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A relíquia - resumo e analise da obra para vestibular

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1 
Livros Obrigatórios FUVEST 2018 
A relíquia – Eça de Queirós 
AUTOR 
 José Maria Eça de Queirós nasceu em 1845 em Portugal e faleceu em Paris, em 1900. Era formado em Direito 
e em 1872 iniciou sua carreira diplomática, por conta disso trabalhou em Cuba, na Inglaterra e na França. 
 A produção literária de Eça de Queirós pode ser dividida em 3 fases. 
 Fase pré-realista ou preparatória: quando forma sua personalidade e seu estilo. Características: temas 
românticos; ambientes fantásticos; humanização da natureza. 
 Fase realista: romances que retratam a sociedade portuguesa. Eça procurou escrever uma obra para cada um 
dos aspectos que denunciavam a podridão da sociedade. Obras: O crime do Padre Amaro; O primo Basílio; Os Maias; 
e A relíquia. 
 Fase de maturidade artística: Eça de Queirós foi um observador da sociedade e transportou para suas obras 
os hábitos, manias e outros detalhes do comportamento humano, tudo com muita sátira, ironia e personagens caricatos. 
Obras: A correspondência de Fradique Mendes; A ilustre casa de Ramires; e A cidade e as serras. 
 
MOVIMENTO LITERÁRIO (Realismo/Naturalismo) 
 A partir de 1860, ocorre uma reviravolta intelectual portuguesa: o Romantismo está agonizante. Coimbra é a 
trincheira de jovens revolucionários influenciados pelas ideias de Proudhon, Quinet, Taine, Renan, entre outros. Em 
1861, Antero de Quental funda a Sociedade do Raio e em 1865 edita Odes Modernas. Na Obra de Pinheiro Chagas, 
Poema da Mocidade (1865), Castilho faz um posfácio onde critica os jovens da geração de 60: "muito há que eu me 
pergunto a mim donde proviria esta enfermidade que hoje grassa por tantos espíritos, de que até alguns dos mais robustos 
adoecem, que faz com que a literatura e em particular a poesia ande marasmada, com fastio de morte à verdade e a 
simplicidade..." 
 Como resposta, Antero publica uma carta aberta a Castilho, denominada "Bom-senso e Bom gosto", onde rebate 
as críticas do mestre romântico ("Levanto-me quando os cabelos brancos de V.Exa. passam diante de mim. Mas o 
travesso o cérebro que está debaixo e as garridas e pequeninas cousas que saem dele confesso não merecerem, nem 
admiração, nem respeito, nem ainda estima. A futilidade num velho desgosta-me tanto com a gravidade numa criança 
V.Exa. precisa menos cinquenta anos de idade, ou então mais cinquenta de reflexão."). Estava iniciada a Questão 
Coimbrã, ou Bom senso e Bom gosto. 
 Essa querela entre antigos e novos vai até o ano 1871, quando acontecem as Conferências do Casino, uma 
tentativa de revolucionar, transformar a sociedade portuguesa e elevar Portugal ao mesmo nível das potencias europeias, 
onde, entre outras coisas, apregoa-se uma reforma, uma transformação política, econômica, social e religiosa da 
sociedade portuguesa. 
 Eça de Queiroz, que tinha participado apenas como espectador nas polêmicas da Questão Coimbrã, desta vez se 
coloca no centro da diatribe defendendo o Realismo. Sob a influência do Cenáculo e de Antero, Eça aproximou-se das 
teorias de Taine e dos postulados estético-sociais de Proudhon, atacando fortemente o estado da literatura portuguesa 
(que considera decadente) e propondo uma arte que correspondesse ao espírito dos tempos, atuasse como regeneradora 
do corpo social e da sua consciência, banisse o que era falsidade e pintasse a realidade tal como ela é. Alguns exemplos 
são Coubert na pintura e Flaubert na literatura com a obra Madame Bovary. 
 Eça renega assim a arte pela arte e põe a literatura ao serviço da sociedade e do aperfeiçoamento da humanidade, 
posicionando-se consciente ou inconscientemente dentro do Naturalismo. 
 Em 1875 Eça de Queirós lança O Crime do Padre Amaro, a primeira obra de ficção realista em Portugal. 
 
CARACTERÍSTICAS DA OBRA 
 Trata-se de uma obra que associa à narrativa de viagem um olhar bem-humorado sobre a condição de adaptação 
humana, em seus interesses de posse e em suas ilusões sociais e afetivas, por meio de negociações íntimas, por vezes 
conflitivas, entre o sacrifício e a recompensa. Do mesmo modo, o autor desenvolve as reflexões do protagonista em um 
constante diálogo entre a verdade e a fantasia, como anuncia em uma famosa epígrafe editada junto ao título: “Sobre a 
nudez forte da verdade, o manto diáfano da fantasia”. 
2 
Romance realista de 1887 publicado na cidade do Porto, em Portugal, A RELÍQUIA chegou para o leitor 
brasileiro por meio de folhetins publicados na Gazeta de Notícias, periódico que circulou no Rio de Janeiro, de 1875 a 
1942. Em seu formato atual está distribuído em cinco capítulos, antecedidos por um prólogo explicativo do narrador-
personagem. Carrega todas as características do Realismo de um Eça de Queirós severo e sarcástico, em relação aos 
moldes sociais determinados por valores católicos, em seu tempo. 
 
PERSONAGENS 
Teodorico Raposo - Chamado por alcunha Raposão. Jovem hipócrita e interesseiro que se faz passar por beato 
para enganar a tia. Titi, e obter sua fortuna em testamento. E falso e mulherengo. Peregrina pela Terra Santa apenas para 
atender o desejo da tia e aproximar-se ainda mais de sua fortuna. Falta-lhe resíduo moral e decência mínima, já que não 
demonstra qualquer escrúpulo também em enganar as pessoas com suas falsas relíquia. 
Dona Maria do Patrocínio (Titi): Senhora muito alta, muito seca, “carão chupado e esverdinhado’, beata, 
virgem e com aversão ao sexo. Dona de uma imensa fortuna, usava isto como motivo para atemorizar o narrador. 
Crispim - Filho do dono da firma Teles, Crispim & Cia. Chamado ironicamente de "a firma". Tinha cabelos 
compridos e louros, e um comportamento homossexual durante a vida no internato. Acaba tornando-se patrão e cunhado 
de Teodorico. 
Pinheiro - Padre frequentador dos jantares oferecidos por Titi. Triste, tem mania de doença e fica examinando 
sempre a língua no espelho. 
Casimiro - Padre, procurador de Titi, vem sempre jantar com ela. Titi confia nele inteiramente. 
Margaride - Homem corpulento e solene, calvo e com sobrancelhas cerradas, densas e negras como carvão. 
Foi amigo do pai de Teodorico em Viana, onde foi delegado. Foi juiz em Mangualde, mas aposentou-se depois de 
receber uma grande herança de seu irmão Abel. Tinha um gosto mórbido de exagerar as desgraças alheias. 
Adélia - Amante de Teodorico, mas que era mantida por Eleutério Serra. Jovem interesseira, que acaba 
desprezando o protagonista por causa de sua obediência aos horários estipulados pela tia para chegar em casa e porque 
pouco consegue obter financeiramente. Acaba tornando-se amante do Padre Negrão, que recebe boa parte da herança 
de Titi. 
Dr. Topsius - Alemão, formado pela Universidade de Bonn. Era um indivíduo espigado, magríssimo e pernudo, 
com uma rabona curta de lustrina, enchumaçada de manuscritos’. Tinha o nariz agudo e pensativo e usava óculos de 
ouro na ponta do nariz. Era patriótico, considerava a Alemanha a “mãe espiritual dos povos”. Apenas seu pigarro e a 
mania de usar a escova de dentes de Teodorico, desagradavam este último. 
Mary - Amante que Teodorico arranja quando da viagem à Terra Santa, responsável pelo fato de Titi ter 
deserdado o sobrinho, por conta de uma camisola de rendas e de certo bilhete que nela havia pregado. 
Padre - Negrão. 
Vivência - Empregada de Titi. 
Pote - Guia de Teodorico e Topsius em Jerusalém. 
Justino - Tabelião de Titi. 
Apedrinha - português encontrado no Egito como carregador de malas. 
RESUMO DA OBRA (por capítulo) 
 Capítulo 1 
O pai do autor da obra, filho do Padre Rufino e de Filomena Raposo, chamava-se Rufino da Assunção Raposo, 
trabalhava nos correios e escrevia, por gosto, para o jornal local. Certa vez Rufino fez no jornal um grande elogio ao 
bispo de Coazim (Galileia), que visitava sua cidade, e passou a ser muito admirado pelo religioso, ainda mais depois 
que soube ser filho de um padre. Tal apoio sacerdotal fez com que Rufino conseguisse uma promoção em seu trabalho, 
sendo transferido do Porto paraViana. 
Durante a viagem o “papá” conheceu o Comendador G. Godinho, de Lisboa, que viajava com suas sobrinhas, 
D. Maria do Patrocínio, que ia sempre às missas, e D. Rosa, “gordinha e trigueira”. Do romance com a última, nasceu o 
autor deste livro. A mãe, porém, morreu após o parto, deixando o garoto só com seu pai. O autor lembra o dia em que 
foi vestido de preto, em luto pelo comendador, que nunca o visitara e a quem seu pai chamava de “malandro”. Também 
relembra o dia em que seu pai morreu com uma apoplexia (AVC), deixando-o só. 
Órfão, o autor foi levado a Lisboa para viver na casa da “titi”, a tia Patrocínio, a quem deveria estrita obediência. 
A mulher parecia enojada em recebê-lo e exigiu que mantivesse hábitos religiosos enquanto vivesse ali. Assim que foi 
possível, Teodorico – como se chama o autor – foi mandado pela tia para um internato. Lá ele conheceu Crispim, um 
3 
garoto que lhe dava beijos e lhe mandava bilhetes de admiração. Também havia tediosas aulas religiosas e colegas 
fumando cigarros escondidos. 
Uma vez por mês ia visitar a “titi” durante um final de semana, situação em que eram cobradas orações e os 
clérigos, amigos da beata, elogiavam seu desempenho escolar. Vicência, criada da tia Patrocínio, levava Teodorico de 
volta ao colégio contando a ele que sua tia era muito rica, herdeira do Comendador, e que deveria ser muito respeitada 
por ele. A mulher despedia-se do garoto com um beijo no rosto e isso fez surgir nele uma paixão por Vicência, que logo 
desapareceu. 
Certo dia Teodorico meteu-se numa briga, tornou-se rebelde. Crispim já não estudava mais com ele. Passaram-
se anos. Após iniciar o estudo de retórica, foi transferido para Coimbra, onde se fartou da liberdade, com noitadas e 
mulheres. Para a tia, enviava cartas religiosamente a cada quinze dias, relatando hábitos muito mais sacros. 
Durante um verão que passava em Lisboa, conheceu um primo do Comendador Godinho que passava por 
dificuldades: doente, sem dinheiro, vivendo com uma espanhola que tinha três filhos. Xavier pediu ajuda ao parente 
para convencer a tia Patrocínio a ajudá-lo. Após muita insistência, Teodorico tentou convencer sua tia da necessidade 
do familiar, mas a carola pensava que Xavier merecia tal sofrimento por “se meter com saias”. Lembrando-se de suas 
aventuras em Porto, Teodorico correu para queimar alguns bilhetinhos e lembranças de suas amadas, que trouxera no 
bolso do paletó e poderiam desagradar à tia. 
Andando pela cidade, após saber que Xavier fora levado a um hospital, Teodorico ouve alguém o chamar pelo 
apelido de faculdade, Raposão. Era Silvério, apelidado Rinchão, que o convidou para visitarem algumas amigas. Adélia 
logo o conquistou e o acariciou com beijos profundos. Voltando tarde para sua casa, Teodorico foi recriminado pela tia 
e inventou uma desculpa. Nervoso com a situação, ele só se continha ao pensar na herança a qual deveria fazer jus. 
Uma vez formado Doutor, Teodorico voltou definitivamente à capital. Ganhou da tia um cavalo, com o qual 
deveria peregrinar diariamente a fazer orações em igrejas por ela escolhidas. À noite tinha algum tempo livre, no qual 
ainda visitava Adélia – sempre escondido de sua tia, que tinha completo horror a relacionamentos entre homens e 
mulheres, ainda que com amor. 
A habilidade de Teodorico manter uma postura religiosa perante tia Patrocínio rendeu-lhe alguma confiança, 
mas ainda era necessário esforçar-se mais, parecer um santo, para que ela não deixasse todos seus bens para a Igreja – 
assim alertou-lhe Dr. Margaride, amigo da tia. Seguindo esta orientação, Teodorico demonstrava ainda mais o apego à 
fé, aos santos e orações. 
Adélia era uma amante cada vez mais distante e chegou a ser flagrada com outro rapaz em sua casa, mas 
Teodorico foi convencido que se tratava de um sobrinho seu. A criada da moça, no entanto, avisou o amante que estava 
sendo enganado: o tal rapaz também tinha encontros amorosos frequentes com sua patroa. Ao tentar tirar satisfações de 
Adélia, Teodorico foi expulso de sua casa. 
A decepção amorosa do autor foi canalizada para a única atividade que alegrava sua tia: a devoção religiosa. No 
oratório da residência, Teodorico orava para que tivesse de volta os beijos de Adélia, e via o cristo dourado de tia 
Patrocínio se transfigurar no corpo de sua amada. 
Após mais uma malfadada tentativa de contato com Adélia, Teodorico encontrou-se com Rinchão, seu amigo 
que acabara de voltar de Paris. Sabendo de suas aventuras na agitada cidade, teve desperto o desejo de viajar. 
No domingo, durante o tradicional jantar com padres e amigos, Teodorico foi questionado sobre suas ambições 
e, mesmo sabendo que deveria agradar à tia, não resistiu a revelar seu interesse por Paris. Tia Patrocínio ficou horrorizada 
por considerar aquela região pecaminosa. Dr. Margaride sugeriu que uma boa viagem seria à Terra Santa, o que foi 
ratificado pelos padres presentes: uma peregrinação ao local sagrado garantiria indulgência plena, para si e para os 
familiares. 
Após uma noite melancólica, na qual Teodorico percebeu que estava preso naquelas terras, tia Patrocínio 
encarregou-lhe uma santa missão: visitar Jerusalém por sua conta e trazer de lá uma relíquia. Apesar de o destino não 
agradar o rapaz, pareceu uma boa oportunidade de passar por regiões muito festivas onde poderia se divertir com 
liberdade. 
 
Capítulo 2 
Em um domingo Teodorico chegou a Alexandria, primeira parada de sua viagem à Terra Santa. Topsius, um 
orgulhoso alemão, historiador e arqueólogo, estava em sua companhia desde Malta, onde se conheceram e descobriram 
que fariam o mesmo trajeto. O estudioso seguia uma tradição familiar de pesquisas e estava ali para saber mais da 
história dos Herodes. 
4 
No hotel, o autor pediu informações a um funcionário sobre onde encontraria uma mulher para amar. Seguiu as 
indicações e encontrou Miss Mary, uma inglesa por quem se apaixonou e passou a chamar de “Maricoquinhas”. Topsius 
a intitulou “nossa simbólica Cleópatra”. Os três faziam passeios e jantares juntos. Chegado o dia de embarcar rumo a 
Jerusalém, Teodorico já sofria de saudades de sua Maricocas, que lhe deu de lembrança uma camisa sua. Por dois dias 
ele ficou trancado no quarto da embarcação, abraçado à camisa. 
Em um sonho Teodorico estava acompanhado de Adélia, sua amante em Portugal, e de Maricocas, quando 
surgiu a figurado diabo, que apresentava e comentava a crucificação de Cristo: era o surgimento de mais um deus, mais 
uma religião – que ele considerava muito tediosa e cheia de sofrimento. Topsius chamou Raposo com grande excitação: 
chegavam à Palestina. O autor desembarcou no sítio histórico com seu desinteresse habitual – estava ali somente para 
agradar Tia Patrocínio. No hotel em Jerusalém logo se interessou pela mulher de um homem forte e grosseiro, que 
descobriu ser sua vizinha de quarto – a quem Topsius apelidou Cibele. 
Durante os passeios pelos locais sagrados, Teodorico estava mais preocupado encontrar sua Cibele no meio da 
multidão. Por todos os lados havia pedintes, crianças pobres e vendedores de falsas relíquias que o importunavam. 
De volta ao hotel, ao ouvir que alguém se banhava no quarto ao lado, Teodorico arriscou-se em ir ao corredor e 
olhar pelo buraco da fechadura para encontrar sua Cibele. Foi surpreendido, no entanto, pelo marido que vinha de fora, 
viu a cena e lhe deu pontapés. Assim, ele passou a primeira noite em Sião tratando seus hematomas. 
Na noite do dia seguinte os dois amigos foram à casa de Fatmé, uma senhora que oferecia um serviço de 
entretenimento com belas dançarinas. Após pagarem pela apresentação, no entanto, arrependeram-se ao ver que as 
moças ou tinham olhos vesgos e dentes podres, retornando ao hotel, Teodorico concentrou-se em escrever uma carta à 
Titi, na qual relatava muita santidade e devoção em seus passos pela terra sagrada. Em seguida, recuperou o embrulho 
com a camisa de Mary e a beijou com saudades.Na manhã seguinte rumaram para o rio Jordão, passando pelas ruínas de Jericó e pelo Mar Morto. Após se 
banhar nas águas sagradas, conforme orientou sua tia, Raposo encontrou numa colina uma árvore de espinhos a qual 
pensou que poderia ser a mesma que originou a coroa de Cristo: estava ali a relíquia que agradaria sua tia. Antes de 
coletar um galho, entretanto, rezou para que aquela madeira não fosse tão sagrada a ponto de que a Titi se curasse de 
suas enfermidades e demorasse muito a morrer – pois assim sua herança demoraria muito. 
 
Capítulo 3 
No meio da noite Topsius acorda Teodorico para irem à Jerusalém presenciarem a Páscoa. Durante a cavalgada 
há a sensação de uma misteriosa mudança nos ares e na terra que eles cruzam. Encontram legionários romanos, 
multidões de peregrinos e mendigos acampados às portas da cidade sagrada, que tem suas construções históricas 
descritas em detalhes. 
Ao ouvir a notícia da prisão de Rabi Jeschoua, Topsius convoca seu companheiro para acompanhá-lo à casa de 
Gamaliel, sábio rabino que vivera na época de Cristo. Teodorico sente-se atraído por mulheres que se ofereciam em 
uma casa de banho, mas logo é repreendido pelo historiador, que lembra o compromisso 
Na casa de Gamaliel a dupla foi convidada para uma refeição. O rabino estava acompanhado por outros homens 
e discutia a prisão e o futuro julgamento de Rabi Jeschoua: por se autoproclamar messias e filho de Deus estava sujeito 
a punições severas, ainda que fizesse milagres e não tivesse tomado nenhuma atitude contrária ao seu povo, exceto 
quando se voltou violentamente contra os vendilhões do templo. 
Teodorico surpreendeu-se quando Topsius revelou a ele que “Rabi Jeschoua” era o seu Jesus Cristo. A essa 
altura o homem de Nazaré já estava no Pretório, local onde era feito o julgamento, e Teodorico entusiasmou-se para 
encontrá-lo. Lá também estava Pôncio Pilatos, romano responsável pelo tribunal, além de outros personagens bíblicos 
e históricos. 
Após a condenação de Jesus pelos judeus, Teodorico e Topsius encontraram um velho que vendia pequenas 
pedras com inscrições religiosas. Ele contou sua história: muito pobre, sem trabalho, vendia aquelas pequenas 
lembranças no templo, até que o tal Rabi Jeschoua apareceu condenando-o e jogando fora toda sua mercadoria. Sentidos 
pela tragédia do senhor, os dois viajantes deram-lhe alguma esmola. 
Segue-se a cena em que o povo escolhe perdoar o assassino Barrabás e reafirmar a condenação de Jesus, que é 
levado pelos soldados romanos. Na saída do Pretório são encontrados seguidores de Cristo que perseguem um homem 
que fora curado milagrosamente por Jesus, mas que há pouco pedira por sua crucificação. 
Teodorico reflete sobre qual seria sua personalidade vivendo a época de Jesus: poderia ser um rabino, migrar 
para Roma, ou quem sabe ser um pastor… 
5 
Topsius leva seu amigo ao templo onde ocorrem as oferendas e sacrifícios de Páscoa: sacos de lentilhas e 
cordeiros mortos. Sacerdotes discutiam amenidades religiosas. Gade, um amigo de Rabi Jeschoua, relata os sofrimentos 
passados durante sua crucificação, ocorrida há pouco. Teodorico pede para irem ao monte onde ocorria a punição. A 
dupla presencia a retirada do corpo de Cristo por José de Ramata, um de seus seguidores. 
De volta à casa de Gamaliel Topsius participa de uma explanação sobre a natureza da Terra, por Eliézer de Silo, 
um “sábio” geógrafo: ela seria plana, com Jerusalém ao centro e um céu sólido por cima. Este homem também recusava 
a figura de Jesus como messias, que era defendida por Teodorico. 
Surge Gade relatando que o corpo de Cristo fora retirado ainda com vida de sua sepultura, mas não resistira e 
falecera em seguida. No dia seguinte, quando fosse verificado o sumiço do defunto, estaria fundado o mito que levantaria 
uma nova religião. Topsius alerta que é hora de voltarem ao acampamento. 
Em sua tenda, Teodorico deita-se sem tirar sequer suas botas. Ao acordar, no entanto, vê o criado entrar com 
suas botas na mão – fora tudo um sonho. De volta ao seu tempo, Teodorico aceita uma tapioca para o café. 
 Capítulo 4 
O retorno real a Jerusalém enfadou Teodorico, que chegava a sentir saudades de suas visões do passado da 
cidade sagrada – principalmente das moças na casa de banho. No Hotel do Mediterrâneo recebeu notícias da atual 
Jerusalém: desavenças entre religiosos, novas descobertas arqueológicas – nada que lhe chame atenção. A única 
novidade pela qual se interessa é um café com bilhar recém-inaugurado: Retiro do Sinai. 
Teodorico aproveitou a parada para embrulhar e organizar as relíquias que levava para sua Titi: além da coroa 
de espinhos, que Topsius afirmou ser a mesma suportada pelo Cristo, havia outras lembranças ditas raras e originais, 
que eram vendidas pela cidade. O sobrinho imaginava a alegria da tia Patrocínio ao receber tais lembranças, que 
permitiriam que logo após ela definhasse, adoecesse e partisse para o sono eterno deixando-o como herdeiro universal! 
Saindo de Jerusalém Teodorico se esquece do embrulho com a camisola da Mary, que é trazido por um criado. 
No caminho encontra uma pobre senhora que segurava um filho no colo e chorava suas desventuras: deu a ela o 
embrulho, que lhe renderia algum dinheiro, livrando-se da prova de suas aventuras amorosas, que contrariavam os ideais 
de sua tia. 
Em Jafa os viajantes encontram Alpedrinha, que havia deixado o trabalho no Egito para aventurar-se rumo à 
Terra Santa. Ele conta que Mary também havia deixado a cidade, seguindo para Tebas na companhia de um italiano. 
Teodorico percebe um tom apaixonado em suas palavras e Alpedrinha confirma que também fora seduzido pela moça, 
que igualmente lhe dera uma peça de roupa sua. Desiludido, Teodorico deseja afastar-se rapidamente do oriente. 
A dupla embarca para o Egito, onde passam um último dia juntos. Teodorico segue viagem para Portugal. 
 
Capítulo 5 
D. Patrocínio recebe o sobrinho com muita estima e atenção a suas narrações de viagem. A relíquia mais preciosa 
é guardada no oratório para ser aberta na presença dos convidados para o jantar. Teodorico percebe uma mudança 
profunda no tratamento recebido pela tia, que lhe é muito mais agradável. Ela ainda revira suas malas, desconfiada de 
escorregões mundanos do viajante, mas só encontra outras relíquias e se dá por satisfeita. 
À noite reuniram-se os amigos de D. Patrocínio, entre os quais o Padre Negrão, que andava muito próximo da 
beata, causando preocupação em Teodorico. Foram narradas as santas aventuras do viajante – manejadas com esperteza 
para esconder seus desvios carnais – e distribuídas lembranças da terra sagrada. A tia chamou todos ao Oratório para o 
ponto alto da noite: o desembrulho da mais valiosa relíquia, que Teodorico enfim revelou ser a coroa de Cristo. Para 
espanto de todos, entretanto, dentro do embrulho fora encontrada a camisola de Mary, junto a seu bilhete íntimo. 
Expulso de casa Teodorico abrigou-se num hotel e passou a vender, com sucesso, as relíquias que lhe sobraram. 
O negócio prosperou tanto que ele fabricou suas próprias relíquias, vendendo-as em grandes quantidades. Sua ambição, 
no entanto, fez com que tais “preciosidades” perdessem o valor. Entrou e decadência e mudou-se para um quarto mais 
pobre. 
Recebeu uma carta informando a morte da D. Patrocínio, que havia distribuído seus bens entre padres e amigos, 
deixando de lembrança para o sobrinho somente seu óculo. Arrasado por seu infortúnio, Teodorico tem uma visão de 
Jesus Cristo que lhe dá lições sobre seu comportamento: havia sido hipócrita ao fingir uma santidade que nunca teve e 
isso teve seu preço. Tal aparição afirma, inclusive, que não se trata de Cristo, nem de Deus, mas de sua consciência 
transfigurada de uma forma que ele possa compreendê-la – assim como surgiram todos os deuses da história. 
Certo dia Teodorico encontrou o velho amigo Crispim, que o beijava no colégio, e que agora era dono de uma 
firma herdada de seu pai.O homem ouviu sua história e ofereceu-lhe um emprego. 
6 
A convivência dos dois evoluía até que Crispim o convidou a uma missa. Teodorico pensou em inventar uma 
desculpa religiosa para recusar o convite, mas lembrou-se da visão que tivera, que condenava a mentira, e resolveu falar 
a verdade: não acreditava na religião. Crispim admirou sua honestidade e convidou-o para outro passeio, onde 
conheceria sua irmã, Jesuína. 
Jesuína e Teodorico ganhavam intimidade, quando Crispim perguntou ao rapaz se ele a amava. Mais uma vez 
Teodorico ficou tentado a mentir, declarando-se profundamente apaixonado, mas ponderou que seria melhor dizer a 
verdade: gostava da moça e poderia ser um bom marido. Casaram-se. 
Anos mais tarde Teodorico comprou do padre Negrão uma propriedade, herdada de D. Patrocínio, que fora de 
seu pai. Soube que tal Padre continuava se aproximando de todos os que haviam herdado os bens do comendador e já 
colhia frutos de seu investimento. Curiosamente, ele também estava com a Adélia, que outrora fora a paixão de 
Teodorico. 
Com uma família formada e títulos de nobreza, o autor reflete que sua história teria sido diferente se tivesse 
ousado afirmar, ainda no oratório de sua tia, que a tal camisola pertencera a Maria Madalena. 
 
TRECHOS DA OBRA 
 Início da obra 
Decidi compor, nos vagares deste verão, na minha quinta do Mosteiro (antigo solar dos condes de Lindoso), 
as memórias da minha vida - que neste século, tão consumindo pelas incertezas da inteligência e tão angustiado pelos 
tormentos do dinheiro, encerra, penso eu e pensa meu cunhado Crispim, uma lição lúcida e forte. 
Em 1875, nas vésperas de Santo Antônio, uma desilusão de incomparável amargura abalou o meu ser; por esse 
tempo minha tia, D. Patrocínio das Neves, mandou-me do Campo de Santana onde morávamos, em romagem a 
Jerusalém; dentro dessas santas muralhas, num dia abrasado do mês de Nizam, sendo Pôncio Pilatos procurador da 
Judéia, Élio Lama, Legado Imperial da Síria, e J. Cairás, Sumo Pontífice, testemunhei, miraculosamente, escandalosos 
sucessos; depois voltei, e uma grande mudança se fez nos meus bens e na minha moral. 
São estes casos, espaçados e altos numa existência de bacharel como, em campo de erva ceifada, fortes e 
ramalhosos sobreiros cheios de sol e murmúrio, que quero traçar, com sobriedade e com sinceridade, enquanto no meu 
telhado voam as andorinhas, e as moutas de cravos vermelhos perfumam o meu pomar. 
Esta jornada à terra do Egito e à Palestina permanecerá sempre como a glória superior da minha carreira; e 
bem desejaria que dela ficasse nas letras, para a posteridade, um monumento airoso e maciço. Mas hoje, escrevendo 
por motivos peculiarmente espirituais, pretendi que as páginas íntimas, em que a relembro, se não assemelhassem a 
um Guia Pitoresco do Oriente. Por isso (apesar das solicitações da vaidade), suprimi neste manuscrito suculentas, 
resplandecentes narrativas de ruínas e de costumes... 
 
Fim do Capítulo I 
 Pela severa sala de damascos transbordou, ruidosa e tocante, a comoção dos nossos corações. Eu achei-me 
com os beiços do Justino, ainda moles da torrada, colados à minha barba... 
Cedo, na manhã de domingo, 6 de setembro e dia de Santa Libânia, fui bater, devagar, ao quarto da Titi, ainda 
adormecida no seu leito castíssimo. Senti, por sobre o tapete, aproximar-se o som mole dos seus chinelos. Entreabriu 
pudicamente a porta; e, decerto em camisa, estendeu-me, através da fenda, a sua mão escamada, lívida, cheirando a 
rapé. Apeteceu-me mordê-la; depus nela um beijo baboso; a Titi murmurou: 
- Adeus, menino... Dá muitas saudades ao Senhor! 
Desci a escadaria, já de capacete, sobraçando o meu Guia do Oriente. Atrás, a Vicência soluçava. 
A minha mala nova de couro, o meu repleto saco de lona enchiam o cupê do Pingalho. Ainda as andorinhas 
retardadas cantavam no beiral dos telhados; na capela de Santana tocava para a missa. E um raio de sol, vindo do 
Oriente, vindo lá da Palestina ao meu encontro, banhou-me a face, acolhedor e risonho, como uma carícia do Senhor. 
Fechei a tipoia, estirei-me, gritei: "Larga, Pingalho!" 
E, romeiro abastado, soprando à brisa o fumo do meu cigarro, assim deixei o portão de minha tia, em caminho 
para Jerusalém! 
 
Fim do Capítulo II 
Mas como levaríamos para Jerusalém, através dos cerros de Judá, aqueles incômodos espinhos - que, apenas 
armados na sua forma passional, pareciam já ávidos de rasgar carne inocente? Para o alegre Pote não havia 
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dificuldades; tirou do fundo do seu provido alforje uma fofa nuvem de algodão em rama; envolveu nela delicadamente 
a coroa do agravo, como uma joia frágil; depois, com uma folha de papel pardo e um nastro escarlate, fez um embrulho 
redondo, sólido, ligeiro e nítido... E eu, sorrindo, enrolando o cigarro, pensava nesse outro embrulho de rendas e laços 
de seda, cheirando a violeta e a amor, que ficara em Jerusalém, esperando por mim e pelo favor dos meus beijos. 
- Pote, Pote! - gritei, radiante. - Nem tu sabes que grossa moeda me vai render esse galhinho, dentro desse 
pacotinho! 
Apenas Topsius voltou da sacra fonte de Eliseu - eu ofereci, para celebrar o encontro providencial da grande 
relíquia, uma das garrafas de Champagne, que Pote trazia nos alforjes, encarapuçadas de ouro. Topsius bebeu "à 
ciência!" Eu bebi "à religião!" E largamente a espuma de Moed et Chandon regou a terra de Canaã. 
À noite, para maior festividade, acendemos uma fogueira; e as mulheres árabes de Jericó vieram dançar diante 
das nossas tendas. Recolhemos tarde, quando por sobre Moabe, para os lados de Maqueros, a lua aparecia, fina e 
recurva, como esse alfanje de ouro que decepou a cabeça ardente de Iocanã. 
O embrulho da coroa de espinhos estava à beira do meu catre. O lume apagara-se; o nosso acampamento 
dormia no infinito silêncio do Vale da Escritura... Tranquilo, regalado, adormeci também. 
 
Fim do Capítulo III 
 Imediatamente me pareceu que uma tocha fumegante penetrara na tenda, esparzindo um brilho de ouro... 
Ergui-me, assustado. Num largo raio de sol, vindo dos montes de Moabe, o jucundo Pote entrava, em mangas 
de camisa, com as minhas botas na mão! 
Arrojei a manta, arredei os cabelos, para verificar melhor a mudança terrível que desde a véspera se fizera no 
universo! Sobre a mesa jaziam as garrafas do champagne, com que brindáramos à ciência e à religião. O embrulho da 
coroa de espinhos pousava à minha cabeceira. Topsius, no seu catre, em camisola, e com um lenço amarrado na testa, 
bocejava, pondo os óculos de ouro no bico. E o risonho Pote, censurando a nossa preguiça, queria saber se apetecíamos 
nessa manhã - "tapioca ou café". 
Deixei sair deliciosamente do peito um ruidoso, consolado suspiro. E no júbilo triunfal de me sentir reentrado 
na minha individualidade e no meu século, pulei sobre o colchão com a fralda ao vento, bradei: 
- Tapioca, meu Pote! Uma tapioca bem docinha e molezinha, que saiba bem ao meu Portugal... 
 
Início Capítulo IV 
Ao outro dia, que fora um radioso domingo, levantamos de Jericó as nossas tendas; e caminhando com o sol 
para ocidente, pelo Vale de Querite, começamos a romagem de Galileia. 
Mas ou fosse que a consoladora fonte da admiração houvesse secado dentro em mim, ou que a minha alma, 
arrebatada um momento aos cimos da história e batida aí por ásperas rajadas de emoção, não se pudesse já aprazer 
nestes quietos e ermos caminhos da Síria - senti sempre indiferença e cansaço, do país de Efraim ao país de Zebelon. 
Quando nessa noite acampamos em Betel, vinha a lua cheia saindo por trás dos montes negros de Gileade... O 
festivo Pote mostrou-me logo o chão sagrado em que Jacó, pastor de Bersabé, tendo adormecido sobre uma rocha, vira 
uma escada que faiscava, fincada a seus pés e arrimada às estrelas, por onde ascendiam e baixavam, entre terra e céu, 
anjos calados, com as asas fechadas... Eu bocejei formidavelmente e rosnei: - “Tem seu chic!...” 
E assim rosnando e bocejandoatravessei a terra dos prodígios. A graça dos vales foi-me tão fastidiosa como a 
santidade das ruínas. No poço de Jacó, sentado nas mesmas pedras em que Jesus, cansado como eu da calma destas 
estradas e como eu bebendo do cântaro de uma samaritana, ensinara a nova e pura maneira de adorar; nas encostas 
do Carmelo, numa cela de mosteiro, ouvindo de noite ramalhar os cedros que abrigaram Elias, e gemerem embaixo as 
ondas, vassalas de Hirão, Rei de Tiro; galopando com o albornoz ao vento pela planície de Esdrelon; remando 
docemente no Lago de Genesaré, coberto de silêncio e de luz - sempre o tédio marchou a meu lado como companheiro 
fiel, que a cada passo me apertava ao seu peito mole, debaixo do seu manto pardo... 
 
Fim da obra 
E quem o duvidaria? Não mostram os santos missionários de Braga, nos seus sermões, bilhetes remetidos do 
céu pela Virgem Maria, sem selo? E não garante a Nação a divina autenticidade dessas missivas, que têm nas dobras 
a fragrância do paraíso? Os dois sacerdotes, Negrão e Pinheiro, cônscios do seu dever, e na sua natural sofreguidão 
de procurar esteios para a fé oscilante - aclamariam logo na camisa, na carta e as iniciais, um miraculoso triunfo da 
Igreja. A tia Patrocínio cairia sobre o meu peito, chamando-me "seu filho e seu herdeiro". E eis-me rico! Eis-me 
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beatificado! O meu retrato seria pendurado na sacristia da Sé. O Papa enviar-me-ia uma bênção apostólica, pelos fios 
do telégrafo. 
Assim ficavam saciadas as minhas ambições sociais. E quem sabe? Bem poderiam ficar também satisfeitas as 
ambições intelectuais que me pegara o douto Topsius. Porque talvez a ciência, invejosa do triunfo da fé, reclamasse 
para si esta camisa de Maria de Magdala, como documento arqueológico... ela poderia alumiar escuros pontos, na 
história dos costumes contemporâneos do Novo Testamento - o feitio das camisas na Judéia no primeiro século, o 
estado industrial das rendas da Síria sob a administração romana, a maneira de abainhar entre as raças semíticas... 
Eu surgiria na consideração da Europa, igual aos Champollions, aos Topsius, aos Lepsius, e outros sagazes 
ressuscitadores do passado. A academia logo gritaria - "A mim, o Raposo!" Renan, esse heresiarca sentimental, 
murmuraria - "Que suave colega, o Raposo!" Sem demora se escreveriam sobre a camisa da Mary sábios, ponderosos 
livros em alemão, com mapas da minha romagem em Galileia... Eis-me aí benquisto pela Igreja, celebrado pelas 
universidades, com o meu cantinho certo na bem-aventurança, a minha página retida na história, começando a 
engordar pacificamente dentro dos contos de G. Godinho. 
E tudo isto perdera! Por quê? Porque houve um momento em que me faltou esse descarado heroísmo de afirmar, 
que, batendo na terra com pé forte, ou palidamente elevando os olhos ao céu - cria, através da universal ilusão, ciências 
e religiões. 
 
SITES UTILIZADOS 
http://pt.wikipedia.org/wiki/E%C3%A7a_de_Queir%C3%B3s 
http://www.ciadaescola.com.br/produtos/conquistandoafaculdade/vestibular_resultado.asp?categoria=33147&codigo=190 
https://www.passeiweb.com/estudos/livros/a_reliquia 
http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/eb000017.pdf 
https://resumoporcapitulo.com.br/a-reliquia 
http://www.sprweb.com.br/app/mod_app/index.php?PG=ORDEM_Q&ID=901560 
http://pt.wikipedia.org/wiki/Eça_de_Queirós
http://www.ciadaescola.com.br/produtos/conquistandoafaculdade/vestibular_resultado.asp?categoria=33147&codigo=190
https://www.passeiweb.com/estudos/livros/a_reliquia
http://www.sprweb.com.br/app/mod_app/index.php?PG=ORDEM_Q&ID=901560

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