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1Panorama da AQÜICULTURA, julho, agosto, 2010 2 Panorama da AQÜICULTURA, julho, agosto, 2010 3Panorama da AQÜICULTURA, julho, agosto, 2010 3 Editorial Jomar Carvalho Filho Biólogo e Editor M uitas vezes nesse espaço critiquei as estatísticas da aquicultura anualmente divulgadas pelo Ibama, por utilizarem dados repassados por órgãos estaduais e municipais sem o menor comprometimento com o setor aquícola. São instituições que, como se sabe, informavam e informam números fabricados segundo a sua conveniência, sem se dar ao trabalho de ir a campo para verificar a veracidade dessas informações. Em agosto último, o MPA divulgou as estatísticas de 2008 e 2009, e não resistiu à tentação de repetir a tão criticada fórmula do Ibama de gerar os números do setor. Como se sabe, com a exceção de poucos estados que possuem a seu favor uma atuante estrutura de ex- tensão rural, a maioria dos estados brasileiros padecem com a falta de assistência, e nem que desejassem muito, os aquicultores não teriam a quem informar o quanto produzem a cada ano. O MPA, no entanto, divulgou suas estatísticas acompanhadas da recomendação de que foram “resultantes de uma metodologia estatística apropriada, aprovada pelo IBGE, resultante da análise de correlação entre a comercialização de ração para organismos aquáticos no Brasil”, fornecidos pelo Sindirações. Não restam dúvidas que usar a chancela do IBGE gera credibilidade. Mas o que resta saber é se o IBGE está sabendo que o Sindirações tem problemas crônicos para avaliar com precisão o volume de alimentos de organismos aquáticos que o país comercializa. Um deles é a grande dificuldade de contar com a adesão de muitas das indústrias que hoje comercializam suas rações junto ao setor, mas que não sentam à mesa com os seus pares. Outro problema, é que as indústrias, inclusive as que sentam na mesa do Sindirações, não vêem com bons olhos a divulgação da sua produção por conta da forte concorrência do setor. Como resultado o Sindirações diz que foram produzidas 300 mil toneladas de ração de peixes em 2009, e o MPA diz que a produção da piscicultura foi de 337 mil toneladas, o que no mínimo faz da piscicultura brasileira um campeão em conversão alimentar, mesmo levando em consideração que muitos peixes são produzidos sem o uso de alimentos industrializados. Fica a dúvida se era realmente necessária a divulgação de números sem a desejável precisão. Afinal, não serão esses números que irão mostrar o importante e histórico papel que o MPA desempenhou e desempenha na trajetória recente da aquicultura brasileira, criando condições para que nos próximos anos tenhamos muita prosperidade sendo despescada das nossas águas. Fica, porém a frustração de todo o setor aquícola, e certamente também de muita gente dentro do próprio MPA, de não ter visto a divulgação dos dados do “Censo Aquícola” no lugar dessa questionável estatística. O censo foi, sem dúvidas, um dos mais arrojados e importantes projetos da SEAP/MPA, cuja divulgação dos resultados vem sendo ansiosamente esperada desde o final do ano passado. A todos, boa leitura. 4 Panorama da AQÜICULTURA, julho, agosto, 2010 5Panorama da AQÜICULTURA, julho, agosto, 2010 Peixes palhaço Nos últimos anos o comércio de peixes ornamentais marinhos tem aumentado consideravelmente e os “pei- xes palhaço”, além de muito populares são também, sob o ponto de vista comercial, considerados os mais importantes, visto que superam a demanda de mercado de todos os peixes marinhos ornamentais do mundo. Leia o artigo publicado na página 38 e conheça alguns dos aspectos da biologia comportamental dos peixes palhaço, sua relação com as anêmonas, manutenção em aquários e, principalmente, as possibilidades de cultivo comercial desses que são, sem dúvida, os ornamentais mais conhecidos do mundo. ...Pág 50 ...Pág 57 ...Pág 63 ...Pág 06 ...Pág 03 ...Pág 10 ...Pág 24 ...Pág 32 Í N D I C E Editor Chefe: Biólogo Jomar Carvalho Filho jomar@panoramadaaquicultura.com.br Jornalista Responsável: Solange Fonseca - MT23.828 Direção Comercial: Solange Fonseca publicidade@panoramadaaquicultura.com.br Colaboradores desta edição: Alberto O. Lima, Carina Oliveira Lopes, Carlos Augusto Gomes Leal, Daniela Tupy de Godoy, Dircéia Aparecida Custódio, Fernando Kubit- za, Frederico Costa, Gláucia Frasnelli Mian, Glei dos Anjos de Carvalho-Castro, Henrique César Pereira Figueiredo, João L. Campos, Jussara de A. Guerreiro, Leandro Portz, Ulis- ses de Pádua Pereira Os artigos assinados são de responsabilidade dos autores. A única publicação brasileira dedicada exclusivamente aos cultivos de organismos aquáticos Uma publicação Bimestral da: Panorama da AQÜICULTURA Ltda. Rua Alegrete, 32 22240-130 - Laranjeiras - RJ Fone/fax: (21) 3547-9979 www.panoramadaaquicultura.com.br revista@panoramadaaquicultura.com.br ISSN 1519-1141 Assinatura: Daniela Dell’Armi & Fernanda Araújo assinatura@panoramadaaquicultura.com.br Assistente: Ricardo Carvalho ricardo@panoramadaaquicultura.com.br Para assinatura use o cupom encartado, visite www.panoramadaaquicultura.com.br ou envie e-mail. ASSINANTE - Você pode controlar, a cada edição, quantos exemplares ainda fazem parte da sua assinatura. Basta conferir o número de créditos descrito entre parênteses na etiqueta que endereça a sua revista. Números atrasados custam R$ 16,00 cada. Para adquiri-los entre em contato com a redação. Edições esgotadas: 01, 05, 09, 10, 11, 12, 14, 17, 18, 20, 21, 22, 24, 25, 26, 27, 29, 30,33, 34, 35, 36, 37, 38, 39, 40, 41, 44, 45, 59, 61, 62, 63, 65, 76, 77, 78, 79, 80, 81, 82, 83, 84, 85, 87, 88, 107, 111, 112 Projeto Gráfico: Leandro Aguiar leandro@panoramadaaquicultura.com.br Design & Editoração Eletrônica: Panorama da AQÜICULTURA Ltda. Impresso na Grafitto Gráfica & Editora Ltda. Os editores não respondem quanto a quali- dade dos serviços e produtos anunciados. Foto: Alberto Oliveira Lima Capa: Arte Panorama da AQÜICULTURA Edição 120 - Julho/Agosto - 2010 Cultivo de tilápia em tanques-rede página 14... ...Pág 38 ...Pág 66 ...Pág 46 ...Pág 14 Bijupirá em viveiro de terra página 46 ... ...Pág 55 Editorial Notícias & Negócios Notícias & Negócios on-line Cultivo de tilápia em tanques-rede: atraso nas vendas, falta de planejamento e enfermidades podem impactar o custo de produção Sanidade Aquícola: A experiência do AQUAVET na investigação de doenças de peixes nativos Entrevista: Henrique Figueiredo Peixes palhaço: antecedentes biológicos e introdução ao cultivo Bijupirá em viveiro de terra - Bahia Pesca obtém bons resultados em cultivo experimental Tem peixe cultivado na gastronomia brasileira Estatística da Pesca e Aquicultura 2008/2009 MPA exige Análise de Risco para pescado importado da aquicultura Panga, um peixe bom de cultivo e de polêmica Aquicultores capixabas recebem licenças ambientais e outorgas de uso da água Ficha de Assinatura da Panorama da AQÜICULTURA Calendário Aquícola ...Pág 57 ...Pág 65 6 Panorama da AQÜICULTURA, julho, agosto, 2010 Notícias & Negócios BARRIGA DE ALUGUEL - A revolução da reprodução artificial de peixes pela téc- nica de barriga de aluguel será tema de palestra na capital paulista. As gônadas de peixes contêm células-tronco, que se transplantadas a outros peixes, mesmo de sexo ou espécie diferente do doador, podem gerar espermatozoides ou ovos da espécie doadora na espécie recepto- ra. A técnica abre um amplo leque de possibilidades, antes inimaginável, para reproduzir desde peixes cultivados até os que estão em extinção. Uma palestra sobre os avanços na área será proferida pelo mais destacado especialista mun- dial nesta técnica e em peixes transgê- nicos, o Prof. Goro Yoshizaki, da Tokyo University of Marine Science and Tech- nology, Japão. O evento ocorrerá no dia 21 de outubro às 15:30, no Auditório do Instituto de Pesca de São Paulo, locali- zado no Parque da Água Branca. Como o local tem vagas limitadas, os interessa-dos devem enviar um e-mail a neuza@ pesca.sp.gov.br, com Assunto: Palestra, e o seu nome no corpo da mensagem. O tema a ser discutido pode ser visualiza- do em www.aquaculture.ugent.be/larvi/ PDF/Goro.pdf ANOTE AÍ - A Alfakit (www.alfakit.com. br) empresa catarinense que fabrica equi- pamentos e soluções tecnológicas para a análise de água, solo e efluente com tecno- logia 100% nacional mudou de endereço e de telefone. Anote aí o novo número: (48) 3029-2300 e o novo endereço: Rua João Sampaio da Silva 128, Capoeiras, Florianó- polis – SC, CEP: 88090-820. AQUAPESCABRASIL - De 18 à 20 de no- vembro, os setores da pesca e aquicultura estarão reunidos em Itajaí para participa- rem da Aquapescabrasil, Feira Internacio- nal de Pesca e Aquicultura, uma promoção do Sindicato da Indústria da Pesca de Itajaí e Região (Sindipi). A cidade catarinense abriga o principal porto pesqueiro do País. A região produz hoje cerca de 220 mil to- neladas de pescado por ano. Para o evento estão sendo esperados pelo menos 10 mil visitantes que percorrerão os estandes de 60 expositores de todas as regiões do Brasil e procedentes da América do Sul, Europa e Ásia. Foram convidados para a abertura do evento delegações da China, Coréia do Sul, Tailândia, Noruega, Chile, Peru, Argen- tina, Equador e Uruguai. De acordo com o coordenador da feira, Ivan Gogolevsky, os participantes estrangeiros vão trazer toda a experiência histórica na área de pesca e aquicultura para compartilhar com os seto- res brasileiros. Além de reunir toda a cadeia logística do segmento, o Aquapescabrasil tem o objetivo de promover a mobilização da cadeia industrial do setor, de forma que o Brasil passe a gerar R$ 40 bilhões por ano com produção e exportação de peixe, explica o secretário da Pesca e Aquicultura de Itajaí, Agnaldo Hilton dos Santos. Um dos destaques da feira será o Simpósio In- ternacional de Pesca e Aquicultura (Siap – Brasil), cuja estrutura dividida em três auditórios, tem capacidade para atender até dois mil participantes. Os trabalhos abordarão assuntos como a pesca artesa- nal, pesca industrial, aquicultura de água doce e maricultura. Ivan Gogolevsky des- taca ainda que graças a uma parceria com a Universidade do Vale do Itajaí (Univali), está sendo programada também a realiza- ção de workshops que visam valorizar a cultura gastronômica, por meio de ações educativas com o objetivo de apresentar pratos feitos à base de pescados, destacan- do o caráter cultural dos hábitos alimenta- res brasileiros. O Estado de Santa Catarina é hoje um dos estados mais importantes na produção de pescados e o maior produtor de pescado marinho do Brasil. FISH CONTROL - A Poli-Nutri mais uma vez sai na frente no apoio e na busca de melhores resultados para seus clientes. A empresa acompanhou de perto o projeto Fish Control, uma ferramenta, de análise zootécnica e financeira para piscicultores, inédita no Brasil, desenvolvida pela Evolu- tion Software e promoveu um treinamento para seus clientes. Os benefícios são vários, como explica Fábio Junior Borba, da Evolu- tion Software: “Você tem acesso a relató- rios automáticos com informações relevan- tes, como o momento exato da mudança do tipo de ração utilizada, diminuindo assim as perdas e otimizando os resultados, assim como a ajuda no controle de sua produção, gerando informações como consumo di- ário de ração, ganho de peso, conversão alimentar, tempo de cultivo, etc.." A Poli- Nutri sabe como é importante para o pro- dutor trocar experiências e estar atualizado 7Panorama da AQÜICULTURA, julho, agosto, 2010 Notícias & Negócios com o que há de mais novo e moderno disponível para a sua área de atuação. Por isso, organizou um evento em For- taleza que reuniu 45 piscicultores de diversas regiões do Ceará que já vinham buscando uma maneira eficaz de avaliar esses resultados. Um dos piscicultores, o Sr. Beto Lemos, ficou impressionado com o programa. “Apesar de ter experi- ência na atividade e com outros progra- mas, jamais tinha visto nada igual e hoje tenho mais segurança para projetar um crescimento e melhorar a análise dos da- dos, o que antes era um caos”, afirmou. Para Santana Junior, Gerente Regional de Aquicultura Norte e Nordeste, há 21 anos na indústria de nutrição, não existe nada igual. “A maior dificuldade para implan- tarmos um programa nutricional em uma piscicultura era justamente o fato de não podermos avaliar os dados. Com esta fer- ramenta a Poli-Nutri, de forma inédita e inovadora, cria um grande diferencial na contribuição da cadeia produtiva”, expli- ca Santana. Além do software a Poli-Nutri também disponibiliza uma equipe técni- ca de campo, formada por Engenheiros de Pesca, Agrônomos e Veterinários para auxiliar os produtores. “O papel da Poli- Nutri é, além de atender o cliente com os melhores produtos do mercado, ser pró- ativa, levar conhecimento e apoio para que os produtores tenham o melhor re- sultado possível em seu trabalho”, finali- za Aldo Barbugli Filho - Gerente Nacional de Vendas da Poli-Nutri. ALGAS DO CEARÁ - Produtores cearen- ses dos municípios de Icapuí, Aracati, São Gonçalo do Amarante, Paracuru, Cascavel, Trairi, Acaraú e Camocim, darão início ao projeto “Algas do Ceará”, resultado da par- ceria entre a empresa Sete Ondas Biomar, governo do Estado do Ceará, Banco do Brasil e Sebrae. Serão investidos R$ 66 mi- lhões na implantação da estrutura para o cultivo intensivo de algas úmidas, usadas na produção da carragena. O projeto com prazo de implantação de até três anos, pre- tende agregar três mil produtores até 2012 e implantar um pólo de produção em cada um dos municípios, além de uma fábrica de beneficiamento de algas no município de Chorozinho que deve gerar 150 empregos. O governo do Estado do Ceará participa do projeto com o apoio à infraestrutura e ob- tenção das outorgas ambientais; o Banco do Brasil será o agente financiador, dis- ponibilizando crédito aos pequenos pro- dutores por meio do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) e, a Sete Ondas Biomar em parce- ria com o Sebrae, qualificarão os produtores e os atualizarão em relação às tecnologias de produção. Em contrapartida, a empresa se compromete a adquirir a matéria-prima. Hoje, a Biomar tem uma demanda entre 8 milhões e 10 milhões de toneladas de algas úmidas por ano. HERPES PREOCUPA OSTREICULTORES - Em julho deste ano, produtores de ostra da Inglaterra e França detectaram uma nova linhagem de vírus de herpes que chegou a matar até 80% das criações de moluscos em uma semana. O vírus já atacava as ostras e não preocupava tanto os criadores, mas a nova cepa, chamada de Ostreid herpesvirus 1 (OsHV-1), é mais forte que as anteriores. A disseminação deste vírus pode estar re- lacionada ao aquecimento global e não é o mesmo que atinge os humanos, geralmente o Herpes simplex. O OsHV-1 permanece dor- mente em água de temperatura menor que 16 ºC, mas os mares europeus registraram temperaturas maiores em julho – período de verão no hemisfério norte. Segundo os 8 Panorama da AQÜICULTURA, julho, agosto, 2010 Notícias & Negócios pesquisadores, a nova linhagem de vírus do herpes de ostras tem taxa de mortalidade maior porque ataca justamente no período em que o animal usa boa parte de sua energia para desenvolver seus órgãos sexuais e sobra pouca força para a defesa do organismo. O OsHV-1 por não dar sinais aparentes da doença, só foi descoberto porque a alta taxa de mortalidade levou os produtores a pesquisa- rem a causa com exames. O maior problema imediato estaria liga- do à indústria, já que ostras mortas não servem para o consumo. Apesar dos criadouros contaminados serem isolados, nada pode garantir que o vírus não tenha infectado ostras selvagens. CONSÓRCIO NACIONAL - O objetivo do Consórcio Nacional da Pesca e Aquicultura é apoiar e financiar ações de pes- quisa e estabelecer as regras de funcionamento, como as fontes de recursos, asnormas de financiamento, o perfil das instituições participantes, as instâncias deliberativas, as estratégias e as normas de operação. Presente na abertu- ra da reunião do Comitê de Estabelecimento do Consórcio, realizada em julho, na sede da Embrapa, em Brasília, o presidente da Embrapa, Pedro Arraes, disse que: “apesar de hoje contarmos com a Embrapa Pesca e Aquicultura, a maior parte das competências está fora da Embrapa e, por isso, há necessidade de criarmos o consórcio para unir es- sas competências e assim valorizar as pessoas envolvidas e fazer com elas façam parte direta do processo". PARQUE AQUÍCOLA I - O MPA deve concluir em meados de 2011, pelo menos, um dos parques aquícolas do reservatório da hidre- létrica de Lajeado, no Estado do Tocantins. Este compromisso foi assumido pelo secretário de Desenvolvimento e Ordenamento da Aquicultura do MPA, Felipe Matias, e pelo superintendente do mi- nistério em Tocantins, Jozafá Maciel. Nos parques aquícolas de La- jeado serão criados peixes nativos da bacia, a exemplo do pacu. A demarcação e a implantação dos parques aquícolas em Lajeado estão sendo conduzidos pela empresa Neocorp Desenvolvimento de Projetos, de Porto Alegre. Os estudos, orçados em R$ 854 mil, envolvem aspectos sócio-econômicos e a definição da capacidade máxima de produção. Passam também pela indicação de espécies de peixe adequadas, pela análise da qualidade da água e pelo le- vantamento da profundidade do reservatório. PARQUE AQUÍCOLA II - A demarcação do Parque Aquícola no Lago do Manso, no distrito de João Carro, na Chapada dos Guima- rães, foi iniciada em agosto. O trabalho, uma iniciativa do MPA em parceria com a Cooperativa de Pequenos Agricultores da Chapada dos Guimarães (Cooperagricultor), tem a finalidade de viabilizar o desenvolvimento da aquicultura em tanques-rede em uma área aproximada de 450 hectares, o equivalente a 1% do total da super- fície do Lago do Manso. A demarcação permite identificar os locais onde serão instalados os tanques-rede. Calcula-se que poderão ser instalados até 200 unidades em cada hectare do lago, ou teorica- mente 90.000 tanques-rede dentro da região demarcada. PARQUE AQUÍCOLA III - Os parques aquícolas nos oito reserva- tórios do rio Paranapanema serão demarcados e implantados até meados de 2011. O conjunto de reservatórios terá capacidade para produzir em três safras aproximadamente 90 mil ton/ano de pes- cado, em 185.235 hectares, beneficiando cerca de 1,8 mil famílias. Os estudos para a demarcação e a implantação dos parques aquíco- las estão sendo conduzidos pelo Instituto Gia, com sede em Curiti- ba. Atualmente são destinados aproximadamente R$ 16 milhões à demarcação e implantação de 25 novos parques aquícolas no país, entre eles os do complexo do Paranapanema. INOVAÇÃO PARA A CARCINICULTURA - Mais um produto dife- renciado para a aquicultura chega ao mercado pelas mãos da Fri- Ribe Nutreco. Com tecnologia nutricional de última geração, o gru- po lança agora o Fri-Acqua Camarão 35 HE (high energy), indicado para camarões com maior desafio produtivo. Utilizando excelentes matérias primas e com um processo de produção diferenciado, a novidade agrega a experiência de 40 anos da Fri-Ribe no mercado à tecnologia da líder mundial em nutrição animal Nutreco, além de atender às especificidades da Região Nordeste brasileira. Composto por uma formulação especial, o produto contém níveis específicos de nutrientes para favorecer uma alimentação de qualidade frente a limitações nutricionais e adversidades de cultivo. Entre as prin- 9Panorama da AQÜICULTURA, julho, agosto, 2010 Notícias & Negócios cipais situações de indicação estão: den- sidades elevadas, baixa disponibilidade de alimento natural, alterações de salinidade e baixa qualidade da água. “Os produtos da Linha Fri-Acqua Camarão são rigoro- samente produzidos com ingredientes de alta qualidade, além de atender às regras de Boas Práticas de Fabricação (BPF). O re- sultado é uma linha que garante excelen- tes taxas de conversão alimentar e cresci- mento diário para os camarões, tudo com um ótimo custo benefício", afirma Marcelo Toledo, Gerente Técnico de Aquicultura da Fri-Ribe. Os demais produtos da Linha são: Fri-Acqua Camarão 40; Fri-Acqua Camarão 40 T1; Fri-Acqua Camarão T2; e Fri-Acqua Camarão 35 HD. A Fri-Ribe é uma das mais tradicionais e inovadoras indústrias de rações animais e para peixes e camarões do Brasil, com mais de quatro décadas de atuação no mercado e cinco fábricas (três com certificação BPF) estrategicamente localizadas (SP, GO, MG, PI e CE). ACORDO COMERCIAL - A Netuno Alimen- tos e a Cooperativa Mista de Pescadores, Marisqueiros e Aquicultores do Baixo Sul da Bahia (Coopemar) fecharam acordo comercial em que a empresa se respon- de Águas para a instalação de cultivos marinhos no litoral do Paraná. Para a Emater, que elaborou os projetos en- caminhados ao Ministério, os termos de autorização, que também tiveram o aval de órgãos ambientais, da Marinha do Brasil e da Secretaria de Patrimônio da União, devem contribuir para a pro- fissionalização do cultivo de ostras, o que deverá otimizar a margem de lucro das produções. Para o órgão, a medida também poderá motivar novos ostrei- cultores. Com a autorização do uso das águas, ganha corpo a implementação de ações como as do Projeto de Desen- volvimento da Aquicultura e Pesca do Litoral do Paraná, que prevê subsídios para a produção de ostra, mexilhão, ca- marão e outros moluscos. Desenvolvido em parceria com a Secretaria de Estado da Agricultura, Emater, Fundação Terra, Centro de Produção e Propagação de Organismos Marinhos/PUC-PR (CPPOM) e prefeituras da região, o projeto é fi- nanciado pela Secretaria de Estado da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior e visa a promoção da pesquisa e geração de alternativas de renda para as famílias de pescadores artesanais. sabiliza em comprar da cooperativa, pelo menos, 25 toneladas de tilápia por mês, a partir de setembro. As aquisições devem aumentar para 50 toneladas/mês a partir de abril do próximo ano. A Netuno tem hoje mais de quatro mil clientes ativos no Brasil e também nos Estados Unidos, Canadá, México, América Latina, Europa e Ásia. Segundo Cristian Becker, diretor de operações da Netuno, a produção de ti- lápia no Brasil ainda está começando, os negócios ainda estão nascendo, entretan- to o mercado de tilápia já é uma realidade mundial, com bastante demanda. “Por isso essa parceria com a Coopemar é muito im- portante, além da tilápia da Coopemar ter qualidade, ainda tem uma proposta com forte veia social, que é o que o mercado está precisando. A Coopemar é a primei- ra cooperativa do Brasil a firmar contrato com a Netuno. A embalagem desta tilápia sairá com a marca da Netuno e com um selo da Coopemar, demonstrando que foi produzido por famílias da agricultura fa- miliar, oriundas de um projeto social orga- nizado", declarou Cristian. TERMOS DE AUTORIZAÇÃO - O MPA en- tregou 72 Termos de Autorização de Uso 10 Panorama da AQÜICULTURA, julho, agosto, 2010 Notícias & Negócios On-line Participe da Lista de Discussão Panorama-L Inscreva-se no site www.panoramadaaquicultura.com.br De: Francisco Leão f_leao@hotmail.com Para: lista@panorama-l.com.br Assunto: Financiamento Capítulo #1 Prezados, com base nas informações constantes na publicação “Acesso ao Crédito para a Pesca e Aquicultura” que baixei do site do MPA, resolvi pleitear um crédito de custeio da minha safra do ano entrante. Gostaria que vocês acompanhassem comigo todo o processo que seria ilustrativo para todos, inclusive o pessoal do MPA. Depois de ir ao Bradesco, Banco do Brasil e HSBC, nenhum deles jamais ouviu falar na palavra “aquicultura”. Não sabem se é algo que se come ou que se usa no corpo! Nenhum deles jamais ouviu falar nestas linhas de crédito (com exceção do PRONAF) e não sabem nem como começar o processo. Isto inclui o Banco do Brasil, no qual o gerente mencionouque se lembra vagamente de ter recebido uma circular do banco dizendo que sim, existe crédito para aquicultura e que o nome se refere ao cultivo de organismos aquáticos! Gostaria, portanto, de sugerir ao pessoal do MPA que pensasse em alguma estratégia para divulgar junto à rede bancária que este dinheiro existe (?) e que está disponível desde que o aquicultor cumpra as normas requeridas pelo MPA para liberar o dinheiro. Os gerentes tomaram nota das informações que eu levei e disseram que vão me retornar. De acordo com a apostila do MPA, existem linhas para investimento e custeio. Os valores são bastante interessantes. Também gostaria de saber se algum colega da lista está pleiteando financiamento e como está o processo. Informo que a minha piscicultura foi ampliada com um financiamento do BNDES chamado PRODEAGRO com o qual comprei tanques, fiz armazéns de ração e terraplanagem de estrada de acesso. De: José Ricardo jricardo.henrique@globo.com Para: lista@panorama-l.com.br Assunto: Re: Financiamento Capítulo #1 Senhores, como a maioria do crédito interessante para a Aquicultura vem do BNDES, sugiro que os interessados acessem o site www.bndes.gov.br e vejam as linhas de crédito disponíveis. A partir daí, procurem o Banco do Brasil e indiquem a linha de crédito escolhida (PROFROTA, MODERAGRO, etc.). Como o BB tem metas de emprestar dinheiro próprio, evitam apenas fazer o agenciamento do BNDES, e se fazem de ignorantes. Com a escolha prévia, eles não terão desculpas como desconhecer, pois os sistemas deles contemplam todos os convênios com o BNDES. No site do BNDES, você já tem as informações de prazos, juros e aplicação. Exija que os bancos sejam o que se propuseram a ser quando assinaram convênio com o BNDES: repassador de financiamento. Os financiamentos com recursos próprios são mais caros, bem mais caros, e com menores prazos... De: José Álvaro Costa Donato jadonato2008@gmail.com Para: lista@panorama-l.com.br Assunto: Re: Financiamento Capítulo #1 Informo aos companheiros da Lista, que no ano de 2009 segui à risca a receita do companheiro José Ricardo. Após estudar o “bonito” site do BNDES, optei pelo MODERAGRO e fui pessoalmente à monumental sede do órgão no Centro do Rio de Janeiro. Lá chegando, fui muito bem recebido pelo responsável, que me deu todas as informações disponíveis e a quem mostrei, inclusive, cópia de uma carta do presidente ou vice-presidente da AB-Tilápia (de SP), através da qual aquele senhor narrava ao presidente do BNDES as dificuldades encontradas pelos seus associados (principalmente junto aos agentes financeiros); citava os baixos montantes disponibilizados (inclusive com uma planilha de gastos requeridos para as diversas fases da atividade); e ainda terminava com uma sugestão para que os Programas para a Piscicultura fossem atendidos diretamente pelo BNDES (a exemplo de outros) e não pelos agentes financeiros credenciados e listados no site do Banco. Diante disso, o funcionário orientou-me a procurar um banco de meu relacionamento e credenciado junto ao BNDES, uma vez que os bancos certamente por serem agentes “credenciados” me atenderiam. Procurei, então, o “meu banco” CITIBANK, através de minha gerente de relacionamento. A primeira areia jogada foi a que eu era pessoa física e que só pessoa jurídica poderia ter acesso ao crédito (do BNDES), através daquele agente financeiro. A segunda foi que eu teria que ter em aplicação no banco, pasmem, DUAS vezes o valor pretendido, como garantia ao agente financeiro, pois na hora do vamos ver o BNDES não se responsabilizaria pela minha possível inadimplência. Argumentei que não tinha sentido o que estavam alegando e pedi para que me passassem para o setor responsável, desta feita não mais no RJ e sim em SP. Depois de inúmeros telefonemas e e-mails, ouvi do responsável pela respectiva Carteira em SP, que o CITIBANK, não tinha interesse em financiar-me o previsto no MODERAGRO (pasmem, verba do BNDES) devido aos baixos juros do Programa (parece-me 6,25% a/a na época) e principalmente ao baixíssimo percentual que caberia ao agente financeiro. Foi-me colocado gentilmente à disposição, é claro, 11Panorama da AQÜICULTURA, julho, agosto, 2010 Notícias & NegóciosOn-line o altíssimo juro praticado pelo banco, caso eu quisesse. Então, falando grosso, voltei ao BNDES, no mesmo setor e denunciei o próprio banco do qual sou cliente, por ser credenciado junto ao BNDES e por recusar-se em me atender. Ouvi, então, do funcionário que ele nada poderia fazer, pois o CITIBANK era credenciado não só para o MODERAGRO, mas também junto a outros Programas Governamentais (logicamente naqueles nos quais obtém excelente$ vantagen$). Amigos, como visto, não adianta falar grosso e exercer o papel de cidadão denunciando aos órgãos governamentais as irregularidades encontradas e praticadas por aqueles que junto aos mesmos são oficialmente credenciados. Acredito, deveria haver uma ingerência do Sr. Ministro (MPA) junto ao presidente do BNDES ou seu homólogo no respectivo Ministério, para que também nos Programas relativos à aquicultura, fossem os interessados atendidos diretamente por aquele Banco (a exemplo de outros Programas), como sugeriu à época o responsável pela AB-Tilápia. Um pouco de reza, quem sabe, também não faria mal a ninguém. De: Romeu Campos romeucampos@msn.com Para: lista@panorama-l.com.br Assunto: Re: Financiamento Capítulo #1 Prezados sofridos aquicultores e em particular os carcinicultores, nos idos de 2003 encaminhei ao Banco do Nordeste, agência de Feira de Santana onde moro, projeto de financiamento elaborado pela MCR de ampliação dos nossos viveiros para 12, já que tínhamos seis em pleno funcionamento e construídos com recursos próprios. Depois de enfrentar uma maratona de documentos e inúmeras reformulações do projeto, finalmente, em 2006 foi aprovado na condição de apresentar a licença ambiental. Acontece que minha Licença Simplificada (LS) venceu em dezembro de 2005, no decorrer da análise do projeto de financiamento. Como na Bahia, desde 2005 não se emite novas licenças nem se renova as existentes, é fácil entender o que ocorreu. Certos da liberação por parte do BNB do financiamento pleiteado esgotamos todos os nossos recursos na conclusão dos referidos viveiros. Sem capital de giro para tocar a fazenda, não restou outra opção senão me associar a um capitalista para bancar o custeio e dividirmos os lucros. Uma parceria não muito justa, porque nosso investimento foi trinta vezes maior que o do sócio e o lucro é dividido em partes iguais. Apesar de tudo estou satisfeito com a parceria, pois não teria como tocar a fazenda sem o pequeno capital do custeio que me foi negado pelos agentes financeiros sobre alegação da falta de Licença Ambiental. Por fim, o Instituto do Meio Ambiente (IMA) na Bahia, resolveu exigir a licença, e quem não a apresenta terá sua fazenda interditada (ninguém no estado dispõe de licença para carcinicultura). A nossa já está interditada, não porque desobedeci qualquer exigência ou condicionante. O que fazer se o único órgão encarregado de liberar as licenças se diz impedido por força de uma liminar da Justiça Federal, convenientemente mal interpretada pelo próprio órgão licenciador? Desculpem- me pelo desabafo, o que quis mostrar é que não contamos com a má vontade só dos bancos, a má vontade dos órgãos ambientais, principalmente na Bahia se juntam às outras para prejudicar uma atividade nobre, promotora de riqueza e emprego e que produz um alimento de altíssimo valor. De: Marcelo Burguez Pires marcelo.burguez@mpa.gov.br Para: lista@panorama-l.com.br Assunto: Re: Financiamento Capítulo #1 Caros Panoramanautas, as alternativas gerais de crédito disponíveis hoje no mercado possuem condições de atender a diversos perfis de produtores. Desde aqueles com produção de subsistência como outros que trabalham com maiorescala de produção, tanto em tanque escavado como tanque-rede. As medidas editadas este ano são inéditas para o setor de aquicultura e respondem a persistente ação de superar as limitações existentes. Os modelos de linhas de crédito implementados foram constituídos a partir de interações entre técnicos do MPA e representações do setor aquícola constituídas no âmbito do CONAPE como também oriundas de proposições retiradas durante as Conferências Nacionais e outras interações firmadas entre o MPA e o setor aquícola. Como resultado desse trabalho, no período de 2003 a 2009/10 foram editadas 16 Resoluções pelo Conselho Monetário Nacional-CMN com a publicação de mais de 23 medidas dedicadas ao atendimento de demandas de pesca e aquicultura. Foi o período histórico em que mais foram elaboradas alterações em modelagens com o objetivo de atender aquicultores e pescadores nas ações de crédito. O resultado de todas essas ações e medidas é que o crédito tanto em termos de contratação como em volume de recursos deu um salto histórico mais que dobrando o número de operações. Em 2003 eram 14 mil operações de crédito (pesca e aquicultura) nos anos seguintes o número de operações chegou a 35 mil. Mesmo no período agudo da crise internacional que afetou todos os setores da economia, os valores destinados pelo crédito rural ao setor de pesca e aquicultura não foram afetados havendo inclusive expansão. O período 2003 a 2010 a partir de dados já catalogados e projeções para este ano deverá atingir mais de 200 mil contratações e cerca de 1 bilhão e 300 milhões em recursos dedicados a pesca e aquicultura. Quanto à divulgação, ainda há desconhecimento por parte do agente financeiro quanto à existência de linhas de crédito destinadas ao atendimento da aquicultura e pesca. Como também desconhecimento de características mais peculiares como os tetos ampliados para investimento e custeio para a aquicultura (Linha Moderagro - investimento e Custeio Tradicional - custeio). Medidas que entraram em vigor neste Plano Safra 2010/11 e passaram a vigorar a partir de julho de 2010 e, por esse fato, ainda podem ser desconhecidas de alguns gerentes. Os bancos credenciados a operar o crédito rural enviam comunicados internos para as suas agências para o conhecimento das medidas e a implantação por parte das gerências. Todavia, como a demanda ainda não ganhou contornos como possuem a agricultura e pecuária, há possibilidade que os operadores não estejam habituados com essas operações em suas localidades. A forma de superar esse desconhecimento dos bancos consiste em formalizar os atos junto ao agente financeiro por meio de apresentação de projetos estruturados com envergadura técnica, com destaque para elementos financeiros como capacidade de pagamento, taxas de retorno, e demais elementos de um projeto financeiro. Outra forma de maximizar resultados é fazerem- se acompanhar das cartilhas e demais documentos que embasam as linhas a disposição dos aquicultores. Frente a essa conduta não há como o agente financeiro negar a existência dos instrumentos de financiamento. No entanto, já foi solicitada 12 Panorama da AQÜICULTURA, julho, agosto, 2010 Notícias & Negócios On-line e quanto crédito foi liberado para a aquicultura nós não sabemos, assim como um panorama das regionalizações. Num gráfico disponibilizado pelo MPA nós vemos que o número de liberações diminuiu no último ano, porém, o volume de recursos aumentou, o que nos leva a suspeitar que as liberações estão na área dos projetos maiores. Munido da cartilha do ministério ataquei novamente, agora com o objetivo de levantar quais os obstáculos que serão colocados diante deste pobre produtor, visto que não interessa aos agentes financeiros a liberação destas linhas que possuem muito risco e pouca margem para eles. O gerente do Banco do Brasil de Igaratá, que nem sabia o que era piscicultura, comentou que nunca havia ouvido falar nestes créditos, mas que iria se informar. Dois dias depois me ligou radiante dizendo que tinha boas novas. Fui à agência cheio de esperanças e alegria no coração e lá fui recebido por ele dizendo que as linhas de crédito realmente existiam. O gerente também gentilmente me informou que eu teria que ligar para uma empresa privada de consultoria, cujo telefone ele prontamente me deu. Disse-me que eu teria que entrar em contato com eles e que, após estudarem a minha situação elaborariam um projeto e me indicariam qual linha de crédito se aplicava. Inocentemente perguntei quem pagaria pela consultoria? E ele me disse que teria que ser eu! Portanto, eu teria que pagar por um projeto que eu mesmo fiz, para pessoas que, provavelmente nunca viram um projeto de piscicultura. O gerente argumentou que se o projeto não fosse assinado por um agrônomo “cadastrado no BB” o dinheiro não sairia. Inocentemente, pedi a lista de agrônomos cadastrados e ele disse que só conhecia os desta empresa! Outro aspecto que ele levantou é que eu figuro como médico no cadastro do Banco do Brasil e comentou que, por não ser a piscicultura a minha atividade principal, que o financiamento ficaria mais difícil ainda de ser aprovado. Portanto, o segundo capítulo da novela será a descrição de todos os obstáculos que serão pelo MPA aos agentes bancários, a reedição dos termos das medidas divulgadas no Plano Safra das Águas de Aquicultura e Pesca 2010/2011, que será reiterado a todas as agências dos bancos operadores do crédito rural. Outra medida que está em andamento é a confecção de padrões regionais para orientação dos agentes financeiros. Ou seja, a elaboração de modelos firmados dentro das características produtivas regionais e calcados em elementos médios da produção enfocando o modelo financeiro (rentabilidade observada em determinadas região, retorno dos investimentos, prazos de maturação do empreendimento, etc.). Esse sistema atenderá especificamente a questão do risco da operação. Com o destaque dos resultados médios obtidos em determinada circunscrição poderão ser estabelecidos os riscos do empreendimento e dimensionadas as condições adequadas de financiamento. (Nota do Editor - Marcelo Burguez é o responsável pela Coordenação Geral de Incentivo e Apoio ao Crédito do MPA) De: Francisco Leão f_leao@hotmail.com Para: lista@panorama-l.com.br Assunto: Financiamento Capítulo #2 Caríssimos, no capítulo anterior, diante do desconhecimento dos agentes financeiros a respeito dos recursos colocados à disposição da pesca e aquicultura, iniciamos o nosso debate pela lista no qual concluímos que até que a boa nova seja implementada pelos agentes financeiros ainda vai um bom caminho. Nossos heróis do MPA podem ir até um certo ponto nesta questão, porém, na ponta do sistema financeiro está a “terra de ninguém”. Em alguns lugares do país como, por exemplo, no Nordeste, que tem linhas de crédito regionais especiais, a coisa parece que anda um pouco melhor, assim como no Sul onde estão os pioneiros da aquicultura no Brasil. Nas outras regiões o crédito é do tipo “cabeça de bacalhau”. Quanto crédito foi liberado para a pesca 13Panorama da AQÜICULTURA, julho, agosto, 2010 Notícias & NegóciosOn-line colocados diante deste humilde produtor para conseguir um financiamento de Custeio Tradicional M.R.6, que qualquer produtor de feijão ou milho consegue sem toda esta via sacra. Vamos ver onde o segundo capítulo nos leva, e que certamente vai contribuir para a elaboração da nossa cartilha. De: Francisco Leão f_leao@hotmail.com Para: lista@panorama-l.com.br Assunto: Re: Financiamento Capítulo #2 Caríssimos, até o momento temos o seguinte quadro: o sistema financeiro não sabe o que é aquicultura e não tem parâmetros para julgar os projetos que são apresentados pelos produtores. Diante deste quadro, as reações são as seguintes: 1 - Forçar o produtor a contratar uma consultoria sugerida pelo banco para que ela faça o projeto. O custo varia de 1,5 a 2%do valor do projeto que é feito por gente que não tem a menor ideia do que está fazendo e, no final das contas, nós mesmos fazemos o projeto e a consultoria assina. 2 - Colocar obstáculos na frente da liberação do financiamento, muitos deles são o reflexo da falta de coordenação entre os diversos agentes que intervêm no processo. O primeiro deles é pedir a licença de funcionamento do projeto para os que estão em águas públicas. Como quase todos estão funcionando baseados em protocolo de entrega do projeto, o processo emperra neste ponto. Outro expediente é exigir que a reserva legal das propriedades privadas estejam registradas no DPRN e averbadas na escritura da propriedade. São muito poucas as propriedades rurais que cumprem este quesito. Outros obstáculos também relacionados com o meio ambiente também costumam ser levantados, alguns procedentes e outros nem tanto. 3 - Os bancos privados dependem de liberações mensais de quotas de recursos do BNDES, as quais são destinadas aos seus clientes de acordo com critérios do banco. Se o cliente for interessante para o banco, daí existe uma possibilidade de aprovação. Caso contrário, o banco argumenta que os recursos são insuficientes. Se o produtor conseguir passar por estes obstáculos, daí para frente é reunir os documentos que são exigidos normalmente para as linhas de crédito agrícola e de investimento. Estes documentos estão relacionados com a situação de crédito do solicitante e a regularização da empresa ou da propriedade quanto a meio ambiente, impostos e encargos sociais. Entregando a “maçaroca” de documentos, geralmente o agente financeiro faz uma visita de inspeção na propriedade para ver se o projeto de aquicultura existe na realidade. Como se pode ver, ainda há muito a fazer quanto à coordenação entre o BNDES, agentes financeiros estatais e privados e o MPA. A aquicultura é uma atividade relativamente nova e desconhecida da maioria dos que influenciam a liberação do financiamento. Ficar falando do enorme potencial e deixar que as coisas resolvam por si só é continuar “deitado eternamente em berço esplêndido ao som do mar e a luz do céu profundo”. Mas, se tiver que ser assim, vamos em frente !!!!! 14 Panorama da AQÜICULTURA, julho, agosto, 2010 Por: Fernando Kubitza, Ph. D. Acqua Imagem Serviços Ltda fernando@acquaimagem.com.br aumento da produção e da oferta local e re-gional de tilápia naturalmente desencadeia uma redução gradativa nos preços pagos ao produtor. Essa redução de preços pode ser acentuada sob condições de sazonalidade de consumo, como as observadas na Região Sul e Sudeste nos meses de inverno, onde o consumo de pescado naturalmente declina. Nestas regiões também di- minui o giro nos pesque-pagues, devido à diminuição de frequentadores e também ao menor apetite dos peixes em virtude das baixas temperaturas. como o atraso nas vendas, falta de planejamento e enfermidades podem impactar o custo de produção tilápia em tanques-rede Cultivo de Com a diminuição do ritmo de compra dos frigo- ríficos, dos transportadores de peixes vivos e dos pesque- pagues, os produtores ficam com seus tanques abarrotados de peixes. Isso ocorre particularmente onde existem diversos pólos de produção equidistantes dos principais centros de consumo e frigoríficos (como o Lago de Ilha Solteira, Lago de Furnas e demais reservatórios no eixo do Rio Tietê e do Rio Paranapanema). A oferta excede a capacidade de com- pra do mercado local, aumentando a opção de compra dos frigoríficos e transportadores de peixes vivos, forçando os produtores a abaixarem seus preços para fechar uma venda e dar continuidade ao seu ciclo de produção. 15Panorama da AQÜICULTURA, julho, agosto, 2010 Tilápia em tanques-rede Mesmo reduzindo os preços, os produtores encontram dificuldade em vender a produção, pois a oferta momen- tânea de peixes excede a própria capacidade de compra e, muitas vezes, de processamento ou comercialização dos frigoríficos. Com uma maior oferta repentina de tilápia no mercado, somente é possível escoar este excedente se houver uma redução de preços ao longo de toda a cadeia de produção e distribuição. Isso despertaria o interesse de mais consumidores que, por restrições de preço, não podiam consumir, ou consumiam de forma contida, os produtos de tilápia. Este ajuste de preços é necessário para que não haja um descompasso entre a oferta de produto e o número de pessoas dispostas a comprar o peixe. Assim, aos produtores que necessitam fazer caixa urgentemente, restam poucas opções. Uma delas é vender seus produtos diretamente a grandes compradores dos en- trepostos de pescado, como o CEAGESP em São Paulo, a preços bem abaixo do custo de produção. A outra é manter seus estoques vivos na água, arcando com os custos adicio- nais devido à conversão alimentar mais elevada e maiores perdas com o adensamento excessivo e doenças, apostando numa melhora nos preços com o final do inverno. Os baixos preços pagos pela tilápia no Oeste e Noro- este Paulista há pouco mais de três anos, estão na eminência de se repetir. Depois de uma sub valorização, sendo com- prada do produtor a R$ 2,40/kg, houve uma recuperação nos preços da tilápia, que chegou a ser comercializada na casa dos R$ 2,90 a 3,10/kg durante a maior parte de 2009. Com a grande disponibilidade de peixes no mercado, os preços atuais estão novamente batendo perto da casa dos R$ 2,50/kg. Esse valor está muito aquém do custo de produção para uma piscicultura de pequeno e médio porte. Mantidos esses baixos preços, iremos testemunhar o encerramento de atividades de um grande número de pisciculturas e a redução na oferta de tilápia para os frigoríficos e pesque- pagues. A redução na oferta de tilápias resultará em aumento na procura pelo produto e, consequentemente, haverá um novo ciclo de subida nos preços de venda. Com isso, no- vos e antigos produtores irão retomar a produção, a oferta vai aumentar e novamente os preços voltarão a cair. É um círculo vicioso: aumento na produção e oferta → queda de preços → quebradeira de alguns → redução na oferta → nova elevação de preços... Apesar de surpreendente para muitos, este ciclo é característico da produção agropecuária. Parece safra de batata. Um ano se produz muito e o preço cai. No ano seguinte muita gente deixa de plantar, a oferta declina e o preço sobe. No próximo ano todo mundo volta a plantar e a super oferta do produto derruba os preços de novo. E assim os ciclos se repetem. Ao contrário da batata, a piscicultura demanda considerável investimento em instalações e lida com um produto de estocagem cara e arriscada, que pode facilmente sucumbir a erros de manejo e a enfermidades. Para manter os estoques de peixes vivos é necessário o fornecimento contínuo de alimento (ração), que representa grande parte do custo de produção. Assim, manter o estoque por mais tempo do que o necessário nas instalações implica em grande risco e um adicional de custo que muitas vezes come a apertada margem de lucro. Portanto, o planejamen- to adequado da produção é fundamental na determinação do grau de sucesso de um empreendimento de piscicultura, em particular em empreendimentos com tanques-rede. No presente artigo foram avaliados alguns dos fa- tores que interferem com o custo de produção de tilápias em tanques-rede, entre eles o atraso nas vendas, a falta de planejamento na aquisição de alevinos, o inadequado manejo dos estoques e a severidade das doenças. Planilha de apoio para as estimativas de custo de produção As estimativas de custos de produção aqui apresen- tadas foram geradas com o apoio da planilha em Excel inclusa no livro “Cultivo de peixes em tanques-rede” Frigoríficos especializados no processamento de tilápia em São Paulo, filés de tilápia sendo comercializados em supermercado em Brasília e tilápias inteiras em supermercado de Fortaleza 16 Panorama da AQÜICULTURA, julho, agosto, 2010 Ti lá pi a em t an qu es-r ed e (Eduardo Ono e Fernando Kubitza). A partir de um cenário de base, considerou-se uma piscicultura com capacidade de produção de 110 toneladas ao ano, com cerca de 80 tanques- redes de 6m3 de volume. Essa piscicultura é operada com três funcionários exclusivos que cuidam de toda a rotina de produção (alimentação, remoção de mortalidade, regis- tros de campo, classificações, transferências, despescas, manutenção das instalações e dos equipamentos, etc.). Os salários, os encargos trabalhistas, férias e décimo terceiro foram considerados a um valor médio de R$ 800,00 por funcionário/mês (R$ 2.400,00 para os três funcionários ao mês). Ao proprietário, que no caso exerce a função de planejamento e suporte nas operações de rotina, foi reservada uma remuneração mensal (pró-labore) de R$ 2.000,00 pelo trabalho de gerenciamento do empreendi- mento. Assim, as despesas com mão de obra e gerenciamento somam R$ 52.800,00 ao ano e representam, nesta análise, cerca de 54,8% do custo fixo estimado para este modelo de piscicultura. As despesas com alevinos, ração e medicamentos va- riaram de acordo com cada cenário, ficando dependentes dos níveis de eficiência considerados para cada situação de pro- dução analisada. Por exemplo, sob um cenário de ocorrência de doenças, foi estimado um aumento no ciclo de produção em dias (devido ao atraso no crescimento dos peixes) e uma maior mortalidade de peixes já em ponto de abate, bem como de juvenis, resultando em diminuição da produção anual. Ainda foi considerado aumento no uso de medicamentos e piores índices de conversão alimentar. Os seguintes cenários foram avaliados, conforme especificado na Tabela 1. Tabela 1 – Análise comparativa da composição do custo de produção de tilápias criadas em tanques-rede sob diferentes cenários de produção 17Panorama da AQÜICULTURA, julho, agosto, 2010 Tilápia em tanques-rede Os resultados apresentados na Tabela 1 podem va- riar, em diferentes regiões e pisciculturas, em função de di- ferenças nos preços dos insumos (ração, alevinos e outros), na estratégia de produção, nos valores de remuneração da mão de obra e do gerenciamento, dentre outros. CENÁRIO 1 - Vamos considerar o exemplo apre- sentado na Tabela 1, de uma piscicultura de tilápias em tanques-rede com potencial para produção de 110 toneladas ao ano. Sob condições normais de operação, o custo médio de produção foi estimado em R$ 2,84/ kg (ver Quadro 1). CENÁRIO 2 - O impacto do atraso nas vendas sobre o custo de produção Quanto mais a tilápia pronta demora a ser vendida, o custo de produção por quilo se eleva. O atraso nas vendas estende o tempo médio da engorda, o que resulta em menor volume anual de produção. Assim, a piscicultura que poderia produzir e co- mercializar 110 toneladas de peixes por ano, consegue apenas produzir cerca de 95 toneladas. Ou seja, uma redução de quase 14% da produção possível. Com isso há uma maior concentração das despesas fixas por quilo de tilápia produzido (mão de obra, manutenção das instalações e equipamentos, administração, tarifas diversas, serviços de terceiros e depreciação de seus equipamentos e estruturas). As despesas fixas são aquelas que ocorrem na mesma intensidade, independente do volume de produção atingido. Além disso, o atraso nas vendas aumenta a despesa com ração por quilo de peixe produzido. Quando o peixe está pronto e não há condição de colocá-lo no mercado, geralmente o produtor desacelera a oferta de ração, para que o peixe não cresça demasiadamente e, também, como forma de reduzir o desembolso com a compra de ração. Tal procedimento desacelera a taxa de crescimento e piora a conversão alimentar. Em adição, quanto mais tempo o peixe pronto demora a ser vendido, maior será a mortalidade acumulada no cultivo. O atraso nas vendas faz com que as densidades nos tanques-rede se elevem demasiadamente. Nos meses de inverno a mortali- dade associada ao excessivo adensamento é menos acentuada. No entanto, quando o atraso nas vendas ocorre nos meses de verão, nos quais as doenças bacterianas são mais prevalentes, a mortalidade pode ser bem agravada. A morte dos peixes já em ponto de venda significa uma grande quantidade de dinheiro e tempo indo diariamente para o lixo. • Produção anual de 110 toneladas (Peso médio 700g); • Número de tanques-rede de 6m3 = 80 TR; • Preços dos alevinos = R$ 110,00/mil; • Preço médio ração = R$ 1,04/kg; • Conversão alimentar média = 1,65; • Tempo médio do ciclo = 240 dias; • Sobrevivência acumulada até despesca = 68%; • Despesas do empreendimento conforme detalhado na Tabela 1. CUSTO PRODUÇÃO = R$ 2,84/kg. Quadro 1 – Cenário base para a estimativa do custo de produção de tilápia em tanque-rede A) CENÁRIO 1 - Cenário base: onde os resulta- dos de produção e de vendas ocorrem dentro da expectativa normal prevista para o empreendi- mento (ciclo de produção de 240 dias, conversão alimentar média de 1,68; sobrevivência acumulada de 68% do alevino ao tamanho de mercado, entre outros parâmetros, conforme especificados na Tabela 1). B) CENÁRIO 2 - Atraso nas vendas: neste cenário há um atraso médio de 25 dias nas vendas de pei- xes, aumentando, nessa mesma proporção, o tempo do ciclo de produção. Isso resulta em elevação no peso médio final, bem como em maior mortali- dade de peixes prontos para vendas. Também há uma maior mortalidade de juvenis, enquanto estes aguardam por mais tempo o resumo das vendas para seguirem adiante no ciclo de produção. O resultado disso é uma redução na produção anual do empreendimento, das 110 toneladas previstas para 95,5 toneladas de peixes. C) CENÁRIO 3 - Perdas por manejo e doenças: nesta situação foi considerada uma perda adicional de juvenis e de peixes com tamanho de mercado devido a problemas com manejo e maior incidência de doenças. Com isso há uma redução ainda mais expressiva da produção anual do empreendimento, que ficou por volta de 89 toneladas. D) CENÁRIO 4 - Inadequado planejamento da demanda e compra de alevinos: neste cenário foi considerado um atraso médio no ciclo de produção em cerca de 40 dias em virtude de problemas com a oferta / fornecimento de alevinos. e) CENÁRIO 5 - Ocorrência conjunta dos fatores relacionados nos cenários 3 e 4. 18 Panorama da AQÜICULTURA, julho, agosto, 2010 Ti lá pi a em t an qu es -r ed e Todos esses fatores ajudam a elevar o custo de pro- dução da tilápia. Dessa forma, para balizar melhor suas estratégias de definição de preços de venda, particularmente nos momentos de grande oferta de peixes no mercado, o pro- dutor precisa ter o controle exato das suas despesas, uma boa estimativa do custo médio de produção e conhecer o quanto o custo de produção se eleva a cada semana, ou mês em que a tilápia pronta fica encalhada nas suas instalações. Com base nos resultados apresentados na Tabela 1, o empreendimento sob o CENÁRIO 2 tem seu ciclo de produção estendido em 25 dias (em média), em função do atraso nas vendas. O volume de produção anual cai de 110 para 95,5 toneladas de peixes. Isso se deve não apenas a uma maior extensão dos ciclos de criação, mas também à mor- talidade adicional que acomete os lotes de tilápias prontos para a venda, bem como os lotes de juvenis e de alevinos. A conversão alimentar piora em função da restrição da oferta de ração tanto para os peixes já terminados como para os juvenis e alevinos. Dessa forma, os custos fixos do empre- endimento recaem sobre uma produção menor de pescado, elevando o custo de produção para R$ 3,25/kg (ver Quadro 2). Assim, podemos estabelecer que um atraso médio de 25 dias nas vendas, resulta em aumento no custo de produção de cerca de R$ 0,41/kg de tilápia em tanques-rede. Quadro 2 – Cenário 2 - condição de atraso nas vendas • Atraso médio de 25 dias para venda dos esto- ques prontos; • Mortalidade adicional em relação ao cenário base: - 3% nos estoques de peixes prontos (700g) - 5% nos estoques de juvenis (40 a 150g); - 5% nos estoquesde alevinos (0,5 a 40g); • Conversão alimentar piora em 15%. • Peso médio final de venda = 800g; • Tempo médio do ciclo = 265 dias; • Sobrevivência acumulada até despesca = 60% • Mesmas condições de demanda de pessoal, salários, remuneração ao gerenciamento e demais despesas conforme apresentado na Tabela 1. CUSTO PRODUÇÃO = R$ 3,25/kg. 19Panorama da AQÜICULTURA, julho, agosto, 2010 Tilápia em tanques-rede CENÁRIO 3 - O impacto das perdas com o inadequado ma- nejo e com as enfermidades sobre o custo de produção O inadequado manejo dos estoques, em particular no momento das classificações por tamanho e transferências (ou repicagens), bem como o inadequado manejo sanitário, levam a consideráveis perdas de tilápias na criação em tanques-rede. Episódios recorrentes de doenças são comuns após o manuseio dos peixes e em períodos de elevadas temperaturas da água.O aumento do custo de produção devido ao inadequado manejo e doenças ocorre de forma direta, com as mortalidades de peixes, alevinos, juvenis e peixes prontos para o mercado. Há um aumento nas despesas com medicamentos e produtos pro- filáticos, bem como com suporte técnico de emergência. Perdas excessivas de alevinos e juvenis devido ao inadequado manejo e doenças aumentam as despesas com aquisição de alevinos. Enquanto as perdas diretas na forma de peixes mortos são facilmente verificadas, as perdas indiretas resultantes do atraso no crescimento e da piora na conversão alimentar nem sempre são reconhecidas pelos produtores. O atraso no crescimento (que implica em atraso no ciclo de produção) resulta em uma produção abaixo da capacidade do empreendimento. A piora na conversão alimentar em um determinado lote de peixes acome- tido por uma enfermidade, aumenta o custo de ração por quilo de peixe produzido. Outro custo indireto que geralmente não é contabilizado advém dos compromissos de vendas não cumpri- dos. No caso da venda de tilápias vivas (para pesque-pague ou para o mercado vivo), as mortalidades atribuídas à qualidade do peixe geralmente implicam em reposição ou descontos no valor aferido na venda. Esse é outro componente indireto de aumento no custo de produção da tilápia. No Quadro 3 é apresentado o cenário de produção sob inadequado manejo e ocorrência de doenças. Neste é conside- rada uma mortalidade adicional de 5% nos peixes em peso de mercado e de 8% na etapa de juvenis, em relação ao CENÁRIO 1. Além disso, estipulou-se um atraso de 35 dias para atingir o peso de mercado e uma piora de 20% na conversão alimentar, que saltou de 1,68 do CENÁRIO 1 para 1,98. Sob tais condi- ções, o custo de produção foi estimado em R$ 3,61/kg, 27,5% superior ao do Cenário 1. • Atraso médio de 35 dias no ciclo de produção (ciclo de 275 dias); • Mortalidade adicional de 5% nos peixes prontos para venda; • Mortalidade adicional de 8% nos juvenis e alevinos; • Aproveitamento médio dos alevinos da estoca- gem a despesca = 48%; Conversão alimentar é 20% pior do que no • CENÁRIO 1 (média do cultivo de 1,98); • Mesmas condições de demanda de pessoal, sa- lários, remuneração ao gerenciamento e demais despesas do cenário base (Tabela 1). CUSTO PRODUÇÃO = R$ 3,61/kg. Quadro 3 – CENÁRIO 3 – inadequado manejo e ocorrência de enfermidades CENÁRIO 4 - O impacto da falta de planejamento sobre o custo de produção Em boa parte das pisciculturas é comum observar uma grande quantidade de tanques vazios (viveiros ou tanques- rede). Isso ocorre devido à falta de planejamento e de compati- bilização dos recebimentos de alevinos com as saídas de peixes prontos. Essa falta de planejamento é ainda mais agravada pela oferta sazonal dos alevinos de tilápia nas regiões sul e sudeste do país. Nos meses de agosto, setembro e outubro, com o final Mortalidade de juvenis e de peixes com peso próximo do peso de mercado 20 Panorama da AQÜICULTURA, julho, agosto, 2010 21Panorama da AQÜICULTURA, julho, agosto, 2010 Tilápia em tanques-rede do inverno na Região Sul e Sudeste, os produtores retomam suas vendas, abrindo espaço para a estocagem de novos lotes de alevinos. No entanto, antes do início de novembro, a oferta de alevinos nas regiões sul e sudeste ainda não estará plenamente restabelecida. Assim, muitos produtores fica- rão sem alevinos para estocagem ao final do inverno, atrasando o ciclo de produção. Essa falta de planejamento se repete há anos nas pisciculturas. Uma piscicultura que perde um, dois ou três meses do seu ano de produção por falta de alevinos, acaba com uma produção anual abaixo do que pode- ria ser alcançado se houvesse um adequado planejamento para escapar da entressafra de alevinos. Portanto, o produtor deve ter a dimensão exata da sua demanda por alevinos e, quando chegar próximo do final da estação reprodutiva (meses de fevereiro, março e abril), deve adquirir alevinos em quantidades suficientes para produzir os juvenis que serão utilizados na estocagem dos tanques na saída do inverno. Novamente, tomando como ponto de partida o cenário base apresen- tado na Tabela 1, um atraso de 20 dias no recebimento de alevinos devido a deficiências na entrega ou aos pedidos em cima da hora), mais um atraso de 60 dias no período de redução da oferta de alevinos (junho, julho, agosto e setembro), acabam reduzindo de 110 para 94 toneladas a produção anual de uma piscicultura sob inadequado planejamento do uso e estocagem de alevinos. Isso equivale a cerca de 14,5% de redução na produção. Desse modo, o custo médio de produção se eleva de R$ 2,84/kg (cenário base) para R$ 2,98/kg, ou seja, R$ 0,15/kg de aumento no custo médio de produção da tilápia (4,9% de aumento no custo da tilápia sobre o custo no Cenário 1). anual de alevinos e ração demandados pelo empreendimento. Tampouco é realizada uma avaliação criteriosa do mercado e da capacidade de venda da produção. Num impulso, estes novos criadores seguem o exemplo de vizinhos e amigos que aparentemente se deram bem com a criação e esperam que essa seja também a sua sina na piscicultura. No entanto, logo se deparam com as dificuldades do dia a dia, agravadas ainda mais pelo desconhecimento das práticas eficazes de produ- ção e manejo sanitário, assim como pela inexperiência dos produtores iniciantes. Em geral há uma significativa perda de alevinos e juvenis, e uma mortalidade acima do aceitável de peixes já no peso de venda. Enquanto os preços de venda da tilápia se mantêm elevados, o empreendimento se sustenta. No entanto, com a redução dos preços e ocorrência de elevadas perdas de peixes por doenças, os custos de produção se elevam consideravelmente, fazendo com que muitos empreendimen- tos operem no vermelho. A ocorrência simultânea de dois ou mais fatores adversos (falta de planejamento, atraso na aquisição de ale- vinos, perdas de peixes devido ao manejo grosseiro e maior incidência de doenças pela ausência de um programa eficaz de manejo sanitário) pode amplificar ainda mais o aumento nos custos de produção, inviabilizando por completo o em- preendimento. Segue o exemplo do Quadro 5. O atraso na aquisição de alevinos, as perdas elevadas de juvenis devido a um manuseio grosseiro nas classificações e transferências, e a ocorrência de mortalidade crônica por doenças nos lotes • Atraso médio de 20 dias no recebimento dos alevinos nos meses de safra e de 60 dias no rece- bimento nos meses de entressafra, o que equivale a um atraso médio combinado de 40 dias nos ciclos de produção; • Mortalidade acumulada, conversão alimentar e peso médio final em condições semelhantes às do Cenário 1; • Tempo médio do ciclo = 280 dias; • Sobrevivência acumulada até despesca = 68%; • Mesmas condições de demanda de pessoal, sa- lários, remuneração ao gerenciamento e demais despesas conforme apresentado na Tabela 1. CUSTO PRODUÇÃO = R$ 2,98/kg. Quadro 4 – Cenário sob o inadequado planejamento na aquisição de alevinos "O produtor deve ter a dimensão exata da sua demanda por alevinos e, quando chegar próximo dofinal da estação reprodutiva deve adquirir alevinos em quantidades suficientes para produzir os juvenis que serão utilizados na estocagem dos tanques na saída do inverno." CENÁRIO 5 – Combinando o planejamento deficiente, o atraso nas vendas e a ocorrência de enfermidades de forma simultânea Boa parte das pisciculturas em tanques-rede que iniciam sua operação, em particular aquelas de pequeno porte e de caráter familiar, produzem tilápias literalmente na raça. O planejamento prévio do empreendimento é incipiente. Muitas vezes não há noção do volume 22 Panorama da AQÜICULTURA, julho, agosto, 2010 23Panorama da AQÜICULTURA, julho, agosto, 2010 Tilápia em tanques-rede de tilápia em ponto de venda, elevam o custo de produção de R$ 2,84 (no CENÁRIO 1) para R$ 3,76/kg. Um aumento de cerca de 32% no custo de produção. Margens de lucro sob os diferente cenários Na Tabela 2 são resumidas as margens de lucro obtidas sob os diferentes cenários detalhados na Tabela 1. Observe que o Cenário 3 envolvendo manejo ineficiente e alta ocorrência de doenças, jun- tamente com o Cenário 5, são os que mais reduzem a margem bruta de lucro do empreendimento. Mesmo com preço de vendas da tilápia a R$ 3,60/kg, a margem de lucro bruta ainda continua negativa. O produtor de tilápia em tanque-rede que hoje vende seu peixe a um preço inferior a R$ 3,00 corre grande chance de ficar no prejuízo, particularmente se há uma grande ineficiência no planejamento e na condução da criação Nos próximos anos é de se esperar um aumento no volume de produção e a atuação de mais frigoríficos no mercado. Além disso, espera-se também que continue crescendo o número de consumidores do pescado cultivado. A equação que vai ajustar a disponibilidade de pescado ao número de consumidores será determinada pela lei da oferta e procura. Muitos são os fatores que podem afetar a oferta do peixe e o número de potenciais compradores. Desta forma, muitos ciclos de apertos e alívios ainda virão. A atividade se tornará cada vez mais competitiva e as margens de lucro mais estreitas. Os empreendimentos precisarão operar de forma eficiente para manter seu custo de produção sob controle e dentro de uma faixa capaz de remunerar o capital e o tempo investidos. O produtor precisará ter competência para planejar e conduzir seu empreendimento, minimizando perdas de estoques devido a erros primários por falta de conhecimento de boas práticas de produção e por descuido no manejo sanitário. A gestão de um empreendimento exige uma busca contínua por informações, técnicas e de mercado. Assim, a capaci- tação do proprietário e de sua equipe é fundamental. Quanto maior o porte do empreendimento, maiores serão os desperdícios gerados pela ineficiência do processo produtivo (com ração, com a perda de • Atraso médio de 70 dias no ciclo de produção (ciclo de 310 dias), devido ao atraso na compra de alevinos e, também, ao atraso no crescimento devido a doenças (ver Tabela 1); • Mortalidade adicional de 5% nos peixes prontos para venda; • Mortalidade adicional de 8% nos juvenis e alevi- nos; • Aproveitamento médio dos alevinos da estocagem a despesca = 48%; • Conversão alimentar é 20% pior do que no CENÁRIO 1 (média de 1,98); • Mesmas condições de demanda de pessoal, salários, remuneração ao gerenciamento e demais despesas do cenário base (Tabela 1). CUSTO PRODUÇÃO = R$ 3,76/kg. Quadro 5 - CENÁRIO 5 - combinando o inadequado planejamento na aquisição de alevinos, o manuseio grosseiro de juvenis e ocorrência de enfermidades alevinos e juvenis e com a mortalidade de peixes em ponto de venda). Portanto, con- tar com um suporte técnico seguro muitas vezes é imprescindível e determinante para o sucesso do empreendimento. No caminho para a consolidação da tilapicultura como uma das principais indústrias de carne no Brasil, será preciso reduzir as ineficiências. No criador, através da adoção de práticas eficientes de manejo dos estoques e controle dos dados de pro- dução, com o auxílio de suporte técnico especializado. Nas indústrias de ração, com a formulação e preparo de rações de alta qualidade e custo eficiente. Nos frigoríficos, com o aproveitamento integral da tilápia, para que o custo de produção não recaia somente sobre o filé, sendo assim capaz de remunerar adequadamente seus forne- cedores, mantendo-os vivos no mercado. Um longo caminho ainda pela frente, mas a tilapicultura no Brasil chegou para ficar e este é um caminho sem volta. . Tabela 2 – Impacto do preço de venda sobre a margem de lucro de empreendimentos de criação de tilápia em tanques-rede sob diferentes cenários, conforme apresentado na Tabela 1. A remuneração mensal ao proprietário pelo gerenciamento e trabalho na produção já está embutida no custo de produção 24 Panorama da AQÜICULTURA, julho, agosto, 2010 Sanidade Aquícola A experiência do AQUAVET na investigação de doenças de peixes nativos a presente edição descreveremos parte da experiência do AQUAVET na sanidade e diagnóstico de doenças infecciosas de peixes nativos, em ambientes de aquicultura. O cultivo das espécies nativas tem apresentado um cres- cimento significativo em nosso país, sendo que muitas são cogitadas como modelos para o futuro da piscicultura nacional. Até recentemente, a produção comercial de peixes nativos apresen- tava como principais dificuldades a realização da reprodução e o manejo alimentar, principal- mente nas fases mais jovens. Transpostas essas barreiras, vemos atualmente que os problemas sanitários vêm causando grandes impactos e podem se apresentar como um dos principais limitantes para a atividade em algumas situa- ções. Ao longo do texto apresentamos, baseados nas consultorias da equipe do AQUAVET, alguns exemplos práticos de problemas sanitários e surtos de doença vivenciados em pisciculturas em diferentes regiões do país. Por: Henrique César Pereira Figueiredo e-mail: henrique@dmv.ufla.br Médico Veterinário, professor do Deptº de Medicina Veterinária Preventiva, Escola de Veterinária da UFMG Coordenador do AQUAVET Lab. de Doenças de Animais Aquáticos Carlos Augusto Gomes Leal, M.Sc.* Gláucia Frasnelli Mian, D.Sc.* Daniela Tupy de Godoy, M.Sc.* Ulisses de Pádua Pereira, M.Sc.* Glei dos Anjos de Carvalho-Castro, M.Sc.* Frederico Costa, M.Sc.* Carina Oliveira Lopes* Dircéia Aparecida Custódio - Técnica de Laboratório *Médicos veterinários, Aquavet – UFMG Reprodução e larvicultura As dificuldades enfrentadas no cultivo comercial de espécies nativas iniciam-se com a aquisição de reprodutores. Como a exploração da maioria das espécies se deu recente- mente, não existem famílias ou linhagens de reprodutores formadas, e consequentemente disponíveis para a compra. Por esse motivo, quando um piscicultor quer iniciar a pro- dução de um peixe nativo, suas opções são adquirir alevinos de outras fazendas ou capturar reprodutores no ambiente natural, realizando todas as fases do cultivo na propriedade (reprodução, larvicultura, alevinagem, recria e engorda). No caso de peixes capturados direto da natureza, a sua introdução na propriedade merece maior atenção devido à grande complexidade deste processo. O histórico sanitário destes animais é totalmente desconhecido e estes podem carrear patógenos para o sistema de cultivo sem que percebamos, permitindo o estabelecimento desses micror- ganismos na propriedade. Na prática, são comuns os casos onde mortalidade de reprodutores pós-captura são verifica- das muitas vezes semanas após o povoamento. Na figura 1 podemos observar reprodutores de cachara (Pseudoplatys- toma fasciatum) e pintado (Pseudoplatystoma corruscans) apresentando sinais clínicos de doença infecciosa, quinze dias após captura. Além do estresse do processo de captura 25Panorama da AQÜICULTURA, julho, agosto, 2010 Sanidade Aquícola e adaptação ao ambiente de cultivo (tanque), temos como dificuldade adicional, nesses casos, o fato desses peixes não ingerirem ração. Poresse motivo, em casos de doença bacteriana o tratamento com antibiótico não é possível, visto que esses são fornecidos junto com a ração. Para tentarmos evitar este tipo de problema, os peixes capturados devem ser colocados em tanques de quarentena. A vantagem desta prática é que além de tornar mais fácil a observação dos animais é possível a realização de trata- mentos profiláticos. Adicionalmente, durante o período em que ficam nestes tanques, os patógenos que possivelmente estariam presentes nos peixes não contaminariam o sistema de cultivo. Na introdução desses peixes é recomendado que se realizem os exames bacteriológicos e parasitológicos. No caso de reprodutores adquiridos de outras pisciculturas, o histórico sanitário conhecido desses animais dá uma maior segurança para o produtor, além de possibilitar a realização de tratamentos profiláticos poucos dias antes do transporte dos animais. Ainda assim, os cuidados sanitários devem ser os mesmos adotados para os peixes capturados da natureza. O sistema de quarentena deve ser utilizado também neste caso, assim como para a introdução de peixes de qualquer faixa etária na propriedade. Figura 1: reprodutores de pintado e cachara, capturados do ambiente, apresentando hiperemia e hemorragias cutâneas (setas pretas), bem como, ulcerações (setas vermelhas) em diversas regiões do corpo quinze dias após o povoamento nagem. Nessas fases os peixes têm menor resistência aos parasitas. Como esses patógenos são facilmente visualizados, o piscicultor deve fazer uma inspeção criteriosa dos reprodutores na chegada à propriedade. Quando verificada a presença desses, os tratamentos com antiparasitários devem ser realizados. A larvicultura é um dos principais pontos críti- cos para produção comercial de peixes nativos. Nessa fase, as larvas são altamente sensíveis às mínimas variações no ambiente (qualidade da água, temperatu- ra, etc.), ao manejo e também são susceptíveis a uma ampla diversidade de patógenos, por não possuírem o sistema imune completamente formado. No estágio larval é comum a ocorrência de surtos, com mortali- dade de 100% dos animais. Para facilitar a discussão, consideraremos a larvicultura como sendo o período compreendido entre a fecundação artificial dos ovos e o desenvolvimento dos peixes de 5cm a 10cm (há uma variação de acordo com a espécie). Do ponto de vista sanitário, o risco de contaminação das larvas começa antes mesmo do seu nascimento. Como discutido em edições anteriores dessa coluna, diferentes patógenos podem ser transmitidos via ovos e sêmen, sendo reco- mendada a realização da desinfecção desses. Na prática temos verificado altas mortalidades causadas por infecções por Flavobacterium colum- nare (causador da columnariose). Casos de surtos de columnariose acometendo larvas ainda nas incubado- ras são cada vez mais comuns nas larviculturas. Os principais sinais clínicos observados nas larvas são a erosão da nadadeira caudal e a formação de manchas brancas na região da cabeça. Muitas vezes a evolução da doença é tão rápida, que quando se suspeita da doença essa já matou grande parte do lote, não sendo Ectoparasitas macroscópicos são comumente observa- dos em peixes capturados, principalmente o crustáceo Argu- lus sp. (popularmente conhecido como “piolho de peixe”). Esse parasita é normalmente encontrado nos rios do Brasil, principalmente em áreas de sedimentação, sendo que sua forma infectante tem a capacidade de migrar por distâncias consideráveis facilitando sua disseminação. Apesar de não causarem doença grave nos reprodutores, esses parasitas podem ser reservatórios para outros patógenos e ocasionar problemas em estágios futuros, como na larvicultura e alevi- "Ectoparasitas macroscópicos como o Argulus sp. são comumente observados em peixes capturados. Popularmente conhecido como “piolho de peixe”, esse parasita apesar de não causar doença grave nos reprodutores, pode ser reservatório para outros patógenos." 26 Panorama da AQÜICULTURA, julho, agosto, 2010 Sa ni da de A qu íc ol a CASO CLÍNICO 1: Caracterização da Propriedade: fazenda especializada na recria e engorda de pintado da Amazônia híbrido (Rhamdia sebae x P. fasciatum). O cultivo é realizado em tanques de terra. Histórico do Problema: surtos de mortalidade de alevinos vinham sendo observados após o povoamento. Os alevinos eram adquiridos de apenas uma larvicultura. De acordo com o responsável pela propriedade, era comum a realização de tratamentos com oxitetraciclina na ração, para evitar a ocorrência de surtos de columnariose. Sintomatologia clínica: peixes com hiperemia e hemorragias em diferentes regiões do corpo (olho, base das nadadeiras e ao redor da boca), nadando na superfície, acúmulo de animais na entrada de água e nas bordas do tanque. Exames clínicos e laboratoriais: • Avaliação parasitológica: não foram verificadas infestações parasitárias significativas. • Exame bacteriológico: resultados positivos para infecção por Aeromonas hydrophila patogênica, confirmado por PCR-RFLP e detecção de genes de virulência do sistema de secreção do tipo III. • Teste de resistência dos isolados bacterianos frente à antibióticos: as amostras de A. hydrophila isoladas a partir dos peixes doentes mostraram-se resistentes à oxitetraciclina e outros antibióticos. Tratamentos e Controle: foi realizado o tratamento com antibiótico para combater as infecções por Aeromonas hydrophila. A escolha do antibiótico foi baseada no resultado do teste de resistência, que demonstrou quais os fármacos que seriam eficientes para esses isolados bacterianos. Para evitar a introdução de animais doentes na propriedade foi elaborado um procedimento padrão baseado: na inspeção e coleta de animais para exame parasitológico/bacteriológico antes da entrada na propriedade; realização de tratamentos profiláticos; povoamento dos peixes inicialmente em tanque isolado, realizando assim uma quarentena; e após 15 dias, na ausência de problemas sanitários, os peixes são liberados para os demais sistemas de cultivo da propriedade. Associado a esses, passou-se a realizar um manejo sanitário criterioso. Diagnóstico final: infecção por Aeromonas hydrophila resistentes a oxitetraciclina. Os principais fatores de risco para os surtos eram o estresse do manejo e transporte dos peixes. viável a realização de tratamentos. Atualmente, verificamos na prática muitos casos de surto de columnario- se e infestações parasitárias conco- mitantes. Esses patógenos têm como principais fatores de risco: o excesso de matéria orgânica (principalmente ração) em incubadoras/tanques; altas densidades de estocagem; estresse nos animais com treinamento alimen- tar (no caso de peixes carnívoros); transição de dieta; classificação das larvas; limpeza das incubadoras, entre outros. Resultados positivos no controle da columnariose em larviculturas de peixes nativos têm sido obtidos com a salinização da água, associada a correção dos pro- blemas (fatores de risco) descritos acima. Em concentrações baixas, porém constantes, o sal inibe as in- fecções por F. columnare. Contudo, é importante fazermos uma ressalva nesse ponto. As diferentes espécies nativas respondem e resistem de maneira diferenciada ao aumento na salinidade da água. Não é recomen- dada a salinização da água caso não se tenham estudos de seu efeito para as larvas do peixe em questão, poden- do provocar a morte de todo o lote. Adicionalmente, o uso de vitaminas com ação imunoestimulante (vita- minas C e E) na ração dos peixes, desde a absorção do saco vitelínico e o enriquecimento do alimento vivo (rotífero ou artêmia), incrementam a imunidade e melhoram a resistência das larvas frente às infecções. Outro parasita que causa pre- juízo às diferentes fases do cultivo (reprodução, alevinos, engorda e terminação) é o protozoário Ichthyo- phthirius multifiliis. Na larvicultura, as infestações por esse parasita
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