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DIREITO DO PROCESSO PENAL II - RESENHA CRITICA

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[13/05 18:34] BRUNO ROBERTO DA SILVA PACCA
RESENHA CRÍTICA PROCESSO PENAL II NOITE PROF. GISELA ESPOSEL   Lei n.° 11.343/2006 tipifica os delitos envolvendo drogas. Além de prever os crimes, a referida Lei também traz o procedimento, ou seja, o rito que deverá ser observado pelo juiz. Desse modo, a Lei n.° 11.343/2006 traz um procedimento especial que possui algumas diferenças em relação ao procedimento comum ordinário previsto no CPP. Uma das diferenças reside no momento em que é realizado o interrogatório do réu. Vejamos:   CPP (art. 400) Lei n.° 11.343/2006 (art. 57)
 O art. 400 do CPP foi alterado pela Lei n.° 11.719/2008 e, atualmente, o interrogatório deve ser feito depois da inquirição das testemunhas e da realização das demais provas. Em suma, o interrogatório passou a ser o último ato da audiência de instrução (segundo a antiga previsão, o interrogatório era o primeiro ato). O art. 57 da Lei de Drogas prevê que, na audiência de instrução e julgamento, o interrogatório do acusado é feito antes da inquirição das testemunhas. Em suma, o interrogatório é o primeiro ato da audiência de instrução.   O que é mais favorável ao réu: ser interrogado antes ou depois da oitiva das testemunhas?   
Diante dessa constatação, e pelo fato de a Lei n.° 11.719/2008 ser posterior à Lei de Drogas, surgiu uma corrente na doutrina defendendo que o art. 57 foi derrogado e que, também no procedimento da Lei n.° 11.343/2006, o interrogatório deveria ser o último ato da audiência de instrução.   Apresente a sua opinião sobre o assunto abordado, apontando o entendimento da doutrina e jurisprudência dos Tribunais Superiores.
NATUREZA
A natureza jurídica do interrogatório do réu é ambivalente pois, serve tanto como meio defesa, assim como meio de prova. Vale lembrar que no processo penal se aplica o princípio da ampla defesa. Este princípio se divide em defesa técnica (aquela realizada por advogado e/ou defensor público) e autodefesa (exercida pelo próprio réu).
 No exercício de seu mister (defesa técnica) o advogado interpõe recursos, peças processuais, requerimentos etc. No exercício da autodefesa o réu, quando no “tete-a-tete” com a autoridade interrogante, pode se manifestar verbalmente se defendendo dos fatos.
O interrogatório, então, é um direito subjetivo do acusado pois, deve ser oportunizado a ele falar diretamente com a autoridade e sua violação é causa de nulidade absoluta do processo. Mas atenção, por trata-se de direito subjetivo, o réu, devidamente citado, pode decidir em não comparecer ao ato de interrogatório, até mesmo porque é garantido a o direito de silêncio. Percebam que a violação que gera a nulidade se dá quando não oportunizado ao réu o direito de ser ouvido.
MOMENTO
Sabemos que a persecução criminal se divide em duas fases, a fase de investigação e a fase processual. O interrogatório se dará nessas duas fase da persecução criminal.
Em sede de investigação criminal, aquela fase onde será angariando os elementos de convicção que irão respaldar a denuncia/queixa, ou seja, juntar elementos de convicção de materialidade e autoria. juntar provas e suspeito por, supostamente,  cometer crime. Ocorrerá o interrogatório do suspeito ou indiciado que será conduzido pela autoridade policial.
Já na fase processual teremos o interrogatório do acusado e será conduzido pela autoridade judicial que presidirá a audiência, o juiz.
Dentro do desenvolvimento do processo o interrogatório do réu ocorrerá, como regra, ao final da instrução, ou seja, após ouvir todos participantes (peritos, vitima, testemunhas, etc) então, o juiz ouvirá o réu. 
O réu está na posição passiva, está na retranca, é o sujeito passivo, pois ele precisa saber tudo que está acontecendo no processo e tudo que foi dito pelos outros atores processuais para, então, exercer plenamente seu direito de defesa.
Por outro lado, tratando-se do procedimento especial da lei de drogas, lei 11.343/06, e da lei 4898/65 lei do abuso de autoridade, o réu, nesses dois casos, será ouvido primeiro e não ao fim da instrução. Segundo o STJ NÃO trata-se de violação a ampla defesa pois são duas leis especiais e que tem previsão em seu texto, o exato momento em que o réu será ouvido. Esse fato derroga a previsão do Código de Processo Penal que é uma lei geral.
O interrogatório também poderá ser realizado, a priori ou novamente, em sede de Tribunal de Justiça. (art 616, CPP)
CARACTERÍSTICAS
· Obrigatoriedade.
A primeira característica é a obrigatoriedade e, como dito acima, ela é a oportunidade do réu ser ouvido e deve ser feita sob pena de nulidade absoluta do processo.
O acusado pode ou não exercer esse seu direito de ser ouvido. Na qualidade de réu ele não pode ser conduzido a força, mas, cuidado, existem duas fases no interrogatório. A primeira etapa do interrogatório compreende a devida qualificação do acusado, seu nome, endereço, sinais característicos, etc. Nessa parte de qualificação é obrigatória o fornecimento de informações pelo réu. No que tange a sua qualificação, caso incompleta o réu poderá sim ser conduzido a força para que a devida qualificação seja feita.
· Personalíssimo.
Somente o réu pode prestar depoimento pessoalmente, impossível ser representado por procuração. Em alguns casos por vídeo conferência e/ou carta precatória.
Réu sem o devido discernimento não pode ser interrogado, neste caso estaríamos diante de um inimputável. Se o réu torna-se inimputável durante o processo então o processo será suspenso na forma do art. 152, do CPP, se ele já era inimputável na época do fato será nomeado curador para o réu e não haverá interrogatório na forma do art. 151, do CPP.
· Oralidade.
As perguntas e respostas devem ser feitas verbalmente ou oralmente. A exceção será o caso dos deficientes auditivos e dos mudos, ou surdos/mudos, aplica-se o art 192, do CPP, suprindo por escrito aquilo que melhor suprir a deficiência.
Não sabendo ler e escrever termos a figura do interprete que prestará compromisso e ajudará durante o interrogatório. Quando o interrogado não fala a língua nacional (índio, estrangeiro).
· Publicidade.
A regra é que no interrogatório reinará publicidade dos atos judiciais, figurando como exceção , ou seja, restrição da publicidade quando implicar em prejuízo ao processo ou quando atentar contra a ordem publica.
· Individualidade.
 Havendo mais de um réu, cada um será ouvido individualmente pelo juiz para prestar seu depoimento. Sendo vedado, conforme art. 191, do CPP,  o acompanhamento de um réu a oitiva do outro réu.
·   Perguntas.
Basicamente, trata-se de faculdade das partes, acusação e defesa, de formular perguntas ao réu. O juiz, entendendo ser a pergunta pertinente, reproduzirá a pergunta para o réu. Como se estivessem em ambientes diferentes, ao nosso entendimento uma grande anomalia, para dizer o mínimo, trazida pelo nosso legislador.
Fato impensável em outros ordenamentos pelo resto do mundo e que deve ser imediatamente revisto pelo legislador e pelo judiciário que se prese pela boa dignidade de sua profissão. Pois, quando se atenta a dignidade de qualquer profissão acabamos por colocar em cheque a nossa própria profissão. A doutrina achou por bem chamar esse sistema de presidencialista e encontra-se previsto no art 188, do CPP.
No rito do plenário do júri não se aplica esse sistema “aberratio ictus” presidencialista aplicando, tão somente, o cross examination, art. 474, do CPP exceto quando as perguntas partirem dos jurados para o interrogado.
ETAPAS
Teremos duas etapas no interrogatório. A primeira é a etapa da qualificação: nome, endereço, profissão etc. Além dessa etapa temos o interrogatório propriamente dito que também será dividido em duas fases. Na primeira serão perguntas sobre a pessoa do interrogado e posteriormente as perguntas sobre o fato.
A primeira etapa da segunda fase é diferente da qualificação. As perguntas sobre a pessoa se referem ao contexto que o réu estava inserido que poderiam influenciá-lo, perguntas como:
Você respondeu algum processo criminal?
Você costuma conviver com pessoa com boa índole?
Você teveoportunidade para estudar?
O juiz tenta saber sobre os antecedentes, sobre a vida do réu enfim, isso pode ser usado na dosimetria da pena e outras finalidades.
Na segunda parte o juiz esclarecerá sobre os fatos relativos ao crime, art. 187, §2º, do CPP.
Neste ponto surgem algumas questões;
É possível um segundo interrogatório ? Sim, art.196, do CPP. As partes por requerimento ou o juiz de oficio pode proceder a um segundo interrogatório do réu.
É preciso a presença do advogado? Durante a fase judicial da persecução criminal, é sim necessário a presença de um advogado ou defensor público. Além disso, o réu tem direito a uma entrevista prévia e reservada com seu defensor , até em interrogatório realizado por vídeo conferência veremos mais abaixo.
Durante a fase policial, a doutrina e a jurisprudência entendem que a administração da justiça não dependem da presença de um advogado, apesar da nosso saco de pancada, melhor dizendo, constituição federal dizer que o advogado é essencial a administração da justiça. Então, na fase policial o entendimento predominante é pela dispensa da presença de uma advogado, cabendo a autoridade policial meramente oportunizar ao suspeito/indiciado essa prerrogativa de ter um advogado ao seu lado.
DIREITO AO SILÊNCIO
De acordo com o princípio do nemo tenetur se detegere, ninguém será obrigado a produzir prova contra sí mesmo. Ao mesmo passo que a acusação criminal possui o ônus da prova caberá ao acusador e não a defesa provar a existência do crime e da autoria. Percebemos isso se transformando rapidamente, infelizmente, mas, para termos didáticos, consideraremos que compete a acusação o ônus da prova.
Mais uma vez, destacamos que o direito ao silencia não se aplica a qualificação.
O direito de ficar calado deve ser informado ao réu. Se o réu não for informado, o STJ entende que trata-se de nulidade relativa, condicionado a um efetivo prejuízo ao réu. Ou seja, além do réu não ser informado sobre seu direito de ficar calado essa violação deve gerar prejuízo efetivo.
Além do direito de ficar calado, o réu tem direito a não ter seu silêncio interpretado em seu desfavor. Quem cala, não fala nada. Art. 186, § 2º. Cuidado com art. 198, do CPP está tacitamente revogado então não vamos estender o assunto.
INTERROGATÓRIO POR VÍDEO CONFERÊNCIA
 
A lei 11.900/09 instituiu o interrogatório por meio eletrônico de áudio e vídeo. também previsto no art. 185, §2º do CPP. Poderá as partes requerer ou ser determinado de oficio pelo juiz.
Será cabível quando tratar-se de excepcionalidade da medida nos seguintes casos:
1 – Prevenir risco a segurança pública.
2 – Risco de fuga.
3- Viabilizar a participação do réu quando debilidade em sua saúde.
4 – Impedir a influência do réu no ânimo da vítima e ou testemunhas.
5 – Responder a gravíssima questão de ordem pública .
Havendo determinação de interrogatório por vídeo conferência as partes devem ser intimadas de tal ato com, no mínimo, 10 (dez) dias de antecedência.
A presença do advogado em sede judicial é obrigatória, mas onde ficará o advogado em interrogatório por vídeo conferência, com o juiz ou com o acusado? Nos dois lugares, tanto com o acusado quanto com o juiz. O réu tem direito a entrevista prévia e reservada com os seus dois defensores.
Com essa ultima questão encerramos nossas observações sobre o interrogatório do suspeito/indiciado/acusado/réu. Caso tenha alguma dúvida ou observação comente logo abaixo. Não esqueça de recomendar o artigo e nos veremos na próxima.
https://jus.com.br/artigos/69357/tudo-que-voce-precisa-saber-sobre-o-interrogatorio-do-reu
https://plataforma.bvirtual.com.br/Leitor/Publicacao/1171/pdf/0?code=29S0vPW2WlkktQz6ZH1chpi9Z3jexrxV48FvcfgzJD2zz1QypgSBcUlG2EXCPaBo39weuRKLR10b8I0oO0bj4Q==
https://evinistalon.com/informativo-609-do-stj-o-interrogatorio-deve-ser-o-ultimo-ato-da-instrucao-criminal/
https://evinistalon.com/informativo-609-do-stj-o-interrogatorio-deve-ser-o-ultimo-ato-da-instrucao-criminal/
O interrogatório deve ser o último ato da instrução criminal (Informativo 609 do STJ)
No HC 397.382-SC, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 03/08/2017, o Superior Tribunal de Justiça decidiu que os procedimentos regidos por leis especiais devem observar, a partir da publicação da ata de julgamento do HC 127.900/AM do STF (11.03.2016), a regra disposta no art. 400 do CPP, cujo conteúdo determina ser o interrogatório o último ato da instrução criminal (c
Informações do inteiro teor:
A controvérsia jurídica cinge-se a analisar suposta nulidade na realização do interrogatório, como primeiro ato da instrução processual, de acusado pela prática de cometer crime de tráfico de drogas. Há longa data, o Superior Tribunal de Justiça, com o aval da 2ª Turma do Supremo Tribunal Federal, vinha entendendo, com assento no princípio da especialidade, que a nova sistemática estabelecida pelo art. 400 do CPP, com a redação conferida pela Lei n. 11.719/2008 – que transpôs a oitiva do acusado para o fim da audiência –, não se aplicaria ao procedimento próprio descrito nos arts. 54 a 59 da Lei de Drogas, segundo a qual o interrogatório ocorreria em momento anterior à oitiva das testemunhas, na forma como preconiza o art. 57 do referido diploma legal.
Ocorre que, no julgamento do HC n. 127.900/AM, Rel. Min. Dias Toffoli, DJe 3/8/2016, a Suprema Corte, por seu Plenário, realizou uma releitura do artigo 400 do CPP, à luz do sistema constitucional acusatório e dos princípios do contraditório e da ampla defesa.
Naquela assentada, reconheceu-se, em razão de mostrar-se mais compatível com os postulados que informam o estatuto constitucional do direito de defesa, uma evolução normativa sobre a matéria, de forma que, por ser mais favorável ao réu e por se revelar mais consentânea com as novas exigências do processo penal democrático, a norma contida no art. 400 do CPP, na redação dada pela Lei n. 11.719/08, deveria irradiar efeitos sobre todo o sistema processual penal, ramificando-se e afastando disposições em sentido contrário, mesmo em procedimentos regidos por leis especiais.
Arredou-se, pois, o consagrado critério de resolução de antinomias – princípio da especialidade –, em favor de uma interpretação teleológica em sintonia com o sistema acusatório constitucional, sem que tenha havido, no entanto, declaração de inconstitucionalidade das regras em sentido contrário predispostas em leis especiais ou mesmo da redação originária do art. 400 do CPP.
Em conclusão: o interrogatório passa a ser o último ato da instrução, sendo que a Lei n. 11.719/2008, geral e posterior, prepondera sobre as disposições em contrário presentes em leis especiais. Por fim, importante ressaltar que, em atenção ao princípio da segurança jurídica, foi realizada a modulação dos efeitos da decisão da Corte Suprema, pelo que a nova interpretação dada somente teria aplicabilidade a partir da publicação da ata daquele julgamento, ocorrida em 11.03.2016 (DJe n. 46, divulgado em 10/3/2016). A partir desse marco, portanto, incorreriam em nulidade os processos em que o interrogatório fosse o primeiro ato da instrução.
Confira a ementa do HC 397.382/SC:
PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS. TRÁFICO DE ENTORPECENTES. MOMENTO DO INTERROGATÓRIO. ÚLTIMO ATO DA INSTRUÇÃO. NOVO ENTENDIMENTO FIRMADO PELO PRETÓRIO EXCELSO NO BOJO DO HC 127.900/AM. MODULAÇÃO DE EFEITOS. PUBLICAÇÃO DA ATA DE JULGAMENTO. ACUSADO INTERROGADO NO INÍCIO DA INSTRUÇÃO. NULIDADE PRESENTE. ORDEM CONCEDIDA.
1. O Supremo Tribunal Federal, no julgamento do HC n. 127.900/AM, deu nova conformidade à norma contida no art. 400 do CPP (com redação dada pela Lei n. 11.719/08), à luz do sistema constitucional acusatório e dos princípios do contraditório e da ampla defesa. O interrogatório passa a ser sempre o último ato da instrução, mesmo nos procedimentos regidos por lei especial, caindo por terra a solução de antinomias com arrimo no princípio da especialidade.
Ressalvou-se, contudo, a incidência da nova compreensão aos processos nos quais a instrução não tenha se encerrado até a publicação da ata daquele julgamento(11.03.2016). 2. In casu, o paciente foi interrogado na abertura de audiência iniciada e finalizada em 21.07.2016, sendo de rigor o reconhecimento da mácula processual.
3. Ordem concedida.
(STJ, Sexta Turma, HC 397.382/SC, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 03/08/2017) 
Doravante, verificamos que a melhor opção para a oitiva do acusado, seria posterior ao da vítima e das testemunhas, mesmo por que abriria um precedente para que o acusado, mudasse seu depoimento na tentativa de absorver-se. Porém ele possui da mesma forma conforme o PRINCÍPIO DO CONTRADITÓRIO, que sua oitiva seja considerada processualmente. Conforme abaixo.
Nossa Constituição consagra o PRINCÍPIO DO CONTRADITÓRIO no art. 5. LV, aos litigantes, em processo judicial ou administravio, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ele inerentes. O direito de deesa é assim assegurado tanto ao autor como ao réu.

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