria que explique o fenômeno que está estudando na medida em 
que desenvolve seu estudo, começando por um conjunto empírico de dados. Uma vez 
que o investigador tem uma relação muito próxima com os participantes, deve-se dar 
muita atenção a questões de ordem ética, que dizem respeito à responsabilidade na 
relação estabelecida com os sujeitos do estudo. Assim, alguns princípios éticos devem 
ser seguidos pelo pesquisador:
a) Garantir o consentimento informado dos participantes, resultante de uma informação 
clara por parte do investigador quanto aos objetivos e aos procedimentos que pensa 
utilizar, ou seja, as regras do jogo devem ser claras e negociadas; dados que não sejam 
91 
do conhecimento dos participantes e não tenham seu consentimento prévio não de-
vem ser coletados;
b) Pensar nas possíveis implicações e situações embaraçosas, decorrentes da publicação 
do estudo, a que estão sujeitos os participantes; os limites de acesso aos dados devem 
ser discutidos e negociados [com especial cuidado com questões de foro íntimo e de 
privacidade dos participantes], podendo o investigador recorrer ao anonimato e a pseu-
dônimos;
c) Evitar juízos sobre o objeto de estudo com base nos próprios valores, sendo que o 
risco de que isso aconteça é grande porque todo pesquisador tem suas próprias concep-
ções; embora ao investigador não seja possível assumiruma postura avaliativa exterior 
totalmente isenta, ele deve procurar interpretar e compreender os signiicados das in-
formações para os participantes”.
Fonte: Falsarella (2015).
REFERÊNCIAS
93
ALONSO, A. Métodos qualitativos de pesquisa: uma introdução. In: ABDAL, A.; OLI-
VEIRA, M. C. V.; GHEZZI, D. R.; SANTOS JÚNIOR, J. (Orgs.). Métodos de pesquisa em 
Ciências Sociais: bloco qualitativo. São Paulo: Serviço Social do Comércio/Centro 
Brasileiro de Análise e Planejamento, 2016. p. 8-23.
ALMEIDA, R. Roteiro para o emprego de grupos focais. In: ABDAL, A.; OLIVEIRA, M. 
C. V.; GHEZZI, D. R.; SANTOS JÚNIOR, J. (Orgs.). Métodos de pesquisa em Ciências 
Sociais: bloco qualitativo. São Paulo: Serviço Social do Comércio/Centro Brasileiro 
de Análise e Planejamento, 2016. p. 42-59.
Bardin, L. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70, 2008.
BELTRÃO, R. E. V.; NOGUEIRA, F. A. A pesquisa documental nos estudos recentes em 
administração pública e gestão social no Brasil. In: ENCONTRO NACIONAL DA ASSO-
CIAÇÃO DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA EM ADMINISTRAÇÃO – ANPAD, 35., 2011, 
Rio de Janeiro. Anais ... Rio de Janeiro: ANPAD, 2011.
BONI, V.; QUARESMA, S. J. Aprendendo a entrevistar: como fazer entrevistas em Ci-
ências Sociais. Em Tese, v. 2, n. 1, jan./jul. 2005. p. 68-80.
BOURDIEU, P. et al. A miséria do mundo. 3. ed. Petrópolis: Vozes, 1999.
CELLARD, A. A análise documental. In: POUPART, J. A pesquisa qualitativa: enfo-
ques epistemológicos e metodológicos. NASSER, A. C. (Trad.). Petrópolis: Vozes, 
2008. p. 295-316.
COMBESSIE, J. C. O método em Sociologia. São Paulo: Edições Loyola, 2004.
DEBERT, G. G. Problemas relativos à utilização da história de vida e história oral. In: 
CARDOSO, R. A aventura antropológica: teoria e pesquisa. São Paulo: Paz e Terra, 
1986. p. 141-156.
DOURADO, S. P. C.; ANACLETO, M. A prática da ginástica entre jovens e idosos: corpo, 
saúde e sociabilidade. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE SOCIOLOGIA, 18., 2017, Brasí-
lia. Anais... Brasília: Congresso Brasileiro de Sociologia, 2017. 
FALSARELLA, A. M. O lugar da pesquisa qualitativa na avaliação de políticas e pro-
gramas sociais. Avaliação, v. 20, n. 3, nov. 2015. p. 703-715.
FREITAS, A. R. Análise por grupos focais do instrumento para avaliação da quali-
dade de vida de pessoas com deiciências intelectuais e físicas (WHOQOL-DIS) 
traduzido para língua brasileira de sinais. 2011. 138 f. Dissertação (Mestrado em 
Ciências da Saúde - Medicina), Universidade Federal de Goiás, Goiânia, 2011.
FREITAS, G. M. O.; CAVALCANTE, T. R.; AMORIM, A.; FREITAS, K. S. A prática da gestão 
da educação de jovens e adultos no Serviço Social da Indústria no estado da Bahia. 
Educação em Revista, v. 34, jun. 2018. p. 1-26.
GIMENES, E. R.; SOUZA, M.; SANTIAGO, A. B. S. Gestão social e empreendedorismo 
social no campo das organizações da sociedade civil: desaios à conformação do 
campo de pesquisa e das práticas proissionais. 2018 [Mimeo].
REFERÊNCIAS
GONDIM, S. M. G. Grupos focais como técnica de investigação qualitativa: desaios 
metodológicos. Paidéia, v. 12, n. 24, 2003. p. 149-161.
KIND, L. Notas para o trabalho com a técnica de grupos focais. Psicologia em Revis-
ta, Belo Horizonte, v. 10, n. 15, jun. 2004. p. 124-136.
KOTLER, P.; ARMSTRONG, G. Princípios de Marketing. São Paulo: Pearson Prentice 
Hall, 2007.
KRIPKA, R. M. L.; SCHELLER, M.; BONOTTO, D. L. Pesquisa documental: considerações 
sobre conceitos e características na pesquisa qualitativa. Investigação Qualitativa 
em Educação, v. 2, 2015. p. 243-247.
LIMA, M. O uso da entrevista na pesquisa empírica. In: ABDAL, A.; OLIVEIRA, M. C. V.; 
GHEZZI, D. R.; SANTOS JÚNIOR, J. (Orgs.). Métodos de pesquisa em Ciências So-
ciais: bloco qualitativo. São Paulo: Serviço Social do Comércio/Centro Brasileiro de 
Análise e Planejamento, 2016. p. 24-41.
LÜCHMANN, L. H. H.; ALMEIDA, C.; GIMENES, E. R. Gênero e representação política 
nos conselhos gestores no Brasil. Santa Dados, Santa Catarina, v. 59, n. 3, set. 2016. 
p.789-822.
MARCONI, M. A.; LAKATOS, E. M. Fundamentos da Metodologia Cientíica. 6. ed. 
São Paulo: Atlas, 2007.
MARINHO, M. S.; CHAVES, R. N.; GOMES, J. B.; REIS, L. A. Longevidade e espirituali-
dade: o envelhecer como uma dádiva de Deus. Revista Brasileira de Ciências do 
Envelhecimento Humano, Passo Fundo, v 14, n. 2, maio/ago. 2017. p. 159-168.
MAY, T. Pesquisa social: questões, métodos e processos. Porto Alegre, Artmed, 2004.
MOREIRA, D. A. O uso de programas de computador na análise qualitativa: opor-
tunidades, vantagens e desvantagens. Revista de Negócios, Blumenau, v. 12, n. 2, 
2007. p. 56-68.
NUNES, J. V.; WOLOSZYN, M.; GONÇALVES, B. S.; PINTO, M. D. S. A pesquisa qualitativa 
apoiada por softwares de análise de dados: uma investigação a partir de exemplos. 
Revista Fronteiras: estudos midiáticos, v. 19, n. 2, maio/ago. 2017. p. 233-244.
OLIVEIRA, R. C. O trabalho do antropólogo. 2. ed. Brasília: Paralelo 15, 2000.
ORLANDI, E. P. Análise de discurso: princípios e procedimentos. 5. ed. Campinas: 
Pontes, 2003.
REGO, W. D. L.; PINZANI, A. Liberdade, dinheiro e autonomia: o caso do Programa 
Bolsa Família. In: CAMPELLO, T.; NERI, M. C. Programa Bolsa Família: uma década 
de inclusão e cidadania. Brasília: Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, 2013. p. 
359-366.
TEIXEIRA, E. B.; ZAMBERLAN, L.; RASIA, P. C. Pesquisa em gestão pública. Ijuí: Uni-
versidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul, 2008.
REFERÊNCIAS
95
VEIGA, L. F.; GONDIM, S. M. G. A utilização de métodos qualitativos na ciência política 
e no marketing político. Opinião Pública, v. 2, n. 1, 2001. p. 1-15.
WELLER, W. Grupos de discussão na pesquisa com adolescentes e jovens: aportes 
teórico-metodológicos e análise de uma experiência com o método. Educação e 
Pesquisa, v. 32, n. 2, maio/ago. 2006. p. 241-260.
GABARITO
1. A resposta correta é C.
2. A resposta correta é E.
3. A resposta correta é C.
4. A resposta correta é A.
5. A resposta correta é E.
U
N
ID
A
D
E III
Prof. Dr. Éder Rodrigo Gimenes
O MÉTODO DE PESQUISA 
QUANTITATIVA
Objetivos de Aprendizagem
 ■ Apresentar o conceito de pesquisa quantitativa, bem como de seus 
principais componentes.
 ■ Discorrer sobre as diferentes técnicas para coleta de dados 
quantitativos e sobre o planejamento e a elaboração de 
questionários.
 ■ Oferecer subsídios à realização de análise de dados quantitativos.
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
 ■ Conceito de pesquisa quantitativa
 ■ Técnicas e instrumento de coleta de dados quantitativos
 ■ Técnicas de análise de dados quantitativos
INTRODUÇÃO
A maneira como o gestor público aborda um problema pode ser deinidora das 
condições de atendimento à questão, sendo que uma abordagem inadequada, ao 
contrário, pode conduzir a situações graves e/ou com efeitos negativos à coletividade.
Na unidade de estudos anterior, discutimos acerca de abordagens qualitati-
vas e como são capazes de contribuir para o conhecimento aprofundado acerca 
de determinados aspectos da realidade social e nos permitam atuar de maneira 
detalhada em casos especíicos.
Existem questões que assumem perspectivas maiores do que casos ou gru-
pos, de modo que ao gestor público também é relevante conhecer técnicas para 
abordar problemas com tal coniguração.
Nesse sentido, esta unidade de estudos discorre sobre técnicas quantitati-
vas para coleta e análise de dados. Assim como estruturei a unidade de estudos 
anterior, esta tem como primeira seção aquela em que exponho o conceito sobre 
tal método de pesquisa, bem como apresento informações e deinições relevan-
tes às pesquisas de tal natureza.
A segunda seção aborda informações e técnicas relevantes à construção do 
instrumento de pesquisa quantitativa, que é o questionário. Para tanto, é ofere-
cido, ao acadêmico de gestão pública, um conjunto de “veículos” para condução 
dos questionários e de exemplos sobre “como” formular as questões, bem como 
uma discussão aprofundadasobre aspectos essenciais e pontuais que contribuem 
para que um instrumento de pesquisa atenda ao objetivo para o qual foi planejado.
Por im, a terceira seção desta unidade de estudos destaca técnicas para aná-
lise e interpretação de dados, com enfoque em conceitos de estatística descritiva, 
bivariada, multivariada e hierárquica e de geoprocessamento, acompanhados de 
exemplos e de indicações de sotwares que contribuem à sua realização.
Bons estudos!
Introdução
R
ep
ro
d
u
çã
o
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o
 C
ó
d
ig
o
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
ir
o
 d
e 
19
98
.
99
CONCEITO DE PESQUISA QUANTITATIVA
As pesquisas quantitativas têm como principal característica a preocupação 
com a quantiicação de fenômenos, de modo que as técnicas de coleta e de aná-
lise de dados são baseadas em dois aspectos: a perspectiva de comparação e a 
possibilidade de tratamento estatístico. Nesse sentido, o método quantitativo 
implica em amostras representativas com grande número de casos e coleta de 
dados estruturada.
De acordo com Lima (2016, p. 16), em geral, as unidades de mensuração 
(os casos, como exposto nas unidades de estudos anterior), são indivíduos, mas 
podem também ser instituições, empresas, municípios etc., sendo que “o que 
é crucial para a pesquisa quantitativa é que tais unidades sejam comparáveis”.
Com relação à possibilidade de tratamento estatístico, autores como Barbetta 
(2011) e Kellstedt e Whitten (2015) destacam que, a depender do desenho amostral 
O MÉTODO DE PESQUISA QUANTITATIVA
R
ep
ro
d
u
ção
 p
ro
ib
id
a. A
rt. 184 d
o
 C
ó
d
ig
o
 Pen
al e Lei 9.610 d
e 19 d
e fevereiro
 d
e 1998.
IIIU N I D A D E100
Conceito de Pesquisa Quantitativa
R
ep
ro
d
u
çã
o
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o
 C
ó
d
ig
o
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
ir
o
 d
e 
19
98
.
101
da pesquisa (também abordado em nossa unidade anterior de estudo), é possível 
realizar testes que indiquem a capacidade de predição de determinada relação, ou 
seja, a chance de que algo que foi identiicado na amostra seja replicado em escala 
populacional, conforme o erro tolerável envolvido na investigação. A abordagem 
sobre a realização de análises descritivas, bivariadas, multivariadas, hierárquicas 
e de georreferenciamento serão destacadas apenas na terceira seção desta uni-
dade, sendo necessário estabelecermos noções sobre formas de mensuração de 
atributos antes de discutirmos técnicas de coleta e de análise.
A coleta de dados estruturada implica em construir ferramentas que deinam 
com a maior exatidão possível quais dados e informações serão captados pelo 
pesquisador, indicando que antes de iniciar a etapa de coleta é necessário que 
haja clareza sobre o problema, a maneira como o gestor público pretende abor-
dá-lo e quais informações pretende reunir para solucionar o problema.
Nesse sentido, Lima (2016, p. 20) airma que são de grande relevância a 
deinição da unidade de análise (caso) e dos atributos que se pretende mensu-
rar (variáveis). Sobre o primeiro aspecto, a autora ilustra:
A unidade de análise corresponde ao que o pesquisador quer obser-
var. Por exemplo, no questionário da Pesquisa Nacional de Amostra 
por Domicílio (PNAD), o Instituto Brasileiro de Geograia e Estatística 
(IBGE) coleta dados sobre os domicílios e sobre as pessoas que neles 
residem. São, portanto, duas unidades de análise distintas: característi-
cas da unidade do domicílio (características do domicílio, acesso a ser-
viços de saneamento básico) e características dos moradores (condição 
na família, cor/raça etc.).
Os questionários do Censo e da PNAD, realizados pelo IBGE, encontram-se 
disponíveis na página do instituto, assim como os bancos de dados e relató-
rios com os resultados de cada pesquisa. Para saber mais, acesse: <https://
www.ibge.gov.br/>.
Fonte: o autor.
O MÉTODO DE PESQUISA QUANTITATIVA
R
ep
ro
d
u
ção
 p
ro
ib
id
a. A
rt. 184 d
o
 C
ó
d
ig
o
 Pen
al e Lei 9.610 d
e 19 d
e fevereiro
 d
e 1998.
IIIU N I D A D E102
Com relação às variáveis, “[...] são as características que podem ser observa-
das (ou medidas) em cada elemento da população, sob as mesmas condições” 
(BARBETTA, 2011, p. 29). Nesse sentido, tratam-se de atributos que procuramos 
identiicar em um questionário ou levantamento de dados, de modo que cada 
resposta corresponde a manifestação de um caso com relação a uma variável.
Em se tratando da natureza das variáveis quantitativas, Barbetta (2011) des-
taca que podem ser considerados dois tipos: discretas e contínuas, sendo que o 
primeiro tipo possui ramiicações ou subdivisões entre dicotômicas e multica-
tegóricas e entre ordenadas e não ordenadas. Isto posto, esta seção de deinição 
do que é pesquisa quantitativa se dedica à explanação sobre tais tipos de variá-
veis, tarefa imprescindível à organização, além da interpretação, análise de dados 
e leitura de pesquisas de natureza quantitativa.
Variáveis discretas são aquelas utilizadas com a inalidade de classiicar pes-
soas, objetos, instituições, documentos ou eventos de acordo com determinada 
qualidade de seus atributos. Nesse sentido, de modo geral, as variáveis discre-
tas dizem respeito àquelas cuja inalidade é de mensurar (quantiicar, de certa 
maneira) as qualidades dos casos. Essa mensuração pode assumir diferentes for-
mas, uma vez que as qualidades dos casos variam em função das especiicidades 
de cada atributo que se deseja quantiicar.
A primeira subdivisão das variáveis discretas diz respeito às possibilidades 
de respostas ou ao número de possibilidades que cada atributo reúne, de modo 
que variáveis discretas podem ser dicotômicas ou multicategóricas.
Variáveis discretas dicotômicas (também denominadas binárias ou dummy) per-
mitem apenas duas possibilidades de respostas (categorias) e, via de regra, permitem 
a identiicação da presença ou da ausência de um atributo para cada caso analisado.
São muitos os exemplos de variáveis discretas dicotômicas, como:
 ■ Na área da saúde, a identiicação do recém-nascido como vivo ou morto 
é uma representação da presença ou ausência do atributo “nascer vivo”, 
de modo que quantitativamente a dicotomia seria “vivo” ou “não vivo”.
 ■ No caso da assistência social, poderíamos pensar em classiicar indivíduos 
ou famílias em locais com concentração da população em condição de vul-
nerabilidade social como “assistidos” e “não assistidos”, a im de delimitar em 
que intensidade é preciso que os gestores públicos e sociais atuem no local.
Conceito de Pesquisa Quantitativa
R
ep
ro
d
u
çã
o
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o
 C
ó
d
ig
o
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
ir
o
 d
e 
19
98
.
103
 ■ Em municípios ou unidades federativas, a veriicação da existência de 
conselhos de políticas de determinadas áreas é mensurada de maneira 
discreta e dicotômica por meio de respostas “sim” ou “não”.
 ■ Ainda em se tratando de instituições participativas, a variável que per-
mite identiicarmos quem ocupa a presidência de um conselho em cada 
gestão também é binária, já que as opções de respostas podem ser “mem-
bro da sociedade civil” e “membro do governo”, cabendo ao pesquisador 
deinir qual atributo pretende mensurar e, em oposição, estabelecendo a 
outra categoria como indicação de ausência do atributo.
 ■ Com relação às análises de documentos, também é possível utilizar “sim” e 
não” como categorias para checagem da existência de editais de convoca-
ção, atas, resoluções e outros registros que possibilitem ao gestor público 
compreender o que foi deliberado e como tal deliberação ocorreu.
 ■ Em situações especíicas nas quais há conhecimento de que conjuntos de 
casos com características distintas estão sujeitos aos mesmos efeitos de 
um dado problema, é possível a simpliicação de características, como ao 
tratarmos da condição de imigrantes no Brasil, quando o critério mais rele-
vanteà gestão pública é determinar as condições, necessidades e maneira 
de abordar os contingentes populacionais de nacionalidades diferen-
tes da brasileira, uma vez que, independentemente de serem haitianos, 
venezuelanos ou decorrentes de outros países, são indivíduos que majo-
ritariamente se encontram em situações precárias de subsistência e sem 
acesso a serviços, espaços ou direitos mínimos quando chegam ao Brasil.
Já as variáveis discretas multicategóricas são aquelas referentes aos atributos que 
possuem mais de duas possibilidades de respostas e, portanto, não permitem a 
determinação de presença ou ausência de atributo.
São exemplos de variáveis discretas multicategóricas:
 ■ A religião para qual cada indivíduo declara participar, professar ou per-
tencer e também as manifestações de descrença com relação a Deus e/
ou à religiosidade.
 ■ A etnia dos indivíduos.
 ■ A nacionalidade de indivíduos, produtos e processos.
O MÉTODO DE PESQUISA QUANTITATIVA
R
ep
ro
d
u
ção
 p
ro
ib
id
a. A
rt. 184 d
o
 C
ó
d
ig
o
 Pen
al e Lei 9.610 d
e 19 d
e fevereiro
 d
e 1998.
IIIU N I D A D E104
 ■ O tipo de vínculo estabelecido por cada indivíduo que atua no poder 
público, se servidor estatutário, celetista, nomeado especiicamente para 
cargo ou função eleita etc.
 ■ O setor da gestão pública no qual cada servidor atua.
Para além do número de categorias de resposta, as variáveis discretas podem tam-
bém ser consideradas a partir da possibilidade de ordenamento dessas categorias 
de respostas, ou seja, da existência de qualidades que possam ser mensuradas 
como crescentes ou decrescentes. Nesses termos, é importante destacar que tal 
perspectiva de classiicação quanto à ordenação não exclui a subdivisão em dico-
tômica ou multicategórica.
Nesse sentido, variáveis discretas ordenadas (também denominadas ordinais) 
são aquelas para as quais as categorias de respostas permitem o estabelecimento 
de ordem, como:
 ■ Em se tratando dos gestores públicos, seu nível de escolaridade (se pos-
sui ensino fundamental, médio, técnico ou superior completo).
 ■ Quanto à população, os indicadores de interesse por política (se nenhum, 
pouco, razoável ou muito) e de frequência a utilização de determinado ser-
viço ou política pública, como o transporte coletivo ou os equipamentos 
de saúde (se diário, algumas vezes por semana, semanalmente, quinze-
nalmente, mensalmente ou com menor frequência).
 ■ Com relação às instituições públicas, qual o nível de transparência na 
divulgação de legislação e demais informações à população (se inexis-
tente, baixo, intermediário, alto ou total).
Para as variáveis discretas ordenadas, há diversas possibilidades de determinação 
de categorias, desde a utilização de critérios formais ou oiciais (como os níveis 
de escolarização) até a opção por escalas de intensidade (de interesse por política 
ou de frequência de utilização de determinado serviço ou política pública, nos 
exemplos vistos anteriormente) ou mesmo por analogia a números. Tais alterna-
tivas serão abordadas na próxima seção desta unidade de estudos, ao tratarmos 
da construção do questionário para a coleta dos dados da pesquisa.
Conceito de Pesquisa Quantitativa
R
ep
ro
d
u
çã
o
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o
 C
ó
d
ig
o
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
ir
o
 d
e 
19
98
.
105
Há, por outro lado, as variáveis discretas não ordenadas (ou não ordinais), cujas 
categorias de respostas se equivalem ou não permitem que seja estruturado qual-
quer critério de hierarquização.
Um exemplo de variável discreta não ordenada dicotômica é a questão sobre 
o sexo dos indivíduos, se masculino ou feminino. Esta variável apresenta apenas 
duas respostas possíveis (a despeito do debate sobre gênero, o qual não se coloca 
no contexto desta ilustração) e são respostas que, salvo exceções, não devem ser 
analisadas como ordenadas. A exceção se justiicaria apenas para situações nas 
quais houvessem problemas de pesquisa especíicos, como nos casos das cam-
panhas de conscientização aos cuidados com saúde entre homens e mulheres, 
para as quais haveria um público alvo com um atributo especíico, de modo que, 
pertencer ao sexo para o qual não é destinada a campanha, signiicaria não pos-
suir o atributo adequado.
Outro exemplo de variável discreta não ordenada, porém multicategórica, é o 
questionamento aos cidadãos sobre qual área de política pública que consideram 
a mais deicitária ou aquela que mais carece de atenção pelo gestor público. Uma 
pergunta com tal conteúdo permitiria diversas alternativas de respostas (como 
saúde, educação, meio ambiente, coleta de lixo, saneamento básico, segurança, 
cultura, lazer, transporte público, assistência social etc.) e entre essas opções 
não haveria a possibilidade de estabelecimento de importância anteriormente à 
pesquisa, mas somente depois, a partir dos resultados encontrados junto à popu-
lação é que os gestores públicos deveriam hierarquizar as respostas para deinir 
em quais áreas investir ou atentar-se. Tal postura, portanto, seria adequada por 
parte da gestão pública com relação à sua ação.
Na área da saúde, a avaliação dos efeitos de procedimentos estéticos pode 
ocorrer por meio de atribuição de notas ou de atribuição de avaliações cate-
góricas frente a fotos de “antes” e “depois”, como em Paulo e Oliveira (2018).
Fonte: o autor.
O MÉTODO DE PESQUISA QUANTITATIVA
R
ep
ro
d
u
ção
 p
ro
ib
id
a. A
rt. 184 d
o
 C
ó
d
ig
o
 Pen
al e Lei 9.610 d
e 19 d
e fevereiro
 d
e 1998.
IIIU N I D A D E106
Findada a conceituação sobre as variáveis discretas, podemos abordar as 
variáveis contínuas ou escalares, que dizem respeito àquelas que mensuram a 
quantidade de determinado atributo, de modo que as categorias de respostas 
assumem notação numérica. Por conta de tal caracterização e também por não 
serem compostas por subdivisões, as variáveis contínuas são mais facilmente 
identiicáveis.
Seguem alguns exemplos de variáveis contínuas, a título de ilustração do 
conceito e de sua aplicação no âmbito da gestão pública:
 ■ Entre a população em geral, podemos coletar dados referentes à idade 
dos indivíduos, a sua quantidade de anos de estudo e ao valor da renda 
familiar, a im de subsidiar discussões sobre necessidades em termos de 
políticas públicas de educação.
 ■ No âmbito do Estado, podemos coletar e analisar dados referentes ao 
número de domicílios e de equipamentos públicos em cada região dos 
municípios, com vistas a reletir sobre a otimização dos serviços ofere-
cidos à população.
 ■ No caso de eleições, ou mais especiicamente no caso de eleições para 
a composição do Conselho Tutelar, é relevante considerar o número de 
eleitores por área;
 ■ Para a melhor estruturação da política de capacitação dos servidores 
públicos, é necessário conhecer a realidade do órgão quanto ao número 
de funcionários, dentre outros aspectos, para que seja possível dimensio-
nar a quantidade de vagas, abertura de turmas e necessidade de espaço 
físico para a realização dos treinamentos.
Sobre as variáveis contínuas, é relevante destacar ainda que, em alguns casos, 
uma informação ou atributo pode ser captado de maneira numérica ou discreta, 
como nos seguintes casos:
 ■ Idade ou faixa etária.
 ■ Renda em reais, renda em salários mínimos ou faixa de renda.
 ■ Anos de estudo ou nível de escolarização.
 ■ Número de unidades residenciais, ou comerciais, ou lote (se contagem 
por terreno/espaço físico ou por quantidade de casas, apartamentos ou 
comércios estabelecidos no espaço).
Técnicas e Instrumento de Coleta de Dados Quantitativos
R
ep
ro
d
u
çã
o
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o
 C
ó
d
ig
o
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
ir
o
 d
e 
19
98
.
107
Ambas as maneiras de mensuração são válidas, mas é preciso destacar que, sem-
pre que possível, é desejável que seja coletada a informação mais detalhada, a 
im de evitar necessidadede retornar à etapa de coleta de dados. Assim, ao pes-
quisador e ao gestor público é importante a clareza sobre os distintos tipos de 
variáveis expostos anteriormente na elaboração de um questionário de pesquisa, 
o qual será abordado na próxima seção desta unidade de estudos.
TÉCNICAS E INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS 
QUANTITATIVOS
A realização de uma pesquisa quantita-
tiva é perpassada pela deinição de como 
os dados serão coletados. Esse “como” diz 
respeito à escolha do veículo para realiza-
ção da coleta, se presencial, por telefone 
ou por intermédio de meios virtuais.
Autores como Teixeira, Zamberlan e 
Rasia (2008), Barbetta (2011), Kellstedt 
e Whitten (2015), Lima (2016) e Torini 
(2016) destacam que a realização de cole-
tas de dados quantitativos podem ocorrer 
com a utilização de questionários autoaplicáveis de maneira presencial ou virtual 
ou aplicados por pesquisadores presencialmente ou por telefone. Com relação 
aos meios virtuais, os veículos para solicitação da participação podem ser e-mails 
(com direcionamento especíico), notícias ou mensagens com ampla divulgação 
(e, portanto, sem direcionamento ou com capacidade de especiicidade limitada).
Diante do exposto, nas próximas páginas, abordaremos, primeiramente, 
as maneiras mencionadas, no parágrafo anterior, referentes a “como” os ques-
tionários podem ser conduzidos. Somente após tais deinições trataremos da 
conceituação, das características e das etapas à elaboração de um questionário.
O MÉTODO DE PESQUISA QUANTITATIVA
R
ep
ro
d
u
ção
 p
ro
ib
id
a. A
rt. 184 d
o
 C
ó
d
ig
o
 Pen
al e Lei 9.610 d
e 19 d
e fevereiro
 d
e 1998.
IIIU N I D A D E108
Tal escolha para apresentação dos temas se justiica em virtude de que, ainda 
que a aplicação seja etapa posterior à elaboração do questionário, a etapa de cons-
trução depende da deinição de como se pretende aplicar o instrumento para 
coleta de dados, pois diferentes veículos ou modalidades implicam em desenhos 
também distintos de questões.
Nesse sentido, os próximos itens serão direcionados, majoritariamente, à 
construção de questionários para coleta de dados junto a indivíduos. Na próxima 
unidade de estudos, contudo, abordaremos a construção de um banco de dados 
com informações coletadas junto a instituições, para que possamos discorrer 
sobre como informações qualitativas já existentes (portanto, dados secundários) 
podem compor uma base de dados nova, direcionada aos interesses do gestor 
público (e, assim, constituir-se em dados primários).
QUESTIONÁRIOS AUTOAPLICÁVEIS
São instrumentos de coleta de dados por meio dos quais os próprios respon-
dentes preenchem os questionários. Podem ser realizados de maneira presencial 
(física) ou virtual (online) e exigem sensibilidade e conhecimento do pesqui-
sador/gestor público com relação ao seu público-alvo, uma vez que as questões 
precisam ser claras e permitir ao respondente que as interprete e tenha condi-
ções de respondê-las.
Assim, os enunciados de comandos das questões devem permitir a leitura 
luída e que remeta o respondente à sua autonomia na aplicação do questioná-
rio. Para tanto, podem ser utilizadas expressões, como: “Diante das modalidades 
de associativismo abaixo, assinale aquela(s) da(s) qual(is) o/a sr./sra. participa:” 
ou “Tendo em vista as airmações abaixo, gostaríamos que o/a sr./sra. lesse com 
atenção e indicasse com qual delas mais se identiica:”.
Quando a abordagem é realizada de maneira física, a chance de que um 
mesmo respondente participe por duas vezes da pesquisa é reduzida, mas, na 
internet, tal controle pode ser menor, uma vez que o pesquisador “não vê” seu 
interlocutor e o questionário permanece disponível para ser respondido por 
algum tempo.
Técnicas e Instrumento de Coleta de Dados Quantitativos
R
ep
ro
d
u
çã
o
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o
 C
ó
d
ig
o
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
ir
o
 d
e 
19
98
.
109
É relevante, em ambos os casos, mas principalmente em questionários online, 
que seja incluída alguma questão sobre o respondente ter participado de alguma 
pesquisa sobre o tema (especiicar a temática) nos últimos dias e, se possível, 
solicitar alguma informação mínima para identiicação no caso de duplicidade 
de respostas, como nome completo ou endereço de e-mail. Cabe ao pesquisa-
dor evidenciar ao respondente que tal identiicação será utilizada apenas para 
controle e não será divulgada.
Os questionários autoaplicáveis podem ser úteis para abordar temas polê-
micos, sobre os quais os indivíduos podem se sentir constrangidos ou mesmo 
julgados pelos pesquisadores ao responder as perguntas. Questões relacionadas 
ao consumo de substâncias ilícitas (drogas) e ao respeito ou intolerância aos direi-
tos de minorias (mulheres, negros, indígenas e população LGBT, por exemplo) 
se enquadram em tal situação.
O mesmo podemos dizer de questões ou questionários que abordam temas 
como preferência partidária, avaliação do chefe do Executivo ou do desempenho 
de setores e do governo em geral no âmbito da gestão pública. Não raras vezes, 
até mesmo pelo receio de represálias por conta de uma possível identiicação, os 
servidores públicos se negariam a participar de uma pesquisa que contemplasse 
tais conteúdos. Nesse caso, questões que permitam a identiicação dos respon-
dentes, por mais simples que sejam (como primeiro nome, número de matrícula 
ou endereço de e-mail, por exemplo) deveriam ser abolidas.
Com relação aos custos, os questionários online envolvem menos recur-
sos do que aqueles aplicados pessoalmente e os questionários autoaplicáveis de 
maneira física são também menos custosos do que aqueles aplicados.
Por um lado, os questionários online têm custos relacionados a tempo, pes-
soal e recursos inanceiros especialmente em sua elaboração, pois depois basta 
disparar os e-mails ou outros materiais para divulgação e aguardar as respostas, 
para as quais há, atualmente, muitas ferramentas também online que tabulam 
os dados e oferecem até mesmo representações gráicas dos resultados.
O MÉTODO DE PESQUISA QUANTITATIVA
R
ep
ro
d
u
ção
 p
ro
ib
id
a. A
rt. 184 d
o
 C
ó
d
ig
o
 Pen
al e Lei 9.610 d
e 19 d
e fevereiro
 d
e 1998.
IIIU N I D A D E110
Em se tratando de meios físicos, um questionário autoaplicável é entregue ao 
respondente e este tem autonomia para preenchê-lo, enquanto o aplicador pode 
entregar outros formulários, de modo que a pesquisa pode até mesmo ser realizada 
com centenas de pessoas ao mesmo tempo, em locais como salas ou auditórios, 
que permitam aplicar o controle para recebimento dos questionários respondi-
dos antes que os respondentes se dispersem do local.
Há pontos negativos, entretanto, a serem considerados em ambos os casos. 
Teixeira, Zamberlan e Rasia (2008, p. 77) destacam que, na aplicação de ques-
tionários presencialmente, o ambiente pode inluenciar o processo de coleta de 
dados, por meio de fatores, como “estado de espírito do respondente e do entre-
vistador, lugar e ocasião da entrevista etc.”.
Em se tratando de questionários eletrônicos, os mesmos autores destacam 
o baixo índice de retorno. A tal ponto negativo, Torini (2016, p. 65) acrescenta 
que “em muitas situações, não é possível sequer comprovar se realmente o ques-
tionário foi respondido pela pessoa a quem era direcionado”.
Por im, destaco outros dois pontos a serem observados na aplicação de 
questionários online, os quais decorrem da possibilidade de viés do conjunto de 
respostas. A primeira situação diz respeito à população que tem acesso aos meios 
digitais no Brasil, a qual, de acordo com dados oiciais da Pesquisa Brasileira de 
Mídia, aponta que uma parcela minoritária dos brasileiros acessa a internet com 
regularidade e, portanto, a população com condições mais frágeis de sobrevi-
vência, que mais depende e tem contato com o setor público, seria a que menos 
teria condições de responder aos questionários.Há dezenas de páginas e plataformas para construção de surveys (enque-
tes) online, desde ferramentas gratuitas e universais até outras utilizáveis 
mediante pagamento ou assinatura, como Lime Survey, Survey Monkey, 
Qualtrics, Sphinx Online, Survio e Google Formulários, que é a mais popular 
dentre as plataformas.
Fonte: Torini (2016).
Técnicas e Instrumento de Coleta de Dados Quantitativos
R
ep
ro
d
u
çã
o
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o
 C
ó
d
ig
o
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
ir
o
 d
e 
19
98
.
111
A segunda situação, em alguma medida relacionada à primeira, remete 
ao fato de que, em face dos interesses de grupos envolvidos com a temática do 
questionário, pode haver sub-representação ou sobrerrepresentação de resulta-
dos com relação à população, pois grupos vulneráveis ou desarticulados podem 
participar de maneira pouco expressiva de coletas de dados, ao passo que gru-
pos organizados e indivíduos com melhor condições de recursos econômicos e 
cognitivos têm maior possibilidade de participação.
QUESTIONÁRIOS APLICADOS
Quanto à aplicação de questionários, esta pode ocorrer de maneira física (pre-
sencial), por telefone e pela internet, mas são ainda pouco usuais as coletas de 
dados quantitativos realizadas ao vivo por meio virtual. Os questionários apli-
cados dependem da disponibilidade do respondente em participar da pesquisa, 
mas têm menor exigência de ação por parte de quem responde, já que há um 
interlocutor que se responsabiliza por realizar as perguntas.
O questionário preparado para aplicação pode conter enunciados que reme-
tem ao diálogo e estimulem o envolvimento do respondente. É possível, por 
exemplo, considerar enunciados, como “Agora, lerei para o/a sr./sra. algumas 
modalidades de associativismo e gostaria que me dissesse de qual(is) o/a sr./sra. 
participa:” ou “Sobre o tema que estamos tratando, lerei para o/a sr./sra algumas 
airmações e gostaria que o/a sr./sra me indicasse com qual delas mais se identiica”.
Questionários aplicados têm maior chance de sucesso em sua conclusão do 
que aqueles autoaplicados, muito por conta do contato direto entre entrevistador 
e entrevistado. Seus rendimentos e limitações são, contudo, diferenciados entre si.
De acordo com Teixeira, Zamberlan e Rasia (2008, p. 77), questionários 
aplicados presencialmente correspondem à forma mais onerosa e demorada de 
coletar dados, mas representam, por outro lado, “possibilidade de coletar grande 
quantidade de dados”.
Os questionários aplicados por telefone, nos quais existe apenas contato ver-
bal, apresentam custo menor do que aqueles aplicados isicamente e têm dados 
coletados em ambiente com menor inluência de fatores ambientais e externos, 
O MÉTODO DE PESQUISA QUANTITATIVA
R
ep
ro
d
u
ção
 p
ro
ib
id
a. A
rt. 184 d
o
 C
ó
d
ig
o
 Pen
al e Lei 9.610 d
e 19 d
e fevereiro
 d
e 1998.
IIIU N I D A D E112
mas, por outro lado, são diicultosos no sentido de recrutar respondentes dis-
poníveis à participação e, por conta disso, correspondem geralmente, à baixa 
quantidade de dados coletados.
A ELABORAÇÃO DO QUESTIONÁRIO
Um questionário é um conjunto de questões organizado para atender a determina-
do(s) objetivo(s) de pesquisa. De acordo com autores como Babbie (1999), Manzato 
e Santos (2012) e Melo e Bianchi (2015), não há metodologia padrão ou maneira 
única de construir um questionário, mas há recomendações sobre sua elaboração.
É preciso que o gestor público tenha absoluta clareza de que um questio-
nário nunca é a etapa inicial de uma pesquisa, pois demanda conhecimentos 
anteriores a sua formulação, de modo que os mencionados autores e outros, 
como Wooldridge (2017), discorrem sobre aspectos que permeiam tal processo, 
os quais elenco como quatro etapas.
A primeira etapa diz respeito aos aspectos preliminares à construção do ques-
tionário. Conforme mencionado anteriormente, é necessário ao pesquisador/
gestor público o conhecimento prévio sobre o tema da pesquisa, o qual decorre, 
em grande medida, de leitura e sistematização do conhecimento teórico, meto-
dológico e empírico existente sobre o assunto.
Ademais, conforme destacado na unidade de estudos anterior, a deinição do 
objeto e da amostra a ser investigada deve ocorrer antes da elaboração das ques-
tões, a im de permitir a escolha, por exemplo, de “como” realizar a coleta de dados.
Por im, e em atenção a uma das características essenciais da pesquisa quan-
titativa, os responsáveis pela pesquisa devem buscar por questões que permitam 
comparações, caso o problema revele ser pertinente algum tipo de comparação.
Pensemos, como exercício ilustrativo, que uma Ouvidoria municipal recebe 
muitas críticas e reclamações acerca do atendimento prestado por determinado 
tipo de equipamento público (hipoteticamente, imagine uma escola, um posto 
de saúde, um centro comunitário, um centro de referência ao atendimento sócio-
-assistencial etc.) localizado em algumas áreas e, por outro lado, registra elogios e 
sugestões positivas para equipamentos semelhantes em outras áreas. Deinir um 
Técnicas e Instrumento de Coleta de Dados Quantitativos
R
ep
ro
d
u
çã
o
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o
 C
ó
d
ig
o
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
ir
o
 d
e 
19
98
.
113
roteiro de questões que permitam comparar o funcionamento dos equipamen-
tos, nos diferentes locais, pode ajudar o gestor público a melhorar a qualidade 
do atendimento e a reduzir o número de reclamações.
A segunda etapa corresponde ao planejamento do conteúdo a ser abordado 
e diz respeito à estruturação inicial do problema de pesquisa e do conhecimento 
acumulado sobre o tema (passo anterior) em um esboço de questionário.
Nesse sentido, o planejamento do questionário implica que o gestor público, 
tendo clareza sobre o(s) objetivo(s) da pesquisa e o referencial mobilizado para 
sua consecução, seja capaz de deinir os temas ou pontos a serem abordados por 
meio das questões. De acordo com Lima (2016, p. 21):
resta-nos entender como passar das deinições teóricas às deinições 
operacionais procurando assegurar que as perguntas formuladas ou as 
variáveis escolhidas meçam o conceito que necessitamos traduzir ope-
racionalmente. É uma tarefa que permeia todo o desenvolvimento do 
projeto de pesquisa, pois partimos de decisões teóricas até chegarmos 
a decisões operacionais que vão resultar na elaboração do questionário 
e/ou na escolha de variáveis que correspondam adequadamente ao pro-
blema de pesquisa.
A deinição dos temas é pressuposto para a estipulação do formato e da redação 
de cada questão, considerando as distintas maneiras como pode se dar a men-
suração de um atributo, sobre o que tratamos na seção anterior desta unidade 
de estudos. Nesse sentido, de acordo com Jannuzzi (2002, p. 9), a maneira como 
transformamos uma necessidade ou demanda de investigação em variável ou 
questão corresponde à operacionalização de nossos conceitos para a constru-
ção de indicadores.
Um indicador social é uma medida em geral quantitativa dotada de 
signiicado social substantivo, usado para substituir, quantiicar ou 
operacionalizar um conceito social abstrato, de interesse teórico (para 
pesquisa acadêmica) ou programático (para formulação de políticas). 
É um recurso metodológico, empiricamente referido, que informa algo 
sobre um aspecto da realidade social ou sobre mudanças que estão se 
processando na mesma (JANNUZZI, 2002, p. 9).
Por im, ainda com relação ao planejamento do questionário, é importante deinir 
quais questões comporão cada bloco temático e organizar tanto o questionário 
quanto cada um de seus blocos com questões que partam do âmbito mais geral 
O MÉTODO DE PESQUISA QUANTITATIVA
R
ep
ro
d
u
ção
 p
ro
ib
id
a. A
rt. 184 d
o
 C
ó
d
ig
o
 Pen
al e Lei 9.610 d
e 19 d
e fevereiro
 d
e 1998.
IIIU N I D A D E114
para o mais especíico ou que iniciem com temas mais amenos e depoisavan-
cem para questões mais delicadas.
Nesse sentido, é interessante iniciar uma abordagem com questões sócio-
demográicas, uma vez que a abordagem gera expectativas tanto por parte do 
entrevistador quanto do entrevistado e a interação por meio de questões simples 
e que permitem respostas fáceis revela-se uma boa estratégia. Assim, perguntar 
sobre a idade, local onde a pessoa estuda ou trabalha e como se deine com rela-
ção à raça ou grupo étnico são bons exemplos de abordagem inicial.
No sentido oposto, temas delicados, como aqueles anteriormente desta-
cados nesta unidade de estudos — relacionados a consumo de drogas, valores 
morais e direitos e liberdades individuais — devem ser incluídos na parte inal 
do questionário, uma vez que a eventual resistência do entrevistado em respon-
der a tais questões pode limitar ou mesmo inalizar a aplicação do instrumento 
de coleta de dados.
Sobre a ordenação das perguntas no interior de um bloco temático, exem-
pliiquemos a partir da avaliação sobre a qualidade dos serviços de uma política 
pública. Considerando que as questões iniciais do questionário tenham sido aque-
las com conteúdo sociodemográico, a abordagem sobre o tema mais relevante 
à investigação do gestor público deve, primeiramente, questionar se o respon-
dente é usuário da política pública que estamos avaliando. Caso a resposta seja 
airmativa, podemos avançar com questões sobre a frequência de utilização, os 
locais e serviços dos quais se beneicia (se houver necessidade de especiicação, 
como nos casos de saúde e assistência social) e sua avaliação sobre a estrutura 
do local e, por im, sobre a qualidade do atendimento que recebe.
A terceira etapa é de formulação efetiva de questões. Nesta etapa, é neces-
sário atentar-se ao fato de que as questões podem assumir distintos formatos, 
quais sejam: abertas, que permitem uma única resposta, que permitem respos-
tas múltiplas e mensuradas por meio de escalas.
Questões abertas se referem àquelas em que os respondentes têm total liber-
dade para manifestar suas respostas com suas próprias palavras, sem que haja 
estímulo por meio de possibilidades de respostas prévias. São questões que esti-
mulam, por um lado, a cooperação e não exercem inluência sobre respostas, 
mas que, por outro lado, exigem tempo e apresentam diiculdade para codiica-
ção e interpretação posterior de seu conteúdo.
Técnicas e Instrumento de Coleta de Dados Quantitativos
R
ep
ro
d
u
çã
o
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o
 C
ó
d
ig
o
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
ir
o
 d
e 
19
98
.
115
Não há impedimentos, entretanto, quanto a um questionário que contenha 
questões deste tipo, cuja análise também pode ser realizada de maneira qualita-
tiva. O Estudo Eleitoral Brasileiro, projeto de coleta de dados quantitativos junto 
a uma amostra representativa da população brasileira após as eleições à presidên-
cia, incluiu, por exemplo, na pesquisa realizada em 2006, a questão aberta “Para 
você, o que é democracia?”, a qual teve seus resultados analisados e codiicados 
de modo a serem considerados sob a perspectiva quantitativa por Moisés (2013).
Sobre tais questões, é importante ter-se em mente que o nível de detalha-
mento ou de especiicidade do que se pergunta é inversamente proporcional à 
quantidade de respostas adequadas que serão recebidas. Em outras palavras, 
quanto mais genérica ou ampla for a questão, maior o número de respostas váli-
das e, em contrapartida, quanto mais especíica a pergunta, menor a quantidade 
de respostas.
A título de exemplo, pensemos sobre questões abertas. Se um gestor público 
pergunta à população sua opinião acerca do desempenho do governo deve receber 
um grande percentual de respostas, ainal, espera-se que a maioria dos cidadãos 
tenha algo a dizer sobre como o governo funciona. Por outro lado, se a ques-
tão tratar de um cargo, área ou tema mais especíico (como um vereador ou o 
conjunto de legisladores, os equipamentos públicos para prática desportiva ou 
o conselho municipal de cultura), é possível que haja respostas deinidas e bem 
fundamentadas, porém em pequena quantidade.
Assim, a opção pelo nível de especiicação ou generalidade da questão aberta 
cabe ao gestor público deinir de acordo com suas necessidades de pesquisa: conhe-
cer muito sobre temas gerais ou conhecer pouco sobre um aspecto em especial.
As questões objetivas que permitem respostas únicas são aqueles para as 
quais é possível ao entrevistado a escolha de apenas uma alternativa, sendo que 
as opções de respostas podem ser dicotômicas ou multicategóricas. São questões 
de rápida e fácil aplicação, mas que possibilitam a simpliicação de perspectivas 
ou nuances de respostas.
Enquanto dicotômicas, podem ser questões simples, como “O/A sr./sra. já 
visitou o prédio onde funciona a Prefeitura Municipal de Maringá?”, que permite 
apenas as respostas “sim” e “não”, no entanto, caso seja percebida a necessidade 
de detalhamento maior sobre o tipo de resposta que se espera, é possível criar 
questões multicategóricas em substituição ou complementação às dicotômicas.
O MÉTODO DE PESQUISA QUANTITATIVA
R
ep
ro
d
u
ção
 p
ro
ib
id
a. A
rt. 184 d
o
 C
ó
d
ig
o
 Pen
al e Lei 9.610 d
e 19 d
e fevereiro
 d
e 1998.
IIIU N I D A D E116
Seguindo o mesmo exemplo, não basta saber apenas se os cidadãos já visita-
ram o paço municipal, mas a pesquisa busca evidenciar o quanto essas pessoas 
frequentam o espaço ocupado pelo Poder Executivo municipal, a questão poderia 
ser reformulada ou poderia haver uma questão decorrente da resposta anterior.
No primeiro caso, a reformulação da questão implicaria em um enunciado 
como “O/A sr./sra. já visitou o prédio onde funciona a Prefeitura Municipal de 
Maringá? Caso a resposta seja airmativa, poderia indicar a frequência de sua(s) 
visita(s)?”. As opções de respostas, neste caso, seriam:
a. “Não, nunca visitei”.
b. “Sim, apenas uma vez”.
c. “Sim, poucas vezes”.
d. “Sim, algumas vezes”.
e. “Sim, visito com alguma frequência”.
f. “Sim, visito sempre”.
A outra possibilidade de questionamento demandaria estruturação do questio-
nário de modo que, caso a resposta à questão inicial — “O/A sr./sra. já visitou o 
prédio onde funciona a Prefeitura Municipal de Maringá?” — fosse negativa, o 
entrevistador seguisse para a questão que trata do próximo assunto ou tema; ao 
contrário, caso a resposta fosse positiva, deveria ser realizada a pergunta especí-
ica: “O/A sr./sra. poderia indicar a frequência de sua(s) visita(s)?”, tendo como 
categorias de respostas as opções anteriormente elencadas.
As questões objetivas que permitem ao respondente indicar múltiplas res-
postas são as que possibilitam escolher uma ou mais alternativas dentre um rol 
de ofertas. São fáceis de aplicar, mas exigem cuidado por parte dos pesquisa-
dores na sua elaboração, de modo a contemplar as possibilidades de respostas. 
Ademais, é preciso cuidado também na coleta de dados, a im de evitar erros 
nas anotações das respostas.
Um exemplo de questão desta natureza é o questionamento acerca de existên-
cia de vínculos associativos por parte dos respondentes. Diante de um enunciado, 
como: “Na sequência, apresentarei uma relação de organizações ou associações 
Técnicas e Instrumento de Coleta de Dados Quantitativos
R
ep
ro
d
u
çã
o
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o
 C
ó
d
ig
o
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
ir
o
 d
e 
19
98
.
117
e gostaria que o/a sr./sra. Informasse se participa ou não de cada uma. O/A sr./
sra. participa de:”.
O complemento das perguntas seriam as perspectivas de respostas a ser 
assinaladas: “Igreja ou grupo religioso”, “Sindicato”, “Associação comunitária”, 
“Partido político”, “Organização artística ou cultural”, “Organização esportiva”, 
“organização não governamental ou da sociedade civil”, “movimentos sociais” etc.
Cabe destacar que questões com possibilidadesde respostas múltiplas são, 
em realidade, um aglomerado de questões discretas dicotômicas, já que ao invés 
de elaborar mais de uma dezena de questões do tipo “O/A sr./sr.a participa de 
Igreja ou grupo religioso?” e anotar as respostas “sim” ou “não”, o entrevistador 
assinala apenas as respostas airmativas.
Por im, a quarta possibilidade é de elaboração de questões com escalas 
intervalares, quando se busca mensurar níveis de aceitação, posicionamento 
ou avaliação, sendo mais comuns as escalas de Likert e numéricas ou de analo-
gia visual.
Questões com escalas permitem ao pesquisador captar nuances das opiniões 
ou posições, em contrapartida, podem diicultar a interpretação de fenômenos 
ou temas para os quais espera-se objetividade nos resultados.
De acordo com Teixeira, Zamberlan e Rasia (2008, p. 85):
em uma escala intervalar, distâncias numericamente iguais na escala 
representam valores iguais na característica que está sendo avaliada. 
Uma escala intervalar não só contém toda a informação de uma escala 
ordinal, como também permite comparar diferenças entre objetos. A 
diferença entre dois valores quaisquer de escala é idêntica à diferença 
entre dois outros valores adjacentes quaisquer de uma escala intervalar.
A escala de Likert diz respeito à classiicação a partir de graus de concordância 
ou discordância com relação a airmações, posições ou políticas, por exemplo. 
Tal escala partiria sempre de um ponto extremo negativo, seguido de um ponto 
negativo moderado, um ponto neutro, um ponto pouco positivo e, por im, um 
ponto extremo positivo.
Assim, são exemplos de categorias para utilização da escala de Likert:
 ■ “Discordo totalmente”, “discordo”, “não discordo nem concordo”, “con-
cordo” e “concordo totalmente” com a política pública de cotas sociais 
para acesso ao ensino superior.
O MÉTODO DE PESQUISA QUANTITATIVA
R
ep
ro
d
u
ção
 p
ro
ib
id
a. A
rt. 184 d
o
 C
ó
d
ig
o
 Pen
al e Lei 9.610 d
e 19 d
e fevereiro
 d
e 1998.
IIIU N I D A D E118
 ■ “Muito insatisfeito”, “insatisfeito”, “nem insatisfeito nem satisfeito”, “satis-
feito” e “muito satisfeito” com relação ao atendimento na unidade básica 
de saúde de seu bairro.
 ■ “Sem importância”, “pouca importância”, “razoável importância”, “impor-
tante” ou “muito importante” à promoção de audiências públicas para 
discutir o destino correto do lixo reciclável no município.
As questões com escalas numéricas permitem a localização dos indivíduos em 
faixas, nas quais o enunciado indica os pontos extremos e cabe a cada respon-
dente reletir e indicar em que ponto se situaria.
Um exemplo comum deste tipo de questão, em pesquisas de opinião pública 
com amostras representativas das populações nacionais, busca veriicar como 
os cidadãos se posicionam no espectro ideológico. Para efeito de ilustração, 
neste material didático, os exemplos tratam de questões relacionadas a aspec-
tos sócio-econômicos:
 ■ O enunciado “Considerando uma escala de 10 pontos, em que 1 signi-
ica ‘nada satisfeito’ e 10 signiica ‘totalmente satisfeito’, o quanto o/a sr./
sra. diria que se encontra satisfeito com sua condição econômica atual-
mente?” poderia ter como alternativas de respostas os números “1”, “2”, 
“3” e sucessivamente até “10”.
 ■ A questão “Considerando uma escala de 10 pontos, em que 1 signiica 
‘nada preocupante’ e 10 signiica ‘extremamente preocupante’, o quanto 
o/a sr./sra. diria que as condições de segurança pública são preocupan-
tes no Brasil atualmente?” teria como alternativas de respostas o termo 
“nada preocupante” em substituição ao número que representaria “1”, os 
Rensis Likert foi o criador da escala que leva seu nome e tem sido ampla-
mente empregada em pesquisas ao longo dos anos, com destaque às pes-
quisas de mercado.
Fonte: Teixeira, Zamberlan e Rasia (2008).
Técnicas e Instrumento de Coleta de Dados Quantitativos
R
ep
ro
d
u
çã
o
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o
 C
ó
d
ig
o
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
ir
o
 d
e 
19
98
.
119
números “2”, “3” e sucessivamente os demais até “9” e, por im, o termo 
“extremamente preocupante” em substituição ao número “10”.
Os exemplos apontados anteriormente demonstram que a utilização de escalas 
numéricas pode fazer uso dos termos destacados no enunciado como ilustrativos 
à faixa numérica utilizada para posicionamento pelos respondentes. Ademais, 
destaco que não há unanimidade no tamanho das escalas, sendo que há ques-
tionários que realizam a mensuração com o intervalo aqui exempliicado (1 a 
10) e outras que utilizam as faixas de 0 a 10, de 1 a 7 e de 0 a 7, por exemplo.
A quarta e última etapa da elaboração de um questionário diz respeito à 
realização de pré-testes para validação do instrumento de coleta de dados. De 
acordo com Torini (2016, p. 61):
[...] é extremamente recomendado que haja a realização de um pré-tes-
te, isto é, a aplicação de um “piloto” do questionário com um número 
reduzido de respondentes a im de veriicar possíveis erros de constru-
ção, luxo e diiculdades de compreensão do questionário.
Babbie (1999), Hoss e Caten (2010) e Manzato e Santos (2012) deinem esta 
etapa como aquela na qual é realizada a veriicação da viabilidade na realização 
da pesquisa por meio do instrumento proposto, quando se faz necessário avaliar 
o tempo de aplicação, a clareza dos enunciados e das alternativas de respostas, a 
necessidade e a condição da manuseio de cartões de respostas, a complexidade 
das questões e as percepções de incômodo e reclamações entre entrevistados.
Cartões de respostas são materiais de apoio à aplicação dos questionários, 
amplamente utilizados em pesquisas quantitativas, cujo conteúdo são informa-
ções que permitem ao entrevistado visualizar as alternativas de respostas.
Tal apoio pode ser utilizado pelos pesquisadores em distintas situações, como:
 ■ Situações complexas nas quais há alternativas longas de respostas, que 
exigem atenção dos entrevistados.
 ■ Diante de temas polêmicos, quando pode ser oferecido um conjunto de 
respostas acompanhado de números ou letras que permitam ao entrevis-
tado oferecer como resposta “2” ou “b”, ao invés de ter que mencionar o 
conteúdo de sua opinião.
O MÉTODO DE PESQUISA QUANTITATIVA
R
ep
ro
d
u
ção
 p
ro
ib
id
a. A
rt. 184 d
o
 C
ó
d
ig
o
 Pen
al e Lei 9.610 d
e 19 d
e fevereiro
 d
e 1998.
IIIU N I D A D E120
 ■ Por conta de especiicidades do público alvo da pesquisa, no qual o acom-
panhamento visual daquilo que é questionado de maneira verbal se faz 
imprescindível.
Os cartões de respostas podem ser elaborados de maneira simples e devem con-
ter a transcrição iel das alternativas de respostas constantes nos questionários. 
A seguir, exponho exemplos de cartões de respostas que compuseram a aplica-
ção dos questionários de coleta de dados junto a dirigentes de organizações da 
sociedade civil do município de Maringá entre os anos de 2010 e 2011, desen-
volvidos diante da pluralidade do peril dos respondentes (GIMENES, 2011).
O primeiro exemplo, a Figura 1, trata-se de uma questão sobre avaliação 
dos chefes dos Poderes Executivo municipal, estadual e federal e foi constru-
ído com utilização de uma escala numérica com indicação de pontos extremos:
(MOSTRE O CARTÃO A)
Em que medida o(a) sr.(a) está satisfeito com os atuais gestores municipal, esta-
dual e federal?
V14 Prefeito 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
V15. Governador 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
V16. Presidente 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Figura 1 - Questão sobre avaliação dos chefes dos Poderes Executivo municipal, estadual e federal
Fonte: Gimenes (2011).
Na leitura da questão, há a indicação, em negrito, ao entrevistador para que 
mostre, ao entrevistado, o cartão com as opções de respostas, o que deve ser evi-
denciado na realização do treinamento anterior à coleta de dados.
O cartão apresentado aos respondentes foi o seguinte (Figura 2):
CARTÃO A
Completamente
Insatisfeito
Completamente
Satisfeito
1 2 3 4 5 67 8 9 10
(V14 A V16)
Figura 2 –Exemplo de cartão
Fonte: Gimenes (2011).
Técnicas e Instrumento de Coleta de Dados Quantitativos
R
ep
ro
d
u
çã
o
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o
 C
ó
d
ig
o
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
ir
o
 d
e 
19
98
.
121
É importante que os cartões de respostas tenham o mínimo de elementos pos-
síveis, de modo que o entrevistado possa delimitar seu foco às alternativas de 
respostas. Neste e nos demais exemplos, constam nos cartões, para além das alter-
nativas respostas, apenas a identiicação do cartão (parte superior) e a indicação 
de quais questões estão relacionadas ao cartão (parte inferior).
O segundo exemplo apresenta enunciado (Figura 3) e alternativas de res-
postas (Figura 4) que exigem maior atenção por parte do pesquisador e do 
entrevistado, uma vez que o comando solicita duas respostas e as possibilidades 
de resposta são mais complexas e menos intuitivas do que escalas numéricas.
(MOSTRE O CARTÃO D)
V21. Fala-se muito sobre os quais objetivos o Brasil deve procurar atingir nos 
próximos dez anos. Neste cartão estão alguns objetivos que as pessoas dariam 
prioridade. Qual deles o(a) Sr(a). acha mais importante? (assinale uma resposta 
na coluna “primeiro mais importante”).
V22. E em segundo lugar? (assinale uma resposta na coluna “segundo mais 
importante”).
PRIMEIRO MAIS 
IMPORTANTE
SEGUNDO MAIS
IMPORTANTE
Alto nível de crescimento econômico 1 1
Garantir um forte sistema de defesa militar 
para o país
2 2
Aumentar a participação das pessoas nas 
decisões que são tomadas em seus trabalhos 
e em suas comunidades
3 3
Tentar fazer com que as nossas cidades e o 
interior do pais iquem mais bonitos
4 4
Figura 3 - Modelo de questões com uso de cartão
Fonte: Gimenes (2011).
O MÉTODO DE PESQUISA QUANTITATIVA
R
ep
ro
d
u
ção
 p
ro
ib
id
a. A
rt. 184 d
o
 C
ó
d
ig
o
 Pen
al e Lei 9.610 d
e 19 d
e fevereiro
 d
e 1998.
IIIU N I D A D E122
CARTÃO D
Alto nível de crescimento econômico
Garantir um forte sistema de defesa militar para o país
Aumentar a participação das pessoas nas decisões que são 
tomadas em seus trabalhos e em suas comunidades
Tentar fazer com que as nossas cidades e o interior do país 
iquem mais bonitos
(V21 A V22)
Figura 4 - Exemplo de cartão
Fonte: Gimenes (2011).
Neste caso, o entrevistador deveria mostrar o cartão ao entrevistado e, somente 
depois, realizar a primeira pergunta (V21), na qual assinalaria a resposta na 
coluna correspondente. Em seguida, realizaria o segundo questionamento (V22) 
e anotaria a resposta no campo especíico.
Independentemente da complexidade da questão e/ou das alternativas de 
respostas, é importante reforçar que o tempo de relexão do respondente deve 
ser respeitado. A depender das instruções especíicas, bem como do público alvo 
e dos locais onde os questionários forem aplicados, existe a possibilidade de que 
os cartões sejam oferecidos aos entrevistados para que os segurem enquanto o 
entrevistador procede a leitura das questões.
Ainda que pareça um detalhe, oferecer aos entrevistados a possibilidade de 
segurar os cartões em mãos foi importante para que alguns entrevistados redu-
zissem a resistência com relação à participação na pesquisa da qual extraí os 
exemplos apresentados anteriormente, que resultou na dissertação de mestrado 
do autor deste livro (GIMENES, 2011).
Realizada a primeira rodada de pré-teste do questionário, é possível reali-
zar as correções e adequações na redação de questões e alternativas; bem como 
avaliar a necessidade de utilização dos cartões de respostas propostas e a inser-
ção de novos cartões. Ademais, a revisão, após a rodada de pré-teste, é também 
o momento para realizar inclusões e/ou exclusões de questões, alternativas, ter-
mos ou temas, a im de que o questionário relita as necessidades de pesquisa 
com a maior exatidão possível.
Técnicas e Instrumento de Coleta de Dados Quantitativos
R
ep
ro
d
u
çã
o
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o
 C
ó
d
ig
o
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
ir
o
 d
e 
19
98
.
123
Não há limite numérico de rodadas de pré-testes a ser realizadas para uma 
pesquisa, sendo que os autores apontam que devem ocorrer aplicações dos ques-
tionários “piloto”, avaliação do feedback da aplicação, ajustes do questionário e 
novas rodadas de aplicação até que as questões sejam adequadas.
Nesse sentido, a expectativa é de que a versão inal do questionário:
 ■ Apresente uma linguagem acessível ao público alvo.
 ■ Disponha questões por blocos temáticos, a im de estimular o raciocínio 
e agilizar a aplicação.
 ■ Seja cuidadoso com a redação e a forma de abordagem de temas delicados.
 ■ Contemple questões que não induzam respostas tendenciosas ou 
julgamentos.
Caso a exaustão das possibilidades de respostas seja inviável, por conta do número 
de alternativas existentes ou da impossibilidade de prevê-las integralmente, pode 
ser incluída a opção de resposta “outro(s)”, para que o respondente informe 
alguma resposta não contemplada nas alternativas oferecidas.
V180. Em sua opinião, qual a melhor denominação dentre os seguintes para o 
grupo de entidades a qual esta que o(a) sr.(a) preside pertence?
1 Terceiro setor
2 Sociedade civil organizada
3 Fundações privadas e associação sem ins lucrativos
4 Organizações não governamentais (ONGs)
5 Outro: _________________________________ (Anote)
Figura 5 - Modelo de questão com alternativa de resposta “outro(s)”
Fonte: Gimenes (2011).
Ademais, deve-se deixar claro aos respondentes que não há obrigatoriedade de 
responder a todas as questões, bem como de que haverá garantia de anonimato 
com relação às respostas oferecidas, salvo em situações em que não seja possí-
vel a manutenção de conidencialidade.
Técnicas de Análise de Dados Quantitativos
R
ep
ro
d
u
çã
o
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o
 C
ó
d
ig
o
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
ir
o
 d
e 
19
98
.
125
TÉCNICAS DE ANÁLISE DE DADOS QUANTITATIVOS
A análise de dados quantitativos implica a utilização de técnicas estatísticas e/
ou de sotwares que permitam a avaliação coletiva de conjuntos de dados agre-
gados. Nesse sentido, esta seção trata de maneiras como os dados podem ser 
interpretados, bem como de ferramentas tecnológicas que permitem tais análises.
Nos tópicos a seguir, tomaremos contato com conceitos e exemplos de análi-
ses que se utilizam de estatística descritiva, bivariada, multivariada e hierárquica 
e de geoprocessamento. Diante desse conjunto de técnicas, contudo, é salutar 
destacar que as possibilidades analíticas são amplas e que essas distintas técni-
cas podem ser utilizadas de maneira combinada ou comparativa. Tendo em vista 
que esta seção de estudos tem a inalidade de apresentar conceitos e aplicações 
sobre tais técnicas, as abordagens serão unitárias e para ins didáticos.
A im de tornar mais luida a leitura, registro que os tópicos sobre esta-
tística descritiva, bivariada e multivariada são baseados em obras de Babbie 
(1999), Barbetta (2011) e Wooldridge (2017), referenciados ao im da unidade 
de estudos e que não são citados de maneira recorrente para evitar repetições. 
As referências sobre análise hierárquica e geoprocessamento são destacadas nos 
respectivos tópicos.
O MÉTODO DE PESQUISA QUANTITATIVA
R
ep
ro
d
u
ção
 p
ro
ib
id
a. A
rt. 184 d
o
 C
ó
d
ig
o
 Pen
al e Lei 9.610 d
e 19 d
e fevereiro
 d
e 1998.
IIIU N I D A D E126
Assim, como destacado quando tratamos da elaboração de questionários, 
novamente, nesta seção, abordaremos as técnicas quantitativas com a utiliza-
ção de exemplos decorrentes de análises de dados individuais. Tal abordagem, 
no entanto, tem inalidade didática, uma vez que nem todos os acadêmicos têm 
contato com ambientes e situações que permitam a mensuração e análise de 
dados referentes a instituições, órgãos ou entes públicos, mas é comuma todos 
o conhecimento acerca de características sociodemográicas e formação de valo-
res e opiniões.
ESTATÍSTICA DESCRITIVA
A estatística descritiva diz respeito às análises mais simples que podem ser reali-
zadas a partir de conjuntos de dados. A despeito de sua simplicidade, porém, são 
análises de grande relevância e, por vezes, até mesmo suicientes para lidar com 
determinados problemas, uma vez que consistem em descrições das característi-
cas de um conjunto de observações (casos), em termos numéricos ou percentuais.
Nesse sentido, podemos interpretar a estatística descritiva como a primeira 
tarefa de um pesquisador, o qual deve, diante de uma coleção de dados, determi-
nar quantas respostas ocorreram em cada categoria constante no questionário. 
De acordo com Bohrnsteadt e Knoke (1988), dentre as técnicas estatísticas des-
critivas, destacam-se as distribuições percentuais e as medidas de tendência 
central e de variabilidade.
Tomando como exemplo os dados da pesquisa de Gimenes (2011), a Tabela 
1 apresenta a contagem de homens e mulheres entrevistados, os quais com-
puseram uma amostra aleatória de dirigentes sorteada a partir da relação de 
organizações da sociedade civil, que atendiam a critérios especíicos, descritos 
na referida pesquisa.
Tabela 1 - Sexo dos entrevistados
SEXO N
Masculino 48
Feminino 34
Total 82
Fonte: adaptada de Gimenes (2011).
Técnicas de Análise de Dados Quantitativos
R
ep
ro
d
u
çã
o
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o
 C
ó
d
ig
o
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
ir
o
 d
e 
19
98
.
127
A interpretação dos resultados da Tabela 1 é simples e até mesmo intuitiva, 
no sentido de que a amostra de dirigentes de organizações da sociedade civil 
maringaense entrevistada era composta por 48 homens e 34 mulheres, totali-
zando uma amostra de 82 respondentes.
Para além da apresentação das contagens de casos, é possível a utilização de 
valores percentuais, os quais podem facilitar a leitura, interpretação e análise dos 
resultados. Nesse sentido, a tabela 2 apresenta dados referentes à mesma variá-
vel para o mesmo banco de dados, porém com resultados expressos em valores 
percentuais.
Tabela 2 - Sexo dos entrevistados
SEXO %
Masculino 58,5
Feminino 41,5
Total 100
Fonte: adaptada de Gimenes (2011).
Seguindo o modelo de interpretação acerca da tabela anterior, podemos air-
mar que a amostra de dirigentes de organizações da sociedade civil maringaense 
entrevistada era composta por 58,5% de homens e 41,5% de mulheres, totali-
zando uma amostra de 82 respondentes.
A exposição de valores percentuais é também relevante para a comparação 
entre diferentes populações ou entre uma mesma população em distintos pontos 
do tempo. Por exemplo, no período da coleta de dados da pesquisa em desta-
que (GIMENES, 2011), a população maringaense era composta por 51,9% de 
mulheres e 48,1% de homens. A apresentação de tal informação em números 
diicultaria a comparação, mas sua expressão em percentuais rapidamente nos 
permite constatar que, apesar das mulheres representarem a maioria dos cida-
dãos do município, os homens ocupavam mais cargos de dirigentes de entidades 
sociais do que as mulheres. 
Tal comparação de frequências relativas é um ganho analítico que deve ser 
utilizado, sempre que possível, pelo gestor público para constatar, por exemplo, 
os níveis de desenvolvimento social do município ao longo do tempo e com rela-
ção às cidades do entorno ou de mesmo porte.
O MÉTODO DE PESQUISA QUANTITATIVA
R
ep
ro
d
u
ção
 p
ro
ib
id
a. A
rt. 184 d
o
 C
ó
d
ig
o
 Pen
al e Lei 9.610 d
e 19 d
e fevereiro
 d
e 1998.
IIIU N I D A D E128
Não raras vezes, ao invés de apresentar apenas uma das informações (quan-
tidade ou percentual), as tabelas descritivas contemplam ambos os valores, o que 
facilita a visualização dos dados por parte dos gestores públicos e demais leito-
res daquele relatório.
Tabela 3 - Sexo dos entrevistados
SEXO N %
Masculino 48 58,5
Feminino 34 41,5
Total 82 100
Fonte: adaptada de Gimenes (2011).
Quando a tabela apresenta dados expostos em duas unidades de mensuração, 
sua interpretação pode expor apenas um dos valores (já que ambos estão apre-
sentados) ou mencionar valores e percentuais, com maior destaque a um. A 
interpretação da Tabela 3, por exemplo, poderia ser a seguinte: a amostra de diri-
gentes de organizações da sociedade civil maringaense entrevistada era composta 
por 58,5% de homens (48 casos) e 41,5% de mulheres (34 casos), totalizando 
uma amostra de 82 respondentes.
Para além deste exemplo de apresentação de dados de uma variável dicotô-
mica não-ordenada, as tabelas de frequências também podem ser utilizadas para 
análises de valores agregados, especialmente, em se tratando de percentuais. A 
Tabela 4 trata da variável renda, mensurada em salários mínimos e apresenta duas 
colunas com resultados: a primeira com os percentuais de respostas por catego-
ria (faixa) e a segunda com percentuais cumulativos de respostas (agregados).
Tabela 4 - Renda dos entrevistados
FAIXA % % ACUM.
Sem renda 6,1 6,1
Até 2 salários mínimos 4,9 11
Acima de 2 até 5 salários mínimos 13,4 24,4
Acima de 5 até 10 salários mínimos 32,9 57,3
Acima de 10 salários mínimos 42,7 100
Total 100 100
Fonte: adaptada de Gimenes (2011).
Técnicas de Análise de Dados Quantitativos
R
ep
ro
d
u
çã
o
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o
 C
ó
d
ig
o
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
ir
o
 d
e 
19
98
.
129
Os dados da Tabela 4 permitem algumas constatações. Primeiramente, cabe-
ria ao gestor público expor seus dados conforme exempliicado após a Tabela 2, 
mencionando os percentuais referentes a cada faixa de renda, com a informa-
ção de qual era o valor do salário mínimo na época de realização da pesquisa. 
Tal informação é relevante pelo fato de que coletas de dados são datadas e, por-
tanto, se referem a contextos e períodos especíicos. 
Após a descrição dos percentuais desagregados da distribuição dos diri-
gentes, conforme a faixa de renda em que se localizam, seria possível analisar 
os percentuais cumulativos, que dizem respeito ao acúmulo de casos conforme 
avançamos nas categorias de respostas. Tal interpretação só pode ser utilizada 
para análises de variáveis ordenadas, como renda (neste caso), escolaridade e 
frequência de utilização de serviços públicos.
Para os dados constantes na Tabela 4, veriicamos, na última coluna, que 
apenas 11% dos respondentes declararam receber até 2 salários mínimos (para 
a época, no valor de R$ 510,00), ao passo que 24,4% (portanto, menos de ¼ da 
amostra) declarou rendimentos máximos de 5 salários mínimos. Se observarmos 
esse último dado de maneira reversa (extraindo tal percentual da totalidade), 
temos que 75,6% dos dirigentes de organizações da sociedade civil maringaense 
detinham alta renda mensal, uma vez que declararam receber valores superio-
res a 5 salários mínimos.
Os dados de estatística descritiva podem ser apresentados por meio de repre-
sentações gráicas, sendo mais comuns as iguras conhecidas como “pizzas” e as 
barras. A título de ilustração, exponho, a seguir, gráicos dos dois tipos, sendo 
que há exemplos de barras verticais e horizontais.
O MÉTODO DE PESQUISA QUANTITATIVA
R
ep
ro
d
u
ção
 p
ro
ib
id
a. A
rt. 184 d
o
 C
ó
d
ig
o
 Pen
al e Lei 9.610 d
e 19 d
e fevereiro
 d
e 1998.
IIIU N I D A D E130
Figura 7 – Exemplo de gráico “Pizza”
Fonte: Gimenes (2018, on-line).
Os três gráicos apresentam resultados de um exercício de pesquisa realizado junto 
a alunos de graduação da Unicesumar no ano de 2018. A representação em pizza 
permite veriicar a disposição das respostas, sendo ideal para casos em que as 
respostas sejam únicas às questões, ou seja, quando totalizarem 100% dos casos.
Por sua vez, os gráicos de barras permitem a comparação entre resultados 
e também são úteis quando buscamos apresentar os resultadosde questões com 
respostas possíveis em multiplicidade.
Figura 8 - Exemplo de gráico com barras horizontais
Fonte: Gimenes (2018, on-line).
Técnicas de Análise de Dados Quantitativos
R
ep
ro
d
u
çã
o
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o
 C
ó
d
ig
o
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
ir
o
 d
e 
19
98
.
131
As barras horizontais expostas na Figura 8 dizem respeito aos resultados de uma 
bateria de questões para as quais os respondentes deveriam indicar quais polí-
ticas deveriam ser desenvolvidas no âmbito da gestão pública. O ordenamento 
crescente ou decrescente das respostas é facultativo ao pesquisador, mas reco-
menda-se apresentar os dados seguindo uma ordem determinada.
Figura 9 - Exemplo de gráico com barras verticais
Fonte: Gimenes (2018, on-line).
Por im, o terceiro exemplo é de questões que permitem múltiplas respostas 
apresentadas por meio de barras verticais. Assim como no gráico anterior, é 
perceptível a ordenação das categorias de respostas, desta vez de maneira decres-
cente. Tanto esses modelos como outros gráicos são passíveis de geração em 
sotwares estatísticos e naqueles compostos por planilhas para digitação de dados.
Para além da descrição das variáveis, é comum, nas pesquisas e na elabora-
ção de relatórios, buscarmos a simpliicação dos dados a partir de medidas de 
sumarização, as quais são estatisticamente deinidas como medidas de tendên-
cia central e possibilitam a descrição dos dados por meio de informações que 
remetam a aspectos centrais do conjunto de dados analisados. As medidas mais 
comuns de tendência central são moda e média, sendo que para a última se rela-
ciona uma medida relevante de dispersão, o desvio padrão.
A moda é a medida mais simples de tendência central e corresponde à cate-
goria de resposta que reúne o maior número de casos, ou seja, a moda representa 
o atributo mais recorrente entre determinada população ou amostra.
O MÉTODO DE PESQUISA QUANTITATIVA
R
ep
ro
d
u
ção
 p
ro
ib
id
a. A
rt. 184 d
o
 C
ó
d
ig
o
 Pen
al e Lei 9.610 d
e 19 d
e fevereiro
 d
e 1998.
IIIU N I D A D E132
Sua utilização é adequada para análises de variáveis discretas, independente-
mente de serem dicotômicas ou multicategóricas, ordenadas ou não-ordenadas. 
Nesse sentido, se retornarmos às Tabelas 3 e 4, poderemos veriicar que a moda 
de sexo entre os dirigentes é masculina e que a moda de renda mensal é de rece-
bimento superior a 10 salários mínimos.
A média é utilizada para variáveis contínuas ou escalares (numéricas) e permite 
identiicar a tendência central com relação à distribuição dos casos, tomando por 
base de cálculo a soma das respostas dos indivíduos e sua divisão pelo número 
de respondentes.
O desvio-padrão é uma medida que indica o quão dispersos são os dados 
que compõem uma amostra. Nesse sentido, tal medida deve ser calculada e inter-
pretada em conjunto com a média, pois seu resultado permite identiicarmos o 
quanto os casos se aproximam ou se afastam do valor da média.
Vejamos um exemplo extraído de Gimenes (2011), referente a uma tabela 
que apresenta dados descritivos relativos à medida que os respondentes declara-
ram que as características elencadas eram fundamentais ao regime democrático. 
As variáveis consideraram uma escala de mensuração de 10 pontos, em que 1 
indicava total discordância com a airmação remeter a uma característica fun-
damental à democracia e 10 representava a completa concordância.
Tabela 5 - Modelo de tabela com dados descritivos
TABELA 18. CARACTERÍSTICAS FUNDAMENTAIS DA DEMOCRACIA
CARACTERÍSTICA MÉDIA
DESVIO 
PADRÃO
N
O povo escolhe seus líderes em eleições livres 8,84 1,69 80
A mediana é uma medida de tendência central pouco utilizada, que tem 
por inalidade a identiicação do valor que ocupa a posição central em uma 
distribuição dos casos entre variáveis contínuas.
Fonte: Barbetta (2011).
Técnicas de Análise de Dados Quantitativos
R
ep
ro
d
u
çã
o
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o
 C
ó
d
ig
o
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
ir
o
 d
e 
19
98
.
133
As mulheres têm o mesmo direito que os homens 8,59 2,37 79
Direitos do cidadão protegem a liberdade do povo 
contra a opressão
8,39 1,78 80
O povo pode mudar as leis pelo voto 8,35 2,37 80
Os criminosos são severamente punidos 6,39 3,05 80
As Forças Armadas assumem o governo quando ele 
foi incompotente
4,24 3,00 80
O governo cobra impostos dos riscos e dá dinheiro 
aos pobres
4,13 2,51 80
Fonte: Gimenes (2011, p. 89).
Os dados anteriores demonstram, primeiramente, que a possibilidade da popu-
lação escolher seus líderes por meio de eleições livres foi considerada, dentre as 
sete características apresentadas, como a condição mais relevante à existência de 
um regime democrático, sendo que outras quatro características também obti-
veram médias superiores a 6 e as duas últimas características atingiram médias 
em torno de 4. Sobre essas airmações pior ranqueadas, os dados permitem 
inferirmos que os dirigentes de organizações da sociedade civil entendam, majo-
ritariamente, que não se trata de condições fundamentais à democracia, já que 
a média das respostas está mais próxima da total discordância do que da con-
cordância com tal situação.
Com relação aos desvios-padrão, estes indicam o quanto as respostas foram 
dispersas dentre as possibilidades existentes (neste caso, os pontos entre 1 e 10 na 
escala de respostas). Quanto menor o desvio-padrão, mais homogêneo o conjunto 
de respostas e menores as diferenças entre os pontos apontados pelos respondentes. 
No caso da primeira airmação, indivíduos localizados a um desvio-padrão 
da média estariam posicionados próximos àqueles da média, uma vez que a dife-
rença entre a média e um desvio-padrão, para menos e para mais, representaria 
uma margem de posicionamentos entre 7,15 e 10 (valor limite na escala de res-
postas). É perceptível, portanto, que a amplitude de respostas a um desvio-padrão 
da média é baixo. Ademais, se considerarmos que todas as respostas acima de 
5 indicariam tendência a concordar que a realização de eleições livres é funda-
mental à democracia, mesmo indivíduos a dois desvios-padrão negativos com 
relação à média ainda concordariam com a airmação.
O MÉTODO DE PESQUISA QUANTITATIVA
R
ep
ro
d
u
ção
 p
ro
ib
id
a. A
rt. 184 d
o
 C
ó
d
ig
o
 Pen
al e Lei 9.610 d
e 19 d
e fevereiro
 d
e 1998.
IIIU N I D A D E134
Por outro lado, quanto maior o desvio-padrão, menos homogêneo (ou mais 
heterogêneo) é o conjunto de respostas coletadas, o que signiica maior disper-
são ou diferenciação entre as percepções e opiniões captadas e, em consequência, 
maior cuidado com relação à sua interpretação, que não permite generalizações.
Nesse sentido, observemos a penúltima característica apresentada na tabela 
retirada de Gimenes (2011). Para além da média de 4,24, veriicamos que o des-
vio-padrão de 3,00 é elevado em comparação com os demais (próximo do limite 
atingido de 3,05 e quase o dobro do menor de 1,69) e também quando analisado 
em conjunto com a média, o que é indicativo de expressiva dispersão dos dados. 
Tal dispersão se conirma ao calcularmos a distância que indivíduos se 
posicionaram a um desvio-padrão da média e se localizariam: 1,24 e 7,24. São 
valores não apenas muito distantes na escala, mas que também revelam o quão 
heterogêneas foram as respostas, pois enquanto a média indica leve tendência 
à discordância de que as Forças Armadas poderiam assumir o governo caso ele 
fosse incompetente, dentre os respondentes há aqueles que refutam radicalmente 
tal possibilidade e outros que entendem, em medida expressiva (superior a 7), 
que tal possibilidade é democrática.
ESTATÍSTICA BIVARIADA
A estatística bivariada diz respeito às análises que são realizadas considerando 
as relações estabelecidas entre duas variáveis, ou seja, são testes cujos resultados 
apontam a maneira como dois atributos estãorelacionados.
Inicialmente, tal relação pode ser vislumbrada por meio de uma tabela de 
contingência, que seria uma tabela descritiva com dados dos cruzamentos entre 
duas variáveis, na qual há exposição sobre a distribuição dos casos a partir da 
combinação entre os atributos. Vejamos um exemplo retirado da mesma base 
de dados anteriormente utilizada.
Técnicas de Análise de Dados Quantitativos
R
ep
ro
d
u
çã
o
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o
 C
ó
d
ig
o
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
ir
o
 d
e 
19
98
.
135
Tabela 6 - Sexo e participação em conselhos gestores
FEMININO MASCULINO TOTAL
Não participa 14 29 43
Participa 20 19 39
Total 34 48 82
Fonte: adaptada de Gimenes (2011).
A Tabela 6 apresenta a distribuição combinada de dirigentes dos sexos mascu-
lino e feminino com relação à sua participação em conselhos gestores, de modo 
que os resultados podem ser interpretados de diversas maneiras. A mais elemen-
tar é considerar a distribuição dos casos entre os peris. Como neste exemplo 
temos duas variáveis (sexo e participação em conselhos) que possuem apenas 
duas possibilidades de respostas (masculino/feminino e não/sim), trata-se de uma 
situação em que haveria quatro peris possíveis: homens que não participam de 
conselhos, homens que participam de conselhos, mulheres que não participam 
de conselhos e mulheres que participam de conselhos.
Os dados apontam que, dentre os 82 entrevistados, 14 mulheres e 29 homens 
não participavam de conselhos municipais, totalizando 43 casos (primeira linha da 
coluna “total”), ao passo que 20 mulheres e 19 homens participavam de conselhos, 
somando 39 casos (segunda linha da coluna “total”). As informações constantes 
na última linha — de que foram entrevistados 34 mulheres e 48 homens, com 
total de 82 casos — já foi descrita anteriormente (Tabela 1).
É importante pensarmos, no entanto, que a interpretação de uma tabela de 
contingência também pode ser realizada por meio de percentuais, sendo pos-
sível, ainda, mais duas formas de apresentar os dados, além da exposição dos 
dados em números de casos (Tabela 6), quais sejam: por meio de distribuições 
percentuais totalizadas por coluna ou por linha. No caso dos dados constantes 
na Tabela 6, isso signiicaria considerar que a distribuição dos casos por sexo ou 
por participação e conselhos determinaria a análise.
Cabe destacar, porém, que a análise de tabelas de contingência não é suiciente 
para que seja determinada a existência de relacionamento entre as variáveis, de 
modo que, para tanto, são realizados testes bivariados, os quais são múltiplos e 
variam de acordo com a natureza das variáveis a ser testadas. Nesse sentido, os 
testes destacados neste livro, com relação a variáveis discretas, são qui-quadrado, 
Lambda, Gamma, Tau b, Tau c e ETA.
O MÉTODO DE PESQUISA QUANTITATIVA
R
ep
ro
d
u
ção
 p
ro
ib
id
a. A
rt. 184 d
o
 C
ó
d
ig
o
 Pen
al e Lei 9.610 d
e 19 d
e fevereiro
 d
e 1998.
IIIU N I D A D E136
O qui-quadrado (chi-square) é o teste de signiicância mais simples para vari-
áveis nominais ou dicotômicas sem ordenação, que indica apenas a existência de 
relacionamento entre duas variáveis. Sem grandes exigências, requer amostras 
com ao menos 30 casos e também que a divisão dos sujeitos entre as variáveis 
seja relativamente igual, sem combinações ou peris sem nenhum caso (zero). 
A grande limitação do teste é a falta de informação sobre força do relaciona-
mento identiicado como signiicativo, pois o qui-quadrado indica apenas se a 
associação ocorre em termos populacionais, ao passo que um teste ideal seria 
aquele que indicasse a existência e também a força dessa associação em termos 
populacionais.
O teste Lambda é um teste de dependência para variáveis discretas não orde-
nadas que apresenta cenários de previsão em que não existe qualquer informação 
sobre uma variável independente, de modo que a existência de associação indica 
a capacidade de redução do erro de previsão sobre a relação entre variáveis, 
tomando por base uma escala em que 0 indica a ausência de relação (associação 
nula ou inexistente) e 1 corresponderia à associação perfeita.
O teste Gamma corresponde ao coeiciente mais utilizado para variáveis discretas 
ordenadas e apresenta medida simétrica (sem indicação determinada de sentido 
de dependência), mas aponta a direção da associação, sendo que quanto mais 
próximo de -1 mais perfeito e negativo o relacionamento entre as variáveis e mais 
próximo de +1 mais positivo e perfeito tal relacionamento, com valores tendentes a 
0 indicando a ausência de relacionamento. Seu cálculo é complexo por considerar 
a discordância ou concordância entre os pares de dados utilizados na determina-
ção da associação, o que exclui muitos casos e, em certa medida, limita a amostra.
Variáveis dependentes são aquelas cuja manifestação depende do efeito 
exercido por outras. Variáveis independentes são aquelas que exercem efei-
to sobre outras.
Fonte: Barbetta (2011).
Técnicas de Análise de Dados Quantitativos
R
ep
ro
d
u
çã
o
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o
 C
ó
d
ig
o
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
ir
o
 d
e 
19
98
.
137
Os testes “Tau” também são utilizados para veriicar a existência de associa-
ções entre variáveis discretas ordenadas e possuem escala igual à do teste Gamma, 
mas se diferenciam por conta de exigências no que tange à natureza dos cálcu-
los estatísticos envolvidos, quando são considerados todos os pares na análise 
tanto discordantes quanto concordantes. 
Tais testes se diferenciam entre si pela categorização das variáveis ordenadas 
testadas, sendo que para matrizes quadradas (tabelas de contingência decorrentes 
de cruzamentos entre variáveis com o mesmo número de categorias de respos-
tas, como 2x2 ou 3x3) é adequado o teste Tau b, enquanto para cruzamentos não 
quadrados (entre variáveis que possuem quantidades diferentes de categorias 
de respostas) deve utilizado o teste Tau c.
O ETA é uma medida de associação empregada quando temos uma variável 
nominal e outra escalar e também tem variação entre -1e 1, de modo que quando 
mais distante de 0, maior é a intensidade do relacionamento entre as variáveis. 
É um teste, contudo, assimétrico, pois revela a associação considerando as dife-
rentes variáveis que são dependentes. Sua principal limitação é o fato de não 
apresentar signiicância, mas apenas o valor do teste.
Para além de testes de associação, há, ainda, testes de correlação, cuja lógica 
de análise é a mesma, mas se aplicam a variáveis contínuas, numéricas ou esca-
lares — aquelas quantiicáveis. Dentre tais testes, destacam-se as correlações de 
Pearson e de Spearman. Ambas variam entre -1 e 1, com interpretação seme-
lhante àquela descrita para Gamma.
Os resultados de tais testes podem ser apresentados junto às tabelas de con-
tingência ou em separado. Caso apresentados em conjunto, devem constar abaixo 
da tabela. Podem ser expostos de maneira isolada, como na tabela a seguir, reti-
rada de artigo publicado por Gimenes e Ribeiro (2013), que testaram, a partir da 
base de dados utilizada nos exemplos desta unidade de estudos, diferentes rela-
ções entre variáveis, para as quais se valeram de diferentes testes.
O MÉTODO DE PESQUISA QUANTITATIVA
R
ep
ro
d
u
ção
 p
ro
ib
id
a. A
rt. 184 d
o
 C
ó
d
ig
o
 Pen
al e Lei 9.610 d
e 19 d
e fevereiro
 d
e 1998.
IIIU N I D A D E138
Tabela 7 - Associações e Correlações com Democratismo
TABELA 5 - ASSOCIAÇÕES E CORRELAÇÕES COM DEMOCRATISMO
VARIÁVEL TESTE SIG VALOR N
Tempo de participação na entidade Pearson 0,715 -.041 81
Participação em conselhos gestores Tau c 0,909 -0,012 82
Participação em outras entidades Tau c 0,031 -0,254 81
Vínculo empregatício Tau c 0,033 0,252 77
Interesse por política Tau c 0,926 0,008 82
Eicácia política subjetiva Pearson 0,02 0,258 81
Autoidentiicação ideológica Pearson 0 -0,42180
Satisfação com a situação inanceira Pearson 0,499 0,076 81
Participação política não convencional Pearson 0,009 0,287 82
Fonte: Gimenes e Ribeiro (2012, p. 142).
Com relação à tabela anterior, destaca-se, inicialmente, que o título indica a 
variável com a qual todas as demais foram testadas: o Democratismo, medida 
de análise do apoio manifestado pelos dirigentes de organizações da sociedade 
civil maringaense ao regime democrático. Na primeira coluna, são expostas as 
variáveis com as quais buscou-se identiicar a relação do democratismo. Isso sig-
niica, por exemplo, que o primeiro resultado buscou evidenciar a existência de 
relacionamento entre o tempo que um dirigente atuava na entidade da qual era 
gestor e o quanto apoiava a democracia.
É perceptível que algumas relações foram analisadas como possíveis associa-
ções por testes de Tau c e outras por correlações de Pearson (segunda coluna). 
Ainda em se tratando da disposição dos dados, a terceira coluna apresenta o nível 
de signiicância dos testes (sig ou p), que diz respeito à probabilidade de que o 
efeito veriicado não se reproduza entre a população analisada. Ainda que não 
haja valor exato, em Ciências Sociais e nos estudos de cultura política (que tra-
balham com dados de opinião pública e, portanto, opiniões até mesmo sujeitas 
à volatilidade ou idiossincrasias por parte dos indivíduos) utiliza-se, como parâ-
metro, o p=0,05, que corresponde a 5% de efeito não veriicável entre a população 
como aceitável. Em outras palavras, o sig representa o quanto o resultado de um 
teste pode não se repetir entre a população.
Técnicas de Análise de Dados Quantitativos
R
ep
ro
d
u
çã
o
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o
 C
ó
d
ig
o
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
ir
o
 d
e 
19
98
.
139
A quarta coluna apresenta o valor do resultado do teste (Tau c ou Pearson) e a 
quinta coluna apresenta o número de casos analisados. Destaque-se que, apesar da 
base de dados analisada ser composta por 82 respondentes, quando um indivíduo 
deixa de responder a uma das questões para as quais buscamos investigar a existên-
cia de relação, deixa também de ser considerado no teste. Isso signiica, por exemplo, 
que um caso foi descartado no teste de correlação de Pearson entre o tempo que um 
dirigente atuava na entidade da qual era gestor e o quanto apoiava a democracia.
Com relação ao valor do resultado, este só deve ser interpretado se for consi-
derado satisfatório o nível de signiicância encontrado. No primeiro cruzamento, 
o valor de 0,715 indica que erraríamos em 71,5% dos casos ao tentarmos relacio-
nar o tempo que um dirigente atuava na entidade da qual era gestor e o quanto 
apoiava a democracia. 
No último cruzamento apresentado, veriicamos que o sig de 0,009 indica 
probabilidade de erro de 0,9% ao estimar a relação entre adesão à democracia e 
a participação em atividades políticas não convencionais, as quais abrangeram 
abaixo-assinados, boicotes, manifestações, passeatas e greves.
Quando identiicamos a existência de relação, avançamos ao resultado do 
teste (coluna “valor”), o qual identiicamos (para os casos pertinentes, conforme 
apresentado anteriormente nesta seção) se há sinal de indicação de sentido da 
relação e seu valor, de fato. 
Com relação ao sinal, quando houver sinal negativo, a interpretação deve 
ser de que a manifestação de um atributo está relacionada à ausência de outro 
ou que conforme o indivíduo desenvolve uma característica, a outra se retrai. 
A ausência de sinal indica relacionamento positivo, o que signiica que ambas 
as variáveis testadas oscilam no mesmo sentido: os efeitos sofrem elevações ou 
reduções de maneira combinada.
No caso da relação entre democratismo e participação não convencional, a 
ausência de sinal indica relacionamento positivo, de modo que aqueles dirigentes 
que mais se envolviam em atividades contestatórias eram também os que mais 
apoiavam a democracia. O valor dos testes indica a medida desse apoio: 0,287 
na escala até +1 permite inferirmos que há relação fraca, ainda que importante 
entre as variáveis ( ou entre os atributos testados).
O MÉTODO DE PESQUISA QUANTITATIVA
R
ep
ro
d
u
ção
 p
ro
ib
id
a. A
rt. 184 d
o
 C
ó
d
ig
o
 Pen
al e Lei 9.610 d
e 19 d
e fevereiro
 d
e 1998.
IIIU N I D A D E140
ESTATÍSTICA MULTIVARIADA
As análises estatísticas multivariadas são aquelas realizadas com o intuito de iden-
tiicar a existência de efeitos entre conjuntos de três ou mais variáveis. Os testes 
multivariados mais comuns são as análises fatoriais e os modelos de regressão.
De acordo com Carreirão et al. (2018, p. 90), “a análise fatorial é a técnica 
estatística que possibilita a identiicação de padrões de correlação entre variáveis, 
de modo a permitir a criação do que chamamos de ‘fatores’ ou ‘dimensões’ [...]”. 
Para tanto, consiste em testes com a inalidade de veriicar como, dentre conjun-
tos de atributos, estes se relacionam de modo a constituir subgrupos, os fatores. 
Extraída do capítulo que sistematizou dados de pesquisa, a tabela a seguir 
apresenta o resultado de uma análise fatorial acerca das modalidades de partici-
pação que os brasileiros exerciam até o momento daquela coleta de dados (2012), 
de modo que podemos visualizar quatro distintos fatores ou grupos de formas 
de ação política, com destaques em cinza. 
Tabela 8 - análise fatorial das modalidades de participação política entre os brasileiros
VARIÁVEIS FATOR 1 FATOR 2 FATOR 3 FATOR 4
Participou de reuniões de associações 
de pais e mestres
,631 -,068 ,223 -,034
Participou de reuniões de associação 
de bairro
,563 ,038 ,038 ,161
Participou de reuniões de associações 
Proissional
,598 ,075 -,129 -,030
Não há consenso sobre a deinição de intensidade de relacionamento para 
associações ou correlações, mas usualmente em Ciências Sociais e em Ci-
ências Sociais Aplicadas — onde localiza-se a Gestão Pública — é possível 
considerar valores entre 0 e 0,299 (negativos ou positivos) como indícios de 
relação fraca, entre 0,300 e 0,599 como moderada e acima de 0,600 como 
associação ou correlação forte.
Fonte: o autor.
Técnicas de Análise de Dados Quantitativos
R
ep
ro
d
u
çã
o
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o
 C
ó
d
ig
o
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
ir
o
 d
e 
19
98
.
141
Pediu ajuda a algum deputado ou 
senador
-,036 -,651 -,020 -,021
Pediu ajuda a alguma autoridade 
local, como prefeito ou governador
-,070 -,799 ,004 ,112
Pediu ajuda ao ministério/secretária 
ou instituição pública (federal)
,048 -,632 -,072 -,204
Pediu ajuda a vereador -,010 -,761 ,011 ,111
Participou de manifestação -,066 ,015 -,658 ,115
Assinou petição ,001 -,022 -,591 ,081
Compartilhou conteúdo político na 
internet
,066 -,020 -,634 -,058
Trabalhou na campanha de candidato 
ou partido
,108 -,135 -,035 ,572
Tentou convencer alguém a votar em 
um candidato ou partido
,014 ,028 -,171 659
Votou nas últimas eleições -,070 ,061 ,199 ,558
Assistiu audiência pública na Câmara 
dos Vereadores
,162 -,228 -,292 ,138
Contribuiu para a sociedade ,468 -,059 -,168 ,129
Participou de reuniões de associação 
religiosa
,361 -,139 ,146 -,062
Participou de reuniões de movimento 
ou partido político
,335 -,147 -,166 ,311
Participou de reuniões de associação 
esportiva
,483 ,151 -,185 -,068
Participação de boicote -,009 -,047 -,474 -,154
Fonte: Carreirão et al. (2018, p. 91). 
Sobre as cargas fatoriais, cabe destacar que não há consenso entre os autores 
sobre qual o valor mínimo a ser considerado, sendo que Figueiredo Filho e Silvia 
(2010) e Borba, Gimenes e Ribeiro (2015) consideram 0,4 uma medida relevante, 
ao passo que modelo utilizado como exemplo, Carreirão et al. (2018, p. 91) con-
sideraram 0,5 como valor mínimo.
Em se tratando da interpretação dos resultados, a intensidade das cargas fato-
riais indica como os atributos se encontram relacionados, de modo que, segundoO MÉTODO DE PESQUISA QUANTITATIVA
R
ep
ro
d
u
ção
 p
ro
ib
id
a. A
rt. 184 d
o
 C
ó
d
ig
o
 Pen
al e Lei 9.610 d
e 19 d
e fevereiro
 d
e 1998.
IIIU N I D A D E142
o exemplo da pesquisa destacada, poderíamos inferir que dentre a população 
brasileira (tendo em vista se tratar de uma amostra representativa), os indiví-
duos que participam de reuniões de pais e mestres tendem também a participar 
de reuniões de associações de bairro e de associações proissionais, conforme 
evidenciado pelo “Fator 1”.
Ainda sobre os resultados, é importante destacar que não há obrigatoriedade 
de que todos os atributos incluídos no teste sejam agregados a outros, de modo 
que a tabela evidenciada anteriormente destaca seis modalidades de participa-
ção política cuja atuação dos brasileiros não permite alinhamento com nenhum 
dos fatores identiicados.
Em decorrência da análise fatorial, uma possibilidade é de reduzir um con-
junto de medidas a um único indicador. Tal ação deve ser acompanhada por 
testes estatísticos especíicos, como o Alpha de Cronbach, que identiica se dife-
rentes variáveis podem ser analisadas de maneira conjunta. O Alpha varia de 0 
a 1 e medidas a partir de 0,5 são consideradas satisfatórias, ou seja, permitem a 
criação de um índice estatisticamente relevante.
Com o resultado de testes para agregação das variáveis, conforme a análise 
fatorial ou o Alpha, conjuntos de variáveis podem ser reduzidas a uma mesma 
medida, que seria um índice, o qual corresponde a uma combinação de variáveis 
agregadas no intuito de, em conjunto, possibilitarem uma melhor explicação ou 
indicar de maneira mais completa e complexa um fenômeno.
Para além das possibilidades de agregação de atributos, há, ainda, testes esta-
tísticos multivariados que permitem a identiicação de características que são 
capazes de explicar determinados fenômenos. Para tanto, são utilizados mode-
los de regressão, os quais possibilitam o estabelecimento de análises por meio 
das quais busca-se estimar os determinantes ou preditores (variáveis indepen-
dentes) de outro aspecto, percepção, evento etc. (variável dependente).
Assim, um modelo de regressão sempre deve ser interpretado como um 
conjunto de variáveis cujo efeito se manifesta sobre um fenômeno tendo em con-
sideração todos os demais aspectos constantes no modelo, ou seja, uma regressão 
estima o quanto um atributo, controlado ou balanceado por todos os demais atri-
butos incluídos como variáveis independentes, inluencia a ocorrência de dado 
evento (variável dependente).
Técnicas de Análise de Dados Quantitativos
R
ep
ro
d
u
çã
o
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o
 C
ó
d
ig
o
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
ir
o
 d
e 
19
98
.
143
São muitas as situações em que, no âmbito público, é preciso identiicar, den-
tro do possível, mas com a maior exatidão atingível, os fatores que causam ou 
explicam determinado aspecto, por exemplo:
 ■ A necessidade de identiicar os sintomas mais relatados pelos pacientes 
da rede pública de saúde frente ao diagnóstico de determinada doença, a 
im de otimizar a deinição da medicação a ser empregada no tratamento.
 ■ As motivações da população para utilizar, ou não, os equipamentos públi-
cos disponíveis nas diversas áreas do município, visando destinar verbas 
para reformas, ampliações ou construções de novos espaços.
 ■ As características dos alunos com relação a sua vida familiar, saúde e 
aspectos psicológicos, tendo em vista entender como tais atributos podem 
inluenciar seu desempenho no ambiente escolar.
As regressões têm seus modelos alterados conforme a variável dependente e a 
maneira como o gestor espera discutir os resultados, sendo que, de maneira geral, 
os modelos mais usuais são: a regressão logística binária, multinomial e linear.
A regressão logística binária é utilizada quando o atributo que procuramos 
explicar possui apenas duas categorias de respostas, por exemplo, quando o pro-
blema de pesquisa a ser solucionado pelo gestor público é identiicar os fatores 
que favorecem ou constrangem os homens a procurar os equipamentos de saúde 
para prevenção e tratamentos de doenças, foco de campanhas de conscientização, 
como a “Novembro azul”, em decorrência dos índices de mortalidade e adoeci-
mento entre os homens no Brasil. 
Nesse caso, a variável dependente (a ser explicada) seria se o entrevistado 
(caso) se submete a avaliações e/ou a consultas médicas (sim ou não). Fatores, 
como escolaridade, renda, se mora sozinho ou com família, se é casado, se tem 
ilhos, se trabalha e sua idade podem explicar a maneira como os homens se 
relacionam com sua saúde.
A regressão multinomial é adequada quando o atributo a ser analisado possui 
natureza discreta multicategórica, ou seja, quando o gestor público trata de uma 
questão mensurada por meio de três ou mais possibilidades de respostas pelos 
entrevistados (categorias). Um exemplo seria a necessidade de identiicação da qua-
lidade do funcionamento dos conselhos de determinada área de política pública. 
O MÉTODO DE PESQUISA QUANTITATIVA
R
ep
ro
d
u
ção
 p
ro
ib
id
a. A
rt. 184 d
o
 C
ó
d
ig
o
 Pen
al e Lei 9.610 d
e 19 d
e fevereiro
 d
e 1998.
IIIU N I D A D E144
Digamos que os gestores necessitam identiicar quais fatores são determi-
nantes para que os conselhos de todo o Brasil funcionem de maneira satisfatória, 
regular ou insatisfatória. Por meio de uma regressão multinomial seria possível 
inferir se e em que medida aspectos como o tempo de existência do conselho, 
o tipo de legislação por meio do qual foi instituído, seu caráter deliberativo ou 
consultivo, a paridade entre representantes do governo e da sociedade civil, a 
periodicidade das reuniões e a transparência na divulgação de informações sobre 
seu funcionamento, por exemplo, podem inluenciar para que seja constatada a 
qualidade satisfatória, regular ou insatisfatória em seu funcionamento.
Por im, a regressão linear é aplicada quando nossa variável a ser explicada 
é contínua ou escalar. Em tais situações, portanto, os efeitos que podemos veri-
icar se manifestam cumulativos em relação ao avanço da escala, por exemplo, 
ao buscarmos mensurar que aspectos individuais são explicativos ao nível de 
satisfação dos indivíduos com a gestão do governo estadual.
Nesse caso, a avaliação do governo estadual pelos cidadãos poderia ser men-
surada por uma escala de 10 pontos (variável dependente), como testada em 
Gimenes (2011). Como possíveis fatores explicativos, os gestores públicos pode-
riam testar o sexo dos indivíduos — já que homens e mulheres se relacionam 
em distintas dimensões com os espaços, serviços e equipamentos públicos — e 
sua quantidade de ilhos — imaginando que quanto mais ilhos, maior a proba-
bilidade de que tenham contato ou façam uso de ao menos um serviço público.
Para exempliicar a maneira como os resultados de modelos de regressão 
podem ser expostos e sua interpretação, ainda que haja distinções entre os três 
tipos descritos anteriormente, segue um resultado referente ao último exemplo 
mencionado, desenvolvido a partir da base de dados que deu origem à disserta-
ção destacada ao longo desta unidade de estudos (GIMENES, 2011).
Técnicas de Análise de Dados Quantitativos
R
ep
ro
d
u
çã
o
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o
 C
ó
d
ig
o
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
ir
o
 d
e 
19
98
.
145
Tabela 9 - Determinantes da satisfação com o governo estadual
PREDITOR BETA SIG
Sexo ,109 ,320
Número de ilhos -,247 ,026
R2 ajustado ,045 100
Fonte: adaptada de Gimenes (2011).
A tabela anterior expõe os resultados, sendo que em cada linha apresenta-se o 
efeito de uma variável independente, controlada pelo “peso” do efeito da outra, 
sobre a variável dependente. Caso houvesse mais variáveis independentes, cada 
uma teria seu efeito balanceado, em alguma medida, por todos os demais.
Neste caso em especíico, veriicamosinicialmente que a variável sexo não 
inluencia a avaliação dos indivíduos sobre o governo estadual, pois o nível de 
signiicância está acima daquele aceitável (0,05), de modo que podemos inferir 
que, independentemente de homens e mulheres tomarem contatos distintos com 
equipamentos, serviços e espaços públicos, não faz diferença o sexo dos cida-
dãos (neste caso, dirigentes de entidades sociais maringaenses) para a maneira 
como avaliam o governo do estado, sendo tal efeito controlado pelo número de 
ilhos desses respondentes.
Por outro lado, o sig indica que a quantidade de ilhos tem algum efeito sobre 
a avaliação, sendo tal efeito fraco ou baixo (0,247) e com sentido negativo, o que 
quer dizer que quanto maior o número de ilhos, pior a medida em que os res-
pondentes avaliaram o governo estadual, controlado pelo sexo dos indivíduos.
No caso desse modelo, os gestores públicos poderiam inferir que dentre 
sexo e número e ilhos, o que realmente importa para deinir a maneira como 
os cidadãos avaliam o governo é a quantidade de ilhos, e não se o respondente 
é homem ou mulher.
Um ponto importante a ser analisado também é a capacidade explicativa do 
modelo, nesse caso em especíico, mensurada por meio da medida de adequação 
denominada R2 ajustado, que indicaria o quanto o conjunto de atributos testa-
dos explicaria o fenômeno mensurado. 
No modelo apresentado anteriormente, o valor de 0,045 é sinal de que as 
variáveis independentes sexo e quantidade de ilhos explicam somente 4,5% (em 
analogia à extensão da medida de 0 a 1) dos fatores que impactam a maneira 
como os cidadãos estabelecem suas avaliações do governo estadual. 
O MÉTODO DE PESQUISA QUANTITATIVA
R
ep
ro
d
u
ção
 p
ro
ib
id
a. A
rt. 184 d
o
 C
ó
d
ig
o
 Pen
al e Lei 9.610 d
e 19 d
e fevereiro
 d
e 1998.
IIIU N I D A D E146
Tal resultado indicaria aos gestores públicos a necessidade de incluir novos 
atributos ao modelo, uma vez que faltaria identiicar 95,5% dos determinantes da 
avaliação, o que demandaria novos modelos com a inclusão de variáveis indepen-
dentes como frequência de acesso a informações e interesse por política, com as 
hipóteses de que aqueles que são mais informados e que mais se interessam por 
política poderiam ser mais críticos em suas avaliações do governo, por exemplo.
ESTATÍSTICA HIERÁRQUICA
A análise hierárquica consiste na realização de modelos de regressão cuja inali-
dade é analisar dados referentes a dois ou mais espectros populacionais distintos, 
os quais podem incluir indivíduos, bairros, municípios, unidades da federação ou 
mesmo países, por exemplo. Esses espectros distintos são denominados níveis, 
de modo que os modelos de regressão hierárquicos também são denominados 
modelos de regressão multiníveis (CARVALHO; MINGOTI, 2005).
Considerando que sua utilização envolve a combinação entre atributos de 
naturezas populacionais diferentes, o primeiro passo para a realização de tais 
modelos é identiicar sua pertinência, ou seja, se e em que medida um determi-
nado fenômeno (variável dependente) é inluenciado por atributos (variáveis 
independentes) de mais de uma ordem (nível).
Para tanto, deve-se estimar um modelo incondicional, sem preditores de 
nenhum nível, a im de identiicar a variância daquilo que se pretende explicar 
(RAUDENBUSH; BRYK, 2002). O resultado desse teste, denominado modelo 
nulo por não incluir variáveis explicativas, é subsídio para o estabelecimento do 
coeiciente de correlação intraclasse, indicador que permite constatarmos, em 
termos percentuais, o quanto um fenômeno é inluenciado por aspectos que 
decorrem de um nível analítico distinto daquele em que ocorre. É o percentual 
encontrado nesta análise que determina se é, ou não, pertinente a realização de 
modelagem hierárquica para a investigação de determinada questão.
Ribeiro, Borba e Silva (2015) e Gimenes (2017), por exemplo, realizaram 
testes com modelagem hierárquica para identiicar o quanto o comparecimento 
Técnicas de Análise de Dados Quantitativos
R
ep
ro
d
u
çã
o
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o
 C
ó
d
ig
o
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
ir
o
 d
e 
19
98
.
147
eleitoral e o estabelecimento de laços partidários pelos cidadãos, respectivamente, 
seriam inluenciados por características individuais e nacionais dentre os elei-
tores latino-americanos.
Para tanto, o primeiro nível considerado foi o nível relacionado à variável 
dependente (comparecimento eleitoral ou simpatia partidária), portanto, os dados 
de opinião pública que tinham os indivíduos como unidade de análise. O segundo 
nível foi composto pelos países da América Latina, referentes aos quais autores 
selecionaram variáveis que poderiam explicar aquilo que buscavam responder.
Em se tratando da gestão pública, é possível realizar análises hierárquicas, 
por exemplo, considerando dados de opinião pública coletados para todo o 
Brasil (um nível) e estatísticas oiciais referentes a aspectos sociodemográicos, 
de desenvolvimento econômico e social (outro nível), a im de veriicar a rela-
ção entre a satisfação com o serviço público, as condições de vida dos cidadãos 
e os investimentos realizados pelo Estado.
Com relação à análise dos modelos hierárquicos, estes seguem a mesma lógica 
dos modelos de regressão anteriormente expostos, sendo necessário considerar, 
contudo, que os efeitos veriicados não são apenas relacionados às variáveis de 
mesmo nível, mas incluem também aqueles do nível distinto.
GEOPROCESSAMENTO DE DADOS
O geoprocessamento diz respeito às técnicas que permitem a análise de dados 
de diferentes naturezas, tendo como um ponto especíico ao processamento dos 
resultados a perspectiva de construção de resultados visualizáveis por meio da 
coniguração do espaço físico.
Tendo em vista a evolução da informática, com o conseqüente aumento 
da capacidade de processamento e soisticação dos sistemas e progra-
mas, a tecnologia de Geoprocessamento cada vez mais amplia o seu 
espaço de utilização, particularmente nas prefeituras, onde sua aplica-
ção pode atingir as áreas mais diversas, como ordenamento e gestão do 
território, otimização de arrecadação, localização de equipamentos e 
serviços públicos, identiicação de público-alvo de políticas públicas, 
gestão ambiental, gerenciamento do sistema de transportes e gestão da 
frota municipal (SILVA, 2005, p. 1). 
O MÉTODO DE PESQUISA QUANTITATIVA
R
ep
ro
d
u
ção
 p
ro
ib
id
a. A
rt. 184 d
o
 C
ó
d
ig
o
 Pen
al e Lei 9.610 d
e 19 d
e fevereiro
 d
e 1998.
IIIU N I D A D E148
Dentre os estudos produzidos por órgãos oiciais, como o IBGE e o IPEA, são 
recorrentes as análises espaciais e a investigação de questões e problemas rela-
cionados à gestão pública e às políticas públicas por meio ou com o auxílio do 
georreferenciamento.
Um exemplo de pesquisa de tal natureza é a investigação de Orair et al (2013), 
que se utilizaram do georreferenciamento para expor, em sua análise, a distri-
buição dos municípios brasileiros com relação ao volume de recursos públicos 
disponíveis em termos de receita per capita no ano de 2010, conforme exposto 
na igura a seguir.
Figura 10 - Receita disponível per capita dos municípios brasileiros (2010)
Fonte: Orair et al. (2013, p. 254).
Tal análise contribuiu à investigação dos autores acerca da avaliação dos impac-
tos da redistribuição promovida pelo sistema de transferências da União aos 
municípios brasileiros.
Técnicas de Análise de Dados Quantitativos
R
ep
ro
d
u
çã
o
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o
 C
ó
d
ig
o
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
ir
o
 d
e 
19
98
.
149
SOFTWARES PARA ANÁLISES ESTATÍSTICAS
Considerando que aos gestores públicos não é exigido o domínio da complexi-
dade da estatística, há muitos sotwares que permitem a realização das análises, 
anteriormente descritas nesta seção, sem que aquele que manuseia o programa 
tenha domínio sobrecálculos e fórmulas. O que se espera, e é imprescindível, é 
que o gestor público ou outro usuário do sotware tenha noções básicas sobre a 
natureza das variáveis e dos testes, de modo a evitar, por exemplo, a inclusão de 
variáveis discretas em testes de correlação, que, conforme descritos anteriormente, 
são utilizados para variáveis mensuradas de maneira numérica ou contínua.
Em se tratando de análises descritivas, bivariadas e multivariadas, são mui-
tas as opções, de modo que há, no mercado, dezenas de sotwares, desde aqueles 
com poucos recursos até outros mais completos, bem como programas gratui-
tos e outros pagos.
Dentre tais sotwares, o mais “amigável”, por ter uma interface semelhante a 
de planilhas é o Statistical Package for the Social Sciences (SPSS), que tem mais de 
20 versões com atualizações, inclusive algumas já em português, mas é um pro-
grama cuja licença tem que ser adquirida, com renovação anual ou valor pago 
para acesso vitalício. O SPSS é utilizado apenas em ambiente Windows, assim 
como Stata e SAS, por exemplo.
O PSPP é uma versão gratuita para o sistema operacional Linux, cuja sigla é 
uma inversão e em menção ao SPSS, uma vez que o PSPP tem interface e recur-
sos semelhantes.
Um sotware livre que permite a utilização tanto em ambiente Windows 
como Linux é o R, cujo funcionamento se dá majoritariamente por linhas de 
comando, o que seria um complicador por um lado, mas também é um sotware 
O geoprocessamento de dados pode ser utilizado para ins de reforma agrá-
ria, como na tentativa de otimização das análises acerca de regularização 
fundiária. O que você pensa sobre isso?
Técnicas de Análise de Dados Quantitativos
R
ep
ro
d
u
çã
o
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o
 C
ó
d
ig
o
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
ir
o
 d
e 
19
98
.
151
na página do Ministério do Meio Ambiente (BRASIL, [2018]), em são elencados 
mais de uma dezena de sotwares, bem como expostas informações sobre sua des-
crição, pontos positivos e restrições e ainda o link para download do conteúdo.
É importante destacar que a exposição dos sotwares, nesta seção, não tem a 
preocupação e nem o objetivo de propagar sua utilização ou de determinar que 
os demais programas não sejam adequados ou úteis. Ao contrário, esta expo-
sição teve o intuito de oferecer algumas ferramentas à realização de análises de 
dados quantitativos, tendo clareza de que, a depender do conhecimento e das 
necessidades de cada gestor público e também das competências de habilidades 
tanto suas quanto de sua equipe, um ou outro sotware pode se revelar como 
mais indicado para cada problema ou questão de pesquisa.
O MÉTODO DE PESQUISA QUANTITATIVA
R
ep
ro
d
u
ção
 p
ro
ib
id
a. A
rt. 184 d
o
 C
ó
d
ig
o
 Pen
al e Lei 9.610 d
e 19 d
e fevereiro
 d
e 1998.
IIIU N I D A D E152
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A utilização de dados passíveis de sistematização para a realização de análises 
agregadas foi o foco de discussão desta unidade de estudos. Tendo em vista a 
preocupação do método quantitativo com a possibilidade de generalização e a 
perspectiva de comparação entre dados, nosso caminho iniciou com a explana-
ção sobre os conceitos centrais deste método de pesquisa.
Assim, a primeira seção desta unidade destinou-se à conceituação do que 
são unidades de análises (os casos) e variáveis, distribuídas entre aquelas discre-
tas — com suas subdivisões em dicotômicas ou multicategóricas e em ordenadas 
ou não ordenadas — e as contínuas ou escalares.
Tais conceitos foram relevantes à discussão sobre o instrumento, por excelên-
cia, para a coleta de dados quantitativos: o questionário. Sobre tal instrumento, 
aprendemos com relação às distinções dentre aqueles autoaplicáveis e os aplica-
dos, bem como foram apresentados pontos positivos e negativos sobre ambos e 
também acerca da aplicação de questionários on-line.
Ademais, abordamos as etapas concernentes à sua elaboração, desde aspec-
tos preliminares e relacionados à deinição do problema ou questão de pesquisa 
até o planejamento e construção das questões (consideradas as possibilidades de 
estruturá-las como abertas, objetivas de resposta única ou múltiplas e intervala-
res — com escalas numéricas ou de Likert) e, por im, a realização de pré-testes 
e a necessidade de cartões de respostas.
A terceira e última seção desta unidade de estudos abordou técnicas para 
análises de dados quantitativos, bem como tratou de sotwares estatísticos que 
podem subsidiar tais investigações.
Isto posto, tomamos conhecimento, então, sobre os métodos qualitativos 
e quantitativos, de modo que podemos avançar em nosso caminho, rumo a 
conhecermos maneiras de combinar tais perspectivas com a inalidade de obter 
melhores resultados para as pesquisas em gestão pública.
153 
1. Em se tratando de métodos de pesquisa, a terceira unidade de estudos do livro 
abordou a pesquisa quantitativa, as quais têm como principal característica:
a) A construção de questionários.
b) A quantiicação de fenômenos.
c) A utilização da estatística.
d) A preocupação com a sociedade.
e) O foco na gestão pública.
2. A realização de uma pesquisa quantitativa implica na atenção a diversos as-
pectos, dentre os quais, a coleta de dados, que necessita do conhecimento do 
gestor público acerca da unidade de análise para a qual formulará questões. O 
que é uma unidade de análise?
a) Uma questão.
b) Um objetivo.
c) Um caso.
d) Uma variável.
e) Um teste.
3. De acordo com o conteúdo apresentado nesta unidade de estudos, são múl-
tiplas as possibilidades relacionadas à realização de uma pesquisa, sendo que 
tal diversidade também se aplica à etapa de coleta de dados. Nesse sentido, 
analise os aspectos a seguir:
I) Questionários autoaplicáveis.
II) Questionários online.
III) Questionários aplicados.
IV) Questionários não estruturados.
Diante do exposto, são considerados instrumentos para coleta de dados quan-
titativos:
a) Somente as airmativas I e II.
b) Somente as airmativas II, III e IV.
c) Somente as airmativas I, III e IV.
d) Somente as airmativas II e III.
e) Somente as airmativas I, II e III.
154 
4. Tendo em vista a abordagem acerca das distinções entre variáveis, analise os 
atributos individuais apresentados a seguir e assinale a alternativa que corres-
ponde a uma variável discreta ordenada multicategórica:
a) Sexo.
b) Idade (em anos).
c) Nível de escolaridade.
d) Raça ou etnia.
e) Religião.
5. Ao longo da terceira seção desta unidade de estudos, abordamos diferentes 
técnicas de análises de dados quantitativos, cuja utilização deve decorrer de 
clareza, por parte do pesquisador ou gestor público, a respeito de sua adequa-
ção ao objeto e ao problema de pesquisa. A técnica caracterizada por análises 
que considera o espaço físico como variável independente é:
a) Análise descritiva.
b) Análise bivariada.
c) Análise multivariada.
d) Análise hierárquica.
e) Geoprocessamento.
155 
COMO PESQUISA ELEITORAL COM 2 MIL PESSOAS INDICA O VOTO DE 146 MILHÕES
[...] Os levantamentos dos institutos de pesquisas [...] são usados também para conhecer 
tendências de opinião das pessoas sobre determinados temas e para planejar estraté-
gias de marketing das empresas. [...]
Mesmo assim, é possível que você nunca tenha respondido a uma pesquisa eleitoral 
e talvez não conheça ninguém que tivesse participado desses levantamentos. Então, 
como coniar que os resultados são verdadeiros?
No im das contas, pesquisas eleitorais tentam “prever” o que vai acontecer quando che-
gar o dia da votação. E a evidência existente até agora é de que, na maioria das vezes, os 
levantamentos são bem sucedidos nesta tarefa, principalmente quando são realizados 
mais perto da data do escrutínio.
Em fevereiro do ano passado [2017], por exemplo, cientistas políticos da Universidade 
de Houston (EUA) veriicaram que pesquisas feitas duas semanas antes da votação con-
seguiram acertar o resultado de 10 entre 11 eleiçõesem países latino-americanos, entre 
2013 e 2014 (uma eicácia de 90,9%).
Um resultado similar aparece em um levantamento do site de notícias jurídicas Jota, que 
considerou 3.924 pesquisas eleitorais brasileiras nas eleições nacionais de 1998 a 2014.
Por im, é possível que durante a campanha surjam textos nas redes sociais mencionan-
do “pesquisas” que não existem, para favorecer este ou aquele candidato. Para saber 
se uma pesquisa foi realmente feita ou não, basta consultar o TSE. Todas as pesquisas 
coniáveis feitas no país estão registradas neste banco de dados da Justiça Eleitoral.[...]
Como é feita uma pesquisa?
Primeiro, os pesquisadores deinem uma amostra que seja representativa do grupo a 
ser pesquisado, usando dados públicos. O objetivo é escolher um número limitado de 
pessoas, cujas características sejam parecidas com a do grupo maior que se queira pes-
quisar (que os estatísticos chamam de universo).
Para que a pesquisa esteja correta, a amostra precisa corresponder ao universo dentro 
de alguns critérios (escolaridade, idade, gênero, etc). Esses critérios são chamados de 
variáveis. Por exemplo: os últimos dados do TSE mostram que 52,4% dos 146,4 milhões 
de eleitores brasileiros são mulheres. Portanto, uma amostra de 2.000 eleitores deverá 
ter 52,4% de mulheres (1.048 eleitoras).
“A amostra deve ser uma reprodução do universo a ser representado, com as mesmas 
proporções de segmentos sócio-econômicos”, diz o diretor do Datafolha, Mauro Paulino. 
E como escolher exatamente os locais do país em que serão aplicados os questionários? 
“São sorteadas cidades de pequeno, médio e grande porte nas mesorregiões (recortes 
dentro de cada Estado) deinidas pelo IBGE”, explica Paulino. É que a proporção de mo-
radores de capitais ou de cidades do interior também é considerada na formação da 
amostra.
https://www.jota.info/eleicoes-2018/institutos-de-pesquisas-erros-ou-acertos-30012018
http://www.tse.jus.br/eleitor-e-eleicoes/eleicoes/eleicoes-suplementares/consulta-as-pesquisas-registradas
http://www.tse.jus.br/eleitor-e-eleicoes/estatisticas/estatisticas-de-eleitorado/estatistica-do-eleitorado-por-sexo-e-faixa-etaria
156 
As variáveis levadas em conta mudam de instituto para instituto e de acordo com o 
objetivo do levantamento. “Quanto mais as variáveis escolhidas estiverem relacionadas 
com o objeto do levantamento, melhor será a amostra”, diz a diretora do Ibope Márcia 
Cavallari. No caso do Ibope, as variáveis consideradas geralmente são as de gênero, faixa 
etária, escolaridade e ramo no qual a pessoa trabalha (ou se é desempregada).
Depois de calculada a amostra, é preciso fazer as entrevistas com as pessoas que preen-
cham aqueles critérios.
Cada instituto de pesquisa tem a própria forma de fazer isto: o Ibope determina a área 
em que o entrevistador fará a pesquisa usando os chamados “setores censitários” deini-
dos pelo IBGE (isto é, a mesma divisão do território usada no Censo brasileiro). A vanta-
gem disto, diz Cavallari, é poder saber exatamente onde cada entrevista ocorrerá - o pes-
quisador é enviado a uma área contínua, situada em um único quadro urbano ou rural.
“A partir daí, o entrevistador vai percorrer esse território (o do setor censitário) até pre-
encher todas as entrevistas que estavam designadas para ele”, diz Cavallari.
Já o Datafolha usa outra metodologia, baseada nos chamados “pontos de luxo”: os pes-
quisadores são mandados a locais ixos, e entrevistam os passantes.
Segundo Mauro Paulino, o Instituto têm mapeados mais de 60 mil pontos deste tipo, 
que são atualizados constantemente. “Todos os questionários são aplicados com o uso 
de tablets, que permitem a geolocalização on-line do entrevistador, gravação das entre-
vistas e checagem instantânea das respostas, que são enviadas para a central de dados 
no mesmo instante em que são colhidas”, escreveu ele à BBC Brasil.
Por último, os dados são reunidos e tratados estatisticamente pelos institutos.
Você nunca foi entrevistado?
No caso de uma pesquisa de intenção de voto, por exemplo, o universo a ser estudado 
corresponde ao número de eleitores do Brasil - 146,4 milhões de pessoas, segundo o 
último número do TSE (março de 2018).
Como as pesquisas eleitorais geralmente ouvem cerca de 2 mil pessoas, a chance de 
você estar entre os “escolhidos” é realmente pequena - o que não torna o levantamento 
menos válido.
“As pesquisas de opinião são realizadas por meio de técnicas de amostragem reconhe-
cidas internacionalmente, de modo que a abordagem de apenas uma pequena parcela 
da população já é suiciente para retratar o todo”, escreve Cersosimo, do Ipsos, em e-mail 
à BBC. [...]
E por que os institutos não conseguem eliminar a “margem de erro” que existe nas pes-
quisas? Basicamente, porque seria preciso entrevistar todos os 146 milhões de eleitores, 
diz Márcia Cavallari, do Ibope. “Quanto mais entrevistas você faz, mais cai a margem de 
erro”, diz Cavallari.
157 
“Mas, a partir de um certo ponto, você pode aumentar o quanto quiser a sua amostra (o 
número de entrevistas) que a margem de erro varia pouco”, conta a CEO do Ibope. No 
Brasil, as pesquisas eleitorais costumam variar entre 2% e 4% de margem, para mais ou 
para menos.
Fonte: Shalders ( 2018).
REFERÊNCIAS
159
AQUINO, J. A. R para cientistas sociais. Ilhéus: Universidade Estadual de Santa Cruz, 
2014.
BABBIE, E. Métodos de pesquisa de survey. Belo Horizonte: Universidade Federal 
de Minas Gerais, 1999.
BARBETTA, P. A. Estatística aplicada às Ciências Sociais. 7. ed. Florianópolis: Uni-
versidade Federal de Santa Catarina, 2011. 
BOHRNSTEDT, G. W., KNOKE, D. Statistics for social data analysis. 2. ed. Itasca: Pe-
acock, 1988.
BORBA, J.; GIMENES, E. R.; RIBEIRO, E. A. Participação e repertórios políticos: uma 
análise dos engajamentos múltiplos dos brasileiros na política. In: SCHERER-WAR-
REN, I.; LÜCHMANN, L. H. H. Movimentos sociais e engajamento político: trajetó-
rias e tendências analíticas. Florianópolis: Universidade Federal de Santa Catarina, 
2015. p. 101-132.
BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Software livre para geoprocessamento. 
Brasília, 2005. Disponível em: <http://www.mma.gov.br/informma/item/893-sof-
tware-livre-para-geoprocessamento>. Acesso em: 05 out. 2018.
CARREIRÃO, Y. S.; TRINDADE, T. T. C.; RIBEIRO, E. A.; GIMENES, E. R.; BORBA, J. Simpa-
tia partidária e repertórios de participação política no Brasil. In: MARTELLI, C. G. G.; 
JARDIM, M. C.; GIMENES, E. R. Participação política e democracia no Brasil con-
temporâneo. Araraquara: Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, 
2018. p. 73-109.
CARVALHO, G. S.; MINGOTI, S. A. Manual do usuário: programas para a realização da 
análise hierárquica. Departamento de Estatística. Belo Horizonte: Universidade Fe-
deral de Minas Gerais, 2005. Disponível em: <http://www.est.ufmg.br/estatistica_in-
dustrial/manual%20do%20usu%E1rio_an%E1lise_hier%E1rquica.pdf>. Acesso em: 
08 out. 2018.
CONCEIÇÃO, E. S. F.; SOUZA, A. Geoprocessamento aplicado à área de regularização 
fundiária: um estudo de caso baseado em modelagem e banco de dados geográi-
cos. Agenda Política, Santa Catarina, v. 6, n. 1, 2018. p. 33-57.
FIGUEIREDO FILHO, D. B.; SILVA JUNIOR, J. A. Visão além do alcance: uma introdução 
à análise fatorial. Opinião Pública, Campinas, v. 16, n. 1, jun. 2010. p. 160-185.
GIMENES, E. R. Cultura política e democracia: apoio difuso e especíico entre um 
segmento da elite não estatal do município de Maringá (PR). 2011. 178 f. Dissertação 
(Mestrado) - Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais, Universidade Estadu-
al de Maringá, Maringá, 2011.
______. Eleitores e partidos políticos na América Latina. Curitiba: Appris, 2017.
REFERÊNCIAS
______. Direitos sociais e proissionalização. 2018. Disponível em: <https://docs.
google.com/forms/d/1tRbZW5QRcFCNC9EqH7eZJ7vjw15tMTDblBf8RbsDvd4/
edit>. Acesso em: 09 dez. 2018.
______ ; RIBEIRO, E. A. Democratismo entre atores políticos não estatais. Debates, 
Porto Alegre, v. 7, n. 3, set./dez. 2013. p. 127-148.______ ; SOUZA, M.; SANTIAGO, A. B. S. Gestão social e empreendedorismo social 
no campo das organizações da sociedade civil: desaios à conformação do cam-
po de pesquisa e das práticas proissionais. In: MEIRELLES, D. C.; PICANÇO, F. C. A.; 
PERIOTTO, T. R. C. Empreendedorismo, Inovação & Startup. Maringá: Unicesumar, 
2018 (no prelo).
HOSS, M.; CATEN, S. T. C. Processo de validação interna de um questionário em uma 
survey research sobre ISO 9001:2000. Produto & Produção, Rio Grande do Sul, v. 11, 
n. 2, jun. 2010. p. 104-119.
JANNUZZI, P. M. Indicadores sociais na formulação e avaliação de políticas públicas. 
Aula. 9 p. Universidade de Minas Gerais. Núcleo de Educação em Saúde Coletiva. 
Belo Horizonte: 2012. Disponível: <https://www.nescon.medicina.ufmg.br/bibliote-
ca/imagem/2012.pdf>. Acesso em: 08 out. 2018.
KELLSTEDT, P. M.; WHITTEN, G. D. Fundamentos da pesquisa em Ciência Política. 
2. ed. São Paulo: Blucher, 2015.
LANDEIRO, V. L. Introdução ao uso do programa R. Manaus: Instituto Nacional de 
Pesquisas da Amazônia - INPA, 2011. Disponível em: <https://cran.rproject.org/doc/
contrib/Landeiro-Introducao.pdf>. Acesso em: 05 out. 2018.
LIMA, M. Introdução aos métodos quantitativos em Ciências Sociais. In: ABDAL, A.; 
OLIVEIRA, M. C. V.; GHEZZI, D. R.; SANTOS JÚNIOR, J. (Orgs.). Métodos de pesqui-
sa em Ciências Sociais: bloco quantitativo. São Paulo: Serviço Social do Comércio/ 
Centro Brasileiro de Análise e Planejamento, 2016. p. 10-31.
LÜCHMANN, L. H. H.; ALMEIDA, C. C. R.; GIMENES, E. R. Gênero e representação polí-
tica nos conselhos gestores no Brasil. Dados, Rio de Janeiro, v. 59, n. 3, set. 2016. p. 
789-822.
MANZATO, A. J.; SANTOS, A. B. A elaboração de questionários na pesquisa quantita-
tiva. Aula. 17 p. Departamento de Ciência da Computação e Estatística. Florianópo-
lis: Universidade Federal de Santa Catarina, 2012. Disponível em: <http://www.inf.
ufsc.br/~vera.carmo/Ensino_2012_1/ELABORACAO_QUESTIONARIOS_PESQUISA_ 
QUANTITATIVA.pdf>. Acesso em: 05 out. 2018.
MELO, W. V.; BIANCHI, C. S. Discutindo estratégias para a construção de questioná-
rios como ferramenta de pesquisa. Revista Brasileira de Ensino de Ciência e Tec-
nologia, Curitiba v. 8, n. 3, maio/ago. 2015. p. 43-59.
MOISÉS, J. A. Os signiicados da democracia segundo os brasileiros. In: MOISÉS, J. A.; 
MENEGUELLO, R. (Orgs.). A desconiança política e os seus impactos na qualida-
de da democracia. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2013. p. 51-91.
REFERÊNCIAS
161
ORAIR, R. O.; LIMA, L. S.; TEIXEIRA, T. H. F. Sistema de transferências para os municí-
pios brasileiros: avaliação dos impactos redistributivos. In: BOUERI, R.; COSTA, M. A. 
(Orgs.). Brasil em desenvolvimento 2013: estado, planejamento e políticas públi-
cas. Brasília: Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, 2013. p. 235-258.
PAULO, E. V.; OLIVEIRA, R. C. G. Avaliação e sugestão de protocolo estético para apli-
cação de toxina botulínica do tipo A em pacientes adultos. Revista Uningá, Marin-
gá, 2018 (no prelo). 
RAUDENBUSH, S. W.; BRYK, A. S. Hierarchical linear models: applications and data 
analysis methods. New York: Sage, 2002. AS
RIBEIRO, E. A.; BORBA, J.; SILVA R. Comparecimento eleitoral na América Latina: uma 
análise multinível comparada. Revista de Sociologia e Política, v. 23, n. 54, jun. 
2015. p. 91-108.
SHALDERS, A. Como pesquisa eleitoral com 2 mil pessoas indica o voto de 146 mi-
lhões. BBC Brasil, São Paulo, 23 abr. 2018. Disponível em: <https://www.bbc.com/
portuguese/brasil-43845326>. Acesso em: 05 out. 2018.
SILVA, F. B. Importância do geoprocessamento na fundamentação de políticas pú-
blicas. In: JORNADA INTERNACIONAL DE POLÍTICAS PÚBLICAS, 2., 2005, São Luís. 
Anais… São Luís: Universidade Federal do Maranhão, 2005. Disponível em: <http://
www.joinpp.ufma.br/jornadas/joinppII/pagina_PGPP/Trabalhos/EixoTematico-
G/285Brito%20silva_juliane%20andrade.pdf>. Acesso em: 05 out.2018.
TEIXEIRA, E. B.; ZAMBERLAN, L.; RASIA, P. C. Pesquisa em gestão pública. Ijuí: Uni-
versidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul, 2008.
TORINI, D. Questionários online. In: ABDAL, A.; OLIVEIRA, M. C. V.; GHEZZI, D. R.; SAN-
TOS JÚNIOR, J. (Orgs.). Métodos de pesquisa em Ciências Sociais: bloco quantita-
tivo. São Paulo: Serviço Social do Comércio/Centro Brasileiro de Análise e Planeja-
mento, 2016. p. 52-75.
WOOLDRIGDE, J. M. Introdução à econometria: uma abordagem moderna. 6. ed. 
São Paulo: Moderna, 2017.
GABARITO
1. Opção correta é a B.
2. Opção correta é a C.
3. Opção correta é a E.
4. Opção correta é a C.
5. Opção correta é a E.
U
N
ID
A
D
E IV
Professor Dr. Éder Rodrigo Gimenes
TRIANGULAÇÃO DE DADOS
Objetivos de Aprendizagem
 ■ Expor elementos que permitam a relexão acerca da necessidade de 
pensar a pesquisa em sua complexidade.
 ■ Apresentar a técnica de pesquisa por meio de estudos de caso.
 ■ Analisar pesquisas que realizaram triangulação de métodos no 
âmbito da gestão pública.
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
 ■ A complexidade da pesquisa
 ■ Estudo de caso
 ■ Triangulação de métodos na gestão pública
INTRODUÇÃO
Nas unidades anteriores deste material didático, dialogamos sobre diferentes 
conjuntos de possibilidades para construção de projetos de pesquisa, a par-
tir de métodos e técnicas que podem ser categorizados como quantitativos ou 
qualitativos.
Nesta quarta unidade, discutiremos sobre a lógica de que os caminhos de uma 
pesquisa não precisam, obrigatoriamente, ser perpassados pela escolha por um 
tipo de método e, em consequência, por técnicas pertinentes à metodologia dei-
nida. Para tanto, apresento a triangulação como caminho possível às pesquisas.
Nesse sentido, a primeira seção desta unidade aborda o contexto em que a 
realização das pesquisas é tomada como ação complexa e a maneira como os 
pesquisadores têm alterado sua percepção de que o desenho de uma pesquisa 
deve reletir as melhores estratégias para a resolução de problemas, independen-
temente de técnicas a ser utilizadas para tanto.
As estratégias para tal intento constituem o que a literatura sobre metodolo-
gias de pesquisa deine como triangulação de métodos, sobre o que discutiremos 
com relação à deinição, aos pressupostos e às habilidades exigidas dos gestores 
públicos e de suas equipes para sua realização.
A segunda seção trata do estudo de caso, um conjunto de técnicas que podem 
ser tanto quantitativas quanto qualitativas, cujo desenho deriva do objeto a ser 
investigado. Além de sua deinição e de estratégias à sua implementação, expo-
nho também as vantagens e desvantagens dos estudos de caso.
Por im, a terceira seção desta unidade focaliza a relevância da triangula-
ção de métodos ao campo da gestão pública, com apresentação de argumentos 
e exemplos de pesquisas, objetos e problemas relacionados a análises de conjun-
tura e de prospecção, bem como de gestão e de avaliação de políticas públicas.
Em nosso caminho, este é o penúltimo passo para a construção de uma pes-
quisa com qualidade! Boa leitura!
Introdução
R
ep
ro
d
u
çã
o
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o
 C
ó
d
ig
o
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
ir
o
 d
e 
19
98
.
165
TRIANGULAÇÃO DE DADOS
R
ep
ro
d
u
ção
 p
ro
ib
id
a. A
rt. 184 d
o
 C
ó
d
ig
o
 Pen
al e Lei 9.610 d
e 19 d
e fevereiro
 d
e 1998.
IVU N I D A D E166
A COMPLEXIDADE DA PESQUISA
Em seu artigo “O calcanhar metodológico da Ciência Política no Brasil” (2005, p. 
27), Glaucio Soares iniciou airmando que “a Ciência Política no Brasil enfrenta 
um período difícil, no qual a produção de proissionais e de pesquisas anda na 
contramão da história”. Naquele momento, o autor tratava da preocupação com a 
rejeição entre pesquisadores aos métodos qualitativos, por um lado, e aos quan-
titativos, por outro.
Retomando de maneira breve o que discutimos nas unidades anteriores de 
estudos, as pesquisas quantitativas são passíveis de produzir conhecimentosobre 
grandes populações, não raras vezes se utilizando de amostras representativas que 
nos permitem extrapolar seus achados para grupos maiores, até mesmo para uma 
dada população como um todo. Com métodos quantitativos é possível, por exemplo, 
identiicar as características ou os valores que são determinantes do comportamento 
eleitoral, tema clássico de estudos no Brasil. A relação entre tais variáveis expli-
cativas e como operam para cada indivíduo, no entanto, diicilmente poderia ser 
mensurada em surveys, de modo que esses resultados podem ser pistas para obser-
vações qualitativas, por meio de grupos focais ou entrevistas abertas, por exemplo.
A Complexidade da Pesquisa
R
ep
ro
d
u
çã
o
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o
 C
ó
d
ig
o
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
ir
o
 d
e 
19
98
.
167
Por sua vez, as pesquisas qualitativas não se caracterizam por grande abran-
gência ou representatividade, mas permitem, por meio de análises de pequenos 
grupos ou indivíduos separadamente, identiicar indícios da motivação de 
determinados comportamentos. Adotando o mesmo exemplo que mencionei 
anteriormente, análises em profundidade podem nos ajudar a entender o quanto 
determinadas características inluenciam o comparecimento eleitoral, como essas 
distintas características que inluenciam a decisão sobre votar ou não votar se 
relacionam entre si, ou seja, como operam na formação da opinião e na decisão 
dos indivíduos. Se não são generalizáveis ou representativos, os resultados de 
pesquisas qualitativas podem, no mínimo, fornecer importantes indícios para 
as pesquisas quantitativas.
Assim, o desenho da pesquisa não deve reletir uma predileção do pesqui-
sador, mas escolhas que contribuam para uma maior qualidade do trabalho 
produzido, ou seja, o desenho deve ser elaborado a im de gerar novos conheci-
mentos sobre o objeto estudado e, para tanto, cabe ao pesquisador lançar mão 
de opções metodológicas diversas no sentido de atingir tal objetivo. É preciso 
pensar nas distintas abordagens metodológicas como complementares, não 
como excludentes.
Cabe destacar ainda que pensar no desenho da pesquisa e deinir as melho-
res opções metodológicas partem de um conhecimento prévio, não apenas de 
métodos e técnicas de pesquisa, mas também do referencial teórico relacionado 
à temática, isto é, daquilo que já foi produzido sobre o objeto que pretendemos 
analisar. É diante desse somatório de conhecimentos que um gestor público deve 
optar por desenhos exclusivamente quantitativos ou qualitativos de pesquisa ou 
por combiná-los em sua investigação.
No caso da opção do gestor pela utilização de métodos e técnicas para coleta 
de dados que estejam relacionados a uma forma especíica de consecução da pes-
quisa, quantitativa ou qualitativa, o entendimento é de que as unidades anteriores 
deste estudo forneceram subsídios à construção de ferramentas que permitam 
tanto a delimitação do projeto quanto sua realização e análise. Nesse sentido, a 
dedicação desta unidade de estudos remete à possibilidade de que os gestores 
públicos realizem pesquisas que combinem distintos métodos e/ou técnicas, por 
conta de necessidades especíicas a serem investigadas.
TRIANGULAÇÃO DE DADOS
R
ep
ro
d
u
ção
 p
ro
ib
id
a. A
rt. 184 d
o
 C
ó
d
ig
o
 Pen
al e Lei 9.610 d
e 19 d
e fevereiro
 d
e 1998.
IVU N I D A D E168
É importante, inicialmente, termos em mente que tal combinação é positiva 
à realização das pesquisas e remete àquilo que diversos pesquisadores deinem 
como triangulação de métodos (MORSE, 1991; RITCHIE, 2003; MINAYO, 2005). 
De acordo com Minayo (2005, p. 12): 
pode-se compreender avaliação por triangulação de métodos como ex-
pressão de uma dinâmica de investigação e de trabalho que integra a 
análise das estruturas, dos processos e dos resultados, a compreensão 
das relações envolvidas na implementação das ações e a visão que os 
atores diferenciados constroem sobre todo o projeto: seu desenvolvi-
mento, as relações hierárquicas e técnicas, fazendo dele um construto 
especíico.
Diante de tal conceito, cabe destacar, reairmando aspectos mencionados nas três 
unidades de estudos anteriores deste material de estudos, que os métodos e as 
técnicas quantitativas e qualitativas não devem ser consideradas como antagôni-
cas, mas como maneiras complementares de alcance dos objetivos dos gestores 
públicos, que são, geralmente, relacionados à solução de problemas sociais. 
Santos Filho (1995), por exemplo, defende que diferentes abordagens devem 
ser consideradas como igualmente legítimas e que pensá-las como incompatí-
veis seria um erro.
A relação entre quantitativo e qualitativo, entre objetividade e subjeti-
vidade não se reduz a um continuum, ela não pode ser pensada como 
oposição contraditória. Pelo contrário, é de se desejar que as relações 
sociais possam ser analisadas em seus aspectos mais “ecológicos” e 
“concretos” e aprofundadas em seus signiicados mais essenciais. As-
sim, o estudo quantitativo pode gerar questões para serem aprofunda-
das qualitativamente, e vice-versa (MINAYO; SANCHES, 1993, p. 247).
No que tange à triangulação de métodos, Samaja (1992) ressaltou um impor-
tante ponto a ser considerado: a combinação não necessita ocorrer de maneira 
igualitária entre técnicas e análises quantitativas e qualitativas, de modo a deter-
minação de qual método e técnica serão preponderantes e qual a importância de 
cada análise depende, invariavelmente, do problema de pesquisa. 
Em decorrência desta observação, é salutar que os gestores públicos tenham 
clareza de que cada pesquisa implica em novas determinações de combinações 
e de deinições sobre a utilização dos métodos e técnicas anteriormente expos-
tos neste material de estudos.
Antes de avançarmos para as próximas seções desta unidade de estudos, é 
A Complexidade da Pesquisa
R
ep
ro
d
u
çã
o
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o
 C
ó
d
ig
o
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
ir
o
 d
e 
19
98
.
169
importante apontar uma característica que os gestores públicos devem desenvol-
ver para que seja possível a realização de pesquisas em geral, mas especialmente 
daquelas que combinam diferentes técnicas: a capacidade de coordenar ou de 
delegar a coordenação da equipe envolvida em uma pesquisa a quem tenha habi-
lidade para trabalhar coletivamente, de modo que Minayo, Assis e Souza (2005) 
deine o trabalho cooperativo como um desaio.
Diante da ausência de um contingente expressivo de materiais (como pes-
quisas acadêmicas, relatos de casos e materiais didáticos ou instrucionais, por 
exemplo), diversos autores têm destacado a necessidade de maior sistematização 
para a circulação de informações relacionadas à triangulação de métodos, como 
pontuaram, por exemplo, Gamboa (2007) e Souza e Kerbauy (2017).
Diante do exposto, esta unidade de estudos busca, por um lado, contribuir 
para o aumento do número de escritos que se dedicam a tratar da triangulação 
de métodos e, por outro lado, de proporcionar melhores condições aos futuros 
proissionais de Gestão Pública para que se encontrem municiados de conheci-
mento acerca de métodos e técnicas para coleta, sistematização e análise de dados.
Para tanto, além desta seção conceitual, a continuidade desta unidade apresenta o 
estudo de caso e discute sua interpretação como técnica de pesquisa que trata-se 
de triangulação de métodos. Na sequência, exemplos de pesquisas e análises, sob 
a perspectiva discutida nesta unidade, são expostas.
Henkel (2017) discorre sobre aspectos metodológicos relacionados à análi-
se de questões discursivas (portanto, de maneira qualitativa) presentes em 
questionários predominantemente objetivos (quantitativos).
Fonte: o autor.
TRIANGULAÇÃO DE DADOS
R
ep
ro
d
u
ção
 p
ro
ib
id
a. A
rt. 184 d
o
 C
ó
d
ig
o
 Pen
al e Lei 9.610 d
e 19 d
e fevereiro
 d
e 1998.
IVU N I D A D E170
ESTUDO DE CASOOs procedimentos envolvidos na pesquisa cientíica referem-se à forma pela qual 
se conduz o estudo e, consequentemente, à maneira como se obtém os dados a 
serem analisados. Dentre as técnicas existentes, o estudo de caso é utilizado de 
maneira recorrente, ainda que muitos não tenham clareza do que seja condu-
zir pesquisas, analisar objetos e produzir avaliações a partir de estudos de casos 
(YIN, 2001).
A técnica de pesquisa de estudo de caso caracteriza-se pela investigação 
aprofundada de um objeto, de modo a permitir um maior conhecimento acerca 
do assunto.
A pesquisa do tipo estudo de caso caracteriza-se principalmente pelo 
estudo concentrado de um único caso. Esse estudo é preferido pelos 
pesquisadores que desejam aprofundar seus conhecimentos a respeito 
de determinado caso especíico (BEUREN, 2003, p. 84).
Se pensarmos, então, a aplicação da técnica à gestão pública, podemos concluir 
que os estudos de caso podem ser de grande valia àqueles que tomarão as deci-
sões, por exemplo:
Estudo de Caso
R
ep
ro
d
u
çã
o
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o
 C
ó
d
ig
o
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
ir
o
 d
e 
19
98
.
171
 ■ Diante da necessidade de escolha do local para a construção de um equi-
pamento público, a realização de estudos de casos em determinadas áreas 
do município pode ser decisiva para que o gestor público tenha maior cla-
reza sobre qual região carece mais daquele investimento.
 ■ Em se tratando de obras públicas que promovam a segregação em um 
território, como a construção de pontilhões ou rodovias que dividem 
cidades ou a desapropriação de terras para a construção de estradas ou 
de barragens, é importante investigar as condições de vida das famílias 
antes de sofrerem os impactos das obras, a im de pensar quais as medi-
das pertinentes para que os efeitos sejam menos danosos.
 ■ O conhecimento acerca das condições de vida de determinada população 
pode contribuir para que os gestores públicos conheçam suas debilida-
des, necessidades e anseios e optem por concentrar esforços e recursos na 
melhoria de uma política pública em especíico ou que organizem uma 
listagem (como um ranking) de prioridades a ser atendidas.
Nesse sentido, quanto à sua utilidade, Gil (1996) diz que o estudo de caso é 
mais comum em pesquisas exploratórias, sendo recomendável em fases iniciais 
de pesquisas complexas por sua lexibilidade e também aplicado em situações 
em que o objeto de estudo já é suicientemente conhecido. Yin (2001, p. 23), no 
entanto, garante que o estudo de caso pode ser desenvolvido não apenas sob a 
ótica exploratória, mas também com os propósitos descritivo e causal. De acordo 
com Almeida (2016, p. 60):
o pressuposto é que o estudo intenso de um fenômeno complexo, se-
gundo diferentes perspectivas, é capaz de revelar planos estruturais que 
também podem ser encontrados em outros casos. Mais do que uma 
ferramenta especíica de produção de dados, trata-se de uma estratégia 
que mobiliza diferentes metodologias, sobretudo as de caráter quali-
tativo (como observação participante, entrevistas em profundidade, 
histórias de vida etc.), mas também quantitativo (surveys, dados quan-
titativos secundários, mapeamentos etc.).
A explicação anterior evidencia a razão pela qual o estudo de caso não compôs 
as unidades de estudo anteriores, mas está relacionado à perspectiva de triangu-
lação de métodos e técnicas: a maior preocupação do pesquisador ou do gestor 
público ao realizar um estudo de caso não é fazer uso de determinado mecanismo 
TRIANGULAÇÃO DE DADOS
R
ep
ro
d
u
ção
 p
ro
ib
id
a. A
rt. 184 d
o
 C
ó
d
ig
o
 Pen
al e Lei 9.610 d
e 19 d
e fevereiro
 d
e 1998.
IVU N I D A D E172
ou instrumento de pesquisa, mas descrever e analisar fenômenos, fatos, agentes 
e situações que são permeados por diferentes dimensões, motivações e compo-
sições em termos de tempo e espaço.
Ainda de acordo com Almeida (2016), cinco observações são relevantes para 
a deinição de um estudo de caso, quais sejam:
Figura 1 - Observações relevantes para estudos de caso
Fonte: adaptada de Almeida (2016).
Estudo de Caso
R
ep
ro
d
u
çã
o
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o
 C
ó
d
ig
o
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
ir
o
 d
e 
19
98
.
173
Assim como os demais métodos de pesquisa, o estudo de caso apresenta 
vantagens e limitações. Dentre as vantagens, Gil (1996) destaca o estímulo a 
novas descobertas, pois, conforme destacado anteriormente, o estudo de caso 
permite uma lexibilização na abordagem do objeto pesquisado. Além disso, 
“o estudo pode ser de caso único ou múltiplo, a depender dos objetivos da 
pesquisa” (ALMEIDA, 2016, p. 65).
Outro ponto positivo do estudo de caso é sua caracterização pela simplici-
dade de seus procedimentos:
os procedimentos de coleta e análise de dados adotados no estudo de 
caso, quando comparados com os exigidos por outros tipos de deline-
amento, são bastante simples. Da mesma forma, os relatórios dos es-
tudos de caso caracterizam-se pela utilização de uma linguagem e de 
uma forma mais acessível do que outros relatórios de pesquisa (GIL, 
1996, p. 59).
Uma preocupação acerca da aplicação do estudo de caso como metodologia de 
pesquisa é o fato dessa técnica fornecer pouco embasamento para uma generali-
zação cientíica sobre o assunto pesquisado. Essa limitação, aliás, é apontada por 
Gil (1996, p. 60) como a mais grave no desenvolvimento de um estudo de caso.
Sobre tal limitação, contudo, não necessariamente relete uma grande questão 
às pesquisas realizadas no âmbito da gestão pública, uma vez que, diferente-
mente do campo cientíico, a preocupação com comparações ou generalizações 
para além dos objetos investigados pode não ser relevante por conta dos obje-
tivos do ente público.
Gil (1996) e Beuren (2003) atentam ainda para o fato de que, em decorrên-
cia do aspecto positivo que destaca o estudo de caso como técnica simples de 
pesquisa, é preciso atenção por parte do pesquisador, de quem se exige maior 
nível de capacitação do que aquele exigido em outros tipos de delineamento, em 
parte por conta da possibilidade de combinação de instrumentos para coleta de 
dados (ALMEIDA, 2016). Tal aspecto é responsável pelo tempo despendido com 
a realização de estudos de caso, mais demorados do que a aplicação de outras 
técnicas por sua complexidade.
Além disso, a realização de uma pesquisa adotando a metodologia de estudo 
de caso exige, necessariamente, a utilização de algumas fontes para coleta de 
dados. Para Bruyne, Herman e Schoutheete (1982), o estudo de caso, visando 
TRIANGULAÇÃO DE DADOS
R
ep
ro
d
u
ção
 p
ro
ib
id
a. A
rt. 184 d
o
 C
ó
d
ig
o
 Pen
al e Lei 9.610 d
e 19 d
e fevereiro
 d
e 1998.
IVU N I D A D E174
reunir informações tão numerosas e detalhadas quanto seja possível, recorre às 
mais diversas técnicas de coleta de informações, que são igualmente variadas.
De modo geral, todo o arcabouço apontado nas unidades de estudos anteriores 
pode compor um estudo de caso, pois o mesmo utiliza dados primários e secun-
dários, pode se constituir como pesquisa exploratória, descritiva ou com vistas a 
identiicar alguma causalidade e se utilizar de técnicas para coleta e análises de 
dados que remetam tanto ao método quantitativo quanto ao método qualitativo.
Diante desse conjunto de informações, denota-se a diiculdade, especial-
mente àqueles que têm pouco contato com a realização de pesquisas e com a 
aplicação de distintos métodos e técnicas para coleta e análise de dados, em rea-
lizar estudos de caso. Sua execução, no entanto, depende do desenvolvimento 
de experiências, mas nunca se dá por completo, uma vez que, ainda que o pes-
quisador tenha clareza sobre métodos e técnicas e inicie um estudo de caso com 
desenho determinado de pesquisa,
[...] podem ocorrer mudanças nos casos selecionados ou mesmo nas 
técnicas utilizadas conforme o andamento da pesquisa. Não há pro-priamente uma receita para seleção dos casos nem das técnicas de pes-
quisas a ser aplicadas. O importante é o pesquisador dominar diversas 
técnicas e saber escolher as mais apropriadas, além da sequência de sua 
utilização. Evidentemente isso depende dos objetivos da pesquisa e dos 
recursos disponíveis para a sua efetivação (ALMEIDA, 2016, p. 66).
Diante do exposto, o estudo de caso se revela, ao mesmo tempo, como técnica 
aparentemente mais simples e mais complexa dentre todas as alternativas apre-
sentadas neste material didático. Seus resultados podem contribuir sobremaneira 
para a solução de questões ou problemas conforme aqueles hipotéticos que apre-
sentei como exemplos no início desta seção.
Tendo conhecimento sobre o que é triangulação de métodos e sobre o con-
ceito e as características do estudo de caso, podemos, então, avançar a exemplos 
de pesquisas que construíram análises e resultados a partir da combinação entre 
os procedimentos de pesquisa abordados até aqui.
Triangulação de Métodos na Gestão Pública
R
ep
ro
d
u
çã
o
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o
 C
ó
d
ig
o
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
ir
o
 d
e 
19
98
.
175
TRIANGULAÇÃO DE MÉTODOS NA GESTÃO PÚBLICA
O estabelecimento de uma síntese do conteúdo nas seções anteriores desta uni-
dade de estudos aponta para a seguinte constatação: não é necessariamente a 
quantidade de observações ou o detalhamento das informações que nos permite 
compreender de maneira mais aprofundada os fenômenos sociais e políticos, 
mas o conhecimento teórico e empírico acerca das metodologias e técnicas de 
análises a ser empreendidas em uma investigação.
Nesse sentido, esta seção tem a inalidade de discutir, ainda que de maneira 
breve, a relevância da combinação entre métodos e técnicas de pesquisas no 
âmbito da gestão pública, bem como de apresentar pesquisas relacionadas à área 
que utilizaram distintas estratégias de investigação.
ANÁLISES DE CONJUNTURA E PROSPECÇÃO
A utilização de dados pelos gestores públi-
cos pode se dar em função de tomadas de 
decisões gerais, relacionadas ao processo 
de administração como um todo, o que 
signiica que, apesar da maioria dos exem-
plos deste material didático pautarem-se 
por ilustrações de casos, pesquisas ou situ-
ações hipotéticas relacionadas às políticas 
públicas, a pesquisa também pode ser útil 
a outras atividades.
TRIANGULAÇÃO DE DADOS
R
ep
ro
d
u
ção
 p
ro
ib
id
a. A
rt. 184 d
o
 C
ó
d
ig
o
 Pen
al e Lei 9.610 d
e 19 d
e fevereiro
 d
e 1998.
IVU N I D A D E176
A otimização da distribuição de recursos de fundos especíicos entre as pas-
tas, a alocação ou realocação de servidores nas diferentes secretarias e unidades 
administrativas, o conhecimento acerca das articulações do mercado (entidades 
privadas) e das organizações da sociedade civil, as possibilidades de estabeleci-
mento de parcerias relacionadas à responsabilidade social ou gestão social para 
consecução dos direitos sociais, o planejamento com vistas a ter em mãos dados 
e relatórios estruturados para eventuais consultas ou disponibilização de recur-
sos por outros órgãos nacionais e internacionais, estatais, paraestatais, privados 
ou sociais sem ins lucrativos também são de suma importância à gestão pública.
Diante de tais exemplos, destaco a discussão teórica empreendida por Chirnev 
(2018) a respeito da realização de análises de conjuntura e de prospecção. Ainda que 
a autora tenha voltado seu olhar ao campo de gestão das organizações do Terceiro 
Setor, os conceitos explorados também podem ser apropriados pelos gestores públicos.
O conceito de conjuntura diz respeito ao conjunto de elementos veriicáveis 
em um mesmo tempo e espaço sob diversas perspectivas, como social, econô-
mica, política, cultural, religiosa, ambiental e tecnológica, por exemplo. 
Uma análise de conjuntura, portanto, diz respeito à maneira como, base-
ados nos elementos e perspectivas possíveis, conseguimos compreender uma 
realidade e pensar eventos ou fenômenos futuros. Para tanto, o gestor (público, 
no nosso caso) deve se valer das mais diversas técnicas e métodos de pesquisa, 
a im de elaborar uma análise de conjuntura abrangente e eiciente.
“A análise de conjuntura é um instrumento metodológico da Ciência Política 
que serve para interpretar os eventos, os quais surgem da ação de atores em con-
textos especíicos” (OLIVEIRA, 2014, p. 25). Tal análise é realizada a partir de 
dados retrospectivos e visa o conhecimento sobre a maneira como um conjunto de 
fenômenos ou eventos ocorreu, a im de identiicar a direção dos acontecimentos. 
Nesse sentido, a realização de análises de conjuntura se revela complexa, pois 
“[...] exige também um tipo de capacidade de perceber, compreender, descobrir senti-
dos, relações, tendências a partir dos dados e das informações” (SOUZA, 2005, p. 8).
Em se tratando de tal complexidade, Chirnev (2018) destaca que um fato 
que diiculta a realização de análises de conjuntura é sua persistência constante, 
ou seja, a ausência de estagnação dos eventos e fenômenos.
Triangulação de Métodos na Gestão Pública
R
ep
ro
d
u
çã
o
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o
 C
ó
d
ig
o
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
ir
o
 d
e 
19
98
.
177
Por outro lado, o domínio de métodos e técnicas para coleta e análise de 
dados permitiria aos gestores públicos melhores condições de realizar também 
prospecções mais adequadas. Considerando que, desde o im do século passado, 
o princípio da eiciência tem sido referenciado como balizador da prestação de 
serviços públicos, cabe aos gestores manterem-se e aos seus funcionários habi-
litados e com recursos materiais atualizados para o desenvolvimento de análises 
de conjuntura que forneçam subsídios, a partir da interpretação de fatos, eventos 
e fenômenos passados, projetarmos as próximas necessidades e ações públicas a 
serem tomadas. Essa projeção diz respeito ao processo denominado prospecção.
A prospecção é uma ferramenta de pesquisa e planejamento que auxilia 
o gestor nas decisões de médio e longo prazo. A prospecção é a ação de 
prospectar, pesquisar, ou mesmo pode ser deinido como um conjunto 
de técnicas relativas a pesquisa, oferecendo subsídios mais consistentes 
para decisões mais assertivas (CHIRNEV, 2018, p. 69).
As análises de prospecção são consideradas como mecanismos relevantes de 
suporte à Administração Pública para a tomada de decisões de curto, médio e 
longo prazo, o que signiica que se tratam de importantes intervenções na ges-
tão de municípios, estados e da União.
Quando consideradas de maneira conjunta, análises de conjuntura e de 
prospecção, ou seja, de aspectos passados e de projeções para o futuro, podem 
contribuir para que os gestores públicos deliberem de maneira eicaz a respeito 
da destinação de recursos públicos, a im de otimizar mudanças de ordem social, 
cultural, política e econômica, por exemplo.
Na prospecção, podem ser combinados nos estudos prospectivos tanto 
técnicas quantitativas como qualitativas, ou ambas. [...] De acordo com 
especialistas, o ideal para a realização de estudos prospectivos é recor-
rer a mais de um método, ferramenta ou técnica, em razão de nenhum 
desses artifícios atender sozinho a todas as demandas de uma mesma 
pesquisa (CHIRNEV, 2018, p. 72 e 77).
A combinação de técnicas pode se valer daquelas expostas nas unidades de 
estudos anteriores deste livro didático, bem como de estudos de caso, que são, 
combinações de outras técnicas para coleta e análise de dados, tema que abor-
damos na seção anterior desta unidade de estudos.
TRIANGULAÇÃO DE DADOS
R
ep
ro
d
u
ção
 p
ro
ib
id
a. A
rt. 184 d
o
 C
ó
d
ig
o
 Pen
al e Lei 9.610 d
e 19 d
e fevereiro
 d
e 1998.
IVU N I D A D E178
GESTÃO E AVALIAÇÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS
A primeira maneira, como destaco a 
relação estabelecida entre as metodo-
logias é a utilização de resultados de 
umainvestigação como possibilidade 
para a realização de novas pesquisas 
com método distinto.
Em Gimenes (2011), utilizei 
discussões de autores clássicos do eli-
tismo e das considerações de Robert 
Dahl em Poliarquia (1997) sobre a importância da crença de ativistas políticos 
para pesquisar valores e comportamentos de um segmento de elite não estatal 
do município de Maringá (PR) com relação à democracia. O argumento teórico 
gira em torno da preponderância de indivíduos que ocupam a condição de elite 
sobre a população em geral, uma vez que a conformação dos valores sociais e 
das percepções sobre os espaços, políticas e necessidades públicas é, em alguma 
medida, inluenciada pelo grupo seleto que detêm maiores recursos inanceiros, 
cognitivos e de direcionar os processos públicos (GIMENES, 2014).
Naquela pesquisa, dentre outros achados, identiiquei a existência de uma 
diferenciação entre as manifestações de apoio difuso (uma medida abstrata de 
adesão aos princípios democráticos) e especíico (a avaliação que os indivíduos 
realizam sobre o regime), mas também outros pontos sobre os quais não pude 
me deter por conta da temática e do prazo para a confecção da dissertação.
Um desses pontos se destacou na bateria de questões sobre o entendimento 
dos entrevistados quanto às características fundamentais da democracia. Dado 
que o segmento era composto por dirigentes de organizações da sociedade civil, 
me causou estranheza a airmação relacionada à distribuição de renda rece-
ber menor média entre as características analisadas, nota esta que foi inferior, 
inclusive, à possibilidade das Forças Armadas tomarem o poder diante de um 
governo incompetente.
Essas médias, em especíico, suscitaram indagações por conta do público que 
compôs o objeto da análise, ainal, se tratava de gestores sociais que atuavam em 
Triangulação de Métodos na Gestão Pública
R
ep
ro
d
u
çã
o
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o
 C
ó
d
ig
o
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
ir
o
 d
e 
19
98
.
179
parceria ou em substituição ao Estado na promoção de ações com inalidades 
relacionadas ao atendimento dos direitos sociais e das políticas públicas previs-
tas na legislação brasileira.
Imaginei que o problema pudesse consistir na formulação da airmação, a 
qual repliquei de um questionário internacional de pesquisas realizado ao longo 
do mundo pelo World Values Survey, com vistas à possibilidade de compara-
ção da minha amostra com a população nacional em um momento posterior. 
A airmação “o governo cobra impostos dos ricos e dá dinheiro aos pobres” 
era apresentada para que os respondentes indicassem em que medida, em uma 
escala crescente de 10 pontos, entendiam se tratar de uma característica funda-
mental da democracia.
Na dissertação, não pude me deter a essa investigação, mas apontei tal possibi-
lidade e a necessidade de analisá-la posteriormente. A leitura do texto despertou, 
em outra pesquisadora, o interesse pela questão, de modo que Ripari (2013) 
desenvolveu uma pesquisa com integrantes daquele mesmo segmento de elite 
não estatal por meio de grupos focais com alguns dirigentes que compuseram a 
amostra analisada em Gimenes (2011).
A segunda pesquisa se debruçou sobre o entendimento das concepções sobre 
desigualdade, pobreza e a relação dessas temáticas com o Estado, de modo que 
constatou que os gestores de organizações da sociedade civil entendiam sua atu-
ação como relevante e que o Estado deveria ser garantidor do cumprimento dos 
direitos sociais, mas sem, necessariamente, que tal atuação implicasse na redis-
tribuição de renda.
A segunda maneira, como destaco, a relação estabelecida entre as meto-
dologias é o tratamento de dados decorrentes de pesquisas realizadas com 
metodologias distintas de maneira simultânea. Destaco, nesse sentido, um projeto 
inanciado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientíico e Tecnológico 
(CNPq) junto à Universidade Estadual de Maringá que versou sobre a cultura 
política dos eleitores do município e o papel do gênero na política, nas eleições 
de 2010, destacadas por conta da participação feminina na disputa presidencial 
marcada por duas candidatas: Dilma Roussef e Marina Silva.
Com uma equipe composta por mais de 20 pesquisadores, entre docentes e 
alunos de graduação e pós-graduação, a investigação foi desenvolvida em dife-
rentes frentes, quais sejam:
TRIANGULAÇÃO DE DADOS
R
ep
ro
d
u
ção
 p
ro
ib
id
a. A
rt. 184 d
o
 C
ó
d
ig
o
 Pen
al e Lei 9.610 d
e 19 d
e fevereiro
 d
e 1998.
IVU N I D A D E180
a. Survey sobre a cultura política de amostra representativa, aleatória e estra-
tiicada da população municipal.
b. Acompanhamento do horário eleitoral gratuito de rádio e TV para aná-
lise do conteúdo divulgado pelos candidatos à presidência da república.
c. Acompanhamento das notícias divulgadas nos principais jornais impres-
sos de circulação estadual e municipal, a im de estabelecer padrões de 
evolução das valências atribuídas aos candidatos.
d. Permanências e mudanças das percepções de diferentes grupos de pes-
soas ao longo da campanha eleitoral, por intermédio da realização de 
grupos focais.
Assim, foi possível mapear, por meio de diferentes técnicas de natureza quan-
titativa e qualitativa, a percepção dos eleitores do município sobre a inluência 
do gênero dos candidatos nas eleições presidenciais de 2010 e a relação entre as 
opiniões de pessoas com características especíicas (por grupos focais) diante do 
conteúdo do horário gratuito de propaganda eleitoral e das notícias veiculadas 
nos principais jornais impressos que circulavam no município.
Por im, destaco a relevância de resultados de pesquisas desconexas, mas 
que contribuem para o entendimento de determinado objeto de maneira mais 
ampla, tanto quando analisadas individualmente quanto em conjunto. Nesse 
sentido, abordo considerações sobre a política pública de saúde e sobre um pro-
grama social transversal.
A avaliação do impacto das políticas públicas sobre a realidade social é es-
sencial à gestão pública. Batista e Domingos (2017) apresentam o experi-
mento controlado e técnicas quase-experimentais como possibilidades de 
pesquisas.
Fonte: o autor.
Triangulação de Métodos na Gestão Pública
R
ep
ro
d
u
çã
o
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o
 C
ó
d
ig
o
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
ir
o
 d
e 
19
98
.
181
Com relação à área da saúde, Coelho (2016) apresenta, em um único texto, infor-
mações decorrentes de três análises distintas. A primeira análise diz respeito à 
coleta de dados qualitativos junto aos conselhos criados nas unidades básicas de 
saúde do município de São Paulo no ano de 2001.
Tendo em vista o contexto de ampliação dos espaços de participação, a autora 
buscou identiicar quem participava dos referidos conselhos, como se dava tal 
envolvimento e quais os seus resultados. No primeiro momento, a expectativa 
era veriicar se havia representação de movimentos sociais e de grupos organi-
zados da sociedade civil naqueles espaços.
Nossos primeiros resultados mostraram que em 16 das 31 subprefeitu-
ras havia razoável diversidade associativa, já em 15 havia uma predo-
minância quase absoluta de conselheiros ligados ao PT. O que exata-
mente signiicava esse resultado? Em áreas onde havia mais diversidade 
associativa a população estava representada mais adequadamente? A 
maior diversidade deveria contribuir para ampliar a probabilidade de 
que o conselho conseguisse ter Para responder a essas perguntas, dei-
nimos como nosso próximo passo de pesquisa buscar novos elemen-
tos que permitissem considerar com mais cuidado tanto a questão da 
capacidade de inclusão e representação dos conselhos quanto a de seu 
impacto sobre a política de saúde. Nessa etapa, restringimos o número 
de subprefeituras estudadas de 31 para 6, todas elas localizadas em áre-
as periféricas com indicadores socioeconômicos inferiores(COELHO, 
2016, p. 82-83).
É perceptível que os primeiros resultados da abordagem foram demonstrativos 
de concentração dos participantes das instituições participativas analisadas, o 
que poderia contribuir negativamente para sua efetividade se considerarmos 
que a pluralidade de vozes para encaminhar demandas e necessidades é impor-
tante nos espaços públicos.
Para além dessa constatação, a primeira análise permitiu à pesquisadora 
decidir a maneira como seguir com a pesquisa, por meio da abordagem mais 
detalhada em apenas algumas regiões do município. A partir de dados relacio-
nados a gênero, cor, educação, renda, pluralidade partidária e associativismo, 
foi possível investigar em que medida os conselhos de saúde estavam operando 
de maneira democrática.
Com relação ao gênero e à cor, a expectativa era de que a distribuição dos 
participantes fosse semelhante à sua presença entre a população. Para educação e 
TRIANGULAÇÃO DE DADOS
R
ep
ro
d
u
ção
 p
ro
ib
id
a. A
rt. 184 d
o
 C
ó
d
ig
o
 Pen
al e Lei 9.610 d
e 19 d
e fevereiro
 d
e 1998.
IVU N I D A D E182
renda, a inclusão seria atingida se fosse veriicada a presença de conselheiros com 
baixa escolaridade e com baixa renda, aqueles que majoritariamente utilizariam 
a rede pública de saúde. Por im, quanto maior o número de siglas partidárias e 
de distintos segmentos associativos, mais plural o conselho.
Os resultados permitiram à autora constatar que mulheres, indivíduos não 
brancos e com menor escolarização participavam mais de conselhos em regi-
ões onde havia maior histórico de mobilização popular, ao passo que nos locais 
onde tal histórico era mais recente havia pluralidade elevada de legendas parti-
dárias e segmentos associativos com representação nos conselhos.
Em se tratando de técnicas quantitativas, a autora destacou duas distintas 
pesquisas: a primeira,baseada em dados nacionais, analisou a relação entre distin-
tas políticas e a redução das desigualdades na área da saúde entre os municípios 
brasileiros; a segunda se debruçou sobre o impacto das Organizações Sociais de 
Saúde na Atenção Básica à Saúde no estado de São Paulo. 
Com relação aos dados nacionais, a análise identiicou os efeitos da exis-
tência de rede de tratamento de água, de escolarização das mulheres, da renda 
média da população, da quantidade de médicos, do percentual dos habitantes 
atendidos pelo Programa Saúde da Família e dos estabelecimentos públicos sem 
internação sobre as taxas de mortalidade infantil dos municípios brasileiros. 
Os modelos de regressão apresentaram alguns resultados esperados, como 
a relação positiva entre maior renda média e menor taxa de mortalidade, mas 
também outros contraintuitivos, como a ausência de efeito da elevação da oferta 
de serviços públicos de saúde sobre a redução da mortalidade infantil. 
É difícil aceitar alguns desses resultados, [...] Acreditamos que esses 
resultados reletem, ao menos em parte, diiculdades metodológicas as-
sociadas à mensuração das intervenções em saúde. [...] é bastante razo-
ável supor que esses resultados relitam mais problemas com os dados 
e com os métodos de análise do que com a falta de impacto da oferta 
de serviços de saúde sobre as taxas de mortalidade infantil. Para lidar 
com esse e outros limites foram sendo desenvolvidos novos métodos de 
avaliação (COELHO, 2016, p. 91).
Com vistas a superar os conlitos decorrentes das análises contraintuitivas expos-
tas anteriormente, a autora concentrou-se sobre o conjunto de 645 municípios do 
estado de São Paulo, para os quais coletou dados junto ao Ministério da Saúde, 
Triangulação de Métodos na Gestão Pública
R
ep
ro
d
u
çã
o
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o
 C
ó
d
ig
o
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
ir
o
 d
e 
19
98
.
183
à Agência Nacional de Saúde Suplementar, ao Instituto Brasileiro de Geograia 
e Estatística e ao Sistema Estadual de Análise de Dados.
As análises demonstraram que a contratação indireta de organizações sociais 
para promover a melhoria nos serviços públicos de saúde contribuiu positivamente 
para o número de consultas oferecidas nas unidades de saúde e para a redução 
da mortalidade infantil, porém com reduzido impacto em termos estatísticos.
É perceptível, diante das pesquisas empreendidas por Coelho (2016), o 
impacto da triangulação de métodos e as perspectivas de entender os arran-
jos de políticas públicas, uma vez que, por meio de três diferentes pesquisas nas 
três esferas de atuação pública, a autora mapeou aspectos relacionados à temá-
tica, tendo o município de São Paulo como caso inicial, o estado de São Paulo 
como objeto intermediário e dados da política nacional de saúde como terceiro 
e maior objeto de análise.
Trata-se, portanto, de um processo trabalhoso, complexo e em que se 
enfrentam vários constrangimentos, tais como a escassez de recursos 
humanos e inanceiros e a precariedade dos dados. Apesar disso, esse é 
um processo rico e desaiador e que, se bem conduzido, pode trazer ao 
pesquisador a satisfação de responder de forma criteriosa e objetiva às 
questões de pesquisa, bem como de contribuir para o aperfeiçoamento 
das políticas públicas (COELHO, 2016, p. 98).
Passemos, agora, ao segundo caso a ser destacado. Como maior e mais conhe-
cido programa de redistribuição condicionada de renda na América Latina, 
apresento o caso do Bolsa Família, como ilustrativo desta discussão sobre trian-
gulação de métodos para a produção de conhecimento e de informações para a 
tomada de decisões no âmbito da gestão pública.
Os estudos realizados sobre o programa têm sido amplamente discutidos 
e reverberados no Brasil e no exterior, de modo que seus resultados têm con-
tribuído, inclusive, para minar o senso comum e levar mais conhecimento à 
população como um todo, e não apenas acadêmica, sobre o referido Programa.
Para além de valores como os percentuais de brasileiros que frequentam as 
séries iniciais da escola, que têm acompanhamento periódico em serviços de 
saúde, do montante de recursos distribuídos e do número de pessoas que supe-
rou a situação de miséria/pobreza extrema, os estudos sobre o Bolsa Família têm 
contribuído para desmitiicar o senso comum quanto ao aumento da natalidade 
TRIANGULAÇÃO DE DADOS
R
ep
ro
d
u
ção
 p
ro
ib
id
a. A
rt. 184 d
o
 C
ó
d
ig
o
 Pen
al e Lei 9.610 d
e 19 d
e fevereiro
 d
e 1998.
IVU N I D A D E184
entre as beneiciárias, como mostram pesquisas que identiicaram que parte das 
mulheres aumentaram o uso de contraceptivos, e também quanto à acomoda-
ção das famílias, pois são vários os resultados que contrariam a hipótese de que 
o programa geraria um “efeito preguiça” nos beneiciários.
Tais resultados decorrem de compilações de dados e estatísticas oiciais, 
amplamente exploradas pelos pesquisadores cujos textos foram reunidos por 
Campello e Neri (2013). Na mesma obra, por outro lado, destaca-se o capítulo 
de Rêgo e Pinzani (2013), que se valeram de técnicas qualitativas de pesquisa — 
já destacadas anteriormente neste material de estudos — para investigar efeitos 
que muito diicilmente seriam corretamente mensuráveis por métodos quanti-
tativos, como o sentimento de pertencimento à realidade local decorrente do 
benefício, a autonomia para gerir as compras da casa e mesmo optar por perma-
necer casada ou divorciar-se, em casos especíicos, assim como as percepções de 
cidadania e de direitos, ainda que o último aspecto tenha sido mobilizado pela 
fala de poucas pessoas pesquisadas e de maneira precária.
Grosso modo, sob distintas perspectivas teóricas, metodológicas e analíticas, bem 
como a partir de diferentes olhares, ao longo de 29 capítulos, a obra de Campello 
e Neri (2013) permite conhecermos mais sobre o Programa Bolsa Família, de 
modo que, para além dos expressivos resultados isolados, é uma grande con-
tribuição à gestão pública para a relexão sobre as áreas de políticas públicas 
transversaisrelacionadas ao referido programa, tanto direta — assistência social, 
saúde, educação, proteção à maternidade e à infância e proteção aos desampara-
dos — quanto indiretamente — alimentação e lazer, por exemplo.
Como futuro gestor público, você já pesquisou indicadores de avaliação da 
gestão pública e como são construídas as análises e pesquisas?
Considerações Finais
R
ep
ro
d
u
çã
o
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o
 C
ó
d
ig
o
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
ir
o
 d
e 
19
98
.
185
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao longo desta unidade, discutimos um pouco mais sobre a relevância de aspec-
tos especíicos ao papel do gestor público que busca a solução de problemas e a 
consecução de análises e avaliações com maior qualidade.
É importante inalizarmos esta unidade tendo clareza sobre a necessidade 
de superação daquilo que Soares (2005) deiniu como calcanhar metodológico 
em seu texto, que remeteria à importância de optarmos por métodos e técnicas 
de pesquisa conforme o desenho de pesquisa, seu objeto, objetivo e problema a 
ser solucionado. A triangulação de métodos se coloca como desaio aos gestores 
públicos, que precisam coordenar equipes, delegar tarefas e funções e atuar de 
modo cooperativo para que haja resultados coerentes com as questões suscitadas.
Em se tratando da triangulação, os estudos de casos são complexas estruturas 
de pesquisas que, apesar de recorrentemente tratadas como qualitativas, englo-
bam perspectivas também quantitativas e se revelam como passíveis de arranjos 
entre técnicas reunidas com a inalidade de suprir uma lacuna de conhecimento. 
Utilizado majoritariamente em pesquisas exploratórias, o estudo de caso 
foi destacado neste material também como estratégia destinada à consecução 
de estudos descritivos ou causais, o qual exige cuidados e atenção especíicos 
por conta de suas limitações, mas que, por outro lado, pode ser de grande valia 
aos gestores públicos em virtude das vantagens e potencialidades destacadas na 
segunda seção deste estudo.
Finalizamos esta etapa de construção do conhecimento destacando a rele-
vância da triangulação de métodos e técnicas de pesquisa ao desenvolvimento 
das atividades proissionais no campo da Gestão Pública com ênfase às análi-
ses de conjuntura e de prospecção e à gestão e avaliação de políticas públicas.
Assim como iniciamos, encerramos esta unidade com outra menção a Soares 
(2005, p. 49), que, ao im de sua escrita, aponta que “felizmente, o abismo entre 
qualitativos e quantitativos está se fechando. Talvez os calcanhares continuem 
vulneráveis, mas, pelo menos, caminharemos sobre os dois pés”.
186 
1. A realização de pesquisas é caracterizada por muitas potencialidades e os 
aspectos positivos destacam, dentre outros aspectos, a possibilidade de au-
mentar o conhecimento acerca da realidade social que se coloca aos gestores 
públicos. Esse cenário, contudo, é composto por diiculdades, de modo que o 
“calcanhar” das pesquisas seria:
a) A ausência de necessidade de realização de pesquisas na gestão pública.
b) O cuidado com os indivíduos e com a identiicação de suas necessidades.
c) A combinação entre técnicas quantitativas e qualitativas de pesquisa.
d) O método quantitativo de coleta, interpretação e análise dos dados.
e) As técnicas qualitativas empregadas na construção de pesquisa.
2. No que diz respeito aos métodos e técnicas de pesquisas destacados ao longo 
deste material didático, em geral, e mais especiicamente nesta unidade de 
estudos, analise os termos a seguir e indique quais correspondem a atributos 
verdadeiros com relação à possibilidade de combinação entre métodos e téc-
nicas qualitativas e quantitativas:
I. Antagônicos.
II. Complementares.
III. Incompatíveis.
IV. Legítimos.
Assinale a alternativa que apresenta as airmativas corretas:
a) Somente as airmativas I e II estão corretas.
b) Somente as airmativas I e III estão corretas.
c) Somente as airmativas II e III estão corretas.
d) Somente as airmativas I e IV estão corretas.
e) Somente as airmativas II e IV estão corretas.
187 
3. No que diz respeito à realização de triangulação de métodos e de técnicas de 
pesquisas no âmbito da Gestão Pública, são muitas as possibilidades. Nesse 
sentido, as pesquisas que buscam a identiicação e a interpretação de fatos 
passados de natureza social, cultural, política, econômica, tecnológica e am-
biental diz respeito a:
a) Avaliação de políticas públicas.
b) Ciclo de políticas públicas.
c) Gestão pública.
d) Análise de conjuntura.
e) Análise de prospecção.
4. O estudo de caso foi apresentado nesta unidade de estudos como possibilida-
de para que os gestores públicos conduzam suas pesquisas, sendo que foram 
abordados aspectos que facilitam e que diicultam sua consecução. Sobre o 
estudo de caso, é correto airmar que se trata de:
a) Técnica de pesquisa qualitativa.
b) Técnica de pesquisa quantitativa.
c) Conjunto de técnicas de pesquisas.
d) Método de pesquisa quantitativo.
e) Método de pesquisa qualitativa.
5. Os gestores públicos enfrentam, dentre outros desaios, a necessidade de pro-
dução e de atualização constante de dados e de informações que lhes permi-
tam tomar decisões assertivas, de modo a otimizar a utilização de recursos pú-
blicos e a promoção do bem comum. Nesse contexto, a utilização de recursos 
de uma pesquisa como ponto de partida para novas investigações é:
a) Possível apenas quando se trata de métodos e técnicas quantitativas.
b) Possível apenas quando se trata de métodos e técnicas qualitativas.
c) Possível em muitos casos, mas não indicada à Gestão Pública.
d) Possível e desejável, mas inexistente no campo da Gestão Pública.
e) Possível, desejável e necessária no âmbito da Gestão Pública.
188 
Relações entre Poder Público e Sociedade na Gestão de Resíduos Sólidos de um 
Município de Minas Gerais: uma Análise sob o Enfoque das Abordagens da Admi-
nistração Pública (excertos)
Propósito
O objetivo deste artigo é analisar o conteúdo do discurso dos atores sociais envolvidos 
na gestão de resíduos sólidos de um município mineiro de modo a veriicar as relações 
existentes entre eles e relacioná-las com as abordagens da administração pública. O ar-
tigo visa compreender melhor a administração pública contemporânea e as tendên-
cias das relações entre o poder público e sociedade. Como objetivo especíico o artigo 
buscou descrever as principais características das abordagens da administração pública: 
patrimonialista, burocrática, gerencial, societal e sistêmica.
A teoria da abordagem da administração pública explica as relações e articulações esta-
belecidas entre o poder público e a sociedade no gerenciamento dos resíduos sólidos 
de um município localizado em Minas Gerais. Por isso, nesta pesquisa procurou-se iden-
tiicar a abordagem predominante nas relações dos atores sociais envolvidos na gestão 
de resíduos sólidos. Os atores sociais são funcionários públicos, políticos, promotor, pro-
fessores, empreendedores, trabalhadores da iniciativa privada, catadores de materiais 
recicláveis, representantes de entidades ambientais e sociais. O estudo instigou rele-
xões sobre as relações do poder público e sociedade, despertando para algumas ques-
tões: Existe uma abordagem de administração pública predominante nas relações dos 
atores sociais envolvidos na gestão de resíduos sólidos do município em estudo? Uma 
abordagem de administração pública exclui a outra? Quais são as características das 
relações do poder público e sociedade em cada uma das abordagens da administração 
pública (patrimonialista, burocrática, gerencial, societal e sistêmica)? [...]
Método de Investigação
Quanto aos procedimentos metodológicos utilizou-se da pesquisa qualitativa. Como 
método de análise empírica recorreu-se ao estudo de caso. Ressalta-se que o estudo 
foi realizado por meio de aplicação de um roteiro semi-estruturado de entrevista que 
foram transcritas e relacionadas com as abordagens da administraçãopública. Para a 
realização das entrevistas foram elaborados roteiros constituídos por três grupos de per-
guntas (categorias): (1) sobre as relações estabelecidas entre os atores sociais; (2) sobre o 
funcionamento e o papel dos atores sociais na gestão dos resíduos sólidos do município 
em estudo; (3) sobre as práticas que caracterizam as abordagens da administração pú-
blica na gestão de resíduos sólidos. Aplicou-se a técnica de análise de conteúdo (Bardin, 
2009). Foram entrevistados 48 atores sociais envolvidos na gestão de resíduos sólidos 
de um município de Minas Gerais. Os entrevistados foram categorizados em três setores: 
Setor Público (SPu), Setor Privado (SPr) e Terceiro Setor (TS). Além disso, foram coletados 
dados por meio das seguintes técnicas: pesquisa documental, observação e anotações 
de campo.
189 
Para a análise deste estudo utilizou-se a análise de conteúdo, proposta por Bardin (2009), 
que se refere a uma técnica para analisar as comunicações por meio de procedimentos 
sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens. Segundo Triviños 
(1995) a análise de conteúdo estrutura-se em: a) pré-análise, que corresponde aos pro-
cessos de classiicação, ordenação e leitura “lutuante” de todo o material coletado, vi-
sando obter um panorama geral e posteriormente os recortes e hipóteses de estudo; b) 
descrição analítica que a partir da delimitação do recorte a ser estudado realiza-se um 
aprofundamento, aplicando-se os procedimentos de codiicação, classiicação e catego-
rização do material coletado por critérios de ainidades; c) interpretação que consiste na 
análise do material baseado na relexão e intuição, relacionando o conteúdo explícito 
com o conteúdo implícito, ou seja, aquele que não é dito explicitado no texto, a im 
de descobrir as ideologias, as tendências, ou fenômenos sociais expressos no material 
coletado.
Resultados e Conclusões
Os resultados explicitaram que nenhuma abordagem da administração pública apare-
ceu nas relações na sua forma pura, apresentando-se combinada umas com as outras. 
Veriicou-se que as relações do poder público e sociedade, no gerenciamento dos resí-
duos sólidos de um município de Minas Gerias, apresentaram evidências das aborda-
gens patrimonialista, burocrática, gerencial, societal e sistêmica. As entrevistas demons-
traram resquícios do patrimonialismo nas relações. O clientelismo e nepotismo, citado 
por Bresser-Pereira (2005) como características do patrimonialismo foram encontrados 
nos discurso, uma vez que as pessoas que se tornavam membro do CODEMA eram polí-
ticas e utilizavam o órgão para benefício próprio e de seus conhecidos: [...]
O legalismo, formalismo, controle e impessoalidade citado por Bresser-Pereira (2005) fo-
ram encontrados nos discursos. Percebe-se que existe uma exigência do cumprimento 
da lei mesmo que não gere o resultado mais participativo e social. [...]
As características mencionadas por Bresser-Pereira (2005) e Paes de Paula (2005) de 
uma abordagem gerencial, como por exemplo, uma maior descentralização, terceiri-
zação dos serviços e estratégias neoliberais foram encontradas em diversos discursos 
demonstrando a presença do modelo gerencial no gerenciamento dos resíduos sólidos 
do município. [...]
O discurso dos entrevistados comprovou que existe a abordagem societal nas relações. 
A Associação dos Catadores do município teve a sua origem no Fórum de Lixo Munici-
pal. O poder público e a sociedade promoveram um fórum. Assim, a população partici-
pou, discutiu e sugeriu uma associação de catadores. A abordagem societal, conforme 
Paes de Paula (2005), refere à participação popular na formulação e implementação das 
ações públicas; à valorização dos conselhos gestores de políticas públicas e fórum temá-
tico; e ao controle social. [...]
A análise do discurso apresentou indícios de um “Estado em rede” (Klering, Porsse&Gua-
dagnin, 2010). No discurso foi possível identiicar tendências da abordagem sistêmica 
190 
nas relações do poder público e sociedade. Pode ser destacado no discurso de um dos 
entrevistados, que o município visa uma interação em redes: “Já pensamos em consórcio 
entre os municípios para fazer a gestão dos resíduos sólidos. Estamos tentando uma 
parceria com os municípios vizinhos”. (SPu). Percebe-se nos discursos e na pesquisa do-
cumental que o município já tem feito parcerias que envolvem diversos atores sociais.
Fonte: Ribeiro (2012).
REFERÊNCIAS
ALMEIDA, R. Estudo de caso: foco temático e diversidade metodológica. In: ABDAL, 
A.; OLIVEIRA, M. C. V.; GHEZZI, D. R.; SANTOS JÚNIOR, J. (Orgs.). Métodos de pesqui-
sa em Ciências Sociais: bloco qualitativo. São Paulo: Serviço Social do Comércio/
Centro Brasileiro de Análise e Planejamento, 2016. p. 60-72.
BATISTA, M.; DOMINGOS, A. Mais que boas intenções: técnicas quantitativas e qua-
litativas na avaliação de impacto de políticas públicas. Revista Brasileira de Ciên-
cias Sociais, v. 32, n. 94, jun. 2017. p. 1-24.
BEUREN, I. M. (Org.). Como elaborar trabalhos monográicos em contabilidade: 
teoria e prática. São Paulo: Atlas, 2003.
BRUYNE, P.; HERMAN, J.; SCHOUTHEETE, M. Dinâmica da pesquisa em ciências so-
ciais: os polos da prática metodológica. 2. ed. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1982.
CAMPELLO, T.; NERI, M. C. Programa Bolsa Família: uma década de inclusão e cida-
dania. Brasília: Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, 2013.
CHIRNEV, L. Análise e prospecção de problemas nacionais e locais. Maringá: Uni-
cesumar, 2018.
COELHO, V. S. R. P. Abordagens qualitativas e quantitativas na avaliação de políticas 
públicas. In: ABDAL, A.; OLIVEIRA, M. C. V.; GHEZZI, D. R.; SANTOS JÚNIOR, J. (Orgs.). 
Métodos de pesquisa em Ciências Sociais: bloco qualitativo. São Paulo: Serviço 
Social do Comércio/Centro Brasileiro de Análise e Planejamento, 2016. p. 76-99.
DAHL, R. A. Poliarquia: participação e oposição. São Paulo: Universidade de São 
Paulo, 1997.
GAMBOA, S. S. Pesquisa em educação: métodos e epistemologias. Chapecó: Argós, 
2007.
GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. 3. ed. São Paulo: Atlas, 1996.
GIMENES, E. R. Cultura política e democracia: apoio difuso e especíico entre um 
segmento da elite não estatal do município de Maringá (PR). 2011. 178 f. Dissertação 
(Mestrado em Ciências Sociais) - Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais. 
Universidade Estadual de Maringá, Maringá, 2011.
______. E. R. Teoria das elites e as elites do poder: considerações sobre a relevância 
dos teóricos clássicos e de Wright Mills aos estudos de cultura política e democracia. 
Agenda Política, v. 2, 2014. p. 119-151.
______. E. R. Estado, governo e políticas públicas. Maringá: Unicesumar, 2018.
HENKEL, K. A categorização e a validação das respostas abertas em surveys políticos. 
Opinião Pública, v. 23, n. 3, set./dez. 2017. p. 786-808.
MINAYO, M. C. S.; ASSIS, S. G.; SOUZA, E. R. (Orgs.). Avaliação por triangulação de 
métodos: abordagem de programas sociais. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2005.
REFERÊNCIAS
193
MINAYO, M. C. S.; SANCHES, O. Quantitativo-qualitativo: oposição ou complementa-
ridade? Cadernos de Saúde Pública, v. 9, n. 3, jul./set. 1993. p. 239-262.
MORSE, J. M. Approaches to qualitative-quantitative methodological triangulation. 
Nursing Research, v. 40, n. 1, 1991. p. 120-132. 
OLIVEIRA, A. Análise de conjuntura: conceitos e aplicações. Em Debate, v. 6, n. 1, 
2014. p. 24-35.
RÊGO, W. D. L.; PINZANI, A. Liberdade, dinheiro e autonomia: o caso do Programa 
Bolsa Família. In: CAMPELLO, T.; NERI, M. C. Programa Bolsa Família: uma década 
de inclusão e cidadania. Brasília: Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, 2013.
RIBEIRO, L. M. P. Relações entre poder público e sociedade na gestão de resíduos só-
lidos de um município de Minas Gerais: uma análise sob o enfoque das abordagens 
da Administração Pública. In: ENCONTRO DE ESTUDOS ORGANIZACIONAIS, 7., 2012, 
Curitiba. Anais… Curitiba: Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em 
Administração, 2012.
RIPARI, A. Olhar "sobre"a desigualdade: um estudo da cultura política de dirigen-
tes de FASFIL maringaenses. 2013. 119 f. Dissertação (Mestrado em Ciências Sociais) 
- Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais. Universidade Estadual de Marin-
gá, Maringá, 2013.
RITCHIE, J. The applications of qualitative methods to social research. In: RITCHIE, J.; 
LEWIS, J. (Ed.). Qualitative research practice: a guide for social science student san-
dre searchers. London: Sage Publications, 2003. p. 24-46.
SAMAJA, J. La combinación de métodos: pasos para una comprensión dialéctica del 
trabajo interdisciplinario. Educación Médica y Salud, v. 26, n. 1, 1992. p. 4-34. 
SANTOS FILHO, J. C. Pesquisa quantitativa versus pesquisa qualitativa: o desaio pa-
radigmático. In: SANTOS FILHO, J. C.; GAMBOA, S. S. (Orgs.). Pesquisa educacional: 
quantidade-qualidade. São Paulo: Cortez, 1995. p. 84-111. 
SOARES, G. O calcanhar metodológico da Ciência Política no Brasil. Sociologia, Pro-
blemas e Práticas, n. 48, 2005. p. 27-52.
SOUZA, H. J. de. Como se faz análise de conjuntura. 26. ed. Petrópolis: Vozes, 2005.
SOUZA, K. R.; KERBAUY, M. T. M. Abordagem quanti-qualitativa: superação da dicoto-
mia quantitativa-qualitativa na pesquisa em educação. Educação e Filosoia, v. 31, 
n. 61, jan./abr. 2017. p. 21-44.
YIN, R. K. Estudo de caso: planejamento e métodos. 2. ed. Porto Alegre: Bookman, 
2001.
GABARITO
1. Opção correta é a C.
2. Opção correta é a E.
3. Opção correta é a D.
4. Opção correta é a C.
5. Opção correta é a E.
U
N
ID
A
D
E V
Professor Dr. Éder Rodrigo Gimenes
TÓPICOS ESPECIAIS SOBRE 
A PESQUISA EM GESTÃO 
PÚBLICA
Objetivos de Aprendizagem
 ■ Tratar de aspectos relacionados à prática ética de pesquisa em gestão 
pública.
 ■ Expor os elementos centrais à contextualização de relatórios de 
pesquisas no campo da gestão pública.
 ■ Discorrer sobre apresentação de resultados e de conclusões de 
pesquisas no campo da gestão pública.
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
 ■ Ética proissional e na pesquisa em gestão pública
 ■ Relatórios de pesquisas em gestão pública: contexto e referencial
 ■ Relatórios de pesquisas em gestão pública: resultados e conclusões
INTRODUÇÃO
O caminho destacado na apresentação deste material didático atinge seus últi-
mos passos nesta quinta unidade de estudos, quando nosso olhar se debruça 
sobre tópicos especiais à realização de pesquisas no âmbito da gestão pública.
O primeiro tópico destacado remete a um aspecto que deveria ser premissa 
aos gestores públicos: a ética. Tomando como especiicidade o escopo determinado 
para esta disciplina, trataremos na seção inicial desta unidade de considerações 
acerca da necessidade de posicionamento ético, tanto na gestão pública quanto 
na realização de pesquisas nesta área do conhecimento e de atuação.
O segundo tópico especial exige cuidado e atenção por se tratar de uma 
temática com menor destaque no dia a dia da gestão pública, o que justiica sua 
abordagem em duas seções. Trata-se da elaboração de relatórios de resultados 
de pesquisas em gestão pública.
Nesse sentido, a segunda seção desta unidade de estudos aborda dois ele-
mentos que compõem a estrutura de tais relatórios, quais sejam: primeiramente, 
a contextualização referente aos objetivos e motivações à realização de investi-
gações sobre atividades de determinado órgão público ou de um projeto, ação 
ou programa especíico; em segundo lugar, a explanação acerca dos referenciais 
que balizaram a realização da pesquisa, majoritariamente relacionados à pró-
pria estrutura institucional burocrática.
Por im, a terceira seção diz respeito aos elementos analíticos do relatório, 
uma vez que remetem à apresentação e interpretação dos dados coletados e às 
conclusões extraídas da análise desses dados, considerando, inclusive, os ele-
mentos abordados na segunda seção desta unidade de estudos.
Tomadas em conjunto, a segunda e a terceira seção abordam, portanto, con-
siderações acerca dos elementos componentes de um relatório de resultados de 
pesquisas em gestão pública, de modo que representam o ponto de chegada de 
nosso caminho nessa discussão sobre métodos e técnicas de pesquisa.
São nossos últimos passos nesta jornada. Bons estudos!
Introdução
R
ep
ro
d
u
çã
o
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o
 C
ó
d
ig
o
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
ir
o
 d
e 
19
98
.
197
ÉTICA PROFISSIONAL E NA PESQUISA EM GESTÃO 
PÚBLICA
A relexão sobre a realização de pesquisas no âmbito da gestão pública não pode 
ocorrer dissociada daquela que se debruça sobre a ética pertinente ao desempe-
nho proissional, uma vez que as atividades de investigação devem ocorrer com 
o intuito de melhorar o desempenho ou otimizar as ações de servidores, setores, 
processos, projetos ou de políticas públicas. De acordo com Ribeiro (2013, p. 11):
a gestão pública, presente nas instituições públicas, é a responsável por 
direcionar as ações voltadas para o interesse público, em geral por meio 
de prestação de serviços, estes regulamentados por lei e que devem ser 
acessados pelos cidadãos.
É função, então, da gestão pública conduzir a ação do Estado com vistas à con-
secução de políticas públicas e de atividades burocráticas no sentido de otimizar 
a utilização de recursos humanos, materiais, inanceiros e de tempo com vistas 
ao atendimento de necessidades de coletividades e/ou da população em geral.
Em se tratando do papel do gestor público, este deve ser de busca perma-
nente pelo desenvolvimento de atividades que permitam, em última instância, 
TÓPICOS ESPECIAIS SOBRE A PESQUISA EM GESTÃO PÚBLICA
R
ep
ro
d
u
ção
 p
ro
ib
id
a. A
rt. 184 d
o
 C
ó
d
ig
o
 Pen
al e Lei 9.610 d
e 19 d
e fevereiro
 d
e 1998.
VU N I D A D E198
Ética Proissional e na Pesquisa em Gestão Pública
R
ep
ro
d
u
çã
o
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o
 C
ó
d
ig
o
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
ir
o
 d
e 
19
98
.
199
atender àquilo que é foco também da gestão social: alterar de maneira positiva a 
realidade social na qual os cidadãos que conformam uma instância estatal estão 
subscritos (município, unidade federativa ou União).
Nesse sentido, é preciso ressaltar que há competências que cabem aos gestores 
sociais e aos gestores públicos, de modo que, sem esgotar esse debate (presente ao 
longo desta e das demais disciplinas do curso), elencamos, a seguir, a compilação 
sintética efetuada por Gimenes, Souza e Santiago (2018) acerca das competên-
cias que devem ser desenvolvidas por gestores sociais, ao que considero incluir os 
gestores públicos pelo fato de que são gestores do ente social e público (Estado):
Figura 1 - Competências a serem desenvolvidas por gestores sociais 
Fonte: Gimenes, Souza e Santiago (2018).
TÓPICOS ESPECIAIS SOBRE A PESQUISA EM GESTÃO PÚBLICA
R
ep
ro
d
u
ção
 p
ro
ib
id
a. A
rt. 184 d
o
 C
ó
d
ig
o
 Pen
al e Lei 9.610 d
e 19 d
e fevereiro
 d
e 1998.
VU N I D A D E200
Diante desse conjunto de competências, espera-se que os gestores públicos desen-
volvam suas atividades de maneira ética, ou seja, baseados em valores e princípios 
que remetem ao bem comum, inalidade última do Estado. 
No âmbito da gestão pública, assumir uma postura ética implica desem-
penhar as funções com zelo, responsabilidade, respeito e vistas à inalidade da 
coisa pública, de maneira impessoal, com tratamento indistinto aos cidadãos e 
sem dispensar privilégios (GOMES, 2014).
Ainda que o senso comum associe a gestão pública à corrupção, é preciso 
ter como princípio norteador a postura ética. Sobre o comportamento negativo 
ora mencionado, Gomes (2014, p. 1030) airma que:
a corrupção é a expressão dos valores de uma dada cultura que justiica 
a exploração de uma pessoa sobre outra e que condecora o mais ‘esper-
to e perspicaz’. Ela expõe a falência da ética que garante a vida e que é 
baseada na consciência de que cadaação pessoal se relete no contexto 
social e no universo particular do indivíduo. Quando praticada na ad-
ministração pública, a corrupção expõe um universo de inversão de 
valores no qual prevalecem interesses particulares em detrimento dos 
interesses públicos.
Ainda de acordo com a autora, é fundamental que haja, por parte dos gestores 
públicos, o comprometimento com o combate à corrupção e, em paralelo ou 
em contrapartida, também o estímulo e o fomento ao desenvolvimento de prá-
ticas, valores e princípios éticos. Em suas palavras, Gomes (2014, p. 1048) airma 
que, “além do controle, apuração, transparência, responsabilização e aplicação 
de penas severas a atos ligados à corrupção, é essencial a promoção pelo gestor 
de ações formativas, educacionais e relexivas no trabalho”.
O estabelecimento de uma postura ética por parte dos gestores públicos 
deve se manifestar em todas as atividades desempenhadas, o que envolve o 
desenvolvimento de pesquisas. Nesse sentido, assim como em outros campos 
do conhecimento nos quais investigações são realizadas (seja com inalidade 
cientíica, de mercado ou social), a pesquisa em gestão pública deve observar 
princípios éticos e legais que perpassam o planejamento, a execução, a análise 
de dados e informações, a sistematização e a divulgação dos resultados.
De acordo com Teixeira, Zamberlan e Rasia (2008), o objetivo da ética em 
uma pesquisa é assegurar que a atividade de investigação não prejudique os 
Ética Proissional e na Pesquisa em Gestão Pública
R
ep
ro
d
u
çã
o
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o
 C
ó
d
ig
o
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
ir
o
 d
e 
19
98
.
201
participantes. Para tanto, algumas ações são imprescindíveis, como o anoni-
mato dos respondentes ou envolvidos e a clareza, por parte dos pesquisadores, 
ao explicar a inalidade da pesquisa e as motivações que os levaram a buscar cole-
tar dados junto a determinado indivíduo, entidade ou órgão.
Ainda que não haja uma abordagem única para tratar de ética ou sobre ética 
na pesquisa em gestão pública, alguns aspectos relacionados às investigações 
cientíicas também devem ser observados no campo especíico relacionado a 
este curso de graduação, por exemplo:
 ■ O consentimento dos participantes da pesquisa, sejam os respondentes 
ou os responsáveis pela liberação do acesso a dados e informações, deve 
ser formalizado por meio de documento expresso.
 ■ Ainda que um indivíduo tenha se disposto a participar de uma pes-
quisa ou procedimento, é legítimo o direito de sentir-se incomodado ou 
mesmo de se negar a responder a determinado estímulo, solicitação ou 
questionamento.
 ■ A coleta de dados — tema de unidades anteriores de estudos — implica 
em conjuntos de procedimentos que devem ser seguidos de maneira 
correta, a im de garantir a qualidade daquilo que foi coletado e que sua 
interpretação conduza a resultados verossímeis.
 ■ Não se deve violar acordos de não-revelação de informações, uma vez 
que pode haver solicitação para que determinados conteúdos de docu-
mentos ou de falas não sejam considerados ou não sejam publicizados 
após a análise.
A realização de pesquisas que envolvam seres humanos deve obedecer a 
critérios especíicos legais, determinados pelo atendimento às condições 
para registro e avaliação junto à Plataforma Brasil, responsável pela norma-
tização de comitês de ética em pesquisas no país.
Fonte: o autor.
TÓPICOS ESPECIAIS SOBRE A PESQUISA EM GESTÃO PÚBLICA
R
ep
ro
d
u
ção
 p
ro
ib
id
a. A
rt. 184 d
o
 C
ó
d
ig
o
 Pen
al e Lei 9.610 d
e 19 d
e fevereiro
 d
e 1998.
VU N I D A D E202
Um último aspecto é destacado por Teixeira, Zamberlan e Rasia (2008), a realiza-
ção de pesquisas de maneira ética no âmbito da gestão pública deve ser permeada 
pela atuação mais objetiva possível dos envolvidos, sem interferência de tendên-
cias ou motivações de ordem pessoal, uma vez que tais fatores podem conduzir a 
seleção de objetos, deinições de técnicas de coleta e de análise de dados e cons-
trução de relatórios de pesquisa tendenciosos, enviesados ou mesmo inverídicos.
Com relação a este aspecto, não apenas na realização de pesquisas, mas em 
toda a gestão pública, é importante considerar a atuação mais objetiva e impar-
cial possível, a im de evitar resultados deturpados. Um exemplo nesse sentido 
foi exposto por Lyra (2009) em sua análise sobre o funcionamento das ouvidorias 
públicas, cuja crítica mais recorrente com relação ao seu desempenho e capaci-
dade de contribuição à melhoria do funcionamento da gestão pública é o fato de 
que, majoritariamente, os ouvidores são escolhidos pelo responsável pelo órgão 
a ser iscalizado, o que signiica que o indivíduo que ocupa posição superior ao 
ouvidor e tem autonomia e poder com relação à sua permanência ou substitui-
ção na função deveria ter sua gestão investigada, criticada ou mesmo combatida 
(a depender da ação) pela Ouvidoria.
No caso de servidores públicos, o anonimato é critério ético imprescindível 
à realização de pesquisas, bem como à qualidade dos dados coletados. De-
clarar-se como respondente alteraria suas respostas?
Relatórios de Pesquisas em Gestão Pública: Contexto e Referencial
R
ep
ro
d
u
çã
o
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o
 C
ó
d
ig
o
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
ir
o
 d
e 
19
98
.
203
RELATÓRIOS DE PESQUISAS EM GESTÃO PÚBLICA: 
CONTEXTO E REFERENCIAL
São muitas as maneiras como é possível apresentar dados decorrentes de pesqui-
sas, de modo geral, o que se repete também quando tratamos especiicamente 
do campo da gestão pública. 
Assim, tais apresentações assumem distintas composições a depender de 
aspectos como a quantidade e profundidade das informações expostas, bem 
como do público ao qual se destinam.
De maneira sintética, podemos mencionar reports com resultados gráicos e 
análises sucintas de dados, panletos ou outras peças publicitárias com informa-
ções gerais e relatórios de análises. Ao passo que os primeiros são úteis enquanto 
materiais de apoio para exposições orais sobre os resultados, os segundos dizem 
respeito às informações que circulam à população e os últimos são utilizados 
por públicos amplos, uma vez que são compostos por elementos que permitem 
maior detalhamento sobre as ações dos entes públicos.
É relevante destacar, entretanto, que um mesmo conteúdo pode ser abor-
dado com diferentes linguagens. Por exemplo, o balanço sobre o cumprimento 
TÓPICOS ESPECIAIS SOBRE A PESQUISA EM GESTÃO PÚBLICA
R
ep
ro
d
u
ção
 p
ro
ib
id
a. A
rt. 184 d
o
 C
ó
d
ig
o
 Pen
al e Lei 9.610 d
e 19 d
e fevereiro
 d
e 1998.
VU N I D A D E204
de promessas de campanha de eleitos para cargos executivos pode ser ilustra-
tivo (report) em uma convenção partidária ou mesmo em uma reunião com 
assessores e membros do alto escalão público, mas para a população em geral, 
é possível apresentar uma lista de ações desenvolvidas e outra daquilo que deve 
ser pautado nos anos seguintes. Para a tomada de decisões pelos entes públi-
cos (como gestores, demais servidores, membros do Legislativo etc.) é preciso 
maior detalhamento sobre as ações implementadas, considerando aspectos posi-
tivos e negativos.
Da mesma maneira, representantes de grupos organizados da sociedade civil 
— articulados em movimentos sociais, associações, organizações do Terceiro 
Setor etc. — exigem, dos gestores públicos, a prestação de contas sobre os recur-
sos investidos e sobre as atividades executadas.
Diante do exposto, os relatórios de resultados são mais completos e mais 
complexos dentre as maneiras de apresentar avaliações no campo da gestão 
pública, de modo que são expostos os itens que coniguram elementos básicos 
de relatórios dessa natureza, quais sejam: contextualização, referências, apre-
sentação e análise de resultados e conclusões. Nesta seção, trataremos dos dois 
primeiros elementos.
Sobre tais elementos, é salutar destacartrês aspectos. Primeiro, a literatura 
acadêmica é incipiente na abordagem da temática à gestão pública, de modo que 
os elementos a seguir foram destacados pelo autor deste material didático com 
base em sua experiência de quase duas décadas de atuação no serviço público. 
Em segundo lugar, é relevante mencionar que tais elementos não são obri-
gatórios e não há legislação que determine a composição de tais relatórios, de 
modo que os conteúdos abordados podem constar de maneira incompleta, con-
junta ou conforme descritos na sequência.
Por im, com a inalidade de ilustrar a abordagem desta seção, utilizo excer-
tos de relatórios de gestão de órgãos públicos especíicos, quais sejam: Secretaria 
Municipal de Segurança e Defesa do Cidadão de Florianópolis - PROCON (SC) 
- 2010 e Departamento de Planejamento da Prefeitura de Manaus (AM) - 2014. 
Nesta seção, os exemplos são identiicados pelos municípios, em menção aos 
órgãos aqui expostos.
Relatórios de Pesquisas em Gestão Pública: Contexto e Referencial
R
ep
ro
d
u
çã
o
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o
 C
ó
d
ig
o
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
ir
o
 d
e 
19
98
.
205
CONTEXTUALIZAÇÃO
Elemento inicial de um relatório de apresentação de resultados, no qual cons-
tam informações introdutórias à interpretação dos dados, como o período e a 
extensão geográica aos quais se referem, o objetivo da publicação e o conteúdo 
do relatório. De maneira resumida, a contextualização deve ser clara, de modo 
a proporcionar aos usuários/leitores a percepção acerca do que trata o conte-
údo do relatório.
Em se tratando dos exemplos selecionados, os casos dos órgãos de Manaus 
e de Florianópolis são distintos: enquanto o primeiro destaca os objetivos da 
publicação, os principais aspectos considerados e é inalizado com uma mensa-
gem aos cidadãos, o segundo aborda o objetivo, o conteúdo e a expectativa do 
ente público com o relatório.
MANAUS
O presente Relatório de Gestão tem por desígnio positivar as princi-
pais realizações da Secretaria Municipal de Administração Planeja-
mento e Gestão nos meses de março a junho de 2014, elaborado pelo 
Departamento de Planejamento compilando e destacando as ações 
de toda a Secretaria.
Neste primeiro relatório, abrangendo os meses de março a junho de 
2014, destacamos que foram priorizadas ações que contribuíssem 
para a modernização da Administração, bem como para a participa-
ção, valorização e aperfeiçoamento dos servidores.
No escopo deste Relatório, salientamos o avanço na implantação do 
IRP (Intenção de Registro de Preços), destacando-se de igual forma, 
o monitoramento das Contas Públicas com ações que desembocaram 
na redução de gastos, comparativamente a 2013.
Estas ações são alguns exemplos de importantes iniciativas durante este 
primeiro semestre de 2014. Uma visão mais completa e detalhada das 
atividades desempenhadas por cada uma das unidades que compõem a 
Secretaria somente poderá ser extraída da análise completa do vertente 
relato.
Observamos que novos desaios surgirão e serão enfrentados com 
determinação e ainco.
Ratiicamos no ensejo o comprometimento de todos os que perfazem 
a atual gestão (MANAUS, 2014, p. 3, on-line).
TÓPICOS ESPECIAIS SOBRE A PESQUISA EM GESTÃO PÚBLICA
R
ep
ro
d
u
ção
 p
ro
ib
id
a. A
rt. 184 d
o
 C
ó
d
ig
o
 Pen
al e Lei 9.610 d
e 19 d
e fevereiro
 d
e 1998.
VU N I D A D E206
FLORIANÓPOLIS
Visando atender ao disposto na Lei Orgânica do Município de Floria-
nópolis, em seu Art. 82, inciso III, bem como subsidiar a elaboração 
da mensagem a ser enviada à Câmara Municipal por ocasião da aber-
tura da sessão legislativa, o PROCON Municipal de Florianópolis 
apresenta o Relatório de Gestão referente ao exercício de 2010.
Inicialmente, o Relatório de Gestão apresenta informações institucio-
nais da Diretoria. Na sequência são apresentadas as principais ações 
e atividades desenvolvidas durante o ano de 2010, em conformidade 
com os trabalhos desempenhados pela entidade, por intermédio de 
suas gerências e assessorias. Por im, são apresentadas algumas con-
siderações e recomendações para o exercício de 2011, bem como as 
metas pretendidas.
Com o presente relatório o PROCON Municipal de Florianópolis, a 
par de atender às exigências legais, presta contas da sua atuação em 
relação ao controle de resultados e permite aos órgãos iscalizadores a 
apreciação e a avaliação das suas ações, além de contribuir para o for-
talecimento da administração pública e para o pleno exercício da ci-
dadania e da accountability . (FLORIANÓPOLIS, 2010, p. 4, on-line).
Sobre tais contextualizações, algumas observações são relevantes. No caso de 
Manaus, termos que não são de conhecimento amplo da população podem 
diicultar a interpretação dos resultados do relatório, ainda que o mesmo esteja 
disponível na internet. “O presente Relatório de Gestão tem por desígnio posi-
tivar [...]” reúne dois termos que não necessariamente remetem ao cotidiano da 
população, sendo que o segundo se refere à linguagem do campo do Direito: 
“desígnio” e “positivar” (MANAUS, 2014, p. 3, on-line).
Desígnio é a intenção de realizar algo, um propósito. Positivar signiica tor-
nar real, evidente ou concreto.
Fonte: o autor.
Relatórios de Pesquisas em Gestão Pública: Contexto e Referencial
R
ep
ro
d
u
çã
o
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o
 C
ó
d
ig
o
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
ir
o
 d
e 
19
98
.
207
Com relação à contextualização do relatório de Florianópolis, chama a aten-
ção inicialmente a menção à legislação municipal, já que as ações no âmbito da 
gestão pública são permeadas por normas e leis, ainda que tal relação não seja 
evidenciada à população. 
REFERÊNCIAS
Um relatório deve expor a caracterização do(s) ente(s) público(s) relacionado(s) 
a determinada atividade analisada. Nesse sentido, são referências ao relatório os 
aspectos que permitem aos leitores/usuários identiicar as condições de funcio-
namento de determinado órgão público.
No caso de Manaus, por se tratar de um departamento, o relatório destaca a 
estrutura de organização administrativa do órgão, com ilustração de seu orga-
nograma e descrição de setores que desempenham atividades de assistência, 
assessoramento, colegiados, de apoio à gestão e de atividades inalísticas, como 
no exemplo a seguir:
Assessoria de Comunicação - ASCOM
A Assessoria de Comunicação é responsável pela divulgação das 
ações e atividades da SEMAD, por meio de elaboração de matérias 
jornalísticas veiculadas nos meios de comunicação (jornal, televisão 
e rádio) bem como nos eletrônicos, incluindo site e facebook institu-
cional (MANAUS, 2014, p. 5, on-line).
No caso do órgão catarinense, as referências à estrutura remetem, assim como a 
contextualização do relatório, a aspectos legais, com destaque à caracterização 
da unidade (PROCON), suas competências e estratégias de atuação e seu qua-
dro de servidores.
O PROCON Municipal de Florianópolis - PROCON, vinculado di-
retamente a Secretaria Municipal de Segurança e Defesa do Cidadão, 
foi instituído pela Lei Complementar nº 189/200, regulamentado 
pelo Decreto nº 7618/2009 e as demais alterações oriundas das Leis 
Complementares nº 348/2010 e 370/2010.
No âmbito da atuação do PROCON Municipal de Florianópolis des-
tacam-se as seguintes competências, em conformidade com seu re-
gimento interno:
TÓPICOS ESPECIAIS SOBRE A PESQUISA EM GESTÃO PÚBLICA
R
ep
ro
d
u
ção
 p
ro
ib
id
a. A
rt. 184 d
o
 C
ó
d
ig
o
 Pen
al e Lei 9.610 d
e 19 d
e fevereiro
 d
e 1998.
VU N I D A D E208
I - assessorar o Prefeito Municipal na formulação da política do Siste-
ma Municipal de Proteção e Defesa do Consumidor;
II - planejar, elaborar, propor e executar a política do Sistema Munici-
pal de Defesa dos direitos e interesses dos consumidores;
[...] (FLORIANÓPOLIS, 2010, p. 6, on-line). 
RELATÓRIOS DE PESQUISAS EM GESTÃO PÚBLICA: 
RESULTADOS E CONCLUSÕES
Para além deaspectos que permitem ao leitor/usu-
ário compreender quais foram os elementos que 
determinaram a necessidade de realização de uma 
pesquisa (problema, questão e objetivo) e quais as 
estruturas estatais relacionadas à sua consecução, 
é preciso lembrarmos que as seções principais de 
um relatório são aquelas que tratam da apresen-
tação e da análise dos resultados da investigação 
e das conclusões da atividade de pesquisa.
Sobre tais elementos, para além da aborda-
gem descritiva e ilustrativa desta seção, cabe destacar que, ao longo das unidades 
anteriores deste material didático, foram expostos múltiplos pontos a ser con-
siderados, tais como a determinação do escopo a ser analisado, dos métodos e 
técnicas para coleta e análise de dados e, em alguma medida, também de apre-
sentação de resultados.
Assim, nesta seção, cabe sintetizar tais pontos, a im de concluir o caminho 
que estabelecemos para esta disciplina ainda na apresentação deste livro. Para 
tanto, os exemplos abordados referem-se aos mesmos relatórios de gestão ante-
riormente mencionados na segunda seção desta unidade de estudos.
Relatórios de Pesquisas em Gestão Pública: Resultados e Conclusões
R
ep
ro
d
u
çã
o
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o
 C
ó
d
ig
o
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
ir
o
 d
e 
19
98
.
209
APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DE RESULTADOS
Após a exposição do contexto que permeia o relatório e a apresentação acerca 
do(s) órgão(s) relacionado(s) às ações, é possível explorar os resultados de deter-
minada atividade, o que necessariamente está relacionado à realização de uma 
pesquisa para a geração e interpretação dos dados. Em outras palavras, a pro-
dução de um relatório é perpassada, com relação a este elemento, por destacar 
os métodos e técnicas de coleta e de análise de dados, bem como pela explana-
ção sobre os resultados decorrentes de tal investigação.
O relatório referente ao caso de Manaus aborda a apresentação de indicadores, 
de metas e de resultados referentes aos distintos setores e atividades analisadas, 
os quais são sintetizados em um quadro, destacados a seguir:
Quadro 1 - Apresentação de indicadores, metas e resultados referentes aos setores e atividades de Manaus
DEPARTAMENTO DE CONTROLE DE CONTAS PÚBLICAS - DCCP
INDICADORES META RESULTADOS
Acompanhamento das 
metas contingente no 
período de referência
Economia de 10% do 
valor referente a 2013 em 
todos os vetores
20,41% acima da meta 
proposta
Tempo de atendimento 
das demandas
Atender todas as deman-
das de todos os vetores 
no prazo de 05 dias
100% de atendimento
Prazo de tempo de análi-
se das faturas
Analisar as faturas no pra-
zo de 07 dias
80% de análise
Quantidade de inspeções 
técnicas
Realizar 66 inspeções 
técnicas mensais 
48% de inspeções técni-
cas realizadas
Fonte: Manaus (2014, p. 15, on-line).
A síntese dos dados analisados em um quadro é uma maneira de ilustrar resulta-
dos para facilitar sua visualização, especialmente em se tratando da comparação 
entre aspectos, como exposto anteriormente. 
Nesse sentido, o relatório de Florianópolis expõe as ações desenvolvidas pelas 
distintas áreas de atividades do PROCON, sendo apresentadas com o auxílio 
de gráicos, tabelas, quadros e por meio de textos. Para os casos relacionados a 
imagens, o relatório é exemplar no sentido de descrever do que se trata e quais 
os seus conteúdos.
TÓPICOS ESPECIAIS SOBRE A PESQUISA EM GESTÃO PÚBLICA
R
ep
ro
d
u
ção
 p
ro
ib
id
a. A
rt. 184 d
o
 C
ó
d
ig
o
 Pen
al e Lei 9.610 d
e 19 d
e fevereiro
 d
e 1998.
VU N I D A D E210
Os exemplos a seguir dizem respeito a três diferentes tipos de excertos com 
apresentação de resultados do órgão catarinense, sendo que o primeiro combina 
descrição textual e gráica, o segundo discorre sobre os resultados de maneira 
estritamente textual e o terceiro apresenta um quadro ilustrativo e um gráico 
referentes aos resultados discutidos.
[1] O setor de atendimento realizou 37.229 (trinta e sete mil e duzen-
tos e vinte e nove atendimentos) desde sua inauguração em 2007. Em 
2010 foram realizados 11.206 (onze mil duzentos e seis), conforme 
dados extraídos do Sistema Nacional de Informação de Defesa do 
Consumidor - SINDEC, em 15 de Dezembro de 2010.
Fonte: Florianópolis (2010, on-line).
Dos atendimentos realizados, 71% (setenta e um por cento) dos cidadãos que 
procuraram resolucionar sua demanda via PROCON tiveram seu problema 
resolvido imediatamente, sem necessidade de formalizar processo administra-
tivo, aumentando a coniabilidade e o respeito da entidade, bem como e evitando 
gastos com pessoal e material (FLORIANÓPOLIS, 2010, p. 10-11, on-line).
Relatórios de Pesquisas em Gestão Pública: Resultados e Conclusões
R
ep
ro
d
u
çã
o
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o
 C
ó
d
ig
o
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
ir
o
 d
e 
19
98
.
211
[2] A Gerência de Defesa do Cidadão é responsável pela promoção 
e articulação entre os departamentos e unidades que compõem o 
PROCON Municipal de Florianópolis, zelando pelo aprimorando 
das políticas de defesa do consumidor do município conjuntamente 
com as demais gerências e assessorias, sob a orientação do secretário 
e do diretor da entidade.
Ela é a responsável imediata pela emissão de pareceres técnicos, des-
pachos administrativos e por toda a gestão dos processos administra-
tivos junto ao Sistema Nacional de Informações de Defesa do Con-
sumidor vinculado a Secretaria de Direito Econômico do Ministério 
da Justiça.
Diante deste contexto, foram agendadas no órgão 3529 (três mil qui-
nhentas e vinte e nove) audiências conciliatórias, das quais 470 (qua-
trocentas e setenta) foram canceladas por resolução antecipada, 830 
(oitocentas e trinta) foram reagendadas e 18 (dezoito) não realizadas 
pelo não comparecimento de alguma das partes.
Ainda com relação a este total 2130 (duas mil cento e trinta) au-
diências apresentaram acordo, dos quais 244 (duzentas e quarenta 
e quatro) foram descumpridos e ou se encontram em análise para 
autuação ou já foram devidamente autuadas. Por outro lado, 1155 
(mil cento e cinquenta e cinco) audiências não apresentaram acordo 
e aguardam pelo despacho administrativo para notiicação de multa.
Além disso, foram emitidos 247 pareceres técnicos envolvendo pro-
cessos administrativos e 487 despachos administrativos, como tam-
bém 91 pareceres encaminhados para análise em segunda instância 
pelo Secretário Municipal de Segurança e Defesa do Cidadão.
A Gerência no decorrer do ano 2010 teve como trabalho inicial o 
mapeamento sistemático de todos os processos administrativos que 
se encontravam em tramitação no órgão desde 2007. Todos os pro-
cessos administrativos foram tramitados e devidamente classiicados 
no SINDEC e guardados em pastas separadas por ano e estas por sua 
vez distribuídas em conformidade com as classiicações de Funda-
mentada Atendida, Fundamentada Não Atendida e Não Fundamen-
tada Encerrada.
Tal organização proporcionou, posteriormente, o planejamento para 
o I Mutirão da Conciliação do Consumidor realizado, além da distri-
buição dos processos para as gerências e assessoria darem prossegui-
mento a análise, decisão e autuação dos casos (FLORIANÓPOLIS, 
2010, p. 12-13, on-line).
TÓPICOS ESPECIAIS SOBRE A PESQUISA EM GESTÃO PÚBLICA
R
ep
ro
d
u
ção
 p
ro
ib
id
a. A
rt. 184 d
o
 C
ó
d
ig
o
 Pen
al e Lei 9.610 d
e 19 d
e fevereiro
 d
e 1998.
VU N I D A D E212
[3] O departamento de iscalização do PROCON Municipal de Flo-
rianópolis promoveu intensa atividade iscalizatória e de orientação 
junto às empresas e comércio da Capital durante todo o ano de 2010. 
Os focos principais foram os Postos de Combustíveis, Lojas de Sho-
ppings Centers, Bancos e Supermercados.
Quando constatadas irregularidades, de acordo com a legislação que 
abrange cada tema, o PROCON emitiu autos de infração (multas) 
visando estimular a adequação as normas e a legislação vigente.Em 
2010 foram registradas 328 autuações, conforme especiica o quadro 
abaixo:
PROCON MUNICIPAL DE FLORIANÓPOLIS
SETOR DE FISCALIZAÇÃO
AUTO DE 
INFRAÇÃO/ TIPO
2010 (ATÉ A.L 463 DE 09/12/10)
JA
N
F
E
V
M
A
R
A
B
R
M
A
I
JU
N
JU
L
A
G
O
S
E
T
O
U
T
N
O
V
D
E
Z TOTAL/
TIPO
%
Cancelados - 1 - - - - - 3 - 1 - - 5 2%
Banco - Cobrança 
de Boleto Bancário
2 - - - - - - - - - - - 2 1%
Banco - Lei Muni-
cipal Florianópolis 
no 699/02
2 2 - 12 13 5 16 7 68 - 60 - 185 56%
Cobrança de Multa 
por Liquidação 
Antecipada
- 2 - - - - - - - - - - 2 1%
Cobrança Indevida 1 - - - - - - 11 - - - 8 20 6%
Cobrança Indevida 
/ Prática Abusiva
- - - - - - - - - - - 1 1 0%
Decreto nº 
5.903/06 - Afixação 
de Preço
- - - - - - 37 11 2 2 1 - 52 16%
Deixar de Sanar 
Vício do Produto
- - - - - - - 7 - 2 2 - 11 3%
Desativação de 
Linha Telefonica 
de Órgão Público
1 - - - - - - - - - - - 1 0%
Descumprimento 
de Acordo
- 1 1 - - - - - - - - - 2 1%
Relatórios de Pesquisas em Gestão Pública: Resultados e Conclusões
R
ep
ro
d
u
çã
o
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o
 C
ó
d
ig
o
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
ir
o
 d
e 
19
98
.
213
Descumprimento 
de Notiicação
- - - - - - - - - - - 1 1 0%
Envio de Produto 
sem Solicitação 
Prévia
1 - - - - - - 3 - - - - 4 1%
Falta de Informa-
ção - Aumento 
Mensalidade
- 1 - - - - - - - - - - 1 0%
Falta de Informa-
ção - Serviços Tele-
fônicos Ofertados
- - - - - - - - - 3 - - 3 1%
Indisponibilidade 
de Desbloqueio de 
Celular
- - - - - - - - - 1 - - 1 0%
Não Cumprimento 
à Oferta
5 - - - - - - 7 - 3 4 5 24 7%
Não Restituição 
de Quantia Paga 
Indevidamente
2 - - - - - - - - - - - 2 1%
Posto de Com-
bustível - Preço 
Diferenciado
- - - - - - 2 - - - - - 2 1%
Prática Abusiva - - - - - - - - - - - 1 1 0%
Produto com Vali-
dade Vencida
- - - - - - - - - - 1 - 1 0%
Produto com 
Validade Vencida/
Sem Informação 
do Glúten
- - - - - - - - - - 1 - 1 0%
Produto Sem Infor-
mação do Glúten
- - - - - - - - - - - 1 1 0%
Recusa à Demanda 
do Consumidor
5 - - - - - - - - - - - 5 2%
TOTAL/MÊS 19 7 1 12 13 5 55 48 70 12 69 17 328 100%
Fonte: Florianópolis (2010, on-line).
TÓPICOS ESPECIAIS SOBRE A PESQUISA EM GESTÃO PÚBLICA
R
ep
ro
d
u
ção
 p
ro
ib
id
a. A
rt. 184 d
o
 C
ó
d
ig
o
 Pen
al e Lei 9.610 d
e 19 d
e fevereiro
 d
e 1998.
VU N I D A D E214
Fazendo um comparativo com anos de 2008 e 2009, o número de 
autos de infração aplicados apresentou um aumento na ordem de 
520%. Esse índice representa um bom resultado em termos de ação 
iscalizatória e obteve grande destaque na mídia regional, pois pro-
porcionou credibilidade ao PROCON Municipal de Florianópolis 
como instância iscalizatória.
A grande maioria dos estabelecimentos iscalizados apresentou mu-
danças após as ações, respeitando, em cada caso, as determinações 
legais que foram apresentadas. Cabe salientar que estas ações propor-
cionaram a entrada dos primeiros montantes inanceiros na conta do 
Fundo Municipal de Defesa do Consumidor, o qual tem como políti-
ca de investimento fortalecer as ações e iniciativas em geral voltadas 
a garantir o cumprimento dos direitos dos consumidores.
Veja o gráico a seguir:
Fonte: Florianópolis (2010, p. 13-15).
Sobre tais possibilidades, é importante ressaltar aquilo que foi mencionado ao 
longo deste material didático em diversos momentos: a inalidade última de um 
relatório de pesquisa é gerar informações que permitam a comunicação daquilo 
que foi identiicado. Se tal premissa é relevante às investigações em geral, é ainda 
mais importante no campo da gestão pública, uma vez que as informações acerca 
da utilização de recursos públicos devem ser transparentes a toda população.
Relatórios de Pesquisas em Gestão Pública: Resultados e Conclusões
R
ep
ro
d
u
çã
o
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o
 C
ó
d
ig
o
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
ir
o
 d
e 
19
98
.
215
CONCLUSÕES
Trata-se das considerações inais do relatório, de modo que tal elemento é con-
formado por aspectos que remetem aos demais itens anteriormente destacados, 
uma vez que aborda a relação entre o objetivo da pesquisa, os aspectos referentes 
ao(s) ente(s) público(s) envolvido(s) na(s) atividade(s) e os resultados encontrados, 
de modo a estabelecer um balanço sobre o conteúdo do relatório como um todo.
Em se tratando dos exemplos selecionados, no caso do órgão de Manaus as 
conclusões tratam de constatações acerca dos resultados obtidos e sua interpre-
tação à luz do contexto e do referencial pertinentes à temática.
Os elementos para leitura e análise do presente Relatório, em cada 
detalhe departamental apresentado, fazem parte de um todo con-
sistente. Nosso objetivo foi mostrar a partir de um amplo espectro, 
detalhes da atuação da SEMAD neste quadrimestre, que ajudassem a 
identiicar o trabalho realizado por cada uma das unidades.
A SEMAD como atividade meio da administração, é diretamente 
responsável pela conformação e pela coordenação das políticas esbo-
çadas pelo Chefe do Executivo Municipal, e sua responsabilidade se 
dilata, no correspondente anseio de todas as Secretarias Municipais 
buscando soluções rápidas e satisfatórias.
Convém prevenir que o resultado inal não é a exposição de um mo-
delo acabado, mas um trabalho de difícil e prolongado processo de 
experiências.
Esperamos por im, que os elementos analíticos aqui expostos pos-
sam tornar a leitura e a análise menos árdua e mais compreensiva.
Ressaltamos a ativa participação de todos, imprescindível para o ade-
quado formato que ora apresentamos (MANAUS, 2014, p. 17, on-li-
ne).
Já em Florianópolis, as conclusões do relatório dizem respeito ao estabelecimento 
de metas e de projetos para o ano posterior àquele analisado, como determinação 
de objetivos, focos, justiicativas, públicos-alvos e parcerias. De maneira sinté-
tica, ao im da exposição, o relatório contempla algumas recomendações para 
ações futuras do PROCON, as quais são transcritas a seguir como ilustração:
TÓPICOS ESPECIAIS SOBRE A PESQUISA EM GESTÃO PÚBLICA
R
ep
ro
d
u
ção
 p
ro
ib
id
a. A
rt. 184 d
o
 C
ó
d
ig
o
 Pen
al e Lei 9.610 d
e 19 d
e fevereiro
 d
e 1998.
VU N I D A D E216
Durante o exercício de 2010 muitas foram as conquistas alcançadas 
pelo PROCON Municipal de Florianópolis. Entretanto, ainda há 
muito a fazer no sentido de continuar constantemente buscando o 
aprimoramento e a excelência no trato das questões envolvendo as 
relações consumeristas. As principais metas são:
 ■ Revisão do Regimento Interno;
 ■ Desenvolvimento de Planejamento Estratégico para a Diretoria;
 ■ Padronização de rotinas e procedimentos administrativos;
 ■ Capacitações na área do consumidor;
 ■ Capacitações junto ao PROCON Estadual e Brasília sobre o Sistema Nacional 
de Informações sobre o Consumidor;
 ■ Contratação de mais proissionais para atuação na área administrativa do órgão 
(FLORIANÓPOLIS, 2010, p. 10, on-line).
Pesquisas acadêmicas (como artigos, monograias, dissertações e teses) são 
compostas pelos elementos: introdução, referencial teórico, metodologia 
de pesquisa, apresentação e análise dos resultados e conclusão, além de 
elementos pré e pós-textuais.
Fonte: Teixeira, Zamberlan e Rasia (2008).
Considerações Finais
R
ep
ro
d
u
çã
o
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o
 C
ó
d
ig
o
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
ir
o
 d
e 
19
98
.
217
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A última unidade de estudos deste material didático ofereceu aos gestores públicos 
em formação a possibilidade de lançar olhares para dois elementos negligencia-
dos por parte dos entes públicos: ética e produção de relatórios.
No contexto contemporâneo nacional, a necessidade de discutir sobre ética 
se revela imprescindível à conformação dos espaços e instituições públicas, ainda 
mais se considerarmos a recorrência de denúncias relacionadas a escândalos de 
corrupção