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F6-Enfrentamento-da-violencia-contra-crianca

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enfrentamento à
violência sexual contra
crianças e adolescentes
NOSSA VOZ. NOSSA FORTALEZA.
6
POLÍTICAS PÚBLICAS,
Intersetorialidade 
e Planejamento 
Lídia Rodrigues
SUMÁRIO
1. Um pouco da história .............................................................................83
2. Bases normativas ....................................................................................85
3. O Plano Nacional .....................................................................................86
4. A intersetorialidade do PNEVSCA.........................................................87
5. A interseccionalidade dos planos .......................................................89
6. Os desafios do PNEVSCA ........................................................................90
Referências ...............................................................................................................95
Perfis da autora e do ilustrador .....................................................................96
 
Um pouco 
da história
Toda conquista tem uma história que diz so-
bre as escolhas e movimentações feitas para 
alcançá-la. Com o Plano Nacional de En-
frentamento à Violência Sexual contra 
Crianças e Adolescentes (PNEVSCA), não 
é diferente. Essa história não é linear e nem 
tem um ponto final. Narra atividades difusas 
e articuladas que contribuem para o lugar 
que a política está hoje e para definir os ca-
minhos do futuro. 
Para contá-la, serão abordados os acon-
tecimentos em Fortaleza, no Ceará, no Brasil e 
no mundo. Perceba como esses acontecimen-
tos se relacionam entre si. 
Em 1991, o tema da exploração sexual 
contra crianças e adolescentes passa a ter es-
paço na agenda pública no Ceará, quando 
foi publicado o Relatório de ação da Polícias 
Civil e Militar do Estado, realizado a pedido da 
antiga Fundação do Bem-Estar do Menor do 
Ceará (Febem-CE), que denunciava uma rede 
de exploração e tráfico de crianças e adoles-
centes, gerando uma articulação da socie-
dade. O Fórum Permanente de Combate 
e Prevenção à Prostituição Infantojuvenil, 
posteriormente chamado Pacto da Ci-
dade, denunciou a situação e exigiu pro-
vidências dos poderes públicos. 
Nesse período, havia uma eferves-
cência de mobilizações em nível nacional, 
logo após a aprovação da Constituição Fe-
deral de 1988, várias organizações incidiram 
na elaboração e aprovação do Estatuto da 
Criança e do Adolescente, em 1990, movi-
mento que possibilitou que a violência sexual 
contra crianças e adolescentes fosse objeto 
dessa Lei. 
Em 1996, aconteceu o I Congresso Mun-
dial de Combate à Exploração Sexual Co-
mercial contra Crianças e Adolescentes, 
realizado em Estocolmo, na Suécia. Os países 
participantes assumiram que a exploração 
sexual comercial infantojuvenil é um 
crime contra a humanidade, potenciali-
zado pelas dinâmicas de globalização, e se 
comprometeram a elaborar e implementar 
nacionalmente, uma agenda de ação. 
#FICAADICA 
O II Congresso Mundial aconteceu 
em Yokohoma, no Japão, no ano de 
2001. Em 2008, o Brasil sediou o III 
Congresso Mundial que aconteceu 
no Rio de Janeiro e lançou o 
chamado para ação, documento 
que convoca todos os setores da 
sociedade à responsabilidade 
na proteção de crianças e 
adolescentes das diferentes formas 
de exploração sexual.
enfrentamento à violência sexual contra crianças e adolescentes 83
Articulado a esse movimento global, o 
PNEVSCA foi aprovado pelo Conselho Nacio-
nal dos Direitos de Crianças e Adolescentes 
(Conanda), em 12 de julho de 2000, revisado 
e relançado em 2014. Em ocasião da elabo-
ração e lançamento do Plano, foi instituído 
o Comitê Nacional de Enfrentamento a 
Violência Sexual contra Crianças e Ado-
lescentes como instância responsável 
pelo seu monitoramento. Em 2018 foi 
realizado, pela Comissão Intersetorial 
de Enfrentamento à Violência Sexual 
contra Crianças e Adolescentes, o pri-
meiro monitoramento da execução do pla-
no.
No Ceará, o Plano Estadual foi elabora-
do e aprovado pelo Conselho Estadual dos 
Direitos da Criança e do Adolescente no ano 
de 2001. O Plano Estadual foi monitorado, 
em 2006, pelo Fórum Cearense de Enfrenta-
mento à Violência Sexual contra Crianças e 
Adolescentes, revelando que a sua execução 
não superava 34% do total de ações previs-
tas. Desde 2007, o plano encontra-se defasa-
do, não foi revisado nem atualizado. 
Em Fortaleza, em 2005, a Secretaria Muni-
cipal de Educação e Assistência Social (Sedas) 
protagonizou um processo de mobilização 
para elaboração do Plano Municipal de En-
frentamento à Violência Sexual, que foi apro-
vado por resolução, em 2006, no Comdica, 
mas nunca foi homologado. 
84 Fundação Demócrito Rocha | Universidade Aberta do Nordeste
enfrentamento à violência sexual contra crianças e adolescentes 85
Bases 
normativas
A construção de uma política pública se vincu-
la a uma série de normativas que as dão base 
e sustentação quanto aos princípios, concei-
tos e perspectivas. O PNEVSCA tem como base 
legal sustentadora as seguintes normas na-
cionais e internacionais: 
a. Constituição da República Fede-
rativa do Brasil: A carta magna 
estabelece o primeiro pilar para 
a proteção integral de crianças e 
adolescentes de todas as formas 
de violências e abusos. 
b. Estatuto da Criança e do Adoles-
cente: Lei nº 8069 de 13 de julho de 
1990 que trata da proteção integral à 
criança e ao adolescente e normatiza 
o Sistema de Garantia de Direitos.
c. Plano Decenal de Direitos Huma-
nos de Crianças e Adolescentes: 
Produzido em 2010 possui cinco 
eixos estratégicos e 13 diretrizes de 
orientação para as políticas volta-
das à criança e do adolescente
TÁ NA Lei
Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado 
assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, 
com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à 
alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, 
à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à 
convivência familiar e comunitária, além de colocá-los 
a salvo de toda forma de negligência, discriminação, 
exploração, violência, crueldade e opressão.
d. Convenção Internacional sobre os 
Direitos da Criança: tratado inter-
nacional, aprovada em 1989 e visa 
à proteção de crianças e adolescen-
tes de todo o mundo, apontando os 
direitos fundamentais a serem ga-
rantidos pelos Estados-Nação.
e. Protocolo Facultativo à Convenção 
sobre os Direitos da Criança sobre a 
Venda de Crianças, a Prostituição 
Infantil e a Pornografia Infantil: 
Aprovado em janeiro de 2002, apre-
senta compromissos que os estados 
signatários deverão cumprir para o 
enfrentamento a exploração sexual. 
enfrentamento à violência sexual contra crianças e adolescentes 85
86 Fundação Demócrito Rocha | Universidade Aberta do Nordeste
O Plano 
Nacional 
O PNEVSCA deve ser entendido como “um 
conjunto de diretrizes de longo prazo para 
organizar, articular e integrar as ações dos 
setores governamentais e não gover-
namentais, com alcance para cessar a 
violência, resgatar direitos e dignidade 
no atendimento as vítimas, promover a 
inclusão social e a cidadania por meio de 
políticas públicas não revitimizadoras e re-
conhecendo a sexualidade das pessoas como 
direito humano1”.
Para que o PNEVSCA seja implementado, 
é fundamental considerar o Pacto Federa-
tivo, pois sua efetivação se dá através dos 
Planos Estaduais e é operada pelos Planos 
Municipais, uma vez que cabe ao municí-
pio as ações finalísticas de atenção direta. 
Considerando os distintos níveis de gestão, 
deliberação e controle social, e seu alinha-
mento às competências atribuídas aos en-
tes federativos (estados e municípios) e as 
atribuições institucionais. 
1 CASTANHA. Neide. O processo de 
revisão do Plano Nacional. Relatório 
de Acompanhamento 2007 – 2008. 
86 Fundação Demócrito Rocha | Universidade Aberta do Nordeste
 
A intersetorialidade 
DO PNEVSCA
Uma das diretrizes estabelecida no I Con-
gresso Mundial e adotada para o PNEVSCA 
é a intersetorialidade. 
A lógicaé simples: a violência sexual é 
resultado de complexas relações de poder 
construídas ao logo da história, portan-
to, o enfrentamento deve acontecer de 
maneira articulada, com ações que, em 
diferentes políticas (saúde, educação, as-
sistência, desenvolvimento econômico, 
etc.), ajam sobre as causas do problema 
de forma sistêmica. Para que isso seja exi-
toso, não basta que as diferentes políticas 
prevejam ações, mas que as ações se ar-
ticulem, relacionem e se complementem. 
A organização das ações do Plano é 
feita a partir de eixos estratégicos, sendo 
eles: (a) Prevenção; (b) Atenção; (c) Comu-
nicação e Mobilização Social; (d) Defesa e 
Responsabilização; (e) Participação e pro-
tagonismo, e (f) Estudos e Pesquisas. 
Prevenção: Nesse eixo, as ações e metas 
são focadas na redução da incidência da 
violência sexual, atacando as causas que 
têm como consequência essa violação. A 
redução das desigualdades econômicas, o 
fortalecimento da rede familiar e comuni-
tária da criança e do adolescente, o acesso 
aos direitos à saúde, educação, moradia, o 
fomento à educação em autoproteção que 
permita a crianças e adolescentes reco-
nhecerem situações de risco e buscar aju-
da, são exemplos de atividades desse eixo. 
Relaciona-se com pastas como educação, 
saúde, assistência social, habitação e de-
senvolvimento econômico. 
Atenção: Na primeira versão do PNEVSCA, 
esse eixo era chamado de atendimento; a 
mudança de nome diz sobre a perspectiva 
que foi assumida. No atendimento havia 
uma ideia focada no atendimento psicos-
social e de saúde aos sobreviventes da vio-
lência sexual. Na perspectiva da atenção 
prevalece a compreensão de um contexto 
multidimensional, da atuação na mitiga-
ção dos impactos da violência, compreen-
dendo a criança/o adolescente que sofreu a 
violação e sua família, agindo em aspectos 
relacionados à cultura, a psicoemocionais, 
econômicos, de saúde física, entre outros. 
enfrentamento à violência sexual contra crianças e adolescentes 87
Defesa e Responsabilização: Dispõe so-
bre ações que tenham como objetivo a 
defesa da vítima e a responsabilização do 
autor da violência sexual. 
A fiscalização, os órgãos de recepção de 
denúncia-crime, os procedimentos de apu-
ração, o julgamento e aplicação de pena 
quando o suspeito é considerado culpado 
são exemplos do que é tratado nesse eixo. 
O objetivo é reduzir a impunidade, mitigar 
o sofrimento das pessoas vitimizadas e 
protegê-las, evidenciando quais compor-
tamentos não são tolerados socialmente. 
Comunicação e Mobilização Social: O 
problema da violência sexual, durante 
muito tempo tem sido tabu. A falta de in-
formações e invisibilidade do problema 
são fatores que fazem com que alguns ca-
sos as pessoas não denunciem. Ampliar 
o diálogo e visibilidade sobre o tema e 
comprometer os diferentes setores da 
sociedade a se engajar no seu enfrenta-
mento são objetivos desse eixo, que en-
volve os meios de comunicação, poderes 
públicos, organizações da sociedade civil 
e iniciativa privada.
Participação e Protagonismo: Esse eixo 
prevê ações que fomentam a participa-
ção e o protagonismo de crianças e ado-
lescentes para que esses tenham suas 
opiniões respeitadas, avançado no 
direito à expressão e participação 
na vida política. A escola é uma 
das principais organizações que 
podem colaborar com esse eixo, 
mas a perspectiva é mais ampla: é 
que crianças e adolescentes sejam 
ouvidos em todos os espaços que 
são atendidos e possam participar 
em conformidade a sua condição 
peculiar de desenvolvimento. 
Estudos e Pesquisas: A violência se-
xual é muito complexa. Compreen-
dê-la é fundamental para estabelecer 
ações assertivas para o seu enfrenta-
mento. Esse eixo atua na direção de 
ampliar o conhecimento que temos 
acerca do problema, produzir e anali-
sar os dados da violação e da rede de 
enfrentamento para melhor monito-
rar, avaliar e planejar as políticas. As 
universidades, centro de pesquisa, 
observatórios são instituições 
que tem centralidade nesse eixo, 
porém a proposta é de colabora-
ção entre as instituições, melho-
rando o registro e compilação 
de informações dos serviços de 
saúde, educação, conselho tute-
lar, delegacias etc., a fim de sub-
sidiar as análises do problema. 
88 Fundação Demócrito Rocha | Universidade Aberta do Nordeste
A interseccionalidade
DOS PLANOS
Para pensar o planejamento e implemen-
tação das políticas públicas de enfrenta-
mento à exploração sexual, é importante 
considerar a interseção do PNEVSCA 
com outros Planos correlatos. 
Uma estratégia para implementar o 
Estatuto da Criança e do Adolescente foi 
elaborar planos que tratassem de viola-
ções de direitos específicas, como a situ-
ação de rua, o trabalho infantil, a explora-
ção sexual etc. Essas questões específicas 
se cruzam, nas raízes em comum e na vida 
das crianças. Por exemplo, uma criança 
pode ter vínculos familiares fragilizados 
devido um abuso sexual intrafamiliar, o 
que a leva a uma situação de moradia 
de rua, e nas ruas ser envolvida numa 
rede de exploração sexual, uma das 
piores formas de trabalho infantil.
Do modo que se as problemáti-
cas estão articuladas, é imprescindí-
vel que as políticas se conectem, que 
haja convergência de ações e que as insti-
tuições estejam alinhadas para lidar com 
essas questões.
O PNEVSCA relaciona-se com os eixos e 
diretrizes do Plano Decenal dos Direitos 
de Crianças e Adolescentes, com uma in-
terface direta com essa política, e tem ações 
que convergem com os seguintes planos:
• Plano Nacional de Promoção Prote-
ção e Defesa do Direito de Crianças 
e Adolescentes à Convivência Fami-
liar e Comunitária; 
• III Plano Nacional de Prevenção e Er-
radicação do Trabalho Infantil e Pro-
teção ao Adolescente Trabalhador;
• Sistema Nacional de Atendimento 
Socioeducativo – Sinase
enfrentamento à violência sexual contra crianças e adolescentes 89
Os desafios 
DO PNEVSCA
Nos cinco anos que se passaram desde a 
aprovação da 2ª versão do PNEVSCA, foram 
identificados desafios para sua implementa-
ção. Olhar para esses desafios é um exercício 
interessante de aprendizado e aperfeiçoa-
mento do enfrentamento à violência sexual. 
Veja alguns desses desafios:
a. Compreensão e qualificação téc-
nica para lidar com os novos ce-
nários de violência sexual: o avan-
ço do uso das tecnologias e redes 
sociais em dinâmicas de abuso e 
exploração sexual exige das institui-
ções, profissionais e sociedade de 
maneira geral qualificação do deba-
te e ação. O compartilhamento de 
imagens sexuais envolvendo crian-
ças e adolescentes, o aliciamento 
para exploração sexual, as exposi-
ções e ameaças de publicizar nudes 
(fotos de pessoas nuas), utilizando 
as redes sociais, traz desafios para 
a identificação, prevenção e res-
ponsabilização. Muitos relatos de 
automutilação e tentativas de sui-
cídio vinculados à exposição inde-
vida de imagens pessoais de con-
teúdo sexual têm chegado à Rede 
de Proteção que, muitas vezes, não 
sabe lidar com essas demandas.
b. O atendimento ao autor da vio-
lência sexual: estudos apontam 
que a violência é reproduzida cicli-
camente, ou seja, muitas pessoas 
que sofrem violência tendem a co-
metê-la em outro período da vida 
se não passarem por processos te-
rapêuticos que possibilitem a res-
significação desse sofrimento. 
O autor da violência sexual, além 
da responsabilização penal prevista 
em lei, precisa passar por atendi-
mento psicossocial que possibilite 
o confronto com a responsabilida-
de ante o crime cometido e a trans-
formação de padrões de comporta-
mento, para que quando cumprida 
a pena, possa ser reinserido na so-
ciedade sem reincidir. 
Essa concepção, no entanto, ainda 
não foi incorporada nas políticas de 
responsabilização penal e se confi-
gura como um grande desafio para 
a ruptura de ciclos de violência e er-
radicação desse problema. 
c. Monitoramento: embora na se-
gunda versão do PNEVSCA tenha 
se avançado na elaboração de 
90 Fundação Demócrito Rocha | Universidade Aberta do Nordesteindicadores de monitoramento, 
uma questão colocada é a pouca 
cultura de registro e sistemati-
zação de dados que possibilitem 
o levantamento de informações 
correspondentes a esses indica-
dores. Por exemplo, se um indi-
cador do eixo de participação e 
protagonismo é o número de grê-
mios estudantis envolvidos no en-
frentamento à exploração sexual, 
é necessário que haja um registro 
do número de grêmios existentes 
e um levantamento de quais pau-
taram a questão da exploração 
sexual para saber se o objetivo / 
meta foi atingido total ou parcial-
mente, e se não foi atingido quais 
motivos e ações serão necessárias 
para superar esse obstáculo. 
d. Orçamento Público: um dos princi-
pais desafios para implementação 
do Plano é a alocação orçamentária 
que viabilize suas ações. É neces-
sário previsão orçamentaria dis-
tribuída nos órgãos responsáveis 
pela execução do plano, e que esse 
orçamento seja visível na peça or-
çamentária para que seja possível 
o monitoramento de sua execução. 
e. Planejamento: a fase de elabora-
ção do Plano é chave para que seja 
possível tirá-lo do papel. O plano 
tem que ser exequível e condizen-
te com a realidade, por isso essa 
é uma fase a ser executada com 
muito cuidado.
e.1. Levantar informações so-
bre o problema no territó-
rio: levantar as informações 
preexistentes é fundamental 
para pensar a intervenção. 
Esse passo é desafiador por-
que muitas vezes há subnoti-
ficação da violência, portanto, 
uma investigação baseada em 
algumas questões é funda-
mental para conhecer o pro-
blema antes do planejamento 
das ações. Perguntas chaves: 
Qual a modalidade de vio-
lência com maior incidência 
de denúncias? Há indícios de 
formas de violência sexual 
não notificadas oficialmente? 
Quais? Existem pontos de ex-
ploração sexual? Onde? Quem 
são os exploradores? Qual o 
contexto social, econômico e 
familiar das vítimas? 
TÁ NA Lei
Você pode estar se perguntando: 
“Sim, mas pra que isso me serve 
na prática? Por exemplo, se sou um 
gestor público, ou um conselheiro 
de direitos, ou de uma organização 
da sociedade civil ou um cidadão 
comprometido, como tudo isso pode 
me ajudar a implementar o PNVESCA 
em meu município ou estado?”
Como falado anteriormente, o 
PNEVSCA é operado através dos 
Planos Estaduais e municipais, 
portanto, abaixo teremos pontos 
importantes para as diferentes fases 
do planejamento, implementação 
e monitoramento do Plano. É 
importante saber que o Conselho 
de Direitos da Criança e do 
Adolescente é o órgão com 
competência na formulação, 
deliberação e controle social das 
políticas públicas, e todo o processo 
deve ser feito no âmbito do Conselho.
enfrentamento à violência sexual contra crianças e adolescentes 91
e.1.1. Mapeamento das políticas e 
ações existentes: para a elabora-
ção do plano em um território é im-
portante conhecer quais as ações e 
políticas já existem e que se rela-
cionam com o tema. Isso vai ajudar 
a não prever a criação de algo que 
já existe, e também vai ajudar na 
construção de ações intersetoriais. 
 É importante mapear não só pro-
gramas e projetos específicos, mas 
todos os projetos que possam for-
talecer uma ação estratégica. Por 
exemplo, o diagnóstico inicial pode 
apontar que os professores não fa-
zem a notificação por que não têm 
informações suficientes, e a Secre-
taria de Educação pode ter um pro-
grama de qualificação de profes-
sores. Nesse caso, o plano poderia 
prever um módulo de enfrentamen-
to às violências no programa de 
qualificação dos professores. 
e.1.2. articular organizações que atuam 
no tema: é importante articular as 
organizações que já atuam direta 
ou indiretamente no tema desde o 
início, para se envolverem em to-
das as etapas, desde o diagnóstico 
à proposição de ações. 
 Isso vai possibilitar que o planeja-
mento seja participativo e que na 
implementação haja um engaja-
mento ampliado. Para que o pla-
no seja efetivo, a sociedade de for-
ma geral precisa estar apropriada 
dele, desde os órgãos públicos do 
executivo, legislativo e judiciário, 
às organizações da sociedade ci-
vil, aos movimentos sociais e à ini-
ciativa privada.
e.1.3. Promover debates participativos 
e análise técnica dos resultados: a 
elaboração do plano propriamente 
dita deve ser elaborada mixando a 
participação popular e a produção 
técnica em torno dos temas. 
 Uma possibilidade é partir de um 
levantamento das necessidades 
apontadas pela população para 
uma produção técnica de propos-
ta por um grupo especializado que 
avalie se as demandas têm base 
legal e concordância com os prin-
cípios dos direitos humanos, se há 
possibilidade de criar normativas 
que as subsidiem, se são exequíveis 
considerando o porte do estado mu-
nicípio e a temporalidade do plane-
jamento ou se serão necessárias 
propostas meios para que avancem 
progressivamente às propostas fins. 
 Outra possibilidade são realiza-
ções de debates com especialistas 
por eixos ou áreas temáticas, com 
grupos de trabalho para elabora-
ção de propostas que passem por 
uma análise técnica de viabilidade. 
92 Fundação Demócrito Rocha | Universidade Aberta do Nordeste
f. Prever indicadores de monitora-
mento: prever indicadores de mo-
nitoramento é importante para que 
a avaliação e o monitoramento do 
Plano sejam mensuráveis, para que 
seja possível identificar e aperfeiçoar 
os pontos de melhoria e para que a 
revisão e elaboração de um novo pla-
no seja um processo de aprendizado 
contínuo. Na elaboração dos indica-
dores é importante listar e associá-
-los às fontes de dados disponíveis. 
g. Um orçamento vinculado: para 
viabilizar a implementação do Pla-
no é importante garantir previsão 
orçamentária para sua execução. 
Uma política necessita além de quali-
ficação técnica e priorização por par-
te dos gestores públicos, de recursos 
que viabilizem a sua execução. 
O poder executivo pode elaborar 
o seu planejamento orçamentário 
plurianual (PPA), já prevendo os re-
cursos necessários para a execução 
do Plano e o legislativo pode propor 
emendas caso essa previsão não te-
nha sido feita. A sociedade civil orga-
nizada pode incidir para que haja or-
çamento previsto, e, posteriormente, 
acompanhar sua execução para as-
segurar a implementação da política. 
h. Implementação: A implementação 
corresponde à fase onde as ações 
previstas serão operacionalizadas. 
enfrentamento à violência sexual contra crianças e adolescentes 93
cução que o possa fazer de forma 
sistemática e especializada, como 
Grupos de Trabalho, comissões, Fó-
runs ou Comitês. 
As diferentes secretarias de estado 
também precisam organizar a ges-
tão interna para a implementação 
do Plano. Isso pode ser feito através 
da articulação de projetos e progra-
mas existentes e inserção das ações 
previstas nesses, ou na criação de 
novos programas. É recomendável 
a criação de planos operativos que 
desdobrem as ações do Plano em 
passos de execução que sejam coti-
dianos, e que todos os servidores pú-
blicos sejam informados do processo 
de execução com nitidez de suas atri-
buições específicas nesse processo. 
As organizações da sociedade civil 
têm a atribuição de fazer o controle 
social das políticas públicas, então 
a sua atuação no monitoramento 
contínuo da execução, proposição 
de estratégias e soluções são fun-
damentais para um equilíbrio da 
política. Uma forma de fazer isso é 
estabelecer relações estreitas com 
o Ministério Público. 
j. Monitoramento e Avaliação: Mui-
tas vezes você já deve ter ouvido 
falar de monitoramento e avaliação 
como processo finalístico, ou seja, 
que acontece após o encerramento 
das atividades. A perspectiva que se 
afirma é diferente! É de monitora-
mento e avaliação como um pro-
cesso continuado, que vai pos-
sibilitando ajustes de passos e 
vai acumulando insumos para, 
no final do processo, os cami-
nhos de um novo planejamento 
estarem desenhados. Para isso, 
é necessário que haja durante o 
percurso estabelecimentos ins-
trumentais de coleta e sistemati-
zação de informaçõesdos diver-
sos eixos, indicadores precisos que 
meçam a efetividade e eficácia das 
ações, e, reflexões sistemáticas so-
bre os pontos de melhoria.
Essa operacionalização se efetiva 
nas diversas áreas envolvidas no 
PNEVSCA, como a educação, a saú-
de, assistência, segurança pública, 
habitação, o desenvolvimento eco-
nômico etc. No processo de imple-
mentação é importante que hajam 
espaços de diálogo e troca, afim de 
produzir aprendizado coletivo e re-
solução de problemas práticos que 
possam surgir. 
i. Acompanhamento da execução: 
o Conselho de Direitos da Criança e 
do Adolescente é o órgão responsá-
vel pelo monitoramento do Plano. 
No entanto, como seu escopo de 
trabalho é muito amplo, pois deli-
bera sobre todas as políticas para 
a infância, o mesmo pode instituir 
ou legitimar instâncias específicas 
pelo acompanhamento da exe-
SEGUE O Fio
A carta de Natal, que apresenta o 1º 
PNEVSCA, indica o Comitê Nacional 
de Enfrentamento à Violência Sexu-
al contra Crianças e Adolescentes 
como instância de monitoramento 
do Plano.
SEGUE O Fio
Para que tudo isso funcione, 
é necessário que o Plano seja 
uma ferramenta de política de 
Estado! É comum que, com 
mudanças de gestores públicos, 
o novo gestor queira imprimir a 
“sua marca” e acabe com projetos 
anteriores criando outros. Quando 
falamos de enfrentamento à 
violência sexual, precisamos 
estar atentos que a continuidade 
da política é o que vai possibilitar 
o seu enfrentamento.
94 Fundação Demócrito Rocha | Universidade Aberta do Nordeste
Referências
http://ecpatbrasil.org.br/
https://www.ecpat.org/
https://www.facabonito.org.br/
https://www.childhood.org.br 
Plano Nacional de Enfrentamento 
à Violência Sexual contra Crianças 
e Adolescentes
Plano Nacional de Convivência 
Familiar e Comunitária
Relatório de acompanhamento 
2007-2008: O processo de revisão 
do Plano Nacional. CNEVSCA.
Relatório de Monitoramento de País sobre 
Exploração Sexual Comercial de Crianças e 
Adolescentes. 2017. ECPAT Brasil
Monitoramento da Política Pública 
de atendimento às vítimas de violência 
sexual. 2014. CEDECA Ceará
enfrentamento à violência sexual contra crianças e adolescentes 95
Realização
NOSSA VOZ. NOSSA FORTALEZA.
Apoio
Lídia Rodrigues (autora)
Educadora social. Sua atuação no enfrentamento à violência Sexual contra Crianças 
e Adolescentes teve início em 2004. Compôs a coordenação colegiada da rede ECPAT 
Brasil no período de 2008 a 2019, e coordenou a Campanha ANA (Aliança Nacional 
de Adolescentes) de educação em autoproteção às violências sexuais entre 2013 
e 2019. Atualmente compõe a Comissão de Enfrentamento à Violência Sexual do 
Fórum Permanente de ONGs pela defesa dos Direitos de Crianças e Adolescentes – 
Fórum DCA/CE, a Associação Barraca da Amizade e a Rede ECPAT Brasil.
RAFAEL LIMAVERDE (ilustrador)
É ilustrador, chargista e cartunista (premiado internacionalmente) e xilogravurista. 
Formado em Artes Visuais pelo Instituto Federal de Educação, Ciências e Tecnologia 
do Ceará (IFCE). Escreve e possui livros ilustrados nas principais editoras do Ceará e 
em editoras paulistas.
EXPEDIENTE: FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA João Dummar Neto Presidente André Avelino de Azevedo 
Diretor Administrativo-Financeiro Raymundo Netto Gerente Editorial e de Projetos Emanuela Fernandes e 
Aurelino Freitas Analistas de Projetos UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE Viviane Pereira Gerente 
Pedagógica Marisa Ferreira Coordenadora de Cursos Joel Bruno Designer Instrucional CURSO ENFRENTAMENTO 
À VIOLÊNCIA CONTRA CRIANÇAS E ADOLESCENTES Valéria Xavier Concepção e Coordenadora Geral Leila Paiva 
Coordenadora de Conteúdo Amaurício Cortez Editor de Design e Projeto Gráfico Miqueias Mesquita 
Designer/Diagramador Rafael Limaverde Ilustrador Mayara Magalhães Revisora Beth Lopes Produtora
ISBN: 978-85-7529-936-4 (Coleção) 
ISBN: 978-85-7529-942-5 (Fascículo 6)
Este fascículo é parte integrante do Programa de Combate à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes, em decorrência do Termo de Fomento celebrado entre a Fundação 
Demócrito Rocha e a Câmara Municipal de Fortaleza, sob o nº 001/2019.
Todos os direitos desta edição reservados à:
Fundação Demócrito Rocha
Av. Aguanambi, 282/A - Joaquim Távora 
Cep 60.055-402 - Fortaleza-Ceará 
Tel.: (85) 3255.6037 - 3255.6148 - Fax (85) 3255.6271
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