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25 B lo co A Capítulo 1 SUPORTE AVANÇADO DE VIDA – PARADA CARDIORRESPIRATÓRIA O QUE VOCÊ PRECISA SABER? u As etapas do suporte básico de vida são segurança do local para a vítima e para o socorrista, avaliação da responsividade e respiração da vítima, chamar ajuda e a realizar a sequência circulação – > vias aéreas – > ventilação (CAB) u Características da compressão de alta qualidade: 100 a 120 por minuto, 5 a 6 cm de profundidade, per- mitindo retorno total do tórax. u As drogas do suporte avançado: AESP/assistolia: epinefrina (adrenalina) 1 mg a cada três a cinco minu- tos, iniciar assim que houver acesso venoso disponível, FV/TV: epinefrina 1 mg após o segundo choque, amiodarona se houver ritmo refratário ao choque e vasopressor. Dose inicial de 300 mg, com dose única adicional 150 mg após três a cinco minutos. u Atentar para as 10 principais causas de parada cardiorrespiratória (5 H e 5 T). 1. DEFINIÇÃO O evento que antecede a morte biológica é a parada cardiorrespiratória (PCR), que pode ocorrer de forma súbita ou progressiva, sendo uma situação abso- lutamente emergencial na medicina. A rapidez e a eficácia das intervenções adotadas são fundamentais e interferem diretamente no prognóstico da vítima. 2. EPIDEMIOLOGIA A PCR permanece como um problema mundial de saúde pública. Apesar de avanços nos últimos anos relacionados à prevenção e tratamento, muitas são as vidas perdidas anualmente no Brasil relacionadas à PCR, ainda que não tenhamos a exata dimensão do problema pela falta de estatísticas robustas a esse respeito. Estima-se que a maioria das PCR em ambiente extra-hospitalar seja em decorrência de ritmos como fibrilação ventricular (FV) e taquicardia ventricular sem pulso (TVSP), enquanto em ambiente hospitalar a atividade elétrica sem pulso (AESP) e a assistolia respondam pela maioria dos casos. Essa diferença deve-se provavelmente a um perfil diverso do paciente internado em que a PCR é um evento que reflete deterioração clínica progressiva, diferentemente do que acontece fora do hospital, em que a maioria das PCR é súbita e devida, em grande parte, a arritmias decorrentes de quadros isquêmicos agudos ou a problemas elétricos primários. Diversos fatores têm sido relacionados com maior sobrevida hospitalar, como o local onde acontece o evento, dias da semana quando comparados com finais de semana, eventos que acontecem no período diurno quando comparados com o período noturno, eventos presenciados, idade menor de 65 anos, presença de função normal do ventrículo esquerdo antes do evento, duração do evento, entre outros. FLASHCARDS A maioria das PCR em ambientes extra-hospitalares é decorrente de quais ritmos? Fibrilação ventricular e taquicardia ventricular. Cardiologia.indb 25 13/02/2020 20:50:04 Suporte avançado de vida – parada cardiorrespiratória Capítulo 1 26 3. SUPORTE BÁSICO DE VIDA NO ADULTO O suporte básico de vida (SBV) aborda a sequência primária de ações para salvar vidas. Essas ações são realizadas durante os minutos iniciais de aten- dimento a uma emergência, visando instituir as condições mínimas necessárias para manutenção ou recuperação da oxigenação e perfusão cerebral. A viabilidade neurológica é um dos principais fatores de prognóstico da vítima de PCR. A realização imediata de ressuscitação cardiopul- monar (RCP) em uma vítima de PCR, ainda que seja apenas com compressões torácicas, contribui sensi- velmente para o aumento das taxas de sobrevivência das vítimas. 3.1. SEGURANÇA DO LOCAL Primeiramente, avalie a segurança do local. Certifi- que-se de que o local é seguro para você e a vítima. Caso o local não seja seguro (por exemplo, prédio com risco de desmoronamento, via de trânsito), torne o local seguro (por exemplo, parando ou desviando o trânsito) ou remova a vítima para um local seguro. Se o local estiver seguro, prossiga o atendimento. 3.2. AVALIE A RESPONSIVIDADE E RESPIRAÇÃO DA VÍTIMA Avalie a responsividade da vítima chamando-a e tocando-a pelos ombros ao mesmo tempo em que avalia a ventilação (observando a movimentação do tórax). X Se a vítima responder, apresente-se e converse com ela perguntando se precisa de ajuda. X Se a vítima não responder, mas tiver respiração, fique ao seu lado e aguarde para ver sua evolução. Caso seja necessário, chame ajuda. X Se a vítima não estiver respirando ou estiver so- mente com gasping (respiração agônica), chame ajuda imediatamente. Pessoas não treinadas não devem tentar checar o pulso (confiabilidade baixa e pode atrasar o início da massagem cardíaca). Se o provedor do BLS for um profissional de saúde, pode avaliar o pulso, desde que a avaliação não exceda o prazo máximo de 10 segundos. 3.3. CHAME AJUDA Em ambiente extra-hospitalar, ligue para o número local de emergência e, se um DEA estiver disponível no local, vá buscá-lo. Se não estiver sozinho, peça para uma pessoa ligar e conseguir um DEA, enquanto continua o atendimento à vítima. Exceção: nos casos de PCR por hipóxia (afogamento, trauma, overdose de drogas e para todas as crianças), o socorrista deverá iniciar RCP fazendo a sequência ABC ao invés da CAB (duas ventilações de resgate seguido por compressões, fazendo um ciclo com- pleto de dois minutos) e depois chamar ajuda, se estiver sozinho. 3.4. INICIAR A SEQUÊNCIA DO BLS (CAB) A sequência CAB (Circulation, Airway, Breathing) refere-se à massagem cardíaca, abertura de vias aéreas e ventilação. Quando realizado por socorristas leigos e sem treinamento, deve-se realizar apenas a compressão sem a ventilação (hands only). Caso realizado por socorrista treinado, o ideal é manter a sequência CAB com 30 compressões para cada duas ventilações até chegada do DEA ou profissionais do serviço de emergência. 3.4.1. C (CIRCULATION) – CIRCULAÇÃO O número total de compressões aplicadas durante a RCP é um fator determinante na sobrevivência da PCR, sendo que deve ser realizada com alta quali- dade. Isso significa utilizar metas de desempenho que avaliam a qualidade da RCP. X Frequência de 100 a 120 compressões/min: aplica- ção de mais compressões está associada a maio- res taxas de sobrevivência. A adição de um limite Cardiologia.indb 26 13/02/2020 20:50:04 Suporte avançado de vida – parada cardiorrespiratória Cap. 1 27 B lo co A superior para a frequência das compressões se baseia na análise de um grande registro que as- socia taxas de compressão extremamente altas (superiores a 140 por minuto) à profundidade de compressão incorreta. X Comprimir a uma profundidade de 5 a 6 cm: apli- car compressões torácicas até uma profundidade de, pelo menos, 5 cm para um adulto médio, evi- tando excesso na profundidade das compressões torácicas (6 cm). O limite máximo para a profun- didade das compressões foi adicionado devido a evidências de que a compressão além dos 6 cm pode aumentar complicações. Avaliações feitas em estudo por dispositivo de feedback sugerem que as compressões normalmente são mais su- perficiais do que profundas. X Retorno total do tórax após cada compressão: deve-se evitar apoiar-se sobre o tórax entre as compressões, para permitir o retorno total da parede do tórax. X Minimizar as interrupções nas compressões: de- ve-se tentar minimizar a frequência e a duração das interrupções das compressões, para maximi- zar o número de compressões aplicadas por mi- nuto, de preferência com pausas de no máximo 10 segundos para checagem do ritmo e do pulso se necessário (Tabela 1). Tabela 1. RCP de alta qualidade. Os socorristas devem Os socorristas não devem Realizar compressões torácicas – 100 a 120 por minuto Comprimir a uma frequência inferior ou superior Comprimir a uma profundidade de pelo menos 5 cm Comprimir a uma profundidade inferior a 5 cm ou superior a 6 cm Retorno total do tórax após cada compressão Apoiar-se sobre o tórax Minimizar as interrupções Interromper as compressões por mais de 10 segundos Duas respirações após 30 compressões,cada respiração administrada em um segundo, provocando a elevação do tórax Ventilação excessiva Fonte: Modificado de Atualização das Diretrizes de 2015 da American Heart Association (AHA) para Ressuscitação Cardiopulmonar (RCP) e Atendimento Cardiovascular de Emergência (ACE). 3.4.2. A (AIRWAY) – VIAS AÉREAS Consiste na desobstrução (retirar prótese e corpos estranhos) e abertura das vias aéreas (manobra de inclinação da cabeça e elevação do mento – head tilt, chin lift). Para pacientes com suspeita de lesão cer- vical, deve-se estabilizar a cabeça e fazer a abertura da via aérea com a tração da mandíbula (jaw thrust). FLASHCARDS Como deve ser feita a etapa C (circulação) no supor- te básico de vida? Frequência de 100 a 120 compressões por minuto com profundidade de 5 a 6 cm, permitindo retorno total do tórax após cada compressão. Cardiologia.indb 27 13/02/2020 20:50:04 Suporte avançado de vida – parada cardiorrespiratória Capítulo 1 28 3.4.3. B (BREATH) – VENTILAÇÃO No SBV, devem ser feitas duas ventilações boca a boca ou boca-nariz (idealmente com auxílio de ante- paros: boca – máscara facial) a cada 30 compressões torácicas, com tempo inspiratório de um segundo provocando elevação do tórax. Em pacientes com parada respiratória (sem respi- ração, mas com pulso) devem ser administradas ventilações de resgate a cada cinco a seis segundos (10 a 12 por minuto) e o pulso deve ser verificado a cada dois segundos (iniciar RCP na ausência de pulso). Caso haja suspeita de intoxicação por opioi- des, administrar naloxona (antagonista do opioide), se disponível. Para pacientes com via aérea avançada, a regra é de uma ventilação a cada seis segundos (10 respirações por minuto), enquanto são aplicadas compressões torácicas contínuas. 3.4.4. DESFIBRILADOR A principal função da sequência do CAB é manter o paciente vivo, preservando a função neurológica até a chegada do desfibrilador. A desfibrilação precoce é o tratamento de escolha para vítimas em FV e TV sem pulso, como as que apresentaram colapso súbito em ambiente extra-hos- pitalar. Por isso, assim que o desfibrilador externo automático (DEA) estiver disponível, se o socorrista estiver sozinho, deverá parar a RCP para conectar o aparelho. Se houver mais do que um socorrista, enquanto o primeiro realiza RCP o outro manuseia o DEA. X A RCP deve ser iniciada pelas compressões torá- cicas, imediatamente após o choque. X Posicionamento das pás do desfibrilador: as quatro posições (anterolateral, anteroposterior, anterior esquerdo infraescapular, anterior direito infraes- capular) têm a mesma eficácia no tratamento de arritmias atriais e ventriculares. X Situações especiais: em pacientes com marca- -passo (MP), o ideal é afastar pelo menos 8 cm do gerador (optar pela posição anteroposterior). Remover o excesso de pelos somente da região onde serão posicionadas as pás, secar por com- pleto o tórax da vítima (se estiver sobre uma po- ça d’água não há problema, porém se nessa poça d’água também envolver o socorrista, remova a vítima para outro local). Se não houver suspeita de trauma e a vítima já apresentar respiração normal e pulso, o socorrista poderá colocá-la em posição de recuperação. O DEA não deve ser desligado e as pás não devem ser removidas ou desconectadas até que o serviço médico de emergência assuma o caso. 4. SUPORTE AVANÇADO DE VIDA NO ADULTO As PCR que ocorrem no ambiente hospitalar devem idealmente ser conduzidas com suporte avançado de vida (Figura 2). São basicamente quatro tipos de ritmos encontra- dos na PCR: X Fibrilação ventricular (ondulações irregulares com frequência > 320 bpm e sem discernimento dos complexos). X Taquicardia ventricular sem pulso (complexos orga- nizados, com QRS alargado e frequência elevada). X Assistolia (ritmo isoelétrico). X Atividade elétrica sem pulso (ritmo cardíaco or- ganizado que não é a FV ou TV, mas sem pulso). A fibrilação ventricular é o ritmo mais comum na PCR extra-hospitalar (PCREH) e deve ser abordada imediatamente com RCP e choque. Se não for rever- tido, esse ritmo degenera para assistolia por injúria generalizada ao miocárdio. Entre os adultos vítimas de PCR em ambiente intra- -hospitalar (PCRIH), grande parte apresenta ritmo de atividade elétrica sem pulso (37%) e assistolia (39%) como ritmo inicial de PCR. Cardiologia.indb 28 13/02/2020 20:50:04 Suporte avançado de vida – parada cardiorrespiratória Cap. 1 29 B lo co A Figura 1. Algoritmo geral de atendimento à PCR. BVM: bolsa-válula-máscara, RCE: recuperação da circulação espontânea, SCA: síndrome coronariana aguda Fonte: I diretriz de ressuscitação cardiopulmonar e cuidados cardiovasculares de emergência da Sociedade Brasileira de Cardiologia: http://publicacoes.cardiol.br/consenso/2013/Diretriz_Emergencia.pdf. Cardiologia.indb 29 13/02/2020 20:50:04 Suporte avançado de vida – parada cardiorrespiratória Capítulo 1 30 4.1. A (AIRWAY) – VIAS AÉREAS A intubação orotraqueal (IOT) é considerada o método ideal de manejo da via aérea durante a RCP, porém não há evidências na literatura sobre o melhor momento para realizá-la (às vezes a insistência na obtenção rápida de uma via aérea avançada pode resultar em aumento no intervalo de tempo sem massagem cardíaca). A IOT deve ser, preferivelmente, realizada sem interrupções nas compressões ou com inter- rupção de no máximo 10 segundos, para permitir a visualização das cordas vocais. Após a colocação da cânula traqueal, é necessário checar se o seu posicionamento está correto, o que é feito inicialmente pela avaliação clínica. A avaliação clínica consiste na visualização da expansão torácica, da passagem de vapor pelo tubo e da ausculta em cinco pontos (epigástrio, base pulmonar esquerda, base pulmonar direita, ápice pulmonar esquerdo e ápice pulmonar direito, preferencialmente, nessa ordem). Após a avaliação clínica, o ideal é que o posicionamento do tubo seja novamente confirmado com a capnografia de onda contínua quantitativa. 4.2. B (BREATH) – VENTILAÇÃO Após a intubação, deve-se evitar a hiperventilação do paciente, já que ele se encontra em situação de hipofluxo sistêmico e pulmonar (RCP de alta quali- dade consegue débito cardíaco de 30% do normal), assim necessitando de volume ventilado menor. A hiperventilação pode resultar em aumento da pres- são intratorácica, o que reduz o retorno venoso e diminui ainda mais o débito cardíaco. FLASHCARDS No suporte avançado de vida, como deve ser feita a etapa B (ventilação) em paciente com via aérea avançada? Uma ventilação a cada seis segundos (10 respirações por minuto), enquanto são aplicadas compressões torácicas contínuas. Com uma via aérea avançada, administrar uma ven- tilação a cada seis segundos (10 respirações por minuto), enquanto são aplicadas compressões torá- cicas contínuas. O tempo inspiratório deve ser de um segundo e gerar discreta elevação torácica bilateral. 4.3. C (CIRCULATION) – CIRCULAÇÃO Acesso venoso periférico deve ser puncionado inicial- mente, de preferência na veia antecubital (caso não esteja disponível, na ordem de preferência: jugular externa, acesso venoso intraósseo e veia central). As drogas utilizadas são vasopressores e antiarrít- micos. Após injeção da droga, o membro superior deve ser elevado, administrando-se 20 ml de solução salina (ajuda a droga a chegar à circulação central). FLASHCARDS Qual a ordem de preferência dos acessos venosos para a administração de drogas no suporte avan- çado de vida? Veia antecubital > jugular externa > intraósseo > veia central. X Vasopressor: a vasoconstrição periférica desvia o fluxo gerado pela massagem cardíaca para órgãos como cérebro e coração (aumentando a pressão de perfusão cerebral e coronariana). Epinefrina é a droga de escolha na dose de 1 mg a cada três a cinco minutos nas PCR por todos os ritmos. X Antiarrítmicos: aumentam a chance de retorno da circulação espontânea em pacientes com FV/TVrefratária (FV/TV que não responde à RCP + des- fibrilação + vasopressores). A vasopressina não oferece nenhuma vantagem como substituta da dose padrão de epinefrina em PCR. A eficácia das duas drogas é semelhante e não há benefício na administração das duas combinadas em relação à epinefrina isoladamente. Cardiologia.indb 30 13/02/2020 20:50:04 Suporte avançado de vida – parada cardiorrespiratória Cap. 1 31 B lo co A Assim como a vasopressina, a atropina foi retirada do ACLS por não existirem evidências de benefício terapêutico (não aumenta a chance de retorno da circulação espontânea em nenhum ritmo de parada). Em pacientes sem acesso venoso, algumas drogas podem ser administradas pelo tubo orotraqueal. São elas atropina, naloxone, epinefrina e lidocaína (acrônimo ANEL) em dose de 2 a 2,5 vezes superior à dose IV diluídas em 5 a 10 ml de solução salina ou água estéril. Durante a tentativa de ressuscitação, o socorrista deve tentar identificar a causa da PCR. Deve-se tentar obter dados, para tanto, examinando o paciente ou conversando com os familiares. A maioria das causas de parada pode ser resumida na memorização mnemônica “cinco H e cinco T”. X Hipóxia. X Hipovolemia. X H+ (acidose). X Hipo/ Hipercalemia. X Hipotermia. X Trombose coronariana (IAM). X Trombose pulmonar (TEP). X Toxicidade (intoxicação exógena). X Tensão no tórax (pneumotórax hipertensivo). X Tamponamento cardíaco. FLASHCARDS Quais as principais causas de parada cardiorres- piratória? 5 H (hipóxia, hipovolemia, H+ (acidose) hipo ou hi- percalemia, hipotermia) e 5 T (trombose coronaria- na, trombose pulmonar, toxicidade, tensão no tórax, tamponamento cardíaco). Todos os ritmos de parada podem estar relacionados às mesmas etiologias, sendo que uma abordagem emergencial voltada contra as causas básicas (caso confirmadas ou muito prováveis) favorece o retorno da circulação espontânea. 4.3.1. FV E TV SEM PULSO (TVSP) Quando a monitorização com desfibrilador manual revela ritmo de FV/TV, a prioridade deve ser a desfi- brilação com carga máxima o mais precoce possível, assim que disponível, uma vez que a duração da arritmia é fator prognóstico para o sucesso da des- fibrilação (Figura 3). Após o choque, as compressões torácicas devem ser reiniciadas imediatamente por dois minutos. Na sequência, todos devem se afastar do paciente para que o ritmo seja reavaliado (nessa pausa para avaliação do ritmo que não deve exceder 10 segundos, deve ocorrer o rodízio dos socorristas para manter RCP de alta qualidade). O momento recomendado para administrar o vasopressor é após o segundo choque, sendo a medicação de escolha a epinefrina (adrenalina) 1 mg IV a cada três a cinco minutos. Se a FV/TV persistir, procede-se a um novo cho- que de alta energia, seguido por RCP durante dois minutos. Nesse caso, considera-se FV/TV refratária (RCP, desfibrilação e vasopressor) indicando o uso da amiodarona. A primeira dose é de 300 mg IV em bolus. Se após três a cinco minutos ainda mantiver ritmo de FV/TV, nova dose de 150 mg de amiodarona está indicada. Na ausência de amiodarona, deve ser administrada lidocaína (dose inicial 1 a 1,5 mg/kg, posteriormente repetido 0,5 a 0,75 mg/kg até dose cumulativa de 3 mg/kg). A adrenalina deve continuar sendo repetida a cada três a cinco minutos e recomenda-se intercalar sua administração com a dos antiarrítmicos. Em suspeita de TV polimórfica com QT longo (Torsa- des des Pointes) ou hipomagnesemia, pode ser feito sulfato de magnésio (1 a 2 g IV). Na suspeita de hipercalemia, acidose metabólica ou intoxicação por tricíclicos, cocaína ou salicilatos pode ser feito bicarbonato de sódio (1 mEq/kg). Cardiologia.indb 31 13/02/2020 20:50:04 Suporte avançado de vida – parada cardiorrespiratória Capítulo 1 32 Figura 2. Algoritmo de atendimento de PCR por FV/TV sem pulso. Fonte: I diretriz de ressuscitação cardiopulmonar e cuidados cardiovasculares de emergência da Sociedade Brasileira de Cardiologia: http://publicacoes.cardiol.br/consenso/2013/Diretriz_Emergencia.pdf. 4.3.2. ASSISTOLIA/AESP (ATIVIDADE ELÉTRICA SEM PULSO) São ritmos em que a desfibrilação não está indicada. Deve-se, então, promover RCP de boa qualidade, aplicar as drogas indicadas e procurar identificar e tratar as causas reversíveis. Assistolia como ritmo inicial de parada está associada a prognóstico reservado, com cerca de 7% de alta hospitalar. Na maior parte das vezes, a assistolia é Cardiologia.indb 32 13/02/2020 20:50:05 Suporte avançado de vida – parada cardiorrespiratória Cap. 1 33 B lo co A um evento secundário na evolução tardia da FV ou como via final de hipóxia prolongada, acidose ou necrose miocárdica. Deve-se fazer o diagnóstico diferencial com FV fina com o protocolo de “linha reta” (CAGADA): checar CAbos, GAnho e mudar a Derivação de monitorização. Se, no momento da checagem de ritmo, após dois minutos contínuos de RCP, houver um ritmo organizado no monitor, procede-se à checagem do pulso central carotídeo por 5 a 10 segundos. Caso não haja pulso palpável nesse período, identifica-se AESP (Figura 4). A única droga obrigatoriamente infundida é a epine- frina 1 mg IV tão logo se obtenha um acesso venoso, podendo ser repetida a cada três a cinco minutos, cujo intuito é aumentar a pressão de perfusão cere- bral e coronariana. Figura 3. Algoritmo de atendimento a PCR por assistolia/AESP. Fonte: I diretriz de ressuscitação cardiopulmonar e cuidados cardiovasculares de emergência da Sociedade Brasileira de Cardiologia: http://publicacoes.cardiol.br/consenso/2013/Diretriz_Emergencia.pdf. Cardiologia.indb 33 13/02/2020 20:50:06 Suporte avançado de vida – parada cardiorrespiratória Capítulo 1 34 4.3.3. MONITORIZAÇÃO DA PCR A capnografia com onda contínua quantitativa avalia o dióxido de carbono exalado no final da expiração (expressado em mmHg – PETCO2). Os valores do PETCO2 têm sido correlacionados com o retorno da circulação espontânea (RCE) e com a pressão de perfusão coronária. Sempre que disponível, é recomendada para pacientes intubados durante o período peri-PCR (confirmação do correto posiciona- mento endotraqueal do tubo, controle da qualidade da RCP e avaliação do RCE). X PETCO2 > 10 mmHg: indicador de boa qualidade de reanimação. X PETCO2 < 10 mmHg após 20 minutos de RCP (a des- peito de condições ideais de RCP) dificilmente o RCE será atingido. X Aumento abrupto do PETCO2 (para 35 a 40 mmHg) pode indicar RCE. Outro mecanismo de monitorização da qualidade da RCP é a medida da pressão arterial diastólica (PAD) naqueles pacientes que dispõem de monitorização arterial invasiva no momento da PCR. Seu valor tem sido correlacionado com a pressão de perfusão coronária e o RCE. Nas situações em que a pressão de relaxamento (diastólica) é < 20 mmHg, é razoá- vel considerar melhorar a qualidade da RCP. Vale ressaltar que a presença de dispositivos arteriais também pode reduzir o tempo de interrupção da RCP na checagem de pulso, em pacientes com atividade elétrica organizada. 5. CUIDADOS PÓS-PCR Durante a PCR, ocorrem danos em todos os tecidos e órgãos do corpo. Após a RCE, esses danos podem ser exacerbados pela injúria de reperfusão (aumento dos radicais livres devido ao excesso de oxigênio). O paciente pode apresentar disfunções em múltiplos órgãos associadas à instabilidade hemodinâmica progressiva (semelhante à sepse devido ao dano na microcirculação), sendo necessário o cuidado contínuo em uma unidade de terapia intensiva. Deve-se identificar e tratar a etiologia da PCR, além de realizar alguns cuidados fundamentais nesse período: X A angiografia coronária deve ser realizada em ca- ráter de emergência para pacientes com PCREH com suspeita de PCR de etiologia cardíaca e su- pradesnivelamento do segmento ST no ECG. X A angiografia coronária pode ser realizada em ca- ráter de emergência para determinados pacientes adultos que estejam em coma apósPCREH com suspeita de origem cardíaca, mas sem suprades- nivelamento do segmento ST no ECG. X A angiografia coronária é aconselhada em pacien- tes pós-PCR para os quais haja indicação desse tipo de procedimento, independentemente de o paciente estar em coma ou acordado. X Todos os pacientes adultos comatosos (sem res- posta a comandos verbais) com RCE após a PCR devem ser submetidos ao CDT (controle direcio- nado de temperatura), tendo como temperatura- -alvo entre 32°C e 36°C, mantida constantemente durante pelo menos 24 horas. X Evitar ativamente a febre em pacientes comato- sos após o CDT. X Evitar e corrigir imediatamente a hipotensão (pres- são arterial sistólica inferior a 90 mmHg, pressão arterial média inferior a 65 mmHg) durante os cuidados pós-PCR. Achados clínicos, modalidades eletrofisiológicas de avaliação, diagnósticos por imagem e marcadores sanguíneos são úteis para avaliar o desfecho neuro- lógico em pacientes comatosos, mas cada avaliação clínica ou exame complementar é afetado de forma diferente pela sedação e bloqueio neuromuscular. Além disso, o cérebro comatoso pode ser mais sen- sível a medicamentos e os medicamentos podem demorar mais para serem metabolizados após a PCR. Nenhuma avaliação clínica ou exame complementar pode prever com precisão a recuperação neuro- lógica após a PCR. Várias modalidades de exames utilizadas em conjunto para prever o desfecho após o desaparecimento dos efeitos da hipotermia e dos medicamentos, provavelmente, fornecerão previsão mais precisa do desfecho (Tabela 2). Cardiologia.indb 34 13/02/2020 20:50:06 Suporte avançado de vida – parada cardiorrespiratória Cap. 1 35 B lo co A Tabela 2. Mau prognóstico neurológico. Mau prognóstico neurológico* Ausência de reflexo pupilar à luz, 72 horas ou mais após PCR Presença de estado mioclônico durante as primeiras 72 horas após PCR Ausência da onda cortical do potencial somatossensorial evocado N20, 24 a 72 horas após a PCR ou após o reaquecimento Presença de acentuada redução da relação cinza-branco em TC do cérebro obtida até duas horas após PCR Ampla restrição da difusão na ressonância magnética cerebral no prazo de dois a seis dias após PCR Ausência persistente de reatividade no EEG a estímulos externos, 72 horas após a PCR Supressão dos surtos persistentes ou estado intratável de mal epiléptico no EEG após o reaquecimento Obs: ausência de movimentos, postura em extensão ou estado mioclônico não devem ser usados isoladamente para prever resultado. *Choque, temperatura, desordens metabólicas, sedativos ante- riores ou bloqueadores neuromusculares e outros fatores clíni- cos devem ser considerados com cuidado, pois podem afetar o resultado ou a interpretação de alguns exames. Abreviações: TC, tomografia computadorizada; EEG, eletroen- cefalograma. Fonte: Modificado de Atualização das Diretrizes de 2015 da American Heart Association (AHA) para Ressuscitação Cardiopulmonar (RCP) e Atendimento Cardiovascular de Emergência (ACE). 6. PREVENÇÃO Na prevenção da PCR, em ambiente intra-hospitalar, é interessante a criação de times de resposta rápida (TRR) ou times de emergência médica (TEM), espe- cialmente nos setores de cuidados gerais, focando intervenção inicial em pacientes com deterioração clínica, com o objetivo de prevenir a PCRIH. Já no ambiente extra-hospitalar, é recomendado implantar os programas de acesso aos DEA para pacientes com PCREH em locais públicos onde haja alta probabilidade de PCR presenciada (por exemplo, locais com alta circulação de pessoas diariamente como aeroportos, shoppings, instalações esportivas). 7. PCR ASSOCIADAS A SITUAÇÕES ESPECIAIS Determinadas condições clínicas podem demandar tratamentos específicos em um cenário de PCR: X Asma brônquica: ventilar com menores frequência e volume-corrente, realizar breve desconexão da bolsa-valva-máscara ou tubo endotraqueal, du- rante a compressão torácica, visando a redução de auto-PEEP. O pneumotórax pode ser causa frequente de PCR nesses pacientes. X Gravidez: posicionar em decúbito lateral esquer- do, ofertar o máximo de fração inspirada de oxi- gênio possível, hipermagnesemia como causa de PCR (fazer cálcio). X Hipocalemia: não fazer cloreto de potássio IV em bolus. X Afogamento: se estiver sozinho, iniciar ciclo RCP antes de chamar ajuda. Fazer a sequência ABC em vez da CAB. REFERÊNCIAS 1. Gonzalez MM, Timerman S, Oliveira RG, Polastri TF, Dallan LAP, Araújo S et al. I diretriz de ressuscitação cardiopulmonar e cuidados cardiovasculares de emergência da Sociedade Brasileira de Cardiologia: resumo executivo. Arq Bras Cardiol 2013;100(2):105-113. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo. php?script=sci_arttext&pid=S0066-782X2013000200001&lng=en 2. Martins HS, Brandão Neto RA, Velasco IT. Medicina de emer- gência: abordagem prática. 2018. 3. American Heart Association (AHA). Guidelines Update for CPR and Emergency Cardiovascular Care (ECC). 2015. Cardiologia.indb 35 13/02/2020 20:50:06 Suporte avançado de vida – parada cardiorrespiratória Capítulo 1 36 QUESTÕES COMENTADAS Questão 1 (SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE/SÃO PAULO – 2018) Paciente de 50 anos, hipertenso e diabético, foi admitido em leito monitorizado por suspeita de síndrome coronaria- na aguda. Iniciadas as medidas adequadas, porém paciente evolui para parada cardiorrespiratória em fibrilação ventricular. Imediatamente o paciente re- cebe desfibrilação. A conduta a ser tomada a seguir: ⮦⮦ Verificar a presença de pulso. ⮦⮧ Infusão de epinefrina, 1 mg, endovenosa. ⮦⮨ Checar se houve reversão para ritmo sinusal. ⮦⮩ Infusão endovenosa de fibrinolíticos. ⮦⮪ Compressões cardíacas de alta qualidade. dificuldade: Resolução: A próxima conduta a ser tomada é dar início às compressões cardíacas de alta qualidade. Após 2 minutos de RCP pode ser feita a checagem se houve reversão para ritmo sinusal, verificação da presença de pulso e até epinefrina endovenosa se necessário, porém sempre priorizar a RCP. ✔✔ resposta: E Questão 2 (RESIDÊNCIA MÉDICA DO ESTADO DO AMAPÁ-AP – 2009) A causa mais provável de choque hipovolêmico em pacientes politraumatizados com TCE grave é: ⮦⮦ Hematoma epidural. ⮦⮧ Hematoma subdural. ⮦⮨ Hemorragia cerebral intraparenquimatosa. ⮦⮩ Fratura de base do crânio. ⮦⮪ NDA. dificuldade: ✔Y Dica do autor: Devemos lembrar que o choque hi- povolêmico em pacientes com trauma cranioence- fálico (TCE) não é decorrente de sangramento intra- craniano! Via de regra, essa perda sanguínea não é volumosa, e o choque hipovolêmico, então, quando presente, é ocasionado por hemorragia em outro compartimento corporal. ✔✔ resposta: ⮪ Questão 3 (SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE – SUS – SÃO PAULO-SP – 2015) Vítima de queda de 6 metros de altura, um operário de 45 anos chega ao pronto-socorro por transporte aéreo, com suspeita de lesão vertebromedular. Avaliação na sala de emergência: A: Via aérea pérvia. B: Murmúrio vesicular presente bilateralmente; saturação de O2: 98%, com máscara de O2. C: Pulso: 90 bpm, PA: 130 × 80 mmHg; sem sangramento externo. D: Glasgow: 15; comprometimento da sensibilidade e da motricida- de de membros inferiores. E: Hematoma em dorso, ao nível de L1. Durante a avaliação inicial, a prancha rígida deve ser retirada: ⮦⮦ após as radiografias ou tomografias apropriadas. ⮦⮧ logo que possível, geralmente durante a avalia- ção secundária, e o paciente movimentado ape- nas em monobloco. ⮦⮨ imediatamente, se o paciente não tiver dor cer- vical, já que tem Glasgow 15. ⮦⮩ apenas após a avaliação do neurocirurgião ou do ortopedista, por ordem de um deles. ⮦⮪ apenas quando o doente já estiver no centro ci- rúrgico, pronto para a fixação da coluna. Cardiologia.indb 36 13/02/2020 20:50:06 Suporte avançado de vida – parada cardiorrespiratória Cap. 1 37 B lo co A dificuldade: ✔Y Dica do autor: A imobilização com prancha rígida e colar cervical deve ser mantida em todo paciente com suspeita de lesão raquimedularou qualquer le- são em região cervical, até que as suspeitas sejam excluídas por um exame de imagem, que geralmente é uma radiografia das vértebras cervicais e junção entre C7 e T1. Se a lesão for detectada ou se houver alguma suspeita, o paciente deverá ser examinado por um especialista. ✔✔ resposta: ⮧ Questão 4 (HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DE BRASÍLIA-DF – 2018) Com rela- ção aos pacientes politraumatizados, julgue o item a seguir. O controle e a estabilização de fraturas expostas de ossos longos, tais como fêmur, tíbia e úmero, devem ser feitos somente após a verificação da patência da via aérea e da respiração. ⮦⮦ CERTO. ⮦⮧ ERRADO. dificuldade: ✔Y Dica do autor: Na sequência recomendada pelo ATLS seguimos uma ordem de prioridade no atendimento guiada pelo método mnemônico ABCDE. Seguindo esse método nossa primeira prioridade é avaliar a via aérea e a respiração do nosso paciente (A e B). ✔✔ resposta: ⮦ Questão 5 (HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DE BRASÍLIA-DF – 2018) Com relação aos pacientes politraumatizados, julgue o item a se- guir. Na fase inicial refratária, o choque hemorrági- co gera, tipicamente, acidose mista na gasometria – metabólica e respiratória. ⮦⮦ CERTO ⮦⮧ ERRADO dificuldade: ✔Y Dica do autor: Comentários do autor: Na fase INICIAL do choque hemorrágico encontramos uma acidose apenas metabólica pela hipovolemia compensada por uma alcalose respiratória. Em fases terminais que encontramos uma acidose respiratória por re- baixamento de consciência. ✔✔ resposta: ⮧ Questão 6 (UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO – SP – 2017) Homem de 22 anos, vítima de trauma automobilístico, é trazido ao hospital pelo resgate. Após a avaliação e estabi- lização iniciais, detecta-se desalinhamento ao nível da coxa no membro inferior direito e ausência de pulsos distais nesse membro. Escolha a alternativa com a sequência recomendada das condutas abai- xo mencionadas: ⮦⮦ paciente deve ser submetido a exame de imagem não invasivo e se confirmada lesão vascular sub- metido a reconstrução do leito arterial. ⮦⮧ paciente deve ter o membro alinhado e, caso o pulso não volte após esta manobra, ser submeti- do a exame de imagem invasivo que, se positivo, indica a reconstrução arterial. ⮦⮨ após o alinhamento do membro, não havendo retorno dos pulsos distais deve-se proceder a reconstrução arterial imediata. ⮦⮩ deve-se alinhar o membro e aguardar por pelo menos 6 horas para que eventuais espasmos se- jam revertidos antes de qualquer outra conduta, principalmente em pacientes jovens. dificuldade: ✔Y Dica do autor: Uma vez que tenham sido descar- tadas ou resolvidas lesões com risco iminente a vida, pacientes com trauma de membro deve ser avaliado em busca de alterações que levem a perda do membro, dentre elas a lesão vascular. Deve-se questionar o paciente quanto à dor e à alteração de sensibilidade, testar motricidade, palpar tempera- tura, observar cor. Indispensável nessa avaliação é a palpação dos pulsos, que em conjunto com outras alterações levantaram a suspeita de lesão vascular. A realização do índice tornozelo-braço é um dado importante, sugerindo lesão quando ITB<0,9 em pa- cientes sem DAOP. Uma vez identificada alteração na vascularização do membro, no qual há deformidade sugestiva de fratura, deve-se realizar de imediato Cardiologia.indb 37 13/02/2020 20:50:06 Suporte avançado de vida – parada cardiorrespiratória Capítulo 1 38 o alinhamento do membro seguido de imobilização, após essa manobra deve-se reexaminar o membro, pois em caso de compressão ou kinking do vaso o quadro poderá resolver. Caso não haja alteração no quadro clínico o paciente deverá ser submetido a um exame de imagem que pode nos auxiliar a descartar vasoespasmo, muito comum em pacientes jovens, e que não necessita de tratamento cirúrgico, evitan- do assim a transformação de uma fratura fechada em aberta, assim como identificar local da lesão. O exame padrão ouro para identificar lesão arterial é arteriografia diagnóstica; no entanto o ATLS sugere a realização de angiotomografia como investigação diagnostica desde que sua realização não retarde o possível tratamento. A alternativa C está errada por ter partido para o tratamento cirúrgico sem antes confirmar a lesão arterial. ✔✔ resposta: ⮧ Cardiologia.indb 38 13/02/2020 20:50:06 39 B lo co A Capítulo 2TAQUIARRITMIAS O QUE VOCÊ PRECISA SABER? u O ECG é o grande aliado na diferenciação dos tipos da taquicardia. u Após identificar a taquiarritmia, é fundamental avaliar a estabilidade hemodinâmica. u Instabilidade hemodinâmica é definida na presença de pelo menos um dos seguintes critérios (5 D): dispneia, dor torácica, desmaio (síncope), diminuição de PA (hipotensão) e diminuição do nível de consciência (Glasgow < 15). u Taquicardia instável é tratada com choque, seja sincronizado (cardioversão elétrica) ou dessincronizado com carga máxima (desfibrilação na FV/TV sem pulso). u Nas taquicardias estáveis, é importante avaliar dois aspectos: 1) Duração do QRS, diferenciando em estreito (arritmias supraventriculares) e largo (arritmias ventri- culares, geralmente). 2) Regularidade do QRS, diferenciando ritmos regulares de irregulares. u QRS estreito e irregular quase sempre é por fibrilação atrial. u Cuidado com a taquicardia sinusal! Ela é CONSEQUÊNCIA de um processo fisiológico (exercício físico) ou patológico (febre por infecção) e o que deve ser tratado é sua CAUSA. u Sabendo realizar a diferenciação das taquiarritmias, elucide as principais condutas para cada tipo. 1. DEFINIÇÕES Taquicardias ou taquiarritmias são definidas pela presença de frequência cardíaca (FC) elevada (> 100 bpm). Podem corresponder a uma resposta fisioló- gica do organismo frente a algum estímulo externo ou estar relacionadas a um distúrbio primário do ritmo cardíaco. Automatismo refere-se à propriedade que algumas células têm de gerarem impulso elétrico sem necessi- dade de estímulo externo, ou seja, são capazes de se autodespolarizarem. Essas células são marca-passos naturais e geralmente encontradas nos nós sinoatrial (NSA) e atrioventricular (NAV). As taquicardias supraventriculares (TSV) tem sua origem acima do feixe de His, ou seja, em qualquer região a partir do NAV em direção aos átrios, acima dos ventrículos. Já as taquicardias ventriculares (TV), como nome já diz, originam-se nos ventrículos. A FC máxima que pode ser atingida de forma fisiológica por determinado indivíduo varia de acordo com a faixa etária e pode ser determinada de forma aproximada pela fórmula: 220 – idade, ou seja, uma pessoa de 20 anos pode atingir até 200 bpm de forma fisiológica, enquanto uma de 60 anos, no máximo 160 bpm. Cardiologia.indb 39 13/02/2020 20:50:06 Taquiarritmias Capítulo 2 40 2. EPIDEMIOLOGIA As taquiarritmias podem ocorrer em qualquer faixa etária, lembrando que em recém-nascidos e lactentes a FC habitualmente é mais elevada. As taquicardias mais comuns em crianças e ado- lescentes são as TSV, que ocorrem geralmente em pacientes com doença cardíaca estrutural (miocar- diopatia dilatada, doença arterial coronariana). A fibrilação atrial (FA) é a arritmia cardíaca susten- tada mais comum na prática clínica e sua incidência aumenta com a idade, sendo mais comum em idosos com comorbidades. A taquicardia atrial (TA) ocorre com mais frequência em pacientes com dilatação de câmaras direitas, secundária a doenças congênitas ou pela hipertensão pulmonar relacionada à doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC). Flutter atrial está relacionado ao pós-operatório de cirurgia cardíaca e causas relacionadas à hipertensão pulmonar. A taquicardia por reentrada nodal (TRN) é mais comum em mulheres de meia-idade enquanto a Síndrome de Wolff-Parkinson-White (WPW), relacionada à taqui- cardia por reentrada atrioventricular (TAV), é mais frequente em homens jovens. DICA A taquicardia supraventricular é a forma mais comum de arritmia em crianças e está associada à miocarditeinfecciosa. 3. FISIOPATOLOGIA O aparecimento de taquicardia envolve distúrbio na formação do estímulo elétrico, na sua condução ou em ambos. Os três mecanismos principais impli- cados são: X Automatismo anormal (Figura 1): aumento na frequência de despolarização de células com capacidade de automatismo. O início e término são graduais e as frequências máximas atingidas geralmente não superam a máxima esperada para a idade. Pode ocorrer como resposta ao aumento de atividade adrenérgica que ocorre na febre, hipertireoidismo, hipóxia, hipovole- mia, anemia, uso de β-agonistas, entre outros. O automatismo está relacionado às seguintes taquicardias: sinusal (foco de automatismo no NSA) e atrial (foco nos átrios, em uma região do NSA). Figura 1. Mecanismo do automatismo anormal. X Reentrada: para ocorrência, é necessária a pre- sença de duas vias com velocidades de condução e períodos refratários diferentes. Em condições normais, o estímulo é conduzido pela via rápida apenas. Se um estímulo precoce atingir a via rápida em período refratário, pode ser conduzido inicial- mente apenas pela via lenta e, logo em seguida, encontrar a via rápida repolarizada e ser condu- zido. Na sequência, o estímulo desce novamente pela via lenta e fecha um curto-circuito, conhe- cido como reentrada (Figura 2). O início e término são súbitos e pode atingir FC mais elevadas que o esperado para a idade. Está relacionada às ta- quicardias por reentrada nodal (TRN), atrioven- tricular (TAV), flutter atrial (cuja etiologia envolve macroreentrada no átrio direito) e a maioria das taquicardias ventriculares. Cardiologia.indb 40 13/02/2020 20:50:06 Taquiarritmias Cap. 2 41 B lo co A Figura 2. Mecanismo de reentrada. Na imagem 1, um batimento precoce encontra a via rápida no período refratário. Na imagem 2, após ser conduzido pela via lenta, o estímulo encontra a via rápida já fora da refratariedade e é conduzido. Por fim, na imagem 3, fecha-se o circuito de reentrada, com o estímulo sendo novamente conduzido pela via lenta. Fonte: Blog de ECG – Life in the fast lane. X Atividade deflagrada por pós-potenciais: último mecanismo a ser descrito e ainda não completa- mente entendido. Após ou durante um potencial de ação, podem ocorrer abalos na corrente elétri- ca transmembrana relacionados à movimentação de cálcio no meio intracelular, o que pode levar a um novo potencial de ação. Está implicada na intoxicação digitálica e na taquicardia ventricular por Torsades de Pointes. A fibrilação atrial é a arritmia com mecanismo mais complexo, acredita-se que haja sobreposição dos três mecanismos descritos. 4. QUADRO CLÍNICO Os sintomas mais comuns são palpitações, com sensação de batimento acelerado, descrito muitas vezes como “batedeira” no peito. Outros sintomas podem ser inespecíficos, como tontura, mal-estar, sensação de angústia. Sinais e sintomas que devem chamar atenção para quadros de instabilidade são dispneia, dor torácica anginosa, síncope, hipotensão e rebaixamento do nível de consciência. Na anamnese, deve ser pesquisado o uso de drogas estimulantes, como hormônio tireoidiano em fór- mulas para emagrecer, excesso de cafeína, energé- ticos e drogas ilícitas simpaticomiméticas (cocaína, anfetamina). DICA A taquicardia sinusal geralmente é secundá- ria e pode estar relacionado ao tromboembolismo pulmonar e à sepse. Ao exame físico, pesquisar a FC, regularidade e sime- tria do pulso. A ausculta cardíaca pode identificar sopros em pacientes com valvopatias associadas e a ausculta pulmonar pode identificar sinais de congestão (crepitações, estertores). Pacientes com FA podem apresentar-se com sinais e sintomas associados a tromboembolismo sistêmico, como hemiparesias (AVC isquêmico), edema assimé- trico em membro inferior (TVP), quadro súbito de dor no abdome seguida de diarreia sanguinolenta (isque- mia mesentérica). É comum também a dissociação entre a frequência cardíaca auscultada e a sentida no pulso periférico (dissociação pulso-frequência ou anisocardiosfigmia). Cardiologia.indb 41 13/02/2020 20:50:07 Taquiarritmias Capítulo 2 42 DICA Na presença de FA, a fase final da diástole (contração atrial) está ausente, portanto, todos os achados relacionados também estão, como B4, onda “a” do pulso venoso e reforço pré-sistólico do sopro em ruflar mitral. 5. DIAGNÓSTICO O diagnóstico baseia-se na avaliação do eletrocar- diograma (ECG) para identificação da taquiarritmia específica e avaliação dos sinais e sintomas para definir se o paciente está instável ou estável do ponto de vista hemodinâmico. 6. EXAMES COMPLEMENTARES O principal exame complementar é o ECG, que pode identificar o tipo específico de taquicardia e orientar o tratamento. Eletrólitos devem ser checados (prin- cipalmente potássio e magnésio), porque mudanças nas suas concentrações facilitam o aparecimento de taquicardias. No caso de taquicardias ventriculares, marcadores de necrose do miocárdio são fundamen- tais, pois a isquemia é principal causa. Os demais exames dependem das comorbidades associadas e diagnósticos etiológicos, logo, devem ser avaliados caso a caso. Em linhas gerais, ritmos com QRS estreito são supraventriculares e a exceção ocorre na presença de aberrância de condução (blo- queios de ramo) ou na pré-excitação. Taquicardias ventriculares são sempre ritmos com QRS largo. Seguem exemplos de ECG nos principais tipos de taquicardias: 6.1. TAQUICARDIAS SUPRAVENTRICULARES (TSV) X Taquicardia sinusal: ritmo regular com onda “p” sinusal (positiva em DI e aVF) antes de todo QRS (Figura 3). Figura 3. Taquicardia sinusal. Onda “p” sinusal (positiva em DI e aVF) antes de todo complexo QRS. Fonte: Blog de ECG – Life in the fast lane. X Taquicardia atrial (TA): constitui ritmo atrial ori- ginado em região diversa do nó sinusal, carac- terizado pela presença de onda “p” distinta da sinusal com frequência atrial superior a 100 bpm (Figura 4). É comum a ocorrência de condução AV variável. Se houver ritmo irregular, com três ou mais morfologias de “p” na mesma derivação, é chamado de taquicardia atrial multifocal. Cardiologia.indb 42 13/02/2020 20:50:07 Taquiarritmias Cap. 2 43 B lo co A Figura 4. Taquicardia atrial. Onda “p” não é sinusal (negativa em aVF). Fonte: Blog de ECG – Life in the fast lane. X Flutter atrial: presença de ondas “F” (serrilhado na linha de base) com frequência entre 240 e 340 bpm, negativas nas derivações inferiores (circui- to anti-horário) e geralmente positivas em V1. A frequência atrial, em geral, fica em torno de 300 bpm e, na presença de bloqueio atrioventricular (BAV) 2:1, a FC no ECG fica em torno de 150 bpm (Figura 5). Figura 5. Flutter atrial. Presença de ondas “F” de flutter: serrilhado na linha de base. Forma mais comum com ondas negativas nas derivações inferiores (DII, DIII e aVF) e positivas em V1. Fonte: Blog de ECG – Life in the fast lane. X Fibrilação atrial (FA): ritmo IRREGULAR (Figura 6), com ausência de onda “p”, tremor na linha de base (onda “f”). DICA A fibrilação atrial é um ritmo irregular, sem onda “p”, com tremor na linha de base. Cardiologia.indb 43 13/02/2020 20:50:08 Taquiarritmias Capítulo 2 44 Figura 6. Fibrilação atrial. Ausência de onda “p”, ritmo irregular com tremor na linha de base (onda “f”). Fonte: Blog de ECG – Life in the fast lane. X Taquicardia por reentrada nodal (TRN): ritmo re- gular, com QRS estreito e ausência de “p”. Ocorre pela presença de dupla via nodal (Figura 7). ECG fora da taquicardia é normal. FLASHCARDS Qual taquiarritmia cursa com RR irregular e sem onda P? Fibrilação atrial. Figura 7. Taquicardia por reentrada nodal. Ritmo regular, com presença de onda “r” em V1 e onda “s” (pseudo “s”) em derivações inferiores, que corresponde à onda “p” retrógrada na TRN Fonte: Blog de ECG – Life in the fast lane. Cardiologia.indb 44 13/02/2020 20:50:09 Taquiarritmias Cap. 2 45 B lo co A XTaquicardia por reentrada atrioventricular (TAV): ritmo regular, com QRS estreito e ausência de “p”. Ocorre pela presença de um feixe anômalo (feixe de Kent) entre átrio e ventrículo que é capaz de conduzir o estímulo elétrico (Figura 8.1). Podemos diferenciar da TRN pelo ECG fora da taquicardia (Figura 8.2), que apresenta os elementos da pré- -excitação ventricular: PR curto, onda delta, alar- gamento do QRS e alterações de repolarização. A síndrome de Wolff-Parkinson-White (WPW) cor- responde à pré-excitação relacionada a episódios de taquicardia paroxística sintomáticos. Figura 8.1. Taquicardia por reentrada atrioventricular. Ritmo regular, sem onda “p” visível. O diagnóstico é feito com ajuda do ECG fora da taquicardia, que pode ser observado na Figura 8.2. Fonte: Blog de ECG – Life in the fast lane. Figura 8.2. Pré-excitação ventricular. ECG do mesmo paciente da Figura 8.1, fora da taquicardia. Presença de todos os elementos da pré-excitação ventricular (PR curto, onda delta, QRS largo e alteração de repolarização). Fonte: Blog de ECG – Life in the fast lane. Cardiologia.indb 45 13/02/2020 20:50:10 Taquiarritmias Capítulo 2 46 6.2. TAQUICARDIAS VENTRICULARES (TV) X Taquicardia ventricular monomórfica (Figura 9): QRS largo com ritmo regular e mesma morfologia. X Taquicardia ventricular polimórfica: QRS largo com ritmo irregular e morfologias diferentes. X Torsades de Pointes: tipo específico de TV po- limórfica onde os complexos QRS aumentam e diminuem, como se houvesse mudança no eixo ou “torção das pontas”. X Fibrilação ventricular (FV): ritmo completamente irregular e bizarro, onde não é possível identificar complexos QRS. Não é passível de pulso, portan- to, é ritmo de parada cardiorrespiratória (PCR). Figura 9. Tipos de taquicardias ventriculares. TV monomórfica TV polimórfica TV polimórfica – Torsades de Pointes Fibrilação Ventricular Fonte: Blog de ECG – Life in the fast lane. 7. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL Existem situações clínicas que levam à taquicardia por automatismo, principalmente a taquicardia sinusal, como febre, hipertireoidismo, TEP, anemia, ansiedade, dor, uso de drogas (como β-agonistas) e sepse. Distúrbios hidroeletrolíticos (hipomagnesemia e hipo- calemia), uso de antiarrítmicos e isquemia miocárdica podem predispor o aparecimento de determinadas taquicardias. 8. TRATAMENTO Inicialmente, é preciso definir se a taquicardia é instável ou estável. Em caso de instabilidade, é necessário instituir o tratamento de forma imediata. Nas taquicardias estáveis, há tempo para identificar o tipo e realizar o tratamento específico. 8.1. TAQUICARDIAS INSTÁVEIS Taquicardias são consideradas instáveis quando ocasionam alterações na hemodinâmica do paciente que podem ser ameaçadoras à vida. Os principais sintomas são os seguintes (5 D): X Dor torácica com característica anginosa. X Dispneia (por insuficiência cardíaca, com dessa- turação e esforço respiratório). X Desmaio (síncope). X Diminuição da PA (hipotensão). X Diminuição do nível de consciência (rebaixamen- to, Glasgow < 15). FLASHCARDS Qual a conduta para taquiarritmias instáveis? CHOQUE! (cardioversão ou desfibrilação a depender do ritmo e se há PCR ou não). Um critério é suficiente para considerar o paciente instável, mas geralmente os sintomas aparecem em conjunto. Cardiologia.indb 46 13/02/2020 20:50:10 Taquiarritmias Cap. 2 47 B lo co A Uma vez identificada a taquicardia instável, o paciente deve ser encaminhado para sala de emergência para monitorização dos sinais vitais (PA, FC, saturação, eletrocardiografia), suplementação de oxigênio em caso de dessaturação e deve ser estabelecido acesso venoso. Nesse cenário, não há necessidade de aguar- dar ECG de doze derivações para tomar a conduta, porque atrasos no tratamento podem contribuir para piora clínica. O tratamento de escolha é a cardioversão elétrica sincronizada (CVES), que deve ser realizada de ime- diato. Isso leva à despolarização de todo o miocárdio e permite que as células do NSA reassumam o con- trole do ritmo cardíaco. Para tanto, o paciente deve ser orientado sobre o procedimento e sedado. Antes da aplicação do choque, o botão de sincronização deve ser acionado no desfibrilador, assim a carga só será liberada durante o QRS (despolarização) para evitar o fenômeno R sobre T: quando uma carga é aplicada durante a onda T (repolarização) pode ocor- rer instabilidade elétrica e evolução para FV e PCR. As cargas iniciais preconizadas pelas diretrizes de 2015 do ACLS dependem da morfologia do QRS e são as seguintes: X Estreito e regular: 50 a 100 J. X Estreito irregular (geralmente FA): 120 a 200 J (bi- fásico) ou 200 J (monofásico). X Largo regular: 100 J. X Largo irregular: carga de desfibrilação (não sin- cronizado). DICA O nível inicial de carga (em Joules) que deve ser utilizado para reversão do flutter atrial é 50 J. Após o primeiro choque, se não houver reversão para ritmo sinusal, choques subsequentes poderão ser administrados com aumentos progressivos (100 – 150 – 200 J). Após a reversão, o paciente deve ser mantido em monitorização até recuperar-se da anestesia. Drogas antiarrítmicas podem ser necessárias a depender do caso, como amiodarona de manutenção em casos de TV. 8.2. TAQUICARDIAS ESTÁVEIS Em caso de taquicardias estáveis, a conduta deve se basear em dois critérios subsequentes: duração do QRS, se largo (> 0,12 s) ou estreito (< 0,12 s), e regu- laridade do mesmo (regular ou irregular). 8.2.1. QRS ESTREITO E REGULAR Nesse caso, são diversas as possibilidades de arrit- mia: X Taquicardia sinusal. X Taquicardia atrial. X Flutter atrial. X Taquicardia por reentrada nodal (TRN). X Taquicardia por reentrada atrioventricular (TAV). Se for identificada taquicardia sinusal, ela é secun- dária e deve-se procurar e tratar o desencadeante (infecção, TEP, hipertireoidismo, entre outros). Nos demais casos, ou se não for possível identificar o ritmo, a conduta inicial é realizar manobras vagais, que estimulam o nervo vago e, por conseguinte, levam à bradicardia. As manobras vagais mais comuns realizadas são a massagem do seio carotídeo e manobra de Valsalva (expiração forçada contra glote fechada: pode pedir para o paciente soprar uma seringa tentando empurrar o êmbolo ou expirar con- tra o dorso da mão). A massagem do seio carotídeo está contraindicada em paciente com aterosclerose carotídea, pelo risco de embolização, portanto, deve ser evitada em idosos (> 65 anos), pacientes com sopro carotídeo ou com diversos fatores de risco para aterosclerose (DM, HAS, tabagismo). Em 2015, foi publicado um estudo clínico randomizado que validou o uso da manobra de Valsalva modificada, na qual o paciente começa a manobra sentado, faz a expiração forçada e, ao final de 10 a 15 segundos, é deitado e as pernas elevadas em 45° por mais 15 segundos. Com isso, há aumento da pressão intra- torácica e estimulação do nervo vagal, aumentando as taxas de reversão. Se as manobras não forem eficazes, o próximo passo é administrar adenosina, droga que inibe o NAV e Cardiologia.indb 47 13/02/2020 20:50:10 Taquiarritmias Capítulo 2 48 tem pico de efeito e duração rápida (segundos). A adenosina deve ser administrada em bolus EV, com flush de solução salina e elevação do membro para chegar rapidamente à circulação central. A dose inicial é de 6 mg e pode ser repetida uma vez na dose de 12 mg. É contraindicada em caso de broncoespasmo (crise asmática ou DPOC exacerbado). A adenosina é capaz de reverter as taquicardias que dependem do NAV para sua manutenção – TRN e TAV. Nos demais casos, pode ajudar no diagnóstico, pois, ao inibir o NAV, permite visualizar a atividade atrial com mais clareza. Por fim, se não houver resposta à adenosina, dro- gas antiarrítmicas devem ser administradas para o controle da FC (Tabela 1). Tabela 1. Drogas antiarrítmicas mais utilizadas no pronto-socorro. Droga Dose Mecanismode ação Contraindicação Metoprolol 5 mg EV, máximo 15 mg Βetabloqueador Broncoespasmo e ICC Diltiazem 0,25 mg/kg EV Bloqueador do canal de cálcio ICC e disfunção ventricular esquerda Verapamil 5 a 10 mg EV em bolus Bloqueador do canal de cálcio ICC e disfunção ventricular esquerda Deslanosídeo 0,4 a 0,8 mg EV em bolus Glicosídeo cardíaco (digital) Insuficiência renal, pelo risco de intoxicação digitálica Amiodarona 150 a 300 mg EV diluído em SF em 10 minutos Bloqueador de canais de potássio, cálcio e sódio --- O tratamento ambulatorial das taquicardias envolve a ablação por radiofrequência do feixe anômalo (TAV), da dupla via nodal (TRN) ou do circuito de macroen- trada (flutter atrial) e está indicado a depender dos sintomas e do risco de morte súbita no caso da síndrome de WPW (depende das características do feixe anômalo). Na presença de pré-excitação, drogas que redu- zem a condução pelo NAV devem ser evitadas, pois aumentam a chance de condução pelo feixe anô- malo e, por consequência, o risco de morte súbita. As drogas antiarrítmicas de escolha para prevenir recorrência de TSV em paciente com pré-excitação são propafenona e procainamida (contraindicadas na presença de doença arterial coronariana ou doença cardíaca estrutural). Betabloqueador e bloqueador do canal de cálcio são drogas proscritas e aumentam a mortalidade em casos de taquicardia por reentrada atrioventricular. Pacientes idosos e com insuficiência renal estão sob maior risco de intoxicação por antiarrítmicos digitálicos, cujo quadro clínico engloba alterações gastrointestinais (náuseas, vômitos, dor abdomi- nal), neurológicas (confusão, fraqueza) e visuais (xantopsia: objetos ficam com coloração amarela), além de diversos tipos de arritmia (bradicardias, taquicardia atrial, extrassístoles ventriculares em bigeminismo). O tratamento consiste na suspensão da droga e hidratação, além da avaliação de possíveis distúrbios hidroeletrolíticos associados. 8.2.2. QRS ESTREITO E IRREGULAR Nesse caso, a FA é a principal hipótese diagnóstica. Os diagnósticos diferenciais (raros) são flutter atrial com BAV variável e TA multifocal. O tratamento inicial, no pronto-socorro, deverá ser o controle da FC com drogas antiarrítmicas, tomando cuidado com a amiodarona, pois pode ocorrer rever- são para ritmo sinusal com essa droga. DICA Verapamil e diltiazem não devem ser uti- lizados em pacientes com disfunção ventricular esquerda ou ICC. Cardiologia.indb 48 13/02/2020 20:50:10 Taquiarritmias Cap. 2 49 B lo co A A decisão sobre a reversão para ritmo sinusal deverá levar em consideração o tempo do início dos sinto- mas, pelo risco de tromboembolismo. Nos pacientes com FA com tempo menor que 48 horas de duração, pode-se realizar cardioversão elétrica ou química (com amiodarona) sem necessidade de anticoagu- lação prévia. DICA Em pacientes com FA, a amiodarona é bas- tante efetiva na reversão e manutenção do ritmo sinusal. Para pacientes com FA com duração mais prolongada, deve-se iniciar anticoagulação por pelo menos três semanas antes da tentativa de cardioversão, seguido por no mínimo quatro semanas de tratamento anti- coagulante. Uma opção, se disponível, é a realização de ecocardiograma transesofágico e, na ausência de trombos no átrio esquerdo, a CVES pode ser realizada com segurança. FLASHCARDS Qual a conduta na FA estável? Controle da FC e anticoagulação. DICA Tromboembolismo secundário à reversão da fibrilação atrial aguda ocorre independentemente do tempo de início, porém o risco é maior após 48 horas de duração. A indicação de anticoagulação por tempo mais pro- longado deve levar em consideração comorbidades e idade do paciente e estão sintetizadas no acrônimo CHA2DS2-VASc (Tabela 2). Na presença de dois ou mais pontos, a anticoagulação está indicada. Tabela 2. Escore CHA2DS2 – VASc – risco de tromboembolismo na FA. CHA2DS2-VASc Pontuação Congestive heart failure/left ventricular dysfunction (ICC/ disfunção ventricular esquerda) 1 Hypertension (hipertensão) 1 Age ≥ 75 yrs (Idade ≥ 75 anos) 2 Diabetes mellitus 1 CHA2DS2-VASc Pontuação Stroke/transient ischaemic attack (histórico de AVC/AIT) 2 Vascular disease (prior myocardial infarction, peripheral artery disease or aortic plaque) (Doença Vascular) 1 Age 65–74 yrs (Idade) 1 Sex category (i.e. female gender) (Sexo feminino) 1 Pontuação Conduta 0 Anticoagulação não deve ser instituída 1 Anticoagulação pode ser instituída, a depender do risco de sangramento e preferências do paciente ≥ 2 Anticoagulação deve ser instituída Fonte: Adaptada de II diretriz brasileira de FA. A terapia anticoagulante envolve tradicionalmente drogas cumarínicas (varfarina), que inibem os fatores de coagulação dependentes de vitamina K (II, VII, IX e X) relacionados à via extrínseca da coagulação. Seu efeito deve ser monitorizado pelo tempo de protrombina (avaliado pelo International Normalized Ratio – INR). Essas drogas, porém, apresentam diver- sas interações medicamentosas e com alimentos, o que dificulta manter o paciente na faixa terapêutica (INR entre 2 e 3). Na última década, novos anticoagulantes orais com ação direta nos fatores de coagulação estão dispo- níveis, sem a necessidade de monitorizar os tempos de coagulação e com menos interações medicamen- tosas (Tabela 3). Esses fármacos, no entanto, estão contraindicados na FA relacionada à estenose mitral na presença de próteses valvares mecânicas. Tabela 3. Novos anticoagulantes. Droga Nome comercial Mecanismo de ação Dabigatrana Pradaxa® Inibe o fator IIa Rivaroxabana Xarelto® Inibe o fator Xa Apixabana Eliquis® Inibe o fator Xa Edoxabana Lixiana® Inibe o fator Xa Cardiologia.indb 49 13/02/2020 20:50:10 Taquiarritmias Capítulo 2 50 A FA pode ser classificada de acordo com a sua apre- sentação clínica em paroxística (quando é revertida espontaneamente ou com intervenção médica em até sete dias), persistente (duração superior a sete dias) ou permanente (nos casos em que as tenta- tivas de reversão ao ritmo sinusal não serão mais instituídas). É considerada não valvar na ausência de estenose mitral reumática, válvula mecânica ou biológica ou plastia mitral prévia. Em pacientes com FA, não há evidência de que a estratégia de controle de FC seja superior ao controle de ritmo (reversão para sinusal). No manejo ambulatorial, existe a possibilidade de ablação, indicada para pacientes muito sintomáticos (com palpitações frequentes). DICA Na FA, a terapia intervencionista (ablação) não é superior ao uso de fármacos antiarrítmicos no tocante à redução de desfechos duros, como mortalidade, IC e acidentes vasculares cerebrais, mas pode melhorar sintomatologia e qualidade de vida. 8.2.3. QRS LARGO E REGULAR A principal hipótese é TV monomórfica (cerca 80% das vezes é o diagnóstico encontrado). Podemos encon- trar TSV com QRS largo em situações de aberrância de condução ou pré-excitação, porém são situações mais raras e, para diferenciá-las, são necessários critérios eletrocardiográficos (como Brugada, Verec- kei) que não são de fácil aplicação em ambiente de pronto-socorro para não especialistas. DICA Na presença de taquicardia com QRS largo, taquicardia ventricular é o principal diagnóstico. O paciente, apesar de estável, tem potencial para piora clínica rápida. Por esse motivo, deve ser moni- torado em sala de emergência. O tratamento inicial é a tentativa de cardioversão química com amiodarona. Na ausência de resposta, o próximo passo é a CVES. Os pacientes devem ser investigados quanto à pre- sença de isquemia miocárdica e deve-se avaliar achados sugestivos no ECG e marcadores de necrose do miocárdio (troponina). O cardiodesfibrilador implantável (CDI) está indi- cado em pacientes sobreviventes de episódio de taquicardia ventricular hemodinamicamente instá- vel e portadores de cardiomiopatia isquêmica com disfunção de VE grave (FE < 35%). 8.2.4. QRS LARGO E IRREGULAR Essasituação é incomum na prática clínica. Em geral, pacientes com QRS largo e irregular apresentam-se instáveis ou prestes a estabilizar (torporosos, com PA limítrofe). Por esse motivo, a conduta imediata é a desfibrilação (com carga máxima), tendo em vista que, devido à desorganização completa do ritmo, não é possível sincronizar o choque com a onda R (Tabela 4). No caso específico da Torsades de Pointes, o trata- mento mais efetivo é o sulfato de magnésio. Se não houver resposta, deve-se proceder à desfibrilação. Essa arritmia está relacionada a condições que aumentam o tempo de repolarização, que no ECG é identificado pelo aumento do intervalo QT. DICA Prolongamento do potencial de ação, com aumento do QT, favorece a ocorrência de TV po- limórfica, por atividade trigada, tipo “Torção das Pontas”. Tabela 4. Causas de QT longo. Congênitas Síndrome do QT longo Idiopática Adquiridas Causas Exemplos Metabólica Hipocalemia, hipocalcemia e hipomagnesemia Antiarrítmicos Amiodarona, sotalol Antibióticos Quinolona, macrolídeos, antifúngicos azóis Psicotrópicos Haloperidol, antidepressivo tricíclico Drogas anticolinérgicas Organofosforados Cardiologia.indb 50 13/02/2020 20:50:10 Taquiarritmias Cap. 2 51 B lo co A Fluxograma 1. Resumo das condutas de emergência nas taquicardias. Instável Taquicardias (FC > 100 bpm) CVES Estável QRS estreito QRS largo Regular Irregular Regular Irregular Apresenta algum dos 5 D’s: Dispneia / Dor torácica Desmaio / Diminuição da PA Diminuição da consciência Manobras vagais Adenosina EV ( 6 mg -> 12 mg) Controle de FC com an�arrítmico Controle de FC com an�arrítmico Amiodarona CVES DesfibrilaçãoCondiderar cardioversão se tempo < 48 horas ou Ecocardiograma TE sem trombos Se Torsades de Pontes: Sulfato de Mg2+ Cardiologia.indb 51 13/02/2020 20:50:11 Taquiarritmias Capítulo 2 52 QUESTÕES COMENTADAS Questão 1 (INSTITUTO DE CARDIOLOGIA DO RIO GRANDE DO SUL – 2018) Davi, 54 anos, hipertenso, diabético e tabagista, é admi- tido na emergência do Instituto de Cardiologia por palpitações, sendo realizado eletrocardiograma que revelou taquicardia ventricular tipo torsades de poin- tes. O tratamento mais efetivo para essa arritmia é: ⮦⮦ Sulfato de magnésio ⮦⮧ Gluconato de cálcio ⮦⮨ Adenosina ⮦⮩ Atropina ⮦⮪ Procainamida dificuldade: Resolução: O torsades de pointes é uma taquiarritmia ventricular associada ao intervalo QT prolongado, por atividade deflagrada por pós-potenciais, e o sul- fato de magnésio é capaz de controlar essa arritmia. ✔✔ resposta: A Questão 2 (UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ – 2018) Mulher de 82 anos, hipertensa com osteoartrose de joelho, apresenta histórias de queda da própria altura, sendo a última há 2 anos, antes de iniciar programa de fisioterapia. Procura consultório médico com queixa de palpi- tações taquicárdicas. Ao exame físico, apresentou ritmo cardíaco irregular e, ao eletrocardiograma, foi diagnosticada fibrilação atrial. Dentre as condutas a seguir, a mais adequada é: ⮦⮦ Ácido acetilsalicílico na dose de 300 mg/dia. ⮦⮧ Varfarina mantendo INR abaixo de 2 pelo risco de sangramento. ⮦⮨ Associar ácido acetilsalicílico 100 mg/ dia e var- farina mantendo INR entre 1,5 e 2. ⮦⮩ Não usar varfarina nem ácido acetilsalicílico pelo risco de queda. ⮦⮪ Varfarina mantendo entre 2 e 3. dificuldade: ✔Y Dica do autor: Em pacientes com FA, sempre deve- mos avaliar indicação de anticoagulação pelo escore CHA2DS2-VASc, neste caso: HAS (1 ponto), 84 anos (2 pontos), Mulher (1 ponto), portanto escore de 4 pon- tos, indicada anticoagulação (≥ 2 pontos). Alternativa A: INCORRETA. O ácido acetilsalicílico é antia- gregante plaquetário e não tem indicação para pre- venção de tromboembolismo em pacientes com FA. Alternativa B: INCORRETA. Quando iniciamos anticoagu- lação com varfarina, o alvo terapêutico de INR deve ser entre 2 e 3 para adequada anticoagulação. Alternativa C: INCORRETA. Não há benefício na associa- ção do AAS com varfarina para prevenção de trom- boembolismo na FA. Alternativa D: INCORRETA. A paciente apresentou última queda há 2 anos, antes da fisioterapia; portanto, o risco de quedas pode ser considerado baixo neste momento, o que não contraindicaria a anticoagulação. Alternativa E: CORRETA. ✔✔ resposta: E Questão 3 (HOSPITAL UNIVERSITÁRIO PRESIDENTE DUTRA – 2018) As ar- ritmias cardíacas são decorrentes, basicamente, de alterações na geração do impulso (automatismo anormal e atividade deflagrada) e/ou na condução do impulso (reentrada). Sobre os principais mecanis- mos de taquiarritmia mais prevalentes na população Cardiologia.indb 52 13/02/2020 20:50:11 Taquiarritmias Cap. 2 53 B lo co A pediátrica, sua classificação e tratamento, podemos afirmar, EXCETO: ⮦⮦ As células miocárdias atriais e ventriculares nor- malmente não apresentam atividade de marca- -passo. ⮦⮧ A reentrada é o mecanismo gerador de taquiarrit- mias de supraventriculares e ventriculares mais frequente e relevante, podendo ser anotômica ou funcional. ⮦⮨ As arritmias cardíacas podem ser classificadas quanto à repercussão clínica em estável ou ins- tável. ⮦⮩ A distinção entre taquicardia supraventricular e taquicardia ventricular é de fundamental impor- tância, não somente para reversão aguda, mas para adoção de estratégias para a prevenção de recorrência a longo prazo. ⮦⮪ Cicatrizes (fibrose) miocárdicas secundárias à cardiopatia estrutural não favorecem o desen- volvimento de reentrada. dificuldade: ✔Y Dica do autor: Questão conceito. Alternativa A: CORRETA. Em condições normais, quem apresenta atividade de marca-passo é o nó sinusal. Alternativa B: CORRETA. A reentrada pode estar presen- te em taquicardias tanto supraventriculares quanto ventriculares, podendo ser anatômica (após IAM por fibrose) ou funcional (vias que conduzem com velo- cidades diferentes). Alternativa C; CORRETA. Sempre é importante avaliar se a taquicardia é estável ou instável, isso muda a conduta. Alternativa D: CORRETA. O tratamento e prevenção da TSV é completamente diferente da TV. Alternativa E: INCORETA. Cicatrizes FAVORECEM o apa- recimento de reentrada, pois possibilita a existên- cia de vias de condução com velocidades distintas. ✔✔ resposta: E Questão 4 (HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DA UFSC – 2018) Homem, 64 anos, há 15 dias com dispneia progressiva, no momento, aos pequenos esforços. Apresenta antecedentes de hipertensão arterial, diabetes mellitus tipo 2 e episódio de isquemia cerebral transitória há 4 anos. Apresenta-se na unidade de emergência com FC = 156 bpm, PA = 134/86 mmHg, FR = 20 irpm e SatO2 = 95% em ar ambiente. O ritmo cardíaco é irregular e a ausculta não evidencia outras alterações. Na aus- culta pulmonar, apresenta estertores finos bilaterais nos terços inferiores. Eletrocardiograma evidencia fibrilação atrial de alta resposta. A conduta inicial para esse paciente é: ⮦⮦ controle da frequência cardíaca, anticoagulação e cardioversão elétrica imediata. ⮦⮧ controle da frequência cardíaca, anticoagulação e cardioversão química imediata. ⮦⮨ por se tratar de uma fibrilação atrial aguda, não há indicação de anticoagulação. ⮦⮩ que a decisão quanto a controlar o ritmo ou con- trolar a frequência cardíaca não pode ser tomada antes de o paciente realizar um ecocardiograma transesofágico. ⮦⮪ controle da frequência cardíaca, anticoagulação e diurético de alça. dificuldade: ✔Y Dica do autor: Paciente de 64 anos, HAS e DM, pas- sado de AIT, com quadro de FA de alta resposta ven- tricular (FAARV), sem instabilidade hemodinâmica; no entanto, com sintomas de congestão pulmonar iniciados há 15 dias. Deduzimos que: 1) não se trata de quadro agudo, tendo, no mínimo, 15 dias, portanto é superior a 48h; 2) se não agudo e não instável, não há indicação de cardioversão, seja elétrica ou química. Alternativas A, B e C: INCORRETAS. A decisão de contro- lar ritmo ou frequência deve ser tomada antes de realizar um ecocardiogramatransesofágico, que só terá indicação caso se considere controle de ritmo. Optando por controle de frequência, não há indica- ção do exame. Alternativa D: INCORRETA. Finalmente, temos que con- trolar a FC, diante de uma FAARV, bem como indica- ção de anticoagulação pelo CHA2DS2VASc e uso de diurético de alça para melhorar da congestão. Alternativa E: CORRETA. ✔✔ resposta: E Cardiologia.indb 53 13/02/2020 20:50:11 Taquiarritmias Capítulo 2 54 Questão 5 (UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO – 2018) Em relação à fibrilação atrial (FA), assinale a alternativa correta: ⮦⮦ FA paroxística diminui sua incidência com o au- mento da idade. ⮦⮧ FA apresenta baixa morbimortalidade em mulhe- res, acima de 80 anos, hipertensas. ⮦⮨ FA persistente é a forma mais comum de apre- sentação. ⮦⮩ FA paroxística que apresenta reversão espon- tânea, apresenta baixa taxa de recorrência e o paciente pode ser mantido sem anticoagulação, independente de outros fatores de risco. ⮦⮪ A principal complicação da FA é o desenvolvi- mento de taquicardia ventricular monomórfica. dificuldade: Alternativa A: INCORRETA. A incidência de Fibrilação atrial (FA) aumenta proporcionalmente à idade. Alternativa B: INCORRETA. Idade avançada, sexo femini- no e HAS são fatores que aumentam o risco trom- boembólico na FA, levando, portanto, à maior mor- bimortalidade. Alternativa C: CORRETA. A FA permanente (> 1 ano ou refratária à cardioversão) representa a forma mais comum, cerca de 40-50% dos casos. Alternativa D: INCORRETA. Mesmo se a FA reverter es- pontaneamente, e o paciente se mantiver em ritmo sinusal, deverá ser anticoagulado caso possua es- core CHADS-VASC2 elevado. Os episódios de FA pa- roxística tendem a ser recorrentes e, muitas vezes, assintomáticos. Alternativa E: INCORRETA. A principal complicação da FA é o cardioembolismo. ✔✔ resposta: C Questão 6 (HOSPITAL PROFESSOR EDMUNDO VASCONCELOS – 2017) Homem de 52 anos, com insuficiência cardíaca com fração de ejeção reduzida (FE: 30%), realiza um Holter de 24h em virtude de palpitações. O Holter mostra epi- sódios de taquicardia ventricular sustentada com estabilidade hemodinâmica. O melhor antiarrítmico para esta situação é: ⮦⮦ Propafenona. ⮦⮧ Verapamil. ⮦⮨ Digoxina. ⮦⮩ Amiodarona. ⮦⮪ Adenosina. dificuldade: Resolução: A taquicardia ventricular é uma taquiarrit- mia perigosa, pela sua capacidade de se degenerar em fibrilação ventricular e morte súbita. A taqui- cardia ventricular sustentada é caracterizada por episódios de TV que duram mais que 30 segundos ou que levam à instabilidade hemodinâmica. Assim que é identificada, ela deve ser prontamente rever- tida. Nos casos de instabilidade, deve-se optar pela cardioversão elétrica. Nos casos em que há estabi- lidade, como no caso em questão, a cardioversão farmacológica é a escolha, e o melhor antiarrítmico para esses casos é a amiodarona. A única resposta adequada é a letra D. ✔✔ resposta: D Questão 7 (SECRETARIA ESTADUAL DE SAÚDE DO ESTADO DE PERNAMBUCO – 2016) Qual das seguintes alternativas NÃO está as- sociada ao aumento do risco de AVC embólico em pacientes com fibrilação atrial? ⮦⮦ Diabetes. ⮦⮧ Idade acima de 75 anos. ⮦⮨ Hipercolesterolemia. ⮦⮩ Hipertensão. ⮦⮪ Insuficiência cardíaca. dificuldade: ✔Y Dica do autor: Nessa questão temos que lembrar dos itens do escore CHAD2S2-VASc. Alternativa A: INCORRETA. Pacientes com DM associado à FA têm maior risco de AVC. Alternativa B: INCORRETA. Pacientes com idade acima de 75 anos e FA têm maior risco de AVC. Alternativa C: CORRETA. Hipercolesterolemia é fator de risco para AVC trombótico e arterioembólico, mas não cardioembólico. Cardiologia.indb 54 13/02/2020 20:50:11 Taquiarritmias Cap. 2 55 B lo co A Alternativa D: INCORRETA. HAS é o principal fator de ris- co para AVC isquêmico e hemorrágico. Alternativa E: INCORRETA. Insuficiência cardíaca aumenta as chances de formação de trombo intracavitário e consequente AVC cardioembólico. ✔✔ resposta: C Questão 8 (HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DO OESTE DO PARANÁ – 2017) Em re- lação às taquiarritmias, podemos afirmar, EXCETO: ⮦⮦ Taquiarritmia com complexo QRS largo, na maio- ria das vezes, tem origem ventricular, mas pode ser de origem supraventricular com condução aberrante. ⮦⮧ TRN é o tipo mais comum das taquiarritmias su- praventriculares paroxísticas em indivíduos sem cardiopatia estrutural. ⮦⮨ A taquicardia por reentrada atrioventricular de- pende da existência do feixe de Kent. ⮦⮩ A presença da onda r’ na derivação V1 e ECG, durante a taquiarritmia, sugere taquicardia por reentrada nodal. ⮦⮪ Fibrilação atrial é a arritmia mais frequente em jovens com coração estruturalmente normal. dificuldade: ✔Y Dica do autor: Questão que nos cobra conceitos de taquiarritmias. Alternativa A: CORRETA. Traz a diferenciação da origem do estímulo para a taquiarritmia ao ECG: QRS estrei- to é igual à origem supraventricular, e QRS alarga- do é igual à origem ventricular. A exceção está nos bloqueios de ramo que podem exibir QRS alargado por aberrância de condução mesmo na origem su- praventricualr (já que o QRS já é alargado de base). Alternativa B: CORRETA. Traz a taquicardia por reentrada nodal como a mais comum em indivíduos sem car- diopatia estrutural, dado epidemiológico verdadeiro. Alternativa C: CORRETA. Fala da taquicardia por reentrada atrioventricular (Síndrome de Wolff-Parkinson-Whi- te), que se dá justamente pela existência de uma via acessória (feixe de Kent). Alternativa D: CORRETA. Fala sobre a presença do pseudo R na derivação v1 durante a taquicardia por reentrada nodal, informação também conceitual e verdadeira. Alternativa E: INCORRETA. FA é mais comum em idosos com comorbidades e cardiopatia estrutural. ✔✔ resposta: E Questão 9 (SECRETARIA MUNICIPAL DE SAÚDE DE SINOP – 2017) Paciente 68 anos com Fibrilação Atrial permanente, frequên- cia cardíaca de 88 bpm e pressão arterial de 120 a 74 mmHg, há 1 mês sem terapia antitrombótica. Na sua última consulta, o cardiologista havia prescrito rivaroxibana, inibidor direto do fator Xa; contudo, devido ao custo elevado, o paciente não aderiu à terapia. Sobre essa terapia antitrombótica, assinale a alternativa CORRETA: ⮦⮦ Uso de Warfarin inibe a síntese de fatores vita- mina K – dependentes e o exame de controle a ser solicitado em 4 a 8 dias é o Tempo de Trom- boplastina Parcial Ativado (TTPa). ⮦⮧ Uso de Warfarin permite absorção rápida dos trombos já formados através da inibição da via extrínseca da cascata de coagulação. ⮦⮨ Uso de Warfarin inibe o fator X da cascata de coa- gulação e o exame de controle a ser solicitado em 7 dias é o Tempo de Protrombina para avaliar a via intrínseca. ⮦⮩ Uso de Warfarin interfere na produção dos fato- res II, VII, IX e X e o exame de controle a ser so- licitado em 4-8 dias é o Tempo de Protrombina ou INR para avaliar a via extrínseca. dificuldade: ✔Y Dica do autor: A questão menciona a rivaroxabana; no entanto, todas as proposições são sobre a var- farina. Uma boa questão para relembrar conceitos importantes. O que temos que ter em mente?? Que a varfarina é um anticoagulante cumarínico, antago- nista da vitamina K, que age sobre os fatores II, VII, IX e X, e o exame que utilizamos para monitorizar sua atividade terapêutica é o tempo de protrombina (TP ou TAP), que avalia a via extrínseca da coagulação. Alternativa A: INCORRETA. Não é o TTPa que utilizamos como exame, e sim o TP! Alternativa B: INCORRETA. A ação da varfarina não é rá- pida e imediata, inclusive inicialmente pró-coagu- lante, motivo pelo qual utilizamos heparina associa- da no começo. Os anticoagulantes não dissolvem o Cardiologia.indb 55 13/02/2020 20:50:11 Taquiarritmias Capítulo 2 56 trombo, mas permitem um desbalanço no sistema fibrinólise X coagulação a favor do sistema fibrino- lítico endógeno, que naturalmente agirá no trombo. Os trombos sofrem um processo dinâmico. Alternativa C: INCORRETA. Apesar de inibir o fator X, de 7 dias ser um tempo
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