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enfrentamento à violência sexual contra crianças e adolescentes NOSSA VOZ. NOSSA FORTALEZA. 6 POLÍTICAS PÚBLICAS, Intersetorialidade e Planejamento Lídia Rodrigues SUMÁRIO 1. Um pouco da história .............................................................................83 2. Bases normativas ....................................................................................85 3. O Plano Nacional .....................................................................................86 4. A intersetorialidade do PNEVSCA.........................................................87 5. A interseccionalidade dos planos .......................................................89 6. Os desafios do PNEVSCA ........................................................................90 Referências ...............................................................................................................95 Perfis da autora e do ilustrador .....................................................................96 Um pouco da história Toda conquista tem uma história que diz so- bre as escolhas e movimentações feitas para alcançá-la. Com o Plano Nacional de En- frentamento à Violência Sexual contra Crianças e Adolescentes (PNEVSCA), não é diferente. Essa história não é linear e nem tem um ponto final. Narra atividades difusas e articuladas que contribuem para o lugar que a política está hoje e para definir os ca- minhos do futuro. Para contá-la, serão abordados os acon- tecimentos em Fortaleza, no Ceará, no Brasil e no mundo. Perceba como esses acontecimen- tos se relacionam entre si. Em 1991, o tema da exploração sexual contra crianças e adolescentes passa a ter es- paço na agenda pública no Ceará, quando foi publicado o Relatório de ação da Polícias Civil e Militar do Estado, realizado a pedido da antiga Fundação do Bem-Estar do Menor do Ceará (Febem-CE), que denunciava uma rede de exploração e tráfico de crianças e adoles- centes, gerando uma articulação da socie- dade. O Fórum Permanente de Combate e Prevenção à Prostituição Infantojuvenil, posteriormente chamado Pacto da Ci- dade, denunciou a situação e exigiu pro- vidências dos poderes públicos. Nesse período, havia uma eferves- cência de mobilizações em nível nacional, logo após a aprovação da Constituição Fe- deral de 1988, várias organizações incidiram na elaboração e aprovação do Estatuto da Criança e do Adolescente, em 1990, movi- mento que possibilitou que a violência sexual contra crianças e adolescentes fosse objeto dessa Lei. Em 1996, aconteceu o I Congresso Mun- dial de Combate à Exploração Sexual Co- mercial contra Crianças e Adolescentes, realizado em Estocolmo, na Suécia. Os países participantes assumiram que a exploração sexual comercial infantojuvenil é um crime contra a humanidade, potenciali- zado pelas dinâmicas de globalização, e se comprometeram a elaborar e implementar nacionalmente, uma agenda de ação. #FICAADICA O II Congresso Mundial aconteceu em Yokohoma, no Japão, no ano de 2001. Em 2008, o Brasil sediou o III Congresso Mundial que aconteceu no Rio de Janeiro e lançou o chamado para ação, documento que convoca todos os setores da sociedade à responsabilidade na proteção de crianças e adolescentes das diferentes formas de exploração sexual. enfrentamento à violência sexual contra crianças e adolescentes 83 Articulado a esse movimento global, o PNEVSCA foi aprovado pelo Conselho Nacio- nal dos Direitos de Crianças e Adolescentes (Conanda), em 12 de julho de 2000, revisado e relançado em 2014. Em ocasião da elabo- ração e lançamento do Plano, foi instituído o Comitê Nacional de Enfrentamento a Violência Sexual contra Crianças e Ado- lescentes como instância responsável pelo seu monitoramento. Em 2018 foi realizado, pela Comissão Intersetorial de Enfrentamento à Violência Sexual contra Crianças e Adolescentes, o pri- meiro monitoramento da execução do pla- no. No Ceará, o Plano Estadual foi elabora- do e aprovado pelo Conselho Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente no ano de 2001. O Plano Estadual foi monitorado, em 2006, pelo Fórum Cearense de Enfrenta- mento à Violência Sexual contra Crianças e Adolescentes, revelando que a sua execução não superava 34% do total de ações previs- tas. Desde 2007, o plano encontra-se defasa- do, não foi revisado nem atualizado. Em Fortaleza, em 2005, a Secretaria Muni- cipal de Educação e Assistência Social (Sedas) protagonizou um processo de mobilização para elaboração do Plano Municipal de En- frentamento à Violência Sexual, que foi apro- vado por resolução, em 2006, no Comdica, mas nunca foi homologado. 84 Fundação Demócrito Rocha | Universidade Aberta do Nordeste enfrentamento à violência sexual contra crianças e adolescentes 85 Bases normativas A construção de uma política pública se vincu- la a uma série de normativas que as dão base e sustentação quanto aos princípios, concei- tos e perspectivas. O PNEVSCA tem como base legal sustentadora as seguintes normas na- cionais e internacionais: a. Constituição da República Fede- rativa do Brasil: A carta magna estabelece o primeiro pilar para a proteção integral de crianças e adolescentes de todas as formas de violências e abusos. b. Estatuto da Criança e do Adoles- cente: Lei nº 8069 de 13 de julho de 1990 que trata da proteção integral à criança e ao adolescente e normatiza o Sistema de Garantia de Direitos. c. Plano Decenal de Direitos Huma- nos de Crianças e Adolescentes: Produzido em 2010 possui cinco eixos estratégicos e 13 diretrizes de orientação para as políticas volta- das à criança e do adolescente TÁ NA Lei Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. d. Convenção Internacional sobre os Direitos da Criança: tratado inter- nacional, aprovada em 1989 e visa à proteção de crianças e adolescen- tes de todo o mundo, apontando os direitos fundamentais a serem ga- rantidos pelos Estados-Nação. e. Protocolo Facultativo à Convenção sobre os Direitos da Criança sobre a Venda de Crianças, a Prostituição Infantil e a Pornografia Infantil: Aprovado em janeiro de 2002, apre- senta compromissos que os estados signatários deverão cumprir para o enfrentamento a exploração sexual. enfrentamento à violência sexual contra crianças e adolescentes 85 86 Fundação Demócrito Rocha | Universidade Aberta do Nordeste O Plano Nacional O PNEVSCA deve ser entendido como “um conjunto de diretrizes de longo prazo para organizar, articular e integrar as ações dos setores governamentais e não gover- namentais, com alcance para cessar a violência, resgatar direitos e dignidade no atendimento as vítimas, promover a inclusão social e a cidadania por meio de políticas públicas não revitimizadoras e re- conhecendo a sexualidade das pessoas como direito humano1”. Para que o PNEVSCA seja implementado, é fundamental considerar o Pacto Federa- tivo, pois sua efetivação se dá através dos Planos Estaduais e é operada pelos Planos Municipais, uma vez que cabe ao municí- pio as ações finalísticas de atenção direta. Considerando os distintos níveis de gestão, deliberação e controle social, e seu alinha- mento às competências atribuídas aos en- tes federativos (estados e municípios) e as atribuições institucionais. 1 CASTANHA. Neide. O processo de revisão do Plano Nacional. Relatório de Acompanhamento 2007 – 2008. 86 Fundação Demócrito Rocha | Universidade Aberta do Nordeste A intersetorialidade DO PNEVSCA Uma das diretrizes estabelecida no I Con- gresso Mundial e adotada para o PNEVSCA é a intersetorialidade. A lógicaé simples: a violência sexual é resultado de complexas relações de poder construídas ao logo da história, portan- to, o enfrentamento deve acontecer de maneira articulada, com ações que, em diferentes políticas (saúde, educação, as- sistência, desenvolvimento econômico, etc.), ajam sobre as causas do problema de forma sistêmica. Para que isso seja exi- toso, não basta que as diferentes políticas prevejam ações, mas que as ações se ar- ticulem, relacionem e se complementem. A organização das ações do Plano é feita a partir de eixos estratégicos, sendo eles: (a) Prevenção; (b) Atenção; (c) Comu- nicação e Mobilização Social; (d) Defesa e Responsabilização; (e) Participação e pro- tagonismo, e (f) Estudos e Pesquisas. Prevenção: Nesse eixo, as ações e metas são focadas na redução da incidência da violência sexual, atacando as causas que têm como consequência essa violação. A redução das desigualdades econômicas, o fortalecimento da rede familiar e comuni- tária da criança e do adolescente, o acesso aos direitos à saúde, educação, moradia, o fomento à educação em autoproteção que permita a crianças e adolescentes reco- nhecerem situações de risco e buscar aju- da, são exemplos de atividades desse eixo. Relaciona-se com pastas como educação, saúde, assistência social, habitação e de- senvolvimento econômico. Atenção: Na primeira versão do PNEVSCA, esse eixo era chamado de atendimento; a mudança de nome diz sobre a perspectiva que foi assumida. No atendimento havia uma ideia focada no atendimento psicos- social e de saúde aos sobreviventes da vio- lência sexual. Na perspectiva da atenção prevalece a compreensão de um contexto multidimensional, da atuação na mitiga- ção dos impactos da violência, compreen- dendo a criança/o adolescente que sofreu a violação e sua família, agindo em aspectos relacionados à cultura, a psicoemocionais, econômicos, de saúde física, entre outros. enfrentamento à violência sexual contra crianças e adolescentes 87 Defesa e Responsabilização: Dispõe so- bre ações que tenham como objetivo a defesa da vítima e a responsabilização do autor da violência sexual. A fiscalização, os órgãos de recepção de denúncia-crime, os procedimentos de apu- ração, o julgamento e aplicação de pena quando o suspeito é considerado culpado são exemplos do que é tratado nesse eixo. O objetivo é reduzir a impunidade, mitigar o sofrimento das pessoas vitimizadas e protegê-las, evidenciando quais compor- tamentos não são tolerados socialmente. Comunicação e Mobilização Social: O problema da violência sexual, durante muito tempo tem sido tabu. A falta de in- formações e invisibilidade do problema são fatores que fazem com que alguns ca- sos as pessoas não denunciem. Ampliar o diálogo e visibilidade sobre o tema e comprometer os diferentes setores da sociedade a se engajar no seu enfrenta- mento são objetivos desse eixo, que en- volve os meios de comunicação, poderes públicos, organizações da sociedade civil e iniciativa privada. Participação e Protagonismo: Esse eixo prevê ações que fomentam a participa- ção e o protagonismo de crianças e ado- lescentes para que esses tenham suas opiniões respeitadas, avançado no direito à expressão e participação na vida política. A escola é uma das principais organizações que podem colaborar com esse eixo, mas a perspectiva é mais ampla: é que crianças e adolescentes sejam ouvidos em todos os espaços que são atendidos e possam participar em conformidade a sua condição peculiar de desenvolvimento. Estudos e Pesquisas: A violência se- xual é muito complexa. Compreen- dê-la é fundamental para estabelecer ações assertivas para o seu enfrenta- mento. Esse eixo atua na direção de ampliar o conhecimento que temos acerca do problema, produzir e anali- sar os dados da violação e da rede de enfrentamento para melhor monito- rar, avaliar e planejar as políticas. As universidades, centro de pesquisa, observatórios são instituições que tem centralidade nesse eixo, porém a proposta é de colabora- ção entre as instituições, melho- rando o registro e compilação de informações dos serviços de saúde, educação, conselho tute- lar, delegacias etc., a fim de sub- sidiar as análises do problema. 88 Fundação Demócrito Rocha | Universidade Aberta do Nordeste A interseccionalidade DOS PLANOS Para pensar o planejamento e implemen- tação das políticas públicas de enfrenta- mento à exploração sexual, é importante considerar a interseção do PNEVSCA com outros Planos correlatos. Uma estratégia para implementar o Estatuto da Criança e do Adolescente foi elaborar planos que tratassem de viola- ções de direitos específicas, como a situ- ação de rua, o trabalho infantil, a explora- ção sexual etc. Essas questões específicas se cruzam, nas raízes em comum e na vida das crianças. Por exemplo, uma criança pode ter vínculos familiares fragilizados devido um abuso sexual intrafamiliar, o que a leva a uma situação de moradia de rua, e nas ruas ser envolvida numa rede de exploração sexual, uma das piores formas de trabalho infantil. Do modo que se as problemáti- cas estão articuladas, é imprescindí- vel que as políticas se conectem, que haja convergência de ações e que as insti- tuições estejam alinhadas para lidar com essas questões. O PNEVSCA relaciona-se com os eixos e diretrizes do Plano Decenal dos Direitos de Crianças e Adolescentes, com uma in- terface direta com essa política, e tem ações que convergem com os seguintes planos: • Plano Nacional de Promoção Prote- ção e Defesa do Direito de Crianças e Adolescentes à Convivência Fami- liar e Comunitária; • III Plano Nacional de Prevenção e Er- radicação do Trabalho Infantil e Pro- teção ao Adolescente Trabalhador; • Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo – Sinase enfrentamento à violência sexual contra crianças e adolescentes 89 Os desafios DO PNEVSCA Nos cinco anos que se passaram desde a aprovação da 2ª versão do PNEVSCA, foram identificados desafios para sua implementa- ção. Olhar para esses desafios é um exercício interessante de aprendizado e aperfeiçoa- mento do enfrentamento à violência sexual. Veja alguns desses desafios: a. Compreensão e qualificação téc- nica para lidar com os novos ce- nários de violência sexual: o avan- ço do uso das tecnologias e redes sociais em dinâmicas de abuso e exploração sexual exige das institui- ções, profissionais e sociedade de maneira geral qualificação do deba- te e ação. O compartilhamento de imagens sexuais envolvendo crian- ças e adolescentes, o aliciamento para exploração sexual, as exposi- ções e ameaças de publicizar nudes (fotos de pessoas nuas), utilizando as redes sociais, traz desafios para a identificação, prevenção e res- ponsabilização. Muitos relatos de automutilação e tentativas de sui- cídio vinculados à exposição inde- vida de imagens pessoais de con- teúdo sexual têm chegado à Rede de Proteção que, muitas vezes, não sabe lidar com essas demandas. b. O atendimento ao autor da vio- lência sexual: estudos apontam que a violência é reproduzida cicli- camente, ou seja, muitas pessoas que sofrem violência tendem a co- metê-la em outro período da vida se não passarem por processos te- rapêuticos que possibilitem a res- significação desse sofrimento. O autor da violência sexual, além da responsabilização penal prevista em lei, precisa passar por atendi- mento psicossocial que possibilite o confronto com a responsabilida- de ante o crime cometido e a trans- formação de padrões de comporta- mento, para que quando cumprida a pena, possa ser reinserido na so- ciedade sem reincidir. Essa concepção, no entanto, ainda não foi incorporada nas políticas de responsabilização penal e se confi- gura como um grande desafio para a ruptura de ciclos de violência e er- radicação desse problema. c. Monitoramento: embora na se- gunda versão do PNEVSCA tenha se avançado na elaboração de 90 Fundação Demócrito Rocha | Universidade Aberta do Nordesteindicadores de monitoramento, uma questão colocada é a pouca cultura de registro e sistemati- zação de dados que possibilitem o levantamento de informações correspondentes a esses indica- dores. Por exemplo, se um indi- cador do eixo de participação e protagonismo é o número de grê- mios estudantis envolvidos no en- frentamento à exploração sexual, é necessário que haja um registro do número de grêmios existentes e um levantamento de quais pau- taram a questão da exploração sexual para saber se o objetivo / meta foi atingido total ou parcial- mente, e se não foi atingido quais motivos e ações serão necessárias para superar esse obstáculo. d. Orçamento Público: um dos princi- pais desafios para implementação do Plano é a alocação orçamentária que viabilize suas ações. É neces- sário previsão orçamentaria dis- tribuída nos órgãos responsáveis pela execução do plano, e que esse orçamento seja visível na peça or- çamentária para que seja possível o monitoramento de sua execução. e. Planejamento: a fase de elabora- ção do Plano é chave para que seja possível tirá-lo do papel. O plano tem que ser exequível e condizen- te com a realidade, por isso essa é uma fase a ser executada com muito cuidado. e.1. Levantar informações so- bre o problema no territó- rio: levantar as informações preexistentes é fundamental para pensar a intervenção. Esse passo é desafiador por- que muitas vezes há subnoti- ficação da violência, portanto, uma investigação baseada em algumas questões é funda- mental para conhecer o pro- blema antes do planejamento das ações. Perguntas chaves: Qual a modalidade de vio- lência com maior incidência de denúncias? Há indícios de formas de violência sexual não notificadas oficialmente? Quais? Existem pontos de ex- ploração sexual? Onde? Quem são os exploradores? Qual o contexto social, econômico e familiar das vítimas? TÁ NA Lei Você pode estar se perguntando: “Sim, mas pra que isso me serve na prática? Por exemplo, se sou um gestor público, ou um conselheiro de direitos, ou de uma organização da sociedade civil ou um cidadão comprometido, como tudo isso pode me ajudar a implementar o PNVESCA em meu município ou estado?” Como falado anteriormente, o PNEVSCA é operado através dos Planos Estaduais e municipais, portanto, abaixo teremos pontos importantes para as diferentes fases do planejamento, implementação e monitoramento do Plano. É importante saber que o Conselho de Direitos da Criança e do Adolescente é o órgão com competência na formulação, deliberação e controle social das políticas públicas, e todo o processo deve ser feito no âmbito do Conselho. enfrentamento à violência sexual contra crianças e adolescentes 91 e.1.1. Mapeamento das políticas e ações existentes: para a elabora- ção do plano em um território é im- portante conhecer quais as ações e políticas já existem e que se rela- cionam com o tema. Isso vai ajudar a não prever a criação de algo que já existe, e também vai ajudar na construção de ações intersetoriais. É importante mapear não só pro- gramas e projetos específicos, mas todos os projetos que possam for- talecer uma ação estratégica. Por exemplo, o diagnóstico inicial pode apontar que os professores não fa- zem a notificação por que não têm informações suficientes, e a Secre- taria de Educação pode ter um pro- grama de qualificação de profes- sores. Nesse caso, o plano poderia prever um módulo de enfrentamen- to às violências no programa de qualificação dos professores. e.1.2. articular organizações que atuam no tema: é importante articular as organizações que já atuam direta ou indiretamente no tema desde o início, para se envolverem em to- das as etapas, desde o diagnóstico à proposição de ações. Isso vai possibilitar que o planeja- mento seja participativo e que na implementação haja um engaja- mento ampliado. Para que o pla- no seja efetivo, a sociedade de for- ma geral precisa estar apropriada dele, desde os órgãos públicos do executivo, legislativo e judiciário, às organizações da sociedade ci- vil, aos movimentos sociais e à ini- ciativa privada. e.1.3. Promover debates participativos e análise técnica dos resultados: a elaboração do plano propriamente dita deve ser elaborada mixando a participação popular e a produção técnica em torno dos temas. Uma possibilidade é partir de um levantamento das necessidades apontadas pela população para uma produção técnica de propos- ta por um grupo especializado que avalie se as demandas têm base legal e concordância com os prin- cípios dos direitos humanos, se há possibilidade de criar normativas que as subsidiem, se são exequíveis considerando o porte do estado mu- nicípio e a temporalidade do plane- jamento ou se serão necessárias propostas meios para que avancem progressivamente às propostas fins. Outra possibilidade são realiza- ções de debates com especialistas por eixos ou áreas temáticas, com grupos de trabalho para elabora- ção de propostas que passem por uma análise técnica de viabilidade. 92 Fundação Demócrito Rocha | Universidade Aberta do Nordeste f. Prever indicadores de monitora- mento: prever indicadores de mo- nitoramento é importante para que a avaliação e o monitoramento do Plano sejam mensuráveis, para que seja possível identificar e aperfeiçoar os pontos de melhoria e para que a revisão e elaboração de um novo pla- no seja um processo de aprendizado contínuo. Na elaboração dos indica- dores é importante listar e associá- -los às fontes de dados disponíveis. g. Um orçamento vinculado: para viabilizar a implementação do Pla- no é importante garantir previsão orçamentária para sua execução. Uma política necessita além de quali- ficação técnica e priorização por par- te dos gestores públicos, de recursos que viabilizem a sua execução. O poder executivo pode elaborar o seu planejamento orçamentário plurianual (PPA), já prevendo os re- cursos necessários para a execução do Plano e o legislativo pode propor emendas caso essa previsão não te- nha sido feita. A sociedade civil orga- nizada pode incidir para que haja or- çamento previsto, e, posteriormente, acompanhar sua execução para as- segurar a implementação da política. h. Implementação: A implementação corresponde à fase onde as ações previstas serão operacionalizadas. enfrentamento à violência sexual contra crianças e adolescentes 93 cução que o possa fazer de forma sistemática e especializada, como Grupos de Trabalho, comissões, Fó- runs ou Comitês. As diferentes secretarias de estado também precisam organizar a ges- tão interna para a implementação do Plano. Isso pode ser feito através da articulação de projetos e progra- mas existentes e inserção das ações previstas nesses, ou na criação de novos programas. É recomendável a criação de planos operativos que desdobrem as ações do Plano em passos de execução que sejam coti- dianos, e que todos os servidores pú- blicos sejam informados do processo de execução com nitidez de suas atri- buições específicas nesse processo. As organizações da sociedade civil têm a atribuição de fazer o controle social das políticas públicas, então a sua atuação no monitoramento contínuo da execução, proposição de estratégias e soluções são fun- damentais para um equilíbrio da política. Uma forma de fazer isso é estabelecer relações estreitas com o Ministério Público. j. Monitoramento e Avaliação: Mui- tas vezes você já deve ter ouvido falar de monitoramento e avaliação como processo finalístico, ou seja, que acontece após o encerramento das atividades. A perspectiva que se afirma é diferente! É de monitora- mento e avaliação como um pro- cesso continuado, que vai pos- sibilitando ajustes de passos e vai acumulando insumos para, no final do processo, os cami- nhos de um novo planejamento estarem desenhados. Para isso, é necessário que haja durante o percurso estabelecimentos ins- trumentais de coleta e sistemati- zação de informaçõesdos diver- sos eixos, indicadores precisos que meçam a efetividade e eficácia das ações, e, reflexões sistemáticas so- bre os pontos de melhoria. Essa operacionalização se efetiva nas diversas áreas envolvidas no PNEVSCA, como a educação, a saú- de, assistência, segurança pública, habitação, o desenvolvimento eco- nômico etc. No processo de imple- mentação é importante que hajam espaços de diálogo e troca, afim de produzir aprendizado coletivo e re- solução de problemas práticos que possam surgir. i. Acompanhamento da execução: o Conselho de Direitos da Criança e do Adolescente é o órgão responsá- vel pelo monitoramento do Plano. No entanto, como seu escopo de trabalho é muito amplo, pois deli- bera sobre todas as políticas para a infância, o mesmo pode instituir ou legitimar instâncias específicas pelo acompanhamento da exe- SEGUE O Fio A carta de Natal, que apresenta o 1º PNEVSCA, indica o Comitê Nacional de Enfrentamento à Violência Sexu- al contra Crianças e Adolescentes como instância de monitoramento do Plano. SEGUE O Fio Para que tudo isso funcione, é necessário que o Plano seja uma ferramenta de política de Estado! É comum que, com mudanças de gestores públicos, o novo gestor queira imprimir a “sua marca” e acabe com projetos anteriores criando outros. Quando falamos de enfrentamento à violência sexual, precisamos estar atentos que a continuidade da política é o que vai possibilitar o seu enfrentamento. 94 Fundação Demócrito Rocha | Universidade Aberta do Nordeste Referências http://ecpatbrasil.org.br/ https://www.ecpat.org/ https://www.facabonito.org.br/ https://www.childhood.org.br Plano Nacional de Enfrentamento à Violência Sexual contra Crianças e Adolescentes Plano Nacional de Convivência Familiar e Comunitária Relatório de acompanhamento 2007-2008: O processo de revisão do Plano Nacional. CNEVSCA. Relatório de Monitoramento de País sobre Exploração Sexual Comercial de Crianças e Adolescentes. 2017. ECPAT Brasil Monitoramento da Política Pública de atendimento às vítimas de violência sexual. 2014. CEDECA Ceará enfrentamento à violência sexual contra crianças e adolescentes 95 Realização NOSSA VOZ. NOSSA FORTALEZA. Apoio Lídia Rodrigues (autora) Educadora social. Sua atuação no enfrentamento à violência Sexual contra Crianças e Adolescentes teve início em 2004. Compôs a coordenação colegiada da rede ECPAT Brasil no período de 2008 a 2019, e coordenou a Campanha ANA (Aliança Nacional de Adolescentes) de educação em autoproteção às violências sexuais entre 2013 e 2019. Atualmente compõe a Comissão de Enfrentamento à Violência Sexual do Fórum Permanente de ONGs pela defesa dos Direitos de Crianças e Adolescentes – Fórum DCA/CE, a Associação Barraca da Amizade e a Rede ECPAT Brasil. RAFAEL LIMAVERDE (ilustrador) É ilustrador, chargista e cartunista (premiado internacionalmente) e xilogravurista. Formado em Artes Visuais pelo Instituto Federal de Educação, Ciências e Tecnologia do Ceará (IFCE). Escreve e possui livros ilustrados nas principais editoras do Ceará e em editoras paulistas. EXPEDIENTE: FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA João Dummar Neto Presidente André Avelino de Azevedo Diretor Administrativo-Financeiro Raymundo Netto Gerente Editorial e de Projetos Emanuela Fernandes e Aurelino Freitas Analistas de Projetos UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE Viviane Pereira Gerente Pedagógica Marisa Ferreira Coordenadora de Cursos Joel Bruno Designer Instrucional CURSO ENFRENTAMENTO À VIOLÊNCIA CONTRA CRIANÇAS E ADOLESCENTES Valéria Xavier Concepção e Coordenadora Geral Leila Paiva Coordenadora de Conteúdo Amaurício Cortez Editor de Design e Projeto Gráfico Miqueias Mesquita Designer/Diagramador Rafael Limaverde Ilustrador Mayara Magalhães Revisora Beth Lopes Produtora ISBN: 978-85-7529-936-4 (Coleção) ISBN: 978-85-7529-942-5 (Fascículo 6) Este fascículo é parte integrante do Programa de Combate à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes, em decorrência do Termo de Fomento celebrado entre a Fundação Demócrito Rocha e a Câmara Municipal de Fortaleza, sob o nº 001/2019. Todos os direitos desta edição reservados à: Fundação Demócrito Rocha Av. Aguanambi, 282/A - Joaquim Távora Cep 60.055-402 - Fortaleza-Ceará Tel.: (85) 3255.6037 - 3255.6148 - Fax (85) 3255.6271 fdr.org.br fundacao@fdr.org.br
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