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1Panorama da AQÜICULTURA, março, abril, 2010 2 Panorama da AQÜICULTURA, março, abril, 2010 3Panorama da AQÜICULTURA, março, abril, 2010 3 Editorial Jomar Carvalho Filho Biólogo e Editor A entrada do filé congelado de panga no mercado brasileiro já provoca desconforto entre os produtores de peixes de Santa Catarina, principalmente os de tilápia, na medida em que o peixe vietnamita avançou com sucesso em um nicho de restaurantes onde a tilápia havia conquistado grande aceitação. Esses estabelecimentos pagam ao distribuidor de R$ 6,50 a R$ 7,50 pelo quilo do filé de panga congelado, e não são raros os casos em que acabam sendo vendidos como se fossem filés de tilápia, tema discutido no nosso fórum de discussão Panorama-L e escolhido para a seção Notícias & Negócios On-line desta edição. Mesmo com esforço, não seremos capazes de entender como um filé de qualidade pode cruzar o mundo e ser vendido a R$ 7,00 o quilo, depois de remunerar todos os elos de uma cadeia produtiva, que começa lá no delta do rio Mekong e termina no bufê de um restaurante a quilo em Santa Catarina. Um recente estudo sobre a balança comercial de pescado em 2009, elaborado pela Coordenação-Geral de Comercialização e Promoção Comercial do Ministério da Pesca e Aquicultura (MPA), revelou que o país importou do Vietnã, no ano passado, 3.283 toneladas de panga, avaliadas em 6,3 milhões de dólares. Esse foi apenas o primeiro ano em que o Brasil importou pescado deste país, e não será surpresa se esse volume se multiplicar já a partir deste ano, visto que o filé de panga já pode ser encontrado nas prateleiras de praticamente todos os supermercados brasileiros. O mesmo estudo do MPA mostrou que desde 2006 existe uma tendência de crescimento nas importações de pescado. De lá para cá, a balança de comércio de pescado brasileira passou a acumular déficits que culminaram com o recorde de 2009, quando o país importou 230 mil toneladas, avaliadas em US$ 519 milhões, exportando apenas 30 mil toneladas, ou US$ 169 milhões. Além do câmbio desfavorável para a exportação, analistas do MPA justificam esse déficit de 200 mil toneladas, apontando para uma “produção ainda insuficiente”. Isso, para bom entendedor, significa que a aquicultura brasileira ainda é insuficiente, uma vez que o país não pode contar com o aumento das capturas provenientes da pesca. Resta a pergunta: como a aquicultura brasileira crescerá como se deseja, com produtores vietnamitas, e porque não falar também dos chineses, mordendo os nossos calcanhares? Nesta edição esse tema é abordado por João Lorena Campos, que nos alerta para os acordos que já vêm sendo alinhavados com a China, interessada no nosso mercado. Trazemos ainda, algumas reflexões sobre as tendências da carcinicultura brasileira frente aos desafios sanitários e de mercado e um excelente artigo de Alberto Nunes e sua equipe do Labomar, sobre o uso de flocos microbianos no cultivo do vannamei, nossa matéria de capa. Nossas páginas trazem também mais um artigo escrito por Fernando Kubitza, que dessa vez responde a uma das perguntas mais frequentemente feitas pelos produtores aquícolas: “como é possível avaliar a qualidade das rações disponíveis no mercado?”, e muito mais... A todos uma boa leitura, 4 Panorama da AQÜICULTURA, março, abril, 2010 5Panorama da AQÜICULTURA, março, abril, 2010 Camarão: Uso de Bioflocos Nos últimos anos, o cultivo em sistema de bio- flocos tem sido apontado como uma alternativa ao sistema intensivo convencional de engorda de camarões. Este sistema foi inicialmente concebi- do para trabalhar em condições super-intensivas em viveiros pequenos, com fundo recoberto com manta de PVC, altas taxas de aeração, elevadas densidades de estocagem, pou- ca ou nenhuma renovação d'água e rações com baixo teor protéico. O artigo assinado por Albert J. P. Nunes e colaboradores, mostra como isso funciona e apresenta os resultados da pesquisa por eles realizada, que comprova ser possível trabalhar com densidades de até 100 camarões/m2 e obter um cres- cimento de camarões elevado, sempre acima de 1,3 g/semana, utilizando uma ração de apenas 23,5% de proteína bruta. Leia na página 36 Editorial Notícias & Negócios Notícias & Negócios on-line Como podemos aferir a qualidade das rações Sanidade Aquícola: Como determinar o real agente causador de uma doença Utilização de probióticos na aquicultura - Parte II Flocos microbianos reduzem a dependência de rações com alto teor protéico Uso de pós-larvas de camarões marinhos SPF em Santa Catarina Os bons ventos da carcinicultura brasileira Apertem os cintos: A China vem aí! Codevasf inaugura Centros de Referência em Aquicultura Biocombustível a partir de microalgas: especialistas do Reino Unido vêm ao Brasil e visitam a Panorama da AQÜICULTURA Criada a Rede de Aquicultura das Américas Nativ Pescados inaugura moderna fábrica processadora Têxtil Sauter - Referência em panos e redes Guabi - O mercado está para peixe Ficha de Assinatura da Panorama da AQÜICULTURA Calendário Aquícola ...Pág 46 ...Pág 49 ...Pág 53 ...Pág 06 ...Pág 03 ...Pág 11 ...Pág 22 ...Pág 30 Í N D I C E Editor Chefe: Biólogo Jomar Carvalho Filho jomar@panoramadaaquicultura.com.br Jornalista Responsável: Solange Fonseca - MT23.828 Direção Comercial: Solange Fonseca publicidade@panoramadaaquicultura.com.br Colaboradores desta edição: Adolfo Jatobá, Alberto J. P. Nunes, Ana Carolina de Barros Guerrelhas, Aristides Leandro da Silva Filho, Bruno Correa da Silva, Carlos Augusto Go- mes Leal, Felipe do Nascimento Vieira, Fernan- do Kubitza, Frank Belettini, Glei dos Anjos de Carvalho Castro, Hassan Sabry Neto, Henrique César Pereira Figueiredo, Jairo de Souza, João L. Campos, José Luiz Pedreira Mouriño, Leandro Fonseca Castro, Walter Quadros Seiffert Os artigos assinados são de responsabilidade dos autores. A única publicação brasileira dedicada exclusivamente aos cultivos de organismos aquáticos Uma publicação Bimestral da: Panorama da AQÜICULTURA Ltda. Rua Alegrete, 32 22240-130 - Laranjeiras - RJ Fone/fax: (21) 3547-9979 www.panoramadaaquicultura.com.br revista@panoramadaaquicultura.com.br ISSN 1519-1141 Assinatura: Daniela Dell’Armi & Fernanda Araújo assinatura@panoramadaaquicultura.com.br Para assinatura use o cupom encartado, visite www.panoramadaaquicultura.com.br ou envie e-mail. ASSINANTE - Você pode controlar, a cada edição, quantos exemplares ainda fazem parte da sua assinatura. Basta conferir o número de créditos descrito entre parênteses na etiqueta que endereça a sua revista. Números atrasados custam R$ 16,00 cada. Para adquiri-los entre em contato com a redação. Edições esgotadas: 01, 05, 09, 10, 11, 12, 14, 17, 18, 20, 21, 22, 24, 25, 26, 27, 29, 30,33, 34, 35, 36, 37, 38, 39, 40, 41, 44, 45, 59, 61, 62, 63, 65, 76, 77, 78, 79, 80, 81, 82, 83, 84, 85, 87, 88, 111, 112 Projeto Gráfico: Leandro Aguiar leandro@panoramadaaquicultura.com.br Design & Editoração Eletrônica: Panorama da AQÜICULTURA Ltda. Impresso na Grafitto Gráfica & Editora Ltda. Os editores não respondem quanto a quali- dade dos serviços e produtos anunciados. Foto: Luiz E. L. Freitas Capa: Arte Panorama da AQÜICULTURA Edição 118 - Março/Abril - 2010 Uso de pós-larvas de camarões marinhos SPF em Santa Catarina página 42... ...Pág 57 ...Pág 36 ...Pág 59 ...Pág 55 ...Pág 58 ...Pág 42 ...Pág 14 ...Pág 61 ...Pág 65 ...Pág 66 Os bons ventos da carcinicultura brasileira página 46... 6 Panorama da AQÜICULTURA, março, abril, 2010 Notícias & Negócios AQUACIÊNCIA 2010 - Promovido pela Sociedade Brasileira de Aquicultura e Biologia Aquática (AQUABIO), o AquaCi- ência 2010, em sua quarta edição, será realizado em Recife, PE, no período de 12 a 15 de setembro, nas dependências do Mar Hotel, na Praia de Boa Viagem, localizado a 400 m da praia de Boa Via- gem e a 3 km do aeroporto. O AquaCi- ência é o principal evento científico da aquicultura brasileira e objetiva discutiros recentes avanços tecnológicos liga- dos à aquicultura e biologia aquática, como forma de contribuir para aumen- to da produção de pescado dentro dos princípios da sustentabilidade. O evento contará com a participação de conferen- cistas nacionais e internacionais, sendo abordados temas relativos às principais cadeias produtivas da aquicultura, além da apresentação de trabalhos científi- cos. O AquaCiência 2010 seguirá o mes- mo estilo das edições anteriores, entre- tanto devido a limitação de espaço, o número de inscrições está limitado a 800 participantes. Dentre os convida- dos estrangeiros já estão confirmados os nomes dos Drs. Nigel Preston (CSIRO, Austrália), que falará sobre o “Status da aquicultura mundial e novas tec- nologias”, e Peter Bossier (Ghent Uni- versity, Bélgica), que abordará o tema “Microbiologia aplicada a larvicultura de peixes e crustáceos”. Nesta edição, a or- ganização do AquaCiência está nas mãos do Departamento de Pesca e Aquicultura da UFRPE. Maiores informações em www. aquaciencia2010.com.br INOVAÇÃO - A Algomix lançou recen- temente uma inovação em rações para reversão sexual de tilápias. Segundo o diretor comercial da empresa, Saul Jorge Zeuckner, trata-se de um pro- cessamento diferenciado para a ração, que visa obter um produto com maior digestibilidade e possibilitar melhores resultados de reversão sexual, já que as pós–larvas alimentam-se de maneira mais eficiente, promovendo melhores ín- dices de reversão, melhor ganho de peso e principalmente melhor padronização dos lotes. “A técnica de produção da ração Algomix peixes 50% e 42%, para reversão sexual de tilápias, passa por sete etapas de processamento, incluin- do, três moagens separadas, extrusão e cozimento, adicionamento de vitaminas e embalagem”, diz Saul Jorge. “Esse processo novo no Brasil proporciona um resultado fantástico, tornando o produ- to mais digestível, maior flutuabilidade, e principalmente melhor reversão sexu- al”, completa. A Rações Algomix investe também em uma formulação diferencia- da, colocando matérias primas selecio- nadas e inovadoras, que permitem óti- mos resultados, afirma o diretor. FENACAM 2010 - Os aquicultores brasi- leiros têm encontro marcado na FENA- CAM 2010, que se realizará de 7 a 10 de junho próximo, no Centro de Conven- ções de Natal - RN. As oportunidades de mercado, os avanços tecnológicos e o desenvolvimento do setor aquícola brasileiro serão assuntos a serem abor- dados no evento, que terá como tema central “Aquicultura: a alternativa para o aumento da produção de pescados no Brasil” e deve reunir 800 participantes, entre empresários, técnicos, professores, pesquisadores e estudantes. Serão 24 palestrantes nacionais e internacionais e serão apresentados ainda cerca de 100 trabalhos técnicos científicos. Dentro da sétima versão da FENACAM serão realiza- dos o VII Simpósio Internacional de Car- cinicultura, o IV Simpósio Internacional de Aquicultura, a VII Feira Internacional de Serviços e Produtos para Aquicultura e o VII Festival Gastronômico de Frutos do Mar. As inscrições podem ser feitas através do site www.fenacam.com.br WAS 2011 - A cidade de Natal vai rece- ber em 2011 o evento anual da Socie- dade Mundial de Aquicultura (WAS), que acontecerá juntamente com a VIII FE- NACAM. O executivo da FENACAM, Paulo Henrique Nunes, foi a San Diego (EUA) para fazer contatos com empresas ameri- canas, e algumas já sinalizam com o pa- trocínio para o evento que pela segunda vez acontecerá no Brasil. O Comitê Orga- nizador do WAS 2011 se reunirá durante a FENACAM deste ano. Os brasileiros que fazem parte da organização são: Ricar- 7Panorama da AQÜICULTURA, março, abril, 2010 Notícias & Negócios do C. Martino, Wagner Valenti, Eduardo Ono, Eudes Correia, Patricia Valenti, Luis Andre Sampaio, Eric Routledge, Marcos Rogerio Camara, Alexandre W. Wainberg, Karina Ribeiro e Felipe Ribeiro. A indús- tria será representada por João Manoel C. Alves, da empresa Guabi. EUA REDUZEM TAXA - O Departamento de Comércio dos Estados Unidos (DOC) reduziu para 7,05% a taxa antidumping imposta ao camarão nacional exportado para o mercado americano. Em dezem- bro do ano passado, o DOC anunciou margem de dumping de 10,4% para o camarão vendido pelo Brasil, resulta- do da média aplicada a duas empresas nacionais investigadas no processo. Os advogados da Associação Brasileira de Criadores de Camarão (ABCC) pediram revisão das taxas e o pedido foi aceito. Segundo o presidente da ABCC, Itamar Rocha, a redução da sobretaxa vai aju- dar os exportadores a recuperar suas perdas e recoloca o Brasil na disputa com os demais países também acusa- dos no processo, mas que receberam taxas bem menores. PARABÉNS - O Instituto de Pesca come- morou no dia 8 de abril os 41 anos de atividades. As pesquisas são mantidas pelo Governo de São Paulo, por meio da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (Apta) da Secretaria de Agricultura e Abastecimento. CUSTO DE PRODUÇÃO - Acaba de ser lançada a publicação com CD “Planilhas para Cálculo do Custo de Produção de Peixes em Tanques-rede” de Luiz Mar- ques da Silva Ayroza, Jorge de Matos Ca- saca e Maria Inez Espagnoli G. Martins. A publicação, patrocinada pela Guabi e a Fundação de Apoio à Pesquisa Agrí- cola (FUNDAG), tem por objetivo munir os profissionais e produtores da área de piscicultura, de um instrumento sim- ples e prático para análises técnicas e econômicas que envolvem a criação de peixes em tanques-rede. Para isto, foi elaborado um programa que serve para analisar a rentabilidade de projetos no- vos e em andamento. O programa é um arquivo denominado Custo de Produção de Peixes em Tanques-rede, desenvol- vido com a planilha eletrônica Excel. Apresenta pas- tas para entrada de dados e exe- cução dos cálcu- los, dentre elas: informações da propriedade; in- vestimentos nos tanques-rede; investimento na estrutura de fixação; investimento em equipamentos e aces- sórios; outros investimentos; cálculo do custo de produção; cálculo da recei- ta bruta e indicadores técnicos e eco- nômicos. Além do CD com o programa, o usuário conta com um manual que traz orientações para o correto preen- chimento da planilha. Custa R$ 40,00 e informações para compra podem ser obtidas no www.fundag.br ou no tel (19) 3233-8035. MACROALGAS MARINHAS - O agrônomo Francisco Zuza de Oliveira, 61, novo pre- sidente da Agência de Desenvolvimento do Ceará (Adece), anuncia que o Ceará produzirá carragenana, substância ex- traída de macroalgas marinhas utiliza- 8 Panorama da AQÜICULTURA, março, abril, 2010 Notícias & Negócios da na indústria alimentícia a partir das algas que serão cultivadas ao longo do extenso litoral do Estado, num negó- cio que poderá empregar cerca de 3 mil pessoas. Serão sete pólos de produção de algas: em Camocim, Acaraú, Trairi, Paracuru, São Gonçalo do Amarante, Aracati e Icapuí, e serão selecionados mil algicultores que constituirão, ini- cialmente, 20 condomínios, cada um com 50 algicultores. Cada algicultor terá três balsas, nas quais serão pendu- radas redes que receberão as mudas de algas. Completado o ciclo de produção, de 35 a 45 dias, as algas serão colhi- das e depois submetidas ao processo de secagem. Estima-se que cada algicultor produzirá, mensalmente, 4 toneladas de alga úmida que lhe darão uma ren- da mensal líquida de R$ 700. Hoje, a produção mundial de carreganana é de 1,6 milhão de toneladas. Os principais produtores são as Filipinas, a Indonésia e a Tanzânia. O mercado mundial de car- ragenana movimentou em 2008 US$ 600 milhões. O Brasil, que produziu no ano passado de 2009 apenas 48 toneladas de carragenana, tem uma demanda anu- al de 1.276 toneladas, 90% das quais produzidas em São Paulo, Rio de Janeiro e Paraíba. A Biomar, empresa que pro- duz macroalgas e carragenana no Rio de Janeiro está indo para o Ceará, onde já se comprovou que a produção é maior do que nas águas fluminenses.A unida- de industrial da Biomar será instalada em Chorozinho. BALANÇA 2009 - O resultado da Balança Comercial do Pescado em 2009 foi divulga- do pela Coordenação-Geral de Comerciali- zação e Promoção Comercial do Ministério da Pesca e Aquicultura. No acumulado do ano as exportações brasileiras totaliza- ram US$ 169 milhões, o equivalente a 30 mil toneladas, e as importações foram de US$ 688 milhões, equivalentes a 230 mil toneladas. Em valor o sado negativo foi de US$ 519 milhões, e em peso foi de (-)200 mil toneladas de pescado. Para os analistas do MPA a tendência de déficits a partir de 2006, após cinto anos seguidos de superávits (2001 a 2005) decorre do “aumento das importações de pescado no período, conjugado com a diminuição das exportações do pescado brasileiro, que fo- ram afetadas principalmente pela ampli- tude da variação do câmbio no período, e pela produção ainda insuficiente”. O cami- nho pra reverter esse quadro é a produção via aquicultura. E não tem outro. MÁQUINAS DE MARICULTURA - Mariculto- res de Florianópolis utilizaram máquinas/ protótipos desenvolvidas a partir de um convênio firmado entre o Instituto de Ge- ração de Oportunidades de Florianópolis (IGEOF/PMF) e o SEBRAE/SC, como parte do projeto de mecanização na maricultura promovido pelo Arranjo Produtivo Local – APL ostras. O objetivo é aumentar a pro- dutividade, melhorar a qualidade das ostras produzidas, e tornar o trabalho da maricul- tura mais qualificado, abrindo demandas para os setores projetistas, oficinas cons- trutoras de máquinas e técnicos. Os equi- pamentos são compostos por lavadora de ostras, uma classificadora, debulhadora de mexilhões e trituradora de conchas. Para que fossem utilizados pelas associações, as máquinas foram primeiramente cedidas aos maricultores para que fossem avalia- das. Após a fase de testes os maricultores apresentaram ao IGEOF um relatório técni- co para adequações e, a partir disso, foi fir- 9Panorama da AQÜICULTURA, março, abril, 2010 Notícias & Negócios mado um termo de cooperação técnica entre as partes que permite que os equipamentos sejam utilizados por diversas associações. No decorrer desse processo, alguns produtores já construíram suas pró- prias máquinas, inspiradas nos protótipos. OSTRAS NATIVAS I - O Governo Federal aprovou o cultivo de ostras em mais quatro áreas do município de Guaratuba, no litoral do Paraná. Também foram aprovadas duas áreas na baía de Paranaguá. Todas destinadas ao cultivo de ostra nativa. A licitação nacional foi realizada pelo MPA e os resultados foram publicados no Diário Oficial da União do dia 23 de março. Das áreas licitadas em Guaratuba duas ficam no Cabaraquara, uma no Barigui e uma na Ilha da Pescaria. As áreas foram conquis- tadas pela Aguamar (Associação Guaratubana de Maricultores) e pela Addehguare (Associação de Defesa dos Direitos Huma- nos e Desenvolvimento dos Moradores Tradicionais de Guaratu- ba e Região). Os cultivos vão beneficiar 25 famílias. OSTRAS NATIVAS II - A Prefeitura Municipal de São Francisco do Sul - SC está repovoando a baía da Babitonga com 300 mil semen- tes de ostras nativas da espécie Crassostrea brasiliana. O trabalho desenvolvido pelas secretarias de Meio Ambiente e de Agricultura e Pesca, em parceria com a Univille, a UFSC e a Colônia de Pescadores Z-02, objetiva impulsionar a maricultura local e conservar os bancos naturais de ostras, explorados ao longo do tempo. As ostras serão cultivadas por 30 novos ostreicultores da Associação de Aquiculto- res Comunitários de São Francisco do Sul, com apoio técnico das universidades. As sementes foram produzidas em laboratório com matrizes de ostras provenientes da própria baia da Babitonga. POLI-NUTRI EM LAJEDO - A cidade de Lajedo, em Pernambu- co, foi escolhida para sediar a mais nova unidade de distribuição da Poli-Nutri. Com este novo centro de distribuição, a empresa pretende ampliar o acesso às melhores matérias-primas, rações prontas, núcleos e premixes aos clientes de Pernambuco, Paraíba, Alagoas e Bahia. A escolha do local levou em conta a proximidade com o Porto de Suape para a importação de matérias-primas utili- zadas na nutrição animal. Ao estruturar um novo centro de distri- buição próximo aos produtores do Nordeste, a Poli-Nutri permitirá o fornecimento de matérias-primas para todos os que enfrentam dificuldade na aquisição de pequenos lotes de ingredientes fun- damentais para a composição das formulações destinadas à nutri- ção animal. A nova unidade reforça a presença de duas décadas da Poli-Nutri na Região Nordeste, consolidada pela instalação da unidade cearense de Eusébio, em operação desde 2006. CAÇÃO DE ESCAMA - O Ministério da Pesca e Aquicultura (MPA) está viabilizando a capacitação de pescadores artesanais para o cultivo e produção do bijupirá nas comunidades pesqueiras de Brasília Teimosa, Piedade e Barra de Jangada, na Região Metropolitana do Recife. O projeto “Cação de Escama” tem investimentos de R$ 1,7 milhão destinados a implementação da infraestrutura e comercialização do peixe. Inicialmente 120 pescadores serão treinados pelo Departamento de Pesca e Aquicultura da Universidade Federal Rural de Pernambuco (Depaq/UFRPE). A primeira fase do projeto, iniciada há um ano, selecionou a área adequada ao cultivo com o licenciamen- to ambiental e recrutou os responsáveis pela implantação do projeto. Os equipamentos, que passaram por licitação pública, foram adquiridos de uma empresa chilena e custaram cerca de R$ 600 mil. A estrutura conta com gaiolas, cabos, âncoras, sistema de redes e uma lancha para o transporte da equipe. De acordo com Santiago Hamilton, membro do Depaq/UFRPE e co- ordenador do projeto, o objetivo é incentivar a produção dessa espécie e fazer com que os pescadores desenvolvam um sis- tema de rodízio para aprender o cultivo. Quatro gaiolas serão instaladas em alto-mar a cerca de oito quilômetros em linha reta da costa do Recife, em frente à praia de Boa Viagem. Cada compartimento terá capacidade de 1,2 mil metros cúbicos e a estimativa de produção é de 10 quilos/metro cúbico. O projeto conta com o apoio do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), Odebrecht e Instituto Agronômi- co de Pernambuco (Ipa). 10 Panorama da AQÜICULTURA, março, abril, 2010 11Panorama da AQÜICULTURA, março, abril, 2010 Participe da Lista de Discussão Panorama-L Inscreva-se no site www.panoramadaaquicultura.com.br Notícias & NegóciosOn-line De: J. Casaca j.casaca@uol.com.br Para: lista@panorama-l.com.br Assunto: Pangasius O panga está influenciando o comércio de peixes aqui no Oeste de Santa Catarina. Muitos produtores de tilápia estão perden- do mercado para o panga. O preço do pan- ga no varejo está entre R$ 8,50 a 12,00 comparados com o preço do filé de tilápia entre R$ 13,00 a 21,00. Cabe lembrar que hoje a tilápia é a espécie mais criada na região, representando em torno de 50% do total. Mas os donos de restaurantes compram o panga diretamente do distri- buidor a um preço em torno de R$ 6,50 - 7,50/kg, preparam como filé frito e o colocam no bufê. Muitos dizem que é filé de tilápia. Resultado: os restaurantes es- tão deixando de comprar o filé de tilápia. Por aqui a impressão do consumidor em relação ao filé de panga é diferente ao re- latado aqui na Lista Panorama-L. A maio- ria tem aprovado o filé de panga. Esta é uma oportunidade para os estudiosos do comportamento dos consumidores. De: Francisco Leão f_leao@hotmail.com Para: lista@panorama-l.com.br Assunto: Re: Pangasius Em relação à tilápia cuidado para não comparar peixes grandes (1 kg) de culti- vo intensivo com peixes pequenos (400g) de pesca de captura. São duas coisas bem diferentes, embora, nem sempre o con- sumidor perceba/reconheça a diferença. Aqui em São Paulo o filé varia de R$ 21,00 (supermercados de classe A e B) a R$ 8,00 (o filezinho pequeno vendido quase que de forma clandestina). O peixe inteiro pode ser encontradoa R$ 8,00 o kg na peixaria, que, por sua vez compra do CEASA a R$ 4,50. De: Álvaro Graeff agraeff@epagri.sc.gov.br Para: lista@panorama-l.com.br Assunto: Re: Pangasius Estimado Casaca, neste limão azedo vejo uma oportunidade única de fazer uma bela limonada. Usando o artifício de que se o consumidor gosta do panga, por que não experimentar nossos nati- vos de couro? E, neste raciocínio, nós daqui do Sul temos no jundiá (Rhamdia quelen) um belo peixe, que se produzido em escala, pode competir em qualidade e preço. Como? Vamos desenvolver tec- nologias, pois se os outros conseguiram por que não podemos? De: Guilherme Accorsi guilherme.accorsi@gmail.com Para: lista@panorama-l.com.br Assunto: Re: Pangasius Prezados, experimentei o filé de panga aqui em Florianópolis e a minha opinião é que o filé é gorduroso e sem muito gosto. O filé de tilápia, em termos de qualidade, é muito melhor do que o de panga. Por essa razão acredito que a perda de mer- cado da tilápia seja apenas temporária. Hoje está se perdendo mercado, pois é um produto “novo” no Brasil. Com o passar do tempo o próprio consumidor vai voltar a dar preferência à tilápia, acredito. De: Bruno Graziano da Silva Turini brunoturini@mpc.com.br Para: lista@panorama-l.com.br Assunto: Re: Pangasius Prezados, acredito que para todo peixe exista um mercado, mesmo que especí- fico. Trabalho atualmente com peixes nativos amazônicos (surubim, pintado da Amazônia e tambaqui) e com espécies exóticas (tilápia). Atualmente passamos a adquirir também o pangasius. A indús- tria brasileira de pescado ainda sofre com a escassez de matéria prima de qualidade e de baixo custo. O pangasius, por pos- suir excelentes características sensoriais (carne branca, leve, saborosa e sem a presença de espinhas e off-flavor), sur- ge como alternativa, podendo ser utili- zado na formulação de produtos a base de peixe (hamburger, fish bits, cripy fish, tirinhas, etc.). É claro que sou defensor de um comércio justo, sem fraudes eco- nômicas. E também concordo com a pre- ocupação de muitos, quando o assunto diz respeito às condições de trabalho no Viet- nã, à falta de inocuidade e às BPFs. Entre- tanto, não vejo motivo para tanta preocu- pação. Prefiro acreditar que esta seja uma oportunidade de diversificação de nossos produtos. Existe espaço para todos! De: Central do Peixe centraldopeixe@bol.com.br Para: lista@panorama-l.com.br Assunto: Re: Pangasius Concordo integralmente com o Álvaro, te- mos muitas alternativas e a presença do panga nesse momento nos obriga a pro- curar estas alternativas. Alguns anos atrás, mas precisamente antes de 2006, nos lutá- vamos em Mato Grosso para poder criar ti- lápia, pois éramos proibidos por lei. Quan- do conseguimos aprovar a lei 8464 que permitia a criação de tilápia, continuamos sem criar tilápia, pois descobrimos que os resultados financeiros eram melhores com os nativos do que com tilápia, foi neces- sário um problema para descobrirmos uma alternativa. Pode ser este o momento de olharmos para os nossos peixes. De: Ricardo B. Borges fazendaborges@onda.com.br Para: lista@panorama-l.com.br Assunto: Re: Pangasius O preço do panga poderá baixar ainda mais quando as grandes redes de super- mercado descobrirem que podem comprar diretamente dos exportadores, com em- balagem própria (private label), tirando as indústrias importadoras atuais do cir- cuito. Aliás, o mesmo Vietnã está com um bruta incentivo para fazer o mesmo com o cultivo da tilápia. De: Jefferson de Alexandre Pessoa jeffpess@gmail.com Para: lista@panorama-l.com.br Assunto: Re: Pangasius Comprei filés de panga e achei extremamen- te gordo (gorduroso), não sei se é apenas comigo, mas peixe muito gordo me causa repugnância. Apesar da gordura encontrada acredito que o peixe tenha um bom sabor (quando magro). Com relação a aparência, o filé é muito bonito. 12 Panorama da AQÜICULTURA, março, abril, 2010 13Panorama da AQÜICULTURA, março, abril, 2010 Notícias & NegóciosOn-line De: Mab Aquicultura mab.aquicultura@bol.com.br Para: lista@panorama-l.com.br Assunto: Re: Pangasius Uma constatação pra quem trabalha com comercialização de pescado aqui no Brasil: aqui se compra e vende tudo! Ou melhor, se tem mercado pra “quase” tudo. Um exemplo é o próprio panga que dizem terem visto num estado que “não os agradaram”. Muito provavelmente, vocês devem ter visto uma das várias possibilidades de produto que esse peixe pode ser comercializado, ou seja, um filé de panga amarelo e com barriga (classificam como “untrimmed”). Esse é um tipo de produto mais barato e bom para mercados e consumidores pouco exigentes, que são uma grande “fatia” dos brasileiros que visitam e compram pescado nas peixarias e supermerca- dos, locais onde mais se compra pescado por aqui. Com o mesmo peixe também é possível atender um mercado muito mais exigente, através de um filé de panga branco, sem es- pinhas, sem pele, sem barriga, toalete perfeito e embalado a vácuo. Esse produto, lógico, tem preço muito superior e pode ser utilizado para pratos especiais em hotéis, restaurantes e/ ou lojas especializadas de catering, etc.. Alguém duvida que não temos mercado para os dois produtos acima descritos? Alguém duvida que o mesmo possa ser feito com alguns tipos de pescado que encontramos por aqui, como é o caso dos nossos jundiás? Essa adaptação já vem sendo feita em alguns tipos de pescado. Pra resumir, o que quero dizer é que existe mercado por aqui para as inúmeras opções de produto e para inúmeras formas de apresentação e qualidades de pescado. O consumidor é quem decide! E olha que ele tem decidido por todos. Apesar do critério “qualidade” ainda não ser algo compreendido plenamente pelos consumidores, isso facilita o consumo de “qualquer coisa”. Produtos bem elaborados ou pro- dutos com quase nenhuma preparação ou agregação de valor. Não importa. Podemos concluir que no Brasil, se come pescado de “quase” todo jeito (independente de sua qualidade). E não é só por aqui que acontece isso! Apesar do comércio mundial de pescado ser absurdamente maior do que várias carnes, precisa- mos conhecer ainda muito a nossa “casa” e os costumes de seus ocupantes. E desfrutar de tudo isso com bons lucros! De: Cristiano Gomes cristiano.industriacruz@gmail.com Para: lista@panorama-l.com.br Assunto: Re: Pangasius Tive o prazer de adquirir uma boa quantidade de filé de panga, e concordo em parte no que você relata. Realmente é um filé de ótima apresentação com toillet “quase” perfeito e o que mais incrementa sua qualidade visual são suas característi- cas sensoriais, comprovando um tipo de congelamento rápido e eficiente. Em contrapartida é um filé muito esbranquiçado, com uma ventrecha quase inexistente. Em relação às formas de apresentação, o mesmo não disponibiliza opcões para cortes variados, já que o seu lombo não apresenta uma espessura tão satisfatória para tal procedimento. E no que se refere a “off- flavor” concordo plenamente com os outros colegas, filé sem gosto não dando para fazer qualquer comparação com a tilápia ou até mesmo outros filés populares como o de piramutaba. Testes que fiz com a carne dele moída, apresentam uma grande quantidade de gordura, durante a lavagem e separação, muito acima da tilápia, mapará, por exemplo, é como se fosse uma pasta branca não solúvel em água. Mas como você falou, “tem preço”. Enfim, esse filé de panga tem duas vantagens, o preço e o glaciamento, quase inexistente. 14 Panorama da AQÜICULTURA, março, abril, 2010 Por: Fernando Kubitza, Ph. D. Acqua Imagem Serviços Ltda fernando@acquaimagem.com.br A adequada nutrição é fundamental para otimizar o ganho de peso e a conversão alimentar dos peixes. Também influencia no desempenho reprodutivo, bem como na qualidade, desenvolvimento e sobrevivência das pós-larvas e alevinos. As rações de alta qualidade contribuem com a preservação da qualidade da água e com o vigor e saúde dos peixes, fazendo com que estes suportemmelhor as pressões do manejo e os desafios frente aos organismos patogênicos. Portanto, a qualidade das rações, mais do que talvez você possa haver imaginado, é um fator de grande peso no su- cesso econômico do seu empreendimento. As rações representam entre 50 e 80% do custo de produção em uma piscicultura intensiva. E mesmo assim uma grande parte dos piscicultores desconhece a relação benefício/custo das rações que utilizam. Com limitado conhecimento sobre nutrição e sobre os fatores que determinam a qualidade de uma ração, os criadores, na maioria das vezes, se baseiam quase que exclusi- vamente no preço na hora de decidir pela compra de uma ração. Com foco apenas no preço, os produtores mudam de fornecedor de ração tão facilmente como trocam de camiseta. Fidelidade mesmo somente com produtores mais profissionalizados, que já avaliaram diversos produtos e realizam o monitoramento contínuo do desempenho dos peixes. Estes acabam optando pelos fabricantes mais regulares em termos de qualidade, além é claro da qualidade do atendimento. Neste artigo são apresentadas sugestões para uma avaliação mais objetiva da qualidade das rações usadas no seu empreendimento. Um exemplo simples para uma rápida avaliação entre duas rações O produtor está se decidindo pela compra de uma ração com 32% de proteína. A ração A, colocada na propriedade, custa R$ 1,05/kg (R$ 27,25/saco de 25 kg). A ração B custa R$ 1,03 (R$ 25,75/saco de 25kg). Nua e cruamente, a diferença por saco é considerável, R$ 1,50, sendo a ração A 5,8% mais cara (ver Quadro 1). Se o produtor não acredita em qualidade, ima- gina que as rações são todas iguais e o que importa é o preço, a decisão já está tomada. No entanto, quando se tem como base, por exemplo, os níveis de garantia (considerando que o fabricante pode chegar até o limite destes níveis) a situação pode se inverter. A ração A, por ter maior percentual de componentes com valor nu- tritivo (proteína, gordura e carboidratos), apresenta um custo menor por quilo de material protéico e energético, comparada à ração B. 15Panorama da AQÜICULTURA, março, abril, 2010 Qualidade da Ração O exemplo aqui apresentado é um exercício muito semelhante ao que fazemos quando vamos ao supermercado e ponderamos sobre a compra de um peixe inteiro ou do seu filé, ou mesmo de coxa de frango ou do filé de peito de frango. Queremos saber quanto do produto realmente vai ser comestível. Porém, os su- permercados não fornecem nenhum nível de garantia, como são obrigados a fornecer os fabricantes de ração. Obviamente que, no caso das rações do exemplo aqui apresentado, outros aspectos merecem ser considerados, dentre muitos: a) o enriquecimento mineral e vitamínico; b) a experiência prévia com o produto; c) a indicação de outros produtores que possuem bons controles e registros dos resulta- dos de produção; d) o aspecto visual e sensorial do produto; entre outros. Percepções dos produtores sobre a qualidade das rações Quando as negociações são pautadas somente em preço, detalhes importantes para a tomada de decisão muitas vezes são esquecidos. Entre eles os resultados de crescimento e conversão alimentar, a melhora no desempenho reprodutivo, o menor impacto sobre a qualidade da água e a melhor condição de saúde dos ani- mais. O grande desafio do produtor é quantificar estes benefícios, tarefa quase impossível se não houver bons registros dos resultados de produção. Além da falta de controle e mensuração dos resultados no uso das rações, os pro- dutores ainda guardam consigo conceitos equivocados sobre a qualidade deste insumo. Entre eles a idéia de que a “força ou sustança” é maior, quanto maior for o seu teor de proteína. Também idolatram a vitamina C de tal maneira, subestimando a importância das demais vitaminas e minerais no desenvolvimento e saúde dos peixes. Outra percepção equivocada é a relação entre uma coloração mais escura da ração com a presença de farinha de pei- xe em sua composição. Mais equivocada, ainda, é a crença de que se não houver farinha de peixe em sua composição, Quadro 1 – Análise comparativa entre preços e componentes nutritivos e inertes entre duas rações o produto não presta. Ou seja, vaca tem que comer farinha de vaca, porco tem que comer farinha de porco e gente tem que comer farinha de gente para crescer. Quanto aos níveis de proteína na ração Até atingir o nível ideal ou ótimo de proteína para uma determinada espécie, dentro de uma fase particular de desenvolvimento (pós-larvas, alevinos, juvenis e adultos), o aumento nos níveis de proteína na ração tende a melhorar o ganho de peso e a conversão alimentar dos peixes, bem como a sua capacidade reprodutiva. A partir do nível ótimo, a elevação do percentual de proteína na ração não traz benefício adicional, apenas eleva o custo com a ali- mentação e aporta mais nutrientes na água dos tanques de criação (em particular o nitrogênio e o fósforo), acelerando o processo de degradação da sua qualidade. Níveis excessivos de proteína podem, até mesmo, exercer ação tóxica aos peixes, prejudicando diretamente o seu desempenho. Produtores de alevinos são mais propensos ao uso de rações com excessivos níveis de proteína. Acreditam que isso melhora a nutrição e o desenvolvimento das pós- larvas e alevinos. E, pelo fato de servirem de referência a muitos dos seus clientes, propagam este equivocado conceito adiante. Se rendendo a este apelo de mercado, pouco a pouco os fabricantes de ração foram deixando a racionalidade técnico-científica de lado, passando a ofertar rações iniciais com mais de 50% de proteína em sua composição, recomendando-as para uso na alimentação de pós-larvas e alevinos da maioria das espécies de peixes hoje cul- tivadas no Brasil. Quem sai perdendo com esse exagero é o próprio produtor que, na ilusão de oferecer o melhor alimento aos seus peixes, paga até 60% mais caro por um produto que acaba prejudicando o seu desenvolvimento e sua saúde, além de deixar uma carga poluente maior nos seus tanques de cultivo. Na tabela 1 são sumarizados os resultados de trabalhos científicos que avaliaram as exigências em proteína para alevinos e juvenis de algumas es- pécies cultivadas no Brasil. Tabela 1 – Níveis de proteína bruta avaliados e níveis ideais de proteína (PB ideal %) determinados em pesquisa com diversas espécies de peixes criadas no Brasil 16 Panorama da AQÜICULTURA, março, abril, 2010 Qu al id ad e da R aç ão Na literatura científica ainda existem exemplos muito claros do impacto negativo do uso de rações com excessivos níveis de proteína sobre o crescimento e a conversão alimentar de pós-larvas e alevinos de peixes tropicais como a tilápia, o tambaqui e o pintado (Tabela 2). Observe que acima do nível de proteína considerado ideal, há uma redução no crescimento dos peixes e piora na conversão alimentar. Tais efeitos também já foram observados com outras espécies de peixes, onívoras e carnívoras. Em especial, excessivos níveis de proteína podem ser muito perigosos durante a produção de alevinos em águas excessivamente verdes, com grande proliferação de fitoplâncton. A intensa fotossíntese mantém o pH na água muito elevado, o que dificulta a difusão passiva da amônia do sangue dos peixes para a água. Isso pode aumentar o risco de ocorrência de uma auto intoxicação dos peixes por amônia, agravada ainda mais pela quantidade excessiva deste metabolito tóxico que está sendo gerada com a “queima” (metabolis- mo) do excesso de proteína (aminoácidos) ingerida com a ração. A auto intoxicação por amônia é uma importante causa de morte crônica ou súbita de alevinos em tanques de terra com águas muito verdes, geralmente agravada sob o consumo de rações com elevados níveis de proteína (Figuras 1a e 1b). Para a tilápia, em especial, há um grande número de trabalhos científicos avaliando os níveis ideais de pro- teína na ração (Tabela 3), havendo um consenso entre os pesquisadores e especialistasem nutrição de que não há razões para o uso de rações com mais de 40-45% de pro- teína bruta para pós-larvas e alevinos desta espécie. Em avaliações de campo, durante as etapas de masculinização Tabela 2 - Nível ideal de proteína na dieta (destacado em verde) e o efeito depressivo do excesso de proteína sobre o crescimento de alguns peixes (destacado na cor cinza) de forma a ofertar rações iniciais com níveis protéicos mais equilibrados e ajustados com base nos estudos nutricionais, e não ao apelo do mercado. Isso tudo em benefício geral do setor produtivo e do ambiente. Quanto à coloração escura e presença de ingredientes de origem animal nas rações Muitos produtores crêem que, quanto mais escura for a ração, mais farinha de peixe ou produtos de origem Figura 1a - Águas excessivamente verdes, com grande proliferação de fitoplâncton Figura 1b - Mortalidade de alevinos criados em tanques de terra devido à auto intoxicação por amônia, agravada pelo elevado pH da água (pelo excesso de fitoplâncton) e pelo uso de ração com elevados teores de proteína GDP – Ganho de peso 1 Van der Meer et al 1995 2 Hayashi et al 2002 3 Ludsted et al sem data das tilápias, tanto em hapas (tanques-rede) como em tan- ques escavados, rações com 40% de proteína chegam até mesmo a superar os resultados obtidos com rações com teor protéico superior a 50%, a um custo de aquisição de ração cerca de 40 a 60% inferior. Diante do fato aqui exposto, é fundamental que os piscicultores, em especial os produtores de alevinos, reavaliem seus conceitos no que diz respeito ao uso de rações com elevados níveis de proteína. Também é neces- sário que os fabricantes revisem suas linhas de produtos, 17Panorama da AQÜICULTURA, março, abril, 2010 Qualidade da Ração Tabela 3 – Níveis de proteína bruta nas rações que otimizam o desempenho de pós-larvas e alevinos de tilápia animal ela contém. E consideram isso bom. No entan- to, nem sempre a presença de grandes quantidades de ingredientes de origem animal é um fator positivo na ração. Farinhas de peixe geralmente conferem maior palatabilidade às rações, melhorando seu consumo pelos peixes, em particular os carnívoros. No entanto, sua importância nas rações para peixes onívoros não é tão grande quanto o produtor imagina. Grande parte das farinhas de peixes produzidas no Brasil é obtida a partir de restos de filetagem e descartes de peixes já em avançado estado de decomposição. Assim, contém menor percentual de proteína, matéria mineral mais elevada, maior grau de rancificação (oxidação) de seu óleo (ou lipídios) e maior concentração de aminas biogênicas (compostos produzidos com a putrefação da proteína). Além disso, quando superaquecidas durante o cozimento e secagem, podem ter a digestibilidade da proteína reduzida. Farinhas de peixe nacionais apresentam digestibilidade de proteína entre 82 e 90%, contra 90 a 95% de digestibilidade para a proteína no farelo de soja, por exemplo. Tais características podem prejudicar o desenvolvimento dos peixes. Assim, nem sempre a presença de farinha de peixe em uma ração para peixes é sinônimo de qualidade da ração. Com o surgimento de frigoríficos especializados em produtos da aquicultura, que processam pescado fresco, recém abatido, a qualidade das farinhas de peixes disponíveis no Brasil tenderá a melhorar, tanto pela qualidade da matéria prima, pelos processos e equipamentos mais eficientes de produção de farinha e pela visão de quali- dade do empreendedor, buscando obter um subproduto de melhor qualidade do que até hoje vem sendo ofertado pela indústria pesqueira tradicional. Um ingrediente de origem animal que escurece a ração é a farinha de sangue. Com coloração semelhante a de um pó de café super torrado, as farinhas de sangue que geralmente são utilizadas nas rações no Brasil, são obtidas por secagem em chapa quente (tambor rotativo), onde acabam sendo superaquecidas. Com isso a diges- tibilidade de proteínas destas farinhas é relativamente baixa, geralmente entre 50 e 70%. Além do mais, a proteína das farinhas de sangue é desequilibrada em diversos amino- ácidos essenciais, entre eles a metionina e o triptofano. Por apresentar proteína mais barata em relação a outras fontes protéicas (devido ao seu teor elevado de proteína, em média de 80%) e, ainda, conferir uma coloração mais escura à ra- ção, a farinha de sangue muitas vezes é utilizada em excesso na fórmula, reduzindo o custo da mesma, porém compro- metendo sua qualidade. Apenas como ilustração, uma ração com 40% de proteína que contenha em sua fórmula 20% de farinha de sangue, recebe deste ingrediente uma contribuição de 16% dos 40% de proteína assegurados no rótulo. Como a digestibilidade desta proteína muitas vezes é de apenas 50%, cerca de 8% da proteína bruta da ração será eliminada nas fezes dos peixes. Com isso, uma ração com 40% de proteína acaba com um valor nutritivo semelhante ao de uma ração com 32% de proteína formulada com ingredientes de alta digestibilidade. Portanto, fique bem atento a rações muito escuras, quase negras, que podem indicar um uso excessivo de farinha de sangue. Uma consideração sobre a percepção do valor da vitamina C A idolatria pela vitamina C é ponto em comum entre os produtores, que muitas vezes usam o nível de enriqueci- mento desta vitamina como fator decisivo na compra de uma ração. A vitamina C é importante para o desenvolvimento e saúde dos peixes. Participa na formação dos ossos, na cicatrização dos tecidos, na melhoria da resposta imunoló- gica e na redução da infestação de alguns parasitos, entre outros benefícios. No entanto, a vitamina C sozinha não faz milagres, por isso não deve servir como único parâmetro de avaliação da qualidade de uma ração. Níveis de vitamina C adequados nas rações usadas em criações intensivas em tanques de terra estão entre 100 e 200 mg/kg. Para cultivos sob altas densidades e maior situação de estresse, como no caso da produção em tanques-rede, os níveis devem ficar pelo menos na casa dos 200 a 300 mg/kg de uma fonte de vitamina C estável durante o processamento e armazenamen- to da ração. Rações para pós-larvas, pelo fato de perderem mais vitaminas por dissolução na água, devem ser suple- mentadas com pelo menos 500 mg de vitamina C/kg. Para se obter um efeito expressivo na resposta imunológica dos peixes, geralmente são necessários níveis acima de 1.000 mg/kg desta vitamina. Obviamente que isso não é uma regra fiel, mas uma síntese do que se conhece do ponto de vista científico e prático do enriquecimento das rações de peixes com a vitamina C. Agora, mais do que apenas a vitamina C, o produtor deve levar em consideração o enriquecimento vitamínico e mineral como um todo. É comum encontrar no mercado rações com altos níveis de vitamina C, mas que possuem níveis marginais de outras vitaminas e minerais, notadamente algumas vitaminas do complexo B e o zinco, prejudicando assim o crescimento e a saúde dos peixes. 18 Panorama da AQÜICULTURA, março, abril, 2010 19Panorama da AQÜICULTURA, março, abril, 2010 Uma avaliação mais objetiva e fiel da qualidade das rações As análises laboratoriais conven- cionais, como a da composição proximal (proteína bruta, extrato etéreo, fibra bruta, matéria mineral, umidade e extrativo não nitrogenado – carboidratos), são acessí- veis no preço, mas não conseguem refletir o verdadeiro valor nutritivo da ração. Por exemplo, uma análise do teor de proteína, nada diz sobre a qualidade desta proteína (seu perfil de aminoácidos e sua digestibi- lidade). A análise da composição proximal apenas serve para aferir se o produto está em conformidade com os níveis de garantia providos no rótulo. Análises mais elaboradas e, de maior custo, são necessárias para ter uma melhor idéia sobre a qualidade nutricional das ra- ções. Por exemplo, um aminograma, que expressa o perfil de aminoácidos presentes no produto. Também é possível analisar al-gumas vitaminas e minerais para comparar com o grau de enriquecimento do produto indicado pelo fabricante. Análises de di- gestibilidade da proteína também podem ser realizadas. No entanto, estas análises mais detalhadas implicam em considerável custo e, ainda assim, não possibilitam obter plena certeza quanto à qualidade do produ- to. Se formos mais a fundo, ainda valeria rastrear a presença de micotoxinas (toxinas produzidas por fungos e que podem estar presentes em alguns ingredientes usados nas rações, notadamente no milho e nos farelos vegetais), índice de peróxidos, entre outros parâmetros. Na realidade, análises laboratoriais tão detalhadas assim somente são realizadas quando ocorre algum proble- ma muito sério, geralmente envolvendo a mortalidade dos animais ou qualquer outro grande prejuízo aclamado pelo produtor e atribuído à inadequada qualidade da ração. E, geralmente, quando alguma coisa erra- da ocorre na piscicultura, a ração sempre é colocada no topo da lista dos prováveis suspeitos, mesmo havendo um precário controle por parte dos produtores das de- mais condições de cultivo (qualidade de água e do manejo, sanidade, entre outros aspectos). Muitas vezes os produtores bri- gam com o fabricante, trocam de ração e o problema acaba se repetindo, confirmando que há algo errado na condução do cultivo e não na ração. Qualidade da Ração Apesar de todas as possibilidades de análises laboratoriais de uma ração, ainda não conheço prova mais fiel de sua qualidade do que o próprio desempenho produtivo dos peixes, que pode ser quantificado sob condições controladas ou sob condições de produção. Parâmetros rela- cionados ao desempenho reprodutivo (número de pós-larvas ou ovos produzidos por quilo de fêmeas, percentual de pós-larvas deformadas, sobrevivência das pós-larvas até a fase de ale- vinos) e ao vigor, resistência e sobrevivência dos alevinos após o manejo e transporte, são alguns dos pontos a serem considerados por quem produz alevinos. Ganho de peso, con- versão alimentar, custo da ração por quilo de peixe produzido, deposição de gordura visceral e aparência e condição de órgãos internos (por exemplo, o fígado, que pode ser severamente impactado pela qualidade das rações) são parâ- metros a serem considerados na recria e engorda. Se houver deficiência em uma única vitamina ou mineral, ou algum desequilíbrio em aminoácidos essenciais, se a fração protéica apresentar baixa digestibilidade, ou ainda houver a presença de micotoxinas nas rações, o peixe de alguma forma sinalizará isso com uma redução no seu desempenho, fornecendo ao produtor um retrato mais fiel sobre a qualidade das rações. Uma maneira eficaz de realizar estas avaliações é dispor de unidades experimen- tais compactas. Por exemplo, tanques-rede e gaiolas de pequeno volume, berçários do tipo “hapas”, caixas d’água, aquários, entre outras estruturas. Nas Figuras 2 e 3 são ilustradas unidades experimentais usadas na avaliação da qualidade das rações em uma piscicultura. Os produtores podem avaliar e comparar, em um mesmo teste, duas ou mais rações simultaneamente. Mas é importante que cada ração seja experimentada em pelo menos 3 unidades de teste (ou seja, 3 repetições si- multâneas), sendo portanto necessários três tanques-rede ou três caixas d’água para cada uma das rações a ser avaliada. Para o teste devem ser utilizados peixes que se adaptem bem às unidades experimentais (geralmen- te alevinos e juvenis). No caso do uso de tanques-rede (ou gaiolas), estes devem ser posicionados em um mesmo ambiente, de modo a minimizar possíveis diferenças na qualidade da água que poderiam comprome- ter o resultado da avaliação. Os peixes usados no teste devem ter a mesma origem (mesma genética e lote), tamanho uniforme e devem ser estocados a uma mesma densidade nas unidades experimentais. A alimentação pode " Uma ração com 40% de proteína e que leva em sua composição 20% de farinha de sangue, recebe deste ingrediente uma contribuição de quase metade de sua proteína (16 dos 40% garantidos no rótulo)." 20 Panorama da AQÜICULTURA, março, abril, 2010 21Panorama da AQÜICULTURA, março, abril, 2010 Qualidade da Ração ser feita à vontade, ou então, de forma restrita, nas mesmas quantidades para todas as unidades em teste. Devem ser registrados os seguintes parâmetros: a) número total e peso total dos peixes em cada unidade experimental; b) quantidade total de ração fornecida ao longo do experimento; c) mortalidade diária que deve ser retirada, contada e pesada; d) biometrias a intervalos de pelo menos duas sema- nas, para avaliar o desenvolvimento parcial dos peixes e reajustar a quantidade de ração a ser fornecida. Durante a condução dos testes e ao final da experimentação devem ser calculados os seguintes parâmetros: a) a conversão alimentar; b) o ganho diário de peso = (Peso final – Peso inicial)/dias; c) o ganho em biomassa = (Biom. final – Biom. inicial); d) a deposição de gor- dura corporal (através de inspeção visual, separação mecânica do tecido adiposo e dós órgãos internos e pesagem da gordura em separado); e) uma análise do custo da ração por quilo de ganho de peso. Todas as pisciculturas comerciais Figura 2 - Bateria de tanques-redes de 1m3 para realização de testes comparativos de rações para diversas fases da criação. Estes tanques são estocados com números iguais de alevinos e cada ração a ser avaliada é alocada em pelo menos 3 tanques. Por estarem situados em um mesmo ambiente, qualquer oscilação na qualidade da água terá impacto em todos os tanques-redes de maneira similar, não interagindo com os resultados do teste Figura 3 - Uma unidade de experimentação montada com 10 caixas d’água de 1.000 litros, onde podem ser avaliados diversos tipos de rações, com repetição, sem a interferência de alimentos naturalmente presentes nos tanques de produção deveriam contar com alguma estrutura, como por exemplo a apresentada nas figuras 2 e 3, para uma avaliação contínua da qualidade das rações. Os produtores, em geral, têm dúvidas se a ração que estão usando é a melhor dentre as disponíveis no mercado. Essa dúvida seria rapi- damente dissipada com um teste diretamente com os peixes. Caso não seja viável ao pro- dutor montar essa estrutura de teste sozinho, a saída é fazer isso em grupo ou através de uma associação, elegendo uma piscicultura que reúna as melhores condições para isso (local adequado, recurso humano para conduzir os testes, equipamentos para mensuração dos resultados, entre outros recursos). De fato, cada uma das centenas de associações e co- operativas de piscicultores espalhadas pelo nosso país deveria dar mais atenção a isso e prover seus associados com informações sobre os produtos de melhor relação custo/ benefício disponíveis no mercado. A cada tonelada de peixe produzida com uma ração que custa R$ 1,00/kg, uma diferença de 0,2 na conversão alimentar (perfeitamente possível, identificando as rações de melhor qualidade no mercado), significa R$ 200,00 de economia e cerca de 180 kg a menos de aporte de matéria seca nos tanques de produção. Assim, uma piscicultura que produz 5 toneladas ao mês, ou 60 toneladas ao ano, teria ao final do ano uma economia direta de R$ 12.000,00, sem contar os benefícios indiretamente relacionados à melho- ria da qualidade da água e redução nos custos de bombeamento e de aeração, por exemplo. Que excelente contribuição isso traria ao seu bolso e ao seu empreendimento. Ao ambiente, com menor impacto sobre a qualidade da água. E à redução da fome no mundo, com a otimização do uso dos insumos que compõem a ração, e que poderiam estar servindo de alimento direto ou para produção de mais alimento (peixes e outros animais) para muita gente que hoje e no futuro passarão fome em nosso planeta. 22 Panorama da AQÜICULTURA, março, abril, 2010 Sanidade Aquícola Por:Henrique César Pereira Figueiredoe-mail: henrique@dmv.ufla.brMédico Veterinário, professor do Depto. de Medicina Veterinária Preventiva, Escola de Veterinária da UFMG Coordenador do AQUAVET Lab. de Doenças de Animais Aquáticos Glei dos Anjos de Carvalho Castro Médica Veterinária, M.Sc., doutoranda em Ciências Veterinárias, UFLA Carlos Augusto Gomes Leal Médico Veterinário, M.Sc., doutorando em Ciências Veterinárias, UFLA PATOGÊNICOS OU NÃO-PATOGÊNICOS: Como determinar o real agente causador de uma doença Perspectiva Histórica Desde o início dos tempos, seres humanos e animais se de- param com os desafios biológicos do ambiente, consequentemente com as doenças infecciosas. Relatos bíblicos já descreviam quadros condizentes com as enfermidades que conhecemos atualmente. Esses demonstram a íntima relação histórica entre seres humanos e patógenos. Com a evolução das sociedades e do conhecimento científico, tiveram início os questionamentos sobre as causas des- sas moléstias. Diversos estudos e pesquisadores contribuíram para o entendimento das enfermidades, mas, sem sombra de dúvida o divisor de águas para a compreensão das doenças infecciosas foram os resultados obtidos pelo médico e microbiologista alemão Ro- bert Koch. Ganhador do Prêmio Nobel de Fisiologia e Medicina em 1905, Koch tornou-se famoso pelo isolamento das bactérias Bacillus anthracis (causador do antrax), Mycobacterium tuber- culosis (causador da tuberculose) e Vibrio cholera (causador da cólera). Porém, o principal feito desse pesquisador foi o desen- volvimento do postulado que leva seu nome, o “Postulado de Koch”, e que consiste em: 1- O microrganismo deve estar presente nos animais doentes mas não nos saudáveis; 2- Reisolamento do patógeno em culturas puras; 3- O microrganismo reisolado deve ser inoculado em animais saudáveis com capacidade de causar doença; 4- Deve haver reisolamento do microrganismo em culturas puras a partir do animal infectado experimentalmente. O postulado é utilizado até hoje para determinação dos agen- tes etiológicos (causadores) de doenças infecciosas. Um exemplo de sua importância foi descrito na edição 114 da Panorama da Na coluna “Sanidade Aquícola” dessa edição discutiremos sobre um tema que gera muitas dúvidas e controvérsias entre profissionais e pro- dutores do setor: como associar um determinado microrganismo a uma doença e ter certeza que esse é o causador da enfermidade. Numa primeira avaliação, pode-se pensar de maneira simplista, que quando encontramos um patógeno em um determinado órgão ou lesão de um animal doen- te, esse é o responsável por tal problema. Esse tipo de associação pode ser uma verdade quando estamos lidando com microrganismos altamente especializados, que apresentam estreita relação com os hospedeiros (não sobrevivem na ausência) e não possuem muita viabilidade no ambiente. Entretanto, quando falamos de microrganismos am- plamente disseminados em ambientes aquáticos ou de agentes etiológicos que possuem variantes incapazes de causar doença (não-patogênicos) isso se torna duvidoso. Nesse caso, as inferências começam a se tornar complexas e estabelecem uma relação direta entre causa e consequência, no caso agente etiológico e doença do animal, pode não ser tão fácil. Existem ainda muitos paradigmas e conceitos errôneos sobre esse assunto. Ao longo do texto explicaremos quais são os requisitos, métodos de análise e informações que devem ser levadas em conta para determinação do agente etiológico de uma doença. 23Panorama da AQÜICULTURA, março, abril, 2010 Sanidade Aquícola AQÜICULTURA, publicada em agosto de 2009. A matéria intitulada “Aprendendo sobre uma nova doença em trutas: septicemia hemorrágica causada pela bactéria Weissella sp.” demonstrou como a equipe AQUAVET conseguiu reproduzir em laboratório uma doença que estava causando sérios pro- blemas nas truticulturas nacionais. Apesar de ótima ferramenta para determinação de agentes etiológicos, desde seu estabelecimento o postulado mostrou-se deficiente para a caracterização de alguns patóge- nos e doenças infecciosas. Isso era esperado devido à diversi- dade biológica de hospedeiros e microrganismos. O primeiro postulado tornou-se questionável com a observação de porta- dores assintomáticos (animais infectados que não adoecem) ou com infecções subclínicas (animais infectados com sinais brandos ou não perceptíveis da doença). Nessas situações os hospedeiros possuíam o microrganismo, mas não ficavam doentes. Esse comportamento é uma realidade para diversas doenças de animais aquáticos, por exemplo, quando realizamos uma avaliação bacteriológica de uma tilápia do Nilo doente e obtemos um resultado positivo para Aeromonas hydrophila. Será que essa bactéria é um patógeno ou um microrganismo da microbiota (flora) normal dos peixes ou da água? Em um dos primeiros trabalhos realizados pela equipe AQUAVET, verificamos que essa bactéria é normalmente encontrada na maioria dos ambientes de uma piscicultura, como na água de abastecimento, água dos tanques, no muco de peixes sadios etc. (Hirsch et al., 2006). Certificar que essa bactéria era a real causadora de um processo de doença somente através de seu isolamento e identificação não era confiável e seguro. Já quanto ao segundo postulado a existência de patóge- nos que não podem ser cultivados em laboratório fez com que esse se tornasse uma etapa impossível para caracterização de algumas doenças. O terceiro postulado encontrou na variabili- dade genética dos hospedeiros um empecilho. Nas populações de todos os seres vivos existem grupos de animais que são naturalmente mais ou totalmente resistentes a uma determinada doença. Por esse motivo nem sempre o patógeno é capaz de causar a enfermidade. Apesar dessas deficiências o Postulado de Koch é ampla- mente aceito na comunidade científica e tem balizado os estudos de caracterização dos patógenos há décadas. Avanços no Postulado de Koch Diante das deficiências apresentadas pelo Postulado de Koch, surgiu a sua versão molecular que tem como obje- tivo principal determinar a capacidade de um microrganismo causar uma enfermidade, em função dos mecanismos mole- culares envolvidos nesse processo. Dessa forma são anali- sados os “fatores de virulência” que a bactéria carrega, ou que seja capaz de expressar, quando infecta um hospedeiro. Esse conceito ajuda explicar porque duas amostras de uma mesma espécie de bactéria, a exemplo da Escherichia coli, podem ter capacidade de virulência diferentes e, portanto, terem importâncias distintas como agentes causadores de doenças. Esse novo postulado cria critérios experimentais e requisitos mínimos a serem satisfeitos para que se possa demonstrar que um gene encontrado em um microrganis- mo patogênico atua diretamente no processo de doença. Na prática, aplicando-se esses conceitos, podemos verificar como a presença de determinados fatores de virulência possibilitam ou aumentam a capacidade dos patógenos em causar infecção ou lesões no organismo ou, por outro lado, sua ausência limita ou reduz o potencial infectante. Desenvolvido pelo renomado pesquisador da Es- cola de Medicina da Universidade de Stanford (EUA), Dr. Stanley Falkow, o Postulado Molecular de Koch tem apresentado maior aplicabilidade para o estudo das do- enças bacterianas, e seu texto original segue as seguintes premissas: 1- O fenótipo ou propriedade (fator de virulência) sob investigação deve estar associado a membros patogêni- cos de um gênero ou amostras/variantes patogênicas de uma espécie. O(s) gene(s) deve(m) estar presente(s) em amostras patogênicas e ausente em amostras não patogênicas; 2 - A inativação do gene(s) que codifica(m) o refe- rido fator(es) virulência reduz(em) de maneira significativa a patogenicidade (capacidade de causar doença) e virulência (intensidade das lesões e alterações patológicas); 3 - A reintrodução do(s) gene(s) que codifica o(s) fator(es) de virulência no microrganismo recupera sua pato- genicidade e virulência; 4- O gene que codifica o fator de virulência deve ser expresso durante a infecção; 5 - Resposta imunológica específica do organismo do hospedeiro frente ao fator de virulência estudado deve conferir proteção à infecção pelo microrganismo. "A versão molecular do Postulado de Koch tem como objetivo principal determinar a capacidade de um microrganismo causar uma enfermidade, em função dos mecanismos moleculares envolvidos nesse processo" 24 Panorama da AQÜICULTURA, março, abril, 2010 25Panorama da AQÜICULTURA, março, abril, 2010 Na figura 1 é apresentado um diagrama esquemático que exemplifica os pontos principais do Postulado Molecular de Koch. Esse utiliza como exemplo o fator de virulência SST3 (sistema de secreção do tipo 3) em Aeromonas hydrophila. A versão molecular do Postulado de Koch permitiu um avanço significativo no estudo dos patógenos e na compreensão dos processos infecciosos. Nesse ponto enfatizamos sua aplica- ção prática para patógenos de organismos aquáticos. Para isso podemos utilizar como exemplo bactérias importantes para aqui- cultura que podem ser encontradas tanto na água do sistema de cultivo como estar associadas a quadros de infecção nos animais, como Aeromonas hydrophila (para peixes cultivados) ou Vibrio alginolyticus (para o cultivo de camarão-marinho). Como esses microrganismos podem ser patogênicos ou ambientais, somente o isolamento desses de um animal doente não garante com 100% de certeza que são os agentes etiológicos do problema. Pois, como podem estar na água do sistema de cultivo, na superfície dos animais e trato gastrointestinal existe a possibilidade de erro durante o exame bacteriológico e contaminação do material. Mas, caso tenhamos um sistema capaz de diferenciar as amos- tras ambientais das patogênicas, através da pesquisa de genes de virulência, podemos determinar com segurança se esse isolado é o real causador da doença em questão. As etapas estabelecidas pelo AQUAVET para diagnóstico da bactéria Aeromonas hydrophila foram demonstradas na revista Panorama da AQÜICULTURA, edição de junho de 2008, com o artigo “Quem tem medo de Aeromonas?”. No final do processo de identificação do microrganismo foi inserido um método de biologia molecular, a reação em cadeia da polimerase (PCR), para determinação da patogenicidade através da prospecção de genes de virulência. Essa análise aumenta a confiabilidade obtida no exame bacteriológico e reduz a possibilidade de falso diagnóstico para o patógeno. A seguir apresentaremos a conti- nuidade desse trabalho, realizado pela equipe do AQUAVET, para a diferenciação de amostras de Aeromonas hydrophila patogênicas ou não patogênicas para peixes. Padronização da Detecção de Genes de Virulência em Aeromonas hydrophila Desde o início de suas atividades em 2002, o laboratório AQUAVET vem realizando estudos científicos para deter- minar a importância e para elucidar os processos envolvidos nas infecções causadas por Aeromonas móveis em peixes. Inicialmente, os trabalhos do laboratório foram voltados para a prospecção dessas bactérias no campo, obtidas de amostras de diferentes origens (água do sistema de cultivo, água de abastecimento e muco de superfície) e fazendas, bem como, isolados de casos clínicos de peixes doentes recebidos de todo o Brasil. Esses trabalhos resultaram em um banco de bactérias do gênero Aeromonas com total aproximado de 420 isolados de diferentes fontes e origens geográficas. Essas amostras foram inicialmente identificadas em nível de espécie por métodos fenotípicos. Visto que esses não apresentam a capacidade de distinguir com segurança as espécies de Aeromonas foi necessária a realização de técni- cas moleculares para a confirmação dos resultados obtidos anteriormente. Devido a importância da bactéria Aeromonas Figura 1. Representação esquemática do Postulado Molecular de Koch demonstrando uma bactéria patogênica possuidora de um fator de virulência, no caso o Sistema de secreção do tipo III (SST3), infectando o peixe e causando doença Sanidade Aquícola Doença Cíclica de Alta Patogenicidade Inativação dos Genes de Virulência Redução Significativa na Patogenicidade Genes de virulência Reconstituição da Alta Patogenicidade Bactéria com Fator de Virulência SST3 26 Panorama da AQÜICULTURA, março, abril, 2010 27Panorama da AQÜICULTURA, março, abril, 2010 DESENVOLVIMENTO DA METODOLOGIA PARA DETECÇÃO DE GENES DE VIRULÊNCIA PARA Aeromonas hydrophila PROSPECÇÃO DE AMOSTRAS Água de Abastecimento Água do Tanque Peixes Doentes Amostras SST3 Positivas Amostras SST3 Negativas12 Fazendas 3 Estados Identificação Molecular (PCR-RFLP) 420 isolados Aeromonas spp. Detecção dos Genes de Virulência nos Isolados SST3 Positivas: •Doença Hiperaguda •Sinais Clínicos Proeminentes •Alta Mortalidade SST3 Negativas: •Doença de Evolução Lenta •Sinais Clínicos Brandos •Mortalidades Moderada Infecção Experimental 104 Aeromonas hydrophila (64 Casos Clínicos e 40 Ambiente) Padronização PCR para Genes de Virulência SST3 PCR 2 Genes Sanidade Aquícola hydrophila como patógeno de peixes, e sua ampla disseminação em ambientes aquáticos e o fato de ser um problema de saúde pública, os trabalhos do AQUAVET passaram a ser focados somente nessa espécie. Diversas amostras avirulentas dessa bac- téria têm sido isoladas em estudos prévios descritos na literatura, assim como amostras virulentas que possuem fatores singulares capazes de potencializar sua patogenicidade. Por esse motivo era importante a padronização de uma metodologia que conseguisse discriminar os isolados patogênicos e não-patogênicos. Do banco de Aeromonas spp., 104 isolados foram classifi- cados como Aeromonas hydrophila, sendo esses proveniente de 12 fazendas localizadas em três estados brasileiros (MG, RS e SP). Dessas, 64 amostras foram isoladas de peixes doentes, com sintomatologia clínica de septicemia por Aeromonas móveis, de cinco espécies: tilápia do Nilo (Oreochromis niloticus), pacu (Piaractus mesopotamicus), jundiá (Rhamdia quelen), piracan- juba (Brycon orbignyanus) e betta (Betta splendens). As demais amostras foram provenientes de água de abastecimento (28) e água do tanque (12), a partir de fazendas que não apresentavam quadro clínico de qualquer doença. Nesse ponto da pesquisa nos deparamos com a questão citada anteriormente no texto: Como podemos identificar e distinguir as amostras responsáveis por causar doença das amostras ambientais? A estratégia definida foi a detecção de genes do fator de virulência chamado sistema de secreção do tipo III (SST3). Para a identificação do SST3 em A. hydrophila foram desenvolvidas no AQUAVET reações de PCR específicas para detecção de dois genes, ascV e aopB, que codificam proteínas essenciais para a estrutura e funcionamento dos SST3, respectivamente. Durante a padronização da técnica foram realizadas centenas de reações e todos os resultados foram confirmados através do sequenciamento dos produtos da PCR e análise de bioinformática. O intuito desses procedimentos era verificar se a técnica estava reconhecendo e amplificando os genes corretos, o que foi confirmado. Após a padronização da técnica, todas as 104 amostras foram submetidas aos testes para os dois genes visando deter- minar presença ou ausência do SST3. 53 amostras (50,9%) apresentaram resultado positivo para esse fator de virulência, sendo 40 isoladas de casos clínicos e 13 de ambiente. Esse fator de virulência estudado era significativamente mais frequente em amostras de peixes doentes (62,5%) que em amostras ambien- tais (32,5%). Nossos resultados indicaram que o SST3 estava relacionado à capacidade da Aeromonas hydrophila de causar doença na tilápia, podendo ser usado como uma ferramenta para distinguir as amostras patogênicas das não patogênicas. Para confirmar que havia uma variação na patogenicida- de e virulência das amostras relacionada à presença ou ausência doSST3, ensaios de infecção experimental foram conduzidos com os diferentes padrões obtidos para esse fator de virulência na técnica de PCR. Para a realização desses foram utilizados 160 peixes subdivididos em 20 grupos com oito animais cada. Desses, nove foram inoculados com uma dose de 106 UFC/mL (unidade formadora de colônias por mL) de bactérias positivas para o SST3, e nove inoculados com a mesma dose de bactérias negativas para o SST3. Os outros dois grupos foram utilizados como controles negativos, sendo inoculados com tampão fosfato salino (solução isotônica que não causa lesão no peixe). Na figura 2 é apresentado um diagrama esquemático com todos os passos experimentais para determinar a importância da detecção do SST3 em Aeromonas hydrophila. Figura 2. Representação esquemática demonstrando todas as etapas realizadas para o desenvolvimento de uma metodologia para detecção de genes de virulência em A. hydrophila 28 Panorama da AQÜICULTURA, março, abril, 2010 Nos ensaios experimentais as amostras positivas causaram doença rapidamente, com sinais clínicos evidentes em até 4 h pós-infecção, seguidos de mortalidade abrupta em que a maioria dos peixes morria no período de 8 h (p.i). Nos animais infectados com essas amos- tras os principais sinais clínicos observados foram hemorragia em toda a extensão corporal sendo mais exacerbadas na boca e base das nadadeiras. Também foi possível observar ascite (acúmulo de líquido na barriga do peixe), natação errática e exoftalmia. Ao contrário disso, os peixes infectados com bactérias negativas para os genes do SST3 não apresentaram sinais clínicos característicos de doença. Foi observado nesses peixes apenas anorexia, escureci- mento de pele e letargia, e quando ocorria mortalidade essa se iniciava 24 h pós-infecção. Na tabela estão compilados os dados das amostras utilizadas na infecção experimental e principais sinais clínicos observados nos peixes doentes, e na figura 3 pode se observar as diferenças de sintomas causadas por amostras positivas e negativas para o SST3. É muito importante ressaltar que dentro dos grupos infectados com amostras positivas para SST3 a mortalidade chegou até a 87,5%, e mesmo as amostras isoladas de ambiente foram capazes de causar doença e morte. Dos nove grupos infectados com amostras nega- tivas para o SST3 a taxa de mortalidade foi baixa, variando de 12,5% a 37,5%, sendo que Tabela. Amostras da bactérias A. hydrophila utilizadas para verificação de virulência nas infecções experimentais Figura 3. Fotos de infecção experimental mostrando a diferença de resultados obtidos entre amostras com e sem SST3. (A) Peixe infectado com amostra negativa SST3 mostrando apenas escurecimento de pele. (B) Peixe infectado com amostra positiva para o SST3 apresentando ascite (área dentro do círculo branco). (C) Peixe infectado com amostra positiva para o SST3 apresentando hemorragia pelo corpo, sendo mais evidente nas bases das nadadeiras (setas brancas) CA B 29Panorama da AQÜICULTURA, março, abril, 2010 Sanidade Aquícola Figura 4. Gráfico ilustrativo das taxas de mortalidades em tilápia do Nilo, obtidas após infecção experimental com os diferentes isolados de Aeromonas hydrophila. Os cilindros em vermelho indicam amostras positivas para os genes do SST3 enquanto que os brancos são de amostras negativas. Pode se observar nessa figura que todas as amostras portadoras dos genes de virulência causaram taxas de mortalidade que variaram entre 12,5% e 87,5%, enquanto que mais da metade das amostras sem os genes não causaram mortalidade. Quando a morte ocorreu nos grupos desafiados com amostras negativas para o SST3, a taxa não ultrapassou 37,5% 0,0 90,0 80,0 70,0 60,0 50,0 40,0 30,0 20,0 10,0 AE 4 13 -0 4 AE 0 67 -0 2 AE 1 10 -0 2 AE 1 11 -0 2 AE 1 52 -0 2 AE 2 88 -0 3 AE 3 44 -0 3 AE 4 03 -0 4 AE 4 06 -0 4 AE 0 80 -0 2 AE 1 90 -0 2 AE 2 20 -0 2 AE 2 21 -0 2 AE 2 25 -0 2 AE 2 66 -0 3 AE 3 33 -0 3 AE 4 10 -0 4 Amostras positivas Amostras negativas Taxa de Mortalidade Referências Bibliográficas: Carvalho-Castro, G.A. ; Lopes, C.O.; Leal, C.A.G.; Cardoso, P.G.; Leite, R.C.; Figueiredo, H.C.P.. Detection of type III secretion system genes in Aeromonas hydrophila and their relationship with virulence in Nile tilapia. Veterinary Microbiology (2010), doi:10.1016/j. vetmic.2010.01.021. Hirsch, D.; Pereira Júnior, D.; Logato, P. V. R.; Piccoli, R. H.; Figueiredo, H. C. P.. Identificação e resistência a antimicrobianos de espécies de Aeromonas móveis isoladas de peixes e ambientes aquáticos. Ciência & Agrotecnologia v.30, n.6, 2006. o grupo que apresentou a taxa mais alta foi inoculado com uma amostra isolada de peixe doente. Esse resultado sugere que outros fatores de virulência, além do SST3, podem estar presentes nessas amostras. Fica claro então que, para o diagnóstico de enfermida- des bacterianas que ocorrem em nossas pisciculturas, precisamos de um melhoramento contínuo das técnicas laboratoriais e da capacidade de diferenciar bac- térias patogênicas das não pato- gênicas. Isso tem forte impacto nos procedimentos a serem adotados tanto na prevenção de surtos (como a recomendação de uso de vacinas), quanto para o controle desses surtos (como o uso de antibióticos). *** Os trabalhos do AQUAVET são financiados pela FAPEMIG, CNPq e Furnas Centrais Elétricas S.A. 30 Panorama da AQÜICULTURA, março, abril, 2010 UTILIZAÇÃO DE PROBIÓTICOS Por: José Luiz Pedreira Mouriño Adolfo Jatobá Bruno Correa da Silva Felipe do Nascimento Vieira e-mail: mourino@lcm.ufsc.br Laboratório de Camarões Marinhos, Departamento de Aquicultura, Universidade Federal de Santa Catarina-UFSC NA AQUICULTURA Como é desenvolvido o probiótico? No nosso vasto planeta a maioria das pessoas não per- cebe que os microrganismos (bactérias, vírus e fungos) são os maiores habitantes da terra em número, biomassa e diversidade genética. Nesta imensidão de microrganismos, o isolamento de um microrganismo específico com características benéfi- cas para ser utilizado como probiótico é um trabalho árduo e que demanda tempo. Este trabalho deve seguir uma série de procedimentos, que vão desde o isolamento do microrganismo até testes em escala comercial de cultivo que comprovem sua eficácia (Figura 1). Dentre os microrganismos probióticos as bactérias têm destaque. O isolamento de bactérias do trato intestinal do animal de interesse é o primeiro passo para se obter sucesso no desenvolvimento de um probiótico (BALCAZAR et al., 2006). Esta etapa normalmente está associada ao isolamento de dezenas ou até centenas de cepas de bactérias com potencial probiótico. Entretanto, com esse elevado número de bactérias torna-se inviável avaliar os seus efeitos diretamente nos ani- mais de cultivo, pois nada se conhece sobre as cepas isoladas. Sendo assim, há necessidade de se realizar diversos testes de seleção em laboratório (in vitro) - inibição de patógenos; produção de enzimas digestivas; tolerância a sais biliares e variações de pH e salinidade; produção de substâncias antimi- crobianas; velocidade de crescimento e, capacidade de adesão do epitélio intestinal - para a seleção de apenas algumas cepas para os ensaios com os animais de interesse (in vivo) (VINE et al., 2004). Entre os testes in vitro, os ensaios de inibição de bacté- rias patogênicas são os mais utilizados. Neste teste, é possível avaliar a capacidade da bactéria potencialmente probiótica de inibir diferentes patógenos que podem causar danos aos animais cultivados e, neste caso, o mais indicado é avaliar o probiótico frente às bactérias patogênicas dos próprios organismos aquá- ticos a serem tratados. Isto é, se está sendo desenvolvido ou avaliado um probiótico para tainha, os testes in vitro devem ser realizados, preferencialmente, com patógenos isolados da própria tainha, e não de outras espécies de peixes ou mesmo camarões.
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