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119 Panorama da Aquicultura

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1Panorama da AQÜICULTURA, maio, junho, 2010
2 Panorama da AQÜICULTURA, maio, junho, 2010
3Panorama da AQÜICULTURA, maio, junho, 2010 3
Editorial
Jomar Carvalho Filho
Biólogo e Editor
D a primeira vez que vi na TV a logomarca do Ibama no cantinho da publicidade de uma marca nacional de automóveis, só não caí prá trás porque já estava sentado. Nunca que me passaria pela cabeça que nosso órgão ambiental federal comercializaria a sua logomarca para ajudar uma indústria a vender mais os seus produtos, muito menos automóveis. Mas, isso é outro papo. 
Onde quero chegar é que o gênio da publicidade que negociou aquele contrato não teve outra intenção a não 
ser a de passar a mensagem de que nós, incautos telespectadores e possíveis consumidores, estávamos diante 
de uma indústria sustentável certificada pelo Ibama, apesar de cuspir diariamente milhares de veículos que se 
embebedam de combustível fóssil e saem por aí despejando “zilhões” de toneladas de CO2. Alguém lá na agência 
de publicidade descobriu que sustentabilidade, antes de mais nada, é uma palavra que vende. 
Mas o que, afinal, se esconde debaixo desse enorme guarda-chuva chamado “sustentabilidade”, e de que 
forma a aquicultura se abriga sob ele?
Segundo Wagner Valenti, professor da UNESP, de Jaboticabal-SP, e seus colaboradores, em artigo nesta 
edição, a simples adoção de práticas e de sistemas que consideram conceitos da sustentabilidade, como o uso 
de boas práticas de manejo (BMP), são uma forma de caminhar em direção à sustentabilidade, mas, por si só, 
não é o bastante. Para eles, é essencial que se possa medir a sustentabilidade dos sistemas usados, das técni-
cas de manejo e das novas tecnologias que vêm sendo geradas e adotadas, para que se possa avaliar o grau de 
sustentabilidade do empreendimento.
Fernando Kubitza aborda esse tema no seu aspecto mais pragmático, face ao grande desafio que a aquicul-
tura tem, ao ter que triplicar, até 2050, a sua produção atual de forma a atender as necessidades de consumo de 
pescado para alimentação humana. Segundo Kubitza, é preciso enfrentar grandes desafios para reduzir a depen-
dência de recursos naturais não renováveis, minimizar a emissão de efluentes, utilizar rações cujos ingredientes 
não concorram diretamente com a alimentação humana, entre outras medidas importantes.
Fiz questão também de incluir nesta edição um artigo publicado na renomada revista Science, que aborda 
os avanços da carcinicultura rumo à sustentabilidade, que hoje já permitem que a produção de camarões seja 
feita praticamente sem efluentes, em áreas distantes do litoral, mudando completamente a má reputação que a 
carcinicultura carrega nas últimas décadas.
A sustentabilidade, portanto, não é apenas um conceito da moda para ser usado quando se deseja in-
corporar valor e incrementar as vendas de um produto. Como disse Wagner Valenti, o desafio para se construir 
uma aquicultura realmente sustentável passa por um aprendizado contínuo e pela capacidade de criar sistemas 
capazes de responder às mudanças ambientais, sociais e econômicas que ainda estão por vir. 
A todos uma boa leitura
4 Panorama da AQÜICULTURA, maio, junho, 2010
5Panorama da AQÜICULTURA, maio, junho, 2010
A Nativ - Indústria Brasileira de Pescados Amazônicos, locali-
zada no Município de Sorriso (MT)- nasceu há cinco anos com 
uma estrutura planejada para atender o consumidor de peixes 
de água doce. Espécies como o pintado, surubim e tambaqui, 
e também a tilápia, são cultivados com total controle dos 
processos até o produto final, quando então são comerciali-
zados como produtos congelados "in natura" e empanados. 
Leia na página 48 o artigo de capa dessa edição, escrito pelo 
editor da Panorama da AQÜICULTURA, Jomar Carvalho Filho, 
resultado de uma visita às instalações da indústria, e saiba 
como o uso de tecnologia de ponta, matéria prima de primeira 
e equipamentos de última geração podem garantir produtos 
de qualidade aos mercados mais exigentes.
Editorial
Notícias & Negócios
Notícias & Negócios on-line
Os caminhos para uma piscicultura sustentável
Por dentro da carcinicultura: O camarão pode se tornar o 
novo frango do mar, sem danificar o oceano?
Métodos para medir a sustentabilidade na aquicultura
Sanidade Aquícola: A experiência do AQUAVET no diagnóstico 
e tratamento de doenças de tilápias no Brasil
Utilização de probióticos na aquicultura - Parte III
Conhecendo a Nativ: Tecnologia de ponta, matéria prima 
de primeira e equipamentos de última geração, garantem 
qualidade dos seus produtos
Fenacam 2010: Evento reúne pelo sétimo ano consecutivo o 
setor aquícola em Natal
Informe Empresarial: Aquativ - Hidrolisados funcionais 
para aquicultura
Ficha de Assinatura da Panorama da AQÜICULTURA
Calendário Aquícola
Conhecendo a Nativ
...Pág 48
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Í N D I C E
Editor Chefe:
Biólogo Jomar Carvalho Filho
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Jornalista Responsável:
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Adolfo Jatobá, Ariel D. Zajdband, Bruno Correa 
da Silva, Carina Oliveira Lopes, Carlos Augusto 
Gomes Leal, Daniela Tupy de Godoy, Dircéia Apa-
recida Custódio, Erik Stokstad, Felipe do Nasci-
mento Vieira, Fernando Kubitza, Frederico Costa, 
Gláucia Frasnelli Mian, Glei dos Anjos de Carva-
lho-Castro, Henrique César Pereira Figueiredo, 
Janaina M. Kimpara, José Luiz Pedreira Mouriño, 
Ulisses de Pádua Pereira, Wagner C. Valenti
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21, 22, 24, 25, 26, 27, 29, 30,33, 34, 35, 36, 37, 38, 39, 
40, 41, 44, 45, 59, 61, 62, 63, 65, 76, 77, 78, 79, 80, 81, 
82, 83, 84, 85, 87, 88, 107, 111, 112
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Capa: Arte Panorama da AQÜICULTURA
Edição 119 - Maio/Junho - 2010
Os caminhos para uma piscicultura 
sustentável página 16...
...Pág 34
...Pág 66
...Pág 42
...Pág 16
Por dentro da carcinicultura
página 24 ......Pág 57
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Notícias & Negócios
IV SIMCOPE - O Instituto de Pesca de São 
Paulo realizará de 20 a 24 de setembro, no 
Hotel Parque Balneário, em Santos, o IV SI-
MCOPE - Simpósio de Controle do Pescado 
e a REDEPAN - Reunião da Rede Panameri-
cana de Inspeção, Controle de Qualidade 
e Tecnologia de Produtos Pesqueiros. Os 
eventos discutirão a qualidade de peixes, 
moluscos e crustáceos em toda a cadeia 
produtiva. Segundo a diretora da Unidade 
Laboratorial de Referência em Tecnologia 
do Pescado do Centro do Pescado Marinho 
de Santos e pesquisadora do Instituto, 
Cristiane Neiva, além da sua missão 
técnico-científica, os eventos possibili-
tarão oportunidades de negócios, uma vez 
que atrairãoempresários e investidores da 
cadeia produtiva do pescado. O evento ga-
nha neste ano um caráter internacional por 
meio da parceria entre o Instituto de Pes-
ca, vinculado à Agência Paulista de Agro-
negócios (APTA/SAA/SP), o Centro para os 
Serviços de Informação e Assessoramento 
sobre a Comercialização dos Produtos Pes-
queiros na América Latina e o Caribe (In-
fopesca). Espera-se representantes de mais 
de 20 países latinos. Para o diretor do Ins-
tituto de Pesca, Edison Kubo, fornecedores 
de insumos e serviços estratégicos estarão 
em um ambiente organizado, o que deve-
rá produzir resultados significativos para o 
desenvolvimento sustentável do setor. Mais 
informações pelo fone: (13) 3261-2653 
ou www.simcope.com.br.
V ENPAP - A quinta versão do Encontro Na-
cional de Piscicultores em Águas Públicas, 
será realizada de 10 a 12 de novembro, no 
Complexo Turístico, Cultural e Histórico Dr. 
Roberto do Vale Rollemberg, em Santa Fé 
do Sul – SP. O evento que discutirá esse ano 
o tema “O futuro da piscicultura brasileira” 
é uma boa ocasião para que aquicultores, 
técnicos e fornecedores de produtos e ser-
viços troquem informações e aperfeiçoem 
seus conhecimentos. Segundo André Camar-
go, presidente da ANPAP - Associação Na-
cional de Piscicultura em Águas Públicas, o 
encontro é também uma oportunidade para 
os aquicultores se reunirem em torno da II 
Aquishow, feira que será realizada paralela-
mente ao evento. Mais informações sobre o 
V ENPAP pelo e-mail: sema@santafedosul.
sp.gov.br ou fone: (17) 3631-2821.
 
NOVA LINHA - A maltaCleyton, uma das 
principais empresas do mercado mundial 
de aquicultura, lançou durante a última 
Fenacam a sua inovadora linha de produ-
tos “Tilápia Evolution”, com o conceito 
de proteína ideal que contém quantida-
des precisas de aminoácidos essenciais 
que compõem as proteínas da tilápia. 
Esse conceito possibilita a redução dos 
custos de produção, a maior digestibili-
dade e, consequentemente, um aumento 
no lucro dos produtores. A maltaCleyton 
inova também no processo de produção 
adicionando as vitaminas e probióticos 
nas rações em baixas temperaturas, não 
diminuindo, assim, os benefícios desses 
com as altas temperaturas no processo 
de extrusão. A empresa aproveitou para 
apresentar também aos participantes 
do evento os resultados das suas rações 
anti-stress para camarão e para beijupi-
rá, que alcançaram níveis de FCA (Fator 
de Conversão Alimentar) jamais vistos 
na piscicultura brasileira. As rações 
anti-stress da maltaCleyton reduzem a 
taxa de mortalidade e garantem uni-
formidade no tamanho dos camarões e, 
principalmente, retorno econômico. A 
maltaCleyton informa aos seus clientes 
que agora eles podem contar também 
com o plano comercial exclusivo “Mal-
ta Index”, no qual os produtores são 
beneficiados com uma redução de pre-
ços das matérias-primas.
7Panorama da AQÜICULTURA, maio, junho, 2010
Notícias & Negócios
LICITAÇÃO - Associações de pescadores e 
aquicultores poderão receber do Ministério 
da Pesca e Aquicultura caminhões frigorífi-
cos de transporte de peixe e equipamentos 
para processamento cedidos mediante Ter-
mo de Permissão de Uso. Os selecionados 
através de licitações, arcarão com todas as 
despesas relativas à manutenção dos ca-
minhões, além de obrigações legais e en-
cargos, como licenciamento junto ao órgão 
estadual de trânsito. Os caminhões pode-
rão ser usados por cinco anos, podendo a 
permissão ser renovada. Quanto ao uso de 
equipamentos para processamento de pes-
cado, esses deverão ser destinados exclu-
sivamente à elaboração de produtos para 
a alimentação escolar. Os kits de proces-
samento são compostos de seis máquinas: 
despolpadeira, seladora manual, balança 
eletrônica, caixas isotérmicas, máquina de 
congelamento e caixas de polietileno para 
acondicionamento do produto. Serão ana-
lisadas também pelo MPA propostas para 
formalização de parcerias com o objetivo 
de prestar assistência, capacitação e ex-
tensão, e escolhidos projetos para incuba-
ção de cooperativas. 
ISCA VIVA I - Segundo documento en-
viado pelo Sindicato das Indústrias de 
Pesca de Itajaí e Região - SINDIPI, ao 
Ministério da Pesca e Aquicultura, o Bra-
sil captura anualmente em sua ZEE cerca 
de 25 mil toneladas de atum, dos quais 
95% são representados pelo bonito listra-
do (Katswonus pelamis), que é capturado 
com vara, anzol (sem fisga) e isca viva 
(sardinha), num sistema considerado de 
alta sustentabilidade, principalmente pelo 
fato de não capturar fauna acompanhan-
te. Entretanto, a frota, composta por 50 
embarcações (17 no RJ, 27 em SC e 6 no 
RS), está encontrando muita dificuldade 
para ter acesso aos pesqueiros de sardi-
nhas em decorrência do crescente número 
de zonas de exclusão, representadas pela 
criação de áreas de proteção ambiental e 
reservas extrativistas, além de leis esta-
duais e municipais. Essas restrições agora 
obrigam a frota a se deslocar para áreas 
mais distantes para capturar a isca, o que 
gera dias de espera, grandes deslocamen-
tos com alto consumo de combustível e 
grande concentração de embarcações nas 
restritas áreas onde a captura é permiti-
da, tornando a atividade pouco sustentá-
vel. Segundo o SINDIPI, se nada for efeti-
vamente feito, muito em breve esse tipo 
de pescaria, um dos poucos considerados 
sustentáveis pela FAO, irá desaparecer. 
Nos últimos anos, todas as propostas en-
caminhadas pelo setor pesqueiro, Univer-
sidade de Itajaí, IBAMA/CEPSUL e MPA, 
para solucionar esse problema defrontam-
se com problemas de execução em função 
das restrições ambientais.
ISCA VIVA II - O SINDIPI acredita que a 
tilápia pode ser a melhor solução para subs-
tituir a sardinha, acabando de vez com os 
conflitos que existem entre a frota atuneira 
e a pesca artesanal e o turismo, etc.. O SIN-
DIPI solicitou formalmente que o Ministério 
da Pesca e Aquicultura tome a frente e in-
terceda para que um experimento utilizan-
do tilápias seja finalmente realizado para se 
conhecer a viabilidade desta proposta. Uma 
longa bibliografia foi anexada e mostra que 
são mínimos os riscos ambientais do uso 
da tilápia. Quem cria tilápias em viveiros 
sabe que o peixe precisa fazer os ninhos 
para se reproduzir, o que seria impossível 
no leito oceânico a milhas de distância do 
litoral. O experimento envolveria três em-
barcações e um único produtor de alevinos 
de tilápia e seria acompanhado de perto 
por técnicos de algum órgão ambiental. A 
8 Panorama da AQÜICULTURA, maio, junho, 2010
Notícias & Negócios
idéia é avaliar se realmente os atuns serão 
atraídos pelas tilápias e, em caso positi-
vo, seria elaborado um protocolo de uso 
do peixe de forma segura. Essa seria mais 
uma utilidade da tilápia, que faz tempo 
está associada a milagres de multiplicação. 
O apelido de peixe de São Pedro, realmente 
lhe cai muito bem.
PLATAFORMA NUTRIAQUA - 21 pesqui-
sadores de universidades, instituições de 
pesquisa, representantes da indústria de ra-
ções e do Ministério da Pesca e Aquicultura 
reuniram-se entre os dias 21 a 23 de junho, 
em Florianópolis-SC, com o objetivo de 
compilar as exigências nutricionais e definir 
prioridades de pesquisa em nutrição para as 
principais espécies de peixes produzidos no 
Brasil. A iniciativa, liderada pela professora 
do Departamento de Aquicultura da UFSC, 
Débora M. Fracalossi, e pelo Professor da 
ESALQ-USP, José Eurico P. Cyrino, foi o 
ponto de partida para a criação da Plata-
forma NutriAqua, projeto que recebeu apoio 
financeiro do MPA. A Plataforma NutriAqua 
visa produzir um aplicativo que conterá o 
banco de dados com as exigências nutricio-
nais dos peixes produzidos pela aquicultu-
ra brasileira, a composição dos alimentos, 
além de uma ferramenta específica para 
a formulação de rações para peixes. Além 
disso, está sendo elaborada também uma 
publicação que disponibilizará as informa-
ções sobre essas exigências nutricionais das 
espécies alvo, as tabelas de composição de 
ingredientes comumente utilizados em ra-
ções para peixese outras informações de 
interesse sobre nutrição e alimentação. A 
expecativa, segundo Débora Fracalossi, é 
que o projeto, além de organizar a informa-
ção disponível nessa área de conhecimen-
to, possa apontar as lacunas existentes e as 
necessidades para pesquisas futuras.
 
PIRARUCU DE RONDÔNIA - O “Projeto Pi-
rarucu de Rondônia”, uma ação da SEAGRI/
RO – Secretaria de Estado da Agricultura, 
Pecuária e Regularização Fundiária de Ron-
dônia, já conta com cerca de 20 produtores 
que juntos abastecem com regularidade o 
frigorífico da Mar&Terra, em Itaporã, no 
Mato Grosso do Sul, com cinco toneladas 
mensais de pirarucu fresco. O projeto vem 
desenvolvendo experimentos nas unidades 
produtivas onde rações estão sendo testa-
das, utilizando diferentes fontes protéicas, 
com o objetivo de aumentar a eficiência na 
engorda e baixar ainda mais os custos de 
produção. Os produtores em geral possuem 
2-3 casais de reprodutores nas suas proprie-
dades, que se reproduzem com regularida-
de. Quatro produtores engajados no projeto 
se especializaram em adquirir o fruto dessas 
desovas quando ainda estão com 2 a 4 cm 
(R$ 1,00 a 2,00 a unidade) para fazer a re-
cria até os 15–20 cm, quando então reven-
dem aos produtores a R$ 10,00 a unidade 
(aproximadamente R$ 0,50/cm). Segundo 
o médico veterinário Carlindo Pinto Filho, 
gerente de Aquicultura e Pesca da SEAGRI, 
o atual volume é de cinco ton/ mês, e a ex-
pectativa é de que a 6-7 meses este mesmo 
volume seja comercializado semanalmente.
FURG NO COMITÊ DO CNPQ - O coorde-
nador da Estação Marinha de Aquicultura 
(EMA) e integrante do Instituto de Oceano-
grafia da Universidade Federal do Rio Gran-
de (FURG), professor Wilson Wasielesky, 
foi nomeado membro titular do Comitê de 
Assessoramento de Aquicultura (CA-AQ) 
do Conselho Nacional de Desenvolvimento 
Científico e Tecnológico (CNPq). O manda-
to terá a duração de três anos. Os Comitês 
de Assessoramento do CNPq destinam-se a 
prestar assessoria à Instituição na formu-
lação de políticas e na avaliação de pro-
jetos e programas relativos a sua área de 
competência, bem como na apreciação das 
solicitações de bolsas e auxílios. 
9Panorama da AQÜICULTURA, maio, junho, 2010
Notícias & Negócios
DPA GAÚCHO - A governadora do Rio Grande do Sul, Yeda Crusius 
criou o Departamento de Pesca e Aquicultura do Estado. A estrutura, 
ligada à Secretaria da Agricultura, Pecuária, Pesca e Agronegócio 
(Seappa), tem a finalidade de promover, estimular e articular as 
atividades pesqueira e aquícola, além de formular políticas para a 
implantação de programas e ações que desenvolvam o setor. O De-
partamento de Pesca e Aquicultura contará com recursos humanos 
provenientes do remanejamento do quadro de pessoal da Seappa. A 
governadora salientou que o Departamento será um fórum de dis-
cussões e de organização para o setor. No Rio Grande do Sul, as 
espécies mais difundidas são as carpas, com 90% da preferência dos 
criadores, seguidas pelas tilápias.
SAFRA 2010/2011 - O MPA disponibilizará R$ 1,5 bilhão em cré-
dito na safra 2010/2011 para o desenvolvimento do setor, recursos 
50% maiores que os registrados na safra anterior. Os recursos ofi-
cializados pelo ministro Gregolin durante o lançamento, em 28 
de junho, do Plano Safra das Águas poderão, de acordo com o 
ministro, serem ampliados já que a meta do governo é a de pro-
duzir 1,430 milhão de toneladas de pescado este ano. O intuito 
do financiamento é o de contribuir para a redução do preço do 
pescado brasileiro para aumentar o consumo do produto. Dados 
do MPA revelam que a escolha do pescado nos supermercados vem 
registrando crescimento de 15% ao ano, nos últimos três anos. 
A fonte de recursos é o Programa Nacional de Fortalecimento da 
Agricultura Familiar (Pronaf) Alimentos e, entre os agentes finan-
ceiros, estão Banco do Brasil, Banco do Nordeste do Brasil e Banco 
da Amazônia. A novidade é o crédito para modernização da infra-
estrutura da pesca e aquicultura (Moderinfra), com juros de 6,75% 
ao ano e prazo de pagamento de até 12 anos, recursos que serão 
destinados a cooperativas ou grandes produtores individuais que 
necessitem de câmaras frias para armazenamento. 
MAIS CONCESSÕES - O ministro Gregolin entregou, no dia 24 de 
junho, concessões de uso não onerosas, como parte de um pro-
grama coordenado pelo MPA em parceria com o governo estadu-
al, que beneficiarão 632 famílias dos municípios de Tucuruí e Breu 
Branco, no Pará, com o cultivo de peixe da espécie pirapitinga em 
tanques rede, no lago da Hidrelétrica de Tucuruí. O Ibama estuda 
também a liberação, do cultivo do tambaqui. A expectativa é de que 
a produção gere uma renda média de R$ 1.200,00 para cada família 
beneficiada. O governo do Pará, via Secretaria de Estado de Pesca 
e Aquicultura (Sepaq), garantirá a assistência técnica às famílias, 
enquanto o MPA doará mais de 2 mil tanques. No Pará, segundo 
estado maior produtor de peixe do Brasil, a meta do governo é pro-
duzir mais 20 mil toneladas de peixe ao ano.
AQUAVISION - A produção sustentável de peixes, incluindo cama-
rão, tilápia e salmão, foi o tema principal do Aquavision 2010, em 
Stavanger, Noruega. Mais de 300 empresários, especialistas, téc-
nicos e consultores de 25 diferentes países, inclusive Brasil, Chile 
e Peru, participaram do encontro, iniciativa da Nutreco, empresa 
líder global em nutrição para produção animal e aquacultura. Se-
gundo Eduardo Amorim, presidente da Nutreco Fri-Ribe, que 
representou o Brasil no Aquavision 2010, o tema produção sus-
tentável é fundamental para vencer os desafios do aumento da 
oferta mundial de alimentos sem esquecer o meio ambiente e 
a questão social, parâmetros de inquestionável relevância no 
cenário atual. “O Brasil tem potencial tremendo para a aqui-
cultura, e nada melhor do que crescer nesse mercado com sus-
tentabilidade, ressalta Amorim. Durante a abertura do evento, 
Wout Dekker, CEO da Nutreco, a grande lição a ser aprendida 
por todos os envolvidos na cadeia da produção de alimentos é 
que nos últimos dez anos se fez pouco em comparação com os 
desafios do futuro e as empresas têm de ajustar suas posturas 
hoje. "Estamos ficando sem tempo para fazer todas as mudan-
ças necessárias”, disse. De acordo com o estrategista-chefe da 
Shell, Karls Rose, “Não é apenas o aumento da população que 
nos desafia, mas também as mudanças globais em várias áreas, 
como saúde, conhecimento, meio ambiente. A água sem dúvida 
é um componente essencial nesse processo. Precisamos res-
peitar sua condição, saber de suas limitações e trabalhar com 
inteligência para aproveitar esse bem a favor da humanidade. E, 
cá entre nós, as pessoas estão ficando cada vez menos compla-
centes com quem não respeita o meio ambiente”. Stavanger é a 
quarta maior cidade da Noruega e capital de duas importantes 
indústrias do país: o petróleo e o salmão.
10 Panorama da AQÜICULTURA, maio, junho, 2010
Notícias & Negócios On-line
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www.panoramadaaquicultura.com.br
De: Newton Rodrigues
newtonrodrigues@uol.com.br
Para: lista@panorama-l.com.br
Assunto: Pangassius 
Essa semana conversei com o pesquisador do CIRAD Jérôme La-
zard sobre a produção de Pangassius. Sabemos que ele esteve no 
Vietnã algumas vezes e os franceses participaram ativamente do 
desenvolvimento do protocolo de reprodução da espécie, da sua 
domesticação. Informações que ele me passou e que achei inte-
ressantes: o Pangassius criado com ração é inteiramente expor-
tado; o Pangassius criado com fertilização orgânica é consumido 
no país; toda a cadeia do Pangassius se organiza em uma área em 
que os pontos mais distantes estão entre 100 e 150 km entre si; 
a criação do Pangassius que é exportado se dá por empresas em 
que muitas têm gestão familiar, mas que emprega outras pessoas 
que não são da família; e, a cadeia possui poucos elos no local 
- Produtor > processadora > comercialização para exportador. 
De: Minoru Nagayama 
nagayama@ig.com.br
Para: lista@panorama-l.com.brAssunto: Re: Pangassius
Qual a mágica chegar aqui a R$ 2,00 o filé? A baixíssima car-
ga tributária vietnamita, legislação trabalhista inexistente, 
custo de frete ridiculamente baixo, juros para financiamento 
em patamares internacionais. Clima favorável, água abun-
dante. Além disto, eles só pensam em mega escala. Tente 
comprar qualquer coisa no sudeste asiático, eles logo come-
çam a falar em um container fechado (20 ton.). Por causa da 
mega escala, a margem de lucro que eles utilizam é extrema-
mente baixa, acredito que o produtor receba algo em torno 
de 20 ou 30 centavos por kg. Os pagamentos são adiantados 
e a produção só começa depois de pago 50% do valor da 
mercadoria encomendada. Depois da mercadoria pronta, an-
tes do embarque o comprador precisa depositar o restante 
do valor do produto. Sem pagamento, não há embarque. En-
fim, baixos impostos, baixos salários, baixa margem de lucro, 
inadimplência zero, estoque zero, são fatores que ajudam 
bastante a reduzir os custos de produção e exportação.
De: Sergio Zimmermann
sergio@plugin.com.br
Para: lista@panorama-l.com.br
Assunto: Re: Pangassius
Talvez ainda mais perigoso que o panga, sejam os subsídios da 
tilápia da China (onde também morei alguns anos implantando 
projetos de tilápia). Como o custo de produção da tilápia Chinesa 
é tão baixo se 80% da produção é realizada em áreas mais frias 
que o Rio Grande do Sul, e a cadeia produtiva pára por quatro me-
ses? Os governos do Vietnã e da China são muito agressivos em 
termos de competição internacional com qualquer produto que 
tenha economia de escala, algum consumo interno e se mostre 
exportável. Aí tem todo o apoio político e cientifico (às vezes 
até de forma ilegal como o retorno do exportado em isenção de 
impostos). Essa é a situação da Ásia como um todo, devemos 
aprender com eles. O Brasil em termos de aquicultura ainda é um 
país muito novo, tímido, modesto, dependente do baixo preço 
dos grãos e da nossa pródiga natureza para termos alguma com-
petitividade lá fora ou evitar que produtos semelhantes acabem 
com a nossa produção para o mercado interno. Porém, teremos 
de nos profissionalizar e mudar nossas políticas e práticas prote-
cionistas se quisermos nos manter competitivos.
De: Ricardo Y. Tsukamoto
11Panorama da AQÜICULTURA, maio, junho, 2010
Notícias & NegóciosOn-line
De: Ricardo Y. Tsukamoto 
bioconsu@uol.com.br
Para: lista@panorama-l.com.br
Assunto: Re: Pangassius
Sempre fiquei intrigado com o mérito dos chineses em conse-
guir criar tanta tilápia em um clima tão frio. Se fosse nos pa-
íses do sudeste asiático, com um clima mais quente e ameno, 
até se entenderia a supremacia da tilápia. E a minha admira-
ção ficou ainda maior com a rápida recuperação da indústria 
da tilápia na China após o inverno devastador de alguns anos 
atrás. Tal patamar de competição mostra como somos ama-
dores, tanto em nível de estratégia governamental, de infra-
estrutura, de carga tributária e na cadeia produtiva. 
De: Sergio Tamassia
tamassia.panorama@gmail.com
Para: lista@panorama-l.com.br
Assunto: Re: Pangassius
A minha opinião é que, além deles disporem de peixes muito 
interessantes, como o panga e a tilápia, eles têm vietnamitas e 
chineses por lá, eles têm governo vietnamita e governo chinês 
por lá, ao passo que aqui temos brasileiros e governo brasileiro! É 
apenas esta diferença, pois ao que tudo indica, lá eles acreditam 
que o consumidor maravilha comprará o peixe maravilha se, e so-
mente se, o preço for atrativo ao consumidor e não ao vendedor; 
eles dispõem de apoio governamental para elaborar programas 
de desenvolvimento e continuar apoiando estes programas por 
vários anos; eles dispõem de pesquisa e principalmente de “ex-
tensão rural” comprometida com estes programas governamen-
tais (políticas públicas e não programas político-partidários dos 
de plantão); eles organizam as cadeias produtivas sob a batuta 
do governo que aplica uma política pública de longa duração e 
não como aqui que vai ao sabor dos interesses da “assistência 
técnica empuroterápica”; eles não acreditam que qualquer um, 
independente do tamanho e da escala, pode exportar de maneira 
competitiva; eles não acreditam que vão ficar ricos em função 
dos programas político-partidários dos de plantão; eles não acre-
ditam que com um canetaço tudo se resolve....etc..
De: Francisco Leão
f_leao@hotmail.com
Para: lista@panorama-l.com.br
Assunto: Re: Pangassius
Eu não seria tão simplista. Nós produtores ainda estamos a anos-
luz de distância do conhecimento necessário para a produção 
eficiente. Ainda existe uma grande distância entre o conheci-
mento gerado na academia e a transferência para o campo. Tenho 
visto projetos gigantescos com falhas gravíssimas estruturais e 
que a gente vê depois “o bicho pegando”. Depois, China e Vietnã 
têm subsídio pesado em cima da produção de interesse nacional. 
12 Panorama da AQÜICULTURA, maio, junho, 2010
Portanto, acho que eles estão exportando subsídio, daí o preço 
tão baixo. Finalmente, da forma que você coloca a questão, só 
falta você querer que o governo também dê a comida na boca do 
peixe. E isto não acontecerá jamais. Todos aqui da lista sabem 
da minha opinião sobre a criação do MPA, a qual, por educação 
e respeito aos profissionais do ministério, eu discuto apenas nos 
e-mails privados. Intervenção do Governo não resolveu o proble-
ma da agricultura, da integração racial, da discriminação racial, 
da integração nacional e eu vou parando por aqui porque são 35 
ou 36 ministérios. Dá para concluir que o governo também não 
vai resolver o problema da pesca e da aquicultura. Se eu tivesse 
que resumir em uma palavra a problemática da aquicultura do 
oriente versus a do Brasil, seria EDUCAÇÃO! Acho que ainda fal-
tam uns 2000 anos para nós começarmos a pensar como eles. 
Esta é a diferença. Eles são supremamente objetivos enquanto 
que nós somos latinos! É isso!
De: Sergio Zimmermann
sergio@plugin.com.br
Para: lista@panorama-l.com.br
Assunto: Re: Pangassius
Sobre o fato dos chineses produzirem em clima tão frio ou pior 
que o nosso do sul, é que durante os meses de verão o clima é 
extremamente quente como o nosso, ou talvez até mais quente, 
tanto que a principal causa de mortalidade por lá é o Strepto-
coccus spp. quando a água passa dos 31oC (chega facilmente aos 
34 ou 35oC). Isso ocorre de junho a setembro no pico de cresci-
mento, mas como o clima é subtropical, existem as frentes frias 
todo o ano e a temperatura da água cai facilmente aos 17-20oC, 
mesmo durante o verão quando as frentes frias forem persisten-
tes. As temperaturas no hemisfério norte são bem mais baixas 
para uma mesma latitude, então apesar de 90% das larviculturas 
se localizarem na “ilha tropical de Hainan” (mesma latitude de 
Vitória, ES), peguei vários dias com 10oC no ar e 13oC na água, 
lembrando muito as temperaturas de Floripa. Tanto é verdade, 
que a reprodução fora de estufas é realizada somente em 8 meses 
do ano, e a maior parte dos cultivos, apesar de ficarem em lati-
tudes semelhantes a São Paulo e Paraná, apresentam um clima 
de Uruguai ou Argentina Central. Uma percentagem significativa 
dos produtores usa o cruzamento de Nilótica com Áurea para 
evitar as mortalidades devido às frentes frias fora de época e 
para tentar manter os animais por mais tempo possível ao longo 
do inverno (escalonar colheitas). Quanto aos comentários do Ri-
cardo, é curioso que mais de 80% da tilápia produzida no mundo 
seja cultivada justamente em clima subtropical ou temperado 
(Egito, sul do Brasil ou no norte da Tailândia). Portanto, não é 
de se estranhar que a cada dez anos ocorram 2 ou 3 “invernos 
devastadores”. No caso da China, o devastador não foi tanto em 
animais grandes, pois o frio foi em dezembro e janeiro, e a sa-
fra havia sido praticamente toda colhida. O prejuízo maior foi 
na produção de juvenis (também em estufas) da próxima safra, 
atrasando a estocagem e ocasionando um vazio momentâneo de 
4 a 5 meses. Houve também perda de reprodutores até mesmo13Panorama da AQÜICULTURA, maio, junho, 2010
Notícias & NegóciosOn-line
nas estufas de Hainan, onde a temperatura da água chegou aos 8oC 
em viveiros próximos ao mar. O ano novo chinês que se comemora 
em fevereiro, representa o final do inverno e coincide com o início 
da maior demanda de alevinos (tem um pico de consumo em maio, 
e no caso de Hainan um segundo pico em outubro para uma segun-
da safra de inverno). As vendas de alevinos praticamente param 
de outubro a fevereiro. Com um período de cultivo fora de estufas 
de 8-9 meses (depende da área em questão), o ganho de peso já 
não é tão importante, mas sobrevivência sim (neste caso influi 
muito na conversão), bem como o rendimento de filés (preço do 
lote em algumas integrações). Algumas empresas investem pesado 
em melhoramento no ganho de peso para colocar os animais mais 
cedo no mercado, e outras investem no melhoramento da Áurea 
para tolerância ao frio e salinidades elevadas em viveiros de cama-
rão (policultivo) e no cruzamento com a Nilótica para aumentar o 
rendimento de filé, velocidade de crescimento e vigor híbrido. Não 
é raro ver na China uma boa parte da cadeia produtiva da tilápia 
(larviculturas, processadoras ou mesmo engordas) trabalhando so-
mente 6 a 8 meses ao ano e no resto do tempo serem convertidas 
a outra atividade ou simplesmente manter 80 a 100% da estrutura 
ociosa. Isso também é possível porque as leis trabalhistas (que 
existem e são semelhantes às nossas) raramente são cumpridas por 
todos, e acabam viabilizando essa situação de ineficiência. O men-
cionado elevado patamar de competição dos chineses acaba sendo 
uma soma de economia de escala com uma série de estratégias go-
vernamentais sem intenção de serem subsídios (baixos custos de 
aluguel de terras, auxílio na construção de viveiros, energia elétrica 
a preço de custo), organização dos pequenos produtores em gigan-
tescas associações compounds com mega benefícios no custeio da 
safra, um enorme poder de negociação de insumos dos compounds 
com assistência técnica gratuita (do governo ou dos fornecedo-
res pressionados pela competição), além de uma carga tributária 
favorável (às vezes até desleal, pois a cada 10 dólares exportado 
retorna 1 dólar em impostos - isso não é aceito pela OMC, pois 
seria baixar artificialmente 10% do valor do produto). Também 
se nota um enorme poder dos atravessadores (novos empresários 
oportunistas que fazem a complicada ponte entre os consumidores 
finais e os produtores de insumos). Por exemplo, uma larvicultura 
grande que produza mais de 100 milhões por ano em alevinos, 
vende cerca de 90% da produção para somente 6 ou 7 atravessa-
dores poderosos - às vezes parte do próprio governo local - e que 
juntos praticamente ditam os preços e as margens dos principais 
fornecedores. Desta forma, promovem uma constante competição, 
somando os beneficiados de uma enorme economia de escala e 
o contentamento de uma margem pequena em cada degrau da 
cadeia produtiva. Finalmente, outro fator de importância é que a 
14 Panorama da AQÜICULTURA, maio, junho, 2010
15Panorama da AQÜICULTURA, maio, junho, 2010
China colhe em média animais de 8 meses com 600 gramas, e que 
somente 20% do total são exportados, ou seja, as processadoras 
compram a baixos preços um “subproduto do mercado interno” 
que indiretamente acaba também subsidiando as exportações. Nos 
últimos 10 anos, vendo a tilapicultura na China, fica bem claro que 
existe uma globalização da atividade também por lá. É marcante o 
subsídio disfarçado e a tendência ao aumento dos custos de produ-
ção pelos aumentos de salários, valor dos insumos (especialmente 
a ração que é 10% mais cara que aqui), bem como da margem de 
lucro dos atravessadores privados que cada vez é maior. Porém, 
ainda estamos muito longe da competência em se produzir com 
preços baixos, típica no continente Asiático.
De: Sergio Tamassia
tamassia.panorama@gmail.com
Para: lista@panorama-l.com.br
Assunto: Re: Pangassius
Pode ter até protecionismos, mas pelo e-mail do Zimmermann 
parece que a estória poderia ter muitos outros componentes E 
um deles, infelizmente, é que parece que eles têm eficiência 
produtiva com muitos ganhos de escala e uma governança po-
sitiva. Aí a coisa fica difícil. Talvez somente a intercessão do 
“todo poderoso” possa resolver o problema da aparente inefici-
ência que parecem ter incorporado em seu espírito mais profun-
do os cultivos de fora da China, e do panga fora do Vietnã. Se eu 
já tinha dúvidas se o papel do SEAP/MPA era o de organizar os 
trenzinhos da alegria para percorrer o mundo vendendo ilusões 
sobre os peixes maravilhas nativos, que praticamente existem 
somente no papel, eu tenho certeza que o papel do MPA não 
é cuidar de equilíbrios de preços de commodities em mercado 
internacional. O MPA ainda é uma criancinha, não chegou nem 
na fase da “aborrecência”. Mas, com certeza, o MPA deveria é 
cuidar com muito mais zelo das questões que levam a produção 
nacional a apresentar estes custos “meio irrealistas em relação 
aos produtos concorrentes”. Deveria formular políticas e opera-
cionalizar fontes de recursos que permitam desenvolver bases 
para uma cadeia produtiva nacional desde o ovo até a mesa, a 
preços competitivos (como fazem o Panga no Vietnã e a Tilápia 
na China). Se o que é atributo do MPA, este parece que ainda 
está deixando muito a desejar, imagine ele partir para tratar 
de relações comerciais internacionais. Isto não é assunto para 
criancinha. É coisa de gente grande. 
De: Francisco Leão
f_leao@hotmail.com
Para: lista@panorama-l.com.br
Assunto: Re: Pangassius
Não acho que seja um problema tão simples, nem que o governo 
seja culpado de tudo. Também não acho que um ministério a mais 
vai resolver o problema que, antes de tudo, é uma questão de ati-
tude de todos os membros da cadeia. A cadeia não está montada. 
O piscicultor não sabe o que fazer com o peixe produzido (vender 
com lucro) porque não sabe fazer conta. Quem está “dando certo” 
é quem entrega o peixe ao consumidor final ou atacado, principal-
Notícias & NegóciosOn-line
mente os que verticalizaram a cadeia. Mesmo assim, alguns “ver-
ticais” de vez em quando balançam! O resto é como eu: vende pra 
pesqueiro por comodidade ou por falta de educação empresarial. 
Não adianta colocar a culpa só no governo. Cada um tem que as-
sumir a sua parte nesta equação.
De: Ricardo Y. Tsukamoto
bioconsu@uol.com.br
Para: lista@panorama-l.com.br
Assunto: Re: Pangassius
Caro Sérgio Zimmermann, muito obrigado pelos interessantíssi-
mos esclarecimentos! Você mostrou que o famoso mote brasi-
leiro de “país abençoado por Deus” de nada serve para ter com-
petitividade no mundo globalizado. Ser organizado em nível 
privado e governamental se tornou muito mais importante do 
que ter as condições favoráveis de território amplo disponível, 
água abundante, clima quente, soja na porta, e outros. Nas 
últimas duas décadas, o Brasil vem regredindo a qualidade de 
sua exportação, só conseguindo vender produtos primários aos 
outros países. Até a soja agora só é exportada bruta, em grão, 
quando antes se exportava seus produtos processados (óleo, 
farelo). Será que a acirrada competição lá fora na área aquícola 
fará o Brasil aposentar os sonhos da tilápia para exportação, 
além de crescer como grande importador de peixes (merluza, 
salmão, tilápia, pangasius e outros)? E a piscicultura brasileira, 
se destinará a abastecer os mercadinhos locais?
De: Itamar Rocha
ipr1150@gmail.com
Para: lista@panorama-l.com.br
Assunto: Re: Pangassius
Caro Sérgio Zimmermann, parabéns pelas informações e coloca-
ções sobre as condições da produção de tilápia na China. Apenas 
quero aproveitar o ensejo, para acrescentar que no tocante às 
exportações, o diferencial de competitividade tem como base: 
a carga tributária, a política cambial e trabalhista, nada que os 
produtores brasileiros não possam conseguir, desde que supe-
rem suas crônicas dificuldades de se organizarem, no contexto 
de toda a cadeia produtiva. Não precisaprocurar exemplos de 
fora, basta seguir os exemplos de frango, suíno e bovino, que 
juntos participam com 34% do trading mundial de carnes!!!! 
É evidente que o mercado interno, desde que protegido das 
investidas de produtos oriundos de países que efetivamente 
apóiam seus produtores, apresenta condições excepcionais para 
absorver a produção advinda da piscicultura. Para evidenciar a 
peculiaridade da situação brasileira, é suficiente a simples aná-
lise de alguns dados: o consumo interno de pescado é de 6,5kg 
per capita ano, enquanto a média mundial é de 17kg per capita 
ano. De fato, todos querem ter direito à exportação, por isso, 
precisamos disponibilizar aos produtores brasileiros as mesmas 
ferramentas de competitividade dispensadas pelos demais pa-
íses aos seus exportadores, o que passa, necessariamente, por 
uma organização da base produtiva, que é a única forma de 
pressionar a classe política e os governantes. 
16 Panorama da AQÜICULTURA, maio, junho, 2010
Por:
Fernando Kubitza, Ph. D.
Acqua Imagem Serviços Ltda
fernando@acquaimagem.com.br
Os Caminhos para uma
e três bilhões de habitantes na década de 60, o planeta abriga hoje 
quase 7 bilhões e deverá sustentar 9 bilhões ainda na metade deste 
século. Com isso será cada vez maior a demanda por água, alimento e espaço, 
bem como a pressão sobre o uso de energia, combustíveis fósseis e outros 
recursos naturais. Além disso, vamos ter mais lixo e esgoto no ambiente, em 
particular nos ecossistemas aquáticos. Com a produção da pesca já no seu limite, 
até 2050 a aquicultura mundial deverá triplicar seu volume de produção (hoje 
ao redor de 70 milhões de toneladas) para atender a demanda por pescado. O 
grande desafio da aquicultura é realizar isso de modo sustentável, reduzindo 
sua dependência em recursos naturais não renováveis, minimizando a emissão 
de efluentes, utilizando alimentos que não concorram 
diretamente com a alimentação humana, fazendo um 
uso integrado ou compartilhado dos recursos hídricos, 
otimizando sua produtividade, reduzindo os custos de 
produção e comercialização, preservando e, até mesmo, 
recuperando o ambiente, promovendo desenvolvimento 
e satisfação social, entre outras demandas que contri-
buam com a sustentabilidade do setor e do planeta.
O pescado é a proteína animal mais consumida em todo o mundo, principalmente 
entre as populações mais pobres do planeta. Anualmente cerca de 95 milhões 
de toneladas são capturas via pesca e mais 70 milhões são produzidas na 
aquicultura. Em 2050 a aquicultura precisará produzir cerca de 210 milhões de 
toneladas de pescado para atender a demanda mundial. Nas fotos acima tilápias 
expostas em banca de mercado livre nas Filipinas e peixes da aquicultura (salmão, 
tambacu, tilápias e trutas) em supermercado no Brasil
O que é um empreendimento sustentável?
Aspectos ambientais, econômicos e sociais devem ser 
atendidos para que um empreendimento ou atividade seja sus-
tentável. A atividade precisa ser rentável, seja do ponto de vista 
do retorno adequado aos seus investidores, do desenvolvimento 
econômico local e regional, da geração de divisas com exporta-
ção, ou mesmo, como estratégia de segurança alimentar e alívio 
da fome em um determinado país. Precisa promover bem estar 
social, através da oferta de emprego e renda, da criação de um 
ambiente agradável de trabalho e da criação de oportunidades 
de desenvolvimento social em seu entorno. 
Piscicultura Sustentável
17Panorama da AQÜICULTURA, maio, junho, 2010
c
a b
d
Piscicultura Sustentável
Os centros urbanos ganham mais habitantes todos os anos e as cidades vão ocupando cada 
vez mais área e consumindo cada vez mais recursos. O volume de esgoto gerado aumenta 
e este invariavelmente é lançado nos ambientes aquáticos. A produção animal, inclusive a 
aquicultura, quando se desenvolve sem organização também pode causar impacto ao ambiente. 
Não podemos esquecer de nossa responsabilidade com as gerações futuras, preservando o que 
ainda existe e, imperativamente, recuperando o que foi degradado. Nas fotos, em sentido 
horário: a) município de Ituberá-BA, ocupação de áreas de mangues pelo crescimento urbano 
e aporte de esgoto diretamente no estuário. Muitos municípios no Brasil, inclusive muitas 
capitais litorâneas, cresceram sobre o mangue e aportam seus dejetos diretamente em áreas 
estuarinas. Uma aquicultura sustentável tem que condenar esses descasos e, portanto, não 
pode contribuir com tal degradação; b) crianças em comunidade pesqueira nas Filipinas, que 
auxiliam seus pais nas atividades diárias da pesca; c) crianças no Ceará, que não fazem a 
menor idéia do que irão encontrar pela frente, e tampouco conhecem o descaso do acúmulo 
de lixo; (d) aporte de esgoto no Rio Tietê, na maior cidade do país
E, finalmente, deve contribuir com a pre-
servação dos recursos naturais, tanto daqueles 
locados no entorno e diretamente utilizados por 
empreendimentos individuais ou pólos de produção 
aquícola, como dos recursos naturais empregados 
por outros empreendimentos dos quais dependem.
Num horizonte de curto prazo, há uma valo-
rização desequilibrada dos aspectos econômicos em 
detrimento dos sociais e ambientais. O foco é maxi-
mizar a produção dentro das limitadas condições de 
espaço, de recurso hídrico e de capacidade biológica 
dos animais produzidos no empreendimento. O que 
não se pode esquecer é que os empreendimentos 
aquícolas são altamente dependentes da qualidade 
ambiental. Portanto, a operação dos mesmos no li-
mite de sua capacidade de sustentação compromete 
os resultados no médio e longo prazo, quando o 
setor vai se tornando cada vez mais competitivo, 
com reduções e nivelamento de preços, e menores 
margens para erros e ineficiências. 
A demasiada intensificação dos cultivos de-
manda alto investimento, cria maior dependência 
em energia e aumenta a incidência de doenças, 
dentre outros aspectos negativos. Em consequência 
ocorrem significativas perdas dos estoques (dinheiro 
jogado no ralo, é o que se vê imediatamente) e uma 
piora nos índices de crescimento e conversão alimen-
tar dos estoques sobreviventes (um dinheiro jogado 
no ralo que somente será percebido no balanço final 
do cultivo ou quando o empreendimento quebrar de 
vez). Além disso, cria-se uma alta dependência no 
uso de medicamentos, bioremediadores, produtos 
químicos, probióticos e toda a gama de produtos e 
soluções que são oferecidos e comprados quando se 
está diante de um empreendimento “doente” termi-
nal. Os custos se elevam, os lucros desmoronam e o 
empreendimento se torna deficitário e quebra.
Assim, sob a perspectiva de longo prazo 
(que no caso do planeta deve se estender a todas as 
possíveis gerações que aqui existirão), o conceito 
de sustentabilidade está fortemente relacionado aos 
aspectos ambientais, e não há como fugir disso. A 
compatibilidade ambiental, no final de tudo, é o 
que realmente vai orientar os rumos da aquicultura 
como atividade sustentável e de importância na 
geração de alimento.
Portanto, em uma definição relativamente 
simples, uma atividade ou empreendimento susten-
tável é aquele que consegue atender as necessidades 
humanas (de alimento, de renda, de serviços e bem 
estar geral), manejando, de maneira integrada e efi-
ciente os recursos naturais, de forma a manter e, até 
mesmo a melhorar, a qualidade do ambiente, conser-
vando estes recursos para as gerações futuras.
Crises para não se esquecer e exemplos para orientar o futuro
No início desta década, a carcinicultura brasileira – mesmo ciente dos 
colapsos da produção de camarão marinho no Equador e no sudeste asiático 
devido à ocorrência de doenças – vinha entusiasmada com altos índices de 
produtividade alcançados em solo tupiniquim e com os bons preços pagos 
no mercado internacional. Cada vez mais se buscava atingir maiores pro-
dutividades de camarão por área, às custas de pesados investimentos em 
aeração e arraçoamento cada vez mais intenso. A máxima de que “coisa 
ruim só acontece com os outros,nunca com a gente” não prevaleceu no 
caso brasileiro. Os mesmos problemas sanitários vivenciados pelo setor em 
outros países se repetiram em nossas carciniculturas, decorrentes da adoção 
de um modelo de produção equivocado, que não compreendeu ou respeitou 
os fundamentos e os limites biológicos da aquicultura, que sucumbiu a 
uma visão imediatista de resultados e lucros, e que foi implantado com um 
descontrolado padrão de ocupação de áreas costeiras, sem que houvesse 
um adequado zoneamento para a expansão da atividade. Com esta postura, 
o setor passou a ser fortemente criticado por ambientalistas e pressionado 
por agências ambientais. A queda na produção e os aumentos de custos 
em função das doenças, aliados ao cenário econômico desfavorável ao 
camarão no mercado internacional, resultou no fechamento de um grande 
número de empreendimentos no Brasil, grande desemprego e inadimplência 
do setor. Isso exigiu uma mudança drástica na estratégia de produção dos 
18 Panorama da AQÜICULTURA, maio, junho, 2010
empreendimentos sobreviventes que, apenas recentemente, e 
através da consolidação do mercado interno, conseguiram dar 
ao setor ares de recuperação.
Drama semelhante está vivendo a salmonicultura chi-
lena que, após ter atingido o status de segundo maior produtor 
mundial de salmão, agora sofre com os rigores de uma virose 
atribuída à crescente intensificação e ao inadequado zoneamen-
to dos cultivos. Apesar de uma rápida reação da indústria com 
medidas de controle sanitário e reestruturação dos cultivos, 
o Chile experimentou uma significativa quebra de produção 
e consequente redução nas exportações da ordem de 30% 
em 2009, permanecendo ainda em níveis baixos em 2010, 
esperando-se uma restauração completa dos seus estoques de 
salmão apenas em 2011. Esse cenário resultou no desemprego 
e fechamento de um grande número de empreendimentos de 
produção e serviços ligados ao setor. 
Tanto a carcinicultura como a salmonicultura sofreram, 
e ainda sofrem, severas críticas por parte de ambientalistas. 
Ambas tiveram que reavaliar suas estratégias de produção, 
de mercado e, principalmente, de interação com os recursos 
naturais onde estão inseridas, após sofrerem o impacto de 
problemas com doenças. São, portanto, importantes exemplos 
para os setores emergentes da aquicultura que desejam tomar 
corpo em nosso país, como a produção de tilápias e de peixes 
redondos, que vem se expandindo em grande parte do nosso 
território e que não pode repetir os mesmos equívocos e ignorar 
a importância de se consolidar como atividade sustentável.
Pré-requisitos e tendências para uma aquicultura sustentável
Como já é possível perceber, o conceito de atividade/
empreendimento sustentável é algo bastante complexo, que 
envolve a atenção a diferentes aspectos que regem o empreen-
dimento. O caminho para atingir a sustentabilidade deve levar 
em consideração as limitações biológicas de cada sistema de 
produção, o uso integrado dos recursos, a preservação e, até 
mesmo, a restauração da qualidade ambiental, dentre diversos 
outros aspectos. A seguir serão discutidas alguns dos pré-
requisitos e tendências dos empreendimentos aquícolas rumo 
à sustentabilidade.
Observação e respeito aos limites de produção – um deter-
minado ambiente (um oceano, um estuário, um grande reserva-
tório, um rio, um açude, um tanque escavado, um tanque-rede, 
uma caixa d’água, e qualquer outro recurso natural) tem sua 
capacidade máxima de assimilar os resíduos orgânicos e os 
nutrientes gerados na produção, ou seja, um limite de susten-
tação de biomassa. Este limite é tecnicamente denominado 
capacidade de suporte. Operando na capacidade de suporte 
os empreendimentos correm grandes riscos de mortalidade de 
peixes por problemas de qualidade de água e doenças. Assim, 
os modelos de produção devem ser estruturados para operar 
dentro do conceito de biomassa econômica e de biomassa 
ambientalmente sustentável, que são valores de biomassa bem 
abaixo da capacidade de suporte.
Aproveitamento eficiente da produtividade primária 
(fitoplâncton) e detritos orgânicos gerados nos sistemas 
de produção – na criação de peixes em tanques com baixa 
renovação de água há um grande aumento na produtividade 
primária devido ao aporte de nutrientes via ração, fertilizan-
tes e excreção dos peixes. Assim, dentro da grande diversi-
dade de espécies potencialmente cultiváveis e de aceitação 
no mercado, deve-se optar pela criação de espécies capazes 
de aproveitar eficientemente os alimentos naturais e detritos 
orgânicos gerados no ambiente de cultivo, reduzindo a carga 
orgânica nesses ambientes e nos efluentes. Espécies que 
consomem o fitoplâncton, alimento natural mais abundante 
em massa nos tanques de criação, são as mais indicadas. Po-
licultivo com espécies de peixes detritívoras e planctófagas 
também é uma boa opção.
Mínimo uso de água e aporte de efluentes – num futuro 
muito próximo deverá haver um rigor ainda maior sobre o 
uso da água e o descarte de efluentes. Portanto, os sistemas 
de produção baseados no uso mínimo de água terão cada vez 
mais importância na aquicultura. Um exemplo de indústria 
fundamentada neste sistema é a produção do catfish ameri-
cano nos Estados Unidos, na qual os viveiros de produção, 
após enchidos, praticamente não recebem mais aporte de 
água voluntário. Apenas recebem água de chuva (que cai 
Mortalidade crônica de peixes devido a problemas de qualidade 
de água e doenças em tanques onde a biomassa de peixes se 
aproxima da capacidade de suporte. Mortalidade é dinheiro 
indo diretamente para o lixo. Além destas perdas diretas, há o 
desperdício de ração, atraso no crescimento e piora na eficiência 
alimentar, onerando ainda mais os custos de produção
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19Panorama da AQÜICULTURA, maio, junho, 2010
Piscicultura Sustentável
direto sobre o viveiro) ou, no caso dos viveiros de barragem (açu-
des ou represas), a enxurrada proveniente da bacia de captação 
de água no entorno dos viveiros. O nível de água nos viveiros é 
mantido abaixo do sangradouro, possibilitando o armazenamento 
da água das chuvas sem que o viveiro transborde, minimizando 
assim a descarga de efluentes. Os viveiros de produção de catfish 
são apenas drenados a cada 3 a 8 anos. Ao longo deste período são 
realizadas despescas seletivas (retirando os peixes com tamanho de 
mercado), seguidas da estocagem de juvenis, para repor os peixes 
retirados. O modelo de produção do catfish americano pode ser 
perfeitamente aplicado à produção dos nossos peixes redondos, que 
não se reproduzem durante o cultivo e são facilmente capturados 
com redes de arrasto. Assim, seria possível usar a estratégia de 
múltiplas despescas e estocagem para reposição do estoque sem a 
necessidade de drenar os viveiros. Já com a tilápia, peixe de des-
pesca mais difícil e que pode apresentar considerável reprodução 
durante o período de engorda, é necessária a drenagem completa 
dos viveiros ao final de cada etapa da criação. Ainda assim, esta 
água drenada pode ser reaproveitada no próximo ciclo de produção 
ou em outros viveiros, com significativa economia com corretivos 
e fertilizantes e possibilitando o início de um próximo ciclo de 
cultivo com uma boa quantidade de alimento natural (plâncton) 
presente na água dos viveiros. Apenas é preciso desenhar uma 
estrutura de produção que possibilite este reaproveitamento. Além 
do menor consumo de água, do mínimo aporte de efluentes, da 
redução das despesas com bombeamento (em pisciculturas que 
são abastecidas com água bombeada) e do menor gasto com cor-
retivos (calcário) e fertilizantes, os sistemas com renovação zero 
e reaproveitamento da água minimizam, ou até mesmo eliminam, 
os escapes de peixes para o ambiente.
Menor dependência no uso de energia – é 
consenso que a demanda e o custo da energia 
(proveniente de combustíveis fósseis e outras 
fontes) não pararão de crescer no planeta. As-
sim, é necessário otimizar o uso da energia por 
tonelada de peixeproduzida. Isso pode ser al-
cançado com a adoção de sistemas de produção 
menos intensivos, pouco dependentes do uso de 
energia para aeração ou bombeamento de água. 
Ou mesmo através do refinamento tecnológico 
de novos sistemas intensivos de produção, como 
a produção de peixes em unidades com recir-
culação e tratamento da água ou em sistemas 
baseados na formação de bioflocos, que, apesar 
da grande dependência em energia, possibilitam 
produzir grandes volumes de peixes com limitado 
uso de água e espaço, e sem efluentes.
 
Uso de rações de alta qualidade e a base de 
ingredientes vegetais – rações de alta qualidade 
e digestibilidade maximizam o crescimento e a 
eficiência alimentar, preservam por mais tempo 
a qualidade da água nos tanques de criação e 
fortalecem a saúde e o sistema imunológico, 
reduzindo a incidência de doenças e mortalidade 
durante o cultivo. Desse modo, contribuem com 
a redução nos custos de produção e com o menor 
aporte de nutrientes por unidade de peixe produ-
zida. Deficiências nutricionais contribuem com o 
aumento na incidência de doenças em sistemas de 
produção, particularmente nos mais intensivos. 
Portanto, o adequado balanceamento nutricional 
e o enriquecimento vitamínico e mineral das 
rações usadas em aquicultura intensiva são fun-
damentais à saúde e sobrevivência dos animais 
durante a criação. Outro ponto importante é a ten-
dência de redução na dependência da aquicultura 
no uso de farinhas e óleos de peixes nas rações. 
Atualmente, cerca de 30 a 35 milhões de tonela-
das de pescado são capturadas anualmente com 
o objetivo exclusivo de fabricação de farinhas e 
óleos de peixes. Com o aumento na população 
mundial e da demanda por alimentos, boa parte 
deste pescado que hoje vira farinha, deverá servir 
ao consumo humano direto. Deste modo, a produ-
ção de farinha e óleo de peixe para uso em rações 
animais será preferencialmente feita a partir dos 
resíduos das indústrias de pescado (inclusive as 
que processam pescado cultivado). Portanto, o uso 
de rações formuladas com base em ingredientes 
vegetais e de subprodutos da indústria animal, em 
substituição à farinha de peixe, o que já é comum 
na criação de muitas espécies de peixes, em par-
ticular no Brasil, poupará recursos pesqueiros e 
contribuirá com a sustentabilidade da aquicultura 
e de outras produções animais.
A tendência da aquicultura 
mundial será a adoção de sistemas 
de produção com o uso mínimo 
de água. Da esquerda para a 
direita: a) grupo de viveiros, 
cada um com cerca de 4 hectares, 
usados na criação de “catfish” nos 
Estados Unidos, abastecidos com 
água bombeada de poços, sem 
renovação de água e com aeração 
geralmente realizada no período 
noturno, quando necessário. b) 
sistema de criação de “catfish”em 
tanques de alta renovação de 
água (raceways), com cerca de 10 a 20 trocas completas por hora. Este sistema de produção 
deverá ser cada vez mais raro, com o aumento na demanda por água. c) em contraste, 
algumas regiões do planeta sofrem com a falta de água
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20 Panorama da AQÜICULTURA, maio, junho, 2010
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Opção pelo cultivo de espécies de baixo nível trófico e eficientes 
no aproveitamento de rações formuladas - conforme discutido 
anteriormente, os empreendimentos aquícolas devem optar por 
espécies capazes de aproveitar alimentos naturais e/ou de converter 
eficientemente rações formuladas a base de ingredientes vegetais, 
com mínima dependência por farinhas de peixe. Sob este aspecto, 
a criação de um pintado ou pirarucu (peixes que possuem hábito 
alimentar originalmente carnívoros) com rações a base de grãos 
é mais sustentável do que produzir tilápias ou carpa capim com 
rações contendo altas inclusões de farinhas de peixe. O conceito 
que muitos têm de que a criação de peixes carnívoros é uma ativi-
dade insustentável do ponto de vista ambiental ou pouco eficiente 
em termos de produção de carnes, geralmente desmorona quando 
estas espécies são produzidas com rações a base de grãos e farinhas 
de subprodutos da indústria animal, como no caso do Brasil.
Uso de recursos de forma compartilhada com outras atividades - 
o Brasil sai em grande vantagem em relação à maioria dos países 
neste quesito. O modelo brasileiro de geração de energia (através 
de hidrelétricas instaladas em quase todo o território) e os inves-
timentos em represamentos para aliviar os efeitos das secas – em 
particular na Região Nordeste, resultaram em uma grande área 
de reservatórios e grande acúmulo de água que podem perfeita-
mente ter seu uso compartilhado por diversas atividades (geração 
de energia, abastecimento urbano e rural, irrigação, recreação, 
aquicultura, etc.). Isso tem possibilitado um grande avanço na 
produção de peixes em tanques-rede em diversas regiões 
do país. Usando exclusivamente o potencial hídrico já 
instalado destes reservatórios, o Brasil poderá se tornar 
um dos maiores produtores mundiais de pescado de 
modo sustentável. Além desse potencial, há um grande 
volume de água represado em propriedades particula-
res para fins de irrigação, consumo animal e combate 
a incêndios. A criação de peixes, portanto, possibilita 
um uso mais eficiente destes recursos e cria melhores 
perspectivas de retorno ao capital investido nestes re-
presamentos, seja através do retorno financeiro direto 
em empreendimentos particulares, ou pela geração de 
oportunidades de trabalho, renda, ascensão econômica, 
bem estar social, de alimento de qualidade e de valores 
econômicos, através do estabelecimento de pólos aquí-
colas de produção.
Aumento no número de empreendimentos de menor 
porte com foco no comércio local/regional de pes-
cado - apesar de no momento estarmos presenciando a 
formação de grandes conglomerados industriais no setor 
de produção animal, com grandes grupos incorporando 
empreendimentos de menor porte em todo o planeta, há 
um entendimento de que, com o aumento nos custos de 
combustíveis e transportes, no futuro haverá uma tendência 
de regionalização da atuação dos empreendimentos de 
produção de alimentos e insumos. Um exemplo disso é 
a descentralização observada na produção de rações para 
peixes e outros animais no Brasil. No início da década de 
90 as principais empresas de ração se concentravam par-
ticularmente no Sudeste e Sul do país. Com a expansão da 
aquicultura em estados do Nordeste, Centro-Oeste e Norte, 
diversos fabricantes estabeleceram fábricas para produção 
local de ração, reduzindo despesas com fretes e tornando 
mais competitivos os preços aos produtores e, em alguns 
casos, aproveitando a maior proximidade de importantes 
centros de matérias primas que se formaram em algumas 
destas regiões. Esta tendência de descentralização dos 
empreendimentos de produção também deverá ocorrer 
na aquicultura, aproveitando nichos de mercados locais e 
regionais, com melhor logística e menor custo de distri-
buição dos produtos. Num panorama macro, isso ocorreu 
com a carcinicultura nacional, que era 100% focada na 
exportação. Quando enfrentou um cenário desfavorável de 
câmbio, aumento nos custos de produção devido a doenças, 
taxa “antidumping” e queda nos preços internacionais do 
camarão, o mercado nacional foi a salvação, com um custo 
menor de distribuição e preços mais favoráveis do que os 
da exportação. Outro ponto a ser considerado é o fato de 
que ano a ano aumenta o contingente de consumidores 
alertas às questões ambientais e que optam por produtos 
locais ou produzidos a uma distância mínima de onde vi-
vem, de forma a contribuir com o desenvolvimento local e 
com uma menor exaustão dos recursos naturais e emissão 
de gases poluentes no planeta. Para poupar recursos do 
planeta (e do próprio bolso), realmente faz mais sentido 
Além de representar fração significativa 
do custo de produção em aquicultura, a 
ração é a principal fonte de nutrientes e 
resíduos orgânicos em criações intensivas. 
O uso de rações de alta qualidade e 
digestibilidade, aliado ao adequado manejo 
alimentar,contribui significativamente 
para minimizar o aporte de resíduos nas 
unidades de produção. Da esquerda para a 
direita: a) ração peletizada (que afunda) 
com bastante finos e peletes quebrados; 
b) ração extrusada comercial, de alta 
estabilidade na água e com peletes de 
tamanho uniforme
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21Panorama da AQÜICULTURA, maio, junho, 2010
Piscicultura Sustentável
um cidadão como eu, que moro em Jundiaí, mais conhecida 
em São Paulo como a “Terra da Uva”, comprar vinhos daqui 
do que os vinhos do Rio Grande do Sul ou de outros países. 
Assim como optar pela compra de filés de tilápias, costelas 
de tambaquis, camarões cinzas e outros pescados produzidos 
no Brasil ao salmão proveniente do Chile.
Sistema de produção integrado e compatível com outras 
atividades de produção e com a conservação ou melho-
ria do ambiente em seu entorno - Desde o planejamento 
de sua implantação, um empreendimento aquícola deve 
evitar conflitos com outras atividades. Já na seleção dos 
locais para abrigar o projeto, deve-se optar por áreas que 
não sejam possíveis de serem utilizadas por outras ativida-
des de produção de alimento. O planejamento e a operação 
de um empreendimento em aquicultura devem primar pelo 
uso racional e manejo adequado dos recursos hídricos e da 
área, empreendendo ações de recomposição florestal e con-
servação dos mananciais. Como já se ressaltou, devem ser 
adotadas estratégias de produção com descarte mínimo ou 
zero de efluentes. Os empreendimentos aquícolas, sempre 
que possível, devem aproveitar os benefícios da integração 
com outras atividades para alcançar benefícios mútuos no 
uso dos recursos, insumos e subprodutos. Um exemplo é 
a integração da aquicultura com culturas agrícolas, através 
da irrigação com água descartada dos viveiros de criação, 
ou armazenada nos açudes usados para produção de peixes 
soltos ou em tanques-rede. Também é possível estabelecer 
culturas agrícolas nos próprios viveiros de criação, apro-
veitando o incremento na fertilidade do solo do fundo dos 
viveiros após um ciclo de produção de peixes, numa forma 
de rotação de culturas. Restos de culturas e subprodutos 
agrícolas também podem ser usados como alimento su-
plementar para os peixes em sistemas menos intensivos 
combinados com a fertilização dos viveiros. 
A integração da piscicultura com a produção de suínos ou aves também 
traz benefícios mútuos para ambas as atividades. O esterco destes animais 
que, sem melhor opção, acabaria sendo depositado no ambiente, pode 
ser usado para estimular a produção primária e, com isso, a produção 
de peixes planctófagos e detritívoros com um uso mínimo de rações. 
Em Santa Catarina, por exemplo, há um grande pólo de produção de 
peixes baseado na integração com a suinocultura e que tem contribuído 
com significativo volume de produção de pescado e com a renda de um 
grande contingente de pequenos produtores rurais. Em países como a 
China, Índia, Indonésia e Vietnã são utilizadas águas servidas com es-
goto urbano para suprimento de viveiros ou tabuleiros de arroz usados 
na criação de peixes em policultivo. Esta é uma forma integrada de uso 
de águas residuais para a produção de alimentos. No Brasil já foram 
realizadas pesquisas nesta área, embora eu desconheça algum empre-
endimento comercial que use esta prática. Este tipo de integração pode 
causar certa repulsa para alguns dos leitores. Mas esta poderá ser uma 
das poucas alternativas acessíveis de proteína para muitos dos que hoje 
já vivem dos alimentos que conseguem encontrar no lixo, inclusive em 
nosso país. Com mais de 20 bilhões de habitantes previstos no planeta 
em 2150 (nós não estaremos aqui, mas nossos netos e bisnetos sim), a 
quantidade de esgoto gerada será brutal. Assim, é bem provável que a 
piscicultura possa contribuir com a reciclagem dos nutrientes e material 
orgânico dos efluentes das estações de tratamento de esgoto em muitos 
países, gerando proteína de alta qualidade a um baixo custo, se tornando 
um componente chave na redução do uso de água limpa, da poluição 
dos recursos aquáticos e sustentabilidade do planeta.
Satisfação social - Para ser sustentável um empreendimento deve con-
seguir manter um adequado ambiente de trabalho, uma remuneração 
justa aos seus funcionários e um programa de estímulo ao aprendizado 
e crescimento funcional dentro da empresa, evitando assim as altas 
rotatividades de mão de obra comuns em empreendimentos agropecu-
ários e nos empreendimentos de aquicultura. Além de contribuir com 
o desenvolvimento econômico local, através da demanda por insumos 
e serviços, os empreendimentos de aquicultura devem apoiar ações 
institucionais e comunitárias que promovam o bem estar, saúde e o 
desenvolvimento social e cultural da comunidade.
Reservatórios usados para geração de energia ou para mitigar os problemas 
com as secas. Nestes reservatórios espalhados por todo o país, há um grande 
potencial para a produção de peixes em tanques-rede, possibilitando um uso 
múltiplo dos recursos hídricos. Da esquerda para a direita: a) reservatório 
de Caconde, no Rio Pardo, interior do Estado de São Paulo; b) reservatório 
de Xingó, no Rio São Francisco, e que abrange parte dos Estados da Bahia, 
Alagoas e Sergipe; c) reservatório do DNOCS em Sobral, CE
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22 Panorama da AQÜICULTURA, maio, junho, 2010
Sinais que indicam que um empreendimento 
está no caminho inverso da sustentabilidade
Num giro pela aquicultura brasileira naturalmente pode se 
apreciar empreendimentos de todos os portes que, por desconheci-
mento ou desconsideração dos princípios básicos da aquicultura, já 
enfrentam problemas crônicos na produção que, se não forem solu-
cionados, comprometerão sua continuidade no curto e médio prazo, 
por não alcançarem a tão aclamada sustentabilidade, sequer mesmo 
a sustentabilidade financeira do próprio empreendimento. Comuns a 
estes empreendimentos é a busca incessante pela maximização da pro-
dução dentro de um limitado espaço ou condições de recursos naturais. 
Assim, operando acima da biomassa segura (dentro das unidades de 
produção ou dentro do ambiente onde o empreendimento está inserido), 
estes empreendimentos atingem os limites da capacidade de suporte, 
onde é muito alto o risco de morte de peixes devido à degradação da 
qualidade da água e doenças, bem como o próprio risco de colapso 
de empreendimentos vizinhos que compartilham o mesmo ambiente. 
Alguns dos sinais que prenunciam a falta de sustentabilidade de um 
empreendimento aquícola são:
• Ausência de registros e controles da produção e custos;
• Inexistência de monitoramento da qualidade da água;
• Irregularidade na oferta e qualidade de insumos básicos, por 
 exemplo, alevinos;
• Mortalidade crônica ao longo do cultivo;
• Episódios agudos de mortalidade decorrentes de deterioração da 
 qualidade da água;
• Uso continuado de medicamentos, bioremediadores, probióticos 
 e outros produtos numa contínua luta sem fim para estancar 
 a mortalidade dos animais;
• Falta de percepção dos gerentes ou proprie- 
 tários quanto à importância da implantação 
 de boas práticas de produção e de reestrutu- 
 ração da produção dentro da capacidade das 
 instalações e do meio ambiente em que o 
 empreendimento está inserido;
• Insatisfação dos funcionários com a empresa 
 e alta rotatividade.
Responsabilidades para alcance da 
sustentabilidade da aquicultura no país
A discussão sobre sustentabilidade permeia as 
mais diversas atividades de produção. Naturalmente 
que isso não é diferente com a aquicultura. De um 
modo geral, ainda há no setor produtivo uma visão 
baseada em resultados econômicos imediatos. Essa 
visão precisa ser rapidamente corrigida e orientada 
nos caminhos que levam à sustentabilidade do setor 
no longo prazo. Devido ao caráter multidisciplinar 
da aquicultura, diversos grupos atuam e contribuem 
com o seu desenvolvimento. É preciso compreender 
os pré-requisitos e tendências para o desenvolvi-
mento sustentável da aquicultura, de modo a per-
mear as ações de ensino,pesquisa, suporte técnico, 
produção e estabelecimento de políticas públicas 
e regulamentações para ordenar o crescimento 
do setor. Portanto, cabe aqui uma distribuição de 
responsabilidades em prol do desenvolvimento 
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Considerável quantidade de água é utilizada na irrigação. Grandes 
investimentos são realizados na construção de barragens nas propriedades 
rurais para armazenar água com este propósito. A criação de peixes (soltos 
nos reservatórios ou confinados em tanques-rede) possibilitaria um retorno 
mais rápido do capital investido na captação e armazenamento da água, além 
de possibilitar o uso múltiplo e mais eficiente do recurso hídrico disponível
23Panorama da AQÜICULTURA, maio, junho, 2010
Piscicultura Sustentável
da aquicultura sustentável em nosso país, que pelos seus 
atributos naturais, terá a obrigação de gerar alimento para 
grande parte da população do planeta, como já ocorre há 
muitos anos e deverá ocorrer com maior intensidade num 
futuro muito próximo.
Aos investidores, empresários e produtores – cabe a respon-
sabilidade de implantar e operar empreendimentos de produção 
compatíveis com a conservação ou melhoria do ambiente e do 
status social e econômico ao seu entorno. Do uso de estratégias 
de produção que respeitam a capacidade biológica (capacidade 
de carga) das unidades de produção e do empreendimento. Da 
opção pelo uso de rações de alta qualidade e que possibilitem 
alta eficiência alimentar (índices de conversão alimentar o mais 
próximo possível de 1:1,0). De realizar um manejo sanitário efi-
ciente, com implantação de boas práticas de produção, reduzindo 
o uso de medicamentos. De promover uma eficiente gestão dos 
empreendimentos. De formalizar sua produção, atendendo aos 
requisitos trabalhistas, fiscais e ambientais.
Às empresas de rações – cabe a compreensão da importância 
das rações para o sucesso econômico e harmonização ambien-
tal dos empreendimentos aquícolas. Portanto, cabe ao setor de 
nutrição a responsabilidade do uso dos conhecimentos tecnoló-
gicos disponíveis para a produção de rações de alta qualidade, 
compatíveis com as espécies, as etapas de desenvolvimento e 
os sistemas de criação predominantes no país. Também devem 
intensificar sua atuação na conscientização dos seus clientes e do 
setor produtivo em geral, sobre a importância do uso de rações 
de alta qualidade para otimizar o desempenho produtivo, asse-
gurar boas condições de saúde animal e minimizar o aporte de 
nutrientes nas unidades de cultivo e no ambiente. Cabe também 
estimular o aprimoramento tecnológico nas áreas de nutrição e 
manejo alimentar, focado no aumento da eficiência do uso das 
rações, com mínimo impacto sobre o ambiente. 
Às instituições de pesquisas – cabem o desenvolvimento e 
a difusão de tecnologia em áreas estratégicas, com destaque 
para: a) melhoramento genético, com foco na otimização 
dos índices de crescimento e conversão alimentar, no aumento 
da resistência às doenças e no maior rendimento de carne, 
contribuindo assim com o aumento na eficiência das criações, 
ao mesmo tempo minimizando o volume de resíduos gerado 
pelo setor (tanto na criação como no processamento); b) 
nutrição, com pesquisas focadas nos mais diversos aspec-
tos do uso de ingredientes vegetais (grãos, óleos, farelos, 
e subprodutos diversos, etc.), bem como de subprodutos 
animais abundantes no país. Também o desenvolvimento e 
avaliação de produtos palatabilizantes e estimulantes do con-
sumo de rações a base de ingredientes vegetais para espécies 
carnívoras e marinhas de potencial de criação e mercado, 
de forma a reduzir a dependência da aquicultura no uso de 
farinha de pescado; c) manejo sanitário e controle de do-
enças, através da seleção de material genético resistente, do 
desenvolvimento de vacinas, e da avaliação de estratégias 
eficazes de manejo que minimizem a ocorrência de doenças, 
contribuindo assim para a redução na mortalidade durante 
a criação e menor dependência e uso de medicamentos e 
terapêuticos diversos. Apesar da importância da pesquisa 
básica, grande parte deste desenvolvimento tecnológico 
surge através da interação entre pesquisa e produção, 
que desafia os pesquisadores com problemas práticos 
relevantes para a sustentabilidade dos empreendimen-
tos e do setor; d) transformação e aproveitamento 
de sub-produtos e resíduos, com o desenvolvimento 
de tecnologia para o aproveitamento de resíduos e sub-
produtos gerados na criação ou no processamento. Como 
exemplo, estratégias de integração com outros cultivos 
(moluscos, algas, plantas aquáticas, culturas agrícolas, 
entre outras possibilidades); extração e concentração de 
massa fitoplanctônica para a produção de biodiesel ou 
de ingredientes para rações animais e, desenvolvimento 
e difusão de tecnologia para o aproveitamento integral 
do pescado.
Aos profissionais do ensino em aquicultura e áreas afins – 
cabe entender que, além dos tópicos específicos de importância 
ao setor (limnologia e qualidade de água, fisiologia e anatomia, 
microbiologia, bioquímica, química, nutrição, tecnologia de 
reprodução, sanidade, melhoramento genético, sistemas de 
cultivos, instalações e equipamentos para aquicultura, ges-
tão econômica e ambiental de empreendimentos aquícolas, 
metodologia de pesquisa científica e tudo mais que se possa 
constar no currículo dos cursos específicos de formação de 
profissionais para aquicultura), devem ressaltar a importância 
de solidificar nos futuros profissionais do setor, o compromisso 
em aplicar os princípios fundamentais que regem a produção 
de organismos aquáticos e que são fundamentais para a sus-
tentabilidade dos empreendimentos de produção.
Aos profissionais especializados que atuam ou atuarão 
no suporte técnico aos empreendimentos de produção 
– cabe carregar consigo muito bem consolidados, os funda-
mentos da produção em aquicultura. Devem ter consciência 
da necessidade da contínua atualização tecnológica, hoje 
facilmente acessível através da web e da grande quantidade 
de publicações específicas do setor, e devem também ter a 
responsabilidade de prestar suporte técnico na implantação 
e operação de empreendimentos aquícolas, aplicando con-
ceitos e estratégias sustentáveis de produção.
Aos responsáveis pela coordenação do desenvolvimento 
da aquicultura no país – cabe a definição das políticas pú-
blicas e regulamentações ambientais com base em critérios 
técnicos e científicos e nas reais potencialidades regionais. 
Devem também colocar os interesses de desenvolvimento 
do país acima dos interesses políticos, econômicos e funda-
mentalistas de indivíduos e organizações, de forma a usar 
de maneira responsável e eficiente os recursos financeiros e 
intelectuais disponíveis para o planejamento e execução de 
programas, ações e regulamentações de real contribuição 
para o desenvolvimento sustentável do setor.
24 Panorama da AQÜICULTURA, maio, junho, 2010
Após um longo período de erros e 
acertos a carcinicultura mundial se-
gue novos caminhos rumo à susten-
tabilidade com a introdução de novas 
tecnologias de cultivo superintensi-
vas não poluentes, que podem levar a 
criação de camarões a patamares cada 
vez maiores de produtividade. Essas 
novas práticas podem dar uma nova 
reputação a atividade e, ao mesmo 
tempo, fazer com que o camarão cul-
tivado venha a ser tão barato quanto 
o frango. O tema gerou o artigo “Down 
on the Shrimp Farm - Can shrimp be-
come the new chicken of the sea wi-
thout damaging the ocean?”, de Erik 
Stokstad, publicado em 18 de junho 
último, na renomada revista Science, 
e que reproduzimos a seguir.
O camarão pode se tornar o novo frango 
do mar, sem danificar o oceano? Por:
Erik Stokstad
Editor of the Science Magazine
 s águas azuis da Baía de Kung Krabaen, localizada no sudoeste da Tai-lândia, possuem franjas exuberantes de manguezais. No entanto, poucas 
centenas de metros atrás desse manguezal, existem mais de 200 pequenos 
viveiros repletos de camarão, que em

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