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Eles não usam black tie

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MATERIAL DE LITERATURA – PROF. VIVIAN MORENO
ELES NÃO USAM BLACK TIE – GIANFRANCESCO GUARNIERI
A PEÇA
Primeira peça de Gianfrancesco Guarnieri, Eles não usam black-tie, de 1958, foi encenada pela primeira vez quando o movimento Cinema Novo começava a surgir e a convocar a arte ao neo-realismo. No lugar de cenários pomposos e figurinos luxuosos, ficaram apenas os elementos de cena indispensáveis. Ao invés de personagens ricos e nobres, operários e moradores do morro tomaram o palco. Ali, em plenos anos 50, negros eram cidadãos comuns. Pela primeira vez, os conflitos da realidade brasileira ganhavam espaço na caixa cênica.
Eles não usam black-tie situa-se numa favela, nos anos 50, e tem como tema a greve, e ao lado da greve a peça tem como pano de fundo um debate sobre as grandes verdades eternas, reflexões universais sobre a frágil condição humana, sobre os homens e seus conflitos. É a história de um choque entre pai e filho com posições ideológicas e morais completamente opostas e divergentes, o que, por sinal, dá a tônica dramática ao texto.
Embora, na convencional teoria de dramaturgia teatral não se enquadre essa abordagem, o drama social é de natureza épica (trajetória do herói) e por isso mesmo uma contradição em si mesma. Guarnieri quebrou também outra regra essencial, presente nos manuais do "bom drama": ao invés de trazer personagens "superiores" como protagonistas, ele se utilizou de gente humilde, trabalhadores comuns, para conduzir sua história. 
A temática não é política, muito menos panfletária. O que discorre são relações de amor, solidariedade e esperança diante dos percalços de uma vida miserável. Assim, a peça alia temas como greve e vida operária com preocupações e reflexões universais do ser humano. Sob o olhar de Karl Marx, em um retrato iluminado por um feixe de luz na parede do cenário, o debate entre a coletividade e o individualismo, simultaneamente cru e sensível, vai crescendo.
Um teatro nacional é possível
Eles Não Usam Black-Tie,escrita por Guarnieri e dirigida por José Renato, um dos fundadores do movimento do Teatro de Arena no Brasil, trata da greve operária, colocando em cena  trabalhadores (moradores de uma favela) e seus problemas socioeconômicos. O TBC (Teatro Brasileiro de Comédia) e a grande maioria das peças produzidas no país antes da década de 50 não tratavam da realidade vivida pelo nosso povo, ou seja, era o chamado teatro do entretenimento, muito presente ainda no cenário do teatro nacional. Ademais, esses textos tratavam da burguesia em peças geralmente cômicas, muito distantes da realidade brasileira. Daí o próprio nome Eles Não Usam Black-Tie, uma clara provocação a este velho teatro engessado das classes reacionárias.
TIÃO
O filho, Tião, em razão das prisões do pai grevista, é criado praticamente, na cidade, longe do morro, com os padrinhos, sem conviver com esse mundo de luta e reivindicação da classe operária. Hoje adulto e morando no morro com os pais, vive um dos maiores conflitos de sua vida. Em primeiro lugar não quer aderir à greve, pois acha que essa é uma luta inglória, sem maiores resultados para a classe. Em segundo lugar pretende se casar com Maria, moça simples, porém determinada e leal ao seu povo, e está esperando um filho seu. Desta forma, Tião está mais preocupado com o seu futuro do que com a luta de seus companheiros, que sonham com melhores salários. Para Tião, greve é algo utópico. Ele não tem tempo para esperar, precisa resolver seus problemas de imediato, ou seja, se casar.
É preciso esclarecer que Tiäo, fura a greve sem medo dos companheiros, achando que está agindo corretamente. Por essa atitude, acaba perdendo a amizade de todos de seu grupo, restando apenas um colega da fábrica e João, irmão de Maria, um homem ponderado e maduro capaz de compreender a situação conflitante vivida pelo amigo Tião e ainda apoiar sua irmã neste momento difícil.Na realidade, Tião não tem medo do confronto com o inimigo. O seu medo é outro, é o grande medo de toda a sociedade, o medo de ser pobre, por isso quer subir na vida e deixar para trás a condição difícil e miserável do morro, que, por sinal, é desafiada cotidianamente pela coragem e bravura de Romana, sua mãe, mulher de pulso e determinação e responsável pelo equilíbrio da casa e da família.
OTÁVIO
O pai, Otávio, operário de ideias progressistas, leitor de autores socialistas e, ao mesmo tempo um revolucionário por convicção e consciente de suas lutas. Forte e corajoso entre os seus companheiros, experimentou várias lutas, algumas prisões, com isso ganha destaque entre os seus transformando-se numa das principais lideranças da fábrica que trabalhava.
• Romana: Mãe de Tião, Romana é uma mulher de pulso, determinada, que trabalha como lavadeira. É responsável pelo equilíbrio da casa e da família.
• Maria: Noiva de Tião e sua companheira de trabalho, é fiel a seu povo e se recusa a sair do morro.
• João: Irmão de Maria, João é um homem ponderado e maduro que fica ao lado de Tião quando o amigo fura a greve e é abandonado pelos companheiros de trabalho.
• Chiquinho: Irmão de Tião, é um jovem “aprontador”, que vive dormindo e de namoro com Terezinha.
• Bráulio: Amigo de Otávio e seu braço direito na greve. Quando fica sabendo da traição de Tião, procura o jovem para tirar satisfações.
• Jesuíno: Amigo de Tião, é malandro, fraco, oportunista. Fica dos dois lados na greve.

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