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104 Panorama da Aquicultura

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1Panorama da AQÜICULTURA, novembro/dezembro, 2007
2 Panorama da AQÜICULTURA, novembro/dezembro, 2007
3Panorama da AQÜICULTURA, novembro/dezembro, 2007 3
Editorial
Jomar Carvalho Filho
Biólogo e Editor
T odo final de ano acaba sendo um momento de balanço, de retrospectivas e de projeção de novas metas. Ao olharmos como caminhou a aqüicultura brasileira no ano de 2007, veremos 
um saldo bastante positivo. Assistimos a importante retomada da carcinicultura, depois de sofrer o 
forte impacto das viroses e da política cambial; acompanhamos o sólido crescimento da tilapicultura, 
principalmente na Região Nordeste, levando atrás de si a indústria de alimentos, que outrora focava 
na região apenas o camarão marinho; vimos a vitalidade dos criadores de moluscos de Santa Catarina, 
que ao passarem por uma grande temporada de marés vermelhas e suas algas tóxicas, foram capazes 
de mostrar amadurecimento profissional ao interagirem com o consumidor, não deixando que a imagem 
da atividade ficasse abalada; do recôncavo baiano, vieram as boas notícias de que estamos cada vez 
mais próximos de conquistar a tecnologia da produção em escala de juvenis do bijupirá, permitindo 
assim, o verdadeiro nascimento da piscicultura marinha no Brasil. E, para fechar o ano aqüícola com 
chave de ouro, assistimos agora em dezembro a SEAP fazer, pela primeira vez, a licitação e a cessão 
das áreas dos parques aqüícolas do lago de Itaipu, o que fez com que 73 piscicultores passassem a ser 
os únicos produtores em águas da União 100% legalizados. 
Esses são alguns exemplos que ilustram a vitalidade desse setor, que ainda tem muito o que 
conquistar, uma vez que sofre com inúmeras dificuldades para avançar no licenciamento ambiental, 
no acesso ao crédito, no barateamento dos insumos e, principalmente, com a falta de união, que faz 
com que praticamente não haja nenhuma representatividade oficial da atividade. 
Merecem toda a atenção os avisos constantes das autoridades da SEAP, que reclamam que 
poderiam fazer muito mais pela aqüicultura se recebessem as demandas via entidades representativas 
bem estruturadas e atuantes. A verdade é que, infelizmente, as associações de produtores e outras 
entidades estão completamente dispersas e não dispõem de um canal que as una, e que possa reper-
cutir seus interesses. 
Portanto, espero que o ano de 2008 chegue despertando o desejo de união entre os profissionais 
da aqüicultura brasileira e que esses profissionais descubram no dia-a-dia que unidos podem muito mais. 
Por fim, desejo que o fruto dessa união resulte em abundância de alimentos e prosperidade para todos.
Aproveito esta última edição de 2007 para agradecer a toda equipe que faz essa revista; aos 
colaboradores, cujos conhecimentos técnicos vêm, através das nossas páginas, ajudando o setor aqüícola 
a crescer com qualidade; aos nossos parceiros da indústria de produtos e serviços - a maior parte deles 
companheiros de longa data, cujo patrocínio nos vem permitindo reportar o setor nesses últimos 18 
anos e, a você nosso leitor, pelo reconhecimento e carinho que tanto nos estimula. De nossa parte fica 
a promessa de continuar a trazer mais e melhores informações que possam ajudar no cotidiano de quem 
está na atividade, contribuindo assim para a profissionalização e solidez da aqüicultura brasileira.
À todos boa leitura e Feliz Ano Novo.
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Editor Chefe:
Biólogo Jomar Carvalho Filho
jomar@panoramadaaquicultura.com.br
Jornalista Responsável:
Solange Fonseca - MT23.828
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Carlos Augusto Gomes Leal, Daniela Tupy 
de Godoy, Eric Arthur Bastos Routledge, 
Fernando Kubitza, Gláucia Frasnelli Mian, 
Henrique César Pereira Figueiredo, Itamar 
de Paiva Rocha, Neuza S. Takahashi, Ricardo 
Y. Tsukamoto
Os artigos assinados são de responsabilidade 
dos autores. 
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exclusivamente aos cultivos de 
organismos aquáticos
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40, 41, 44, 45, 59, 61, 62, 63, 65, 76, 77, 78, 79, 80, 81, 
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Panorama da AQÜICULTURA
Edição 104 – novembro/dezembro 2007
Tambaqui, o rei de Rondônia
Mesmo quem nunca provou um tambaqui já ouviu dizer 
que ele é uma unanimidade gastronômica. Os estoques 
naturais desse peixe, porém, não têm mais condições 
de abastecer a demanda, hoje largamente suprida pela 
aqüicultura. Cultivado em quase todo o país, é na Região 
Norte que se destaca a liderança da produção de tambaquis 
e é, especialmente em Rondônia, que esse peixe tem papel 
de destaque no cenário atual da aqüicultura do Estado.
Leia na página 56, sobre como o tambaqui conquistou o status de rei na região e 
o quanto o cultivo dessa espécie ainda tem por crescer.
Editorial
Notícias & Negócios
O mau sabor do pescado: conjecturas e atualidades sobre off-flavor
Trairão: larvicultura e alevinagem
Temos pesquisadores para o desenvolvimento da aqüicultura nacional?
Panorama da carcinicultura brasileira em 2007
Lançamentos Editoriais
Mais profissionalismo no transporte de peixes vivos
Estreptococose em tilápia do Nilo – parte 2
Septicemia hemorrágica viral está alarmando a América do Norte 
Tambaqui o rei de Rondônia
Entrevista Felipe Matias
Cultimar ganha prêmio
Espírito Santo e o futuro da maricultura
Oldepesca integra centros aqüícolas ibero-americanos
Itamar Rocha é o novo integrante da Fiesp
Rodrigo Roubach assume LACC-WAS
Workshop internacional sobre tilápias e outros ciclideos
1º Seminário Brasil-Reino Unido de aqüicultura sustentável
Berbigão poderá ser reproduzido em cativeiro
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Notícias & Negócios
ENBRAPOA - Entre os dias 17 e 20 de novem-
bro de 2008 a linda cidade de Búzios, na Re-
gião dos Lagos, no Estado do Rio de Janeiro, 
vai receber o X ENBRAPOA (Encontro Brasileiro 
de Patologistas de Organismos Aquáticos). O 
evento, que é realizado a cada dois anos pela 
ABRAPOA (Associação Brasileira de Organismos 
Aquáticos), tradicionalmente congrega os pes-
quisadores da área, quando são apresentados e 
discutidos os avanços e a situação atual da sa-
nidade da aqüicultura brasileira. A ABRAPOA, 
fundada em 1989, possui atualmente cerca de 
350 associados espalhados por todos os esta-
dos do Brasil e em vários países da América do 
Sul, Europa e Ásia. Mais informações podem 
ser obtidas pelo tel: (44) 3261-4642, ou pelo 
e-mail secretaria@abrapoa.org.br a/c de Maria 
de los Angeles P. Lizama.
PAC - No dia 20 de novembrofoi lançado 
pelo Presidente Lula e Sergio Machado Rezen-
de, ministro de Ciência e Tecnologia (MCT), 
o "Plano de Ação 2007-2010: Ciência, Tec-
nologia e Inovação para o Desenvolvimento 
Nacional" que integra o conjunto de ações do 
Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). 
A versão completa pode ser acessada em 
http://www.mct.gov.br/index.php/content/
view/66226.html. A partir de uma articula-
ção entre a SEAP/PR e o MCT, a aqüicultura 
foi contemplada junto com a área pesqueira 
com o programa “Pesquisa, Desenvolvimento 
e Inovação em Aqüicultura e Pesca” que pre-
vê a aplicação de R$ 33 milhões até 2010, 
destinados a projetos e editais de apoio ao 
desenvolvimento da aqüicultura continental e 
marinha. Os recursos deverão ser viabilizados 
pelo MCT e suas agências - CNPq e FINEP, à 
SEAP/PR e outros parceiros.
PRESIDENTE DA FAEP - Os engenheiros de 
pesca presentes ao XV Congresso Brasileiro de 
Engenharia de Pesca (CONBEP) realizado em 
outubro último em Manaus e promovido pela 
Federação dos Engenheiros de Pesca do Brasil 
(FAEP-BR) e pela Associação dos Engenheiros 
de Pesca do Amazonas, elegeram mais uma vez 
Augusto José Nogueira para a presidência da 
FAEP-BR, em substituição a Leonardo Teixeira 
de Sales. Os contatos com a FAEP-BR podem 
ser feitos através do e-mail: faep-br@bol.com.
br ou do telefone (81) 3227-7511.
BRASIL-CUBA - Cerca de 800 alevinos de ti-
lápia da linhagem GIFT (Genetically Improved 
Farmed Tilapia, ou Tilápia de Cultivo Genetica-
mente Melhorada) desenvolvidos no Brasil fo-
ram doados pelo governo brasileiro ao governo 
cubano. O objetivo da doação foi o de renovar 
o plantel de reprodutores, melhorando as cria-
ções cubanas através da introdução de peixes 
com maior qualidade genética. A criação de ti-
lápia em Cuba é prejudicada pelo alto grau de 
consangüinidade, uma vez que a importação de 
alevinos é dificultada pelo embargo comercial 
imposto ao país. Os alevinos brasileiros foram 
produzidos pelo Centro de Ciências Agrárias da 
Universidade Estadual de Maringá (UEM) a par-
tir de um convênio com a Secretaria Especial de 
Aqüicultura e Pesca (SEAP), que destinou à Uni-
versidade recursos e material genético para o 
desenvolvimento de projetos de pesquisa sobre 
melhoramento genético da tilápia. O projeto tem 
participação também do Instituto de Tecnolo-
gia Agropecuária de Maringá. Os alevinos foram 
destinados à Estação de Acuicultura de Manpos-
tón, que espera formar milhares de reprodutores 
a partir das famílias de tilápias melhoradas. O 
Brasil também ganha com a cooperação, uma 
vez que poderá reforçar seus bancos genéticos 
de camarão a partir de bancos genéticos livres 
de enfermidades de que Cuba dispõe. 
AQUACIÊNCIA EM MARINGÁ - A AQUABIO - 
Sociedade Brasileira de Aqüicultura e Biologia 
Aquática estará promovendo o AquaCiência 
2008 na cidade de Maringá, Paraná, no período 
de 27 a 30 de Outubro de 2008. A programa-
ção inicial inclui a realização de, pelo menos, 
10 mini-cursos, 12 sessões científicas e sete 
palestras de convidados brasileiros e estran-
geiros. Também estão programadas algumas 
visitas técnicas a projetos de aqüicultura da 
região. A estimativa da comissão organizado-
ra, coordenada pelo Prof. Ricardo Ribeiro da 
Universidade Estadual de Maringá (UEM), é de 
que mais de 1.200 pessoas comparecerão ao 
Centro de Convenções Araucária no Noroeste 
Paranaense. Nos eventos anteriores, realizados 
na cidade de Vitória (ES) em 2004, e em Bento 
Gonçalves, RS, em 2006, participaram cerca de 
1000 e 700 congressistas, respectivamente, o 
que garantiu o sucesso das primeiras edições 
do principal evento científico da aqüicultura 
brasileira. Programe sua agenda!
CRESCER NO VAREJO - A Netuno Alimentos 
investirá R$ 1,2 milhão para ampliar sua 
marca Empório Netuno, sua rede de varejo 
próprio que leva o conceito de loja gour-
met. Nas lojas, estabelecidas em shoppings 
do Nordeste, são comercializados, além dos 
tradicionais pescados, especiarias, massas, 
molhos e diversos rótulos de vinho. Algumas 
lojas dispõem de espaço para degustação e 
divulgação de receitas de chefs renomados. 
Em 2008, serão inauguradas três novas uni-
dades, em Pernambuco, São Paulo e Bahia.
MARISCO EM PALHOÇA - A 3º edição da Fes-
ta Nacional do Marisco e da Cultura Açoriana 
(Marifest), realizada em novembro na loca-
lidade pesqueira de Enseada do Brito - SC, 
teve como objetivo alçar a cidade ao posto 
de capital nacional da maricultura. Nos qua-
tro dias de evento, a cidade abrigou a cultura 
açoriana resgatando a importância do cultivo 
7Panorama da AQÜICULTURA, novembro/dezembro, 2007
Notícias & Negócios
do marisco para a economia da região. Palho-
ça responde atualmente por 50% da produção 
nacional de mariscos. São 183 maricultores 
que produzem por ano seis mil toneladas de 
marisco (mexilhão) e dois milhões de ostras. 
As fazendas de maricultura vão da praia da 
Barra do Aririú até a da Ponta do Papagaio.
MUITA TRISTEZA - Faleceu o Professor Elpídio 
Beltrame, da Universidade Federal de Santa Ca-
tarina - UFSC. Depois de desaparecido por al-
guns dias, seu corpo foi encontrado no dia 4 
de novembro no interior do carro que dirigia, 
após ter caído num precipício. Elpídio fez uma 
brilhante carreira acadêmica, e foi um dos res-
ponsáveis pelo planejamento estratégico da 
carcinicultura catarinense, estando à frente de 
todas as ações para mitigar os efeitos da man-
cha branca no Estado. A aqüicultura perde, as-
sim, um de seus melhores técnicos e, os mais 
próximos, um grande amigo. 
PÃO COM PEIXE - Uma pesquisa desenvolvida 
na Faculdade de Engenharia de Alimentos da 
Fundação Universidade Federal do Rio Grande 
(FURG-RS) testou a fabricação de pães enrique-
cidos com proteína de pescado, a partir de filé 
de cabrinha (Prionotus punctatus). O objetivo 
do estudo publicado na revista Ciência e Tecno-
logia de Alimentos foi o de produzir um produto 
diferenciado, com a intenção de melhorar seu 
valor nutricional. De acordo com a doutoranda 
Graciela Salete Centenaro, a decisão de aprovei-
tar essa biomassa, rica em nutrientes, se deu 
porque na cidade de Rio Grande existem várias 
indústrias pesqueiras que, devido ao baixo va-
lor comercial, não aproveitam parte do pescado 
capturado. Foram desenvolvidas formulações de 
pão com 30%, 40% e 50% de polpa lavada úmi-
da (PU) e 3% e 5% de polpa lavada seca (PS) 
à base de farinha. Na avaliação do produto os 
pães tiveram aceitação superior a 74%, de acor-
do com testes diários feitos com consumidores 
voluntários com idade entre 15 e 50 anos, de 
ambos os sexos, que não conheciam a composi-
ção das amostras. O pão com 3% de PS apresen-
tou melhor qualidade, obteve as maiores notas e 
melhor volume específico em relação aos demais, 
uma vez que a polpa seca se incorporou melhor 
aos ingredientes da massa. Para ler o artigo “En-
riquecimento de pão com proteínas de pesca-
do”, de Graciela Salete Centenaro clique o link: 
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_
arttext&pid=S0101-20612007000300036-
&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt
ALIMENTAÇÃO ESCOLAR - O Diretor de Ações 
Educacionais do FNDE (Fundo Nacional de De-
senvolvimento da Educação), Rafael Tourino, e 
o Ministro da SEAP, Altemir Gregolin, assinaram 
em 18 de dezembro no Palácio do Planalto, um 
acordo de cooperação técnica que prevê uma 
integração de ações entre as instituições para 
capacitação e melhoria das condições de apro-
veitamento do peixe na alimentação escolar 
dos alunos da educação básica. Hoje, aproxima-
damente 36 milhões de alunos são atendidos 
pelo Programa Nacional de Alimentação Escolar 
e, a partir de 2008, esse número subirá para 
43 milhões com a inclusão do ensino médio. 
A idéia é incluir uma vez por semana, o peixe 
no cardápio dos alunos, o que representará um 
grande impulso para o setores aqüícola e pes-
queiro. O FNDE e a SEAP irão atuar basicamente 
na capacitação de merendeiras para que elas 
saibam aproveitar melhor o peixe nos cardá-
pios, de modo que os alunos aproveitem melhor 
e gostem da refeição,e também na capacitação 
dos pescadores e aqüicultores, afim de que haja 
um incentivo para o aproveitamento da econo-
mia local dentro do programa de alimentação 
escolar, já que há exigências técnicas e também 
sanitárias. Serão também treinados para que 
possam participar adequadamente das concor-
rências de aquisição de alimentos estipulados 
pelo Fundo. O programa de capacitação começa 
em março, inicialmente em Pernambuco, e será 
ampliado para os demais estados no Nordeste e 
outras regiões do país, totalizando 254 muni-
cípios de 14 estados. Mais informações sobre o 
acordo podem ser obtidas com Albaneide Maria 
Peixinho Campos, Coordenadora-geral de Pro-
gramas de Alimentação Escolar (CGPAE) email: 
albaneide.peixinho@fnde.gov.br e telefones: 
(61) 3966-4976/ 3966-4980. 
AQÜICULTORES INDÍGENAS - Índios da Al-
deia Avá-guarani, de Santa Rosa do Ocoy, 
estão entre os piscicultores que receberam a 
cessão das águas atendendo ao edital lançado 
pela SEAP para os interessados em cultivar peixes 
8 Panorama da AQÜICULTURA, novembro/dezembro, 2007
no lago da usina da Itaipu. A criação de pacu, 
iniciada com o objetivo de consumo, começou 
com dez tanques-redes e hoje são 40 unidades. 
A produção, que atingiu 3 toneladas no ano 
passado, foi distribuída entre as 136 famílias. A 
meta, porém, é ampliar a atividade para que, nos 
próximos anos, a piscicultura possa contribuir 
para a alimentação de 618 moradores da aldeia. 
Em cada tanque-rede são colocados alevinos de 
pacu com 100 gramas, que são coletados com 
peso médio de 1,5 kg. Os indígenas aproveitam 
o peixe, ao máximo, desde a gordura à cabeça. 
Até o final deste ano, a aldeia deverá aproveitar 
também o couro, na produção de artesanato.
BIOCOMBUSTÍVEL DE ALGAS - A gigante do 
petróleo anglo-holandesa Royal Dutch Shell vai 
construir, em parceria com a empresa americana 
HR Biopetroleum, uma usina-piloto no Havaí, 
que cultivará microalgas para a produção expe-
rimental de biocombustível. A Agência France 
Press, porém, não mencionou o nome da alga. A 
Shell e a HR Biopetroleum, formaram, para isso, 
uma co-empresa batizada Cellana, com maioria 
acionária para a companhia de petróleo. Assim 
que forem recolhidas, as algas serão tratadas 
para a extração de óleo, que será em seguida 
transformado em biocombustível. Este projeto 
inclui um programa de pesquisa com as univer-
sidades de Hawai, Mississippi e Dalhousie, da 
província canadense de Nova Escócia.
DIVERGÊNCIAS - Ao criticar algumas exigên-
cias do Ministério do Meio Ambiente (MMA) 
que afetam projetos de desenvolvimento do 
país, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva 
lembrou as divergência entre a Secretaria Es-
pecial de Aqüicultura e Pesca (Seap), ligada à 
Presidência da República, e o MMA, no que se 
refere ao uso das represas para a criação de 
peixes. "Eu acho impensável você ter um lago 
imenso guardando água para produzir energia 
e para ajudar a evaporação, e você tem gente 
próximo, precisando trabalhar e comer, e não 
permitir que crie peixe", disse o presidente, em 
visita ao Rio de Janeiro para inaugurar a cen-
tral do Programa Nacional de Rastreamento de 
Embarcações Pesqueiras por Satélite (Preps). 
"Vou dar um exemplo, em Itaipu, não pode 
criar tilápia. Alguém precisa me explicar o por 
quê. Vou levar as pessoas que proíbem para 
conhecer as tilápias que tenho no Alvorada e 
no Torto", completou Lula.
SOBROU PARA A CARCINICULTURA - Quatro 
meses depois de um dos maiores desastres 
ambientais ocorridos no Rio Grande do Norte, 
com a mortandade de 40 toneladas de peixe 
no rio Potengi, o Ministério Público Estadual 
(MPE) entrou com ação civil e criminal contra 
o Instituto de Desenvolvimento Econômico e 
Meio Ambiente - Idema e a carcinicultura Ve-
ríssimo & Filhos Ltda., acusados pelo desastre. 
A promotora do Meio Ambiente, Gilka da Mata, 
entendeu que é uma responsabilidade mútua, 
tanto da carcinicultura Veríssimo, que não 
cumpriu o projeto apresentado, como do Idema 
que licenciou e não fez a fiscalização necessá-
ria para o cumprimento das normas estabeleci-
das. A carcinicultura sustenta a sua inocência 
no episódio da mortandade dos peixes. “Com 
maior respeito à dedicação da promotora Gilka 
da Mata ao assunto do meio ambiente, quero 
afirmar que ela errou. A Veríssimo e Filhos não 
é responsável pelo desastre no rio Potengi. As 
provas estão sendo coletadas e o verdadeiro 
culpado surgirá em breve”, disse o advogado 
da empresa, Esequias Pegado Cortez Neto, ao 
jornal Tribuna do Norte. 
VALE DO RIBEIRA - Com a ajuda de institui-
ções como a APTA Regional Vale do Ribeira, 
CATI, SAE-SEBRAE e MDA-Pronaf, um grupo de 
aqüicultores vem se reunindo periodicamente 
para discussão da piscicultura no Vale do Ri-
beira. Estas reuniões culminaram na formação 
de uma nova associação, que pretende auxi-
liar os piscicultores na compra conjunta de 
alevinos e ração e, na comercialização do pei-
xe depois de pronto. A Associação de Aqüicul-
tores do Vale do Ribeira tem como presidente 
o piscicultor Antônio de Pádua Nunes.
EMPREENDEDORISMO - Dois alunos da Uni-
sul, Christian Jung e Guilherme Tafner, ambos 
do curso de Engenharia de Produção, em Pa-
lhoça, desenvolveram um projeto para o be-
neficiamento industrial das cascas de ostras 
e mexilhões. O trabalho orientado pelo prof. 
José Marcos Tesch, ganhou o Prêmio Santan-
der de Empreendedorismo e de Ciência e Ino-
vação, na Categoria Indústria, realizado pelo 
Santander Universidades e promovido e desen-
volvido pelo Universia Brasil, com o objetivo 
de estimular a pesquisa científica. Em 2006 
foram produzidas cerca de 14.000 toneladas 
de mexilhões e ostras em Santa Catarina, a 
maior parte comercializada fora da concha. O 
projeto visa solucionar o problema dos resídu-
os gerados pelo processo de desconchamento 
dos moluscos. A implantação de uma indústria 
de beneficiamento de cascas de moluscos em 
Palhoça, SC, vai possibilitar o destino corre-
to deste resíduo mineral, além de movimentar 
toda uma cadeia produtiva local com a criação 
de novos empregos na região. O processo de 
beneficiamento será feito em escala industrial, 
obedecendo todas as normas de controle de 
qualidade e leis ambientais, e vai gerar um pó 
com mais de 80% de carbonato de cálcio para 
ser utilizado tanto pelas indústrias farmacêu-
ticas como as do agronegócio. Outros segmen-
tos também estão na mira dos envolvidos, tais 
como a fabricação de filtros de decantação 
para tratamento de efluentes industriais. Mais 
informações pelo e-mail: christian@midiasite.
com.br ou (48) 8403-8188.
Notícias & Negócios
9Panorama da AQÜICULTURA, novembro/dezembro, 2007
10 Panorama da AQÜICULTURA, novembro/dezembro, 2007
“Gosto de barro” é natural, mas vem se intensificando 
As pessoas acostumadas a comer peixe de mar frequen-
temente estranham o sabor do pescado de água doce; já a po-
pulação ribeirinha dos rios preza este sabor tradicional de seu 
pescado. Vem da sensação popularmente conhecida como “gosto 
de barro”, cuja intensidade pode variar de não-detectável a muito 
forte. E justamente o peixe nativo mais pescado, por representar 
cerca de 50 % da biomassa das bacias de água doce da América 
do Sul (Alvim & Peret, 2004) - o curimbatá ou curimatã (gênero 
Prochilodus) - apresenta este sabor forte. Mas tal sabor não é 
originário do peixe. Há sete décadas, o naturalista Rodolpho 
von Ihering, saudado como o pai da piscicultura brasileira, 
já alertava que “...devido a consistir sua alimentação em algas 
contidas no lodo, a carne destes peixes facilmente toma mal 
sabor, quando criados na vasa. Mas os corumbatás dos gran-
des rios são bem saborosos...” (sic)(von Ihering, 1968; edição 
preliminar em 1913, definitiva em 1940). O grande naturalista 
não só apontou a origem do “mau sabor”, mas deu um passo 
adiante, ao reconhecer empiricamente as condições ambientais 
que o causavam: várzeas e lagoas (água rasa parada, eutrofizada) 
podem resultar no mau sabor, enquanto os grandes rios (água 
corrente, não-eutrofizada) nãoo causavam. As décadas seguintes 
mostraram quão correto estava aquele raciocínio, inclusive por 
uma irônica “prova-dos-nove”. Os rios caudalosos em que von 
Ihering trabalhava no Sudeste (Rio Tietê) e no Nordeste (Rio 
São Francisco), então repletos de peixes sem mau sabor, foram 
transformados na atualidade em grandes lagos eutrofizados - o 
que trouxe o mau sabor aos peixes. E, coincidentemente, estes 
dois rios acabam de se tornar grandes pólos de piscicultura em 
tanque-rede, mas que podem em breve ser inviabilizados pelo 
agravamento do mau sabor.
O Mau sabor do Pescado
Por:
Ricardo Y. Tsukamoto, Ph.D.
Bioconsult - Puriaqua, 
e-mail: ricardo@bioconsult.com.br
Neuza S. Takahashi, Ph.D.
Instituto de Pesca, APTA-SAA, 
e-mail: neuza@pesca.sp.gov.br
“Mau sabor” é uma designação brasileira que corresponde na língua inglesa a off-flavor - termo usado 
internacionalmente para designar qualquer sabor anormal desagradável em alimentos e líquidos. 
O pescado pode ser afetado por vários tipos de off-flavor, conforme abordado por Lima (2003) 
em artigo nesta revista (Ed. 77). Destes, o tipo de off-flavor responsável pela grande maioria dos 
casos em pescado e em água potável no mundo (revisões em Juttner & Watson, 2007; Krishnani 
et al., 2008) é o que conhecemos por “gosto de barro”. É causado pela presença de apenas duas 
substâncias químicas naturais – geosmina (GEO) e 2-metil-isoborneol (MIB), que podem ocorrer 
juntas ou isoladas. O odor destas substâncias lembra o cheiro de solo molhado ou de ambiente 
mofado. Apesar do odor de cada uma diferir quando estão isoladas quimicamente, em situação de 
campo são indistinguíveis ao ser humano. Os vários aspectos do off-flavor em peixes cultivados 
foram apresentados por Kubitza (2004) nesta revista (ed.84), de modo que abordaremos aqui 
algumas conjecturas e atualidades que julgamos interessantes sobre o assunto. 
Off-flavor: um grande problema no mundo, 
subestimado no Brasil
Nos EUA, o off-flavor é considerado o maior problema no 
cultivo do bagre-de-canal ou catfish, Ictalurus punctatus, a principal 
cadeia produtiva da aqüicultura de água doce na América do Norte. 
Na passagem do verão para o outono, época da colheita (despesca), 
entre 50 e 70% dos bagres nos viveiros têm mau sabor, sendo rejeita-
dos pelos processadores, o que causa grandes transtornos de manejo 
aos criadores (Kilian, s.d.). As decorrências do off-flavor resultam em 
custos adicionais aos produtores de catfish de cerca de 60 milhões de 
dólares por ano (Schrader & Dennis, 2005), além de comprometer a 
imagem do produto - fatores que no atual mundo globalizado condi-
cionam a viabilidade ou o encerramento do negócio.
O Brasil apresenta características ambientais favoráveis à 
intensificação do off-flavor nos produtos da aqüicultura e pesca em 
água doce e salobra, de modo que o exemplo da dificuldade nos EUA 
deve nos servir de alerta para buscar alternativas e soluções antes que 
a situação comece a tornar inviáveis alguns dos empreendimentos 
em locais estratégicos.
O off-flavor por GEO e MIB não apresenta risco à saúde do 
consumidor, de modo que o problema tem natureza estética - pelo 
qual o mau sabor desestimula o consumo do produto. Tal ausência 
de risco à saúde pode, aparentemente, levar alguns criadores ou 
processadores a menosprezar a conseqüência de vender produto com 
off-flavor. Um consumidor que saboreia um pescado sem off-flavor 
o considera “normal” e não sente necessidade de sair propalando 
isso. Porém, ao comer produto com off-flavor, sente-se ofendido 
como consumidor, e passa a divulgar amplamente a sua experiência 
negativa com “aquele peixe que tem mau sabor”. Por isso, a maior 
conseqüência do off-flavor é o marketing negativo, que leva à desqua-
lificação do produto, destruindo seu mercado e preço. Infelizmente, 
Conjecturas e atualidades sobre off-flavor
11Panorama da AQÜICULTURA, novembro/dezembro, 2007
Off-fl
avor
porém, uma parcela dos peixes provenientes da aqüicultura no Brasil, 
tanto nativos (peixes redondos como pacú, tambacú e tambaqui) 
como exóticos (tilápia nilótica) vêm sendo comercializados com 
off-flavor muito perceptível - o que só aumenta nas pessoas leigas, a 
pecha de que peixe de água doce tem sabor inferior ao marinho. Se 
consideramos o potencial consumidor do eixo das mega-capitais São 
Paulo-Rio como exemplo, com suas populações respectivas de 18 
e 11 milhões de pessoas, o quanto tal pecha ou marketing negativo 
vem representando em mercado que deixou de se desenvolver? 
Off-flavor afeta também invertebrados cultivados
 Os artigos sobre off-flavor geralmente tratam de sua ocor-
rência em peixes. Porém, a GEO e MIB podem impregnar também 
os invertebrados, como moluscos e crustáceos. Neste caso, a sensa-
ção de off-flavor se torna especialmente nítida para o consumidor, 
pois os invertebrados cultivados são predominantemente marinhos 
ou estuarinos, provenientes de ambientes em que GEO e MIB não 
existiam.
 O mercado do camarão marinho é especialmente rigoroso 
neste aspecto, uma vez que o produto tradicional da pesca extrativa 
era originalmente destituído de off-flavor. No cultivo em viveiros sob 
condições tropicais, com água eutrofizada pelos nutrientes originários 
da ração, a floração de cianobactérias produtoras de off-flavor pode 
ocorrer em dois casos opostos (Lucien-Brun & Vidal, 2006). Quando 
o aporte de água doce é maior que a evaporação, a salinidade diminui 
para patamares compatíveis com a proliferação de cianobactérias. 
Este efeito geralmente ocorre durante a estação chuvosa, nas 
fazendas que captam sua água de estuários dos rios. O inverso 
é quando a evaporação é maior que o aporte de água doce para 
o viveiro, resultando em aumento da salinidade. Este caso de 
off-flavor foi observado em área desértica no Oriente Médio 
(Lucien-Brun & Vidal, 2006). Apesar da salinidade marinha 
ser inibitória à floração de cianobactérias comuns, a salinidade 
elevada pode favorecer uma cianobactéria do tipo extremófilo 
(que se propaga sob condições ambientais extremas). 
 A floração das cianobactérias produtoras de off-flavor 
pode ocorrer no viveiro tanto por espécies que se desenvolvem 
na coluna d´água (planctônicas), bem como nas que formam 
um tapete ou biofilme sobre o fundo do viveiro (conhecido 
como lab-lab na Ásia). 
 No Brasil, o off-flavor ocorre com freqüência nos 
cultivos de camarão marinho (L. vannamei) que utilizam água 
oligohalina, quase doce, dos rios do Nordeste. As condições 
são ali bastante propícias para a floração de cianobactérias: 
temperatura elevada, água com pH alcalino, nutrientes abun-
dantes (principalmente fósforo). O off-flavor nos camarões de 
cultivo oligohalino criou uma imagem de produto de qualidade 
inferior no mercado, que atingiu duramente os produtores. 
Mas não sabemos da existência de estudos que caracterizem 
esta ocorrência tão importante, e que poderiam auxiliar no 
encaminhamento de soluções para diminuir o problema. 
Paralelamente, como as cianobactérias podem liberar outras 
substâncias na água do off-flavor, alguns técnicos acreditam 
12 Panorama da AQÜICULTURA, novembro/dezembro, 2007
Of
f-
fl
av
or
que a floração de cianobactérias nestes viveiros manejados 
sob condições intensivas possa criar um estresse adicional que 
diminua a resistência dos camarões e facilite a manifestação 
clínica do vírus da mionecrose infecciosa.
As fazendas de camarão brasileiras que operam 
em áreas de alta evaporação e pouca chuva, como no Rio 
Grande do Norte, apresentam salinidades elevadas (45 a 
60 por mil). Porém, em contraste com o Oriente Médio, 
não há comunicação de que isto tenha causado qualquer 
off-flavor por cianobactérias. 
Numerosas espécies de moluscos bivalves (mariscos) 
habitam os sedimentos de áreas estuarinas, que frequentemente se 
tornam eutrofizadas pela ocupação urbana e portos na região. Em 
áreas de baixa salinidade, o off-flavor de cianobactérias pode vir a 
afetar algumas espécies. Nos EUA, por exemplo, o marisco (clam) 
ou “vongole”da Luisiana, Rangia cuneata, habita áreas estuarinas 
com salinidade entre 5 e 15 por mil e apresenta off-flavor por GEO 
em áreas eutrofizadas (Hsieh et al., 1988). Foram feitas tentativas 
de depuração destes moluscos, mas em geral, as áreas afetadas estão 
interditadas para extração do molusco devido à poluição.
Monitoramento do off-flavor no pescado
A floração de cianobactérias pode ocorrer no prazo de alguns 
dias, e a contaminação dos peixes por GEO e MIB no viveiro pode 
ocorrer em poucas horas. Isto torna fundamental contar com algum 
método para avaliar rapidamente a intensidade do off-flavor na água e 
no peixe. Porém, há uma dificuldade analítica. Por serem substâncias 
terpenóides, GEO e MIB pertencem ao mesmo grupo das matérias-
primas usadas nos perfumes mais luxuosos do mundo - os terpenóides 
constituintes dos óleos essenciais de rosa, violeta, e outros. GEO e 
MIB têm, porém, uma eficiência como substância odorífera mais de 
mil vezes superior à dos seus pares no ramo perfumista. Por exemplo, 
a GEO pode ser detectada por analistas treinados na carne do catfish 
em concentração de 0,1 a 0,3 ppb (partes por bilhão = micrograma/
kg = ug/kg). O Ministério da Agricultura norte-americano (USDA) 
recomenda que o catfish seja rejeitado para consumo quando ultra-
passar a concentração de: MIB = 0,8 ppb ou GEO = 8,0 ppb (King 
& Dew, 2003), sendo que sob cultivo o catfish pode conter até 200 
ppb de GEO (Lovell et al., 1986).
A concentração extremamente baixa das substâncias respon-
sáveis pelo off-flavor torna a sua análise difícil. Por isso, os métodos 
usuais de quantificação química são muito sofisticados para uso 
rotineiro em situação de campo no Brasil.
O método mais direto é a retirada de uma amostra do terço 
posterior do peixe, cozinhar por alguns minutos e provar. Porém, 
como as pessoas têm sensibilidade (e aceitação) distinta para os com-
ponentes do off-flavor, tal procedimento requer pessoal treinado.
Um método colorimétrico simples, passível de uso num 
laboratório improvisado na fazenda, foi desenvolvido por Miller 
et al. (1999). Consiste em filtrar a água em um pequeno cartucho 
comercial contendo uma coluna de material que retém as substâncias 
hidrofóbicas presentes na amostra de água. Após filtrar pelo menos 
um litro de água, a coluna do cartucho é enxaguada com tolueno 
(possivelmente outro solvente possa ser usado) para liberar as subs-
tâncias neles retidas. A quantificação dos compostos de off-flavor é 
feita por uma reação colorimétrica direta utilizando baunilha como 
reagente. A intensidade da cor vermelha formada indica a concen-
tração do off-flavor. 
Uma estratégia prática para detectar GEO e MIB foi de-
senvolvida para monitorar off-flavor em catfish nos EUA, através 
de cães treinados (Shelby et al., 2004). A raça não é importante, já 
que todos os cães têm bom olfato, mas é essencial que o animal 
tenha disposição para se motivar pela recompensa a ser recebida. 
Por isso, os cães são selecionados a partir de um abrigo de cães 
local. Porcos também poderiam ser treinados para tal atividade, já 
que também têm bom olfato, mas isso só não foi feito por razões 
sociais (Elstein, 2004). 
Recirculação na aqüicultura pode ocasionar off-flavor
A recirculação da água de cultivo é atrativa para os produ-
tores, tanto sob o aspecto de economia no uso de água (recurso 
cada vez mais escasso), bem como para tornar o empreendimento 
o mais ambientalmente sustentável possível. Porém, uma dificul-
dade inerente à aplicação em larga escala da recirculação é a sua 
dependência de tratar a água por diversas etapas em seqüência, 
cada etapa para depurar um parâmetro específico. Normalmente, 
o tratamento de água para recirculação na aqüicultura não contém 
etapa para remoção do nutriente fósforo. Com isso, o fósforo 
circulante no sistema estará em concentração suficiente alta para 
estimular a proliferação de algas e cianobactérias. Caso prolifere 
uma cianobactéria produtora de toxina ou off-flavor, os peixes do 
sistema estarão sujeitos a tal contaminação.
Num sistema de recirculação parcial da água, utilizado para 
cultivo comercial de black bass (Micropterus salmoides) e de estur-
jão branco (Acipenser transmontanus) na Califórnia, EUA, GEO e 
MIB gerados no próprio sistema vem contaminando os filés destes 
peixes com off-flavor (Schrader et al., 2005). Tal estudo verificou, 
que a sensibilidade humana para detectar MIB foi muito maior que 
a considerada padrão pela literatura. Indica que uma concentração 
menor da substância odorífera ocasionaria uma sensação maior de 
mau sabor. Tal constatação é compatível com o alerta de Juttner & 
Watson (2007), de que estas substâncias de off-flavor estão presen-
tes na natureza na forma de isômeros dez vezes mais potentes que 
o produto sintético usado nas pesquisas. Portanto, a percepção de 
off-flavor pelo ser humano pode ser ainda mais sensível do que o 
considerado na atualidade.
Trutas arco-íris (Oncorhynchus mykiss) criadas em fazendas 
com recirculação de água na França apresentaram problemas de off-
flavor intenso. Uma investigação no sistema revelou que o problema 
era provocado por GEO liberado pela cianobactéria planctônica 
Microcoleus (Robin, 2006). Portanto, os sistemas de recirculação 
de água para aqüicultura comercial precisarão, a partir de agora, ser 
formatados com uma seqüência de tratamento que evite a formação 
do off-flavor - um problema inesperado nesta tecnologia. 
Remoção de off-flavor da água por substâncias hidrofóbicas
Até recentemente, não havia forma prática para remover 
as substâncias (GEO e MIB) de off-flavor da água. Porém, uma 
estratégia engenhosa, ao mesmo tempo que surpreendentemente 
simples, foi descrita por Kelly et al. (2006). Consiste em colocar 
qualquer substância hidrofóbica sólida ou líquida, no ambiente que 
13Panorama da AQÜICULTURA, novembro/dezembro, 2007
Off-fl
avor
contém estas substâncias, as quais serão rapidamente absorvidas 
pelo material. Isto corresponde ao que ocorre naturalmente no 
peixe, em que a GEO e MIB se concentram na gordura do corpo 
do animal. Testes realizados com catfish em laboratório compro-
varam o sucesso da estratégia. 
No campo, possivelmente seja inviável colocar produtos hi-
drofóbicos no viveiros de terra. Porém, em sistemas de recirculação 
com problemas de off-flavor, como os acima discutidos, seria fácil 
colocar um filtro de partículas plásticas para absorver o off-flavor.
Uma outra aplicação previsível é o uso de filtros hidrofóbi-
cos nos sistemas de depuração de off-flavor, que passariam então 
a ser projetados como sistemas de recirculação, economizando 
grande quantidade de água e de espaço físico. Atualmente, os 
sistemas de depuração de off-flavor operam obrigatoriamente com 
passagem de grande volume de água, uma única vez, para carrear 
as substâncias de off-flavor dos peixes. 
A dúvida porém, é se haverá liberdade ou não de usar esta 
estratégia. A comunicação científica do método foi publicada 
em 2006, mas os autores haviam solicitado uma patente nos 
EUA em 2002, que foi concedida em 2005 (Kelly & Schultz, 
2005). Tal patente abrange praticamente todas as possibilidades 
imagináveis de substâncias hidrofóbicas, incluindo óleos e ceras 
animais, vegetais e minerais, bem como numerosos plásticos e 
polímeros. Até cera de carnaúba, produzida somente no Brasil, 
está na lista abrangida pela patente.
Conclusões
 
O mau sabor ou off-flavor causa grandes problemas de manejo 
e de custo para a aqüicultura de numerosos países. Ainda não existe 
tecnologia pronta para evitar a geração de off-flavor nos sistemas 
de cultivo, mas avanços tecnológicos estão ocorrendo para aliviar 
progressivamente o problema. O Brasil ainda não estabeleceu padrão 
de qualidade para controlar o off-flavor de cianobactérias (GEO e 
MIB), o que resulta em comercialização indiscriminada de pescado 
contendo off-flavor misturado com o pescado livre do mau sabor. 
O consumidor percebe e deixa de comprar. A conseqüência 
maior recai sobreo próprio setor de aqüicultura de água 
doce, ao deixar de formar um mercado consumidor. Os 
seus potenciais consumidores migram para outros produtos 
competitivos e não mais retornam.
 
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Brasília. 790 p.
14 Panorama da AQÜICULTURA, novembro/dezembro, 2007
Por:
Ronald Kennedy Luz
Doutor em Aqüicultura 
e-mail: luzrk@yahoo.com 
O trairão Hoplias lacerdae (Figura 1) pertence à família Erythrinidae, a mesma da traíra Hoplias malabaricus. Pelas semelhanças entre as duas espécies 
é comum a não identificação, de imediato, se o peixe é uma traíra ou um trairão. 
De maneira geral, o trairão pode atingir maior peso que a traíra, acima de 10kg, 
apresenta a língua lisa, ao passo que a traíra apresenta pequenos dentículos na 
língua. Como principal característica para a identificação das duas espécies, pode-
se virar os animais de cabeça para baixo e verificar a região gular (parte inferior 
da cabeça). No trairão as bordas dos dentários são paralelas, enquanto na traíra 
estas se unem próximo à região da boca formando um "V" (Figura 2). 
A espécie se caracteriza pelo hábito alimentar carnívoro, carne de excelente 
qualidade, esportividade para a pesca e boa aceitação pelo mercado consumidor. 
Além destes fatores, o trairão é uma espécie de fácil reprodução em cativeiro, 
tolerante aos manejos de criação e a baixos níveis de oxigênio dissolvido na água 
e é uma espécie sedentária, o que significa economia de energia, sendo que esta 
energia pode ser direcionada para o crescimento.
A técnica de retirada dos espinhos intramusculares tem popularizado ainda 
mais o consumo desta espécie. Dados relativos a engorda ainda são escassos, mas 
de acordo com Andrade et al. (1998), o trairão pode atingir 600g em um ano. Estes 
autores recomendam que sejam utilizados tanques superiores a 400m², densida-
de de 1 peixe/10-15m² e alimentação com peixes forrageiros ou densidade de 1 
peixe/2m² utilizando como alimento suplementar ração extrusada comercial com 
30% de proteína bruta. 
Originário das regiões amazônicas 
e Centro-Oeste do Brasil, o trairão 
é encontrado em diversas regiões 
do país, e vem sendo utilizado, 
principalmente, em reservatórios 
e lagos para o controle de peixes 
forrageiros. De fácil reprodução 
e cultivo o trairão possui carne 
saborosa e é uma espécie de fácil 
comercialização, também utiliza-
da para a pesca esportiva. Devido 
a importância no cenário da pisci-
cultura nacional, este artigo tem 
por objetivo apresentar os mais 
recentes avanços na larvicultura 
e alevinagem do trairão.
Larvicultura e alevinagem
Trairão
Figura 1 - Reprodutor de trairão (Foto Rafael Magno)
15Panorama da AQÜICULTURA, novembro/dezembro, 2007
Trairão
Reprodução
 Ao contrário dos grandes peixes migradores “de 
piracema” de interesse comercial, o trairão desova natural-
mente em viveiros de terra, que devem ser retangulares, com 
entrada e saída inidividuais de água. Para os reprodutores são 
recomendados viveiros de dimensões entre 200 e 1000m², 
dependendo da quantidade de matrizes, lembrando que 
quanto maior for o viveiro, mais difícil pode ser o manejo 
de captura das matrizes e retirada das desovas. 
 Como o trairão não apresenta dimorfismo sexual 
evidente, e por não existir, até o momento, uma maneira 
segura e eficiente de identificação de machos e fêmeas, 
deve-se colocar vários exemplares na densidade de 1kg de 
peixe para cada 5m², mantendo a coluna de água entre 0,80 e 
1m de profunidade para facilitar a visualização dos animais. 
Quando for observado peixes nadando juntos, estes podem 
ser marcados e devem ser transferidos para outro viveiro na 
densidade de 1 casal para cada 10m². 
A alimentação consiste no fornecimento de peixes pi-
cados e/ou ração quando esta for aceita pelos animais. Nestes 
vivieros não é recomendado o uso de peixes forrageiros como 
lambari e tilápias, uma vez que estes podem se alimentar dos 
ovos de trairão e deixar os reprodutores mais agressivos. No 
momento da desova é possível observar o casal preparando 
(limpando) o terreno. Durante este período, os reprodutores 
se tornam mais agressivos no intuito de proteger o local da 
desova e a prole. Outras informações sobre o comportamento 
reprodutivo do trairão podem ser obtidas nos trabalhos de 
Ribeiro e Gontijo (1984) e Andrade et al. (1998).
A desova ocorre de forma parcelada, ou seja, mais de 
uma desova por ciclo reprodutivo e pode durar de outubro 
a março, dependendo das condições locais de temperatura. 
O número de ovos produzidos pode variar de 4000 a 9000 
ovos por desova. Uma fêmea de trairão 
pode desovar até cinco vezes durante o 
período reprodutivo, embora, o número 
de desovas por fêmea registrado em dife-
rentes estações de piscicultura seja menor. 
Nesta época, os viveiros são vistoriados 
diariamente para a retirada das desovas, 
o que pode ser feito com uma peneira 
ou tela. As desovas devem ser colocadas 
em baldes com água do próprio tanque e 
levadas para o laboratório. 
 No laboratório, os ovos são 
separados com movimentos leves ou 
com a utilizaçãode uma solução de 3g 
de uréia e 4g de sal comum dissolvidos 
em 1 litro de água (Ribeiro e Gontijo, 
1984). Posteriormente, os ovos devem 
ser colocados em tanques de incubação 
que podem ser de polietileno ou caixas de Trairão
Figura 2 - Caracterização das bordas dos dentários na diferenciação 
da Traíra (A) e do Trairão (B)
"Uma fêmea de trairão pode 
desovar até cinco vezes durante 
o período reprodutivo, embora, 
o número de desovas registrado 
em diferentes pisciculturas 
seja menor"
isopor com volume de 40 a 150L, dependendo da disponibilidade 
do produtor. Nos tanques de incubação, a coluna de água deve ser 
mantida entre 20 e 30cm. Cada desova deve ser mantida em um 
tanque e se possível identificada de acordo com o casal de onde 
foi retirada para o melhor controle da produção. 
Durante a incubação é importante manter a temperatura 
da água entre 27 e 30°C, pois variações bruscas, principalmente 
para valores inferiores aos recomendados, podem retardar o de-
senvolvimento das larvas e diminuir a eclosão e sobrevivência, 
além de levar ao aparecimento de patógenos. Para tanto, pode-se 
utilizar um aquecedor com termostato. Também é fundamental 
um sistema de aeração para melhorar a oxigenação da água, o 
qual pode ser realizado através de uma bomba de aquário ou um 
compressor de ar. 
Diariamente deve-se proceder a limpeza do tanque com 
troca parcial do volume de água retirando-se cascas e ovos gora-
dos para evitar a proliferação de fungos e elevação nos níveis de 
amônia. Estes tanques devem ser mantidos cobertos para evitar 
a incidência direta da luz sobre ovos e larvas. Nas temperaturas 
citadas anteriormente a eclosão ocorre aproximadamente em dois 
dias, dependendo do tempo decorrido entre a desova e a coleta da 
mesma no viveiro e as larvas estarão aptas para iniciar a alimen-
tação entre 6 a 9 dias depois da eclosão. 
A B
16 Panorama da AQÜICULTURA, novembro/dezembro, 2007
17Panorama da AQÜICULTURA, novembro/dezembro, 2007
Trairão
Larvicultura 
As larvas de trairão apresentam o aparelho digestivo 
completo com glândulas gástricas no estômago, estruturas 
importantes para o processo digestivo, antes de iniciar a 
alimentação exógena. No entanto, esta espécie apresenta 
mortalidade total quando alimentada exclusivamente com 
ração, mesmo sendo verificado, em análises do conteúdo 
estomacal, que as larvas ingerem ração nos primeiros dias 
de vida. Este fato deve-se, provavelmente, à qualidade 
da dieta utilizada e à capacidade das larvas em digerir e 
assimilar o alimento formulado. Porém, estes aspectos são 
interessantes para estudos futuros que visem à elaboração 
de dietas específicas para as larvas. 
Desta forma, as larvas de trairão devem receber 
alimento vivo nos primeiros dias de alimentação. Estudos 
prévios com o uso de zooplâncton, como primeiro alimento, 
para as larvas em laboratório, possibilitaram taxas de sobre-
vivência de até 50% e canibalismo entre os alevinos (Ribei-
ro e Gintijo, 1984; Zaniboni Filho e Barbosa, 1992). 
Recentemente, a partir de 2002, trabalhos mostram 
que o uso de náuplios de Artemia sp. resulta em elevada so-
brevivência, acima de 90%, e rápido crescimento, obtendo-se 
alevinos com comprimento superior a 2cm após os primeiros 
15 dias de alimentação em condições controladas. 
Na larvicultura realizada em laboratório, pode-se 
adotar o sistema de circulação contínua de água, sistema 
de recirculação de água (sistema fechado com uso de bio-
filtros) ou sistema de água parada, onde se coloca o volume 
desejado no tanque de larvicultura e diariamente parte 
da água é renovada. O produtor deve estar atento para os 
manejos a serem adotados, pois com água parada e sistema 
fechado os níveis de amônia devem ser monitorados com 
maior freqüência. Na larvicultura do trairão alimentados 
com náuplios de Artemia, com o sistema de água parada, 
onde 80 a 90% do volume é renovado em uma única vez 
ao dia, os valores de amônia total podem atingir níveis 
de 2,013mg/L, mas sem efeito negativo no crescimento e 
sobrevivência das larvas e juvenis quando expostos por 
curtos períodos. Para todos os sistemas é fundamental o 
uso de aeração artificial, através de um compresssor de 
ar e pedras porosas, para manter os níveis de oxigênio 
dissolvido na água acima de 5mg/L, ainda que, alevinos 
desta espécie sejam tolerantes à condição de anóxia. 
Durante a larvicultura é importante que a tempera-
tura da água se mantenha entre 27 e 30°C para um rápido 
crescimento. Temperaturas inferiores podem aumentar 
o ciclo da larvicultura, diminuir o crescimento e levar 
ao aparecimento de patógenos. Caso a propriedade não 
disponha de água nesta temperatura, pode-se montar um 
sistema de aquecimento de água ou usar termostatos nos 
tanques de criação. Porém, o produtor deve levar em 
conta estes custos e avaliar a viabilidade econômica da 
larvicultura.
Variações na temperatura, principalmente no período 
da noite, para valores inferiores aos recomendados, podem 
levar a problemas com íctio Ichthyophthirius multifiliis. A 
realização da larvicultura, durante os 15 primeiros dias de 
cultivo, com água salinizada (2 a 4g de sal/litro de água) 
pode ser uma medida preventiva à ocorrência deste parasita. 
Caso seja detectada a ocorrência de íctio durante a larvicul-
tura em água doce, este problema pode ser minimizado com 
a utilização de sal, passando-se a realizar a larvicultura em 
meios salinizados, como mencionado anteriormente e com 
banhos terapêuticos de formol 10% na dosagem de 1mL de 
solução/litro de água, durante 4 horas, em dias alternados, 
até que o probelama esteja solucionado. Também é impor-
tante manter a temperatura constante e acima de 29°C para 
um efetivo controle deste parasita.
As larvas com a boca aberta, aproximadamente 6 a 
9 dias após a eclosão, dependendo da temperatura da água, 
apresentam entre 0,7 e 1,0 cm de comprimento total. Neste 
momento, devem ser quantificadas e estocadas nos tanques 
de larvicultura, que podem ser retangulares ou circulares, 
com entrada e saída individuais de água, e com volume 
entre 50 e 500L. A densidade de estocagem pode variar de 
10 a 90 larvas/litro de água, dependendo da infra-estrutura 
disponível, da quantidade de larvas e do nível de tecnologia 
empregado. À medida que se aumenta a densidade, maiores 
devem ser os cuidados, principalmente, com a limpeza dos 
tanques e com os níveis de amônia na água. 
,"A densidade de estocagem 
pode variar dependendo da 
infra-estrutura disponível, da 
quantidade de larvas e do nível de 
tecnologia empregado. À medida 
que se aumenta a densidade, 
maiores devem ser os cuidados"
18 Panorama da AQÜICULTURA, novembro/dezembro, 2007
19Panorama da AQÜICULTURA, novembro/dezembro, 2007
Trairão
A alimentação que será exclusivamente a base de 
náuplios de Artemia deve ser fornecida duas vezes ao dia, 
às 8 horas e às 17 horas; ou três vezes ao dia, com uma 
alimentação intermediária (às 12 horas). As quantidades de 
alimento a serem fornecidas diariamente são apresentadas 
na Tabela 1. 
apresentam mais de 2,0cm de comprimento total, para 
então, serem condicionados em laboratório.
Para esta fase é melhor utilizar o sistema de 
circulação contínua de água (sistema aberto), devido 
a grande quantidade de alimento que é oferecida 
diariamente, mantendo assim, a água em melhores 
condições de criação. Para o início do condiciona-
mento alimentar é fundamental utilizar animais de 
mesmo tamanho. A densidade pode ser de até 10 
animais/litro de água para alevinos com 2,0 a 3,0cm 
de comprimento total e de até 4 animais/litro de água 
para alevinos com tamanhos superiores. Os alevinos 
recebem pelo menos três alimentações diárias em 
excesso, às 8, 12 e 18 horas. 
A metodologia de condicionamento alimentar é 
baseada em técnicas utilizadas em alguns centros de 
pesquisa e por produtores rurais para outras espécies 
carnívoras. Esta fase consiste na substituição parcial e 
progressiva de uma dieta preparada à base de coração 
bovino moído e ração comercialextrusada, a qual deve 
apresentar granulometria inferior a 0,5mm e níveis de 
proteína bruta superiores a 40%. Caso o produtor não 
disponha de uma ração comercial com a granulometria 
recomendada, a ração pode ser triturada e farelada 
manualmente ou mecanicamente e peneirada para que 
apresente diâmetro inferior a 0,5mm. As diferentes 
dietas utilizadas para o condicionamento alimentar 
estão descritas na Tabela 2.
Condicionamento alimentar 
 
O condicionamento alimentar é realizado logo após 
a larvicultura e apresenta melhores resultados para ale-
vinos com comprimento total superior a 2,0cm. Alevinos 
menores não aceitam bem o alimento formulado e são 
mais agressivos durante e após o condicionamento. 
Esta técnica de condicionar os alevinos ao alimento 
formulado também pode ser realizada em pisciculturas 
que adotam o sistema de larvicultura em viveiros de terra. 
Neste caso, os alevinos são retirados dos viveiros quando 
Tabela 2 - Dietas a serem fornecidas durante o condicionamento 
alimentar de alevinos de trairão
Após o fornecimento da dieta 4, os alevinos 
devem receber somente a ração extrusada por alguns 
dias antes de serem manejados para a comercialização 
ou serem transferidos para os viveiros ou tanques de 
manutenção. 
Durante o condicionamento alimentar, utiliza-se 
o regime de escuridão total para manter os alevinos 
dispersos no fundo dos tanques e diminuir a incidência 
de canibalismo. Os tanques devem ser limpos antes de 
cada alimentação e neste momento retirados os alevinos 
mortos e com comportamento canibal que podem ser 
submetidos novamente ao condicionamento alimentar 
A quantidade diária de alimento é dividida pelo número de 
refeições ao dia. Se a alimentação for realizada duas vezes ao dia, 
deve-se fornecer, durante os cinco primeiros dias, a quantidade 
de 350 a 450 náuplios de Artemia/larva em cada alimentação e 
assim, sucessivamente.
Durante este período recomenda-se o regime de escuridão 
total para evitar que as larvas e alevinos fiquem aglomerados, 
o que pode favorecer a ocorrência do canibalismo. Para tanto, 
pode-se utilizar lonas plásticas pretas para cobrir os tanques. No 
momento da limpeza dos tanques é importante retirar animais 
mortos e que apresentam comportamento canibal, os quais, geral-
mente, têm tamanho 2 a 3 vezes superior ao tamanho médio dos 
demais animais. Adotando-se esses manejos, pode-se alcançar 
taxas de sobrevivência entre 80% e 100% e alevinos maiores que 
2,0 cm de comprimento total, após 15 dias de larvicultura. 
Tabela 1 - Quantidade de alimento (náuplios de Artemia) a ser fornecida 
às larvas de trairão durante os primeiros 15 dias de alimentação
20 Panorama da AQÜICULTURA, novembro/dezembro, 2007
21Panorama da AQÜICULTURA, novembro/dezembro, 2007
Trairão
ou serem comercializados para repovoamento de lagos e 
represas. Seguindo-se os manejos apresentados pode-se obter 
taxas de sobrevivência superiores a 80%.
Alevinos condicionados à ração extrusada
Após o condicionamento alimentar, os alevinos são 
classificados por tamanhos e não devem apresentar diferenças 
superiores a 0,5cm de comprimento entre o maior e o menor 
peixe de cada lote. Realizada a classificação, os alevinos 
podem permanecer no laboratório estocados na densidade 
de 1 animal para cada 2 ou 3 litros de água, ser diretamente 
comercializados ou mantidos em viveiros de pequenas dimen-
sões, por exemplo, de 200m2, até o momento da venda. 
Para reduzir os problemas causados por alguns pre-
dadores naturais e, também, para evitar que alguns alevinos 
voltem a se alimentar de organismos vivos, o que poderia 
levar a um crescimento diferenciado e, conseqüentemente, 
ao canibalismo, os viveiros podem ser abastecidos com água 
um ou dois dias antes do peixamento, sem a necessidade de 
adubação. Neste sistema de criação deve-se tomar cuidado 
com a elevada transparência da água, que torna os alevinos 
mais expostos à ação de pássaros predadores. Nesta fase, 
pode-se utilizar densidades de até 10 alevinos por m2. A ali-
mentação deve ser realizada diariamente com ração extrusada 
com níveis de proteína bruta superiores a 40%, pelo menos 
duas vezes ao dia e fornecida à vontade.
 O tratador deve acompanhar a alimentação por, pelo 
menos, 15 minutos até que os peixes parem de se alimentar. 
Quando o tempo de permanência nos tanques for superior a 
30 dias, ou quando sejam identificados animais com cresci-
mento diferenciado, faz-se necessário uma nova classificação 
dos alevinos. 
Além dos resultados promissores para a larvicultura 
e alevinagem apresentados neste artigo, outros trabalhos 
mostram que alevinos de trairão condicionados à ração ex-
trusada, apresentam elevada sobrevivência e bons índices de 
conversão alimentar. 
Luz et al. (2001) estocaram alevinos de trairão com 
comprimento entre 3,7 e 4,7cm, em densidades variando de 
6,6 a 11,6 alevinos/m². Os alevinos foram alimentados com 
ração comercial extrusada contendo 42% de proteína bruta 
(PB). Após 30 dias de cultivo, em tanques de cimento de 5m², 
os autores verificaram taxas de sobrevivência superiores a 
97% e conversão alimentar de 1,2 a 1,5:1. Após este período 
os alevinos foram reclassificados por tamanhos e estocados 
na densidade de 5 alevinos/m² por mais 30 dias. Ao final 
do trabalho os autores registraram sobrevivência entre 72 e 
100% e conversão alimentar entre 0,9 a 1,16:1. 
Salaro et al. (2003) estocaram alevinos de trairão com 
10,5cm de comprimento total médio, em tanques de cimento 
de 5m², em duas densidades de estocagem, 1 e 4 alevinos/m². 
Como alimento foi utilizado ração extrusada comercial (42% 
de PB). Após 120 dias de cultivo a sobrevivência variou de 
86,7 a 96,7%, a conversão alimentar ficou entre 1,2 e 1,6:1 
e o ganho de peso diário variou de 0,38 a 0,70g. 
Atualmente, a Universidade Federal de Viçosa vem 
desenvolvendo pesquisas com diferentes manejos durante 
o condicionamento alimentar do trairão. No entanto, a 
continuidade de estudos que avaliem o crescimento dos 
alevinos até que alcancem peso comercial, principalmente 
no que tange aos aspectos de manejos como: densidade de 
estocagem, horário e freqüência de alimentação e exigên-
cias nutricionais durante o desenvolvimento dos animais 
se mostra necessária para estabelecer-se de forma mais 
exata o potencial, parâmetros produtivos e a viabilidade 
econômica do cultivo desta espécie de forma intensiva 
com o uso de rações comerciais. 
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22 Panorama da AQÜICULTURA, novembro/dezembro, 2007
Temos 
pesquisadores 
para promover o 
desenvolvimento 
da aqüicultura 
nacional?
Por: Eric Arthur Bastos Routledge 
Coordenador-Geral de Incentivo à Pesquisa e 
Geração de Novas Tecnologias da SEAP/PR
e-mail: routledge@seap.gov.br
Hoje em dia, praticamente não é mais necessário 
mencionar, mesmo para quem não é da área, que 
a aqüicultura tem um enorme potencial para o 
seu desenvolvimento no Brasil. Os 8.500km de 
costa, os milhões de hectares de águas interiores 
alagadas e a extensa zona econômica exclusiva, 
associada ao clima favorável, a adaptação de espé-
cies exóticas ao clima brasileiro e o potencial de 
diversas espécies nativas, são informações cada vez 
mais divulgadas. Enfim, aos poucos, a sociedade 
começa a entender o que é a atividade, deixando 
de confundi-la com a agricultura ou apicultura. 
Entretanto, cabe perguntar se o Brasil possui 
pesquisadores e instituições suficientes para dar 
suporte a este desejado desenvolvimento? E como 
estão distribuídos os cursos de aqüicultura em nível 
de pós-graduação?
A fim de obter essas respostas, a SEAP/PR iniciou um levantamento de informações na base de 
dados do CNPq e da CAPES. O trabalho levou em 
consideração a relação de bolsistas de produtivida-
de do Comitê Assessor de Aqüicultura e Recursos 
Pesqueiros do CNPq (Conselho Nacional de Desen-
volvimento Científico e Tecnológico), vinculado ao 
Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), e a lista 
de cursos de mestrado e doutorado credenciados pela 
CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal 
de Ensino Superior), órgão vinculado ao Ministério 
da Educação (MEC). 
No CNPq, a aqüicultura está inserida no Co-
mitê Assessor de Aqüicultura e Recursos Pesqueiros 
(CA-AQ), que é subordinado à Coordenação do Pro-
grama de Pesquisa em Agropecuária e Agronegócio 
(COAGR), junto a outros seis Comitês Assessores 
de outras áreas. Ao contrário do passado, quando 
sofreu ameaças de extinção, hoje o comitê CA-AQ 
experimenta uma situação estável e de reconheci-
mento dentro do CNPq. A SEAP/PR vem trabalhando 
intensamente junto ao CNPq para que este comitê se 
fortaleça cada vez mais, considerando esta, a receita 
para aumentar os recursos que anualmente são dire-
cionados para apoiar os pesquisadores com projetos, 
bolsas e outros auxílios todos os anos. Apesar disso, a 
abertura de mais espaço para a aqüicultura dentro do 
CNPq depende diretamente do contínuo aumento da 
23Panorama da AQÜICULTURA, novembro/dezembro, 2007
Pesquisa
produtividade dos pesquisadores e da apresentação de demandas 
qualificadas para os editais e chamadas públicas que são cada 
vez mais competitivos. 
Para o triênio 2006 - 2008, o CA-AQ do CNPq está 
adotando critérios de julgamento para os pedidos de bolsas 
de Produtividade em Pesquisa (PQ) com base no agrupamen-
to de três grandes áreas de envolvimento dos pesquisadores, 
sendo as informações divididas em “Produção Científica”, 
“Formação de Recursos Humanos” e “Atuação Relevante 
na Área”.
Baseado na relação de bolsistas de produtividade 
do CA-AQ, atualizada até março de 2007, existem hoje 64 
bolsistas de PQ distribuídos em 15 estados e no Distrito 
Federal (Figura 1). 
 O número de bolsistas PQ de aqüicultura (64) pare-
ce pequeno, quando comparado com os atuais bolsistas PQ 
dos Comitês Assessores de Medicina Veterinária (203) e de 
Figura 1 - Bolsas de Produtividade em Pesquisa - CNPq 
Aqüicultura e Recursos Pesqueiros - Março/2007
Zootecnia (191). Entretanto, na teoria, o comitê 
temático (CA-AQ) deveria concentrar os bolsistas 
da área de aqüicultura, mas também é possível 
identificar pesquisadores vinculados a estes e 
outros comitês que atuam em áreas indispensáveis 
para o desenvolvimento da aqüicultura, incluindo 
os de Genética, de Ecologia e Limnologia, entre 
outros. Ressalta-se ainda que o Comitê Assessor 
de Aqüicultura e Recursos Pesqueiros também 
contempla a área de pesca, embora a relação atual 
represente menos de 10% dos bolsistas desta área, 
sendo em sua maioria dispersos nos Comitês de 
Oceanografia, de Zoologia, entre outros. 
Destes, 78% estão concentrados em instituições de 
ensino e pesquisa das Regiões Sudeste e Sul. As regiões 
Centro-Oeste e Norte representam juntas somente 11% 
do total de bolsistas, embora estas sejam regiões que vêm 
experimentando um grande crescimento da aqüicultura nos 
últimos anos (Figura 2). 
Em resumo, ainda são poucos os pesquisadores 
de aqüicultura que conseguem atender as normas e os 
critérios do CNPq. Por outro lado, alguns desanimam se 
achando pouco qualificados e nem fazem uma solicita-
ção formal. Outros, mesmo tendo uma ótima produção 
científica, não se classificam por apresentarem um baixo 
número de orientados como conseqüência da falta de 
vínculo com uma instituição de ensino. 
"...Ao contrário do passado, 
quando sofreu ameaças de 
extinção, hoje o comitê 
CA-AQ experimenta uma 
situação estável e de 
reconhecimento 
dentro do CNPq. 
Apesar disso, a abertura 
de mais espaço para a 
aqüicultura dentro do 
CNPq depende diretamente 
do contínuo aumento 
da produtividade dos 
pesquisadores e da 
apresentação de demandas 
qualificadas para os editais 
e chamadas públicas..."
F igu ra 2 - Bo l sa s de 
Produtividade em Pesquisa - 
CNPq Aqüicultura e Recursos 
Pesqueiros - Março/2007
24 Panorama da AQÜICULTURA, novembro/dezembro, 2007
25Panorama da AQÜICULTURA, novembro/dezembro, 2007
CAPES
 Na CAPES, a área de aqüicultura 
está inserida na grande área “Ciências Agrá-
rias”, na área “Recursos Pesqueiros e Enge-
nharia de Pesca”, apresentando cinco cursos 
em nível de doutorado e sete em nível de 
mestrado, distribuídos em sete instituições 
de ensino e pesquisa (Tabela 1). 
A análise dos programas de pós-
graduação demonstra uma lacuna em regi-
ões onde a aqüicultura vem apresentando 
um crescimento acelerado, sobretudo no 
Centro-Oeste e em alguns estados da Re-
gião Norte. Nestas regiões, nota-se com 
exceção dos Estados do Pará e Amazonas 
que a aqüicultura vem crescendo sem 
uma presença concreta das universidades 
e instituições de pesquisa. O número de 
programas específicos poderia ser maior, 
mas se considerado também aos de outras 
áreas, eu diria que podemos melhorar. A percepçãoé a de 
que a integração e a mobilidade docente e discente entre os 
diferentes cursos podem melhorar a formação dos nossos 
mestres e doutores. 
 Existem hoje cerca de 100 docentes vinculados a 
estes programas, que formam dezenas de mestres e doutores 
todos os anos no Brasil. Isto sem contar os pós-graduados 
formados em outros cursos de pós-graduação como zootec-
nia, produção animal, ecologia, oceanografia, tecnologias de 
alimentos e outros cursos que possuem a área de aqüicultura 
como uma das áreas de concentração ou têm estreita relação. 
Quando digitada a palavra-chave “aqüicultura” na busca do 
recém divulgado Censo de Grupos de Pesquisa da CAPES 
ano-base 2006, encontramos 532 pesquisadores que possuem 
algum envolvimento com a aqüicultura, sendo a maioria dou-
tores, o que dá uma dimensão real da quantidade de massa 
crítica que temos à disposição. Assim parece fácil responder 
que o Brasil tem, sim, muita gente boa qualificada para dar 
suporte ao desenvolvimento da aqüicultura nacional, e que 
Tabela 1 - Programas de Pós-graduação da área de aqüicultura 
na área de Recursos Pesqueiros e Engenharia de Pesca da CAPES 
(atualizado até 5 de setembro de 2007)
existe mercado de trabalho para todos os profissio-
nais que se especializam em aqüicultura. Por outro 
lado, percebe-se que muitos estudantes entram para 
o mundo da aqüicultura, motivados pelo potencial 
da atividade e pelo grande leque de áreas de atuação. 
Mas, na prática, a maior parte se restringe a atuar 
na área de pesquisa, sem considerar a importância 
e as oportunidades da atuação profissional também 
em órgãos ambientais e de fomento, nas prefeituras, 
nos governos, ONGs, no setor produtivo, etc.. 
 A interdisciplinaridade da aqüicultura exige 
a formação de um profissional ético, sem fronteiras 
e com disposição para enfrentar as barreiras de uma 
atividade sem tradição, quando comparada a outras 
consagradas na área agropecuária brasileira. Nas 
universidades, os orientadores têm a responsabili-
dade de estimular não só a capacidade de elaborar e 
publicar artigos científicos em revistas de impacto, 
mas também de interagir com outras áreas do conhe-
cimento e de compreender as diferenças regionais e 
culturais. Só assim, haverá condições de ampliar o 
espaço conquistado por todos os profissionais que 
atuam na área, sejam eles, engenheiros de pesca, 
biólogos, oceanógrafos, zootecnistas, médicos vete-
rinários, agrônomos, engenheiros de aqüicultura. No 
final, sempre haverá trabalho para os profissionais 
com uma visão sistêmica que consigam conciliar a 
competência de atender as normas dos órgãos de 
fomento, com a capacidade de transitar em todos os 
elos da cadeia produtiva sem se restringir ao mundo 
acadêmico pois, afinal de contas, o que importa para 
o aqüicultor é o acesso aos resultados práticos da 
pesquisa. 
Pesquisa
26 Panorama da AQÜICULTURA, novembro/dezembro, 2007
PANORAMA DA CARCINICULTURA 
BRASILEIRA EM 2007 
Por:
Itamar de Paiva Rocha
Engº de Pesca, CREA 7226-D
e-mail: abccam@abccam.com.br
A carcinicultura brasileira em-
bora tenha iniciado o ano de 2007 
com muitas incertezas, tanto pelos 
efeitos das viroses como da política 
cambial, ou seja, sem qualquer pers-
pectiva de recuperação econômica, 
chega ao final do ano mostrando 
claros sinais de que em 2008 o setor 
voltará a crescer. Evidentemente 
que a perda de competitividade 
das suas exportações, decorrente 
da elevada desvalorização cambial, 
associado ao amadorismo e a inefi-
ciente estrutura da cadeia de comer-
cialização interna e, a generalizada 
falta de licenciamento ambiental 
constituem-se sérios desafios que 
o setor precisa superar para resta-
belecer as necessárias condições 
de operacionalidade e, permitir um 
desenvolvimento econômico com 
sustentabilidade sócio-ambiental. 
Nesse sentido, se ressalta que 
além dos problemas de ordem ins-
titucional, decorrentes da falta de 
prioridades e apoio governamental, 
outros fatores adversos contribuí-
ram de forma bastante significativa 
para agravar a crise que se abateu 
sobre a carcinicultura brasileira. 
Dentre estes, destacam-se a ação 
antidumping imposta pelos Estados 
Unidos, o surto da mancha branca 
(WSSV) em Santa Catarina e da NIM 
(IMNV) na Região Nordeste.
O início da atual crise setorial remonta a 2004, cuja produ-ção de 76.000 t interrompeu um crescimento exponencial 
médio de 71% ao ano, registrado entre 1997 (3.600 t) e 2003 
(90.180 t), sendo que, a partir de 2005, quando se registrou uma 
nova queda da produção (65.000 t) houve uma estabilização da 
produção num patamar de 65.000 t. (Figura 1).
Figura 1 - Evolução do desempenho DA 
CARCINICULTURA BRASILEIRA (1998 -2007*)
 
 Por outro lado, o conjunto dessas adversidades, especial-
mente a elevada e contínua desvalorização do dólar americano 
(USD), foram decisivos para a redução das exportações e das 
receitas setoriais, como bem demonstra a evolução das exporta-
ções de camarão cultivado do Brasil no período de 1998 a 2006 e 
no período de janeiro a outubro de 2007, em comparação com o 
mesmo período de 2004 a 2006 (Figuras 2 e 3).
DESEMPENHO, DESAFIOS E 
OPORTUNIDADES
27Panorama da AQÜICULTURA, novembro/dezembro, 2007
Carcinicultura 2007
Da mesma forma, quando se compara o desempenho das exportações brasileiras de camarão cultivado para os 
Estados Unidos, entre janeiro a setembro de 2003 e janeiro a setembro de 2007, verifica-se claramente que o Brasil foi 
efetivamente o país mais afetado pela ação antidumping, uma vez que sua participação no conjunto das importações 
norte americanas passou de 5,48% (2003) para 0,00008% (2007), conforme se detalha na tabela 1. 
Figura 3 – Comportamento das Exportações 
Brasileiras de Camarão no Período de janeiro a 
outubro (2004 - 2007), em toneladas
Figura 2 – Evolução das 
Exportações Brasileiras 
de Camarão Cultivado 
(1998 – 2006)
Tabela 1 - EUA: participação 
dos países envolvidos na ação 
antidumping nas importações 
de camarão de janeiro a 
setembro (2003 - 2007)
28 Panorama da AQÜICULTURA, novembro/dezembro, 2007
29Panorama da AQÜICULTURA, novembro/dezembro, 2007
Carcinicultura 2007
Desafios
 A crise que se abateu sobre a car-
cinicultura brasileira entre 2004 e 2007, em 
realidade, confirma uma cíclica coincidência 
enfrentada pelo setor ao longo de sua história, o 
qual já havia passado por situações adversas em 
1984/1987 e 1994/1997, conforme se detalha na 
tabela 2 adiante discriminada.
 Na presente crise, a incidência de 
doenças foi sem dúvidas a principal respon-
sável pelas perdas econômicas e conseqüente 
descapitalização setorial, sendo que, no caso da 
Mionecrose Infecciosa (IMN), cuja virulência 
esteve sempre relacionada aos distúrbios am-
bientais, associados a “cheias e outros fatores 
exógenos”, tem-se que, ao longo de 2007 foi 
observado uma sensível regressão dos seus 
efeitos, uma vez que as regiões mais fortemente 
atingidas (Piauí, Norte do Ceará e Norte do Rio 
G. do Norte) apresentam hoje, níveis de sobre-
vivências similares aos obtidos em 2003.
 A contribuição dos produtores para o 
controle da “NIM” esteve sempre relacionada 
à redução das densidades, ao uso de probióti-
cos e a redução do tempo de cultivo, enquanto 
que pelo lado dos fatores externos, houve uma 
grande colaboração da natureza, pois desde 
2004, não se registrou nenhum excesso nos ní-
veis pluviométricos na Região Nordeste. Desse 
modo, pode-se afirmar que a NIM está sob “au-
tocontrole”, uma vez que as ações por parte do 
pode ainda cantar vitória, devendo manter-se alerta, trabalhando com as 
ferramentas preventivas e adotando as Boas Práticas de Manejo em todas 
as etapas do ciclo de cultivo.
 Em relação à mancha branca (WSSV), que inexplicavelmente 
afetou os produtores de Santa Catarina, uma vez que não existe registro 
da sua ocorrência em nenhuma outra área do oceano atlântico, a situação 
continua indefinida, embora que das 30 fazendas que operaram em 2007, 
50% não apresentaram mortalidades relacionadas ao WSSV. No entanto,

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