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1Panorama da AQÜICULTURA, julho/agosto, 2009 2 Panorama da AQÜICULTURA, julho/agosto, 2009 3Panorama da AQÜICULTURA, julho/agosto, 2009 3 Editorial Jomar Carvalho Filho Biólogo e Editor E m 1934, Rodolpho von Ihering, um gaúcho neto de alemães, desenvolveu a técnica mundialmente conhecida como hipofisação, que utiliza hipófises desidratadas de peixes para reproduzir artificialmente peixes cultivados. Mas a popularização dos conhecimentos relacionados à propagação artificial aconteceu, de fato, na década de 70, em decorrência dos acordos internacionais que a Codevasf assinou com instituições húngaras. Desde então, as Estações de Piscicultura da Codevasf tiveram um papel determinante na formação da mão de obra brasileira especializada e no aprimoramento da técnica, até hoje largamente utilizada em todo o mundo. Aplicada há quase quatro décadas, a técnica de hipofisação é agora alvo de fiscalização pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA). Sob o ponto de vista sanitário, a fiscalização alega que o produto não pode ser utilizado pelos piscicultores por não constar na “extensa lista de dois produtos” aprovados para uso na aquicultura brasileira. O clima entre os piscicultores é de medo e muita insegurança diante de possíveis autuações. Após todos esses anos, não há registro algum de que o uso tanto de hormônios como de hipófises de peixes desidratadas tenham ocasionado danos aos pescados, ao meio ambiente, aos humanos que os manipulam e, tampouco, a quem consome os peixes propagados com a técnica da hipofisação. Ao longo desse tempo, cresceu o número de especialistas que pesquisam a fisiologia da reprodução de peixes e a forma como os hormônios atuam, auxiliando a desova e a espermiação. Ainda que as instituições que atuam na pesquisa aquícola tenham sido sucateadas, seria possível hoje montar pelo menos dois times de futebol, com direito a alguma plateia, se juntássemos todos os especialistas no assunto para opinar sobre as possíveis consequências deletérias da técnica – e também se a fiscalização do MAPA está sendo conduzida de maneira adequada. Decisões sobre assuntos polêmicos balizadas pelas “melhores informações científicas” estão cada vez mais comuns e o bom senso deve prevalecer para não prejudicar o setor produtivo, que neste momento se sente ameaçado. Se de um lado existem especialistas disponíveis e, de outro, produtores sendo acusados por uma prática que até então tem se mostrado inócua, seria adequado que o Ministério da Pesca e Aquicultura tomasse a frente da discussão para colocar este trem novamente nos trilhos. A Revista Panorama da AQUICULTURA está de páginas abertas para o debate, desejando que este tema não tome proporções inesperadas. Nesta edição, ao lado de técnicas de assentamento remoto que podem dar um novo rumo na mitilicultura catarinense, trazemos também o último dos sete artigos do Fernando Kubitza sobre as boas práticas de manejo na produção de peixes, as vantagens das espécies nativas na Região Sul, a escolha da sede da Embrapa para a aquicultura, a ótima notícia da escolha do Brasil para sediar o congresso mundial da WAS em 2011 e muito mais. A todos mais uma ótima leitura 4 Panorama da AQÜICULTURA, julho/agosto, 2009 5Panorama da AQÜICULTURA, julho/agosto, 2009 ...Pág 58 ...Pág 44 ...Pág 46 ...Pág 24 ...Pág 55 ...Pág 06 ...Pág 03 ...Pág 11 ...Pág 14 ...Pág 30 Í N D I C E Editor Chefe: Biólogo Jomar Carvalho Filho jomar@panoramadaaquicultura.com.br Jornalista Responsável: Solange Fonseca - MT23.828 Direção Comercial: Solange Fonseca publicidade@panoramadaaquicultura.com.br Colaboradores desta edição: Alex Pires de Oliveira Nuñer, Bel Levy; Carlos A. G. Leal, Christine Espíndola Fischer, Evoy Zaniboni Filho, Fabio Faria Brognoli, Fernando Kubitza, Flavia Ribeiro Couto, Frederico A. A. Costa, Glei A. Carvalho-Castro, Henrique César Pereira Figueiredo, Lamartine Nóbrega Netto, Luis Fernando Beux, Marcos Weingartner, Mauro César Campos de Almeida, Nelson Silveira, Ruy Ávilla Wolff Os artigos assinados são de responsabilidade dos autores. A única publicação brasileira dedicada exclusivamente aos cultivos de organismos aquáticos Uma publicação Bimestral da: Panorama da AQÜICULTURA Ltda. Rua Alegrete, 32 22240-130 - Laranjeiras - RJ Fone/fax: (21) 3547-9979 / Tel: (21) 2553-1107 www.panoramadaaquicultura.com.br revista@panoramadaaquicultura.com.br ISSN 1519-1141 Assinatura: Daniela Dell’Armi assinatura@panoramadaaquicultura.com.br Para assinatura use o cupom encartado, visite www.panoramadaaquicultura.com.br ou envie e-mail. ASSINANTE - Você pode controlar, a cada edição, quantos exemplares ainda fazem parte da sua assinatura. Basta conferir o número de créditos descrito entre parênteses na etiqueta que endereça a sua revista. Números atrasados custam R$ 16,00 cada. Para adquiri-los entre em contato com a redação. Edições esgotadas: 01, 05, 09, 10, 11, 12, 14, 17, 18, 20, 21, 22, 24, 25, 26, 27, 29, 30,33, 34, 35, 36, 37, 38, 39, 40, 41, 44, 45, 59, 61, 62, 63, 65, 76, 77, 78, 79, 80, 81, 82, 83, 84, 85, 87, 88, 111, 112 Projeto Gráfico: Leandro Aguiar leandro@panoramadaaquicultura.com.br Design & Editoração Eletrônica: Panorama da AQÜICULTURA Ltda. Impresso na Grafitto Gráfica & Editora Ltda. Os editores não respondem quanto a quali- dade dos serviços e produtos anunciados. Capa: Arte Panorama da AQÜICULTURA Edição 114 - julho/agosto - 2009 Boas práticas no transporte página 14... Uma nova doença em trutas página 30... ...Pág 60 Assentamento remoto Uma técnica criada nos Estados Unidos para a produção de sementes de ostras e mexilhões tem revolucionado o cultivo desses animais em vários países. A prática, da forma como foi concebida, exige um manejo em instalações em terra feito pelo próprio produtor, o que encarece os custos de produção desse importante insumo. O artigo de capa desta edição relata uma técnica inovadora de assentamento remoto desenvolvida em Santa Catarina, em que tudo acontece no mar, reduzindo os custos da infra- estrutura e da mão de obra, que resultam em sementes saudáveis e mais baratas. Leia o artigo na página 38. ...Pág 38 Editorial Notícias & Negócios Notícias & Negócios on-line Manejo na produção de peixes – Parte 7: Boas práticas no transporte de peixes vivos Espécies nativas com potencial para regiões de clima frio Sanidade Aquícola: Aprendendo sobre uma nova doença em trutas Assentamento remoto de larvas de mexilhão diretamente no mar A missão brasileira na Noruega e Reino Unido Codevasf aposta nos Centros de Referência em Aquicultura II Congresso Brasileiro de Produção de Peixes Nativos Especialista produz alevinos de robalo flecha em Santa Catarina Laboratório da UFSC produz pós-larvas de camarão Tocantins sediará Embrapa Aquicultura e Sistemas Agrícolas XVI CONBEP em Natal enfocará importância da produção de alimentos Calendário Aquícola ...Pág 66 ...Pág 63 ...Pág 65 6 Panorama da AQÜICULTURA, julho/agosto, 2009 da Adece, a visita renderá bons negócios. O maior problema, no entanto, está na fal- ta do selo de Boas Práticas de Produção, exigido pelas empresas importadoras euro- peias. Segundo Glauber, a boa remuneração no mercado interno está levando os produ- tores brasileiros a negligenciar importantes certificações, decisivas na hora de negociar com compradores internacionais. GRAND SHRIMP FESTIVAL – A região da Costa Negra, localizada a 250 km de Forta- leza, no litoral oeste do Estado do Ceará, engloba os municípios de Itarema, Acaraú e Cruz (Baixo Acaraú) e é o mais impor- tante pólo da carcinicultura cearense, com 33 fazendas de engorda, um laboratório de produção de pós-larvas e quatro unidades de beneficiamento. A carcinicultura é uma das maiores atividades da região, gerando aproximadamente 800 empregos diretos e 1.500 indiretos – somados, perfazem um total de 2,59 empregos/hectare. A produ- ção da região em 2008 foi de 7.090tone- ladas e a estimativa para 2009 é o cres- cimento de 15%. Os números motivaram a realização do Grand Shrimp Festival na região, entre os dias 26 e 29 de novembro. O evento engloba o Festival do Camarão de Aracaú 2009; I Festival Internacional do Camarão de Costa Negra e o I Encontro do Arranjo Produtivo Local da Carcinicultura do Litoral Oeste. O objetivo é contribuir para a economia local e estadual e promo- ver o desenvolvimento regional. Segundo Livino Sales, presidente da Associação dos Carcinicultores da Costa Negra (ACCN), os participantes terão a oportunidade de as- sistir a palestras, degustar e conhecer a diversidade que o segmento pode oferecer. Mais informações sobre o Grand Shrimp Festival com a Prática Eventos, telefone (85) 3433-7684, e-mail praticaeventos@ praticanet.com.br GUABI COMPRA FÁBRICA NO CEARÁ – Na primeira semana de agosto, a Guabi concretizou a compra da fábrica de rações da BR Fish, localizada no município de São Gonçalo do Amarante, distante 59 km de Fortaleza (CE). A fábrica, inaugurada em 2006, pertencia a Pecém Agroindustrial Ltda (Grupo Ypioca) e tem capacidade para 800 WAS será no Brasil em 2011 – Por conta da desistência da China. ITAMAR ROCHA – No dia 6 de agosto, o presidente de ABCC, Itamar Rocha, sofreu um grave acidente automobilístico na es- trada que liga João Pessoa a Recife. Depois de ter sido hospitalizado, Itamar já se en- contra em casa, em processo final de recu- peração. O acidente uniu todo o setor aquí- cola em torno da recuperação de Itamar e não faltaram manifestações de carinho e votos para a sua rápida recuperação, inclu- sive de toda a turma da revista Panorama da AQÜICULTURA. ADECE ATRAI COMPRADORES – A pre- sença da Agência de Desenvolvimento do Ceará (Adece) na Feira de Pescado de Bru- xelas deste ano já rendeu frutos. Em agos- to, Frank Molenaar, diretor de compras da holandesa Klaas Pull, uma das maiores be- neficiadoras e distribuidoras de pescado da Europa, veio visitar as fazendas cearenses produtoras de camarão, incluindo a fazen- da Bioshrimp, do município de Aracati, e a Acquacrusta, de Acaraú, ambas certificadas pela Naturland produzindo camarão orgâ- nico. Segundo Glauber Gomes de Oliveira, coordenador da área de camarão e tilápia Notícias & Negócios Notícias & Negócios toneladas/mês, em cada turno. A expecta- tiva da Guabi é que até novembro as rações extrusadas na fábrica cearense já estejam disponíveis para os aquicultores. Além do mercado nacional, a Guabi exporta regular- mente para quatro países: Nigéria, Líbano, Brunei e Angola. Na última feira Expo Agro- Revenda, realizada em Jaguariúna (SP), a Guabi foi premiada como uma das melhores empresas fornecedoras de rações para ani- mais de produção e de companhia. Foram ouvidos 529 revendedores de todo o Brasil, que avaliaram quatro atributos: apoio no ponto de venda, prazo e pontualidade na entrega, condições de compra e qualidade de atendimento comercial. ÁGUAS DE IRRIGAÇÃO – Projeto da Se- cretaria de Agricultura e do Desenvolvi- mento Agrário (Seagri), em parceria com a Agência Espanhola de Cooperação Inter- nacional para o Desenvolvimento, pretende destinar reservatórios artificiais de Alagoas para a produção de pescado e o emprego de trabalhadores demitidos do setor cana- vieiro. A ideia é sustentada por estudo da Seagri que comprova o potencial produtivo das barragens alagoanas. O levantamen- to indica que o Estado de Alagoas abriga 168 barragens de grande e médio porte, 7Panorama da AQÜICULTURA, julho/agosto, 2009 Notícias & Negócios Notícias & Negócios que totalizam o volume de 401.416.669 metros cúbicos de água, em uma área de 4 mil hectares alagados. Neste território, o povoamento de 9.664.000 alevinos e a ins- talação de 26.800 tanques-rede podem ge- rar 36.464 toneladas de pescado por ano. A primeira etapa do projeto, que consiste na instalação de 20 módulos, receberá o investimento de R$ 1,8 milhão do Banco Mundial. O governo do Estado providencia- rá a instalação de 12 tanques-rede, a ração e os alevinos, além da seleção e capacita- ção dos produtores. Entre as 168 barragens pesquisadas, está a Barragem do Bálsamo, em Palmeira dos Índios, com um volume de mais de 18,5 milhões de metros cúbicos de água, pertencente ao governo do Estado. As outras são de propriedade do Departa- mento Nacional de Obras Contra a Seca, da Companhia de Saneamento de Alagoas, da Prefeitura de Arapiraca e das usinas do setor sucroalcooleiro. O governo do Estado negocia com proprietários o uso conjunto dos reservatórios. SEMANA DO PEIXE 2009 – Entre 1º e 15 de setembro, a Semana do Peixe 2009, promovida pelo Ministério da Pesca e Aqui- cultura (MPA) com o apoio do Ministério da Saúde e da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), incentiva o consumo de pescado em todo o país. Desde 2003, a campanha anual desenvolve ações para reforçar a importância da escolha do peixe como alimento saudável e orientar os con- sumidores sobre o que observar na hora da compra. A programação deste ano foi am- pliada de sete para 15 dias para aumentar a abrangência das iniciativas. “Este ano a meta é interiorizar a campanha. Sabemos que não basta oferecer o peixe. Temos que reconstruir a cultura do consumo dos brasileiros”, argumenta o subsecretário do MPA, José Claudenor Vermohlen. Além de procurar facilitar o acesso ao produto, ou- tro desafio da campanha para popularizar o consumo do pescado é diminuir preços. Os peixes oferecidos durante a campanha de- vem estar em média 15% mais baratos. Em 2008, cerca de 70 redes de supermercados aderiram à iniciativa, que envolveu cerca de 1.500 lojas em todo o Brasil. POLI-NUTRI FAZ NOVOS INVESTIMEN- TOS – A Poli-Nutri está investindo cerca de R$ 15 milhões em uma nova unidade fabril, localizada na cidade de Treze Tílias, em Santa Catarina, e em um novo centro de distribuição, na região de Caruaru, no Estado de Pernambuco. Os projetos fazem parte da estratégia de crescimento a longo prazo da empresa, que coincide com as co- memorações dos 20 anos de sua fundação. “Escolhemos a cidade de Treze Tílias devido à proximidade a nossos parceiros. O meio- oeste catarinense é um pólo importante da produção animal”, destaca Leandro Bruze- guez, diretor de nutrição e formulação da Poli-Nutri. O novo centro de distribuição da empresa no Nordeste será inaugurado na cidade de Lajeado, próximo a Caruaru (PE). “O Estado de Pernambuco já conta com a Poli-Nutri como fornecedor e esperamos responder adequadamente ao potencial de crescimento deste mercado”, comenta Aldo Rodrigues Barbugli Filho, gerente nacional de vendas da empresa. SEMANA DE AQUICULTURA DA UFSC – O convite diz tudo: “O curso de Engenharia de Aquicultura da Universidade Federal de Santa Catarina, focado no potencial brasi- leiro para a produção de organismos aquá- ticos, e percebendo as oportunidades que se criam ao redor das atividades ligadas à aquicultura, tem o prazer em convidá- los a participar de mais uma edição da Semana de Aquicultura da UFSC - VII SEMAQUI, de 09 a 13 de novembro no Centro de Ciências Agrárias/UFSC, em Florianópolis - SC”. Como nos anos ante- riores, a programação traz novidades e tendências para uma atividade que vem ganhando destaque no cenário nacional e mundial e inclui os mais renomados profissionais da área, debatendo te- mas atuais. Serão oferecidas palestras, minicursos, oficinas, mesas redondas e apresentação de trabalhos acadêmicos, todos com a finalidade de promover a troca de informações, disponibilizando ao público a possibilidade de fazer bons contatos e bons negócios. Para mais informações e inscrições, acesse o site www.semaqui.ufsc.br FAEP EM NATAL – A Federação das Asso- ciações dos Engenheiros de Pesca do Brasil (FAEP-BR) promoverá eleição para Diretoria Executiva e Conselho Fiscal em 21 de outu- bro, durante o XVI Congresso Brasileiro de Engenharia de Pesca, em Natal (RN). Infor- mações: leopesca76@yahoo.com.br8 Panorama da AQÜICULTURA, julho/agosto, 2009 Notícias & Negócios AQUABIO – Por não terem sido apresenta- das chapas na última eleição, a atual dire- toria da AQUABIO (Sociedade Brasileira de Aquicultura e Biologia Aquática) teve seu mandato prorrogado até 31 de dezembro de 2009. A expectativa do atual presiden- te, João Donato Scorvo, é que até lá novas chapas sejam submetidas. NOVA RAÇÃO NO MERCADO – A Algomix Agroindustrial Ltda. (www.algomix.com.br) está colocando no mercado uma linha com- pleta de produtos para piscicultura, princi- palmente para tilápias. Segundo o diretor comercial da empresa, Saul Jorge Zeuckner, a Linha Piscicultura da Algomix conta com rações para todas as fases de cultivo des- se peixe. A empresa oferece rações para alevinos (reversão sexual de tilápias) com 50% de proteínas e para juvenis com 42% ou 36% de proteínas. A linha tem também rações destinadas às fases de crescimento, com 32% de proteínas, crescimento e engorda, com 28% de pro- teínas e acabamento, com 22% de pro- teínas. Todos os produtos são elaborados com farinhas de peixes, carnes e vísceras de frango, com alta carga de vitamina C e proteínas de alta digestibilidade. EQUIPAMENTOS – A empresa catarinense Quimioter, estabelecida em Campos Novos, oferece aos aquicultores os principais pro- gramas voltados ao tratamento, análise e assessoria técnico-química em análises de água, solos, efluentes industriais e meio ambiente. Segundo Angelo Dalpasquale e Jefferson Scolaro, respon- sáveis pela Quimioter, a empresa fornece soluções tecnológicas de ponta, voltadas para os mais diversos setores da aquicultu- ra, desde equipamentos digitais, kits, vidra- ria para laboratório, filtros e purificadores, até reagentes para análise de água, solos e efluentes. A Quimioter conta também com uma representação e setor de consultoria nos Estados de Pernambuco e Paraíba para o segmento da aquicultura. Mais informa- ções sobre a empresa, seus produtos e ser- viços, no site www.quimioter.com.br PIRARUCU LEGAL E MAIS BARATO – A carne de pirarucu estará mais barata no Amazonas e Estados vizinhos a partir de 2010. O motivo é a construção das duas primeiras indústrias de beneficiamento do peixe na América Latina, nos municípios de Marrã e Fonte Boa, no oeste amazonense. Como atualmente não existe nenhuma in- dústria de processamento desta espécie, há grande variação no preço do produto: no interior, o quilo de pirarucu é vendido a R$ 3,50 e nas capitais o valor pode chegar a R$ 60. A expectativa é que com a cons- trução das indústrias de beneficiamento o quilo do pirarucu seja comprado por R$ 30 em Manaus, primeiro foco consumidor. Os peixes beneficiados serão originários da Reserva de Desenvolvimento Sustentável de Mamirauá, próxima aos municípios que abrigarão as indústrias. No Amazonas, a pesca do pirarucu é proibida durante todo o ano. Neste Estado, a captura do peixe é autorizada somente entre agosto e novem- bro, em áreas de unidades de conservação e sob supervisão do Ibama e da Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Desenvolvi- mento Sustentável (SDS). III ENCONTRO DA AMAZÔNIA - Desde 2007, o Encontro de Negócios da Aquicul- tura da Amazônia (ENAq) é realizado du- rante a Feira Internacional da Amazônia, em Manaus, e este ano ocorrerá de 25 a 29 de novembro, no Novotel Manaus. Serão realizados minicursos, palestras, mesas re- dondas, rodadas de negócios e caravanas. O objetivo é favorecer a elaboração de novas políticas para o desenvolvimento da aqui- cultura no Estado do Amazonas e estimular a eficiência econômica da cadeia produtiva através da verticalização da produção, do incremento da produtividade e das inova- ções tecnológicas. O evento focará também a sustentabilidade e o desenvolvimento da piscicultura familiar, como forma de melho- ria de vida da população interiorana. Infor- mações pelo telefone: (92) 3237-2045. BALANÇA COMERCIAL - A Folha de S. Paulo divulgou levantamento feito pela As- sociação Brasileira de Criadores de Camarão (ABCC) que aponta queda de exportações e aumento de importações de pescados no Brasil, entre 2003 e 2008. Neste perí- odo, a venda de pescados para o merca- do externo registrou queda de 57,88% (de 113.839 para 47.947 toneladas), enquanto a importação cresceu 43,3% (de 152.464 para 218.486). A ABCC indica como prin- cipais fatores a desvalorização cambial e a 9Panorama da AQÜICULTURA, julho/agosto, 2009 Notícias & Negócios Notícias & Negócios carga tributária e reivindica a desoneração tributária para o pescado e mais investi- mentos para o setor. O presidente da ABCC e diretor do Departamento de Agronegócio da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Itamar Rocha, enviou um documento ao ministro Guido Mante- ga afirmando que o setor está “perdendo competitividade, tanto pela desvalorização do dólar como, principalmente, pela eleva- da carga tributária sobre as vendas inter- nas. Isso, aliado à falta de compensações e apoio financeiro, contribuiu para manter esse setor estratégico operando no mínimo de sua capacidade”. Também ouvido pela Folha, o subsecretário de planejamento do Ministério da Pesca e Aquicultura (MPA), José Claudenor Vermohlen, disse que a abertura de novos mercados está entre as metas do MPA. PEIXE PODE PREVENIR DEMÊNCIA SENIL – Estudo publicado na edição de agosto do American Journal of Clinical Nutrition sugere que pessoas que comem peixe diariamente têm até 20% menos chan- ces de desenvolver demência senil, em relação a indivíduos que não consomem pescado regularmente. A pesquisa com- parou cerca de 15 mil pessoas com idades superiores a 65 anos, originárias da Chi- na, Índia, Cuba, Venezuela, México, Peru e República Dominicana. Segundo o co- ordenador do estudo, o epidemiologista clínico Emiliano Albanese, a relação da demência senil com a carne bovina é exa- tamente oposta: quanto mais se come, mais chances de desenvolver a doença. TORTA DE CUPUAÇU PARA RAÇÃO – O bagaço da semente de cupuaçu, também conhecido como torta, que antes era des- cartado como lixo após a extração do óleo utilizado em alimentos e cosméticos, é in- dicado pela Embrapa como eficiente com- ponente de rações para peixes, aves e car- neiros. De acordo com estudo coordenado pelo pesquisador Cláudio Izel, os resíduos da semente do cupuaçu são ricos em mi- nerais, proteínas, fibras e gorduras e po- dem substituir o milho e o farelo de soja utilizados atualmente na engorda dos ani- mais. De acordo com a Embrapa, os pro- dutores de ração do Amazonas precisam importar esses insumos, o que encarece a produção. Testes com ração elaborada com a torta do cupuaçu já mostraram resulta- dos satisfatórios na engorda de tambaqui. É grande a expectativa do setor por mais informações a respeito do desempenho zootécnico dos peixes e das análises dos custos de produção. IMPORTÂNCIA DO RGP – A Lei da Pes- ca, assinada no final de junho pelo presidente Lula no mesmo dia em que sancionou o Projeto de Lei que trans- forma a SEAP em Ministério da Pes- ca e Aquicultura, inclui aquicultores e pescadores entre os beneficiários das linhas de crédito do Pronaf Mais Alimentos. Financiamentos de até R$ 100 mil serão concedidos a produto- res familiares com renda anual de até R$ 110 mil. O prazo para pagamento é de dez anos, sendo três de carên- cia, e taxas de juros de 2% ao ano. Para a aquicultura, os recursos serão restritos a atividades limitadas a dois hectares e poderão ser destinados a aquisição de redes, tanques-rede e estruturas de fixação; infraestrutu- ra de armazenagem de ração e guar- da de equipamentos; kits de análise de água; tubulação; materiais para estrutura de abastecimento e drena- gem de viveiros; aluguel de máquinas para construção de viveiros e mão de obra; e aquisição de matrizes para o primeiro ciclo de produção. Mas tudo isso de nada valerá se o produtor não tiver seu cadastrado no Registro Geral da Pesca (RGP) e seu cultivo não tivero licenciamento ambiental. MESTRADO NO REINO UNIDO – O governo britânico abriu mais uma vez as inscrições para o programa Chevening de bolsas de estudo no Reino Unido. Para Mestrado em Aquicultura, o programa Chevening British Council recebe inscrições até 30 de setem- bro para o ano acadêmico 2010/2011. Com duração máxima de 12 meses, o curso deve ter início em setembro de 2010. Os bol- sistas receberão ajudas de custo e o valor máximo de 12 mil libras esterlinas para pa- gamento da anuidade do curso. O programa é financiado pelo Foreign and Commonwe- alth Office (FCO) e o Ministério das Rela- ções Exteriores britânico e é administrado pelo British Council em todo o mundo. No Brasil, a administração do Chevening está sob a responsabilidade dos escritórios do British Council de Brasília, Recife, Rio de Janeiro e São Paulo. Mais informações: www.chevening.org.br BRASIL + PERU – Missão brasileira lide- rada pelo ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, esteve no Peru para firmar acordos de cooperação técnica em fronteira nas áreas de piscicultura, segurança, saú- de, meio ambiente, energia e agricultura. Na ocasião, técnicos da Embrapa, de en- tidades peruanas e o superintendente de Rondônia, Jenner Tavares Bezerra de Me- nezes, estiveram reunidos para formulação do projeto de cooperação em piscicultura, intitulado Fortalecimento de Capacidades para o Melhoramento da Produção Aquíco- la da Região de Madre de Dios. A iniciativa inclui a capacitação profissional em repro- dução e produção de espécies amazônicas. Durante a execução do projeto, técnicos e aquicultores peruanos irão a Rondônia para participar de treinamentos, estágios e vi- sitas a instalações aquícolas, unidades de beneficiamento e fábricas de ração. INSTITUTO DA PESCA INAUGURA LA- BORATÓRIO – Foi inaugurado em 11 de agosto o Laboratório de Análise de Qua- lidade de Água do Instituto da Pesca, lo- calizado no Parque da Água Branca, em São Paulo. Fruto de um investimento de R$ 477 mil, o laboratório é um dos únicos do país a concentrar análises físicas, quí- micas e biológicas da água, a fim de dar suporte à sustentabilidade ambiental das inúmeras atividades relacionadas ao meio aquático. O laboratório permitirá ao aqui- cultor analisar a qualidade da água antes da sua captação, durante a atividade (para melhorar a produção) e depois de seu uso (para assegurar que a atividade não polua o meio ambiente). “Antigamente, o aqui- cultor se preocupava mais com a qualidade da água que chegava ao empreendimento e não existia qualquer preocupação com a 10 Panorama da AQÜICULTURA, julho/agosto, 2009 qualidade da água que saía dos viveiros. Hoje, essa preocupação já existe”, considera o assessor da diretoria do Instituto de Pesca, Julio Vicente Lombardi. TRANSGÊNICOS – O grupo de pesquisa em Biologia Aplicada da Universidade de Almería, na Espanha, iniciou um estudo para ve- rificar se tilápias e doradas (sea bream) alimentadas com substân- cias transgênicas são prejudiciais para a saúde humana. Segundo o diretor de pesquisas, Tomás Francisco Martínez, os experimen- tos realizados até o momento mostram que os músculos e órgãos dos dois peixes assimilam essas sustâncias modificadas genetica- mente, mas não há risco para o seu consumo. A notícia, publica- da no site www.fis.com, informa que os pesquisadores dividiram os exemplares de dorada e tilápia em três grupos: um alimentado com soja transgênica, outro com soja ecológica e um terceiro que não recebeu nenhum tipo de matéria vegetal. “Mesmo ten- do enriquecido a alimentação dos animais com uma quantidade de alimento transgênico superior à normalmente utilizada, não registramos risco ao consumo desses peixes”, Martínez garante. Segundo o pesquisador, as células dos peixes têm mecanismos naturais para se proteger de elementos estranhos e o consumo de soja transgênica não impactou o funcionamento interno do organismo. A discussão em torno dos transgênicos é polêmica. No Brasil, uma cartilha do Ministério da Agricultura sobre alimentos orgânicos, contendo comentários críticos sobre os transgênicos, teve a distribuição impedida por ação judicial movida pela indús- tria de alimentos transgênicos Monsanto. Ilustrada pelo cartunista Ziraldo, a cartilha está disponível online: http://www.aba-agroe- cologia.org.br/aba2/images/pdf/cartilha_ziraldo.pdf VACINAS – Um estudo norueguês concluiu que o salmão do atlântico desenvolve menos lesões e conquista taxas de cres- cimento mais favoráveis quando recebe doses reduzidas de vacinas. A pesquisa comparou dois grupos de 1.700 peixes, cedidos pela empresa SalmoBreed AS: um recebeu a vacina de referência e outro a experimental, com doses reduzidas. Os resultados, analisados quando os peixes atingiram cerca de 1 kg, apontam crescimento 8% maior nos exemplares que rece- beram a vacina experimental. Além disso, esses peixes apre- sentaram grau inferior de feridas, incluindo menor adesão na cavidade abdominal, menos melanina pigmentada nos órgãos internos e na parede abdominal. As vacinas para peixes ainda não estão à venda no Brasil, mas são utilizadas com sucesso em diversos países. Notícias & Negócios 11Panorama da AQÜICULTURA, julho/agosto, 2009 Notícias & Negócios Notícias & NegóciosOn-line De: Esmar Júnior esmar_pesca@hotmail.com Para: lista@panorama-l.com.br Assunto: Dúvidas/Ictio Bom dia a todos. Poderiam me escla- recer uma dúvida quanto ao tratamen- to a que posso recorrer para a doença dos pontos brancos (Ichthyophthirius multifiliis) em meus japoneses e car- pas? Qual seria o melhor tratamento: formol, verde malaquita ou sal e qual as dosagens? Devo esterilizar o am- biente todo ou só os animais infecta- dos? Desde já agradeço. De: Paola P. de Oliveira Camargo paola@escamaforte.com.br Para:lista@panorama-l.com.br Assunto: Re: Dúvidas/Ictio Bom dia, o produto registrado no MAPA para utilização em tratamentos tanto para Ictio quanto para outros ectoparasitos em peixes é o Masoten da Bayer.Temos um manual de proce- dimentos para a utilização de tal pro- duto. No caso de Ictio, recomenda-se a aplicação do produto a cada 3 dias, com 3 aplicações. De: Felipe Ribeiro felipe_zoo@uol.com.br Para: lista@panorama-l.com.br Assunto: Re: Dúvidas/Ictio Caro Esmar, se os animais estiverem em um sistema de pouco volume e temperatura passível de controle, uma excelente alternativa para dimi- nuir o Ictio, sem uso de qualquer me- dicamento, é manter a temperatura da água acima de 32ºC por dois a três dias. Praticamente qualquer protozo- ário parasita de peixes não sobrevive a essas temperaturas. Se for possível realizar esse manejo, fique atento a sinais de doenças bacterianas, pois elas são favorecidas pela tempera- tura alta. Por fim, verifique as con- dições em que você está mantendo seus animais, pois invariavelmente o aparecimento de enfermidades está relacionado a condições inadequa- das de manutenção e manejo, como por exemplo água de má qualidade e mudança brusca de temperatura. Uma curiosidade: apesar de ser uma “do- ença” de fácil controle, o Ictio está entre os parasitas que mais matam peixes ornamentais, especialmente em condições pós-produção, ou seja, em atacadistas, lojas e aquários e tanques de hobbistas. De: Alvaro Graeff agraeff@epagri.sc.gov.br Para: lista@panorama-l.com.br Assunto: Re: Dúvidas/Ictio Estimados Esmar e Felipe, na criação de jundiás (Rhamdia quelen) o Ictio é peça fundamental para ser eficien- te, ou não, em produção de alevinos. Até teria a coragem de afirmar, não sou especialista nisto, que é o maior problema em termos de produtivida- de e sobrevivência. Os insumos ne- cessários para combater ou controlar ainda são caros, não justificando seu uso. De: Tiago Moraes tiagopesca@hotmail.com Para: lista@panorama-l.com.br Assunto: Re: Dúvidas/Ictio Meus caros, o tratamento mais efi- caz é através de banhos terapêuti- cos em tanques para tal finalidade. Dependendo da intensidade da in- festação, banhos comsal de cozinha 3g/L durante 24 horas costumam re- solver. Em caso de infestações mais severas, banhos com 50g/L de sal de cozinha podem ser usados, mas não ultrapassando 20 minutos. Banhos com formalina, usando 1 ml de for- malina comercial para cada 4 litros de água, podem ser uma alternativa. O banho deve ser repetido por 3 ve- zes com intervalo de 3 dias. Porém, muito cuidado! Façam o teste com um pequeno número de animais para adaptar as dosagens, pois elas va- riam de acordo com a espécie e o estágio de desenvolvimento. De: Álvaro Graeff agraeff@epagri.sc.gov.br Para: lista@panorama-l.com.br Assunto: Re: Dúvidas/Ictio 12 Panorama da AQÜICULTURA, julho/agosto, 2009 Notícias & Negócios On-line Estimado Tiago, trabalhando em cima dos números que propôs, veja: 3 g/L num tanque de alevinagem de 150.000 litros = 450 quilos torna-se inviável técnica e financeiramente. 50 g/L num tanque de alevinagem de 150.000 litros = 7.500 quilos, idem. 1 ml de formalina para cada 4 litros em um tanque de 150.000 litros = 37,5 litros é inviável técnica e financeira- mente. Por isto eu reafirmo que ainda é difícil fazer tratamentos curativos. O que devemos e podemos fazer é a prevenção, apesar de ser difícil. De: Tiago Moraes tiagopesca@hotmail.com Para: lista@panorama-l.com.br Assunto: Re: Dúvidas/Ictio Caro Álvaro, concordo plenamente que a prevenção é a medida mais vi- ável do ponto de vista econômico e ambiental. Porém, muitas vezes não temos o total controle sobre a qua- lidade do ambiente e os “invasores” acometem nossas culturas. Certamen- te aplicar as dosagens recomendadas em tanques com grandes volumes é inviável e por esse motivo frisei: o tratamento mais eficaz é através de banhos terapêuticos em tanques para tal finalidade. Ou seja, tanques espe- cíficos com volumes menores. De: Leopoldo Barreto leopoldomb@yahoo.com.br Para: lista@panorama-l.com.br Assunto: Re: Dúvidas/Ictio Esmar, o sistema só necessita ser es- terilizado se a doença for crônica, ou seja, afete todos os animais do aquário/tanque. O Ictio é recorrente em diversos sistemas, o que se deve atentar é para a questão da boa ma- nutenção da qualidade da água as- sociada à boa alimentação, o que torna o animal “resistente” ao possí- vel ataque de doenças oportunistas. Seguem recomendações específicas para kinguios e carpas: pH 7,0 - 7,4 (pH ácido concorre para o apare- cimento de doenças em kinguios); amônia (próximo a 0,0); boa oxige- nação (devido ao porte dos kinguios e carpas, esses consomem bastante oxigênio); temperatura abaixo dos 28ºC (kinguios e carpas são peixes de águas temperadas); alimentação ba- lanceada (sem excesso de proteína, com vegetal e carboidrato). Essas são algumas sugestões para a boa manu- tenção e possível cura, sem retorno do Ictio e outras doenças. De: Elmo Vieira Rodrigues zootecelmo_vieira@hotmail.com Para: lista@panorama-l.com.br Assunto: Engorda tilápias fêmeas Olá pessoal, sou zootecnista, produ- tor de tilápias e tenho interesse em algum trabalho sobre engorda de fê- meas de tilápia. Realizei alguns ex- perimentos com engorda de tilápias fêmeas e obtive resultados satisfa- tórios. Gostaria de debater sobre o assunto. De: Ricardo Y. Tsukamoto bioconsu@uol.com.br Para: lista@panorama-l.com.br Assunto: Re: Engorda tilápias fêmeas Prezado Elmo, há muitos anos, tive a oportunidade de participar de tra- balhos na Ásia, onde se constatou que a fêmea de tilápia nilótica tem potencial de crescimento superior ao do macho. Porém, como a fêmea ti- picamente desova uma vez por mês e fica sem comer durante o período de incubação (bucal) dos ovos, ela aca- ba acumulando menos peso por in- vestir mais na reprodução. Já quando a fêmea é castrada geneticamente, o 13Panorama da AQÜICULTURA, julho/agosto, 2009 Notícias & NegóciosOn-line seu potencial de crescimento é ple- namente aproveitado e ela, então, cresce mais que o macho. A castra- ção genética é alcançada pela produ- ção de lotes triplóides de tilápia, tal como se faz com truta (veja artigo sobre uso da triploidia em truta no Brasil na edição 113 da Panorama da AQÜICULTURA). Além disso, em con- traste à agressividade dos machos, a tilápia fêmea é dócil, o que mantém baixo o estresse competitivo e ho- mogeneíza o crescimento de toda a população. De: Elias de Souza Souza elipeixe@hotmail.com Para: lista@panorama-l.com.br Assunto: Re: Engorda tilápias fêmeas Caro Ricardo, o que aconteceria com fêmeas (normais, não sendo triplói- des) criadas em tanques sem a pre- sença de machos; elas fariam o mes- mo processo de desova e ficariam sem comer, atrasando o crescimento? De: Ricardo Y. Tsukamoto bioconsu@uol.com.br Para: lista@panorama-l.com.br Assunto: Re: Engorda tilápias fêmeas Elias, essa pode ser uma estratégia interessante. No sul do Japão, ha- via uma criação comercial de tilápia nilótica em tanque de concreto, em que a alta densidade, de 40 kg/m3, era mantida para inibir a reprodução e obter maior taxa de crescimento. Possivelmente, fatores como alta densidade e falta de substrato para postura possam vir a inibir o desen- volvimento gonadal. É um bom tema para pesquisa e tese. De: Elias de Souza Souza elipeixe@hotmail.com Para: lista@panorama-l.com.br Assunto: Re: Engorda tilápias fêmeas Olá, Ricardo, muito obrigado pela res- posta; perguntei sobre isso porque tive informação de um trabalho reali- zado na Bahia, em Paulo Afonso, em que alevinos produzidos através de retrocruzamento macho f-1 (nilótica x zanzibar) com fêmea nilótica foram criados em tanque-rede e os ovários das fêmeas com idade de 6 meses fica- ram atrofiados e imaturos. Foi sugerido que a fêmea canalizou a energia para o seu crescimento e não para o desen- volvimento gonadal. Já essas mesmas fêmeas, criadas em tanque escavado, produzem normalmente. De: Ricardo Y. Tsukamoto bioconsu@uol.com.br Para: lista@panorama-l.com.br Assunto: Re: Engorda tilápias fêmeas Prezado Elias, o gargalo para o cresci- mento da tilápia está em que o orga- nismo da fêmea diplóide está progra- mado para formar ovos maduros, em um ciclo aproximadamente mensal, com base contínua. Sem a presença de machos, os ovos gerados acabam sendo perdidos depois de atingir o estágio maduro. Desta forma, o cor- po da fêmea investe “em reprodução” quase todos os nutrientes e energia que obteve da alimentação. Em um animal selvagem, na natureza, tal investimento maximizaria a perpetu- ação da espécie. Entretanto, em um cultivo que objetiva a produção de biomassa, isso significaria desperdi- çar mensalmente quase tudo o que o peixe conseguiu acumular. Por isso, considero que, sem machos presentes, a taxa de crescimento da população de tilápias fêmeas diplóides poderia até aumentar um pouco, pela menor pressão competitiva. No entanto, a maior parte do recurso que foi obtido da alimentação continua a ser jogado fora nas fêmeas diplóides. 14 Panorama da AQÜICULTURA, julho/agosto, 2009 Boas práticas no transporte de peixes vivos Parte 7 A Panorama da AQÜICULTURA fi- naliza nesta edição uma série de 7 artigos sobre práticas eficientes e responsáveis empregadas no manejo na criação de peixes. O termo “manejo” aqui se refere às inter- venções realizadas durante a criação. Estas intervenções buscam, dentre inúmeros obje- tivos, otimizar a produção e a rentabilidade nas pisciculturas, de maneira compatível com a manutenção de adequada qualidade ambiental, dentro e fora do empreendimento, possibilitando a oferta de produtos seguros ao consumidor. Por: Fernando Kubitza, Ph. D. Acqua & Imagem Serviços Ltda. fernando@acquaimagem.com.br Manejo na produção de peixes Um transporte bem executado premia os esforços realizados durante todo o processo de produção de uma pis- cicultura. Por ser uma operação delicada e de alto risco, que envolve cargas vivas de alto valor, não basta apenas contar com equipamentos eficientes, sendo necessário investir na capacitação técnica do pessoal responsável por essaetapa. É preciso também compreender os fatores relacionados à produ- ção, ao manuseio e ao transporte, que prejudicam a condição geral dos peixes e podem provocar alta mortalidade após o transporte. Mortalidades durante e após o transporte não apenas resultam em grandes perdas financeiras, mas também prejudicam a imagem e credibilidade do transportador / forne- cedor dos peixes. Assim, é necessário conhecer e implementar procedimentos eficazes tanto no preparo quanto na condução desses peixes, de forma a minimizar e/ou aliviar os efeitos do estresse, assegurando maior sobrevivência dos animais. Este artigo final da série sobre “Manejo na Produção de Peixes” apresenta ao leitor os principais fundamentos e estratégias para uma melhor condução do transporte de peixes vivos. 15Panorama da AQÜICULTURA, julho/agosto, 2009 M anejo Fatores de produção que influenciam o sucesso do transporte As condições a que os peixes são submetidos durante a produção influenciam decisivamente o resultado do transporte (ver Quadro 1). Animais nutridos inadequadamente ou estres- sados por baixos níveis de oxigênio dissolvido nos tanques de criação geralmente sofrem mais com o manejo da despesca e o transporte. Por isso, podem apresentar maior mortalidade, quando comparados a peixes mantidos sob melhores condições durante a produção. Peixes com alta infestação de parasitos (como trico- dinas, monogenóides, mixosporídeos e outros microrganismos que causam inflamação e lesão nas brânquias) também podem apresentar alta mortalidade durante e após o transporte. O ma- nuseio grosseiro durante as despescas deve ser evitado, como: as passagens excessivas de rede nos tanques, que levam os peixes à exaustão e aumentam as chances de ferimentos em animais que lutam para fugir do arrasto; a suspensão excessiva de partículas de argila e material orgânico para a coluna d’água, que provoca irritação, inflamação e lesões nas brânquias; e o confinamento prolongado na rede no momento da captura e do carregamento, que resulta em baixo oxigênio localizado e acentua as reações de estresse, causando perda excessiva de sais do sangue para a água e a redução da resposta imunológica dos peixes. Isso tudo aumenta a mortalidade de peixes após o transporte. c) aumento na concentração e amônia total; d) aumento na concentração de sólidos em suspensão (fezes); e) aumento na população microbiana (bactérias em geral). Alterações fisiológicas nos peixes devido ao manuseio e transporte Diversas alterações fisiológicas ocorrem nos peixes em consequência do manuseio e do transporte. Os efeitos dessas alterações devem ser minimizados para que se obtenha alta sobrevivência dos peixes após o transporte. Durante o manuseio dos peixes para o carregamento nas caixas de transporte, tem início a Reação Geral de Es- tresse. Essa reação é marcada pela seguinte sequência de acontecimentos: a) ocorre um aumento na concentração de adrenalina e cortisol no sangue dos peixes submetidos ao manuseio; b) a adrenalina promove a elevação no nível de glicose no sangue, preparando o peixe para uma situação de emergência; c) o cortisol, por outro lado, aumenta a permeabilidade das membranas das células branquiais, o que facilita a perda de sais do sangue para a água. Isso prejudica a manutenção do equilíbrio de sais no sangue dos peixes, causando um desequilíbrio osmorregulatório. O cortisol ainda deprime o sistema imunológico e reduz a resposta inflamatória nos peixes, favorecendo a infecção dos peixes por agentes patogênicos e reduzindo a capacidade de reparação dos tecidos (ferimentos) após o transporte; d) ao longo do transporte os peixes são gradualmente se- dados devido à elevação na concentração do gás carbônico na água e, consequentemente, no sangue. O gás carbônico tem um efeito sedativo (anestésico) nos peixes e, em alta concentração na água, dificulta a respiração dos peixes, podendo causar asfixia, particularmente sob condições de baixo oxigênio na água de transporte. A hipercapnia (ou seja, a elevação da concentração de gás carbônico no sangue) altera o equilíbrio ácido-base no organismo dos animais, podendo levar os mesmos à morte; e) os níveis de amônia no sangue dos peixes tendem a se elevar em função do aumento na concentração de amônia na água de transporte, dificultando a excreção passiva de amônia do sangue para a água. Estratégias de preparo dos peixes para o transporte A sobrevivência após o transporte é muito influen- ciada pelo preparo dos peixes para o transporte. Este pre- paro geralmente envolve os seguintes procedimentos: a) jejum antes da despesca e do transporte; b) tratamento dos peixes para eliminação de parasitos • Baixo oxigênio na água na semana que precede ao transporte; • Despesca grosseira e exaustiva para os peixes (diver- sas passagens de rede no tanque; elevada suspensão de argila e material orgânico na água; e prolongado confinamento nas redes antes do carregamento); • Inadequada nutrição e alimentação durante o cultivo; • Infestação por parasitos nas brânquias, que prejudi- cam a respiração, a excreção de amônia e a osmorre- gulação (equilíbrio de sais no sangue) dos peixes. Quadro 1. Fatores adversos na produção e despesca que aumentam a mortalidade dos peixes após transporte Alterações que ocorrem na qualidade da água durante o transporte No transporte de peixes vivos, uma determinada carga de peixes é confinada em um volume fixo de água (seja em sacos plásticos ou em caixas de transporte). Na água de transporte os peixes respiram (consomem oxigênio e excretam gás carbônico), eliminam amônia do sangue para a água através das brânquias, excretam sua fezes (material orgânico) e liberam parte do seu muco. Assim, ao longo do transporte ocorrem as seguintes mu- danças em alguns dos parâmetros de qualidade de água: a) aumento na concentração de gás carbônico; b) redução no pH da água (devido ao acúmulo de gás carbô- nico na água); 16 Panorama da AQÜICULTURA, julho/agosto, 2009 M an ej o (extremamente importantes no preparo de pós-larvas e alevinos para o trans- porte); c) manutenção dos peixes em ambiente adequado para finalizar a depuração (esvaziamento do trato digestivo) antes do transporte. Jejum antes da despesca e do trans- porte - peixes mantidos em jejum con- somem menos oxigênio, excretam menos amônia e gás carbônico, toleram melhor o manuseio envolvido nas despescas, clas- Vista superior do tanque-rede posicionado dentro do tanque de depuração Figura 1. Representação de um tanque-rede para depuração de alevinos, posicionado dentro de um tanque de depuração, suspenso cerca de 20 cm do fundo. Nas fotos podem ser visualizados tanques para a depuração de alevinos usando tanques-rede suspensos do fundo do tanque de depuração Vista lateral de um tanque de depuração com um tanque-rede suspenso do fundo No caso de peixes de grande porte, destinados aos pesque-pagues ou ao mercado vivo, a depuração normalmente é feita no próprio tanque de cultivo, suspendendo a oferta de ração. No caso do transporte de tilápias, carpas e outros peixes que não depuram bem nos tanques de terra, é necessário renovar a água das caixas após o carregamento. Em virtude do estresse do manuseio, boa parte das fezes é excretada cerca de 30 a 60 minutos após o carregamen- to. Assim, se o transporte for longo (4 horas ou mais, por exemplo) vale a pena renovar a água das caixas após esse tempo, de forma a eliminar grande parte das fezes excretadas. Isso evita a proliferação excessiva de bactérias e o aumento excessivo na concentração de amônia na água de transporte. A adição de sal e demais produtos na água de transporte deve ser feita após esta renovação. Abaixar a temperatura da água nas caixas de transporte é uma boa prática, em particular no caso dos peixes que não depuram bem. Esse abaixamento de temperatura é feito com o uso de gelo. Temperaturas entre 19 e 22oC são recomendáveis durante o transporte de peixes vivos. Além de reduziro consumo de oxigênio e a excreção de gás carbônico e amônia dos peixes, temperatura mais baixa reduz a excreção fecal e a velocidade de multiplicação de bactérias na água. Tratamento dos peixes para eliminar parasitos - previamente à despesca e preparação dos peixes para o transporte, deve ser feita uma análise microscó- pica de raspados do muco das brânquias e do corpo dos peixes. Isso auxilia na verificação da presença de parasitos e determinação da necessidade de tratamento dos peixes antes do transporte. Infestações moderadas ou severas de parasitos podem aumentar a mortalidade dos peixes após o transporte, particularmente em pós-larvas e pequenos alevinos. Os peixes devem então ser tratados previamente ao transporte para reduzir ou mesmo eliminar a carga de parasitos. A tricodina, por exemplo, é um protozoário parasito muito comum em pós-larvas e alevinos e que pode resultar em elevada mortalidade após transporte. Este parasito pode ser eliminado dos peixes com banhos de formalina de 20 a 30 minutos na concentração de 80 a 100 ml de formalina por 1.000 litros de água. Estes banhos geralmente são dados nas próprias sificações, transferências e transporte. Peixes em jejum defecam menos na água de transpor- te. Portanto, os peixes devem ser mantidos em jejum por 24 a 48 horas antes do transporte. Em geral, quanto maior o peixe mais prolon- gado deve ser o jejum. O tempo de jejum deve ser mais prolongado para peixes adultos (48 a 72 horas), mais curto para alevinos (24 a 48 horas) e ainda mais curto para pós-larvas (12 a 24 horas). Peixes carnívoros precisam de um jejum mais prolongado do que os pei- xes onívoros ou herbívoros para o completo esvaziamento do trato digestivo. Aplicar um bom jejum é relativamente fácil quando se tra- balha com peixes carnívoros. Basta suspender o fornecimento da ração nos próprios tanques de criação cerca de 48 horas antes da despesca e carregamento para o transporte. Estes pei- xes geralmente não utilizam alimento natural (plâncton e outros organismos), tampouco comem detritos presentes nos tanques. Por outro lado, para peixes como as tilápias e as carpas (comum e cabeçuda, por exemplo), que aproveitam alimentos naturais disponíveis nos tanques de criação, apenas suspender a oferta de ração não garante um adequado jejum. Alevinos destas espécies devem ser depurados em local adequadamente preparado para isso. Estes peixes geralmente comem as próprias fezes durante a depuração, impossibilitando um adequado jejum em tanques convencionais para a depuração. Desse modo, a depuração de alevinos e ju- venis destas espécies deve ser feita dentro de hapas ou tanques-rede (malha 5 mm ou maior), posicionados cerca de 20 a 30 cm acima do fundo dos tanques de depuração (Figura 1). Dessa forma as fezes excretadas passam pelas malhas dos tanques-rede e se depositam no fundo do tanque de depuração, fora do alcance dos peixes. Estes tanques- rede ou hapas também facilitam a captura dos peixes para o carregamento, agilizando a operação. 17Panorama da AQÜICULTURA, julho/agosto, 2009 M anejo caixas de transporte no momento da transferência dos alevi- nos dos tanques de cultivo para os tanques de depuração. O tratamento também pode ser realizado no próprio tanque de depuração, desde que haja a possibilidade de se renovar a água do tanque para reduzir a concentração do produto. Durante o banho com formalina deve ser monitorado continuamente o oxigênio dissolvido, pois a formalina aplicada na água, por si só, consome grande quantidade de oxigênio. A oxigenação da água através de difusores de ar e injeção de oxigênio ge- ralmente é necessária. Banhos prolongados (12 a 24 horas) com sal na dose 10g/litro (10 kg / 1.000 litros) podem ajudar a reduzir a infestação por parasitos (monogenóides, epistylis, piscinoodinium), bem como impedir a infecção dos peixes por fungos (Saprolegnia) e bactérias como a Flavobacterium columnaris (que causa podridão de nadadeiras e boca de al- godão nos peixes (“columnariose”). Estes banhos podem ser aplicados durante a depuração. Em casos onde não é viável transferir os peixes para os tanques de depuração (principalmente no caso de grandes quantidades de peixes de tamanho de mercado) o tratamento para eliminação de parasitos deve ser feito nas próprias caixas de transporte antes de iniciar a viagem. Após o tratamento é necessário renovar a água da caixa para evitar a exposição dos peixes por tempo prolongado aos medicamentos usados. Além da formalina e do sal há outros produtos que podem ser utilizados nos tratamentos preventivos de parasitos. Consulte sempre um profissional especializado para discutir as possi- bilidades de tratamento preventivo e para prescrever as doses de medicamentos e profiláticos a serem utilizadas. Manutenção de adequado ambiente para a depuração dos peixes - muitas vezes a depuração é realizada em tanques especificamente projetados para esta operação. Os peixes são estocados nestes tanques em altas densidades e os níveis de oxigênio são mantidos através de aeração ou renovação de água. Durante a depuração é necessário ficar atento ao oxigênio dissolvido na água. Peixes submetidos a baixas concentrações de oxigênio durante a depuração podem apre- sentar alta mortalidade após o transporte. Salinizar a água da depuração entre 5 a 8ppt (5 a 8 kg de sal por 1.000 litros de água) melhora a condição do peixe durante a depuração e previne a infecção dos peixes por fungos e bactérias externas (algo que pode ocorrer com frequência após o estresse relacio- nado à despesca e ao manejo de classificação que precede ao transporte). A salinização da água também evita que os peixes percam excessiva quantidade de sal do sangue para a água devido ao estresse do confinamento durante a depuração. Esta salinização somente é possível quando não se renova a água nos tanques de depuração ou quando os tanques de depuração contam com um sistema de recirculação de água. O preparo da água para o transporte A água usada no transporte deve ser limpa, livre de ma- terial orgânico, argila em suspensão e de plâncton (Figura 2). Normalmente é utilizada água de poços (artesianos ou poços comuns), água de represas com alta transparência, água dos canais de abastecimento e, às vezes, até mesmo água do abastecimento municipal, tomando-se o cuidado de eliminar o cloro residual nesta última. O condicionamento da água para o transporte - diversos produtos podem se usados no condicionamento da água. Den- tre alguns podem ser relacionados os neutralizadores de cloro (como o tiossulfato de sódio), compostos tamponantes que evitam a redução do pH da água (tampões a base de fosfato); misturas comerciais de sais que auxiliam na redução dos ní- veis de gás carbônico na água e na manutenção do equilíbrio osmorregulatório dos peixes; substâncias parasiticidas, fungicidas e bactericidas (geralmente muito usados no transporte de peixes ornamentais); compostos anestésicos que sedam e acalmam os peixes durante o transporte; dentre outros. O sal comum (sal marinho) é um dos produtos de maior benefício para uso na água de transporte e fundamental para melhorar a sobrevivência dos peixes após o transporte. Doses de sal entre 6 e 8 kg/1000 litros devem ser utilizadas O sal estimula a produção de muco e reduz as perdas de sais do sangue para a água, facilitando o ajuste da osmorregulação. Além disso, reduz a ocorrência de infecções fúngicas e bacterianas após o transporte. Além do sal, o gesso (sulfato de cálcio) e o cloreto de cálcio também são produtos que podem ser usados na água de transporte com a finalidade de aumentar a dureza da água (teor de cálcio) e, assim, auxiliar os peixes na manutenção do equilíbrio osmorregulatório. A dose de gesso usada é cerca de 60 a 80g/ 1.000 litros de água e o cloreto de cálcio ao redor de 40 a 60g/ 1.000 litros. Quando a água utilizada no transporte for muito ácida (pH < 6,5) deve ser adicionado bicarbonato de sódio naágua. Isso evita que o pH da água ao final do transporte fique muito baixo a ponto de comprometer a sobrevivência dos peixes. A quantidade de bicarbonato aplicada deve ser ao redor de 60 a 100 g/ 1.000 litros. Figura 2. A água usada no transporte deve ser limpa (sem material orgânico ou argila em suspensão) e livre de contaminantes. Geralmente é utilizada água de poço ou água de um reservatório ou canal usado para o abastecimento da piscicultura 18 Panorama da AQÜICULTURA, julho/agosto, 2009 M an ej o Figura 3. Esquema de abaixamento da temperatura para embalagem de peixes em sacos plásticos. Os peixes que serão embalados então no tanque de depuração a uma temperatura de 28oC. Uma quantidade de peixes é transferida do tanque de depuração (com o auxílio de uma peneira de padrão de medida) para a caixa intermediária (geralmente uma caixa de isopor com água cerca de 4 a 5ºC abaixo da temperatura no tanque de depuração. Na caixa intermediária é provida aeração e os peixes ficam ali cerca de 2 minutos, para que a temperatura corporal abaixe dos 28oC para cerca de 23-24oC. Após isso, os peixes são transferidos, com o uso de medidas padrões, para os sacos plásticos com água entre 19 e 20ºC para a embalagem final. Os sacos plásticos podem ser transportados em caixas de isopor (que mantém a temperatura baixa por mais tempo) ou em caixas de papelão (que não tem um isolamento térmico tão bom quanto a de isopor, mas é melhor do que transportar as embalagens soltas). ser feita colocando pedaços de gelo (gelo em barra partido) diretamente na água. Caso o transporte seja de alevinos e somente haja disponibilidade de gelo em cubo, o gelo deve ser colocado dentro de um saco plástico sem furo, o qual será imerso na água para abaixar a temperatura. Jogar gelo em cubo diretamente na água pode ocasionar a morte de pequenos ale- vinos por hipotermia (baixa temperatura corporal), pois estes acabam entrando no interior dos cubos e, literalmente, tomam uma gelada. Durante a adição de gelo deve ser monitorado o abaixamento da temperatura. Tão logo a temperatura chegue ao valor desejado, se houver gelo excedente na água da caixa de transporte, este deve ser removido. O preparo da água para uso em sacos plásticos pode ser feito em caixas de isopor, adicionando gelo até atingir a temperatura desejada. Caso a temperatura da água na depuração esteja mais do que 4 a 5oC acima da temperatura desejada na embalagem de transporte, antes dos peixes serem colocados nos sacos plásticos com a água mais fria, estes devem ser imersos por cerca de 2 minutos em uma água de temperatura intermediária. Veja o exemplo na Figura 3. O isolamento térmico das caixas - idealmente, as caixas de transporte devem possuir isolamento térmico, para evitar a elevação da temperatura durante o transporte. No transporte em sacos plásticos, onde se utiliza pequenos volumes de água, é recomendável o uso de caixas de isopor ou caixas de papelão com revestimento interno de isopor (Figura 4). Não dispondo deste tipo de caixa, uma alternativa é usar caixas de papelão forradas internamente com uma camada espessa de papelão para reduzir a condução de calor até a embalagem com os peixes. Sempre que possível procure evitar a expo- sição das caixas ao sol. Caixas para transporte de peixes a granel devem ter isolamento térmico, permitindo o transporte de peixes sob qualquer tempo, sem que haja grande elevação ou redução na temperatura da água no interior das caixas. O controle da temperatura da água no transporte A redução na temperatura da água usada no transporte é fundamental para a segurança, a eficiência e o sucesso do transporte. A baixa temperatura reduz o metabolismo dos peixes, diminuindo o consumo de oxigênio e a excreção de gás carbônico e amônia. Além disso, retarda o desenvolvimento de bactérias na água. Isso permite transportar cargas maiores de peixes a distâncias mais longas. Temperaturas adequadas para o transporte de pei- xes vivos - durante o transporte a temperatura da água deve ser mantida entre 19 e 22oC para peixes tropicais. Temperaturas mais baixas, entre 16 e 18oC podem ser utilizadas para o transporte de espécies de peixes de clima temperado, como o catfish, black bass, carpas, “gold fish” ou “kinguiô”, entre outros. Peixes de águas frias, como as trutas por exemplo, geralmente são transportados a temperaturas entre 8 e 15oC. O abaixamento da temperatura - no carregamento dos peixes, a água que será usada no transporte já deve estar cerca de 4 a 5oC mais fria do que a água onde estão os peixes. Por exemplo, se a água do tanque de depuração ou de criação estiver com 28oC, a água na caixa de transporte deve estar a 23 ou 24oC. Se necessário, a temperatura da água pode ser abaixada com o uso de gelo. Conforme o carregamento vai sendo realizado, mais gelo deve ser colocado na caixa de transporte para manter a temperatura da água 4 a 5ºC mais fria do que a água no tanque de depuração. Finalizado o car- regamento, se ainda for necessário, mais gelo deve ser adicionado para que a temperatura chegue à faixa de 19 a 22oC, ideal para o transporte. A adição de gelo pode Tanque de depuração 28oC Caixa intermediária 23oC Embalagem final 19-20oC 19Panorama da AQÜICULTURA, julho/agosto, 2009 M anejo Figura 4. Caixa de papelão com revestimento interno de isopor para conferir melhor isolamento térmico da embalagem necessário para o carregamento (ou embalagem), para a viagem (transporte) e para a soltura no destino; c) do tamanho ou peso médio dos peixes a serem transportados; d) da espécie de peixe; dentre outros. Quanto mais baixa for mantida a temperatura da água, quanto maior for o tamanho dos peixes e quanto mais rápido for o transporte, maior pode ser a carga de peixes no transporte (em kg/ m3 ou em g/litro). Cargas de peixes nas caixas de transporte - com o uso de oxigênio, cerca de 60 a 80 kg/m3 é uma carga adequada no transporte de alevinos e juvenis e 200 a 250 kg/m3 é uma carga adequada para o transporte de peixes que finalizaram a engorda. Cargas maiores podem ser usadas, dependendo da distância do transporte, da temperatura da água nas caixas de transporte, da qualidade do equi- pamento, da possibilidade de troca de água durante o transporte, entre outros fatores. Cargas de peixes em sacos plásticos - para pequenas pós-larvas as cargas devem ficar entre 20 a 30g de pós- larvas por litro de água. No caso de alevinos as cargas podem variar entre 80 a 200g/litro, dependendo do tempo de transporte, do tamanho dos peixes, da temperatura da água, dentre outros fatores. No transporte em sacos plás- ticos a quantidade de oxigênio é limitada e os níveis de O ajuste adequado da carga de peixes a ser transportada A carga de peixes possível de ser transportada (em sacos plásticos ou granel em caixas de transporte) depende de diversos fatores: a) da previsão da temperatura da água em que se realizará o transporte; b) previsão do tempo 20 Panorama da AQÜICULTURA, julho/agosto, 2009 M an ej o gás carbônico ficam mais elevados. A quantidade de oxigênio presente na embalagem deve ser suficiente para atender o consumo dos peixes durante o transporte. O consumo de oxigênio, expresso em gramas de O2 por quilo de peixe por hora (g O2/ kg/ h) de peixe/hora, varia em função da espécie e do tamanho dos peixes, da temperatura da água, da condição de jejum dos peixes, entre outros fatores. Alevinos em jejum geralmente consomem cerca de 1 a 1,5 g O2/ kg/ h. Cada litro de oxi- gênio na embalagem equivale a 1,4 g de oxigênio. Assim, para suprir a demanda de oxigênio de um quilo de alevinos a cada hora de transporte, teoricamente seria necessário pelo menos 1 litro de oxigênio. No entan- to, nem todo o oxigênio colocado na embalagem se difunde para a água e, também, não é possível assegurar que a temperatura da água na emba- lagem não se elevará demasiadamen- te duranteo transporte, aumentando o consumo de oxigênio pelos peixes acima do previsto (a não ser que as embalagens sejam colocadas dentro de caixas de isopor). Adicional- mente, durante o transporte há uma elevação nos níveis de gás carbô- nico, dificultando a respiração dos peixes. Assim, é necessário manter uma concentração mais elevada de oxigênio na água da embalagem. Por tudo isso, é recomendável considerar a necessidade de prover cerca de 2 litros de oxigênio para cada quilo de alevinos por hora. No Quadro 2 é apresentado um exemplo de como estimar o volume de oxigênio necessário para uma determinada carga de alevinos no transporte em sacos plásticos. Na prática, como o volume das embalagens é fixo, é recomendável que a proporção entre o volume de oxigênio e o de água seja pelo menos 5:1. Assim se uma embalagem tem volume total de 60 litros, é possível usar até 10 litros de água, deixando espaço para 50 litros de oxigênio. Monitoramento contínuo e ajuste do fluxo de oxigênio No transporte de peixes a granel é possível regular o fluxo de oxigênio em cada caixa. Isso é feito com base nas leituras de oxigênio re- alizadas periodicamente ao longo do transporte. Essas leituras, juntamente com a marcação do fluxo de oxigênio, devem ser anotadas em uma tabela de acompanhamento do transporte (ver exemplo na tabela na página 21) e ser- virão como base para o ajuste do fluxo de oxigênio ao longo do transporte. Portanto, o oxímetro é uma ferramen- ta fundamental para o transportador de peixes, conferindo segurança e economia no transporte. Para fins didáticos e de com- preensão da regulagem do oxigênio, a operação de transporte será aqui divida em três momentos ou etapas: 1) o momento do carregamento dos peixes; 2) mais ou menos a primeira metade do percurso; 3) a segunda metade do percurso. Durante o carregamento o oxigênio dissolvido deve ser mantido acima de 4mg/L. Os peixes estão extremamente agita- dos e o consumo de oxigênio é muito acelerado. Assim, a regulagem da vazão de oxigênio no fluxômetro é mantida mais elevada. Logo após o carregamento e início da viagem, os peixes começam a se acalmar, e o consumo de oxigênio se reduz. Por- tanto, é necessário realizar o ajuste no fluxo de oxigênio, para evitar que este se eleve demasiadamente. Cerca de 30 a 40 minutos após o carregamento, ainda no início da viagem, deve ser feita uma checagem do oxigênio (Figura 5) e ajustado o fluxo de oxigênio se necessário. Com mais uma hora de transporte deve ser realizada uma nova medição nas caixas e um novo ajuste no fluxo do oxigênio. Nesta primeira metade do transporte a meta é manter o oxi- gênio próximo da saturação, ou seja, entre 7 e 8mg/l. "O transporte de peixes vivos já se tornou um negócio para muitas pessoas no Brasil. Diversos transportadores e produtores têm investido consideráveis recursos na compra e adaptação de caminhões, na aquisição de caixas de transporte e equipamentos auxiliares, na manutenção do caminhão, combustíveis, etc.. No entanto, muitos ainda realizam a operação de transporte de forma empírica, sem os conhecimentos mínimos para conduzir de forma eficiente e segura esse trabalho." 21Panorama da AQÜICULTURA, julho/agosto, 2009 Após o oxigênio ter estabilizado neste valor as leituras de oxigênio podem ser realizadas de duas em duas horas. A elevação do gás carbônico na água, conforme o transporte progride, vai provocando uma sedação nos peixes e o con- sumo de oxigênio dos mesmos vai ficando cada vez menor, sendo geralmente necessário reduzir o fluxo de oxigênio a cada leitura realizada. A partir da segunda metade do transporte, onde já ocorrem níveis mais elevados de gás carbônico na água, é recomendável manter o oxi- gênio dissolvido em valores um pouco acima da saturação, entre 9 e 11mg/l de forma a compensar o elevado gás carbônico e evitar que os peixes tenham dificuldade em respirar. Na chegada ao destino final, durante a aclimatação dos peixes à água dos tanques onde eles serão soltos, o oxi- gênio deve ser novamente mantido próximo da saturação. Isso diminui o risco de ocorrer embolia nos peixes após a soltura. A troca de água durante a aclimatação é feita para igualar a temperatura (geralmente mais baixa nas caixas de transporte) e o pH, para reduzir a concentração de amônia e gás carbônico na água. Durante a aclimatação o oxigênio pode ser novamente mantido próximo de 7 a 8mg/litro, valores adequados para realizar a soltura dos peixes. Embolia - durante o transporte há o risco de ocorrência de supersaturação de gases na água (tanto o oxigênio, como o gás carbônico). Essa supersaturação pode provocar a embolia gasosa nos peixes. Uma condição particular que favorece a ocorrência de embolia é a soltura dos peixes diretamente dos tanques ou das embalagens de transporte para uma água mais quente, sem uma adequada aclimatação dos peixes à nova condição de água. Assim, durante a soltura dos peixes o ideal é que o oxigênio na água das embalagens ou das caixas de transporte tenha sido abaixado para valores próximos da saturação. • Volume total da embalagem (no ponto em que esta é amarrada) - 70 litros; • Volume de água - 10 litros; • Carga máxima de alevinos - 200g de alevinos/litro de água ou 2kg de alevinos por embalagem. • Para estimar o volume máximo de oxigênio que cabe nesta embalagem é preciso subtrair, do volume total, o volume de água mais o volume deslocado pelos peixes, que neste caso foi de 2 litros (1 litro para cada quilo de peixe). Assim, o volume máximo de oxigênio na embalagem equivale a 58 litros (70 - 10 - 2). • Para cada quilo de peixe estocado, é necessário prover 2 litros de oxigênio por hora. Assim, para os 2 quilos de alevinos na embalagem, será necessário colocar 4 litros de oxigênio para cada hora de trans- porte. Como a embalagem comporta até 58 litros de oxigênio, o tempo máximo que este oxigênio dura é de 58/4 - cerca de 14 horas de transporte. • Neste mesmo exemplo, se a carga de peixes for reduzida pela metade (ou seja, 1kg de alevinos), estes mesmos 58 litros de oxigênio podem durar até 28 horas de transporte. Quadro 2. Exemplo de como prever o tempo máximo de transporte de alevinos em um saco plástico Tabela. Registro do oxigênio dissolvido e do fluxo de oxigênio nas caixas de transporte Figura 5. Monitoramento do oxigênio nas caixas de transporte antes do início da viagem. O oxímetro é um equipamento indispensável no transporte de peixes a granel. Com o oxímetro é possível monitorar o oxigênio e realizar o ajuste do fluxo deste gás em cada caixa, evitando falta ou excesso de oxigênio. Com o uso do oxímetro o transporte é realizado de forma segura e com grande economia de oxigênio. A economia de oxigênio em alguns meses de transporte equivale ao valor investido na compra do oxímetro 22 Panorama da AQÜICULTURA, julho/agosto, 2009 23Panorama da AQÜICULTURA, julho/agosto, 2009 M anejo Aclimatação dos peixes durante a soltura Ao final do transporte é necessário realizar a aclimatação dos peixes à água onde estes serão estocados. Em geral, a água de transporte difere da água do destino na temperatura, na concentra- ção de oxigênio e gás carbônico, no pH, na salini- dade, dentre muitos outros parâmetros. Assim, é necessário fazer uma mistura gradual da água de transporte com a água do tanque de destino. Essa mistura é feita introduzindo a água do tanque de destino nas caixas de transporte (através de bom- ba ou mesmo com baldes), drenando simultanea- mente a água da caixa de transporte. No caso do transporte feito em sacos plásticos, estes devem ser abertos e gradualmente a água do tanque de destino deve ser introduzida na embalagem. Isso é feito até que o volume da água no interior da embalagem seja pelo menos triplicado, ponto em que as diferenças entre a água da embalagem e a do tanque foram suficientemente minimizadas e já é possível soltar os peixes(Figura 6). O transporte de peixes vivos já se tornou um negócio e fonte de recursos para muitas pessoas no Brasil. Diversos transportadores e produtores de peixes têm investido consideráveis recursos na compra e adaptação de caminhões para realizar o transporte de peixes vivos, na aquisição de cai- xas de transporte e equipamentos auxiliares, nas despesas de manutenção do caminhão (seguros, impostos, licenciamento, revisões, manutenção periódica, etc.), combustíveis e outros. No en- tanto, apesar de contarem com equipamentos de primeira linha para o transporte de peixes, muitos ainda realizam a operação de transporte de forma empírica, com conhecimentos mínimos dos fundamentos e das técnicas aplicadas ao transporte de peixes vivos. Aos interessados em se aprofundar mais nas técnicas de transporte de peixes vivos, para conduzir de forma mais eficiente e segura seu trabalho de rotina no transporte de peixes, recomendo a leitura do livro “Técnicas de transporte de peixes vivos” deste mesmo autor. Também vale a pena atender a cursos específicos sobre este assunto, onde será possível discutir estratégias de transporte específicas e trocar experiências e informações com outros transportadores de peixes. Figura 6. Aclimatação dos alevinos ao final do transporte. As embalagens devem ser colocadas na água e imediatamente deve ser iniciada a adição da água do local de destino no interior das embalagens, até que o volume de água na embalagem triplique o quadruplique. Este processo deve levar cerca de 3 minutos por embalagem. Não há necessidade de demorar mais do que isso Saiba mais: Quem é assinante lê on-line A Panorama da AQÜICULTURA sugere a leitura de artigos relativos ao tema, publicados em edições anteriores. Transporte de Peixes Vivos – Parte 1 Por: Fernando Kubitza (Panorama da AQÜICULTURA - Edição 43 - setembro/outubro - 1997) Transporte de Peixes Vivos – Parte 2 Por: Fernando Kubitza (Panorama da AQÜICULTURA - Edição 44 - novembro/dezembro - 1997) O sal de cozinha no transporte de peixes Por: Levy de Carvalho Gomes, Rodrigo Roubach e Carlos A R.M. Araújo-Lima (Panorama da AQÜICULTURA - Edição 72 – julho/agosto - 2002) Amenizando as perdas de alevinos após o manejo e o transporte Por: Fernando Kubitza (Panorama da AQÜICULTURA - Edição 80 – novembro/dezembro - 2003) Mais profissionalismo no transporte de peixes vivos Por: Fernando Kubitza (Panorama da AQÜICULTURA - Edição 104 – novembro/dezembro – 2007) Os artigos “Manejo na produção de peixes” foram publicados com os seguintes temas: Edição 108: Parte 1 – A conservação e o uso da água. Edição 109: Parte 2 – O uso eficiente da aeração: fundamentos e aplicação. Edição 110: Parte 3 – O preparo dos tanques, estocagem dos peixes e a manutenção da qualidade da água. Edição 111: Parte 4 – Manejo nutricional e alimentar. Edição 112: Parte 5 – Boas práticas no manejo sanitário. Edição 113: Parte 6 – Boas práticas nas despescas, manuseio e classificação dos peixes. Edição 114: Parte 7 – Boas práticas no transporte de peixes vivos. 24 Panorama da AQÜICULTURA, julho/agosto, 2009 e acordo com a estatística da produção aquícola e pesqueira do Brasil, em 2005, quando foram produzidas 178.746,5 toneladas de peixes de água doce (Fonte: IBAMA), a Região Sul foi responsável por 33% da produção nacional. Essa produção sempre esteve e continua baseada no cultivo de espécies exóticas, notadamente do grupo das carpas e tilápias, que compõem cerca de 80% da produção de peixes do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Apesar do sucesso da atividade nesses estados, que registrou um crescimento de 75% entre 1997 e 2006, algumas espécies cul- tivadas, como a tilápia (Oreochromis niloticus) e o bagre-africano (Clarias gariepinus), apresentaram suscetibilidade ao clima da região. Quando no inverno há registros de temperaturas mais baixas que a média da estação, condição frequente na região, elevadas taxas de mortalidade podem ocorrer durante o cultivo dessas espécies. Em 2000 foram registradas mortalidades de tilápias e bagre-africano em várias regiões de Santa Catarina, e estima-se que 15% da produção do estado tenha sido sacrificada pelo frio (Panorama da AQÜICULTURA, 2000). Ao analisar detalhada- mente o ocorrido naquele ano, considerando os dados produzidos com potencial para regiões de clima frio Espécies nativas A escolha das espécies mais adequadas para o cultivo na Região Sul do Brasil sempre foi um tema muito discutido, principalmente quando os produtores se deparam com invernos onde a tempera- tura cai abaixo da média desta estação, momento em que lidam com mortalidades e muito prejuízo. Desde 1995, pesquisa- dores do Laboratório de Biologia e Cultivo de Peixes de Água Doce da Universidade Federal de Santa Catarina (LAPAD/UFSC) se dedicam a esses estudos e apontam neste artigo as razões que os levaram a escolher, entre tantas, algumas espécies que continuam a responder zootecnica- mente, mesmo nas temperaturas mais baixas. Este tema, pela sua importância, foi um dos destaques no II Congresso Brasileiro de Produção de Peixes Nati- vos, realizado de 25 a 28 de agosto em Cuiabá, MT. Por: Evoy Zaniboni Filho Marcos Weingartner Luis Fernando Beux Alex Pires de Oliveira Nuñer Laboratório de Biologia e Cultivo de Peixes de Água Doce / Universidade Federal de Santa Catarina (LAPAD/CCA/UFSC) e-mail: evoy@lapad.ufsc.br 25Panorama da AQÜICULTURA, julho/agosto, 2009 Espécies nativas com potencial para regiões de clima frio Espécies nativas pela EPAGRI/ CIRAM/INMET para a década entre 1998 e 2008, verificou-se que a temperatura média no estado para o mês de julho é de 14,6 oC. Em 2000, a temperatura média caiu para 11,4 oC. No entanto, não apenas as espécies exóticas têm sofrido com as baixas temperaturas da região. Também em 2000, Santa Catarina assistiu à mortalidade de juvenis e adultos de dourados (Salminus brasiliensis) provenientes de empresas situadas na Região Centro-Oeste e originados de reprodutores lá capturados. Por outro lado, neste mes- mo ano, exemplares de dourados da bacia do rio Uruguai mantidos em cativeiro em Santa Catarina sobreviveram a consecutivos dias de baixas temperaturas, inclusive com geada matinal em torno dos viveiros. Aqui merece desta- que o cuidado necessário para que o conceito de espécie nativa leve em consideração a bacia hidrográfica ou, como é conhecida no meio científico, espécie autóctone. É fácil compreender que o desenvolvimento genético realizado naturalmente ao longo do processo evolutivo das populações de peixes isoladas por centenas de anos em diferentes bacias hidrográficas tenha possibilitado a seleção de genes melhor adaptados às condições ambien- tais daquela bacia. Isso permite inferir, por exemplo, que a população de dourado do rio Uruguai, situado no sul do Brasil, apresenta maior tolerância a baixas temperaturas de água do que a população nativa da Região Centro-Oeste (no Pantanal Matogrossense ou no Alto Paraná). Pensando dessa forma, podemos sugerir que a melhor alternativa para o produtor é cultivar peixes originários de reprodutores provenientes da mesma região onde será de- senvolvida a criação. Essa questão pode ainda ser ampliada para os problemas de contaminação genética decorrentes da fuga de peixes de cultivo para o ambiente natural. O escape de peixes presentes na bacia, mas oriundos de populações de outras bacias hidrográficas, possibilita um intercâmbio genético que pode ser desastroso para a sustentabilidade lo- cal da espécie. A possibilidade de escape de peixes cultiva- dos é bastante frequente nas fazendas de produção, embora haja dúvida quanto à capacidade de sobrevivência desses peixes no ambiente e quanto à probabilidade de reprodução juntamente com o estoque de peixes residentes. Apesar da dúvida, mesmo que poucos exemplares fugitivos tenham sucesso e consigam produzir descendentes anualmente, já estará garantida a contaminação genética do estoque local.
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