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( Ligante 1 Receptor Adenilil ciclase Receptor Ligante 2 s GDP s GTP s GTP i GTP i GTP i GDP ATP cAMP cAMP ATP Resultado final = efeito integrado ) Fig.1.9Convergênciadesinalizaçãodedoisreceptores.Atransduçãodecascatasdesinalizaçãointracelularesutilizaumnúmerolimitadodemecanismos.Emalgunscasos,issopropiciaaconvergência,emquedoisreceptoresdiferentesexercemefeitosopostos,quetendemanegar-seumaooutronacélula.Emumexemplosimples,doisreceptoresdiferentesacopladosàproteínaGpodemserestimuladospordiferentesligantes.OreceptorilustradoàesquerdaestáacopladoàGs,umaproteínaGqueestimulaaadenililciclaseacatalisaraformaçãodecAMP.OreceptorilustradoàdireitaestáacopladoàGi,umaproteínaGqueinibeaadenililciclase.Quandoambososreceptoressãoativadossimultaneamente,podematenuarouatémesmoneutralizarumaooutro,comomostraafigura.Algumasvezes,asinalizaçãoatravésdeumaviapodealternar,quandoosdoisreceptoressãoativadosdemodoseqüencial. ( InteraçõesFármaco–Receptor | ) ( 17 ) poucoprovávelquemuitosdeles ainda sejam descobertos. Porconseguinte,ossegundosmensageirosconstituemumpossívelmecanismointeressantecapazdeforneceràscélulasumcon-juntodepontos emcomum paraos quaisnumerososestímulosexternospodemconvergir,produzindoumefeitocelularcoor-denado(Fig.1.9). Asconcentraçõesdeíonsproporcionam outropontodeintegraçãoparaosefeitoscelulares,vistoqueaconcentraçãocelulardedeterminadoíonresultadaatividadeintegradademúltiplascorrentesiônicas,quetantoaumentamquantodimi-nuemaconcentraçãodoíonnointeriordacélula.Porexem-plo,oestadocontrátildeumacélulamuscularlisaconstituiumafunçãodaconcentraçãointracelulardeíonscálcio,queédeterminadaporváriascondutânciasdiferentesdeCa2+.Essascondutânciasincluemextravasamentodeíonscálcionacélulaecorrentesdecálcioparadentroeparaforadocitoplasmaatravésdecanaisespecializadosnamembranaplasmáticaenoretículo endoplasmático liso. Comoamagnitudedarespostacelularé,comfreqüência,consideravelmentemaiorqueadoestímuloqueproduziuaresposta,ascélulasparecemteracapacidadedeamplificarosefeitosdaligaçãodoreceptor.AsproteínasGfornecemumexcelenteexemplodeamplificaçãodesinais.AligaçãodoliganteaumreceptoracopladoàproteínaGserveparaativarumaúnicamoléculadeproteínaG.Aseguir,essamoléculadeproteínaGpodeligar-seanumerosasmoléculasefetoraseativá-las,comoaadenililciclase,asquaispodem,então,gerarumnúmeroaindamaiordemoléculasdesegundosmensageiros(nesteexemplo,cAMP).Outroexemplodeamplificaçãodesinaiséo“Ca2+dedeflagração”,emqueumpequenoinfluxodeCa2+atravésdoscanaisdeCa2+reguladosporvoltagemnamembranaplasmática“deflagra”aliberaçãodemaioresquantidadesdeCa2+nocito-plasma,apartirdasreservasintracelulares. REGULAÇÃOCELULARDASINTERAÇÕESFÁRMACO–RECEPTOR Aativaçãoouinibiçãodeumreceptorinduzidasporfármacosfreqüentementetemimpactoduradourosobrearesponsividadesubseqüentedoreceptoràligaçãodofármaco.Osmecanis-mosquemedeiamessesefeitossãoimportantes,umavezque impedemaestimulaçãoexcessivaquepoderialevaràlesãocelularouafetaradversamenteoorganismocomoumtodo.Muitosfármacosexibemumareduçãodosefeitoscomodecor-rerdotempo;essefenômenoéconhecidocomotaquifilaxia.Emtermosfarmacológicos,oreceptoreacélulatornam-sedessensibilizadosàaçãodofármaco.Osmecanismosdedes-sensibilizaçãopodemserdivididosemdoistipos:adessensi-bilizaçãohomóloga,emqueocorrediminuiçãodosefeitosdeagonistasemapenasumtipodereceptor;eadessensibilizaçãoheteróloga,emqueseverificaumadiminuiçãocoordenadadosefeitosdeagonistasemdoisoumaistiposdereceptores.Acredita-sequeadessensibilizaçãoheterólogasejacausadaporumaalteraçãoinduzidapelofármacoemumpontocomumdeconvergência nos mecanismos de ação dos receptores envolvi-dos,comoumamoléculaefetoracompartilhada. Muitosreceptoresexibemdessensibilização.Porexemplo,arespostacelularàestimulaçãorepetidadosreceptores-adre-nérgicospelaepinefrinadiminuiuniformementecomodecor-rerdotempo(Fig.1.10).Adessensibilizaçãodosreceptores -adrenérgicosémediadapelafosforilaçãoinduzidapelaepi-nefrinadacaudacitoplasmáticadoreceptor.Essafosforilaçãopromovealigaçãoda-arrestinaaoreceptor;porsuavez,a-arrestinainibeacapacidadedoreceptordeestimularaproteínaGGs.NapresençadeníveismaisbaixosdeGsativada,aadenililciclaseproduzmenoscAMP.Dessamaneira,osciclosrepetidosdeligaçãoligante–receptorresultamemefeitoscelularescadavezmenores.Outrosmecanismoscelularesexercemefeitosaindamaisprofundos,impedindoporcompletoaestimulaçãodoreceptorpeloligante.Esteúltimofenômeno,denominadoinativação,tambémpoderesultardafosforilaçãodoreceptor;nestecaso,afosforilaçãobloqueiaporcompletoaatividadedesinalizaçãodoreceptorouresultanaremoçãodoreceptordasuperfíciecelular. Outro mecanismo passível deafetar arespostacelular causa-dapelaligaçãofármaco–receptorédenominadorefratariedade.Osreceptoresqueassumemumestadorefratárioapósativaçãonecessitamdeumcertoperíododetempoparaquepossamsernovamenteestimulados.Conformejáassinalado,oscanaisdesódioreguladosporvoltagem,quemedeiamadescargadepoten-ciaisdeaçãoneuronais,estãosujeitosaperíodosrefratários.Apósaaberturadocanalinduzidapeladespolarizaçãodamembrana,ocanaldesódioreguladoporvoltagemfecha-seespontaneamen-teenãopodeserreabertoduranteumcertoperíododetempo 16 | CapítuloUm A Fosforilação pela PKAe/ouARK Agonista B Seqüestro ( P ) ( Ligação da -arrestina -arrestina ) C Degradação (denominadoperíodorefratário).Essapropriedadeinerentedocanaldeterminaataxamáximacomqueosneurôniospodemserestimulados etransmitirainformação. ( P ) ( P P ) ( Ligação à proteína G impedida )Oefeitodeligaçãofármaco–receptortambémpodeserinfluenciado poralteraçõesinduzidas pelofármacono númerodereceptoressobreumacélulaounoseuinterior.Umexemplodeummecanismomolecularpeloqualonúmeroderecepto-respodeseralteradoédenominadoinfra-regulação.Nessefenômeno,aestimulaçãoprolongadadoreceptorpeloliganteinduzaendocitosedosreceptorespelacélulaeoseuseqües-troemvesículasendocíticas.Esseseqüestroimpedeocontatodosreceptorescomligantes,resultandoemdessensibilizaçãocelular.Quandocessaoestímuloquelevouaoseqüestrodosreceptores,estespodemserrecicladosparaasuperfíciecelular,tornando-se novamentefuncionais(Fig.1.10).Ascélulastam-bémpodemteracapacidadedealteraroníveldesíntesedosreceptorese,assim,regularonúmerodereceptoresdisponíveispara ligação de fármacos. O seqüestrode receptores e a altera-çãonasuasínteseocorremnumamaiorescaladetempodoqueafosforilaçãoetambémexercemefeitosmaisprolongados.OQuadro1.6forneceumresumodosmecanismospelosquaisosefeitosdasinteraçõesfármaco–receptorpodemserregulados. Endossomo Lisossomo FÁRMACOSQUENÃOSEENQUADRAMNOMODELODEFÁRMACO–RECEPTOR Emboramuitosfármacosinterajamcomumdostiposbási-cosdereceptoresanteriormentedelineados,outrosatuampormecanismos nãomediadospor receptores.Seguem-sedoisexemplos:osdiuréticososmóticoseosantiácidos. Osdiuréticoscontrolamoequilíbriohídriconocorpoao Fig.1.10Regulaçãodosreceptores -adrenérgicos.Osreceptores - adrenérgicosligadosaagonistasativamproteínasG,que,aseguir,estimulamaatividadedaadenililciclase.A.Aestimulaçãorepetidaoupersistentedo receptorpeloagonistaresultaemfosforilaçãodeaminoácidosnaextremidadeC-terminaldoreceptorpelaproteinocinaseA(PKA)e/oupeloreceptor-adrenérgicocomcinase(ARK).Aseguir,a-arrestinaliga-seaodomíniofosforiladodoreceptorebloqueiaaligaçãodaGs,comconseqüentediminuiçãodaatividadedaadenililciclase(efetor).B.Aligaçãoda-arrestinatambémlevaaoseqüestrodoreceptoremcompartimentosendossômicos,neutralizandoefetivamenteaatividadedesinalizaçãodoreceptor-adrenérgico.Aseguir,oreceptorpodeserrecicladoereintroduzidonamembranaplasmática.C. Aocupaçãoprolongadadoreceptorpeloagonistapodelevaràinfra-regulaçãodoreceptoresuaeventualdegradação.Ascélulastambémpodemdiminuironúmerodereceptoresdesuperfícieatravésdainibiçãodatranscriçãooudatraduçãodogenequecodificaoreceptor(nãoilustrado). QUADRO1.6MecanismosdeRegulaçãodosReceptores alterarosníveisrelativosdeabsorçãoesecreçãodeáguaeíonsnosrins.Muitosdessesfármacosatuamsobrecanaisiônicos.Entretanto,umaclassedediuréticosalteraoequilíbriodaáguaedosíonsnãoatravésdesualigaçãoacanaisiônicosouarecep-tores acopladosà proteínaG,mas atravésdeumamodificaçãodiretadaosmolaridadenosnéfrons.Oaçúcarmanitol,queésecretadona luz do néfron, aumenta a osmolaridadeda urina apontodeaáguaser removidadosangue peritubularparaaluz.Essedesviode líquido serve paraaumentar ovolumede urina,aomesmotempoquediminuiovolumesangüíneo. Outraclassedefármacosquenãoseenquadranomodelodefármaco–receptoréconstituídapelosantiácidos,quesãoutili-zadosnotratamentodadoençaporrefluxogastroesofágicoe ( MECANISMO DEFINIÇÃO ) Taquifilaxia Aadministraçãorepetidadamesmadosedeumfármacoresultaemreduçãodoefeitodestefármacocomodecorrerdotempo Dessensibilização DiminuiçãodacapacidadedeumreceptorderesponderàestimulaçãoporumfármacoouliganteHomóloga Diminuiçãodarespostaaumúnicotipodereceptor Heteróloga Diminuiçãodarespostaadoisoumaistiposdereceptores Inativação PerdadacapacidadedeumreceptorderesponderàestimulaçãoporumfármacoouliganteRefratariedade Apósestimulaçãodeumreceptor,énecessárioumcertoperíododetempoparaqueapróximainteração fármaco–receptorpossaproduzirumefeito Infra-regulação Ainteraçãofármaco–receptorrepetidaoupersistenteresultanaremoçãodoreceptordoslocaisondepoderiam ocorrerinterações fármaco–receptorsubseqüentes ( InteraçõesFármaco–Receptor | ) ( 17 ) dadoençaulcerosapéptica.Aocontráriodosagentesantiúlceraque seligam areceptores envolvidos nageração fisiológicadeácidogástrico,osantiácidosatuamdemodoinespecíficoaoabsorveroácidogástricoouaoneutralizá-loquimicamente.Entreessesagentes,destacam-seasbases,comoNaHCO3eMg(OH)2. · ConclusãoePerspectivasFuturas Apesardeosdetalhesmolecularesdasinteraçõesfármaco–receptorexibirem amplas variaçõesentre fármacos de diferen-tesclassesereceptoresdediferentestipos,osseisprincipaismecanismosdeaçãodescritosnestecapítuloservemcomoparadigmasdosprincípiosdefarmacodinâmica. Acapacidadedeclassificarosfármacoscombaseemseusmecanismosdeação permitesimplificaro estudodafarmacologia,vistoqueomecanismomoleculardeaçãodeumfármacogeralmentepodeserassociadoaseusníveisdeaçãocelular,tecidual,orgânicaesistêmica.Porsuavez,torna-semaisfácilentendercomodeterminadofármacoécapazdemediarseusefeitosterapêuticosparticulareseseusefeitoscolateraisouadversosemdeterminadopaciente.Naatualidade,odesenvolvimentodefármacostem,comometaprincipal,aidentificaçãodefármacosquesejamalta-menteseletivos,planejandomoléculasdirecionadasparaalvosespecíficosresponsáveispeladoença.Comoprogressonosconhecimentosrelativosaodesenvolvimentodefármacoseà basegenéticaefisiopatológicadadoença,médicosecientistasdeverãoaprenderacombinaraespecificidademoleculardeumfármacocomaespecificidadegenéticaefisiopatológicadoalvodofármacoparadesenvolverterapiascadavezmaisseletivas. · LeiturasSugeridas AlexanderSP,MathieA,PetersJA.Guidetoreceptorsandchannels.2nded.BrJPharmacol2006;147(Suppl3):S1–S168.(Resumo sucintodosalvosmolecularesdedrogas,organizadoportiposdereceptores.) BergJM,TymoczkoJL,StryerL.Biochemistry.6thed.NewYork:WHFreemanandCompany;2006.(Contéminformaçõesestrutu-raissobrereceptores,especialmenteproteínasG.) KrauseDS,VanEttenRA.Tyrosinekinasesastargetsforcancerthera-py. NEnglJMed2005;353:172–187.(Discuteadesregulaçãodasproteínastirosinocinasesnocâncereodirecionamentodedrogascomoimatinibeparaessasmoléculas.) PerezDM,KarnikSS.MultiplesignalingstatesofGprotein-coupledreceptors.PharmacolRev2005;57:147–161.(DiscuteasmuitasfunçõesdasproteínasGnasinalizaçãocelular.) PrattWB,TaylorP,eds.Principlesofdrugaction:thebasisofpharma-cology.3rded.NewYork:ChurchillLivingstone;1990.(Contémumadiscussãodetalhadadasinteraçõesfármaco–receptor.) SavageDG,Antman KH.Imatinibmesylate—anewtargeted therapy.NEnglJMed2002;346:683–693.(Resumeabasefisiopatológicadaleucemiamielóidecrônicaerevêabasemecanicistadaespe-cificidadedoimatinibe.) 2 Farmacodinâmica HarrisS.RoseeDavidE.Golan Introdução Caso LigaçãoFármaco–Receptor RelaçõesdeDose–Resposta RelaçõesdeDose–RespostaGraduadasRelaçõesdeDose–RespostaQuantais InteraçõesFármaco–Receptor Agonistas Antagonistas AntagonistasCompetitivosdosReceptores AntagonistasNão-CompetitivosdosReceptoresAntagonistasSemReceptores AgonistasParciaisAgonistasInversosReceptoresdeReserva ConceitosemTerapia ÍndiceTerapêuticoeJanelaTerapêuticaConclusãoePerspectivasFuturas LeiturasSugeridas INTRODUÇÃO Utiliza-seotermofarmacodinâmicaparadescreverosefei-tosdeumfármaconocorpo.Tipicamente,essesefeitossãodescritosemtermosquantitativos.Nocapítuloanterior,foramconsideradasasinteraçõesmolecularespelasquaisosagentesfarmacológicosexercemseusefeitos.Estecapítulotratadainte-graçãodessasaçõesmolecularesemumefeitoexercidosobreoorganismocomoumtodo.Éimportantedescreverosefeitosdeumfármacoemtermosquantitativosparaestabelecerasfaixasdedosesapropriadasparaospacientes,bemcomoparacompararapotência,aeficáciaeasegurançadeumfármacocomoutro. ( Caso ) OAlmiranteX,de66anosdeidade,éumcomandantedesub-marinoaposentado,comhistóriadetabagismode70maçosdecigarrosporano(doismaçospordiadurante35anos)ehistóriafamiliardecoronariopatia.Emboranormalmenteignoreosconselhosdeseusmédicos,tomapravastatinaprescritaparareduzironíveldecolesterol,bemcomoaspirinaparadiminuiroriscodeoclusãodaartériacoronária. Umdia,enquantoestavatrabalhandoemsuacarpintaria,oAlmi-ranteXcomeçaasentirumapertonotórax.Asensaçãotorna-serapidamentedolorosa,eadorcomeçaairradiar-sepelobraçoesquerdo.LigaparaoServiçodeEmergência,eumaambulânciaotransportaatéopronto-socorromaispróximo.Umavezconcluídaaavaliação,constata-sequeoAlmiranteXestátendouminfartodomiocárdioanterior.Comoohospitalnãodispõedelaboratórioparacateterismocardíaco,ecomooAlmiranteXnãotemnenhu-macontra-indicaçãoespecíficaparaaterapiatrombolítica(como hipertensãonão-controlada,históriadeacidentevascularcerebraloucirurgiarecente),omédicoiniciaaterapiacomoativadordoplasminogêniodetipotecidual(tPA),umagentetrombolítico,ecomheparina,umanticoagulante.Aadministraçãodeumadoseinadequadadessesdoisfármacospodeterconseqüênciasterríveis(hemorragiaemorte),emvirtudedeseusbaixosíndicesterapêuti-cos;poressemotivo,oAlmiranteXérigorosamentemonitorado,eoefeitofarmacológicodaheparinaédeterminadoperiodicamenteatravésdotempodetromboplastinaparcial(TTP).OssintomasdoAlmiranteXdiminuemnaspróximashoras,emborapermaneçanohospitalparamonitorização.Recebealtadepoisde4dias,eosmedicamentosprescritosincluempravastatina,aspirina,atenolol,lisinoprileclopidogrelparaprevençãosecundáriadeinfartodomiocárdio. QUESTÕES · 1.Comoainteraçãomoleculardeumfármacocomoseureceptordetermina a sua potênciae eficácia? · 2.Quaisaspropriedadesdecertosfármacos,comoaaspirina,quepermitemasuaadministraçãosemmonitoraçãodosníveisplasmáticosdofármaco,enquantooutrosfármacos,comoaheparina,exigemessetipodecontrole? · 3.Porqueofatodeumfármacoterbaixoíndiceterapêuticosignificaqueomédicodevetermaiorcuidadonasuaadmi-nistração? LIGAÇÃOFÁRMACO–RECEPTOR Oestudodafarmacodinâmicabaseia-senoconceitodaligaçãofármaco–receptor.Quandoumfármacoouumliganteendógeno(porexemplo,umhormônioouumneurotransmissor)liga-se ( 32 | ) ( CapítuloDois ) ( Farmacodinâmica | ) ( 33 ) aseureceptor,podeocorrerumarespostacomoconseqüên-ciadessainteraçãodeligação.Quandojáexistirumnúmerosuficientedereceptoresligados(ou“ocupados”)sobreumacélulaounoseuinterior,oefeitocumulativodessa“ocupação”dosreceptorespode tornar-seaparentenessacélula.Emalgum Resolvendo[R]efazendoasdevidassubstituições naEquação 2.2apartirdaEquação2.3,obtemos: LRRoL,reorganizadapara LKd momento,todososreceptorespodemestarocupados,epode-se LR L observarentãoumarespostamáxima(umaexceçãoérepresen- R LK Equação2.4 tadapelosreceptoresdereserva;veradiante).Quandoaresposta o d édesencadeadaemmuitascélulas,oefeitopodeserobservadoemníveldoórgãoouatémesmonopaciente.Entretanto,todoesseprocessocomeçacomaligaçãodofármacooudoliganteaumreceptor(paraopropósitodessadiscussão,ostermos“fármaco”e“ligante”serãoutilizadoscomosinônimosnestecapítulo).Porconseguinte,seriaútildispordeummodeloquepudessedescreverdemodoacuradoaligaçãodeumfármacoaumreceptorparapreveroefeitodofármaconosníveismolecu-lar,celular,tecidual(órgão)edoorganismocomoumtodo(paciente).Essasessãodescreveestemodelo. Consideremosocasomaissimples,emqueoreceptorencontra-selivre(desocupado)oureversivelmenteligadoaumfármaco(ocupado).Podemosdescreverestecasodaseguintemaneira:Observequeoladodireitodessaequação[LR]/[Ro]representaafraçãodetodososreceptoresdisponíveisqueestãoligadosaoligante. AFig.2.1mostraduasrepresentaçõesgráficasdaEqua-ção2.4paraaligaçãodedoisfármacoshipotéticosaomesmoreceptor.Essesgráficossãoconhecidoscomocurvasdeliga-çãofármaco–receptor.AFig.2.1Amostraumgráficolinear,enquantoaFig.2.1Bmostraomesmográficoemumaescala kligado ( )LRLR klivre ( A Linear 1,0 Fármaco A Fármaco B [LR] 0,5 [R 0 ] 0 K dA K dB [L] B Semilogarítmico 1,0 [LR] 0,5 [R 0 ] 0 K dA K dB [L] )Equação2.1 ondeLéoligante(fármaco),Réoreceptorlivre,eLR,ocomplexofármacoligado–receptor.Emequilíbrio,afraçãodereceptoresemcadaumdessesestadosdependedaconstantededissociação,Kd,ondeKd=klivre/kligado.Kdéumapropriedadeintrínsecadequalquerparfármaco–receptor.ApesardeaKdvariarcomatemperatura,atemperaturadocorpohumanoérelativamenteconstante,e,portanto,pode-seestabelecerqueaKdéumaconstanteparacadacombinaçãodefár-maco–receptor. ( Fármaco A Fármaco B )Deacordocomaleideaçãodamassa,arelaçãoentrereceptorlivreereceptorligadopodeserdescritadaseguintemaneira: LR LR Kd ,reorganizadapara LR Equação2.2 LR Kd onde[L]éaconcentraçãodeligantelivre,[R]éaconcentra-çãodereceptorlivre,e[LR],aconcentraçãodecomplexoligante–receptor.ComoKdéumaconstante,épossíveldeduziralgumaspropriedadesimportantesrelativasàinteraçãofár-maco–receptorapartirdessaequação.Emprimeirolugar,àmedidaqueaumentaaconcentraçãodeligante,aconcentraçãodereceptoresligadostambémaumenta.Emsegundolugar,edeumaformanãotãoevidente,àmedidaqueaconcentraçãodereceptoreslivresaumenta(comopodeocorrer,porexemplo,emcasodedoençaoucomexposiçãorepetidaadeterminadofár-maco),aconcentraçãodereceptoresligadostambém aumenta.Porconseguinte,podeocorrerumaumentonoefeitodeumfármaco emconseqüênciadeumaumentonaconcentração do liganteoudoreceptor. Entretanto,adiscussãoquesesegueaolongodestecapítuloiráassumirqueaconcentraçãodototaldereceptoreséumaconstante,demodoque[LR]+[R]=[Ro].IssopermiteordenaraEquação2.2daseguintemaneira: LR RoRLRR Kd Fig.2.1Curvasdeligaçãoligante–receptor.A.Gráficolineardeligaçãofármaco–receptorparadoisfármacoscomvaloresdistintosdeKd.B.Gráficosemilogarítmicodamesmaligaçãofármaco–receptor.AKdéaconstantededissociaçãoemequilíbrioparadeterminadainteraçãofármaco–receptor—um valormaisbaixodeKdindicaumainteraçãofármaco–receptormaisfirme(demaiorafinidade).Emvirtudedessarelação,oFármacoA,queapresentaumaKdmaisbaixa,iráseligaraumamaiorproporçãodereceptorestotaisdoqueoFármacoBemqualquerconcentraçãodefármaco.ObservequeaKdcorrespondeàconcentraçãodoligante[L]emque50%dosreceptoresestãoligados(ocupados)peloligante.[L]éaconcentraçãodeligante(fármaco)livre(não-ligado),[LR]éaconcentraçãodecomplexosligante–receptor,eRoéaconcentraçãototaldereceptoresocupadosedesocupados.Porconseguinte, LR Ro R1L Equação2.3 éaocupaçãofracionáriadereceptores,ouafraçãodereceptorestotais Kd ocupados(ligados)peloligante. ( A Linear 1,0 Fármaco A Fármaco B E 0,5 E máx 0 EC 50 (A) EC 50 (B) [L] B Semilogarítmico 1,0 Fármaco A Fármaco B E 0,5 E máx 0 EC 50 (A) EC 50 (B) [L] )semilogarítmica.Comoasrespostasaosfármacosocorremaolongodeumaamplafaixadedoses(concentrações),ográficosemilogéfreqüentementeutilizadoparaapresentardadosdeligaçãofármaco–receptor.Asduasinteraçõesfármaco–receptorcaracterizam-sepordiferentesvaloresdeKd;nestecaso,KdA <KdB. NaFig.2.1,podemosobservarquealigaçãofármaco–recep-tormáximaocorrequando[LR]éiguala[Ro],ou[LR]/[Ro]=1.Constatamostambémque,deacordocomaEquação2.4,quan-do[L]=Kd,então[LR]/[Ro]=Kd/2Kd=1/2.Porconseguinte,aKdpodeserdefinidacomoaconcentração deligante emque50%dosreceptoresdisponíveisestãoocupados. RELAÇÕESDEDOSE–RESPOSTA Afarmacodinâmicadeumfármacopodeserquantificadapelarelaçãoentreadose(concentração)dofármacoearespostadoorganismo(dopaciente)aestefármaco.Intuitivamente,oesperado équearelaçãodedose–respostaesteja estreitamenterelacionadacomarelaçãodeligaçãofármaco–receptor,everi-ficamosqueissorealmenteocorreparamuitascombinaçõesdefármaco–receptor.Porconseguinte,nesseestágiodenossadiscussão,convémpartirdoprincípiodequearespostaaumfármacoéproporcionalàconcentraçãodereceptoresqueestãoligados(ocupados)pelofármaco. Essa pressuposiçãopodeserquantificadaatravésdaseguinterelação: resposta resposta máx. DR Ro D DKd Equação2.5 onde [D] é aconcentração do fármacolivre, [DR] aconcentra-çãodocomplexofármaco–receptor,[Ro]aconcentraçãototaldereceptoreseKdaconstantededissociaçãodeequilíbrioparaainteraçãofármaco–receptor.(ObservequeoladodireitodaEquação2.5equivaleàEquação2.4,sendoo[L]substituídopelo[D].)Ageneralizaçãodessapressuposiçãoéexaminadaadiante. Existem dois tipos principais de relações dose–resposta —graduadaequantal.Adiferençaentreosdoismétodoséqueasrelaçõesdedose–respostagraduadasdescrevemoefeitodeváriasdosesdeumfármacosobreoindivíduo,enquantoasrelaçõesquantaismostramoefeitodeváriasdosesdeumfármacosobreumapopulaçãodeindivíduos. RELAÇÕESDEDOSE–RESPOSTAGRADUADAS AFig.2.2mostracurvasgraduadasdedose–respostaparadoisfármacos hipotéticos que produzem a mesma respostabiológi-ca.Ascurvassãoapresentadasemescalaslinearesemilog.As curvasassemelham-se,quantoàsuaforma,àquelasdaFig.2.1,emconcordânciacomapressuposiçãodequearespostaéproporcionalàocupaçãodosreceptores. Doisparâmetrosimportantes—potênciaeeficácia—podemserdeduzidosapartirdacurvadedose–respostagraduada.Apotência(EC50)deumfármacorefere-seàconcentraçãoemqueofármacoproduz50%desuarespostamáxima.Aeficácia(Emáx.)refere-seàrespostamáximaproduzidapelofármaco.Deacordocomapressuposiçãoanterior,aeficáciapodeserconsideradacomooestado emquea sinalizaçãomediadapeloreceptortorna-semáxima,demodoquequalquerquantidadeadicionaldofármaconãoiráproduzirnenhumarespostaadi-cional.Esseestadoéhabitualmentealcançadoquandotodos Fig.2.2Curvasdedose–respostagraduadas.Ascurvasdedose–respostagraduadasdemonstramoefeitodeumfármacocomofunçãodesuaconcentração.A.Gráficolineardecurvasdedose–respostagraduadasparadoisfármacos.B.Gráficosemilogarítmicodasmesmascurvasdedose–resposta.ObserveaestreitasemelhançacomaFig.2.1:afraçãodereceptoresocupados[LR]/[Ro]foisubstituídapeloefeitofracionárioE/Emáx.,ondeEéumarespostaquantificáveladeterminadofármaco(porexemplo,elevaçãodapressãoarterial).EC50éapotênciadofármacoouaconcentraçãoemqueofármacoproduz50%deseuefeitomáximo.Nestafigura,oFármacoAémaispotentedoqueoFármacoB,vistoqueproduzmetadedoefeitomáximonumaconcentraçãomaisbaixadoqueoFármacoB.OsFármacosAeBexibemamesmaeficácia(respostamáximaaofármaco).Observequeapotênciaeaeficácianãoestãointrinsecamenterelacionadas—umfármacopodeserextremamentepotente,porémpodeterpoucaeficácia,evice-versa.[L]éaconcentraçãodofármaco,Eéoefeito,Emáx.éasuaeficácia,eEC50,apotência. osreceptoresestãoocupadospelofármaco.Entretanto,algunsfármacossãocapazesdeproduzirumarespostamáximaquandomenosde100%deseusreceptoresestãoocupados;osrecep-toresremanescentespodemserdenominadosreceptoresdereserva.Esseconceitoédiscutidodemodomaisdetalhadoadiante.Observemaisumavezqueacurvadedose–respos-tagraduadadaFig.2.2exibeumaestreitasemelhançacomacurvadeligaçãofármaco–receptordaFig.2.1,emqueaKdésubstituídapelaEC50eRoésubstituídoporEmáx.. RELAÇÕESDEDOSE–RESPOSTAQUANTAIS Arelaçãodedose–respostaquantalrepresentagraficamenteafraçãodapopulaçãoquerespondeadeterminadadosedeumfármacocomofunçãodadosedestefármaco.Asrelaçõesdedose–respostaquantaisdescrevemasconcentraçõesdeumfármacoqueproduzemdeterminadoefeitonumapopulação. % Cumulativa exibindo ( % de indivíduos que respondem )Efeito terapêutico 100 Efeito tóxico Efeito letal cognatos.Um fármacoque, atravésde sua ligaçãoa seu recep-tor,favoreceaconformaçãoativadestereceptorédenominadoagonista;poroutrolado,umfármacoqueimpedeaativaçãodoreceptorpeloagonistaédesignadocomoantagonista.Alguns Efeito terapêutico 50 % da dose necessária para obter Efeito tóxico Efeito letal fármacosnãoseenquadramexatamentedentrodessadefiniçãosimplesdeagonistaeantagonista;essesfármacosincluemosagonistasparciaiseosagonistasinversos.Asseçõesqueseseguemdescrevemessasclassificaçõesfarmacológicasdemaneiramaisdetalhada.0 ED50 TD50 LD50 Dose AGONISTAS Umagonistaéumamoléculaqueseligaaumreceptoreoestabilizanumadeterminadaconformação(habitualmentena conformaçãoativa).Quandoligadoporumagonista,umrecep-tortípicotemmaistendênciaaencontrar-senasuaconformação Fig.2.3Curvas dedose–respostaquantais. Ascurvasdedose–respostaquantaisdemonstramoefeitomédiodeumfármaco,comofunçãodesuaconcentração,emdeterminadapopulaçãodeindivíduos.Tipicamente,osindivíduossãoobservadosquantoàpresençaouausênciadeumaresposta(porexemplo,sonoouausênciadesono)e,aseguir,oresultadoobtidoéutilizadopararepresentargraficamenteapercentagemdeindivíduosquerespondemacadadosedofármaco.Asrelaçõesdedose–respostaquantaissãoúteisparapreverosefeitosdeumfármacoquandoadministradoaumapopulaçãodeindivíduos,bemcomoparadeterminarasdosestóxicaseasdosesletaisdentrodeumapopulação.EssasdosessãodenominadasED50(doseemque50%dosindivíduosapresentamumarespostaterapêuticaaumfármaco),TD50(doseemque50%dosindivíduosexibemumarespostatóxica)eLD50(doseemque50%dosindivíduosmorrem).ObservequeaED50éadoseemque50%dosindivíduosrespondemaumfármaco,enquantoaEC50(conformedescritonafiguraanterior)éadoseemqueumfármacoproduzmetadedoefeitomáximoemumindivíduo. AFig.2.3forneceumexemplodecurvasdedose–respostaquantais.Devidoadiferençasnasrespostasbiológicasentreindivíduos,osefeitosdeumfármacosãoobservadosaolongodeumafaixadedoses.Asrespostassãodefinidasemtermosdepresentesouausentes(istoé,quantais,enãograduadas).Parâ-metrosfinais,como“sono/semsono”ou“estarvivodentrode12meses/nãoestarvivodentrode12meses”sãoexemplosderespostasquantais;emcontrapartida,asrelaçõesdedose–res-postagraduadassãogeradasutilizandorespostasdegrandezaescalar,comomudançanapressãoarterialounafreqüênciacardíaca.Oobjetivoégeneralizarumresultadoparaumapopu-lação,maisdoqueexaminaroefeitograduadodediferentesdosesdofármacosobreumindivíduo.Ostiposderespostasquepodemserexaminadoscomarelaçãodedose–respostaquantalincluemaefetividade(efeitoterapêutico),atoxicidade(efeitoadverso)ealetalidade(efeitoletal).Asdosesquepro-duzemessasrespostasem50%deumapopulaçãosãoconheci-dascomodoseefetivamediana(ED50),dosetóxicamediana(TD50)edoseletalmediana(LD50),respectivamente. ativadoquenasuaconformaçãoinativa.Dependendodorecep-tor, os agonistas podem ser fármacos ouligantes endógenos.AEquação2.6forneceummodeloconvenienteparacompreenderarelaçãoentreligaçãodoagonistaeativaçãodoreceptor: ( D R D R * DR DR * )Equação2.6 ondeDeRsãoasconcentraçõesdofármacoedoreceptornão-ligados(livres),respectivamente,DRéaconcentraçãodocomplexoagonista–receptor,eR*indicaaconformaçãoativado receptor.Paraamaioriadospacientesedosagonistas, R*eDRsãoespéciesinstáveisquetêmapenasumaexistênciabreve,sendoquantitativamenteinsignificantesemcomparaçãocomReDR*.Porconseguinte,namaioriadoscasos,aEquação2.6ésimplificadapara D+R DR* Equação2.7 ObservequeaEquação2.7éidênticaàEquação2.1,quefoiutilizadaparaanálisedaligaçãofármaco–receptor.Issosuge-reque,paraamaioriadosreceptores,aligaçãodoagonistaéproporcionalàativaçãodoreceptor.Todavia,algunsrecep-toresapresentamestabilidadelimitadanasconformaçõesR*e/ouDR;nessescasos,éprecisoreexaminaraEquação2.6(veradiante). AEquação2.6tambémpodeserutilizadaparailustrarquantitativamenteosconceitosdepotênciaeeficácia.Con-formeassinaladoanteriormente,apotênciaéaconcentraçãodeagonistanecessáriaparaproduzirmetadedoefeitomáximo,enquantoaeficáciaéoefeitomáximodoagonista.Admitindoqueumreceptornãoestejaativo,anãoserqueestejaligadoaumfármaco(istoé,R*éinsignificanteemcomparaçãocomDR*),aEquação2.8forneceumadescriçãoquantitativadapotênciaedaeficácia: INTERAÇÕESFÁRMACO–RECEPTOR DR kligado k DR klivre k DR* Equação2.8 Muitosreceptoresdefármacospodemsercategorizadosden-trodedoisestadosdeconformação,queestãoemequilíbrioreversívelentresi. Essesdoisestados são denominadosestadoativoeestadoinativo.Muitosfármacosatuamcomoligantesdessesreceptoreseafetamaprobabilidadedeoreceptorencon-trar-sepreferencialmenteemumadessasduasconformações.Aspropriedadesfarmacológicasdosfármacosbaseiam-se,comfreqüência,emseusefeitossobreoestadodeseusreceptores Potência Eficácia Nestaequação,kéaconstantedevelocidadedeativaçãodo receptor, e ké a constantede velocidade de desativação doreceptor.Essaequaçãodemonstraarelaçãoentreapotência(Kd =klivre/kligado)ealigaçãodoagonista(D+RDDR),bemcomoarelaçãoentreaeficácia(k/k)eamudançadeconformaçãonecessáriaparaaativaçãodoreceptor(DRDDR*).Essasrelaçõessãointuitivasseconsiderarmosqueosfármacosmaispotentessãoaquelesquepossuemmaiorafinidadepelosseus receptores(Kdmaisbaixa),enquantoosfármacosmaiseficazessãoaquelesqueproduzemativaçãodeumamaiorproporçãodereceptores. ANTAGONISTAS Umantagonistaéumamoléculaqueinibeaaçãodeumago-nista,masquenãoexercenenhumefeitonaausênciadoago-nista.AFig.2.4forneceumaabordagemparaaclassificaçãodosváriostiposdeantagonistas.Osantagonistaspodemserdivididosemantagonistasdereceptoreseantagonistassemreceptores.Oantagonistadereceptorliga-seaosítioativo(sítiodeligaçãodoagonista)ouaumsítioalostéricodeum gonistassemreceptorestambémsãoexaminadosdemodosucinto. AntagonistasCompetitivosdosReceptores Umantagonistacompetitivoliga-sereversivelmenteaosítiodeumreceptor.Aocontráriodoagonista,quetambémseligaaosítioativodoreceptor,oantagonistacompetitivonãoesta-bilizaaconformaçãonecessáriaparaaativaçãodoreceptor.Porconseguinte,oantagonistabloqueiaaligaçãodoagonistaaseureceptor,enquantomantémoreceptoremsuaconformaçãoinativa.AEquação2.9éumamodificaçãodaEquação2.7,queincorporaoefeitodeumantagonistacompetitivo(A). receptor.Aligação doantagonistaaosítioativoimpedea liga- ção doagonistaaoreceptor,enquantoa ligaçãodoantagonistaaumsítioalostéricoalteraaKdparaaligaçãodoagonistaouimpedeamudançadeconformaçãonecessáriaparaaativaçãodoreceptor.Osantagonistasdereceptorestambémpodemserdivididosemantagonistasreversíveiseirreversíveis,istoé,antagonistasqueseligamaseusreceptoresdemodoreversíveleantagonistasqueseligamirreversivelmente.AFig.2.5ilustraosefeitosgeraisdessestiposdeantagonistassobrealigaçãodosagonistas;asseçõesqueseseguemapresentamumadescriçãomaisdetalhadadessetópico. Oantagonistasemreceptoresnãoseligaaoreceptordoagonista;entretanto,inibeacapacidadedoagonistadeiniciarumaresposta.Emnívelmolecular,essainibiçãopodeocorreratravésda inibição diretado agonista (por exemplo, utilizando AR A+D+R DR* Equação2.9 Nestaequação,umafraçãodasmoléculaslivresdoreceptor(R)éincapazdeformarumcomplexofármaco(agonista)–receptor(DR*),vistoquealigaçãodoreceptoraoantagonistaresultanaformaçãodeumcomplexoantagonista–receptor(AR).Comefeito,aformaçãodocomplexoARestabeleceumasegundareaçãodeequilíbrio,quecompetecomoequilíbriodaligaçãoagonista–receptor.ObservequeocomplexoARéincapazdesofrerumamudançadeconformaçãoparaoestadoativo(R*)doreceptor. Aanálisequantitativalevaàseguinteequaçãoparaaligaçãodeumagonista(D)aoreceptor, napresençadeumantagonistacompetitivo (A): anticorpos),atravésdainibiçãodeumamoléculalocalizadadis-talmentenaviadeativação,ouatravésdaativaçãodeumaviaqueseopõeàaçãodoagonista.Osantagonistassemreceptores DR Ro D ( d )DK1A Equação2.10 podemserclassificadosemantagonistasquímicoseantagonis-tasfisiológicos.Osantagonistasquímicosinativamoagonistaantesdeeleteraoportunidadedeatuar(porexemplo,atravésdeneutralizaçãoquímica);osantagonistasfisiológicosproduzemumefeitofisiológicoopostoàqueleinduzidopeloagonista. Aseçãoqueseseguetratadosantagonistascompetitivosdosreceptoresedosantagonistasnão-competitivos.Osanta- KA AEquação2.10assemelha-seàEquação2.4,excetoqueaKdefetivafoiaumentadaporumfatorde(1+[A]/KA),ondeKAéaconstantededissociaçãoparaaligaçãodoantagonistaaoreceptor(istoé,KA =[A][R]/[AR]).ComooaumentodaKdequivaleaumadiminuiçãodepotência,apresençadeumantagonistacompetitivo(A)diminuiapotênciadeumagonista Antagonistas ( Antagonistas dos receptores Antagonistas sem receptores Ligação ao sítio ativo Ligação alostérica Reversível Irreversível Reversível Irreversível ) Antagonista competitivo Antagonista não-competitivo no sítio ativo Antagonista alostérico não-competitivo Antagonista químico Antagonista fisiológicoFig.2.4Classificaçãodosantagonistas.Osantagonistaspodemsercategorizadoscombasenasualigaçãoaumsítiodoreceptorparaoagonista(antagonistasdosreceptores)ouinterrupçãodasinalizaçãodocomplexoagonista–receptorporoutrosmeios(antagonistassemreceptores).Osantagonistasdosreceptorespodemligar-seaosítiodoagonista(ativo)ouaumsítioalostériconoreceptor;emambososcasos,elesnãoafetamaatividadebasaldoreceptor(istoé,aatividadedoreceptornaausênciadoagonista).Osantagonistasdosreceptoresnosítiodoagonista(ativo)impedemaligaçãodoagonistaaoreceptor.Quandooagonistacompetecomoligantepelasualigaçãoaosítioagonista,édenominadoantagonistacompetitivo;apresençadealtasconcentraçõesdoagonistapodesuperaroantagonismocompetitivo.Osantagonistasnão-competitivosnosítiodoagonistaligam-sedemodocovalenteoucomafinidademuitoaltaaosítioagonista,demodoqueatémesmoconcentraçõeselevadasdoagonistasãoincapazesdeativaroreceptor.Osantagonistasdosreceptoresemsítioalostéricoligam-seaoreceptoremumlocaldistintodosítioagonista.Nãocompetemdiretamentecomoagonistapelaligaçãoaoreceptor,porémalteramaKdparaaligaçãodoagonistaouinibemarespostadoreceptoràligaçãodoagonista.Emgeral,apresençadeconcentraçõeselevadasdoagonistanãoécapazdereverteroefeitodeumantagonistaalostérico.Osantagonistassemreceptoressãodivididosemduascategorias.Osantagonistasquímicosseqüestramoagonistae,porconseguinte,impedemainteraçãodoagonistacomoreceptor.Osantagonistasfisiológicosinduzemumarespostafisiológicaopostaàqueladoagonista,porématravésdeummecanismomolecularquenãoenvolveoreceptordoagonista. Sítio de ligação do agonista Sítio de ligação alostérico do Agonista Agonista Antagonista competitivo Agonista A antagonista B C D Antagonista não-competitivo Receptor não-ligado Ligação do agonista Ligação do antagonista competitivo Ligação do antagonista não-competitivo Fig.2.5Tiposdeantagonistasdosreceptores.Ilustraçãoesquemáticadasdiferençasentreantagonistasnossítiosagonista(ativo)ealostérico.A.Oreceptorinativonão-ligado.B.Oreceptorativadopeloagonista.Observeamudançadeconformaçãoinduzidanoreceptorpelaligaçãodoagonista,porexemplo,aaberturadeumcanaliônicotransmembrana.C.Osantagonistasnosítioagonistaligam-seaosítioagonistadoreceptor,porémnãoativamoreceptor;essesagentesbloqueiamaligaçãodoagonistaaoreceptor.D.Osantagonistasalostéricosligam-seaumsítioalostérico(distintodosítioagonista)e,porconseguinte,impedemaativaçãodoreceptor,mesmoseoagonistaestiverligadoaoreceptor. ( A Antagonista competitivo 100 Agonista isolado Agonista + Antagonista 50 Antagonista isolado 0 B Antagonista não-competitivo 100 Agonista isolado Agonista + Antagonista 50 Antagonista isolado 0 Concentração de agonista ou de antagonista ) ( % de resposta )(D)porumfatorde(1+[A]/KA).Apesardeapotênciadeumagonistadiminuiràmedidaqueaumentaaconcentraçãodoantagonistacompetitivo,aeficáciadoagonistanãoéafetada.Issosedeveaofatodequeaconcentraçãodoagonista[D]podeseraumentadaparacontrapor-seaoantagonista(“superá-lo”),“eliminando”ourevertendo,assim,oefeitodoantagonista.AFig.2.6Amostraoefeitodeumantagonistacompetitivo ( % de resposta )Fig.2.6Efeitosdosantagonistassobrearelaçãodedoseagonista–resposta.Osantagonistascompetitivosenão-competitivospossuemdiferentesefeitossobreapotência(aconcentraçãodoagonistaqueproduzmetadedarespostamáxima)eaeficácia(arespostamáximaaumagonista).A.Umantagonistacompetitivodiminuiapotênciadeumagonista,semafetarasuaeficácia.B.Umantagonistanão-competitivoreduzaeficáciadeumagonista.Conformeilustradoaqui,amaioriadasantagonistasnão-competitivosalostéricosnãoafetaapotênciadoagonista. sobrearelaçãodosedeantagonista–resposta.Observequeoantagonistacompetitivotemoefeitodedesviaracurvadedosedeagonista–respostaparaadireita,causandoumareduçãodepotênciadoagonista,porémmantendoasuaeficácia. Apravastatina,ofármacoutilizadonocasodescritonoiníciodocapítuloparareduzironíveldecolesteroldoAlmi-rante,forneceumexemplodeumantagonistacompetitivo.ApravastatinaéummembrodaclassedeinibidoresdaHMGCoAredutase(estatinas)defármacoshipolipêmicos.AHMGCoAredutaseéumaenzimaquecatalisaareduçãodaHMGCoA,queconstituiaetapaquelimitaavelocidadenabiossíntesedocolesterol.Asemelhançaentreasestruturasquímicasdasestati-naseaHMGCoApermitealigaçãodamoléculadeestatinaaosítio ativoda HMG CoAredutase,impedindo,assim,a ligaçãodaHMGCoA.AinibiçãodaHMGCoAredutasediminuiasínteseendógenadecolesterole,portanto,diminuiosníveisdecolesteroldopaciente.Essainibiçãoéreversível,vistoquenãoháformaçãodeligaçõescovalentesentreaestatinaeaenzima.ParaumadiscussãomaisdetalhadadapravastatinaedeoutrosinibidoresdaHMGCoAredutase,veroCap.23. AntagonistasNão-CompetitivosdosReceptores Osantagonistasnão-competitivospodemligar-seaosítioati-voouaumsítioalostéricodeumreceptor(Fig.2.4).Oantago-nistanão-competitivoqueseligaaosítioativodeumreceptorpodefazê-lodemodocovalenteoucomafinidademuitoalta;emambososcasos,aligaçãoéefetivamenteirreversível.Comoumantagonistairreversivelmenteligadoaosítioativonãopodeser“superado”,mesmocomaltasconcentraçõesdoagonista,esseantagonistaexibeantagonismonão-competitivo. Umantagonistaalostériconão-competitivoatuaaoimpediraativaçãodoreceptor,mesmoquandooagonistaestáliga-doaosítioativo.Oantagonistaalostéricoexibeantagonismonão-competitivo, independentementedareversibilidade desualigação,vistoqueessetipodeantagonistanãoatuaaocompetircomoagonistapelasualigaçãoaosítioativo,masaoimpediraativaçãodoreceptor.Entretanto,areversibilidadedaligaçãodoantagonistaéimportante,vistoqueoefeitodeumantago-nistairreversívelnãodiminui,mesmoquandoofármacolivre(não-ligado)éeliminadodoorganismo,enquantooefeitodeumantagonistareversívelpodeser“eliminado”comodecorrerdotempo,àmedidaquesedissociadoreceptor(verEquação2.9). Umreceptoraoqualestáligadoumantagonistanão-com-petitivonãopodemaisresponderàligaçãodeumagonista. ( % de contração )Porconseguinte,arespostamáxima(eficácia)doagonistaéreduzida.Umadiferençacaracterísticaentreantagonistascom-petitivosenão-competitivosresidenofatodequeosantago-nistascompetitivosreduzemapotênciadoagonista,enquantoosantagonistasnão-competitivosdiminuemaeficáciadoago- nista.Essadiferençapodeserexplicadacombasenofatodequeumantagonistacompetitivocompetecontinuamentepelasualigaçãoaoreceptor,diminuindoefetivamenteaafinidadedoreceptorpelo seu agonista, sem limitaronúmerodereceptoresdisponíveis.Emcontrapartida,umantagonistanão-competitivoremovereceptoresfuncionaisdosistema,limitando,assim,onúmerodereceptoresdisponíveis.AsFigs.2.6Ae2.6Bcompa-ramosefeitosdeantagonistascompetitivosenão-competitivossobrearelaçãodosedeagonista–resposta. Aaspirinaéumexemplodeantagonistanão-competitivo.Esseagenteacetilairreversivelmenteaciclo-oxigenase,aenzi-maresponsávelpelaproduçãodetromboxanoA2nasplaque-tas. Na ausênciadegeraçãodetromboxanoA2, ocorreinibiçãodaagregaçãoplaquetária.Comoainibiçãoéirreversível,easplaquetassãoincapazesdesintetizarnovasmoléculasdeciclo-oxigenase,osefeitosdeumadoseúnicadeaspirinapersistempor7a10dias(otemponecessárioparaaproduçãodenovasplaquetaspelamedulaóssea),emboraofármacolivresejadepuradomuitomaisrapidamentedoorganismo. AntagonistasSemReceptores Osantagonistassemreceptorespodemserclassificadosemantagonistasquímicoseantagonistasfisiológicos.Umantago-nistaquímicoinativaoagonistaespecíficoaomodificá-loouseqüestrá-lo,demodoqueoagonistanãoémaiscapazdeligar-seaoreceptoredeativá-lo.Aprotaminaéumexemplodeantagonistaquímico;essaproteínabásicaliga-seestequiomet-ricamenteàclassedeanticoagulantesdaheparina,inativandoessesagentes(verCap.22).Devidoaesseantagonismoquími-co,aprotaminapodeserutilizadaparainterromperrapidamenteosefeitosdaheparina. Umantagonistafisiológicoativaoubloqueiamaiscomu-menteumreceptorquemedeiaumarespostafisiologicamenteopostaàqueladoreceptordoagonista.Assim,porexemplo,notratamentodohipertireoidismo,osantagonistas-adre-nérgicossãoutilizadoscomoantagonistasfisiológicosparareverteroefeitodetaquicardiadohormôniotireoidianoendó-geno.Emboraohormôniotireoidianonãoproduzaseuefeitodetaquicardiaatravésdeestimulação-adrenérgica,obloqueiodaestimulação-adrenérgicapode,entretanto,aliviarataqui-cardiacausadapelohipertireoidismo(verCaps.9e26).AGONISTASPARCIAIS Umagonistaparcialéumamoléculaqueseligaaumreceptoremseusítioativo,masquesóproduzumarespostaparcial,mesmoquandotodososreceptoresestãoocupados(ligados)peloagonista.AFig.2.7mostraumasériedecurvasdedose–respostaparaváriosagonistasintegraiseparciais.Cadaago-nistaatuaatravésdesualigaçãoaomesmosítionoreceptormuscarínicodeacetilcolina(ACh).Observequeobutiltrimeti-lamônio(TMA)nãoéapenasmaispotentedoqueosderivadosdecadeiamaislonganaestimulaçãodacontraçãomuscular,comotambémmaiseficazdoquealgunsdosderivados(por exemplo,asformasheptilaeoctila)naproduçãodeumamaiorrespostamáxima. Por esse motivo,obutilTMAé umagonistaintegralno receptormuscarínicodeACh, enquantoo derivadooctilaéumagonistaparcialnessereceptor. ( Butila Hexila Heptila Octila 100 50 0 10 -7 10 -6 10 -5 [D] (Molar) 10 -4 10 -3 )Fig.2.7Curvasdedose–respostadeagonistasintegraiseparciais.Existemmuitoscasosemquefármacosqueatuamnosítioagonistadomesmoreceptorproduzemdiferentesefeitosmáximos.Porexemplo,váriosderivadosalquiladotrimetilamônioestimulam,todoseles,osreceptoresmuscarínicosdeacetilcolina(ACh),causandocontraçãomuscularnointestino,porémproduzemrespostasmáximasdiferentes,mesmoquandotodososreceptoresestãoocupados.Nessafigura,osderivadosbutilehexiltrimetilamôniosãoagonistasintegrais —apesardeterempotênciasdiferentes,ambossãocapazesdeproduzirumarespostamáxima.Osagonistasqueproduzemapenasumarespostaparcial,comoosderivadosheptilaeoctila,sãodenominadosagonistasparciais.Observequeascurvasdedose–respostadosagonistasparciaisformamum platôemvaloresabaixodaquelesdosagonistasintegrais.AAChatuacomoagonistaintegralnessesistema(nãoilustrada). Comoosagonistasparciaiseosagonistasintegraisligam-seaomesmosítionoreceptor,oagonistaparcialpodereduzirarespostaproduzidaporumagonistaintegral.Dessamaneira,oagonistaparcialpodeatuarcomoantagonistacompetitivo.Poressa razão,osagonistas parciaissãoalgumas vezesdenomina-dos“antagonistasparciais”ouatémesmo“agonistas-antago-nistas mistos”. Éinteressanteindagarcomoumagonistapoderiaproduzirumarespostaabaixodamáximase umreceptor só podeexistirnoestadoativoouinativo.Estaéumaáreadepesquisaatu-al,paraaqualforamaventadasdiversashipóteses.PodemoslembrarqueaEquação2.6foisimplificadanaEquação2.7combasenapressuposiçãodequeaReaDR*sãomuitomaisestáveisdoqueaR*eaDR.Masoquepoderiaocorrerseumfármaco(vamoschamá-lodeagonistaparcial)pudesseestabilizaraDR,bemcomoaDR*?Nessecaso,aadiçãodoagonistaparcialresultarianaestabilizaçãodealgunsreceptoresnaformaDRedealgunsreceptoresnaformaDR*.Comaocupaçãointegraldosreceptores,algunsreceptoresestariamnoestadoativoeoutrosnoestadoinativo,eaeficáciadofármacoestariareduzidaemcomparaçãocomadeumagonistaintegral(queestabilizaapenasDR*).Nessaformulação,umantagonistapuroliga-sepreferencialmenteaoestadoinativodoreceptor;umagonistaintegralliga-sedepreferênciaaoestadoativodoreceptor,eumagonistaparcialliga-secomafinidadecompará-velaosestadostantoativoquantoinativodoreceptor. Umasegundahipóteseformulada paraa açãodos agonistasparciaiséadequeumreceptorpodeexibirmúltiplasconforma-çõesDR*,cadaumacomatividadeintrínsecadiferente.Depen-dendodasconformaçõesparticularesdoreceptorligadaspeloagonista,pode-seobservarumafraçãodoefeitomáximopossí- velquandoumagonistaparcialliga-sea100%dosreceptores.Estepodeserocasodosdenominadosmoduladoresseletivosdosreceptoresdeestrogênio(MSRE),comooraloxifenoeotamoxifeno(verCap.28).Oraloxifenoatuacomoagonistaparcialnosreceptoresdeestrogêniopresentesnoossoecomoantagonistanosreceptoresdeestrogênionamama.Aestrutu-racristalinadoraloxifenoligadoaoreceptordeestrogênio,quandocomparadacomadoestrogênioligadoaoreceptordeestrogênio,revelaqueacadeialateraldoraloxifenoinibeoalinhamentodeumahélicedoreceptordeestrogênionosítioativo(vercontracapafrente).Issopoderesultareminibiçãodealgunsefeitosdistaisdoreceptordeestrogênio,enquantooutrosefeitossãomantidos.Emnívelfisiológico,esseefeitoseriaobservadocomoatividadeagonistaparcialnoosso. Outroexemplodeagonistaparcialéopindolol,umfármacofreqüentementeclassificadocomoantagonista-adrenérgico(verCap.9).Todavia,narealidade,opindololexibeproprieda-desdeagonistaparcial,eessefármacopodetervalorclínicoemvirtudedarespostaintermediáriaqueeleproduz.Emboraafre-qüênciacardíacae a pressão arterialem repouso não sejam tãoreduzidaspelopindololquantoporoutrosantagonistas-adre-nérgicospuros,opindololinibedemodoefetivoosaumentospotencialmenteperigososdafreqüênciacardíacaedapressãoarterialquedeoutromodopoderiamocorrercomestimulaçãosimpática(porexemplo,exercíciofísico)empacientescomdoençacardiovascular. AGONISTASINVERSOS Aaçãodosagonistasinversospodesercompreendidaseconside-rarmosnovamenteaEquação2.6.Conformeassinaladoanteri-ormente,emalgunscasos,osreceptorespodemapresentarumaestabilidadeinerentenoestadoR*.Nessacircunstância,existeumaatividadeintrínseca(“tônus”)dosistemareceptor,mesmonaausênciadeumliganteendógenooudeumagonistaexógenoadministrado.Umagonistainversoatuademodoaaboliressaatividadeintrínseca(constitutiva)doreceptorlivre(não-ocu-pado).OsagonistasinversospodematuaratravésdesualigaçãoaoreceptornaformaDR(inativa)edesuaestabilização.IssotemoefeitodedesativarosreceptoresqueseencontravamnaformaR*naausênciadofármaco.AimportânciafisiológicadosreceptoresquepossuemestabilidadeinerentenoestadoR*estásendoatualmenteinvestigada,eosreceptorescommutaçõesqueostornamconstitutivamenteativos(porexemplo,BCR-AbleEGFRtirosinocinases)estãosetornandoalvosinteres-santesnaabordagemdaquimioterapiadocâncercomagonistasinversos(verCap.38). Consideremosassemelhançaseasdiferençasentreasaçõesdosagonistasinversosedosantagonistascompetitivos.Ambosostiposdefármacosatuamnosentidodereduziraatividadedeumreceptor.Napresençadeagonistaintegral,tantoosanta-gonistascompetitivosquantoosagonistasinversostêm,como RECEPTORESDERESERVA Convémlembrarque,combasenapressuposiçãoinicialsobrealigaçãofármaco–receptor,énecessáriaaocupaçãode100%dosreceptoresparaqueumagonistaexerçaseuefeitomáximo.Agora,consideremosapossibilidadedequesepossaobterumarespostamáximacomumaocupaçãodemenosde100%dosreceptores.AFig.2.8mostraumexemplodeumacurvadeligaçãofármaco–receptoredeumacurvadedose–respostaqueilustramessasituação.Nesteexemplo,obtém-seumefeitomáximonumadosedeagonistamaisbaixadoqueanecessáriaparasaturaçãodosreceptores,istoé,aEC50émenordoqueaKdparaessesistema.Essetipodediscrepânciaentreacurvadeligaçãofármaco–receptoreacurvadedose–respostasignificaapresençadereceptoresdereserva.Acredita-sequepelomenosdoismecanismosmolecularessejamresponsáveispelo ( A Curva de ligação fármaco–receptor 1,0 [DR] [R 0 ] 0,5 0 K d B Curva de dose–resposta 1,0 E E máx. 0,5 0 EC 50 K d [D] ) Fig.2.8Comparaçãoentreumacurvadeligaçãofármaco–receptoreumacurvadedose–respostanapresençadereceptoresdereserva.Naausênciadereceptoresdereserva,existefreqüentementeumaestreitacorrelaçãoentreacurvadeligaçãofármaco–receptoreacurvadedose–resposta—aligaçãodeumaquantidadeadicionaldofármacoaoreceptorproduzaumentoda ação,reduzirapotênciadoagonista.Entretanto,convémlem- resposta,eaEC50 éaproximadamenteigualàKd.Entretanto,emsituações brarqueumantagonistacompetitivonãoexercenenhumefeito naausênciadoagonista,enquantoumagonistainversodesativaosreceptoresqueestãoconstitutivamenteativosnaausênciado agonista.SeutilizarmosasEquações2.6até2.9comomode-los,esses conceitospodem ser resumidosda seguinte maneira:osagonistasintegraisestabilizamDR*,osagonistasparciaisestabilizamtantoDRquantoDR*(ouformasalternadasdeDR*), os agonistas inversos estabilizam DR, e os antagonistascompetitivos“estabilizam”R(ouAR)aoimpediraligaçãodosagonistasintegrais,parciaiseinversosaoreceptor. compresençadereceptoresdereserva,verifica-semetadedarespostamáximaquandomenosdametadedetodososreceptoresestáocupada(otermoreservaimplicaquenãohánecessidadedeocupaçãodetodososreceptorescomofármacoparaproduzirumarespostaintegral).A.Curvadeligaçãofármaco–receptor.B.Curvadedose–respostadomesmofármaco,napresençadereceptoresdereserva.Observequearespostamáximaocorrenumaconcentraçãodeagonistamaisbaixadoquealigaçãomáxima,eEC50 <Kd.Essasduasrelaçõesconfirmamapresençadereceptoresdereserva.Déofármaco,Réoreceptore[DR]/[Ro]éaocupaçãofracionáriadoreceptor.Eéaresposta(efeito),Emáx.éarespostamáxima(eficácia)eE/Emáx. éarespostafracionária.EC50éapotência,eKdéaconstantededissociaçãoemequilíbrioparaaligaçãofármaco–receptor. fenômenodoreceptordereserva.Emprimeirolugar,épossívelqueoreceptorpermaneçaativadoapósasaídadoagonista,permitindoaativaçãodeváriosreceptoresporumamoléculadeagonista.Emsegundolugar,asviasdesinalizaçãocelularesdescritasnoCap.1poderiampropiciarumaamplificaçãosig-nificativadeumsinalrelativamentepequeno,eaativaçãodeapenasalgunsreceptorespoderiasersuficienteparaproduzirumarespostamáxima.Esteúltimomecanismoaplica-se,porexemplo,nocasodemuitosreceptoresacopladosàproteínaG;aativaçãodeumaúnicamoléculadeGspodeestimularaadenililciclaseacatalisaraformaçãodedúziasdemoléculasdecAMP. Apresençadereceptoresdereservaalteraoefeitodeumantagonistanão-competitivosobreosistema.Napresençadebaixasconcentraçõesdoantagonista,oantagonistanão-compe-titivoliga-seareceptoresquenãosãonecessáriosparaproduzirumarespostamáxima;porconseguinte,nãohádiminuiçãodaeficáciadoagonista.Entretanto,apotênciadoagonistaéafe-tada,vistoqueapotênciaéproporcionalàfraçãodereceptoresdisponíveisquedevemestarocupadosparaproduzir50%daresposta.Oantagonistanão-competitivoreduzonúmerodereceptoresdisponíveis,aumentando,assim,afraçãoderecep-toresqueprecisamestarligadosemqualquerconcentraçãodoagonista paraproduzira mesmaresposta.Na presençadealtasconcentraçõesdoantagonista,oantagonistanão-competitivoliga-senãoapenasaosreceptoresde“reserva”,mastambémaosreceptoresnecessáriosparaproduzirarespostamáxima,eocorreumareduçãotantodaeficáciaquantodapotênciadoagonista.AFig.2.9ilustraesseconceito. CONCEITOSEMTERAPIA ( Agonista apenas Agonista + concentrações crescentes de antagonista não-competitivo 1,0 E 0,5 E máx. 0 [D] ) Fig.2.9Efeitodeumantagonistanão-competitivosobreacurvadedosedeagonista–respostanapresençadereceptoresdereserva.Emumsistemacomausênciadereceptoresdereserva,umantagonistanão-competitivoproduzumadiminuiçãodaeficáciaemtodasasconcentraçõesdoantagonista(verFig.2.6B).Entretanto,emumsistemacomreceptoresdereserva,apotênciaencontra-sediminuída,porémaeficácianãoéafetadaembaixasconcentraçõesdoantagonista,vistoqueumnúmerosuficientedereceptoresdesocupadosestádisponívelparagerarumarespostamáxima.Àmedidaqueconcentraçõescrescentesdoantagonistaligam-sedemodonão-competitivoaumnúmerocadavezmaiordereceptores,oantagonistaacabaocupandotodososreceptoresde“reserva”,everifica-setambémumareduçãodaeficácia. cadopelosbaixosITdessesfármacos.Porexemplo,adosedeheparinacapazdeprovocarsangramentosignificativoem umpacienteé,comfreqüência,menosdeduasvezesadose necessáriaparaobterumefeitoterapêutico;porconseguinte, ÍNDICETERAPÊUTICOEJANELATERAPÊUTICA Ajanelaterapêuticaéafaixadedoses(concentrações)deumfármacoqueproduzumarespostaterapêutica,semefeitosadversosinaceitáveis(toxicidade), numa população de pacien-tes.Parafármacosquepossuemumapequenajanelaterapêu-tica,éprecisoefetuarumaestreitamonitorizaçãodosníveisplasmáticosdofármacoparamanterumadoseefetiva,semultrapassaronívelpassíveldeprovocartoxicidade.Opróxi-mocapítuloirádiscutiralgumasdastécnicasempregadasemterapiaclínicaparamanterasconcentraçõesplasmáticasdosfármacosdentrodajanelaterapêutica. Ajanelaterapêuticapode ser quantificada peloíndice tera-pêutico(IT)(algumasvezesdenominadorelaçãoterapêuti-ca),quecostumaserdefinidacomo: aheparinapodeserdefinidacomoumfármacodeíndicetera-pêuticoinferior adois.Poresse motivo,nospacientestratadoscomheparina,éprecisodeterminaroTTP,ummarcadordacascatadacoagulação,acada8a12horas.OelevadoITdaaspirinaindicasuarelativasegurança.Observequeoefeitofarmacológicodaheparinafoimonitoradoperiodicamentenocasodescrito,enquantoaaspirinapôdeseradministradasemanecessidadedemonitorarseusníveisplasmáticos. · ConclusãoePerspectivasFuturas Afarmacodinâmicaéoestudoquantitativodosefeitosdosfármacossobreoorganismo.Foramdesenvolvidasváriasfer-ramentasparacompararaeficáciaeapotênciadosfármacos,incluindoasrelaçõesdedose–respostagraduadasequantais.Arelaçãodedose–respostagraduadaéutilizadaparaexaminar Índice terapêutico (IT) TD50 ED50 Equação2.11 osefeitosdeváriasdosesdeumfármacosobreumindivíduo,enquantoarelaçãodedose–respostaquantaléutilizadapara ondeTD50éadosedofármacoqueproduzumarespostatóxicaem50%dapopulação,eED50éadosedofármacoterapeuti-camenteefetivaem50%dapopulação.OITforneceumúni-conúmeroquequantificaamargemdesegurançarelativadeumfármaconumapopulação.UmaltovalordeITrepresentaumajanelaterapêuticagrande(ou“larga”)(porexemplo,umadiferençademilvezesentreasdosesterapêuticasetóxicas),enquantoumITpequenoindicaumajanelaterapêuticapequena(ou“estreita”)(porexemplo,umadiferençadeduasvezesentreasdosesterapêuticasetóxicas). OpotencialdetoxicidadeassociadoaousodaheparinaedotPAnocasoapresentadonoiníciodestecapítuloéindi- examinarosefeitosdeváriasdosesdeumfármacosobreumapopulação.A janelaterapêuticaeoíndiceterapêuticosãouti-lizadosparacompararasconcentraçõesdefármacosquepro-duzemefeitosterapêuticoseefeitostóxicos(adversos). Noestudodafarmacodinâmica,osfármacospodemserdivi-didosemduasclassesgerais—agonistaseantagonistas.Amaioriadosagonistaspermiteamanutençãodaconformaçãodeumreceptornoestadoativo,enquantoosantagonistasimpe-demaativaçãodoreceptorpelosagonistas.Osantagonistassãoaindaclassificadosdeacordocomalocalizaçãomoleculardeseuefeito(istoé,receptoresounão-receptores),osítioondeseligamaoreceptor(istoé,sítioativoousítioalostérico)eomodo QUADRO2.1ResumodaAçãodosAgonistaseAntagonistas CLASSESDEAGONISTAS ( CL A SSE DE AGON IS TA S AÇÃO ) Agonista integral Ativaoreceptorcomeficáciamáxima Agonista parcial Ativaoreceptor,masnãocomeficáciamáxima Agonista inverso Inativaoreceptorconstitutivamenteativo CLASSESDEANTAGONISTAS ( CL A SSE DE ANTAGON IS TA S EFEIT OS SOBRE A POTÊNCIA DO AGON I STA EFEIT OS SOBRE AEFICÁCIADO AGONISTA AÇÃO ) Antagonistacompetitivo Sim Não Liga-sereversivelmenteaosítioativodoreceptor; competecomaligaçãodoagonistaaessesítio Antagonistanão-competitivonosítioativo Não Sim Liga-seirreversivelmenteaosítioativodoreceptor;impedealigaçãodoagonistaaessesítio Antagonistaalostériconão-competitivo Não Sim Liga-sedemodoreversívelouirreversívela umsítiodiferentedosítioativodoreceptor;alteraaKdparaaligaçãodoagonistaouimpedeamudançadeconformaçãonecessáriaparaaativaçãodoreceptorpeloagonista desualigaçãoaoreceptor(istoé,reversívelouirreversível).OQuadro2.1forneceumresumodosváriostiposdeagonistaseantagonistasdescritosnestecapítulo. Asinformaçõesapresentadasnestecapítuloserãoreiterada-menteutilizadasnestelivro,bemcomoporcadaprofissionaldesaúdeemsuapráticaclínica.Oconhecimentopráticodafar-macodinâmicaéessencialemtodososcasosemqueseefetuaumacomparaçãoentrefármacoscombasenasuapotênciaoueficácia,ounoscasosemqueénecessárioestabeleceradoseapropriadadeumfármacoparaumpacienteespecífico. · LeiturasSugeridas BergJM,TymoczkoJL,StryerL.Biochemistry.6thed.NewYork:WHFreemanandCompany;2006.(Discuteabaseestruturaldasinteraçõesproteína-proteína.) LeffP.Thetwo-statemodelofreceptoractivation.TrendsPharmacolSci1995;16:89–97.(ForneceabaseteóricaparaaEquação2.6;discuteotratamentoquantitativodasinteraçõesfármaco–receptor.) PrattWB,TaylorP,eds.Principlesofdrugaction:thebasisofpharma-cology.3rded.NewYork:ChurchillLivingstone;1990.(Contémumadiscussãodetalhadadefarmacodinâmica.) 3 Farmacocinética JohnC.LaMattinaeDavidE.Golan Introdução Caso BarreirasFisiológicasMembranasBiológicas AtravessandoaMembrana DifusãoAtravésdaMembrana SistemaNervosoCentral Absorção ViasdeAdministraçãoeseusFundamentos EnteralParenteral MembranaMucosaTransdérmica FatoresLocaisqueAfetamaAbsorçãoDistribuição VolumedeDistribuição LigaçãoàsProteínasPlasmáticas ModelandoaCinéticaeaTermodinâmicadaDistribuiçãodosFármacos Metabolismo ReaçõesdeOxidação/ReduçãoReaçõesdeConjugação/Hidrólise Excreção ExcreçãoRenalExcreçãoBiliar AplicaçõesClínicasdaFarmacocinéticaDepuração Cinética do Metabolismo e daExcreção Meia-Vida Fatores queAlteramaMeia-Vida DosagemTerapêuticaeFreqüência DosedeAtaqueDosedeManutenção ConclusãoePerspectivasFuturasLeiturasSugeridas INTRODUÇÃO Atémesmoamaispromissoradasterapiasfarmacológicasiráfracassaremestudosclínicosseofármacoforincapazdealcan-çaroseuórgão-alvonumaconcentraçãosuficienteparaexercerumefeitoterapêutico.Muitasdascaracterísticasquetornamocorpohumanoresistenteadanos causados porinvasoresestra-nhosesubstânciastóxicastambémlimitamacapacidadedosfármacosmodernosdecombaterosprocessospatológicosnopaciente.O reconhecimentodos numerosos fatoresque afetamacapacidadedeumfármacodeatuaremdeterminadopaciente,bemcomodanaturezadinâmicadessesfatorescomotranscor-rerdotempo,édesumaimportânciaparaapráticaclínicadamedicina. Todososfármacosdevemsatisfazercertasexigênciasmíni-masparaterefetividadeclínica.Umfármaco,paraserbem-sucedido, deve ser capazdeatravessar asbarreiras fisiológicasqueexistemnocorpoparalimitaroacessodassubstânciasestranhas.Aabsorçãodosfármacospodeocorreratravésdeváriosmecanismosdesenvolvidosparaexplorarouromperessasbarreiras.Umavezabsorvido,ofármacoutilizasiste-masdedistribuiçãodentrodoorganismo,comoosvasossan-güíneoseosvasoslinfáticos,paraalcançaroseuórgão-alvonumaconcentraçãoapropriada.Acapacidadedofármacodeter acessoaseualvotambémélimitadapordiversosprocessosqueocorremnopaciente.Essesprocessossãoamplamentedividi-dosemduascategorias:ometabolismo,emqueoorganismoinativaofármacoatravésdedegradaçãoenzimática(prima-riamentenofígado),eaexcreção,emqueofármacoéelimi-nadodocorpo(principalmentepelosrinsepelofígado,bemcomopelasfezes).Estecapítuloforneceumavisãogeraldosprocessosfarmacocinéticosdeabsorção,distribuição,metabo-lismoeexcreção(freqüentementeabreviadoscomoADME;Fig.3.1),comênfaseconceitualemprincípiosbásicosque,quandoaplicados aumasituaçãonão-familiar,devempermitiraoestudanteouaomédicoentenderafarmacocinéticadatera-piafarmacológica. ( Caso ) OSr.W,de66anosdeidade,éumconsultordetecnologiaqueviajafreqüentementeparaforadopaíscomopartedeseutrabalhonaindústriadetelecomunicações.Oúnicoproblemaclínicoqueapresentaconsisteemfibrilaçãoatrialcrônica,eoSr.Wtomavar-farinacomoúnicamedicação.O Sr.Wviajaparaa Turquiaparaprestarumaconsultoria.Naúltimanoitedesuaestada,compareceaumgrandejantarondesãoservidosshishkebabseoutrosali-mentosquenãocostumacomercomfreqüência.Nodiaseguinte, ( 34 | ) ( Capítulo Três ) ( Farmacocinética | ) ( 35 ) apresentadiarréiaaquosa,fétidaeprofusa.Omédicoestabelece Receptores Reservatórios odiagnósticodediarréiadoviajanteeprescrevesulfametoxazol-trimetoprimdurante7dias. OSr.Wjáestátotalmenterestabelecidodentrode2diasapósoiníciodosantibióticose,4diasdepois(enquantoaindaestátoman-doosantibióticos),elerecebealgunsclientesemoutrojantarcommesafarta.OSr. Weseusconvidadosficamembriagadosdurante Circulação sistêmica Livre Ligado teciduais Livre Ligado ojantar,e,aosairdorestaurante,oSr.Wtropeçaecainomeio-fiodacalçada.Nodiaseguinte,ojoelhodireitodoSr.Westámuitoinchado,exigindoumaavaliaçãonasaladeemergência.Oexame Absorção Fármaco livre Excreção Metabólitos (ativos e físicoeosestudosdeimagemsãocompatíveiscomhemartrosedojoelhodireitodetamanhomoderado,eosexameslaboratoriaisrevelamumaacentuadaelevaçãodarelaçãonormalizadainterna- Fármaco ligado à proteína inativos) cional (INR),queéumamedida padronizadadotempode pro-trombinae,nessecontextoclínico,ummarcadorsubstitutoparaosníveisplasmáticosdevarfarina.OmédicodeplantãoalertaoSr.Wdequeseuníveldevarfarinaencontra-senafaixasupraterapêutica(tóxica),equeesseefeitodeve-se,provavelmente,ainteraçõesmedicamentosasadversasenvolvendoavarfarina,osantibióticosutilizadoseoseurecenteconsumoexcessivodeálcool. QUESTÕES · 1.Comoumpacientecomníveisterapêuticosbemestabe-lecidosdeummedicamentodeusocrônicosubitamente desenvolvemanifestaçõesclínicasdetoxicidadefarmacoló-gica? · 2.Essasituação poderiatersidoevitada?Searespostaforafirmativa,como? BARREIRASFISIOLÓGICAS Metabolismo Fig.3.1Absorção,distribuição,metabolismoeexcreção(ADME)dosfármacos.Osprincípiosbásicosdefarmacocinéticaafetamaquantidadedefármacolivrequefinalmenteiráalcançarosítio-alvo.Paraproduzirumefeitoemseualvo,ofármacoprecisaserabsorvidoe,aseguir,distribuídopeloseualvoantesdesermetabolizadoeexcretado.Emqualquermomento,ofármacolivrenacirculaçãosistêmicaencontra-seemequilíbriocomosreservatóriosteciduais,asproteínasplasmáticaseosítio-alvo(quehabitualmenteconsisteemreceptores);apenasafraçãodofármacoqueconsegueligar-seareceptoresespecíficosteráumefeitofarmacológico.Observequeometabolismodeumfármacopoderesultaremmetabólitostantoativosquantoinativos;osmetabólitosativostambémpodemexercerumefeitofarmacológicosobreosreceptores-alvoou,algumasvezes,emoutrosreceptores. superfíciesexternaeinternadamembrana,enquantoascau-dashidrofóbicasdoslipídiosestãovoltadasparaointeriordamembrana.Alémdoscomponenteslipídicos,asmembranasbiológicascontêmnumerosasproteínasdiferentes.Algumasdessasproteínasestãoapenasexpostasnasuperfícieextrace- lularouintracelulardamembrana;outras(denominadaspro- teínastransmembrana)penetramatravésdaduplacamada Um fármacoprecisa vencercertas barreiras físicas,químicase biológicasparaalcançarseuslocaisdeaçãomolecularesecelu-lares.Orevestimentoepitelialdotratogastrintestinaleoutrasmembranasmucosasrepresentamumtipodebarreira;sãotam-bémencontradasoutrasbarreirasapósapenetraçãodofármaconosangueenosvasoslinfáticos. Amaioriadosfármacosquecirculamnosanguedevedistribuir-separatecidoslocais,umprocessoquepodeserimpedidopordeterminadasestruturas,comoabarreirahematoencefálica.Tipicamente,osfármacosabandonamocompartimentointravascularnasvênulaspós-capilares,ondeexistemlacunasmaioresentreascélulasendo-teliaisatravésdasquaisofármacopodepassar.Adistribuiçãodeumfármacoocorreprincipalmentepordifusãopassiva,cujavelocidadeéafetadaporcondiçõesiônicasecelulareslocais.Apresenteseçãodescreveasprincipaisbarreirasfísicas,químicasebiológicasdocorpo,bemcomoaspropriedadesdosfármacosquefavorecemoudesfavorecemasuacapacidadedesuperaressasbarreiras. MEMBRANAS BIOLÓGICAS Todasascélulashumanassãodelimitadasporumamembranacomduplacamadalipídica.Amembranacontémumcernedelipídioshidrofóbicoepossuiumasuperfíciehidrofílicaemcontatocomosambientesextracelulareintracelularaquosos.Osprincipaiscomponenteslipídicosdasmembranasbiológi-casconsistememmoléculasanfifílicas,incluindofosfolipídios,colesteroleoutrasespéciesdemenorimportância.Osgru-poshidrofílicoscontendofosfatodacabeçadosfosfolipídioseosgruposhidroxilapolaresdocolesterolsãoexpostosàs lipídicae ficam expostasa ambas as superfíciesda membrana.Essadisposiçãopossuiimplicaçõesimportantesparaaterapiafarmacológica.Paraqueumfármacopossaafetaralvosintrace-lularesouatravessarumacélula,devesercapazdeatravessarpelomenosumae,emgeral,váriasmembranasbiológicas. AtravessandoaMembrana Ocernehidrofóbicodeumamembranabiológicarepresentaumaimportantebarreiraparaotransportedosfármacos.Aspequenasmoléculasnão-polares,comooshormôniosesteróides,sãocapazesdedifundir-sefacilmenteatravésdasmembranas.Entretanto,muitosfármacosterapêuticossãograndesepolaresosuficienteparatornaressemecanismodetransporteatravésdamembranaineficaz.Algumasproteínastransmembranaper-tencentes àsuperfamíliadocarreadorligadoasolutos(SLC,solutelinkedcarrier)humano—queinclui43famíliasdepro-teínas,comoasfamíliasdotransportadordeânionsorgâni-cos(OAT,organicaniontransporter)eotransportadordecátionsorgânicos(OCT,organiccationtransporter)—per-mitemapassagemdefármacosemoléculaspolaresatravésdamembrana.Algunsmembrosdessasuperfamíliaconsistememproteínascarreadorastransmembranaespecializadas,quesãoespecíficasparaofármacoemoléculasendógenasrela-cionadas;apósligaçãodofármacoàsuperfícieextracelulardaproteína,estaproteínasofreumaalteraçãodesuaconformação,quepodenãodependerdeenergia(denominadadifusãofaci-litada)ouquepodeexigiraentradadeenergia(denominadatransporteativo). Essa mudançade conformaçãopermite queofármacoligadotenhaacessoaointeriordacélula,ondea molécula do fármacoé liberadada proteína.Alternativamente,algunsfármacosligam-seareceptoresdesuperfíciecelularespecíficosedeflagramumprocessodenominadoendocitose,emqueamembranacelularenvolveamoléculaparaformarumacavidadefechadaouvesícula,apartirdaqualofármacoésubseqüentementeliberadonointeriordacélula. DifusãoAtravésdaMembrana Naausênciadeoutrosfatores,umfármacoirápenetrarnumacélulaatéqueasconcentraçõesintracelulareextracelulardestefármacosejamiguais.Avelocidadededifusãodependedogra-dientedeconcentraçãodofármacoatravésdamembranaedaespessura,áreaepermeabilidadedamembrana.Deacordocomaleidedifusãode Fick, ofluxo efetivodeum fármaco atravésdamembranaéoseguinte: seqüestropelopH.Ograudeseqüestrodeumfármacoemumdosladosdamembranaédeterminadopelaconstantededisso-ciaçãodeácido(pKa)dofármacoepelogradientedepHatravésdamembrana.Paraosfármacosfracamenteácidos,comoofenobarbitaleaaspirina,aformaprotonadadofármacoquepredominanoambientealtamenteácidodoestômagoéeletri-camenteneutra.Essaformadofármacosemcargatemmaistendênciaaatravessarasduplascamadaslipídicasdamucosagástrica,acelerandoaabsorçãodofármaco(Fig.3.2).Aseguir,ofármacofracamenteácidoédesprotonadoparasuaformacomcargaelétricanoambientemaisbásicodoplasma,eestaformatemmenosprobabilidadedesofrerdifusãoretrógradaatravésdamucosagástrica.Em seuconjunto, essesequilíbriosseqüestramefetivamenteofármaconointeriordoplasma. Emtermosquantitativos,apKadeumfármacorepresentaovalordepHemquemetadedofármacoencontra-seemsuaformaiônica.AEquaçãodeHenderson-Hasselbalchdescreve Fluxo=(C2C1)(ÁreaPermeabilidade)Equação3.1 arelaçãoentreapKa deumfármacoAácidooubásicoeopH Espessuramembrana ondeC1eC2sãoasconcentraçõesintracelulareextracelulardo domeiobiológicocontendoestefármaco: [HA] fármaco,respectivamente.Essadefiniçãoaplica-seaumasitua-çãoideal,emquenãoháfatorescomplicantes,comogradientes pKapHlog [A] Equação3.2 iônicos,depHedecargasatravésdamembrana.Todavia,invivo,essesfatoresadicionaisafetamatendênciadeumfármacoapenetrarnascélulas.Porexemplo,umamaiorconcentraçãodofármacoforadacélulanormalmentetendeafavoreceraentradaefetivadestefármaconacélula;entretanto,setantoo ondeHAéaformaprotonadadofármacoA.Porexemplo,con-sideremosocasohipotéticodeumfármacofracamenteácidocompKade4.Noestômago,cujopHédecercade1,aEquação 3.2 transforma-seem: interiordacélulaquantoofármacotiveremcargasnegativas,épossívelquea sua entradaefetivanacélula seja impedida. Um pKafármaco pH · log[HA], estômago [A] fármaco de cargapositiva exibe a tendência elétricaoposta, demodoqueasuaentradanacélulaéfavorecida. A difusãoefetivadefármacosácidosebásicosatravésdasmembranascomduplacamadalipídicatambémpodeserafe-tadaporumfenômenoassociadoàcarga,conhecidocomo ( [1.000] HA [1] A - + H + Estômago pH ~ 1 Barreira Mucosa Gástrica Plasma pH ~ 7 HA [1.000] A - + H + [1.000.000] ) Fig.3.2SeqüestropelopHatravésdeduplascamadaslipídicas.Noexemploilustrado,considereumfármacohipotéticocompKa=4.Emboraestefármacosejaumácidofraco,eleestáemgrandeparteprotonadonoambientealtamenteácidodoestômago.SeopHdoestômagofordeaproximadamente1,paracada1.001moléculasdefármaco,1.000moléculasestarãoprotonadas(eneutras)eapenas1estarádesprotonada(ecomcarganegativa).Aformaouprotonadaouneutradofármacoécapazdedifundir-seatravésdabarreiramucosagástricaparaosangue.ComooplasmasangüíneopossuiumpHdecercade7(narealidade,de7,4),eofármacopossuiumapKade4,amaiorpartedofármacoencontra-se,agora,naformadesprotonada(comcarganegativa):paracada1.001moléculasdofármaco,apenasumamoléculaestáprotonada(eneutra),enquanto1.000moléculasestãodesprotonadas(ecomcarganegativa).Aformadofármacocomcarganegativaperdeuacapacidadededifundir-seatravésdasduplascamadaslipídicasdamucosagástrica,eofármacoestáefetivamenteseqüestradonoplasma. que é simplificada para: 3=log[HA], [A] e, finalmente: 1.000=[HA]. [A] Porconseguinte,noestômago,aformaprotonadadofármacoencontra-senumaconcentração1.000vezesmaiordoqueaformadesprotonada,e99,9%dofármacoestãonaformaneutra.Umcálculosemelhanteparaoplasma,cujopHédecercade7(opHdoplasmaé,narealidade,de7,4),demonstraqueasituaçãoéinvertida,com99,9%dofármaconaformadespro-tonada(verFig.3.2). SISTEMANERVOSOCENTRAL Osistemanervosocentral(SNC)representaumdesafioespe-cialparaaterapiafarmacológica.Aocontráriodamaioriadasoutrasregiõesanatômicas,oSNCestáparticularmentebemisoladodesubstânciasestranhas.Abarreirahematoencefálicautilizajunçõesfirmesespecializadasparaimpediradifusãopassivadamaioriadosfármacosdacirculaçãosistêmicaparaa circulaçãocerebral.Por conseguinte,osfármacosdestinadosaatuarnoSNCdevemserpequenososuficienteehidrofóbi-cosparaatravessarfacilmenteasmembranasbiológicas,oudevemutilizarasproteínasdetransporteexistentesnabarreirahematoencefálicaparapenetrarnasestruturascentrais.Osfár-macoshidrofílicosquenãoconseguemligar-seaproteínasdetransportefacilitadoouativonabarreirahematoencefálicasãoincapazesdepenetrarnoSNC.Épossíveltransporabarreirahematoencefálicautilizandoumainfusãointratecaldofármaco,emqueesteédiretamenteliberadonolíquidocefalorraquidiano ( Via intravenosa Via oral, subcutânea ou intramuscular: biodisponibilidade de 100% Via oral, subcutânea ou intramuscular: biodisponibilidade de 50% Tempo ) ( Concentração plasmática do fármaco )(LCR).Emboraessaabordagempossaserutilizadanotrata-mentodameningiteinfecciosaoucarcinomatosa,aviaintrate-calnãoépráticaparafármacosqueprecisamserregularmenteadministrados aopaciente. ABSORÇÃO Ocorpohumanodesenvolveuobstáculosexcepcionaisaosmicrorganismosqueprocuraminvadi-lo.Otegumento,comsuacamadaexternaqueratinizadaeasdefensinasencontra-dasemseuepitélio,representaumasuperfícieinóspitaparainvasão.Asmembranasmucosas,apesardeteremumpontodepenetraçãomaisfácil,tambémapresentamnumerososmecanis-mosde defesa inespecíficos,incluindoa depuração mucociliarnatraquéia,asecreçãodelisozimadosductoslacrimais,oácidonoestômagoeabasenoduodeno.Essesmecanismosinespecíficostambémprecisamsersuperadospelosfármacos,ouaquantidadedofármacodisponívelparadeterminadoórgão-alvo,designadacomobiodisponibilidadedofármaco(tambémconhecidacomofraçãoabsorvida),nuncaseráaltaosufici-enteparaqueofármacosejaeficaz.Aviadeadministraçãodofármaco,asuaformaquímicaecertosfatoresespecíficosdopaciente—comotransportadoreseenzimasgastrintestinaisehepáticos—combinam-separadeterminarabiodisponibili-dadedeumfármaco. Emtermosquantitativos,abiodisponibilidadeédefinidadaseguinte maneira: Quantidade de fármaco que alcança Fig.3.3Biodisponibilidadeapósadministraçãode dose única deumfármaco.Umfármacoadministradoporviaintravenosatorna-seimediatamentedisponívelnacirculação.Aseguir,ofármacoédistribuídoparaoutroscompartimentoscorporais(verFig.3.7)eeliminadoatravésdecinéticadeprimeiraordem(verFig.3.6).Emcontrapartida,asoutrasviasdeadministração(porexemplo,oral,subcutâneaeintramuscular)resultamnaentradamaislentadofármaconosangue.Alémdisso,asoutrasviasdeadministraçãodevemconsiderarabiodisponibilidade—porexemplo,muitosfármacosadministradosporviaoralnãosãototalmenteabsorvidosousofremmetabolismodeprimeirapassagemnofígado.Seumfármacotiverumabiodisponibilidadede100%,aquantidadetotaldofármacoqueiráalcançaracirculaçãosistêmicaseráamesmaparatodasasviasdeadministração;entretanto,asviasnão-intravenosasirãonecessitardeummaiorperíododetempoparaalcançarumaconcentraçãomáximadofármaconoplasma.Seabiodisponibilidadedeumaformaposológicaporviaoral,subcutâneaouintramuscularforinferiora100%,seránecessárioaumentaradosedofármaco Biodisponibilidadea circulação sistêmica Quantidade de fármaco administrado Equação3.3 paraqueaquantidadetotalqueiráalcançaracirculaçãosistêmicasejaigualàqueladeumadoseintravenosa.Observequeaquantidadetotaldefármacoquealcançaacirculaçãosistêmicapodeserquantificada,aointegrarográficodaáreasobacurva(ASC)daconcentraçãoplasmáticadofármacoversustempo. Essadefiniçãodebiodisponibilidadebaseia-senofatoimpor- tantedequeamaioriadosfármacosalcançaseuslocaisdeaçãomolecularesecelularesdiretamenteapartirdacircula-çãosistêmica.Osfármacosdeadministraçãointravenosasãoinjetadosdiretamentenacirculaçãosistêmica;paraessesfár-macos,aquantidadeadministradaequivaleàquantidadequealcançaacirculaçãosistêmica,easuabiodisponibilidadeé,pordefinição,iguala1,0.Emcontrapartida,aabsorçãogas-trintestinalincompletaeometabolismohepáticode“primeirapassagem”(veradiante)tipicamentefazemcomqueabiodis-ponibilidadedeumfármacodeadministraçãooralsejamenorque1,0(Fig.3.3). VIASDEADMINISTRAÇÃOESEUSFUNDAMENTOS Cadafármaconovoéplanejadoetestadoemumaformaposológicaqueéadministradaporviaespecífica.Asviasdeadministraçãosãoescolhidasparaqueofármacosejacapazde atravessar asbarreiras apresentadaspelo corpo,tirandofreqüentementeproveitodasmoléculasdetransporteedeoutrosmecanismosquepermitemaentradadofármaconostecidoscorporais.Estaseçãodiscuteasvantagensedesvantagensdaadministraçãodefármacospelasviasenteral(oral),parenteral,atravésdasmucosasetransdérmica(Quadro3.1).Enteral Aadministraçãoenteraldeumfármacoouadministraçãoporviaoralconstituiamaissimplesdasviasdeadministraçãode fármacos.Aviadeadministraçãoenteralexploraospontosfracosexistentesnasbarreirasdedefesahumanas,porémexpõeofármacoaambientesácido(estômago)ebásico(duodeno)rigorosos,passíveisdelimitar a suaabsorção. Essa viaoferecemuitasvantagensaopaciente:éfácileconvenienteauto-admi-nistrarfármacosporviaoral,eessasformasposológicastêmmenostendênciadoqueoutrosmétodosaintroduzirinfecçõessistêmicascomocomplicaçãodotratamento. Umfármacoadministradoporviaoraldevepermanecerestávelduranteasuaabsorçãopeloepitéliodotratogastrintesti-nal.Asjunçõesdascélulasepiteliaisgastrintestinaisdificultamotransporteparacelularatravésdoepitéliointacto.Naverdade,assubstânciasingeridas(comoosfármacos)devemhabitual-menteatravessaramembranacelulartantonasuperfícieapicalquantona superfície basalparaalcançaro sangue circulante.Aeficiênciadesseprocessoédeterminadapelotamanhoepelahidrofobicidadedofármacoe,algumasvezes,pelapresençade carreadorespor intermédiodos quais o fármaco pode entrarnacélulae/ousairdela.Emgeral,osfármacoshidrofóbicoseneutrosatravessamasmembranascelularesdemodomaiseficientedoqueosfármacoshidrofílicosoucomcargaelétrica,anãoserqueamembranacontenhaumamoléculacarreadoraquefaciliteapassagemdassubstânciashidrofílicas. Apósatravessaroepitéliogastrintestinal,osfármacossãotransportadospelosistemaportaatéofígadoantesdepassarparaacirculaçãosistêmica.Emboraacirculaçãoportatenha QUADRO3.1ViasdeAdministraçãodeFármacos ( VIA VANT AGENS DESVANTAGENS ) Enteral(porexemplo,aspirina) Parenteral(porexemplo,morfina) Membranamucosa(porexemplo,beclometasona) Transdérmica(porexemplo,nicotina) GI, gastrintestinal. Simples,debaixocusto,conveniente,indoloresemnenhumainfecção Rápidaliberaçãonolocaldeaçãofarmacológica,altabiodisponibilidadeenãosujeitoametabolismodeprimeirapassagemouaumambienteGIrigoroso Rápidaliberaçãonolocaldeaçãofarmacológica,nãosujeitaaometabolismodeprimeirapassagemouaambientesinóspitosdotratoGI,freqüentemente indolor,simpleseconveniente,baixataxadeinfecçãoepossibilidadedeliberaçãodiretanostecidosafetados(porexemplo,pulmão) Simples,conveniente,indolor,excelenteparaadministraçãocontínuaouprolongada,nãosujeitaaometabolismodeprimeirapassagemouaambientesinóspitosdotratoGI OfármacoexpostoaoambienteGIrigorosoeaometabolismodeprimeirapassagemrequerabsorçãoGI,liberaçãolentanolocaldeaçãofarmacológica Irreversível,infecção,dor,medo,énecessárioumpessoalmédicoexperiente Existempoucosfármacosdisponíveisparaadministraçãoporessavia Exigeumfármacoaltamentelipofílico,liberaçãolentanolocaldeaçãofarmacológica;podeserirritante comofunçãoprotegerocorpodosefeitossistêmicosdetoxinasingeridas,entregandoessassubstânciasaofígadoparadestoxi-ficação,essesistemapodecomplicaraliberaçãodefármacos.Todos os fármacos administradosporvia oral estão sujeitosaometabolismodeprimeirapassagemnofígado.Nesseproces-so,asenzimashepáticaspodeminativarumafraçãodofármacoingerido.Qualquerfármacoquesoframetabolismodeprimeirapassagemsignificativoprecisaseradministradoemquantidadesuficienteparaassegurarapresençadeumaconcentraçãoefe-tivadofármacoativonacirculaçãosistêmica,apartirdaqualpodealcançaroórgão-alvo.Asviasnão-enteraisdeadminis-traçãodefármacosnãoestãosujeitas aometabolismohepáticodeprimeirapassagem. Parenteral Aadministraçãoparenteraldefármacos,queconsistenaintroduçãodiretadeumfármacoatravésdasbarreirasdedefesadocorponacirculaçãosistêmicaouemalgumoutroespaçotecidual,superaimediatamenteasbarreirascapazesdelimitaraeficiênciadosfármacosadministradosporviaoral.Osfár-macospodemseradministradosporviaparenteralnotecidovascularizadoouinjetadosdiretamentenosangueounolíquido cefalorraquidiano(Quadro3.2).Aadministraçãotecidualresul-tanumavelocidadedeiníciodeaçãodofármacoquedifereentreosváriostecidosdocorpo,dependendodataxadefluxosangüíneoparaotecido.Aadministraçãosubcutânea(SC)deumfármaconotecidoadiposopoucovascularizadoresultaeminíciodeaçãomaislentodoqueasuainjeçãoemespaçosintramusculares(IM)bemvascularizados.Osfármacosquesãoapenassolúveisemsoluçõesàbasedeóleosãofreqüentementeadministradosporviaintramuscular.Aintroduçãodiretadofár-maconacirculaçãovenosa[viaintravenosa(IV)]ouarterial[intra-arterial(IA)]ounolíquidocefalorraquidiano[intratecal(IT)]fazcomqueofármacoalcancemaisrapidamenteoseuórgão-alvo.Tipicamente,ainjeçãointravenosanãoélimitadanaquantidadedefármacoquepodeserliberada,comopodemsê-loasinjeçõessubcutâneaseintramusculares.Asinfusõesintravenosascontínuastambémtêmavantagemdeumalibe-raçãocontroladadofármaco,demodoqueadosedofármacoadministradopodeserajustadaaqualquermomento. Emboraaspropriedadesfísicasdecertosfármacos(porexemplo,tamanhoehidrofobicidade)possamexigirumaviaparticulardeadministração,omédicofreqüentemente temumaescolhaentrediversasviasdiferentes.Aadministraçãoparenteralpodeestarassociadaaváriasdesvantagenspoten- QUADRO3.2ViasdeAdministraçãoParenteraldeFármacos ( VIA PARENTERAL VANT AGENS DE SVANT AGENS ) Subcutânea(porexemplo,Xilocaína) Intramuscular(porexemplo,haloperidol) Intravenosa(porexemplo,morfina) Iníciolento,podeserutilizadaparaadministraçãodefármacosàbasedeóleo Iníciointermediário,podeserutilizadaparaaadministraçãodefármacosàbasedeóleo Iníciorápido,liberaçãocontroladado fármaco Iníciolento,pequenosvolumes Podeafetarexameslaboratoriais(creatinocinase),hemorragiaintramuscular,dolorosa Toxicidadedofármacorelacionadacomoseunível máximo Intratecal(porexemplo,metotrexato) Evitaabarreirahematoencefálica Infecção,necessidadedeprofissionalaltamente experiente ( A B C Tempo ) ( Concentração plasmática do fármaco )ciais,incluindomaiorriscodeinfecçãoenecessidadedesuaadministraçãoporumprofissionaldesaúde.Avelocidadedeiníciodeaçãodosfármacosadministradosporviaparenteraléfreqüentementerápida,resultandoemaumentopotencialdatoxicidadequandoessesfármacossãoadministradoscommui-tarapidezouemdosesincorretas.Essasdesvantagensdevemserconfrontadascomasvantagensdaadministraçãoparenteral(comovelocidadedeiníciodaaçãoecontroledadoseliberada)eaurgênciadaindicaçãodaterapiafarmacológica. MembranaMucosa Aadministraçãodefármacosatravésdemembranasmucosaspodeproporcionarpotencialmenteumarápidaabsorção,baixaincidênciadeinfecçãoeconveniênciadesuaadministração,alémdeevitaroambientegastrintestinalinóspitoeometabo-lismodeprimeirapassagem.Osepitéliossublingual,ocular,pulmonar,nasal,retal,urinárioedotratoreprodutorforamtodosutilizadosparaadministraçãodefármacosnaformadegotaslíquidas,comprimidosderápidadissolução,aerossóisesupositórios(entreoutrasformasposológicas).Asmucosassãomuitovasculares,permitindoaofármacopenetrarrapida-mentenacirculaçãosistêmicaealcançaroseuórgão-alvocomtempomínimo.Osfármacostambémpodemseradministradosdiretamentenoórgão-alvo,resultandoemseuiníciodeaçãopraticamenteinstantâneo.Esseaspectoconstituiumavantagememsituaçõescríticas,comoaasmaaguda,emquecertosfár-macos,comoosagonistas-adrenérgicos,sãoadministradosdiretamentenasviasaéreasporaerossóis. Transdérmica Umgrupolimitadodefármacosapresentalipofilicidadealtaosuficienteparaqueasuadifusãopassivaatravésdapelepro-porcioneumaviadeadministraçãoviável.Osfármacosadmi-nistradosporviatranscutâneasãoabsorvidosapartirdapeleedostecidossubcutâneosdiretamentenosangue.Essaviadeadministraçãoéidealparaumfármacoqueprecisaseradmi-nistradolentamenteedemodocontínuoporumlongoperíodo.Nãoexistenenhumriscoassociadodeinfecção,eessaviadeadministraçãoésimpleseconveniente.Osucessodosdiscostransdérmicosdenicotina,deestrogênioedeescopolaminademonstraautilidadepotencialdessaviadeadministração(verCap.54paramaisdetalhessobreaviatransdérmicadeadmi-nistraçãodefármacos). FATORESLOCAISQUEAFETAMAABSORÇÃO Avelocidadeeaextensãodeabsorçãodeumfármacosãoafeta-daspordiversosfatoresquesãoespecíficosàsituaçãodotrata-mento.Emgeral,umadosemaisaltae/ouadministradamaisrapidamenteresultaemmaioraumentonaconcentraçãolocaldofármaco(Fig.3.4).Issoaumentaatendênciadofármacoasofrerdifusãoatravésdasmembranasounosangue,comconse-qüentediminuiçãona concentraçãolocaldo fármaco. Por con-seguinte,osfatoresqueaumentamavelocidadededistribuiçãodofármacodistantedeseulocaldeadministraçãodiminuemaprobabilidadedequeaconcentraçãodofármacoalcanceumequilíbrioentreasmembranasbiológicas.Ofluxosangüíneoregionalpossuiomaiorefeitonesseaspecto;emumaregiãoaltamenteperfundida,asmoléculasdofármacoquepenetramnessecompartimentosãorapidamenteremovidas.Esseefeitomantémaconcentraçãodofármacoembaixosníveisnocom-partimento,permitindoqueaforçapropulsoraparaaentrada
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