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CLASSIFICAÇÃO DAS CONSTITUIÇÕES

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CLASSIFICAÇÃO DAS CONSTITUIÇÕES* 
1 - QUANTO AO CONTEÚDO:
a) Constituição material: Conjunto de regras materialmente constitucionais que estejam ou não codificadas em um único documento, pode existir de forma escrita ou costumeira.
b) Constituição formal: É aquela consubstanciada de forma escrita, por meio de um documento solene estabelecido pelo poder constituinte originário.
2- QUANTO À FORMA:
a) Constituição escrita: É aquela codificada e sistematizada em um único texto. Portanto, é o mais alto estatuto jurídico de determinada comunidade.
b) Constituição não escrita: É o conjunto de regras não aglutinadas em um texto solene, mas baseado em leis esparsas, costumes, jurisprudências e convenções.
3- QUANTO À ORIGEM:
a) Constituição promulgada (popular ou democrática): Deriva de um trabalho de uma assembléia Nacional Constituinte que é composta de representantes do povo, eleitos com a finalidade de sua elaboração. C.F.B: 1891,1934,1946,1988
b) Constituição outorgada: Estabelecida sem a participação popular, por meio de imposição do poder da época. C.F.B: 1824,1937,1967,1969
4- QUANTO À ESTABILIDADE:
a) Constituição rígida: Somente pode ser alterada por um processo legislativo mais solene e dificultoso.
b) Constituição flexível: Pode ser livremente modificada segundo o mesmo processo estabelecido para as leis ordinárias.
5- QUANTO À EXTENSÃO: 
a) Constituição analítica: Examina e regulamenta todos os assuntos que entenda relevantes à formação, destinação e funcionamento do Estado.
b) Constituição sintética: Prevê somente os princípios e as normas gerais de regência do Estado.
EM OUTRAS PALAVRAS: 
CLASSIFICAÇÃO DAS CONSTITUIÇÕES
1) ORIGEM:
Outorgas (impostas, sem povo, ato unilateral vontade); 1824, 1937, 1967 e 1969 –
Promulgadas (com povo; representação direta – plebiscito ou referendo – representação indireta – “assembléia constituinte”); 1891, 1934, 1946 e 1988;
2) FORMA (reunidas ou esparsas):
Escritas (único documento, dado momento por órgão especial) e
Não-escritas (consuetudinárias ou costumeiras; esparsas em leis, costumes, jurisprudência e convenções);
3) MODO DE ELABORAÇÃO: 
Dogmáticas (Escritas – dogmas ou ideais da época; ortodoxas (uma ideologia) ou ecléticas (várias) e
Históricas ou Costumeiras (Não escritas – resultam lento evoluir das tradições, síntese histórica dos valores);
4) CONTEÚDO:
Material (Conteúdo – organização UF, direitos fundamentais; Com hierarquia entre normas, podendo estar ou vazada em CF escrita) e
Formal (Processo elaboração – rígida, normas escritas e sem hierarquia);
5) ESTABILIDADE:
Imutáveis (não modificam),
Flexível (modificam por processo comum),
Semi-rígida (2 tipos processos; única 1824) e:
6) Rígida: (escrita, processo laboroso; 2T, 2 casas, Quorum qualificado: 3 /5 membros): i) A rigidez visa dar maior estabilidade e possibilidade de alteração, ii) tem como decorrência a supremacia formal da constituição, iii) é pressuposto para o controle de constitucionalidade e iv) não decorre da existência de cláusulas pétreas (pode ser rígida e não ter CP);
7) CORRESPONDÊNCIA REALIDADE (Karl Loewntein):
Normativa (Regula vida política UF; consonância com realidade social), Nominativa (Visa, mas não regula; descompasso com realidade social) e
Semânticas (Não limita poder; formaliza e mantêm pode político);
8) EXTENSÃO:
Analíticas (prolixa, extensa – versa sobre diferentes matérias; Formais, Materiais e Programáticas) e
Sintéticas (concisa, sumária – organização UF e direitos fundamentais; apenas normas Materiais);
9) FINALIDADE:
CF Garantia (Sintética – Fica GI limitando poder estatal; construtora de liberdade negativa) e
CG Dirigente (Analítica – Existência de Normas Programáticas; programas de ação futura do estado);
10) A tendência moderna é de CF Analíticas: Visam conferir mais estabilidade a certas matérias e Assegurar maior proteção social aos indivíduos;
11) CLASSIFICAÇÃO DA CF 1988: Escrita, Democrática, Dogmática, Eclética, Rígida, Formal, Analítica, Dirigente, Normativa, Codificada, Social e Expansiva.
12) Estrutura: Preâmbulo (diretriz interpretativa; fora âmbito direito CF, sem força normativa e não constitui limitação ao poder de reforma), Parte Dogmática (9 capítulos) e ADCT (Regras de caráter meramente transitório - eficácia jurídica exaurida tão logo ocorra; Formalmente CF, observância obrigatória e só alterados por EC);
1.Quanto ao conteúdo
Material (ou substancial)
A Constituição material no sentido estrito significa o conjunto de normas constitucionais escritas ou costumeiras, inseridas ou não num documento escrito, que regulam a estrutura do Estado, a organização de seus órgãos e os direitos fundamentais, não se admitindo como constitucional qualquer outra matéria que não tenha aquele conteúdo essencialmente constitucional. Vale dizer que é possível separarem-se normas verdadeiramente constitucionais, isto é, normas que realmente devem fazer parte do texto de uma Constituição, daquelas outras, que só estão na Constituição por uma opção política, mas ficariam bem nas leis ordinárias.
Formal
A Constituição formal é o conjunto de normas escritas, hierarquicamente superior ao conjunto de leis comuns, independentemente de qual seja o seu conteúdo, isto é, estando na Constituição é formalmente constitucional, pois tem a forma de Constituição As Constituições escritas não raro inserem matéria de aparência constitucional, que assim se designa exclusivamente por haver sido introduzida na Constituição, enxertada no seu corpo normativo e não porque se refira aos elementos básicos ou institucionais da organização política.
A Constituição Imperial Brasileira de 1824 fazia a nítida e expressa diferença entre normas de conteúdo material e as de conteúdo formal.
2. Quanto à forma
Escrita (ou positiva)
É a Constituição codificada e sistematizada num texto único, escrito, elaborado por um órgão constituinte, encerrando todas as normas tidas como fundamentais sobre a estrutura do Estado, a organização dos poderes constituídos, seu modo de exercício e limites de atuação, e os direitos fundamentais (políticos, individuais, coletivos, econômicos e sociais).
Não escrita (ou costumeira, ou consuetudinária)
É a Constituição cujas normas não constam de um documento único e solene, mas se baseia principalmente nos costumes, na jurisprudência e em convenções e em textos constitucionais esparsos. Até o século XVIII preponderavam as Constituições costumeiras, hoje restaram poucas, como a Inglesa e a de Israel, esta última em vias de ser positivada.A É importante notar que, com o advento da Emenda Constitucional nº. 45, foi introduzido o § 3º, no art. 5º, possibilitando que tratado internacional sobre direito humanos possa ter força de norma constitucional, ainda que não esteja inserido formalmente na CF/88. Esse fato novo parece ter suavizado a condição de Constituição escrita da atual Carta brasileira.
Assim, o novo parágrafo 3º do art. 5º: “Os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos que forem aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos membros, serão equivalentes às emendas constitucionais”.
3. Quanto ao modo de elaboração
Dogmática
Será sempre uma Constituição escrita, é a elaborada por um órgão constituinte, e sistematiza os dogmas ou ideias fundamentais da teoria política e do Direito dominantes no momento.
Histórica (ou costumeira)
Sempre uma Constituição não escrita, resulta de lenta transformação histórica, do lento evoluir das tradições, dos fatos sócio-políticos.
4. Quanto à origem
Promulgada (popular ou democrática ou votada)
É a Constituição que se origina de um órgão constituinte composto de representantes do povo, eleitos com a finalidade de elaborar e estabelecer aquela Constituição, portanto nasce de uma assembleia popular, seja esta representada por uma pessoa ou por um órgão colegiado. As Constituições brasileiras de 1891, 1934, 1946 e 1988 foram promulgadas.
Outorgada
É a Constituição elaborada e estabelecida sem a participaçãodo povo, ou seja, a que o governante impõe ao povo de forma arbitrária, podendo ser elaborada por uma pessoa ou por um grupo. As Constituições brasileiras de 1824, 1937, 1967 e 1969 foram outorgadas.
Cabe alertar para uma espécie de Constituição, entendida como uma Constituição outorgada por um bom número de autores, que é a Constituição Cesarista, examinada por plebiscito (para alguns autores tratar-se-ia de referendo) sobre um projeto formado por um imperador ou ditador, sendo que a participação popular não é democrática porque visa apenas confirmar a vontade do detentor do poder.
5. Quanto à estabilidade (ou consistência, ou processo de reforma)
Rígida
Classificação relativa a rigidez constitucional foi estabelecida, inicialmente, por Lord Bryce. Trata-se de uma Constituição que somente pode ser modificada mediante processo legislativo, solenidades e exigências formais especiais, diferentes e mais difíceis do que aqueles exigidos para a formação e modificação de leis comuns (ordinárias e complementares). Quanto maior for a dificuldade, maior será a rigidez. A rigidez da atual Constituição Brasileira é marcada pelas limitações procedimentais ou formais (incisos e §§ 2º, 3º, e 5º). Quase todos os Estados modernos aderem a essa forma de Constituição, assim como todas as Constituições Brasileiras, salvo a primeira, a Constituição Imperial, de 1824.
Cabe lembrar que só há rigidez constitucional em Constituições escritas e que só cabe controle da constitucionalidade  na parte rígida de uma Constituição. Por consequência, não existe possibilidade de controle da constitucionalidade nas Constituições flexíveis ou em qualquer Constituição costumeira.
Flexível (ou plástica)
É aquela Constituição que pode ser modificada livremente pelo legislador segundo o mesmo processo de elaboração e modificação das leis ordinárias. A flexibilidade constitucional se faz possível tanto nas Constituições costumeiras quanto nas Constituições escritas.
Semi-Rígida
É a Constituição que contém uma parte rígida e outra flexível. A Constituição Imperial Brasileira de 1824 foi semi-rígida.
G Cabe alertar que alguns doutrinadores estabelecem outra espécie, a Constituição imutável. Mas a grande maioria dos autores a considera reprovável porque entende que a estabilidade das Constituições não deve ser absoluta, imutável, perene, porque a própria dinâmica social exige constantes adaptações para atender as suas exigências. A Constituição deve representar a vontade de um povo e essa vontade varia com o tempo, por isso a necessidade de que a Constituição se modifique.
6. Quanto à extensão
Concisa (ou sintética)
É aquela Constituição que abrange apenas, de forma sucinta, principios constitucionais gerais ou enuncia regras básicas de organização e funcionamento do sistema jurídico estatal, deixando a parte de pormenorização à legislação complementar.
Prolixa (ou analítica)
É aquela Constituição que trata de minúcias de regulamentação, que melhor caberiam em normas ordinárias. Segundo o mestre Bonavides, estas Constituições apresentam-se cada vez em maior número, incluindo-se a atual Constituição Brasileira.
7. Quanto à supremacia
Constituição Material
É aquela que se apresenta não necessariamente sob a forma escrita e é modificável por processos e formalidades ordinários e por vezes independentemente de qualquer processo legislativo formal (através de novos costumes e entendimentos jurisprudenciais).
Constituição Formal
É aquela que se apresenta sob a forma de um documento escrito, solenemente estabelecido quando do exercício do poder constituinte e somente modificável por processos e formalidades especiais nela própria estabelecidos.Apóia-se na rigidez constitucional.
8. Constituição Garantia e Dirigente
Constituição Garantia
É a Constituição que se preocupa especialmente em proteger os direitos individuais frente aos demais indivíduos e especialmente ao Estado. Impõe limites à atuação do Estado na esfera privada e estabelece ao Estado o dever de não-fazer (obrigação-negativa, status negativus).
Constituição Dirigente (Programática ou Compromissória)
É a Constituição que contém um conjunto de normas-princípios, ou seja, normas constitucionais de princípio programático, com esquemas genéricos, programas a serem desenvolvidos ulteriormente pela atividade dos legisladores ordinários.
No entender de Raul Machado Horta, as normas programáticas exigem não só a regulamentação legal, mas também decisões políticas e providências administrativas. As normas programáticas constitucionais estabelecem fundamentos, fixam objetivos, declaram princípios e enunciam diretrizes.
Tais normas, que José Afonso da Silva situa dentre as de eficácia limitada, não são de reconhecimento pacífico na doutrina no que se refere a sua existência. É importante lembrar que como qualquer norma constitucional, as normas de eficácia limitada, entre elas as programáticas, têm eficácia, ou seja, produzem efeitos (para relembrar, voltar à classificação quanto à eficácia das normas constitucionais).
A atual Constituição Brasileira traz numerosas normas de princípio programático, como por exemplo: arts. 3º, 4º, § único; 144; 196; 205 e 225.
Constituição Balanço
É a Constituição que, ao caracterizar uma determinada organização política presente, prepara a transição para uma nova etapa.
9. Classificação desenvolvida por Karl Loewenstein
Denominada ontológica porque se baseia no uso que os detentores do poder fazem da Constituição:
Constituição Normativa
É a Constituição efetiva, ou seja, ela determina o exercício do poder, obrigando todos a sua submissão.
Constituição Nominal ou Nominativa
É aquela ignorada pela prática do poder.
Constituição Semântica
É aquela que serve para justificar a dominação daqueles que exercem o poder político.
Qual o sentido que melhor reflete o conceito de Constituição?
Para respondermos a essa questão tão discutida na doutrina, precisaremos primeiramente, conceber a Constituição não apenas sob esses 03 (três) aspectos inicialmente propostos, mas também precisaremos dos conceitos da classificação moderna de constituição:
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A) Concepção Sociológica: Proposta por Ferdinand Lassalle no livro “A essência da Constituição”. Enxerga a Constituição sob o aspecto da relação entre os fatos sociais dentro do Estado. Para Lassalle havia uma Constituição real (ou efetiva – definição clássica – é a soma dos fatores reais de poder que regem uma determinada nação) e uma Constituição escrita (CF/88 – para Lassalle, uma constituição escrita não passa de uma folha de papel). Esta soma poderia ou não coincidir com a Constituição escrita, que sucumbirá se contrária à Constituição real ou efetiva, devendo se coadunar com a Constituição real ou efetiva.
B) Concepção Política: Prisma que se dá nesta concepção é o político. Defendida por Carl Schmitt no livro “Teoria da Constituição”. Busca-se o fundamento da Constituição na decisão política fundamental que antecede a elaboração da Constituição – aquela decisão sem a qual não se organiza ou funda um Estado. Ex: Estado unitário ou federação, Estado Democrático ou não, parlamentarismo ou presidencialismo, quais serão os direitos fundamentais etc. – podem estar ou não no texto escrito. O autor diferencia Constituição de Lei Constitucional. A 1ª traz as normas que decorrem da decisão política fundamental, normas estruturantes do Estado, que nunca poderão ser reformadas. A 2ª será que estiver no texto escrito, mas não for decisão política fundamental, ex: art. 242, §§ 1º e 2º, CF – é matéria adstrita à lei, mas que está na Constituição, podendo ser reformadas por processo de reforma constitucional.
C) Concepção Jurídica ou concepção puramente normativa da Constituição: Hans Kelsen – “Teoria Pura do Direito”. A Constituição é puro dever-ser, norma pura, não devendo buscar seu fundamento na filosofia, na sociologia ou na política, mas na própria ciência jurídica. Logo, é puro “dever-ser”. Constituição deve poder ser entendida no sentido: a) lógico-jurídico: norma fundamental hipotética: fundamental porque é ela que nos dáo fundamento da Constituição; hipotética porque essa norma não é posta pelo Estado é apenas pressuposta. Não está a sua base no direito positivo ou posto, já que ela própria está no topo do ordenamento; e b) jurídico-positivo: é aquela feita pelo poder constituinte, constituição escrita, é a norma que fundamenta todo o ordenamento jurídico. No nosso caso seria a CF/88. É algo que está no direito positivo, no topo na pirâmide. A norma infraconstitucional deve observar a norma superior e a Constituição, por conseqüência. Dessa concepção nasce a idéia de supremacia formal constitucional e controle de constitucionalidade, e de rigidez constitucional, ou seja, necessidade de proteger a norma que dá validade a todo o ordenamento. Para ele nunca se pode entender o direito como fato social, mas sim como norma, um sistema escalonado de normas estruturas e dispostas hierarquicamente, onde a norma fundamental fecha o ordenamento jurídico dando unidade ao direito.
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CONCEPÇÕES MODERNAS SOBRE A CONSTITUIÇÃO
• Força Normativa da Constituição – Konrad Hesse – critica e rebate a concepção tratada por Ferdinand Lassalle. A Constituição possui uma força normativa capaz de modificar a realidade, obrigando as pessoas. Nem sempre cederia frente aos fatores reais de poder, pois obriga. Tanto pode a Constituição escrita sucumbir, quanto prevalecer, modificando a sociedade. O STF tem utilizado bastante esse princípio da força normativa da Constituição em suas decisões.
• Constitucionalização Simbólica – Marcelo Neves. Cita o autor que a norma é mero símbolo. O legislador não a teria criado para ser concretizada. Nenhum Estado Ditatorial elimina da Constituição os direitos fundamentais, apenas os ignora. Ex: salário-mínimo que “assegura” vários direitos.
• Constituição Aberta – Peter Häberle e Carlos Alberto Siqueira Castro. Leva em consideração que a Constituição tem objeto dinâmico e aberto, para que se adapte às novas expectativas e necessidades do cidadão. Se for aberta, admite emendas formais (EC) e informais (mutações constitucionais), está repleta de conceitos jurídicos indeterminados. Ex: art. 5º, XI, CF – no conceito de “casa” está incluso a casa e o escritório onde exerce atividade profissional. A idéia dele é que nós devemos urgentemente recusar a idéia de que a interpretação deve ser monopolizada exclusivamente pelos juristas. Para que a Constituição se concretize e necessário que todos os cidadãos se envolvam num processo de interpretação e aplicação da constituição. O titular o poder constituinte é a sociedade, por isso ela deve se envolver no processo hermenêutico de materialização da constituição. Essa idéia abre espaço para que os cidadãos participem cada vez mais nessa interpretação.
• Concepção Cultural – Remete ao conceito de Constituição total, que é a que possui todos os aspectos vistos anteriormente. De acordo com esta concepção, a Constituição é fruto da cultura existente dentro de determinado contexto histórico, em uma determinada sociedade, e ao mesmo tempo, é condicionante dessa mesma cultura, pois o direito é fruto da atividade humana. José Afonso da Silva é um dos autores que defendem essa concepção. Meirelles Teixeira a partir dessa concepção cultural cria o conceito de Constituição Total, segundo o qual: “Constituição é um conjunto de normas jurídicas fundamentais, condicionadas pela cultura total, e ao mesmo tempo condicionantes desta, emanadas da vontade existencial da unidade política, e reguladoras da existência, estrutura e fins do Estado e do modo de exercício e limites do poder político” (expressão retirada do livro do professor Dirley da Cunha Júnior na página 85, o qual retirou do livro de J.H. Meirelles Teixeira página 78).
CONCLUSÃO
Concluímos este estudo, entendo que da classificação inicialmente proposta (sociológica, política e jurídica), assumimos nossa preferência pela concepção normativa de constituição, que se aproximaria mais da concepção jurídica. Mas, não poderíamos deixar de esclarecer que a Constituição de um Estado não deve ser vista apenas por uma única concepção, e sim por uma “junção” de todas elas, e nesse ponto devemos considerar que a concepção, ou o sentido que melhor compreende o conceito de constituição, é o sentido ou concepção cultural, que reflete numa união (conexão) de todos os sentidos vistos anteriormente.
Reconhecemos a supremacia da Constituição quando comparada às demais leis, estando no ápice da pirâmide, servindo de legitimação para todo o Ordenamento Jurídico. Concordamos com o entendimento defendido pelo professor Dirley da Cunha Júnior, em seu livro, ao afirmar que: “Devemos, porém, confessar que a concepção de Constituição como fato cultural é a melhor que desponta na teoria da constituição, pois tem a virtude de explorar o texto constitucional em todas as suas potencialidades e aspectos relevantes, reunindo em si todas as concepções – a sociológica, a política e a jurídica – em face das quais se faz possível compreender o fenômeno constitucional. Assim, um conceito de Constituição “constitucionalmente adequado” deve partir da sua compreensão como um sistema aberto de normas em correlação com os fatos sóciopolíticos, ou seja, como uma conexão das várias concepções desenvolvidas no item anterior, de tal modo que importe em reconhecer uma interação necessária entre a Constituição e a realidade a ela subjacente, indispensável à força normativa”, (trecho retirado do livro – Curso de direito constitucional – Dirley da Cunha Júnior, página 85 e 86).
Concordando com esse mesmo entendimento, podemos citar à grande influência de Konrad Hesse, o qual afirma, rebatendo em algumas partes a tese de Lassalle, diz que ainda que algumas vezes a constituição escrita possa sucumbir a realidade (tese de Lassalle), esta constituição possui uma força normativa capaz de conformar a realidade, para isso basta que exista vontade de constituição e não apenas vontade de poder. Podemos afirmar que a Constituição Brasileira de 1988 tem sido considerada como uma Constituição normativa, lembrando que depende de toda a sociedade atuar, reivindicando a efetividade desta constituição. Ainda, partidários do mesmo entendimento, podemos citar:
• O professor Jose Afonso da Silva afirma que: “essas concepções pecam pela unilateralidade”, e busca criar uma concepção estrutural da constituição considerando: “no seu aspecto normativo, não como norma pura, mas como norma em sua conexão com a realidade social, que lhe dá o conteúdo fático e o sentido axiológico. Trata-se de um complexo, não de partes que se adicionam ou se somam, mas de elementos membros e membros que se enlaçam num todo unitário”. (trecho retirado do livro Curso de direito constitucional positivo, página 41).
• O Conceito IDEAL de constituição, para J. J. GOMES CANOTILHO, é o conceito a partir de um conceito cultural da constituição, devendo: “(i) consagrar um sistema de garantia da liberdade (esta essencialmente concebida no sentido do reconhecimento dos direitos individuais e da participação do cidadão nos atos do poder legislativo através dos Parlamentos); (ii) a constituição contém o princípio da divisão de poderes, no sentido de garantia orgânica contra os abusos dos poderes estaduais; (iii) a constituição deve ser escrita. (J. J. GOMES CANOTILHO – Direito Constitucional, p. 62-63.).
CONSTITUIÇÕES BRASILEIRAS DE 1824 A 1988
Ao estudarmos as constituições que o Brasil já teve - e suas principais emendas - fazemos uma importante revisão sobre conteúdos de nossa história. Os contextos econômicos, sociais e políticos do Brasil de cada época, desde a independência até os dias atuais, estão refletidos nas linhas mestras de nossas cartas magnas.
Precisamos lembrar que nossas constituições são apenas textos. Se serão meras utopias ou se servirão de indicativos para a conquista de direitos e, consequentemente, para a construção de uma sociedade mais justa e digna, vai depender de nossa participação enquanto homens e mulheres em busca de uma verdadeira cidadania. 
1) Constituição de 1824 
CONTEXTO - Após a independênciado Brasil ocorreu uma intensa disputa entre as principais forças políticas pelo poder: O partido brasileiro, representando principalmente a elite latifundiária escravista, produziu um anteprojeto, apelidado "constituição da mandioca", que limitava a poder imperial (antiabsolutista) e discriminava os portugueses (antilusitano).
Dom Pedro I, apoiado pelo partido português (ricos comerciantes portugueses e altos funcionários públicos), em 1823 dissolveu a Assembleia Constituinte brasileira e no ano seguinte impôs seu próprio projeto, que se tornou nossa primeira constituição. 
CARACTERÍSTICAS:
· Nome do país – Império do Brasil. 
· Carta outorgada (imposta, apesar de aprovada por algumas câmaras municipais da confiança de D. Pedro I). 
· Estado centralizado / Monarquia hereditária e constitucional.
· Quatro poderes (Executivo / Legislativo / Judiciário / Moderador (exercido pelo imperador).
· O mandato dos senadores era vitalício 
· Voto censitário (só para os ricos) e em dois graus (eleitores de paróquia / eleitores de província).
· Estado confessional (ligado à Igreja – catolicismo como religião oficial).
· Modelo externo – monarquias europeias restauradas (após o Congresso de Viena). 
Foi a de maior vigência (durou mais de 65 anos). Foi emendada em pelo ato adicional de 1834, durante o período regencial, para proporcionar mais autonomia para as províncias. Essa emenda foi cancelada pela lei interpretativa do ato adicional, em 1840. 
2) Constituição de 1891 
CONTEXTO - Logo após a proclamação da república, predominaram interesses ligados à oligarquia latifundiária, com destaque para os cafeicultores. Essas elites influenciando o eleitorado ou fraudando as eleições ("voto de cabresto") impuseram seu domínio sobre o país ou coronelismo. 
CARACTERÍSTICAS:
· Nome do país – Estados Unidos do Brasil. 
· Carta promulgada (feita legalmente) Estado Federativo / República Presidencialista.
· Três poderes (extinto o poder moderador).
· Voto Universal (para todos / muitas exceções, ex. analfabetos).
· Estado Laico (separado da Igreja).
· Modelo externo – constituição norte-americana 
Obs.: as províncias viraram estados, o que pressupõe maior autonomia. 
3) Constituição de 1934 
CONTEXTO - Os primeiros anos da Era de Vargas caracterizaram-se por um governo provisório (sem constituição). Só em 1933, após a derrota da Revolução Constitucionalista de 1932, em São Paulo, é que foi eleita a Assembleia Constituinte que redigiu a nova constituição. 
CARACTERÍSTICAS:
· Nome do país – Estados Unidos do Brasil. 
· Carta promulgada (feita legalmente).
· Reforma Eleitoral – introduzidos o voto secreto e o voto feminino. 
· Criação da Justiça do Trabalho Leis Trabalhistas – jornada de 8 horas diárias, repouso semanal, férias remuneradas (13 salário só mais tarde, com João Goulart). 
Foi a de menor duração / já em 1935, Vargas suspendia suas garantias através do estado de sítio. Obs.: Vargas foi eleito indiretamente para a presidência.
4) Constituição de 1937 
CONTEXTO - Como seu mandato terminaria em 1938, para permanecer no poder Vargas deu um golpe de estado, tornando-se ditador. Usou como justificativa a necessidade de poderes extraordinários para proteger a sociedade brasileira da ameaça comunista ("perigo vermelho") exemplificada pelo plano Cohen (falso plano comunista inventado por seguidores de Getúlio). O regime implantado, de clara inspiração fascista, ficou conhecido como Estado Novo. 
CARACTERÍSTICAS:
· Nome do país – Estados Unidos do Brasil. 
· Carta outorgada (imposta). 
· Inspiração fascista – regime ditatorial, perseguição e opositores, intervenção do estado na economia.
· Abolidos os partidos políticos e a liberdade de imprensa.
· Mandato presidencial prorrogado até a realização de um plebiscito (que nunca foi realizado). 
· Modelo externo – Ditaduras fascistas (ex., Itália, Polônia, Alemanha).
Obs.: Apelidada de "polaca".
5) Constituição de 1946 
CONTEXTO - Devido ao processo de redemocratização posterior à queda de Vargas, fazia-se necessária uma nova ordem constitucional. Daí o Congresso Nacional, recém eleito, assumir tarefas constituintes. 
CARACTERÍSTICAS:
· Nome do país – Estados Unidos do Brasil.
· Carta promulgada (feita legalmente).
· Mandato presidencial de 5 anos (quinquênio).
· Ampla autonomia político-administrativa para estados e municípios.
· Defesa da propriedade privada (e do latifúndio).
· Assegurava direito de greve e de livre associação sindical.
· Garantia liberdade de opinião e de expressão. 
· Contraditória na medida em que conciliava resquícios do autoritarismo anterior (intervenção do Estado nas relações patrão x empregado) com medidas liberais (favorecimento ao empresariado). 
Obs.: Através da emenda de 1961, foi implantado o parlamentarismo, com situação para a crise sucessória após a renúncia de Jânio Quadros. Em 1962, através de plebiscito, os brasileiros optam pela volta do presidencialismo. 
6) Constituição de 1967 
CONTEXTO - Essa constituição surgiu na passagem do governo Castelo Branco para o Costa e Silva, período no qual predominavam o autoritarismo e o arbítrio político. Documento autoritário, a constituição de 1967 foi largamente emendada em 1969, absorvendo instrumentos ditatoriais como os do AI-5 (ato institucional n 5) de 1968. 
CARACTERÍSTICAS:
· Nome do país – República Federativa do Brasil. 
· Documento promulgado (foi aprovado por um Congresso Nacional mutilado pelas cassações).
· Confirmava os Atos Institucionais e os Atos Complementares do governo militar. 
Obs.: reflexo da conjuntura de "guerra fria", na qual sobressaiu a "teoria da segurança nacional" (combater os inimigos internos rotulados de subversivos (opositores de esquerda).
7) Constituição de 1988 , "Constituição Cidadã" 
CONTEXTO - Desde os últimos governos militares (Geisel e Figueiredo), nosso país experimentou um novo momento de redemocratização, conhecido como abertura. Esse processo se acelerou a partir do governo Sarney, no qual o Congresso Nacional produziu nossa atual constituição. 
CARACTERÍSTICAS:
· Nome do país – República Federativa do Brasil.
· Carta promulgada (feita legalmente).
· Reforma eleitoral (voto para analfabetos e para brasileiros de 16 e 17 anos).
· Terra com função social (base para uma futura reforma agrária?).
· Combate ao racismo (sua prática constitui crime inafiançável e imprescritível, sujeito à pena de reclusão).
· Garantia aos índios da posse de suas terras (a serem demarcadas).
· Novos direitos trabalhistas – redução da jornada semanal, seguro desemprego, férias remuneradas acrescidas de 1/3 do salário, os direitos trabalhistas aplicam-se aos trabalhadores urbanos e rurais e se estendem aos trabalhadores domésticos. 
Obs.: Em 1993, 5 anos após a promulgação da constituição, o povo foi chamado a definir, através de plebiscito, alguns pontos sobre os quais os constituintes não haviam chegado a acordo, forma e sistema de governo. O resultado foi a manutenção da república presidencialista. 
Constituições do Brasil: Como chegamos até aqui?
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Introdução – 1824 – 1891 – 1934 – 1937 – 1946 – 1967 – 1988
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Cidadania estendida a todos os brasileiros, sem restrições, independente de renda, gênero, profissão, alfabetização. É isso que nos é garantido em lei hoje, mas será que sempre foi assim? Direito de ir às ruas protestar, fazer críticas públicas aos personagens políticos e suas medidas: desde quando podemos fazer essas coisas?
Entende-se por Constituição – ou Carta Magna – o conjunto de princípios fundamentais que regem todas as leis do país. Analisando nossas antigas constituições, podemos perceber que certas garantias de que hoje usufruímos são verdadeiras conquistas. Além disso, inserindo cada Carta Magna em seu contexto histórico, podemos compreender melhor a trajetória política de nosso país e identificar tendências ou correntes de pensamento que nos guiaram por décadas e décadas.
Na históriadas constituições brasileiras, houve uma alternância entre regimes mais fechados e mais democráticos. O caráter dos governos teve uma repercussão na aprovação das Cartas, que foram ora impostas, ora aprovadas por Assembleias Constituintes. Por tudo isso, o Politize preparou esta trilha apresentando todas as constituições já feitas na história do Brasil, suas principais características e a evolução dos direitos dos cidadãos.
Panorama Geral
Vamos ter uma ideia de todo do conteúdo que segue na trilha na tabela a seguir:
	Constituição
	Legitimidade
	Período 
	1824
	Imposta por Dom Pedro, Imperador
	Império
	1891
	Aprovada por Assembleia Constituinte
	República Velha
	1934
	Aprovada por Assembleia Constituinte
	Era Vargas
	1937
	Imposta por Getúlio Vargas, ditador
	Era Vargas
	1946
	Aprovada por Assembleia Constituinte
	Democracia Populista
	1967
	Aprovada no Congresso por exigência do Regime
	Regime Militar
	1988
	Aprovada por Assembleia Constituinte
	República Contemporânea
1824
CONTEXTO HISTÓRICO
Em 7 de setembro de 1822, o Brasil deixou de ser colônia de Portugal, no processo conhecido como independência. Dom Pedro I, que a proclamou, passou  a ser Imperador do Brasil, mesmo pertencendo à família real portuguesa. Achou estranho um português decretar a independência do Brasil de Portugal? Pois foi realmente uma situação inusitada, e isso diz muito sobre o que veio a acontecer no país nos anos seguintes.
A proclamação da independência foi feita por interesses políticos, em retaliação aos inimigos liberais da família real portuguesa, que desejavam que o Brasil voltasse à condição de colônia. Essa possibilidade foi descartada por Dom Pedro. Assim, nos anos seguintes, o Brasil tornou-se uma monarquia isolada entre as repúblicas recém-libertas da antiga América Espanhola.
Mas o que isso tudo tem a ver com a Constituição de 1824? O fato de termos sido governados por um imperador autoritário, na época, fez com que nossa primeira Carta Magna fosse conservadora em seu conteúdo e autocrática em seu funcionamento.
A ELABORAÇÃO DA PRIMEIRA CONSTITUIÇÃO
Nosso primeiro projeto de Constituição foi elaborado em 1823, por uma Assembleia Constituinte. Esse projeto foi apelidado popularmente de Constituição da Mandioca. Isso porque um dos seus mais peculiares aspectos era que o voto era restrito apenas àqueles que tivessem certo nível de renda, que por sua vez era medida em – pasme – quantidade de farinha de mandioca. Quem tivesse menos de 150 alqueires de plantação de mandioca não teria direito ao voto.
Mas qual era o sentido de medir a riqueza com base em um produto agrícola? Ora, essa era uma forma de excluir da vida política, de uma só vez, a população pobre, que não tinha esse nível de renda, e os comerciantes portugueses, que tinham renda expressa em dinheiro. Assim, o direito ao voto ficava reservado apenas à elite agrária, a única parte da população que tinha sua renda medida em farinha de mandioca.
Esse projeto, porém, foi abortado no dia 12 de novembro de 1823. O imperador Dom Pedro I dissolveu a Constituinte no pode ser considerado o primeiro golpe de Estado do Brasil independente, em um episódio conhecido como “Noite da Agonia”. Ele o fez porque a Constituição da Mandioca buscava estabelecer limites a seu poder, submetendo-o ao parlamento.
Poucos meses depois, ele outorgou a Constituição de 1824, que lhe conferia amplos poderes por meio do Poder Moderador. Esse texto vigorou por mais de 60 anos, a Constituição brasileira de mais longa duração até os dias atuais.
A Constituição de 1824 estabelecia, principalmente:
· Monarquia constitucional e hereditária;
· Voto censitário (para ser eleitor era necessário ter uma determinada renda mínima) e descoberto, ou seja, não secreto;
· União entre a Igreja e Estado, sendo a católica sua religião oficial;
· Quatro poderes: Executivo, Legislativo e Judiciário e Moderador.
Mas o que era esse Poder Moderador?
O Poder Moderador, assim como o Executivo, era exercido pela pessoa do Imperador, apresentada pela Constituição de 1824 como figura inviolável e sagrada. Sua função seria a de intervir sempre que surgissem conflitos entre os demais poderes, determinando qual deles tinha razão. Além disso, o Poder Moderador atribuía ao Imperador a função de nomear senadores, o poder de dissolver a Câmara e direito de aprovação ou veto de quaisquer decisões da Câmara e Senado. Nota-se facilmente que, na prática, o Poder Moderador conferia ao imperador poderes quase absolutos.
Além disso, a primeira constituição brasileira proibia o voto de mulheres, escravos, criados e qualquer pessoa que possuísse renda anual inferior a 100 mil-réis. O autor Laurentino Gomes, em seu livro 1808, realiza a conversão aproximada dessa quantia para o Real e estabelece que 100 mil-réis equivaliam a cerca de R$ 12.300.
Como a Constituição determinava que o Estado era oficialmente católico, a construção de templos identificáveis de outras religiões era expressamente proibida. Os cultos não católicos deveriam ser realizados apenas em ambiente doméstico, sem serem vistos abertamente pela sociedade.
Muita informação de uma vez? Então vamos recapitular através deste infográfico:
1891
CONTEXTO HISTÓRICO
O Segundo Reinado (1840-1889) foi o período da história brasileira iniciado com o golpe da maioridade, episódio que possibilitou que D. Pedro II se tornasse Imperador com apenas 14 anos, e a Proclamação da República – 15 de novembro de 1889. Nos primeiros trinta anos desse período, alcançou-se uma estabilidade política no Brasil sem precedentes desde a independência. Ofuscando a essência autoritária do Império, figurava certa aparência democrática.
A partir da década de 1870, entretanto, esse cenário se inverteu: ganharam muita força, a partir de então, novos grupos socioeconômicos, que possuíam interesses incompatíveis com o aparelho burocrático do Império. Esses novos setores sociais foram decisivos para a derrubada da monarquia.
Mas que setores sociais eram esses?
Conforme o café se tornava o carro-chefe da economia nacional, a elite agrária, composta principalmente por cafeicultores paulistas, se fortalecia e passava a alimentar a ambição de possuir uma autonomia de províncias que não existia no Brasil Império. Sendo assim, esse grupo social passou a nutrir, abertamente, um anseio por reformas, o que tornou esses cafeicultores importantes adeptos do republicanismo.
Outro setor social decisivo para a queda da Monarquia foi o dos militares, os quais, fortalecidos moralmente pela vitória da Guerra do Paraguai (1864-1870), passaram a almejar uma representação política que não possuíam no Império.
Pode-se observar, dessa forma, que a Monarquia brasileira, no final dos anos 1880, se encontrava enfraquecida, por ter perdido importantes bases de apoio. Além dos grupos citados acima, outros já haviam também perdido a simpatia pelo regime monárquico, tais como a Igreja católica, a camada média de forma geral e os fazendeiros escravocratas, descontentes com a Abolição da Escravatura de 13 de maio de 1888.
Em novembro de 1889, após muitos anos de desgaste do Império, o marechal Deodoro da Fonseca aceitou chefiar o movimento que derrubaria o governo, sem nenhuma participação popular. O período subsequente da História do Brasil é denominado Primeira República ou República Velha (1889-1930).
Assim que surgiu a República, foi preciso elaborar uma nova Constituição. A nova Carta Magna foi promulgada em 1891 e era inspirada no modelo norte-americano.
A CONSTITUIÇÃO DE 1891: PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS
Os principais tópicos desse texto estabeleciam, principalmente:
– República federativa liberal, com sistema presidencialista de governo;
– Três poderes: Executivo, Legislativo e Judiciário, sendo que o Poder Moderador foi extinto;
– Fim do voto censitário ou por renda: seriam eleitores todos os cidadãos. Por outro lado, analfabetos, mendigos, soldados e membros de ordens religiosas não eram considerados eleitores e eram impedidos de votar;
– Separação entre Estado e Igreja;
– Autonomia dos estados, conforme almejavaa elite agrária ao apoiar o republicanismo.
Como funcionava essa autonomia dos estados?
As unidades federativas do país podiam estabelecer quaisquer direitos que não lhes fossem negados pela Constituição. Assim, era possível que organizassem forças militares próprias, que criassem uma Justiça própria, que contraíssem empréstimos no exterior e que decretassem o valor dos impostos sobre a exportação de suas mercadorias.
Essas duas últimas possibilidades, particularmente, colaboraram muito para a hegemonia econômica dos estados exportadores (principalmente São Paulo) nos anos seguintes, porque trouxe, a eles, a renda de impostos sobre exportações, além dos empréstimos, que contribuíram para o sucesso comercial do café.
A Constituição de 1891 também não fazia referência às mulheres, mas considerou-se implicitamente que elas estavam impedidas de votar. O voto feminino só seria conquistado décadas depois.
Na República Velha,o voto era descoberto, ou seja, não secreto. Essa situação acabou favorecendo o chamado “voto de cabresto”, ou seja, a manipulação eleitoral por parte dos “coronéis” (personalidades muito influentes no meio agrário e que normalmente estavam ligadas ao governo) sobre a população, que era essencialmente rural nessa época da história brasileira. Essa influência passou a ser denominada, mais tarde, de coronelismo. Os coronéis eram figuras semelhantes aos atuais prefeitos e recebiam, na época, influência política dos governadores dos estados, que por sua vez eram influenciados pelo presidente.
É possível observar que a Constituição de 1891, no plano teórico, se mostrava mais justa, equilibrada e liberal que a anterior, apesar de apresentar falhas. Mas, na prática, ela acabou por assegurar o controle da elite agrária sobre a máquina administrativa, política e econômica do Brasil, até o episódio conhecido como Revolução de 1930.
1934
Os trinta primeiros anos do século XX foram um período de fortalecimento de setores sociais e políticos que foram determinantes para o enfraquecimento da Primeira República no Brasil. Assim, o sistema político vigente foi sendo, aos poucos, corroído em suas bases de apoio. Dessa forma, em 1930, quando uma grande revolta explodiu, ele não conseguiu oferecer resistência e caiu. Esse episódio, conhecido como Revolução de 1930, transformou os rumos do Brasil, que passou da condição de país agrário-exportador para a de urbano-industrial.
Para compreender essa importante mudança na estrutura nacional, portanto, é necessário avaliar cuidadosamente cada uma dessas novas forças e como elas desestabilizaram o sistema político. Vamos nessa?
CONTEXTO 
Os trinta primeiros anos do século XX foram um período de fortalecimento de setores sociais e políticos que foram determinantes para o enfraquecimento da Primeira República no Brasil. Assim, o sistema político vigente foi sendo, aos poucos, corroído em suas bases de apoio. Dessa forma, em 1930, quando uma grande revolta explodiu, ele não conseguiu oferecer resistência e caiu. Esse episódio, conhecido como Revolução de 1930, transformou os rumos do Brasil, que passou da condição de país agrário-exportador para a de urbano-industrial.
Para compreender essa importante mudança na estrutura nacional, portanto, é necessário avaliar cuidadosamente cada uma dessas novas forças e como elas desestabilizaram o sistema político. Vamos nessa?
AS NOVAS FORÇAS SOCIAIS E POLÍTICAS 
É importante destacar que a indústria brasileira se expandiu durante a República Velha, embora de forma muito lenta. Paralelamente a isso, houve o fortalecimento da burguesia industrial, que, apesar de não ter contestado o regime da República Velha, era uma classe que passou a gozar de um prestígio social equiparável aos dos cafeicultores. Portanto, essa nova burguesia representava uma ameaçava à hegemonia da classe dominante, algo que não havia existido até então.
Se teve fortalecimento da burguesia industrial, teve também a expansão do operariado! A população operária de São Paulo e Rio de Janeiro aumentou substancialmente com o crescimento das indústrias. Sua insatisfação com as péssimas condições de trabalho permitiu que essas pessoas se simpatizassem com idéias anarquistas, socialistas e comunistas, em geral difundidas pelos operários imigrantes europeus.
Assim, foi surgindo gradualmente o movimento de luta dos trabalhadores, que faziam suas reivindicações por meio de greves, frequentemente respondidas com violência e repressão policial. A mais importante do período foi a Greve Geral de 1917, ocorrida em São Paulo, que tomou grandes proporções e obteve repercussão nacional.
Uma outra força política essencial para a preparação da Revolução de 1930 foi o tenentismo, organizado por jovens militares de baixa patente que almejavam reformas políticas e sociais. Durante os anos 20, esse movimento se ampliou significativamente, pois ganhou o apoio de vários setores da classe média e se tornou conhecido pelas inúmeras revoltas que organizou contra o governo.
O líder tenentista mais conhecido foi o capitão Luís Carlos Prestes, figura que abordaremos mais à frente ao tratar da Era Vargas (1930-1945). Chefe da famosa Coluna Prestes, Luís Carlos e outros tenentistas percorreram 25 mil quilômetros a pé pelos sertões brasileiros em apenas 21 meses, incentivando a rebeldia e a revolução. Esse espírito de luta incomodou o governo brasileiro, que passou a perseguir e, em alguns casos, até a exilar os líderes tenentistas.
Por último, mas não menos importante, havia as oligarquias dissidentes. Essa expressão engloba latifundiários, geralmente exportadores de produtos secundários para a economia, que, apesar de ocuparem o poder em seus estados, não se sentiam representados por um sistema político preocupado em proteger, acima de tudo, o café. Assim, essas oligarquias passaram a reclamar do predomínio absoluto exercido por São Paulo e Minas Gerais na esfera federal e acabaram se aliando ao tenentismo e outros grupos sociais para fazer oposição ao governo.
Pode-se observar com facilidade que, ao final dos anos 20, a oposição ao regime oligárquico era forte. A partir de então, o fim da República Velha passou a ser apenas uma questão de tempo.
A REVOLUÇÃO DE 1930
Nas eleições para presidente de 1930, as oligarquias dissidentes apresentaram uma chapa de oposição ao candidato paulista, Júlio Prestes. O nome dessa chapa era Aliança Liberal, composta por integrantes mineiros, gaúchos e paraibanos. Seu candidato à presidência foi o governador do Rio Grande do Sul Getúlio Vargas. Suas propostas eram basicamente a anistia aos exilados, o voto secreto e as reformas sociais, de modo que conquistou o apoio dos grupos de oposição já apresentados anteriormente. Mesmo assim, nas eleições, Júlio Prestes saiu vitorioso.
Com a derrota nas eleições, as oligarquias dissidentes e os outros grupos passaram a cogitar uma revolta armada, que se concretizou após o assassinato de João Pessoa, político paraibano da Aliança Liberal. Embora esse assassinato tenha ocorrido por motivos de ordem pessoal, a culpa foi atribuída ao governo. Iniciou-se uma revolução em vários estados do Brasil e, em apenas um mês de luta, o então presidente Washington Luís foi deposto. Getúlio Vargas assumiu o comando do Governo Provisório (1930-1934). Encerrava-se, assim, a República Velha e começava o período da História brasileira denominado Era Vargas (1930-1945).
A elite paulista, a principal beneficiada pela “máquina” da República Velha, foi também a mais prejudicada pela vitória da Revolução de 1930. Vargas, ao assumir o poder, depôs os governadores estaduais da época e passou a nomear interventores à sua maneira, de modo a eliminar o coronelismo. Assim, poucos meses depois da revolução, os paulistas organizaram uma revolta que buscava derrubar Vargas e seus aliados do poder. Era a chamada revolução constitucionalista, para os paulistas, ou a contrarrevolução, para os getulistas, movimento que recebeu apoio da oligarquia cafeeira.
A REVOLTA PAULISTA DE 1932
É importante saber que, apesar da mudança drástica de regime, Vargasainda não havia promulgado uma nova Constituição. Diante dessa situação, os paulistas incluíram uma nova Carta Magna entre suas pautas, de forma a convencer seus inimigos políticos sobre suas intenções democráticas. Entretanto, o que eles realmente queriam é que as oligarquias paulistas retornassem ao poder, e exigiram também que Vargas nomeasse um governador para São Paulo que fosse civil e paulista.
Após vários confrontos, por vezes violentos, entre civis e o governo, o movimento foi derrotado, mas Vargas atendeu ao desejo de se criar uma nova Constituição. Ele também nomeou um interventor paulista para o estado. A Assembléia Constituinte foi composta por diversas categorias sociais, o que fez da Constituição de 1934 a mais democrática que o Brasil já tivera em sua história até aquele momento.
A CONSTITUIÇÃO DE 1934 – PRINCIPAIS INOVAÇÕES:
Além dos tópicos mantidos da Constituição de 1891, como República federativa com sistema presidencialista de governo, observe algumas das inovações trazidas por esse texto:
· Voto secreto;
· Voto feminino;
· Legislação trabalhista (previdência social, jornada de trabalho de 8 horas diárias, salário mínimo, férias, etc.);
· Autonomia dos sindicatos (na prática, porém, havia corporativismo e cooptação de sindicatos e suas lideranças);
· Medidas nacionalistas defendendo as riquezas naturais do país;
· Criação da Justiça Eleitoral;
· Obrigação de as empresas manterem, no mínimo, dois terços de empregados brasileiros.
É inegável que essa constituição, liberal e progressista em relação aos direitos trabalhistas, refletia, de certa maneira, o populismo e o nacionalismo econômico tão característicos da Era Vargas, de forma que Getúlio conquistou a simpatia de grande parte da população brasileira. Mas, o governo constitucional de Vargas durou apenas três anos, devido ao golpe de Estado que ocorreria em 1937 e implantaria nossa primeira ditadura, invalidando essa constituição.
1937
Já vimos que a Constituição de 1934 durou apenas três anos, a Carta Magna brasileira de menor duração até hoje. Afinal, por que tivemos duas constituições em um intervalo de apenas três anos? O que aconteceu para que essa nova fase da república fosse interrompida, dando espaço à Constituição de 1937? É o que vamos explicar.
CONTEXTO HISTÓRICO 
Em 1937, Getúlio Vargas concretizou um golpe de estado que iniciaria um período de ditadura de oito anos, que se estendeu até 1945: o Estado Novo. Curiosamente, essa ditadura estava prevista na Constituição, que legitimava os poderes absolutos do ditador, enquanto direitos humanos eram recorrentemente violados pelo aparelho repressor do Estado – a Polícia Especial. A Constituição de 1937, que recebeu apelido de Polaca, por ter sido inspirada no modelo semifascista polonês, era autoritária e concedia ao governo poderes praticamente ilimitados.
Mas por que Getúlio deu o golpe de estado?
Os principais fatores que contribuíram para que Vargas buscasse fortalecer seu poder pessoal através de uma ditadura foram o apoio da elite a esse fortalecimento, bem como a radicalização dos grupos de esquerda e de direita no período de 1934-37.
O apoio da elite, composta, principalmente, pelos cafeicultores e industriais, se dava por motivos econômicos e políticos. Como, na época, o governo passou a comprar os excedentes de café de modo a evitar abalos na economia brasileira, os cafeicultores passaram a simpatizar com a idéia de um Executivo forte, que continuasse a auxiliá-los. Já os industriais precisavam do apoio do governo para que continuassem crescendo, o que explica o fato de também não terem visto com maus olhos o fortalecimento do Executivo.
As razões políticas para esse apoio se resumiam, tanto por parte dos cafeicultores quanto dos industriais, ao medo da “ameaça comunista” e ao receio em relação aos possíveis resultados de um maior engajamento político do operariado e da classe média.
Para que entendamos o pretexto utilizado por Vargas ao dar o golpe, é necessário analisar a radicalização política ocorrida tanto na direita, quanto na esquerda durante os anos que o precederam, bem como a postura do governo diante dessa oposição.
OS CHOQUES ENTRE A DIREITA E A ESQUERDA
Em 1934, surgiu no Brasil uma organização política de caráter fascista denominada Ação Integralista Brasileira (AIB). O comando desse movimento estava nas mãos de Plínio Salgado, político e intelectual, e suas propostas de Estado forte, governo autoritário e sociedade militarizada foram inspiradas nos governos nazifascistas da Itália, Alemanha, Espanha e Portugal. Conforme de costume nos regimes totalitários, o nacionalismo também estava presente: os membros da AIB se vestiam com camisas verdes e se cumprimentavam levantando o braço direito e gritando a palavra indígena “Anauê”, remontando, assim, aos índios nativos do Brasil.
Em reação ao integralismo, foi formada, em 1935, a Aliança Nacional Libertadora (ANL). Compunham esse movimento comunistas, socialistas e líderes sindicais que desejavam o governo popular, a proteção aos pequenos proprietários, a nacionalização das empresas estrangeiras, entre outras coisas. Diante disso, poucos meses depois e sob influência das classes mais conservadoras, a Câmara aprovou a Lei de Segurança Nacional. Esse foi respaldo legal que permitiu a Vargas fechar a ANL. A ANL tentou reagir através de um levante armado – a Intentona Comunista –, que falhou por ter tido pouca adesão de seus membros.
Em resposta ao levante, Vargas decretou estado de sítio e a Polícia Especial iniciou uma repressão sistemática e violenta. A partir de então, quaisquer elementos que oferecessem resistência ao governo, além dos comunistas, foram perseguidos, presos e, não raro, torturados ou assassinados.
O GOLPE
Em setembro de 1937, os jornais anunciaram que o Exército havia descoberto um plano comunista para a tomada do poder. Essa situação havia sido forjada por um militar integralista pertencente ao Exército, que criou o boato – com o nome de Plano Cohen – de que os comunistas, nos dias seguintes, incendiariam igrejas, desrespeitariam os lares, promoveriam greves e massacrariam líderes políticos. Aproveitando-se dessa falsa acusação e argumentando que era preciso defender a liberdade, Vargas instalou a ditadura do Estado Novo. Poucas semanas depois do suposto plano comunista ter vazado na imprensa, Getúlio desferiu o golpe, fechando o Congresso Nacional e anunciando no rádio o “nascer da nova era”.
A CONSTITUIÇÃO DE 1937: PRINCIPAIS TÓPICOS
Dessa forma, a Constituição de 1937, que já estava pronta há meses durante a preparação do golpe, foi imposta ao povo. Seus tópicos principais estabeleciam:
· Fechamento do Poder Legislativo nos três níveis (Congresso Nacional, Assembléias Estaduais e Câmaras Municipais);
· Poder Judiciário subordinado ao Executivo;
· Total liberdade de ação à Polícia Especial;
· Propaganda a favor do governo no rádio mediadas pelo DIP (Departamento de Imprensa e Propaganda);
· Eliminação do direito de greve;
· Reintrodução da pena de morte;
· Estados seriam governados por interventores nomeados por Vargas.
Nota-se, assim, que a Constituição de 1937 dava respaldo legal para o regime autoritário do Estado Novo e era um retrocesso, se comparada à anterior, em termos de democracia e direitos humanos. Vale lembrar que os crimes e as perseguições a quem se opôs a essa forma de governo continuaram até o fim do regime e, quando este chegou ao fim, as atrocidades cometidas ficaram impunes.
1946
Vimos, no último texto, que o Estado Novo interrompeu nosso período democrático que durou apenas três anos, se apresentando como um aparelho repressor que impunha limites às liberdades individuais. Continue conosco no post a seguir e entenda por quê a nossa primeira ditadura chegou ao fim, além de, é claro, entender como surgiu a constituição de 1946.
CONTEXTO HISTÓRICO
1) O Brasil e a Segunda Guerra (1939-1945)
Conforme afirmamos no último texto dessa trilha, a Segunda Guerra Mundial (1939-1945) trouxe consequências para a política do Brasil. Nesse importante conflito, os paísesrivais estavam organizados em dois blocos: o do Eixo (composto pela Alemanha, Itália e Japão) e o dos Aliados (formado pela União Soviética, Inglaterra, França e, mais tarde, Estados Unidos da América).
Diante desse cenário, Vargas manteve o Brasil neutro em um primeiro momento – ou seja, sem apoiar abertamente nenhum dos blocos. Apesar disso, dentro do governo havia personalidades políticas francamente favoráveis aos nazistas, tais como o general Eurico Gaspar Dutra e o chefe da Polícia Especial Fillinto Müller.
A partir de 1942, entretanto, esse quadro de neutralidade mudou. O Brasil entrou na guerra ao lado dos Aliados, chegando a enviar milhares de soldados para combate na Itália. Os motivos que levaram Getúlio a tomar essa atitude foram, principalmente:
· a intenção de não romper as relações diplomáticas com os EUA, país que vinha financiando a construção de grandes obras no Brasil (como a usina siderúrgica de Volta Redonda – RJ);
· o fato de a opinião pública ser mais a favor dos Aliados do que do Eixo, após os alemães terem torpedeado vários navios mercantes brasileiros.
É importante notar que esse posicionamento ao lado dos Aliados trazia, consigo, uma contradição ao regime do Estado Novo: o Brasil era uma ditadura de caráter nazifascista, ao mesmo tempo em que suas tropas combatiam o nazifascismo na Europa.
Assim, pode-se afirmar que a entrada do Brasil na guerra tornou questionável o esquema repressivo montado por Vargas, de forma que surgiram, a partir de 1944, inúmeras manifestações a favor da redemocratização.
Pressionado, Vargas cedeu: convocou eleições presidenciais para o final de 1945, aceitando a formação de novos partidos políticos. Entretanto, antes mesmo de as eleições chegarem, a oposição, liderada pelos militares Gaspar Dutra e Góis Monteiro, derrubou Vargas, forçando-o a renunciar após ter nomeado seu irmão (Benjamim Vargas) para o cargo de chefe de polícia. Assim, encerrou-se o Estado Novo e teve início a redemocratização do país, com sua primeira presidência (1946-1951) exercida pelo general conservador Eurico Gaspar Dutra.
2) As novas forças políticas que deram origem à Constituição de 1946
Conforme afirmamos acima, após a queda do Estado Novo surgiram novos partidos políticos e, com a mudança de regime (de ditadura para democracia) fez-se necessária uma nova Constituição. Embora todos os três partidos de maior porte que surgiram a partir de então tenham contribuído de alguma forma para a elaboração da nova Constituição, é importante ressaltar que eles possuíam diferenças ideológicas entre si.
De um lado, os conservadores estavam representados pela União Democrática Nacional (UDN) e pelo Partido Social Democrático (PSD). Nesse grupo, estavam a burguesia, os industriais, a alta classe média, grandes comerciantes e proprietários de terras. Esses setores da sociedade defendiam a implantação de um capitalismo totalmente aberto ao capital estrangeiro e às grandes companhias internacionais.
Do outro lado, estavam os progressistas. Organizados no Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) e representados em grande parte pelos operários, defendiam o capitalismo nacionalista, que seguisse os interesses do Brasil e não das grandes potências. A apresentação desses grupos opostos também é importante para que você possa entender, mais à frente, a implantação da ditadura militar de 1964.
Sob controle desses partidos, em 1946, a Assembleia Constituinte aprovou a nova Carta Magna brasileira. Os aspectos da Constituição de 1946 se assemelhavam aos das Cartas Magnas de 1891 e 1934, e incluíam:
· Poder Executivo exercido pelo Presidente da República, eleito pelo povo para um mandato de cinco anos;
· Poder Legislativo constituído pelo Senado Federal e Câmara dos Deputados. Tanto os senadores quanto os deputados eram eleitos pelo povo; os primeiros, na quantia de três por estado, e os segundos, de forma proporcional à população de cada estado;
· Poder Judiciário formado por tribunais federais de cada estado e pelo Supremo Tribunal Federal;
· Autonomia política e administrativa para os estados.
A Constituição de 1946 pode ser vista como liberal e adequada ao contexto da Redemocratização. No entanto, seus itens começaram a ser considerados inválidos a partir de 1964, com a criação dos Atos Institucionais do Regime Militar.
O fato desse curto período democrático ter desmoronado apenas 19 anos mais tarde nos mostra que a nova democracia liberal brasileira apresentava falhas e não possuía bases sólidas que a fizessem mais permanente. Nesse sentido, é importante notar que o candidato à presidência eleito em 1945, o general conservador (PSD) Gaspar Dutra, que veio a assumir a presidência em 1946, havia sugerido, no contexto da Segunda Guerra, que entrássemos no conflito ao lado dos nazistas. Ele também esteve envolvido na montagem do Estado Novo. Por isso, pode-se observar que essa liberalização política do Brasil foi chefiada pelos elementos mais conservadores que haviam apoiado a ditadura varguista, o que revela uma possível contradição.
Agora que você entendeu toda a contradição por trás da Constituição de 1946, mostraremos no próximo texto desta trilha como esse cenário influenciou a implantação da ditadura militar de 1964, a mais repressiva que já tivemos em nossa história e importante para a compreensão dos dias atuais.
1967
A década de 1950 teve fundamental importância para a implantação do regime militar em 1964. Entender essa ditadura é essencial para o debate sobre o Brasil contemporâneo. Neste texto, vamos explicar o contexto em torno da Constituição de 1967 e como foi esse episódio tão comentado da história brasileira.
Contexto histórico 
A luta pelo poder nos anos cinquenta
No último texto, falamos sobre o surgimento de grupos políticos com interesses opostos no contexto do período democrático de 1945 a 1964. Esses grupos, representados de um lado pelos progressistas e do outro pelos conservadores, acirraram a disputa pelo comando político nacional após a presidência do general Gaspar Dutra (1946-1951). O conservadorismo de Dutra, com sua vigilância sobre os sindicatos, repressão a protestos contra o governo e manutenção dos salários a níveis baixos, foi interrompido com a vitória de Getúlio Vargas, ex-presidente e líder progressista, nas eleições de 1950.
Vargas voltou ao poder como candidato do PTB e, para isso, utilizou-se nas campanhas eleitorais do apelo às massas trabalhadoras e setores da classe média. Prometia o aprofundamento da política social e nacionalista do Estado Novo, que retornaria, agora, em um contexto democrático.
Essa campanha foi imbatível para seus adversários e assim, Getúlio voltou ao poder em 1951. É importante atentarmos para o fato de que, em sua campanha eleitoral, Vargas fez alianças com parte dos conservadores, apesar de ser progressista. Desse modo, contraiu “dívidas” que precisavam ser pagas, principalmente com os conservadores que colaboraram com sua vitória em São Paulo e Minas Gerais. Por isso, Getúlio nomeou ministros conservadores e, consequentemente, surgiu a primeira contradição de seu governo: apesar de progressista, o ministério era conservador.
A partir desse momento, ocorreram intensas lutas entre progressistas e conservadores, com vitórias para os dois lados. A grande vitória dos conservadores pode ser vista como o fim do apoio dos militares a Getúlio, classe social que, apesar de composta principalmente por conservadores, possuía elementos progressistas que foram sendo esmagados pelos rivais.
Já a principal vitória dos progressistas foi a criação da Petrobrás, empresa estatal de exploração petrolífera cujo surgimento foi amplamente contestado pelos conservadores. Esses últimos eram a favor da intervenção de multinacionais e do governo dos Estados Unidos nessa empreitada, o que, na visão dos progressistas, faria do Brasil um país ainda mais dependente das grandes potências. A opinião pública se mostrou favorável à Petrobrás, de forma que a derrota dos conservadores nesse episódio foi inevitável.
Entretanto, a retaliação conservadora não demoroupara chegar: a grande imprensa, o capital estrangeiro, a burguesia nacional, militares e a UDN se uniram em uma dura ofensiva contra o governo Vargas, sob a liderança do jornalista Carlos Lacerda. Essa campanha tinha por objetivo implantar, já em 1954, um regime militar, fato que Getúlio adiou por dez anos através de seu suicídio.
A tentativa de golpe em 1954
Dentro do contexto dessa ofensiva contrária ao governo progressista, um incidente mudou os rumos da História brasileira: na madrugada de 5 de agosto de 1954, Carlos Lacerda sofreu um atentado, no qual morreu o major da Aeronáutica responsável por sua proteção. Esse incidente ficou conhecido como o atentado da Rua Tonelero. O inquérito conduzido pela Aeronáutica apresentou, nos dias subsequentes, Gregório Fortunato como o mandante do crime: nada mais, nada menos que o chefe da guarda pessoal de Getúlio. Em outras palavras, os progressistas teriam supostamente encomendado a morte de Lacerda, e falharam ao acertarem o major, em vez de atingir o seu alvo. A repercussão desse incidente foi extremamente prejudicial a Getúlio, que perdeu todo o apoio político que lhe restava, apesar de nunca ter sido provado o envolvimento de Vargas ou de seus assessores com o crime. Forçado a renunciar, Vargas suicidou-se na manhã de 24 de agosto de 1954.
A notícia de sua morte e a publicação de sua carta-testamento abalaram o país: multidões saíram às ruas nas principais capitais. Amedrontados com essa reação, os conservadores recuaram em seu plano de instalar uma ditadura militar. Assim, concordaram com a posse do vice-presidente Café Filho. Foi assim que a tentativa de golpe fracassou.
A preparação do golpe de 1964
Nos anos que se seguiram após o fim do governo de Café Filho e ainda no período democrático, foram três os presidentes que o Brasil teve: Juscelino Kubitschek – conhecido como JK (1956-1961) –, Jânio Quadros (1961) e João Goulart – “Jango” (1961-1964).
JK iniciou um modelo econômico baseado na industrialização por substituição de exportações, que levou o país à crise econômica, pois os grandes grupos internacionais recusavam-se a fornecer o capital e a tecnologia necessária para isso, já que os produtos brasileiros substituiriam os seus no mercado internacional. Para continuar fornecendo recursos ao Brasil, os capitalistas estrangeiros exigiam que o país adotasse medidas que lhes dessem o controle da política e economia do Brasil. Anos mais tarde, o regime militar reataria esse laço internacional, adotando as medidas necessárias para tal aliança, trazendo capital e tecnologia para o país em um período político autoritário.
Jânio Quadros foi eleito depois do mandato de JK e, apesar do sucesso das eleições, perdeu o apoio do povo ao adotar medidas impopulares. Tomou também medidas que foram contrárias aos interesses dos conservadores, e sua intenção propagandística de se alinhar com os países comunistas desagradou os progressistas. Com todas as suas bases de apoio perdidas, Jânio renunciou.
A sucessão de Jânio Quadros
Com a renúncia de Jânio, ministros militares se mostraram contrários à posse do vice-presidente João Goulart, que havia sido eleito diretamente pelo povo – na época, a votação para vice era separada da votação para presidente. Entretanto, as próprias Forças Armadas possuíam contradições internas (nem todos os militares estavam contra Jango nesse momento; alguns queriam que ele tomasse posse) e assim, essa outra tentativa de golpe fracassou em 1961. Chegou-se, então, a uma solução conciliatória: o poder seria dado a Jango, mas seria restrito pela adoção do sistema parlamentarista no Brasil. Assim, foi feito um Ato Adicional à Constituição de 1946, estabelecendo o parlamentarismo no Brasil. Mas, poucos meses mais tarde, o parlamentarismo foi extinto, através de um plebiscito, de forma que Jango, agora livre da burocracia, tornou-se presidente com plenos poderes. Assim ele conseguiria por em prática o ponto central de sua política: as reformas de base.
A política reformista de João Goulart
Jango queria promover muitas reformas: agrária, do sistema bancário, do processo eleitoral, do sistema tributário e da legislação que dizia respeito ao capital estrangeiro. O objetivo era reformar o Brasil como um todo, defendendo para isso uma reforma da Constituição de 1946.
Entretanto, assim que anunciou seus planos, Jango foi acusado de ser um “agente do comunismo internacional” infiltrado no Brasil, o que era uma grave acusação no contexto da Guerra Fria. Mesmo assim, ele tentou implantar sua política reformista. Os conservadores, entretanto, apoiados pelo governo estadunidense através da Operação Brother Sam – uma empreitada que visava dar apoio logístico e militar aos golpistas, mas que não chegou a ser necessária –, derrubaram João Goulart em 31 de março de 1964. Era o início da ditadura militar. Goulart teve de abandonar o país e partiu para o exílio no Uruguai, onde morreria alguns anos mais tarde. Com Jango removido do poder, o marechal Castelo Branco assumiu a presidência pouco tempo depois.
Os atos institucionais e a Constituição de 1967
Logo após os militares tomarem o poder, a Constituição de 1946 começou a ser invalidada pouco a pouco, através dos Atos Institucionais (AIs), decretos autoritários que davam ao presidente poderes praticamente absolutos, apesar de haver uma Constituição em vigor.
· AI-1: decretado poucos dias após o golpe e redigido pelo autor da Constituição Polaca de 1937, dava ao Executivo poderes para cassar mandatos parlamentares e suspendia os direitos políticos dos cidadãos por 10 anos, principalmente.
· AI-2: também de 1964, decretou o fim dos partidos políticos e decretou que os crimes contra a segurança nacional seriam julgados por tribunais militares.
· AI-3: de 1966, eliminou as eleições diretas para governador.
· AI-4: determinou as regras para que fosse aprovada a Constituição de 1967, projeto dos militares que fortalecia tremendamente o Poder Executivo e que foi aprovada sem discussões.
· AI-5: o mais violento e duradouro de todos os atos baixados pela ditadura, suspendia o habeas corpus, dava ao presidente poderes para fechar o Congresso Nacional por tempo ilimitado e de suspender os direitos políticos de qualquer cidadão. Qualquer pessoa atingida pelos efeitos do AI-5 estava proibida de reclamar na Justiça.
Observa-se que, nos anos que sucederam 1964, a expansão do autoritarismo foi constante. Paralelamente às medidas autoritáObserva-se que, nos anos que sucederam 1964, a expansão do autoritarismo foi constante. Paralelamente às medidas autoritárias, figuravam a repressão e a violência, com prisões arbitrárias, demissões em massa de funcionários, cassações de mandatos e vinganças pessoais. Nota-se que o regime foi endurecendo cada vez mais, mostrando que o grupo que tomou o poder pretendia ficar nele por muito tempo. Contudo, após dez anos de endurecimento (1964-1974), a ditadura iniciou o processo de  abertura política (1974-1985).
Mais detalhes sobre o regime militar serão apresentados no próximo post desta trilha, inclusive a crise do regime, que culminou no fim da Constituição de 1967 e na promulgação da Constituição de 1988 – que está vigente até hoje em dia.
Estamos quase encerrando esse nosso grande passeio pela história das constituições brasileiras!  Continue nesta trilha de conteúdos e entenda por que a ditadura militar chegou ao fim.
1988
E chegamos aos nossos dias! A Constituição de 1988, conhecida como Constituição Cidadã, é a que rege todo o ordenamento jurídico brasileiro hoje. Vamos aprender como chegamos até essa Constituição?
CONTEXTO: AUGE E DECLÍNIO DA DITADURA MILITAR
Para começar, vamos voltar um pouco e estudar um pouco mais sobre o regime militar e o período que antecedeu a volta da democracia no Brasil. O Regime Militar pode ser didaticamente dividido em 2 fases: a de expansão do autoritarismo (1964-1974) e a de abertura política (1974-1985).
A EXPANSÃO DO AUTORITARISMO (1964-1974)
Quanto a essa primeira fase, cabe destacar que o sistema partidário do país foi extinguido pelo AI-2,que determinou o fim dos partidos até então existentes. Após esse decreto, as autoridades federais permitiram a formação de dois novos partidos: a ARENA (Aliança Renovadora Nacional), que apoiava o governo, e o MDB (Movimento Democrático Brasileiro), que o combatia. A ARENA era amplamente majoritária no Congresso e dispunha de total apoio oficial do governo, enquanto o MDB estava permanentemente ameaçado de ter seus deputados e senadores cassados.
Nessa época já aumentava a resistência à ditadura, apesar da repressão e da censura à imprensa. Apesar de grande parte dos opositores do regime terem optado pelo silêncio, muitos se aliaram ao MDB como forma de resistência àquela situação de controle nacional por parte dos militares, enquanto outros optaram pela realização de movimentos de guerrilha urbana. Entretanto, a luta armada acabou por fortalecer o regime, pois deu-lhe a oportunidade de criar métodos cruéis no combate aos opositores, tais como a tortura, prisão política e, não raro, assassinatos. Os protestos estudantis também foram marcantes. Um acontecimento notável foi o assassinato do estudante Edson Luís pela polícia, a tiros, durante uma manifestação no Rio de Janeiro.
Entre as personalidades políticas, a oposição ao regime se deu através da Frente Ampla. Políticos como Juscelino Kubitschek, João Goulart (no exílio) e até mesmo Carlos Lacerda se organizaram nesse movimento, que acabou extinto em 1968 pelo general Costa e Silva. Não parece estranho que Lacerda, que colaborou com a subida dos militares ao poder, tenha passado para a resistência ao regime? De fato, essa mudança de postura foi muito recorrente entre os que apoiaram a implantação da ditadura. Muita gente se assustou com a longa permanência dos militares no poder e com o caráter cada vez mais violento do regime. Essa situação levou Lacerda a afirmar: “na medida em que ajudei esses aventureiros a tomarem o poder, tenho o dever de mobilizar o povo para corrigir esse erro do qual participei”.
O “MILAGRE ECONÔMICO”
Ao se falar sobre a fase de expansão do autoritarismo, é impossível não abordar o famoso milagre econômico. No governo do general Emílio Garrastazu Médici (1969-1974), foram comuns os slogans de “ninguém segura este país”, “este é um país que vai pra frente” ou ainda, “Brasil: ame-o ou deixe-o”. Durante esse governo, tivemos um crescimento econômico sem precedentes na história brasileira, que nos levou ao status de país campeão de crescimento econômico mundial  na década de 1970 e que fez com que nosso PNB (Produto Nacional Bruto) chegasse a ser o décimo do mundo.
As causas para esse “milagre” foram internas e, principalmente, externas. O governo concedeu, nesse período, muitos incentivos fiscais, favorecendo novos investimentos por parte de empresários brasileiros, além de investir vultosos recursos em nossa economia. Mas os principais responsáveis por esse crescimento foram fatores externos. No início dos anos 1970, o comércio internacional entrou em uma fase muito dinâmica, de modo que as exportações brasileiras aumentaram muito, colaborando muito para o crescimento. Além disso, as autoridades concederam uma vasta gama de privilégios às multinacionais, que passaram a investir em peso no Brasil. Enquanto isso, os bancos internacionais concediam empréstimos gigantescos, o que também alimentou esse rápido crescimento na economia brasileira.
O período do milagre foi, habilidosamente, explorado pelos governos militares, por meio de grandes propagandas em prol do regime. A vitória da seleção brasileira na Copa do Mundo de 1970 acabou se tornando um verdadeiro ícone desse momento de nacionalismo e otimismo. Foi também nessa época que foram construídas obras públicas faraônicas, como a Transamazônica, a ponte Rio-Niterói e a Usina Hidrelétrica de Itaipu. Os projetos-impacto, de grande efeito propagandístico para o regime, também estavam presentes, como o Mobral (para alfabetização de adultos) e o Rondon (para assistência médico-sanitária a populações carentes).
O FIM DO “MILAGRE”
Apesar desse crescimento ter de fato ocorrido, em poucos anos a economia brasileira entrou em declínio e o milagre econômico ruiu. O quadro de recessão que surgiu após esse período de crescimento acelerado continuou após o fim do Regime Militar, mantendo-se até o final do século XX e início do século XXI. A classe média, que durante o milagre podia comprar automóveis, televisão a cores e equipamentos de som, passou a ter que fazer filas nos supermercados e açougues para comprar alimentos, antes que a hiperinflação corroesse o valor da moeda.
Uma das causas para o fim do milagre foi a falta de preocupação com os aspectos sociais do país. Em outras palavras, o crescimento não trouxe desenvolvimento. Isso porque a esmagadora maioria dos brasileiros não se beneficiou do crescimento econômica, de forma que as camadas mais ricas, nessa época, tenham ficado mais ricas, enquanto as mais pobres permaneceram na pobreza. Durante o milagre, não produzimos o que era fundamental para nossa população, mas sim o que era lucrativo para as multinacionais. Contraditoriamente, enquanto exportávamos centenas de milhares de toneladas de soja (um dos alimentos mais nutritivos), grande parte da população sofria de subnutrição.
Quando a euforia da economia mundial se conteve, a partir da crise do petróleo de 1973, as nossas exportações caíram. Para que nossas indústrias continuassem a vender seus produtos, seria necessário um grande mercado interno, o que não era o nosso caso. A classe média, a essa altura, já estava “empanturrada” de bens de consumo duráveis, tais como automóveis e televisões, e não tinha mais condições de consumir a grande quantidade de produtos que entrava diariamente no mercado. Já a classe baixa, que nunca teve condições de consumir esses bens de consumo, obviamente não poderia fazê-lo agora, por causa dos baixos salários.
A consequência dessa queda de consumo foi produção industrial estagnada, arrocho salarial da classe média, desemprego generalizado, inflação galopante e dívida externa absurdamente elevada.
Diante desse cenário melancólico, o regime militar recorreu a uma intensa privatização do Estado, na tentativa de deslocar os prejuízos da recessão para o setor privado. Isso permitiu que pequenos grupos econômicos controlassem segmentos do Estado buscando seu exclusivo benefício, o que ajudou a estagnar o desenvolvimento brasileiro e acabou por agravar a crise, que se estendeu por muitos anos após o fim do regime. Foi nessa época que surgiram as raízes das privatizações de que tanto ouvimos falar hoje.
A abertura política
Ernesto Geisel, quarto presidente durante a ditadura militar. Foto em domínio público.
A partir do governo Ernesto Geisel (1974-1979), percebeu-se que se a ditadura continuasse como estava, a insatisfação ficaria tão generalizada que poderia levar à sua queda. Isso porque a economia só se deteriorava com o fim do “milagre”, a sociedade civil estava cansada da falta de liberdade política e as Forças Armadas começavam a se desgastar devido à sua longa permanência no poder.
Assim, o governo optou por promover a abertura política – nas palavras de Geisel, “distensão lenta, gradual e segura”. É importante ressaltar que essa liberalização do regime não visava restabelecer a democracia no Brasil, mas sim dar condições ao regime de sobreviver em uma época de dificuldades políticas e econômicas.
Desse modo, a repressão policial aos poucos diminuiu, os atos institucionais foram suspensos, o movimento estudantil se reorganizou, o sistema eleitoral foi democratizado, a imprensa se libertou da censura, os exilados e presos políticos foram anistiados (perdoados) e permitiu-se a formação de novos partidos políticos.
Em meio à liberação de novos partidos, ocorrida em 1979, os que apoiavam o governo – antiga ARENA – permaneceram unidos em um único partido, o PDS (Partido Democrático Social), enquanto o MDB se dividiu em PMDB (Partido do Movimento Democrático Brasileiro), PT (partido dos Trabalhadores) e outros.
Sobre a Lei da Anistia, aprovada

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