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1Panorama da AQÜICULTURA, maio, junho, 2010 2 Panorama da AQÜICULTURA, maio, junho, 2010 3Panorama da AQÜICULTURA, maio, junho, 2010 3 Editorial Jomar Carvalho Filho Biólogo e Editor D a primeira vez que vi na TV a logomarca do Ibama no cantinho da publicidade de uma marca nacional de automóveis, só não caí prá trás porque já estava sentado. Nunca que me passaria pela cabeça que nosso órgão ambiental federal comercializaria a sua logomarca para ajudar uma indústria a vender mais os seus produtos, muito menos automóveis. Mas, isso é outro papo. Onde quero chegar é que o gênio da publicidade que negociou aquele contrato não teve outra intenção a não ser a de passar a mensagem de que nós, incautos telespectadores e possíveis consumidores, estávamos diante de uma indústria sustentável certificada pelo Ibama, apesar de cuspir diariamente milhares de veículos que se embebedam de combustível fóssil e saem por aí despejando “zilhões” de toneladas de CO2. Alguém lá na agência de publicidade descobriu que sustentabilidade, antes de mais nada, é uma palavra que vende. Mas o que, afinal, se esconde debaixo desse enorme guarda-chuva chamado “sustentabilidade”, e de que forma a aquicultura se abriga sob ele? Segundo Wagner Valenti, professor da UNESP, de Jaboticabal-SP, e seus colaboradores, em artigo nesta edição, a simples adoção de práticas e de sistemas que consideram conceitos da sustentabilidade, como o uso de boas práticas de manejo (BMP), são uma forma de caminhar em direção à sustentabilidade, mas, por si só, não é o bastante. Para eles, é essencial que se possa medir a sustentabilidade dos sistemas usados, das técni- cas de manejo e das novas tecnologias que vêm sendo geradas e adotadas, para que se possa avaliar o grau de sustentabilidade do empreendimento. Fernando Kubitza aborda esse tema no seu aspecto mais pragmático, face ao grande desafio que a aquicul- tura tem, ao ter que triplicar, até 2050, a sua produção atual de forma a atender as necessidades de consumo de pescado para alimentação humana. Segundo Kubitza, é preciso enfrentar grandes desafios para reduzir a depen- dência de recursos naturais não renováveis, minimizar a emissão de efluentes, utilizar rações cujos ingredientes não concorram diretamente com a alimentação humana, entre outras medidas importantes. Fiz questão também de incluir nesta edição um artigo publicado na renomada revista Science, que aborda os avanços da carcinicultura rumo à sustentabilidade, que hoje já permitem que a produção de camarões seja feita praticamente sem efluentes, em áreas distantes do litoral, mudando completamente a má reputação que a carcinicultura carrega nas últimas décadas. A sustentabilidade, portanto, não é apenas um conceito da moda para ser usado quando se deseja in- corporar valor e incrementar as vendas de um produto. Como disse Wagner Valenti, o desafio para se construir uma aquicultura realmente sustentável passa por um aprendizado contínuo e pela capacidade de criar sistemas capazes de responder às mudanças ambientais, sociais e econômicas que ainda estão por vir. A todos uma boa leitura 4 Panorama da AQÜICULTURA, maio, junho, 2010 5Panorama da AQÜICULTURA, maio, junho, 2010 A Nativ - Indústria Brasileira de Pescados Amazônicos, locali- zada no Município de Sorriso (MT)- nasceu há cinco anos com uma estrutura planejada para atender o consumidor de peixes de água doce. Espécies como o pintado, surubim e tambaqui, e também a tilápia, são cultivados com total controle dos processos até o produto final, quando então são comerciali- zados como produtos congelados "in natura" e empanados. Leia na página 48 o artigo de capa dessa edição, escrito pelo editor da Panorama da AQÜICULTURA, Jomar Carvalho Filho, resultado de uma visita às instalações da indústria, e saiba como o uso de tecnologia de ponta, matéria prima de primeira e equipamentos de última geração podem garantir produtos de qualidade aos mercados mais exigentes. Editorial Notícias & Negócios Notícias & Negócios on-line Os caminhos para uma piscicultura sustentável Por dentro da carcinicultura: O camarão pode se tornar o novo frango do mar, sem danificar o oceano? Métodos para medir a sustentabilidade na aquicultura Sanidade Aquícola: A experiência do AQUAVET no diagnóstico e tratamento de doenças de tilápias no Brasil Utilização de probióticos na aquicultura - Parte III Conhecendo a Nativ: Tecnologia de ponta, matéria prima de primeira e equipamentos de última geração, garantem qualidade dos seus produtos Fenacam 2010: Evento reúne pelo sétimo ano consecutivo o setor aquícola em Natal Informe Empresarial: Aquativ - Hidrolisados funcionais para aquicultura Ficha de Assinatura da Panorama da AQÜICULTURA Calendário Aquícola Conhecendo a Nativ ...Pág 48 ...Pág 60 ...Pág 65 ...Pág 06 ...Pág 03 ...Pág 10 ...Pág 24 ...Pág 28 Í N D I C E Editor Chefe: Biólogo Jomar Carvalho Filho jomar@panoramadaaquicultura.com.br Jornalista Responsável: Solange Fonseca - MT23.828 Direção Comercial: Solange Fonseca publicidade@panoramadaaquicultura.com.br Colaboradores desta edição: Adolfo Jatobá, Ariel D. Zajdband, Bruno Correa da Silva, Carina Oliveira Lopes, Carlos Augusto Gomes Leal, Daniela Tupy de Godoy, Dircéia Apa- recida Custódio, Erik Stokstad, Felipe do Nasci- mento Vieira, Fernando Kubitza, Frederico Costa, Gláucia Frasnelli Mian, Glei dos Anjos de Carva- lho-Castro, Henrique César Pereira Figueiredo, Janaina M. Kimpara, José Luiz Pedreira Mouriño, Ulisses de Pádua Pereira, Wagner C. Valenti Os artigos assinados são de responsabilidade dos autores. A única publicação brasileira dedicada exclusivamente aos cultivos de organismos aquáticos Uma publicação Bimestral da: Panorama da AQÜICULTURA Ltda. Rua Alegrete, 32 22240-130 - Laranjeiras - RJ Fone/fax: (21) 3547-9979 www.panoramadaaquicultura.com.br revista@panoramadaaquicultura.com.br ISSN 1519-1141 Assinatura: Daniela Dell’Armi & Fernanda Araújo assinatura@panoramadaaquicultura.com.br Assistente: Ricardo Carvalho ricardo@panoramadaaquicultura.com.br Para assinatura use o cupom encartado, visite www.panoramadaaquicultura.com.br ou envie e-mail. ASSINANTE - Você pode controlar, a cada edição, quantos exemplares ainda fazem parte da sua assinatura. Basta conferir o número de créditos descrito entre parênteses na etiqueta que endereça a sua revista. Números atrasados custam R$ 16,00 cada. Para adquiri-los entre em contato com a redação. Edições esgotadas: 01, 05, 09, 10, 11, 12, 14, 17, 18, 20, 21, 22, 24, 25, 26, 27, 29, 30,33, 34, 35, 36, 37, 38, 39, 40, 41, 44, 45, 59, 61, 62, 63, 65, 76, 77, 78, 79, 80, 81, 82, 83, 84, 85, 87, 88, 107, 111, 112 Projeto Gráfico: Leandro Aguiar leandro@panoramadaaquicultura.com.br Design & Editoração Eletrônica: Panorama da AQÜICULTURA Ltda. Impresso na Grafitto Gráfica & Editora Ltda. Os editores não respondem quanto a quali- dade dos serviços e produtos anunciados. Foto: Jomar Carvalho Filho Capa: Arte Panorama da AQÜICULTURA Edição 119 - Maio/Junho - 2010 Os caminhos para uma piscicultura sustentável página 16... ...Pág 34 ...Pág 66 ...Pág 42 ...Pág 16 Por dentro da carcinicultura página 24 ......Pág 57 6 Panorama da AQÜICULTURA, maio, junho, 2010 Notícias & Negócios IV SIMCOPE - O Instituto de Pesca de São Paulo realizará de 20 a 24 de setembro, no Hotel Parque Balneário, em Santos, o IV SI- MCOPE - Simpósio de Controle do Pescado e a REDEPAN - Reunião da Rede Panameri- cana de Inspeção, Controle de Qualidade e Tecnologia de Produtos Pesqueiros. Os eventos discutirão a qualidade de peixes, moluscos e crustáceos em toda a cadeia produtiva. Segundo a diretora da Unidade Laboratorial de Referência em Tecnologia do Pescado do Centro do Pescado Marinho de Santos e pesquisadora do Instituto, Cristiane Neiva, além da sua missão técnico-científica, os eventos possibili- tarão oportunidades de negócios, uma vez que atrairãoempresários e investidores da cadeia produtiva do pescado. O evento ga- nha neste ano um caráter internacional por meio da parceria entre o Instituto de Pes- ca, vinculado à Agência Paulista de Agro- negócios (APTA/SAA/SP), o Centro para os Serviços de Informação e Assessoramento sobre a Comercialização dos Produtos Pes- queiros na América Latina e o Caribe (In- fopesca). Espera-se representantes de mais de 20 países latinos. Para o diretor do Ins- tituto de Pesca, Edison Kubo, fornecedores de insumos e serviços estratégicos estarão em um ambiente organizado, o que deve- rá produzir resultados significativos para o desenvolvimento sustentável do setor. Mais informações pelo fone: (13) 3261-2653 ou www.simcope.com.br. V ENPAP - A quinta versão do Encontro Na- cional de Piscicultores em Águas Públicas, será realizada de 10 a 12 de novembro, no Complexo Turístico, Cultural e Histórico Dr. Roberto do Vale Rollemberg, em Santa Fé do Sul – SP. O evento que discutirá esse ano o tema “O futuro da piscicultura brasileira” é uma boa ocasião para que aquicultores, técnicos e fornecedores de produtos e ser- viços troquem informações e aperfeiçoem seus conhecimentos. Segundo André Camar- go, presidente da ANPAP - Associação Na- cional de Piscicultura em Águas Públicas, o encontro é também uma oportunidade para os aquicultores se reunirem em torno da II Aquishow, feira que será realizada paralela- mente ao evento. Mais informações sobre o V ENPAP pelo e-mail: sema@santafedosul. sp.gov.br ou fone: (17) 3631-2821. NOVA LINHA - A maltaCleyton, uma das principais empresas do mercado mundial de aquicultura, lançou durante a última Fenacam a sua inovadora linha de produ- tos “Tilápia Evolution”, com o conceito de proteína ideal que contém quantida- des precisas de aminoácidos essenciais que compõem as proteínas da tilápia. Esse conceito possibilita a redução dos custos de produção, a maior digestibili- dade e, consequentemente, um aumento no lucro dos produtores. A maltaCleyton inova também no processo de produção adicionando as vitaminas e probióticos nas rações em baixas temperaturas, não diminuindo, assim, os benefícios desses com as altas temperaturas no processo de extrusão. A empresa aproveitou para apresentar também aos participantes do evento os resultados das suas rações anti-stress para camarão e para beijupi- rá, que alcançaram níveis de FCA (Fator de Conversão Alimentar) jamais vistos na piscicultura brasileira. As rações anti-stress da maltaCleyton reduzem a taxa de mortalidade e garantem uni- formidade no tamanho dos camarões e, principalmente, retorno econômico. A maltaCleyton informa aos seus clientes que agora eles podem contar também com o plano comercial exclusivo “Mal- ta Index”, no qual os produtores são beneficiados com uma redução de pre- ços das matérias-primas. 7Panorama da AQÜICULTURA, maio, junho, 2010 Notícias & Negócios LICITAÇÃO - Associações de pescadores e aquicultores poderão receber do Ministério da Pesca e Aquicultura caminhões frigorífi- cos de transporte de peixe e equipamentos para processamento cedidos mediante Ter- mo de Permissão de Uso. Os selecionados através de licitações, arcarão com todas as despesas relativas à manutenção dos ca- minhões, além de obrigações legais e en- cargos, como licenciamento junto ao órgão estadual de trânsito. Os caminhões pode- rão ser usados por cinco anos, podendo a permissão ser renovada. Quanto ao uso de equipamentos para processamento de pes- cado, esses deverão ser destinados exclu- sivamente à elaboração de produtos para a alimentação escolar. Os kits de proces- samento são compostos de seis máquinas: despolpadeira, seladora manual, balança eletrônica, caixas isotérmicas, máquina de congelamento e caixas de polietileno para acondicionamento do produto. Serão ana- lisadas também pelo MPA propostas para formalização de parcerias com o objetivo de prestar assistência, capacitação e ex- tensão, e escolhidos projetos para incuba- ção de cooperativas. ISCA VIVA I - Segundo documento en- viado pelo Sindicato das Indústrias de Pesca de Itajaí e Região - SINDIPI, ao Ministério da Pesca e Aquicultura, o Bra- sil captura anualmente em sua ZEE cerca de 25 mil toneladas de atum, dos quais 95% são representados pelo bonito listra- do (Katswonus pelamis), que é capturado com vara, anzol (sem fisga) e isca viva (sardinha), num sistema considerado de alta sustentabilidade, principalmente pelo fato de não capturar fauna acompanhan- te. Entretanto, a frota, composta por 50 embarcações (17 no RJ, 27 em SC e 6 no RS), está encontrando muita dificuldade para ter acesso aos pesqueiros de sardi- nhas em decorrência do crescente número de zonas de exclusão, representadas pela criação de áreas de proteção ambiental e reservas extrativistas, além de leis esta- duais e municipais. Essas restrições agora obrigam a frota a se deslocar para áreas mais distantes para capturar a isca, o que gera dias de espera, grandes deslocamen- tos com alto consumo de combustível e grande concentração de embarcações nas restritas áreas onde a captura é permiti- da, tornando a atividade pouco sustentá- vel. Segundo o SINDIPI, se nada for efeti- vamente feito, muito em breve esse tipo de pescaria, um dos poucos considerados sustentáveis pela FAO, irá desaparecer. Nos últimos anos, todas as propostas en- caminhadas pelo setor pesqueiro, Univer- sidade de Itajaí, IBAMA/CEPSUL e MPA, para solucionar esse problema defrontam- se com problemas de execução em função das restrições ambientais. ISCA VIVA II - O SINDIPI acredita que a tilápia pode ser a melhor solução para subs- tituir a sardinha, acabando de vez com os conflitos que existem entre a frota atuneira e a pesca artesanal e o turismo, etc.. O SIN- DIPI solicitou formalmente que o Ministério da Pesca e Aquicultura tome a frente e in- terceda para que um experimento utilizan- do tilápias seja finalmente realizado para se conhecer a viabilidade desta proposta. Uma longa bibliografia foi anexada e mostra que são mínimos os riscos ambientais do uso da tilápia. Quem cria tilápias em viveiros sabe que o peixe precisa fazer os ninhos para se reproduzir, o que seria impossível no leito oceânico a milhas de distância do litoral. O experimento envolveria três em- barcações e um único produtor de alevinos de tilápia e seria acompanhado de perto por técnicos de algum órgão ambiental. A 8 Panorama da AQÜICULTURA, maio, junho, 2010 Notícias & Negócios idéia é avaliar se realmente os atuns serão atraídos pelas tilápias e, em caso positi- vo, seria elaborado um protocolo de uso do peixe de forma segura. Essa seria mais uma utilidade da tilápia, que faz tempo está associada a milagres de multiplicação. O apelido de peixe de São Pedro, realmente lhe cai muito bem. PLATAFORMA NUTRIAQUA - 21 pesqui- sadores de universidades, instituições de pesquisa, representantes da indústria de ra- ções e do Ministério da Pesca e Aquicultura reuniram-se entre os dias 21 a 23 de junho, em Florianópolis-SC, com o objetivo de compilar as exigências nutricionais e definir prioridades de pesquisa em nutrição para as principais espécies de peixes produzidos no Brasil. A iniciativa, liderada pela professora do Departamento de Aquicultura da UFSC, Débora M. Fracalossi, e pelo Professor da ESALQ-USP, José Eurico P. Cyrino, foi o ponto de partida para a criação da Plata- forma NutriAqua, projeto que recebeu apoio financeiro do MPA. A Plataforma NutriAqua visa produzir um aplicativo que conterá o banco de dados com as exigências nutricio- nais dos peixes produzidos pela aquicultu- ra brasileira, a composição dos alimentos, além de uma ferramenta específica para a formulação de rações para peixes. Além disso, está sendo elaborada também uma publicação que disponibilizará as informa- ções sobre essas exigências nutricionais das espécies alvo, as tabelas de composição de ingredientes comumente utilizados em ra- ções para peixese outras informações de interesse sobre nutrição e alimentação. A expecativa, segundo Débora Fracalossi, é que o projeto, além de organizar a informa- ção disponível nessa área de conhecimen- to, possa apontar as lacunas existentes e as necessidades para pesquisas futuras. PIRARUCU DE RONDÔNIA - O “Projeto Pi- rarucu de Rondônia”, uma ação da SEAGRI/ RO – Secretaria de Estado da Agricultura, Pecuária e Regularização Fundiária de Ron- dônia, já conta com cerca de 20 produtores que juntos abastecem com regularidade o frigorífico da Mar&Terra, em Itaporã, no Mato Grosso do Sul, com cinco toneladas mensais de pirarucu fresco. O projeto vem desenvolvendo experimentos nas unidades produtivas onde rações estão sendo testa- das, utilizando diferentes fontes protéicas, com o objetivo de aumentar a eficiência na engorda e baixar ainda mais os custos de produção. Os produtores em geral possuem 2-3 casais de reprodutores nas suas proprie- dades, que se reproduzem com regularida- de. Quatro produtores engajados no projeto se especializaram em adquirir o fruto dessas desovas quando ainda estão com 2 a 4 cm (R$ 1,00 a 2,00 a unidade) para fazer a re- cria até os 15–20 cm, quando então reven- dem aos produtores a R$ 10,00 a unidade (aproximadamente R$ 0,50/cm). Segundo o médico veterinário Carlindo Pinto Filho, gerente de Aquicultura e Pesca da SEAGRI, o atual volume é de cinco ton/ mês, e a ex- pectativa é de que a 6-7 meses este mesmo volume seja comercializado semanalmente. FURG NO COMITÊ DO CNPQ - O coorde- nador da Estação Marinha de Aquicultura (EMA) e integrante do Instituto de Oceano- grafia da Universidade Federal do Rio Gran- de (FURG), professor Wilson Wasielesky, foi nomeado membro titular do Comitê de Assessoramento de Aquicultura (CA-AQ) do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). O manda- to terá a duração de três anos. Os Comitês de Assessoramento do CNPq destinam-se a prestar assessoria à Instituição na formu- lação de políticas e na avaliação de pro- jetos e programas relativos a sua área de competência, bem como na apreciação das solicitações de bolsas e auxílios. 9Panorama da AQÜICULTURA, maio, junho, 2010 Notícias & Negócios DPA GAÚCHO - A governadora do Rio Grande do Sul, Yeda Crusius criou o Departamento de Pesca e Aquicultura do Estado. A estrutura, ligada à Secretaria da Agricultura, Pecuária, Pesca e Agronegócio (Seappa), tem a finalidade de promover, estimular e articular as atividades pesqueira e aquícola, além de formular políticas para a implantação de programas e ações que desenvolvam o setor. O De- partamento de Pesca e Aquicultura contará com recursos humanos provenientes do remanejamento do quadro de pessoal da Seappa. A governadora salientou que o Departamento será um fórum de dis- cussões e de organização para o setor. No Rio Grande do Sul, as espécies mais difundidas são as carpas, com 90% da preferência dos criadores, seguidas pelas tilápias. SAFRA 2010/2011 - O MPA disponibilizará R$ 1,5 bilhão em cré- dito na safra 2010/2011 para o desenvolvimento do setor, recursos 50% maiores que os registrados na safra anterior. Os recursos ofi- cializados pelo ministro Gregolin durante o lançamento, em 28 de junho, do Plano Safra das Águas poderão, de acordo com o ministro, serem ampliados já que a meta do governo é a de pro- duzir 1,430 milhão de toneladas de pescado este ano. O intuito do financiamento é o de contribuir para a redução do preço do pescado brasileiro para aumentar o consumo do produto. Dados do MPA revelam que a escolha do pescado nos supermercados vem registrando crescimento de 15% ao ano, nos últimos três anos. A fonte de recursos é o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) Alimentos e, entre os agentes finan- ceiros, estão Banco do Brasil, Banco do Nordeste do Brasil e Banco da Amazônia. A novidade é o crédito para modernização da infra- estrutura da pesca e aquicultura (Moderinfra), com juros de 6,75% ao ano e prazo de pagamento de até 12 anos, recursos que serão destinados a cooperativas ou grandes produtores individuais que necessitem de câmaras frias para armazenamento. MAIS CONCESSÕES - O ministro Gregolin entregou, no dia 24 de junho, concessões de uso não onerosas, como parte de um pro- grama coordenado pelo MPA em parceria com o governo estadu- al, que beneficiarão 632 famílias dos municípios de Tucuruí e Breu Branco, no Pará, com o cultivo de peixe da espécie pirapitinga em tanques rede, no lago da Hidrelétrica de Tucuruí. O Ibama estuda também a liberação, do cultivo do tambaqui. A expectativa é de que a produção gere uma renda média de R$ 1.200,00 para cada família beneficiada. O governo do Pará, via Secretaria de Estado de Pesca e Aquicultura (Sepaq), garantirá a assistência técnica às famílias, enquanto o MPA doará mais de 2 mil tanques. No Pará, segundo estado maior produtor de peixe do Brasil, a meta do governo é pro- duzir mais 20 mil toneladas de peixe ao ano. AQUAVISION - A produção sustentável de peixes, incluindo cama- rão, tilápia e salmão, foi o tema principal do Aquavision 2010, em Stavanger, Noruega. Mais de 300 empresários, especialistas, téc- nicos e consultores de 25 diferentes países, inclusive Brasil, Chile e Peru, participaram do encontro, iniciativa da Nutreco, empresa líder global em nutrição para produção animal e aquacultura. Se- gundo Eduardo Amorim, presidente da Nutreco Fri-Ribe, que representou o Brasil no Aquavision 2010, o tema produção sus- tentável é fundamental para vencer os desafios do aumento da oferta mundial de alimentos sem esquecer o meio ambiente e a questão social, parâmetros de inquestionável relevância no cenário atual. “O Brasil tem potencial tremendo para a aqui- cultura, e nada melhor do que crescer nesse mercado com sus- tentabilidade, ressalta Amorim. Durante a abertura do evento, Wout Dekker, CEO da Nutreco, a grande lição a ser aprendida por todos os envolvidos na cadeia da produção de alimentos é que nos últimos dez anos se fez pouco em comparação com os desafios do futuro e as empresas têm de ajustar suas posturas hoje. "Estamos ficando sem tempo para fazer todas as mudan- ças necessárias”, disse. De acordo com o estrategista-chefe da Shell, Karls Rose, “Não é apenas o aumento da população que nos desafia, mas também as mudanças globais em várias áreas, como saúde, conhecimento, meio ambiente. A água sem dúvida é um componente essencial nesse processo. Precisamos res- peitar sua condição, saber de suas limitações e trabalhar com inteligência para aproveitar esse bem a favor da humanidade. E, cá entre nós, as pessoas estão ficando cada vez menos compla- centes com quem não respeita o meio ambiente”. Stavanger é a quarta maior cidade da Noruega e capital de duas importantes indústrias do país: o petróleo e o salmão. 10 Panorama da AQÜICULTURA, maio, junho, 2010 Notícias & Negócios On-line Participe da Lista de Discussão Panorama-L Inscreva-se no site www.panoramadaaquicultura.com.br De: Newton Rodrigues newtonrodrigues@uol.com.br Para: lista@panorama-l.com.br Assunto: Pangassius Essa semana conversei com o pesquisador do CIRAD Jérôme La- zard sobre a produção de Pangassius. Sabemos que ele esteve no Vietnã algumas vezes e os franceses participaram ativamente do desenvolvimento do protocolo de reprodução da espécie, da sua domesticação. Informações que ele me passou e que achei inte- ressantes: o Pangassius criado com ração é inteiramente expor- tado; o Pangassius criado com fertilização orgânica é consumido no país; toda a cadeia do Pangassius se organiza em uma área em que os pontos mais distantes estão entre 100 e 150 km entre si; a criação do Pangassius que é exportado se dá por empresas em que muitas têm gestão familiar, mas que emprega outras pessoas que não são da família; e, a cadeia possui poucos elos no local - Produtor > processadora > comercialização para exportador. De: Minoru Nagayama nagayama@ig.com.br Para: lista@panorama-l.com.brAssunto: Re: Pangassius Qual a mágica chegar aqui a R$ 2,00 o filé? A baixíssima car- ga tributária vietnamita, legislação trabalhista inexistente, custo de frete ridiculamente baixo, juros para financiamento em patamares internacionais. Clima favorável, água abun- dante. Além disto, eles só pensam em mega escala. Tente comprar qualquer coisa no sudeste asiático, eles logo come- çam a falar em um container fechado (20 ton.). Por causa da mega escala, a margem de lucro que eles utilizam é extrema- mente baixa, acredito que o produtor receba algo em torno de 20 ou 30 centavos por kg. Os pagamentos são adiantados e a produção só começa depois de pago 50% do valor da mercadoria encomendada. Depois da mercadoria pronta, an- tes do embarque o comprador precisa depositar o restante do valor do produto. Sem pagamento, não há embarque. En- fim, baixos impostos, baixos salários, baixa margem de lucro, inadimplência zero, estoque zero, são fatores que ajudam bastante a reduzir os custos de produção e exportação. De: Sergio Zimmermann sergio@plugin.com.br Para: lista@panorama-l.com.br Assunto: Re: Pangassius Talvez ainda mais perigoso que o panga, sejam os subsídios da tilápia da China (onde também morei alguns anos implantando projetos de tilápia). Como o custo de produção da tilápia Chinesa é tão baixo se 80% da produção é realizada em áreas mais frias que o Rio Grande do Sul, e a cadeia produtiva pára por quatro me- ses? Os governos do Vietnã e da China são muito agressivos em termos de competição internacional com qualquer produto que tenha economia de escala, algum consumo interno e se mostre exportável. Aí tem todo o apoio político e cientifico (às vezes até de forma ilegal como o retorno do exportado em isenção de impostos). Essa é a situação da Ásia como um todo, devemos aprender com eles. O Brasil em termos de aquicultura ainda é um país muito novo, tímido, modesto, dependente do baixo preço dos grãos e da nossa pródiga natureza para termos alguma com- petitividade lá fora ou evitar que produtos semelhantes acabem com a nossa produção para o mercado interno. Porém, teremos de nos profissionalizar e mudar nossas políticas e práticas prote- cionistas se quisermos nos manter competitivos. De: Ricardo Y. Tsukamoto 11Panorama da AQÜICULTURA, maio, junho, 2010 Notícias & NegóciosOn-line De: Ricardo Y. Tsukamoto bioconsu@uol.com.br Para: lista@panorama-l.com.br Assunto: Re: Pangassius Sempre fiquei intrigado com o mérito dos chineses em conse- guir criar tanta tilápia em um clima tão frio. Se fosse nos pa- íses do sudeste asiático, com um clima mais quente e ameno, até se entenderia a supremacia da tilápia. E a minha admira- ção ficou ainda maior com a rápida recuperação da indústria da tilápia na China após o inverno devastador de alguns anos atrás. Tal patamar de competição mostra como somos ama- dores, tanto em nível de estratégia governamental, de infra- estrutura, de carga tributária e na cadeia produtiva. De: Sergio Tamassia tamassia.panorama@gmail.com Para: lista@panorama-l.com.br Assunto: Re: Pangassius A minha opinião é que, além deles disporem de peixes muito interessantes, como o panga e a tilápia, eles têm vietnamitas e chineses por lá, eles têm governo vietnamita e governo chinês por lá, ao passo que aqui temos brasileiros e governo brasileiro! É apenas esta diferença, pois ao que tudo indica, lá eles acreditam que o consumidor maravilha comprará o peixe maravilha se, e so- mente se, o preço for atrativo ao consumidor e não ao vendedor; eles dispõem de apoio governamental para elaborar programas de desenvolvimento e continuar apoiando estes programas por vários anos; eles dispõem de pesquisa e principalmente de “ex- tensão rural” comprometida com estes programas governamen- tais (políticas públicas e não programas político-partidários dos de plantão); eles organizam as cadeias produtivas sob a batuta do governo que aplica uma política pública de longa duração e não como aqui que vai ao sabor dos interesses da “assistência técnica empuroterápica”; eles não acreditam que qualquer um, independente do tamanho e da escala, pode exportar de maneira competitiva; eles não acreditam que vão ficar ricos em função dos programas político-partidários dos de plantão; eles não acre- ditam que com um canetaço tudo se resolve....etc.. De: Francisco Leão f_leao@hotmail.com Para: lista@panorama-l.com.br Assunto: Re: Pangassius Eu não seria tão simplista. Nós produtores ainda estamos a anos- luz de distância do conhecimento necessário para a produção eficiente. Ainda existe uma grande distância entre o conheci- mento gerado na academia e a transferência para o campo. Tenho visto projetos gigantescos com falhas gravíssimas estruturais e que a gente vê depois “o bicho pegando”. Depois, China e Vietnã têm subsídio pesado em cima da produção de interesse nacional. 12 Panorama da AQÜICULTURA, maio, junho, 2010 Portanto, acho que eles estão exportando subsídio, daí o preço tão baixo. Finalmente, da forma que você coloca a questão, só falta você querer que o governo também dê a comida na boca do peixe. E isto não acontecerá jamais. Todos aqui da lista sabem da minha opinião sobre a criação do MPA, a qual, por educação e respeito aos profissionais do ministério, eu discuto apenas nos e-mails privados. Intervenção do Governo não resolveu o proble- ma da agricultura, da integração racial, da discriminação racial, da integração nacional e eu vou parando por aqui porque são 35 ou 36 ministérios. Dá para concluir que o governo também não vai resolver o problema da pesca e da aquicultura. Se eu tivesse que resumir em uma palavra a problemática da aquicultura do oriente versus a do Brasil, seria EDUCAÇÃO! Acho que ainda fal- tam uns 2000 anos para nós começarmos a pensar como eles. Esta é a diferença. Eles são supremamente objetivos enquanto que nós somos latinos! É isso! De: Sergio Zimmermann sergio@plugin.com.br Para: lista@panorama-l.com.br Assunto: Re: Pangassius Sobre o fato dos chineses produzirem em clima tão frio ou pior que o nosso do sul, é que durante os meses de verão o clima é extremamente quente como o nosso, ou talvez até mais quente, tanto que a principal causa de mortalidade por lá é o Strepto- coccus spp. quando a água passa dos 31oC (chega facilmente aos 34 ou 35oC). Isso ocorre de junho a setembro no pico de cresci- mento, mas como o clima é subtropical, existem as frentes frias todo o ano e a temperatura da água cai facilmente aos 17-20oC, mesmo durante o verão quando as frentes frias forem persisten- tes. As temperaturas no hemisfério norte são bem mais baixas para uma mesma latitude, então apesar de 90% das larviculturas se localizarem na “ilha tropical de Hainan” (mesma latitude de Vitória, ES), peguei vários dias com 10oC no ar e 13oC na água, lembrando muito as temperaturas de Floripa. Tanto é verdade, que a reprodução fora de estufas é realizada somente em 8 meses do ano, e a maior parte dos cultivos, apesar de ficarem em lati- tudes semelhantes a São Paulo e Paraná, apresentam um clima de Uruguai ou Argentina Central. Uma percentagem significativa dos produtores usa o cruzamento de Nilótica com Áurea para evitar as mortalidades devido às frentes frias fora de época e para tentar manter os animais por mais tempo possível ao longo do inverno (escalonar colheitas). Quanto aos comentários do Ri- cardo, é curioso que mais de 80% da tilápia produzida no mundo seja cultivada justamente em clima subtropical ou temperado (Egito, sul do Brasil ou no norte da Tailândia). Portanto, não é de se estranhar que a cada dez anos ocorram 2 ou 3 “invernos devastadores”. No caso da China, o devastador não foi tanto em animais grandes, pois o frio foi em dezembro e janeiro, e a sa- fra havia sido praticamente toda colhida. O prejuízo maior foi na produção de juvenis (também em estufas) da próxima safra, atrasando a estocagem e ocasionando um vazio momentâneo de 4 a 5 meses. Houve também perda de reprodutores até mesmo13Panorama da AQÜICULTURA, maio, junho, 2010 Notícias & NegóciosOn-line nas estufas de Hainan, onde a temperatura da água chegou aos 8oC em viveiros próximos ao mar. O ano novo chinês que se comemora em fevereiro, representa o final do inverno e coincide com o início da maior demanda de alevinos (tem um pico de consumo em maio, e no caso de Hainan um segundo pico em outubro para uma segun- da safra de inverno). As vendas de alevinos praticamente param de outubro a fevereiro. Com um período de cultivo fora de estufas de 8-9 meses (depende da área em questão), o ganho de peso já não é tão importante, mas sobrevivência sim (neste caso influi muito na conversão), bem como o rendimento de filés (preço do lote em algumas integrações). Algumas empresas investem pesado em melhoramento no ganho de peso para colocar os animais mais cedo no mercado, e outras investem no melhoramento da Áurea para tolerância ao frio e salinidades elevadas em viveiros de cama- rão (policultivo) e no cruzamento com a Nilótica para aumentar o rendimento de filé, velocidade de crescimento e vigor híbrido. Não é raro ver na China uma boa parte da cadeia produtiva da tilápia (larviculturas, processadoras ou mesmo engordas) trabalhando so- mente 6 a 8 meses ao ano e no resto do tempo serem convertidas a outra atividade ou simplesmente manter 80 a 100% da estrutura ociosa. Isso também é possível porque as leis trabalhistas (que existem e são semelhantes às nossas) raramente são cumpridas por todos, e acabam viabilizando essa situação de ineficiência. O men- cionado elevado patamar de competição dos chineses acaba sendo uma soma de economia de escala com uma série de estratégias go- vernamentais sem intenção de serem subsídios (baixos custos de aluguel de terras, auxílio na construção de viveiros, energia elétrica a preço de custo), organização dos pequenos produtores em gigan- tescas associações compounds com mega benefícios no custeio da safra, um enorme poder de negociação de insumos dos compounds com assistência técnica gratuita (do governo ou dos fornecedo- res pressionados pela competição), além de uma carga tributária favorável (às vezes até desleal, pois a cada 10 dólares exportado retorna 1 dólar em impostos - isso não é aceito pela OMC, pois seria baixar artificialmente 10% do valor do produto). Também se nota um enorme poder dos atravessadores (novos empresários oportunistas que fazem a complicada ponte entre os consumidores finais e os produtores de insumos). Por exemplo, uma larvicultura grande que produza mais de 100 milhões por ano em alevinos, vende cerca de 90% da produção para somente 6 ou 7 atravessa- dores poderosos - às vezes parte do próprio governo local - e que juntos praticamente ditam os preços e as margens dos principais fornecedores. Desta forma, promovem uma constante competição, somando os beneficiados de uma enorme economia de escala e o contentamento de uma margem pequena em cada degrau da cadeia produtiva. Finalmente, outro fator de importância é que a 14 Panorama da AQÜICULTURA, maio, junho, 2010 15Panorama da AQÜICULTURA, maio, junho, 2010 China colhe em média animais de 8 meses com 600 gramas, e que somente 20% do total são exportados, ou seja, as processadoras compram a baixos preços um “subproduto do mercado interno” que indiretamente acaba também subsidiando as exportações. Nos últimos 10 anos, vendo a tilapicultura na China, fica bem claro que existe uma globalização da atividade também por lá. É marcante o subsídio disfarçado e a tendência ao aumento dos custos de produ- ção pelos aumentos de salários, valor dos insumos (especialmente a ração que é 10% mais cara que aqui), bem como da margem de lucro dos atravessadores privados que cada vez é maior. Porém, ainda estamos muito longe da competência em se produzir com preços baixos, típica no continente Asiático. De: Sergio Tamassia tamassia.panorama@gmail.com Para: lista@panorama-l.com.br Assunto: Re: Pangassius Pode ter até protecionismos, mas pelo e-mail do Zimmermann parece que a estória poderia ter muitos outros componentes E um deles, infelizmente, é que parece que eles têm eficiência produtiva com muitos ganhos de escala e uma governança po- sitiva. Aí a coisa fica difícil. Talvez somente a intercessão do “todo poderoso” possa resolver o problema da aparente inefici- ência que parecem ter incorporado em seu espírito mais profun- do os cultivos de fora da China, e do panga fora do Vietnã. Se eu já tinha dúvidas se o papel do SEAP/MPA era o de organizar os trenzinhos da alegria para percorrer o mundo vendendo ilusões sobre os peixes maravilhas nativos, que praticamente existem somente no papel, eu tenho certeza que o papel do MPA não é cuidar de equilíbrios de preços de commodities em mercado internacional. O MPA ainda é uma criancinha, não chegou nem na fase da “aborrecência”. Mas, com certeza, o MPA deveria é cuidar com muito mais zelo das questões que levam a produção nacional a apresentar estes custos “meio irrealistas em relação aos produtos concorrentes”. Deveria formular políticas e opera- cionalizar fontes de recursos que permitam desenvolver bases para uma cadeia produtiva nacional desde o ovo até a mesa, a preços competitivos (como fazem o Panga no Vietnã e a Tilápia na China). Se o que é atributo do MPA, este parece que ainda está deixando muito a desejar, imagine ele partir para tratar de relações comerciais internacionais. Isto não é assunto para criancinha. É coisa de gente grande. De: Francisco Leão f_leao@hotmail.com Para: lista@panorama-l.com.br Assunto: Re: Pangassius Não acho que seja um problema tão simples, nem que o governo seja culpado de tudo. Também não acho que um ministério a mais vai resolver o problema que, antes de tudo, é uma questão de ati- tude de todos os membros da cadeia. A cadeia não está montada. O piscicultor não sabe o que fazer com o peixe produzido (vender com lucro) porque não sabe fazer conta. Quem está “dando certo” é quem entrega o peixe ao consumidor final ou atacado, principal- Notícias & NegóciosOn-line mente os que verticalizaram a cadeia. Mesmo assim, alguns “ver- ticais” de vez em quando balançam! O resto é como eu: vende pra pesqueiro por comodidade ou por falta de educação empresarial. Não adianta colocar a culpa só no governo. Cada um tem que as- sumir a sua parte nesta equação. De: Ricardo Y. Tsukamoto bioconsu@uol.com.br Para: lista@panorama-l.com.br Assunto: Re: Pangassius Caro Sérgio Zimmermann, muito obrigado pelos interessantíssi- mos esclarecimentos! Você mostrou que o famoso mote brasi- leiro de “país abençoado por Deus” de nada serve para ter com- petitividade no mundo globalizado. Ser organizado em nível privado e governamental se tornou muito mais importante do que ter as condições favoráveis de território amplo disponível, água abundante, clima quente, soja na porta, e outros. Nas últimas duas décadas, o Brasil vem regredindo a qualidade de sua exportação, só conseguindo vender produtos primários aos outros países. Até a soja agora só é exportada bruta, em grão, quando antes se exportava seus produtos processados (óleo, farelo). Será que a acirrada competição lá fora na área aquícola fará o Brasil aposentar os sonhos da tilápia para exportação, além de crescer como grande importador de peixes (merluza, salmão, tilápia, pangasius e outros)? E a piscicultura brasileira, se destinará a abastecer os mercadinhos locais? De: Itamar Rocha ipr1150@gmail.com Para: lista@panorama-l.com.br Assunto: Re: Pangassius Caro Sérgio Zimmermann, parabéns pelas informações e coloca- ções sobre as condições da produção de tilápia na China. Apenas quero aproveitar o ensejo, para acrescentar que no tocante às exportações, o diferencial de competitividade tem como base: a carga tributária, a política cambial e trabalhista, nada que os produtores brasileiros não possam conseguir, desde que supe- rem suas crônicas dificuldades de se organizarem, no contexto de toda a cadeia produtiva. Não precisaprocurar exemplos de fora, basta seguir os exemplos de frango, suíno e bovino, que juntos participam com 34% do trading mundial de carnes!!!! É evidente que o mercado interno, desde que protegido das investidas de produtos oriundos de países que efetivamente apóiam seus produtores, apresenta condições excepcionais para absorver a produção advinda da piscicultura. Para evidenciar a peculiaridade da situação brasileira, é suficiente a simples aná- lise de alguns dados: o consumo interno de pescado é de 6,5kg per capita ano, enquanto a média mundial é de 17kg per capita ano. De fato, todos querem ter direito à exportação, por isso, precisamos disponibilizar aos produtores brasileiros as mesmas ferramentas de competitividade dispensadas pelos demais pa- íses aos seus exportadores, o que passa, necessariamente, por uma organização da base produtiva, que é a única forma de pressionar a classe política e os governantes. 16 Panorama da AQÜICULTURA, maio, junho, 2010 Por: Fernando Kubitza, Ph. D. Acqua Imagem Serviços Ltda fernando@acquaimagem.com.br Os Caminhos para uma e três bilhões de habitantes na década de 60, o planeta abriga hoje quase 7 bilhões e deverá sustentar 9 bilhões ainda na metade deste século. Com isso será cada vez maior a demanda por água, alimento e espaço, bem como a pressão sobre o uso de energia, combustíveis fósseis e outros recursos naturais. Além disso, vamos ter mais lixo e esgoto no ambiente, em particular nos ecossistemas aquáticos. Com a produção da pesca já no seu limite, até 2050 a aquicultura mundial deverá triplicar seu volume de produção (hoje ao redor de 70 milhões de toneladas) para atender a demanda por pescado. O grande desafio da aquicultura é realizar isso de modo sustentável, reduzindo sua dependência em recursos naturais não renováveis, minimizando a emissão de efluentes, utilizando alimentos que não concorram diretamente com a alimentação humana, fazendo um uso integrado ou compartilhado dos recursos hídricos, otimizando sua produtividade, reduzindo os custos de produção e comercialização, preservando e, até mesmo, recuperando o ambiente, promovendo desenvolvimento e satisfação social, entre outras demandas que contri- buam com a sustentabilidade do setor e do planeta. O pescado é a proteína animal mais consumida em todo o mundo, principalmente entre as populações mais pobres do planeta. Anualmente cerca de 95 milhões de toneladas são capturas via pesca e mais 70 milhões são produzidas na aquicultura. Em 2050 a aquicultura precisará produzir cerca de 210 milhões de toneladas de pescado para atender a demanda mundial. Nas fotos acima tilápias expostas em banca de mercado livre nas Filipinas e peixes da aquicultura (salmão, tambacu, tilápias e trutas) em supermercado no Brasil O que é um empreendimento sustentável? Aspectos ambientais, econômicos e sociais devem ser atendidos para que um empreendimento ou atividade seja sus- tentável. A atividade precisa ser rentável, seja do ponto de vista do retorno adequado aos seus investidores, do desenvolvimento econômico local e regional, da geração de divisas com exporta- ção, ou mesmo, como estratégia de segurança alimentar e alívio da fome em um determinado país. Precisa promover bem estar social, através da oferta de emprego e renda, da criação de um ambiente agradável de trabalho e da criação de oportunidades de desenvolvimento social em seu entorno. Piscicultura Sustentável 17Panorama da AQÜICULTURA, maio, junho, 2010 c a b d Piscicultura Sustentável Os centros urbanos ganham mais habitantes todos os anos e as cidades vão ocupando cada vez mais área e consumindo cada vez mais recursos. O volume de esgoto gerado aumenta e este invariavelmente é lançado nos ambientes aquáticos. A produção animal, inclusive a aquicultura, quando se desenvolve sem organização também pode causar impacto ao ambiente. Não podemos esquecer de nossa responsabilidade com as gerações futuras, preservando o que ainda existe e, imperativamente, recuperando o que foi degradado. Nas fotos, em sentido horário: a) município de Ituberá-BA, ocupação de áreas de mangues pelo crescimento urbano e aporte de esgoto diretamente no estuário. Muitos municípios no Brasil, inclusive muitas capitais litorâneas, cresceram sobre o mangue e aportam seus dejetos diretamente em áreas estuarinas. Uma aquicultura sustentável tem que condenar esses descasos e, portanto, não pode contribuir com tal degradação; b) crianças em comunidade pesqueira nas Filipinas, que auxiliam seus pais nas atividades diárias da pesca; c) crianças no Ceará, que não fazem a menor idéia do que irão encontrar pela frente, e tampouco conhecem o descaso do acúmulo de lixo; (d) aporte de esgoto no Rio Tietê, na maior cidade do país E, finalmente, deve contribuir com a pre- servação dos recursos naturais, tanto daqueles locados no entorno e diretamente utilizados por empreendimentos individuais ou pólos de produção aquícola, como dos recursos naturais empregados por outros empreendimentos dos quais dependem. Num horizonte de curto prazo, há uma valo- rização desequilibrada dos aspectos econômicos em detrimento dos sociais e ambientais. O foco é maxi- mizar a produção dentro das limitadas condições de espaço, de recurso hídrico e de capacidade biológica dos animais produzidos no empreendimento. O que não se pode esquecer é que os empreendimentos aquícolas são altamente dependentes da qualidade ambiental. Portanto, a operação dos mesmos no li- mite de sua capacidade de sustentação compromete os resultados no médio e longo prazo, quando o setor vai se tornando cada vez mais competitivo, com reduções e nivelamento de preços, e menores margens para erros e ineficiências. A demasiada intensificação dos cultivos de- manda alto investimento, cria maior dependência em energia e aumenta a incidência de doenças, dentre outros aspectos negativos. Em consequência ocorrem significativas perdas dos estoques (dinheiro jogado no ralo, é o que se vê imediatamente) e uma piora nos índices de crescimento e conversão alimen- tar dos estoques sobreviventes (um dinheiro jogado no ralo que somente será percebido no balanço final do cultivo ou quando o empreendimento quebrar de vez). Além disso, cria-se uma alta dependência no uso de medicamentos, bioremediadores, produtos químicos, probióticos e toda a gama de produtos e soluções que são oferecidos e comprados quando se está diante de um empreendimento “doente” termi- nal. Os custos se elevam, os lucros desmoronam e o empreendimento se torna deficitário e quebra. Assim, sob a perspectiva de longo prazo (que no caso do planeta deve se estender a todas as possíveis gerações que aqui existirão), o conceito de sustentabilidade está fortemente relacionado aos aspectos ambientais, e não há como fugir disso. A compatibilidade ambiental, no final de tudo, é o que realmente vai orientar os rumos da aquicultura como atividade sustentável e de importância na geração de alimento. Portanto, em uma definição relativamente simples, uma atividade ou empreendimento susten- tável é aquele que consegue atender as necessidades humanas (de alimento, de renda, de serviços e bem estar geral), manejando, de maneira integrada e efi- ciente os recursos naturais, de forma a manter e, até mesmo a melhorar, a qualidade do ambiente, conser- vando estes recursos para as gerações futuras. Crises para não se esquecer e exemplos para orientar o futuro No início desta década, a carcinicultura brasileira – mesmo ciente dos colapsos da produção de camarão marinho no Equador e no sudeste asiático devido à ocorrência de doenças – vinha entusiasmada com altos índices de produtividade alcançados em solo tupiniquim e com os bons preços pagos no mercado internacional. Cada vez mais se buscava atingir maiores pro- dutividades de camarão por área, às custas de pesados investimentos em aeração e arraçoamento cada vez mais intenso. A máxima de que “coisa ruim só acontece com os outros,nunca com a gente” não prevaleceu no caso brasileiro. Os mesmos problemas sanitários vivenciados pelo setor em outros países se repetiram em nossas carciniculturas, decorrentes da adoção de um modelo de produção equivocado, que não compreendeu ou respeitou os fundamentos e os limites biológicos da aquicultura, que sucumbiu a uma visão imediatista de resultados e lucros, e que foi implantado com um descontrolado padrão de ocupação de áreas costeiras, sem que houvesse um adequado zoneamento para a expansão da atividade. Com esta postura, o setor passou a ser fortemente criticado por ambientalistas e pressionado por agências ambientais. A queda na produção e os aumentos de custos em função das doenças, aliados ao cenário econômico desfavorável ao camarão no mercado internacional, resultou no fechamento de um grande número de empreendimentos no Brasil, grande desemprego e inadimplência do setor. Isso exigiu uma mudança drástica na estratégia de produção dos 18 Panorama da AQÜICULTURA, maio, junho, 2010 empreendimentos sobreviventes que, apenas recentemente, e através da consolidação do mercado interno, conseguiram dar ao setor ares de recuperação. Drama semelhante está vivendo a salmonicultura chi- lena que, após ter atingido o status de segundo maior produtor mundial de salmão, agora sofre com os rigores de uma virose atribuída à crescente intensificação e ao inadequado zoneamen- to dos cultivos. Apesar de uma rápida reação da indústria com medidas de controle sanitário e reestruturação dos cultivos, o Chile experimentou uma significativa quebra de produção e consequente redução nas exportações da ordem de 30% em 2009, permanecendo ainda em níveis baixos em 2010, esperando-se uma restauração completa dos seus estoques de salmão apenas em 2011. Esse cenário resultou no desemprego e fechamento de um grande número de empreendimentos de produção e serviços ligados ao setor. Tanto a carcinicultura como a salmonicultura sofreram, e ainda sofrem, severas críticas por parte de ambientalistas. Ambas tiveram que reavaliar suas estratégias de produção, de mercado e, principalmente, de interação com os recursos naturais onde estão inseridas, após sofrerem o impacto de problemas com doenças. São, portanto, importantes exemplos para os setores emergentes da aquicultura que desejam tomar corpo em nosso país, como a produção de tilápias e de peixes redondos, que vem se expandindo em grande parte do nosso território e que não pode repetir os mesmos equívocos e ignorar a importância de se consolidar como atividade sustentável. Pré-requisitos e tendências para uma aquicultura sustentável Como já é possível perceber, o conceito de atividade/ empreendimento sustentável é algo bastante complexo, que envolve a atenção a diferentes aspectos que regem o empreen- dimento. O caminho para atingir a sustentabilidade deve levar em consideração as limitações biológicas de cada sistema de produção, o uso integrado dos recursos, a preservação e, até mesmo, a restauração da qualidade ambiental, dentre diversos outros aspectos. A seguir serão discutidas alguns dos pré- requisitos e tendências dos empreendimentos aquícolas rumo à sustentabilidade. Observação e respeito aos limites de produção – um deter- minado ambiente (um oceano, um estuário, um grande reserva- tório, um rio, um açude, um tanque escavado, um tanque-rede, uma caixa d’água, e qualquer outro recurso natural) tem sua capacidade máxima de assimilar os resíduos orgânicos e os nutrientes gerados na produção, ou seja, um limite de susten- tação de biomassa. Este limite é tecnicamente denominado capacidade de suporte. Operando na capacidade de suporte os empreendimentos correm grandes riscos de mortalidade de peixes por problemas de qualidade de água e doenças. Assim, os modelos de produção devem ser estruturados para operar dentro do conceito de biomassa econômica e de biomassa ambientalmente sustentável, que são valores de biomassa bem abaixo da capacidade de suporte. Aproveitamento eficiente da produtividade primária (fitoplâncton) e detritos orgânicos gerados nos sistemas de produção – na criação de peixes em tanques com baixa renovação de água há um grande aumento na produtividade primária devido ao aporte de nutrientes via ração, fertilizan- tes e excreção dos peixes. Assim, dentro da grande diversi- dade de espécies potencialmente cultiváveis e de aceitação no mercado, deve-se optar pela criação de espécies capazes de aproveitar eficientemente os alimentos naturais e detritos orgânicos gerados no ambiente de cultivo, reduzindo a carga orgânica nesses ambientes e nos efluentes. Espécies que consomem o fitoplâncton, alimento natural mais abundante em massa nos tanques de criação, são as mais indicadas. Po- licultivo com espécies de peixes detritívoras e planctófagas também é uma boa opção. Mínimo uso de água e aporte de efluentes – num futuro muito próximo deverá haver um rigor ainda maior sobre o uso da água e o descarte de efluentes. Portanto, os sistemas de produção baseados no uso mínimo de água terão cada vez mais importância na aquicultura. Um exemplo de indústria fundamentada neste sistema é a produção do catfish ameri- cano nos Estados Unidos, na qual os viveiros de produção, após enchidos, praticamente não recebem mais aporte de água voluntário. Apenas recebem água de chuva (que cai Mortalidade crônica de peixes devido a problemas de qualidade de água e doenças em tanques onde a biomassa de peixes se aproxima da capacidade de suporte. Mortalidade é dinheiro indo diretamente para o lixo. Além destas perdas diretas, há o desperdício de ração, atraso no crescimento e piora na eficiência alimentar, onerando ainda mais os custos de produção Pi sc ic ul tu ra S us te nt áv el 19Panorama da AQÜICULTURA, maio, junho, 2010 Piscicultura Sustentável direto sobre o viveiro) ou, no caso dos viveiros de barragem (açu- des ou represas), a enxurrada proveniente da bacia de captação de água no entorno dos viveiros. O nível de água nos viveiros é mantido abaixo do sangradouro, possibilitando o armazenamento da água das chuvas sem que o viveiro transborde, minimizando assim a descarga de efluentes. Os viveiros de produção de catfish são apenas drenados a cada 3 a 8 anos. Ao longo deste período são realizadas despescas seletivas (retirando os peixes com tamanho de mercado), seguidas da estocagem de juvenis, para repor os peixes retirados. O modelo de produção do catfish americano pode ser perfeitamente aplicado à produção dos nossos peixes redondos, que não se reproduzem durante o cultivo e são facilmente capturados com redes de arrasto. Assim, seria possível usar a estratégia de múltiplas despescas e estocagem para reposição do estoque sem a necessidade de drenar os viveiros. Já com a tilápia, peixe de des- pesca mais difícil e que pode apresentar considerável reprodução durante o período de engorda, é necessária a drenagem completa dos viveiros ao final de cada etapa da criação. Ainda assim, esta água drenada pode ser reaproveitada no próximo ciclo de produção ou em outros viveiros, com significativa economia com corretivos e fertilizantes e possibilitando o início de um próximo ciclo de cultivo com uma boa quantidade de alimento natural (plâncton) presente na água dos viveiros. Apenas é preciso desenhar uma estrutura de produção que possibilite este reaproveitamento. Além do menor consumo de água, do mínimo aporte de efluentes, da redução das despesas com bombeamento (em pisciculturas que são abastecidas com água bombeada) e do menor gasto com cor- retivos (calcário) e fertilizantes, os sistemas com renovação zero e reaproveitamento da água minimizam, ou até mesmo eliminam, os escapes de peixes para o ambiente. Menor dependência no uso de energia – é consenso que a demanda e o custo da energia (proveniente de combustíveis fósseis e outras fontes) não pararão de crescer no planeta. As- sim, é necessário otimizar o uso da energia por tonelada de peixeproduzida. Isso pode ser al- cançado com a adoção de sistemas de produção menos intensivos, pouco dependentes do uso de energia para aeração ou bombeamento de água. Ou mesmo através do refinamento tecnológico de novos sistemas intensivos de produção, como a produção de peixes em unidades com recir- culação e tratamento da água ou em sistemas baseados na formação de bioflocos, que, apesar da grande dependência em energia, possibilitam produzir grandes volumes de peixes com limitado uso de água e espaço, e sem efluentes. Uso de rações de alta qualidade e a base de ingredientes vegetais – rações de alta qualidade e digestibilidade maximizam o crescimento e a eficiência alimentar, preservam por mais tempo a qualidade da água nos tanques de criação e fortalecem a saúde e o sistema imunológico, reduzindo a incidência de doenças e mortalidade durante o cultivo. Desse modo, contribuem com a redução nos custos de produção e com o menor aporte de nutrientes por unidade de peixe produ- zida. Deficiências nutricionais contribuem com o aumento na incidência de doenças em sistemas de produção, particularmente nos mais intensivos. Portanto, o adequado balanceamento nutricional e o enriquecimento vitamínico e mineral das rações usadas em aquicultura intensiva são fun- damentais à saúde e sobrevivência dos animais durante a criação. Outro ponto importante é a ten- dência de redução na dependência da aquicultura no uso de farinhas e óleos de peixes nas rações. Atualmente, cerca de 30 a 35 milhões de tonela- das de pescado são capturadas anualmente com o objetivo exclusivo de fabricação de farinhas e óleos de peixes. Com o aumento na população mundial e da demanda por alimentos, boa parte deste pescado que hoje vira farinha, deverá servir ao consumo humano direto. Deste modo, a produ- ção de farinha e óleo de peixe para uso em rações animais será preferencialmente feita a partir dos resíduos das indústrias de pescado (inclusive as que processam pescado cultivado). Portanto, o uso de rações formuladas com base em ingredientes vegetais e de subprodutos da indústria animal, em substituição à farinha de peixe, o que já é comum na criação de muitas espécies de peixes, em par- ticular no Brasil, poupará recursos pesqueiros e contribuirá com a sustentabilidade da aquicultura e de outras produções animais. A tendência da aquicultura mundial será a adoção de sistemas de produção com o uso mínimo de água. Da esquerda para a direita: a) grupo de viveiros, cada um com cerca de 4 hectares, usados na criação de “catfish” nos Estados Unidos, abastecidos com água bombeada de poços, sem renovação de água e com aeração geralmente realizada no período noturno, quando necessário. b) sistema de criação de “catfish”em tanques de alta renovação de água (raceways), com cerca de 10 a 20 trocas completas por hora. Este sistema de produção deverá ser cada vez mais raro, com o aumento na demanda por água. c) em contraste, algumas regiões do planeta sofrem com a falta de água ca b 20 Panorama da AQÜICULTURA, maio, junho, 2010 Pi sc ic ul tu ra S us te nt áv el Opção pelo cultivo de espécies de baixo nível trófico e eficientes no aproveitamento de rações formuladas - conforme discutido anteriormente, os empreendimentos aquícolas devem optar por espécies capazes de aproveitar alimentos naturais e/ou de converter eficientemente rações formuladas a base de ingredientes vegetais, com mínima dependência por farinhas de peixe. Sob este aspecto, a criação de um pintado ou pirarucu (peixes que possuem hábito alimentar originalmente carnívoros) com rações a base de grãos é mais sustentável do que produzir tilápias ou carpa capim com rações contendo altas inclusões de farinhas de peixe. O conceito que muitos têm de que a criação de peixes carnívoros é uma ativi- dade insustentável do ponto de vista ambiental ou pouco eficiente em termos de produção de carnes, geralmente desmorona quando estas espécies são produzidas com rações a base de grãos e farinhas de subprodutos da indústria animal, como no caso do Brasil. Uso de recursos de forma compartilhada com outras atividades - o Brasil sai em grande vantagem em relação à maioria dos países neste quesito. O modelo brasileiro de geração de energia (através de hidrelétricas instaladas em quase todo o território) e os inves- timentos em represamentos para aliviar os efeitos das secas – em particular na Região Nordeste, resultaram em uma grande área de reservatórios e grande acúmulo de água que podem perfeita- mente ter seu uso compartilhado por diversas atividades (geração de energia, abastecimento urbano e rural, irrigação, recreação, aquicultura, etc.). Isso tem possibilitado um grande avanço na produção de peixes em tanques-rede em diversas regiões do país. Usando exclusivamente o potencial hídrico já instalado destes reservatórios, o Brasil poderá se tornar um dos maiores produtores mundiais de pescado de modo sustentável. Além desse potencial, há um grande volume de água represado em propriedades particula- res para fins de irrigação, consumo animal e combate a incêndios. A criação de peixes, portanto, possibilita um uso mais eficiente destes recursos e cria melhores perspectivas de retorno ao capital investido nestes re- presamentos, seja através do retorno financeiro direto em empreendimentos particulares, ou pela geração de oportunidades de trabalho, renda, ascensão econômica, bem estar social, de alimento de qualidade e de valores econômicos, através do estabelecimento de pólos aquí- colas de produção. Aumento no número de empreendimentos de menor porte com foco no comércio local/regional de pes- cado - apesar de no momento estarmos presenciando a formação de grandes conglomerados industriais no setor de produção animal, com grandes grupos incorporando empreendimentos de menor porte em todo o planeta, há um entendimento de que, com o aumento nos custos de combustíveis e transportes, no futuro haverá uma tendência de regionalização da atuação dos empreendimentos de produção de alimentos e insumos. Um exemplo disso é a descentralização observada na produção de rações para peixes e outros animais no Brasil. No início da década de 90 as principais empresas de ração se concentravam par- ticularmente no Sudeste e Sul do país. Com a expansão da aquicultura em estados do Nordeste, Centro-Oeste e Norte, diversos fabricantes estabeleceram fábricas para produção local de ração, reduzindo despesas com fretes e tornando mais competitivos os preços aos produtores e, em alguns casos, aproveitando a maior proximidade de importantes centros de matérias primas que se formaram em algumas destas regiões. Esta tendência de descentralização dos empreendimentos de produção também deverá ocorrer na aquicultura, aproveitando nichos de mercados locais e regionais, com melhor logística e menor custo de distri- buição dos produtos. Num panorama macro, isso ocorreu com a carcinicultura nacional, que era 100% focada na exportação. Quando enfrentou um cenário desfavorável de câmbio, aumento nos custos de produção devido a doenças, taxa “antidumping” e queda nos preços internacionais do camarão, o mercado nacional foi a salvação, com um custo menor de distribuição e preços mais favoráveis do que os da exportação. Outro ponto a ser considerado é o fato de que ano a ano aumenta o contingente de consumidores alertas às questões ambientais e que optam por produtos locais ou produzidos a uma distância mínima de onde vi- vem, de forma a contribuir com o desenvolvimento local e com uma menor exaustão dos recursos naturais e emissão de gases poluentes no planeta. Para poupar recursos do planeta (e do próprio bolso), realmente faz mais sentido Além de representar fração significativa do custo de produção em aquicultura, a ração é a principal fonte de nutrientes e resíduos orgânicos em criações intensivas. O uso de rações de alta qualidade e digestibilidade, aliado ao adequado manejo alimentar,contribui significativamente para minimizar o aporte de resíduos nas unidades de produção. Da esquerda para a direita: a) ração peletizada (que afunda) com bastante finos e peletes quebrados; b) ração extrusada comercial, de alta estabilidade na água e com peletes de tamanho uniforme a b 21Panorama da AQÜICULTURA, maio, junho, 2010 Piscicultura Sustentável um cidadão como eu, que moro em Jundiaí, mais conhecida em São Paulo como a “Terra da Uva”, comprar vinhos daqui do que os vinhos do Rio Grande do Sul ou de outros países. Assim como optar pela compra de filés de tilápias, costelas de tambaquis, camarões cinzas e outros pescados produzidos no Brasil ao salmão proveniente do Chile. Sistema de produção integrado e compatível com outras atividades de produção e com a conservação ou melho- ria do ambiente em seu entorno - Desde o planejamento de sua implantação, um empreendimento aquícola deve evitar conflitos com outras atividades. Já na seleção dos locais para abrigar o projeto, deve-se optar por áreas que não sejam possíveis de serem utilizadas por outras ativida- des de produção de alimento. O planejamento e a operação de um empreendimento em aquicultura devem primar pelo uso racional e manejo adequado dos recursos hídricos e da área, empreendendo ações de recomposição florestal e con- servação dos mananciais. Como já se ressaltou, devem ser adotadas estratégias de produção com descarte mínimo ou zero de efluentes. Os empreendimentos aquícolas, sempre que possível, devem aproveitar os benefícios da integração com outras atividades para alcançar benefícios mútuos no uso dos recursos, insumos e subprodutos. Um exemplo é a integração da aquicultura com culturas agrícolas, através da irrigação com água descartada dos viveiros de criação, ou armazenada nos açudes usados para produção de peixes soltos ou em tanques-rede. Também é possível estabelecer culturas agrícolas nos próprios viveiros de criação, apro- veitando o incremento na fertilidade do solo do fundo dos viveiros após um ciclo de produção de peixes, numa forma de rotação de culturas. Restos de culturas e subprodutos agrícolas também podem ser usados como alimento su- plementar para os peixes em sistemas menos intensivos combinados com a fertilização dos viveiros. A integração da piscicultura com a produção de suínos ou aves também traz benefícios mútuos para ambas as atividades. O esterco destes animais que, sem melhor opção, acabaria sendo depositado no ambiente, pode ser usado para estimular a produção primária e, com isso, a produção de peixes planctófagos e detritívoros com um uso mínimo de rações. Em Santa Catarina, por exemplo, há um grande pólo de produção de peixes baseado na integração com a suinocultura e que tem contribuído com significativo volume de produção de pescado e com a renda de um grande contingente de pequenos produtores rurais. Em países como a China, Índia, Indonésia e Vietnã são utilizadas águas servidas com es- goto urbano para suprimento de viveiros ou tabuleiros de arroz usados na criação de peixes em policultivo. Esta é uma forma integrada de uso de águas residuais para a produção de alimentos. No Brasil já foram realizadas pesquisas nesta área, embora eu desconheça algum empre- endimento comercial que use esta prática. Este tipo de integração pode causar certa repulsa para alguns dos leitores. Mas esta poderá ser uma das poucas alternativas acessíveis de proteína para muitos dos que hoje já vivem dos alimentos que conseguem encontrar no lixo, inclusive em nosso país. Com mais de 20 bilhões de habitantes previstos no planeta em 2150 (nós não estaremos aqui, mas nossos netos e bisnetos sim), a quantidade de esgoto gerada será brutal. Assim, é bem provável que a piscicultura possa contribuir com a reciclagem dos nutrientes e material orgânico dos efluentes das estações de tratamento de esgoto em muitos países, gerando proteína de alta qualidade a um baixo custo, se tornando um componente chave na redução do uso de água limpa, da poluição dos recursos aquáticos e sustentabilidade do planeta. Satisfação social - Para ser sustentável um empreendimento deve con- seguir manter um adequado ambiente de trabalho, uma remuneração justa aos seus funcionários e um programa de estímulo ao aprendizado e crescimento funcional dentro da empresa, evitando assim as altas rotatividades de mão de obra comuns em empreendimentos agropecu- ários e nos empreendimentos de aquicultura. Além de contribuir com o desenvolvimento econômico local, através da demanda por insumos e serviços, os empreendimentos de aquicultura devem apoiar ações institucionais e comunitárias que promovam o bem estar, saúde e o desenvolvimento social e cultural da comunidade. Reservatórios usados para geração de energia ou para mitigar os problemas com as secas. Nestes reservatórios espalhados por todo o país, há um grande potencial para a produção de peixes em tanques-rede, possibilitando um uso múltiplo dos recursos hídricos. Da esquerda para a direita: a) reservatório de Caconde, no Rio Pardo, interior do Estado de São Paulo; b) reservatório de Xingó, no Rio São Francisco, e que abrange parte dos Estados da Bahia, Alagoas e Sergipe; c) reservatório do DNOCS em Sobral, CE c a b 22 Panorama da AQÜICULTURA, maio, junho, 2010 Sinais que indicam que um empreendimento está no caminho inverso da sustentabilidade Num giro pela aquicultura brasileira naturalmente pode se apreciar empreendimentos de todos os portes que, por desconheci- mento ou desconsideração dos princípios básicos da aquicultura, já enfrentam problemas crônicos na produção que, se não forem solu- cionados, comprometerão sua continuidade no curto e médio prazo, por não alcançarem a tão aclamada sustentabilidade, sequer mesmo a sustentabilidade financeira do próprio empreendimento. Comuns a estes empreendimentos é a busca incessante pela maximização da pro- dução dentro de um limitado espaço ou condições de recursos naturais. Assim, operando acima da biomassa segura (dentro das unidades de produção ou dentro do ambiente onde o empreendimento está inserido), estes empreendimentos atingem os limites da capacidade de suporte, onde é muito alto o risco de morte de peixes devido à degradação da qualidade da água e doenças, bem como o próprio risco de colapso de empreendimentos vizinhos que compartilham o mesmo ambiente. Alguns dos sinais que prenunciam a falta de sustentabilidade de um empreendimento aquícola são: • Ausência de registros e controles da produção e custos; • Inexistência de monitoramento da qualidade da água; • Irregularidade na oferta e qualidade de insumos básicos, por exemplo, alevinos; • Mortalidade crônica ao longo do cultivo; • Episódios agudos de mortalidade decorrentes de deterioração da qualidade da água; • Uso continuado de medicamentos, bioremediadores, probióticos e outros produtos numa contínua luta sem fim para estancar a mortalidade dos animais; • Falta de percepção dos gerentes ou proprie- tários quanto à importância da implantação de boas práticas de produção e de reestrutu- ração da produção dentro da capacidade das instalações e do meio ambiente em que o empreendimento está inserido; • Insatisfação dos funcionários com a empresa e alta rotatividade. Responsabilidades para alcance da sustentabilidade da aquicultura no país A discussão sobre sustentabilidade permeia as mais diversas atividades de produção. Naturalmente que isso não é diferente com a aquicultura. De um modo geral, ainda há no setor produtivo uma visão baseada em resultados econômicos imediatos. Essa visão precisa ser rapidamente corrigida e orientada nos caminhos que levam à sustentabilidade do setor no longo prazo. Devido ao caráter multidisciplinar da aquicultura, diversos grupos atuam e contribuem com o seu desenvolvimento. É preciso compreender os pré-requisitos e tendências para o desenvolvi- mento sustentável da aquicultura, de modo a per- mear as ações de ensino,pesquisa, suporte técnico, produção e estabelecimento de políticas públicas e regulamentações para ordenar o crescimento do setor. Portanto, cabe aqui uma distribuição de responsabilidades em prol do desenvolvimento Pi sc ic ul tu ra S us te nt áv el Considerável quantidade de água é utilizada na irrigação. Grandes investimentos são realizados na construção de barragens nas propriedades rurais para armazenar água com este propósito. A criação de peixes (soltos nos reservatórios ou confinados em tanques-rede) possibilitaria um retorno mais rápido do capital investido na captação e armazenamento da água, além de possibilitar o uso múltiplo e mais eficiente do recurso hídrico disponível 23Panorama da AQÜICULTURA, maio, junho, 2010 Piscicultura Sustentável da aquicultura sustentável em nosso país, que pelos seus atributos naturais, terá a obrigação de gerar alimento para grande parte da população do planeta, como já ocorre há muitos anos e deverá ocorrer com maior intensidade num futuro muito próximo. Aos investidores, empresários e produtores – cabe a respon- sabilidade de implantar e operar empreendimentos de produção compatíveis com a conservação ou melhoria do ambiente e do status social e econômico ao seu entorno. Do uso de estratégias de produção que respeitam a capacidade biológica (capacidade de carga) das unidades de produção e do empreendimento. Da opção pelo uso de rações de alta qualidade e que possibilitem alta eficiência alimentar (índices de conversão alimentar o mais próximo possível de 1:1,0). De realizar um manejo sanitário efi- ciente, com implantação de boas práticas de produção, reduzindo o uso de medicamentos. De promover uma eficiente gestão dos empreendimentos. De formalizar sua produção, atendendo aos requisitos trabalhistas, fiscais e ambientais. Às empresas de rações – cabe a compreensão da importância das rações para o sucesso econômico e harmonização ambien- tal dos empreendimentos aquícolas. Portanto, cabe ao setor de nutrição a responsabilidade do uso dos conhecimentos tecnoló- gicos disponíveis para a produção de rações de alta qualidade, compatíveis com as espécies, as etapas de desenvolvimento e os sistemas de criação predominantes no país. Também devem intensificar sua atuação na conscientização dos seus clientes e do setor produtivo em geral, sobre a importância do uso de rações de alta qualidade para otimizar o desempenho produtivo, asse- gurar boas condições de saúde animal e minimizar o aporte de nutrientes nas unidades de cultivo e no ambiente. Cabe também estimular o aprimoramento tecnológico nas áreas de nutrição e manejo alimentar, focado no aumento da eficiência do uso das rações, com mínimo impacto sobre o ambiente. Às instituições de pesquisas – cabem o desenvolvimento e a difusão de tecnologia em áreas estratégicas, com destaque para: a) melhoramento genético, com foco na otimização dos índices de crescimento e conversão alimentar, no aumento da resistência às doenças e no maior rendimento de carne, contribuindo assim com o aumento na eficiência das criações, ao mesmo tempo minimizando o volume de resíduos gerado pelo setor (tanto na criação como no processamento); b) nutrição, com pesquisas focadas nos mais diversos aspec- tos do uso de ingredientes vegetais (grãos, óleos, farelos, e subprodutos diversos, etc.), bem como de subprodutos animais abundantes no país. Também o desenvolvimento e avaliação de produtos palatabilizantes e estimulantes do con- sumo de rações a base de ingredientes vegetais para espécies carnívoras e marinhas de potencial de criação e mercado, de forma a reduzir a dependência da aquicultura no uso de farinha de pescado; c) manejo sanitário e controle de do- enças, através da seleção de material genético resistente, do desenvolvimento de vacinas, e da avaliação de estratégias eficazes de manejo que minimizem a ocorrência de doenças, contribuindo assim para a redução na mortalidade durante a criação e menor dependência e uso de medicamentos e terapêuticos diversos. Apesar da importância da pesquisa básica, grande parte deste desenvolvimento tecnológico surge através da interação entre pesquisa e produção, que desafia os pesquisadores com problemas práticos relevantes para a sustentabilidade dos empreendimen- tos e do setor; d) transformação e aproveitamento de sub-produtos e resíduos, com o desenvolvimento de tecnologia para o aproveitamento de resíduos e sub- produtos gerados na criação ou no processamento. Como exemplo, estratégias de integração com outros cultivos (moluscos, algas, plantas aquáticas, culturas agrícolas, entre outras possibilidades); extração e concentração de massa fitoplanctônica para a produção de biodiesel ou de ingredientes para rações animais e, desenvolvimento e difusão de tecnologia para o aproveitamento integral do pescado. Aos profissionais do ensino em aquicultura e áreas afins – cabe entender que, além dos tópicos específicos de importância ao setor (limnologia e qualidade de água, fisiologia e anatomia, microbiologia, bioquímica, química, nutrição, tecnologia de reprodução, sanidade, melhoramento genético, sistemas de cultivos, instalações e equipamentos para aquicultura, ges- tão econômica e ambiental de empreendimentos aquícolas, metodologia de pesquisa científica e tudo mais que se possa constar no currículo dos cursos específicos de formação de profissionais para aquicultura), devem ressaltar a importância de solidificar nos futuros profissionais do setor, o compromisso em aplicar os princípios fundamentais que regem a produção de organismos aquáticos e que são fundamentais para a sus- tentabilidade dos empreendimentos de produção. Aos profissionais especializados que atuam ou atuarão no suporte técnico aos empreendimentos de produção – cabe carregar consigo muito bem consolidados, os funda- mentos da produção em aquicultura. Devem ter consciência da necessidade da contínua atualização tecnológica, hoje facilmente acessível através da web e da grande quantidade de publicações específicas do setor, e devem também ter a responsabilidade de prestar suporte técnico na implantação e operação de empreendimentos aquícolas, aplicando con- ceitos e estratégias sustentáveis de produção. Aos responsáveis pela coordenação do desenvolvimento da aquicultura no país – cabe a definição das políticas pú- blicas e regulamentações ambientais com base em critérios técnicos e científicos e nas reais potencialidades regionais. Devem também colocar os interesses de desenvolvimento do país acima dos interesses políticos, econômicos e funda- mentalistas de indivíduos e organizações, de forma a usar de maneira responsável e eficiente os recursos financeiros e intelectuais disponíveis para o planejamento e execução de programas, ações e regulamentações de real contribuição para o desenvolvimento sustentável do setor. 24 Panorama da AQÜICULTURA, maio, junho, 2010 Após um longo período de erros e acertos a carcinicultura mundial se- gue novos caminhos rumo à susten- tabilidade com a introdução de novas tecnologias de cultivo superintensi- vas não poluentes, que podem levar a criação de camarões a patamares cada vez maiores de produtividade. Essas novas práticas podem dar uma nova reputação a atividade e, ao mesmo tempo, fazer com que o camarão cul- tivado venha a ser tão barato quanto o frango. O tema gerou o artigo “Down on the Shrimp Farm - Can shrimp be- come the new chicken of the sea wi- thout damaging the ocean?”, de Erik Stokstad, publicado em 18 de junho último, na renomada revista Science, e que reproduzimos a seguir. O camarão pode se tornar o novo frango do mar, sem danificar o oceano? Por: Erik Stokstad Editor of the Science Magazine s águas azuis da Baía de Kung Krabaen, localizada no sudoeste da Tai-lândia, possuem franjas exuberantes de manguezais. No entanto, poucas centenas de metros atrás desse manguezal, existem mais de 200 pequenos viveiros repletos de camarão, que em
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