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25 B lo co A Capítulo 1ARTRITE REUMATOIDE DO QUE VOCÊ PRECISA SABER? u A artrite reumatoide é uma doença inflamatória, autoimune, sistêmica, crônica, cujo principal alvo é a sinóvia. Acomete três mulheres para cada homem, e o pico de incidência é dos 50 aos 75 anos. O HLA DRB1 associado ao “epítopo compartilhado” é fator de risco importante. u As manifestações articulares são a poliartrite erosiva simétrica de mãos e punhos com rigidez matinal prolongada, e nas mãos há acometimento das metacarpofalangeanas e interfalangeanas proximais. São manifestações extra-articulares: cutânea (nódulos reumatoides subcutâneos, indolores e móveis), vascular (vasculite reumatoide), ocular (ceratoconjuntivite sicca), pulmonar (pneumopatia intersticial, derrame pleural, bronquiolite obliterante e nódulos pulmonares), cardíaca (efusão pericárdica) e hema- tológica (a síndrome de Felty é a associação da artrite reumatoide com esplenomegalia e neutropenia). u O fator reumatoide não é específico da AR e pode ser encontrado em indivíduos sadios ou com outras doenças, como crioglobulinemia e Sjogren. O anti-CCP tem sensibilidade semelhante ao fator reuma- toide, mas a especificidade é maior que 90%. Ambos não são úteis para monitoramento da doença. u Os critérios ACR/EULAR 2010 são classificatórios e auxiliam no diagnóstico na prática clínica. São diag- nósticos diferenciais: osteoartrite (dor mecânica com rigidez matinal fugaz e assimétrica), artropatia de Jaccoud (frouxidão ligamentar sem acometimento ósseo) e artrite psoriásica (há acometimento das interfalangeanas distais). u Tratamento: metotrexato – > segundo DMARD sintético convencional – > DMARD biológico. O DAS28 é o índice mais utilizado na prática clínica para avaliar atividade da doença. 1. INTRODUÇÃO A artrite reumatoide (AR) é uma doença inflamatória autoimune sistêmica crônica cujo principal alvo é a sinóvia (ou membrana sinovial), com consequente inflamação e proliferação desta, além de erosão óssea justa-articular e destruição da cartilagem. Tais alterações são responsáveis pelas deformidades articulares IRREVERSÍVEIS encontradas na doença de longo prazo e, pela sua característica sistêmica, podem afetar outros órgãos. O marco clínico da doença é a poliartrite EROSIVA SIMÉTRICA de mãos e punhos. 2. EPIDEMIOLOGIA E ETIOPATOGÊNESE A AR acomete cerca de 1% da população adulta mundial, sendo uma das doenças reumáticas mais comuns. Tem predileção por mulheres numa pro- porção de 3:1 homem, com pico de incidência dos 40 aos 60 anos, mas pode ocorrer em qualquer idade. A AR é reconhecida como uma doença autoimune e sua manifestação é decorrente da perda da autotolerância imunológica relacionada a fatores ambientais, taba- gismo e microbioma, em indivíduos predispostos (com fatores genéticos). O antígeno leucocitário humano (HLA) é o fator de risco genético mais importante para Reumatologia.indb 25 19/12/2019 11:57:32 Artrite reumatoide Capítulo 1 26 AR, responsável por 30% a 50% da suscetibilidade gené- tica global para a AR. A associação mais forte conhecida é com os alelos do gene HLA DRB1 (ex.: *0404, *0401), que codificam uma sequência de aminoácidos chamada de epítopo compartilhado (EC). O EC é relacionado à apresentação de peptídeos citrulinados, seleção de linfócitos T autorreativos e consequente exacerbação da resposta imune adaptativa, liberação de citocinas inflamatórias (ex.: TNF, IL-6, IL-1) e ativação de linfócitos B (produção de fator reumatoide). O fator de risco modificável mais bem estabelecido é o TABAGISMO, em virtude da inflamação e forma- ção de proteínas citrulinadas nos pulmões. Outros fatores de risco importantes são a periodontite e o microbioma, que estão frequentemente associados a gatilhos de reativação da doença. O que é a citrulinização? É a conversão da arginina em citrulina (proteína citrulinada), processo que ocorre na inflamação. Ora, mas se a citrulinização ocorre em todo processo inflamatório, por que o anti-CCP é tão específico da AR? Porque a apresentação dos peptídeos citrulinados é feita através dos alelos do HLADRB1 e “epítopo compartilhado”. O que é HLA DR? O HLA DR é um receptor da família de moléculas de MHC de classe II, presente nas células apresentadoras de antígeno e responsável por apresentar epítopos antigênicos às células T (via receptor TCR). FLASHCARDS Qual o fator de risco modificável e o fator genético mais importantes na artrite reumatoide? Tabagismo e HLA. Figura 1. Imunologia na AR. Fonte: Arquivo pessoal. Imunologia na AR: a célula apresentadora de antí- geno (APC) apresenta o peptídeo citrulinado atra- vés do MHC classe II/epítopo compartilhado, que é reconhecido pelo receptor do linfócito T CD4 naive (TCR), porém a sinalização só estará completa após segundo sinal coestimulatório entre CD80/86 e CD28. Reumatologia.indb 26 19/12/2019 11:57:32 Artrite reumatoide Cap. 1 27 B lo co A O linfócito T então pode se diferenciar para auxiliar na regulação e controle da resposta imune adapta- tiva (Treg) ou estimular a produção de IL 17 (TH17) e, consequentemente, a ativação macrofágica na produção de IL-6, IL-1, TNF ou ainda estimular a diferenciação do linfócito B em plasmócito produtor de Fator Reumatoide. O TNF e IL-1 apresentam papel importante na inibição do linfócito Treg. 2.1. A MEMBRANA SINOVIAL NA AR A inflamação da membrana sinovial (sinovite) é crô- nica com períodos de agudização e associa-se a um processo proliferativo e destrutivo das articulações. O PANNUS é um tecido granulomatoso que ocorre na região de contato entre a membrana sinovial, carti- lagem e osso e que possui a capacidade de invadir e destruir tecidos adjacentes. A existência desse pro- cesso inflamatório crônico culmina em erosões ósseas, destruição articular, atrofia muscular, rotura tendínea e consequente subluxação e instabilidade articular. Figura 2. Visão geral da fisiopatologia da AR: participação da imunidade inata e adaptativa, pannus e osteoclastos. Fonte: Emery, Paul. 2015.1 3. QUADRO CLÍNICO O quadro clínico costuma ser insidioso e progressivo, com manifestações articulares e extra-articulares. Pela característica sistêmica da doença, também pode haver sintomas constitucionais como febre, astenia e perda de peso. FLASHCARDS Como é a manifestação articular na artrite reuma- toide? Poliartrite erosiva simétrica de mãos e punhos com rigidez matinal prolongada (> 1h), podendo acometer outras articulações. Nas mãos, geralmente acomete metacarpofalangeanas e interfalangeanas proximais. 3.1. MANIFESTAÇÕES ARTICULARES A manifestação articular habitualmente é de poliar- trite erosiva simétrica de mãos e punhos, com artral- gia contínua, pior em repouso associada à rigidez matinal prolongada (>1 hora), podendo acometer outras articulações como pés, cotovelo, ombros, joelhos e tornozelos. Nas mãos, geralmente acomete metacarpofalangeanas e interfalangeanas proximais (IFP) e poupa as interfalangeanas distais (IFD). Tal padrão de acometimento é responsável pelos acha- dos típicos da doença avançada ao exame físico, que são: atrofia de musculatura interóssea, polegar em Z, desvio ulnar de metacarpofalangeanas e radial do punho, dedo em pescoço de cisne (hiperextensão da IFP e flexão da IFD), dedo em boutonniere ou casa de botão (flexão da IFP e hiperextensão da IFD), dorso de camelo (sinovite de segunda e terceira metacar- pofalangeanas associada a alargamento do punho), dedo em martelo (flexão da IFD). FLASHCARDS Quais os achados articulares típicos da artrite reu- matoide avançada ao exame físico? Atrofia de musculatura interóssea, polegar em Z, desvio lunar de metacarpofalangeanas e radial do punho, dedo em pescoço de cisne, dedo em casa de botão, dorso de camelo, dedo em martelo. DICA Os achados são típicos, porém não são patognomônicos, principalmente se forem REVER- SÍVEIS. O principal diagnóstico diferencial é a artropatia de Jaccoud (frouxidão ligamentar),que tem a característica de reversibilidade ao exame físico. Reumatologia.indb 27 19/12/2019 11:57:32 Artrite reumatoide Capítulo 1 28 Figura 3. Deformidades de Boutonniere e Pescoço de cisne. Fonte: Hochberg.2 Figura 4. Deformidades encontradas: desvio ulnar, alargamento de punhos, sinovite de metacarpofalangeanas. Nos pés: sinovite de tornozelos, hálux valgo, perda do arco longitudinal e transversal. Fonte: Arquivo pessoal. Reumatologia.indb 28 19/12/2019 11:57:32 Artrite reumatoide Cap. 1 29 B lo co A Figura 5. Mão de paciente com AR: presença de cisto sinovial em punho e seu alargamento; dedos em botoeira. Fonte: Arquivo pessoal. Como o alvo da AR é a sinóvia, pode haver acometi- mento de qualquer articulação que tenha membrana sinovial, incluindo coluna cervical (C1 e C2), tempo- romandibular, cricoaritenoide, esternoclavicular. O acometimento de coluna lombar, torácica e sacroileite não é esperado. O quadro de sinovite crônica na região atlanto-axial (C1 e C2) leva à instabilidade ligamentar e, conse- quentemente, os pacientes podem vir a apresentar subluxação atlanto-axial e mielopatia. O cisto de BAKER (cisto sinovial na fossa poplí- tea) não é um achado exclusivo da AR. Pode ser encontrado em qualquer paciente que tenha um quadro de sinovite crônica em joelhos com con- sequente formação do cisto. A rotura dele pode causar uma clínica semelhante à de trombose venosa profunda e é preciso estar atento ao diagnóstico diferencial. Figura 6. Cisto de Baker. Fonte: American College of Rheumatology Image Bank.3 3.2. MANIFESTAÇÕES EXTRA-ARTICULARES A AR, por ser uma doença sistêmica, apresenta manifestações não somente em articulações, como também extra-articulares. As manifestações extra- -articulares estão geralmente associadas a quadros graves e com fator reumatoide positivo, sendo mani- festações mais tardias da doença e associados ainda a uma maior mortalidade dos pacientes. 3.2.1. CUTÂNEO Os nódulos reumatoides subcutâneos estão pre- sentes em 20 a 40% dos pacientes, são indolores, móveis, encontrados principalmente nas superfícies extensoras de antebraço, cotovelos e dedos das mãos, mas também já foram descritos em vísceras como olhos, pulmões e cordas vocais. Outro acometimento cutâneo que pode ocorrer é a púrpura palpável (vasculite leucocitoclástica). Reumatologia.indb 29 19/12/2019 11:57:32 Artrite reumatoide Capítulo 1 30 Figura 7. Nódulo reumatoide. Fonte: American College of Rheumatology Image Bank.3 3.2.2. VASCULAR A vasculite reumatoide, apesar de rara, é uma das complicações mais temidas da doença e não está necessariamente associada à atividade articular. Manifesta-se pelo acometimento de pequenos e médios vasos através de: mononeurite múltipla (vas- culite da vasa vasorum), vasculite cutânea (púrpura palpável, isquemia digital, infartos periungueais, úlceras cutâneas) e pode acometer outros órgãos como coração, pulmões, intestinos, rins, f ígado, baço, pâncreas e testículos. Figura 8. Vasculite reumatoide: infartos e púrpuras periungueais (lesão de Bywaters). Fonte: Arquivo pessoal. Reumatologia.indb 30 19/12/2019 11:57:33 Artrite reumatoide Cap. 1 31 B lo co A 3.2.3. OCULAR A ceratoconjuntivite sicca é a condição ocular mais comum em pacientes com AR, pois muitas vezes se associa à síndrome de Sjogren. Outras manifestações são: episclerite, esclerite e escleromalácea perforans. Figura 9. Escleromalácea perforans. Fonte: Arquivo pessoal. 3.2.4. PULMONAR FLASHCARDS O que é a síndrome de Caplan? Artrite Reumatoide + pneumoconiose+ nódulos pul- monares. As manifestações pulmonares mais comuns são: pneumopatia intersticial, derrame pleural (exsu- dato linfocítico, com baixos níveis de glicose e pH, altos níveis de LDH), bronquiolite obliterante e nódulos pulmonares. A Síndrome de Caplan ocorre em pacientes com AR e pneumoconiose e é caracterizada pela presença de múltiplos nódulos pulmonares. Figura 10. Nódulos reumatoides pulmonares. Fonte: American College of Rheumatology Image Bank.3 3.2.5. CARDÍACO Efusão pericárdica pode ocorrer em 50% dos casos, mas geralmente é assintomática. 3.2.6. HEMATOLÓGICO Achados de doença inflamatória crônica como: ane- mia, hipocrômica e microcítica ou normocrômica e normocítica e trombocitose. FLASHCARDS O que é a síndrome de Felty? É a associação de artrite reumatoide com espleno- megalia e neutropenia. A Síndrome de Felty é a associação de AR com esple- nomegalia e neutropenia. 3.2.7. RINS O envolvimento renal não apresenta características próprias na AR e geralmente está associado à amiloi- dose secundária ou nefrite intersticial (associado a medicamentos). A glomerulonefrite mesangial pode ser encontrada, mas não costuma ter significado clínico. Reumatologia.indb 31 19/12/2019 11:57:33 Artrite reumatoide Capítulo 1 32 4. EXAMES LABORATORIAIS As alterações laboratoriais na AR carecem de especi- ficidade, sendo necessário um conjunto de achados clínico laboratoriais e radiológicos que determinem o diagnóstico. Por se tratar de uma doença inflamatória crônica, as provas inflamatórias (PCR e VHS) estão habitualmente elevadas e o hemograma pode mostrar anemia de doença crônica e plaquetose. Caso se proceda a artrocentese diagnóstica, o líquido sinovial será inflamatório e com aumento de polimorfonucleares. O fator reumatoide não é específico de AR e pode ser encontrado em indivíduos sadios ou outras doenças, como crioglobulinemia e Sjogren. Possui sensibilidade de 65 a 73% e especificidade de 80%. Já o anti-CCP (antipeptídeo cíclico citrulinado) possui sensibilidade semelhante ao do FR, mas com especificidade acima de 90% (muito útil nos casos de dúvida diagnóstica, em que FR é negativo). Ambos se correlacionam com doença mais erosiva e de pior prognóstico. Não são úteis para monitoramento da doença. As sorologias virais devem ser solicitadas, pois constituem um importante diagnóstico diferencial, especialmente nos quadros com duração menor que seis semanas. 5. MÉTODOS DE IMAGEM A radiografia convencional de mãos e punhos é o método preferencial de avaliação de dano estru- tural na AR, pela sua disponibilidade e baixo custo. Evidenciam-se as seguintes alterações: X Osteopenia periarticular: achado mais precoce. X Aumento de partes moles: também é um achado precoce e decorrente de inflamação periarticular. X Diminuição do espaço articular simétrico: des- truição progressiva da cartilagem articular, achada em casos mais avançados. X Erosões ósseas: casos mais avançados e são marginais. X Desvio ulnar e subluxações: achados muito tardios. Figura 11. Joelhos na AR: diminuição de espaço simétrico encontrado na AR. Fonte: American College of Rheumatology Image Bank.3 Reumatologia.indb 32 19/12/2019 11:57:33 Artrite reumatoide Cap. 1 33 B lo co A Figura 12. Evolução da AR com aparecimento de erosão marginal (justa-articular). Fonte: American College of Rheumatology Image Bank.3 Figura 13. Radiografia de mãos na AR: desvio ulnar com presença de subluxação e erosão de metacarpofalangeanas. Fonte: American College of Rheumatology Image Bank.3 Outros métodos de imagem são a ultrassonografia e a ressonância nuclear magnética, ambas mais sen- síveis na detecção de erosões do que a radiografia convencional. FLASHCARDS Qual o método preferencial para avaliar o dano estru- tural na AR e quais alterações podem ser visualizadas? Radiografia convencional, pela sua disponibilida- de e baixo custo, e podem ser visualizados pro- gressivamente osteopenia periarticular, aumento de partes moles, diminuição do espaço articular simétrica, erosões ósseas simétricas e desvio ul- nar e subluxações. 6. DIAGNÓSTICO O diagnóstico de AR deve ser considerado em todo paciente com poliartrite simétrica, rigidez matinal prolongada, especialmente de mãos, punhos e pés, e que dure por mais de seis semanas. A presença de provas de atividade inflamatóriaelevadas e ima- gem mostrando sinovite e erosão corroboram o diagnóstico. Os critérios do ACR ∕EULAR 2010 são classificató- rios, ou seja, embora auxiliem no diagnóstico na Reumatologia.indb 33 19/12/2019 11:57:33 Artrite reumatoide Capítulo 1 34 prática clínica, não devem ser utilizados obrigatória e exclusivamente para este fim. Os antigos critérios classificatórios de AR (ACR 1987) caíram em desuso pela sua baixa sensibilidade, por utilizarem parâme- tros encontrados na doença tardia, como nódulos reumatoides e erosões ósseas. Quadro 1. Critérios de Classificação da AR, do American College of Rheumatology, de 1987. 1 – Rigidez matinal 2 – Artrite em três articulações 3 – Artrite das mãos 4 – Artrite simétrica 5 – Nódulos reumatoides 6 – Fator reumatoide sérico positivo 7 – Anormalidades radiográficas Os critérios de 1 a 4 devem estar presentes por pelo menos 6 semanas. Os critérios 2 a 5 tinham que ser vistos pelo médico. Fonte: Adaptado de Carvalho.4 Quadro 2. Critérios de Classificação de AR, de 2010. Critérios Escore A. Acometimento articular 1 Articulação grande 0 2-10 Articulações grandes 1 1-3 Articulações pequenas 3 >10 articulações (no mínimo, 1 articulação pequena) 4 B. Sorologia FR e anti-CCP negativos 0 Critérios Escore FR ou anti-CCP positivo em baixos títulos 2 FR ou anti-CCP positivo em altos títulos 3 C. Reagentes de fase aguda Proteína C-reativa e VHS normais 0 Proteína C-reativa e VHS anormais 1 D. Duração dos sintomas < 6 semanas 0 ≥ 6 semanas 1 Os critérios aplicam-se apenas aos pacientes com sinais OBJETIVOS de sinovite em, no mínimo, 1 articulação e que não tenham uma explicação alternativa mais plausível para sinovite. O paciente é classificado como portador de AR quando a soma é ≥ 6. Fonte: Adaptado de Carvalho.4 7. DIAGNÓSTICOS DIFERENCIAIS – FIQUE LIGADO! 7.1. OSTEOARTRITE PRIMÁRIA VERSUS AR A osteoartrite (OA) primária pode ser diferenciada da AR pelos sintomas e padrão de acometimento. Na OA o ritmo de dor é mecânico, com rigidez matinal fugaz e caráter assimétrico. Nas mãos, é comum o acometimento de IFD, mas as metacarpofalangeanas e o punho são poupados. Outra articulação muito acometida é a primeira carpo-metacarpiana, cha- mada de rizartrose. Ao exame físico, observam-se nódulos em IFD e IFP (nódulos de Herberden e Bou- chard, respectivamente). Os achados da radiologia são: osteófitos, esclerose subcondral e diminuição de espaço assimétrico. Reumatologia.indb 34 19/12/2019 11:57:33 Artrite reumatoide Cap. 1 35 B lo co A Figura 14. Osteoartrite de mãos e acometimento da Interfalangeana distal: note a formação de osteófitos, esclerose subcondral importante e erosão intra-articular. Fonte: American College of Rheumatology Image Bank.3 Figura 15. Joelhos na Osteoartrite: esclerose subcondral e diminuição do espaço articular assimétrico (acentuada em compartimento lateral). Fonte: American College of Rheumatology Image Bank.3 7.2. ARTROPATIA DE JACCOUD VERSUS AR A deformidade de Jaccoud é frequentemente encon- trada no Lúpus Eritematoso Sistêmico. Trata-se de frouxidão ligamentar sem acometimento ósseo, ou seja, não há erosão! Logo, se não há erosão e destrui- ção da cartilagem, as deformidades são reversíveis ao exame clínico. Tais deformidades são semelhan- tes à AR, como se pode ver na figura abaixo e, por esse motivo, configuram um diagnóstico diferencial importante. Reumatologia.indb 35 19/12/2019 11:57:33 Artrite reumatoide Capítulo 1 36 Figura 16. Artropatia de Jaccoud: Presença de desvio ulnar e dedos em pescoço de cisne, porém radiografia sem erosão. Fonte: American College of Rheumatology Image Bank.3 7.3. ARTRITE PSORIÁSICA VERSUS AR O acometimento de IFD deve, automaticamente, questionar o diagnóstico de AR, e devemos pensar em osteoartrite ou artrite psoriásica. A psoríase deve ser pesquisa obrigatória ao exame físico, porém pode não estar presente e vir a se desenvolver anos após o quadro articular. Outras dicas que nos auxiliam a fazer o diagnóstico são: história familiar positiva e presença de alterações ungueais sugestivas. No estudo radiológico das mãos, o achado pencil in cup é característico. Figura 17. Acometimento radiográfico da interfalangeana distal na Artrite psoriásica: reabsorção de extremidade de falange média e neoformação óssea na base da falange distal (pencil in cup). Fonte: American College of Rheumatology Image Bank.3 Reumatologia.indb 36 19/12/2019 11:57:34 Artrite reumatoide Cap. 1 37 B lo co A 7.4. FIBROMIALGIA VERSUS AR A fibromialgia é um grande diferencial de AR, uma vez que os pacientes relatam edema de mãos e artralgia. No entanto, o edema de mãos, as parestesias e a artralgia não apresentam OBJETIVIDADE, ou seja, os exames complementares e físico são normais. Outros achados clássicos da doença são: sono não reparador, dor difusa (não só articular) e alteração no humor. Outros diagnósticos diferenciais frequentes são as artrites virais como, por exemplo, chikungunya, dengue, hepatites virais e HIV. 8. TRATAMENTO O objetivo do tratamento é evitar a progressão para alterações irreversíveis com dano estrutural e perda funcional. Sendo assim, as drogas mais importan- tes, e que devem ser usadas o mais precocemente possível, são os DMARDS (drogas antirreumáticas modificadoras de doença). Corticoides e anti-infla- matórios devem ser utilizados em associação aos DMARDs por curto intervalo de tempo (fases iniciais de tratamento e períodos de agudização). Os DMARDs podem ser divididos em sintéticos con- vencionais (metotrexato, leflunomida, sulfassalazina e cloroquina) ou biológicos (anti-TNF, anti-CD20, anti- -IL6, bloqueador de coestimulação do linfócito T). A Tabela 3 mostra as drogas antirreumáticas biológicas e mecanismos de ação respectivos. O fluxograma constitui como primeira linha de tra- tamento o uso do Metotrexato (MTX) e, em caso de falha ou evento adverso, deve-se tentar um segundo DMARD sintético convencional. Na falha do segundo DMARD sintético convencional, está autorizado a indicação de DMARDs biológicos (segunda linha de tratamento) ou pequena molécula (Tofacitinibe). O mecanismo do MTX na artrite reumatoide não é totalmente elucidado. Trata-se de um inibidor seletivo da enzima diidrofolato redutase, responsável pela formação de purinas e pirimidinas, precursores do DNA e RNA das células, comprometendo a prolifera- ção celular. Os efeitos colaterais mais comuns são: intolerância gástrica, mucosite, estomatite, hepa- totoxicidade e mielotoxicidade. A dose inicial é de 10 a 15 mg por semana e se associa ao uso de ácido fólico 5 mg uma vez por semana, e no dia seguinte à tomada do MTX, para diminuir os efeitos colaterais. A dose máxima do MTX é de 25 mg por semana. Con- traindicado na gestação e se insuficiência hepática, medular ou renal. A monitorização de resposta ao tratamento é feita de três em três meses e através de índices de ativi- dade. Os mais utilizados são o DAS28, CDAI e SDAI, tendo como alvo em seis meses a remissão (DAS28 ≤ 2,6) ou baixa atividade articular nos pacientes com doença de longa data (DAS28 ≤ 3,2). FLASHCARDS Como age o Metotrexato e qual a droga que minimiza seus efeitos colaterais? O MTX é um inibidor da diidrofolato redutase, e o ácido fólico é usado em conjunto para diminuir os efeitos colaterais. O DAS28 é o índice mais utilizado na prática clínica para avaliar atividade de doença e é calculado atra- vés da pontuação de 28 articulações (lado direito e esquerdo: joelhos, metacarpofalangeanas e interfa- langeanas proximais das mãos, punhos cotovelos e ombros) dolorosas e/ou edemaciadas associado a avaliação de saúde geral pelo paciente de 0 a 100 e valor do PCR/VHS. É recomendado screening sorológico (sífilis, hepatite B, hepatite C e HIV) e a vacinação para tétano, hepatite B, influenza e pneumococo em todos os pacientes que receberão imunossupressores. Lembrar-se de sempre avaliaro risco de osteoporose nos pacientes usuários crônicos de glicocorticoides e introduzir suplementação de cálcio e vitamina D. Em caso de necessidade de início de terapia biológica, deve-se referenciar o paciente ao especialista para screening e escolha do biológico mais adequado de acordo com o perfil de comorbidades do paciente. Os DMARDs biológicos mais utilizados na AR são os anti-TNF (Infliximabe, Adalimumabe, Golimumabe, Certolizumabe, Etanercept), e não existe superiori- dade em eficácia entre eles. Possuem contraindica- ções como insuficiência cardíaca congestiva grau III e IV, doenças desmielinizantes, tuberculose ativa, neoplasias atuais ou passadas (até 5 anos), infecção ativa ou recorrente. A reativação de tuberculose em pacientes com infecção latente é uma preocupação Reumatologia.indb 37 19/12/2019 11:57:34 Artrite reumatoide Capítulo 1 38 constante em usuários de anti-TNF e, por esse motivo, deve-se realizar screening antes do início da medi- cação com PPD ou IGRA e radiografia de tórax. FLASHCARDS Como é monitorizada a resposta ao tratamento na artrite reumatoide? Através do DAS28. Quadro 3. Fármacos antirreumáticos biológicos modificadores da doença. Fármacos Mecanismo de ação Via de administração Infliximabe Anti-TNF Intravenoso Adalimumabe Anti-TNF Subcutâneo Etanercept Anti-TNF Subcutâneo Certolizumabe Anti-TNF Subcutâneo Golimumabe Anti-TNF Intravenoso ou subcutâneo Abatacept Inibidor de coestimulação linfócito T Intravenoso ou subcutâneo Tocilizumabe Anti-IL6 Intravenoso Rituximabe Anti-CD20 Intravenoso Fonte: Adaptado de Hellman.5 8.1. SCREENING PARA USO DE DMARD BIOLÓGICO Em pacientes com programação de início de tera- pia biológica (TNF e não TNF), deve-se solicitar um screening inicial: vacinação atualizada (pneumococo, influenza, hepatite B, HPV e herpes zoster); PPD e Rx de tórax (avaliação de tuberculose latente); perguntar ativamente sobre contato prévio com tuberculose; sorologias de hepatites virais B e C e HIV. Em caso de contato prévio com tuberculose ou PPD ≥ 5 mm ou imagem sequelar de tuberculose pré- via, deve-se realizar a profilaxia de tuberculose latente com isoniazida 300 mg ao dia por nove meses (recomendação do Ministério da Saúde em 2017). Antigamente, eram seis meses. Está autorizada a introdução do biológico um mês após o início do uso da isoniazida. 9. PROGNÓSTICO E COMORBIDADES ASSOCIADAS A ausência de manifestações extra-articulares é um critério de bom prognóstico, assim como a negativi- dade do fator reumatoide e do anti-CCP. São fatores de mau prognóstico: início da doença em idade mais precoce, número de articulações acometi- das, VHS e PCR persistentemente elevados, anti-CCP e FR positivos (ainda mais se altos títulos), limitação funcional, tabagismo, baixo nível socioeconômico, erosões presentes, acometimento extra-articular, presença do epítopo compartilhado. Por se tratar de uma doença crônica em que muitos pacientes apresentarão períodos alternantes de ati- vidade de doença e remissão, muitas comorbidades associadas à doença são decorrentes de inflamação crônica e uso de corticoides, como: diabetes, hiper- tensão, sobrepeso, osteoporose, catarata, glaucoma, osteonecrose e osteoartrite secundária à destruição articular. A síndrome de Sjogren é muito associada à AR e é caracterizada pela “síndrome sicca” com xerostomia e xeroftalmia, além de parotidite recorrente e outras manifestações. Outra doença muito associada é a fibromialgia, que se caracteriza por dor difusa, sono não reparador e transtorno de humor. Abordaremos a síndrome de sjogren e a fibromialgia em um capí- tulo separado. A AR é considerada fator de risco cardiovascular independente, sendo a doença coronariana uma das principais causas de morte prematura nos pacientes. REFERÊNCIAS 1. Emery, Paul. Atlas de Artrite Reumatóide. Springer Healthcare Communications; 2015. 2. Hochberg MC, Silman AJ, WeismanHochberg MH. Rheumatology. 6th ed. St Louis Missouri: Mosby; 2015. 3. American College of Rheumatology Image Bank. https:// images.rheumatology.org 4. Carvalho MAP, Bértolo MB, Lanna CCD, Ferreira GA. Reumatolo- gia Diagnóstico e Tratamento. São Paulo: AC Farmacêutica; 2014. 5. Hellmann DB, Imboden J, Stone JH. Current Reumatologia Diagnóstico e Tratamento, Porto Alegre: Artmed Editora; 2014. Reumatologia.indb 38 19/12/2019 11:57:34 Artrite reumatoide Cap. 1 39 B lo co A QUESTÕES COMENTADAS Questão 1 (HOSPITAL UNIVERSITÁRIO SUL FLUMINENSE – 2014) Mulher de 55 anos apresenta poliartrite de pequenas articulações das mãos, simétrica, aditiva, com rigidez matinal maior do que uma hora. A radiografia das mãos mostrou erosões marginais e cistos subcondrais nas articulações metacarpofalangeanas e interfalangea- nas proximais. Que outros exames complementares podem auxiliar no diagnóstico etiológico deste caso? ⮦⮦ Pesquisa de FAN, anti-DNA nativo e anti-Sm. ⮦⮧ Pesquisa do fator reumatoide e anticorpos contra proteínas citrulinadas. ⮦⮨ Detecção do antígeno HLB27. ⮦⮩ Presença de anticorpos anticardiolipina e teste falso-positivo para sífilis. ⮦⮪ Detecção de anticorpos anti-SS/Ro e anti-SS/la. dificuldade: YY Dica do autor: O fator reumatoide pode estar pre- sente em infecções bacterianas crônicas, trans- plantados, algumas doenças inflamatórias crônicas (como fibrose pulmonar idiopática) e mesmo em indivíduos saudáveis (fenômeno que aumenta com a idade). Artrite inflamatória (rigidez matinal de 1 hora) e erosiva de mãos e punhos em uma mulher de 55 anos é muito sugestiva de artrite reumatoide (AR). Alternativa A: INCORRETA. Pesquisa de FAN, anti-DNA nativo e anti-Sm são úteis no diagnóstico de lúpus. Alternativa B: CORRETA. Fator reumatoide e anti-CCP são os anticorpos típicos da AR. Alternativa C: INCORRETA. Pesquisa de antígeno HLB27 é útil no diagnóstico de espondiloartropatias. Alternativa D: INCORRETA. Anticorpos anticardiolipina e teste falso-positivo para sífilis ocorrem na síndrome do anticorpo antifosfolípide (SAAF). Alternativa E: INCORRETA. Anticorpos anti-SS/Ro e anti- -SS/La estão tipicamente presentes na síndrome de Sjogren e no lúpus. Y✔ resposta: ⮧ Questão 2 (SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE DE SÃO PAULO – 2015) Os marcadores biológicos da artrite reumatoide que são de maior utilidade para se estabelecer o grau de atividade da doença são: ⮦⮦ Proteína C-reativa e FAN. ⮦⮧ Velocidade de hemossedimentação e proteína C-reativa. ⮦⮨ Velocidade de hemossedimentação e beta-2-mi- croglobulina. ⮦⮩ Proteína C-reativa e anti-DNA nativo. ⮦⮪ FAN e anticorpo antipeptídeo cíclico citrulinado. dificuldade: Resolução: Os reagentes de fase aguda utilizados para avaliar o grau de atividade inflamatória da Artrite Reumatoide são a PCR e a VHS, pois são os principais marcadores de atividade inflamatória da doença segundo os escores validados para monitorar a resposta ao tratamento. Y✔ resposta: ⮧ Questão 3 (UNIVERSIDADE FEDERAL DA GRANDE DOURADOS – 2015) Paciente com artrite reumatoide com DAS 28 = 5,33, apesar do uso de terapêutica otimizada com DMARDs sin- téticos. Você opta por iniciar terapêutica biológica Reumatologia.indb 39 19/12/2019 11:57:34 Artrite reumatoide Capítulo 1 40 com anti-TNF para controle da doença. Quais exames são mais importantes solicitar antes de iniciar a medicação? ⮦⮦ Fator reumatoide, RX de mãos, Urina I e enzimas canaliculares. ⮦⮧ Transaminases, hemograma, sorologia para cito- megalovírus e toxoplasmose. ⮦⮨ Hemograma, transaminases, RX de tórax e PPD. ⮦⮩ Parasitológico de fezes, creatinina, transamina- ses e hemograma. ⮦⮪ Anti-CCP, fator reumatoide e Waaler-Rose. dificuldade: YY Dica do autor: O mais frequente e importante dentre os eventos adversos dos anti-TNF é representado pelas infecções. Questão bastante específica. Exige que o aluno conheça o Consenso da Sociedade Bra- sileira de Reumatologia para Tratamento da Artrite Reumatoide para início de drogas anti-TNF. Pode ser mais facilmenteresolvida se você se lembrar de um aspecto fundamental: em virtude da alta prevalência de tuberculose em nosso meio, pacientes que farão uso de anti-TNF devem proceder com avaliação de história prévia de tuberculose, contato familiar, exame radiográfico e PPD. Logo, só podemos assi- nalar a alternativa C. As demais trazem exames que não são obrigatórios. Resolução: Hemograma é importante pelo risco de supressão medular e neoplasias hematológicas; transaminases pelo risco de hepatite medicamentosa; rx de tórax e PPD pela possibilidade de reativação de tuberculose latente. Y✔ resposta: ⮨ Questão 4 (UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE – 2015) Uma paciente com artrite reumatoide tomando anti-inflamatório não hormonal, prednisona 7,5 mg/dia e metotrexato 20 mg/semana, refere que nos últimos dias vem tendo febre, astenia e piora do quadro articular especial- mente nos joelhos. Ao exame clínico apresenta-se com febre de 38,5°C, apática, com crises de calafrio, e discreta sinovite em punhos, tornozelos, com des- taque para o joelho esquerdo que se encontrava com calor, aumento de volume com características de presença de líquido intra-articular e importante limite. Qual a melhor conduta para esclarecimento? ⮦⮦ Prescrever outro anti-inflamatório não hormonal. ⮦⮧ Aumentar a prednisona para 15mg/dia. ⮦⮨ Associar outra droga modificadora da doença. ⮦⮩ Realizar punção articular para análise do líquido sinovial do joelho esquerdo. dificuldade: YY Dica do autor: Pacientes com doença articular prévia estão sob risco maior de desenvolver artrite séptica em casos de bacteremia. Paciente apresentando artrite súbita, com febre e sinais sistêmicos. É fun- damental excluirmos artrite séptica, visto que tais manifestações não são típicas da artrite reumatoide (AR). Resolução: A punção articular é obrigatória neste caso para excluir o diagnóstico de artrite séptica. Y✔ resposta: ⮩ Questão 5 (SECRETARIA ESTADUAL DE SAÚDE DO RIO DE JANEIRO – 2016) A principal causa da mortalidade em pacientes com artrite reumatoide na atualidade é: ⮦⮦ Vasculite. ⮦⮧ Doença cardiovascular. ⮦⮨ Pneumopatia intersticial difusa. ⮦⮩ Síndrome do antifosfolipídeo secundária. dificuldade: Resolução: As doenças cardiovasculares decorrentes de ateroesclerose são a principal causa de morta- lidade em pacientes com artrite reumatoide, assim como em outras doenças autoimunes crônicas, na atualidade. Diante de quadros de inflamação crô- nica, observamos um fenômeno de ateroesclerose acelerada nesses pacientes. Y✔ resposta: ⮧ Questão 6 (ALIANÇA SAÚDE – 2017) Paciente de 55 anos, tabagista, procura o consultório médico com queixa de dor nas Reumatologia.indb 40 19/12/2019 11:57:34 Artrite reumatoide Cap. 1 41 B lo co A articulações do punho e da mão. Refere que a dor é pior pela manhã, quando sente que as “juntas travam” com rigidez, por aproximadamente 1 hora. Ao exame físico é observada deformidade articular em mãos, com desvio ulnar e edema no punho direito, na 2ª e 3ª articulação metacarpo falangeana direita, na 3ª articulação metacarpo falangeana esquerda e na 4ª articulação interfalangiana proximal esquerda. Os exames de laboratório revelam. VHS 80 mm; fator reumatoide reagente; FAN 1.8 padrão pontilhado fino. De acordo com o caso relatado anteriormente e se essa condição atingisse o esqueleto axial, o acometimento mais provável será na(s): ⮦⮦ Articulações sacroilíacas. ⮦⮧ Articulação entre C1-C2. ⮦⮨ Articulação entre L5-S1. ⮦⮩ Articulação atlanto-occiptal. ⮦⮪ Articulação entre L4-L5. dificuldade: YY Dica do autor: Lembre-se de que as articulações cricoaritenoides e atlantoaxial podem ser acometi- das na artrite reumatoide (AR). Artrite inflamatória (rigidez matinal de 1 hora) e deformante (desvio ulnar) de mãos e punhos em um paciente de 55 anos é muito sugestiva de AR. Alternativa A: INCORRETA. Articulações sacroilíacas são acometidas nas espondiloartropatias. Alternativa B: CORRETA. Luxação atlantoaxial pode ocor- rer na AR, com risco de tetraplegia. Alternativa C: INCORRETA. Coluna lombar é acometida nas espondiloartropatias. Alternativa D: INCORRETA. Articulação atlanto-occiptal não é acometida na AR. Alternativa E: INCORRETA. Coluna lombar é acometida nas espondiloartropatias. Y✔ resposta: ⮧ Questão 7 (SELEÇÃO UNIFICADA PARA RESIDÊNCIA MÉDICA DO ESTADO DO CEARÁ – 2017) Paciente, sexo feminino, 46 anos, queixa de fadiga e dor em punhos há 3 meses, com rigi- dez matinal de 45 minutos. Nega outros sinais e sintomas associados. Nega viagens, medicações e doenças prévias. Ao exame físico: dor, edema e limitação funcional em punhos, 2º metacarpofa- langeana (MCF) direita, 2º interfalangeana proximal esquerda e 4º MCF esquerda, sem outros achados. Exames: proteína C reativa: 2,87 mg/dL (VR < 0,5 mg/ dL); fator reumatoide 9,4 UI/mL (VR < 10,5 UI/mL); hemograma completo, creatinina, TSH, sumário de urina e radiografia de tórax: normais; sorologias para sífilis, hepatites, HIV e arboviroses: não reagentes. Que exame e alteração seriam úteis para confirmar a principal suspeita diagnóstica? ⮦⮦ Radiografias de mãos com osteófitos e esclerose subcondral. ⮦⮧ Anticorpos antipeptídeos citrulinados cíclicos positivos em baixos títulos. ⮦⮨ Eletroforese de proteínas séricas com hiperga- maglobulinemia policlonal. ⮦⮩ Fator antinuclear positivo, título 1:80, padrão nuclear pontilhado fino denso dificuldade: YY Dica do autor: Fator reumatoide e anti-CCP negativos não excluem o diagnóstico de artrite reumatoide, visto que possuem sensibilidade de 70-80%. Artrite inflamatória (rigidez matinal de 45 minutos) de mãos e punhos, poupando interfalangianas distais em uma mulher de 46 anos é o quadro clássico de artrite reumatoide (AR). Alternativa A: INCORRETA. São alterações compatíveis com osteoartrite. Alternativa B: CORRETA. Anti-CCP é extremamente espe- cífico para AR e, quando positivo, mesmo em baixos títulos, reforça o diagnóstico. Provavelmente colo- cado aí para confundir o aluno. Alternativa C: INCORRETA. Hipergamaglobulinemia poli- clonal pode estar presente como marcador de ativi- dade inflamatória, mas não confirmaria o diagnóstico. Alternativa D: INCORRETA. Dosagem de FAN faz parte da investigação de lúpus, que não é nossa hipótese diagnóstica. Y✔ resposta: ⮧ Questão 8 (SANTA GENOVEVA COMPLEXO HOSPITALAR – 2017) Qual das alternativas abaixo contém elementos para diag- nóstico de artrite reumatoide? Reumatologia.indb 41 19/12/2019 11:57:34 Artrite reumatoide Capítulo 1 42 ⮦⮦ Artrite assimétrica das mãos, proteína c reativa positiva hemossedimentação elevada, fenômeno de Raynaud. ⮦⮧ Artrite migratória, pancardite, antiestreptolisina elevada, eritema marginado, nódulos de Heberden. ⮦⮨ Poliartrite, lesões cutâneas, pleuris, comprome- timento renal. ⮦⮩ Rigidez matinal prolongada, artrite simétrica das mãos, fator reumatoide positivo, erosões ósseas justa-articulares. dificuldade: YY Dica do autor: Pacientes com doença erosiva típica, mesmo que não preencham os critérios diagnósticos, também são considerados com artrite reumatoide (AR) definida. Alternativa A: INCORRETA. Tipicamente, a AR é simétrica e não cursa com Raynaud. Alternativa B: INCORRETA. Manifestações da febre reumática. Alternativa C: INCORRETA. Manifestações do lúpus. Alternativa D: CORRETA. Manifestações típicas da AR. Y✔ resposta: ⮩ Questão 9 (UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO – 2017) Na investigação de uma paciente com poliartrite, o residente de clínica médica aventou algumas pos- sibilidades. Analise as assertivas a seguir: I. O exame clínico das articulações demonstra dor à mobilização ativa, mas não à mobilização passiva; II. Há pouco edema e nenhuma rigidez, deformidade ou instabilidade articular; III. Rigidez matutina com melhora durante a ativi- dade ou com uso de anti-inflamatórios; IV. Velocidade de hemossedimentação e proteína C reativa em níveis normais; V. Artrite de articulações metacarpofalangianase interfalangianas proximais. As assertivas que apresentam, frequentemente, aspectos clínicos e laboratoriais da artrite reuma- toide são, apenas: ⮦⮦ II, III e IV. ⮦⮧ I e V. ⮦⮨ III e IV. ⮦⮩ I e II. ⮦⮪ III e V. dificuldade: YY Dica do autor: Faz parte do quadro clínico da Artrite Reumatoide a presença de artralgia de característica inflamatória. Assertiva I: INCORRETA. Na AR há dor e limitação à movimentação ativa e passiva. Assertiva II: INCORRETA. AR é classicamente erosiva. Assertiva III: CORRETA. A essas características damos o nome de artralgia inflamatória. Assertiva IV: INCORRETA. VHS e PCR estão elevadas; portanto, lembre que há um quadro de inflamação sistêmica. Assertiva V: CORRETA. AR acomete principalmente mãos, pés e punhos. Y✔ resposta: ⮪ Questão 10 (HOSPITAL ISRAELITA ALBERT EINSTEIN – 2018) Senhora de 54 anos procura atendimento ambulatorial com queixa de dor, edema e calor em diversas articulações das mãos, pés, ombros e joelhos com rigidez matinal superior a 1h, poupando as articulações interfalan- geanas distais. Os sintomas se iniciaram há 6 meses e estão em piora progressiva. Ao exame: sinais flo- gísticos nas articulações descritas na história. Sobre essa doença, é correto afirmar: ⮦⮦ A dosagem sérica de PCR e o VHS devem estar baixos. ⮦⮧ Metotrexato é tratamento para modificação da história natural da doença. ⮦⮨ O diagnóstico só pode ser confirmado após resul- tado da dosagem sérica do fator antirreumatoide e/ou anti-CCP. ⮦⮩ Os anti-inflamatórios e analgésicos são tratamento para modificação da história natural da doença. ⮦⮪ Nessa doença não existe comprometimento sis- têmico. Reumatologia.indb 42 19/12/2019 11:57:34 Artrite reumatoide Cap. 1 43 B lo co A dificuldade: Resolução: Não foi difícil reconhecer o diagnóstico, não é? Quadro típico de ARTRITE REUMATOIDE, uma POLIARTRITE CRÔNICA SIMÉTRICA CUMULATIVA/ADI- TIVA. O enunciado ainda traz um dado que mataria o diagnóstico, pois a Artrite Reumatoide costuma POUPAR interfalangianas DISTAIS e região LOMBAR. Por ser uma doença inflamatória crônica, o PCR e VHS estarão aumentados, sim. Por ser uma doença autoimune, a dosagem de autoanticorpos, como FR e anti-CCP, podem corroborar o diagnóstico, embora não seja obrigatório. É uma doença SISTÊMICA, que pode, inclusive, acometer outras regiões extra-ar- ticulares, como olhos, pulmão etc. São drogas que alteram a evolução da doença (DARMDs): Metotrexato, Cloroquina, Leflunamida, Sulfassalazina. Os AINEs são drogas apenas SINTOMÁTICAS na Artrite Reumatoide, não alterando a evolução da doença. Y✔ resposta: ⮧ Reumatologia.indb 43 19/12/2019 11:57:34 Fixe seus conhecimentos! 44 FIXE SEU CONHECIMENTO COM FLUXOGRAMAS Use esse espaço para construir fluxogramas e fixar seu conhecimento! FIXE SEU CONHECIMENTO COM MAPAS MENTAIS Use esse espaço para construir mapas mentais e fixar seu conhecimento! Reumatologia.indb 44 19/12/2019 11:57:34 23 B lo co A Capítulo 1INTRODUÇÃO À NEONATOLOGIA DO QUE VOCÊ PRECISA SABER? u Quais as modificações da vida intrauterina para a vida extrauterina. u Como classificar o RN de acordo com o peso de nascimento, idade gestacional e a adequação do peso de nascimento para idade gestacional. 1. FISIOLOGIA FETAL E TRANSIÇÃO FETO-NEONATAL 1.1. DESENVOLVIMENTO PULMONAR O pulmão aparece como um broto ventral do intestino anterior aos 26 dias de gestação. Com 33 dias, ele se ramifica nos futuros brônquios principais, ocorrendo ramificações dicotômicas sucessivas que originam as vias aéreas mais distais. Esse é o período pseu- doglandular do desenvolvimento pulmonar (Tabela 1). O crescimento das vias aéreas é dependente da presença de líquido pulmonar (derivado do líquido amniótico), de espaço adequado na caixa torácica (comprometido na hérnia diafragmática congênita, por exemplo) e da presença de movimentos respira- tórios fetais. É durante o estágio canalicular (entre 16 e 27 semanas de gestação) que o pulmão se torna viável para a realização das trocas gasosas, com a formação dos bronquíolos respiratórios e da barreira hematoaérea. No estágio sacular aparecem os ácinos, ocorre a diferenciação epitelial em pneumócitos tipo I e II e inicia-se a síntese do surfactante. A alveola- rização pulmonar inicia-se na 36ª semana a partir do ducto alveolar, com surgimento progressivo de alvéolos, aumentando o volume gasoso potencial do pulmão e a área de superfície das trocas gasosas. Sabe-se que a alveolarização progride até a idade adulta, mas ela é mais intensa da 36ª semana de gestação até os primeiros meses após o parto. Alguns fatores podem interferir na alveolarização normal, como a ventilação mecânica, hiperóxia, corioamnio- nite e a nutrição inadequada. Tabela 1. Estágios do desenvolvimento pulmonar. Estágio Idade gestacional Principais eventos Embrionário 4 a 7 semanas • Diferenciação do intestino anterior • Formação do broto do in- testino anterior • Formação dos brônquios principais Pseudo- glandular 5 a 17 semanas • Ramificação dicotômica dos brônquios • Diferenciação entre a via aérea distal e proximal Canalicular 16 a 26 semanas • Alongamento do ácino ter- minal • Aparecimento da barreira hematoaérea • Produção de surfactante Sacular 24 a 38 semanas • Formação dos ácinos • Diferenciação das células epiteliais alveolares Alveolar 36 semanas até a vida adulta • Septação secundária dos alvéolos • Deposição de elastina na matriz • Remodelamento dos ca- pilares Fonte: SCHITTNY, J. C. Development of the lung. Cell Tissue Res (2017) 367:427-444. Pediatria-1.indb 23 19/12/2019 12:12:42 Introdução à neonatologia Capítulo 1 24 FLASHCARDS Em qual período os pneumócitos tipo II iniciam a pro- dução de surfactante e qual sua função? Sua produção começa entre a 20 e 24 semanas de idade gestacional e tem a função de evitar o colaba- mento dos alvéolos ao final da expiração. O surfactante é um composto rico em fosfolipídeos que reduz a tensão superficial dos alvéolos, evitando seu colabamento ao final da expiração. Apesar de a produção do surfactante pelos pneumócitos tipo II começar com 20 a 24 semanas de idade gestacional, é apenas com cerca de 35 semanas que ele é pro- duzido em boa quantidade e qualidade, com maior quantidade de fosfatidilcolina. Alguns fatores podem acelerar a maturação pulmonar como infecção crô- nica e corioamnionite ou o uso materno antenatal de corticoide sistêmico. 1.2. SISTEMA CARDIOVASCULAR FETAL E TRANSIÇÃO FETO-NEONATAL Os primórdios do coração são identificados como áreas cardíacas bilateralmente simétricas, deriva- das da placa mesodérmica lateral. Esses primórdios migram através da linha primitiva entre as camadas da ectoderme e da endoderme e se fundem cra- nialmente para formar uma estrutura tubular que compreende uma camada interior de endocárdio, uma camada espessa de matriz extracelular e uma camada exterior de miocárdio. Esse tubo começa a se contrair ritmicamente e cresce originando dilatações (futuras câmaras cardíacas) e constrições (futuras divisórias entre as câmaras). A câmara atrial divide-se em duas câmaras pelo cres- cimento de uma crista crescente a partir da parede anterodorsal, que se funde com os coxins dorsais e ventrais do endocárdio. Antes do septo atrial primário se fechar completamente, aparecem perfurações no primeiro óstio e se aglutinam na porção dorsal do septo para formar uma única abertura: o segundo óstio (mais tarde chamado de forame oval). Poste- riormente, um segundo septo atrial cresce à direita do septo primário e, em conjunto com ele, forma uma valva unidirecional entre os dois átrios com fluxo da direita para a esquerda durante o período fetal (Figura 1) devido à elevada resistência pulmonar fetal e à baixa resistência sistêmica. O septo ven- tricular resulta do crescimento e da remodelação das lâminas trabeculares, continua com a expansão das câmaras ventriculares e termina com a fusão de vários tecidos,incluindo os coxins endocárdicos e o septo muscular para formar o septo interventricular membranoso e muscular. Figura 1. Fluxo unidirecional direita-esquerda pelo forame oval durante o período fetal. AD: átrio direito. AE: átrio esquerdo Fonte: Autor, adaptado do Google. FLASHCARDS Qual a principal função do forame oval? Permitir que o sangue oxigenado vindo da veia um- bilical chegue preferencialmente ao átrio esquer- do do feto. O coração humano completa os principais processos morfogenéticos oito semanas após a fertilização, e o que se segue é a conclusão da maturação das estruturas, o crescimento, o acúmulo de junções celulares nos discos intercalares, ajustes bioquími- cos e compensação para as mudanças nos padrões de fluxo sanguíneo após o nascimento. No feto, a placenta é responsável pela oxigenação sanguínea, estando o pulmão praticamente excluído e com ele- vada resistência vascular. Já a circulação placentária apresenta baixa resistência vascular e representa a resistência sistêmica fetal. O forame oval é projetado para permitir que o sangue rico em oxigênio vindo da veia umbilical chegue preferencialmente ao átrio esquerdo do feto. Na placenta, o sangue oxigenado percorre a veia umbilical até o ducto venoso. Em seguida, o sangue percorre a veia cava inferior e pela válvula de Eustáquio é direcionado para o forame oval. O Pediatria-1.indb 24 19/12/2019 12:12:42 Introdução à neonatologia Cap. 1 25 B lo co A sangue desoxigenado que flui do cérebro fetal é preferencialmente direcionado através da veia cava superior para o ventrículo direito e, finalmente, através do canal arterial para a placenta (Figura 2). O canal arterial (também chamado de ducto arterioso) fornece uma conexão entre a artéria pulmonar e a aorta descendente, através da qual o sangue venoso que retorna ao coração direito é desviado para a placenta para a reoxigenação. No recém-nascido a termo o canal arterial se contrai logo após o nascimento, devido à elevação da pres- são arterial de O2, que gera uma contração susten- tada da muscular do canal arterial. Essa resposta é aumentada pelo rápido declínio pós-parto dos níveis de prostaglandinas (produzida principalmente pela placenta), que atua intraútero como um potente relaxante para o músculo liso ductal, mantendo o canal arterial aberto no feto. O fechamento fun- cional dinâmico do canal arterial geralmente se completa nos primeiros quatro dias de vida, mas a obliteração anatômica não é alcançada até depois de uma semana de idade. Após o nascimento, com a saída da placenta, elevação da resistência vascular sistêmica e redução da resistência vascular pulmo- nar (devido à insuflação e oxigenação pulmonar e dilatação vascular pulmonar), ocorre o fechamento também do forame oval e estabelecimento da cir- culação pós-natal (Figura 3). Figura 2. Circulação sanguínea fetal. Fonte: Autor, adaptado do Google. Pediatria-1.indb 25 19/12/2019 12:12:43 Introdução à neonatologia Capítulo 1 26 Figura 3. Circulação sanguínea neonatal. Fonte: Autor, adaptado do Google. 2. CLASSIFICAÇÃO DO RECÉM-NASCIDO Ao nascimento, o recém-nascido pode ser classificado quanto à(ao) (Tabela 2): X Idade gestacional; X Peso de nascimento; X Adequação do peso de nascimento para idade gestacional. Tabela 2. Classificação do recém-nascido. Classificação quanto à idade gestacional Recém-nascido a termo 37 semanas a 41 semanas e 6 dias Recém-nascido pós-termo ≥ 42 semanas Recém-nascido pré- termo tardio 34 semanas a 36 semanas e 6 dias Classificação quanto à idade gestacional Recém-nascido pré- termo moderado 30 semanas a 33 semanas e 6 dias Recém-nascido pré- termo extremo ≤ 29 semanas e 6 dias Classificação quanto ao peso de nascimento Peso normal 2500 a 3500g Baixo peso ao nascer 1500 a 2500g Muito baixo peso ao nascer 1000 a 1500g Extremo baixo peso ao nascer < 1000g Macrossômico ≥ 4000g Classificação do peso quanto à idade gestacional Adequado para idade gestacional (AIG) Entre os percentis 10 e 90 Pequeno para idade gestacional (PIG) Abaixo do percentil 10 Grande para idade gestacional (GIG) Acima do percentil 90 Fonte: Elaboração do autor. 2.1. IDADE GESTACIONAL A idade gestacional é a duração da gestação calculada a partir do 1º dia da última menstruação, de acordo com a regra de Naegelle, que calcula a data provável do parto considerando o termo como 40 semanas completas. Se a data da última menstruação for des- conhecida, a idade gestacional pode ser estimada pe- la ultrassonografia obstétrica, mais fidedigna quando avaliado o comprimento cabeça-nádega no 1º trimes- tre de gestação. FLASHCARDS Como se classifica um recém-nascido com peso de nascimento de 1800 g? Baixo peso ao nascer. Caso não seja possível a realização da ultrassonogra- fia, a idade gestacional pode ser estimada pelo exame clínico do recém-nascido utilizando escalas que avaliam sinais de maturidade física e neurológica. Em 1970, Dubowitz desenvolveu uma escala que analisa Pediatria-1.indb 26 19/12/2019 12:12:44 Introdução à neonatologia Cap. 1 27 B lo co A 11 critérios somáticos e 10 critérios neurológicos para estimar a idade gestacional ao nascimento. Apesar de ter uma boa acurácia, a escala é complexa, limitando a sua aplicação na prática clínica. Por isso surgiram outras escalas clínicas, simplificadas, que contêm apenas algumas das características originalmente avaliadas por Dubowitz: são os métodos de Capurro e de New Ballard. FLASHCARDS O recém-nascido pré-termo tardio é aquele que nas- ce com qual idade gestacional? De 34 a 36 semanas e 6 dias. O método de Capurro somático analisa cinco carac- terísticas somáticas do recém-nascido, às quais se atribuem pontos, que são somados à constante de 204 para obter a idade gestacional aproximada em dias (Figura 4). Já o método de Capurro somatoneu- rológico analisa quatro características somáticas e duas características neurológicas, também atribuindo pontos para cada uma delas, que serão somados à constante de 200 para obter a idade gestacional aproximada em dias (figuras 5 e 6). Idealmente, o método de Capurro deve ser aplicado nas primeiras 6 horas de vida, mas não é fidedigno para recém- -nascidos prematuros. Nesses casos, prefere-se o método de New Ballard. Figura 4. Pontuação das características somáticas avaliadas pelo método de Capurro somático. Fonte: Ministério da Saúde.1 Pediatria-1.indb 27 19/12/2019 12:12:44 Introdução à neonatologia Capítulo 1 28 Figura 5. Pontuação das características somáticas avaliadas pelo método de Capurro somatoneurológico. Fonte: Ministério da Saúde.1 Figura 6. Pontuação das características neurológicas avaliadas pelo método de Capurro somatoneurológico. Fonte: Ministério da Saúde.1 O método de New Ballard é mais preciso e pode ser aplicado até 96 horas de vida, inclusive em recém- -nascidos prematuros extremos. Esse método avalia seis características somáticas e seis características neurológicas, atribuindo pontuação a cada uma delas, que pode ser inclusive negativa (figuras 7 e 8). A soma final dos pontos deve ser correlacionada com uma tabela de interpretação para a obtenção da idade gestacional estimada (Tabela 3). FLASHCARDS Qual escala para estimar a idade gestacional pode ser aplicada até 96h de vida e em recém-nascidos prematuros extremo? Escala de New Ballard. Pediatria-1.indb 28 19/12/2019 12:12:44 Introdução à neonatologia Cap. 1 29 B lo co A Figura 7. Pontuação das características somáticas avaliadas pelo método de New Ballard. Sinal Contagem -1 0 1 2 3 4 5 Pele Pegajoso, Friável, Transparente Gelatinoso, Vermelho, translúcido Veias cor de rosa, visíveis lisas Rash descascando, superficial ou poucas veias Descamação grosseira, áreas de palidez, raras veias Aperga- minhada, fissuras profundas, sem vasos Coriácea fissuras profundas enrugadas Lanugo Nenhum Escasso Abundante Diluir Áreas sempêlos Praticamente ausente Superfície plantar 40-50mm: -1 <40mm: -2 >50 mm, pouco perceptível Marcas tênues Marcas na superfície anterior Marcas nos 2/3 anteriores Marcas cobre toda a superfície plantar Peito Imperceptível Pouco perceptível Aréola lisa sem glândula Aréola parcialmente elevada, glândula 1-2 mm Aréola elevada, glândula 3-4 mm Borda elevada, glândula 5-10 mm Olho/orelha Pálpebras ocluídas: levemente: -1 firmemente: -2 Pálpebras abertas, Pavilhão auricular plano e dobrado Pavilhão auricular parcialmente encurvado, mole com recolhimento lento Pavilhão au- ricular com- pletamente encurvado, mole com recolhimen- to rápido Pavilhão au- ricular com- pletamente encurvado, firme com recolhimento instatâneo Cartilagem grossa com orelha firme Genital (masculino) Escroto plano, liso Testículo fora da bolsa escrotal, sem rugas Testículo no canal superior, rugas raras Testículo descendo, poucas rugas Testículo na bolsa escrotal, rugas bem visíveis Bolsa escrotal em pêndulo, rugas profundas Genital (feminino) Clitóris proeminente, lábios planos Clitóris proeminen- tes, lábios menores pequenos Clitóris proeminen- tes, peque- nos lábios evidentes Lábios menores e maiores igualmente proeminentes Lábios maiores grandes e menores pequenos Lábios maiores recobrem o clitóris e lábios menores Fonte: Margotto.2 Pediatria-1.indb 29 19/12/2019 12:12:44 Introdução à neonatologia Capítulo 1 30 Figura 8. Pontuação das características neurológicas avaliadas pelo método de New Ballard. Fonte: Margotto.2 Tabela 3. Idade gestacional estimada pelo método de New Ballard. Pontuação Idade gestacional – 10 20 semanas – 5 22 semanas 0 24 semanas 5 26 semanas 10 28 semanas 15 30 semanas 20 32 semanas 25 34 semanas 30 36 semanas 35 38 semanas 40 40 semanas Pontuação Idade gestacional 45 42 semanas 50 44 semanas Fonte: Margotto.2 2.2. AVALIAÇÃO DO CRESCIMENTO INTRAUTERINO E DO PESO AO NASCER O crescimento intrauterino é considerado ade- quado quando o peso para determinada idade gestacional situa-se entre os percentis 10 e 90 da curva utilizada. Dois tipos de curvas de crescimento podem ser utilizadas, as curvas de referência e as curvas padrão, construídas a partir do crescimento intrauterino e/ou pós-natal. As curvas de referência apenas descrevem o crescimento de uma amostra Pediatria-1.indb 30 19/12/2019 12:12:44 Introdução à neonatologia Cap. 1 31 B lo co A de crianças, sem caracterizar o que seria o normal. Como exemplo, temos as curvas de Fenton, cons- truídas em 2013 a partir de uma revisão sistemática e metanálise de valores de peso, perímetro cefá- lico e comprimento de recém-nascidos de países desenvolvidos (figuras 9 e 10). Já as curvas padrão indicam o padrão de crescimento normal de uma população e, portanto, um modelo a ser seguido. Como exemplo temos as curvas do Intergrowth 21st, um projeto multicêntrico internacional que produziu curvas longitudinais de crescimento de recém-nascidos prematuros a partir de 27 semanas avaliados por ultrassonografia e após o nasci- mento. Atualmente as curvas mais utilizadas para avaliação do crescimento intraútero e pós-natal, principalmente em recém-nascidos pré-termo, são as curvas do Intergrowth 21st, que podem ser obtidas no site: <https://intergrowth21.tghn.org/ articles/new--intergrowth-21st-international-post- natal-growth-standards-charts-available>. Figura 9. Curva de Fenton para meninas. Fonte: Growth chart apps.3 Pediatria-1.indb 31 19/12/2019 12:12:45 Introdução à neonatologia Capítulo 1 32 Figura 10. Curva de Fenton para meninos. Fonte: Growth chart apps.3 Considera-se restrição do crescimento intrauterino quando o feto se afasta do crescimento intrauterino esperado para sua idade gestacional, decorrente de um processo patológico intrauterino que pode ser materno, placentário ou fetal. O recém-nascido com restrição do crescimento intrauterino apresenta uma morbidade elevada, com maior risco de asfixia perinatal, desordens metabólicas e hipotermia, por exemplo. A restrição do crescimento intrauterino pode ser classificada em dois tipos, de acordo com o momento em que ocorreu o agravo: X Simétrico: quando a patologia atua sobre o fe- to desde o início da gravidez, comprometendo por completo o crescimento fetal (peso, com- primento e perímetro cefálico). Como exemplo temos as anomalias cromossômicas e as infec- ções congênitas. Pediatria-1.indb 32 19/12/2019 12:12:45 Introdução à neonatologia Cap. 1 33 B lo co A X Assimétrico: quando a patologia é mais tardia, ocorrendo em geral no 3º trimestre de gestação, fase em que o feto deveria estar ganhando peso. Nesses casos, ocorre comprometimento princi- palmente do peso, com preservação do períme- tro cefálico e do comprimento. Como exemplo temos as doenças que causam insuficiência pla- centária, como a doença hipertensiva específica da gravidez. FLASHCARDS Qual tipo de restrição do crescimento intrauterino pode apresentar um feto de mãe que apresentou uma patologia na 26º semana de idade gestacional? Assimétrico. REFERÊNCIAS 1. Ministério da Saúde (BR)/OPAS. Manual AIDPI Neonatal. 3ª edição. Brasília: Ministério da Saúde; 2012 2. Margotto PR. Avaliação da idade gestacional pelo método novo de Ballard new Ballard score (NBS). DocPlayer. [Internet]. [acesso em 07/11/19]. Disponível em: https://docplayer.com. br/24678076-Avaliacao-da-idade-gestacional-pelo-metodo- -novo-de-ballard-new-ballard-score-nbs-paulo-r-margotto- -chefe-da-unidade-de-neonatologia-hras.html. 3. Growth Chatt apps. Fenton Preterm Growth Chart site. Uni- versity of Calgary. [Internet]. [acesso em 07/11/19]. Disponível em: ucalgary.ca/fenton 4. Martin RJ, Fanaroff AA, Walsh MC. Medicina neonatal e perina- tal: doenças do feto e do neonato. Rio de Janeiro: Elsevier; 2017. 5. Schittny JC. Development of the lung. Cell Tissue Res. 2017; 367: 427-44. 6. Departamento Científico de Neonatologia. Monitoramento do crescimento de RN pré-termos. Documento científico do departamento científico de neonatologia. Sociedade Brasileira de Pediatria. 2017; 1-7. 7. Postnatal growth of preterm infants. Intergrowth-21st. [Inter- net]. [acesso em 07/11/19]. Disponível em: https://intergro- wth21.tghn.org/postnatal-growth-preterm-infants/ Pediatria-1.indb 33 19/12/2019 12:12:45 Introdução à neonatologia Capítulo 1 34 QUESTÕES COMENTADAS Questão 1 (SECRETARIA MUNICIPAL DE ADMINISTRAÇÃO DE VOLTA REDONDA – 2017) Assinale a alternativa CORRETA sobre os recém- -nascidos (RN) pequenos para idade gestacional (PIG): ⮦⮦ São classificados aqueles que têm peso de nas- cimento inferior a 2.500 gramas. ⮦⮧ São classicamente definidos como tendo um peso ao nascer acima de dois desvios-padrão abaixo da média ou abaixo do percentil 10 de uma po- pulação específica, quando relacionados o peso ao nascer e a idade gestacional. ⮦⮨ São todos os RN que têm idade gestacional cal- culada pelo método New Ballard ou Capurro in- ferior a 37 semanas. ⮦⮩ São sempre resultado de um crescimento anormal, não fazendo parte deste grupo as crianças cons- titucionalmente pequenas, mas normais, cujos pais ou parentes mais distantes são pequenos. ⮦⮪ Os RN PIG podem ser classificados como tendo retardo de crescimento intrauterino simétrico ou assimétrico. A restrição assimétrica do cres- cimento desenvolve-se precocemente durante a vida intrauterina, enquanto a restrição simétrica indica que houve um prejuízo no crescimento a partir do terceiro trimestre de gestação. dificuldade: Alternativa A: INCORRETA. Aqueles nascidos com peso inferior a 2500 g são considerados baixo peso. Alternativa B: CORRETA. O RN PIG é aquele em que deve ser avaliado o peso de acordo com a idade do RN, ou seja, quando o peso ao nascer estiver dois des- vios-padrão abaixo da média ou abaixo do percentil 10 para a sua idadegestacional. Alternativa C: INCORRETA. O RN nascido com idade ges- tacional abaixo de 37 semanas é considerado RN pré-termo. Alternativa D: INCORRETA. Importante lembrar que o crescimento do feto intrauterino é dependente da nutrição, apesar de sabermos que também pode haver componente genético. Alternativa E: INCORRETA. A restrição simétrica é aquela que se desenvolve desde o início da vida intrauteri- na. Se a restrição de crescimento acontecer desde o início da gestação, a criança será toda pequena e simétrica. ✔✔ resposta: ⮧ Questão 2 (HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DE BRASÍLIA – 2017) As cardiopatias congênitas representam causa importante de mor- bimortalidade no período neonatal, de modo que o diagnóstico precoce e o conhecimento de fatores de risco materno, assim como da fisiologia do sistema cardiológico do feto, são importantes. Em relação a esse assunto, julgue o item que se segue. “Em relação à circulação no feto, destaca-se a com- plexidade: o oxigênio é extraído da placenta e retorna ao átrio direito, por meio da veia umbilical e do ducto venoso; o sangue oxigenado – da veia umbilical – é direcionado, através da fossa oval, para o átrio esquerdo, ventrículo esquerdo e aorta.” ⮦⮦ CERTO. ⮦⮧ ERRADO. dificuldade: Resolução: Sabemos que, durante a vida fetal, o san- gue não é oxigenado pelos pulmões. O feto recebe Pediatria-1.indb 34 19/12/2019 12:12:45 Introdução à neonatologia Cap. 1 35 B lo co A o sangue oxigenado da placenta pela veia umbili- cal. Este sangue oxigenado chega à cava inferior e deságua no átrio direito, indo, preferencialmente, para o átrio esquerdo pelo forame oval. O sangue proveniente da cava superior segue, preferencial- mente para o ventrículo direito, de onde é ejetado para a artéria pulmonar. A maior parte do sangue que chega à artéria pulmonar é desviada para a aorta, pelo canal arterial. ✔✔ resposta: ⮦ Questão 3 (UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO – 2017) Recém-nasci- do de termo, por parto vaginal, sem intercorrências, apresenta choro forte logo após o nascimento. O cordão umbilical é clampeado com cerca de 2 mi- nutos de vida. Aos 5 minutos, o boletim de Apgar é 9. Sabe-se que, nesse momento, na fase de circula- ção transicional, uma série de adaptações hemodi- nâmicas estão ocorrendo com esse bebê. Assinale a alternativa CORRETA. ⮦⮦ A expansão pulmonar aumenta o retorno venoso para o átrio esquerdo. ⮦⮧ A pressão arterial sistêmica diminui para facilitar o trabalho do ventrículo esquerdo. ⮦⮨ O clampeamento tardio do cordão aumenta o re- torno venoso para o ventrículo direito. ⮦⮩ O forame oval se mantém aberto para manter o débito do ventrículo esquerdo. ⮦⮪ O canal arterial se fecha para aumentar o fluxo sanguíneo pulmonar. dificuldade: Alternativa A: CORRETA. Com o início da ventilação pul- monar, existe aumento da circulação pulmonar, o que aumenta o retorno venoso para o átrio esquerdo. Alternativa B: INCORRETA. Com a retirada da placenta, ocorre um aumento na resistência sistêmica. Alternativa C: INCORRETA. Com o clampeamento tardio, a resistência sistêmica se mantém baixa por mais tempo, mantendo o desvio do átrio direito para o esquerdo pelo forame oval. Alternativa D: INCORRETA. Com o aumento da resistência sistêmica e diminuição da pulmonar, há o fechamen- to funcional do forame oval. Alternativa E: INCORRETA. Após o nascimento, o fluxo pelo canal irá se estabelecer da esquerda para a direita, e desse modo o fechamento irá impedir um aumento no fluxo pulmonar. ✔✔ resposta: ⮦ Questão 4 (HOSPITAL CASA DE PORTUGAL – 2018) Considere um recém- -nascido com 37 semanas de idade gestacional e com peso de nascimento de 2450 g (peso situado abaixo do percentil 10 para essa idade gestacional). Como classificamos esse recém-nascido? ⮦⮦ A termo, baixo peso e pequeno para idade ges- tacional ⮦⮧ Pré-termo, muito baixo peso e pequeno para a idade gestacional ⮦⮨ A termo, muito baixo peso e pequeno para idade gestacional ⮦⮩ Pré-termo, baixo peso e adequado para a idade gestacional dificuldade: Alternativa A: CORRETA. O RN que nasce entre 37 sema- nas e 41 semanas e 6 dias é considerado RN a termo. Como apresentou um peso de nascimento abaixo de 2500 g, é considerado baixo peso. Sabendo que se encontra abaixo do percentil 10 quando comparado o peso à idade gestacional, podemos considerá-lo como PIG (pequeno para a idade gestacional). Alternativa B: INCORRETA. Pré-termo é aquele que nasce com idade gestacional abaixo de 37 semanas. Alternativa C: INCORRETA. Um RN, para ser considerado de muito baixo peso, deve ter peso de nascimento inferior a 1500 g. Alternativa D: INCORRETA. O RN considerado adequado para a idade gestacional deve estar entre os per- centis 10 e 90, quando comparado o peso à idade gestacional. ✔✔ resposta: ⮦ Questão 5 (INSTITUTO DE PREVIDÊNCIA DOS SERVIDORES DO ESTADO DE MI- NAS GERAIS – 2018) Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), a avaliação da idade gestacional e do Pediatria-1.indb 35 19/12/2019 12:12:45 Introdução à neonatologia Capítulo 1 36 peso ao nascer tem a finalidade de estabelecer o risco de morbimortalidade, a fim de proporcionar assistência adequada: ⮦⮦ Recém-nascido de termo é aquele que nasce com idade gestacional entre 37 semanas e 40 sema- nas e 6 dias. ⮦⮧ Recém-nascido de baixo peso é aquele que nasce com peso inferior a 2.000 g. ⮦⮨ Recém-nascido pequeno para a idade gestacional é aquele que nasce entre os percentis 10 e 90, in- clusive, da curva de peso para a idade gestacional. ⮦⮩ Recém-nascido muito baixo peso são aqueles nascido com menos de 1500 g. dificuldade: Alternativa A: INCORRETA. Recém-nascido termo é aquele que nasce entre 37 semanas e 41 semanas e 6 dias. Após 42 semanas, é considerado pós-termo, e antes de 37 semanas é considerado pré-termo. Alternativa B: INCORRETA. Recém-nascido de baixo peso é aquele que nasce com peso inferior a 2,5 Kg ou 2500 g. O considerado muito baixo peso é aquele que nasce com peso entre 1000 g e 1500 g e extremo baixo peso aquele que nasce com menos de 1000 g. Alternativa C: INCORRETA. Recém-nascido considerado pequeno para a idade gestacional é aquele que nasce com percentil abaixo do 10. Entre os percentis 10 e 90, configura-se adequado para a idade gestacional. Alternativa D: CORRETA. Conforme comentário da al- ternativa B. ✔✔ resposta: ⮩ Questão 6 (HOSPITAL DA POLÍCIA MILITAR/MG – 2010) Em relação à fisio- logia da circulação fetal, é CORRETO afirmar: ⮦⮦ O átrio esquerdo não recebe sangue oxigenado, pois não existe oxigenação proveniente dos pul- mões do feto. ⮦⮧ O ventrículo direito possui comunicação fisioló- gica com o ventrículo esquerdo. Esta comunica- ção recebe o nome de forame oval e irá fechar-se após o nascimento. ⮦⮨ No feto, como no adulto, não existe comunicação entre a Aorta e a Artéria Pulmonar. ⮦⮩ O átrio esquerdo recebe grande quantidade de sangue oxigenado. Este sangue chega ao cora- ção através da veia cava inferior e atinge o átrio esquerdo através do forame oval. dificuldade: Alternativa A: INCORRETA. O feto recebe o sangue oxi- genado da placenta pela veia umbilical. Este san- gue oxigenado chega à cava inferior e deságua no átrio direito, indo, preferencialmente, para o átrio esquerdo pelo forame oval. Alternativa B: INCORRETA. O forame oval é um orifício que interliga os dois átrios, e não os ventrículos, como mostrado na questão. Alternativa C: INCORRETA. Na circulação fetal, o sangue proveniente da cava superior segue, preferencial- mente, para o ventrículo direito, de onde é ejetado para a artéria pulmonar. A maior parte do sangue que chega à artéria pulmonar é desviada para a aorta, pelo canal arterial. Além disso, no adulto, não esperamos que exista essa ligação entre as ar- térias citadas. Alternativa D: CORRETA. Conforme comentário da al- ternativa A. ✔✔ resposta: ⮩ Questão 7 (SELEÇÃO UNIFICADA PARA RES. MED. ESTADO DO CEARÁ – 2012) Que características físicas somatoneurológicas são avaliadas pelo métodode Capurro? ⮦⮦ Postura, sinal do xale, sulcos plantares, mamas, genitália, pele, olhos e orelhas. ⮦⮧ Opacidade da pele, edema, lanugem, genitália, reflexos primários, postura, flexão do punho. ⮦⮨ Cor da pele, glândula mamária, ângulo cérvico torácico, suspensão ventral, manobra calcanhar- -orelha, retração de braços, ângulo do punho. ⮦⮩ Textura da pele, pregas plantares, formação do mamilo, glândulas mamárias e formato da orelha, sinal do cachecol, posição da cabeça ao levantar o recém-nascido. dificuldade: Resolução: No método do Capurro somático, avalia- mos os aspectos físicos da criança; são eles: forma Pediatria-1.indb 36 19/12/2019 12:12:45 Introdução à neonatologia Cap. 1 37 B lo co A da orelha, textura da pele, glândula mamária, for- mação do mamilo e pregas plantares. Na avaliação pelo Capurro somatoneurológico, avalia-se também o sinal do xale ou cachecol e posição da cabeça ao levantar o recém-nascido. ✔✔ resposta: ⮩ Questão 8 (HOSPITAL ORTOPÉDICO DE GOIÂNIA – 2017) RN nascido de 34 semanas de idade gestacional, sexo masculino, apgar 9 e 10, peso ao nascer 1250 g (menor que p3), PC 31 cm (p50) e estatura 39,0 cm (menor que p3). Diante desse quadro, a classificação do RN deve ser feita da seguinte forma: ⮦⮦ RNPT, PIG simétrico, baixo peso. ⮦⮧ RNPT, PIG assimétrico, muito baixo peso. ⮦⮨ RNPT, AIG, baixo peso. ⮦⮩ RNPT, PIG simétrico, muito baixo peso. ⮦⮪ RNT, PIG simétrico, muito baixo peso. dificuldade: Alternativa A: INCORRETA. O recém-nascido em questão tem peso abaixo de 1500 g, ou seja, é considerado muito baixo peso. Alternativa B: CORRETA. O RN é considerado pré-termo por ter nascido com idade gestacional abaixo de 37 semanas. É considerado PIG, pois está abaixo do percentil 10, e a criança no caso encontra-se abai- xo do percentil 3. Como tem peso abaixo de 1500g, é considerado muito baixo peso. É considerado um PIG assimétrico, pois o corpo cresceu proporcional- mente menos que a cabeça e o cérebro, visto que os percentis de peso e estatura foram menores que o p3, enquanto o percentil do perímetro cefálico foi adequado. Alternativa C: INCORRETA. Não é considerado nem AIG nem baixo peso. Alternativa D: INCORRETA. A única informação incorreta seria o fato de ser um PIG assimétrico. Alternativa E: INCORRETA. Ele não pode ser considera- do termo por ter idade gestacional menor que 37 semanas. ✔✔ resposta: ⮧ Questão 9 (COMISSÃO ESTADUAL DE RESIDÊNCIA MÉDICA DO AMAZONAS – 2017) Qual a principal ação do surfactante no pulmão do recém-nascido? ⮦⮦ Regular a produção de lecitina e esfingomielina, que estão diminuídos no final da inspiração. ⮦⮧ Reduzir a tensão superficial e auxiliar a manter estabilidade alveolar, diminuindo o colapso de espaços aéreos no final da expiração. ⮦⮨ Induzir o crescimento da árvore alveolar e au- mentar a tensão superficial e colapso no final da expiração. ⮦⮩ Inibir a síntese de proteínas que levam ao acú- mulo de líquidos dentro dos sacos alveolares. dificuldade: Resolução: Entre 20 e 24 semanas de gestação, ocor- re a diferenciação dos pneumócitos do tipo I e do tipo II – Os pneumócitos do tipo II são os responsá- veis pela produção do surfactante entre a vigésima quinta e trigésima semana. Essa substância é forma- da por fosfolipídios e proteínas e tem a função de reduzir a tensão superficial da interface ar/líquido no alvéolo, evitando seu colapso ao final da expi- ração. Essa estabilidade alveolar, no entanto, só é observada a partir da trigésima terceira à trigésima quarta semana. Por isso, os recém-nascidos abaixo dessa idade gestacional têm risco de desenvolver a doença da membrana hialina, ou síndrome do des- conforto respiratório. ✔✔ resposta: ⮧ Questão 10 (UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO – 2016) O New Ballard Score avalia a maturidade do recém- -nascido por meio de critérios do exame clínico. Con- siderando os critérios abaixo, selecione o conjunto com estimativa de menor maturidade. ⮦⮦ A glândula mamária é palpável com 5 mm e a bol- sa escrotal apresenta muitas rugas. ⮦⮧ Pele com raras veias visíveis, aréola com bordas elevadas e membros inferiores fletidos. ⮦⮨ Cotovelo ultrapassa bem a linha média esternal, bolsa escrotal vazia e com poucas rugas. Pediatria-1.indb 37 19/12/2019 12:12:45 Introdução à neonatologia Capítulo 1 38 ⮦⮩ Braços se recolhem prontamente, estando se- mi-fletidos e a região plantar apresenta sulcos. ⮦⮪ O calcanhar não toca a orelha, formando um ângu- lo poplíteo de 90° e a orelha apresenta-se firme. dificuldade: ✔Y Dica do autor: O New Ballard Score atualmente é o método de avaliação de idade gestacional mais utilizado em prematuros e bebês a termo. Ele deve ser aplicado preferencialmente até 12 a 20h após o nascimento. Pontuando cada característica: quanto mais fina e mais transparente for a pele, mais pre- matura é essa criança, e quanto mais sulcos, mais a termo é a criança; a aréola mamária, quanto mais pigmentada e maior a glândula mamária, mais a ter- mo é o RN; tônus muscular: quanto mais flácido for a criança, mais prematura ela é. Alternativa A: INCORRETA. A presença de rugas e glân- dula mamária grande falam a favor de uma criança mais velha. Alternativa B: INCORRETA. Pele mais grossa e tônus mus- cular melhor indica um RN a termo. Alternativa C: CORRETA. Essas características indicam um bebê pré-termo. Na manobra do xale num bebê a termo, o cotovelo para pela presença do tônus muscular, e no bebê pré-termo ultrapassa pela falta do tônus muscular. Alternativa D: INCORRETA. Tônus muscular melhor e pele com sulcos indica RN termo. Alternativa E: INCORRETA. Criança com tônus e parte cutânea bem formada indica RN termo. ✔✔ resposta: ⮨ Pediatria-1.indb 38 19/12/2019 12:12:45 29 B lo co A Capítulo 1FISIOLOGIA MENSTRUAL O QUE VOCÊ PRECISA SABER? u O ciclo menstrual é um tema de fundamental importância para o entendimento de vários outros assun- tos referentes à saúde da mulher. u Partindo desse princípio, é preciso familiarizar-se com o ciclo menstrual normal. O que é o ciclo mens- trual, sua duração, fluxo, intervalo e eventos que ocorrem durante ele. Só assim será possível reconhecer possíveis alterações. u Além disso, os hormônios exercem papel essencial para a condução do ciclo e têm sua devida impor- tância em cada fase. Sendo assim, é importante saber quais são esses hormônios e como eles agem. u Por fim, sabendo tudo isso, é necessário reconhecer o que marca cada fase, qual o acontecimento característico e qual a ação do hormônio predominante. u Uma dica é que, ao final desse capítulo, você saiba desenhar ou explicar um ciclo menstrual completo, com todas as suas fases. 1. INTRODUÇÃO X O ciclo menstrual é uma consequência da boa coordenação do eixo hipotálamo-hipófise-ovário. X Os hormônios produzidos pela hipófise estimulam o ovário e o endométrio. X O objetivo primordial dessa estimulação é a ovu- lação e a preparação endometrial para a gestação. X Por convenção, o primeiro dia da menstruação representa o primeiro dia do ciclo (dia 1). * O ciclo ovariano é dividido didaticamente em duas fases: folicular e lútea. Paralelamente, e de maneira análoga, o ciclo endometrial é dividido em duas fases: proliferativa e secretora. X A fase folicular vai do início da menstruação até o pico de LH. X A fase lútea começa no pico de LH e termina no início da próxima menstruação, sempre com du- ração de 14 dias – vida média do corpo lúteo. Com a degeneração do corpo lúteo, cessa a produção de progesterona e ocorre a menstruação. X O pico de LH é o fenômeno através do qual se es- timula a ovulação. X A duração do ciclo menstrual de uma mulher é determinada pela fase folicular, uma vez que a fase lútea tem duração fixa. Consideram-se nor- mais intervalos de 21 a 35 dias entre uma mens- truação e outra, com duração de dois a sete dias. Atenção! Ovário: fase folicular e fase lútea Endométrio: fase menstrual, fase proliferativa efase secretora. FLASHCARDS Com a queda do estrogênio, há um aumento de qual hormônio no início do ciclo? FSH. Ginecologia-1.indb 29 19/12/2019 10:32:30 Fisiologia menstrual Capítulo 1 30 2. COMPREENDENDO O CICLO MENSTRUAL Corpos neuronais localizados no núcleo arqueado e na área pré-óptica medial do hipotálamo secretam GnRH (do inglês, gonadotropin-releasing hormone) de maneira pulsátil. Uma vez que o GnRH é uma molécula lábil, ou seja, possui meia-vida curta, de dois a quatro minutos, precisa ser rapidamente transportado ao sítio de ação: a hipófise. Esse transporte é mediado pelo sistema porta hipotálamo-hipófise. FLASHCARDS Qual o principal hormônio ovariano da 1ª fase do ciclo? Estradiol. Em resposta ao GnRH, a hipófise libera pulsos de LH (luteinizing hormone) e FSH (follicle-stimulating hormone) na corrente sanguínea, que estimulam a produção hormonal ovariana: estradiol, progeste- rona, inibinas e testosterona. Pulsos de GnRH de alta frequência se correlacionam com níveis elevados de LH. Por outro lado, pulsos de GnRH de baixa frequência resultam na elevação de FSH. A teoria das “duas células, duas gonadotrofinas” compartimentaliza o processo de esteroidogênese no ovário. O primeiro compartimento consiste em células da teca, que são estimuladas pelo LH para produzir androgênios. O segundo compartimento consiste em células da granulosa, que são estimu- ladas pelo FSH a produzir o hormônio aromatase, capaz de converter androgênios em estrogênios. FLASHCARDS A ovulação é desencadeada após quantas horas do pico de LH? 36 horas. FLASHCARDS Qual hormônio, utilizado em técnicas de reprodução assistida, tem a função do LH na indução da ovulação? HCG. Figura 1. Teoria das duas células. Fonte: Fritz MA, Speroff L. Clinical Gynecologic Endocrinology and Infertility. 8th edition. Lippincott Williams & Wilkins (LWW), 2011. FLASHCARDS Qual o tempo de duração do corpo lúteo? 14 dias. FLASHCARDS A progesterona sobe progressivamente a partir de qual metade do ciclo? 2ª metade. A fase folicular é caracterizada por baixas con- centrações séricas de estradiol e progesterona, resultantes do fim do corpo lúteo do ciclo anterior. Com a liberação do feedback negativo de estradiol, Ginecologia-1.indb 30 19/12/2019 10:32:30 Fisiologia menstrual Cap. 1 31 B lo co A progesterona e inibina A, reduz-se a frequência de pulso do GnRH e, por consequência, ocorre elevação de FSH. Um pequeno aumento na secre- ção de FSH é suficiente para o recrutamento da próxima coorte de folículos em desenvolvimento, da qual um se tornará o folículo dominante. Como vários folículos inicialmente progridem para o estágio antral, as células da granulosa crescem e se dividem, produzindo concentrações séricas crescentes de estradiol e inibina B. Com o aumento do estradiol, o muco cervical costuma ficar mais filante (Spinnbarkeit). Figura 2. Níveis médios de inibinas A e B, FSH e LH, estradiol e progesterona em mulheres mais jovens (20-34 anos) e mais velhas (35–46 anos), ao longo dos dias em torno da ovulação. Fonte: Welt CK, McNicholl DJ, Taylor AE, Hall JE. Female reproductive aging is marked by decreased secretion of dimeric inhibin. J Clin Endocrinol Metab. 1999;84(1):105-111. No final da fase folicular, um único folículo dominante é selecionado, enquanto os demais sofrem atresia. Até então, o estradiol produzido faz feedback nega- tivo sobre as gonadotrofinas. No entanto, quando ultrapassa o nível sérico de 200 pg/ml passa a fazer feedback positivo. O aumento das concentrações séricas de estradiol leva a uma proliferação do endométrio, que fica mais espesso, com maior número de glândulas que se organizam sob efeito da progesterona. O endo- métrio adquire aspecto trilaminar à ultrassonografia no período ovulatório. O pico de LH faz com que o oócito complete sua primeira divisão meiótica. Na sequência, o oócito é liberado do folículo na superfície do ovário 36 horas após o pico de LH. O folículo roto passa a ser denominado corpo lúteo, responsável pela síntese de progesterona até que ocorra eventual gestação. Figura 3. Aspecto trilaminar do endométrio. Fonte: Nalaboff KM, Pellerito JS, Ben-Levi E. Imaging the endometrium: disease and normal variants. Radiographics. 2001;21(6):1409-1424. Ginecologia-1.indb 31 19/12/2019 10:32:30 Fisiologia menstrual Capítulo 1 32 O aumento na secreção de progesterona pelo corpo lúteo leva a uma redução dos pulsos de LH. Por sua vez, isso aumenta a produção de progesterona, bem como a produção de inibina A, que regula a secreção de FSH. No final da fase lútea, a diminuição na secreção de LH resulta em queda gradual na produção de progesterona pelo corpo lúteo na ausência de um oócito fertilizado. Essa queda provoca isquemia e descamação endometrial, culminando com a mens- truação. A queda dos níveis séricos de esteroides sexuais e inibina é o estímulo para o reinício do ciclo menstrual, com ascensão dos níveis de FSH para a seleção de nova coorte de folículos. Se o oócito for fecundado, ele se implanta no endométrio vários dias após a ovulação e começa a produzir gonadotrofina coriônica (hCG), que mantém a produção de corpo lúteo e progesterona. Figura 4. Variações nos níveis de FSH, LH, estradiol e progesterona ao longo das fases do ciclo menstrual. Fonte: Howards PP, Schisterman EF, Wactawski-Wende J, Reschke JE, Frazer AA, Hovey KM. Timing clinic visits to phases of the menstrual cycle by using a fertility monitor: the BioCycle Study. Am J Epidemiol. 2009;169(1):105-112. Figura 5. 3. BIOSSÍNTESE DOS ESTEROIDES SEXUAIS A molécula base para a esteroidogênese é o coles- terol e a sequência de síntese está representada abaixo. Dependendo do aparato enzimático de cada órgão, predomina a produção de aldosterona (zona glomerulosa da glândula suprarrenal), cortisol (zona fasciculada da glândula suprarrenal), androgênios (zona reticulada da glândula suprarrenal, ovários e testículos) e estrogênios (ovários e tecido adiposo periférico). Ginecologia-1.indb 32 19/12/2019 10:32:30 Fisiologia menstrual Cap. 1 33 B lo co A Figura 6. Principais passos na esteroidogênese humana. Fonte: Hoffman BL, Schorge JO, Bradshaw KD, Halvorson LM, Schaffer JI, Corton MM. Williams Gynecology. 3. ed. McGraw-Hill Education, 2016. Para lembrar: TELHA – TEca LH Androstenediona GRAFSHE – GRanulosa FSH Estrogênio Ginecologia-1.indb 33 19/12/2019 10:32:30 Fisiologia menstrual Capítulo 1 34 QUESTÕES COMENTADAS Questão 1 (UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO – SP – 2018) Mulher de 19 anos de idade queixa-se de intensa irritabilidade, altera- ções abruptas de humor e fome incontrolável nos 7 dias que antecedem sua menstruação. Tem ciclos menstruais mensais e regulares. Usa diafragma para contracepção. Não apresenta história de morbidade, pessoal ou familiar, relevante. Qual é o tratamento mais adequado nesse caso? ⮦⮦ Inibidor de prostaglandina. ⮦⮧ Inibidor de recaptação de serotonina. ⮦⮨ Bromoergocriptina. ⮦⮩ Filoestrogênios. dificuldade: Resolução: Questão sobre o transtorno disfórico pré- -menstrual e os sintomas que ocorrem uma sema- na antes da menstruação, com melhora na semana pós-menstrual. O tratamento adequado é receitar medicação inibidora da recaptação de serotonina. ✔✔ resposta: ⮧ Questão 2 (FACULDADE BRASILEIRA – MULTIVIX VITÓRIA – ES – 2018) Em re- lação à fisiologia menstrual, é CORRETO afirmar que: ⮦⮦ Na fase pré-ovulatória, ocorre o pico de hormô- nio luteinizante (LH) com baixa de estradiol e de hormônio foliculoestimulate (FSH). ⮦⮧ Na fase folicular, o FSH, o estradiol, o LH e a pro- gesterona estão em ascensão. ⮦⮨ Nas fases folicular e pré-ovulatória, o FSH e o LH estão em ascensão e somente declinam na fase lútea, após o pico de progesterona. ⮦⮩ Na fase lútea, o FSH e o LH estão diminuindo, o estradiol está elevado e ocorre o pico de pro- gesterona. ⮦⮪ No período menstrual, o estradiol, o LH e a pro- gesterona encontram-se emníveis baixos, e o FSH está aumentando. dificuldade: Alternativa A: INCORRETA. Na fase folicular, o FSH ele- va-se progressivamente até ocorrer o pico de estra- diol, seguido pelo de LH, o que indica a ocorrência da ovulação. Alternativa B: INCORRETA. Na fase folicular, apenas o FSH estará elevado (aumentando progressivamente). Ao final dessa fase, ocorre uma elevação rápida do estradiol, seguida pelo pico de LH e pela ovulação. Alternativas C e D: INCORRETAS. O FSH declina após a fase lútea, mas o LH mantém-se elevado, estimulando a produção de progesterona pelo corpo amarelo, ha- vendo queda no estradiol e pico da progesterona. Alternativa E: CORRETA. Após a regressão do corpo lú- teo, ocorrem quedas no estradiol, na progesterona e na inibina A, elevando-se novamente o FSH pouco antes da menstruação. ✔✔ resposta: ⮪ Questão 3 (HOSPITAL DE OLHOS APARECIDA – GO – 2018) O melhor dia do ciclo menstrual para realização de biópsia para avaliação de ovulação é o: ⮦⮦ Primeiro dia. ⮦⮧ Quinto dia. ⮦⮨ Oitavo dia. ⮦⮩ Vigésimo sexto dia. Ginecologia-1.indb 34 19/12/2019 10:32:30 Fisiologia menstrual Cap. 1 35 B lo co A dificuldade: Resolução: A histologia endometrial relaciona-se com a produção de progesterona pelo corpo lúteo, o que possibilita o diagnóstico de ovulação pela biópsia de endométrio. Deve ser realizada na fase lútea, prefe- rencialmente 7 a 10 dias após a ovulação, para reduzir o risco de uma biópsia em útero gravídico. Porém, por ser um método invasivo, ele é pouco utilizado, sendo substituído pela dosagem sérica de proges- terona e pela ultrassonografia transvaginal seriada. ✔✔ resposta: ⮩ Questão 4 (HOSPITAL UNIVERSITÁRIO PEDRO ERNESTO – RJ – 2018) Para que ocorra a esteroidogênese ovariana, as gonadotrofi- nas agem nas células do ovário. As gonadotrofinas que agem nas células da teca e da granulosa, res- pectivamente, são: ⮦⮦ Hormônio luteinizante (LH) e hormônio folicu- loestimulante (FSH). ⮦⮧ Hormônio liberador de gonadotrofina (GnRH) e LH. ⮦⮨ FSH e GnRH. ⮦⮩ GnRH e FSH. dificuldade: Resolução: Trata-se da teoria das duas células, duas gonadotrofinas. Ocorre a produção de androgênios (a partir do colesterol) na célula da teca, estimulada pelo LH, e estes passam para as células da granulosa que, sob o efeito do FSH, transformam os androgê- nios (androstenediona e testosterona) em estrogê- nios (estrona e estradiol, sob ação da aromatase). ✔✔ resposta: ⮦ Questão 5 (UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO – RJ – 2017) Considerando-se o ciclo menstrual habitual, a ordem CORRETA dos processos ovarianos ou endometriais é: ⮦⮦ Ciclo ovariano: ovulação, fase lútea e fase folicular. ⮦⮧ Ciclo endometrial: fase secretora, fase prolifera- tiva e descamação. ⮦⮨ Ciclo endometrial: fase proliferativa, fase secre- tora e descamação. ⮦⮩ Ciclo ovariano: fase lútea, ovulação e fase folicular. ⮦⮪ Ciclo endometrial: fase lútea, descamação e fase proliferativa. dificuldade: Resolução: Há dois processos reprodutivos no ciclo menstrual: o ovariano e o endometrial. No primeiro, há maturação folicular e liberação do óvulo a partir de um dos ovários, sendo dividido em fase folicular, fase ovulatória e fase lútea (nessa ordem de acon- tecimentos). No segundo, há a preparação do útero/ endométrio para receber o embrião fecundado, sen- do dividido em fase proliferativa, fase secretora e, por último, fase menstrual ou descamação. ✔✔ resposta: ⮨ Ginecologia-1.indb 35 19/12/2019 10:32:30 Fixe seus conhecimentos! 36 FIXE SEU CONHECIMENTO COM FLUXOGRAMAS Use esse espaço para construir fluxogramas e fixar seu conhecimento! FIXE SEU CONHECIMENTO COM MAPAS MENTAIS Use esse espaço para construir mapas mentais e fixar seu conhecimento! Ginecologia-1.indb 36 19/12/2019 10:32:31 37 B lo co A Capítulo 2PLANEJAMENTO FAMILIAR O QUE VOCÊ PRECISA SABER? u Conhecer os principais métodos contraceptivos e seus mecanismos de ação. u Reconhecer quando indicar e, sobretudo, quando contraindicar cada método contraceptivo. u Saber orientar o uso dos diferentes métodos contraceptivos. u Identificar as situações em que é permitida a esterilização cirúrgica com base na legislação vigente. 1. INTRODUÇÃO É direito de todo casal exercer atividade sexual, podendo planejar o número de filhos. No Brasil, esse direito é assegurado pela Lei 9263, de 12/01/1996, que define planejamento familiar como um conjunto de ações de regulação da fecundidade que devem ser garantidos pelo SUS em toda a sua rede de serviços. Entre tais ações inclui-se atividades preventivas e educativas, além de acesso igualitário aos diferentes métodos contraceptivos. A eficácia dos diversos métodos contraceptivos pode ser avaliada pelo número de gestações em cada 100 mulheres utilizando o método por um ano, o que é conhecido como índice de Pearl. Logo, quanto menor o índice de Pearl, maior é a eficácia do referido método. Embora a OMS recomende que os métodos de controle da natalidade apresentem índice de Pearl abaixo de 4, os melhores métodos têm taxas de falha em um ano menor do que 1. O índice deve ser calculado levando-se em conside- ração o uso do método na forma costumeira e na forma perfeita. Ou seja, a forma que as mulheres habitualmente usam o método (incluindo esqueci- mento, vômito, interações medicamentosas etc) e a forma recomendada pelo fabricante em bula. Abaixo, segue uma tabela com o índice de Pearl de cada método contraceptivo de acordo com a Organização Mundial de Saúde. Tabela 1. Índices de Pearl com uso perfeito e típico, dos diversos métodos contraceptivos. MÉTODO % de mulheres que experimentam uma gravidez indesejada no 1º ano de uso Uso típico Uso perfeito Nenhum método 85 85 Espermicidas 28 18 Métodos baseados na percepção de fertilidade 24 - Método do padrão de dias - 5 Método dos dois dias - 4 Método ovulatório - 3 Método da temperatura - 0,4 Coito interrompido 22 4 Esponja - - Mulheres multíparas 24 20 Mulheres nulíparas 12 9 Camisinha feminina 21 5 Camisinha masculina 18 2 Ginecologia-1.indb 37 19/12/2019 10:32:31 Planejamento familiar Capítulo 2 38 MÉTODO % de mulheres que experimentam uma gravidez indesejada no 1º ano de uso Uso típico Uso perfeito Diafragma 12 6 Pílulas combinadas 9 0,3 Adesivo cutâneo 9 0,3 Anel vaginal 9 0,3 Anticoncepcional trimestral 6 0,2 DIU de cobre 0,8 0,6 DIU de hormônio 0,2 0,2 Implante subdérmico 0,05 0,05 Esterilização feminina 0,5 0,5 Esterilização masculina 0,15 0,1 FLASHCARDS Lei que rege o planejamento familiar no Brasil? Lei 9263 de 12 de janeiro de 1996. FLASHCARDS Cálculo das taxas de falha dos diferentes métodos contraceptivos a cada 100 mulheres que o utilizam em um ano? Índice de Pearl. FLASHCARDS Método contraceptivo mais eficaz? Implante subdérmico DICA O cálculo do índice de Pearl, em sua forma costumeira, representa a efetividade do método, enquanto a forma perfeita representa de fato a sua eficácia. Antes de prescrever um método contraceptivo, além de avaliar sua eficácia, devemos excluir suas con- traindicações. Para isso, utilizamos os critérios de elegibilidade da OMS, que determinam as situações clínicas que cada método deve ou não ser utilizado, classificando-os em quatro categorias: X Categoria 1: não há restrições para o uso do método; X Categoria 2: as vantagens no uso do método su- peram seus riscos; X Categoria 3: os riscos no uso do método superam seus benefícios; X Categoria 4: o método apresenta um risco inacei- tável para indicar o seu uso. Tabela 2. Resumo das categorias e recomendações. Categoria Descrição Recomendação 1 Sem restrição Use o método 2 Benefícios superam riscos 3 Riscos geralmente superam benefícios Não use o método 4 Risco inaceitável A Organização Mundial de Saúde divulga periodica- mente documentos onde cita as situações clínicas que mais interagem com o uso dos métodos contra- ceptivos e as classificam em enormes tabelas. Porém, mais importantedo que decorar a tabela é aprender quando os métodos contraceptivos não devem ser utilizados. Na tabela abaixo, trazemos as principais contraindicações ao uso dos anticoncepcionais hor- monais combinados, que são os mais cobrados em prova. As indicações e contraindicações dos demais métodos serão abordadas ao longo do capítulo. Tabela 3. Situações clínicas com contraindicações absolutas (categoria 4) aos anticoncepcionais hormonais combinados, segundo critério de elegibilidade da OMS. • TVP/EP atual ou pregressa, independentemente do uso de anticoagulante • Trombofilia conhecida • Cirurgia maior com imobilização prolongada Ginecologia-1.indb 38 19/12/2019 10:32:31 Planejamento familiar Cap. 2 39 B lo co A • Lúpus eritematoso sistêmico com ACA positivo ou desconhecido • Doença valvular complicada com hipertensão pulmonar, FA, endocardite bacteriana • Tabagismo (≥ 15 cigarros/dia) + idade > 35 anos • Doença cardíaca isquêmica atual ou pregressa • Hipertensão arterial sistêmica descompensada (sis- tólica ≥ 160 mmHg ou diastólica ≥ 100 mmHg) • Hipertensão arterial sistêmica associada à doença vascular • Múltiplos fatores de risco para DCV (idade avançada, tabagismo, DM, HAS) • Acidente vascular cerebral atual ou pregresso • Enxaqueca com aura • Enxaqueca sem aura + idade > 35 anos para continuar em uso do AHC • Câncer de mama atual • Diabete mellitus complicada com nefropatia, retinopa- tia ou outra vasculopatia ou mais de 20 anos de doença • Cirrose descompensada, adenoma hepatocelular e hepatoma (categoria 3 se injetável) • Lactante nas primeiras seis semanas pós-parto • Puérpera não lactante, com fator de risco para TVP, nos primeiros 21 dias Fonte: Retirado de World Health Organization (WHO). Medical eligibility criteria for contraceptive use [Internet]. 5rd ed. Geneva: WHO; 2015. DICA Única situação clínica que é contraindica- ção absoluta (categoria 4) para todos os métodos contraceptivos é a presença de gravidez. 2. MÉTODOS DE COMPORTAMENTO Os métodos comportamentais baseiam-se na obser- vação dos sinais e sintomas que caracterizam as diversas fases do ciclo menstrual com consequente abstinência sexual no período fértil da mulher, que deve ser de 3 a 4 dias antes da data da ovulação até 3 dias depois, levando em consideração que um esper- matozoide permanece vivo dentro do trato genital feminino por 72 horas e o tempo de vida de um óvulo é de aproximadamente 48 horas. Esse grupo inclui diversos métodos que podem ser utilizados sozinhos ou combinados a fim de aumentar sua eficácia, porém, nenhum deles devem ser indicados de rotina, pois, além da baixa eficácia (taxas de falha podem chegar a 20% em um ano), alteram o comportamento sexual do casal, devendo ser resguardados apenas para situações em que a crença religiosa da mulher ou do homem condene outros métodos. 2.1. TABELINHA (OGINO-KNAUS) Nesse método, a mulher deve registrar a duração do seu ciclo menstrual por no mínimo seis meses, observando a diferença entre o ciclo mais longo e o mais curto. Caso essa diferença seja muito grande (superior a 10 dias), o método não pode ser utilizado. Caso contrário, subtrai-se 18 do ciclo mais curto e 11 do ciclo mais longo, encontrando então o período fértil da mulher, quando o casal deve permanecer em abstinência sexual. Exemplo: Casal decide usar método comportamental de Ogino- -Knaus (tabelinha) para anticoncepção. Após observar o ciclo menstrual por seis meses foi verificado que o ciclo mais curto durou 28 dias e o mais longo 32 dias. A orientação deve ser: X Diferença entre o ciclo mais longo e o mais curto: 32 – 28 = 4 (método pode ser usado). X Subtrai-se 18 do ciclo mais curto: 28-18 = 10. Início do período fértil no 10º dia. X Subtrai-se 11 do ciclo mais longo: 32-11 = 21. Tér- mino do período fértil no dia 21º dia. X O casal deve evitar relações sexuais entre o 10º e o 21º dia do ciclo menstrual. 2.2. TEMPERATURA CORPORAL BASAL De acordo com a fisiologia do ciclo menstrual, sabe- mos que os níveis de progesterona aumentam logo após a ovulação, que atua no centro termorregulador do hipotálamo promovendo discreto aumento da temperatura basal do corpo da mulher (em geral 0,3ºC) a partir do 1º dia após a liberação do óvulo até 11 a 16 dias depois. Esse método baseia-se na Ginecologia-1.indb 39 19/12/2019 10:32:31 Planejamento familiar Capítulo 2 40 aferição da temperatura corporal com termômetro comum (via oral, retal ou vaginal – desde que seja adotada a mesma via durante todo o ciclo) diaria- mente, pela manhã, após período mínimo de repouso de 5 horas, devendo-se permanecer em abstinência sexual durante todo o primeiro período do ciclo menstrual até o 4º dia após ter verificado aumento da temperatura corporal, devido ao período de 48 horas de vida do óvulo. Possui como inconveniente, além de não prever a ovulação acarretando um longo período de absti- nência sexual, o fato de que outros fatores também podem interferir na temperatura corporal, como estados infecciosos, distúrbios do sono etc. 2.3. BILLINGS OU MUCO CERVICAL O muco produzido na endocérvice, sob influência hor- monal cíclica, muda as suas características ao longo do ciclo menstrual. Na primeira fase do ciclo, o muco cervical é espesso e pegajoso, sendo muitas vezes imperceptível, mas, à medida que a ovulação se apro- xima, torna-se mais elástico e viscoso (semelhante à clara de ovo), promovendo sensação de lubrificação vaginal intensa, voltando então ao aspecto espesso após a ovulação. Logo, nesse método, o período de abstinência sexual deve ser desde a percepção do muco cervical até o quarto dia após essa sensação de lubrificação vaginal máxima. 2.4. COITO INTERROMPIDO Como o próprio nome sugere, trata-se da interrup- ção da relação sexual antes da ejaculação. Porém, o método deve ser fortemente desestimulado, pois, além de exigir grande controle por parte do parceiro e interferir no ato sexual do casal, devemos lembrar que a ejaculação é precedida por liberação de muco, que pode conter espermatozoides. As taxas de falha podem ser superiores a 20%. 3. MÉTODOS DE BARREIRA Os métodos de barreira constituem um grupo de dispositivos que interpõem barreira mecânica ou química ao espermatozoide durante o ato sexual, impedindo sua ascensão pelo canal vaginal até o útero. 3.1. CONDOM Corresponde a estruturas de látex ou poliuretano que recobrem o pênis ou a vagina coibindo o contato do espermatozoide com o canal vaginal. O preservativo masculino deve ser colocado durante o intercurso sexual, com o pênis ereto, e o pênis deve ser retirado da vagina logo após a ejaculação, evitando assim que o conteúdo espermático escape do preservativo com a diminuição da ereção. Já o preservativo feminino pode ser inserido até 8 horas antes da relação sexual, porém é desconfortável e pouco estético. O uso do preservativo deve ser encorajado a todos os casais, pois, além de bastante eficaz (quando uti- lizado corretamente), é o único método que oferece proteção contra doenças sexualmente transmissíveis. A única contraindicação é a alergia ao látex, no caso do preservativo masculino. O preservativo feminino é confeccionado com poliuretano, substância menos alergênica, e não possui contraindicações. 3.2. DIAFRAGMA E ESPERMICIDA O diafragma é um dispositivo circular e flexível, coberto por uma membrana de silicone ou látex, que deve ser inserido no canal vaginal horas antes do ato sexual (máximo de dois horas) e age como uma barreira mecânica, impedindo que o espermatozoide chegue até o útero. O seu uso exige avaliação médica prévia para escolha do tamanho que melhor se ade- que à vagina da paciente, bem como para orientações sobre a forma correta de inserção, visto que, como todo método de barreira, a sua eficácia depende da introdução e localização apropriadas. A fim de reduzir a taxa de falhas, o diafragma deve ser utilizado preferencialmente em conjunto com um gelespermicida, isto é, substâncias químicas capazes de imobilizar ou destruir os espermatozoides através da lesão de sua membrana celular. O mais utilizado no Brasil é à base de nonoxinol-9 a 2%. Nesses casos, o dispositivo deve ser deixado no canal vaginal por pelo menos 6 a 8 horas após o intercurso sexual para aumentar o tempo de contato dos espermatozoides com o espermicida. Ginecologia-1.indb 40 19/12/2019 10:32:31 Planejamento familiar Cap. 2 41 B lo co A Tanto o diafragma quanto o gel espermicida podem ser alergênicos à paciente ou ao parceiro. Nesses casos, está contraindicado o uso. Além disso, ambos podem aumentar o risco de infecções geniturinárias e, portanto, devem ser evitados nessas situações. Falando no espermicida particularmente, há aumento das chances de transmissão de IST, pois sua subs- tância pode causar microfissuras na mucosa vagi- nal. Por esse motivo, é considerado categoria 4 em pacientes portadores do vírus HIV. Já o diafragma deve ser evitado também quando há qualquer distorção anatômica do trato genital inferior, como prolapsos genitais, útero retrovertido, septos vaginais etc. 4. MÉTODOS HORMONAIS COMBINADOS Os métodos hormonais combinados são resultado da combinação de um componente estrogênico e um progestogênico e podem ser administrados por diferentes vias: oral (a mais utilizada no Brasil e em quase todo o mundo), injetável, vaginal e transdér- mico. O estrogênio sintético age, principalmente, inibindo o pico do FSH e, com isso, o recrutamento e desenvolvimento do folículo dominante, além de estabilizar o endométrio e potencializar a ação pro- gestínica através do aumento dos receptores de pro- gesterona. Enquanto o componente progestogênico atua inibindo o pico de LH e a ovulação, espessando o muco cervical, dificultando a ascensão dos esper- matozoides e atrofiando o endométrio, tornando-o não receptivo a uma possível implantação. Podemos inferir que todos os métodos hormonais combinados são anovulatórios, sendo o progestogênio o principal hormônio responsável por tal ação. Os progestínicos utilizados no Brasil podem ser deri- vados da própria progesterona (17-OH-progesterona), como a ciproterona, que possui efeitos antiandrogê- nicos; da testosterona (19-nortestosterona), a exem- plo da noretisterona, levonorgestrel, desogestrel e gestodeno (possuem ação androgênica, porém menor efeito trombogênico) ou da espironolactona, como a drospirenona, com importante efeito antimi- neralocorticoide. Já o estrogênio mais utilizado é o etinilestradiol, em dosagens nas formulações orais que vão de 15 a 35 mcg, sendo as de 15 ou 20 mcg consideradas de muito baixa dosagem e as de 30 ou 35 mcg de baixa dosagem. Doses maiores que 35 mcg ao dia não são seguras e estão em desuso pelo alto risco de eventos tromboembólicos. Independentemente da via de administração, o método deve ser iniciado sempre nos primeiros cinco dias do ciclo menstrual (preferencialmente no 1º dia) e repetido periodicamente. No caso da via oral, o uso é diário, a cada 24 horas, e há formulações de 21 dias, com pausa de 7 dias; 24 dias, com 4 dias de intervalo, ou 28 dias contínuos, sem pausa. A admi- nistração injetável deve ser realizada por profissional de saúde e repetida a cada 30 dias, de preferência nas nádegas. Tanto o anel vaginal quanto o adesivo transdérmico são utilizados por três semanas con- secutivas, com pausa de uma semana, sendo que o adesivo deve ser trocado a cada 7 dias e colocado sobre áreas limpas e secas, como nos glúteos, face externa dos braços, abdome ou tronco. Já o anel vaginal é inserido na vagina pela própria mulher e deixado no local por 21 dias, sem necessidade de troca durante esse período ou de avaliação médica, visto que não se trata de método de barreira. Mulheres que usam métodos hormonais combinados, além da contracepção, em geral experimentam outros benefícios como melhora da tensão pré-menstrual e da dismenorreia, além de redução do fluxo mens- trual e do risco de câncer de ovário e endométrio. Em contrapartida, efeitos colaterais como náuseas e vômitos, mastalgia, ganho de peso, cefaleia, fadiga, irritabilidade, acne, sangramento uterino irregu- lar, aumento dos níveis tensionais ou elevação do risco de eventos tromboembólicos podem ocorrer, a depender sobretudo do tipo de progestínico utili- zado. As contraindicações já foram citadas no início do capítulo. Fique atento, pois são frequentemente questões de prova. FLASHCARDS Tipos de métodos contraceptivos hormonais com- binados? Anticoncepcional oral, injetável mensal, adesivo transdérmico e anel vaginal. DICA O progestínico com menor potencial trom- bogênico é o levonorgestrel. Ginecologia-1.indb 41 19/12/2019 10:32:31 Planejamento familiar Capítulo 2 42 5. PROGESTÍNICO ISOLADO Os métodos hormonais à base de progestínico isolado são uma importante alternativa às pacientes que apresentam contraindicação ao uso do estrógeno. Os tipos de progestogênicos e seus mecanismos de ação são semelhantes ao já discutido na sessão anterior. As formas de apresentação disponíveis no Brasil são a via oral, de uso diário e contínuo, sem intervalo, o injetável trimestral, o implante subdérmico e o sistema intrauterino medicado com levonorgestrel (o último será discutido na seção de dispositivos intrauterinos). Em relação à via oral, apenas o contraceptivo medi- cado com 75 mcg de desogestrel é considerado ano- vulatório. Os demais possuem dosagens hormonais baixíssimas (minipílulas), com taxa de anovulação em apenas 40% dos ciclos. Devem ser resguardadas para situações em que a fertilidade da mulher está naturalmente reduzida, como durante a lactação e a perimenopausa. O injetável trimestral contém acetato de medroxiprogesterona, progestínico derivado da 17-OH-progesterona, e sua via de administração é a intramuscular profunda. Ambos devem ser iniciados no 1º dia do ciclo menstrual. No Brasil, o implante subdérmico disponível (Impla- non) é uma haste de acetato de etileno medicada com 68 mg de etonogestrel (metabólito ativo do desogestrel), que deve ser inserida por profissional habilitado no membro superior não dominante da paciente em qualquer momento do ciclo menstrual, desde que haja a certeza da ausência de gravidez (em geral, recomenda-se associar um método de barreira nos próximos sete dias após a inserção). A liberação hormonal é lenta e dura aproximadamente três anos, quando o dispositivo deve ser retirado ou trocado. Seu mecanismo de ação é anovulatório. Mulheres com sobrepeso ou obesas podem apresentar maior risco de falha do método. Todas as usuárias de métodos progestogênicos iso- lados devem ser orientadas quanto aos principais efeitos adversos: sangramento uterino irregular, ganho de peso e alterações do humor, além do retorno à fertilidade, que pode levar até um ano após a inter- rupção do método. O acetato de medroxiprogesterona de depósito particularmente tem sido associado à redução da massa óssea, devendo-se evitar seu uso prolongado sobretudo em adolescentes e mulhe- res na perimenopausa. As únicas contraindicações absolutas (categoria 4) ao uso desses métodos são gravidez e câncer de mama atual, mas, em algumas situações, como história atual de TVP ou TEP, LES com anticorpos antifosfolípides positivos, tumor hepático maligno e cirrose descompensada, devem ser evitados (categoria 3). FLASHCARDS Tipos de métodos contraceptivos hormonais com progestínicos isolados? Pílula oral, injetável trimestral, implante subdérmico. FLASHCARDS Únicas contraindicações absolutas (categoria 4) aos progestínicos isolados? Gravidez e câncer de mama atual. 6. DISPOSITIVOS INTRAUTERINOS Os dispositivos intrauterinos constituem, junto com o implante subdérmico, o grupo de métodos contra- ceptivos reversíveis de longa duração (LARC) e são os métodos não definitivos mais utilizados no mundo. No Brasil, há classicamente dois dispositivos dispo- níveis: DIU de Cobre T380A e DIUde levonorgestrel 20 mcg (Mirena). Ambos não são anovulatórios e têm ação local, promovendo reação inflamatória na cavidade uterina por simularem um corpo estranho, tornando o ambiente inóspito para espermatozoides e óvulos, além de interferirem no muco cervical e na motilidade tubária. O levonorgestrel tem ainda efeito antiproliferativo sobre o endométrio, pro- vocando atrofia endometrial e impedindo possível implantação. O melhor período para inserção dos dispositivos intrauterinos é durante a menstruação, pois o ori- fício interno do colo encontra-se entreaberto, faci- litando a sua introdução, porém, em teoria, podem ser colocados em qualquer fase do ciclo menstrual desde que excluída gestação. No pós-parto, pode ser inserido nas primeiras 48 horas ou após quatro semanas, devido ao maior risco de expulsão nesse intervalo. Após um abortamento, pode ser inserido Ginecologia-1.indb 42 19/12/2019 10:32:31 Planejamento familiar Cap. 2 43 B lo co A imediatamente desde que não haja sinais de infec- ção. A principal complicação associada à inserção é a perfuração uterina, que felizmente é um evento raro. Seus efeitos são imediatos após a confirmação de que o dispositivo se encontra normoimplantado na cavidade uterina, tendo o DIU de cobre duração de 10 anos e o Mirena de 5 anos. Os principais efeitos adversos relacionados ao DIU de cobre são aumento da dismenorreia e do fluxo mens- trual, ao contrário das usuárias do DIU de levonor- gestrel, que em geral costumam experimentar alívio das cólicas e redução do sangramento menstrual (a maioria entrará em amenorreia após o primeiro ano de uso), apesar de muitas apresentarem sangramento intermenstrual de spotting, principal efeito colateral associado ao método. Outros inconvenientes dos dois tipos de dispositivo intrauterino são o aumento relativo das taxas de gravidez ectópica (caso ocorra uma falha, há maior chance de haver implantação fora da cavidade uterina) e o risco de doença inflamatória pélvica, que é motivo de inúmeras discordâncias na literatura, mas atualmente sabe-se que o aumento do risco se dá somente poucos meses após a inser- ção possivelmente por uma infecção genital vigente durante o procedimento que ascendeu pelo canal cervical ou por técnicas de assepsia inadequadas. Recentemente, muito tem se falado sobre DIU de prata e mini DIU. Ambos são nada mais do que novas versões do DIU de cobre. O primeiro traz a associação do cobre com a prata na tentativa de estabilizar os efeitos do cobre, diminuindo a dismenorreia e o san- gramento. Porém, por se tratar de um método novo, ainda não há estudos consistentes que comprovem esse benefício. E o segundo é um dispositivo também de cobre em tamanho reduzido, como alternativa para mulheres que apresentam útero com maior diâmetro menor que 6 cm. Ambos têm duração de cinco anos. As principais contraindicações ao uso dos disposi- tivos intrauterinos são: Contraindicações absolutas (categoria 4): X Gravidez; X Doença inflamatória pélvica (DIP) ou doença se- xualmente transmissível (DST) atual, recorrente ou recente (nos últimos três meses); X Sepse puerperal; X Imediatamente pós-aborto séptico; X Cavidade uterina severamente deturpada; X Hemorragia vaginal inexplicada; X Câncer cervical ou endometrial; X Doença trofoblástica maligna; X Alergia ao cobre (para DIUs de cobre); X Câncer de mama atual (para DIU de LNG). Contraindicações relativas (categoria 3): X Fator de risco para DSTs ou HIV; X Imunodeficiência; X De 48 horas a quatro semanas pós-parto; X Câncer de ovário; X Doença trofoblástica benigna; X Tumor hepático maligno ou adenoma hepatoce- lular (para DIU de LNG); X TVP/TEP atual (para DIU de LNG); X Lúpus eritematoso sistêmico com anticorpo an- tifosfolípide positivo ou desconhecido (para DIU de LNG). FLASHCARDS Quais são os métodos reversíveis de longa duração, também chamado de LARC? DIU de cobre, DIU de levonorgestrel e Implante sub- dérmico. FLASHCARDS Principais efeitos colaterais do DIU de cobre? Dismenorreia e aumento do fluxo menstrual. FLASHCARDS Principal efeito colateral do DIU de levonorgestrel? Sangramento intermenstrual de spotting. DICA A fertilidade é, em geral, rapidamente res- taurada após a retirada do DIU. DICA Em casos de gestação tópica com o uso do DIU, o mesmo deve ser retirado sempre que os fios estiverem visíveis. Caso contrário, a gestação deve ser cuidadosamente acompanhada e a paciente orientada sobre o risco aumentado de abortamento espontâneo. Ginecologia-1.indb 43 19/12/2019 10:32:31 Planejamento familiar Capítulo 2 44 DICA Não há consenso na literatura sobre a reti- rada ou não do DIU em pacientes que evoluam com doença inflamatória pélvica durante o seu uso. 7. CONTRACEPÇÃO DE EMERGÊNCIA A contracepção de emergência não deve em hipó- tese alguma ser utilizada de rotina, suas principais indicações são: abuso sexual, ruptura do condom ou deslocamento do DIU. Atualmente, o método mais recomendado para este fim é o uso via oral de levonorgestrel 1,5 mg dose única ou 0,75 mg de 12 em 12 horas, podendo ser utilizado até cinco dias após o ato sexual, mas idealmente nas primeiras 72 horas. Quando administrado na primeira fase do ciclo menstrual, seu mecanismo de ação é através da inibição do pico de LH e, portanto, da ovulação. Já na segunda fase do ciclo, atua espessando o muco cervical, alterando a motilidade tubária e atrofiando o endométrio. Quanto mais próximo do intercurso sexual for usado, maior a eficácia. Por se tratar de método ocasional, não há contrain- dicações absolutas ao seu uso, além da presença de gravidez. No entanto, podem ocorrer efeitos adversos como náuseas, vômitos, fadiga, tontura, cefaleia, mastalgia e irregularidade menstrual. As pacientes devem ser orientadas de que pode haver atraso da menstruação de, no máximo, uma semana da data esperada. Caso o atraso ultrapasse sete dias um teste de gravidez deve ser realizado. FLASHCARDS Quando utilizar a contracepção de emergência? Abuso sexual, ruptura do condom ou deslocamen- to do DIU. FLASHCARDS Método utilizado para contracepção de emergência? Levonorgestrel 1,5 mg dose única ou 0,75 mg de 12 em 12 horas. FLASHCARDS Período máximo para o uso da contracepção de emergência? Cinco dias. 8. CONTRACEPÇÃO CIRÚRGICA Único método contraceptivo irreversível, que inclui tanto a laqueadura tubária para as mulheres quanto a vasectomia (ressecção do ducto deferente) no caso dos homens. Por se tratar de método definitivo, a legislação vigente (Lei 9263, que regulamenta o pla- nejamento familiar no Brasil) é extensa e rigorosa. Destacamos abaixo os pontos mais importantes que você precisa saber para as provas: Quando fazer? X Homens e mulheres com capacidade civil plena, maiores de 25 anos ou com pelo menos 2 filhos vivos, com prazo mínimo de 60 dias entre a ma- nifestação da vontade (expressa em documento escrito e firmado) e o ato cirúrgico. X Risco de vida ou à saúde da mulher ou do futuro concepto (testemunhado em relatório escrito e assinado por dois médicos). Quando não fazer? X Vedada em períodos de parto, aborto ou até o 42º dia de pós-parto ou aborto, exceto nos casos de comprovada necessidade por cesarianas sucessi- vas anteriores, ou quando a mulher for portadora de doença de base e a exposição a segundo ato anestésico ou cirúrgico representar maior risco para sua saúde (necessário relatório escrito e assinado por dois médicos). X Vedada através de histerectomia ou ooforectomia. FLASHCARDS Quais critérios para indicação de contracepção ci- rúrgica? Maiores de 25 anos ou pelo menos dois filhos vivos. Ginecologia-1.indb 44 19/12/2019 10:32:31 Planejamento familiar Cap. 2 45 B lo co A FLASHCARDS Qual o período mínimo entre a manifestação da von- tade e a cirurgia? 60 dias. FLASHCARDS Em quais situações pode-se realizar laqueadura tu- bária durante o parto ou pós-parto? Cesarianas sucessivas anteriores e riscode vida ou à saúde da mulher ou do futuro concepto. REFERÊNCIAS 1. Finotti MC, Magalhães J, Martins LA, Franceschini AS. Métodos anticoncepcionais reversíveis de longa duração. São Paulo: Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obste- trícia (FEBRASGO); 2018. (Protocolo FEBRASGO – Ginecologia, no. 71/ Comissão Nacional Especializada em Anticoncepção). 2. Guazzelli CA, Sakamoto LC. Anticoncepcional hormonal apenas de progestagênio e anticoncepção de emergência. São Paulo: Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obste- trícia (FEBRASGO); 2018. (Protocolo FEBRASGO – Ginecologia, no. 70/Comissão Nacional Especializada em Anticoncepção). 3. Brito MB, Monteiro IM, Di Bella ZI. Anticoncepção hormonal combinada. São Paulo: Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO); 2018. (Protocolo FEBRASGO – Ginecologia, no. 69/Comissão Nacional Espe- cializada em Anticoncepção). 4. World Health Organization (WHO). Medical eligibility criteria for contraceptive use [Internet]. 5rd ed. Geneva: WHO; 2015. 5. Williams H. Ginecologia de Williams. Porto Alegre, 2014. Ginecologia-1.indb 45 19/12/2019 10:32:31 Planejamento familiar Capítulo 2 46 QUESTÕES COMENTADAS Questão 1 (HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DA UFSC – 2018) Considerando a legislação brasileira sobre o planejamento familiar, assinale a alternativa em que é permitido a esteri- lização voluntária (laqueadura tubária). ⮦⮦ Durante uma cesariana por apresentação anô- mala de uma mulher com 37 anos e com quatro filhos de parto vaginal. ⮦⮧ Logo após uma curetagem por abortamento de uma mulher com 40 anos e com dois filhos vivos. ⮦⮨ Mulher de 24 anos, com história de três gestações que resultaram em óbito fetal. ⮦⮩ Durante a terceira cesariana de uma mulher com 26 anos, tendo a manifestação de vontade assi- nada e registrada no dia anterior. ⮦⮪ Nuligesta de 28 anos, sem sociedade conjugal ou alteração psiquiátrica. Alternativa A: INCORRETA. Durante uma cesárea só pode ser feita a laqueadura se uma nova gestação gerar risco de vida a mãe ou ao concepto ou também no caso de pelo menos duas cesáreas anteriores. A pa- ciente em questão possui 4 partos vaginais, se fos- sem cesáreas ela poderia realizar o procedimento durante o parto. Alternativa B: INCORRETA. Deve-se esperar 60 dias após o desejo da paciente e o ato cirúrgico e encaminha- -lá ao serviço de planejamento orientando outros métodos contraceptivos e visando sempre desenco- rajar a paciente a realizar o método definitivo, além disso é vedada a esterilização cirúrgica em mulher durante períodos de parto, aborto ou até o 42º dia do pós-parto ou aborto, exceto em casos que indi- quem risco de vida para a mãe ou futuro concepto, sempre assinado por dois médios. Alternativa C: INCORRETA. Essa paciente não preenche nenhum dos critérios: 25 anos ou 2 filhos vivos. Nesse caso, deve-se orientar a paciente a pesquisar causas de abortamento precoce e acompanhar com o obs- tetra antes de engravidar para que ela consiga ter uma gestação viável. Alternativa D: INCORRETA. São necessários 60 dias da manifestação do desejo da paciente até o ato cirúr- gico. Sendo que nesse período ela deverá ter acesso ao serviço de regulação da fecundidade, incluindo aconselhamento pela equipe multidisciplinar visan- do a desencorajar a esterilização precoce. Alternativa E: CORRETA. Mesmo a paciente sendo nuli- gesta, ela se encaixa no critério da idade (maior ou igual a 25 anos), além disso ela possui capacidade civil plena. Se ela estivesse em sociedade conjugal, o cônjuge também deve assinar o termo de consen- timento livre e esclarecido. ✔✔ resposta: ⮪ Questão 2 (SECRETARIA MUNICIPAL DA SAÚDE DE CURITIBA – 2018) Anticon- cepção corresponde ao uso de métodos e técnicas com a finalidade de impedir que o relacionamento sexual resulte em gravidez. É recurso de Planejamen- to Familiar, para a constituição de prole desejada e programada de forma consciente. A Conferência In- ternacional de População e Desenvolvimento (CIPD) realizada no Cairo, em 1994, definiu que a saúde reprodutiva é: “um estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não apenas ausência de doença ou enfermidade, em todas as matérias rela- cionadas com o sistema reprodutivo, suas funções e processos. A saúde reprodutiva implica, portanto, que as pessoas estejam aptas a ter uma vida sexual satisfatória e segura, que tenham a capacidade de reproduzir-se e a liberdade de decidir fazê-lo se, quando e quantas vezes, desejarem. Implícito nesta última condição está o direito de homens e mulhe- res de ser informados e de ter acesso a métodos de Ginecologia-1.indb 46 19/12/2019 10:32:31 Planejamento familiar Cap. 2 47 B lo co A planejamento familiar de sua escolha […] que não sejam contra a lei […]” (ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS, 1994). Em consulta no ambulatório de Saúde Reprodutiva, chega uma mulher com 45 anos; fuman- te de 10 cigarros ao dia; portadora assintomática do vírus HIV (com supressão viral há muitos anos); com história de Trombose Venosa Profunda (TVP) há 10 anos; hipertensa controlada com medicação e relata diagnóstico de cefaleia tensional não – mi- grânea. Ela deseja anticoncepção temporária (pois deseja ter mais um filho daqui 3-4 anos). O método contraindicado para ela é: ⮦⮦ Dispositivo Intra Uterino – DIU de cobre: pois paciente HIV, mesmo com bom controle. Não há indicação de inserção de DIU por risco aumenta- do de cânceres cervicais e doenças sexualmente transmissíveis. ⮦⮧ Medroxiprogesterona injetável: pois paciente fu- mante com idade acima de 35 anos. Nessa faixa etária a interação com o cigarro aumenta muitos os efeitos adversos da progesterona. ⮦⮨ Pílulas Combinadas: pois paciente com história de TVP. Estrógenos orais presentes nas pílulas com- binadas aumentam muito o risco de TVP quando comparado com outros contraceptivos. ⮦⮩ Implantes Progestágenos: pois é hipertensa. De- vido a passagem hepática aumentada da proges- terona nesse método o risco de complicações car- diovasculares aumenta muito com esse método. dificuldade: ✔Y Dica do autor: Questão longa, mas que deseja saber o método anticonceptivo contraindicado para uma mulher de 45 anos; fumante de 10 cigarros ao dia; portadora assintomática do vírus HIV com supressão viral; história de Trombose Venosa Profunda (TVP) há 10 anos; hipertensa controlada com medicação e cefaleia tensional não – migrânea. Lembrando que, de acordo com os critérios de elegibilidade da OMS, categoria 3 é contraindicação relativa (riscos superam benefícios) e categoria 4 é contraindicação absoluta. Alternativa A: INCORRETA. Alternativas B e D: INCORRETAS. Os métodos que utilizam progesterona não são contraindicados para tabagis- tas, e a HAS grave constitui categoria 3. Alternativa C: CORRETA. TVP atual ou prévia é conside- rada categoria 4 para os contraceptivos hormonais sistêmicos combinados (que possuem estrógeno), assim como tabagismo com consumo ≥ 15 cigarros por dia após os 35 anos (se < 15 é categoria 3) e HAS grave. ✔✔ resposta: ⮨ Questão 3 (HOSPITAL NAVAL MARCÍLIO DIAS – 2018) Em relação aos con- traceptivos orais combinados, pode-se afirmar que eles aumentam: ⮦⮦ O risco de câncer de endométrio. ⮦⮧ O risco de câncer de ovário. ⮦⮨ Os níveis basais dos hormônios foliculoestimu- lante (FSH) e luteinizante (LH). ⮦⮩ O risco de trombose venosa profunda (TVP). ⮦⮪ O risco de gravidez ectópica. dificuldade: ✔Y Dica do autor: Os contraceptivos orais combinados são compostos por uma associação de estrogênio e progestágeno, atuando como método hormonal de contracepção. O seu principal mecanismo de ação consiste no bloqueio do eixo hipotálamo-hipofisá- rio, com consequente redução da liberação de FSH e LH (gonadotrofinas), promovendo a anovulação. Resolução: O componente estrogênico está mais re- lacionado ao risco aumentado de TVP durante o uso do anticoncepcional e em até três meses após a sua interrupção. Alguns efeitos benéficospodem estar relacionados ao seu uso, como diminuição do risco de câncer de ovário e de endométrio. Ademais, não estão associados ao aumento do risco de gravidez ectópica. ✔✔ resposta: ⮩ Questão 4 (ASSOCIAÇÃO MÉDICA DO RIO GRANDE DO SUL – 2018) Em re- lação à contracepção no puerpério, analise as as- sertivas abaixo: I. Durante a lactação, os contraceptivos mais indi- cados são o dispositivo intrauterino (DIU) de cobre e os métodos hormonais com progestágeno isolado; Ginecologia-1.indb 47 19/12/2019 10:32:31 Planejamento familiar Capítulo 2 48 II. Os contraceptivos com progestágeno isolado em mulheres que estão amamentando devem ser iniciados, preferencialmente, depois de seis semanas após o parto; III. Na lactação, os anticoncepcionais hormonais combinados são categoria 4 de acordo com os critérios de elegibilidade da Organização Mundial da Saúde (OMS), quando utilizados nas primeiras seis semanas pós-parto. Qual alternativa apresenta a(s) assertiva(s) correta(s)? ⮦⮦ Apenas I. ⮦⮧ Apenas II. ⮦⮨ I e II. ⮦⮩ II e III. ⮦⮪ I, II e III. dificuldade: ✔Y Dica do autor: Questão sobre contracepção no puer- pério… vamos julgar as assertivas! Assertiva I: CORRETA. O DIU de cobre e os métodos com progestágeno isolado são considerados categoria 1. Assertiva II: CORRETA. Antes de seis semanas do parto, a minipílula e o implante são considerados catego- ria 2. Apenas a partir de seis semanas, passam a ser considerados categoria 1 e a recomendação ideal. Assertiva III: CORRETA. Os contraceptivos orais com- binados são contraindicados, considerados cate- goria 4 até seis semanas de pós-parto. Entre seis semanas e seis meses, são considerados categoria 3. Assim, podemos concluir que todas as assertivas estão corretas. ✔✔ resposta: ⮪ Questão 5 (HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DA UFSC – 2017) Em qual das situa- ções abaixo é contraindicado o uso de contraceptivo oral combinado (categoria 4 de elegibilidade da OMS)? ⮦⮦ Trinta anos de idade com história de trombofle- bite superficial. ⮦⮧ Vinte e cinco anos de idade e tabagista que con- some 20 cigarros por dia. ⮦⮨ Trinta e cinco anos de idade com índice de massa corporal (IMC) de 32 kg/m². ⮦⮩ Vinte e oito anos de idade com diabetes mellitus insulinodependente e sem vasculopatia. ⮦⮪ Dezoito anos de idade e enxaqueca com aura. dificuldade: Resolução: Os anticoncepcionais orais combinados são pílulas hormonais, sendo consideradas método reversível mais utilizado no mundo. Dessa forma, é importante conhecer suas indicações e contraindi- cações relativas e absolutas. Segundo os critérios de elegibilidade da Organização Mundial da Saú- de (OMS), as seguintes situações são consideradas categoria 4 (método não deve ser utilizado, pois apresenta riscos inaceitáveis): trombofilias, ama- mentação com menos de seis semanas do parto, tabagista com mais de 35 anos de idade (consumo > 15 cigarros por dia), hipertensão com doença vas- cular, história prévia ou atual de trombose venosa profunda (TVP)/tromboembolismo pulmonar (TEP), acidente vascular encefálico (AVE) atual ou prévio, enxaqueca com aura, câncer de mama atual, dentre outras. Todas as outras situações citadas nas alter- nativas são categoria 2 (o método pode ser utilizado com restrições). ✔✔ resposta: ⮪ Questão 6 (UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO – 2018) Mulher de 32 anos de idade, nuligesta, faz consultas anuais com ginecologista da Unidade Básica de Saúde (UBS). Apresenta diagnóstico de endometriose e mioma uterino subseroso. Encontra-se em novo relaciona- mento e não deseja engravidar no momento, porém preocupa-se em usar método contraceptivo seguro que não piore o seu quadro clínico. De acordo com o relato, qual das alternativas a seguir é a indicada, segundo os critérios de elegibilidade para contra- ceptivos da Organização Mundial da Saúde (OMS)? ⮦⮦ Todos os métodos contraceptivos hormonais com- binados e os com progestágenos isolados podem ser indicados para a paciente independentemen- te da via de administração, sendo considerados categoria 1. ⮦⮧ Deve-se optar por métodos com progestágeno isolado, com exceção do sistema intrauterino Ginecologia-1.indb 48 19/12/2019 10:32:31 Planejamento familiar Cap. 2 49 B lo co A liberador de levonorgestrel, que é considerado categoria 3. ⮦⮨ Indica-se preferencialmente os métodos contra- ceptivos combinados de baixa dose injetáveis que são considerados categoria 2. ⮦⮩ O dispositivo intrauterino (DIU) de prata é o mé- todo ideal, pois não contém hormônio e não agra- vará o quadro clínico de endometriose e mioma, sendo considerado categoria 1 para endometriose e 2 para mioma. ⮦⮪ A medroxiprogesterona trimestral é contrain- dicada para essa paciente, sendo considerada categoria 4. dificuldade: ✔Y Dica do autor: Uma paciente com diagnóstico de endometriose e mioma subseroso deseja um méto- do contraceptivo que não piore seu quadro clínico. De acordo com os critérios médicos de elegibilida- de para uso de contraceptivos da OMS, os métodos contendo estrogênio mais progesterona ou apenas progesterona são classificados como categoria 1 (uso sem restrição) nestas duas condições, independen- temente da via de administração. ✔✔ resposta: ⮦ Questão 7 (HOSPITAL DAS CLÍNICAS DA UFU – 2018) Paciente quartigesta de 24 anos de idade, com três filhos vivos, duas ce- sarianas anteriores, chega em pronto-atendimento para realizar nova cesariana com 40 semanas de gestação. Paciente e marido manifestam o desejo de laqueadura tubária no momento da admissão hospitalar. Qual é a conduta mais adequada? ⮦⮦ Encaminhar para laqueadura 60 dias após o par- to, com consentimento livre e esclarecido assi- nado pelo casal. ⮦⮧ Realizar a laqueadura durante a cesariana, após consentimento livre e esclarecido assinado pelo casal, devido a sucessivas cesarianas anteriores. ⮦⮨ Realizar a laqueadura durante a cesariana, após consentimento do casal e relatório assinado por dois médicos com atestado de risco de morte em gestações futuras. ⮦⮩ Oferecer aconselhamento contraceptivo multi- disciplinar e contraindicar esterilização precoce, já que a idade da paciente é inferior a 25 anos. dificuldade: Alternativa A: CORRETA. Devem-se esperar 60 dias após o desejo da paciente até o ato cirúrgico e enca- minhá-la ao serviço de planejamento orientando outros métodos contraceptivos e visando sempre desencorajar a paciente a realizar o método defini- tivo; além disso, é vedada a esterilização cirúrgica em mulher durante períodos de parto, aborto ou até o 42º dia do pós-parto ou aborto, exceto em casos que indiquem risco de morte para a mãe ou o futuro concepto, com documento comprobatório sempre assinado por dois médicos. Alternativa B: INCORRETA. Falta a informação sobre o tempo que deve ser cumprido: 60 dias a partir da manifestação do desejo de contracepção definitiva até o ato cirúrgico. Alternativa C: INCORRETA. Essa paciente não possui doença grave relatada no enunciado da questão, não havendo risco de morte para ela nem para o concepto em futura gestação. Apesar de sucessivas cesarianas serem fator de risco para complicações, a paciente e seu cônjuge só manifestaram o desejo de contracepção definitiva no dia do parto, o que impossibilita a realização da laqueadura. Alternativa D: INCORRETA. A paciente não possui con- traindicação para esterilização precoce por causa da idade, pois ela já possui 3 filhos vivos. É correto que devemos oferecer aconselhamento contraceptivo multidisciplinar, porém a contraindicação cirúrgica da paciente é naquele momento: ela não possui 60 dias da manifestação do desejo ao ato cirúrgico. ✔✔ resposta: ⮦ Questão 8 (UDI HOSPITAL – 2018) A contracepção de longa duração reversível (LARC: long-acting reversible contracep- tion), que envolve implantes subdérmicos, dispositi- vo intrauterino (DIU) de cobre e sistema intrauterino (SIU)-levonorgestrel, é ultimamente recomendada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) para mu- lheres mais jovens,devido à maior falha dos méto- dos tradicionais, como os anticoncepcionais orais, Ginecologia-1.indb 49 19/12/2019 10:32:31 Planejamento familiar Capítulo 2 50 levando, assim, à gravidez indesejada. Sobre as LARC, qual alternativa CORRETA? ⮦⮦ O implante subdérmico com etonogestrel não deve ser indicado a pacientes com história de cisto mamário. ⮦⮧ O SIU-levonorgestrel é permitido para ser utili- zado em pacientes com história familiar de cân- cer de mama. ⮦⮨ O DIU de cobre como o SIU-levonorgestrel pode ser utilizado em mulheres nulíparas que desejam utilizar métodos contraceptivos. ⮦⮩ O uso do DIU de cobre é permitido apenas para mulheres com mais de 25 anos de idade; logo, o uso deste método é limitado. ⮦⮪ O DIU de cobre pode ser inserido no intraparto, entretanto apresenta risco maior de expulsão; o ideal é ser inserido no 4ª dia do puerpério. dificuldade: ✔Y Dica do autor: A questão apresenta duas respos- tas corretas. Alternativa A: INCORRETA. Cisto mamário não é uma con- traindicação ao implante subdérmico com etonoges- trel. A presença de câncer de mama atual consiste em uma contraindicação absoluta (categoria 4) ao seu uso, e história de câncer de mama é contrain- dicação relativa (categoria 3). Alternativa B: CORRETA. O SIU-levonorgestrel é permi- tido para ser utilizado em pacientes com história familiar de câncer de mama. Alternativa C: CORRETA. O DIU de cobre e o SIU-levonor- gestrel podem ser utilizados em mulheres nulíparas, desde que ocorra o acompanhamento clínico em virtude da possibilidade de maior risco de expulsão. Alternativa D: INCORRETA. Não existe limite de idade para o uso do DIU de cobre. Alternativa E: INCORRETA. O DIU de cobre pode ser in- serido a qualquer momento nas primeiras 48 ho- ras pós-parto (preferencialmente nos primeiros 10 minutos após a dequitação da placenta) ou após 4 semanas. O risco de expulsão é maior entre 48 ho- ras e 4 semanas. ✔✔ resposta: ⮧⮦e ⮨ Questão 9 (UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO – 2017) Considere os mecanismos de ação dos anticoncep- cionais orais combinados para marcar (V) para ver- dadeiro ou (F) para falso nas seguintes situações: ( ) Bloqueio da ovulação. ( ) Proliferação endometrial. ( ) Aumento da filância do muco cervical. ( ) Modificação da contratilidade tubária. A sequência CORRETA é: ⮦⮦ F, V, F, V. ⮦⮧ V, F, V, F. ⮦⮨ F, F, V, V. ⮦⮩ V, V, F, V. ⮦⮪ V, F, F, V. dificuldade: ✔Y Dica do autor: Os anticoncepcionais hormonais com- binados apresentam como principal mecanismo de ação a anovulação através do bloqueio do eixo hi- potálamo-hipófise-gonadal por meio de alças de feedback. A inibição do eixo promove uma redução na liberação dos fatores gonadotróficos (hormônios foliculoestimulante e luteinizante [FSH e LH]). Dessa forma, a ausência do pico de LH impede a ovulação. Há ainda outros mecanismos envolvidos na sua ação contraceptiva como, por exemplo, a alteração do muco cervical, tornando-o mais viscoso, o que di- ficulta a passagem dos espermatozoides. Provoca também atrofia endometrial, dificultando a implan- tação do embrião (nidação). Além do mais, altera a contratilidade tubária, dificultando o deslocamento do gameta feminino pelos segmentos da tuba uteri- na. Portanto, a alternativa correta é a letra E. ✔✔ resposta: ⮪ Questão 10 (FACULDADE DE CIÊNCIAS MÉDICAS DA UNICAMP – 2017) Mulher, 18 anos de idade, assintomática, comparece à Uni- dade Básica de Saúde (UBS) para aconselhamento contraceptivo. Iniciou atividade sexual aos 14 anos de idade e já teve 5 parceiros. Nunca engravidou e relata última menstruação há 20 dias. Refere que já Ginecologia-1.indb 50 19/12/2019 10:32:31 Planejamento familiar Cap. 2 51 B lo co A tentou diversas vezes usar a pílula anticoncepcional, mas “não se dá bem com ela”, tem muitas náuseas quando a usa e sempre esquece de consumir um ou dois comprimidos por mês. Manifesta o desejo de utilizar o dispositivo intrauterino (DIU) de cobre. Seu exame físico não apresentou alterações. Deve-se orientar a paciente a: ⮦⮦ Uso de acetato de medroxiprogesterona de de- pósito trimestral e de preservativo para prevenir doenças sexualmente transmissíveis. ⮦⮧ Uso do DIU, solicitar ultrassonografia transvagi- nal para avaliar anatomia uterina e emprego de preservativo até a nova avaliação. ⮦⮨ Uso de preservativo, riscos de doenças sexual- mente transmissíveis e reavaliá-la após dois meses. ⮦⮩ Retornar menstruada à consulta para inserção do DIU e manter uso de preservativo em todas as relações para prevenir doenças sexualmente transmissíveis. dificuldade: ✔Y Dica do autor: No enunciado informa-se que ela não se adaptou ao uso do anticoncepcional oral de- vido às náuseas. Além disso, a paciente manifesta o desejo de utilizar o DIU. Lembremos que a esco- lha do método contraceptivo deve ser uma decisão conjunta entre médico e paciente, de modo que o DIU é uma opção excelente para essa paciente, já que não precisará lembrar de utilizar o método dia- riamente. Apesar de alguns problemas estruturais uterinos (p. ex., miomas submucosos volumosos) sejam contraindicações, a ultrassonografia vagi- nal NÃO É ROTINA antes de colocar o DIU. O uso da medroxiprogesterona não é a melhor opção, pelo simples fato de a paciente querer usar o DIU, e não existem contraindicações para ela, ao que parece. Além disso, o uso de preservativos deve ser sempre recomendado para evitar DST, mas não como méto- do isolado para contracepção. ✔✔ resposta: ⮩ Ginecologia-1.indb 51 19/12/2019 10:32:31 Fixe seus conhecimentos! 52 FIXE SEU CONHECIMENTO COM RESUMOS Use esse espaço para fazer resumos e fixar seu conhecimento! ___________________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________________________________ Ginecologia-1.indb 52 19/12/2019 10:32:31 31 B lo co A Capítulo 1PRÉ-OPERATÓRIO DO QUE VOCÊ PRECISA SABER? u É importante conhecer as escalas utilizadas no pré-operatório, principalmente o ASA. u Pacientes coronarianos que não toleram METS ≥ 4 são considerados alto risco cardiovascular; desse modo, necessitam de investigação complementar. u O mais importante dos “riscos” é o risco cardiovascular: • METS ≥ 4 + fatores de risco → exame de estresse. • METS < 4 + fatores de risco → ponderar angiotomografia coronariana ou outro exame complementar. u Quais medicamentos devem ser suspensos? Quais podem ser mantidos? Dê uma olhada em nossa tabela! u Atenção especial para os cuidados nutricionais. u Lembrar que o sinal mais importante para desnutrição é a perda ponderal não intencional de 5% do peso em 1 mês ou 10% em 6 meses. u Via aérea difícil? Dê uma lida na classificação de Mallampati. u Os Mallampati III e IV apontam para Via Aérea Difícil. u E, por último, tem que saber sobre profilaxia antimicrobiana e de tromboembolismo venoso. Quando falamos em cuidados pré-operatórios, falamos da atenção ao paciente em programação cirúrgica. Isso envolve uma adequada e detalhada avaliação do paciente como um todo, buscando otimizar seu estado geral, reconhecer e controlar suas comorbidades, identificar e estratificar seus riscos clínicos e cirúrgicos e estabelecer medidas profiláticas, para então compor um plano de cuidados pré-operatórios completo. Dos cuidados pré-operatórios, participam diversos médicos, além do cirurgião: o clínico generalista, o anestesiologista e especialistas conforme neces- sidade, de acordo com o perfil do paciente e sua cirurgia. Além de médicos, o cuidado é multidisci- plinar, e pode lançar mão ainda de: nutricionistas, educadores físicos e fisioterapeutas. Nesta apostila, falaremos sobre os temas mais relevantes para a sua preparação para a prova de residência médica, no que tange aos Cuidados Pré- -Operatórios. 1. CAPACIDADE FUNCIONAL E STATUS PERFORMANCE Um dos passos mais importantes ao lidar com o paciente pré-cirúrgico é a avaliação de sua capaci- dade funcional, refletida no que o paciente desem- penha no dia a dia, ou então no quão comprometidas estão as atividades básicas do paciente. 2. METS O termo METS é uma sigla em inglês, referente ao Equivalente Metabólico tolerado pelo paciente. É uma Pré-operatório Capítulo 1 32 forma de quantificar a tolerância do paciente em estresse e demanda energética/metabólica (atra- vés da estimativa do consumo de oxigênio/kg/min), sendo avaliado a partir das atividades diárias do paciente, no intuito de inferir sua capacidade fun- cional habitual. Como avaliamos esses METS? Tabela 1. Atividades diárias e seus equivalentes metabólicos. Atividade METS Caminhar uma quadra ou duas no plano? 2.5 Fazer trabalhos leves em casa, como juntar o lixo ou lavar a louça? 2.5 Fazer trabalhos moderados em casa, como passar o aspirador de pó, varrer o chão ou guardar/carregar mantimentos? 3.5 Fazer trabalhos no jardim/quintal, como usar o rastelo, juntar folhas ou usar a máquina de cortar grama? 4.5 Subir um lance de escadas ou caminhar em uma subida? 5.5 Participar de atividades esportivas, como natação, ou tênis individual, ou futebol? 7.5 Fazer trabalhos pesados em casa, como esfregar/lavar o piso, ou levantar ou deslocar móveis pesados? 8 Correr uma distância curta? 8 Fonte: Gualandro.1 Uma cirurgia sob anestesia geral exige, no mínimo, 4 METS. Um paciente que tolere 4 METS tem melhor prognóstico coronariano, e essa é uma das melho- res formas de avaliar o paciente do ponto de vista cardiovascular. Esse paciente só necessitará de avaliação especializada caso outro dado aponte para um risco elevado cardiovascular (como IAM prévio, por exemplo). Já os pacientes que não toleram 4 METS são consi- derados de alto risco cardiovascular e devem pas- sar por avaliação especializada (teste ergométrico, outro teste sob estresse miocárdico ou até mesmo estratificação invasiva do risco). 3. KARNOFSKY A escala de Karnofsky, por sua vez, avalia o paciente em seu Performance Status. No entanto, ela avalia não numa situação de demanda energética, como no METS, mas sim o quão comprometido está o estado basal do paciente. Tabela 2. Escala de Karnofsky. Porcentagem Descrição das atividades 100% Normal sem doença 90% Normal, com poucos sintomas da doença 80% Normal, com algumas dificuldades pela doença 70% Capaz de autocuidado, mas incapaz de atividade normal ou trabalho 60% Autocuidado pouco dependente de ajuda 50% Ajuda frequentemente necessitada e atenção médica frequente 40% Incapaz, necessita de cuidados especiais 30% Gravemente incapaz, necessitando de hospitalização, mas sem risco de morte 20% Muito doente, necessita de hospitalização imediata para suporte ou tratamento 10% Moribundo, rápida progressão óbito 0% Óbito Fonte: Adaptada pelo autor. A tabela parte de 100% no paciente normal, e vai decrescendo a partir do quão comprometido o paciente está. Os pontos-chave da tabela são: X Até 70%, o paciente tem capacidade de autocuidado. X entre 40 e 60%, ele tem necessidade de auxílio de cuidadores. X Entre 20 e 30%, o paciente necessita de cuidados hospitalares. Pré-operatório Cap. 1 33 B lo co A 4. ASA A classificação da American Society of Anesthesio- logists gradua e estratifica o paciente em ASA I a VI, de acordo com seu estado físico e comorbidades. Tabela 3. Classificação de ASA. Classificação de ASA I Paciente hígido Sem comorbidades, não tabagista, não etilista. II Doença sistêmica leve Doença sistêmica leve sem limitação funcional. Tabagista ativo, etilismo social, gestação, obesidade grau l e ll, diabetes controlado, HAS controlada III Doença sistêmica grave Doença sistêmica grave com limitação funcional. Diabetes ou HAS não controlados, obesidade grave, marcapasso, Doença Renal Crônica não dialítica, DPOC, IAM e AVC há mais de 90 dias IV Doença sistêmica grave que é risco constante à vida IAM E AVC há menos de 90 dias, angina instável, disfunção valvar grave, sepse, Doença Renal Crônica dialítica V Moribundo, que não irá sobreviver sem a cirurgia Aneurisma aórtico roto, politrauma, hemorragia intracraniana com efeito de massa VI Morte encefálica Paciente que será submetido à cirurgia de captação de órgãos *E - Adicionar a letra E a cirurgias de urgência/emergência Fonte: Adaptada pelo autor. Essa classificação tem valor prognóstico (quanto MAIOR o ASA, PIOR o prognóstico e maior a mor- talidade) e também serve de norte aos cuidados pré-operatórios: um dos objetivos é o controle de comorbidades, com potencial melhora do ASA e, por conseguinte, melhora do prognóstico pré-operatório. Assim, temos que saber como fica o controle das principais comorbidades vistas no pré-operatório. 5. EXAMES COMPLEMENTARES Frequentemente solicitamos exames complementa- res no pré-operatório. Mas quais exames devem ser solicitados, de fato? De acordo com comorbidades, o paciente pode pre- cisar de exames específicos, assim como de acordo com sua idade e a cirurgia proposta – por exemplo: pacientes diabéticos devem receber avaliação da glicemia e hemoglobina glicada. Adultos > 45 anos devem receber avaliação hematimétrica, renal e eletrólitos.Cirurgias de grande porte se beneficiam de avaliação de coagulograma. Os exames mais solicitados em pré-operatório, “de rotina”, são: Quadro 1. Exames pré-operatórios mais frequentes. Exames pré-operatórios mais frequentes Hemograma completo Ureia e Creatinina Sódio e Potássio Glicemia de Jejum Coagulograma Radiografia de tórax Eletrocardiograma Fonte: Adaptada pelo autor. Esses exames servem para nortear alguns cuidados com o paciente e, sobretudo, como ponto de partida para a avaliação complementar pós-cirúrgica do pa- ciente. São realizados na grande maioria das cirurgias de grande porte em adultos e de acordo com a ida- de do paciente. A idade a partir da qual se solicitam exames, e qual a combinação de exames a ser solici- tado por idade, varia na literatura. De acordo com as Diretrizes Brasileiras, e seguindo a tendência da lite- ratura, a partir dos 40 anos passamos a pedir exames complementares aos pacientes em pré-operatório. FLASHCARDS Quais os exames pré-operatórios necessários para um paciente < 40 anos, ASA I, a ser operado de hér- nia inguinal? NENHUM! Pré-operatório Capítulo 1 34 Dessa forma, uma das informações mais importantes que tiramos aqui é que, em pacientes < 40 anos, ASA 1, não há necessidade de se solicitar nenhum exame complementar (salvo se a cirurgia em si o demandar). Outros exames, como ecocardiograma, teste de esforço e outros mais, só são solicitados na pre- sença de alteração clínica ou comorbidade que o justifiquem. 6. COMORBIDADES 6.1. HIPERTENSÃO ARTERIAL Quando não controlada, aumenta a incidência de complicações cardíacas, neurológicas e renais (exem- plos: edema agudo de pulmão, AVC e injúria renal aguda). Portanto, seu controle é importante! O alvo pressórico é que é controverso. O ideal é um controle ótimo da pressão arterial, para níveis normais. Entretanto, para pacientes demasia- damente descontrolados (vamos supor, sustentando níveis pressóricos de cerca de 210 x 160 mmHg), tolera-se níveis não ideais, de até 160 x 110 mmHg. Para estes pacientes, devemos solicitar eletrocardio- grama, função renal e eletrólitos no pré-operatório. DICA Pegou a dica? O ideal é controlar a pressão para níveis normais, mas em caso de hipertensão. Hipertensão muito descontrolada prévia, tolera-se controle não ideal de até 160 x 110mmHg. 6.2. INSUFICIÊNCIA CARDÍACA A insuficiência cardíaca deve estar em seu melhor controle possível, segundo os parâmetros clínicos da New York Heart Association. O ecocardiograma será útil para caracterizar e quantificar as disfunções de câmaras e válvulas, e medir o débito cardíaco. A presença de insuficiência cardíaca por si só con- figura alto risco cardiovascular, sobretudo se na presença de disfunção valvar importante – assim, é importante atentar e procurar uma doença corona- riana associada. A presença de insuficiência cardíaca classe funcional lV, em cirurgias eletivas, é respon- sável por adiar o procedimento cirúrgico. 6.3. CORONARIOPATIAS São, naturalmente, doenças de alto risco cardio- vascular. A presença de uma coronariopatia clínica já conhecida motiva avaliação especializada no pré-operatório, com cardiologista, que realizará investigação complementar. De acordo com sua avaliação clínica e complementar, o cardiologista inicialmente irá estratificar o risco cardiovascular coronariano do paciente e, após isso, propor uma estratégia de controle e otimização do quadro. Essa estratégia pode envolver desde medidas medicamen- tosas simples até angioplastia ou revascularização cirúrgica do miocárdio. Os pacientes com angina estável devem ter sua ava- liação clínica com METS realizada e, se necessário, exames complementares. A terapia prévia condicio- na-se ao estado coronariano do paciente e pode ser clínica-medicamentosa ou mesmo intervencionista/ cirúrgica. Pacientes com angina instável são de muito alto risco cardiovascular e, a princípio, só devem ser operados em situações de exceção ou emergência. Caso contrário, é de suma importância seu controle coronariano prévio (angioplastia/revascularização). Os pacientes com IAM recente têm que ser avaliados quanto a terem ou não recebido anteriormente a terapia de revascularização. Após revascularizados, funcionam como o paciente da angina estável. É digno de nota, porém, que, após o infarto, dependendo do cenário, pode-se operar tão precoce quanto em 30 dias, mas o ideal é aguardar-se pelo menos 6 meses (e vale lembrar que esse paciente muito provavelmente estará em uso de dupla antiagregação plaquetária com AAS + clopidogrel). O pulo do gato, aqui, porém, é identificar o paciente sem diagnóstico prévio, oligossintomático ou sob risco coronariano: leia o enunciado em busca da descrição de sintomas anginosos, IAM prévio rela- tado direta ou indiretamente ou aquele traçado de sequela de IAM prévio no ECG. Todos esses pacien- tes, assim como aqueles que tolerem menos que 4 METS, deverão passar por avaliação com especialista Pré-operatório Cap. 1 35 B lo co A e investigação complementar: ecocardiograma de estresse, cintiolografia miocárdica, angiotomografia coronariana ou cineangiocoronariografia. 6.4. ARRITMIAS Pacientes com bradiarritmias devem ter uma estra- tégia de manejo claro da frequência cardíaca, com atropina a postos se necessário, à cirurgia. Pode ser necessário o uso de marcapasso transcutâneo ou transvenoso. Pacientes com taquiarritmias devem estar em uso correto das drogas que suprimem ou controlam a frequência cardíaca. Nas ditas arritmias de alto grau, com destaque para os bloqueios atrioventriculares, há um alto risco cardiovascular associado. 6.5. DPOC A Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica é uma comor- bidade grave e de importância pré-operatória. O paciente deve ser estimulado a cessar o tabagismo, caso ainda seja tabagista ativo. A avaliação pelo pneumologista se torna necessária e é complemen- tada por uma espirometria. FLASHCARDS Nos pacientes portadores de DPOC, o que caracteri- za seu alto risco cirúrgico? Gold III e IV. Pacientes Gold I e II em geral são candidatos à maioria das cirurgias. Mas os pacientes Gold III e IV são de alto risco respiratório e deve ser ponderado o risco vs. benefício cirúrgico. Buscando-se evitar complicações no pós-operatório (exacerbação de doença/pneumonia/broncosco- pasmo), pode-se lançar mão de terapia inalatória pré-operatória com B2 agonista de longa duração, ipratróprio e/ou corticoide inalatório, associada ou não à ventilação não invasiva no pós-operatório (desde que não haja contraindicação cirúrgica). A fisioterapia respiratória é também importante, tanto no pré quanto no pós-operatório. 6.6. ASMA A Asma também deve estar em um controle adequado para se realizar uma cirurgia eletiva. Esses pacien- tes se beneficiam de uma terapia inalatória pré e pós-operatória com B2 agonista de longa duração e corticoide inalatório. 6.7. DIABETES MELITO Doença EXTREMAMENTE prevalente na nossa popula- ção e nos enunciados de questão. Traz risco aumen- tado de eventos desfavoráveis no pós-operatório, sejam eles cardiovasculares, renais ou neurológicos, além dos propriamente endócrinos e cirúrgicos. É importante o controle da doença no pré-operatório. Deve-se dosar a glicemia de jejum e hemoglobina glicada no pré-operatório. Assim como na hiperten- são, o controle ideal a níveis normais de glicemia e hemoglobina glicada pode não ser alcançado, tolerando-se limites de glicemia de jejum até 130 e hemoglobina glicada até 7,0. Para estes pacientes, devemos solicitar eletrocardio- grama, hemograma, glicose, função renal e eletrólitos no pré-operatório. 6.8. RISCO CARDIOVASCULAR O mais importante dos “riscos” pré-operatórios é a avaliação de risco cardiovascular. Existem escores e classificações para tal, como Goldman, que você, felizmente, não precisa decorar. O risco cardiovascular refere-se à tentativa de iden- tificar fatores de risco para a ocorrência de eventos cardiovascularesmaiores no pós-operatório, como a síndrome coronariana aguda e, a partir daí, pros- segue-se à investigação ou terapia cardiovascular no pré-operatório. Tabela 4. Principais achados de alto risco cardiovascular. Alto risco cardiovascular IAM recente (<60 dias) Angina instável Pré-operatório Capítulo 1 36 Alto risco cardiovascular Arritmias de alto grau Doença valvar hemodinamicamente relevante METS <4 Fonte: Gualandro.1 Encontrou um paciente com alto risco cardiovascular no enunciado? Fique tranquilo. Esse paciente deve receber AAS e sinvastatina. Se ele tolera 4 METS, mas tem fatores de risco, deve ser submetido a um teste de esforço. Se ele não tolera esses 4 METS e tem fatores de risco, deve-se realizar teste com stress farmacológico. Além disso, pode ser necessário um exame mais profundo e específico, como angiotomo- grafia coronária ou cineangiocoronariografia. 7. TRANSFUSÃO DE HEMOCOMPONENTES Deve-se transfundir concentrado de hemácias no pré-operatório pacientes com anemias significativas, com hemoglobina < 7,0, no geral. Transfunde-se mais precocemente a Hb < 9,0, casos específicos, como coronariopatas ou cirurgias de alto risco específico de sangramento. Quanto às plaquetas, utiliza-se o limiar de 50.000 para uma cirurgia eletiva, e plaquetopenias inferiores a esse valor, devem ser corrigidas. Para as cirurgias oftalmológicas e neurocirurgia, deve-se utilizar o valor de 100.000 plaquetas como ponto de corte. Por fim, uma coagulopatia manifestada ao laboratório com RNI alargado > 1,5, deve também ser corrigida. A correção é feita com transfusão de Plasma Fresco Congelado. Se em tempo hábil, a injeção de Vitamina K por 3 dias pode corrigir o problema e, assim, eco- nomizar a necessidade do plasma. 8. MEDICAMENTOS NO PRÉ-OPERATÓRIO A regra, no geral, vai ser MANTER as medicações. Vamos nos dedicar aqui então às medicações que devem ser ajustadas, substituídas ou suspensas. 8.1. BETABLOQUEADORES São drogas cardioprotetoras e devem sempre ser mantidas. Sua suspensão acarreta aumento de even- tos cardiovasculares pós-cirúrgicos. Em coronario- patas, caso não haja uso prévio da medicação, essa deve ser introduzida cerca de 1 semana antes do procedimento, com o mesmo intuito cardioprotetor. 8.2. ANTI-HIPERTENSIVOS Medicamentos anti-hipertensivos, como inibidores da ECA, devem ser continuados, sem alterações em seu plano de uso. 8.3. ESTATINAS Da mesma forma que os anti-hipertensivos, as esta- tinas também devem ser continuadas sem alterações em seu plano de uso e introduzidas no paciente de alto risco cardiovascular. 8.4. ANTIAGREGANTES PLAQUETÁRIOS O AAS tem tendência a ser mantido, uma vez que o benefício de proteção cardiovascular vence o risco de sangramento promovido pela medicação. Entretanto, em casos de baixo risco cardiovascular e/ou alto risco de sangramento cirúrgico (como neurocirurgias ou cirurgias oftalmológicas), pode ser suspenso, por 7 dias antes da cirurgia. O clopidogrel, por sua vez, é rotineiramente suspenso, 5 dias antes do procedimento, assim como a dupla antiagregação plaquetária de AAS + clopidogrel, 7-10 dias antes. 8.5. ANTICOAGULANTES FLASHCARDS Quando suspender AAS antes de uma cirurgia? Apenas se alto risco de sangramento, 7 dias antes da cirurgia. A Varfarina é um potente anticoagulante e eleva muito o risco de sangramento intraoperatório. Para Pré-operatório Cap. 1 37 B lo co A reversão da anticoagulação pela Varfarina, quando necessário (como na impossibilidade de se aguardar a auto reversão pós-suspensão da droga), pode-se lançar mão de reposição de Vitamina K por 3 dias ou transfusão de plasma fresco congelado. Havendo tempo hábil, porém, a Varfarina é desconti- nuada pelo menos 5 dias antes do procedimento, e é necessário verificar o RNI num coagulograma. Nesse intervalo, o paciente é mantido sob anticoagulação com heparinização plena. As heparinas em uso terapêutico pleno, sejam elas não fracionadas ou de baixo peso molecular, são suspensas 12-24h antes do procedimento cirúrgico e reintroduzidas 12-24h após o procedimento. Por fim, os novos anticoagulantes orais, como a rivaroxabana (Xarelto®). Para os pacientes que uti- lizam os novos antiagregantes plaquetários, como a rivaroxabana, devem ser interrompidos 24 a 48 horas antes do procedimento. 8.6. CORTICOIDES SISTÊMICOS Os corticoides sistêmicos de uso crônico têm impor- tância relacionada à supressão suprarrenal induzida pela droga, expondo o paciente ao risco de insuficiên- cia suprarrenal no pós-operatório (na recuperação pós-operatória, o trauma cirúrgico exige do paciente elevação da produção de corticoide endógeno – se suprarrenal suprimida, fica o risco de insuficiência suprarrenal). Nesses casos, o corticoide sistêmico deve ser man- tido no pré-operatório, e sua dose deve ser elevada no intra e pós-operatório por pelo menos 48h. Uma estratégia nesse período é a administração do cor- ticoide venoso na forma de hidrocortisona. 8.7. ANTIDIABÉTICOS O uso de metformina eleva o risco de complicações renais no pós-operatório. Outros hipoglicemiantes orais elevam o risco de hipoglicemia, sem adequado controle da hiperglicemia. Dessa forma, os hipogli- cemiantes são suspensos e substituídos por insuli- noterapia, à internação. Em geral, a substituição por insulina regular/rápida “de resgate” (ou seja, apenas de acordo com a gli- cemia capilar seriada) é suficiente. Pacientes que, por sua vez, já utilizam insulinoterapia prévia, devem ser mantidos com insulina, porém em dose menor: metade a dois terços da original. 8.8. LEVOTIROXINA A levotiroxina deve ser mantida sempre. Sua des- continuação está relacionada a maior ocorrência de eventos desfavoráveis, como íleo metabólico, no pós-operatório. Quadro 2. Medicações no pré-operatório. Medicação Manejo Antidiabéticos orais Substituir por insulina rápida Insulina intermediária prévia Substituir por insulina rápida + intermediária Betabloqueadores Manter AAS Manter OU Suspender 7 dias antes AAS + clopidogrel Suspender 7-10 dias antes, sempre Estatinas Manter Varfarina Suspender 5-7 dias Heparina terapêutica Suspender 12-24h Corticoides Manter + dose extra na indução e por 48h Levotiroxina Manter Anti-hipertensivos Manter Fonte: Autor. 9. CUIDADOS NUTRICIONAIS Talvez uma das medidas mais importantes no pré- -operatório seja a adequada avaliação nutricional seguida de reabilitação nutricional, quando neces- sário. Pré-operatório Capítulo 1 38 Infelizmente, a prevalência de desnutrição no pré- -operatório é altíssima: 25% dos casos. O paciente desnutrido está sujeito a risco elevado de diversas complicações, tais como: infecção de sítio cirúrgico, infecções de outros sítios, úlcera de decúbito, deis- cência de feridas, fístulas digestivas, entre outras. 9.1. AVALIAÇÃO DO ESTADO NUTRICIONAL A avaliação do estado nutricional do paciente é feita a partir de uma história clínica completa e exame físico minucioso. Existe um modelo de avaliação, chamado Avaliação Subjetiva Global (Avaliação de Detsky), utilizado para isso. Avaliam-se os seguintes parâmetros: padrão de apetite e ingesta, sintomas gastrointestinais, capacidade funcional, estresse e demanda metabólica, associados a dados específi- cos de exame físico, como perda de gordura/massa muscular e edema de partes moles. Aponta para desnutrição pré-operatória a presença de dois ou mais dos sinais abaixo: Tabela 5. Sinais de desnutrição pré-operatória. Sinal Caracterização Perda ponderal > 10% em 6 meses, OU >5% em 1 mês Ingesta calórica insuficiente Subjetiva ou objetivamente (< 50% do ofertado) Perda de massa muscular Quadríceps e deltoides Perda de tecido subcutâneo Tríceps e tórax Piora do estado funcional Medida no handgrip (aperto de mão) IMC reduzido < 17 Edema de partes moles Sacral e perimaleolar Outros sinais Tireomegalia Úlceras de pressão Alopécia Glossite e queilite angular Fonte: Autor. DICA Fiqueatento: nas provas, sem sombra de dúvidas, o sinal mais importante para desnutrição é a PERDA PONDERAL não intencional, de 5% do peso em 1 mês, ou 10% em 6 meses. 9.2. REABILITAÇÃO NUTRICIONAL O paciente desnutrido deve ser submetido a uma reabilitação nutricional por pelo menos 10 a 14 dias no caso de doenças oncológicas e por 3 semanas no caso de doenças benignas, devendo ser ofer- tado 1,5 a 2,0 g/kg/dia de proteína na dieta. A dieta oferecida ao paciente pode ser plena ou mesmo hiperproteica e hipercalórica, mas fique tranqui- lo(a): a avaliação das necessidades nutricionais do paciente e cálculo da oferta não são foco das nossas provas. O mais importante é a determinação da via alimentar. 9.3. VIA ALIMENTAR A via preferencial sempre será a via oral. Alterna- tivamente, pode-se lançar de um dispositivo ou procedimento como via de administração de uma dieta enteral: cateter nasoentérico, gastrostomia ou jejunostomia alimentar. DICA Mas como escolher entre eles? Um paciente com via oral pérvia, boa aceitação da dieta oral e sem broncoaspiração recebe dieta oral balanceada, em volume satisfatório, associada a suplementos orais enriquecidos. O cateter nasoentérico tem caráter transitório, sendo utilizado como ponte a uma via alternativa definitiva cirúrgica ou até correção da causa da má aceitação da dieta. É muito utilizado no pré-operatório de pacientes que têm uma doença cirúrgica, causando impossibilidade alimentar (um tumor esofágico por exemplo), ou então em pacientes que aguardam uma gastrostomia definitiva. Tanto a gastrostomia quanto a jejunostomia ali- mentar são procedimentos cirúrgicos que permitem Pré-operatório Cap. 1 39 B lo co A realização de dieta enteral plena no paciente. A gastrostomia tem preferência sobre a jejunostomia, por ser mais fisiológica para o paciente, e é utilizada quando a via oral está indisponível (disfagia de tran- sição/broncoaspiração) ou há obstrução faríngea/ esofágica. A jejunostomia, por sua vez, é utilizada em casos obstrutivos gástricos. 9.3.1. E A DIETA PARENTERAL? Imagine que nenhuma via alimentar encontra-se adequadamente disponível, resultando em oferta oral ou entérica próxima de zero. Nesses casos, lança-se mão de nutrição parenteral, que é administrada num cateter venoso central. Quadro 3. Reabilitação nutricional no paciente desnutrido no pré-operatório. Conduta no paciente desnutrido no pré-operatório Reabilitação nutricional antes da cirurgia Via oral preferida Via entérica alternativa quando oral indisponível ou insuficiente Via parenteral alternativa quando oral e entérica indisponíveis ou insuficientes Fonte: Autor. 10. JEJUM PRÉ-OPERATÓRIO Ah, disso você já sabe né? Vai operar qualquer coisa: dieta oral zero, jejum, nada por boca, por 8-12h antes do procedimento, não é mesmo? Não! O jejum pré-operatório tem objetivo de trazer segu- rança à via aérea. Espera-se um tempo adequado para o esvaziamento gástrico máximo, de forma a minimizar o risco de broncoaspiração à indução anestésica e intubação. Mas será que o tempo de jejum pré-operatório necessário é o mesmo ao se beber um copo de água ou comer, digamos, um prato de feijoada? Tabela 6. Tempo de jejum pré-operatório. Consistência da ingesta Exemplo Tempo mínimo de jejum Líquidos claros Água, chá Duas horas Líquidos opacos/com resíduo Sucos, leite Quatro a seis horas Dieta sólida Carne, massas etc. Oito horas Fonte: Autor. Portanto, veja que é bem possível manter uma ingesta de líquidos claros até bem próximo do horário da cirurgia. Com isso, nós conseguimos tirar o paciente do “soro de manutenção” pré-operatório, usado nos jejuns prolongados. É possível manter o paciente sem soro e em jejum ao longo do período de espera cirúrgica e o manter hidratado com oferta calórica permitindo, até 2h antes da cirurgia, de água e xarope de maltodextrina por via oral – o que é o ideal, pois a hidratação venosa excessiva no paciente cirúrgico traz riscos: hiperidratação e congestão pulmonar, edema de extremidades e íleo adinâmico pós-ope- ratório. Em urgências abdominais, porém, não se deve aguardar um tempo de jejum pós-operatório. É uma urgência cirúrgica e o maior tempo de espera para a abordagem acarreta maior risco de agravamento do quadro; e, ainda que se aguardasse, não have- ria esvaziamento gástrico adequado, visto que em abdomes agudos há um mau esvaziamento gástrico. Nesses casos, o anestesista presume risco de bron- coaspiração e procede à estratégia de Intubação em Sequência Rápida. 11. VIA AÉREA DIFÍCIL Como detectar o risco de uma “Via Aérea Difícil”? Ou seja, uma via aérea com risco de falha de intubação orotraqueal? No pré-operatório pode-se identificar alguns dados que apontam para tal. O primeiro dado é a classificação de Mallampati, ao se inspecionar a orofaringe à oroscopia. Os Mallampati III e IV apontam para Via Aérea Difícil. Pré-operatório Capítulo 1 40 Tabela 7. Classificação de Mallampati. Mallampati O que você vê I palato mole, úvula, fauces e pilares amigdalianos visíveis; II palato mole, fauces e maior parte da úvula visíveis III palato mole, fauces e base da úvula visíveis IV Apenas palato duro visível Fonte: Autor. Também apontam para via aérea difícil outros dados clínicos, como: anquilose cervical, obesidade cervical anterior (“papo”), microstomia e abertura oral ina- dequada, alteração anatômica orofaríngea/glótica (como tumores). Tabela 8. Sinais de Via Aérea Difícil. Apontam para via aérea difícil Mallampati III e IV Anquilose cervical Microstomia (abertura oral menor que 3 dedos) Distancia do mento à flexura cervical menor que 3 dedos Fonte: Autor. 12. PROFILAXIA ANTIMICROBIANA A profilaxia antimicrobiana terá o papel de prevenir a infecção do sítio cirúrgico, seja ele superficial (como infecções de pele e subcutâneo) ou profundo (como coleções cavitárias). É importantíssimo destacar que o antimicrobiano profilático é utilizado por tempo reduzido, breve. Inicia-se sua administração 30-60 minutos antes da indução anestésica, já na sala cirúrgica. Repete-se a dose em caso de cirurgia prolongada, no intraopera- tório, de acordo com a meia-vida da droga. A partir daí, a critério do cirurgião, o antimicrobiano pode ser utilizado por até, no máximo, 24-48 horas, jus- tamente dado seu caráter profilático. FLASHCARDS O que é uma cirurgia limpa? É realizada em tecidos estéreis ou que podem sofrer descontaminação. Todavia, para se falar em antimicrobiano profilático na cirurgia deve-se primeiramente, classificar a cirurgia quanto à sua limpeza/contaminação – essa classifica- ção norteia a indicação e escolha do antimicrobiano. FLASHCARDS O que é uma cirurgia potencialmente contaminada? É aquela que viola um trato pouco colonizado. Consideramos uma cirurgia como limpa quando ela não viola nenhum trato colonizado do corpo. São bons exemplos dessas cirurgias as cirurgias de pele e de hérnias. Nesses casos, apenas se lida com a microbiota da pele, que sofreu adequada antissepsia. Em geral, nesses casos, não se usa antimicrobiano. Mas, se, como nas hérnias, houver uso de telas, lança-se mão de cefazolina ou cefalotina, cefalos- porinas de 1ª geração, que cobrem adequadamente a microbiota da pele. FLASHCARDS O que é uma cirurgia contaminada? Viola tratos altamente colonizados. Uma cirurgia potencialmente contaminada ou lim- pa-contaminada, por sua vez, é aquela em que se viola um trato pouco colonizado do corpo, de forma controlada, sem que haja grande contaminação do sítio cirúrgico. São exemplos: gastrectomias e colecistectomias. Nessas cirurgias, lança-se mão de cefazolina ou, a critério do cirurgião, uma droga que cubra mais especificamente a microbiota envolvida. No caso de cirurgias do tubo digestivo, a cefoxitina, uma cefalosoporina de 2ª geração, é uma ótima esco- lha. Vale ressaltar que, de acordo com o Sabiston, não é mais indicada a antibioticoprofilaxia obrigatória nas colecistectomias.FLASHCARDS O que é uma cirurgia infectada? É aquela em que há infecção do sítio cirúrgico decor- rente da doença inicial. Pré-operatório Cap. 1 41 B lo co A Já a cirurgia contaminada, por sua vez, é aquela que viola de forma não controlada tratos pouco coloni- zados, ou então controladamente tratos altamente colonizados, como em colectomias. Nesses casos, utilizamos drogas para cobrir de forma mais ou menos intensa a microbiota local envolvida. Para cirurgias digestivas, temos como opções a cefoxitina acima mencionada ou, mais especificamente, a associação de metronidazol a ceftriaxona ou a ciprofloxacino. As cirurgias infectadas não são difíceis de ser com- preendidas: são aquelas em que há infecção do sítio cirúrgico decorrente da doença inicial. Um bom exem- plo é a apendicite complicada com infecção adjacente, como um abscesso. O detalhe aqui é: não é profilaxia antimicrobiana, mas sim TERAPIA antimicrobiana. O antimicrobiano será escolhido de acordo com o foco infeccioso, e seu uso é prolongado. Para infecções do trato digestivo, lança-se mão de metronidazol associado à ceftriaxona ou ciprofloxacino. Tabela 9. Classificação das cirurgias quanto à contaminação/Antimicrobianos. Classificação Indicação Esquema Limpa Utiliza-se prótese/tela Cefazolina Limpa- -contaminada Utilizar sempre (obs.: colecistectomia pode não ser utilizada) Cefazolina OU Cefoxitina Contaminada Utilizar sempre Cefoxitina OU Metronidazol + Ceftriaxona/ Ciprofloxacino Infectada Utilizar em duração terapêutica Metronidazol + Ceftriaxona/ Ciprofloxacino Fonte: Autor. Outros sítios cirúrgicos têm suas peculiaridades. Por exemplo: as cirurgias do sistema nervoso central recebem sempre profilaxia antimicrobiana, ainda que limpas, pois uma eventual infecção é catastrófica. Cirurgias do trato genitourinário, por sua vez, lançam mão de quinolonoas com maior frequência, haja vista a microbiota local. Cirurgias da orofaringe, por fim, lançam mão de amoxicilina-clavulanato, que cobre adequadamente as populações de gram-positivos e anaeróbios locais. 13. PROFILAXIA DE TROMBOEMBOLISMO VENOSO Outra profilaxia realizada no período pré-operatório é a profilaxia medicamentosa de tromboembolismo venoso (TEV), que engloba a trombose venosa pro- funda (TVP) e o tromboembolismo pulmonar (TEP). DICA Como assim? No pré-operatório? Isso mesmo, a profilaxia do tromboembolismo ve- noso, quando indicada, deve ser iniciada ANTES da cirurgia. Isso porque, na fisiopatologia do TEV, o início da formação de trombos já se dá à indução anestésica, antes mesmo de a cirurgia começar. 13.1. ESTRATÉGIA MEDICAMENTOSA A profilaxia é feita com heparina de baixo peso molecular ou heparina não fracionada. As heparinas, quando em dose terapêutica, são suspensas 12-24h antes do procedimento, quando estavam em uso por outra indicação. Não confunda! No presente contexto, porém, ela é indicada, e iniciada no período de 12h antes do procedimento à indução anestésica, junto com o antimicrobiano profilático. Caso não seja pos- sível, por razões cirúrgicas ou anestésicas, inicia-se 12-24h após a cirurgia. 13.2. ESTRATÉGIA NÃO MEDICAMENTOSA A princípio, todo paciente cirúrgico merece a estra- tégia não medicamentosa básica, feita por uso de meias elásticas e deambulação precoce do paciente. Outras estratégias não medicamentosas estão indi- cadas em situações específicas: X Sistema de compressão pneumática intermitente de membros inferiores: utilizado quando há indi- cação de profilaxia medicamentosa do TEV, mas seu uso é impossibilitado por outra razão. Pré-operatório Capítulo 1 42 X Filtro de v. cava inferior: realidade utilizado pa- ra prevenir que um trombo venoso profundo de membros inferiores se transforme num TEP. 13.3. FATORES DE RISCO Existem escores e classificações para se estratificar o risco de uma TVP de acordo com o paciente, como o Escore de Caprini. Todos esses escores são maçantes e difíceis de decorar para a prova. O importante, para se estabelecer a profilaxia, é reconhecer quais são os principais fatores de risco para o tromboembo- lismo venoso. E, para a prova, os mais importantes são estão no Quadro 4. Quadro 4. Fatores de risco mais importantes para TEP/TVP, na prova. FATORES DE RISCO MAIS IMPORTANTES PARA TEP/TVP, na prova Idade > 60 anos Obesidade Doenças oncológicas Varizes de membros inferiores AVC prévio Imobilização no leito Fraturas de quadril e membros inferiores Fonte: Adaptado pelo autor. Se você identificar dois ou mais desses fatores no enunciado, o paciente merece profilaxia medica- mentosa de TEV. FLASHCARDS Quais são sintomas/sinais da TVP no pós-operatório? Edema unilateral de MI, frio e mole, com dor e em- pastamento de panturrilha. DICA Mas e se acontecer o tromboembolismo venoso que eu estou tentando prevenir? 13.4. TROMBOSE VENOSA PROFUNDA A trombose venosa profunda é uma complicação pós-operatória bastante frequente e subdiagnosti- cada. Manifesta-se por edema unilateral de membro inferior, frio e mole, com dor e empastamento de panturrilha. FLASHCARDS Qual a conduta após TVP no pós-operatório? Anticoagulação plena no hospital + anticoagulação oral domiciliar por 6 meses. O sinal de Homans pode estar presente: a dor na panturrilha à dorsiflexão do pé. Pensou em TVP, o diagnóstico será feito pelo exame de Ultrassom Doppler de membros inferiores. O tratamento é com anticoagulação plena (hepa- rinização plena) em ambiente hospitalar, seguido de anticoagulação oral domiciliar (varfarina), por 6 meses. O d-dímero estará elevado, mas de forma inespecífica, considerando que é usual sua elevação no pós-operatório. 13.5. TROMBOEMBOLISMO PULMONAR O tromboembolismo pulmonar é uma complicação pós-operatória temida, não tão frequente, mas tam- bém subdiagnosticada. Manifesta-se por dispneia, taquipneia e dor torácica, e pode haver ainda piora ventilatória, gasométrica, cardiovascular ou hemo- dinâmica. Sua investigação inicial é baseada na clínica, labo- ratório, eletrocardiograma e radiografia de tórax, que mostrarão: X Radiografia de tórax (opacidade em cunha do in- farto pulmonar) X Eletrocardiograma (sobrecarga de VD e padrão S1Q3T3) X Laboratório (D-Dímero alterado, embora altamen- te inespecífico) Também existe um escore para estratificar o risco de TEP: Pré-operatório Cap. 1 43 B lo co A Tabela 10. Escore de Wells. Escore de Wells – TEP Pontos TVP ou TEP prévios +1,5 Frequência cardíaca > 100 batimentos por min +1,5 Cirurgia recente ou imobilização +1,5 Sinais clínicos de TVP +3 Diagnóstico alternativo menos provável que TEP +3 Hemoptise +1 Câncer +1 Fonte: Wells.2 Não se preocupe em decorar os valores dos pontos da tabela, apenas se familiarize com ela e saiba que: um escore de Wells > 7 significa alta probabilidade de TEP/TVP. Um escore < 1 significa baixa probabilidade. E os escores intermediários 2-6 significam moderada possibilidade. FLASHCARDS Como interpretar o Escore de Wells para TEP? Escore de Wells > 7 = alta probabilidade Escore < 1 = baixa probabilidade. O diagnóstico do TEP é firmado por uma angiotomo- grafia de tórax em protocolo TEP. O tratamento é feito com anticoagulação plena, como a TVP. Entretanto, casos com repercussão hemodinâmica, grave, podem ser candidatos a fibrinólise medicamentosa. REFERÊNCIAS (IMAGENS E TABELAS) 1. Gualandro DM, Yu PC, Caramelli B, Marques AC, Calderaro D, Fornari LS, Pinho C, et al. 3ª Diretriz de Avaliação Cardiovas- cular Perioperatória da Sociedade Brasileira de Cardiologia. Arq Bras Cardiol. 2017; 109(3 – supl. 1): 1-104. 2. Wells PS, Anderson DR, Rodger M, Ginsberg JS, Kearon C, Gent M, et al. Derivation of a simple clinical model to categorize patients with a probability of pulmonary embolism: increa- sing the models utility with the SimpliRED D-dimer. Thromb Haemost 2000; 83: 416-20. Pré-operatório Capítulo 1 44 QUESTÕES COMENTADAS Questão 1 (COMISSÃO ESTADUAL DE RESIDÊNCIAMÉDICA DO AMAZONAS – 2013) Na avaliação pré-operatória de uma colecis- tectomia videolaparoscópica eletiva de um homem com 45 anos de idade, em que a anamnese e o exame físico não sugerem doença cardíaca isquêmica, insu- ficiência cardíaca, diabetes mellitus, aterosclerose generalizada ou doença renal crônica, sendo este homem capaz de subir dois andares sem sintomas, a conduta recomendada é: ⮦⮦ Liberar o procedimento. ⮦⮧ Solicitar teste ergométrico. ⮦⮨ Indicar cintilografia miocárdica. ⮦⮩ Realizar ecocardiograma transtorácico. ⮦⮪ Pedir ecocardiograma sob stress farmacológico. dificuldade: Resolução: Questão sobre preparo pré-operatório, especificamente de exames pré-operatórios. Ques- tão frequente nas provas de residência. Importante lembrarmos que, para pacientes com idade menor que 45 anos e sem comorbidades, não há necessi- dade de solicitar exames pré-operatórios. ✔✔ resposta: ⮦ Questão 2 (FUNDAÇÃO JOÃO GOULART – HOSPITAIS MUNICIPAIS – 2017) De acordo com a Sociedade Americana de Anestesio- logia (ASA), o tempo de jejum que o paciente deve manter antes de um procedimento cirúrgico é de: ⮦⮦ 6 horas para sólidos e 2 horas para líquidos claros ⮦⮧ 8 horas para sólidos e 4 horas para líquidos claros ⮦⮨ 6 horas para líquidos e/ou sólidos ⮦⮩ 8 horas para líquidos e/ou sólidos dificuldade: Resolução: O jejum pré-operatório varia de acordo com o alimento ingerido, e cada vez mais, principal- mente após o desenvolvimento do projeto ACERTO (aceleração da recuperação total pós-operatória), vem diminuindo o tempo de jejum dos alimentos ingeridos. Para líquidos claros preconiza-se o jejum de 2 horas. Para leite materno preconiza-se o jejum de 4 horas. Para o leite não materno preconiza-se o jejum de 6 horas. Para os alimentos sólidos pre- coniza-se o jejum de 6 a 8 horas. ✔✔ resposta: ⮦ Questão 3 (HOSPITAL ORTOPÉDICO DE GOIÂNIA – 2017) Com relação ao uso de medicamentos no pré-operatório de uma cirurgia eletiva, assinale a alternativa INCORRETA. ⮦⮦ Anticoagulantes orais, como o Clopidogrel, devem ter seu uso interrompido aproximadamente de 5 a 7 dias antes da cirurgia eletiva. ⮦⮧ Hormônios tireoidianos não necessitam ter seu uso interrompido no pré-operatório. ⮦⮨ Medicamentos de uso contínuo, como benzodia- zepínicos e antidepressivos em geral, não ne- cessitam ser descontinuados no pré-operatório. ⮦⮩ Alguns autores recomendam suspender a Metfor- mina 48 horas antes de procedimentos cirúrgicos eletivos devido ao risco de acidose lática. ⮦⮪ Corticoides devem ter seu uso interrompido 24 horas antes de cirurgias eletivas. Pré-operatório Cap. 1 45 B lo co A dificuldade: ✔Y Dica do autor: A suspensão de medicações no pe- ríodo pré-operatório varia de acordo com o fármaco utilizado pelo paciente e sua ação. Alternativa A: CORRETA. O clopidogrel, que é um inibi- dor do ADP, geralmente é suspenso 5 a 7 dias antes do procedimento cirúrgico, tempo necessário para término de sua ação residual no organismo, sem ex- por o paciente a risco aumentado de sangramento. Alternativa B: CORRETA. Hormônios tireoidianos não ne- cessitam ser suspensos no período pré-operatório. Alternativa C: CORRETA. Anticonvulsivantes, antidepres- sivos e psicotrópicos em geral não necessitam de suspensão pré-operatória também. Alternativa D: CORRETA. A metformina geralmente é suspensa no dia da cirurgia, porém, devido ao risco de acidemia lática, a medicação pode ser suspensa antes, com uso de insulina regular conforme dextro, se necessário. Alternativa E: INCORRETA. Pacientes usuários crônicos de corticoide não podem suspender a medicação no pré-operatório, devido ao risco de desenvolvimento de insuficiência adrenal. Na verdade, estes pacientes devem receber suplementação de corticoide devido ao uso deste hormônio na resposta metabólica ao trauma. Usualmente, realiza-se infusão de 100 mg de hidrocortisona E.V na indução anestésica, seguido de 50 mg de 8/8 horas por 48 a 72 horas após a cirurgia. ✔✔ resposta: ⮪ Questão 4 (HOSPITAL REGIONAL DE MS – ROSA PEDROSSIAN – 2017) Homem asiático saudável, de 18 anos, tem programada uma cirurgia no joelho. Quais tipos de exames pré-ope- ratórios são mandatórios para esse tipo de pacien- te e cirurgia? ⮦⮦ Somente hemograma. ⮦⮧ Hemograma e coagulograma. ⮦⮨ Hemograma, coagulograma e eletrocardiograma. ⮦⮩ Somente eletrocardiograma. ⮦⮪ Não há necessidade de exames laboratoriais. dificuldade: Resolução: Questão sobre preparo pré-operatório, especificamente de exames pré-operatórios. Ques- tão frequente nas provas de residência. Importante lembrarmos que, para pacientes com idade menor que 45 anos e sem comorbidades, não há necessi- dade de solicitar exames pré-operatórios. ✔✔ resposta: ⮪ Questão 5 (SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DE BELO HORIZONTE – 2017) Assi- nale a alternativa que apresenta o procedimento em que a antibioticoprofilaxia é questionável (podendo NÃO ser realizada). ⮦⮦ Operações para tratamento da obesidade mór- bida em paciente com supressão ácida gástrica por inibidor de bomba de prótons. ⮦⮧ Colecistectomia laparoscópica eletiva em pacien- te de 50 anos, portador de múltiplos cálculos na vesícula biliar. ⮦⮨ Cirurgia para correção de hérnia incisional eletiva, com uso de tela protética de marlex. ⮦⮩ Colectomia segmentar e anastomose primária, em paciente portador de adenocarcinoma colônico. dificuldade: ✔Y Dica do autor: A antibioticoprofilaxia é realizada nas cirurgias limpas com uso de prótese, nas cirurgias limpa-contaminadas e nas cirurgias contaminadas. Alternativa A: INCORRETA. Cirurgia bariátrica é conside- rada uma cirurgia limpa-contaminada, devendo ser realizada antibioticoprofilaxia. Alternativa B: CORRETA. A colecistectomia videolaparos- cópica é considerada uma cirurgia limpa-contamina- da, devido à penetração do trato gastrointestinal de forma controlada. Toda cirurgia limpa-contaminada deve receber antibioticoprofilaxia, exceto a colecis- tectomia videolaparoscópica, de acordo com a edi- ção mais atual do Sabiston. Alternativa C: INCORRETA. Herniorrafia incisional é con- siderada uma cirurgia limpa e, quando há colocação de prótese, deve-se realizar antibioticoprofilaxia. Pré-operatório Capítulo 1 46 Alternativa D: INCORRETA. Colectomia eletiva também é considerada cirurgia limpa-contaminada, devendo ser realizada antibioticoprofilaxia. ✔✔ resposta: ⮧ Questão 6 (SECRETARIA ESTADUAL DE SAÚDE DO ESTADO DE PERNAMBUCO – 2017) Qual das condutas abaixo NÃO está de acordo com o projeto ACERTO (Aceleração da Recuperação Total Pós-operatória)? ⮦⮦ Jejum pré-operatório curto. ⮦⮧ Uso restrito de antieméticos, diminuindo efeitos colaterais. ⮦⮨ Uso restrito de drenos e sondas. ⮦⮩ Redução de fluidos intravenosos. ⮦⮪ Nutrição pré-operatória por 10-14 dias, se ne- cessário. dificuldade: Resolução: As principais medidas no projeto ACERTO são: Terapia nutricional perioperatória; Redução de fluidos endovenosos; Analgesia pós-operatória; Profilaxia e controle de vômitos pós-operatórios; Abreviação do jejum pré-operatório; Realimentação precoce no pós-operatório; Informação pré-ope- ratória; Evidência para uso de drenos e sondas em cirurgias; Deambulação precoce no pós-operatório; Abolição do preparo mecânico de rotina de cólon; Uso racional de antibióticos em cirurgia. A única que não é uma recomendação é a Alternativa B. ✔✔ resposta: ⮧ Questão 7 (ASSOCIAÇÃO MÉDICA DO RIO GRANDE DO SUL – 2018) Paciente feminina, 45 anos, foi diagnosticada com hérnia ingui- nal esquerda. É hipertensa e diabética. Quais os exa- mes que devem constar na avaliação pré-operatória? ⮦⮦ Coagulograma, ureia e colesterol total e frações. ⮦⮧ Hemograma, bilirrubina e glicemia. ⮦⮨ Coagulograma, ureia e triglicerídeos. ⮦⮩ Hemograma, tempo de protrombina e potássio. ⮦⮪ Hemograma, creatinina e glicemia. dificuldade: Resolução: De acordo com a referência utilizada pelo concurso (Sabiston 19ª edição), os exames que devem ser realizados para uma mulher de 45 anos, quetem como comorbidades hipertensão e diabetes, devem ser: Hemograma, glicemia, função renal, eletrólitos e ECG. Assim, a opção E contempla exames desta lista. É valido lembrar que indivíduos saudáveis, com menos de 45 anos, submetidos a uma cirurgia de pequeno porte, podem ser encaminhados para a cirurgia apenas com avaliação clínica. ✔✔ resposta: ⮪ Questão 8 (HOSPITAL NACIONAL DO CÂNCER – 2018) Um paciente de 63 anos, submetido a uma angioplastia com stent far- macológico há 2 semanas, passa por uma consulta pré-operatória para orientações sobre a realização de uma herniorrafia inguinal eletiva (sem sinais de estrangulamento ou encarceramento). Encontra-se em uso de AAS e Clopidogrel. Qual é a recomendação que deve ser dada ao paciente nesse caso? ⮦⮦ Adiar a cirurgia até completar pelo menos 30 dias do procedimento e suspender apenas o AAS an- tes da cirurgia. ⮦⮧ Salientar que não há risco aumentado de inter- venção cirúrgica, contanto que sejam mantidas as duas medicações. ⮦⮨ Adiar a cirurgia até completar um ano da coloca- ção do stent farmacológico. ⮦⮩ Realizar a cirurgia após 180 dias do procedimento e suspender ambas as drogas antes da cirurgia. dificuldade: ✔Y Dica do autor: Questão sobre recomendações em cirurgia após colocação de stent farmacológico. Te- mos um paciente idoso que foi submetido há 2 se- manas a uma angioplastia com colocação de stent. Apresenta-se com uma hérnia inguinal sem sinais de encarceramento ou estrangulamento. O tempo de abordagem cirúrgica pode variar de 1 ano (prin- cipalmente stent farmacológico) a 30 dias após a colocação do stent. Entretanto, pode-se acertar a questão atentando-se para o tempo de suspensão dos medicamentos. Pré-operatório Cap. 1 47 B lo co A Alternativa A: INCORRETA. Deve-se suspender o Clopi- dogrel por 5 dias antes de cirurgia. Alternativa B: INCORRETA. Além de haver risco aumentado de sangramento, deve-se suspender o Clopidogrel 5 dias antes da intervenção cirúrgica. Alternativa C: CORRETA. Há a necessidade de aguardar 1 ano após a colocação do stent farmacológico. Alternativa D: INCORRETA. Não há necessidade de sus- penção do AAS. ✔✔ resposta: ⮨ Fixe seus conhecimentos! 48 FIXE SEU CONHECIMENTO COM FLUXOGRAMAS Use esse espaço para construir fluxogramas e fixar seu conhecimento! FIXE SEU CONHECIMENTO COM MAPAS MENTAIS Use esse espaço para construir mapas mentais e fixar seu conhecimento! 49 B lo co A Capítulo 2PRINCÍPIOS DA ANESTESIA DO QUE VOCÊ PRECISA SABER? u Na anestesia geral, o paciente, por estar em um estado de inconsciência reversível, perde a capacidade de respirar espontaneamente, sendo necessária intubação ou suporte ventilatório. É dividida em três fases: indução, manutenção e recuperação. u Na anestesia raquidiana, é injetado conteúdo anestésico no espaço subaracnoide, através de uma pun- ção lombar, gerando um bloqueio que se estende caudal à altura realizada. Já na anestesia peridural, é injetado conteúdo anestésico no espaço extradural. u Nos bloqueios regionais, o objetivo é causar analgesia apenas na área inervada pelo nervo em questão. u Os anestésicos locais são usados em diversas pequenas cirurgias, suturas e procedimentos percutâneos, após injeção tecidual. A eficácia deles depende do volume, concentração, solubilidade lipídica e pKa. O advento da anestesia revolucionou o mundo da cirurgia. No princípio, eram utilizados líquidos voláteis, como éter e clorofórmio, para alcançar: inconsciência, ausência de reflexos, analgesia, rela- xamento muscular e amnésia. Nos dias de hoje existem diversas drogas que podem ser combina- das de diferentes formas e em diferentes vias de infusão para alcançar a anestesia. A decisão de qual medicamento e técnica utilizar leva em conta as condições do paciente e qual o procedimento cirúrgico a ser feito. 1. TIPOS DE ANESTESIA 1.1. ANESTESIA GERAL Estado reversível de inconsciência que pode ser alcançado com medicações inalatórias ou venosas. O paciente perde a capacidade de respirar espon- taneamente, sendo necessário suporte ventilatório. Costuma ser dividida em três fases: X Indução: Fase inicial em que o paciente é levado ao estado de inconsciência. É comum ser feita com anestésicos venosos. X Manutenção: Fase em que se monitora o nível de consciência para manter a anestesia. Etapa de extrema importância, pois o controle do nível de sedação tem influência direta no intra e pós-ope- ratório. Sedação superficial pode ocasionar repos- ta adrenérgica no intra operatório e desenvolvi- mento de transtorno de estresse pós-traumático a longo prazo. A analgesia adequada também é fundamental, pois consegue reduzir a formação de atelectasias e outras complicações. É comum utilizar anestésicos inalatórios nesta fase. X Recuperação: É o despertar da anestesia. Durante todo o procedimento, é fundamental manter a monitorização de todos os sinais vitais. A monitoriza- ção da atividade cerebral é de grande ajuda para evitar excesso ou ausência de sedação. O índice biespectral (BIS) é uma ferramenta nova que tem sido utilizada em tal função. Funcionando como um eletroencefalo- grama (EEG) simplificado, ele objetiva quantificar em um número o grau de sedação. Apesar de variável, valores entre 40 e 60 são considerados adequados. Princípios da anestesia Capítulo 2 50 1.2. ANESTESIA RAQUIDIANA FLASHCARDS Como é feita a anestesia raquidiana? Injeção de anestésico no espaço subaracnoideo atra- vés de uma punção lombar. O anestésico (anestésico local e/ou opioides) é inje- tado dentro do espaço subaracnoideo através de uma punção lombar, gerando um bloqueio precoce e esperado que se estende de forma caudal à altura realizada (podendo ser influenciado pela densidade do fármaco). O anestésico se mistura com o líquido cefalorraquidiano, por isso são necessárias baixas doses para o efeito desejado. É utilizado para cirur- gias do andar inferior do abdome ou nos membros inferiores. Possui a vantagem de manter o paciente acordado, pois não leva à sedação, entretanto pode levar à bradicardia e hipotensão, caso haja bloqueios dos nervos simpáticos cardíacos. Outra complica- ção comum, acontecendo em até 1/5 dos casos, é a retenção urinária aguda (principalmente quando se administram opiáceos), que tem evolução benigna, com resolução espontânea ou após sondagem vesi- cal de alívio. 1.2.1. CEFALEIA PÓS-PUNÇÃO É uma cefaleia holocraniana ou occipital, não pul- sátil, que piora ao levantar ou sentar e melhora em decúbito. Tem início de horas a poucos dias após procedimentos de punção lombar. Apesar de não ser completamente conhecida, a fisiopatologia de tal condição é explicada pela persistência no vazamento de líquor pelo orifício de punção da dura-máter, levando à hipotensão liquórica. FLASHCARDS Como deve ser tratado o paciente com quadro de cefaleia occipital iniciada 12h pós-raquianestesia, refratária ao tratamento conservador? Blood patch extradural. Em casos leves, o tratamento é conservador: hidrata- ção, repouso em decúbito dorsal horizontal, observa- ção, analgesia e, apesar de baixa evidência, cafeína. Em casos graves, pode-se fazer o blood patch extra- dural (injeção de 10 a 15 mL de sangue no sítio de punção da raquianestesia) no intuito de tamponar o extravasamento do líquor. 1.3. ANESTESIA PERIDURAL FLASHCARDS Como é feita a anestesia peridural? Injeção de anestésico no espaço extradural. O anestésico é injetado no espaço peridural, extra- dural, ao redor da raiz nervosa, e não no espaço intratecal. Leva a um bloqueio de dermátomos específicos, de acordo com a raiz nervosa blo- queada. Traz grandes benefícios no controle álgico pós-cirúrgico, pois é usual deixar um cateter após a punção para repetir a analgesia durante ou até após o procedimento. A anestesia peridural pode ser usada em combinação com outros tipos de anestesia para proporcionar maior conforto aos pacientes. Nos últimos anos, diversos estudos têm mostrado que esse métodotraz benefícios pós-operatórios, reduzindo a taxa de atelectasias, íleo paralítico e outras complicações. Vale ressaltar que este tipo de anestesia requer maior quantidade de anesté- sico para que haja o efeito proposto, o qual é de instalação menos precoce e menos previsível. Suas complicações envolvem a formação de abscessos e sangramentos locais. Figura 1. Tipos de anestesia. Fonte: Pinheiro.1 Princípios da anestesia Cap. 2 51 B lo co A 1.4. BLOQUEIOS REGIONAIS Bloqueio de plexos nervosos ou nervos específicos com anestésicos locais. Causa analgesia apenas na área inervada pelo nervo em questão. São usadas para procedimentos em extremidades ou superficiais. 2. AGENTES INALATÓRIOS 2.1. HALOTANO Devido aos efeitos adversos cardiovasculares (de- pressão miocárdica e arritmias), a hepatotoxicidade entrou em desuso. É o anestésico volátil de maior potência, ou seja, é aquele que possui a menor con- centração alveolar mínima (CAM), que é a concentra- ção necessária do anestésico inalatório no alvéolo para impedir responsividade do paciente durante a incisão cirúrgica em 50% dos pacientes. 2.2. ENFLURANO Possui menos efeitos colaterais que o halotano, porém caiu em desuso, com o advento de agentes mais modernos como isoflurano e sevoflurano. 2.3. ISOFLURANO É a droga mais utilizada, por possuir uma boa rela- ção custo-benefício. É mais seguro que o halotano e possui pouco metabolismo sistêmico. Possui um forte odor desagradável, fazendo com que seja neces- sária a utilização de outro agente, comumente um anestésico venoso, durante a indução. 2.4. SEVOFLURANO Possui rápido efeito de sedação e despertar. Muito utilizado em cirurgia pediátrica. 2.5. DESFLURANE É o mais volátil e menos potente de sua classe, e necessita de equipamento especializado para ser administrado. É rapidamente eliminado e possui um despertar mais rápido que o sevoflurano. Devido ao seu poder e odor desagradável, não é aconselhável como droga única na indução. 3. ANESTÉSICOS VENOSOS Diferentemente dos agentes inalatórios, nenhum agente venoso sozinho possui a capacidade de garan- tir todos os princípios da anestesia, por isso eles são utilizados em combinação ou até mesmo apenas no período de indução, sendo então substituído pelos agentes inalatórios. 3.1. PROPOFOL Possui apenas efeitos hipnóticos. É um sedativo potente, com tempo de ação e despertar extrema- mente rápido. Pode ser utilizado em infusão única para indução ou com doses contínuas de manutenção para garantir sedação em uma anestesia venosa geral. Pode também ser utilizado em procedimentos endoscópicos. O propofol induz a vasodilatação, levando à hipotensão e depressão miocárdica. FLASHCARDS Qual é a principal consequência do uso de propofol? Hipotensão e depressão miocárdica. DICA O propofol, quando utilizado em doses ele- vadas e por dias consecutivos, pode causar uma condição rara, e quase sempre fatal, chamada de Síndrome da infusão do propofol. Apesar de não muito bem explicada, acredita-se que alterações mitocondriais levem a um quadro de acidose me- tabólica grave, depressão cardiovascular, hiper- trigliceridemia, rabdomiólise e outras disfunções. O tratamento consiste em interrupção da droga e suporte clínico. Princípios da anestesia Capítulo 2 52 3.2. KETAMINA Possui efeito dissociativo, garantindo sedação super- ficial e analgesia. É considerada a única droga a aumentar a pressão arterial, frequência cardíaca e dilatar brônquios, por isso é indicada em paciente com hipovolemia e choque circulatório (ação vaso- constritora por estímulo simpático). Causa pouca depressão respiratória, por isso pode ser utilizada isoladamente para pequenos procedimentos. FLASHCARDS Qual é o anestésico venoso utilizado para paciente com hipovolemia e choque circulatório? Ketamina. Apesar de alguns livros antigos relatarem que a Ketamina pode elevar a pressão intracraniana, sendo inclusive contraindicada em casos de trauma encefá- lico ou hipertensão intracraniana, estudos recentes questionarem tal efeito e guidelines atuais liberam o seu uso. Fique atendo a isso, bancas desatualiza- das podem cobrar a informação antiga! Seu uso é associado a alucinações e delírio, principalmente em crianças. 3.3. ETOMIDATO É um sedativo neutro e seguro, possui poucos efeitos cardiovasculares, sendo considerado uma alternativa para paciente em choque ou com doenças cardio- vasculares. Devido ao seu potencial de supressão adrenal, é contraindicado em sedação contínua E PACIENTES COM SEPSE, sendo utilizado na indução anestésica. 3.4. BENZODIAZEPÍNICOS FLASHCARDS Qual é o antídoto dos benzodiazepínicos? Flumazenil. Classe de sedativos em que seu principal represen- tante é o Midazolan. Muito usado por possuir efeitos ansiolíticos e proporcionar amnésia. Atuam como agonistas do GABA e possuem efeito cardiodepres- sor. O Flumazenil é um antídoto para essa classe. 3.5. OPIOIDES FLASHCARDS Qual é o antídoto dos opioides? Naloxone. Atuam em receptores específicos no sistema nervoso central, levando à analgesia importante. Possui diver- sos representantes (Morfina, Oxicodona, Tramadol, Remifentanil, Fentanil e outros), sendo o Fentanil o de maior potência, 100 vezes mais forte que a morfina. O remifentanil possui a menor meia-vida (poucos minutos) e independe da função renal ou hepática. São muito utilizados em associação com agentes venosos e inalatórios por, além de serem seguros com poucos efeitos hemodinâmicos, agir em sinergia e potencializar seus efeitos sedativos. Em altas doses, possuem pequenos efeitos sedativos e levam à depressão cardiovascular e respiratória. Seu antagonista é o Naloxone. 4. BLOQUEADORES NEUROMUSCULARES (BNM) Classe de drogas que atua na placa neuromuscu- lar, produzindo unicamente paralisia muscular. São divididos em duas categorias: 4.1. DESPOLARIZANTES (NÃO COMPETITIVOS) Succinilcolina é o principal representante dessa classe e é um dos BNM mais utilizados por possuir rápido início e curta duração. Atua formando uma ligação estável com os receptores de acetilcolina, impedindo o estímulo nervoso. São chamados de despolarizante, pois essa ligação inicial gera um estímulo (despolarização) que pode ser visto clinica- mente como uma fasciculação. Devido ao seu meca- nismo de ação pode levar à hipercalemia, devendo Princípios da anestesia Cap. 2 53 B lo co A ser evitado em grandes queimados e pacientes com traumas musculares extensos. 4.1.1. HIPERTERMIA MALIGNA FLASHCARDS Qual é a doença caracterizada por uma resposta hipermetabólica após exposição a enflurano e suc- cinilcolina? Hipertermia maligna. É uma doença hereditária autossômica dominante, caracterizada por uma resposta hipermetabólica à exposição de algumas drogas anestésicas (Halotano, Enflurano, Isoflurano e Succinilcolina). É uma condi- ção latente, potencialmente letal, que se manifesta de imediato quando em contato com determinadas drogas anestésicas (principalmente a succinilcolina), levando à hipertermia, contratura muscular excessiva, hipertensão e acidose grave. Sempre que o paciente apresentar elevação dos níveis de CO2 expirado à capnografia (sinal mais precoce), trismo durante a IOT e febre no intra ou pós-operatório imediato, essa condição deve ser suspeitada. O diagnóstico definitivo se dá pela biópsia muscular; entretanto, sempre que suspeitado, deve-se iniciar o tratamento com Dantrolene (relaxante muscular), resfriamento corpóreo, suporte ventilatório e clínico. 4.2. NÃO DESPOLARIZANTES (COMPETITIVOS) Atuam de forma competitiva com a acetilcolina na placa neuromuscular, por isso são considera- dos reversíveis. Inibidores da acetilcolinesterase (neostigmine) não são antagonistas específicos, mas abreviam os efeitos por evitarem a degrada- ção da acetilcolina por essa enzima, aumentando assim sua concentração na placa neuromuscular. Possuem ação mais longa que a Succinilcolina, por isso são mais indicados na manutençãodo bloqueio neuromuscular. Seus representantes são: Rocurônio, Pancurônio, Vecurônio, Cisatracúrio etc. O único a possuir antagonista específico clinicamente dispo- nível é o Rocurônio: Sugammadex. 5. ANESTÉSICOS LOCAIS Os anestésicos locais são substâncias que levam à interrupção na condução do estímulo nervoso atra- vés do bloqueio dos canais de sódio na membrana do nervo. Podem ser utilizados para procedimentos percutâneos (suturas, pequenas cirurgias), bloqueios nervosos regionais ou do eixo central (raquianestesia e peridural). FLASHCARDS Anestésicos locais serão tão mais potentes quanto a... ↑ volume + ↑ concentração + ↑ solubilidade lipí- dica + ↓ pKa A eficácia dos anestésicos depende de: X Volume: Quanto maior o volume injetado, maior a área anestesiada. X Concentração: Quanto maior a concentração, maior a potência anestésica e menor o tempo de latência. X Solubilidade lipídica: Quanto maior a solubilidade, maior a passagem através da membrana nervosa e, consequentemente, maior e mais rápida a ação. X pKa: Os anestésicos são bases fracas, e, ao se- rem injetados, se comportarão em um equilíbrio entre formas não ionizadas (ativas) e ionizadas (não ativas). Por definição, pKa é o pH em que determinada substância estará metade em forma ionizada e metade não ionizada. Os anestésicos locais possuem pKa altos, ou seja, em ambientes de pH neutro, se apresentam mais na forma ioni- zada (não ativa) do que não ionizada (ativa). Assim, quanto menor o pKa do anestésico, maior a sua potência, pois maior será sua proporção de forma ativa. É esse o motivo pelo qual os anestésicos têm pouca eficiência em ambientes inflamados e com abscessos, ambientes de pH baixo (ácidos). Pelo mesmo motivo, a diluição do anestésico em solução com bicarbonato de sódio reduz a dor durante a infusão. FLASHCARDS Nos anestésicos locais, quanto menor o pKa... Maior a sua potência. Princípios da anestesia Capítulo 2 54 A maior preocupação ao usar anestésicos locais está relacionada aos efeitos tóxicos sistêmicos, decorrentes da infusão vascular inadvertida ou superdosagem. Os principais sintomas são neuroló- gicos e cardiovasculares. O sintoma mais precoce é o formigamento da língua, lábios e gosto metálico. Distúrbios visuais, cefaleia, alterações na fala e convulsão podem ocorrer em casos mais graves. Não há antídoto para tal intoxicação, e o tratamento primário é de suporte. Os anestésicos locais podem ser associados a um vasoconstritor, levando à redução da velocidade de absorção (aumento do tempo de ação e redução da toxicidade) e redução do sangramento. A preocupação dessa mistura encontra-se na promoção de isquemia, principalmente quando infundido em extremidades como dedos, nariz e orelha. Tabela 1. Tabela comparativa dos anestésicos locais com valores aproximados para infusão intradérmica. Duração em horas Dose máxima sem adrenalina (mg/kg) Dose máxima com adrenalina (mg/kg) Lidocaína 1 a 4 4.5 7 Ropivacaína 4 a 12 3 3.5 Bupivacaína 5 a 15 2.5 3 Fonte: Autor. REFERÊNCIAS (IMAGENS E TABELAS) 1. Pinheiro P. Tipos de anestesia – geral, local e raquidiana e peri- dural. MD.Saúde. [Internet]; 2019. [acesso em xx]. Disponível em: https://www.mdsaude.com/2012/11/tipos-de-anestesia.html. Princípios da anestesia Cap. 2 55 B lo co A QUESTÕES COMENTADAS Questão 1 (ASSOCIAÇÃO MÉDICA DO PARANÁ – 2016) Paciente masculino, 60 anos, em avaliação pré-operatória de artroplastia de joelho. Ex-tabagista, apresentando atualmente bronquite crônica em uso de terapia broncodilata- dora. Analise as medidas abaixo e assinale aquelas que podem diminuir as complicações pulmonares no período pós-operatório deste paciente. I. Uso de anestesia peridural. II. Terapia continuada com broncodilatador no pe- ríodo perioperatório. III. Fisioterapia pré e pós-operatória. IV. Uso de antibioticoterapia de amplo espectro. Estão corretas: ⮦⮦ I e III apenas. ⮦⮧ III e IV apenas. ⮦⮨ I, II e III apenas. ⮦⮩ I, III e IV apenas. ⮦⮪ Todas estão corretas. dificuldade: ✔Y Dica do autor: As principais complicações pulmona- res estão relacionadas com a dor no pós-operatório, restringindo a expansão pulmonar adequada e troca gasosa devido ao desenvolvimento de atelectasias. Assertiva l: VERDADEIRA. A anestesia peridural leva ao bloqueio do neuroeixo (sensitivo, motor e autonô- mico), promovendo boa analgesia no intraoperatório e pós-operatório (quando instalado cateter peridu- ral), responsável pela diminuição das complicações pulmonares. Assertiva ll: VERDADEIRA. Uso de broncodilatador no pré-operatório em pacientes com DPOC também está relacionado com diminuição de complicações respiratórias. Assertiva lll: VERDADEIRA. Fisioterapia pulmonar pré e pós-operatória é medida de profilaxia e reabilitação de complicações pulmonares, respectivamente, no paciente cirúrgico. Assertiva lV: FALSA. A antibioticoterapia de amplo es- pectro induz à seleção de germes resistentes e não diminui o risco de pneumonia no pós-operatório. ✔✔ resposta: ⮨ Questão 2 (SECRETARIA DE ESTADO DE SAÚDE DE GOIÁS – 2016) A raquia- nestesia, em relação à anestesia peridural, apresenta: ⮦⮦ Maior tempo de latência. ⮦⮧ Maior tempo de duração. ⮦⮨ Menor risco de intoxicação por anestésico local. ⮦⮩ Maior necessidade de anestésico local. dificuldade: ✔Y Dica do autor: Tanto a anestesia peridural quanto a raquianestesia são responsáveis por bloquear o neuroeixo (bloqueio sensitivo, motor e autonômico). A raquianestesia está relacionada com a infiltração de anestésico local no espaço subaracnoideo, promo- vendo ação rápida e previsível, com necessidade de infusão de doses baixas para promover seu efeito. Já a anestesia peridural ou epidural é aquela aplicada externamente à dura-máter, banhando a saída dos nervos periféricos. Devido a isso, há necessidade de administração de uma dose maior dos anestésicos para ocorrência dos efeitos, os quais são mais im- precisos do que os da raquianestesia. Alternativa A: INCORRETA. O maior tempo de latência é da anestesia peridural. Princípios da anestesia Capítulo 2 56 Alternativa B: INCORRETA. O bloqueio peridural pode du- rar por mais tempo que a raquianestesia, tendo em vista que nesse bloqueio pode-se instalar cateter para uso no pós-operatório. Alternativa C: CORRETA. A raquianestesia requer menor quantidade de administração de anestésico para bloqueio do neuroeixo, apresentando menor risco de intoxicação. Alternativa D: INCORRETA. A raquianestesia requer menor quantidade de administração de anestésico. ✔✔ resposta: ⮨ Questão 3 (FACULDADE DE MEDICINA DO ABC – 2017) Droga de escolha para tratamento da Hipertermia Maligna: ⮦⮦ Soro fisiológico. ⮦⮧ Adrenalina. ⮦⮨ Amiodarona. ⮦⮩ Dantrolene sódico. dificuldade: Resolução: A hipertermia maligna é uma patologia he- reditária autossômica dominante caracterizada por uma crise hipermetabólica que ocorre após exposi- ção a determinadas medicações, como anestésicos inalatórios halogenados e relaxantes musculares despolarizantes. Essas medicações provocam libe- ração do cálcio do retículo sarcoplasmático através dos canais de rianodina, levando à ativação mus- cular prolongada. Seu tratamento se dá através da administração de dantrolene, que é um relaxante muscular que bloqueia grande parte da contração muscular, evitando progressão do quadro e piora clínica do paciente. Hidratar o paciente e fazer uso de drogas vasoativas e antiarrítmicos não resolve- rá a hipertermia maligna. São apenas medicações de suporte que podem ser úteis para estabilização do paciente. ✔✔ resposta: ⮩ Questão 4 (HOSPITAL DAS CLÍNICAS DE GOIÁS – 2017) A raquianestesia e a anestesia peridural são duas técnicas anestésicas realizadas no neuroeixo que apresentam a seguinte diferença: ⮦⮦ A raquianestesia é realizada normalmente com agulhas de grosso calibre, enquanto a peridural, por agulhas de pequeno calibre. ⮦⮧ A peridural é realizada normalmente na região inferior ao términoda medula espinhal, ou seja, na região da cauda equina, enquanto a raquianes- tesia pode ser realizada em qualquer segmento toracolombar. ⮦⮨ A peridural é uma técnica mais fácil de ser exe- cutada e de menor risco devido ao volume anes- tésico utilizado, enquanto a raquianestesia ne- cessita de altos volumes anestésicos e oferece maior risco de intoxicação. ⮦⮩ A raquianestesia é uma técnica com latência de instalação menor, enquanto a peridural tem la- tência de instalação longa. dificuldade: Alternativa A: INCORRETA. A raquianestesia normalmen- te é realizada com agulhas de menor calibre, tendo em vista que a perfuração do espaço subaracnoideo deve ser o menor possível para administração do anestésico local, evitando assim o extravasamento de líquor e as complicações decorrentes deste ato. Alternativa B: INCORRETA. A raquianestesia geralmen- te é realizada na região da cauda equina (altura de L3-L4), evitando assim a lesão da medula espinhal. Alternativa C: INCORRETA. A peridural é mais complexa de ser executada tendo em vista que esta técnica não ultrapassa a membrana mais grossa que envolve a medula, que é a dura-máter. Além disso, como esta técnica requer maior quantidade de anestésico para bloqueio do neuroeixo, possui risco aumentado de intoxicação quando comparada à raquianestesia. Alternativa D: CORRETA. A raquianestesia é mais rápida e previsível, enquanto a peridural possui latência maior e é mais imprevisível. ✔✔ resposta: ⮩ Questão 5 (HOSPITAL REGIONAL DE MS – ROSA PEDROSSIAN – 2017) Uma paciente afirma ter tido reação alérgica grave a um anestésico local. Qual dos anestésicos locais abaixo Princípios da anestesia Cap. 2 57 B lo co A tem a maior probabilidade de ter desencadeado essa reação? ⮦⮦ Lidocaína. ⮦⮧ Procaína. ⮦⮨ Bupivacaína. ⮦⮩ Ropivacaína. ⮦⮪ Levobupivacaína. dificuldade: Resolução: Os anestésicos locais são divididos em 2 grupos: aminoaminas e aminoésteres. As aminoa- minas são: lidocaína, bupivacaína, ropivacaína e mepivacaína. Os aminoésteres são: tetracaína, ben- zocaína, procaína e cocaína. Os aminoésteres pos- suem chance maior de desencadear reação alérgica. Dentre as alternativas, a única que é um aminoéster é a alternativa B. ✔✔ resposta: ⮧ Questão 6 (UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO – 2018) Um paciente com fe- rimento corto-contuso na coxa direita apresenta-se na sala de sutura do pronto-socorro em que você está de plantão. Para a realização desta satura você solicita um anestésico local para a inflamação. A técnica de enfermagem que está na sala de satura informa da disponibilidade de lidocaína com e sem epinefrina, e bupivacaína com e sem epinefrina. Den- tre as alternativas abaixo, qual está correta sobre o uso de anestésicos locais? ⮦⮦ A dose de anestésico local com epinefrina é me- nor que a dose mesmo anestésico sem epinefri- na, pelo risco de intoxicação pelo vasoconstritor. ⮦⮧ A bupivacaína é preferencialmente indicada, com- parada à lidocaína pela sua menor toxicidade cardíaca. ⮦⮨ A dose de bupivacaína que pode ser utilizada neste caso é a de 10 a 15 mg/kg, dependendo da adição ou não de epinefrina, ⮦⮩ A dose de lidocaína que pode ser utilizada neste caso varia de 7 a 10 mg/kg, dependendo da adi- ção ou não de epinefrina, dificuldade: ✔Y Dica do autor: A absorção sistêmica dos anestési- cos locais é determinante na sua farmacocinética. O uso de vasoconstritores associados aos anesté- sicos locais diminui a absorção sistêmica da droga, aumentando a duração da anestesia e podendo ser aplicada em concentrações maiores sem desenca- dear intoxicação. Alternativa A: INCORRETA. A dose do anestésico local com epinefrina é maior que a dose do anestésico local sem epinefrina. Alternativa B: INCORRETA. A bupivacaína é um potente anestésico local e, devido a sua alta potência, a dose administrada em relação a anestésicos locais me- nos potentes (como a lidocaína) é menor. Portanto, não é considerada uma boa opção para bloqueios periféricos e peridurais, pois esses procedimentos requerem grande quantidade de anestésico. Alternativa B: INCORRETA. A dose máxima de bupivacaí- na é de 3 mg/kg. Alternativa D: INCORRETA. A dose de lidocaína sem va- soconstritor é de 5 mg/kg, e a com vasoconstritor é de 7 mg/kg. ✔✔ resposta: Questão anulada. Questão 7 (FACULDADE DE CIÊNCIAS MÉDICAS DA UNICAMP – 2018) A utili- zação de anestésicos locais é prática frequente em Cirurgia Plástica, tanto em procedimentos de urgência quanto em cirurgias eletivas estéticas e reparado- ras. Com relação ao uso dos anestésicos locais na prática cirúrgica, pode-se afirmar que: ⮦⮦ A solução de lidocaína com adrenalina pode ser utilizada até a dose máxima de 4-5 mg/kg de peso do paciente. ⮦⮧ Pode-se reduzir a sensibilidade dolorosa causada pela infiltração de solução de lidocaína, aumen- tando-se seu pH. ⮦⮨ A utilização de adrenalina na solução anestésica local é útil por reduzir o sangramento, embora não tenha influência na duração do efeito anestésico. ⮦⮩ O uso da anestesia tumescente restringe a ad- ministração de doses máximas de lidocaína a 5 mg/kg de peso. Princípios da anestesia Capítulo 2 58 dificuldade: ✔Y Dica do autor: O valor do Pka de um anestésico lo- cal está relacionado com o pH que o anestésico se encontra, metade em sua forma ionizada (hidros- solúvel) e metade na forma não ionizada (liposso- lúvel). Para que os anestésicos locais exerçam sua ação, através do bloqueio dos canais de sódio dos neurônios, é necessário que o anestésico entre na célula (seja lipossolúvel). Quando o anestésico local se encontra em um meio menor que seu pka (meios ácidos), ele tende a ionizar-se mais e exercer menor ação local. Quando colocado em meio básico, ele se ionizará menos e exercerá maior ação. Alternativa A: INCORRETA. A solução de lidocaína com adrenalina pode ser utilizada até a dose máxima de 7 mg/kg. Quando não se associa vasoconstritor, a dose é menor devido à maior disseminação sistê- mica da droga, sendo a dose máxima preconizada de 5 mg/kg. Alternativa B: CORRETA. Quanto maior o pH, mais básico fica o meio e menos ionizado fica o anestésico local, exercendo maior efeito. Alternativa C: INCORRETA. O uso de vasoconstritor au- menta a duração do anestésico local, pois diminui sua absorção sistêmica. Alternativa D: INCORRETA. A anestesia tumescente é uma técnica que envolve a injeção de anestésico local de forma diluída, apresentando menos reações adver- sas ao paciente. Dessa forma, pode ser utilizada em concentrações um pouco maiores. ✔✔ resposta: ⮧ Questão 8 (SECRETARIA MUNICIPAL DE SAÚDE DE SINOP – 2018) Sobre a associação entre anestésicos locais e vasoconstrito- res, assinale a alternativa com a sequência CORRETA: I. A adição de um vasoconstritor em dose adequada aumenta a absorção vascular do anestésico, permitindo a presença de menor quantidade deste no campo operatório, o que resulta em bloqueio mais eficaz e duradouro. ( ); II. Uma vantagem da associação de vasoconstritor com anestésicos locais é a importante diminuição do sangramento na área operada. ( ); III. Reações sistêmicas causadas pelos vasoconstri- tores são bastante comuns e facilmente confun- didas com manifestações psíquicas. Caracteri- zam-se por palidez e taquicardia, acompanhadas de ansiedade. ( ); IV. O vasoconstritor menos empregado é a epine- frina, cujo efeito máximo é obtido na concen- tração de 1:200.000. ( ) ⮦⮦ V – V – V – F ⮦⮧ V – F – V – F ⮦⮨ F – V – F – V ⮦⮩ F – V – V – F ⮦⮪ V – F – F – V dificuldade: ✔Y Dica do autor: A absorção sistêmica dos anestési- cos locais é determinante na sua farmacocinética. O uso de vasoconstritores associados aos anestésicos locais diminui o sangramento local e, além disso, di- minui a absorção sistêmica da droga, aumentando a duração da anestesia e podendo ser aplicada em concentrações maiores sem desencadear intoxicação. Assertiva I: FALSA. O uso de vasoconstritor diminui a absorção sistêmica do anestésico local. Assertivall: VERDADEIRA. O uso de vasoconstritores di- minui o sangramento local. Assertiva lll: VERDADEIRA. A intoxicação por anestésicos locais pode desencadear principalmente sintomas neurológicos e cardiovasculares. Dentre eles, dor- mência perioral, gosto metálico, tontura, zumbido e alterações visuais são comuns, podendo ser con- fundidos com manifestações psíquicas. Assertiva IV: FALSA. A epinefrina é o anestésico local mais utilizado. ✔✔ resposta: ⮩ Questão 9 (HOSPITAL DE CÂNCER DE BARRETOS – 2018) Assinale a alter- nativa INCORRETA com relação à Hipertermia Maligna: ⮦⮦ É uma crise hipermetabólica potencialmente fatal. ⮦⮧ A suscetibilidade à hipertermia maligna é herda- da como uma doença autossômica recessiva com penetrância variável. Princípios da anestesia Cap. 2 59 B lo co A ⮦⮨ Manifesta-se durante ou após exposição a um anestésico geral deflagrador em indivíduos sus- cetíveis. ⮦⮩ Calcula-se que ocorra em 1 em 30.000 a 50.000 adultos. dificuldade: ✔Y Dica do autor: A hipertermia maligna é uma pato- logia hereditária autossômica dominante caracte- rizada por uma crise hipermetabólica que ocorre após exposição a determinadas medicações, como anestésicos inalatórios halogenados e relaxantes musculares despolarizantes. Alternativa A: CORRETA. Essa é a complicação que, ape- sar de rara, é a mais temida pelos anestesiologistas, pois é potencialmente fatal. Alternativa B: INCORRETA. A herança é autossômica do- minante. Alternativa C: CORRETA. Vide dica do professor. Alternativa D: CORRETA. É uma patologia rara. ✔✔ resposta: ⮧ Questão 10 (FACULDADE DE MEDICINA DO ABC – 2018) Dentre os efeitos sistêmicos provocados pela raquianestesia, assinale a alternativa correta: ⮦⮦ os efeitos gastrintestinais do bloqueio subarac- nóideo são devidos ao bloqueio parassimpático ⮦⮧ um bloqueio sensitivo em nível de T6 não pro- voca alterações cardiocirculatórias importantes ⮦⮨ o bloqueio da condução da dor proporciona con- dições satisfatórias para realização de cirurgias ⮦⮩ o principal efeito cardiovascular do bloqueio su- baracnóideo é a vasoconstrição periférica dificuldade: ✔Y Dica do autor: A raquianestesia promove bloqueio do neuroeixo (sensitivo, motor e autonômico), gerando analgesia, relaxamento e diminuição da resposta do sistema nervoso simpático. Alternativa A: INCORRETA. Este efeito é decorrente do bloqueio simpático. Alternativa B: INCORRETA. Um bloqueio acima de T6 é considerado alto e é responsável por desencadear manifestações cardiovasculares importantes, como hipotensão. Alternativa C: CORRETA. Este é um dos efeitos da ra- quianestesia. Alternativa D: INCORRETA. O principal efeito cardiovas- cular é a vasodilatação, tendo em vista que há blo- queio do tônus simpático. ✔✔ resposta: ⮨ Fixe seus conhecimentos! 60 FIXE SEU CONHECIMENTO COM RESUMOS Use esse espaço para fazer resumos e fixar seu conhecimento! ___________________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________________________________ 61 B lo co A Capítulo 3 RESPOSTA METABÓLICA E NUTRIÇÃO EM CIRURGIA DO QUE VOCÊ PRECISA SABER? u Na vigência de um trauma ao organismo, ele responde com alterações endócrinas, metabólicas e imuno- lógicas. Neste contexto, você deve saber identificar os principais hormônios que exercem papel central nessa resposta, bem como as principais consequências clínicas (processo catabólico) provocadas por essas reações metabólicas. u De suma importância também é o manejo do status nutricional do indivíduo. Procure saber as formas de manutenção desse status tanto previamente ao trauma quanto após, assim como é relevante identificar as indicações de cada via de alimentação, além das complicações relacionadas à nutrição parenteral. 1. RESPOSTA ENDÓCRINO METABÓLICA IMUNOLÓGICA AO TRAUMA (REMIT) Todo trauma, toda agressão que leve a uma resposta inflamatória, não importa sua etiologia (cirúrgico, físico, infeccioso etc.), gera no corpo uma série de alterações que têm o objetivo final de reparar a lesão e restaurar a homeostase do organismo. Através de complexas interações coordenadas entre as vias metabólicas, endócrinas e imunológicas, o corpo se mobiliza para fornecer nutrientes necessários ao reparo tecidual e a conservação do volume intra- vascular. O principal deflagrador da REMIT é o trauma tecidual, e sua intensidade será proporcional ao trauma sofrido e à quantidade de tecido lesado. Grandes queima- duras com comprometimento de extensa superfície corporal e politraumas complexos levam a maior intensidade de REMIT do que traumas cirúrgicos planejados, especialmente procedimentos menos invasivos, como videolaparoscopia. Apesar de ser um processo fisiológico, a depender da extensão do trauma, a REMIT pode ser de tamanha intensidade que “sai do controle” e se torna maléfica, gerando prejuízos ao organismo. O estado metabólico pré- vio do indivíduo tem importante influência nessa modulação. Nestes casos, a intervenção médica se faz imprescindível para manutenção da vida. A lesão celular provoca alterações celulares diver- sas, que causam o aumento da permeabilidade da membranacelular e a liberação de substâncias intra- celulares que executam diversas ações. O aumento da permeabilidade vascular possibilita a perda de plasma sanguíneo no local do traumatismo, onde se acumulam substâncias e há formação do edema. 1.1. VIAS ENERGÉTICAS Após o trauma, o corpo busca, através da ativação de vias catabólicas, disponibilizar todo o suprimento energético possível para manter a população de células inflamatórias e garantir o reparo tecidual necessário. A glicose é a primeira, e mais eficiente, linha energética. Armazenada na forma de glico- gênio no fígado (principalmente) e músculos, ela é quebrada através da glicogenólise e será a princi- pal fonte energética pelas primeiras 12 a 24 horas, entretanto seus estoques são limitados, e outras fontes energéticas são necessárias. Após o uso de todo glicogênio como substrato ener- gético, as vias de gliconeogênese são ativadas. A quebra do tecido adiposo (lipólise) é uma alterna- tiva. Sua quebra fornece 9 kcal por grama, além de Resposta metabólica e nutrição em cirurgia Capítulo 3 62 ácidos graxo livres (importante fonte de energia para o sistema nervoso central e miocárdio, através da transformação hepática dessa substância em corpos cetônicos) e glicerol, substrato para glico- neogênese. A quebra das proteínas também leva à produção calórica, 4 kcal por grama. Apesar de não ser prioridade energética, a proteólise acontece em situações de estresse ou ausência de outras fontes energéticas. Além das calorias, a quebra de proteínas fornece aminoácidos fundamentais à gliconeogênese. Nesse contexto, é válido ressaltar a importância da alanina (transformada em glicose através do ciclo de Felig) e glutamina (utilizada pelos enterócitos como imunonutriente), que, devido as suas diver- sas funções no metabolismo, podem encontrar-se criticamente depletadas. Algumas células do nosso corpo (ao exemplo dos neurônios) não têm a capacidade de realizar a quebra da proteína ou lipídios, ficando reféns da glicose para produção energética. Nesses casos, quando não há mais glicose ou glicogênio disponível, nosso corpo inicia o processo de gliconeogênese, reação que, apesar de energeticamente ineficiente, transforma aminoácidos, lactato (através do ciclo de Cori) e glicerol em glicose. 1.2. AÇÃO NEUROENDÓCRINA 1.2.1. CORTISOL E ACTH Imediatamente após o trauma, estímulos sensoriais vão ao hipotálamo e provocam a liberação do Hor- mônio Liberador da Corticotrofina (CRF); este vai agir na hipófise, levando à produção e secreção da Corticotrofina (ACTH); por sua vez, o ACTH vai agir no córtex da suprarrenal, estimulando a secreção do cortisol. O cortisol é um dos primeiros e mais importantes hormônios a se elevar. Por definição, o cortisol é um hormônio catabólico, e sua ação se concentra na mobilização de proteínas para realização de gliconeogênese e formação de proteínas de fase aguda. De forma geral, o cortisol atinge seu pico nas primeiras 24 horas e tende a normalizar em 5 dias. Entretanto, em situações de cronificação da inflama- ção, a manutenção dos altos níveis de cortisol pode levar à perpetuação da fase catabólica. A incapacidade de produzir cortisol em resposta a traumas inflamatórios é uma condição grave que leva a choque circulatório e óbito, caso não haja suplementação externa. 1.2.2. CATECOLAMINAS As catecolaminas (adrenalina/epinefrina e noradre- nalina/norepinefrina) são neuro-hormônios que se elevam acentuadamente nas primeiras 48 horas após o trauma. Além da importante estimulação cardíaca e vasoativa, mantendo a volemia e perfusão tecidual, as catecolaminas têm função metabólica. Estimulam ainda mais a produção de ACTH e agem em sinergia com o cortisol. Estimulam a glicólise, glicogenólise e a gliconeogênese. Aumentam a liberação de ami- noácidos e de ácidos graxos. As catecolaminas são as responsáveis pela aperistalse intestinal encontrada nos dias iniciais da REMIT. Em grandes traumas, como os pacientes queimados, é a perpetuação dos altos níveis de catecolaminas que leva ao estado hipermetabólico. 1.2.3. GLUCAGON Hormônio hiperglicemiante produzido pelas células alfa do pâncreas, é o principal estimulador da gli- cogenólise e gliconeogênese. FLASHCARDS Quais os hormônios que classicamente se elevam e têm papel central em resposta ao trauma? Cortisol, catecolaminas, glucagon, ADH e aldosterona. 1.2.4. INSULINA Importante hormônio anabólico que leva a armaze- namento de glicose na forma de glicogênio, formação proteica e lipídica. Em consonância com as outras ações hormonais, a insulina mantém-se baixa nos dias iniciais após o trauma para elevar a glicemia. A hipoinsulinemia é decorrente da supressão pelos hormônios contrainsulínicos e tende a se normalizar após a fase catabólica. DICA A insulina e o T3 são os únicos hormônios que se encontram suprimidos na REMIT. Resposta metabólica e nutrição em cirurgia Cap. 3 63 B lo co A 1.2.5. HORMÔNIO ANTIDIURÉTICO (ADH) Como já conhecemos e o próprio nome já diz, o ADH vai aumentar a reabsorção hídrica nos rins, reduzindo o débito urinário e preservando um maior volume plasmático. Para ajudar nessa tarefa, o ADH se eleva nos primeiros 5 dias e também eleva a vasoconstric- ção esplâncnica. 1.2.6. ALDOSTERONA A queda do volume intravascular, devido ao aumento da permeabilidade vascular e sequestro para o ter- ceiro espaço, é o principal responsável pela ativação do eixo renina – angiotensina – aldosterona. Junto com o ADH, este mineralocorticoide produzido pela suprarrenal age na manutenção do volume plasmá- tico. Atua conservando sódio e eliminando potássio e hidrogênio. Devido à ação conjunta do ADH e aldos- terona, a urina após o trauma, além de reduzida, se encontra com baixa concentração de sódio e alta concentração de potássio. Outro efeito encontrado é uma tendência à alcalose mista: alcalose metabó- lica em consequência à eliminação de hidrogênio e alcalose respiratória pela hiperventilação. FLASHCARDS Quais as características da urina na REMIT? Volume baixo, densidade alta, baixa concentração de sódio e alta de potássio. 1.2.7. HORMÔNIO DO CRESCIMENTO (GH) Apesar de ser um hormônio anabólico, o GH apresenta um pico nas primeiras 24 horas após o trauma. Sua elevação é decorrente de diversos estímulos e, apesar das ações anabólicas no metabolismo proteico, ele tem uma função catabólica junto aos carboidratos e lipídios. Além disso, na REMIT, o IGF-1, principal executor do anabolismo estimulado pelo GH, fica suprimido pelas catecolaminas. 1.2.8. HORMÔNIO TIREOIDIANO Mantendo o sentido da preservação energética, nas primeiras 24 horas após o trauma acontece uma queda nos níveis de T3, relacionadas à redução da conversão periférica e aumento do turnover hor- monal. A manutenção dos níveis normais de TSH se deve à alteração na regulação dos mecanismos de retroalimentação, envolvendo a expressão gênica de TRH. Essa situação é comumente chamada de eutireoideo doente. DICA Em suma, todas as alterações hormonais na fase catabólica (inicial) têm o objetivo de aumentar o fornecimento de glicose aos tecidos e retenção de volume plasmático. 1.3. RESPOSTA IMUNOLÓGICA A resposta imunológica ao trauma está intimamente ligada à neuroendócrina, e em diversos momentos elas se estimulam mutuamente. De forma geral, a resposta imunológica possui duas fases, iniciando pela curta atuação da resposta inata (neutrófilos, macrófagos, células NK, sistema complemento etc.) e seguindo com a longa resposta adaptativa. No processo inflamatório pós-traumático, a ativação dos neutrófilos e monócitos (que irão se diferenciar em macrófagos) é um dos primeiros acontecimen- tos. Essas células são as responsáveis por produzir uma série de citocinas que, através de ação local e sistêmica, irão coordenar a resposta inflamatória. X Fator de necrose tumoral alfa (TNF-α): também conhecido como catequina, é um mediador libe- rado por macrófagos ativados quetêm a função de estimular as defesas imunológicas. Estimula a liberação de outras citocinas como as inter- leucinas 1, 6 e 8, além de auxiliar na liberação de agentes oxidantes. Em suma, sua atuação culmina com aumento da atividade fagocitária, ativação do complemento, produção de colagenase, ação tóxica no endotélio e perpetuação na resposta inflamatória. Pode ser inibido através de anticor- pos monoclonais, anti-inflamatórios e cortisol. X Interleucina-1 (IL-1): Produzida por macrófagos, linfócitos e células epiteliais, é responsável pela estimulação de produção hepática de proteínas de fase aguda, TNF, IL-6 e IL-8. Está relacionada com a indução da febre através da associação com as prostaglandinas. Resposta metabólica e nutrição em cirurgia Capítulo 3 64 X Interleucina-2 (IL-2): Estimula a resposta infla- matória, tanto inata quanto adaptativa. Atua na liberação do TNF-α. X Interleucina-4 (IL-4): Inibe a ativação do macrófago, inibindo assim a proliferação de fibroblastos e a formação de colágeno. Tem ação anti-inflamatória. X Interleucina-6 (IL-6): Estimula o eixo hipotálamo – hipófise – adrenal, é conhecida por seu papel na indução da febre. Pode ser usada como quan- tificador da inflamação. X Interleucina-8 (IL-8): Quimiotático para neutró- filos e linfócitos, estimula o surto oxidativo por neutrófilos e promove angiogênese. X Interleucina-10 (IL-10): Inibidor de macrófagos e neutrófilos. É a citocina anti-inflamatória mais po- tente, com papel fundamental no balanceamento e controle da inflamação. X Interferon (IFN): Existem 3 tipos (α, β e γ): Todos são importantes agentes pró-inflamatórios que promovem liberação de TNF, IL-1 e IL-6. Aumentam a capacidade fagocítica de macrófagos e reduzem a replicação viral. DICA As citocinas que primeiro se elevam e or- questram a resposta inflamatória são TNF alfa, IL-1, IL-6 e interferons. As citocinas anti-inflamatórias são IL-4 e IL-10. 1.4. FASES CATABÓLICA E ANABÓLICA Conceitualmente, costuma-se dividir a REMIT em duas fases. A primeira, conhecida como fase catabólica, tem início no momento do trauma e duração até 3º ou 5º dia (variável, a depender da extensão do trauma). É o momento de intenso catabolismo; todo o metabolismo está ativado para aumentar o aporte de nutrientes e tentar restabelecer a homeostase. É onde agem os principais hormônios, citocinas inflamatórias e proteínas de fase aguda vistas aqui. De forma geral, na fase catabólica, encontramos um paciente que apresenta: X Febre X Taquicardia X Oligúria X Hiperglicemia X Redução da massa magra X Amenorreia DICA Balanço nitrogenado negativo é um termo utilizado para representar o estado catabólico. O nitrogênio é derivado das proteínas que normal- mente é utilizado para renovação e crescimento, e o balanço é sempre positivo. Nas fases iniciais do trauma, esse balanço é negativo, pois esse nitrogênio é usado para combustão, e não para síntese proteica, o que dificulta o processo de cicatrização e anabolismo. A fase anabólica, que pode durar até um ano, é marcada pela reconstituição das reservas gastas na primeira. Reconstrução plástica, cicatrização de feridas e consolidação de suturas. Ela pode ser subdividia em duas fases. X Glicogênica (precoce): fase inicial com balanço nitrogenado positivo, com reconstituição do te- cido muscular, aumento de força muscular, peso, recuperação do apetite e desejo de reintegração ao meio. X Lipogênica (tardia): ganho ponderal principalmente às custas de tecido adiposo (anabolismo lipídico), balanço nitrogenado normal e normalização das funções vitais. 1.5. ATUAÇÃO DO ENDOTÉLIO A lesão de células endoteliais desencadeia uma cas- cata de reações fundamentais à inflamação. Quando estimuladas por citocinas ou traumas, elas podem sintetizar citocinas e mediadores inflamatórios como: prostaglandinas, tromboxano e fatores de ativação plaquetária. Tais substâncias são responsáveis por auxiliar na coagulação, aumentar a permeabilidade vascular, facilitar a migração e adesão de leucócitos. 1.6. PROTEÍNAS DE FASE AGUDA Durante a fase inicial da inflamação, o fígado, esti- mulado pelo IL-6, produz uma série de proteínas que vão ter diversas funções fisiológicas no sistema Resposta metabólica e nutrição em cirurgia Cap. 3 65 B lo co A imune. Clinicamente, a proteína C reativa tem uma importante função por servir de quantificador da resposta inflamatória. Além dela, fatores do com- plemento, ceruloplasmina e ferritina fazem parte desse grupo. 1.7. MODULAÇÃO DA REMIT Como falado anteriormente, a REMIT é proporcional ao trauma tecidual, por isso a redução na ferida ope- ratória e a manipulação cirúrgica são as principais medidas para controlar a resposta inflamatória ao trauma. A utilização da videolaparoscopia é uma técnica efetiva nesse sentido e deve ser empregada sempre que possível, pois modula a resposta imu- nológica ao trauma. A utilização excessiva do bisturi elétrico segue o mesmo raciocínio, sendo desencora- jada a cauterização excessiva. Cirurgias planejadas também levam ao melhor controle da REMIT, uma vez que é possível fazer a devida avaliação e correção dos distúrbios pré-operatórios. A anestesia tem grande influência na modulação REMIT. Sua atuação vai desde a utilização de medidas ansiolíticas pré-operatórias até técnicas específicas, como anestesia peridural e epidural que atenuam a resposta endócrina por bloquear as vias aferentes (neuroeixo), reduzindo a produção de ACTH, cortisol, ácidos graxos livres e aldosterona. 2. SUPORTE NUTRICIONAL Déficits nutricionais ocasionam dificuldade na cica- trização, alterações na resposta imune, catabolismo exacerbado, aumento na disfunção orgânica, atraso na recuperação e, em último caso, maior mortalidade. Por isso, todo paciente internado deve ser avaliado quanto ao status nutricional e ter sua meta calórica alcançada, especialmente aqueles na vigência de um processo inflamatório (causado por trauma ou doença clínica). DICA A dieta deve alcançar a meta nutricional. De forma geral, a hiperalimentação NÃO é indicada. O jejum deve ser evitado ao máximo e todo paciente deve ter uma via de alimentação. Pacientes cirúrgicos devem retomar a alimentação o quanto antes, de acordo com sua aceitação. A progressão da consis- tência da dieta deve ser avaliada diariamente, e sua não aceitação ou presença de vômitos devem ser vistas como um sinal de alarme. Nesses casos, deve- -se interromper a progressão e avaliar a presença de complicações operatórias. Como já discutido no capítulo de complicações cirúrgicas, anastomoses intestinais não são contraindicações absolutas para alimentação oral ou enteral. 2.1. AVALIAÇÃO NUTRICIONAL Existem diversos métodos que objetivam a quantifi- cação das reservas de nutrientes de cada paciente. O primeiro e mais importe será sempre a anamnese e exame físico. Histórico de perda de 10% do peso não intencionalmente, anorexia, fraqueza com inca- pacidade para realizar atividades diárias, IMC < 18,5 ou 20% abaixo do peso ideal podem ser sinais de desnutrição. Ferramentas complementares como a bioimpedância podem ser utilizadas para alcançar valores mais exatos. Marcadores laboratoriais também podem ser de grande ajuda para avaliar o status nutricional do paciente. Classicamente, a quantificação da albumina e transferrina são utilizadas em tal função; entre- tanto, por possuírem uma meia-vida relativamente longa (15 a 20 dias e 8 a 10 dias, respectivamente), podem não representar a real situação. A pró-al- bumina tem sido usada em seu lugar por possuir meia-vida menor (3 dias). FLASHCARDS Quais os marcadores de avaliação do status nutri- cional? Albumina e transferrina. Atualmente, a calorimetria indireta é a melhor fer- ramenta para quantificação dos gastos energéticos. Através da quantificação do oxigênio e gás carbô- nicos trocados na respiração, é possível fazer uma estimativa de qual foi a produção calórica, umavez que o O2 é consumido e CO2 liberado durante a respiração celular. Resposta metabólica e nutrição em cirurgia Capítulo 3 66 2.2. PRÉ-OPERATÓRIO O suporte nutricional deve ser considerado no pré- -operatório para todos os pacientes em risco nutri- cional, mesmo que para isso a cirurgia tenha que ser atrasada em até 14 dias (quando possível esperar): X Desnutrição X Perda de 10 a 15% de peso em 6 meses X Albumina < 3 X Transferrina < 200 Em cirurgias eletivas, o déficit metabólico se inicia antes mesmo do ato cirúrgico, com o jejum pré-ope- ratório. O catabolismo é agravado com a resposta inflamatória do trauma cirúrgico, e acentuado ainda mais com o jejum pós-operatório. Por isso, garantir o adequado estado nutricional é fundamental. A ingesta de líquidos claros até 2 horas antes da cirur- gia é segura e é uma das estratégias para combater o catabolismo proteico. A ingesta de líquidos ricos em carboidratos nas 24 horas anteriores à cirurgia comprovadamente reduz a perda muscular. Estra- tégias com dietas imunomoduladoras por 5 a 7 dias antes e após o procedimento são recomendadas. FLASHCARDS Quais estratégias para suporte nutricional pré-ope- ratório são indicadas atualmente? Ingestão de líquidos claros e líquidos ricos em car- boidratos. DICA Dieta imunomoduladora é uma dieta suple- mentada com glutamina, arginina, ácidos graxos e aminoácidos. Diversos estudos têm demonstrado que a suplementação desses nutrientes tem o po- tencial de evitar o catabolismo excessivo da REMIT. Não é à toa que os nutrientes suplementados são os mesmos destacados como fonte calórica no REMIT. 2.3. VIAS DE ALIMENTAÇÃO A via preferencial de alimentação é a oral. Quando impossibilitada por sedação, sequelas neurológicas ou não alcançar a meta nutricional, o próximo passo será a infusão de dieta via enteral através de son- das. As sondas podem ser posicionadas através do nariz e da boca, chegando ao estômago, duodeno ou jejuno. De forma geral, utiliza-se a sonda nasoenté- rica por garantir mais conforto ao paciente e evitar a distensão gástrica, entretanto as especificidades que indicam cada uma delas devem ser avaliadas caso a caso. Para pacientes com previsão de manter a dieta via sonda por mais de 4 semanas, é indicada a avaliação e confecção de uma gastrostomia como via alimentar. As dietas oral e enteral têm uma grande vantagem em relação à nutrição parenteral: além do suporte nutricional, proporcionam a homeostase do trato gastrintestinal, mantendo o trofismo da mucosa, fluxo sanguíneo, flora intestinal e reduzindo a possi- bilidade de translocação bacteriana. Pacientes com instabilidade hemodinâmica e uso de altas doses de droga vasoativa (> 0,5 mcg/kg/min) não podem receber dieta enteral devido à má perfusão tecidual do intestino. DICA A via de alimentação preferível é sempre a mais fisiológica possível: oral > enteral > parenteral. 2.4. NUTRIÇÃO PARENTERAL (NP) A nutrição parenteral é definida como o fornecimento de nutrientes de forma total ou parcial através de acessos venosos. Foi um grande avanço na medicina, pois permitiu que pacientes sobrevivam mesmo com o trato gastrintestinal não funcionante. A fórmula pode variar, mas o padrão é composto 60 a 70% por dextrose, 10 a 20% aminoácidos, 10 a 30% de lipídios, além de vitaminas e outros micronutrientes. A depender da osmolaridade da dieta, ela pode ser infundida em veia periférica ou central. Quando feita através do acesso central, é importante verificar que a extremidade do cateter esteja na veia cava. Por ser a última escolha como via alimentar, as indi- cações para a nutrição parenteral são compostas pelas contraindicações a outras vias alimentares: X Síndrome do intestino curto X Íleo paralítico e jejum prolongado X Fístulas gastrintestinais Resposta metabólica e nutrição em cirurgia Cap. 3 67 B lo co A Ultimamente, devido à redução dos seus custos e maior confiança na técnica o uso da NP, tem se tor- nado mais permissivo, sendo iniciada de forma mais precoce (primeiras 48 ou 72 horas) e até em conjunto à nutrição enteral para suplementar a oferta calórica. As maiores complicações associadas à dieta paren- teral têm relação com o procedimento de passagem do acesso venoso central: pneumotórax, hematoma, trombose e infecção. É interessante ressaltar que os cateteres utilizados para NP têm uma taxa de infecção superior àqueles utilizados com outras finalidades. Esse fato decorre do fato de que a solução infundida fornece melhor meio para o crescimento bacteriano. Além disso, a utilização de NP leva ao aumento da resposta inflamatória. FLASHCARDS Quais as principais complicações relacionadas à nu- trição parenteral? Pneumotórax, hematoma, trombose e infecção. Outras complicações metabólicas podem ocorrer, por isso é importante a monitorização laboratorial constante. Alterações glicêmicas e hipertrigliceride- mia são comuns e devem ser corrigidas de imediato. Resposta metabólica e nutrição em cirurgia Capítulo 3 68 QUESTÕES COMENTADAS Questão 1 (SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE – PERNAMBUCO – 2011) Sobre o suporte nutricional parenteral (por veia central ou periférica), assinale a afirmativa INCORRETA. ⮦⮦ Quando se espera um suporte nutricional mais prolongado, a via periférica é preferida, pois evita os problemas sépticos do cateter central. ⮦⮧ Ambas devem ser evitadas, se o trato digestório for disponível. ⮦⮨ O suporte por veia periférica deve ser evitado em pacientes que não toleram sobrecarga de volume. ⮦⮩ Enquanto a veia central requer cateteres apro- priados, a via periférica pode ser administrada pelos acessos venosos periféricos usuais. ⮦⮪ O suporte por via periférica deve incluir carboi- dratos, lipídeos em associação com aminoácidos. dificuldade: Resolução: A nutrição parenteral pode ser por veia central ou periférica. O acesso preferencial é por via central se há expectativa de nutrição por esta via por mais de 2 semanas ou se infusão de dieta de alta osmolaridade. O acesso por via periférica apenas pode ser realizado por até 2 semanas e com dieta com baixa osmolaridade, a fim de se evitarem com- plicações locais. Devido a isso, o volume infundido pela via periférica deve ser grande para obtenção da meta calórica, devendo ser evitada em paciente que não tolera volume. Caso o trato digestório esteja disponível, a nutrição parenteral deve ser evitada. ✔✔ resposta: ⮦ Questão 2 (UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE – 2015) A assertiva ver- dadeira sobre a resposta metabólica ao trauma é a seguinte: ⮦⮦ Os primeiros hormônios a serem secretados são o hormônio tireoidiano, a aldosterona, e a insulina, na tentativa de manter o volume circulante, e a energia necessária para a resposta inflamatória. ⮦⮧ Após as primeiras 24 horas de injúria, é que será liberada a insulina e haverá a neoglicogênese para reposição de energia. ⮦⮨ A resposta metabólica é atenuada quando se utiliza a videolaparoscopia em vez de realizar uma laparotomia. ⮦⮩ Pacientes com jejum de mais de 24 horas não apresentam alterações no mecanismo de glico- genólise, nem na utilização da insulina e na dimi- nuição da hiperglicemia compensatória. dificuldade: ✔Y Dica do professor. A resposta metabólica ao trau- ma corresponde a uma tentativa do organismo de reagir a uma agressão, no intuito de fornecer glico- se e água para os locais que mais necessitam. Esse processo se dá através da liberação de determina- dos hormônios (contra insulínicos) e mediadores pró-inflamatórios. Pode ser exacerbado quando a agressão é muito intensa, como também pode ser atenuado de acordo com algumas medidas. Alternativa A: INCORRETA. Durante a REMIT, há predo- mínio de hormônios contrainsulínicos. A insulina encontra-se diminuída. A aldosterona (devido a ati- vação do SRAA) encontra-se elevada. O T3 encon- tra-se diminuído. O TSH encontra-se em níveis nor- mais ou diminuídos. O T4 livre encontra-se em níveis Resposta metabólica e nutrição em cirurgia Cap.3 69 B lo co A normais ou ligeiramente aumentados (Síndrome do eutireoideo doente). Alternativa B: INCORRETA. A insulina está inibida na RE- MIT. A ativação de vias catabólicas, como a glico- neogênese, se dá através da liberação de hormô- nios contrainsulínicos como cortisol, glucagon, GH e catecolaminas. Alternativa C: CORRETA. A cirurgia videolaparoscópica é responsável pela diminuição da resposta imunológi- ca ao trauma. Já o bloqueio peridural é responsável pela diminuição da resposta endócrina ao trauma. Alternativa D: INCORRETA. Pacientes em jejum prolonga- do ativam vias catabólicas para obtenção de glicose, como a via da glicogenólise e da gliconeogênese. ✔✔ resposta: ⮨ Questão 3 (HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DE TAUBATÉ – 2018) A nutrição em cirurgia está diretamente correlacionada ao desfe- cho do sucesso operatório e à mortalidade. Sobre isso, é CORRETO afirmar: ⮦⮦ Paciente desnutrido apresenta exacerbação e aumento no processo cicatricial e morbimorta- lidade pós-operatória. ⮦⮧ O metabolismo basal está aumentado em trau- mas, assim como no jejum prolongado, que su- pera uma elevação de até 40%. ⮦⮨ De maneira geral, as necessidades calóricas de indivíduos adultos, em sua maioria, se situam entre 250 e 300 Kcal/kg/dia. ⮦⮩ A nutrição parenteral pode apresentar compli- cações mecânicas, sendo as mais frequentes: pneumotórax, hemo-hidrotórax e punção arte- rial acidental. ⮦⮪ O paciente desnutrido apresenta diminuição da suscetibilidade a processos infecciosos. dificuldade: Alternativa A: INCORRETA. A nutrição perioperatória é fundamental para diminuir complicações e morbi- mortalidade em pacientes com indicação de suporte nutricional. O paciente desnutrido geralmente possui dificuldade no processo de cicatricial. Alternativa B: INCORRETA. O metabolismo basal encon- tra-se diminuído no jejum prolongado. Por falta de glicose e glicogênio, o processo de respiração celular e formação de ATP fica comprometido. Vias alterna- tivas para compensar este déficit são ativadas. Este processo é chamado de gliconeogênese. Alternativa C: INCORRETA. As necessidades gerais calóri- cas em adultos situam-se entre 30 a 35 Kcal/Kg/dia. Alternativa D: CORRETA. Para realização de nutrição parenteral, muitas vezes é necessária a obtenção de acesso venoso central. Durante este ato, com- plicações mecânicas como pneumotórax e punção arterial acidental podem ocorrer. Alternativa E: INCORRETA. O paciente desnutrido apre- senta aumento da susceptibilidade a processos in- fecciosos. ✔✔ resposta: ⮩ Questão 4 (UNIVERSIDADE DE RIBEIRÃO PRETO – 2018) Em relação ao metabolismo da água e dos eletrólitos, o efeito da resposta endócrino metabólica ao trauma produz uma urina com as seguintes características: ⮦⮦ volume baixo, densidade alta, baixa concentração de sódio e potássio. ⮦⮧ volume aumentado, densidade baixa, alta con- centração de sódio e potássio. ⮦⮨ volume baixo, densidade alta, concentração de sódio alta e potássio baixa. ⮦⮩ volume aumentado, densidade baixa, concentra- ção de sódio e potássio normal. ⮦⮪ volume baixo, densidade alta, concentração baixa de sódio e alta de potássio. dificuldade: Resolução: Devemos lembrar que a resposta endócri- no-metabólica ao trauma é responsável por ativar o Sistema renina-angiotensina-aldosterona. Devemos lembrar também a ação da aldosterona, a qual é res- ponsável por ativar a bomba de sódio e potássio no túbulo contorcido distal, levando a uma reabsorção de sódio e aumento da excreção de potássio. Sendo assim, o sódio reabsorvido remove a água do tú- bulo por um efeito osmótico. O efeito de tudo isso na urina é: diminuição do seu volume, aumento da Resposta metabólica e nutrição em cirurgia Capítulo 3 70 sua densidade, diminuição da concentração de só- dio (FeNa) e aumento da concentração de potássio ✔✔ resposta: ⮪ Questão 5 (FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO TOCANTINS – 2018) A resposta endocrinometabólica e imunológica ao trauma (REMIT) corresponde a uma série de altera- ções no organismo que tem como objetivo manter a homeostase e a vida. Com relação a esse processo, assinale a alternativa CORRETA: ⮦⮦ Inicialmente ocorre uma fase catabólica que tem como objetivo fornecer glicose para a utilização das células através da glicogenólise e gliconeo- gênese. Nessa fase, há um aumento de hormônios como catecolaminas, cortisol e insulina. ⮦⮧ Essa resposta deveria ser fisiológica, porém quan- do as lesões são graves ou ocorre uma infecção secundária, pode haver perda maciça do tecido do organismo e disfunção de múltiplos órgãos. ⮦⮨ A proteólise tem como objetivo a liberação de aminoácidos que serão utilizadas na glicogenó- lise para ser convertida em glicose. ⮦⮩ A REMIT pode ser atenuada através da via de aces- so laparoscópica e da raquianestesia. ⮦⮪ Dentre as consequências da REMIT, ocorridas no pós operatório, pode-se citar: íleo paralitico, fe- bre, edema de ferida operatória e hipoglicemia. dificuldade: ✔Y Dica do autor: A resposta metabólica ao trauma cor- responde a uma tentativa do organismo de reagir a uma agressão, no intuito de fornecer glicose e água para os locais que mais necessitam. Esse processo se dá através da liberação de determinados hormônios (contrainsulínicos) e mediadores pró-inflamatórios. Pode ser exacerbado quando a agressão é muito in- tensa, como também pode ser atenuado de acordo com algumas medidas. Alternativa A: INCORRETA. A primeira fase da REMIT é a chamada fase catabólica ou adrenérgica-corticoide. Nela, as catecolaminas, cortisol, GH, glucagon, ACTH, ADH e aldosterona encontram-se aumentados. Por serem hormônios contrarreguladores da insulina, a insulina encontra-se reduzida. Alternativa B: CORRETA. Quando o trauma é muito in- tenso, a resposta pode ser tão exacerbada que pode provocar distúrbios orgânicos e descompensação clínica do paciente, podendo levar à insuficiência de múltiplos órgãos. Alternativa C INCORRETA. A proteólise é uma via diferen- te e independente da glicogenólise. A proteólise é responsável pelo processo de gliconeogênese, em que as proteínas são convertidas em aminoácidos (alanina e glutamina), sendo que a alanina, através do ciclo de Felig, é transformada em glicose pelo fígado. Já a glicogenólise corresponde à degrada- ção de glicogênio hepático e do tecido muscular em glicose. Ambas as vias são ativadas pela REMIT. Alternativa D: INCORRETA. A cirurgia videolaparoscópi- ca é responsável pela diminuição da resposta imu- nológica ao trauma. Já o bloqueio peridural é res- ponsável pela diminuição da resposta endócrina ao trauma. A raquianestesia não tem essa capacidade de atenuar a REMIT. Alternativa E: INCORRETA. Como na REMIT há diminuição da ação da insulina, geralmente há hiperglicemia. As demais alterações estão corretas ✔✔ resposta: ⮧ Questão 6 (UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE – 2017) Pacientes com doenças oncológicas possuem maior risco nutri- cional. Sobre a terapia nutricional pré-operatória, é correto o seguinte procedimento: ⮦⮦ Não devemos suspender a dieta enteral quando se instala distensão abdominal e íleo no pós- -operatório. ⮦⮧ Terapia nutricional enteral possui a mesma taxa de infecção do que a nutrição parenteral. ⮦⮨ Nutrição enteral deve ser a preferência inicial de terapia nutricional no pós-operatório de todos os pacientes submetidos à cirurgia de grande porte. ⮦⮩ Em pacientes desnutridos graves, quando se oferta nutrição parenteral por 7 a 10 dias no pré- -operatório, há melhora de todos os parâmetros nutricionais, como albumina sérica, peso, força muscular, balanço nitrogenado. Resposta metabólica e nutrição em cirurgia Cap. 3 71 B lo co A dificuldade: Alternativa A: INCORRETA. Discorre sobre nutrição pós- -operatória e afirma que não devemos suspender nutrição se íleo metabólico (esta é uma contraindi- cação de dieta enteral). Alternativa B: INCORRETA. A nutrição enteral possui bai- xas taxas de infecção quando comparadas à nutri- ção parenteral. Estaúltima é muito mais propensa ao desenvolvimento de infecção devido ao uso de cateteres intravenosos. Alternativa C: CORRETA. A nutrição enteral sempre deve ser a via de escolha para suporte nutricional pré- -operatório. Alternativa D: INCORRETA. Pacientes submetidos à tera- pia nutricional devem ser nutridos por um período mínimo entre 10 a 14 dias para doenças malignas e 3 semanas para doenças benignas. Além disso, a nutrição pré-operatória objetiva diminuir o risco de complicações perioperatórias e não melhorar os pa- râmetros nutricionais. Na verdade, estes parâmetros muitas vezes não se alteram tão rapidamente. Por exemplo, a albumina sérica possui meia-vida de 20 dias. Mesmo após reposição adequada, o seu valor será o mesmo nos próximos 20 dias. ✔✔ resposta: ⮨ Questão 7 (HOSPITAL UNIVERSITÁRIO PRESIDENTE DUTRA – 2017) Em rela- ção à resposta metabólica ao trauma anestésico e cirúrgico, assinale a alternativa INCORRETA: ⮦⮦ O trauma e a infecção induzem a mudanças subs- tanciais no metabolismo dos carboidratos, lipí- dios e proteínas na maioria dos órgãos e tecidos; a resposta metabólica inicial é caracterizada pelo realce na gliconeogênese, glicogenólise, proteó- lise da musculatura esquelética e lipólise. ⮦⮧ O grau de dano tissular e a duração da cirurgia correlacionam-se com os níveis de liberação da interleucina-6, a qual estimula a síntese hepática das proteínas de fase aguda, tal como a proteína C reativa, fator 3 do complemento e procalcitonina. ⮦⮨ A secreção de hormônios hipofisários e a ati- vação do sistema nervoso simpático levam ao catabolismo, com mobilização de substratos para geração de energia, com retenção de sais e água para manter o volume fluido e homeostase car- diovascular. ⮦⮩ O fígado desempenha um papel importante na resposta ao estresse determinado pelas grandes cirurgias. Ele é considerado um órgão-chave nas alterações cardinais no metabolismo da glicose, proteínas e lipídios. ⮦⮪ As citocinas pró-inflamatórias (ex.: fator de ne- crose tumoral alfa) têm um efeito hipoglicemiante mediado pelo estímulo na liberação de hormô- nios contrarregulatórios, que incluem o cortisol, adrenalina, noradrenalina e glucagon. dificuldade: ✔Y Dica do autor: A resposta metabólica ao trauma cor- responde a uma tentativa do organismo de reagir a uma agressão, no intuito de fornecer glicose e água para os locais que mais necessitam. Esse processo se dá através da liberação de determinados hormônios (contrainsulínicos) e mediadores pró-inflamatórios. Alternativa A: CORRETA. A REMIT é responsável por ativar vias catabólicas através da liberação de hormônios contrarreguladores da insulina. As principais vias ativadas são a da glicogenólise e da gliconeogênese (proteólise e lipólise). Alternativa B CORRETA. Quanto maior a duração e a in- tensidade do trauma, maior a REMIT. Na REMIT, há liberação de citocinas pró-inflamatórias, como a IL-6, que estimula a liberação de proteínas de fase aguda. Alternativa C CORRETA. A REMIT é responsável por ativar vias catabólicas. Estas vias catabólicas são ativadas por determinados hormônios, como as catecolaminas, GH, ACTH, cortisol e glucagon. Além disso, o SRAA também é ativado, levando à retenção de água e sal. Alternativa D: CORRETA. O fígado é responsável por armazenar glicogênio e metabolizar aminoácidos e ácidos graxos, participando ativamente dos pro- cessos de glicogenólise e gliconeogênese na REMIT. Alternativa E: INCORRETA. As citocinas pró-inflamatórias, em conjunto com os hormônios contrarreguladores da insulina, possuem efeito hiperglicemiante. ✔✔ resposta: ⮪ Fixe seus conhecimentos! 72 FIXE SEU CONHECIMENTO COM FLUXOGRAMAS Use esse espaço para construir fluxogramas e fixar seu conhecimento! FIXE SEU CONHECIMENTO COM MAPAS MENTAIS Use esse espaço para construir mapas mentais e fixar seu conhecimento! 29 B lo co A Capítulo 1ASMA DO QUE VOCÊ PRECISA SABER? u Dispneia, tosse crônica, sibilância, opressão ou desconforto torácico paroxístico são os achados mais comuns na asma. u O exame complementar mais importante é a espirometria com broncodilatador. u Definir adequadamente o grau de controle dos sintomas. u Atentar para as mudanças na etapa 1 do tratamento. u Relembrar as medicações de escolha para cada etapa de tratamento. 1. DEFINIÇÃO A asma é uma doença comum e potencialmente grave, caracterizada por inflamação crônica das vias aéreas e hiperresponsividade brônquica. Ela é definida por história de sintomas respiratórios (sibilos, falta de ar, aperto no peito e tosse) que variam ao longo do tempo e em intensidade, além de limitação variável do fluxo expiratório. A obstrução ao fluxo aéreo na asma é parcial ou totalmente reversível, espontaneamente ou após uso de medicações. 2. EPIDEMIOLOGIA A asma é uma doença respiratória crônica comum que afeta de 1 a 18% da população em diferentes países. Segundo dados do DATASUS, a asma brônquica atinge de 10-25% da população brasileira, sendo responsável, anualmente, por 400 mil internações e 2.500 óbitos. 3. FISIOPATOLOGIA A asma é uma doença inflamatória crônica das vias aéreas, na qual diversas células e seus produtos estão envolvidos. Entre as células inflamatórias, destacam-se os mastócitos, eosinófilos, linfócitos T, células dendríticas, macrófagos e neutrófilos. Entre as células envolvidas na patogenia da asma, estão as células epiteliais, as musculares lisas, as endoteliais, os fibroblastos, os miofibroblastos e, até mesmo, os nervos. Dentre os mediadores infla- matórios envolvidos nesse processo, destacam-se as citocinas, eicosanoides, histamina e óxido nítrico. O processo inflamatório tem como resultado as manifestações clínico-funcionais características da doença, resultando em hiperresponsividade brôn- quica, que corresponde a uma resposta broncocons- tritora exacerbada a certos estímulos que seriam inócuos em pessoas normais. O estreitamento brôn- quico paroxístico e reversível é causado pela con- tração da musculatura lisa do brônquio, pelo edema da mucosa e pelo aumento da secreção mucosa. A inflamação crônica observada na asma, nada mais é que um processo contínuo de agressão e reparação, Pneumologia.indb 29 19/12/2019 11:44:15 Asma Capítulo 1 30 podendo levar a alterações estruturais irreversíveis (remodelamento das vias aéreas). Por tratar-se de uma doença heterogênea, a asma pode apresentar diferentes processos subjacentes, caracterizando diferentes fenótipos. 3.1. ASMA ALÉRGICA Este é o fenótipo de asma mais facilmente reconhe- cido, geralmente com início na infância e associado a antecedentes familiares de doença alérgica (eczema, rinite alérgica). O exame do escarro induzido revela frequentemente uma predominância de eosinófilos. Os pacientes com este fenótipo geralmente respon- dem bem ao tratamento com corticoides inalatórios. 3.2. ASMA NÃO ALÉRGICA Alguns adultos têm asma não associada à atopia. O perfil celular do escarro pode ser neutrofílico, eosino- fílico ou conter apenas algumas células inflamatórias. Os pacientes com asma não alérgica frequentemente possuem menor resposta aos corticoides inalatórios. 3.3. ASMA DE INÍCIO TARDIO Predomina em adultos, particularmente do sexo femi- nino, com início dos sintomas apenas na vida adulta. Esses pacientes, em geral, têm atopia e, muitas vezes, requerem doses mais elevadas de corticoides inalatórios ou são relativamente refratários a eles. 3.4. ASMA COM LIMITAÇÃO FIXA AO FLUXO AÉREO Alguns doentes com asma de longa duração desen- volvem uma limitação fixa ao fluxo aéreo, em virtude de um processo de remodelamento da parede das vias aéreas. 3.5. ASMA E OBESIDADE Alguns pacientes obesos com asma apresentam sintomas respiratórios proeminentes e inflamação eosinofílica das vias aéreas. 4. DIAGNÓSTICO CLÍNICO E FUNCIONAL O diagnóstico da asma é sugerido por um ou mais sintomas (dispneia, tosse crônica, sibilância, opressão ou desconforto torácico, sobretudoà noite ou nas primeiras horas da manhã) associado a exames que comprovem a variação e limitação ao fluxo aéreo expiratório (Tabela 1). Faz parte da anamnese a busca por atopias, expo- sições ambientais e ocupacionais, além de fatores de piora dos sintomas (medicações, alterações cli- máticas, exercício, infecções). Tabela 1. Diagnóstico de asma. Achados clínicos sugestivos (sibilos, falta de ar, aperto no peito e tosse) associados a exames que comprovem obstrução variável ao fluxo aéreo Resposta a broncodilatador positiva VEF1 > 12% e > 200 mL após broncodilatador Variações > 15% e > 400 mL aumentam a especificidade para asma Pico de fluxo expiratório ao longo de 2 semanas Variações maiores que 10% ao longo do dia apontam para variabilidade excessiva Melhora significativa da função pulmonar 4 semanas após o tratamento VEF1 > 12% e > 200 mL após broncodilatador Broncoprovocação Queda no VEF1 ≥ 20% com metacolina ou histamina Variação excessiva na função pulmonar entre as avaliações Variações do VEF1 maiores que 12% e 200 mL Fonte: Adaptado do Global Initiative for Asthma.1 O exame físico do asmático geralmente é inespecífico. A presença de sibilos é indicativa de obstrução ao fluxo aéreo, mas não ocorre em todos os pacientes. 4.1. ESPIROMETRIA A espirometria forçada é o principal exame comple- mentar no diagnóstico da asma, sendo que o padrão Pneumologia.indb 30 19/12/2019 11:44:15 Asma Cap. 1 31 B lo co A habitual é a presença de obstrução ao fluxo aéreo com prova broncodilatadora positiva. A obstrução ao fluxo aéreo é caracterizada pela relação VEF1/ CVF menor que 0,7 (ou menor que o limite inferior da normalidade). A resposta ao broncodilatador é considerada significativa quando o VEF1 aumenta pelo menos 200 mL e 12% do valor pré-broncodilatador ou 200 mL de seu valor pré-broncodilatador e 7% do valor previsto. É importante ressaltar que o VEF1, devido a sua reprodutibilidade, tem sido a medida isolada mais acurada para estabelecer a gravidade da limitação ao fluxo aéreo e a resposta imediata ao uso de bron- codilatador. Em algumas situações, é fundamental as medidas de volumes e da resistência de via aérea. A espirometria auxilia na estratificação de gravidade do paciente. FLASHCARDS Qual alteração espirométrica é sugestiva de asma? Distúrbio ventilatório obstrutivo com resposta ao broncodilatador. DICA Espirometria normal não afasta o diagnós- tico de asma. Nesses casos, o teste de broncopro- vocação deve ser realizado. 4.2. BRONCOPROVOCAÇÃO As medidas de hiperresponsividade refletem a sen- sibilidade ou a facilidade com que as vias aéreas reagem aos estímulos externos. Caso não ocorra queda significativa do VEF1 (redução ≥ 20%), mesmo com o uso das doses máximas dessas substâncias, o teste é considerado negativo. Quando positivo, não confirma necessariamente asma (existem outras causas de hiperresponsividade brônquica [HRB], como rinite alérgica e doença do refluxo gastroeso- fágico [DRGE]), mas, se negativo, é capaz de excluir o diagnóstico de asma, uma vez que todo paciente com asma apresenta HRB. DICA Hiperresponsividade brônquica pode ser definida como um aumento na facilidade e grau de estreitamento das vias aéreas em resposta a estímulos broncoconstritores. 4.3. PICO DE FLUXO EXPIRATÓRIO (PFE) A variação exagerada do PFE (> 20%) ao longo do dia é sugestiva de asma. DICA O PFE é importante no diagnóstico, moni- torização, controle da asma e estratificação de gravidade durante as crises. 4.4. TESTES ALÉRGICOS A presença de atopia aumenta a probabilidade de que um paciente com sintomas respiratórios tenha asma alérgica, mas isso não é específico para a asma e nem está presente em todos os seus fenótipos. 4.5. RADIOGRAFIA DE TÓRAX A radiografia de tórax habitualmente é normal e não é essencial para o diagnóstico, mas pode auxiliar na exclusão de outras condições. 5. GRUPOS ESPECIAIS 5.1. ASMA INDUZIDA PELO EXERCÍCIO O exercício físico é um potencial exacerbador da asma. É preciso diferenciar a broncoconstrição indu- zida pelo exercício do descontrole da doença, a fim de medicar corretamente ambas as situações (uso de β2-agonista de curta ação antes do início das atividades e aumento da dose da medicação usual, respectivamente). 5.2. ASMA NA GESTANTE Durante a gestação, ocorre piora em um terço das mulheres asmáticas, manutenção dos sintomas em um terço, e melhora em outro terço. Os efeitos dele- térios da asma não controlada durante esse período estão relacionados ao aumento na incidência de pré-eclâmpsia, prematuridade, baixo peso ao nascer e maior necessidade de parto cesariano. Pneumologia.indb 31 19/12/2019 11:44:15 Asma Capítulo 1 32 O manejo difere pouco em relação ao tratamento de mulheres não grávidas, sendo a budesonida e a beclometasona os corticoides inalatórios de escolha. 5.3. ASMA OCUPACIONAL Estima-se que até 20% dos pacientes com asma de início tardio possam ter relação com causas ocu- pacionais. Perguntar aos pacientes se os sintomas melhoram quando estão fora do trabalho (fins de semana ou férias) é essencial durante a anamnese. Asma ocupacional provocada por agentes de alto peso molecular (sensibilizantes) é quase sempre precedida por rinite, sendo sua prevalência próxima de 90% nesse cenário. Faz parte do tratamento afastar o indivíduo do agen- te relacionado. 5.4. TOSSE VARIANTE DE ASMA Em alguns pacientes, a tosse é a única manifesta- ção da asma, predominando no período noturno. O paciente pode permanecer assintomático ao longo do dia. Para o seu diagnóstico, é preciso documentar a variabilidade da função pulmonar ou a hiperresponsi- vidade das vias aéreas. A tosse variante da asma deve ser diferenciada da bronquite eosinofílica, com esta última caracterizando-se por tosse, eosinofilia no escarro, porém sem hiperresponsividade brônquica. 6. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL O diagnóstico diferencial em um paciente com sus- peita de asma varia conforme a idade. Qualquer um desses diagnósticos também pode ser encontrado em conjunto com a asma (Tabela 2). Tabela 2. Diagnósticos diferenciais de asma. Idade Condição Sintomas 6 – 11 anos • Síndrome da Tosse crônica das vias Aéreas Superiores • Inalação de corpo estranho • Bronquiectasias • Discinesia Ciliar Primária • Doença Cardíaca Congênita • Displasia Broncopulmonar • Fibrose Cística • Espirros, coceira, nariz entupido, limpeza da garganta • Início repentino de sintomas, chiado unilateral • Infecções recorrentes, tosse produtiva • Infecções recorrentes, tosse produtiva, sinusite • Sopros cardíacos • Parto pré-termo, sintomas desde o nascimento • Produção excessiva de tosse e muco, sintomas gastroin- testinais 12 – 39 anos • Síndrome da Tosse crônica das vias Aéreas Superiores • Disfunção de corda vocal • Hiperventilação, Respiração disfuncional • Bronquiectasias • Fibrose Cística • Doença Cardíaca Congênita • Deficiência de alfa-1 antitripsina • Inalação de corpo estranho • Espirros, coceira, nariz entupido, limpeza da garganta • Dispneia, sibilância inspiratória (estridor) • Tontura, parestesia, respiração suspirosa • Tosse produtiva, infecções recorrentes • Tosse excessiva e produção de muco • Sopros cardíacos • Falta de ar, história familiar de enfisema precoce • Início súbito de sintomas > 40 anos • Disfunção de corda vocal • Hiperventilação e respiração disfuncional • DPOC • Bronquiectasias • Falência Cardíaca • Tosse relacionada a medicação • Dispneia, sibilância inspiratória (estridor) • Tontura, parestesia, suspiros • Tosse, escarro, dispneia aos esforços, tabagismo ou exposição nociva • Tosse produtiva, infecções recorrentes • Dispneia com esforço, sintomas noturnos Pneumologia.indb 32 19/12/2019 11:44:15 Asma Cap. 1 33 B lo co A Idade Condição Sintomas > 40 anos (continuação) • Doença Pulmonar Parenquimatosa • Embolia pulmonar • Obstrução Central da Via Aérea • Tratamento com inibidores da enzima conversora daangiotensina (IECA) • Dispneia com esforço, tosse não produtiva, baquetea- mento digital • Início súbito de dispneia, dor torácica • Dispneia não responsiva aos broncodilatadores Fonte: Adaptado do Global Initiative for Asthma.1 7. CONTROLE DA ASMA A principal meta do tratamento da asma é a obtenção e manutenção do controle da doença. O controle das limitações deve ser preferencialmente avaliado em relação às últimas quatro semanas, e deve abordar os sintomas, necessidade de medicação de alívio, limitação de atividades físicas e intensi- dade da limitação ao fluxo aéreo. A partir desses parâmetros, a asma pode ser classificada em três grupos distintos: asma controlada, não controlada e parcialmente controlada (Tabela 3). Tabela 3. Critérios para avaliação do controle de asma. Parâmetro Controlado Parcialmente controlado (presença de um ou dois critérios abaixo) Não controlado Sintomas diurnos ≤ 2 x/semana > 2 ou mais/semana Três ou mais parâmetros presentes em qualquer semana Despertares noturnos Nenhum Pelo menos 1 Necessidade de medicamentos de resgate ≤ 2 x/semana > 2 ou mais/semana Limitação de atividades Nenhuma Presente em qualquer momento PFE ou VEF1 Normal ou próximo do normal < 80% predito ou do melhor individual, se conhecido Fonte: Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia.2 DICA Por definição, uma exacerbação em qualquer semana (nas últimas quatro semanas) é indicativa de asma não controlada. FLASHCARDS Quais os parâmetros utilizados para avaliar o con- trole da asma? Sintomas diurnos, despertares noturnos, necessida- de de medicamentos de resgate, limitação de ativi- dades e PFE ou VEF1. Vale ressaltar que essa classificação é dinâmica, devendo ser acessada a cada consulta. 8. RISCO FUTURO Após a classificação do paciente, acessar o risco futuro de exacerbação e de evolução com obstrução fixa ao fluxo aéreo é fundamental para o seguimento do paciente, pois intervenções adequadas são capa- zes de reduzir esses eventos (Tabela 4). Pneumologia.indb 33 19/12/2019 11:44:15 Asma Capítulo 1 34 Tabela 4. Fatores de risco para crise de asma. Asma não controlada Uso inadequado ou não prescrição de corticoide inalatório VEF1 < 60% do predito Uso frequente de broncodilatador de alívio Gestação Comorbidades: psiquiátricas, obesidade, alergia alimentar e sinusite crônica Tabagismo ou exposição ocupacional Eosinofilia (sangue ou escarro), aumento do FENO em pacientes usando corticoide inalatório Intubação prévia ou admissão em UTI Pelo menos uma exacerbação grave nos últimos doze meses Fonte: Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia.2 Os principais fatores relacionados à obstrução fixa ao fluxo aéreo são prematuridade, baixo peso ao nascer, exposição ocupacional, tabagismo, VEF1 baixo, bronquite e eosinofilia (escarro ou sérico). 9. CLASSIFICAÇÃO DE GRAVIDADE Enquanto o controle da asma expressa a intensidade com que as manifestações da asma estão suprimidas pelo tratamento, a gravidade refere-se à quantidade de medicamentos necessária para atingir o controle (etapa do tratamento). Assim, a gravidade da asma reflete uma característica intrínseca da doença, definida pela intensidade do tratamento requerido, e que é alterada lentamente com o tempo, enquanto o controle é variável em dias ou semanas, sendo influenciado pela adesão ao tratamento ou pela exposição a fatores desencadeantes. A classificação da gravidade da asma (Tabela 5) deve ser feita após a exclusão de causas importantes de descontrole, tais como comorbidades não tratadas, uso incorreto do dispositivo inalatório e não adesão ao tratamento. Tabela 5. Classificação de gravidade da asma e manejo sugerido. Manejo da asma baseado no nível de controle para maiores de cinco anos. BD: broncodilatador; CI: corticoide inalatório; LABA: long-acting beta2-agonist (beta2 de ação prolongada). As opções em negrito e itálico constituem as primeiras opções. Etapas do tratamento Etapa 1 Etapa 2 Etapa 3 Etapa 4 Etapa 5 Educação e controle ambiental Tratamento de manutenção Escolha: baixa dose de formoterol/ CI para alívio dos sintomas Alternativa: CI combinado com SABA, para alivio dos sintomas Selecione uma das opções abaixo Selecione uma das opções abaixo Selecione uma das opções abaixo Adicionar um ou mais em relação à etapa 4 Dose baixa de CI Dose baixa de CI + LABA Dose moderada ou alta de CI + LABA Tiotrópio (se já não tiver sido iniciado) Antileucotrienos Dose média ou alta de CI Dose moderada ou alta de CI + LABA + antileucotrienos Omalizumabe ou mepolizumabe Dose baixa de CI + teofilina de liberação lenta Dose moderada ou alta de CI + LABA + teofilina de liberação lenta Corticoide oral na dose mais baixa possível Dose moderada ou alta de CI + LABA + tiotrópio Tratamento de alívio: Escolha: baixa dose de formoterol/CI; Alternativa: beta agonista de curta ação (SABA) Fonte: Adaptado do Global Initiative for Asthma.1 Pneumologia.indb 34 19/12/2019 11:44:15 Asma Cap. 1 35 B lo co A Pacientes na etapa 1 e 2 são classificados como portadores de asma leve; aqueles na etapa 3, asma mode- rada e, na etapa 4 e 5, como asma grave. Tabela 6. Equipotência dos corticoides inalatórios. Corticoide inalatório Dose baixa Dose média Dose alta Budesonida 200 – 400 mcg > 400 – 800 mcg > 800 mcg Beclometasona (HFA) 100 – 200 mcg > 200 – 400 mcg > 400 mcg Furoato de fluticasona 100 mcg - 200 mcg Propionato de fluticasona 100 – 250 mcg > 250 – 500 mcg > 500 mcg Mometasona 200 mcg ≥ 400 mcg > 800 mcg Ciclesonida 80 – 160 mcg > 160 – 320 mcg > 320 mcg Fonte: Adaptado do Global Initiative for Asthma.1 10. TRATAMENTO O objetivo do manejo da asma é a obtenção do controle da doença. Controle refere-se à extensão com a qual as manifestações da asma estão suprimidas, espon- taneamente ou pelo tratamento, e compreende dois domínios distintos: o controle das limitações clínicas atuais e a redução dos riscos futuros (exacerbação, efeitos adversos do tratamento e perda funcional). Para os pacientes que irão iniciar o tratamento (ou seja, virgens de tratamento), deve-se iniciar pela etapa 2 ou, se o paciente estiver muito sintomático, pela etapa 3. Após o início do tratamento, este deve ser ajustado conforme as mudanças que vão ocorrendo de forma dinâmica. Esse ciclo engloba acessar, tratar para obter o controle e monitorar para manter o controle (Figura 1). Figura 1. Manejo da asma baseado no controle. Fonte: Adaptado do Global Initiative for Asthma.1 Pneumologia.indb 35 19/12/2019 11:44:15 Asma Capítulo 1 36 10.1. ETAPA 1 – MEDICAÇÃO DE RESGATE PARA O ALÍVIO DOS SINTOMAS FLASHCARDS Qual medicação é usada para alívio dos sintomas na asma? β2-agonista de rápido início de ação. Houve uma mudança importante no tratamento desta etapa. Anteriormente, baseava-se no uso apenas de broncodilatadores de curta duração para pacientes com sintomas ocasionais (tosse, sibilos ou dispneia, ocorrendo duas vezes ou menos por semana). A nova recomendação baseia-se no uso preferencial de formoterol/budesonida em baixas doses, quando necessário. Uma alternativa seria a combinação de β2 de curta duração e corticoide inalatório. 10.2. ETAPA 2 – MEDICAÇÃO DE ALÍVIO MAIS UM ÚNICO MEDICAMENTO DE CONTROLE Os corticoides inalatórios em baixas doses são a primeira escolha. Alternativas incluem antileucotrie- nos para pacientes que não conseguem utilizar a via inalatória ou para aqueles que têm efeitos adversos intoleráveis mediante o uso de corticoide inalatório. FLASHCARDS Qual é o tratamento de primeira escolha para todas as formas de asma persistente? Corticoide inalatório. DICA Os espaçadores reduzem a biodisponibili- dade sistêmica dos corticoides inalatórios, redu- zindo os efeitos colaterais. 10.3. ETAPA 3 – MEDICAÇÃO DE ALÍVIO MAIS UM OU DOIS MEDICAMENTOS DE CONTROLE A associação de um corticoide inalatório em bai- xas doses com um β2-agonista inalatóriode ação prolongada é a primeira escolha. Um β2-agonista de início rápido de ação pode ser utilizado para o alívio de sintomas conforme necessário. Uma alternativa, ao invés de associar um β2-agonista de ação prolongada, pode-se aumentar a dose do corticoide inalatório. Outras opções são a adição de um antileucotrieno ao corticoide inalatório em doses baixas ou a combinação com teofilina, nesta ordem. 10.4. ETAPA 4 – MEDICAÇÃO DE ALÍVIO MAIS DOIS OU MAIS MEDICAMENTOS DE CONTROLE Na etapa 4, sempre que possível, a escolha con- siste na combinação de corticoide inalatório em doses médias ou altas com um β2-agonista de ação prolongada. Como alternativa, pode-se adicionar tiotrópio, antileucotrieno ou teofilina à combinação citada acima. 10.5. ETAPA 5 – MEDICAÇÃO DE ALÍVIO MAIS MEDICAÇÃO DE CONTROLE ADICIONAL Caso o paciente não esteja em uso de tiotrópio, considerar a sua introdução. Caso o paciente per- maneça sintomático, adiciona-se corticoide oral às outras medicações de controle já referidas, mas deve-se sempre considerar os efeitos adversos poten- cialmente graves. Esse esquema somente deve ser empregado para pacientes com asma não controlada na etapa 4, que tenham limitação de suas ativida- des diárias e frequentes exacerbações, tendo sido exaustivamente questionados sobre a adesão ao tra- tamento. A dose do corticoide oral deve ser a menor possível para manter o paciente controlado. A adição de imunobiológicos (omalizumabe, mepolizumabe e benralizumabe) é uma alternativa na etapa 5, na tentativa de melhorar o controle da asma, reduzir o risco de exacerbações e efeitos adversos relacio- nados ao uso prolongado de corticoide sistêmico. 10.6. TIOTRÓPIO O tiotrópio (antagonista muscarínico de ação pro- longada) pode ser usado como terapia adjuvante para pacientes adultos ou adolescentes com história de exacerbações, estando relacionado a discreta Pneumologia.indb 36 19/12/2019 11:44:15 Asma Cap. 1 37 B lo co A melhora da função pulmonar e aumento do intervalo entre as exacerbações. Vale lembrar que a última diretriz brasileira de asma não contemplava essa opção terapêutica, porém a Global Initiative for Asthma (GINA) já o faz nas suas últimas edições. 10.7. IMUNOBIOLÓGICOS 10.7.1. OMALIZUMABE FLASHCARDS Qual é a medicação utilizada na asma refratária ao uso de corticoesteroides em altas doses? Anticorpos monoclonais recombinantes humaniza- dos (anti-IgE). Foi a primeira droga com ação anti-IgE disponibi- lizada para o tratamento da asma. Trata-se de um anticorpo monoclonal recombinante humanizado que se liga com grande afinidade e especificidade à IgE circulante. Pacientes em uso dessa medicação apresentam maiores chances de ter redução de mais de 50% na dose do corticoide inalado, menor risco de exacerbações e hospitalização por asma, além de suspensão do corticoide sistêmico. Seu uso fica restrito aos pacientes maiores de doze anos, estágio 5 e com IgE sérico entre 30 e 700 l/mL. 10.7.2. OUTROS IMUNOBIOLÓGICOS Com o melhor entendimento das vias inflamatórias relacionadas à asma, inúmeras classes de imonu- biológicos vem sendo desenvolvidas. A classe dos anti-interleucina 5 (mepolizumabe, benralizumabe e reslizumabe) e anti-interleucina 4 (dupilumab) pode ser utilizada na asma eosinofílica grave não controlada. Vale lembrar que a última diretriz brasileira de asma não contemplava essa opção terapêutica, porém a GINA já o faz. 10.8. TRATAMENTO ADJUVANTE Além dos tratamentos farmacológicos, outras estra- tégias podem ser consideradas, quando relevantes, para ajudar a melhorar o controle dos sintomas e reduzir o risco futuro (Tabela 7). Os betabloqueadores devem ser utilizados com muita cautela em pacientes asmáticos, sendo preferidos os cardiosseletivos (metoprolol, atenolol, esmolol, nebivolol e bisoprolol). Em caso de piora dos sintomas após introdução, devem ser suspensos. Tabela 7. Tratamento adjuvante da asma. AINEs, anti-inflamatório não esteroide; BB, betabloqueador; AAS, ácido acetilsalicílico. Cessação do tabagismo Atividade física Afastar exposição ocupacional Evitar medicações que pioram os sintomas (AINEs, BB, AAS) Dieta saudável Controle adequado do peso Controle das comorbidades Vacina para influenza anual Fonte: Adaptado do Global Initiative for Asthma.1 DICA O controle ambiental e dos fatores agra- vantes no manejo da asma são auxiliares no tra- tamento medicamentoso. 11. SEGUIMENTO DO PACIENTE O controle dos sintomas do paciente e o tratamento no momento da avaliação determinam a escolha e a dose dos medicamentos a serem prescritos. Caso o paciente não esteja controlado, deve ser feito o incremento do esquema terapêutico, aumentan- do-se as doses e/ou as classes de medicamentos, passando para a etapa seguinte de tratamento. Se o controle estiver mantido por pelo menos três meses, o paciente deve ser avaliado para possível redução do tratamento atual. Se a asma estiver parcialmente controlada, o médico deve julgar a passagem para a etapa seguinte, considerando aspectos como satis- fação do paciente com o nível de controle, efeitos adversos dos medicamentos a serem prescritos, atividades do paciente, presença de comorbidades e história de asma quase fatal. Pneumologia.indb 37 19/12/2019 11:44:15 Asma Capítulo 1 38 11.1. REDUÇÃO DA DOSE (STEP DOWN) A redução na dose das medicações, após obtenção de controle por pelo menos três meses, deve seguir uma rotina, a fim de minimizar os riscos ao longo desse processo (Tabela 8). Tabela 8. Sugestões de redução do tratamento de controle (step down). Corticoide inalatório (CI) isolado Reduzir em 50% (dose média/alta). Dose única diária (dose baixa) CI/Beta2-agonista de longa duração Reduzir o CI em 50%. Quando em dose baixa, retirar o beta2-agonista CI/outras medicações Reduzir o CI em 50%. Quando em dose baixa, retirar a outra medicação CI dose baixa Após doze meses de estabilidade, retirar o CI Fonte: Adaptado do Global Initiative for Asthma.1 11.2. AUMENTO DA DOSE (STEP UP) A perda do controle, caracterizada pela recor- rência ou piora dos sintomas que requer doses repetidas de broncodilatadores de alívio por mais de dois dias, indica a necessidade de ajustes no tratamento. REFERÊNCIAS (TABELAS E IMAGENS) 1. Global Initiative for Asthma. Global Strategy for Asth- ma Management and Prevention. [Internet]; 2019. [aces- so em xx]. Disponível em: https://ginasthma.org/wp- -content/uploads/2019/06/GINA-2019-main-report-June- -2019-wms.pdf. 2. Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia. Diretrizes da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia para o Manejo da Asma – 2012. J Bras Pneumol. 2012; 38(Supl 1): S1-46. Pneumologia.indb 38 19/12/2019 11:44:15 Asma Cap. 1 39 B lo co A QUESTÕES COMENTADAS Questão 1 (UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO – 2018) Menina de 9 anos de idade está em seguimento ambulatorial por quadro de sibilância recorrente, iniciada aos 6 meses de ida- de. Os episódios são desencadeados por infecções virais, mudança de temperatura ambiental e expo- sição a alérgenos (poeira e fumaça). Foi internada 3 vezes devido a exacerbações, e a última internação foi aos 6 anos de idade. Nas últimas 4 semanas a mãe refere que a criança tem apresentado tosse e cansaço durante a noite, acordando 1 vez por sema- na devido a estes sintomas. Durante o dia a criança fica bem, faz suas atividades habituais sem dificulda- des, participando, inclusive, das aulas de educação física da escola. A mãe refere que a criança não faz uso de broncodilatador há mais de 6 meses. Qual é a classificação da asma dessa paciente? ⮦⮦ Parcialmente controlada. ⮦⮧ Intermitente moderada. ⮦⮨ Persistente leve. ⮦⮩ Episódica descontrolada. dificuldade: Resolução: Para resolvermos essa questão precisa- mos nos lembrar da classificação da asma, que é dada através dos critérios de Sintomas diurnos, li- mitações de atividades, sintomas e/ou despertares noturnos e necessidadede medicações de alívio. Como essa paciente apresenta sintomas noturno apenas, ela é classificada como uma asma parcial- mente controlada. ✔✔ resposta: ⮦ Questão 2 (UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE – 2018) Sobre a espiro- metria no diagnóstico e manejo da asma, assinale a alternativa INCORRETA: ⮦⮦ Pacientes com sintomas intermitentes ou asma controlada geralmente têm espirometria normal. ⮦⮧ Quando a história clínica é característica, mas a espirometria é normal, o paciente tem indicação de realizar o teste de broncoprovocação para definição diagnóstica. ⮦⮨ A espirometria é essencial para a avaliação da gravidade da asma. ⮦⮩ A resposta ao broncodilatador é considerada significativa e indicativa de asma quando o VEF1 aumenta pelo menos 200 mL ou 7% de seu valor pré-broncodilatador. dificuldade: ✔Y Dica do autor: 10% das crianças com asma apre- sentam hiperinsuflação isolada e não detectada na manobra de expiração forçada. Alternativa A: CORRETA. Uma espirometria normal não exclui o diagnóstico de asma. Pacientes com sinto- mas intermitentes ou asma controlada geralmente têm espirometria inteiramente normal antes do uso de broncodilatador. Alternativa B: CORRETA. Em casos de dúvida em relação ao diagnóstico, a observação da variabilidade do PFE, a repetição da espirometria durante um período sintomático ou um teste de broncoprovocação pode confirmar ou afastar a suspeita de asma. Alternativa C: CORRETA. A espirometria é essencial para a avaliação da gravidade da asma. Pneumologia.indb 39 19/12/2019 11:44:15 Asma Capítulo 1 40 Alternativa D: INCORRETA. A diretriz nacional admite como um dos critérios diagnósticos de asma um aumento do VEF1 ≥ 200 mL e ≥ 7% do valor previsto. ✔✔ resposta: ⮩ Questão 3 (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ – 2018) Para a classificação do nível de controle da asma em crianças maiores de seis anos, adolescentes e adultos, são avaliados os quatro parâmetros listados abaixo. Assinale op- ção em que todos os parâmetros estão CORRETOS. ⮦⮦ Sintomas de asma diurnos mais que duas vezes por semana; limitação da atividade devido à asma; saturação de oxigênio menor que 92% nas crises de asma e mais que uma exacerbação grave de asma no último ano. ⮦⮧ Limitação da atividade devido à asma; uso de mais de dois tubos de aerossol dosimetrado de β2-agonista de curta duração por mês; despertar noturno devido à asma e nível elevado de imu- noglobulina E (IgE). ⮦⮨ Despertar noturno devido à asma; sintomas de asma diurnos mais que duas vezes por semana; limitação da atividade devido à asma e necessi- dade de β2-agonista de curta duração mais que duas vezes por semana. ⮦⮩ Despertar noturno devido à asma; limitação da atividade devido à asma; sintomas de asma diur- nos mais que duas vezes por semana e saturação de oxigênio menor que 92% nas crises de asma. ⮦⮪ Limitação da atividade devido à asma; despertar noturno devido a asma; necessidade de cortico- terapia sistêmica mais que uma vez por mês para tratar crise de asma e sintomas de asma diurnos mais que duas vezes por semana. dificuldade: ✔Y Dica do autor: Consideramos asma não controlada na presença de três ou mais dos parâmetros da asma parcialmente controlada. Resolução: A alternativa C descreve corretamente os critérios da classificação da asma quanto ao con- trole clínico. ✔✔ resposta: ⮨ Questão 4 (SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DE BELO HORIZONTE – 2018) Con- siderando os níveis de controle da asma, relacione a COLUNA II com a COLUNA I, associando os parâ- metros aos graus de controle. COLUNA I: 1 – Asma controlada; 2 – Asma parcialmente controlada; 3 – Asma não controlada. COLUNA II: ( ) PFE normal. ( ) Três ou mais sintomas diurnos por semana. ( ) Limitação das atividades. ( ) Mais de três parâmetros alterados. ( ) Desper- tares noturnos. Assinale a sequência CORRETA. ⮦⮦ 2 2 1 3 1 ⮦⮧ 1 2 1 3 2 ⮦⮨ 1 2 2 3 2 ⮦⮩ 1 1 2 3 1 dificuldade: ✔Y Dica do autor: Cuidado! Qualquer exacerbação é in- dicativa da necessidade de revisão do tratamento de manutenção. Associação 1: (1). PFE normal é um critério de asma controlada. Associação 2: (2). Três ou mais sintomas diurnos por se- mana é um critério de asma parcialmente controlada. Associação 3: (2). Limitação das atividades é um critério de asma parcialmente controlada. Associação 4: (3). Consideramos asma não controlada na presença de três ou mais dos parâmetros da asma parcialmente controlada. Associação 5: (2). Despertares noturnos é um critério de asma parcialmente controlada. ✔✔ resposta: ⮨ Questão 5 (UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE – 2017) Em rela- ção ao conceito, fenótipos e tratamento da doença asma, é correto afirmar: I. É uma doença heterogênea, não inflamatória, associada à obstrução variável do fluxo aéreo reversível com ou sem tratamento, hiperrespon- Pneumologia.indb 40 19/12/2019 11:44:15 Asma Cap. 1 41 B lo co A sividade brônquica e quadro clínico variável em frequência e intensidade; II. Os dispositivos inalatórios disponíveis para o tratamento da asma liberam os medicamentos diretamente nas vias respiratórias inferiores, o que proporciona maior concentração local da substância administrada e menor risco de absorção sistêmica; III. Os β2-adrenérgicos de ação rápida são consi- derados as drogas de eleição no tratamento de alívio de paciente em crise asmática e corticoide sistêmico em todas as crises; IV. A asma com início na infância associada à doença alérgica, seja no paciente ou familiar de primeiro grau, responde bem ao tratamento de controle com corticoide inalatório, diferentemente dos casos de início tardio, especialmente em mulhe- res, que exigem altas doses de corticoide inala- tório ou podem ser refratários a eles. Está CORRETO apenas o que se afirma em: ⮦⮦ I, II e III. ⮦⮧ II, III e IV. ⮦⮨ I, II e IV. ⮦⮩ II e IV. ⮦⮪ III e IV. dificuldade: ✔Y Dica do autor: O uso de corticoides por via oral ou intravenosa na crise asmática tem efeito clínico equivalente. Assertiva I: FALSA. Asma é uma doença inflamatória crônica. Assertiva II: VERDADEIRA. Descreve corretamente as- pectos da farcamocinética dos medicamentos ad- ministrados por via inalatória. Assertiva III: FALSA. Uma bela casca de banana. O cor- ticoide sistêmico deve ser utilizado na maior parte das crises, principalmente nos pacientes que procu- ram o pronto-atendimento; porém, de acordo com última edição do GINA, crises muito leves podem ser tratadas apenas com ajuste das medicações de uso diário. Mais uma vez, atenção à linguagem de prova, TODAS é uma palavra muito traiçoeira nos concursos. Assertiva IV: VERDADEIRA. A asma na infância tende a ser mais responsiva ao tratamento do que no adulto. ✔✔ resposta: ⮩ Questão 6 (UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA – 2017) Mulher de 30 anos, não tabagista e sem comorbidades. Refere tosse e dispneia há 2 anos. Durante primeiro atendimen- to, foi feita a hipótese diagnóstica de asma. Foram prescritos budesonida 400 mcg (dose moderada) e formoterol 12 mcg, inalatórios de 12/12h, e foi solici- tada espirometria pré e pós-broncodilatador. Retorna após 3 meses, sem qualquer melhora dos sintomas, apesar do uso regular das medicações. A espirome- tria é normal. A conduta adequada é: ⮦⮦ Aumentar a dose do corticoide inalatório. ⮦⮧ Aumentar a dose do β2-agonista. ⮦⮨ Investigar diagnóstico diferencial. ⮦⮩ Associar tiotrópio. dificuldade: Resolução: Na suspeita de asma com uma espirome- tria normal, pode-se questionar sobre repetir a es- pirometria com teste broncoprovocativo. Porém, a paciente iniciou o tratamento empírico com glico- corticoide inalatório, que controla a atividade infla- matória, e mesmo assim os sintomas persistiram e a espirometria foi normal. Assim, o mais provável é que a paciente não tenha asma, portanto é neces- sário investigar diagnósticos diferenciais. ✔✔ resposta: ⮨ Questão 7 (HOSPITAL UNIVERSITÁRIO CASSIANO ANTÔNIO DE MORAES – 2018) A asma é a doença crônica mais frequente na infân- cia em todosos países do mundo. Sobre a asma, é correto afirmar: ⮦⮦ Os principais medicamentos para controle da asma são os antileucotrienos. ⮦⮧ As diretrizes atuais recomendam o uso de corti- coide inalatório diário apenas para crianças com asma grave. Os pacientes com asma persistente leve e moderada devem fazer apenas broncodi- latadores nas crises. Pneumologia.indb 41 19/12/2019 11:44:15 Asma Capítulo 1 42 ⮦⮨ Cerca de 30% a 70% das crianças têm pelo menos um episódio de sibilância ao longo da vida, mas somente 30% dos pré-escolares com sibilância recorrente terão asma na idade de 6 anos. ⮦⮩ Crianças que iniciam sibilância antes de um ano de idade terão asma por toda a vida. dificuldade: ✔Y Dica do autor: As principais características que têm sido utilizadas para prever se a sibilância recorren- te na criança irá persistir na vida adulta são as se- guintes: diagnóstico de eczema nos três primeiros anos de vida; pai ou mãe com asma; diagnóstico de rinite nos três primeiros anos de vida; sibilância sem resfriado (virose); e eosinofilia sanguínea > 3% (na ausência de parasitoses). Alternativa A: INCORRETA. Os principais medicamentos para controle da asma são os corticoides inalatórios. Alternativa B: INCORRETA. O step 1 (apenas broncodi- latadores nas crises) está indicado apenas para pacientes com sintomas < 2x/mês, sem despertar noturno e sem fatores de risco para exacerbações. Alternativa C: CORRETA. Ainda não é possível predizer com segurança o curso clínico da sibilância entre lactentes e pré-escolares, mas estima-se que 30% dos pré-escolares com sibilância recorrente terão asma na idade de 6 anos. Alternativa D: INCORRETA. ✔✔ resposta: ⮨ Questão 8 (INSTITUTO DE ASSISTÊNCIA MÉDICA AO SERVIDOR PÚBLICO ESTA- DUAL – 2017) Com relação às principais doenças pul- monares, assinale a alternativa CORRETA: ⮦⮦ A Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC) incide apenas em tabagistas. ⮦⮧ O cigarro eletrônico é uma alternativa segura para ajudar na cessação do tabagismo. ⮦⮨ Um paciente com asma pode ter um exame de função pulmonar normal. ⮦⮩ O refluxo laríngeo-faríngeo não é causa comum de tosse. ⮦⮪ Omalizumabe é opção terapêutica inicial para asma persistente leve. dificuldade: ✔Y Dica do autor: A avaliação funcional da asma, atra- vés da espirometria, tem três utilidades principais: estabelecer o diagnóstico; documentar a gravidade da obstrução ao fluxo aéreo; e monitorar o curso da doença. Alternativa A: INCORRETA. DPOC pode ocorrer, por exem- plo, em pacientes com deficiência de alfa-1-anti- tripsina. Alternativa B: INCORRETA. O cigarro eletrônico não está recomendado como medida para cessação do ta- bagismo. Alternativa C: CORRETA. Uma espirometria normal não exclui o diagnóstico de asma. Pacientes com sinto- mas intermitentes ou asma controlada geralmente têm espirometria inteiramente normal antes do uso de broncodilatador. Alternativa D: INCORRETA. DRGE é uma das três princi- pais causas de tosse crônica no adulto. Alternativa E: INCORRETA. Omalizumabe (anti-IgE) deve ser reservado para pacientes com > 6 anos com asma alérgica moderada-grave. ✔✔ resposta: ⮨ Questão 9 (UNIVERSIDADE DO ESTADO DO PARÁ/BELÉM – 2016) A asma é uma das doenças crônicas mais comuns que afeta tanto crianças quanto adultos, sendo um problema mundial de saúde e acometendo cerca de 300 mi- lhões de pessoas. Estima-se que no Brasil existam aproximadamente 20 milhões de asmáticos. A asma é uma causa importante de faltas escolares e no tra- balho. Com relação à Asma, é correto afirmar que: I. Asma é definida como patologia de acometimento das vias aéreas com reversibilidade após o uso de broncodilatador. II. A chave do tratamento da asma é o β-adrenérgico inalatório. III. A asma está relacionada principalmente com fatores ambientais e tabagismo e menos com genética. IV. O corticoide inalatório em altas doses está indi- cado em todos os pacientes asmáticos. A alternativa que contém todas as afirmativas cor- retas é: Pneumologia.indb 42 19/12/2019 11:44:15 Asma Cap. 1 43 B lo co A ⮦⮦ I ⮦⮧ II e III ⮦⮨ I e IV ⮦⮩ I e II ⮦⮪ I, II, III e IV dificuldade: ✔Y Dica do autor: Asma leve é aquela que, para ser bem controlada, necessita de baixa intensidade de tratamento (etapa 2); asma moderada é aquela que necessita de intensidade intermediária (etapa 3); e asma grave, de alta intensidade de tratamento (etapas 4 e 5). Assertiva I: VERDADEIRA. A asma ocorre como conse- quência da obstrução ao fluxo aéreo intrapulmonar generalizada e variável, reversível espontaneamente ou com tratamento. Assertiva II: FALSA. A chave do tratamento da asma é o corticoide inalatório. Assertiva III: FALSA. A asma está muito relacionada com fatores genéticos, enquanto fatores ambientais atuam como desencadeantes/agravantes. Assertiva IV: FALSA. Corticoide inalatório em altas doses está indicado nos steps 4 e 5 do tratamento da asma. A maioria dos pacientes responde a doses baixas. ✔✔ resposta: ⮦ Questão 10 (SECRETARIA ESTADUAL DE SAÚDE DO RIO DE JANEIRO – 2016) O maior benefício do uso de antileucotrienos na asma é em: ⮦⮦ substituição aos corticoides inalatórios. ⮦⮧ substituição aos β-agonistas de longa duração. ⮦⮨ adição aos β-agonistas de curta duração usados como resgate. ⮦⮩ adição aos corticoides inalatórios, na ausência de controle clínico realizado com estes. dificuldade: Resolução: A base da terapia de manutenção da asma crônica é o uso de corticosteroides inalatórios. Caso esses medicamentos não sejam o suficiente para le- var ao controle da asma, podemos adicionar outras drogas ao tratamento, sendo os leucotrienos uma das opções. ✔✔ resposta: ⮩ Pneumologia.indb 43 19/12/2019 11:44:15 Fixe seus conhecimentos! 44 FIXE SEU CONHECIMENTO COM FLUXOGRAMAS Use esse espaço para construir fluxogramas e fixar seu conhecimento! FIXE SEU CONHECIMENTO COM MAPAS MENTAIS Use esse espaço para construir mapas mentais e fixar seu conhecimento! Pneumologia.indb 44 19/12/2019 11:44:16 45 B lo co A Capítulo 2CRISE ASMÁTICA DO QUE VOCÊ PRECISA SABER? u A crise asmática geralmente ocorre em resposta à exposição a um agente infeccioso (principalmente os vírus), poluição, mudança climática, exercício físico, odores fortes ou aeroalérgenos. u O paciente deve ser classificado quanto à gravidade do quadro a partir da impressão clínica geral, do estado mental e da avaliação cardiorrespiratória. u A terapia inicial envolve a administração repetida de broncodilatadores de curta ação, introdução precoce de corticosteroides sistêmicos e suplementação controlada de oxigênio (objetivando manter a SpO2 entre 93-95%). u Anticolinérgicos de curta ação são indicados, em associação ao β2-agonista, nas exacerbações graves ou muito graves. u O sulfato de magnésio pode ser utilizado em caso de falha ao tratamento inicial. 1. VISÃO GERAL A asma é uma doença pulmonar inflamatória crônica, caracterizada pela obstrução variável ao fluxo aéreo e hiperresponsividade das vias aéreas inferiores. A doença cursa com episódios recorrentes de exacer- bações, caracterizadas pelo aumento progressivo de sintomas como dispneia, tosse, sibilos e opressão torácica, com diminuição da função pulmonar. A “crise asmática” representa uma alteração do estado usual do paciente, que demanda a modificação do tratamento habitual. Pode ocorrer em indivíduos com diagnóstico prévio de asma ou ser a apresen- tação inicial da doença. É um evento temido devido à sua morbidade, porém de prognóstico favorável quando bem conduzido. 2. ETIOLOGIA As exacerbações geralmente ocorrem em resposta à exposição a um agente externo, como infecção viral do trato respiratório superior, poluição, mudança climática, exercício físico, odores fortes e aeroalér- genos. Também estão mais susceptíveis à perda do controle da doença aqueles pacientes com má adesão ao tratamento de manutenção e portadores de múltiplas comorbidades. 3. FISIOPATOLOGIA A principal anormalidadeda função pulmonar durante um episódio de asma consiste na redução do fluxo aéreo. O fluxo mesoexpiratório máximo diminui na crise de asma, correlacionando-se à gravidade do quadro, podendo não normalizar, mesmo após a resolução clínica da crise. 4. QUADRO CLÍNICO E CLASSIFICAÇÃO DE GRAVIDADE Os sintomas de dispneia, sibilos, desconforto/opres- são torácica e tosse podem estar presentes isola- damente ou em associação, principalmente à noite Pneumologia.indb 45 19/12/2019 11:44:16 Crise asmática Capítulo 2 46 e pela manhã, ao acordar. A evolução dos sintomas varia de dias a semanas, com piora da sua intensi- dade nas últimas horas. FLASHCARDS Qual o significado de hipercapnia na crise asmática? Iminência de parada cardiorrespiratória. O grau de dispneia na crise não necessariamente se correlaciona com a intensidade da obstrução das vias aéreas. Sinais de gravidade da exacerbação devem ser ativa- mente pesquisados – nível de consciência alterado, dificuldade em completar frases, uso de musculatura acessória, taquicardia e taquipneia. As crises devem ser classificadas de acordo com sua gravidade (Tabela 1). Tabela 1. Classificação da gravidade da exacerbação. Achado Intensidade das exacerbações Leve a moderada Grave Muito grave(insuficiência respiratória) Impressão clínica geral Sem alterações Sem alterações Cianose, sudorese,exaustão Estado mental Normal Normal ou agitação Agitação, confusão,sonolência Dispneia Ausente ou leve Moderada Intensa Fala Frases completas Frases incompletas Frases curtas ou monossilábicas No lactente: choro curto, dificuldade alimentar No lactente: dificuldade alimentar Musculatura acessória Retrações leves/ausentes Retrações acentuadas Retrações acentuadas Sibilância Ausentes com MV normal, localizados ou difusos Localizados ou difusos Ausentes com MV diminuído FR, ciclos/min Normal ou aumentada Aumentada Aumentada FC, BPM ≤ 110 > 110 > 140 ou bradicardia PFE, % previsto > 50 30-50 < 30 SpO2, % > 95 91-95 ≤ 90 PaO2, mmHg Normal Ao redor de 60 < 60 PaCO2, mmHg < 40 < 45 ≥ 45 MV: murmúrio vesicular. A presença de vários parâmetros, mas não necessariamente de todos, indica a classificação geral da crise. Fonte: Adaptado de Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia.1 Pacientes classificados com crise leve/moderada ou grave devem ser conduzidos inicialmente em uni- dade de emergência e, dependendo da resposta ao tratamento, poderão ser internados ou receber alta hospitalar. Já aqueles considerados com exacerbação muito grave devem ser prontamente encaminhados à unidade de terapia intensiva para monitorização e tratamento (Tabela 2). Pneumologia.indb 46 19/12/2019 11:44:16 Crise asmática Cap. 2 47 B lo co A FLASHCARDS Na crise de asma grave, qual a definição de pulso paradoxal? Queda superior a 10 mmHg na pressão arterial sis- tólica durante a inspiração. Tabela 2. Indicações de transferência do paciente com exacerbação de asma para UTI. Parada cardiorrespiratória e necessidade de ventilação mecânica. Hipercapnia, acidose (pH < 7,30) ou hipoxemia. Níveis elevados de lactato sérico. Hipotensão arterial ou arritmias cardíacas graves. Presença de sinais e sintomas de gravidade (sonolência, confusão mental, exaustão, cianose, silêncio respiratório ou PFE < 30% do valor previsto). Necessidade de monitorização acurada em função da gravidade da doença ou do tratamento a ser utilizado (exemplo, utilização de suporte ventilatório não invasivo). Fonte: Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia.1 Metade dos pacientes admitidos em UTI requerem ventilação mecânica, com mortalidade em torno de 10%. Em caso de falência cardíaca ou respiratória, dete- rioração do status mental ou hipoxemia grave, o pa- ciente deve ser submetido à intubação orotraqueal. 5. DIAGNÓSTICO O diagnóstico da crise de asma é essencialmente clínico. Deve-se iniciar a avaliação com uma breve história acerca do quadro respiratório associada ao exame físico direcionado, concomitante ao pronto estabelecimento da conduta terapêutica. É de grande importância a identificação precoce de fatores preditores de pior evolução (Tabela 3), definindo-se a gravidade da exacerbação e guiando, dessa forma, o tratamento necessário para manejo adequado da crise. Pacientes com fatores de risco de gravidade para morte relacionada à asma devem ser orientados a procurar atendimento médico de urgência precocemente durante uma exacerbação. Tabela 3. Fatores de risco que indicam pior prognóstico. Crise prévia quase fatal com necessidade de intubação e ventilação mecânica. Hospitalização ou ida à emergência no último ano. Uso atual ou interrupção recente do de corticosteroide oral. Tratamento crônico com corticosteroide sistêmico. Ausência de tratamento atual com corticoide inalatório. Uso de dois ou mais frascos de broncodilatador de alívio/mês. Má aderência ao tratamento. Má percepção do grau de obstrução ao fluxo aéreo. Baixa renda, problemas psicossociais, doença psiquiátrica. Presença de comorbidades. Fonte: Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia.1 Ao exame físico, devem ser avaliadas as frequên- cias respiratória e cardíaca, temperatura, saturação periférica de oxigênio (SpO2), estado geral, nível de consciência, grau de hidratação, presença de pali- dez, cianose ou de esforço respiratório, e auscultas cardíaca e pulmonar (sibilos, murmúrio vesicular diminuído ou abolido). Embora o diagnóstico seja clínico, sempre que pos- sível, medidas seriadas do pico de fluxo expirató- rio (PFE) e volume expiratório forçado no primeiro segundo (VEF1) devem ser realizadas e comparadas com a função pulmonar prévia ou os valores predi- tos para o indivíduo. Preferencialmente, antes de ser instituído o tratamento, deve-se medir o PFE ou VEF1, com reavaliação após uma hora da instituição da terapia medicamentosa, e periodicamente até melhora evidente ou estabilização do quadro. A oximetria de pulso é de grande importância para avaliar a gravidade da exacerbação. Saturação peri- férica de O2 (SpO2) menor que 90% em ar ambiente Pneumologia.indb 47 19/12/2019 11:44:16 Crise asmática Capítulo 2 48 é sinal de necessidade de suporte em unidade de terapia intensiva. Além disso, a presença de pulso paradoxal, hiperinsuflação acentuada do tórax e utilização da musculatura acessória do tórax são sinais de obstrução grave da via aérea. 6. EXAMES COMPLEMENTARES FLASHCARDS Qual o achado gasométrico esperado na crise as- mática? Hipocapnia. Os exames complementares a serem solicitados em uma exacerbação de asma são: X Medida da função pulmonar: é fortemente re- comendada, mas não deve atrasar o início do tratamento. PFE ou VEF1 devem ser realizados conforme orientação citada anteriormente. X Gasometria arterial: solicitar apenas nos casos de exacerbação muito grave; PFE ou VEF1 < 30% do predito ou com SpO2 < 93%. O distúrbio mais comumente observado é a alcalose respira- tória, seguida de hipoxemia em crises graves. O achado de PaO2 menor que 60 mmHg e/ou PCO2 maior que 45 mmHg indica insuficiência respiratória. FLASHCARDS A radiografia de tórax é fundamental na estratifica- ção da crise asmática? Não!!! X Radiografia de tórax: não recomendada rotinei- ramente. Nas formas graves, pode evidenciar sinais de hiperinsuflação pulmonar (depressão diafragmática e hipertransparência pulmonar). Deve ser considerada em caso de complica- ção ou diagnósticos alternativos (pneumonia, insuficiência cardíaca, pneumotórax, derrame pleural). X Hemograma e proteína C reativa: realizar na suspeita de processo infeccioso. X Eletrólitos: pedir para pacientes internados que apresentem comorbidades ou uso de B2 ago- nista em altas doses. 6.1. DIAGNÓSTICOS DIFERENCIAIS Tabela 4. Diagnósticos diferenciais da crise asmática. Doença pulmonar obstrutiva crônica exacerbada (tabagismo). Insuficiência cardíaca congestiva descompensada (edema). Tromboembolismopulmonar (dispneia súbita). Bronquiolite (crianças). Pneumonite de hipersensibilidade aguda (exposição a mofo e aves). Disfunção de pregas vocais. Aspiração de corpo estranho (sibilo localizado). Fonte: Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia.1 7. TRATAMENTO Após a identificação e classificação da gravidade da crise, define-se o manejo na emergência. A terapia inicial envolve a administração repetida de bronco- dilatadores de curta ação, introdução precoce de corticosteroides e suplementação controlada de oxigênio. O objetivo é o rápido alívio da obstrução ao fluxo aéreo e hipoxemia, assim como a prevenção de recaídas. Pneumologia.indb 48 19/12/2019 11:44:16 Crise asmática Cap. 2 49 B lo co A 7.1. TERAPIA FARMACOLÓGICA 7.1.1. B2 AGONISTA INALATÓRIO DE CURTA AÇÃO (SABA) Consiste na terapia de primeira linha do tratamento da crise asmática, devido ao seu potente efeito broncodilatador, podendo ser usado na forma de nebulização a fluxo contínuo ou spray acoplado a espaçador. Recomenda-se, na primeira hora, ina- lações a cada vinte minutos. A preferência é por salbutamol 2,5 a 5 mg (10 a 20 gotas) em nebuliza- ção com 3 a 5 mL de solução fisiológica 0,9% e 6 a 8 litros de ar comprimido ou oxigênio; ou salbutamol spray (100 mcg/jato) com espaçador de 4 a 8 jatos. O fenoterol também é utilizado nas mesmas doses para nebulização e spray. Após a primeira hora, a dose varia de 4 a 10 jatos a cada 3 a 4 horas até 6 a 10 jatos a cada 1 a 2 horas, a depender da gravidade e evolução do caso. Os SABA intravenosos geralmente não são recomendados em adultos. FLASHCARDS Qual a conduta terapêutica imediata na crise asmá- tica leve a moderada? Nebulização ou spray com β-2 agonista de curta ação a cada 10-30 minutos (total de 3 doses). Uma abordagem razoável é a administração de nebu- lização contínua nos pacientes com crise mais grave, seguida do uso intermitente sob demanda para os pacientes hospitalizados ou em crises leves/ moderadas. Os efeitos adversos são dose-dependentes e incluem taquicardia, palpitação, tremores e hipocalemia. 7.1.2. CORTICOSTEROIDES SISTÊMICOS (CS) São benéficos no tratamento, diminuindo as recidivas e acelerando a resolução da exacerbação. Recomen- da-se a administração precoce, se possível dentro da primeira hora da apresentação, especialmente se houver deterioração clínica a despeito do uso de SABA; se a exacerbação ocorrer em vigência do uso de CS; ou se o paciente apresenta história de exacerbação prévia com necessidade de CS. Levam cerca de 4 horas para produzir melhora clínica. Todos os pacientes em exacerbação da asma devem receber dose de CS no pronto-socorro, variando a dose e tempo de uso conforme gravidade. A dose preconizada é de 1 mg/kg/dia de predni- sona ou equivalente, máximo de 50-60 mg/dia por 3 a 7 dias. Hidrocortisona (mineralocorticoide de meia-vida curta) e metilprednisolona endovenosas podem ser usadas. A via oral é tão efetiva quanto a intravenosa, essa última reservada aos pacientes que apresentam incapacidade de deglutir pela gravidade da dispneia, vômitos, intubação ou necessidade de ventilação mecânica não invasiva. 7.1.3. CORTICOSTEROIDE INALATÓRIO (CI) Altas doses administradas na primeira hora de apre- sentação reduzem a necessidade de hospitalização nos pacientes que não receberam corticosteroides sistêmicos. Quando associado ao CS, seu benefício durante a exacerbação não é bem definido, porém após alta hospitalar a maioria dos pacientes receberá o CI como medicação de manutenção, para evitar exacerbações futuras. FLASHCARDS Quando iniciar a corticoterapia sistêmica na exacer- bação da asma? O mais precoce possível. 7.1.4. ANTICOLINÉRGICOS DE CURTA AÇÃO (SAMA) Recomendados em associação ao fenoterol (ou sal- butamol) nas exacerbações graves ou muito graves, com efeito na redução de hospitalizações e maior melhora funcional quando comparado à monoterapia com SABA. A dose inicial do brometo de ipratrópio é de 5 mg (40 gotas). Pneumologia.indb 49 19/12/2019 11:44:16 Crise asmática Capítulo 2 50 7.1.5. SULFATO DE MAGNÉSIO Não recomendado rotineiramente, porém é capaz de reduzir a hospitalização em alguns pacientes. Pode ser usado na dose de 2 g (diluídos em 50 mL de solução fisiológica) infundida lentamente (superior a 20 minutos), em asmáticos com VEF1 menor que 25-30% do previsto à entrada, ou naqueles com falha ao tratamento inicial e hipoxemia persistente. 7.1.6. AMINOFILINA E TEOFILINA (METILXANTINAS) Não são recomendados rotineiramente, possuem pobre eficácia e baixo perfil de segurança, com efeitos colaterais potencialmente fatais. 7.1.7. ANTIBIOTICOTERAPIA Indicada somente nos casos com forte evidência de infecção pulmonar (febre, escarro purulento ou evidência radiológica de pneumonia). FLASHCARDS Quando utilizar sulfato de magnésio na crise asmática? Na falha ao tratamento inicial e hipoxemia persisten- te, sempre associado aos broncodilatadores. 7.2. TERAPIA NÃO FARMACOLÓGICA 7.2.1. OXIGENOTERAPIA Deve ser titulada através da oximetria de pulso, objetivando manter a SpO2 ≥ 92%. Em gestante e crianças, manter ≥ 94%. 7.2.2. VENTILAÇÃO MECÂNICA NÃO INVASIVA (VNI) Há pouca evidência sobre a sua utilização, mas deve ser considerada em casos de exacerbação grave associada ao uso de musculatura respiratória aces- sória, principalmente na presença de hipercapnia. A resposta à VNI deve ser monitorada cautelosamente e, diante de qualquer indício de falha, a intubação orotraqueal não deve ser postergada. 7.2.3. VENTILAÇÃO MECÂNICA INVASIVA (VM) FLASHCARDS Quais os efeitos colaterais do sulfato de magnésio? Rubor cutâneo e náuseas. A intubação orotraqueal seguida de VM deve ser realizada nos pacientes com falência cardíaca ou respiratória, rebaixamento do nível de consciência, hipoxemia grave ou naqueles sem resposta a curto período com VNI. A VM do paciente asmático deve permanecer com resistência das vias aéreas menor que 20 cmH2O/L/s, baixo volume corrente (6 mL/kg de peso predito) e baixa frequência respiratória (menor que 15 ipm) para objetivar maior tempo expiratório e, consequentemente, menor risco de auto-PEEP e barotrauma. A sedação de manutenção do paciente asmático é preferencialmente realizada com cetamina ou propofol, pois ambas diminuem a resistência das vias aéreas, relaxando a musculatura lisa brônquica. Benzodiazepínicos e fentanil também podem ser utilizados, porém sem o efeito broncodilatador. 7.3. REAVALIAÇÃO APÓS AS MEDIDAS INICIAIS A revisão da resposta deve ser constante, com tra- tamento adicional titulado de acordo os achados posteriores (Figura 1). Pneumologia.indb 50 19/12/2019 11:44:16 Crise asmática Cap. 2 51 B lo co A Figura 1. Algoritmo de atendimento de crise asmática do adulto no pronto-socorro. Rápida avaliação da gravidade: clínica, PFE, SpO2 Até 3 doses de B2- agonista a cada 10-30 min O2 por cateter nasal 1-3 L/min se SpO2 ≤ 92% ou indisponível Cuidados intensivos Não consegue falar, exaustão, cianose, rebaixamento de consciência Reavaliação da gravidade em 30 min Boa Sem sinais de gravidade PFE > 70% do predito Parcial Redução dos sinais de gravidade PFE = 50-70% do predito Ausente/pequena Persistência dos sinais de gravidade PFE = 35-50% do predito Piora Piora dos sinais de gravidade PFE < 35% do predito Alta Manter B2-agonista por via inalatória, 2-5 jatos cada 4h por 48h. Prednisona, ou equivalente a 1 mg/kg. Max. 40-60 mg. v.o. no PS e em casa por 3-7 dias Manter no PS B2-agonista a cada 30- 60 min até 4h. Associar ipratrópio. Prednisona, ou equivalente, 60 mg. Manter no PS B2-agonista a cada 20-30 min até 4h. Associar ipratrópio e/ou xan�na e cor�coesteroide i.v: me�lprednisolona, 40-60 mg, ou hidrocor�sona, 200 mg Reavaliar resposta em 1-4 horas INTERNAR Parcial ou sem resposta Sinais de gracidade ou asma de risco PFE < 70% Boa Sem sinais de gravidade ou fatores de risco. PFE > 70% (aceitável> 50%) Alta Con�nuar B2-agonista em dose alta. Orientar técnica de uso dos disposi�vos Prednisona 40-60 mg por 7-10 dias. Encaminharao especialista Dose dos medicamentos Inalador dosimetrado + espaçador de grande volume B2-agonista, 5 jatos; ipratrópio, 3 jatos Nebulizador de jato + soro fisiológico, 3-5 mL; O2, 6L/min; máscara bem adaptada à face B2-agonista, 2,5 mg (10 gotas); ipratrópio, 250 µg (20 gotas) Pacientes graves podem se beneficiar com o dobro da dose usual Fonte: Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia.1 Pneumologia.indb 51 19/12/2019 11:44:16 Crise asmática Capítulo 2 52 A função pulmonar deve ser mensurada de trinta minutos a uma hora após o início das medicações e os pacientes com deterioração funcional (piora de PFE ou VEF1), a despeito de uma agressiva terapia broncodilatadora e tratamento com corticosteroi- des, devem ser transferidos para unidade de terapia intensiva. Se após o tratamento inicial o PFE ou VEF1 apresen- tar-se maior que 70% do predito e não houver sinais de gravidade, a alta hospitalar deve ser considerada, com reavaliação ambulatorial precoce, idealmente dentro de 7 dias. FLASHCARDS Quais os parâmetros mais úteis para permitir a alta hospitalar após a crise asmática? Ausência de sinais de gravidade clínicos e PFE > 70%. Aqueles que possuem sinais de gravidade, fatores de risco de pior prognóstico e/ou não alcançaram melhora dos parâmetros funcionais devem perma- necer no pronto-atendimento para nova avaliação. Deve-se aproveitar a oportunidade, após o controle de uma exacerbação, para revisar a compreensão do paciente sobre a causa de sua exacerbação, a identificação de fatores de risco modificáveis, os hábitos de vida (incluindo tabagismo passivo e ativo), orientações sobre o uso correto do dispositivo, das medicações, suas doses e ajustes do plano de ação de automanejo. Na alta, manter a prescrição do cor- ticoide oral por 5 a 7 dias, assim como o corticoide inalatório (associado ou não a um beta-2 de longa duração) caso o paciente não faça uso deles. Todos os pacientes com asma devem possuir um plano de ação para o automanejo domiciliar nos casos de exacerbação da doença. É de grande importância a ampla implementação de programas educacionais, ajudando os doentes e familiares a reconhecer e res- ponder apropriadamente à piora da asma. Esse plano deve incluir orientações claras sobre a modificação do tratamento de manutenção e uso de medicação de alívio, como utilizar o corticoide oral e quando se dirigir a um serviço médico para avaliação. REFERÊNCIAS (IMAGENS E TABELAS) 1. Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia. Diretrizes da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia para o Manejo da Asma – 2012. J Bras Pneumol. 2012; 38(Supl 1): S1-46. Pneumologia.indb 52 19/12/2019 11:44:16 Crise asmática Cap. 2 53 B lo co A QUESTÕES COMENTADAS Questão 1 (INSTITUTO DE ASSISTÊNCIA MÉDICA AO SERVIDOR PÚBLICO ESTA- DUAL – 2016) Alguns dados da história clínica de uma pessoa asmática indicam um maior risco de evolução para uma crise de asma quase fatal ou fatal, exceto: ⮦⮦ asma lábil, caracterizada por variabilidade acen- tuada da função pulmonar. ⮦⮧ má percepção do grau de obstrução por parte do paciente. ⮦⮨ presença de doença do refluxo gastroesofágico. ⮦⮩ baixo nível socioeconômico. ⮦⮪ intubação prévia por asma. dificuldade: ✔Y Dica do autor: São problemas que dificultam o con- trole da asma: fatores desencadeantes (ambientais, medicamentos, tabagismo), comorbidades (doença do refluxo gastresofágico, rinossinusite, distúrbios psicossociais), má adesão ao tratamento, e técnica inadequada de uso dos aerossóis. Resolução: Os fatores de risco para crise de asma quase fatal ou fatal são: crise grave prévia com ne- cessidade de ventilação mecânica ou internação em unidade de terapia intensiva (constituem os fatores de risco mais fortemente associados a crises fatais ou quase fatais); três ou mais visitas à emergência ou duas ou mais hospitalizações por asma nos últi- mos doze meses; uso frequente de corticosteroide sistêmico; uso de dois ou mais frascos de aerossol dosimetrado de broncodilatador por mês; problemas psicossociais (por exemplo, depressão, baixo nível socioeconômico, dificuldade de acesso à assistên- cia, falta de aderência a tratamentos prévios); pre- sença de comorbidades (doença cardiovascular ou psiquiátrica); asma lábil, com marcadas variações de função pulmonar (> 30% do PFE ou do VEF1); má percepção do grau de obstrução. A DRGE pode difi- cultar o controle, mas não está associada a maior gravidade das crises. ✔✔ resposta: ⮨ Questão 2 (SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DE BARRA MANSA – 2017) No tratamento de crise de asma, a conduta correta, após uma resposta parcial ao uso de ß2 – agonistas e oxigênio, é: ⮦⮦ manter atendimento com ß2 inalatório e O2 e asso- ciar corticoide sistêmico e brometo de ipratrópio. ⮦⮧ dar alta ao paciente, já que os sintomas logo desaparecerão. ⮦⮨ encaminhar o paciente para a unidade de trata- mento intensivo. ⮦⮩ manter atendimento com ß2 inalatório e O2 e associar corticoide inalatório. dificuldade: ✔Y Dica do autor: O efeito do corticoide sistêmico na crise de asma tem início após 4-6 horas. Resolução: De acordo com as diretrizes, na presença de resposta incompleta, a conduta é: manter/adicionar prednisona oral ou similar (1-2 mg/kg, máx. 40 mg) e continuar nebulização cada 20 min com β2 (0,15 mg/ kg) ou nebulização contínua com β2. Pode-se ainda associar brometo de ipratrópio (125-250 µg/dose, 10- 20 gota). Não há indicação de corticoide inalatório na crise de asma. ✔✔ resposta: ⮧ Pneumologia.indb 53 19/12/2019 11:44:16 Crise asmática Capítulo 2 54 Questão 3 (SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DE MACEIÓ – 2017) Em relação à asma, julgue os itens a seguir. I. Uma piora aguda ou subaguda dos sintomas de asma associada à piora do grau de obstrução usual das vias aéreas inferiores do paciente caracteriza a exacerbação da asma; II. As infecções respiratórias virais, especialmente por rinovírus, têm importante papel na precipi- tação da crise de asma em crianças.; III. A perda progressiva da função pulmonar pode ocorrer em decorrência de crises de asma fre- quentes, mesmo que leves. Os itens CORRETOS estão contidos em: ⮦⮦ I e II, apenas. ⮦⮧ I e III, apenas. ⮦⮨ II e III, apenas. ⮦⮩ I, II e III. dificuldade: ✔Y Dica do autor: Em pacientes com asma, mediadores inflamatórios podem atingir o epitélio ciliado, cau- sando-lhe dano e ruptura. Como consequência, cé- lulas epiteliais e miofibroblastos, presentes abaixo do epitélio, proliferam e iniciam o depósito inters- ticial de colágeno na lâmina reticular da membrana basal, o que explica o aparente espessamento da membrana basal e as lesões irreversíveis que podem ocorrer em alguns pacientes com asma. Assertiva I: VERDADEIRA. Descreve corretamente o con- ceito da exacerbação da asma. Assertiva II: VERDADEIRA. Infecções respiratórias são desencadeantes e/ou agravantes de asma. Assertiva III: VERDADEIRA. Alguns pacientes com asma mal controlada podem desenvolver obstrução irre- versível após muitos anos de atividade da doença. ✔✔ resposta: ⮩ Questão 4 (SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DE RIBEIRÃO PRETO – 2018) Em re- lação ao tratamento da crise de asma, não apresenta suficiente nível de evidência para recomendação o uso de: ⮦⮦ Oxigênio inalatório ⮦⮧ β2-agonista de curta ação com inalador dosime- trado e espaçador ⮦⮨ Corticoide sistêmico por via oral ⮦⮩ Aminofilina dificuldade: ✔Y Dica do autor: A aminofilina apresenta estreita fai- xa terapêutica, para a alta frequência de interações medicamentosas e para os efeitos adversos cardio- vasculares, neurológicos e gastrointestinais. Resolução: Uso de aminofilina como tratamento inicial ou principal em detrimento dos broncodilatadores β2-agonistas por via inalatória é considerado mane- jo inadequado da exacerbação de asma. As demais alternativas apresentam medicaçõesque devem ser utilizadas. ✔✔ resposta: ⮩ Questão 5 (HOSPITAL NACIONAL DO CÂNCER – 2016) Adolescente de 15 anos de idade é atendida com quadro de exacerbação aguda de asma. Exame físico com preservação do sensório e dispneia moderada, associada à presença de retrações subcostais. Ausculta respiratória com presença de sibilos difusos e saturimetria mostran- do 93% de oxigenação. Em relação à classificação de gravidade da crise asmática, esta adolescente é classificada como em: ⮦⮦ Crise asmática grave. ⮦⮧ Crise asmática leve. ⮦⮨ Crise asmática moderada. ⮦⮩ Crise asmática muito grave. dificuldade: ✔Y Dica do autor: Não confunda: as Diretrizes Brasileiras para o Manejo da Asma classificam a crise de asma em: moderada/leve, grave e muito grave. Resolução: De acordo com as Diretrizes Brasileiras para o Manejo da Asma, o paciente apresenta crité- rios de crise grave: estado mental normal; dispneia Pneumologia.indb 54 19/12/2019 11:44:16 Crise asmática Cap. 2 55 B lo co A moderada; retrações subcostais e/ou esternocleido- mastoideas acentuadas; sibilos difusos; e saturação entre 91/95%. ✔✔ resposta: ⮦ Questão 6 (SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DE MACEIÓ – 2017) Assinale a alternativa INCORRETA quanto às orientações te- rapêuticas relativas ao tratamento inicial da crise de asma: ⮦⮦ A avaliação da gravidade da crise de asma deve, sempre que possível, conter a mensuração obje- tiva da função pulmonar pelo Pico de Fluxo Expi- ratório (PFE) ou pelo Volume Expiratório Forçado no primeiro segundo (VEF1) e da oximetria digital. ⮦⮧ O uso de tratamento de manutenção da asma, incluindo posologia prescrita, técnica de inalação, aderência ao tratamento, mudanças recentes nas doses e resposta à terapia, deve ser verificado na história clínica do paciente. ⮦⮨ A saturação de oxigênio abaixo de 95%, antes de iniciar o tratamento, está associada à alta mor- bidade e provável necessidade de internação, assim como a presença de agitação, sonolência e confusão pode significar hipóxia cerebral. ⮦⮩ Para classificar a asma de leve a moderada, de- ve-se levar em conta a presença de sibilância, esforço respiratório e expiração prolongada. dificuldade: ✔Y Dica do autor: A resposta ao tratamento inicial (en- tre 30 e 60 minutos) e a reclassificação do paciente representam os critérios mais úteis para se deter- minar o prognóstico com respeito à admissão, alta e necessidade de medicação posterior. Alternativa A: CORRETA. PFE, VEF1 e oximetria são pa- râmetros úteis para a classificação de gravidade da exacerbação de asma. Alternativa B: CORRETA. Descreve corretamente aspec- tos que devem ser considerados em toda consulta ambulatorial de pacientes asmáticos. Alternativa C: INCORRETA. Os valores de SpO2 < 90-92% é que estão mais relacionados ao aumento de mor- bidade. Ler com atenção todas as alternativas é FUNDAMENTAL. Não escorregue em detalhes que você já sabe. Alternativa D: CORRETA. Sibilância, esforço respirató- rio e expiração prolongada são critérios clínicos de gravidade da exacerbação de asma. ✔✔ resposta: ⮨ Questão 7 (SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DE SÃO PAULO – 2018) Um pa- ciente de 28 anos de idade, asmático, procurou aten- dimento no serviço de emergência, queixando-se de rinorreia, tosse seca e dispneia há um dia. Relatou ter esquecido medicação de resgate em casa e que- rer apenas “fazer uma inalação”. No momento do exame, queixava-se de dispneia leve, mas se apre- sentava dispneico, taquicárdico, com FR de 28 ipm, com sibilos difusos e saturação de O2 de 90% em ar ambiente. Considerando essa situação hipotética, assinale a alternativa correta. ⮦⮦ O paciente apresenta alto risco para evolução desfavorável. ⮦⮧ Está indicado o uso de antibiótico, pois a princi- pal causa de exacerbação é a infecção bacteriana das vias aéreas. ⮦⮨ O paciente apresenta uma crise de asma leve e está pouco sintomático. ⮦⮩ A terapêutica inicial deverá ser: oferta de oxigê- nio; inalação com β2-agonista; brometo de ipra- trópio; e sulfato de magnésio. ⮦⮪ Se necessária a intubação orotraqueal, etomidato seria a droga de escolha para sedação. dificuldade: Alternativa A: CORRETA. Por estarmos diante de uma crise grave, é esperado que o risco desse paciente evoluir seja desfavoravelmente é elevado. Alternativa B: INCORRETA. As duas principais causas de exacerbação da asma são exposição a alérgenos e infecção viral. Alternativa C: INCORRETA. Estamos diante de um pacien- te com crise asmática grave: dispneia em repouso + saturação de oxigênio < 91%. Alternativa D: INCORRETA. O tratamento inicial poderá ser realizado com broncodilatador β2-agonista, oxi- gênio suplementar, e brometo de ipratrópio, porém o Pneumologia.indb 55 19/12/2019 11:44:16 Crise asmática Capítulo 2 56 uso de sulfato de magnésio deve ser reservado para os casos que não respondem às condutas iniciais. Alternativa E: INCORRETA. No caso de intubação, a ke- tamina é a droga de escolha no paciente asmático. ✔✔ resposta: ⮦ Questão 8 (HOSPITAL ORTOPÉDICO DE GOIÂNIA – 2018) Em relação à cri- se asmática aguda, assinale a alternativa correta. ⮦⮦ Hipercapnia ocorre precocemente. ⮦⮧ O mecanismo da hipercapnia se dá por meio de efeito shunt. ⮦⮨ Auto-PEEP e barotrauma são as complicações mais temidas. ⮦⮩ Não está indicado o uso de ventilação não inva- siva. ⮦⮪ Acidose respiratória é a complicação mais comum, ocorrendo em mais de 50% dos pacientes. dificuldade: ✔Y Dica do autor: Em adultos, as exacerbações são res- ponsáveis por aproximadamente 2% das admissões em UTI, sendo que metade desses pacientes requer ventilação mecânica, com mortalidade hospitalar em torno de 10%. Alternativa A: INCORRETA. Aumento da PaCO2 é um sinal tardio e indica falência respiratória. Alternativa B: INCORRETA. Hipercepnia na asma ocorre por fadiga respiratória com retenção de CO2. Alternativa C: CORRETA. Auto-PEEP e barotrauma são consequências de aprisionamento aéreo grave, po- dendo complicar, por exemplo, com pneumotórax. Alternativa D: INCORRETA. VNI está indicada para casos selecionados. Alternativa E: INCORRETA. A maioria dos pacientes apre- senta alcalose respiratória por hiperventilação inicial. ✔✔ resposta: ⮨ Questão 9 (UNIVERSIDADE DO ESTADO DO PARÁ/BELÉM – 2017) Quanto à asma aguda grave, é correto afirmar que: ⮦⮦ A avaliação da saturação de oxigênio pela oxi- metria de pulso não orienta quanto à gravidade da asma, sendo apenas critérios clínicos impor- tantes no seu diagnóstico. ⮦⮧ Medições de função pulmonar indicam de forma objetiva o grau de obstrução brônquica, devendo ser usada em todas as crianças que chegam às urgências pediátricas com crise de asma, inde- pendentemente da idade. ⮦⮨ Pacientes que necessitaram de ventilação mecâ- nica, que interromperam uso de corticoide oral recentemente e pacientes que usam mais de um aerossol dosimetrado por mês de agentes β 2 agonistas de curta duração são considerados pacientes com alto risco de óbito. ⮦⮩ Bronquiolite, aspiração de corpo estranho e dis- função de cordas vocais não fazem parte do diag- nóstico diferencial da asma aguda. ⮦⮪ Na asma aguda grave, deve-se iniciar o tratamento com broncodilatador endovenoso, em virtude da gravidade do quadro. dificuldade: Alternativa A: INCORRETA. A oximetria de pulso é um pa- râmetro definidor de gravidade na asma, sobretudo em crianças, cujos sinais clínicos não refletem bem a intensidade da obstrução. Alternativa B: INCORRETA. A medida da função pulmonar com espirometria convencional ou fluxômetro portátil não é realizada rotineiramente em crianças menores de 6 anos devido à dificuldade técnica. Alternativa C: CORRETA. Alternativa D: INCORRETA. As patologias citadas são diagnósticos diferenciais importantes de asma. Al- ternativa E: INCORRETA. O tratamento inicial deve ser feito com broncodilatador inalatório e corticoide. ✔✔ resposta: ⮨ Pneumologia.indb 56 19/12/2019 11:44:17