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1Panorama da AQÜICULTURA, março/abril, 2005 2 Panorama da AQÜICULTURA, março/abril, 2005 3Panorama da AQÜICULTURA, março/abril, 2005 3Panorama da AQÜICULTURA, março/abril, 2005 Jomar Carvalho Filho Biólogo e Editor "S Editorial enhor Ministro, FAÇA POLÍTICA PELO AMOR DE DEUS.” Essas são as palavras que fi nalizam o texto da carta aberta, escrita pelo piscicultor Rômulo Lins, de Caconde (SP), dirigida ao Ministro José Fritsch, e que foi encaminhada através da Lista de Discussão Panorama-L. O desabafo desse piscicultor, que pode ser lido nessa edição, em nada difere dos muitos que se ouve quando o assunto é a capacidade da Seap de fazer a política aqüícola que os aqüicultores tanto desejam. E não se pode dizer que o Sr. Ministro desconheça os anseios dos produtores. O fato é que o descontentamento entre os aqüicultores é grande, assim como tem sido grande a difi culdade da Seap de encaminhar e solucionar os principais problemas que hoje ainda amarram a aqüicultura e, de quebra, a vida dos milhares de profi ssionais envolvidos. O licenciamento ambiental das atividades aqüícolas nas águas da União é, sem dúvida, o maior desses gargalos, e as esperanças depositadas na gestão de Fritsch para a solução desse problema, parecem estar dando lugar à descrença na sua capacidade de resolvê-lo. O que o setor espera é que a Seap seja forte e mostre o seu cacife político, sempre que tiver oportunidade. Mas não o foi, nem mesmo quando era, ela própria, a grande interessada no licenciamen- to do que viria a ser o primeiro Parque Aqüícola brasileiro - na verdade três minúsculas áreas em três diferentes braços do reservatório de Itaipu. E ainda teve que engolir em seco uma exigência absurda do Ibama para apresentar um Eia/Rima do reservatório, quando seus técnicos já julgavam ter cumprindo com todas as exigências para obtenção do licenciamento. Se a Seap não consegue licenciar o “seu” próprio Parque Aqüícola, a quem os aqüicultores irão recorrer daqui pra frente? Mas o licenciamento ambiental é apenas um dos problemas. Existem outros, que juntos remetem a um único tema central: a produção estratégica de pescado no Brasil. A grande pergunta é: vamos conseguir produzir nos próximos anos todo o pescado que pretendemos consumir? Ou vamos assumir desde já a dependência futura do abastecimento, via importação de outros países? Pode parecer absurdo essa segunda pergunta, mas é pertinente. Isso porque, se o desejo óbvio é o de produzir esse pescado, estamos então muito atrasados nas ações concretas para que isso venha acontecer. E estratégias para “fabricar” pescados, é uma das principais atribuições da Seap. O fato é que passados dois anos e meio da sua gestão, as ações políticas para incrementar a produção, implementadas pelo Ministro Fritsch já se mostraram insufi cientes para alcançar a meta proposta pela sua pasta, que é de 1,5 milhões de toneladas em 2006; e vão colaborar muito pouco para que possamos nos aproximar da meta ideal de 2,5 milhões de toneladas (13 kg/per capita/ano), recomendadas pela FAO. Os críticos de José Fritsch afi rmam que a sua estratégia política pessoal é que está atrapalhando, fazendo com que tenha que jogar todas as suas fi chas na sua eleição ao governo de Santa Catarina. Essa seria a única explicação que seus críticos têm para o fato de muitos dos cargos-chave da Seap estarem sendo hoje ocupados por catarinenses. O que não seria nada demais se fossem catarinenses envolvidos anteriormente com a aqüicultura e com a pesca. Se essas críticas procedem, veremos em breve. Se querem saber a minha opinião, de minha parte concordo que está na hora, sim, do Ministro Fritsch, fazer política com “P” maiúsculo, como pede em sua carta aberta, o piscicultor de Caconde. Ainda deve dar tempo. A todos uma boa leitura, 4 Panorama da AQÜICULTURA, março/abril, 2005 5Panorama da AQÜICULTURA, março/abril, 2005 Edição 88– março/abril, 2005 Editor Chefe: Biólogo Jomar Carvalho Filho jomar@panoramadaaquicultura.com.br Jornalista Responsável: Solange Fonseca - MT23.828 Direção Comercial: Solange Fonseca solange@panoramadaaquicultura.com.br Colaboradores desta edição: Adriane P. Wasko Cesar Martins Claudio Oliveira Fausto Foresti Felipe Matarazzo Suplicy Fernando Kubitza José A. Senhorini Manuel Vazquez Vidal Junior Marco Mathias Ricardo Y. Tsukamoto Walter Quadros Seiffert Os artigos assinados são de responsabilidade dos au- tores. Os editores não respondem quanto a qua li da de dos serviços e produtos anunciados, bem como pelos dados divulgados na seção “Informe Publicitário”. Para assinatura use o cupom encartado, visite www.panoramadaaquicultura.com.br ou envie e-mail. Assinatura: Fernanda Carvalho Araújo e Daniela Dell’Armi assinatura@panoramadaaquicultura.com.br ASSINANTE - Você pode controlar, a cada edição, quan- tos exemplares ainda fazem parte da sua as si na tu ra. Basta conferir o número de créditos des cri to entre parenteses na etiqueta que endereça a sua revista. Números atrasados custam R$ 12,00 cada. Para adquiri-los entre em contato com a redação. Edições esgotadas: 01, 05, 09, 10, 11, 12, 14, 17, 18, 20, 21, 22, 24, 25, 26, 27, 29, 30,33, 34, 35, 36, 37, 38, 39, 40, 41, 44, 45, 59, 61, 62, 63, 65, 79, 81, 82, 83, 87 Projeto Gráfi co: Leandro Aguiar leandro@panoramadaaquicultura.com.br Design & Editoração Eletrônica: Panorama da AQÜICULTURA Ltda. Impresso na SRG Gráfi ca & Editora Ltda. A única publicação brasileira dedicada exclusi- vamente aos cultivos de organismos aquáticos Uma publicação Bimestral da: Panorama da AQÜICULTURA Ltda. Rua Mundo Novo, 822 # 101 22251-020 - Botafogo - RJ Tel: (21) 2553-1107 / Fax: (21) 2553-3487 www.panoramadaaquicultura.com.br revista@panoramadaaquicultura.com.br ISSN 1519-1141 Capa: Foto: Arquivo Pa no ra ma da Aqüicultura ...Pág 35 ...Pág 27 ...Pág 32 ...Pág 35 ...Pág 37 ...Pág 39 ...Pág 43 ...Pág 37 ...Pág 51 ...Pág 53 ...Pág 59 Í N D I C E ...Pág 61 ...Pág 47 ...Pág 64 ...Pág 63 ...Pág 19 ...Pág 23 Tilápia em água salobra e salgada Muitas espécies e linhagens de tilápia possuem capacidade de adaptação em ambientes de diferentes salinidades, podendo ser cultivadas tanto em água doce, salobra ou salgada. O Brasil apresenta um grande potencial para cultivo de tilápias em áreas estuarinas, fato que em alguns países, já se tornou uma atividade comercial consolidada. O cultivo de tilápias em estuários pode trazer signifi cativos ganhos econômicos, sociais e ambientais para as populações locais, hoje severamente impactadas pelo declínio da atividade pesqueira. ...Pág 66 ...Pág 64 ...Pág 33 Editorial Notícias e Negócios Notícias & Negócios on-line Inaugurado Laboratório de Processamento de Peles de Peixes Tilápia em água salobra e salgada: uma boa alternativa de cultivo Cultivo de tilápias da Bahia Pesca Tilápia: mercado norte-americano x mercado europeu Os impactos ambientais positivos da malacocultura Fundador do Greenpeace critica ambientalistas Camarão na Europa: o Brasil em destaque nas exportações Aqüicultura aponta também para produção de medicamentos Governo abre as fronteiras para a introdução de parasita exótico Ultra Violeta remove 17-a metil testosterona da água Estiagem no sul de Brasil causa grandes prejuízos aos aqüicultores Peixes ornamentais: melanotaenia maçã Cultivo de matrinxã em tanques-rede Matrinxã e piracanjuba: a importância do monitoramento genético Carta ao Ministro Tênia de peixe: parasita pode prejudicar a aqüicultura Controle de produtos veterinários é tema de reunião na SEAP A Mancha Branca em SC Assinados os primeiros contratos do BB para Aqüicultura e Pesca A dança do licenciamento Pecnordeste 2005 Calendário Aqüícola ...Pág 06 ...Pág 03 ...Pág 13 ...Pág 14 ...Pág 10 6 Panorama da AQÜICULTURA, março/abril, 2005 furg.br, e-mail: aquicultura@furg.br, ou fone: (53) 236-8042. EQUATORIANOS - O presidente da Federação das Associações de Engenheiros de Pesca do Brasil (FAEP/BR),Augusto José Nogueira, apresentou ao presidente do Conape – Conselho Nacional de Aqüicultura e Pesca, Ministro José Fritsch, a denúncia de que não está havendo fiscalização sobre a mão-de-obra ilegal proveniente de outros países, em especial do Equador, atuando na atividade da carcinicultura. Segundo Augusto José Nogueira os profissionais equatorianos por estarem ilegais, tornam-se mais baratos aos em- presários brasileiros, que assim não arcam com os custos trabalhistas pagos pela mão-de-obra local e legal. Na sua denúncia, a maior parte desses profissionais não consegue emprego no Equador, pelo fato da atividade já não ser tão promissora como no passado. LANÇAMENTOS - A Instrutherm Instrumentos de Medição Ltda, está lançando no mercado a Balança Digital BD-430. Com design super moderno, a balança tem display de cristal líquido com luz no fundo, possui calibração automática sendo muito útil para o aqüicul- tor que necessita de precisão na pesagem, pois sua capacidade é de 15 kg e resolução de 1 grama. A BD-430 (foto) trabalha com três unidades de peso: quilo, grama e libra. A Instrutherm está lançando também o Termo-higrômetro digital portátil HT-260, um instrumento compacto desenvolvido para executar medições de temperatura e umidade do ar. Possui escala de tempera- tura de -20 a 60ºC e escala de umidade de 0 a 100% RH. LADRÕES DE PEIXES – A Polícia no Distrito de Itacima, no município cearense de Guaiú- ba, prendeu quatro irmãos, que nos últimos meses invadiam pisciculturas para roubar os peixes. A Fazenda Bom Princípio, um dos principais fornecedores de peixes para os grandes supermercados de Fortaleza, era uma das principais vítimas do grupo, que repassava os peixes para serem vendidos em feiras-livres. Os roubos que chegavam a 100 kg de tilápia por vez, causavam um duplo prejuízo aos piscicultores, já que os peixes eram comercializados por preços bem abaixo do valor real, nas feiras onde os piscicultores também negociam o produto. Os fazendeiros, além de ter o peixe furtado de seus viveiros, ainda tinham dificuldades de vender na feira os que sobravam. FILÉ PARA EXPORTAÇÃO - A Tilápia do Bra- sil Ind. e Com. de Pescados de Aqüicultura Ltda., empresa formada por 10 empresários piscicultores, todos ligados à Associação de Aqüicultores de Monte Aprazível e Região (Aquamar), alcançou em abril a meta de exportar 19.000 lb (cerca da 8,6 toneladas) de filés de tilápia semanalmente para os Estados Unidos. Segundo Marcos Lopes, da Piscicultura Aracanguá e também um dos diretores da Tilápia do Brasil, o fri- gorífico inaugurado em outubro passado, ocupa assim a liderança nas exportações brasileiras de tilápia. Em março passado, dois representantes da empresa estiveram no Boston Seafood Show para confirmar junto aos clientes norte-americanos, o compromisso de embarcar, já a partir de julho próximo, 25.000 lb semanais de filés (11,4 toneladas). TECNOLOGIA - A Solar Instrumentação, Monitoração e Controle, localizada em Florianópolis-SC, é uma empresa 100% nacional que pesquisa, desenvolve e co- mercializa instrumentos, projetos e solu- 6 Panorama da AQÜICULTURA, março/abril, 2005 7Panorama da AQÜICULTURA, março/abril, 2005 ções para medição de grandezas químicas, físicas, aplicadas à monitoração de águas e efluentes, solos e florestas. Há mais de oito anos no mercado, desenvolveu importantes parcerias com universidades e instituições como a UFSC e EMBRAPA, produzindo ins- trumentos e tecnologia em fotocolorimetria (foto), hidrossedimentologia, medição de pH, O2, entre outros, para campo e labora- tório. Segundo a empresa catarinense, este amparo tecnológico, somado ao compro- misso de cooperar com a preservação e recuperação do meio ambiente, fazem da Solar, uma empresa pronta para atender a iniciativa pública e privada. CAMARÃO NA BAHIA – A produção de ca- marão em 2004, na Bahia atingiu o volume de produção de 9.600 toneladas/ano. Cinco mil toneladas foram exportadas, incluindo o camarão na lista dos 15 itens mais impor- tantes da pauta de exportação baiana. De todas as culturas primárias, a aqüicultura baiana é a principal geradora de empregos no estado, proporcionando 1,8 empregos diretos e 1,7 empregos indiretos por cada hectare. Segundo a Bahia Pesca, entre as ações de incentivo apoiadas pelo governo federal está a instalação, em Ilhéus, de um terminal de pesca, e um mapeamen- to completo das zonas economicamente produtivas. PESQUISA COM ORGÂNICOS - A certifi- cadora de produtos orgânicos Naturland, reconhecida pela Federação Internacional dos Movimentos de Agricultura Orgânica, em cooperação com o Coop Naturaplan Fund, está iniciando dois programas de desenvol- vimento, na área de aqüicultura orgânica. O Coop Naturaplan é o mais importante selo orgânico das lojas de supermercado suíças Coop. Um dos programas é o “Processamento de produtos orgânicos da aqüicultura”, que objetiva identificar substâncias alternativas ou técnicas para substituir o metabissulfito no processamento de camarões, e para a operação sem, ou com um mínimo de cloração da água. O outro programa “Antio- xidantes naturais na farinha de peixe/óleo de peixe para alimentos orgânicos voltados para a aqüicultura”, pretende identificar substâncias alternativas ou técnicas para substituição de antioxidantes químicos. SUCESSO DE VENDAS - A Textil-Sauter, no mercado há 10 anos no segmento de redes multifilamentos sem nó, está comemorando o sucesso de vendas da rede anti-pássaro para cobertura de tanques. Fabricada em polietileno altamente resistente aos raios solares, a rede protege os tanques contra aves piscívoras, evita a entrada de animais predadores e ajuda no sombreamento da área. Segundo a empresa, protegidos os peixes se alimentam melhor pois não fi- cam estressados, favorecendo o ganho de peso e o crescimento mais rápido, o que significa aumento da produtividade e maior lucratividade. A empresa, que desenvolve seus produtos de maneira personalizada visando atender a necessidade de cada cliente, produz também comedouros, ber- çários e tanques-rede com revestimento em PVC, uma novidade criada pela Sauter por ser mais resistente, de maior durabilidade, maleável e de fácil manejo. VIVENDA DO CAMARÃO - Para buscar in- vestidores e levar a marca a outros países, a empresa Vivenda do Camarão participou no México, no início de março, da feira de fran- quias, FIF 2005. Com o apoio da Associação Brasileira de Franchising e da Agência de Promoção de Exportações (Apex), a empresa participará também de feiras nos Estados Unidos, Portugal e Espanha. No total, a rede tem 46 lojas nas principais capitais brasi- leiras, sendo 13 franqueadas, uma delas em Portugal. A meta é chegar ao final de 2005 com seis lojas no exterior, e assim vender fora do País, mais de 50 mil refeições/mês. No Brasil, são comercializados diariamente 10 mil pratos prontos. Em 2004, a Vivenda do Camarão, que comercializa os camarões produzidos pela Sohagro, fazenda localizada em Valença, na Bahia, teve um faturamento de R$ 30 milhões, um crescimento de 30% em relação ao ano anterior. ACUI 2005 – Na região da Galícia, na Espa- nha, o setor aqüícola possui grande impor- tância, tanto no que se refere à produção como em número de empregos que gera. A aqüicultura galega é um dos principais fornecedores para os mercados europeus, além de ser um dos maiores produtores do mundo de determinadas espécies. Em função dessa importância, será realizado de 13 a 15 de setembro, o Acui 2005, 1a Feira Interna- cional de Aqüicultura da Galícia, que espera receber 125 expositores dos quais 20% estrangeiros e mais de 5.000 profissionais visitantes. Além de produtores e técnicos, estarão presentes os responsáveis por compras de hipermercados, de hotelaria e chefs de cozinha. No dia 12 de setembro, ocorrerão jornadas técnicas 7Panorama da AQÜICULTURA, março/abril, 2005 8 Panorama da AQÜICULTURA, março/abril,2005 com a participação de experts do setor, que abordarão temas de interesse para a atividade. A feira é promovida pela Xunta de Galícia, Conselleria de Pesca e Assuntos Marítimos. Contatos: info@acui2005.com ou www.acui2005.com. CAMARÃO NATIVO - A Seap celebrou con- vênios no valor de mais de meio milhão de reais com a Universidade Federal de Rio Grande, para o desenvolvimento do cultivo do camarão nativo na Lagoa dos Patos. Com esses convênios o laboratório de Aqüicultura Marinha da Universidade Federal de Rio Grande, localizado na Praia do Cassino, em Rio Grande, vai desenvolver experimentos para o cultivo de camarões nativos em cercos, dentro da Lagoa dos Patos. O laboratório já trabalha com a reprodução e desenvolvimento do camarão rosa e também vai contar com os recursos para melhorar a sua infra-estrutura. Serão implantadas unidades demonstrativas e desenvolvidos estudos para a implantação de um parque aqüícola no interior da lagoa, viabilizando a produção de camarões. PISCICULTURA ORNAMENTAL - Nos últimos cinco anos a piscicultura ornamental no Estado do Ceará ganhou novo significado, estando relacionada também a bons negócios. Desde 2000, o setor vem registrando uma média de crescimento anual de 20%, tanto em relação a número de novos estabelecimentos, quanto de vendas. As projeções são de que a produção em cativeiro na próxima década responda por 90% do comércio. No Ceará, o cultivo de ornamentais está obtendo resultados tão positivos, que já existem piscicultores vendendo para outros estados. Porém, como o setor ainda se encon- tra desorganizado, não é possível precisar o quanto de dinheiro movimenta esta promissora atividade. Só nos Estados Unidos, principal país importador de peixes ornamentais, mais de dez milhões de residências possuem aquários. O segundo país importador é o Japão. FAO E A AQÜICULTURA – A FAO - Organiza- ção das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura, lançou no mês de março, um importante site com informações sobre a aqüicultura mundial. O Aquaculture Gateway Page faz parte do Sistema de Informação Global da Pesca (FIGIS) e pode ser acessado na Internet no seguinte endereço: www.fao. org/figis/servlet/static?dom=root&xml=aqua culture/index.xml CRÉDITO PARA O CAMARÃO – O Banco do Nordeste disponibilizou recursos para a carcinicultura em três linhas de crédito que abrangem financiamentos para o produto acabado, permitindo a formação de estoques reguladores; crédito rotativo para custeio a ser renovado automaticamente e, emprés- timos para projetos de baixa salinidade (Programa Aquipesca). As estimativas são de possibilitar a contratação de R$ 200 milhões para o ano 2005, dando novo fôlego aos produtores para superar a crise que abalou o setor no ano passado. O financiamento para custeio com a possibilidade de renovação automática é uma grande conquista do setor, pois permite que os produtores garantam pre- ços mais atrativos, compensando as perdas. De acordo com a ABCC, o preço médio do quilo de camarão exportado para os Estados Unidos ficou em US$ 4,42 em 2004, abaixo da cotação de US$ 5,00, considerada ideal pelos empresários. TAURA VENEZUELANA – A Síndrome de Taura atingiu diversas fazendas produtoras de camarão na Venezuela, principalmente nos estados de Zulia, Falcón, Trujillo e Nueva Esparta. De acordo com o Instituto para a Conservação do Lago Maracaibo (Iclam), cerca de 90% da produção de camarões está afetada, em conseqüência da presença do vírus. As especulações são de que o vírus da Taura tenha entrado no país, por meio de reprodutores utilizados por empresas produtoras de larvas, que teriam adquirido exemplares contaminados provavelmente provenientes do México ou Equador. As au- toridades venezuelanas decidiram, além de esvaziar e secar os viveiros afetados nesses estados, regulamentar a movimentação de exemplares vivos no país, como medidas para controlar a difusão da enfermidade. As espécies susceptíveis de infestação pela Síndrome de Taura são o Litopenaeus vannamei, o L. stylirostris e o L. setiferus. O Brasil convive há anos com a Síndrome de Taura, sem que tenha causado prejuízos à sua carcinicultura. O vírus no Brasil se manifestou de forma bastante atenuada. GALINHA AQUÁTICA – A tilápia vem sendo chamada de “galinha aquática” e prova- velmente será, em breve, uma ameaça ao salmão em termos de peixes produzidos por meio de técnicas orgânicas. Tal declaração foi dada por um representante da UK Sea Fish Industry, durante o Aquaculture Today 2005, realizado em Edinburgh, na Escócia, em abril. A empresa prevê que no futuro próximo, iremos comer cada vez mais e mais peixes criados organicamente. QUEDA NAS VENDAS – O Rio Grande do Norte, registrou queda de 7% nas vendas de camarão para o mercado internacional no primeiro trimestre de 2005. Segundo a Secretaria de Desenvolvimento do Estado, esta é a primeira vez que isso ocorre nos últimos quatro anos. A indústria de beneficiamento e exportação de camarão vendeu no primeiro trimestre de 2005, US$ 18,15 milhões, contra US$ 19,52 milhões no mesmo período de 2004. Para o Sindicato das Empresas de Pesca do Rio Grande do Norte, a queda nas exportações tem relação direta com a demanda, já que entre janeiro e março, o mercado europeu costuma comprar menos em função de ter adquirido grande quantidade do produto no final do ano. Existe também a influência do mercado norte-americano, em função da definição quanto à taxa antidumping só ter sido definida em março, além da redução nas densidades de estocagem nos viveiros das fazendas. O Ceará também apresentou forte queda nas exportações de camarão no primeiro trimestre de 2005, apesar de ter ficado em 4o lugar no ranking dos produtos com maiores volumes de exportação. As vendas do camarão cearense em 2005 caíram cerca de 27% em relação ao mesmo período de 2004. Os valores negociados passaram de quinze milhões de dólares no primeiro trimestre do ano passado, para onze milhões de dólares no primeiro trimestre de 2005. 8 Panorama da AQÜICULTURA, março/abril, 2005 9Panorama da AQÜICULTURA, março/abril, 2005 PATOLOGIAS E DOENÇAS - Está disponibi- lizado na Internet, no endereço eletrônico http://www.dipnet.info/index.htm, uma pági- na sobre patologias e doenças em organis- mos aquáticos. O site, chamado Dipnet tem como objetivo principal integrar e estreitar os conhecimentos científicos atuais sobre o potencial de transferência de patógenos e de doenças entre populações de organismos aquáticos selvagens e populações de animais criados em cativeiro. Serve também de su- porte para o desenvolvimento de políticas européias de proteção da saúde de popu- lações de animais aquáticos naturais, que permitam o uso responsável dos ambientes aquáticos para fins de aqüicultura. PROMOÇÃO AQUABIO – A Sociedade Brasi- leira de Aquacultura e Biologia Aquática está lançando uma promoção para seus sócios. Todos aqueles que renovarem suas anuidades receberão gratuitamente um volume do livro “Tópicos Especiais em Piscicultura de Água Doce Tropical Intensiva”. Receberão o livro, tanto os antigos sócios que já fizeram sua renovação neste ano, quanto os novos sócios que se afiliarem até o final de 2005. De acordo com o Estatuto da Sociedade, os novos sócios devem ser apresentados por sócios ativos. DETECÇÃO DE WSSV –Um kit desenvolvido pela empresa EnBioTech do Japão para a detecção rápida do WSSV, utiliza tecnologia capaz de detectar partículas virais abaixo dos limites tradicionais dos testes de PCR. Em 20 minutos detecta rapidamente o WSSV em pós-larvas e em camarões estocados, com resultados obtidos com elevado grau de sensibilidade, o que é um fator importante para o controle da doença, podendo limitar o impacto potencial do vírus. O teste pode ser realizado em campo, na beira do viveiro e está sendo comercializado pela empresa norte-americana Aqua-In-Tech. PERDAS NA MARICULTURA – O diretor doEscritório do Governo da Galícia (Espanha) no Brasil, Juan José Maria Lago, alertou que o Estado de Santa Catarina perde US$ 100 milhões de investimentos na maricultura pela falta de regulamentação. Por ser uma atividade relativamente nova - há 15 anos desenvolvida no Estado - não há legislação para o uso do espaço marítimo. Vários órgãos ambientais têm competência sobre o assunto, cada qual com uma política, o que inibe o aporte de recursos. A Galícia hoje é uma referência mundial em pesca e maricultura. A maior cultura galega, de mexilhões, atinge 257 mil toneladas por ano e representa o ingresso de 132 milhões de euros na economia da região, o equivalente a R$ 450 milhões. Em SC, são produzidos 9,5 mil toneladas de mexilhões e todo o setor de maricultura, incluindo ostras, vieiras, berbigão e polvo, além dos mexilhões, movimenta R$ 30 milhões por ano. CÓDIGOS DE CONDUTA - A Seap abriu con- sulta pública sobre os Códigos de Conduta da malacocultura, piscicultura, ranicultura e carcinicultura - esse elaborado pela ABCC. Os códigos têm como finalidade a orientação dos aqüicultores com relação às práticas das suas atividades. As versões preliminares encontram-se expostas ao público no site da Seap www.presidencia.gov.br/seap/ e estão abertas para sugestões até o dia 08 de julho. Durante este período, todos os aqüicultores interessados, poderão sugerir, por meio de um formulário, alterações nas versões preliminares disponibilizadas. Essas versões prévias, exceto à da carcinicultura, foram elaboradas a partir de um levantamento, realizado pela Seap, com base nos códigos de conduta já implementados em outros países.Todas as sugestões apresentadas serão compiladas em um relatório, e as versões finais dos códigos de conduta serão adequadas com base nessas sugestões. CONAMA - No dia 17 de março, o Conse- lho Nacional do Meio Ambiente publicou no Diário oficial da União, a Resolução 357, que dispõe sobre a classificação dos corpos de água doces, salobres e salinas do Território Nacional e sobre as diretrizes ambientais para o seu enquadramento. A Resolução 357 estabelece também as condições e padrões de lançamento de efluentes e revoga a Resolução CONAMA 20. Ao que parece, essa nova legislação será muito mais dura com os aqüicultores que trabalham no ambiente marinho do que com os que trabalham com a água doce. Em águas salinas (com salinidade maior que 30 partes por mil), a aqüicultura e a pesca serão realizadas em águas de Classe 1. Na água doce estas atividades estão na Classe 2. A Classe 1 é ambientalmente mais restritiva que a Classe 2. Em água doce, a poluição orgânica será medida por meio da DBO - Demanda Biológica de Oxigênio, da concentração de cianobactérias e de clorofila- a no ambiente, após o descarte do efluente do empreendimento. Em águas salinas, o parâmetro de controle será o COT - Carbono Orgânico Total, que é muito mais difícil de tratar e controlar. O limite máximo de COT é de 3 mg/L na Classe 1, na água salina, a qual pertence a aqüicultura. A clorofila não foi incluída como parâmetro legal para a água salina. 9Panorama da AQÜICULTURA, março/abril, 2005 10 Panorama da AQÜICULTURA, março/abril, 2005 De: Alexandre Alter Wainberg piau.nat@zaz.com.br Para: carcinicultor@yahoogrupos.com.br Assunto: WSSV Na última reunião do cluster do camarão, em Natal-RN, tive notícias de uma nova erupção de WSSV em SC. Alguém sabe de alguma providência no sentido de garantir pl’s certificadas WSSV free no Brasil? Houve erupção de Taura na Venezuela e foram im- portados camarões SPR dos EUA para tentar reverter a situação. Lá também era proibido importar crustáceos como medida preventiva. Os animais estão em quarentena e deverão começar a produzir em poucos dias para testes nas fazendas que estão secas por três meses. Existe alguma instalação de quarentena no Brasil, certificada pelo MAPA, que possa nos salvar em caso de necessidade de importação de linhagens WSSV free? De: Jorge Nicolau jorgeng@aquanorte.com.br Para: carcinicultor@yahoogrupos.com.br Assunto: Re: WSSV Caro Alexandre, tenho escutado alguma coisa a respeito da disseminação da doença por outras fazendas, além das já infectadas. Diante da complexidade e diversidade de opiniões existentes em nossa atividade, a Aquanorte optou por vender desde o mês de março de 2005, todas as suas pós-larvas com análise PCR / WSSV, feitas pelo Labomar, além de manter o mesmo controle para todos os lotes de reprodutores em maturação, monitorando ainda os que venham a entrar em produção, ainda na quarentena. De: Alexandre Alter Wainberg piau.nat@zaz.com.br Para: carcinicultor@yahoogrupos.com.br Assunto: Re: WSSV Jorge, parabéns pela sua iniciativa, que in- felizmente é solitária. Na minha opinião, já que o setor não se auto-regulamenta, o MAPA deveria obrigar todos a copiar seu exemplo. É um absurdo que os clientes dos laboratórios sejam obrigados a adquirir pl’s sem nenhuma biossegurança. As pl’s têm que ser livres de WSSV, IHHNV, NHP, Taura, etc.. Isto certamente vai refletir no preço das pl’s e tirar do mercado aqueles laboratórios que não tem condições de se adequar. O setor como um todo é bem mais importante que as empresas individuais. De: Moacelio V Silva Filho moacelio.listas@terra.com.br Para: lista@panorama-l.com.br Assunto: Mancha branca Gostaria de saber se existe alguma observa- ção desta virose em populações silvestres de camarão. De: Jorge Nicolau jorgengoncalves@uol.com.br Para: lista@panorama-l.com.br Assunto: Re: Mancha branca Nos países onde o vírus WSSV atingiu os cultivos, observa-se a presença deste nas populações nativas, porém, sem que haja registro de impacto, vide os volumes da pesca de captura que se mantêm constantes, quando não são maiores. Por ser uma doença típica de estresse, e se considerarmos as condições e concentrações em que estes animais vivem nos oceanos, fica mais fácil de entender. De: Elder Barroso fazendacamponovo@fazendacamponovo.com.br Para: lista@panorama-l.com.br Assunto: Gosto em camarão Gostaria de retirar o gosto de terra em camarão, causado por cianofíceas. Existe outra forma que não seja a renovação de água? De: Francisco Costa hiran1968@hotmail.com Para: lista@panorama-l.com.br Assunto: Re: Gosto em camarão Acho que não existe milagre. Se teu viveiro tem cianofíceas em excesso e se os teus camarões estão com problema de off-flavor, a solução mais econômica é o calcário agrícola (100-150 kg/ha), seguido de forte drenagem (20-30%), reabastecimento e repetir o processo por mais dois dias, alimentando bem os camarões. De: Maristela mcase@itep.br Para: lista@panorama-l.com.br Assunto: Re: Gosto em camarão Não seria mais correto monitorar a água para controlar os nutrientes e, desta forma, a flo- ração das cianobactérias? Assim será menos impactante e diminuirá a probabilidade de novas florações, mantendo o camarão mais saudável. De: Francisco Leão francisco.leao@fleury.com.br Para: lista@panorama-l.com.br Assunto: Cultivo de jundiá Alguém tem experiência de Jundiá em tanque- rede? Será que vai bem? O Jundiá toleraria bem o manejo no frio? Se algum dos colegas tiver as respostas, por favor comente. De: Gilberto Cielo aguadoce@brturbo.com.br Para: lista@panorama-l.com.br Assunto: Re: Cultivo de jundiá Seu interesse em cultivo de jundiá em tanque- rede é oportuno. Este peixe nativo nasceu na piscicultura inicialmente para repovoamento de barragens na forma de alevino. A boa acei- tação pelo mercado consumidor, a docilidade Para fazer parte gratuitamente da Lista Panorama-L vá ao site www.panoramadaaquicultura.com.br clique em Lista de Discussão e siga as instruções. você leu? o seu cliente também.... anuncie! solicite nossa tabela de preços seu cliente certamente é nosso leitor (21) 2552-2223 11Panorama da AQÜICULTURA, março/abril, 2005 e a produção em altas densidades deste peixe, despertaram o interesse dos produtores para o cultivo em largaescala. Soma-se a isso, a proibição aqui no Rio Grande do Sul, pelo órgão ambiental, do cultivo e comercialização de catfish e clárias. Desenvolvi experimentos práticos de cultivo de jundiá branco e cinza em tanques-rede chegando à densidades de até 90 jundiás/m³, para abate com 850 gramas. Atualmente é muito empregado em policultivo de carpas, com densidades baixas, 1 peixe/10m². De: Paulo Sérgio Ramão psramao@assis.unesp.br Para: lista@panorama-l.com.br Assunto: Procedimento HACCP, o que é isso? Iniciei-me recentemente na criação de tilápias Supreme. Recebi uma proposta de venda para exportação, entretanto, o comprador pergun- tou se minha produção segue os procedimentos HACCP. Logicamente, que neófito que sou, não sei o que vem a ser isso. Consulto, então, os colegas de lista. De: Larissa Karsten lari@netuno.com.br Para: lista@panorama-l.com.br Subject: Re: Procedimento HACCP, o que é isso? O sistema de Análise de Perigos e Pontos Crí- ticos de Controle - HACCP (da sigla em inglês para Hazard Analysis Critical Control Points) é um sistema preventivo que busca a produção de alimentos inócuos. Ele está embasado na aplicação de princípios técnicos e científicos na produção e manejo dos alimentos desde o campo até a mesa do consumidor. Os princípios do HACCP são aplicáveis a todas as fases da produção de alimentos, incluindo a agricul- tura básica, a pecuária, a industrialização e manipulação dos alimentos, os serviços de alimentação coletiva, os sistemas de distri- buição e manejo e a utilização do alimento pelo consumidor. O conceito básico destacado pelo HACCP é a prevenção e não a inspeção do produto terminado. Os agricultores e pe- cuaristas, as pessoas encarregadas do manejo e distribuição e o consumidor, devem possuir toda a informação necessária sobre o alimento e os procedimentos relacionados com o mes- mo, pois somente assim poderão identificar o lugar onde a contaminação pode ocorrer, e a maneira pela qual seria possível evitá-la. Se o “onde” e o “como” são conhecidos, a prevenção torna-se simples e óbvia, e a ins- peção e as análises laboratoriais passam a ser supérfluos. O objetivo é, além da elaboração do alimento de maneira segura, comprovar, através de documentação técnica apropriada, que o produto foi elaborado com segurança. O “onde” e o “como” são representados pelas letras HA (Análise de Perigos) da sigla HACCP. As provas de controle da fabricação dos alimen- tos recaem nas letras CCP (Pontos Críticos de Controle). Partindo-se desse conceito, HACCP é nada mais que a aplicação metódica e siste- mática da ciência e tecnologia para planejar, controlar e documentar a produção segura de alimentos. Uma definição prática de HACCP deve destacar que este conceito cobre todo tipo de fatores de risco ou perigos poten- ciais à inocuidade dos alimentos (biológicos, químicos e físicos) sejam os que ocorrem de forma natural no alimento, no ambiente ou sejam decorrentes de erros no processo de fabricação. Enquanto os perigos químicos são os mais temidos pelos consumidores (agrotóxicos) e os perigos físicos os mais comumente identificados (pêlos, fragmentos de osso ou de metal, material estranho), os perigos biológicos são os mais sérios, do ponto de vista de saúde pública. Por esta razão, ainda que o sistema HACCP trate dos três tipos de perigo, os perigos biológicos devem ser abordados em maior detalhe. Por exemplo, um pedaço de metal (perigo físico) em um alimento pode provocar uma lesão bucal ou um dente quebrado em um consumidor, ao passo que a contaminação de um lote de leite pasteurizado com Salmonela, pode afetar a centenas ou milhares de consumidores. De: Alisson Matos de Albuquerque alissonmatos@bol.com.br Para: lista@panorama-l.com.br Subject: Re: Procedimento HACCP, o que é isso? HACCP nada mais é que um método descriti- vo de todas as etapas que você tem na sua produção. A sua descrição deve-se levar em conta os riscos que o teu produto sofre em cada etapa, dessa forma analisando esse risco (químico, físico e biológico). Você terá que explicar esse risco, mostrar como faz para controlá-lo, qual o nível desse risco (baixo, médio ou alto), quem vai monitorar o risco e uma medida corretiva caso o risco um dia se torne real e passe a ser um fato na sua produção. O HACCP para quem já trabalha com ele é um excelente mecanismo para manter a qualidade na sua empresa. Antes de implantar o HACCP conhecido no Brasil como APPCC (Análise de Perigos e Pontos Críticos de controle), você tem que implantar as nor- mas de BPF (Boas Práticas de Fabricação) que são a base da estrutura do HACCP. As BPF são normas de controle de oito pontos, são eles: 1 Higiene das instalações, equi- pamentos móveis e utensílios; 2 Controle da água; 3 Higiene e saúde dos operários; 4 Manejo de resíduos; 5 Manutenção pre- ventiva e calibração de equipamentos; 6 Controle de pragas; 7 Seleção de matéria prima; 8 Recal. Vale ressaltar que essas normas são para HACCP em indústrias. Para fazendas temos as Boas Práticas Aqüícolas as quais o Ministério da Agricultura está começando a querer implantar, tendo em vista que alguns importadores de camarão estão exigindo um documento que compro- ve toda rastreabilidade do produto o qual ele está comprando. 12 Panorama da AQÜICULTURA, março/abril, 2005 De: Jorge Luiz Vieira Cotan jlcotan@yahoo.com.br Para: lista@panorama-l.com.br Assunto: Fecundação Possuo um pequeno (didático) laboratório de reprodução de tilápias onde faço a retirada dos ovos da boca das fêmeas para incubação artificial e posterior indução de sexo. Ocorre que tenho observado muitos ovos não fecundados (brancos). Quais as possíveis causas deste problema? De: Sergio Tamassia tamassia@softhouse.com.br Para: lista@panorama-l.com.br Assunto: Re: Fecundação Talvez no artigo A Simple Self-Contained Incubator for Cichlid Eggs, de George B. Brooks, Jr., você consiga achar algumas informações ou pistas para o seu problema. De uma maneira genérica, a não fecundação de ovos ou mortalidade destes podem estar relacionadas ou ser conseqüência de vários fatores de ocorrência individual ou simultânea, e são: a) qualidade nutricional das matrizes. Existem casos conhecidos para as carpas comuns, chinesas e catfish; b) qualidade do esperma; c) choques (térmicos, químicos, físicos); d) temperatura ele- vada no início do desenvolvimento embrionário induz desagregação da mórula; e) embolia gasosa, e f) carga bacteriana elevada. De: Alexandre Rodrigues ars_bettas@yahoo.com.br Para: lista@panorama-l.com.br Assunto: Tilápia Gift/processamento de couro O Brasil poderia utilizar para o melhoramento genético de tilápia tailandesa, às tilápias “carecas”. Acredito que se elas não possuem a barbatana dorsal, o couro seria menos dani- ficado e mais filé poderia ser retirado. O Brasil topou por acaso com essa mutação e creio que deveríamos dar crédito a esse peixe, que seria excelente no cultivo exclusivo de abate. De: Eduardo Turra geneforte@geneforte.com.br Para: lista@panorama-l.com.br Assunto: Re: Tilápia Gift/processamento couro Informações devem ser obtidas para a escolha da espécie ou linhagem a ser trabalhada ge- neticamente. Por exemplo: o desempenho da variedade sem nadadeira dorsal é melhor do que as variedades de nilótica com nadadeira? A na- dadeira é importante para o equilíbrio e natação do peixe. A falta dela não determina maior gasto energético e, por isso, menor desempenho em ganho de peso? A população inicial de peixes carecas foi grande o suficiente para manter uma boa variabilidade genética? Geralmente, populações provenientes de mutações não o são. Uma base populacional pequena deter- mina uma variedade que avançará pouco a partir de um trabalho de seleção e aumentará a consanguinidade rapidamente. De: Alvaro Graeff agraeff@epagri.rct-sc.br Para: lista@panorama-l.com.br Assunto: Re: Tilápia Gift/processamento couro A tilápia Gift suporta temperaturas abaixo de 13 graus,na água, por mais de 72 horas? Em caso contrário não podemos afirmar que pode ser criada em todo território nacional. Aí está o desafio do melhoramento genético para tornar a tilápia economicamente recomendável para criação nos estados sulinos e a necessidade dela ser biologicamente rentável em temperaturas abaixo dos 13 graus. Existem outros peixes que são recomendados para estas condições. De: Sergio Tamassia tamassia@softhouse.com.br Para: lista@panorama-l.com.br Assunto: Re: Tilápia Gift (couro) No site www.worldfishcenter.org/reshigh01_ 3.htm podem ser encontradas algumas infor- mações adicionais sobre a Tilápia Gift. De: Carlos Alberto S. Suleiman suleiman@cksnet.com.br Para: lista@panorama-l.com.br Assunto: Cloranfenicol Gostaria de saber sobre a quemicitina na ração com hormônio. De: Alvaro Graeff agraeff@epagri.rct-sc.br Para: lista@panorama-l.com.br Assunto: Re: Cloranfenicol Desconheço legislação pertinente ao uso de produtos quimioterápicos na aqüicultura no Brasil. Mas pensando que os peixes poderão ser exportados, devemos evitar o uso de medicamentos que tenham princípios ativos proibidos no países importadores. Os proibidos nos EUA e na Europa são: cloranfenicol, dime- trazole, ipronidazole, metronidazole, outros nitroimidazoles, furazolidone, nitrofurzone. As fluoroquinolonas e glucopeptideos somente são proibidos nos EUA. De: Ricardo Tsukamoto bioconsu@uol.com.br Para: lista@panorama-l.com.br Assunto: Re: cloranfenicol Usar quemicetina em aqüicultura comercial é uma temeridade, já que o princípio ativo dela é o cloranfenicol. Esta substância é um bom bacteriostático geral, mas pode gerar anemia aplásica em seres humanos, não raro levando à morte. O uso médico do cloranfenicol foi proibido em todo o mundo, sendo usado apenas em casos especiais e sem outras alternativas. A maior parte das proibições de importação de produtos pes- queiros vem da constatação de resíduos mínimos de cloranfenicol, o que provoca a sua imediata devolução ou incineração. O camarão produzido em certos países foi banido da Europa e dos EUA por esta razão. Não há qualquer necessidade de usar esse ou qualquer outro agente bactericida na ração para reversão sexual. Todos os agentes biocidas causam estresse no peixe, o que pode, como conseqüência, facilitar a instalação de doenças por agentes oportunistas. Algumas pessoas podem desenvolver anemia aplásica só pelo contato manual com o cloranfenicol, e depois não há retorno. Portanto, cuidado com esta substância. 13Panorama da AQÜICULTURA, março/abril, 2005 C om a presença de representantes de instituições e empresas que au-xiliam direta ou indiretamente na execução de projetos de pesquisas com peles de peixes, foi inaugurado no dia 15 de abril o Laboratório de Processamento de Peles de Peixes e Demais Espécies de Pequeno e Médio Porte. O laboratório faz parte de um projeto desenvolvido pela Universidade Estadual de Maringá (UEM) para o aproveitamento das peles de peixes provenientes dos resíduos de filetagem dos pesque-pague e aqüicultores da região. O projeto conta com apoio da SEAP, que destinou R$ 130 mil para a aquisição de equipamentos para o curtimento, acabamento e testes de resistência dos couros, da FADEC - Fundação de Apoio ao Desenvolvimento Científico e da Prefeitura de Maringá, que disponibilizou uma área de 300m2 para a sua instalação, além do apoio da UEM, através de pessoal e infra-estrutura de laboratórios. Para dar suporte ao pro- jeto, a Pró-reitoria de Pesquisa e Pós-graduação, através da EDUEM-Editora da Universidade de Maringá, viabilizou como material didático a edição do manual de curtimento, “Tecnolo- gia para processamento das peles de peixe”, que pode ser adquirido com algumas amostras de peles de peixes curtidas, com e sem acabamento. A UEM em conjunto com a UNESP de Jaboticabal e a Uni- derp de Campo Grande-MS, já vem realizando trabalhos científicos na área de peles de peixes, abordando a histologia da pele, a microscopia eletrônica de varredura e, mais recentemente, os testes de resistência dos couros de diversas espécies com potencial para a indústria coureira. Com a montagem do novo laboratório, as pesquisas se intensificarão, não só com as peles de espécies de peixes de água doce, mas também marinha. Segundo Maria Luiza Rodrigues de Souza, professora do Departa- mento de Zootecnia da Universidade Estadual de Maringá, essas tecno- logias de aproveitamento de subprodutos de pescado, principalmente de peles de peixes, já estão disponíveis e vêm sendo divulgadas e repassadas para a comunidade. A professora julga, porém, que trabalhos científicos a respeito da qualidade das peles ainda são poucos, e necessitam de mais pesquisas. As técnicas de curtimento que estão à disposição para os pis- cicultores são extremamente simples e ecológicas, mas existem também técnicas mais sofisticadas com ou sem o uso de sais de cromo. Uma vez curtidas, as peles podem ser comercializadas a um preço que varia de meio a um dólar a unidade, e de 50 a 130 dólares/m2 das mantas, peças unidas por um sistema de corte e costura. A UEM conta ainda com várias técnicas para o acabamento dos couros e oferece cursos de extensão para a comunidade. O curso de Pós- graduação conta com a disciplina intitulada “Tópicos especiais – Tecno- logia de Peles e Couros” em nível de mestrado e doutorado. Laboratório de Processamento de Peles de Peixes é inaugurado em Maringá O Ministro José Fritsch, observa objetos de couro de tilápia processado A professora Maria Luiza de Souza apresenta equipamento do laboratório de processamento de peles de peixes 14 Panorama da AQÜICULTURA, março/abril, 2005 Uma boa alternativa de cultivo para estuários e viveiros litorâneos Por: Fernando Kubitza, Ph.D. (Acqua & Imagem) e-mail: fernando@acquaimagem.com.br Muitas espécies e linhagens de tilápia são eurialinas, o que lhes confere a capacidade de adaptação a ambientes de diferentes salinidades, podendo ser cultivadas tanto em água doce, salobra ou salgada. Em diversos países o cultivo de tilápias em águas estuarinas e marinhas tem sido avaliado em caráter experimental e, em alguns locais, já se consolidou como atividade comercial. O Brasil apresenta um grande potencial para cultivo de peixes em áreas estuari- nas, notadamente na Região Nordeste. No entanto, devido à ausência de tradição e ao desconhecimento tecnológico do cultivo de peixes marinhos, o uso destas áreas para fins de aqüicultura tem se limitado ao cultivo de camarão e de moluscos. O cultivo de tilápias em tanques-rede nestes estuários deve ser firmemente avaliado, pois pode trazer significativos ganhos econômicos, sociais e ambientais para as populações locais, hoje severamente impactadas pelo declínio da atividade pesqueira. O Brasil é um dos principais produtores mundiais de cama- rão marinho e a infra-estrutura instalada para o cultivo do camarão pode ser também utilizada em cultivos consorciados (policultivo camarão e tilápia) ou mesmo em monocultivo de tilápias com mínimas adaptações nos viveiros ou nas estratégias de cultivo. O mercado nacional e internacional deste peixe é crescente e a infra-estrutura e logística hoje disponível para beneficiamento e exportação do camarão pode ser otimizada para o escoamento dos produtos da tilápia. A evolução do cultivo de tilápias no Equador é um exemplo real. Devido a problemas de sanidade nos cultivos de camarão marinho, os carcinicultores apostaram na tilápia. De uma produção ao redor de 2.500 toneladas de tilápia em 1998, o Equador produziu cerca de 30.000 toneladas em 2002, tornando-se o maior exportador de produtos de tilápia na América Latina. Tilápias cultivadas em águas salobras e salgadas não apre- sentam problemas com off-flavor e sua carne geralmente se asse- melha em sabor à carne de peixes marinhos. A textura (firmeza) da carne também é superior a observada em tilápias cultivadas em água doce, julgada pela experiência pessoaldeste autor. Assim, o cultivo de tilápias nestes ambientes, particularmente as linhagens vermelhas, pode resultar em produtos extremamente atrativos (quanto ao aspecto visual, sabor e preço) para atuar em um nicho de mercado hoje (sub) abastecido com espécies marinhas de alto valor, como os pargos rosado e vermelho, o robalo, a carapeba, a garoupa, entre outros. As espécies e linhagens de tilápias e a relação com a salinidade No mundo são reconhecidas mais de 70 espécies de ti- lápias. No entanto, apenas quatro delas contribuem de maneira significativa para a composição do pool genético de tilápia hoje utilizado nos cultivos comerciais em todo o mundo: a tilápia do Nilo (Oreochromis niloticus), a tilápia azul (Oreochromis aureus), a tilápia de Moçambique (Oreochromis mossambicus) e a tilápia de Zanzibar (Oreochromis uroleps hornorum). Além do cultivo como espécie pura, o cruzamento direcionado entre duas ou mais destas espécies (hibridações e retro cruzamentos) tem sido utilizado para a obtenção de alevinos híbridos ou para o estabelecimento de linhagens com determinadas características desejáveis ao cultivo. Por exemplo, o crescimento precoce, a obtenção de progênies com maior percentual de machos (híbridos), tolerância ao frio, resistência à alta salinidade, facilidade de captura, maior eficiência reprodutiva, entre outras. Características relacionadas ao mercado também foram contempladas, particularmente no que diz respeito à obtenção de linhagens vermelhas (que reúne padrões de cor que vão do branco ao rosa, ou passam por diversos tons de amarelo, laranja e vermelho claro). A seguir serão apresentadas informações sobre a tolerância e desempenho das principais espécies e linhagens de tilápia em águas salobras e salgadas. Para efeitos práticos desta revisão, quando forem feitas referências à água doce, salobra ou salgada, sem especificar o valor exato da salinidade, o leitor deve ter em mente os seguintes limites: água doce < 1ppt; água salgada >20ppt; e água salobra, salinidades entre 1 e 20ppt. Com base na divisão prática aqui pro- posta, em função do regime das marés e do regime de chuvas, os ambientes estuarinos geralmente devem ser vislumbrados como uma combinação de águas salobras e salgadas. Tilápia do Nilo A Oreochromis niloticus é a espécie mais cultivada no mundo, devido, principalmente, a alta prolificidade, maturação sexual mais tardia e crescimento mais rápido em comparação às espécies e híbridos relacionadas neste artigo. A grande maio- ria das tilápias produzidas no Brasil carrega material genético de O. niloticus (Foto 1). Foto 1 - Tilápia do Nilo (Foto Kubitza) A tilápia tailandesa (Foto 2 ) introduzida em 1996 e a recém introduzida tilápia Supreme são linhagens comerciais desenvolvi- das na Ásia a partir da combinação de materiais genéticos de O. niloticus originários de diversos locais da África. 15Panorama da AQÜICULTURA, março/abril, 2005 Foto 2 - Tilápia Chitralada Tailandesa (Foto Kubitza) Inúmeros estudos avaliaram a capacidade de adaptação desta espécie em cultivos em água salobra e salgada e muitas ve- zes são visualizados grandes contrastes nos resultados, que podem ser atribuídos à pureza genética dos estoques avaliados e a outras condições inerentes a cada um dos estudos. Em resumo, parece haver um consenso quanto a melhor eficiência reprodutiva desta espécie em água doce, comparada a águas salobras. Apesar de ser capaz de se reproduzir normalmente em águas com salinidade de 7 a 14ppt (ou 7 a 14g de sais/litro), a eficiência reprodutiva e o desenvolvimento de pós-larvas são melhores em água doce. A sobrevivência das pós-larvas na primeira semana de vida é muito baixa em salinidades acima de 10ppt. Metade dos ovos e das larvas morre após 96 horas de exposição à água com salinidade ao redor de 19ppt. Em água salgada (32ppt) a tilápia do Nilo não é capaz de se reproduzir. Alguns estudos sugerem que a tilápia do Nilo pode ser acli- matada a águas com salinidade de 30ppt ou até mesmo superior a isso. No entanto, o crescimento desta espécie parece ser maximizado a salinidades entre 10 e 12ppt (salinidade isoosmótica em relação aos fluídos corporais – plasma e fluídos celulares). Há registros de que até 16-18ppt o crescimento é semelhante ao observado em água doce. Em estudo sobre tolerância à salinidade, foi registrada uma salinidade letal mediana (salinidade que mata 50% dos animais) ao redor de 46g/l para O. niloticus quando a adaptação à salinidade ocorreu a acréscimos entre 2 e 8ppt por dia. No Brasil, Ostrenski et al (2000) observaram que a tilápia do Nilo pode ser aclimatada a salinidade ao redor de 25ppt. No entanto, mortalidade total foi registrada após 90 minutos em água com 30ppt. Hena et al (in press) registraram alta mortalidade em O. niloticus em salinidades de 23 e 30ppt, atribuída tanto ao es- tresse osmoregulatório quanto à maior susceptibilidade à doenças. Em um experimento piloto com tanques-rede realizado pela Bahia Pesca no estuário de Camamu, na Bahia, foram registradas altas incidências de ulcerações na pele e alta mortalidade de tilápias da linhagem tailandesa em local com salinidade entre 26 e 28ppt. Em outro local com salinidade ao redor de 20ppt a sobrevivência foi de 76% para a tailandesa. Além da maior salinidade, neste segundo local também predominaram correntes de água de maior velocidade (entre 10 e 22m/minuto), que pode ter imposto maior estresse aos peixes confinados. Em um estudo realizado em aquários avaliando o crescimento da tilápia do Nilo em diferentes temperaturas e sali- nidade (Likongwe et al 1996) também apareceram lesões na pele dos peixes quando a salinidade atingiu 16ppt a uma temperatura de 32oC. Essas lesões não ocorreram na mesma salinidade a tempera- turas de 28 e 24oC. Wainberg (em comunicação pessoal) observou reduzido crescimento, lesões corporais e hemorragias em tilápia tailandesa e dois outros híbridos vermelhos em viveiros quando a salinidade ultrapassou valores de 16 a 18ppt. Em contraste com a tolerância à salinidade registrados no Brasil, ensaios de crescimento realizados em tanques escavados nas Filipinas resultaram em índices de sobrevivência entre 82 e 94% quando a salinidade da água flutuou entre 14 e 35ppt ou entre 17 e 50ppt. Alevinos de 3 a 4 gramas atingiram peso médio entre 80 e 125 gramas após 90 ou 120 dias de cultivo (Watanabe et al 1997; Guerrero e Guerrero 2004). Essas diferenças talvez sejam um reflexo da pureza dos estoques genéticos de O.niloticus nestes dois países ou de outras variáveis ambientais nos locais onde foram realizados os testes. Tilápia de Moçambique A Oreochromis mossambicus ou Tilápia de Moçambique é uma das espécies mais tolerantes à salinidade. Sobrevive bem a concentrações de sal de até 70ppt e tolera concentrações próximas de 120ppt quando adaptada gradualmente. Consegue se reproduzir em águas de salinidade próxima a 50ppt. A eficiência reprodutiva desta espécie é cerca de três vezes maior em água com salinidade entre 9 e 15ppt do que em água doce. No cultivo desta espécie em água doce foram registrados altos índices de mortalidade. A tilápia de Moçambique contribuiu com material genético para a formação de diversas linhagens de tilápia. Uma das mais conhecidas é o híbrido vermelho denominado Tilápia Vermelha da Flórida (TVF). Nas Filipinas está sendo desenvolvido um programa para a produção de linhagens de tilápia capazes de crescer bem e se reproduzir em água salgada. Este programa tem como base a hibridação entre O. mossambicus e O. niloticus. Os pesquisado- res envolvidos neste programa registraram valores de salinidade mediana letal (salinidade que mata 50% dos peixes utilizados no experimento) de 54ppt para a tilápia do Nilo, 115ppt para O. mos- sambicus, e entre 97 a 112ppt para os híbridos recíprocos entre estas espécies e seus retrocruzamentos com O. mossambicus. Tilápia de Zanzibar A Oreochromis urolepis hornorum ou Tilápia de Zanzibar(Foto 3) também tolera e se reproduz em salinidades acima de 30ppt. O. hornorum foi oficialmente introduzida no Brasil na década de 70 pelo DNOCS (Departamento Nacional de Obras Contra as Secas) e foi experimentalmente utilizada para a produção do híbrido com a tilápia do Nilo. Recentemente, na Estação da CHESF em Paulo Afonso foi realizada a hibridação experimental de O. hornorum com a tilápia tailandesa (Chitralada), onde foram obtidos híbridos F1 100% machos e indivíduos ¾ (retrocruzamento do híbrido com a tilápia tailandesa). A tolerância destes híbridos à salinidade deve ser avaliada. Se eles apresentarem a tolerância da O. hornorum, pode estar aí um bom material genético para o cultivo em águas salobras e salgadas. Foto 3 – Tilápia de Zanzibar (Foto Panorama) Tilápia Azul Há registros de cultivos da Oreochromis aureus ou Tilápia azul (Foto 4) em água com salinidade entre 39 e 45ppt. No entanto, esta espécie apresenta crescimento mais lento que O. spilurus e que a tilápia vermelha de Taiwan nos cultivos em água salgada. Os híbridos entre O. niloticus e O. aureus parecem se desenvolver bem em água salgada (32–34ppt). A tilápia azul é conhecida por 16 Panorama da AQÜICULTURA, março/abril, 2005 17Panorama da AQÜICULTURA, março/abril, 2005 Tilápia Vermelha da Flórida Esta linhagem foi originada do cruzamento de um macho mutante vermelho de O. mossambicus com uma fêmea normal O. hornorum (Foto 5). Em alguns países onde foi introduzida (particularmente em países da Ásia, América Central, América do Sul e Ilhas do Caribe) a Tilápia Vermelha da Flórida - TVF sofreu ao longo do tempo contribuições de outras espécies de tilápia. No entanto ainda conserva um forte componente genético de O. mossambicus, o que lhe confere grande tolerância a altas salinidades. A TVF cresce melhor do que indivíduos puros O. mossambicus. O crescimento e a conversão alimentar da TVF são melhores em águas salobras (> 10ppt) do que em água doce (1ppt). O crescimento a 18ppt foi melhor do que o obtido em água doce ou a uma salinidade de 36ppt. O desempenho da tilápia vermelha da Flórida em água salgada é bem razoável, sendo possível, a partir de alevinos de 1 a 5g atingir peso médio ao redor de 450g em 150 a 160 dias de cultivo com conversão alimentar ao redor de 1,8:1 com rações contendo entre 25 e 32% de proteína. A TVF foi introduzida na Colômbia e no Equador, neste último como opção para o cultivo em águas de alta salinidade. Nestes países alguns híbridos foram derivados desta linhagem, como a Red Jumbo 1 (híbrido com O. niloticus). No Brasil, a Bahia Pesca realizou um cultivo experimental de tilápias vermelhas hí- bridas (denominadas Red Jamaica, como as da Foto 6 no estuário de Camamu (Bahia). Alevinos de 1g atingiram peso médio final de 350 a 550g com 200 dias de cultivo. No entanto, a conversão alimentar não foi das melhores, girando entre 2,4:1 e 3,9:1. No local de maior salinidade (26-28ppt) e de maior velocidade da água (10 a 22m/minuto) as tilápias apresentaram manchas esbranquiçadas na pele e lesões ulcerativas. Essa possível baixa tolerância à salinida- des de 26-28ppt nos faz acreditar que a Red Jamaica não carrega uma grande contribuição de O. mossambicus. Wainberg também observou problemas a salinidades acima de 18ppt (reduzido cres- cimento e lesões na pele) em tilápias vermelhas oriundas de duas localidades do nordeste, o que nos leva a crer que a contribuição de O. mossambicus nestes peixes também é reduzida. Quanto à capacidade reprodutiva, apesar da TVF ser capaz de se reproduzir a salinidades de até 36ppt, a produção de pós-lar- vas foi duas vezes melhor a 5ppt do que a 18ppt. Acima de 18ppt há uma redução acentuada na fertilização dos ovos e na taxa de sua maior tolerância ao frio e muito utilizada em cruzamentos onde esta característica é desejada. Grande parte da tilápia cultivada na China é composta por híbridos entre O. niloticus e O. aureus. Foto 4 - Exemplar de Oreochromis aureus (Foto Kubitza) eclosão e na sobrevivência das pós-larvas. Tilápia Vermelha de Taiwan Este é outro híbrido vermelho originado do cruza- mento entre O. mossambicus x O. niloticus. A Tilápia Vermelha de Taiwan - TVT cresce bem a salinidades entre 17 e 37ppt. No entanto, é bastante sensível ao manuseio sob altas salinidades. O comportamento de reprodução deste híbrido é inibido em água salobra ou salgada, o que pode ser devido ao legado genético de O. niloticus, que também não é capaz de se reproduzir em água salgada (32ppt). Isso certamente é uma vantagem no cultivo em águas de alta salinidade, reduzindo os problemas com a superpo- pulação dos viveiros. No entanto, a produção de alevinos tem que ser feita em locais com água doce ou salobra. Guerrero e Guerrero (2004) compilaram informações sobre o cultivo experimental de um híbrido vermelho entre O. mossambicus e O. niloticus em viveiros com água de salinidade ao redor de 32ppt. Alevinos de 8g atingiram 180g em 120 dias de cultivo. A sobrevivência foi de 83%. Outras espécies de tilápia tolerantes a altas salinidades Apesar de pouco utilizadas em cultivos comerciais, Ore- ochromis spilurus e Sarotherodon melanotheron são espécies de tilápia altamente tolerantes à salinidade. O. spilurus também é mais tolerante ao frio do que a tilápia vermelha da Flórida, porém apresenta menor crescimento que esta em água salgada. Sarothe- rodon melanotheron tolera salinidades de até 120ppt, porém cresce muito lentamente. Há estudos avaliando a tolerância à salinidade e o crescimento de híbridos desta espécie com O. niloticus. Juvenis de S. melanotheron apresentaram mortalidade mediana (50% dos peixes) a uma salinidade próxima de 125ppt. Avaliação da tolerância à salinidade Em virtude da grande variabilidade na composição genética de híbridos e linhagens de tilápia cultivadas no Brasil, a melhor maneira de se assegurar da tolerância de uma determinada espécie à salinidade é realizar um teste prático. Neste teste, grupos de 20 a 50 peixes devem ser colocados em caixas ou aquários experimentais. Seria interessante realizar o ensaio com juvenis ao invés de peque- nos alevinos. A salinidade pode ser aumentada a taxas diárias de 3 a 5ppt. O uso de água do mar (ao invés da simples adição de sal) na mistura com a água dos aquários experimentais é recomendável, pois a água do mar apresenta uma mistura mais completa de sais presentes no ambiente onde será realizado o cultivo. O balanço entre os íons presentes na água pode influenciar na tolerância dos peixes à salinidade. A salinidade deve ser gradualmente elevada. O ponto de mortalidade mediana (salinidade na qual a mortalidade acumulativa atingiu 50% dos peixes de um determinado aquário) e de mortalidade completa (salinidade na qual se atingiu 100% de mortalidade dos peixes em um determinado aquário). Estes valo- res de salinidade, comparados com as salinidades observadas nos possíveis locais de cultivo poderão dar ao produtor uma idéia da adequação de um certo tipo de tilápia ao cultivo. Avaliada a tolerância, Foto 5 - Tilápia vermelha no nordeste: possível contribuição da tilápia vermelha da Flórida (Foto Kubitza) Foto 6 - Tilápias vermelhas (Foto Kubitza) 18 Panorama da AQÜICULTURA, março/abril, 2005 o produtor deve fazer um ensaio piloto de cultivo e verificar se o de- sempenho dos peixes é satisfatório (crescimento, conversão alimentar e sobrevivência). Salinidade e crescimento Salinidades ao redor de 10 a 12ppt são consideradas isoosmóti- cas para as tilápias. Nesta faixa de salinidade o consumo de oxigênio é minimizado, sugerindo um menor gasto de energia para osmoregulação (manutenção do equilíbrio de sais nos fluídos corporais – plasma e fluídos celulares). Salinidades isoosmóticas potenciam o crescimento de O. niloticus, O. mossambicus e da tilápia vermelha da Flórida. Para a tilápia vermelha da Flórida e a tilápia de Moçambique, a produção de pós-larvas também é mais eficiente nestassalinidades. Em geral, os híbridos vermelhos usados em cultivos comer- ciais no mundo, crescem melhor em águas salobras do que em água doce ou água salgada. Yi et al (2004) avaliaram o desenvolvimento de uma linhagem de tilápia vermelha oriunda da Tailândia em viveiros fertilizados, sem o uso de ração. Peixes estocados com 22g, aos 160 dias alcançaram peso médio de 88g na água doce contra 144 a 150g a 10ppt, 123 a 142g a 20ppt e 106 a 115g a 30ppt. A sobrevivência em todas as salinidades foi de 100%. O crescimento destes híbridos vermelhos em água salobra (salinidade próxima da isoosmótica) foi superior ao registrado em água doce ou em água salgada (30ppt). Isso também foi observado para a tilápia vermelha da Flórida, para a tilápia de Moçambique, para híbridos entre O. mossambicus e O. hornorum e para a Tilápia vermelha de Taiwan (O. mossambicus x O. niloticus). Diversos motivos foram apresentados para explicar este melhor crescimento em águas isoosmóticas. O primeiro deles é o menor custo energético com a osmorregulação. Russel et al (2003) registraram uma menor taxa metabólica de manutenção em tilápia de Moçambique aclimatadas à água salgada do que em peixes em água doce. O segundo é a redução na agressividade de alguns híbridos vermelhos em águas salobras e salgadas. O oposto foi observado para a tilápia do Nilo, com o aumento da agressividade entre os peixes quando a salinidade aumento gradualmente de 0 a 36ppt. Esta maior agressividade pode estar relacionada com a mortalidade registrada ao longo da adapta- ção gradual deste peixe à água salgada. Um terceiro componente é o aumento geral na taxa metabólica em tilápias aclimatadas em água salgada comparado aos mesmos peixes aclimatados em água doce. Na tilápia vermelha da Flórida cultivada em águas de alta salinidade foi observado aumento no consumo de alimento e uma melhor conversão alimentar. Russel et al (1994) verificaram um aumento na produção de hormônio de crescimento e uma maior atividade das células produtoras deste hormônio na hipófise das tilápias de Moçambique aclimatadas em água salgada, comparadas a peixes mantidos em água doce. Isso pode ser uma das causas do aumento no metabolismo e no crescimento desta espécie de tilápia em água salgada. Há um consenso entre produtores e técnicos de que as linha- gens vermelhas híbridas existentes no Brasil apresentam crescimento inferior ao registrado para as linhagens com base genética de tilápia do Nilo quando cultivadas em água doce. No entanto, essa diferença pode ser menos acentuada em águas salobras ou salgadas. Assim, vale a pena reavaliar o crescimento destes peixes em locais com água salgada ou que apresentam grande flutuação na salinidade. Adaptação à água salgada Os dois fatores mais importantes no sucesso da adaptação à água salgada são a idade (tamanho) dos juvenis e a estratégia de adaptação. Tanto para a tilápia vermelha da Flórida como para O. niloticus a tolerância à água de alta salinidade é maior após os 40-50 dias de vida. O tamanho parece ser mais importante do que a idade em determinar esta tolerância. Para O. niloticus a tolerância máxima à água salgada parece ser atingida com alevinos maiores que 5cm. Para O. mossambicus e seus híbridos com O. niloticus, alevinos já com 2,5cm apresentam boa tolerância à transferência à água salgada. Diversos estudos demonstraram que as principais espécies e híbridos de tilápia usadas na aqüicultura não toleram transferência direta da água doce para a água salgada. S. melanotheron, considerada uma tilápia altamente resistente à salinidade, apresentou 90% de mortalidade sete horas após a transferência direta de alevinos de 20g da água doce para uma água de 35ppt. Para Oreochromis aureus a transferência direta da água doce para água com salinidade maior que 21ppt resultou em mortalidade. Com a adaptação gradual, com incrementos de 5ppt ao dia esta espécie tolerou salinidade de até 52ppt. Para as espécies de tilápia hoje cultivadas, a transferência direta de água com 0 para 10ppt é con- siderado um procedimento seguro. A partir deste ponto é recomendado um aumento gradual da salinidade não ultrapassando incrementos de 5ppt ao dia. Assim, são necessários cinco a seis dias para completar a aclimatação à água salgada (32ppt) para as espécies capazes de tolerar esta salinidade. A tilápia vermelha da Flórida, a tilápia de Moçambique e os híbridos O. mossambicus x O. niloticus toleram transferência direta da água doce para água com salinidade próxima de 18 a 20ppt. Considerações finais O Brasil conta com extensas áreas de estuários, onde a pesca arte- sanal já deixou de ser uma importante fonte de renda para as populações locais. A aqüicultura nestas áreas, além de restaurar o desenvolvimento sócio-econômico, contribuirá com a redução na pressão de captura exercida pela pesca. A falta de tradição e de domínio da tecnologia de cultivo de peixes marinhos tem limitado à exploração aqüícola destas áreas ao cultivo de moluscos. O cultivo de tilápias em tanques-rede pode ampliar o leque das atividades econômicas nos estuários e minimizar o risco de empreendimentos pioneiros voltados ao desenvolvimento do cultivo de peixes marinhos. Adicionalmente, há no país uma considerável infra-estrutura já instalada para o cultivo do camarão marinho no nordeste. O cultivo de tilápias nestes empreendimentos pode ser uma excelente alternativa de diversificação e minimização de riscos, principalmente com a atual situação de preços e com as sanções comerciais impostas ao Brasil e outros países no mercado internacional do camarão. Não custa men- cionar a necessidade de, antes de empenhar grandes investimentos na tilapicultura, avaliar com cautela as opções e tendências do mercado, bem como as condições de infra-estrutura e equipamentos disponíveis ao cultivo. Particularmente, a despesca da tilápia em tanques escavados é muito mais difícil do que a do camarão. Isso poderá demandar investi- mentos adicionais na adequação das unidades de cultivo e na aquisição de equipamentos que facilitem o processo de produção e colheita. Outro passo importante é a adequada seleção das espécies ou linhagens de tilápias candidatas ao cultivo em águas salgadas. Testes de tolerância e desempenho são obrigatórios sob as condições preva- lentes em cada localidade. Estes testes devem ser realizados ao longo de todo o ano para cobrir todas as variações ambientais possíveis. O desenvolvimento de linhagens específicas de tilápia pode demandar o uso de estratégias de hibridação e/ou a implementação de programas de seleção e melhoramento genético para a obtenção de populações com maior tolerância à salinidade e melhor desempenho. As linha- gens de O. niloticus avaliadas no Brasil não são capazes de tolerar condições de salinidade acima de 20ppt. As linhagens de tilápias vermelhas avaliadas no cultivo também apresentaram problemas de desempenho e baixa sobrevivência quando a salinidade superou os limites de 26ppt. Outras linhagens devem ser avaliadas e, se não forem adequadas, será necessária a importação de material genético específico para o cultivo em águas salgadas. As referências bibliográficas deste artigo foram omitidas e podem ser solicitadas ao autor através de e-mail, além de poderem ser acessadas na edição on-line no site www.panoramadaaquicultura.com.br 19Panorama da AQÜICULTURA, março/abril, 2005 O cultivo de peixes em águas estuarinas é um dos mais importantes desafios que a Bahia Pesca vem enfrentando nos últimos anos. O objetivo de desenvolver a piscicultura marinha nos municípios litorâneos do Estado é o de promover a melhoria das condições de vida de marisqueiras e pescadores artesanais, inserindo-os profissional- mente em um dos muitos elos que compõem a cadeia produtiva do pescado cultivado. Nessa empreitada, a Bahia Pesca conta com a participação de importantes parceiros, destacando-se o Sebrae e, a Secretaria de Combate à Pobreza e às Desigualdades Sociais(SECOMP), através do Projeto Boapesca, que se dedica a promover cursos de capacitação e a prover o mínimo de infra-estrutura necessária para que os envolvidos possam se integrar ao trabalho. Os primeiros resultados desse esforço já são vistos em Ta- peroá, um município da Costa do Dendê, localizado a 280 km ao sul de Salvador, onde módulos de tanques-rede já estão produzindo as primeiras safras de tilápia Chitralada. Lá, uma bem estruturada unidade de processamento, já em operação, garante a filetagem dos peixes. A conseqüência de tudo isso, é o entusiasmo diante das boas perspectivas que já podem ser vislumbradas pelos pescadores da Colônia de Pesca Z-53. O uso dos estuários para o cultivo de pescados está entre as melhores opções quando o que se deseja é manter marisqueiras e pescadores artesanais no ambiente em que sempre viveram. Segundo o líder local e presidente da Co- lônia de Pescadores Z-53, de Taperoá, Luiz Paixão Silva Oliveira (foto ao lado) não há outra saída senão o cultivo de pes A tilápia nos estuários do sul da Bahia Pescadores aos poucos se transformam em aqüicultores 20 Panorama da AQÜICULTURA, março/abril, 2005 21Panorama da AQÜICULTURA, março/abril, 2005 cados, para atenuar os problemas da escassez da pesca e da super exploração dos mangues pelas comunidades carentes. Com sua experiência, sabe que os recursos do mangue estão escasseando e que a sua capacidade de ser explorado está no final - “Quando a agricultura fica fraca, o pessoal vem pro mangue, só que o mangue já está com excesso de usuários e não agüenta tanto esforço”, diz Luiz Paixão, apontando com tristeza as inúmeras canoas que na maré vazante saem perigosamente superlotadas de gente, inclusive crianças, para catar mariscos e tudo o mais que puder ser catado, por entre as árvores dos mangues da região (foto abaixo). Não basta, portanto, que o mangue esteja de pé verdejante, é preciso também que sua exploração seja feita de forma sustentável para que continue exercendo a sua função. Taperoá O trabalho que a Bahia Pesca desenvolve atualmente em Taperoá, está principalmente voltado para a formação dos pescadores, para que possam entender os aspectos do manejo do cultivo dos peixes nas gaiolas e saber como lidar no dia-a-dia com os cuidados de alimentação, biometria, manutenção das estruturas de fixação, etc. A empresa atua implantando o que chama de “mó- dulos de capacitação”, compostos por 12 tanques-rede (2 x 2 x 1,8 m). Dois deles são utilizados como berçários e os 10 restantes para engorda. Uma vez instalado, cada módulo de capacitação passa a ser gerenciado por um grupo de cinco famílias, que se revezam diariamente nas tarefas de manutenção, alimentação e vigilância dos cultivos de tilápia Chitralada A relação da Bahia Pesca com a tilápia nilótica da li- nhagem Chitralada vem desde 1999, quando a empresa importou alevinos diretamente da Tailândia. Desde então, três estações da empresa seguem produzido alevinos revertidos, com destaque para a Estação de Piscicultura de Jequié, onde são produzidos os alevinos destinados aos cultivos nos estuários do sul do estado. Uma aclimatação, porém, é necessária, antes de serem colocadas nos berçários de Taperoá. Atualmente, os alevinos de 30 dias e peso médio ao redor de uma grama saem de Jequié (em salinidade 5 ‰ ) para a Fazenda de Camarão da Bahia Pesca, no município de Santo Amaro da Purificação, onde são aclimatados lentamente para a salinidade de 15 ‰, e só então são transportados para as gaiolas bercários. Nesta fase os alevinos de 1-2 gramas, já aclimatados, são colocados nos tanques-rede que usam inicialmente malha de 4 mm e abrigam, cada um, ao redor de 6.000 alevinos. Após algumas semanas, o saco da rede é substituído por outro de malha de 8 mm, até completar os 60 dias, quando os peixes atingem pesos entre 20 e 30 gramas. Na fase seguinte, os alevinos dos dois tanques berçários são distribuídos pelas 10 gaiolas destinadas à engorda. Cada uma, agora com malha de 17 mm, recebe 800 alevinos, que engordados por mais quatro meses serão abatidos com 700 gramas de peso médio. Tilápia nas Gaiolas A Bahia Pesca iniciou em 2001 as primeiras pesquisas com o objetivo de avaliar técnica e economicamente o cultivo de tilápias em tanques-rede nos estuários de água salgada. Os experimentos foram realizados em localidades ao sul da Bahia: Barra do Serinhaém e Canavieiras, ambos localizados na Baia de Camamu. Os estudos serviram também para conhecer o desempe- nho da linhagem Chitralada (nilótica) e de um híbrido de tilápia vermelha denominado comercialmente de Red Jamaica. A experiência revelou importantes aspectos do cultivo, mostrando que ambas as tilápias podem ter um bom desempenho, desde que alguns aspectos ligados à dinâmica das correntezas, sejam respeitados na hora da escolha definitiva do local onde serão fundeados os tanques-rede. Fato comprovado nos módulos instalados na localidade de Canavieiras, que por estarem em local com correntes mais fracas e águas menos salinas, apresentaram resultados bem superiores aos de Barra do Serinhaém, onde as correntes eram fortes e a salinidade bem maior. Possivelmente em decorrência do aumento do gasto energético, a conversão alimentar em Barra do Serinhaém, foi bem mais elevada. Além disso, o estresse fisiológico debilitou os peixes e reduziu a imu- nidade, o que favoreceu o aparecimento de doenças, elevando a mortalidade. Além desses aspectos, o que ficou claro ao término dos primeiros testes é que a tilápia Chitralada apresentou ótimos resultados, muito próximos daqueles que alcança quando é cul- tivado nos tanques-rede das barragens de Paulo Afonso (BA). Detalhes desse experimento realizado pela Bahia Pesca na Baia de Camamu podem ser consultados na Revista Panorama da Aqüicultura n. 72 de julho/agosto/2002. Infra-estrutura Atulamente, a maior parte das tarefas do cultivo já estão sendo realizadas pelos próprios pescadores, que já dominam a mon- tagem dos tanques-rede feitos de estruturas de alumínio, cuja Alevinos de Tilápia Chitralada já aclimatados à água salgada, prontos para o estuário 22 Panorama da AQÜICULTURA, março/abril, 2005 montagem absorve bastante a mão de obra feminina. Através do Projeto Boapesca, a colônia Z-53 recebeu seis cano- as motorizadas (foto acima) que facilitam o ir e vir até o local do cultivo, bem como permitem o transporte das estruturas de cultivo e ração. Os custos de produção das tilápias Chitraladas culti- vadas no estuário de Taperoá estão hoje ao redor de R$ 2,78. O mesmo peixe, cultivado nas águas doces do São Francisco está sendo produzido ao redor de R$ 2,40. É certo, porém, que os custos de produção no estuário podem baixar ainda mais com a otimização do manuseio, principalmente no que se refere aos cuidados na hora da alimentação, evitando o desperdício e respeitando o apetite dos peixes. Bem junto ao caís da Ponte Nova, ponto de atracação das embarcações, foi construída uma bem estruturada unidade de processamento (fotos abaixo). O estabeleci- mento não foi construído somente para processar as tilápias dos tanques-rede e, atualmente, recebe tilá- pias de vários municípios da região, bem como beneficia pescados oriun- dos da pescaria artesanal, 23Panorama da AQÜICULTURA, março/abril, 2005 Importações de tilápia pelos EUA Independentemente de ser um produto com boa aceitação e bastante competitivo com outras espécies, o recente aumento nas importações norte-americanas, que pratica- mente dobrou nos últimos três anos, pode ser também explicado pela proibição das importações do catfish proveniente do Vietnã. Os importadores tiveram que buscar uma alternativa para substituir esta espécie no mercado norte-americano, e a tilápia surgiu como a espécie disponível para tal substituição. A questão atual é como os produ- tores norte-americanos do catfish irão reagir a essa inundação do mercado pela tilápia proveniente de fora do país. Basta
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