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Kubitza Panorama Aquicultura

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Uma Coleção de Artigos Uma Coleção de Artigos 
sobre Tilápia II sobre Tilápia II 
Publicado no Panorama Publicado no Panorama 
da Aquiculturada Aquicultura 
 
19981998--20052005 
Por Dr. Fernando Por Dr. Fernando 
KubitzaKubitza 
Indice 
 
Qualidade da água na produção de peixes – Parte I - 1998 .................................................... 4 
Qualidade da água na produção de peixes – Parte II - 1998 ..................................................11 
Tilápia em água salobra e salgada ........................................................................................20 
Monitoramento a saúde dos peixes ......................................................................................25 
Antecipando às doenças na tilapicultura ...............................................................................33 
Desafios para a consolidação da tilapicultura no Brasil ...........................................................41 
 
 
 
 
 
Estes artigos foram selecionados de artigos referenciados publicados no Panorama da 
Aquicultura 1998-2005. Distribuído com permissão do Panorama da Aquicultura Ltda. pelo 
Southern Ocean Educational and Development Project, CIDA/ Univ. of Victoria, Canada 
Agosto 2009 
Panorama da AQÜICULTURA, Janeiro/fevereiro, 1998
Panorama da AQÜICULTURA, Janeiro/fevereiro, 1998
36
QUALIDADE DA ÁGUA 
NA PRODUÇÃO DE PEIXES - PARTE I
Por Fernando Kubitza, 
especialista em Nutrição e Produção de Peixes, 
mestre em Engenharia Agrônoma pela ESALQ - USP e 
Ph.D pela Auburn University - Alabama, USA. 
Hoje ocupa o cargo de Coordenados do
Departamento de Pesquisa e Desenvolvimento do Projeto Pacu. A 
1. Introdução: 
Condições inadequadas de 
qualidade da água resultam 
em prejuízo ao crescimento, à 
reprodução, à saúde, à sobrevi-
vência e à qualidade dos peixes, 
comprometendo o sucesso dos 
sistemas aquaculturais. Inúme-
ros são as variáveis e processos 
envolvidos com a qualidade da 
água. Sem a pretensão de abor-
dar todos eles de forma exausti-
va, este material didático se li-
mitará à discussão das variáveis 
e processos físicos, químicos e 
biológicos mais relevantes ao 
manejo econômico da qualidade 
da água em ecossistemas aqua-
culturais. 
2. Aspectos Fisiológicos dos Peixes Importantes à Produção 
2.1.Pecilotermia. Enquanto os mamíferos e aves são animais 
homeotérmicos, ou seja, conseguem manter a temperatura cor-
poral constante, os peixes não possuem tal capacidade, sendo 
conhecidos como animais pecilotérmicos ou de sangue frio. Na 
realidade, a temperatura corporal dos peixes varia de acordo com 
as oscilações na temperatura da água. Do ponto de vista energéti-
co, a pecilotermia confere uma vantagem aos peixes comparados 
aos animais homeotérmicos que gastam boa parte da energia dos 
alimentos para a manutenção da temperatura corporal. Esta ener-
gia, nos peixes, é utilizada para crescimento (ganho de peso), daí 
o motivo da maioria dos peixes apresentarem melhor eficiência 
alimentar que os mamíferos e aves. Dentro da faixa de conforto 
térmico para uma espécie de peixe, quanto maior a temperatura da 
água, maior será a atividade metabólica, o consumo de alimento 
e, conseqüentemente, o crescimento. Durante os meses de outono 
e inverno os peixes tropicais diminuem o consumo de alimento 
e podem até deixar de se alimentar em dias muito frios, o que 
resulta em reduzido crescimento.
2.2 Respiração. Com o auxílio das brânquias (ou guelras), os 
peixes realizam as trocas gasosas por difusão direta entre o sangue 
e a água. Quanto maior a concentração de oxigênio e menor a de 
gás carbônico na água, mais facilmente se processa a respiração 
dos peixes. O gás carbônico interferecom a absorção de oxigênio 
pelos peixes. Quanto mais alta a temperatura da água, maior o 
consumo de oxigênio pelos peixes. Peixes alimentados também 
consomem mais oxigênio do que peixes em jejum. Partículas 
de silte e argila, bem como a presença de parasitos e patógenos 
sobre as brânqueas prejudicam a respiraçào e podem causar 
asfixia nos peixes.
2.3 Excreção fecal. Parte do alimento ingerido não é digerido e/
ou absorvido pelos peixes e vai ser excretado como fezes dentro 
do próprio ambiente de cultivo. Estas fezes se decompõem por 
ação biológica, consumindo oxigênio e liberando nutrientes na 
água. Quanto melhor a digestibilidade do alimento, menor será 
a quantidade de resíduos fecais excretada. 
2.4 Excreção nitrogenada. O ambiente aquático faz da excreção 
nitrogenada dos peixes um processo simples e de baixa demanda 
energética. A amônia é o principal resíduo nitrogenado excretado 
pelos peixes. A excreção da amônia ocorre via brânquias, por difu-
são direta para a água. Em mamíferos e aves há um considerável 
gasto de energia na transformação da amônia em uréia e ácido 
úrico, principais resíduos nitrogenados excretados por estes ani-
mais, respectivamente. A amônia surge como o principal resíduo 
Panorama da AQÜICULTURA, Janeiro/fevereiro, 1998
37
do metabolismo protéico dos peixes. Desta forma, alimentos com 
excessivo teor protéico e/ou com desbalanço na sua composição 
em aminoácidos (unidades formadoras das proteínas) aumentam 
a excreção de amônia pelos peixes. A amônia é tóxica aos peixes 
e medidas para evitar o acúmulo excessivo de amônia na água 
devem ser tomadas durante o cultivo. 
3. O Uso da Água nos Sistemas Aquaculturais 
Quanto a intensidade de utilização ou renovação de água, os 
sistemas de produção intensiva de peixes podem ser classificados 
como: sistemas de água parada; sistemas com renovação de água; 
sistemas de recirculação de água. 
3.1 Sistemas de água parada ou estáticos Os sistemas de água 
parada se caracterizam pela somente reposição das perdas devido à 
infiltração e à evaporação da água dos tanques e viveiros, os quais 
podem ser utilizados em dois ou mais ciclos de cultivo sem serem 
esvaziados. Este sistema é bastante usado onde o suprimento de 
água é limitado ou em situações em que o abastecimento dos tan-
ques depende de bombeamento, o que pode onerar demasiadamente 
os custos de produção. A capacidade de produção dos sistemas de 
água parada gira ao redor de 4.000 a 12.000 kg de peixes/há, em 
função da espécie cultivada e da estratégia de produção adotada. 
3.2 Sistemas com renovação de água Onde há adequada dispo-
nibilidade de água e o abastecimento pode ser feito por gravidade, 
muitos produtores optam pela utilização de sistemas com renova-
ção de água. Nestes sistemas pode haver entrada e saída contínua 
de água (sistema contínuo) ou a renovação periódica de um certo 
volume de água dos tanques e viveiros (sistema intermitente). A 
renovação de água permite uma diluição na concentração de resí-
duos orgânicos e metabólicos, evitando uma excessiva eutrofização 
dos tanques e viveiros. De 10.000 a 30.000 kg de peixe/há de 
viveiro pode ser produzido, em função da espécie e da estratégia 
de produção adotada. Sistemas de alto fluxo. Salmonídeos (como 
exemplos a truta arco-íris, o salmão do Atlântico, o salmão Coho 
e o salmão rosa) são bastante exigentes em relação à qualidade da 
água. O mais tradicional dos sistemas de cultivo de salmonídeos 
utiliza tanques supridos com grande fluxo de água (os chamados 
“raceways”). Tilápias, carpas e bagre-do-canal, entre outras espé-
cies, também são bastante cultivados em sistemas de alto fluxo. 
Cerca de 30 a 150kg de peixe/m 3 de volume de raceways podem 
ser produzidos, em função do fluxo de água e uso de aeração 
contínua. Considerando-se uma profundidade de 1m, cerca de 
300 a 1.500 toneladas de peixe podem ser produzidos por hectare 
de raceway. 
3.3 Sistemas de recirculação de água Os sistemas de recirculação 
de água são adequados quando o objetivo é produzir um grande 
volume de peixes sob limitações quanto ao uso ou disponibilidade 
da água e área. Como o sistema é praticamente fechado, embora 
periodicamente possa haver uma troca parcial ou mesmo total 
da água do sistema, é inevitável o acúmulo de resíduos orgâni-
cos e metabólicos.Unidades de filtração mecânica e biológica 
e aeradores são instalados em série para remover os sólidos da 
água, promover a transformação microbiológica da amônia e 
do nitrito (substâncias tóxicas aos peixes) em nitratos, e repor o 
Panorama da AQÜICULTURA, Janeiro/fevereiro, 1998
38
oxigênio consumido e eliminar o excesso 
de gás carbônico acumulado na água do 
sistema. A capacidade de produção destes 
sistemas gira ao redor de 20 a 70 kg/m 3 
, em função da espécie, da capacidade de 
renovação de água e do nível tecnológi-
co adotado pelo produtor. Sistemas de 
recirculação de água também são usados 
para garantir a sobrevivência de espécies 
de peixes tropicais em regiões onde o 
inverno é rigoroso. Neste caso, faz-se uso 
de um sistema fechado de recirculação de 
água em estufas plásticas aproveitando a 
energia solar para aquecimento. Aquecimento elétrico e o uso de 
fontes geotérmicas de água, quando existentes, são alternativas para 
assegurar uma adequada temperatura na água durante o inverno. A 
função principal da recirculação de água, neste caso, é minimizar 
as perdas de calor do sistema, mantendo a temperatura em níveis 
satisfatórios com menor gasto de energia. As discussões que se 
seguem enfocarão, basicamente, o manejo da qualidade da água 
em tanques e viveiros em sistemas de água parada ou sistemas de 
renovação intermitente de água. Alguns aspectos relacionados aos 
sistemas de alto fluxo serão discutidos oportunamente. 
4. Fontes de Água para Piscicultura 
O adequado suprimento de água de boa qualidade é fun-
damental para o sucesso de explorações aquaculturais. A seguir é 
apresentada uma discussão sobre a qualidade e limitações quanto 
ao uso das diversas fontes de água utilizadas em aqüicultura. 
4.1. Águas superficiais 
Rio, lagos naturais, açudes e córregos são exemplos de fontes 
superficiais de água usadas em piscicultura. Tais águas geralmente 
apresentam concentrações de oxigênio e gás carbônico próximas à sa-
turação, sendo adeuqdas à vida dos peixes, excetuando-se os casos em 
que haja contaminação com resíduos agrícolas (pesticidas, herbicidas, 
e argila e silte em suspensão devido aos processos erosivos), indus-
triais e urbanos (domésticos e hospitalares). A composição química 
de algumas fontes de águas superficiais são apresentadas na tabela 
1. A temperatura das águas superficiais flutua de acordo com a hora 
do dia e época do ano, podendo restringir o cultivo de alguns peixes. 
Águas superficiais também podem trazer peixes e outros organismos 
indesejáveis ao ambiente de cultivo, sendo necessária a proteção das 
linhas de abastecimento com filtros e telas. 
4.2. Águas subterrâneas 
As águas provenientes de minas e poços (originária de lençóis 
freáticos) têm sido usadas no abastecimento de sistemas aquacultu-
rais.Água subterrâneas. Geralmente estas águas apresentam baixa 
concentração de oxigênio dissolvido e altos níveis de gás carbônico, 
necessitando de aeração ou exposição ao ar através de represamento 
ou percorrendo canais abertos antes de abastecer os sistemas de 
criação. Águas subterrâneas apresentam temperatura praticamente 
constante durante o ano. Águas de poços e minas podem conter ele-
vados teores de íons reduzidos de ferro que rapidamente se oxidam 
quando em contato com o ar, formando precipitados de hidróxido 
de ferro. Tais precipitados são prejudiciais em encubatórios, pois 
podem recobrir a superfície dos ovos e impedir as trocas de gases 
e metabólitos, causando a morte do embrião em desenvolvimento. 
Uma aeração vigorosa, seguida por um período de decantação, auxi-
liam na precipitação do hidróxido de ferro, melhorando a qualidade 
destas águas para uso em incubatórios. 
5. Indicadores de Qualidade da Fonte de Água 
5.1 Presença de vida 
A exigência de peixes e outras formas de vida é um forte 
indicativo da qualidade de uma fonte de água para piscicultura. 
Técnicos e piscicultores devem desconfiar da qualidade de águas 
superficiais desprovidas de organismos vivos. Os fatores limitantes 
devem ser identificados e corrigidos com práticas economicamente 
viáveis para adequação desta água à piscicultura. 
5.2 Temperatura 
A exigência em temperatura depende da espécie de peixe e 
fase de desenvolvimento em que este se encontra (ovo, larva, pós-
larva ou juvenil). As espécies tropicais normalmente apresentam 
ótimo crescimento a temperaturas de 28 a 32 0 C. Temperaturas 
mínimas e máximas da água devem ser conhecidas de modo a de-
terminar a viabilidade do cultivo de uma espécie em particular. 
5.3 Concentração hidrogeniônica da água (pH) 
O pH é definido como o logarítimo negativo da concentração (em 
mols/L) dos íons H + na água. Os valores de pH da água indicam 
se esta possui reação ácida ou básica.
H 2O + H2O = H 3O
+ + OH - ou H2O = H 
+ + OH - 
PH = - log [H +] 
Panorama da AQÜICULTURA, Janeiro/fevereiro, 1998
39
A escala de pH compreende valores de 0 a 14. Como regra 
geral, valores de pH de 6,5 a 9,0 são mais adequados à produção 
de peixes. Valores abaixo ou acima desta faixa podem prejudicar 
o crescimento e a reprodução e, em condições extremas, causar a 
morte dos peixes. Os valores de pH podem variar durante o dia em 
função da atividade fotossintética e respiratória das comunidades 
aquáticas, diminuindo em função do aumento na concentração de 
gás carbônico (CO2) na água. No entanto, o CO2 , mesmo em altas 
concentrações, não é capaz de abaixar o pH da água para valores 
menores que 4,5. Condições de pH abaixo de 4,5 resultam da 
presença de ácidos minerais como os ácidos sulfúrico (H 2 SO4), 
clorídrico (HCl) e nítrico (HNO3).
Método de determinação : o pH pode ser medido usndo-
se papéis indicadores de pH ou kits colorimétricos com uso de 
indicadores em gotas ou, de forma mais precisa, com aparelhos 
eletrônicos de maior precisão ( “pH meters”). 
5.4 Alcalinidade total Este parâmetro se refere à concentração 
total de bases tituláveis da água. Embora a amônia, os fosfatos, 
os silicatos e a hidroxila (OH -) se comportem como bases con-
tribuindo para a alcalinidade total, os íons bicarbonatos (HCO3 -) 
e carbonatos (CO3=) são os mais abundantes e responsáveis por 
praticamente toda a alcalinidade nas águas dos sistemas aquacul-
turais. A alcalinidade total é expressa em equivalentes de CaCO3 
(mg de CaCO3 / L). O ácido carbônico (H2CO3) é um produto da 
reação ácida do CO2 na água. A ionização do ácido carbônico é 
o processo desencadeador da formação do íon bicarbonato, como 
ilustrado a seguir: 
CO2 + H2O = H2CO3 
H2CO3 = H + + HCO3
- 
O íon bicarbonato age como base formando CO2 e H 
2O, ou como ácido, dissociando-se para formar o íon carbonato, 
como se segue: 
HCO3 - = CO2 + H2O ; reação como base
HCO3- = H + + CO3= ; reação como ácido 
O íon carbonato (CO3 
= ) reage como uma base, dissocian-
do-se para produzir hidroxila e íon bicarbonato: 
CO3 = + H2O = HCO3
- + OH - 
Menos de 1% de todo o CO2 dissolvido na água forma 
ácido carbônico. No entanto, águas naturais contém muito mais 
íons bicarbonatos do que seria possível apenas com a ionização 
do ácido carbônico presente no sistema. Isto se explica pela direta 
reação do CO2 com rochas e solo, formando íons bicarbonato:
Calcita CaCO3 + CO2 + H2O = Ca
2+ + 2HCO3
- 
Dolomita CaMg(CO3) 2 + 2CO2 + 2H2O = Ca
2+ + Mg 2+ + 
4HCO3-
Íons bicarbonato também são formados num processo de 
troca iônica de íons Ca2+ por íons H + no lodo (substrato) dos 
viveiros, na presença de CO2 
Panorama da AQÜICULTURA, Janeiro/fevereiro, 1998
40
CO2 + H2O = H
+ + HCO3- 
Lodo-Ca2+ + H+ = Lodo-H + + Ca2+ 
 Lodo-Ca2+ + CO2 + H2O = Lodo-H 
+ + Ca2+ + HCO3- 
A alcalinidade total está diretamente ligada à capacidade 
da água em manter seu equilíbrio àcido-básico (poder tampão da 
água). Águas com alcalinidade total inferior à mg CACO3/L apre-
sentam reduzido poder tampão e podem apresentar significativas 
flutuações diárias nos valores de pH em função dos processos 
fotossintético e respiratório nos sistemas aquaculturais.
Método de determinaçãoA alcalinidade total é determinada 
através de um processo titulométrico, em laboratório ou no campo. 
Tal princípio de análise é utilizado em kits de análise de água e 
segue descrito a seguir: 
1) coletar uma amostra de 100mL da água a ser analisada; 
2) adicionar 4 gotas de um indicador a base de fenolftaleína; se a 
água ficou incolor (pH<8,3), prossiga com o ítem 3; se a água ficou 
rosa (pH>8,3) prossiga com o passo 4. 
3) Adicionar 4 gotas do indiciador alaranjado de metila (methyl 
orange) e titular a amostra com a solução de ácido clorídrico (HCl) 
0,0163N até a água mudar de coloração do amarelo para o laranja (pH 
= 4,3). Multiplicar o volume de ácido utilizado por 10,1 para obter 
a alcalinidade total da água (em mg CaCO3/L), neste caso devida 
exclusivamente à presença de íonss bicarbonatos. 
4) Titular a amostra com uma solução de HCl 0,0163N até a coloração 
da água mudar de rosa para incolor (pH = 8,3). Anotar o volume (P) 
de ácido utilizado. Prossiga com o passo 5
5) Adicione a mesma amostra 3 gotas do indicador alaranjado de metila 
e titule com HCl 0,0163N até a mudança de cor do amarelo para o 
laranja (pH = 4,3). Anotar o volume (B) de ácido utilizado. 
6) Fazer os seguintes cálculos: 
a) se B = 0, então P x 22,5 é o valor da alcalinidade total (em 
mg CaCO3/L), neste caso devido, exclusivamente, a presença de íons 
hidroxila (OH -). 
b) se B - P = 0, então P x 10 é o valor da alcalinidade total (em 
mg CaCO3/L), neste caso devido, exclusivamente, a presença de íons 
carbonato (CO3 =). 
c) se B - P = C, então P x 10 é o valor da alcalinidade (em mg 
CaCO3/L) devido à presença de íons carbonato (CO3 =) e C x 10,1 é o 
valor da alcalinidade (em mg CaCO3/L), neste caso devido à presença 
de íons bicarbonato (HCO3-). A soma destes dois resultados indica o 
valor da alcalinidade total da água. 
5.5. Dureza total: a dureza total representa a concentração de íons 
metálicos, principalmente os íons de cálcio (Ca2+) e magnésio (Mg 2+) 
presentes na água. 
A dureza total da água é expressa em equivalentes de CaCO3 ( 
mg CaCO3/L). Em águas naturais, os valores de dureza total geralmente 
se equiparam a alcalinidade total, ou seja, Ca2+ e Mg 2+ praticamente se 
encontram associados aos íons bicarbonatos e carbonatos. No entanto, 
exixtem águas de alta alcalinidade e baixa dureza, nas quais parte dos 
íons bicarbonatos e carbonatos estão associados aos íons Na+ e K+ ao 
invés de Ca2+ e Mg 2+ . Em águas onde a dureza supera a alcalinidade, 
Panorama da AQÜICULTURA, Janeiro/fevereiro, 1998
41
parte dos íons Ca2+ e Mg 2+ se encontram associados à sulfatos, nitratos, 
cloretos e silicatos. 
Método de determinação: a dureza total da água é determinada 
através de método titulométrico, mesmo princípio utilizado pelos kits 
de análise de água, como descrito a seguir: 1) coletar 50 mL de amostra 
de água e transferir para um Erlenmeyer. Adicionar 1 mL de solução 
tampão e misturar. A solução tampão é preparada misturando-se 67,5 
ml de cloreto de amônia e 570 mL de hidróxido de amônia em balão 
volumétrico, completando o volume da solução para 1L com água 
destilada. 2) Adicionar 4 gotas do indicador Eriocromo negro ‘T’ e 
titular com solução de EDTA sódico ( solução contendo 4g do sal 
etilenodiamino tetracético dissódico e 0,1g de cloreto de magnésio 
hexahidratado e diluída a 1L com água destilada). A mudança de cor do 
vermelho-vinho para azul puro indica o final da titulação. Multiplicar 
por 20 o volume de EDTA usado para obter o valor da dureza total da 
água, expressa em mg de CaCO3/L. 
5.6. Gás carbônico (CO2): comparativamente ao nitrogênio e argônio, o 
CO2 está presente em baixa proporção na atmosfera (tabela 3). Portanto, 
mesmo sendo altamente solúvel, as concentrações de CO2 na água são 
bastante baixas. A água pura saturada com CO2 a 250 C (760 mmHg) 
tem uma concentração de CO2 de 0.46 mg/L. A respiração das algas, 
das macrófitas, dos peixes e do zooplâncton, bem como os processos 
microbiológicos de decomposição da matéria orgânica são as fontes 
importantes de CO2 nos sistemas aquaculturais. 
Ao longo do cultivo, a respiração pode exceder a atividade fo-
tossintética ( importante mecanismo de remoção do CO2), aumentando 
consideravelmente a concentração de CO2 no sistema, a qual pode 
ultrapassar facilmente os valores de 25 mg/L. Método de determinação: 
a concentração de gás carbônico na água pode ser determinada por 
um processo titulométrico, em laboratório ou no campo. Este mesmo 
princípio de análise é utilizado nos kits práticos de análise de água. Tal 
processo é descrito a seguir: 
1) coletar duas amostras de água de 20mL e adicionar 3 gotas 
de indicador base de alaranjado de metila (methyl orange) a uma delas 
e 3 gotas de indicador a base de fenolftaleína a outra. Se a CO2 amostra 
(alaranjado de metila) ficou amarela e a segunda (fenolftaleína) incolor, 
então há CO2 livre na água. 
2) pipetar 200mL da mesma amostra e colocar em um Erlen-
meyer. Adicionar 10 gotas de indicador a base de fenolftaleína. 
3) titular a mostra com carbonato de sódio 0,0454N até obter 
uma coloração rosa claro ou pH de 8,3 na amostra. A concentração de 
CO2 em mg/L, é calculada multiplicando por 5 o número de mL de 
carbonato de sódio utilizado na titulação. 
5.7. Amônia e nitrito: a amônia (NH3) é um metabólito proveniente 
da excreção nitrogenada dos peixes e outros organismos aquáticos e da 
decomposição microbiana de resíduos orgânicos ( restos de alimento, 
fezes e adubos orgânicos). A aplicação de fertilizantes nitrogenados 
amoniacais (sulfato de amônia, nitrato de amônia e os fosfatos mono-
amônicos e diamônicos - MAP e DAP) e uréia também contribui para 
o aumento da concentração de amônia na água.
O nitrito (NO2
 -) é um metabólito intermediário do processo de nitrifi-
cação, durante o qual a amônia é oxidada a nitrato ( NO3
 -) através de 
ação de bactérias do gênero Nitrosomonas e Nitrobacter.
Condições de baixo oxigênio dissolvido prejudicam o desem-
penho da bactéria do gênero Nitrobacter, favorecendo o acúmulo de 
nitrito na água. 
Métodos de determinação: a concentração de amônia e nitrito na 
água pode ser determinada através de métodos colorimétricos, como os 
utilizados pelos kits de análises de água. Determinações sem o auxílio 
destes kits exigem equipamentos de alto custo, como os espectrofôme-
tros, disponíveis apenas em laboratórios mais sofisticados. 
5.8. Transparência da água e o uso do disco de Secchi: a transparên-
cia (capacidade de penetração da luz) da água pode ser usada como um 
indicativo da densidade planctônica e da possibilidade de ocorrência de 
níveis críticos de oxigênio dissolvido durante o período noturno. 
Sob condições de transparência maiores que 40 cm, medida 
com o disco de Secchi ou com a imersão de qualquer objeto na coluna 
d’água, é muito rara a ocorrência de níveis de OD abaixo de 2 mg/l 
em viveiros estáticos com biomassa de peixes ao redor de 4.500 kg/ha. 
Águas com tansparência maior que 60 cm permitem a penetração de 
grande quantidade de luz em profundidade, favorecendo o crescimento 
de plantas aquáticas submersas e algas filamentosas.
Portanto, na ausência de um oxigenômetro e de um sistema de 
aeração de emergência, recomenda-se manter a transparência da água 
entre 40 e 60 cm. Se os valores de transparência forem próximos ou 
menores que 40 cm, deve se interromper ou reduzir os níveis de arraço-
amento diário ou as dosagens de fertilizantes e estercos aplicados, bem 
como aumentar o intervalo entre aplicações. Promover a renovação da 
água, quando possível, auxilia no ajuste dos volumes de tranparência. 
Próximas Edições:
ParteII edição 46
. O metabolismo do fitoplâncton
. Componentes e funcionamento do sistema tampão bicarbonato-
carbono
. Monitoramento da qualidade da água
. Correção da qualidade da água
. Origem e reciclagem dos resíduos orgânicos e metabólitos
. Qualidade do alimento e qualidade da água
Pare III edição 47
. A dinâmica do oxigênio dissolvido
. Aeração de tanques e viveiros
.Qualidade da água em sistemas de alto fluxo
Panorama da AQÜICULTURA, maio/junho, 1998
35
Por Fernando Kubitza, especialista em Nutrição e Produção de Peixes, mestre em Agronomia pela ESALQ – USP e Ph.D 
em aqüicultura pela Auburn University - Alabama, USA. Atualmente ocupa o cargo de Coordenador do Departamento de 
Pesquisa e Desenvolvimento do Projeto Pacu/Agropeixe. 
Qualidade da Água na Produção
de Peixes - Parte III (Final)
NE - Devido a sua extensão, a Panorama da AQÜICULTURA 
está publicando em três edições consecutivas a íntegra desse 
artigo. Nesta edição publicamos a terceira e última parte.
· A dinâmica do oxigênio dissolvido nos
 sistemas aquaculturais
· Aeração de tanques e viveiros
· Qualidade da água em sistemas de
 alto fluxo.
12. A dinâmica do oxigênio dissolvido nos sistemas aquaculturais
O oxigênio é essencial à vida dos organismos aquáticos 
e baixas concentrações de oxigênio dissolvido na água podem 
causar atraso no crescimento, redução na eficiência alimentar 
dos peixes, aumento na incidência de doenças e na mortalidade 
dos peixes, resultando em sensível redução na produtividade dos 
sistemas aquaculturais. Entender os fatores que afetam a dinâmica 
do oxigênio nos sistemas aquaculturais é fundamental ao manejo 
econômico da produção de peixes.
12.1. Solubilidade do oxigênio na água. Em equilíbrio com a 
atmosfera, a solubilidade do oxigênio na água reduz com o aumento 
da temperatura e salinidade da água e com a redução na pressão 
barométrica (aumento da altitude) do local. O efeito da temperatura 
e da salinidade na solubilidade do oxigênio na água, em condições 
de equilíbrio com a atmosfera, é ilustrado na tabela 9.
A pressão parcial do oxigênio na atmosfera pode ser cal-
culada multiplicando-se a pressão atmosférica pela percentagem 
de O2 na atmosfera para uma dada condição de temperatura do ar. 
Cerca de 21% de oxigênio existe na atmosfera a 0oC. Portanto, a 
pressão parcial do oxigênio é 760 mmHg x 0.21= 159.6 mmHg. 
A difusão de oxigênio da atmosfera para a água, ou vice-
versa, ocorre quando houver um diferencial de pressão de O2 entre o 
ar e a água. A água é dita saturada em O2 quando a concentração de 
oxigênio dissolvido é aquela teoricamente possível sob as condições 
de temperatura, salinidade e pressão barométrica existentes. Esta 
concentração é chamada “concentração de saturação” (Cs). 
Como exemplo, podemos observar na tabela 9 que a Cs 
do O2 a uma temperatura de 26
oC e salinidade igual a zero é de 
8.09 mg/l. De uma forma geral, quando a concentração atual de 
oxigênio na água (Ca) for menor que a Cs, ocorre difusão do O2 
do ar para a água. Quando Ca for maior que Cs, ocorre difusão 
do O2 da água para o ar. Quanto maior o gradiente entre Ca e Cs, 
maior a taxa de difusão de O2 entre a água e o ar.
A água pode se encontrar subsaturada ou super saturada 
com oxigênio. A percentagem de saturação de O2 na água é cal-
culada como segue:
% Saturação O2 = (Ca/Cs) x 100
 Muitas espécies de peixes podem tolerar concentrações 
de O2 dissolvido em torno de 2 a 3 mg/l. por períodos prolongados. 
Salmonídeos podem tolerar níveis de 4 a 5 mg/l. No entanto, o 
peixe se alimenta melhor, apresenta melhor condição de saúde e 
cresce mais rápido quando os níveis de O2 dissolvidos são próxi-
mos à saturação.
Supersaturação da água com oxigênio não causa um 
aumento na produção de peixes, nem sequer uma melhora na efici-
ência alimentar dos mesmos. No entanto, a supersaturação pode ser 
desejada para compensar a respiração dos peixes sob condições de 
elevados níveis de gás carbônico na água. Supersaturação excessiva 
da água com gases, incluindo o O2, pode resultar numa condição 
chamada “Trauma da Bolha de Gás” (Gas Bubble Disease - GBD) 
. Quando a diferença (DP) entre a pressão total de gases (PTG) e 
a pressão barométrica (PB) na água for em torno de 50 a 200 mmHg 
as condições são favoráveis à ocorrência de GBD.
Tabela 9. Solubilidade do oxigênio (em mg/l) em função da temperatura 
e da salinidade da água
Panorama da AQÜICULTURA, maio/junho, 1998
DP = PTG - PB
DP = (PO2 + PN2 + PCO2 + PH2O) - PB
Os sintomas de GBD são: formação de bolhas de gás e 
enfizemas no sangue e nos tecidos, bolhas de gás no intestino e 
na cavidade bucal, ruptura da bexiga natatória causada por uma 
excessiva inflagem das mesmas, hemostasia (obstrução dos vasos 
sanguíneos), exoftalmia (olhos saltados), entre outros. A taxa de 
mortalidade varia de 50 a 100%.
Várias são as condições que podem causar supersaturação 
de gases na água, entre elas:
1) Atividade fotossintética intensa; 2) Rápida elevação na tempe-
ratura da água. Águas de minas ou poços são frias e concentradas 
em gases. Quando em contato com a atmosfera mais quente, um 
aumento repentino na temperatura cria condições de supersatu-
ração de gases nestas águas; 3) Águas abaixo de cachoeiras ou 
quedas d’água podem estar supersaturadas com gases; 4) Águas 
superficiais durante o inverno podem estar saturadas com gases. 
A percolação através do solo pode resultar em aquecimento destas 
águas, causando uma supersaturação de gases nas mesmas.
Níveis de saturação de oxigênio acima de 300% pode re-
sultar em massiva mortalidade de peixes devido à GBD. É comum 
a ocorrência de supersaturação de gases nas águas de viveiros. No 
entanto, mortalidade de peixes devido à GBD não é frequentemente 
observada sob condições de cultivo em viveiros. A supersaturação 
de gases nos viveiros, particularmente o oxigênio, é restrita às 
camadas mais superficiais onde a penetração de luz é adequada 
aos intensos processos fotossintéticos. O peixe encon
Publicações Téc-
nicas
Qualidade da Água na Produção de Peixes
 de Fernando Kubitza
Principais Parasitoses e Doenças dos Peixes Cultivados
 de Fernando Kubitza
Transportes de Peixes Vivos
 de Fernando Kubitza
Nutrição e Alimentação dos Peixes Cultivados
 de Fernando Kubitza
Planejamento da Produção de Peixes
 de Kubitza, Lovshin, Ono e Sampaio
Manejo de Sistemas de Pesca Recreativa
 de Fernando Kubitza
Cultivo de Peixes em Tanques Rede
 de Eduardo Ono
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38
Panorama da AQÜICULTURA, maio/junho, 1998
tra um abrigo nas camadas mais profundas dos viveiros, 
onde excessiva supersaturação de gases é improvável. No entanto, 
durante as fases de larvicultura quando as larvas, que possuem 
movimentação restrita e lenta, se encontram confinadas aos ex-
tratos superfíciais dos viveiros, mortalidade devivo à GBD pode 
ser importante.
12.2. Consumo de oxigênio pelos peixes. O consumo de oxigênio 
varia com a espécie, o tamanho, o estado nutricional e o grau de 
atividade dos peixes, a concentração de oxigênio e a temperatura 
da água, entre outros. Na tabela 10 são resumidos alguns fatores 
ou condições que afetam o consumo de oxigênio em algumas 
espécies de peixes.
De acordo com os dados da tabela 10 pode-se concluir 
que: 1) o consumo de oxigênio é praticamente duplicado a cada 
10oC de aumento na temperatura da água; 2) o consumo de oxigênio 
aumenta sensivelmente após as refeições e com o nível de atividade 
dos peixes; 3) sob condições iguais de biomassa, peixes pequenos 
consomem mais oxigênio comparado a peixes grandes.
A equação a seguir pode ser usada para estimar o consu-
mo de oxigênio de espécies de peixes de clima tropicais, bastando 
conhecer o peso (em gramas) do animal:
Consumo de oxigênio (mg O2/h/kg) = (1.000/peso) x (peso)
0.82 
Tabela 10. Fatores ou condições que afetam o consumo de oxigênio 
(em mg/h/kg de peixe) em diferentes espécies de peixes.
12.3. Flutuações diuturnas nos níveis de oxigênio em viveiros
Como discutido anteriormente, o plâncton é tanto o principal pro-
dutor como o maior consumidor de O2 nos tanques e viveiros
em sistemas de água parada ou de pequena renovação de água. 
Devido ao balanço entre a atividade fotossintética do fitoplâncton 
e a atividade respiratória das diferentes comunidades aquáticas 
(plâncton, peixes e organismos bentônicos),os níveis de oxigênio 
dissolvido (OD) nos sistemas aquaculturais flutuam diuturnamente. 
Quanto maior a biomassa planctônica, maior a amplitude desta 
variação (Figura 3).
12.4. Nível de arraçoamento e oxigênio dissolvido. Níveis de 
arraçoamento acima de 50 kg de ração/ha/dia estão associados com 
um aumento na ocorrência de níveis críticos de oxigênio dissolvido 
em tanques e viveiros, reduzindo a sobrevivência e a eficiência 
alimentar dos peixes (Tabela 8 p.26; Tabela 11). 
Tabela 11. Efeito do nível de arraçoamento na concentração média de 
oxigênio dissolvido (OD) ao amanhecer, na sobrevivência e performance 
produtiva do bagre-do-canal estocados em viveiros sob diferentes densi-
dades (Tucker et al. 1979).
Os níveis de oxigênio dissolvido em viveiros de água 
parada recebendo mais de 50 kg de ração/ha/dia devem ser moni-
torados diariamente e equipamentos para aeração de emergência 
devem estar disponíveis.
12.5. Predição da ocorrência de níveis críticos de oxigênio.
A dinâmica do oxigênio em tanques e viveiros é bastante complexa. 
Pesquisas têm sido feitas no sentido de identificar e quantificar os 
diversos fatores envolvidos no balanço do oxigênio nos sistemas 
aquaculturais, para melhor prever a ocorrência de concentrações 
mínimas de O2 dissolvido em tanques e viveiros. Em síntese, a 
concentração de oxigênio é resultante da atividade metabólica dos 
diferentes organismos aquáticos, mais especificamente do balanço 
entre os processos fotossintéticos e a atividade respiratória dos 
diferentes organismos. A difusão do O2 entre o ar e a água também 
Figura 3. Variação 
diária na concentração 
de oxigênio dissolvido 
na água de viveiros com 
alta, moderada e baixa 
biomassa planctônica.
Horário do dia
O
xi
gê
ni
o 
di
ss
ol
vi
do
 (m
g/
l)
1 Valores entre parênteses indicam consumo de manutenção dos peixes.
participa neste balanço, que pode ser resumido na seguinte equação:
ODágua = ODinicial ± ODdifusão + ODsíntese - ODplâncton - ODpeixes - ODbentos
Concentrações críticas de oxigênio dissolvidos são, 
geralmente, observadas durante a madrugada e amanhecer em 
viveiros com alta densidade planctônica. A predição da ocorrência 
de níveis críticos de oxigênio dissolvido é fundamental no manejo 
da aeração de tanques e viveiros sob cultivo intensivo. 
Três métodos básicos foram propostos para a previsão 
de níveis críticos de oxigênio dissolvido em viveiros durante as 
primeiras horas da manhã. O primeiro deles se baseia no uso de uma 
equação (“Equação Noturna”) onde variáveis como consumo de 
oxigênio pelo plâncton, pelos peixes e por organismos bentônicos, 
bem como a taxa de difusão do oxigênio entre o ar e a água devem 
ser fornecidas. A complexidade e a não praticidade da Equação 
Noturna podem ser vislumbradas de imediato, razões pelas quais 
este método não é utilizado por produtores.
O segundo método baseia-se na leitura da concentração 
de oxigênio dissolvido ao final da tarde (pôr do sol), nos valores 
de transparência da água, medidos com o auxílio do disco de 
Secchi, e na temperatura da água dos viveiros. Baseado nestas 
três variáveis e na biomassa de peixes estocada, usa-se de algu-
mas tabelas para se determinar o valor mínimo de transparência 
da água para garantir uma concentração mínima de 2mg/l. de 
oxigênio dissolvido ao amanhecer. Se a transparência mínima for 
maior que a transparência do viveiro obtida com o disco de Secchi, 
há uma grande probabilidade de ocorrência de concentrações de 
oxigênio menores que 2 mg/l. Portanto, a aeração dos viveiros 
deve ser providenciada. Embora um pouco mais simples que o 
método da Equação Noturna, o uso deste segundo método necessita 
de informações mais detalhadas sobre as condições dos viveiros 
(transparência e biomassa estocada), bem como a determinação da 
concentração de oxigênio ao final da tarde. Também é necessário 
que o produtor entenda como usar as tabelas de transparência 
mínima, o que é pouco prático.
O terceiro método, bastante popular e efetivo na predição 
de níveis críticos de oxigênio dissolvido, baseia-se na tomada de 
duas leituras da concentração de oxigênio na água de cada viveiro 
durante o período noturno, a um intervalo de 2 a 3 horas. Com a 
diferença entre estas concentrações, faz-se uma projeção linear de 
queda dos níveis de oxigênio, prevendo o horário de ocorrência 
de níveis críticos de oxigênio dissolvido. Este método é bastante 
seguro, até mesmo conservativo, pois as concentrações reais de 
oxigênio dissolvido ao amanhecer ficam, normalmente, um pouco 
acima dos valores previstos.
13. Aeração de tanques e viveiros
Os processos fotossintéticos do fitoplâncton e a respiração 
dos organismos aquáticos (plâncton, peixes, bentos e microorga-
nismos) causam flutuações diuturnas na concentração de oxigênio 
e gás carbônico dissolvidos na água. Em sistemas aquaculturais 
de água parada ou de pequena renovação de água, a excessiva 
entrada de nutrientes via alimento ou adubação favorece o de-
senvolvimento de uma densa população planctônica, acentuando 
ainda mais as flutuações nos níveis de oxigênio dissolvido. Baixas 
concentrações de oxigênio dissolvido combinadas à níveis elevados 
de gás carbônico são frequentemente observadas durante o período 
noturno, prejudicando o desenvolvimento normal ou, até mesmo, 
causando massiva mortalidade de peixes. A aeração dos tanques e 
viveiros é fundamental para a manutenção de níveis adequados de 
oxigênio dissolvido, aumentando a sobrevivência e a performance 
produtiva dos peixes.
13.1. Aeração de emergência, suplementar ou contínua.
A aeração de emergência baseia-se no monitoramento diário 
dos níveis de oxigênio durante o período noturno e acionamento 
dos sistemas de aeração sempre que forem previstos níveis de 
oxigênio menores que 2 a 3 mg/l. Os aeradores são acionados 
durante a madrugada, uma ou duas horas antes destes níveis serem 
atingidos, e permanecem ligados por períodos de 4 a 6 horas. Os 
aeradores são desligados uma ou duas horas após o nascer do sol, 
quando suficiente luz está disponível para estimular os processos 
fotossintéticos do fitoplâncton. A aeração suplementar consiste 
no acionamento diário dos aeradores, durante o período noturno, 
independente da projeção dos níveis críticos de oxigênio dissolvido. 
A aeração contínua consiste na aplicação ininterrupta de aeração 
durante todo o cultivo ou apenas nas fases de manutenção de alta 
biomassa e elevados níveis de arraçoamento. Aeração contínua é 
bastante utilizada em tanques para cultivo intensivo 
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Panorama da AQÜICULTURA, maio/junho, 1998
Panorama da AQÜICULTURA, maio/junho, 1998
(raceways ou tanques circulares), principalmente em sistemas com 
recirculação (reuso) da água. Aeração contínua demanda maior 
consumo de energia e não traz benefício adicional sobre a aeração 
suplementar ou de emergência em viveiros. A aeração contínua 
pode ainda causar um aumento excessivo na turbidez mineral da 
água, prejudicando o desenvolvimento do fitoplâncton, interferindo 
com a dinâmica do oxigênio dissolvido na água e a remoção de 
metabólitos tóxicos como a amônia e o CO2. Partículas minerais 
em suspensão na água pode causar danos ao epitélio branquial 
dos peixes facilitando a entrada de organismos patogênicos e o 
estabelecimento de doenças.
Aeração de emergência versus aeração suplementar: 
Steeby e Tucker (1988) compararam a aeração de emergência 
com a aeração suplementar diária onde eram aplicadas 6 horas 
de aeração durante o período noturno em viveiros com bagre-do-
canal. Cerca de 641 horas de aeração de emergência foram usadas, 
comparadas à 1.372 horas de aeração noturna contínua. A produção 
e conversão alimentar médias do bagre de canal foi de 7.000 kg/
ha e 1.60 em viveiros com aeração de emergência, comparadas a 
valores de 6.700 kg/ha e 1.59, respectivamente, em viveiros com 
aeração contínua.
Aeração de emergência é prática bastante popular entre 
os piscicultores norte-americanos. Uma aeração de emergência 
bem conduzida garante,com segurança, a manutenção de níveis 
de oxigênio dissolvido acima do nível crítico estipulado como 
base para se proceder a aeração. Por exemplo, Kubitza (1995) 
usou aeração de emergência todas as vezes em que níveis de 
oxigênio dissolvido abaixo de 3 mg/l eram previstos em tanques 
para cultivo intensivo do black bass Micropterus salmoides. As 
concentrações médias de oxigênio dissolvido ao amanhecer foram 
acima de 4 mg/l.. Níveis de oxigênio dissolvido abaixo de 3 mg/l. 
foram observados esporadicamente em alguns tanques. O nível 
mais baixo de oxigênio registrado foi 1,8 mg/l. e ocorreu apenas 
uma noite, em apenas um tanque. Biomassas de 2.700 a 7.200 kg/
ha foram obtidas, com níveis de arraçoamento de até 90 kg/ha/dia 
sendo mantidos durante oito dias consecutivos. Durante o período 
de verão, tanques estocados em alta densidade, recebendo acima 
de 60 kg de ração/ha/dia, necessitaram de aeração de emergência 
frequentemente. Tanques recebendo de 80 a 90 kg de ração/ha/
dia receberam aeração de emergência quase todas as noites durante 
o verão.
Cole e Boyd (1986) observaram o efeito do nível de arra-
çoamento na necessidade de aeração em viveiros de produção de 
bagre-do-canal. Aeração de emergência era acionada sempre que 
os níveis de oxigênio dissolvido ao amanhecer fossem estimados 
abaixo de 2 mg/l.. Aeração de emergência foi utilizada quase 
todas as noites em viveiros recebendo 112 kg ou mais de ração/
ha/dia. Viveiros recebendo até 56 kg de ração/ha/dia raramente 
necessitaram de aeração de emergência.
Mesmo capaz de manter adequada concentração de 
oxigênio dissolvido na água, a aeração não permite aumentar a 
produção dos sistemas aquaculturais sem limite. Altas produções 
exigem níveis elevados de arraçoamento, resultando no acúmulo 
excessivo de metabólitos tóxicos como a amônia e o nitrito, que 
eventualmente passam a reduzir o consumo de alimento, o cres-
cimento e a eficiência alimentar dos peixes.
13.2. Tipos de aeradores. Diversos mecanismos e equipamentos 
têm sido usados para efetuar a aeração em tanques e viveiros. A 
tabela 12 relaciona os principais sistemas de aeração e aeradores 
usados e uma comparação entre o desempemho dos mesmos.
Os valores da taxa padrão de transferência de oxigênio 
(SOTR) dependem da potência do sistema de aeração e podem ser 
calculados em testes específicos para desempenho de aeradores, 
como proposto por Boyd (1990). A grande variação nos valores 
de SOTR dentro de um mesmo grupo de aeradores (Tabela 12) 
resulta das diferenças de potência entre os aeradores testados. 
Em contraste, os valores da eficiência padrão de aeração (SAE) 
apresentam menor variação devido considerarem a potência de 
cada sistema, ou seja, a SAE é calculada dividindo-se a SOTR 
pela potência do aerador.
Tabela 12. Taxa padrão de transferência de oxigênio (SOTR) e eficiência 
padrão de aeração (SAE) de diferentes aeradores (Boyd e Ahmad 1987).
Em geral, aeradores de pás são mais eficientes na trans-
ferência de oxigênio do que os demais aeradores. No entanto, 
existem modelos de aeradores de pás menos eficientes que alguns 
propulsores de ar, bombas verticais e bombas aspersoras.
Aeradores elétricos
Aeradores de pás são aeradores com um corpo cilíndrico 
revolto por linhas de pás. O corpo cilíndrico é movido por um mo-
tor elétrico acoplado a um mecanismo de redução da velocidade, 
garantindo uma velocidade de 80 a 90 rpm. Normalmente é neces-
sário 1 kW de potência para cada 40 a 50 cm de comprimento do 
corpo cilíndrico do aerador de pás. O diâmetro do corpo cilíndrico 
mais a extensão das pás devem ter aproximadamente 91 cm para 
aeradores de pás maiores que 2 kW ou 60 cm para aeradores de 
pás de menor potência. Os aeradores de pás são sustentados na 
água com o auxílio de uma estrutura flutuante que pode ser feita 
com tambores de plástico ou de metal, com tubos de PVC, blocos 
de isopor, entre outros materiais. Esta estrutura deve permitir a 
regulagem das pás a uma profundidade de 9 a 11 cm abaixo da 
linha d’água. As pás podem ser feitas em metal ou poliuretano, ou 
qualquer outro material de boa resistência e devem ter, de prefe-
rência, 10 a 15 cm de largura e apresentar uma seção de formato 
triangular com um ângulo interno de 120 a 135o. As pás devem 
ter uma disposição espiralada ao longo do corpo cilíndrico do 
aeradore de pás, garantindo uma constante área de pás em contato 
com a água, evitando assim uma variação no torque do motor. Com 
a rotação do corpo cilíndrico, as pás espirram a água para o ar, 
efetivando, deste modo, a aeração da mesma. A potência exigida 
aumenta linearmente com o aumento na profundidade das pás, com 
o aumento no diâmetro e no comprimento do corpo cilíndrico e com 
o aumento na velocidade de rotação do aeradores de pás.
Propulsores de ar consistem de um motor elétrico de 3.450 
rpm, que aciona um eixo com uma hélice em sua extremidade final. 
Este eixo está envolto por uma camisa metálica oca que tem aber-
turas que possibilitam a passagem do ar atmosférico para o interior 
da camisa. Ao final da camisa existe uma estrutura difusora. Com 
40
a rotação do eixo e a aceleração da água causada pela rotação da 
hélice, ocorre uma queda na pressão dentro da camisa, favorecendo 
a entrada do ar, impulsionado pela própria pressão atmosférica, 
o qual é forçado através da estrutura difusora e injetado na forma 
de pequenas bolhas próximo à área de turbilhonamento da água 
causada pela rotação da hélice. Os propulsores de ar usados em 
aquicultura possuem motores menores que 7.5 kW (10 hp).
Bombas verticais possuem um motor elétrico protegido 
dentro de um cilindro metálico, o qual fica submerso na água. Ao 
eixo do motor é adaptada uma hélice que impulsiona a água verti-
calmente, a qual, em contato com o ar, recebe a aeração. Bombas 
verticais com potência de 0.37 kW a 3 kW (0.5 a 4 hp) são mais 
comumente usadas em sistemas aquaculturais. A rotação do motor 
varia de 1.730 a 3.450 rpm. 
Bombas aspersoras consistem de bombas de alta pressão 
que impulsionam a água através de uma estrutura de descarga 
com um ou mais orifícios, lançando a água para o ar, efetuando a 
aeração. Bombas aspersoras com potência de 7.5 a 15 kW e com 
velocidade de 500 a 1.000 rpm têm sido usadas em aquicultura.
Sistemas de ar difuso consistem basicamente de um com-
pressor ou soprador de ar, um sistema de tubulação para distribuição 
do ar e estruturas difusoras de ar. Os difusores de ar podem ser 
feitos com material cerâmico, mangueiras de borracha ou plástico 
perfuradas, tubos de PVC perfurados, entre muitos outros.
Aeradores acoplados à TDP de tratores
Aeradores acoplados à tomada de potência (TDP) de tra-
tores são montados sobre trailers e podem ser transportados de um 
viveiro a outro. Estes aeradores são de grande utilidade durante 
aeração de emergência, principalmente onde não há energia elé-
trica e/ou quando uma grande quantidade de oxigênio deve ser 
introduzida no sistema rapidamente. Nestas situações os valores 
de SOTR são mais importantes que os valores de SAE. No en-
tanto, aeradores acoplados à TDP são menos eficientes quanto 
ao uso de energia comparados aos aeradores elétricos e cada 
um deles necessita de um trator para ser operado, o que resulta 
em alto custo de implantação. Existem disponíveis no mercado 
norte-americano aeradores montados sobre trailers e propelidos 
por motores estacionários, reduzindo a necessidade de aquisição 
de uma frota de tratores. 
Os aeradores propulsionados por tratores são basicamente 
do tipo aeradores de pás ou do tipo bomba aspersora. Os aeradores 
de pás apresentam corpo cilíndrico bastante variado, com diâmetro 
da ponta de uma pá à ponta de outra em torno de 50 a 150 cm. O 
formato e tamanho das pás variam bastante, bem como o compri-
mento dos cilindros. A SOTR de aeradores de pás varia de 20 a 30 
kg O2/h quando operados por um trator de 50 hp (37 kW). Uma 
rotação de 540 rpm é normalmente aplicada à TDP para a propulsão 
de aeradores de pás. Diferenciais de caminhãoou caminhonetes são 
frequentemente usados para reduzir a velocidade de rotação dos 
aeradores de pás, os quais giram entre 100 a 120 rpm. Quanto maior 
a profundidade das pás e/ou mais rápida for a rotação do cilindro, 
maior será a SOTR do aerador de pás, embora aumente o consumo 
de energia durante a aeração. Bombas aspersoras demandam maior 
potência e giram em torno de 540 a 1.000 rpm, ou seja, na mesma 
velocidade que a TDP do trator. Bombas aspersoras apresentam 
SOTR de 12 a 20 kg O2/h quando acionados por tratores de 67 a 
107 hp (50 a 80 kW). Boyd (1990) cita o exemplo de um aerador 
tipo bomba aspersora propulsionado por um trator de 60 kW, com 
uma SOTR de 21.2 kg de O2/h, comparado com um aerador de 
pás propulsionado por um trator de 50 kW, com uma SOTR de 
29.8 kg de O2/h. Durante aeração prolongada os tratores devem ser 
operados à potências menores que a potência máxima para evitar 
o aquecimento excessivo do motor. 
13.3. Posicionamento dos aeradores. Boyd observou a circulação 
da água em tanques retangulares onde aeradores foram instalados 
e acionados em diferentes posições. Aeradores posicionados no 
centro de uma das margens mais longas do viveiro, com o fluxo de 
água dirigido perpendicularmente à margem oposta, promoveram 
uma circulação mais uniforme da água (Figura 4). Quando dois 
ou mais aeradores são usados num mesmo viveiro, estes podem 
ser dispostos em série, de preferência nos cantos dos viveiros, 
promovendo um movimento circular da água. Os aeradores de-
vem ser posicionados em áreas não muito rasas e com o fluxo de 
aeração orientado de forma a não ficar paralelo e muito próximo 
às margens dos viveiros evitando assim a suspenção excessiva de 
partículas de argila e silte.
Durante períodos de baixa concentração de oxigênio na 
água, os peixes ficam condicionados a se posicionar em regiões 
próximas aos aeradores, onde as concentrações de oxigênio dissol-
vido são maiores. Durante uma aeração de emergência, qualquer 
aerador suplementar deve ser posicionado próximo ao aerador em 
funcionamento, pois este é o local onde os peixes se encontram. 
Em tanques sem aerador em funcionamento, durante a aeração 
de emergência o aerador deve ser posicionado nas áreas de maior 
concentração de oxigênio, pois este é o local mais provável de 
localização dos peixes. Posicionamento de aeradores em locais 
opostos às áreas de maior concentração de oxigênio forçará o peixe 
a se deslocar através de uma massa de água com baixos níveis de 
oxigênio dissolvido para chegar até o aerador. Muitas vezes os 
Panorama da AQÜICULTURA, maio/junho, 1998
41
O uso regular de PROPEIXE constitui a melhor 
alternativa para uma piscicultura lucrativa, tra-
tando de modo natural, econômico e seguro o 
peixe e seu habitat, pois: 
a) Promove a um só tempo melhoria na alcalinidade e dureza totais 
da água, resultando em mais carbono para as plantas;
b) Neutraliza ou eleva o pH da água e do solo, conforme a dosagem 
utilizada, favoracendo as condições para o bom desenvolvimento 
dos peixes e outros organismos aquáticos de valor comercial;
c) Elimina fungos, bactérias e parasitas que infestam a água e os 
animais aquáticos atuando diretamente sobre a Lernaea e sangues-
sugas com grande eficiência;
d) Controla a população de tilápias e outros peixes nativos, usado 
em dosagem correta, eliminando larvas e alevinos indesejáveis 
provenientes de desovas dos peixes não revertidos sexualmente;
e) Substitui a calagem tradicional com eficiência, rapidez, segurança 
e economia.
DIVISÃO AGROPECUÁRIA
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toxico é a garantia de boa qualidade do solo, da água e do peixe.
peixes não conseguem chegar até a área de influência do 
aerador, morrendo por asfixia ao longo do trajeto.
Figura 4. Posição de aeradores e circulação de água em viveiros retan-
gulares (Boyd 1990). 
13.4. Potência do sistema de aeração. Em tanques e viveiros está-
ticos a quantidade de aeração a ser aplicada pode ser calculada com 
equações bastante complexas que estimam o consumo de oxigênio das 
comunidades aquáticas, principalmente o plâncton, o bento e os peixes. 
Trabalho árduo é conhecer a eficiência do aerador utilizado, dados nem 
sempre fornecidos pelos fabricantes, e o quanto do oxigênio fornecido 
pela aeração é utilizado pelo plâncton, peixes e outros organismos. No 
entanto, sistemas de aeração de 5 a 10 hp têm sido frequentemente 
usados por hectare de viveiro.
Em sistemas de alto fluxo de água a determinação da potência 
de aeração a ser aplicada é tarefa menos complicada, como apresentado 
no exemplo a seguir:
Condições de cultivo:
 tanque com volume de água de 200 m3
 fluxo contínuo de 100m3/h (uma troca completa a cada 2 horas)
 água de abastecimento com 7,5 mg OD/l., a 28°C ( 96% da saturação 
de oxigênio)
 OD mínimo desejável no tubo de escoamento = 3 mg/l. (40% da 
saturação)
 tilápia do Nilo de 450g, consome 108mg O2/kg/h ou seja, 108g O2/
tonelada/h)
Situação 1: apenas com troca de água é possível sustentar uma 
biomassa de 3.750 kg de tilápia/tanque (18,75kg/m3). 
OD disponível= (7,5 - 3,0) x 100.000 L/h = 450.000 mg/l. ou 450g O2/h
Biomassa sustentável= (450/108) x 1.000 = 4.167 kg de tilápia/tanque 
ou 20,84kg/m3.
Situação 2 : a meta é sustentar cerca de 30 toneladas de tilápia/
tanque (150kg/m3), com o mesmo fluxo de água mais aeração. Qual a 
potência de aeração necessária?
Consumo de oxigênio = 30t x 108g O2/t/h = 3.240g O2/h
Oxigênio disponível com o fluxo de água = 450g O2/h
Deficit de O2 que deve ser suprido pela aeração= 3.240-450=2790 g 
O2/h.
Aerador do tipo propulsor de ar (SAE = 1,19 kg O2/HP/h)
Potência de aeração = (2,79 kg O2/h)/1,19 kg O2/HP/h) = 2,34 HP
Fator de segurança de 30% = 2,34 x 1,3 = 3HP
13.5. Número de aeradores necessários. Durante o verão, cerca de 
25 a 30% dos viveiros usados no cultivo intensivo do bagre-do-canal 
exigem aeração numa mesma noite. No caso de tanque e viveiros 
pequenos (área menor que 3.000 m2) aeradores de pequeno porte 
são empregados, podendo ser translocados de um viveiro ao outro 
quando necessário. Assim, um número mínimo de 3 aeradores deve 
estar disponível para cada 10 viveiros. Viveiros maiores demandam 
aeradores de maior porte, portanto mais pesados e de translocação 
mais trabalhosa, geralmente impraticável. Cada viveiro, portanto, 
deve ter seu próprio sistema de aeração, a não ser que aeradores 
montados sobre trailers e acionados pela TDP de tratores ou por 
motores estacionários estejam disponíveis.
14. Qualidade da água em sistemas de alto fluxo
Nos sistemas de alta renovação de água, onde tanques 
do tipo “raceways” (escavados em terra, de alvenaria) ou tanques 
circulares (em alvenaria, metal, fibra de vidro), a qualidade da 
água é mantida pelo suprimento contínuo de água para oxigenação 
e remoção de amônia. 
14.1. Oxigênio dissolvido. Da mesma forma que em sistemas de 
baixa renovação ou estáticos, a concentração de oxigênio dissolvido 
na água é o primeiro fator limitante à produtividade dos sistemas de 
alto fluxo. É recomendável uma concentração mínima de oxigênio 
dissolvido na água de saída (efluente) ao redor de 40% da satura-
ção. O suprimento de oxigênio através da água de abastecimento é 
proporcional ao fluxo de água disponível para renovação. Quanto 
maior o fluxo de água, maior o fornecimento de oxigênio e, portanto, 
maior a biomassa de peixes que pode ser sustentada. A biomassa 
de peixes nos sistemas de alto fluxo é comumente expressa em 
relação ao volume dos tanques (kg/m3) ou em relação ao fluxo de 
água fornecido (kg/m3/h ou kg/l/minuto). 
A taxa de renovação utilizada depende da disponibilidade 
de água e da velocidade da corrente formada dentro das unidadesde produção. Como recomendação geral, a velocidade da água 
não deve exceder 0,25m/s, de forma a não demandar do peixe um 
gasto de energia excessivo para manter sua posição na corrente. 
Quando o fluxo é limitado devido a disponibilidade de água ou 
pela velocidade máxima recomendada, a aeração contínua pode 
ser aplicada para aumentar o fornecimento de oxigênio e, portanto, 
a capacidade de suporte do sistema. 
14.2. Amônia. Garantido o fornecimento de oxigênio, a produti-
vidade do sistema será limitida pela concentração de amônia na 
água. É recomendável que a concentração de amônia não ioniza-
da não exceda 0,05mg/l. para peixes tropicais e 0,012mg/l. para 
salmonídeos. Exposição dos peixes à concentrações de amônia 
acima destes limites pode resultar em reduzido crescimento e baixa 
eficiência alimentar. Águas com pH neutro ou ligeiramente ácido 
(6,0 a 7,0) permitem uma maior capacidade de suporte, visto que 
a concentração de amônia não ionizada aumenta com a elevação 
do pH. A quantidade de amônia excretada pelos peixes pode 
ser calculada com base na quantidade de proteína consumida. 
Em média, cerca de 40% da proteína bruta (PB) presente em uma 
ração completa é utilizada como energia, resultando na produção 
de amônia. Exemplificando, para uma ração com 32% de prote-
ína bruta, cada 1.000kg de ração fornece 320kg de proteína. Em 
média, a proteína contém 16% de N. Portanto, a quantidade de N 
fornecida por tonelada desta ração é 320 x 0,16 = 51,2 kg. Destes, 
40% é excretado na forma de N-NH3 (nitrogênio amoniacal), ou 
seja, 51,2 x 0,40 = 20,48kg de N-NH3. Para uma certa ração, a 
quantidade de N-NH3 excretada pelos peixes pode ser estimada 
Panorama da AQÜICULTURA, maio/junho, 1998
42
peratura 28oC, a percentagem da amônia total na forma não-ionizada 
(forma tóxica) é 6,475. 
AMÔNIA máx = (0,05mg/l.) x 100/(6,475) = 0,772mg/l. ou g/m3
b) calcular a máxima excreção diária de amônia permitida (AMÔNIA 
exc): considerando uma vazão de 100m3/h e uma concentração de 
amônia total de 0,12mg/l. na água de abastecimento.
AMÔNIA exc = (0,772 - 0,12) x (100m3/h) x 24 horas = 1,57 kg/dia
c) calcular a máxima quantidade de ração que pode ser fornecida 
diariamente (RAÇÃO máx): considerando um teor de proteína bruta 
(PB) de 32%.
RAÇÃO máx = (1,57 kg/dia)/(0,64 x PB/100) = (1,57)/(0,64x0,32) 
= 76,7kg/dia
d) calcular a máxima biomassa de peixes (BIOMASSA máx): 
considerando um consumo diário de ração na ordem de 2% do 
peso vivo. 
BIOMASSA máx = 76,7kg/0,02 = 3.835 kg/tanque ou 19,18kg/m3
Com base nos cálculos desenvolvidos na seção 13.4. e nos 
cálculos apresentados nesta seção, é possível chegar aos seguintes 
fundamentos gerais dos sistemas de alto fluxo:
1) A concentração de oxigênio dissolvido na água é o 
primeiro fator limitante à capacidade de suporte dos sistemas 
de alto fluxo. Sob condições de pH mais alcalino, concentrações 
elevadas de amônia podem limitar a capacidade de suporte tanto 
quanto as concentrações de oxigênio dissolvido. 
2) Existindo uma restrição à produtividade do sistema 
imposta pelos níveis de oxigênio dissolvido ou pela concentração 
de amônia tóxica, um aumento adicional na capacidade de suporte 
pode ser obtido com: a) aumento no fluxo de água até o limite de 
velocidade recomendado para a espécie cultivada; b) redução do 
teor protéico e melhora na qualidade da proteína da ração, bem 
como redução do pH da água quando economicamente viável (no 
caso de limitação devido à concentração de amônia tóxica).
3) Para uma certa vazão de água suficiente para remoção 
de amônia e resíduos orgânicos (alimento não consumido e fezes), 
a aplicação de aeração contínua pode garantir um significativo 
aumento da capacidade de suporte dos sistemas de alto fluxo sem 
necessidade de aumentar o uso de água. Sob condições de pH 6,5, 
com o mesmo fluxo de água (100m3/h) seria teoricamente possível 
produzir até 133,5 toneladas de tilápias por tanque, certificado o 
fornecimento de adequada potência de aeração ou, até mesmo, a 
injeção de oxigênio líquido. 
4) A capacidade de suporte a pH 6,5 é cerca de 35 vezes 
a capacidade de suporte a pH 8,0 sob as mesmas condições de 
renovação de água. Sob condições de pH acima de 8,0 a capaci-
dade de suporte dos sistemas de alto fluxo pode ser limitada, em 
primeiro plano, pela concentração de amônia tóxica e não pelos 
níveis de oxigênio dissolvido.
diretamente multiplicando a quantidade de ração fornecida por (0,064 
x PB/100).
14.3. Estimativa da capacidade de suporte em sistemas de alto 
fluxo. A capacidade de suporte dos sistemas de alto fluxo depen-
de, dentre muitos, dos seguintes fatores: 1) Qualidade da água de 
abastecimento; 2) Volume de renovação disponível; 3) Consumo de 
oxigênio dos peixes e concentração mínima de oxigênio tolerável; 4) 
Excreção de amônia pelos peixes e nível de amônia tóxica na água; 
5) Disponibilidade de um sistema de aeração contínuo.
É possível obter uma estimativa da capacidade de suporte 
para tanques usados em sistemas de alto fluxo conhecendo a qualidade 
da água de abastecimento (oxigênio dissolvido e temperatura), o fluxo 
de água disponível e o consumo de oxigênio do peixe cultivado. No 
exemplo discutido na seção 13.4., com o fluxo de água disponível 
(100m3/h ou uma troca completa a cada 2horas) foi possível sustentar 
uma biomassa de 3.750kg ou 18,75kg/m3 sem aeração e 30.000kg ou 
150kg/m3 com uma aeração contínua de 3hp.
Também é possível estimar a capacidade de suporte em 
função da máxima concentração de amônia permitida. Para tanto são 
necessárias informações adicionais sobre o pH e a concentração de 
amônia na água de abastecimento, o teor de proteína bruta da ração, 
bem como proceder a uma estimativa da máxima taxa de excreção 
de amônia e máxima taxa de arraçoamento permitida. No exemplo da 
seção 13.4., qual seria a biomassa de peixes sustentável neste mesmo 
tanque, considerando exclusivamente a concentração de amônia como 
fator limitante? Estabelecendo um limite de amônia de 0,05mg N-
NH3/l., temperatura da água de 28
oC, concentração de amônia total 
na água de abastecimento de 0,12mg/l, ração com 32% de proteína 
bruta (PB) e consumo diário na ordem de 2,0% (0,02) da biomasa ao 
final da engorda, vamos analisar duas situações:
Situação 1: água de abastecimento pH = 6,5 (consultar a Tabela 
5)
a) calcular a máxima concentração de amônia total permitida (AMÔ-
NIA máx): de acordo com a Tabela 5, sob condições de pH 6,5 e tem-
peratura 28oC, a percentagem da amônia total na forma não-ionizada 
(forma tóxica) é 0,218. 
AMÔNIA máx = (0,05mg/l.) x 100/(0,218) = 22,9mg/l. ou g/m3
b) calcular a máxima excreção diária de amônia permitida (AMÔNIA 
exc): considerando uma vazão de 100m3/h e uma concentração de 
amônia total de 0,12mg/l. na água de abastecimento.
AMÔNIA exc = (22,9 - 0,12) x (100m3/h) x 24 horas = 54,67 kg/dia
c) calcular a máxima quantidade de ração que pode ser fornecida 
diariamente (RAÇÃO máx): considerando um teor de proteína bruta 
(PB) de 32%.
RAÇÃO máx = (54,67 kg/dia)/(0,064 x PB/100) = (54,67)/
(0,064x0,32) = 2.670kg/dia
d) calcular a máxima biomassa de peixes (BIOMASSA máx): consi-
derando um consumo diário de ração na ordem de 2% do peso vivo. 
BIOMASSA máx = 2.670kg/0,02 = 133.500 kg/tanque ou 667,5kg/
m3 
Situação 2: água de abastecimento pH = 8,0
a) calcular a máxima concentração de amônia total permitida (AMÔ-
NIA máx): de acordo com a Tabela 5, sob condições de pH 8,0 e tem-
Panorama da AQÜICULTURA, maio/junho, 1998
43
crie peixes saudáveis
1Panorama da AQÜICULTURA, março/abril, 2005
14 Panorama da AQÜICULTURA, março/abril, 2005
Uma boa alternativa de cultivo para estuários e viveiros litorâneos
Por: Fernando Kubitza, Ph.D. (Acqua & Imagem)
e-mail: fernando@acquaimagem.com.br
Muitas espécies e linhagens de tilápia são eurialinas, o 
que lhes confere a capacidade de adaptação a ambientes 
de diferentes salinidades, podendo ser cultivadas tanto 
em água doce, salobra ou salgada. Em diversos países o 
cultivode tilápias em águas estuarinas e marinhas tem sido 
avaliado em caráter experimental e, em alguns locais, já se 
consolidou como atividade comercial. O Brasil apresenta um 
grande potencial para cultivo de peixes em áreas estuari-
nas, notadamente na Região Nordeste. No entanto, devido 
à ausência de tradição e ao desconhecimento tecnológico 
do cultivo de peixes marinhos, o uso destas áreas para fins 
de aqüicultura tem se limitado ao cultivo de camarão e de 
moluscos. O cultivo de tilápias em tanques-rede nestes 
estuários deve ser firmemente avaliado, pois pode trazer 
significativos ganhos econômicos, sociais e ambientais para 
as populações locais, hoje severamente impactadas pelo 
declínio da atividade pesqueira.
O Brasil é um dos principais produtores mundiais de cama-
rão marinho e a infra-estrutura instalada para o cultivo do camarão 
pode ser também utilizada em cultivos consorciados (policultivo 
camarão e tilápia) ou mesmo em monocultivo de tilápias com 
mínimas adaptações nos viveiros ou nas estratégias de cultivo. 
O mercado nacional e internacional deste peixe é crescente e a 
infra-estrutura e logística hoje disponível para beneficiamento e 
exportação do camarão pode ser otimizada para o escoamento dos 
produtos da tilápia. A evolução do cultivo de tilápias no Equador é 
um exemplo real. Devido a problemas de sanidade nos cultivos de 
camarão marinho, os carcinicultores apostaram na tilápia. De uma 
produção ao redor de 2.500 toneladas de tilápia em 1998, o Equador 
produziu cerca de 30.000 toneladas em 2002, tornando-se o maior 
exportador de produtos de tilápia na América Latina. 
Tilápias cultivadas em águas salobras e salgadas não apre-
sentam problemas com off-flavor e sua carne geralmente se asse-
melha em sabor à carne de peixes marinhos. A textura (firmeza) 
da carne também é superior a observada em tilápias cultivadas em 
água doce, julgada pela experiência pessoal deste autor. Assim, o 
cultivo de tilápias nestes ambientes, particularmente as linhagens 
vermelhas, pode resultar em produtos extremamente atrativos 
(quanto ao aspecto visual, sabor e preço) para atuar em um nicho 
de mercado hoje (sub) abastecido com espécies marinhas de alto 
valor, como os pargos rosado e vermelho, o robalo, a carapeba, a 
garoupa, entre outros.
 
As espécies e linhagens de tilápias e a relação com a salinidade
No mundo são reconhecidas mais de 70 espécies de ti-
lápias. No entanto, apenas quatro delas contribuem de maneira 
significativa para a composição do pool genético de tilápia hoje 
utilizado nos cultivos comerciais em todo o mundo: a tilápia do 
Nilo (Oreochromis niloticus), a tilápia azul (Oreochromis aureus), 
a tilápia de Moçambique (Oreochromis mossambicus) e a tilápia 
de Zanzibar (Oreochromis uroleps hornorum). Além do cultivo 
como espécie pura, o cruzamento direcionado entre duas ou mais 
destas espécies (hibridações e retro cruzamentos) tem sido utilizado 
para a obtenção de alevinos híbridos ou para o estabelecimento de 
linhagens com determinadas características desejáveis ao cultivo. 
Por exemplo, o crescimento precoce, a obtenção de progênies 
com maior percentual de machos (híbridos), tolerância ao frio, 
resistência à alta salinidade, facilidade de captura, maior eficiência 
reprodutiva, entre outras. Características relacionadas ao mercado 
também foram contempladas, particularmente no que diz respeito 
à obtenção de linhagens vermelhas (que reúne padrões de cor que 
vão do branco ao rosa, ou passam por diversos tons de amarelo, 
laranja e vermelho claro). A seguir serão apresentadas informações 
sobre a tolerância e desempenho das principais espécies e linhagens 
de tilápia em águas salobras e salgadas. 
Para efeitos práticos desta revisão, quando forem feitas 
referências à água doce, salobra ou salgada, sem especificar o 
valor exato da salinidade, o leitor deve ter em mente os seguintes 
limites: água doce < 1ppt; água salgada >20ppt; e água salobra, 
salinidades entre 1 e 20ppt. Com base na divisão prática aqui pro-
posta, em função do regime das marés e do regime de chuvas, os 
ambientes estuarinos geralmente devem ser vislumbrados como 
uma combinação de águas salobras e salgadas. 
Tilápia do Nilo
A Oreochromis niloticus é a espécie mais cultivada no 
mundo, devido, principalmente, a alta prolificidade, maturação 
sexual mais tardia e crescimento mais rápido em comparação 
às espécies e híbridos relacionadas neste artigo. A grande maio-
ria das tilápias produzidas no Brasil carrega material genético 
de O. niloticus (Foto 1).
Foto 1 - Tilápia do Nilo 
(Foto Kubitza)
A tilápia tailandesa (Foto 2 ) introduzida em 1996 e a recém 
introduzida tilápia Supreme são linhagens comerciais desenvolvi-
das na Ásia a partir da combinação de materiais genéticos de O. 
niloticus originários de diversos locais da África. 
15Panorama da AQÜICULTURA, março/abril, 2005
Foto 2 - Tilápia Chitralada 
Tailandesa (Foto Kubitza)
Inúmeros estudos avaliaram a capacidade de adaptação 
desta espécie em cultivos em água salobra e salgada e muitas ve-
zes são visualizados grandes contrastes nos resultados, que podem 
ser atribuídos à pureza genética dos estoques avaliados e a outras 
condições inerentes a cada um dos estudos. Em resumo, parece 
haver um consenso quanto a melhor eficiência reprodutiva desta 
espécie em água doce, comparada a águas salobras. Apesar de 
ser capaz de se reproduzir normalmente em águas com salinidade 
de 7 a 14ppt (ou 7 a 14g de sais/litro), a eficiência reprodutiva e 
o desenvolvimento de pós-larvas são melhores em água doce. A 
sobrevivência das pós-larvas na primeira semana de vida é muito 
baixa em salinidades acima de 10ppt. Metade dos ovos e das larvas 
morre após 96 horas de exposição à água com salinidade ao redor 
de 19ppt. Em água salgada (32ppt) a tilápia do Nilo não é capaz 
de se reproduzir.
Alguns estudos sugerem que a tilápia do Nilo pode ser acli-
matada a águas com salinidade de 30ppt ou até mesmo superior a 
isso. No entanto, o crescimento desta espécie parece ser maximizado 
a salinidades entre 10 e 12ppt (salinidade isoosmótica em relação 
aos fluídos corporais – plasma e fluídos celulares). Há registros de 
que até 16-18ppt o crescimento é semelhante ao observado em água 
doce. Em estudo sobre tolerância à salinidade, foi registrada uma 
salinidade letal mediana (salinidade que mata 50% dos animais) 
ao redor de 46g/l para O. niloticus quando a adaptação à salinidade 
ocorreu a acréscimos entre 2 e 8ppt por dia. 
No Brasil, Ostrenski et al (2000) observaram que a tilápia 
do Nilo pode ser aclimatada a salinidade ao redor de 25ppt. No 
entanto, mortalidade total foi registrada após 90 minutos em água 
com 30ppt. Hena et al (in press) registraram alta mortalidade em 
O. niloticus em salinidades de 23 e 30ppt, atribuída tanto ao es-
tresse osmoregulatório quanto à maior susceptibilidade à doenças. 
Em um experimento piloto com tanques-rede realizado pela Bahia 
Pesca no estuário de Camamu, na Bahia, foram registradas altas 
incidências de ulcerações na pele e alta mortalidade de tilápias da 
linhagem tailandesa em local com salinidade entre 26 e 28ppt. Em 
outro local com salinidade ao redor de 20ppt a sobrevivência foi 
de 76% para a tailandesa. Além da maior salinidade, neste segundo 
local também predominaram correntes de água de maior velocidade 
(entre 10 e 22m/minuto), que pode ter imposto maior estresse aos 
peixes confinados. Em um estudo realizado em aquários avaliando 
o crescimento da tilápia do Nilo em diferentes temperaturas e sali-
nidade (Likongwe et al 1996) também apareceram lesões na pele 
dos peixes quando a salinidade atingiu 16ppt a uma temperatura de 
32oC. Essas lesões não ocorreram na mesma salinidade a tempera-
turas de 28 e 24oC. Wainberg (em comunicação pessoal) observou 
reduzido crescimento, lesões corporais e hemorragias em tilápia 
tailandesa e dois outros híbridos vermelhos em viveiros quando a 
salinidade ultrapassou valores de 16 a 18ppt. 
Em contraste com a tolerância à salinidaderegistrados no 
Brasil, ensaios de crescimento realizados em tanques escavados 
nas Filipinas resultaram em índices de sobrevivência entre 82 e 
94% quando a salinidade da água flutuou entre 14 e 35ppt ou entre 
17 e 50ppt. Alevinos de 3 a 4 gramas atingiram peso médio entre 
80 e 125 gramas após 90 ou 120 dias de cultivo (Watanabe et al 
1997; Guerrero e Guerrero 2004). Essas diferenças talvez sejam 
um reflexo da pureza dos estoques genéticos de O.niloticus nestes 
dois países ou de outras variáveis ambientais nos locais onde foram 
realizados os testes.
Tilápia de Moçambique
A Oreochromis mossambicus ou Tilápia de Moçambique 
é uma das espécies mais tolerantes à salinidade. Sobrevive bem a 
concentrações de sal de até 70ppt e tolera concentrações próximas 
de 120ppt quando adaptada gradualmente. Consegue se reproduzir 
em águas de salinidade próxima a 50ppt. A eficiência reprodutiva 
desta espécie é cerca de três vezes maior em água com salinidade 
entre 9 e 15ppt do que em água doce. No cultivo desta espécie em 
água doce foram registrados altos índices de mortalidade.
A tilápia de Moçambique contribuiu com material genético 
para a formação de diversas linhagens de tilápia. Uma das mais 
conhecidas é o híbrido vermelho denominado Tilápia Vermelha da 
Flórida (TVF). Nas Filipinas está sendo desenvolvido um programa 
para a produção de linhagens de tilápia capazes de crescer bem e 
se reproduzir em água salgada. Este programa tem como base a 
hibridação entre O. mossambicus e O. niloticus. Os pesquisado-
res envolvidos neste programa registraram valores de salinidade 
mediana letal (salinidade que mata 50% dos peixes utilizados no 
experimento) de 54ppt para a tilápia do Nilo, 115ppt para O. mos-
sambicus, e entre 97 a 112ppt para os híbridos recíprocos entre estas 
espécies e seus retrocruzamentos com O. mossambicus.
Tilápia de Zanzibar
A Oreochromis urolepis hornorum ou Tilápia de Zanzibar 
(Foto 3) também tolera e se reproduz em salinidades acima de 30ppt. 
O. hornorum foi oficialmente introduzida no Brasil na década de 70 
pelo DNOCS (Departamento Nacional de Obras Contra as Secas) 
e foi experimentalmente utilizada para a produção do híbrido com 
a tilápia do Nilo. Recentemente, na Estação da CHESF em Paulo 
Afonso foi realizada a hibridação experimental de O. hornorum 
com a tilápia tailandesa (Chitralada), onde foram obtidos híbridos 
F1 100% machos e indivíduos ¾ (retrocruzamento do híbrido com 
a tilápia tailandesa). A tolerância destes híbridos à salinidade deve 
ser avaliada. Se eles apresentarem a tolerância da O. hornorum, 
pode estar aí um bom material genético para o cultivo em águas 
salobras e salgadas. 
Foto 3 – Tilápia de Zanzibar 
(Foto Panorama)
Tilápia Azul
Há registros de cultivos da Oreochromis aureus ou Tilápia 
azul (Foto 4) em água com salinidade entre 39 e 45ppt. No entanto, 
esta espécie apresenta crescimento mais lento que O. spilurus e 
que a tilápia vermelha de Taiwan nos cultivos em água salgada. 
Os híbridos entre O. niloticus e O. aureus parecem se desenvolver 
bem em água salgada (32–34ppt). A tilápia azul é conhecida por 
17Panorama da AQÜICULTURA, março/abril, 2005
Tilápia Vermelha da Flórida 
Esta linhagem foi originada do cruzamento de um macho 
mutante vermelho de O. mossambicus com uma fêmea normal O. 
hornorum (Foto 5).
Em alguns países onde foi introduzida (particularmente 
em países da Ásia, América Central, América do Sul e Ilhas do 
Caribe) a Tilápia Vermelha da Flórida - TVF sofreu ao longo do 
tempo contribuições de outras espécies de tilápia. No entanto ainda 
conserva um forte componente genético de O. mossambicus, o que 
lhe confere grande tolerância a altas salinidades. A TVF cresce 
melhor do que indivíduos puros O. mossambicus. O crescimento 
e a conversão alimentar da TVF são melhores em águas salobras 
(> 10ppt) do que em água doce (1ppt). O crescimento a 18ppt foi 
melhor do que o obtido em água doce ou a uma salinidade de 36ppt. 
O desempenho da tilápia vermelha da Flórida em água salgada é 
bem razoável, sendo possível, a partir de alevinos de 1 a 5g atingir 
peso médio ao redor de 450g em 150 a 160 dias de cultivo com 
conversão alimentar ao redor de 1,8:1 com rações contendo entre 
25 e 32% de proteína. 
A TVF foi introduzida na Colômbia e no Equador, neste 
último como opção para o cultivo em águas de alta salinidade. 
Nestes países alguns híbridos foram derivados desta linhagem, 
como a Red Jumbo 1 (híbrido com O. niloticus). No Brasil, a Bahia 
Pesca realizou um cultivo experimental de tilápias vermelhas hí-
bridas (denominadas Red Jamaica, como as da Foto 6 no estuário 
de Camamu (Bahia). Alevinos de 1g atingiram peso médio final 
de 350 a 550g com 200 dias de cultivo. No entanto, a conversão 
alimentar não foi das melhores, girando entre 2,4:1 e 3,9:1. No local 
de maior salinidade (26-28ppt) e de maior velocidade da água (10 a 
22m/minuto) as tilápias apresentaram manchas esbranquiçadas na 
pele e lesões ulcerativas. Essa possível baixa tolerância à salinida-
des de 26-28ppt nos faz acreditar que a Red Jamaica não carrega 
uma grande contribuição de O. mossambicus. Wainberg também 
observou problemas a salinidades acima de 18ppt (reduzido cres-
cimento e lesões na pele) em tilápias vermelhas oriundas de duas 
localidades do nordeste, o que nos leva a crer que a contribuição 
de O. mossambicus nestes peixes também é reduzida. 
Quanto à capacidade reprodutiva, apesar da TVF ser capaz 
de se reproduzir a salinidades de até 36ppt, a produção de pós-lar-
vas foi duas vezes melhor a 5ppt do que a 18ppt. Acima de 18ppt 
há uma redução acentuada na fertilização dos ovos e na taxa de 
sua maior tolerância ao frio e muito utilizada em cruzamentos onde 
esta característica é desejada. Grande parte da tilápia cultivada na 
China é composta por híbridos entre O. niloticus e O. aureus. 
Foto 4 - Exemplar de 
Oreochromis aureus 
(Foto Kubitza)
eclosão e na sobrevivência das 
pós-larvas. 
Tilápia Vermelha de Taiwan 
Este é outro híbrido 
vermelho originado do cruza-
mento entre O. mossambicus x 
O. niloticus. A Tilápia Vermelha 
de Taiwan - TVT cresce bem a 
salinidades entre 17 e 37ppt. No 
entanto, é bastante sensível ao 
manuseio sob altas salinidades. 
O comportamento de reprodução 
deste híbrido é inibido em água 
salobra ou salgada, o que pode 
ser devido ao legado genético de 
O. niloticus, que também não é 
capaz de se reproduzir em água 
salgada (32ppt). Isso certamente 
é uma vantagem no cultivo em 
águas de alta salinidade, reduzindo os problemas com a superpo-
pulação dos viveiros. No entanto, a produção de alevinos tem que 
ser feita em locais com água doce ou salobra. Guerrero e Guerrero 
(2004) compilaram informações sobre o cultivo experimental de um 
híbrido vermelho entre O. mossambicus e O. niloticus em viveiros 
com água de salinidade ao redor de 32ppt. Alevinos de 8g atingiram 
180g em 120 dias de cultivo. A sobrevivência foi de 83%.
Outras espécies de tilápia tolerantes a altas salinidades 
Apesar de pouco utilizadas em cultivos comerciais, Ore-
ochromis spilurus e Sarotherodon melanotheron são espécies de 
tilápia altamente tolerantes à salinidade. O. spilurus também é 
mais tolerante ao frio do que a tilápia vermelha da Flórida, porém 
apresenta menor crescimento que esta em água salgada. Sarothe-
rodon melanotheron tolera salinidades de até 120ppt, porém cresce 
muito lentamente. Há estudos avaliando a tolerância à salinidade e 
o crescimento de híbridos desta espécie com O. niloticus. Juvenis 
de S. melanotheron apresentaram mortalidade mediana (50% dos 
peixes) a uma salinidade próxima de 125ppt.
Avaliação da tolerância à salinidade 
Em virtude da grande variabilidade na composição genética 
de híbridos e linhagens de tilápia cultivadas no Brasil, a melhor 
maneira de se assegurar da tolerância de uma determinada espécie à 
salinidade é realizar um teste prático. Neste teste, grupos de 20 a 50 
peixes devem ser colocados em caixas ou aquários experimentais. 
Seria interessante realizar

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