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1Panorama da AQÜICULTURA, setembro, outubro, 2009 2 Panorama da AQÜICULTURA, setembro, outubro, 2009 3Panorama da AQÜICULTURA, setembro, outubro, 2009 3 Editorial Jomar Carvalho Filho Biólogo e Editor A proveito para redigir este editorial, enquanto some no horizonte a cidade de Florianópolis, onde estive por ocasião da VII Semana de Aquicultura da UFSC, um evento organizado pelos alunos do curso de Engenharia de Aquicultura da Universidade Federal de Santa Catarina. E, revendo os inúmeros temas que abordamos nesta edição, me detive no inusitado retrato da aquicultura brasileira, revelado pelo Censo Agropecuário 2006, divulgado pelo IBGE no final de outubro. Os detalhes do censo estão nesta edição, e certamente vão surpreender muita gente, principalmente aqueles que sempre acreditaram que o Brasil produzia muito mais do que o Ibama divulgava em suas estatísti- cas. Segundo o IBGE, em 2006, a aqüicultura brasileira produziu 181.797,75 toneladas de pescado, apenas 2/3 das 271.695,50 toneladas divulgadas pelo Ibama no boletim Estatística da Pesca 2006. Para se ter uma idéia, se considerarmos a população daquele ano, a diferença de 89.897,77 toneladas que separa as duas estatísticas, reduz em quase meio quilo (480 gramas) o consumo per capita de pescado no Brasil. Os resultados do IBGE são provenientes de um censo que cobriu pontualmente todos os estabelecimentos rurais do país. Já os do Ibama, resultam de informações colhidas junto a instituições nos diversos estados bra- sileiros, muitas delas sucateadas e sem a capilaridade necessária para captar dados minimamente confiáveis. A prova dos noves, entretanto, está sendo tirada, e em breve esclarecerá aqueles que ficarão sem saber como se posicionar diante de dois cenários tão distintos. Falo da execução do Censo Aquícola, uma das melhores ações do Ministério da Pesca e Aquicultura, que agora se reveste de uma importância ainda maior, diante da disparidade dos números. Outra pauta desta nossa edição é o susto que piscicultores brasileiros estão levando com a chegada do filé congelado do bagre pangasius, ou panga, vindo do Vietnã. A notícia da presença desse peixe, ofe- recido na gôndola de um supermercado em Chapecó-SC, foi divulgada na Panorama-L, lista de discussão da Panorama da AQÜICULTURA na Internet. Mensagens pipocaram de todos os lados, umas em apoio à entrada de um produto de qualidade inquestionável, e outras de repúdio ao panga, acusado de ser um “reservatório de veneno”, tamanha a quantidade de produtos químicos supostamente utilizados na sua produção. Produtores de tilápia sentiram-se ameaçados com a entrada do panga no mercado brasileiro, em razão das dificuldades que enfrentam na tentativa de reduzir seus custos de produção. Esse, aliás, o tema escolhido por Fernando Kubitza, que preparou um artigo sobre o manejo da tilápia em viveiros escavados, ambiente ideal para produzir o alimento natural tão bem aproveitado pelo peixe, reduzindo assim os custos do piscicultor. Como artigo de capa, escolhemos o tema “uso das microalgas para a fabricação de biodiesel”, onde o pro- fessor da FURG, Paulo Cesar Abreu, escreve sobre as razões que ainda impedem que essa indústria tão promissora decole no Brasil e no mundo. O leitor encontrará também nas próximas páginas, notícias sobre a 3ª Conferência Nacional de Aquicultura e Pesca e sobre o XVI CONBEP, Congresso Brasileiro de Engenharia de Pesca, realizado em Natal, e muito mais. A todos uma boa leitura. 4 Panorama da AQÜICULTURA, setembro, outubro, 2009 5Panorama da AQÜICULTURA, setembro, outubro, 2009 O cultivo de microalgas Quando resolvermos os problemas tecnológicos relativos ao cultivo de microalgas destinadas a pro- dução de biocombustíveis, teremos uma fonte quase inesgotável de combustível proveniente de uma fonte renovável. Dentre as muitas vantagens de se cultivar microalgas no Brasil está a de que algumas delas podem produzir até 700 toneladas de matéria orgânica por hectare/ano. Mas, se as microalgas têm todo este potencial, por que este milagre ainda não está entre nós? Leia na página 34, o artigo de Paulo Cesar Abreu, professor do Programa de Pós-Graduação em Aquicultura da FURG, que, desde 2003, desenvolve pesquisas sobre o cultivo massivo de microalgas para biocombustíveis. Editorial Notícias & Negócios Notícias & Negócios on-line Produção de tilápias em tanques de terra estratégias avançadas no manejo Sanidade Aquícola: Uso de vacinas na piscicultura verdades, mitos e perspectivas Microalgas e Biocombustíveis: Entre o sonho e a realidade Lançamentos Editoriais Informe Empresarial Poli-Nutri: um novo conceito na alimentação de peixes e camarões Censo Agropecuário 2006 do IBGE mostra produção aquícola menor Panga chega ao Brasil com jeito de quem veio para ficar 3ª Conferência de Aquicultura e Pesca XVI CONBEP em Natal Tilápia e outros exóticos não têm mais restrições no Paraná WAS 2009: um sucesso, apesar dos contratempos 10 anos de Engenharia de Aquicultura: bom para Aquicultura, melhor para o Brasil! Evialis realiza reunião do Comitê de Pesquisa e Desenvolvimento Calendário Aquícola ...Pág 49 ...Pág 38 ...Pág 41 ...Pág 42 ...Pág 06 ...Pág 03 ...Pág 11 ...Pág 14 ...Pág 22 Í N D I C E Editor Chefe: Biólogo Jomar Carvalho Filho jomar@panoramadaaquicultura.com.br Jornalista Responsável: Solange Fonseca - MT23.828 Direção Comercial: Solange Fonseca publicidade@panoramadaaquicultura.com.br Colaboradores desta edição: Carlos Augusto Gomes Leal, Fabrício Flo- res Nunes, Fernando Kubitza, Glei dos Anjos de Carvalho Castro, Henrique César Pereira Figueiredo, Lamartine da Nóbrega Netto, Marco Aurelio Sacenti, Maurício Emerenciano, Paulo Cesar Abreu, Wilson Wasielesky Os artigos assinados são de responsabilidade dos autores. A única publicação brasileira dedicada exclusivamente aos cultivos de organismos aquáticos Uma publicação Bimestral da: Panorama da AQÜICULTURA Ltda. Rua Alegrete, 32 22240-130 - Laranjeiras - RJ Fone/fax: (21) 3547-9979 www.panoramadaaquicultura.com.br revista@panoramadaaquicultura.com.br ISSN 1519-1141 Assinatura: Daniela Dell’Armi assinatura@panoramadaaquicultura.com.br Para assinatura use o cupom encartado, visite www.panoramadaaquicultura.com.br ou envie e-mail. ASSINANTE - Você pode controlar, a cada edição, quantos exemplares ainda fazem parte da sua assinatura. Basta conferir o número de créditos descrito entre parênteses na etiqueta que endereça a sua revista. Números atrasados custam R$ 16,00 cada. Para adquiri-los entre em contato com a redação. Edições esgotadas: 01, 05, 09, 10, 11, 12, 14, 17, 18, 20, 21, 22, 24, 25, 26, 27, 29, 30,33, 34, 35, 36, 37, 38, 39, 40, 41, 44, 45, 59, 61, 62, 63, 65, 76, 77, 78, 79, 80, 81, 82, 83, 84, 85, 87, 88, 111, 112 Projeto Gráfico: Leandro Aguiar leandro@panoramadaaquicultura.com.br Design & Editoração Eletrônica: Panorama da AQÜICULTURA Ltda. Impresso na Grafitto Gráfica & Editora Ltda. Os editores não respondem quanto a quali- dade dos serviços e produtos anunciados. Foto: Paulo Cesar Abreu Capa: Arte Panorama da AQÜICULTURA Edição 115 - setembro/outubro - 2009 Produção de tilápias em tanques de terra página 14... 3ª Conferência de Aquicultura e Pesca página 49... ...Pág 52 ...Pág 34 ...Pág 63 ...Pág 55 ...Pág 61 ...Pág 66 ...Pág 44 ...Pág 53 6 Panorama da AQÜICULTURA, setembro, outubro, 2009 SEMINÁRIO ADIADO - O “Seminário so- bre as perspectivas e potencial de inves- timento na aquicultura do Piauí” teve a data de sua realização alterada. Anote aí: o evento se realizará nos dias 10 e 11 de dezembro na cidade de Parnaíba- PI, no auditório da Associação Comer- cial Porto das Barcas. O Seminário será um momento de mobilização entre os produtores, entidades e poder público para incentivar o crescimento da ativi- dade, disseminação de tecnologias, e compartilhamento de informações que possam contribuir para o progresso da aquicultura piauiense,fortalecendo as parcerias e atraindo investidores para o Estado do Piauí. PESCADO NA ESTRADA - Aquicultores transportando pescado cultivado, quan- do fiscalizados em rodovias, costumam ter dor de cabeça. Na maioria das ve- zes, a falta de conhecimento sobre a legislação sanitária dos produtos des- tinados para consumo, os tornam alvos fáceis de apreensões. Uma boa dica é conhecer o “Ofício Circular N° 023 de 24 de junho de 2005, do Departamen- to de Inspeção de Produtos de Origem Animal do MAPA”. O documento diz que ”as matérias-primas como leite cru res- friado, mel, própolis “in natura”, apitoxi- na, pescado vivo ou fresco, oriundas da fonte de produção para as indústrias be- neficiadoras, ficam dispensadas de certi- ficação, mesmo se este trânsito ocorrer no âmbito interestadual.” No parágrafo seguinte diz: “As matérias-primas pre- viamente inspecionadas, tais como car- ne “in natura”’, pescado fresco e outras, destinadas a distribuidores e varejistas no âmbito do Estado não necessitam de Certificado Sanitário ou Guia de Trânsi- to.” A Panorama da AQÜICULTURA dis- ponibiliza uma cópia do Ofício Circular no endereço: http://www.panoramadaa- quicultura.com.br/of23dipoa.pdf AQUICULTURA FAMILIAR - A EMATER Paraná está cadastrando piscicultores e agricultores familiares, bem como os seus produtos, para que possam parti- cipar do Programa de Aquisição de Ali- mentos e Alimentação Escolar. A tilápia e a polpa de peixe (pacu) fazem parte dos itens que podem ser adquiridos. Para saber quais produtos estão dispo- níveis, a Emater faz um levantamento, cadastra os interessados em participar do programa e encaminha a relação para as escolas, para que nutricionistas mon- tem o cardápio com produtos do próprio município, originários da agricultura/ aquicultura familiar. A lista é encami- nhada à prefeitura, que se encarrega então de adquiri-los. Pela tabela do CO- NAB, as prefeituras têm que pagar ao produtor R$ 4,50 pelo quilo da tilápia fresca eviscerada e R$ 9,00 o quilo da polpa de pacu. O limite de venda anual por família é de R$ 3.500,00. EMBRAPA AQUICULTURA - O governo do Estado do Tocantins está transferindo uma área do Estado para a EMBRAPA, para a instalação do Centro Nacional da Embrapa Aquicultura e Pesca. O local fica a cerca de 10 km do centro de Palmas, onde já funciona o Centro de Produção e Pesquisa de Peixes Nativos (CPPPN), do Governo do Estado, que já conta com laboratório e vi- veiros construídos. Segundo o Secretário de Infra Estrutura e Fomento do Ministério da Pesca e Aquicultura (MPA), José “Zeca” Claudenor Vermohlen, o empreendimento contará com investimentos de R$ 12 mi- lhões provenientes do PAC, e vai gerar 100 empregos diretos, via concurso público previsto para dezembro deste ano, e cerca de 2.000 indiretos. O Governo do Estado Notícias & Negócios Notícias & Negócios 7Panorama da AQÜICULTURA, setembro, outubro, 2009 já cedeu uma sala da Secretaria da Agri- cultura do Estado onde já trabalham três funcionários da Embrapa coordenando a implantação do Centro de Aquicultura. FERRAZ MÁQUINAS NO WAS 2009 - Es- pecializada na construção e instalação de linhas completas para a produção de rações – fareladas, peletizadas ou extru- sadas – a Ferraz Máquinas e Engenharia Ltda., de Ribeirão Preto, esteve presen- te na última reunião da World Aquacul- ture Society, no México, para apresentar novos equipamentos ao mercado e bus- car parcerias internacionais. O estande destacou o lançamento de extrusores de roscas duplas e moinhos de alta rotação para remoagem de ração para peixes e camarões. “São equipamentos extremamente competitivos, com dife- rencial tecnológico, que produzem ração de tamanho reduzido, textura uniforme e elevado teor de gordura”, diz o dire- tor da empresa, José Luiz Ferraz. Foram distribuídas rações produzidas no Brasil, além de folhetos dos produtos, catálo- gos sobre como produzir ração e litera- tura técnica na área. “Participar de um evento como este é fundamental para uma empresa como a Ferraz Máquinas, que está inserida no contexto interna- cional da aquicultura. A integração com produtores e pesquisadores de diversos países propicia a consolidação de novos parceiros e representantes e é oportuni- dade para a divulgação de nossos pro- dutos”, completa José Luiz. Atualmente a empresa já contempla produtores de 15 países, incluindo Argentina, Uruguai, Paraguai, Chile, Colômbia, Peru, Equa- dor, Venezuela, Guatemala, Costa Rica, República Dominicana e Cuba. Mais in- formações: www.ferrazmaquinas.com.br WAS 2011 - Como já se sabe o Brasil irá sediar o Congresso da WAS (Sociedade Mundial de Aquicultura) em 2011. Acon- tecerá entre os dias 6 e 10 de junho no Centro de Convenções de Natal, no Rio Grande do Norte, junto à FENACAM 2011. A escolha do Brasil, que em 2003 já sediou o mesmo evento em Salvador (BA), foi por conta da desistência da China, que alegou problemas financeiros relacionados com a crise mundial. O di- retor de eventos da WAS, John Cooksey, esteve no Rio Grande do Norte em ju- nho e reuniu-se com representantes de AQUABIO, ABCC e da Revista Panorama da AQÜICULTURA, quando foram acer- tados os detalhes para a realização do WAS 2011 no Brasil. Em agosto a pro- posta com a escolha de Natal (RN) para ser a cidade anfitriã foi finalmente apro- vada pela diretoria da WAS, que também aprovou para o Comitê de Programação os nomes dos professores Ronaldo Ca- valli e Wagner Cotroni Valenti. LAGOSTAS CULTIVADAS - Com o patro- cínio da Universidade Estadual da Para- íba, foi realizado de 7 a 9 de setembro, em João Pessoa, o “Primeiro Workshop Internacional sobre Cultivo de Lagostas do Brasil”. O foco do workshop, segun- do Marco Antonio Igarashi, do Ministé- rio da Pesca e Aquicultura, foi o cultivo sustentável, e serviu para nivelar os co- nhecimentos com o objetivo de realizar o cultivo comercial no Brasil. No evento, Igarashi falou das perspectivas para o cultivo de lagostas no Brasil; Jason Seth Goldstein, do Departamento de Zoologia da Universidade New Hampshire, EUA, falou sobre o cultivo de larvas de lagos- ta tropical Panulirus argus; Phil James, do laboratório NIWA da Nova Zelândia falou do cultivo de larvas de lagostas de clima temperado; Andrew Greig Jeffs, do Laboratório Marinho de Leigh, também da Nova Zelândia, falou da captura de pós-larvas de lagostas de clima tropical e temperado com a finalidade de cultivo. Mais informações sobre os temas pelo e-mail marcoigarashi@seap.gov.br COMENDO MOSCA - Nos últimos anos a COPEL - Companhia Paranaense de Ener- gia, negou aos aquicultores do Paraná os pedidos de tarifa reduzida previsto na Resolução Normativa da ANEEL nº 207 de 9 de janeiro de 2006. Alegava que a atividade aquícola, dentro do CNAE (Classificação Nacional de Atividades Econômicas), não se enquadrava entre as atividades contempladas com o be- nefício. Entretanto, a partir de 1º de janeiro de 2007, o benefício já poderia ter sido concedido, já que nesta data foi divulgada a versão 2.0 do CNAE, que traz a aquicultura na seção “A”, junto com agricultura, pecuária, produção flo- restal, pesca e aquicultura, não haven- Notícias & Negócios Notícias & Negócios 8 Panorama da AQÜICULTURA, setembro, outubro, 2009 do, portanto, mais dúvida sobre o seu enquadramento. NOVA GRADUAÇÃO EM AQUICULTURA - A Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS), criada em setembro por projeto de lei sancionado pelo Presidente Lula, oferecerá, a partir de 2010, cursos supe- riores de aquicultura, agronomia, desen- volvimento rural, engenharia ambiental, engenharia de alimentos, entre outros. O curso de aquicultura será ministrado no campus de Laranjeiras do Sul (centro-sul do Paraná), região com muitas barragens e represas. O objetivo é preparar recur- sos humanos para o desenvolvimento de pesquisas e qualificar pequenos pro- dutores. Outros cursos serão ministra- dos nos campus de Realeza (sudoeste do Paraná), Cerro Largo(noroeste do Rio Grande do Sul) e Erechim (norte do Rio Grande do Sul). GUABI EXPANDE NO NORDESTE - A Gua- bi está expandindo suas atividades no Nordeste. Foram concluídas, em setem- bro, as melhorias da fábrica de Anápo- lis/GO, que foi modernizada, ampliada e adequada às normas de Boas Práticas de Fabricação (BPF) estabelecidas pelo MAPA. Além disso, na fábrica de Goia- na/PE, está sendo construída uma uni- dade que produzirá rações extrusadas para peixes e camarões, com previsão para inauguração no segundo semestre de 2010. A empresa iniciou também as atividades na recém adquirida unidade de São Gonçalo do Amarante/CE, com cerca de 10.000m2 de área construída, que ainda está sendo ampliada com a construção de mais 1.000m2 para me- lhorar a logística. Agora todas as fábri- cas da Guabi estão adequadas às Normas de Boas Práticas de Fabricação. Com 35 anos no mercado, o Grupo Guabi é hoje um dos maiores produtores de rações e suplementos do país e conta com oito unidades fabris localizadas em Campinas (SP), Bastos (SP), Sales Oliveira (SP), Pará de Minas (MG), Anápolis (GO), Além Paraíba (MG), Goiana (PE) e São Gonçalo do Amarante (CE). www.guabi.com.br AMAZÔNIA NUTRITIVA - O estudo “Ca- racterização Nutricional de Peixes da Amazônia”, realizado por Rogério de Je- sus, pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCT), confirmou o alto valor nutritivo dos pei- xes encontrados na região. A pesquisa traçou o perfil nutricional do pacu, jara- qui, branquinha, curimatã, pirapitinga, aracú e mapará e descreveu a composi- ção química básica, minerais, ácidos gra- xos e aminoácidos dos peixes. De acordo com o estudo, as espécies apresentam, a cada 100 g de carne, concentrações médias de proteína entre 18 e 20 g, e de lipídios entre 1,4 e 3,1 g. O mapará foi a única espécie estudada que se di- ferenciou das demais, com concentra- ções de gordura mais altas (21g/100g) e menor valor protéico (11g/100g). O trabalho mostrou ainda que a presença de minerais como cálcio, ferro, zinco, sódio, potássio e selênio, são encon- trados em quantidades capazes de su- prir as principais deficiências minerais diárias das populações vulneráveis da Amazônia. O Amazonas é o estado bra- sileiro que registra maior consumo de pescado por pessoa. HOMEOPATIA PARA PEIXES - O Labo- ratório Arenales que já se tornou refe- rência em homeopatia para os animais, está lançando uma linha de medicamen- tos para aquicultura. De acordo com a bióloga, engenheira agrônoma e médi- ca veterinária homeopata, diretora da instituição, Maria do Carmo Arenales, o produto é uma inovação no segmento, pois ainda não existe nenhum tipo de medicamento homeopático que contro- le os parasitas dos peixes. “Pensando nisso, criei formulações para atender os desejos desse tipo de consumidor”. Com atuação em mais de cinco países, o laboratório foi o primeiro das Améri- Notícias & Negócios 9Panorama da AQÜICULTURA, setembro, outubro, 2009 cas a produzir em escala industrial com atuação desde dezembro de 2000. Pelo segundo ano consecutivo o Laborató- rio Arenales se destacou entre as 500 maiores companhias do agronegócio brasileiro, durante a quinta edição do Prêmio Melhores do Agronegócio 2009, realizado em outubro pela Revista Globo Rural. A Arenales conquistou o 6º lugar no setor de ‘Produtos Veterinários’, onde são segmentadas 30 categorias das or- ganizações que mais se consolidaram nos mercados em que atuam. CONSERVA E PATÊ - A Embrapa e a Uni- versidade Federal Rural do Rio de Ja- neiro (UFRRJ) apostam na produção de conservas e patês de tilápia. Os pesqui- sadores investigam se o tratamento tér- mico, necessário para impedir a prolife- ração de microorganismos e aumentar a validade das conservas, pode afetar as concentrações de ácidos graxos e pro- teínas. O estudo visa o aproveitamento das partes descartadas pela filetagem já que cerca de 90% desta carne pode ser processada, condimentada e comercia- lizada sob a forma de patês. Segundo a pesquisadora Angela Aparecida Lemos Furtado, da Embrapa Agroindústria de Alimentos, testes sensoriais têm con- quistado boa aceitação. A pesquisa ex- plora também a composição de fórmulas que garantam sabor, cor, textura e aroma de acordo com as expectativas do con- sumidor. Esse projeto conta com a par- ceria da Cooperativa de Ranicultores de Cachoeira de Macacu (Coopercramma), da região serrana do Rio, que fornece os peixes para as pesquisas. Se consta- tada a viabilidade técnica e econômica do estudo, piscicultores, agroindústrias e comércio terão a disposição alimentos derivados mais acessíveis e nutritivos, pois a tilápia é fonte de proteínas, mi- nerais, principalmente cálcio e fósforo, vitaminas A, D e complexo B. FRI-RIBE + NUTRECO - A empresa ho- landesa Nutreco, atualmente uma das líderes mundiais no desenvolvimento e produção de alimentos para aquicul- tura, acelerou sua expansão no Brasil, associando-se com a FRI-RIBE, empresa brasileira de nutrição animal, com 37 anos de fundação e com forte atuação no seguimento de rações completas, su- plementos e premixes. As atividades se- rão mantidas em uma nova joint venture com o nome “Fri-Ribe Nutreco”. Com uma experiência de 100 anos a Nutre- co traz um rico patrimônio de conheci- mentos, e, segundo seu vice-presidente, Frank Tielens, esta associação se encai- xa perfeitamente na estratégia de cres- cimento da empresa para reforçar ainda mais sua posição no mercado global de alimentação animal. Esta parceria será gerenciada pelo staff da FRI-RIBE, par- tilhando estratégias, planejamentos e tecnologias com a Nutreco, com foco em pesquisa e desenvolvimento de novos produtos. A rede de distribuição Nutreco oferecerá uma excelente oportunidade para uma parceria de longo prazo e traz grandes possibilidades de venda cruzada dos alimentos Nutreco. "A joint venture também demonstra claramente nosso compromisso de expandir nossos negó- cios em mercados com uma perspectiva de crescimento rentável. O mercado de nutrição animal no Brasil está cres- cendo cerca de 5% ao ano, em média, e esta associação traz uma excelente plataforma para facilitar a sua expan- são no Brasil", disse Tielens. A Nutreco emprega cerca de 9.000 pessoas em 30 países, e suas vendas acontecem em 80 países com faturamento anual de EUR 4,9 bilhões em 2008. A Fri-Ribe tem importantes posições no mercado na- cional em nutrição animal, com cinco plantas de produção em seis estados, com vendas espalhadas por todo o país. Seu faturamento anual chegou a 47 milhões de euros em 2008. CARCINICULTURA NA BAHIA I - O sul da Bahia retoma a produção de cama- rão, com a liberação da atividade pelo Ministério da Agricultura. Os produtores foram autorizados a iniciar o repovoa- mento das fazendas, com a introdução de sementes de camarões e larvas for- necidas pela Bahia Pesca e empresas associadas. O Pólo de Camarões de Ca- navieiras foi interditado em 2008 por determinação da Agência de Defesa Agropecuária da Bahia (Adab), devido à ocorrência do Vírus da Mancha Branca e da Necrose Hipodérmica e Hematopoié- tica Infecciosa. CARCINICULTURA NA BAHIA II - Faz algum tempo que os carcinicultores baianos não conseguem licenciar no- vas fazendas de cultivo, sejam elas de pequeno ou grande porte. Empreendi- mentos antigos, mesmo os de pequeno porte, que já tinham sido anteriormente licenciados, também não conseguem re- novar suas licenças quando essas ven- cem. Recentemente os produtores foram notificados para apresentar um estudo de impacto ambiental (EIA/RIMA) e, quem não apresentar, terá o processo arquivado definitivamente. Diante dessa determinação, os pequenos carcinicul- tores baianos não sabem o que fazer e é grande a apreensão no setor produtivo. A Resolução no 312/2002 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), diz que a exigência da apresentação do EIA/RIMA vale somente para áreas supe- riores a 50ha, mas não é este o critério Notícias& Negócios Notícias & Negócios 10 Panorama da AQÜICULTURA, setembro, outubro, 2009 que está sendo utilizado agora na Bahia. Para se ter uma idéia, o proprietário de uma fazenda com menos de 10 hecta- res de viveiros orçou um estudo de EIA/ RIMA junto a várias empresas especiali- zadas, e encontrou valores que variaram entre R$ 80.000,00 a R$ 150.000,00. INOVAÇÃO TECNOLÓGICA - A Alfakit, que desenvolve tecnologia para análises de águas, solos e efluentes há mais de 20 anos, está investindo em um novo modelo de gestão para o ano de 2010. A empresa catarinense já oferece os mais modernos equipamentos e kits para suprir as neces- sidades dos produtores de peixe e camarão, mas, segundo seu diretor técnico Léo de Oliveira, a exce- lência em inovação e tecnologia será o maior compromisso da empresa para o próximo ano. “Oferece- remos aos nossos colaboradores mais co- nhecimento e modernização, e aos nossos clientes, o acesso ao que há de melhor e mais moderno para o segmento”, disse Léo de Oliveira. A empresa foi a pioneira no Brasil no desenvolvimento de um kit para analisar o solo das carciniculturas e de vá- rios outros kits para análise da qualidade da água em aquicultura. A estratégia de sucesso da empresa foi identificar as ne- cessidades do consumidor dos seus produ- tos e aliar a essa necessidade a inovação tecnológica. “Gosto de criar e desenvolver equipamentos que tornam mais eficazes o trabalho diário do produtor e as pesquisas para a atividade aquícola”, completa Léo de Oliveira. Preocupada em escutar seus clientes, a Alfakit vem incrementando, via internet, a comunicação com o consumi- dor. No site da empresa, há um espaço para a divulgação de pesquisas e o nosso desejo é possibilitar a integração e a troca de in- formações entre pesquisadores e produto- res, disse Eduardo Castro, responsável pelo marketing da empresa. A Alfakit tem firma- do importantes parcerias com instituições que utilizam seus kits, entre elas a FAEP (carcinicultura), Embrapa (Kit Biogás, um produto que já está no mercado e único no mundo que pode ser operado pelo próprio produtor) e Epagri-Tubarão (avaliação da qualidade da água e do solo das fazendas da região de Laguna – SC). Para facilitar e agi- lizar ainda mais os processos de assistência técnica e manutenção de equipamentos, a Alfakit atuará brevemente também na Re- gião Nordeste. www.alfakit.com.br UFC I - O curso de Engenharia da Pesca da Universidade Federal do Ceará (UFC) é a melhor graduação do Nordeste. A conclusão é do Ministério da Educação (MEC) e leva em conta os resultados de 2008 do Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade) e do Conceito Preliminar de Curso (CPC). Na avaliação, o curso de Engenharia da Pesca da UFC conquistou a nota máxima do Enade - conceito 5 - e superou a média de todas as instituições da região. Em todo o Brasil, mais de 7 mil cursos de institui- ções públicas e privadas foram avaliados. Somente 6% deles atingiram o conceito 5 do Enade. No CPC - que além da nota do Enade avalia a opinião dos alunos sobre as condições do curso, a infraestrutura dispo- nível e o perfil dos docentes, entre outros aspectos - o curso de Engenharia da Pes- ca da UFC conquistou conceito 4. Para o coordenador de Planejamento e Avaliação de Ações Acadêmicas da UFC, André Jal- les, dois fatores apontados pelos alunos na avaliação impediram a nota máxima: a in- suficiência de equipamentos para as aulas práticas e os planos de ensino das disci- plinas, considerados incompletos. Ao todo, 20 cursos da UFC foram avaliados e Enge- nharia mecânica, Arquitetura e urbanismo, Computação, Biologia e Pedagogia também obtiveram conceito 4 no CPC. UFC II - Estão abertas até o dia 27 de no- vembro as inscrições para os cursos de mes- trado e doutorado em Engenharia de Pesca Notícias & Negócios 11Panorama da AQÜICULTURA, setembro, outubro, 2009 da Universidade Federal do Ceará. O progra- ma possui linhas de pesquisa em Aquicul- tura; Biotecnologia e genética de organis- mos aquáticos; Recursos pesqueiros e meio ambiente e, Tecnologia e microbiologia do pescado. Os documentos necessários, a fi- cha de inscrição e mais informações podem ser obtidos no site: www.pgengpesca.ufc. br . Informações pelo telefone (85) 3366- 9727 ou e-mail engpesca@ufc.br CINCO ANOS DE BRASIL - Em outubro a maltaCleyton do Brasil S.A. comemorou cinco anos de atividades no país. A traje- tória de sucesso da maltaCleyton iniciou-se em 1991 com a fusão de duas empresas de grande prestígio e experiência no mercado mexicano e brasileiro: Anderson Clayton (com operações no México e no Brasil) e a mexicana Malta S.A., formando a malta- Cleyton Especialista em Nutrição. Os pro- dutos da empresa foram introduzidos no Brasil em 2004, iniciando com a linha de camarão, que consolidou a participação da empresa no mercado brasileiro e possibi- litou a inserção das linhas de peixe, ca- valo, pet e profeed. Durante estes cinco anos a maltaCleyton disponibilizou não só produtos diferenciados e de excelente per- formance, mas também uma equipe técnica qualificada e comprome- tida com o desempenho dos clientes. Toda essa preocupação proporcionou ótimos resultados e gerou um forte plano de novos investimentos da empresa no Brasil, além da criação de uma estra- tégia para a introdução de futuros lança- mentos no mercado. “Nesses cinco anos de Brasil a maltaCleyton obteve resultados extremamente positivos graças ao nosso grande empenho e também à confiança de nossos clientes, parceiros, distribuidores, lojistas e colaboradores; afinal foram eles que nos apoiaram desde o início”, ressal- ta Gustavo Jiménez, Presidente da malta- Cleyton do Brasil. Com o plano de novos investimentos a maltaCleyton ampliou seu fortalecimento no mercado brasileiro atra- vés do equilíbrio comercial e científico e de parcerias em pesquisas de longo prazo, sempre com o objetivo de proporcionar a seus clientes as melhores soluções em nu- trição animal. Em comemoração ao quinto aniversário da empresa no Brasil, diversos dirigentes da maltaCleyton e investidores do México e dos Estados Unidos vieram vi- sitar as instalações da empresa no país. PEIXES NATIVOS - O Brasil foi escolhido para sediar, em 2011, a 3ª Conferência Latinoamericana sobre Cultivo de Peixes Nativos. A decisão aconteceu durante a 2ª Conferência, que terminou dia 6 de novembro em Chascomús, na Argentina. O evento acontecerá junto com o III Con- gresso Brasileiro de Produção de Peixes Nativos e será coordenado pela Universi- dade Federal de Lavras, com o apoio da Sociedade Brasileira de Aquicultura e Bio- logia Aquática (Aquabio). Notícias & Negócios 12 Panorama da AQÜICULTURA, setembro, outubro, 2009 Notícias & Negócios On-line De: Luciano Kellner lucianokellner@yahoo.com.br Para: lista@panorama-l.com.br Assunto: Pintado do Amazonas Está surgindo em nosso meio uma grande promessa de aumento de renda. Na teoria, o pintado do Amazonas, peixe híbrido resulta- do do cruzamento do pintado ou do cachara com o jundiá, segue os hábitos e exigências alimentares dos onívoros. Partindo desta informação, até então baseada em afirma- ções de terceiros e consideradas por mim totalmente sem embasamento, venho até vocês sugerir uma mesa redonda para troca de informações a respeito da criação desta nova espécie, tanto na piscicultura tradicio- nal como na piscicultura em tanque-rede. De: Francisco das Chagas de Medeiros centraldopeixe@bol.com.br Para: lista@panorama-l.com.br Assunto: Re: Pintado do Amazonas Prezado Luciano, o novo sempre é difícil para todos nós. Hoje voltei meu foco para a produção e para, efetivamente, obter re- sultados positivos. Se o peixe é onívoro eu realmente não sei, mas conseguimos fechar um ciclo com 17.000 peixes, produção de 29.523 kg. Consumiu ração de alevinos de tambacu 42% PB até 240g e terminou o ciclo com a mesma ração que era forneci- da aos tambacus com 32% PB. Conversão alimentar de 1,62:1.Como não sou da aca- demia, e sim da produção, informo que o resultado financeiro para mim é muito bom, pois o peixe foi comercializado a R$ 7,00/ kg, na beira do viveiro. Coloco a disposição os dados coletados, e as propriedades na re- gião de Cuiabá-MT para quem desejar visitar e acompanhar o desenvolvimento do peixe. De: Thyago Campos thyagocampos_vet@hotmail.com Para: lista@panorama-l.com.br Assunto: Re: Pintado do Amazonas Boa noite, meu nome é Thyago Campos, acadêmico de medicina veterinária pela UFG (Universidade Federal de Goiás). No setor de piscicultura da UFG está sendo obser- vado o híbrido jundiara (jundiá x cachara) em diferentes densidades. Não se trata de uma pesquisa, pois não houve repetições de tratamentos. Em três tanques de engorda tradicional estão estocadas três densidades. São elas: 0.7 peixes/m²; 1.0 peixes/m² e, 1.3 peixes/m². A observação foi iniciada em meados de dezembro de 2008 e até o presente momento (11/10/2009) foram realizadas seis biometrias parciais que nos apontam que a melhor densidade para en- gorda dos híbridos seria a 1.0 peixes/m². Essa densidade mostra conversão um pou- co melhor que as demais, e ainda melhor desenvolvimento dos peixes, até mesmo se comparada a densidade de 0.7 (provavel- mente atribuído a competição, que pode impulsionar uma maior ingestão de ração). A observação segue com arraçoamento de ração de 42% de proteína bruta até o final da engorda (data ainda não determinada). Não sabemos ao certo sobre a fisiologia ali- mentar do híbrido, se o mesmo trata-se de carnívoro ou onívoro. Contudo, foi observa- da uma boa conversão alimentar, ao redor de 1.4 - 1.5:1, na desidade de 1.0 peixes/ m², sendo que este está sendo tratado como carnívoro. Tenho pouca experiência no mer- cado de pescado, entretanto pelo que tenho observado aqui, são valores um pouco mais expressivos que o de nosso amigo Francisco, de Cuiabá. Aqui em Goiânia está na casa de R$9,00/kg. Logo, é possível concluir com base na conversão e no preço comercial do híbrido, que ele é altamente rentável, mas ainda vale ressaltar que o preço do alevi- no deve ser analisado com cautela, pois o mesmo deve seguir tendências do pintado que, diga-se de passagem, é bastante ele- vado: em Goiânia, a unidade de pintado em torno de 12 cm está sendo comerciali- zada na faixa de R$ 3,50. De: Paulo Faria paulo_laqua@yahoo.com.br Participe da Lista de Discussão Panorama-L Inscreva-se no site www.panoramadaaquicultura.com.br 13Panorama da AQÜICULTURA, setembro, outubro, 2009 Notícias & NegóciosOn-line Para: lista@panorama-l.com.br Assunto: Re: Pintado do Amazonas Prezados, realizei uma pesquisa com este peixe com o título "Densidade de estoca- gem na produção do híbrido (Pseudoplatys- toma fasciatum x Leiarius marmoratus) em sistema de recirculação de água”. Segue o resumo do artigo: o objetivo deste trabalho foi avaliar o efeito da densidade de estoca- gem na produção de “cachadiá”, híbrido do cruzamento entre fêmea de cachara (Pseu- doplatystoma fasciatum) e macho de jundiá onça (Leiarius marmoratus) em diferentes fases de vida. O experimento foi dividido em quatro fases e realizado em sistema de recirculação de água (SRA). Ao final da en- gorda foi avaliado o rendimento corporal dos animais em diferentes classes de peso. O cachadiá mostrou boa adaptação ao cul- tivo em SRA atingindo média de 1,1kg em sete meses de cultivo. Este híbrido apresen- tou excelente conversão alimentar (CA) nas diferentes fases de vida. Taxas de CA entre 0,84 e 1,38:1 foram registradas. Ao final da engorda, o rendimento de carcaça e filé não foram influenciados pelas diferentes classes de peso avaliadas. Estes resultados mostram o potencial deste híbrido para a piscicultura em função da adaptação ao cultivo intensi- vo em SRA com ótimo desempenho. De: Marcelo Catharin marcelo@aguavivaconsultoria.com.br Para: lista@panorama-l.com.br Assunto: Cianobactérias Prezados listeiros, gostaria de saber se al- guém de vocês sabe me informar qual a concentração de cianobactérias que causa mortalidade em tiápias cultivadas em tan- ques-rede ou se conhecem artigos sobre a toxicidade deste tipo de microorganismo em peixes cultivados. De: Ricardo Y. Tsukamoto bioconsu@uol.com.br Para: lista@panorama-l.com.br Assunto: Re: Cianobactérias Caro Marcelo, as cianobactérias podem ES- TAR ou não tóxicas, dependendo de uma numerosa combinação de fatores genéti- cos, fisiológicos e ambientais. Para come- çar, dentre as cianobactérias tóxicas, cada espécie tem um ou mais tipos de toxinas. Uma determinada toxina pode afetar o peixe, e a outra toxina não. Uma mesma espécie de cianobactéria “potencialmente tóxica” geralmente apresenta indivíduos tóxicos e não tóxicos numa mesma po- pulação, e a toxicidade dependerá do ba- lanço dessas populações tóxicas da mes- ma espécie. As condições limnológicas de cada viveiro podem condicionar o grau de toxicidade. A toxina fica contida dentro da célula da cianobactéria, e só é libera- da quando ela morre. Assim, num dia em que o fitoplâncton está bem, a toxina livre na água é baixa. Mas se na noite seguin- te ocorrer um colapso do viveiro por falta de oxigênio, a população de cianobacté- rias morre e libera a toxina em massa na água do viveiro. Peixes que se alimentam de fitoplâncton, como a tilápia nilótica e a carpa prateada, têm enzimas no fígado que degradam boa parte das toxinas das ciano- bactérias ingeridas. Por isso, estes peixes são mais resistentes que outras espécies. Em condições normais, a tilápia é capaz de tolerar oxigênio dissolvido ZERO na água do viveiro durante várias horas. Porém, na presença de cianobactérias tóxicas, as tilápias podem começar a morrer em bai- xos teores de oxigênio, que normalmente não causariam problemas a elas. Portanto, simplemente NÃO existe uma correlação geral entre concentração de cianobactérias e morte de tilápia. Depende da combina- ção de muitos fatores. Nesse sentido, é o mesmo que perguntar que concentração de bactérias mata a tilápia? Que bactérias, sob que condições? De: André Pellanda de Souza andrepellanda@hotmail.com Para: lista@panorama-l.com.br Assunto: Conserva de tilápia Gostaria de saber a opinião de produtores de filés de tilápia sobre beneficiamento e viabilidade econômica, tendo em vista que são necessários três quilos de tilápia viva para obter um quilo de filé de tilápia. Sem falar no filé do salmão chileno que pode ser comprado em média a R$ 10,00 o quilo!!! De: Luiz Henrique Barrochelo henriquebarrochelo@hotmail.com Para: lista@panorama-l.com.br Assunto: Re: Conserva de tilápia Há uns três anos, quando trabalhava em um grande frigorífico que processava tilápia, tentei iniciar um processamento de tilá- pias em conserva e fui a fundo pesquisar o negócio. Esbarrei de cara no custo de produção. Ao contrário da sardinha a ti- lápia inteira não fica boa em conserva pois suas espinhas não são finas. O cozi- mento prévio que antecede o processo de esterilização não é suficiente e quando calculamos uma temperatura que cozinhe esses espinhos no esterilizador (F zero), esta queima o pescado. Em uma latinha de conserva cabe um filé de 65 gr em mé- dia, o restante é líquido de cobertura que pode ser óleo, molho de tomate, etc..Es- tive também visitando uma empresa em São Gonçalo que produzia filé de tilápia em conserva, e vi que as vendas não eram boas devido ao custo. Quando se fala em conservas temos que ter um volume muito grande, pois cada batelada no esteriliza- dor deve conter um numero x de latas que não são poucas. O custo das latas é alto, a embalagem de papelão que protege a la- tinha é cara, as perdas que ocorrem por estufamento e vazamento das latinhas são grandes. Resumindo: se engana quem acha que vai produzir tilápia, enlatar e vender por cerca de R$ 5,50 a lata e estará tendo um lucro imenso. De: Alvaro Graeff agraeff@epagri.sc.gov.br Para: lista@panorama-l.com.br Assunto: Re: Conserva de tilápiaAcredito que o que queremos é processar o que hoje ainda não se processa, ou seja: pele, vísceras e cabeça. Filé de peixe por si só já agrega valor não sendo necessário, acredito eu, novas fórmulas para se escoar. Em certo período do ano poderíamos apro- veitar as hipófises das tilápias, que depois de processadas poderiam diminuir o custo de produção do filé (1.200 kg de peixes da- rão 1 grama seca de hipófise). Do fígado po- deríamos fazer belos patês (1.000 kg de pei- xes darão 15 quilos de fígado) e, do coração sete quilos de patê. Fora a polpa retirada da carcaça do filé, que agrega mais uns 15%. Então pessoal quem tiver escala de proces- samento de filé está jogando um monte de dinheiro fora, com um pequeno investimen- to de formas de agregação de valores. Nem só de filé viverá o peixe maravilha. 14 Panorama da AQÜICULTURA, setembro, outubro, 2009 Por: Fernando Kubitza, Ph. D. Acqua & Imagem Serviços Ltda. fernando@acquaimagem.com.br estratégias avançadas no manejo pesar do grande crescimento da produção de tilápias em tanques-rede no Brasil, boa parte da produção deste peixe ainda vem do cultivo em tanques de terra (viveiros). Um importante pólo de produção de tilápia em viveiros é a região oeste do Paraná (que engloba municípios como Cascavel, Marechal Rondon, Maripá, Toledo e Assis Chateaubriand). Berço da tilapicul- tura comercial no Brasil e principal pólo de produção de tilápias na década de 90, esta região responde sozinha por uma produção anual próxima de 12.000 toneladas de tilápias provenientes, quase que em sua totalidade, da criação em tanques escavados. Produção expressiva de tilápias em tanques de terra também pode ser encontrada em Santa Catarina, São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Mato Grosso do Sul, Espírito Santo, Goiás e em todos os estados do Nordeste. A recente liberação do cultivo de tilápias no Estado do Mato Grosso - onde há extensas áreas de terra propícias para a construção de viveiros, clima tropical o ano todo e grande disponibilidade de insumos para rações - possibilitará uma grande expansão na tilapicultura em nosso país. Produção de tilápias em tanques de terra Foto 1 - Tanque de terra para produção de juvenis de tilápia recoberto com tela anti pássaro 15Panorama da AQÜICULTURA, setembro, outubro, 2009 Viveiros escavados Os desafios na produção de tilápias em tanques de terra Em contraste com as facilidades do manejo do estoque proporcionadas pela criação em tanques-rede, a criação de tilápias em tanques escavados impõe ao produtor alguns desafios para um adequado e eficiente manejo da produção. O principal deles é a di- ficuldade de despesca das tilápias em viveiros com redes de arrasto convencionais. Tilápias são peixes espertos que saltam por sobre as redes ou deitam nos ninhos escavados no fundo dos tanques es- capando por baixo das redes. Alguns peixes, no desespero da fuga, chegam até mesmo a se enfiar no lodo do fundo, onde invariavel- mente acabam morrendo. Essa dificuldade nas despescas faz com que os produtores optem em não realizar intervenções importantes, como as classificações por tamanho e a eliminação de parte das fêmeas do lote. Assim, a engorda de tilápias em tanques escavados geralmente é realizada em fase única (estocagem de alevinos que são engordados até o peso de mercado sem nenhuma intervenção durante a engorda) ou, na melhor das hipóteses, em duas fases de produção (etapa de berçário, onde os alevinos são recriados em local protegido até atingirem 10 a 100g, e uma segunda etapa, onde os juvenis de 10 a 100g são engordados até o peso comercial). Sem estruturar a produção em fases, as previsões de número e biomassa ficam falhas, o aproveitamento dos alevinos é diminuído, o uso da área fica ineficiente, os peixes chegam ao final da engorda com tamanho muito variado e os custos de produção ficam mais elevados. Adicionalmente, os tanques de engorda acabam superpo- voados com a reprodução indesejada das tilápias, principalmente quando se pretende produzir tilápias de maior tamanho, que deman- dam um ciclo mais longo de engorda. Outro problema comum à produção de peixes em viveiros é a ocorrência de “off-flavor” ou mau sabor nos peixes. Estes podem apresentar gosto de terra, particularmente quando há uma prolife- ração muito intensa de fitoplâncton. Informações mais detalhadas sobre a ocorrência de mau sabor em peixes podem ser encontradas na edição 84 desta revista (Julho/Agosto 2004). Apesar das dificuldades no manejo e controle do estoque, as tilápias podem ser criadas em tanques de terra de forma eficiente e a um baixo custo. Para isso é necessário adotar estratégias de produção eficazes e contar com equipamentos e estruturas que facilitem a despesca, o manuseio e a classificação dos peixes por tamanho. Pelo fato de serem eficientes no aproveitamento do alimento natural disponível (o plâncton), as tilápias podem ser produzidas em tanques de terra a um menor custo de produção, comparado à criação em tanques-rede ou em outros sistemas mais intensivos. Além disso, contribuem com a fixação de gás carbônico (incorporado no plâncton) em proteína de pescado e sua carne acumula mais ômega-3, fatores que podem ser ressaltados como um marketing positivo dos produtos de tilápia provenientes da criação em viveiros. Fatores determinantes ao sucesso da produção de tilápias em tanques escavados Diversos fatores impactam o sucesso da produção de tilá- pias em tanques de terra, conforme resumido no quadro 1. Qualidade e sobrevivência dos alevinos e juvenis O tema “qualidade dos alevinos de tilápia” já foi abor- dado em artigo publicado na edição 97 desta revista (Setembro/ Outubro 2006) e serve como referência aos interessados em uma discussão mais detalhada sobre o assunto. A excessiva mortalidade dos alevinos e juvenis após a estocagem eleva os custos de produção e prejudicam a previsão dos estoques de peixes. Mortalidades que ocorrem logo após o transporte e mesmo nas primeiras duas semanas após a estocagem geral- mente são reflexos do inadequado manejo utilizado durante a produção, o manuseio e o transporte dos alevinos e juvenis. Esta mortalidade também pode ser causada pela inadequada qualidade da água nos tanques onde os alevinos e juvenis serão estocados. Muitas vezes o produtor, por inexperiência e com a intenção de prover grande quantidade de alimento natural aos alevinos e juvenis, exagera na adubação dos tanques, que acabam ficando com oxigênio praticamente zerado no momento da estocagem dos peixes. Alevinos estocados nestas condições podem apresentar baixa sobrevivência. A predação por aves e morcegos nas fases iniciais de criação também contribuem com as baixas no estoque. O in- vestimento na colocação de tela anti pássaros sobre os tanques estocados com alevinos e juvenis (Berçário ou Fase 1 da pro- dução) é rapidamente recuperado com o maior aproveitamento dos peixes (Foto 1). Grande mortalidade de juvenis muitas vezes ocorre na própria piscicultura, após os manejos nas despescas e trans- ferências para os tanques de engorda. Devido à facilidade das tilápias fugirem do arrasto, as despescas de juvenis são mar- cadas por um grande número de passagens de rede no mesmo tanque. Os peixes ficam exaustos e se ferem nas inúmeras tentativas de fugas durante as despescas. Se espremem entre a rede e o barro, perdem escama e muco, entram em estresse fisiológico, perdem sais em excesso do sangue para a água e • Qualidade e sobrevivência dos alevinos e juvenis. • Estratégias para minimizar o impacto da reprodução indesejada. • Estratégias de produção em fases. • Eficiente manuseio, classificação e transferência. • Monitoramento da qualidade da água, em particular do oxigênio dissolvido. • Adequado manejo nutricional e alimentar. • Despesca eficiente. • Reaproveitamento da água, mínimo volume de efluentes e baixa concentração de sólidos e nutrientes nos efluentes. Quadro 1 – Fatores determinantes ao sucesso da produçãode tilápias em tanques de terra 16 Panorama da AQÜICULTURA, setembro, outubro, 2009 Vi ve ir os e sc av ad os acabam com a resistência imunológi- ca comprometida. O arrasto excessivo das redes promove intensa suspensão de argila e material orgânico na água. Isso provoca inflamação nas brânquias, prejudica a respiração e ainda pode favorecer a infecção dos peixes por pa- tógenos. Adicionalmente, as passagens de rede misturam a água do fundo, de baixa qualidade, com a de superfície. A água do fundo dos tanques geral- mente contém baixo oxigênio, elevado gás carbônico e uma diversidade de compostos potencialmente tóxicos aos peixes (amônia, gás sulfídrico, metano, entre outros). Peixes expostos a esta água por muito tempo podem apresen- tar alta mortalidade após o manuseio e transferências. O aproveitamento de alevinos e juvenis pode ser aumentado com a iden- tificação de bons fornecedores, preparo adequado dos tanques de alevinagem, adoção de uma fase de berçário com maior proteção contra predadores e uso de estratégias eficientes na despesca e no manejo dos juvenis antes das transfe- rências para os tanques de engorda. Estratégias para minimizar o impacto da reprodução indesejada O impacto da presença de fêmeas na criação de tilápias em tanques-rede é parcialmente minimizado pelas altas densidades na engorda e pela falta de um substrato adequado, que inibem e dificultam a reprodução. Este é um dos aspectos favoráveis da criação de tilá- pias em tanques-rede. No entanto, em tanques escavados as tilápias acabam encontrando um ambiente mais favo- rável à reprodução durante o cultivo. Para produzir uma tilápia de maior porte (600g a 1.000g, por exemplo) a engor- da pode se estender por 6 a 12 meses, dependendo das condições do clima, do peso inicial dos alevinos estocados, do manejo nutricional e alimentar empre- gado, da densidade de estocagem, entre outros fatores. Como as tilápias atingem maturidade sexual por volta do 5º ao 6º mês de vida, há tempo suficiente para que as fêmeas presentes no estoque se reproduzam repetidamente. Os novos alevinos e juvenis nascidos nos tanques de engorda competem com os peixes originalmente estocados pelo alimento e oxigênio disponível. Isso pode prejudicar o crescimento e a conversão alimentar dos peixes no cultivo. A presença de um pequeno percentual de fêmeas nos lotes, sem um adequado manejo, em particular sob ciclos estendidos de engorda, é sufi- ciente para superpovoar os tanques. Esse problema é ainda mais acentuado quando a engorda tem início com juvenis que foram estocados durante o inverno. Estes peixes já estão se aproximando do início da reprodução e ainda precisam de mais 5 a 8 meses de crescimento para atingir peso de mercado. Isso é tempo suficiente para realizarem diversas desovas nos tanques de engorda. Para minimizar este impacto, o produtor deve identificar fornecedores de alevinos que conseguem ofertar de forma consistente lotes com o menor percentual possível de fêmeas. Ainda assim é preciso adotar estratégias complementares para minimizar o impacto da reprodução das poucas fêmeas presentes nos estoques. Uma destas estratégias é estruturar a pro- dução em fases, possibilitando, antes do início da fase final de engorda, o descarte do maior número possível de fêmeas do plantel, através da técnica de gradagem. A gradagem serve para eliminar os menores peixes do lote, dentre os quais se presume haverá um maior percentual de fêmeas. A eliminação de fêmeas também pode ser feita manualmente, embora este processo seja demasiadamente trabalhoso em uma grande escala de produção. Além disso, o produtor pode também estocar outros pei- xes que comam as pós-larvas e pequenos alevinos de tilápia. Neste trabalho é mais eficiente o uso de peixes controladores de pequeno porte. Alevinos de peixes carní- voros como o black bass, o trairão, a traíra, o dourado, o pintado, entre outros, com tamanho de 8 a 10 cm podem ser usados. Estes peixes ainda trazem a vantagem de não competirem com as tilápias pela ra- ção fornecida. Cerca de 100 a 200 peixes controladores de pequeno porte devem ser estocados para cada 1.000m2 de tanque. Estes juvenis podem ser reaproveitados após a despesca e estocados em outros tanques de engorda. Lambaris também são "O aproveitamento de alevinos e juvenis pode ser aumentado com a identificação de bons fornecedores, preparo adequado dos tanques de alevinagem, adoção de uma fase de berçário com maior proteção contra predadores e uso de estratégias eficientes na despesca e no manejo dos juvenis antes das transferências para os tanques de engorda" 17Panorama da AQÜICULTURA, setembro, outubro, 2009 Viveiros escavados ótimos controladores de tilápia. No entanto, podem se reproduzir e competir com a ração fornecida às tilápias quando atingem porte adulto. Assim, estes peixes devem ser estocados nos tan- ques apenas na fase final ou nos últimos meses da engorda. Estratégias de produção em fases A divisão da produção em fases possibilita: a) um maior cuidado e proteção dos alevinos e juvenis contra predadores; b) uma melhor padronização no tamanho do peixe em cada tanque; c) o uso mais eficiente das unidades de produção (do espaço de produção); d) uma melhor previsão do estoque (números e biomassa); e) a redução do custo de produção. Um exemplo da produção de tilápias de 700g em 3 fases é ilustrado na figura 1. Na Fase 1, alevinos pós revertidos com cerca de 0,3 a 0,5g são estocados nos viveiros a densidades entre 40 e 60 peixes/m2. Estes tanques devem ser protegidos com tela anti Figura 1 – Ilustração da produção de tilápias em 3 fases, atingindo peso médio final de 700g 0,3 a 10g 40 dias 10 a 120g 80 dias 120 a 700g 120 dias 240 dias, em média, são necessários para chegar ao peso de abate de 700g pássaro. Quando os peixes atingem 10g de peso médio, os juvenis podem ser capturados com rede de arrasto, despes- cados, classificados por tamanho e estocados nos tanques para a segunda fase da produção. Peixes de fundo do lote podem ser descartados neste momento. Esta fase pode ser realizada dentro de tanques-rede ou hapas montados em tanques de terra onde já estão sendo conduzidas a segunda ou a terceira fase de produção (Foto 2). Isso possibilita um aproveitamento ainda melhor da área de produção, maior proteção dos alevinos, economia de tempo no preparo e despesca dos viveiros e um menor uso de água. Além disso, facilita a captura dos juvenis para as classificações e transferências. No entanto, a biomassa total de peixes estocada no tanque (a soma das biomassas dos peixes nos tanques-rede e dos peixes soltos no viveiro) não deve ex- ceder o limite estabelecido para o referido tanque. Foto 2 - Tanque-rede para fase de berçário instalado dentro de um tanque de engorda de tilápia Na Fase 2 a densidade de estocagem deve ser ajus- tada para 5 a 6 peixes/m2. Os juvenis são recriados até cerca de 100 a 120g. Quando atingem este porte é feita uma nova despesca, classificação por tamanho e o descarte 18 Panorama da AQÜICULTURA, setembro, outubro, 2009 Vi ve ir os e sc av ad os de eventuais fêmeas encontradas no lote, preferencialmente através da gradagem. A gradagem pode ser realizada dentro do próprio tanque de produção com o uso de classificadores de barras e tanques-rede (Foto 3) ou em tanques de alvenaria construídos em setores da piscicultura, de modo a atender a um grupo de tanques escavados (Foto 4). Mais detalhes so- bre esta estratégia de classificação são discutidos em artigo publicado na edição 113 desta revista. Na Fase 3 os juvenis de 100 a 120g são estocados a densidades entre 1,2 e 2 peixes por m2 para que atinjam peso médio ao redor de 700g. Densidades de estocagem mais eleva- das podem ser empregadas em todas as fases, desde que haja disponibilidade de renovação de água e aeração e seja feito um monitoramento contínuoda qualidade da água. Tilápias maiores do que 700g podem ser produzidas, sendo necessário um ajuste na densidade de estocagem na fase final da engorda. Eficiente manuseio, classificação e transferência O uso de redes e estratégias eficientes para uma rápida captura dos alevinos e juvenis é fundamental na produção de tilápias em tanques escavados, reduzindo a exaustão física e fisiológica dos peixes, bem como a ocorrência de injúrias físicas, comuns quando a rede de arrasto é passada várias vezes no mesmo tanque. As classificações por tamanho são importantes para uniformizar os lotes, possibilitar o descarte dos peixes do fundo dos lotes (menores) e reduzir o número de fêmeas na fase final da engorda. O uso de tanques de classificação com a água salinizada possibilita uma eficiente classificação, a realização de tratamentos preventivos nos peixes e a redução na mortalidade após o manuseio. Mais detalhes sobre este manejo o leitor poderá encontrar em artigo recentemente publicado nesta revista (Edição 115, julho/agosto 2009). Monitoramento da qualidade da água, em particular do oxigênio dissolvido Tilápias toleram baixos níveis de oxigênio na água. No entanto, o crescimento, a conversão alimentar e a sobrevivên- cia são afetados quando o peixe é frequentemente submetido a baixa concentração de oxigênio. O produtor deve procurar manter os níveis de oxigênio na água acima de 40% da satu- ração, ou seja, 3mg/L ou mais. Se não houver disponibilidade de aeração, o fornecimento de ração deve ser reduzido ou mesmo interrompido de modo a impedir que o oxigênio caia abaixo de 2mg/litro. Onde há disponibilidade de aeradores, estes devem ser acionados sempre que os níveis de oxigênio chegarem próximos de 2mg/litro. Para o adequado manejo da aeração é importante monitorar o oxigênio durante a noite, através do método da leitura contínua à noite ou através do método das duas leituras noturnas (ver mais detalhes sobre isso em artigo da edição 109 desta re- vista). O uso de aeradores na produção de tilápias geralmente é necessário quando o objetivo é atingir biomassa superior a 8.000 kg/ha (ou 0,8kg de peixes/m2). Cerca de 5 CV de aeração por hectare é recomendado. Potência de aeração entre 10 e 20 CV por hectare é necessária quando a produção excede 20 toneladas por hectare (2kg de peixes/m2). Outros parâmetros de qualidade de água devem ser acom- panhados. Em tanques com água verde (com fitoplâncton para contribuir com a alimentação das tilápias), é importante manter a alcalinidade total acima de 30mg CaCO3/litro. Isso é possível através de aplicações periódicas de calcário agrícola, determinadas com base nos valores da alcalinidade total da água. Com uma boa alcalinidade total, o pH da água fica mais estável (entre 7,0 e 8,5) e a formação e manutenção do fitoplâncton é favorecida. Águas verdes e com baixa alcalinidade podem apresentar pH muito elevado no período da tarde. Isso aumenta o risco de toxidez por amônia caso este composto esteja presente na água. Foto 3 – Classificação de juvenis de tilápia usando tanques-rede posicionados no próprio tanque de criação Foto 4 – Classificação de juvenis de tilápia em tanque de classificação de alvenaria e com uso de grade de barra (Centro de Produção de Juvenis de Tilápia – CPAT. Tangará, RN – Foto provida por Robert Krasnow) 19Panorama da AQÜICULTURA, setembro, outubro, 2009 Viveiros escavados A concentração de amônia na for- ma tóxica (NH3) deve ser mantida abaixo de 0,2 mg/litro. Isso é feito controlando a oferta de ração, realizando troca de água e mantendo o pH da água mais estável através da calagem. Exposição contínua das tilápias a concentrações de amônia tóxica acima de 2 mg/litro pode resultar em mortalidade completa dos peixes em poucos dias. A concentração de amônia na água deve ser monitorada semanalmente nos tanques que estão recebendo grande aporte de ração. A redução do arraçoamento e a realização de troca de água são as ferramentas que o produtor dispõe para manter os níveis de amônia dentro de limites adequados. Uma população de fitoplâncton bem estabele- cida também contribui com a remoção da amônia da água. O leitor interessado em conhecer mais sobre manejo da qualidade da água pode consultar as edições 45, 46, 47 e 109 desta revista. Adequado manejo nutricional e alimentar Conversões alimentares entre 1,0 e 1,3 são comuns na criação de tilápias em tanques de terra com o uso de rações extrusadas de boa qualidade. Na criação de tilápias em tanques-rede, onde a contribui- ção do alimento natural é praticamente zero, as conversões alimentares variam entre 1,5 e 1,8, mas muitas vezes podem ficar acima de 2,0:1 quando a ração e/ou o manejo alimentar não são adequados. Em criações intensivas em tanques de terra, o plâncton e outros alimentos naturais podem contribuir com cerca de 30 a 40% do ganho de peso das tilápias, ajudando a reduzir o custo de produção. Além disso, o fitoplâncton oxigena a água dos tanques, remove a amônia e impede o desenvolvimento de plantas aquáticas submersas. Assim, a formação do plâncton deve ser promovida com a correção da alcalinidade da água através da calagem (quando necessário) e da adubação dos tanques no início de cada fase de cultivo. Alguns produtores não conseguem formar e manter uma adequada quantidade de plâncton. Este insucesso geralmente se deve a inadequada correção da alcalinidade da água e ao excesso de renovação de água nos tanques. Outros fatores como a presença de argila em suspensão e a estocagem inicial de uma biomassa pequena de peixes também podem dificultar a formação do plâncton. A renovação de água na recria e engorda de tilápias em tanques de terra somente é necessária após ser atingida uma biomassa de 600g/m2 (6.000 kg/ ha), ou melhor, quando a taxa de alimen- tação ultrapassa 80kg de ração/ha/dia. O disco de Secchi mede a transparência da água e pode ser útil para determinar se a água deve ou não ser renovada nos viveiros. Em tanques de produção de tilápia a transparência deve ser mantida entre 20 e 30cm. Quando o plâncton se torna excessivo, ou seja, a transparência cai abaixo de 20cm, o produtor deve realizar a renovação de parte da água dos viveiros. Pelo fato das tilápias em tan- ques de terra terem alimento natural disponível, muitos produtores relaxam no manejo nutricional e alimentar. Na realidade, o uso de rações de alta qualidade (as mesmas usadas em situações de cultivo intensivo) traz grandes benefícios à qualidade da água, ao desempenho e à saúde dos peixes, acelerando as etapas de cul- tivo e possibilitando um aumento na produtividade por área com melhor eficiência alimentar e menor custo de ração por quilo de peixe produzido. O desafio no manejo alimentar de tilápias em tanques de terra é dosar a oferta de ração de modo que os peixes ainda mantenham um adequado con- sumo de alimento natural. A coloração das fezes dos peixe pode ajudar o pro- dutor a dosar a alimentação. Fezes de cor verde muito intenso pode indicar que a oferta de ração está insuficien- te. Fezes de coloração bem marrom, sem tons esverdeados, indicam que os peixes estão recebendo excessiva quantidade de ração. Fezes com co- loração marrom com tom esverdeado indicam que os peixes estão comendo tanto a ração como o alimento natural, condição próxima do desejado. No quadro 2 é apresentada uma estratégia nutricional e alimentar para cada fase de cultivo. Informações mais detalhadas sobre o manejo nutricional e alimentar na produção de tilápias podem ser encontradas em artigo pu- blicado na edição 98 desta revista. "O uso de rações de alta qualidade traz grandes benefícios à qualidade da água, ao desempenho e à saúde dos peixes, acelerando as etapas de cultivo e possibilitando um aumento na produtividade por área com melhor eficiência alimentar e menor custo de ração por quilo de peixe produzido" 20 Panorama daAQÜICULTURA, setembro, outubro, 2009 Vi ve ir os e sc av ad os Despescas eficientes Como comentado anteriormente, as tilápias esca- pam facilmente do arrasto com rede. Para uma colheita eficiente é preciso contar com redes especialmente dese- nhadas para a captura de tilápias. Também é importante contar com pessoal bem treinado no arraste das redes. As redes mais adequadas para isso devem ter um ensaque central de grande tamanho e uma altura da panagem de 6 a 8 metros na área central da rede, favorecendo a condu- ção da linha de fundo bem a frente da linha de bóias. O ensaque central pode ainda dispor de acoplamento para um “carro vivo”, uma espécie de tanque rede que pode ser acoplado ao fundo do ensaque da rede, deixando um túnel de passagem entre o ensaque e o “carro vivo”. Isso possibilita que, durante o arrasto, os peixes se encaminhem para dentro do “carro vivo” e ali se concentrem, facilitando a captura. (Foto 5). A captura das tilápias pode ser facilitada com a construção de caixas de despesca bem dimensionadas dentro ou fora dos tanques de engorda (Fotos 6a, 6b e 6c). Estas caixas de despesca devem contar com renovação de água e com equipamento de aeração (aeradores de pás ou bombas verticais). Isso possibilita a manter uma alta concentração de peixes no interior das caixas de despesca, mesmo após a drenagem do tanque. Estas caixas podem ainda servir para a depuração dos peixes para transporte ou abate, e, até mesmo, para a classificação dos animais por tamanho, se necessário. Viveiros que possuem comportas de grandes Fase 1 – 0,3 a 10g (30-40 dias): Fornecer 4 a 3 refeições/dia em quantidade entre 6 e 4% do peso vivo (PV)/dia. Uso de ração em pó com 40% de proteína bruta (PB). Após atingido 5g de peso médio, iniciar a oferta de peletes de 2mm com 36 a 40%PB. A ração deve ser fornecida de forma restrita, próximo de 70 a 80% do máximo consumo dos peixes. Fase 2 – 10 a 120g (60-80 dias): Fornecer 2 refeições/dia, em quantidade entre 4 e 3% PV/dia. Esta etapa deve ser iniciada com peletes de 2mm com 36%PB. Quando os peixes atingirem 30g podem ser fornecidos peletes de 3-4mm com 32%PB. A ração deve ser fornecida de forma restrita, próximo de 70-80% do máximo consumo dos peixes. Fase 3 – 120 a 700g (100-120 dias): Fornecer 2 a 1 refeições/dia, em quantidade entre 3 e 1% PV/dia. Esta etapa deve ser iniciada com peletes de 3-4mm com 32%PB. Quando os peixes atingirem cerca de 200g podem ser fornecidos peletes de 5-6mm com 32%PB, que pode ser usado até o final da engorda. A ração deve ser fornecida de forma restrita, próximo de 70-80% do máximo consumo dos peixes. Quadro 2 – Estratégia nutricional e alimentar na produção de tilápia em tanques escavados com plâncton Foto 5 - Carro vivo usado na despesca de catfish americano em fazenda no Mississipi. O mesmo processo de despesca pode ser utilizado com tilápia, de forma a aumentar a eficiência da captura com a rede de arrasto Fotos 6a e 6b - Caixas de despescas em formato de piscina construídas no fundo dos tanques para facilitar a despesca de tilápias. Nestas caixas, além de renovação de água, podem ser colocados aeradores para promover a oxigenação da água durante a concentração dos peixes na despesca Foto 6c - Caixa de despesca de formato retangular com entrada de água em uma das extremidades na Estação de Piscicultura da CHESF em Paulo Afonso, BA. Este formato de caixa de despesca, além da concentração dos peixes, possibilita a realização da classificação dos peixes com o uso de grades de barra 21Panorama da AQÜICULTURA, setembro, outubro, 2009 tamanhos também podem ser adapta- dos para uma colheita eficiente sem a necessidade do uso de rede de arrasto. Reaproveitamento da água, mínimo vo- lume de efluentes e baixa concentração de sólidos e nutrientes nos efluentes Além do sucesso produtivo, a tilapicultura em tanques escavados deve seguir na direção da sustentabili- dade ambiental. Para isso é necessário adotar boas práticas de conservação de água e de mínimo descarte de efluentes. Assim, os produtores devem manter o nível operacional de água nos tanques cerca de 10 a 15 cm abaixo do nível máximo de água, possibilitando acomodar a água da chuva que incide diretamente sobre os viveiros. Isso possibilita conservar a água, reduzir o volume de descarga de água e de sólidos em suspensão para os cursos d’água receptores e minimizar os gas- tos com energia em pisciculturas onde o bombeamento de água é necessário para o enchimento dos tanques. Na criação de tilápias é necessário realizar a drenagem completa dos tanques após cada fase de produção. Só assim é possível remover todos os peixes do tanque. Essa água drenada deve, sempre que pos- sível, ser reaproveitada no enchimento do mesmo tanque ou para completar a água em outros tanques de criação. Para tanto a água de drenagem tem que ser armazenada em um tanque receptor ou mesmo em tanques vizinhos, sendo usada posteriormente para o enchimento do tanque que foi drenado. Além da economia no uso de água, corretivos e fertilizantes, o reuso da água possibilita iniciar um novo ciclo com boa abundância de alimento natural. Outra boa prática que deve ser ado- tada pelos produtores é a de manter o dreno fechado durante a despesca. Isso impede a descarga de água com excessiva quantidade de sólidos em suspensão. Após a finalização da despesca da maioria dos peixes, deve se aguardar entre dois e três dias para que os sólidos em suspensão decantem. Somente após esse tempo é que deve ser feita a drenagem total do viveiro e a remoção do restante dos peixes. A adoção destas práticas ajuda a reduzir o uso de água, o volume de efluentes e o aporte de sólidos e de nutrientes nos corpos d’água receptores da água da piscicultura. Perspectivas para a expansão da tilapicultura em tanques escava- dos no Brasil A criação intensiva de tilápias em tanques de terra, mesmo deman- dando maior investimento na implan- tação das fazendas de produção, traz importantes vantagens competitivas sobre a criação em tanques-rede: a) menor incidência de doenças, impon- do menor risco ao desenvolvimento da atividade; b) contribuição do alimento natural no crescimento da biomassa, fixando carbono e aumentando os níveis de ômega-3 nos produtos; c) conversões alimentares mais efi- cientes, reduzindo o uso de ração e o custo da alimentação por quilo de tilápia produzida; d) melhor aproveitamento de alevinos e maior sobrevivência durante a recria e engorda. Não podemos subestimar as vantagens aqui relacionadas, que con- tribuem para que o custo de produção da tilápia cultivada em viveiros com ração gire hoje entre R$ 1,90 e 2,40/kg, contra custos cerca de 40% superiores registrados na criação em tanques-rede (atuais R$ 2,70 a 3,40/kg). A dificuldade de despesca deste peixe e os eventuais problemas com “off-flavor” em tan- ques de terra podem ser superados com criatividade, equipamentos, instalações adequadas e estratégia de produção. O Brasil conta com grandes exten- sões de áreas contínuas e propícias para a piscicultura em tanques escavados. O aproveitamento eficiente destas áreas sob um uso mínimo de água demanda a criação de uma espécie tolerante ao baixo oxigênio dissolvido e com grande habilidade em uti- lizar a biomassa fitoplanctônica disponível. Além disso, ajuda muito se esta espécie apresentar carne branca com ausência de espinhas. A tilápia é a espécie de maior compatibilidade com estes requisitos. Viveiros escavados "Após a finalização da despesca da maioria dos peixes, deve se aguardar entre dois a três dias para que os sólidos em suspensão decantem. Somente após esse tempo é que deve ser feita a drenagem total do viveiro e a remoção do restante dos peixes. A adoção destas práticas ajuda a reduzir o uso de água, o volume de efluentes e o aporte de sólidos e nutrientes nos corpos d´água receptores da água da piscicultura"22 Panorama da AQÜICULTURA, setembro, outubro, 2009 Sanidade Aquícola N a Coluna “Sanidade Aquícola” desta edição discutiremos um tema muito atual, mas ainda pouco conhecido na piscicultura brasileira: as vacinas. Esse tipo de produto tem sido utilizado há décadas na medicina humana e veterinária, sendo uma das principais ferramentas empregadas no controle de diversas doenças infecciosas. Apesar de prematura, a vacinologia (es- tudo das vacinas) em peixes é uma área em ampla expansão no meio acadêmico e na indústria aquícola em todo o mundo. O desenvolvimento de vacinas eficazes para as espécies cultivadas e eficien- tes frente aos principais patógenos ocorrentes no Brasil é uma perspectiva importante e será um grande passo para a atividade no país. Ao longo do texto apresentaremos os principais conceitos, tipos de vacina, métodos de vacinação em peixes, fatores que influenciam sua eficiência e quais são as perspectivas para a aquicultura nacional nos próxi- mos anos. Por: Henrique César Pereira Figueiredo e-mail: henrique@ufla.br Médico Veterinário, professor do Departamento de Medicina Veterinária da UFLA Coordenador do AQUAVET Lab. de Doenças de Animais Aquáticos Glei dos Anjos de Carvalho Castro Carlos Augusto Gomes Leal Lamartine da Nóbrega Netto Uso de vacinas na piscicultura: Vacinas As vacinas são produtos conhecidos e desenvolvidos na sociedade moderna desde os primórdios do século 20. Pelo fato da vacinação contra diversas enfermidades ser um procedimento comum desde a infância, a maioria das pessoas está habituada a ela e acredita nos benefícios desse tipo de produto. Porém, na agropecuária o conceito exato de vacina possui, muitas vezes, interpretações dúbias e errôneas. Isso se deve à utilização de diferentes produtos (não-vacinas) para aumentar a resistência dos animais frente às doenças, que acabam sendo confundidos com as vacinas. Mas, o que é uma vacina e quais seus objetivos? Vacinas são substân- cias como proteínas, polissacarídeos (açúcares) e toxinas de origem microbia- na; partes de bactérias e vírus; ou ainda microrganismos inteiros inativados ou atenuados (enfraquecidos) que, ao serem introduzidos no organismo dos animais (incluindo seres humanos e peixes), estimulam o sistema de defesa de maneira específica (ver artigo “Imunidade de Animais Aquáticos”, Panorama da Aqüicultura, v.18, n°105). Essas substâncias são tecnicamente chamadas de “antígenos” e possuem as características estruturais e moleculares que serão reconhecidas pelo sistema imune. A característica principal das vacinas é a estimulação específica das defesas do organismo. A partir da vacinação, o organismo é capaz de produzir anticorpos, que são moléculas que reconhecem, sinalizam e neutralizam os patógenos (Figura 1), ou ainda respostas celulares específicas que detectam com alta eficiência e afinidade aquela substância com a qual foi estimulado (antígeno), que o protege frente a um posterior evento de infecção. Verdades, mitos e perspectivas 23Panorama da AQÜICULTURA, setembro, outubro, 2009 Sanidade Aquícola A especificidade da resposta imune é o que diferencia a ação biológica (efeito) das vacinas e dos imunoestimulantes. Estes últimos estimulam de maneira inespecífica o sistema imune, agindo sobre a imunidade inata (não-específica), para que o organismo reconheça e combata de maneira genérica to- dos os microrganismos. Porém, apesar de importante, somente as defesas inespecíficas não são capazes de evitar diversas infecções. Devido à relativa baixa especificidade das barreiras inatas e padrão genérico de resposta, muitos patógenos desen- volveram mecanismos que os permitem driblar a imunidade inata e causar doenças. Esse tipo de estimulação inespecífica é promovida também por alguns probióticos, que além de alterar a composição da microbiota (flora) intestinal, liberam substâncias ou componentes celulares que exercem efeito imunoestimulate (somente imunidade inespecífica) em seus hospedeiros. O objetivo principal da vacinação é preparar o organis- mo do animal com um aparato de defesa (imunidade) montado para combater um determinado patógeno, previamente ao contato com esse. Essa antecipação da resposta defensora por parte do animal pode impedir prontamente a infecção e, con- sequentemente, a ocorrência da doença. Por esse motivo, as vacinas são utilizadas unicamente como medidas preventivas e não terapêuticas (curativas). Para montar uma resposta imune protetora, o organismo dos animais necessita de tempo para capturar o antígeno (vacina) aplicado, processá-lo e produzir anticorpos específicos ou células do sistema imune competen- tes (Figura 2). Portanto, durante um surto a vacinação não terá efeito algum pois o organismo dos peixes não terá tempo hábil para se proteger. Neste ponto, podemos ressaltar a diferença básica no uso de antibióticos e vacinas em programas de prevenção e controle de doenças causadas por bactérias. Os antibióticos devem ser utilizados durante os casos de surto para atuar diretamente nas células das bactérias, combatendo-as para permitir que Figura1: Representação esquemática de um anticorpo de peixe, denominado tecnicamente de imunoglobulina (Ig). Em peixes ósseos existe apenas um tipo de anticorpo, de composição tetramérica com quatro extremidades ligantes (setas), que reconhecem os antígenos. No caso de peixes cartilaginosos o anticorpo é pentamérico. Já os mamíferos apresentam um sistema imune mais especializado com cinco tipos diferentes de anticorpos Sítios de interação com os antígenos Figura 2: Esquema demonstrando o efeito protetor da vacina no peixe, através da produção de anticorpos específicos contra agentes patogênicos (como o vírus e bactérias) Administração da vacina Em torno de 20 dias após Produção de anticorpos por células de defesa do peixe (plasmócitos) Contato entre os peixes e os patógenos durante o cultivo Anticorpos combatendo o patógenoReconhecimento específico e fagocitose dos patógenos por macrófagos (células de defesa do peixe) os animais se curem da infecção. O uso de antibióticos como medicamento preventivo (profilático) é prejudicial, pois pode levar à seleção de microrganismos resistentes, provocar impacto ambiental, gerar resíduos e aumentar o custo de produção. As vacinas, por outro lado, têm uma maior aplicabilidade preventi- va, visto que podem ser administradas anteriormente ao período de ocorrência das doenças, sem causar impacto ao ambiente ou deixar resíduos, além de, em geral, terem um menor custo (varia conforme o produto). No caso das doenças virais, somente o uso de vacinas é possível, pois não há tratamento específico para uso em produção animal. "O objetivo da vacinação é preparar o organismo do animal com um aparato de defesa montado para combater um determinado patógeno, previamente ao contato com esse. Essa antecipação da resposta defensora por parte do animal pode impedir prontamente a infecção e, consequentemente, a ocorrência da doença" 24 Panorama da AQÜICULTURA, setembro, outubro, 2009 com potencial para regiões de clima frio Espécies nativas 25Panorama da AQÜICULTURA, setembro, outubro, 2009 Tipos de vacina e Métodos de Vacinação As vacinas são classificadas em diferentes tipos, de acordo com a maneira que são produzidas. A seguir, são apresentados os três tipos básicos de preparação vacinal, suas aplicações e exemplos em piscicultura: 3) Vacinas de DNA: são produzidas a partir da transferência intencional de um gene específico, que codifica uma proteína ou outra molécula do microrganismo (antígeno), para o ani- mal, via injeção intramuscular. Esse gene é fundido com um fragmento de DNA não cromossomal de bactérias, chamado Sanidade Aquícola1) Vacinas inativadas: são os tipos mais comuns de vacinas sendo produzidas a partir de células inativadas (mortas) dos microrga- nismos. A inativação das células bacterianas é realizada com o uso de substâncias químicas,
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