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UNIVERSIDADE PAULISTA – UNIP CENTRO DE PSICOLOGIA APLICADA - CPA RELATÓRIO DE PSICOTERAPIA Paciente: Joana da Silva Nome Social: Chiara Ferraz Prontuário: 000001 Estagiário: Raphael R. Moreira da Silva RA: 961183-5 Supervisor:Marcelo M. S. Gianini – CRP 06/42144-7 Coordenador de CPA: Ângela Maria Sieiro De T. Piza – RG ou Funcional 6045931 Dados de Identificação Paciente J.S, 45 anos, solteira, sem filhos, atriz. Procedimentos Atendimento de Psicoterapia na abordagem Fenomenológica Existencial com objetivo de atender a demanda psicológica da cliente a partir de intervenções coerentes com o referencial teórico. Neste processo, foi efetuado a escuta da própria interessada, também orientada a seguir um acompanhamento psiquiátrico, sendo como assunto principal, seu diagnóstico psiquiátrico de depressão. Descrição da demanda A compreensão da demanda a partir da narrativa da paciente exprime um sentimento de conflito apresentado pela vida perfeita de famosa, não podendo revelar suas tristezas e outras reais emoções. Ela se apresenta cansada de fazer tanto esforço para agradar uma platéia em todos os momentos de sua vida. Demonstra sentimentos de angústia, tristeza e sensação de vazio, fazendo um grande esforço para lidar com as atividades do dia a dia. Descrição da consulta A paciente apresentou-se ao consultório antes do horário agendado, chegando na sala de espera enquanto o terapeuta estava em uma ligação particular. Ao abrir a porta e perceber que o mesmo encontrava-se ocupado, insistiu em sua entrada, sendo detida pela solicitação do terapeuta que aguardasse. Ao entrar no consultório, trajava uma vestimenta como se estivesse camuflada, não sendo possivel olhá-la nos olhos devido aos óculos escuros e o sobretudo com capuz que vestia. Dirigiu-se ao sofá de atendiemnto, sentando-se na poltrona utilizada pelo terapeuta e, de forma irônica, questionou se ali era o local do mesmo. Questionou o terapeuta sobre a ligação que ele estava fazendo, alegando que falar com a sogra era mesmo complicado e que ele deveria fazer terapia. De forma sensata o terapeuta afirma que seria necessário que todas as pessoas fizessem terapia e inicia a sessão. Ao ser questionada se está com algum problema, a paciente retira os óculos, capuz e boné, sorri e justifica ter agendado a sessão com seu nome de batismo,como se estivesse esperando ser reconhecida, o que não ocorreu. Diante disso, houve a necessidade de expressar seu nome artistico: Chiara Ferraz, o que também não gerou nenhuma reação do terapeuta, que a questionou se era importante que ela fosse reconhecida e se ela era famosa. Imediatamente a paciente informa ter mais de 20 milhões de seguidores e estampa a capa das principais revistas digitais. A paciente relata entender que há pessoas que assistem a seus filmes, novelas e preferem dizer que não, sugerindo que o terapeuta não estava sendo sincero. Por conta do questionamento de ser importante o seu reconhecimento, a paciente esquiva-se do assunto e inicia um comportamento sedutivo, verbalizando como ela imagiou que seria a sessão após a retirada de seu “disfarce”, como “olho no olho” e poderia rolar um “negócio” entre eles no tapete do consultório. Mantendo a seriedade e compostura, o terapeuta questiona qual é o problema, e então a paciente diz que é “virada no capeta” (sic). Com muita energia, relata que desde criança já sabia que queria ser atriz, e conduzida por sua mãe, fazia muitos testes, dos quais recebeu muitos nãos, mas que é insistente e não desistia. Devido a essa rotina, a paciete informa não ter forças para “levantar a bunda da cadeira” (sic), que ela não tem forças para levantar da cama ao acordar, justificando não se tratar de consequências de seus hábitos noturnos, considerando-se inclusive dramática para situações ligadas a doenças, o que a levou a cogitar estar com leucemia. Após efetuar uma bateria de exames e não ser constatado nenhum sinal de doença, o médico a direcionou para o psiquiatra, que a diagnosticou como deprimida, sendo esse diagnóstico imediatamente refutado por ela com a seguinte frase de negação: “C.F. deprimida, impossível!”, debochando de forma irônica que depressão é coisa para pessoas fracas. Não satisfeita com o diagnóstico recebido, procurou por outras opiniões através de profissionais de terapias alternativas, como constelações familiares, cromoterapia, acupuntura, massagem tântrica, entre outras. Porém, sem o resultado esperado, retornou ao médico inicial, o qual lhe foi indicado alguns remédios de uso controlado (tarja preta), o que novamente foi refutado pela paciente, demonstrando receio de que o remédio poderia alterar sua personalidade, o que não deseja, verbalizando ser assim, com ênfase na afirmação: “É isso que as pessoas querem de mim”. Demonstrando alterações em suas expressões, ela informa que antes de aceitar tomar os remédios, fora indicada por seu psiquiatra a procurar terapia psicológica, sendo este, o quinto profissional com quem ela se consulta. Após uma pequena pausa, o terapeuta interviu dizendo que gostaria de ouvir a J.S. e não a K.F., pois foi percebido que havia um esforço muito grande em demosntrar sentimentos de um personagem e não da pessoa que sustenta essa imagem. Diante do questionamento, a paciente tenta manipular a situação utilizando-se de defesa para atacar. A paciente relata que não nasceu bonita, por isso é necessário ser engraçada e que a opinião das pessoas é importante nesse processo, não que ela não se ache bonita, mas as pessoas a acham feia, e que a fama atrai energias negativas, pois as pessoas projetam uma vida maravilhosa em quem é famoso, utilizando de diversos adjetivos para descrever. Posteriormente, houve uma intervenção do terapeuta, informando a paciente de que aquele local não era seu local de trabalho, e que não havia necessidade de tentar ser engraçada. Com isso, a paciente o interrompe dizendo estar ali, pois precisa que lhe seja falado que ela não é depressiva, sugerindo ao terapeuta que utilize de outras nomenclaturas como: estresse, estafa. A paciente ao ser questionada da possibilidade de tirar férias, relata que sua vida está ótima, que está prestes a estreiar um programa só dela, e que isso seria inviável. A paciente se exalta ao ser rebatida com palavras ditas por ela própria e solicita açúcar ao terapeuta para se controlar. Ao receber um bombom , deita-se no sofá e diz que não deveria ter ido à consulta. Ao deitar sua cabeça sobre o encosto, inicia um discuro no qual informa ter ido tirar um cochilo de 15 mintos e acabou dormindo 24 horas, acordou com o celular cheio de mensagens, perdeu reuniões de trabalho e, nesse momento, relata que já fazia uso da medicação do psiquiatra por um mês, um mês e meio. Informa que, por meio disso, o cançado que sentia até passou, porém sentiu-se vazia, com angústia. A paciente relatou que, após um dia de trabalho, foi abordada por seu diretor devido ao seu comportamento grosseiro com uma jornalista, na qual após o episódio ela diz ter parado de tomar os remédios, pois é melhor estar exausta do que triste. Ela afirma: “Eu nunca fico triste”. O terapeuta convida a paciente para uma reflexão sobre sua carreira, seu cansaço e lhe questiona, sobre o que ela realmente está cansada, e faz uma alusão sobre a estória do médico e o monstro, referindo-se que, nesse momento, ela é os dois, porém o relacionamento entre ambos está ficando desgastado. A paciente novamente usa de palavras negativas, verbalizando que não mais voltará. Então, o terapeuta questiona se quem não voltará é o personagem ou a pessoa. A paciente se recompõe e vai em direção à porta, barganhando o custo da sessão com uma publicação de uma foto, porém ao perceber a negativa do terapeuta, lhe paga em espécie a sessão. Análise A paciente J.S, mais conhecida pelo nome social C.F, apresenta um desânimo psíquico e físico, sentindo-se vazia e com uma carga de estresse que vem prejudicandosuas atividades cotidianas, lhe causando um sentimento de profunda tristeza. Em sua trajetória de vida, lhe foi ensinada a ser sempre feliz, ou demonstrar essa felicidade a todo tempo, para desta forma, poder agradar as pessoas em sua volta e lhe sentir querida, o que não ocorre quando age de forma natural. Diante desses relatos, percebemos que a paciente movimenta sua energia de vida sendo-para-os-outros, e não, sendo-para-si, contrariando, dessa maneira, o que naturalmente sente. Segundo Heidegger (2012, p.141), o ser-aí é o ente “em cujo ser está em jogo esse ser ele mesmo”. Podemos entender que a paciente não está sendo sinceramente seu ser-aí, com isso, a rede situacional circundante compõe a própria existência, permitindo que a perspectiva única de cada indivíduo revele sua singularização existencial. A paciente firmou em si um modo específico de ser e de se relacionar com os outros. Em vista disso, utilizando-se da expressão de Romero(2006, p.10), sua “totalidade em movimento”, ou seja, suas possibilidades de vir a ser ficam engessadas internamente. Podemos, então, compreender os sintomas de cansaço/ indisposição, estresse, vazio interno e tristeza da paciente como o resultado da mesma em fingir ser quem não é, para agradar aos outros, e não a si mesma. Esse sentimento de angústia/vazio é gerado por conta do impedimento da sua existência como é, e da experiência de se relacionar com o mundo e consigo de forma autêntica. Conclusão A paciente se encontra em angústia existencial frente a essa incompletude de ser- com-o-mundo, revelando a necessidade de entrar em contato com os reais sentimentos ainda não explorados e não permitidos de seu ser-aí. Esse conflito se apresenta em sua ambiguidade de papéis como ser-no-mundo e a autoria de sua existência. Conclue-se, com isso, que a paciente J. dará continuidade à psicoterapia na abordagem fenomenológica existencial. ____________________________ _____________________________ Raphaél R. Moreira da Silva Prof. Dr. Marcelo M S Gianini RA 961183-5 CRP 06/42144-7 Referências Bibliográficas Heidegger, M. (2012). Ser e tempo. (F. Castilho Trad.). Campinas: Editora da Unicamp, Petrópolis: Vozes. Romero, E. (2006). O encontro de si na trama do mundo: personalidade, subjetividade, singularidade. São Paulo: Della Bidia.
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