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TCC Angelica

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Centro Universitário Leonardo da Vinci 
Curso Bacharelado em Serviço Social 
 
 
ANGELICA DA SIVA OLIVEIRA 
SES 0477 
 
 
 
 
TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO: 
A PRATICA PROFISSIONAL DO ASSISTENTE SOCIAL DIANTE DA VIOLÊNCIA INFANTIL 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
TOMÉ AÇU/PA 
2020 
 
 
 
 
 
 
ANGELICA DA SIVA OLIVEIRA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A PRÁTICA PROFISSIONAL DO ASSISTENTE SOCIAL DIANTE DA VIOLÊNCIA 
INFANTIL 
 
 
 
 
 
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à 
disciplina de Projeto de TCC – do Curso de 
Serviço Social – do Centro Universitário 
Leonardo da Vinci – UNIASSELVI, como 
exigência parcial para a obtenção do título de 
Bacharel em Serviço Social. 
 
Nome do Tutor – Edilane Silva dos Santos 
 
 
 
 
 
 
 
TOMÉ-AÇU/PA 
2020 
 
A PRÁTICA PROFISSIONAL DO ASSISTENTE SOCIAL DIANTE DA VIOLÊNCIA 
INFANTIL 
 
 
 
POR 
 
 
 
 
ANGELICA DA SIVA OLIVEIRA 
 
 
 
 
Trabalho de Conclusão de Curso aprovado do 
grau de Bacharel em Serviço Social, sendo-lhe 
atribuída à nota “______” 
(_____________________________), pela 
banca examinadora formada por: 
 
 
 
 
 
___________________________________________ 
Presidente: Prof. EDILANE SILVA DOS SANTOS – Orientador Local 
 
 
 
 
____________________________________________ 
Membro: JAMILLY CAROLINE LOPES PINTO– Supervisor de Campo 
 
 
 
 
 
____________________________________________ 
Membro: VANESSA ABREU MENDES - Profissional da área 
 
 
 
 
 
 
 
 
TOMÉ-AÇU PA 
17/12/2020 
SUMÁRIO 
 
1 INTRODUÇÃO..........................................................................................................4 
2 DESENVOLVIMENTO............................................................................................10 
2.1 A VIOLÊNCIA CONTRA CRIANÇA....................................................................10 
2.2 TIPOS DE VIOLÊNCIA INFANTIL......................................................................13 
2.2.1 Violência física................................................................................................13 
2.2.2 Violência sexual..............................................................................................14 
2.2.3 Violência psicológica.....................................................................................17 
2.2.4 NEGLIGÊNCIA.................................................................................................18 
2.3 A ATUAÇÃO DO ASSISTENTE SOCIAL...........................................................19 
2.4 A INFÂNCIA E AS POLÍTICAS PÚBLICAS.......................................................24 
2.5 A VIOLÊNCIA INFANTIL E A ATUAÇÃO DO ASSISTENTE SOCIAL..............31 
3. CONCLUSÃO........................................................................................................37 
7 REFERÊNCIA........................................................................................................38 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
5 
 
1 INTRODUÇÃO 
O presente estudo está limitado no campo da intervenção profissional do 
assistente social, com enfoque para atuação desse profissional junto às 
manifestações da violência contra crianças, a partir da incidência desse fenômeno 
junto à população infanto-juvenil e suas famílias. Para tanto, configurou-se como 
lócus da pesquisa o serviço de enfrentamento da violência contra a criança e ao 
adolescente, do município de Tomé açu/PA, que operacionalizam este serviço por 
meio da política pública municipal de Assistência Social. Através da casa lar do 
município de Tomé açu, desenvolveu-se o estudo no qual constituíram-se como 
sujeitos da pesquisa assistentes sociais que atuam neste espaço sócio ocupacional 
realizando intervenções em diferentes expressões da violência. O interesse acerca 
da intervenção profissional em situações de violência partiu da constatação da 
complexidade que tal demanda representa para o Serviço Social no campo das 
políticas públicas em um contexto adverso à efetivação dos direitos fundamentais. 
Outrossim, a experiência profissional, enquanto assistente social no serviço de 
enfrentamento da violência contra a criança e ao adolescente do Município de Tomé 
Açu, serviu como pano de fundo de inúmeros questionamentos a respeito de um 
campo tão complexo e desafiador. A participação no estágio 1 e 2 serviram para 
aguçar ainda mais os questionamentos já latentes a respeito do tema, provocando a 
necessidade de iniciar um processo de reflexão que pudesse contribuir para a 
produção de conhecimento sobre o assunto. Em um prévio mapeamento de 
produções acerca do tema Serviço Social e Violência. 
 Silva (2008) constata um recente adensamento da discussão da questão da 
violência nos principais congressos e encontros de Serviço Social, endossando a 
presença do tema entre os assistentes sociais. Segundo o autor, a sistematização 
de informações sobre as 13 produções publicadas nos encontros e congressos 
evidenciam que os assistentes sociais possuem inserção acentuada no campo da 
violência, espaço que pode ser considerado como arena empírica e como ponto de 
partida e ponto de chegada da práxis profissional. Tal estudo aponta para a 
relevância do tema violência infantil para categoria, o que expressa de algum modo 
a preocupação da profissão quanto a diversas expressões da violência que se 
apresentam como demandas colocadas ao Serviço Social em diferentes espaços 
sócio ocupacionais. 
6 
 
O quadro social descrito fala-nos de uma violência estrutural, que tem suas 
causas na realidade político-econômica do país. Somente a revisão do modelo de 
desenvolvimento nacional, com medidas que tragam melhoria nas condições de vida 
da população, refletirá na atenção direta à infância. Mas, uma outra violência 
permeia nossos lares, a violência doméstica, também conceituada como abuso ou 
maltrato contra a criança. O abuso infantil está presente no mundo todo, tendo seu 
contorno definido pela cultura de cada país. O conceito de violência doméstica 
envolve uma relação interpessoal, em que a força, a intimidação ou a ameaça 
subjugam a criança ao autoritarismo do adulto. Esta é a violência da qual 
trataremos, pela sua importância estatística. Ocorre nos lares, no convívio familiar, 
onde tem sua ecologia predominante. 
Com o intuito de colaborar com a discussão, o estudo aqui apresentado 
propõe uma aproximação da intervenção do assistente social, conhecendo e 
problematizando a contribuição dessa especialização do trabalho no enfrentamento 
de expressões da violência, apresentadas como demanda da ação profissional. 
Nesta medida, procuramos responder a pergunta central da pesquisa: Qual a 
contribuição da intervenção do assistente social para o enfrentamento das 
expressões da violência que afeta a população infantil? Qual a concepção de 
violência norteia as ações profissionais? Qual a particularidade da atuação do 
assistente social no enfrentamento da violência contra a criança? 
Além do abuso sexual, a violência infantil abrange os maus-tratos físicos e 
emocionais e a negligência. O Estatuto da criança e do adolescente referi em seu 
artigo 5º que: “Nenhuma criança ou adolescente será objeto de qualquer forma de 
negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão punido na 
forma da lei qualquer atentado por ação ou omissão aos seus direitos 
fundamentais”. Entretanto, sabemos que há ocorrências e situações de violação 
grave a esses direitos. 
O Brasil ocupa a quarta posição no ranking da violência na América Latina, 
sendo as violências e os acidentes (causas externas) responsáveis pela segunda 
causa de mortes em geral e a primeira causa de mortes no que compreende a faixa 
etária de 5 a 49 anos (Minayo, 2006). Diante desse quadro alarmante, nos últimos 
anos vem ocorrendo um crescente reconhecimento de que os serviços de saúde têm 
um importante papel no enfrentamento da violência, sendo chamado a respondere 
participar por meio das suas diversas possibilidades de atuação. Através de um 
7 
 
olhar cada vez mais atento dos profissionais, vislumbra-se a necessidade de 
elaborar propostas de ação voltadas para a prevenção, a identificação e o 
acompanhamento do número crescente de vítimas da violência. 
De acordo com Sousa (2004, p. 48), os plantões sociais foram instrumentos 
utilizados pelos assistentes sociais pioneiros, implantados pelas entidades norte-
americanas, quando perceberam a necessidade de sistematizar os atendimentos 
assistenciais, que foram divididos em casos imediatos e casos continuados. Casos 
imediatos eram aqueles em que as intervenções ocorriam em momentos de 
vulnerabilidade, sendo essas rápidas, enquanto os casos continuados se 
caracterizavam por problemas mais graves, junto aos quais era necessário um 
contato prolongado entre o assistente social e o usuário (Vieira, 1969, apud Sousa, 
2004). 
Podemos aqui elucidar que, a violência praticada contra crianças e 
adolescentes, é tarjada por uma relação onde não há respeito, não se considera 
estes, enquanto sujeitos em desenvolvimento e que estes possuem direitos de 
cidadãos, ocorrendo um processo de coisificação da criança, tratando-o como mero 
objeto. Nesta relação há um processo de submissão, e poder, que o indivíduo mais 
velho, exerce sobre a criança e adolescente. Deixando como consequências 
agravamentos físicos, emocional, psicológico ao desenvolvimento infanto-juvenil. 
Vasconcelos (2006) critica a visão conservadora do plantão, ao passo que 
ressalta que os profissionais que trabalham nessa perspectiva têm como objetivo 
apenas a orientação, o encaminhamento com o fim em si mesmo, o apoio e o 
aconselhamento, com a finalidade de adaptar o indivíduo ao meio. Assim sendo, 
torna-se impossível trabalhar na perspectiva de emancipação dos sujeitos e na 
ampliação de seus direitos, mesmo porque eles não são vistos como portadores de 
direitos e sujeitos históricos e autônomos, mas como objetos de intervenção do 
Serviço Social. 
A partir da promulgação da Constituição da República Federativa do Brasil, 
em 1988, temos em seu artigo 227 a informação que nenhuma criança deverá ser 
objeto de qualquer forma de violação, negligencia, crueldade e opressão, e enfatiza 
sobre a responsabilidade no processo de cuidado e educação, no qual informa que a 
responsabilidade é da família, do Estado e toda a sociedade, zelar e garantir para 
que crianças e adolescentes se desenvolvam em ambiente livre de quaisquer 
situações de violência. Consta informar que, após 02 (dois) anos da nova 
8 
 
constituição brasileira, no ano de 1990, é sancionada a Lei Federal nº 8069 -1990, 
que trata do Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA, que é responsável por 
mudanças, em relação à visão dos direitos das crianças e dos adolescentes, em 
todo o território brasileiro. 
 O ECA elenca outra abordagem tem como doutrina a proteção integral e 
deixam de ser menores e passam a ser crianças e adolescentes, reconhecido 
também por seus direitos e seu pleno desenvolvimento. No referido Estatuto da 
Criança e do Adolescente – ECA, destacamos o artigo 245 que nos informar e 
orienta de que todo profissional das áreas da saúde, educação e social, tomarem 
conhecimento ou suspeitar de uma situação de violação dos direitos humanos de 
crianças e adolescentes devem comunicar aos serviços, programas e órgãos 
competentes a área da infância e adolescência, e salienta ainda que se o 
profissional que não realizar o comunicado será penalizado com multa de 3 a 20 
salários mínimos vigentes. 
De acordo com levantamentos realizados pelo Instituto Brasileiro de 
Geografia e Estatísticas (IBGE), cerca de 20% das crianças na atualidade no Brasil 
sofrem violência física, sendo que em 80% dos casos os perpetradores da violência 
são os próprios pais. Já a violência ou o abuso sexual é entendido como ato ou jogo 
sexual que ocorre nas relações homo ou heterossexuais e visa estimular ou utilizar a 
vítima para obter prazer sexual e práticas eróticas, pornográficas e sexuais impostas 
por meio de aliciamento ou de violência física. 
A família é, por definição, a protetora de seus membros. A violência 
doméstica contra a criança é causada por agentes que supostamente seriam seus 
protetores. Muitas são vitimadas no silêncio de seus lares, onde o agressor 
geralmente conta com a cumplicidade de outro(s) membro(s) da família, numa 
postura de não comprometimento com o agredido, por medo, insegurança ou 
indecisão. Não havendo intervenção externa, o ciclo da violência poderá reproduzir-
se incessantemente. Assim, a conscientização de sua existência em lares 
socialmente insuspeitos é o único caminho para o rompimento do ciclo de violência e 
restabelecimento de condições dignas para o desenvolvimento e crescimento 
infantis. 
A Assistência Social, com base na Constituição Federal e na Lei Orgânica da 
Assistência Social, tem como uma de suas diretrizes a centralidade na família para 
concepção e implementação dos benefícios, serviços, programas e projetos. Neste 
9 
 
sentido, um dos objetivos desta política é assegurar que as ações no âmbito da 
Assistência Social mantenham a centralidade na família, e que garantam a 
convivência familiar e comunitária dos indivíduos. Família, segundo a Política 
Nacional, seria o grupo de pessoas que se acham unidas por laços consanguíneos, 
afetivos ou de solidariedade. 
O documento da PNAS (2004) relata sobre o Sistema Único de Assistência 
Social (SUAS) e prevê diferentes níveis de atenção: básica e especial. A proteção 
social básica compreende ações voltadas para a prevenção de situações de risco 
por meio do desenvolvimento de habilidades e aptidões, fortalecendo os vínculos 
familiares e comunitários. Para tanto, são oferecidos serviços e benefícios aos 
cidadãos, através dos CRAS (Centro de Referência de Assistência Social). Estes 
centros são distribuídos pelos municípios, a fim de que haja cobertura total, por 
território, facilitando assim o acesso e o vínculo aos atendimentos oferecidos. Destinam-
se às populações de baixa renda, com vínculos familiares, sociais e comunitários 
fragilizados, e que vivem situações de vulnerabilidade e privações, dentre outras. A 
proteção social especial inclui a média e a alta complexidade. O CREAS (centro de 
referência especializado de assistência social) está inserido na média complexidade, 
que atende famílias e indivíduos que estejam com seus direitos violados, porém 
ainda mantendo seus vínculos familiares, mesmo que frágeis. São situações de risco 
pessoal e social, consequência de abandono, violência, uso abusivo de substâncias 
psicoativas, cumprimento de medida socioeducativa, situação de rua ou trabalho 
infantil, dentre outras. Por esta razão, devido à complexidade das demandas 
atendidas, o CREAS necessita estar articulado com o sistema de garantia de 
direitos, a fim de que possa haver efetividade em suas ações. 
De acordo com Silva e Silva (2002), o Serviço Social surge como profissão 
regulamentada no início do século XX, no contexto da expansão do papel do Estado 
no enfrentamento da questão social e de suas mais variadas expressões. Sendo 
assim, há uma profunda conexão entre Serviço Social e política pública no Brasil. O 
assistente social é o profissional que intervém na realidade social, assumindo 
competências e atribuições específicas. Portanto, de acordo com a política nacional, 
o assistente social é um dos profissionais requisitados a atuar nos casos de 
violência doméstica, atendendo crianças e adolescentes vítimas e as suas famílias. 
A partir desse atendimento, o técnico pode analisar a realidade social em que estão 
inseridos os usuários e nela intervir, com vistas à promoção dos direitos. Esta 
10 
 
intervenção, entretanto, deve ocorrer tendo por base o Código de Ética profissional, 
aprovado em 1993. Este documento fornece as diretrizes para ocorreto exercício 
profissional. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
11 
 
2 DESENVOLVIMENTO 
Nos últimos anos, a violência contra crianças tem recebido atenção especial 
da sociedade através de campanhas desenvolvidas pela imprensa e órgãos 
públicos. A preocupação de pais, educadores e autoridades em denunciar os crimes 
envolvendo a violência doméstica e sexual contra crianças criou a necessidade de 
capacitar equipes de técnicos capazes de acolher estas vítimas e obter as provas 
necessárias para comprovar a ocorrência destes delitos. 
 
2.1 A VIOLÊNCIA CONTRA CRIANÇA 
A violência pode ser considerada como uso da força física ou do poder, real 
ou em ameaça, contra si próprio, contra outra pessoa, ou contra um grupo ou uma 
comunidade, que resulte ou tenha qualquer possibilidade de resultar em lesão, 
morte, dano psicológico, deficiência de desenvolvimento ou privação. 
Mais do que qualquer outro tipo de violência, a cometida contra a criança não 
se justifica, pois as condições peculiares de desenvolvimento desses cidadãos os 
colocam em extrema dependência de pais, familiares, cuidadores, do poder público 
e da sociedade. Em 2011, o Sistema de Informação de Agravos de Notificação 
(SINAN), registrou 39.281 atendimentos na faixa de < 1 a 19 anos idade, que 
representam 40% do total de 98.115 atendimentos computados pelo sistema nesse 
ano. O aumento no número de casos de violência infantil, segundo os dados 
epidemiológicos mundiais e brasileiros, mostra cada vez mais que é necessário 
demandar ações de controle, por meio de condutas preventivas, pelos setores 
sociais envolvidos, bem como profissionais de saúde, conselhos tutelares, entre 
outros. 
A problemática alcançou relevância política e visibilidade entre a sociedade, 
principalmente a partir da década de 1990, com a implantação do Estatuto da 
Criança e do Adolescente, através da Lei 8.069, que tem por finalidade: “Garantir às 
crianças e ao adolescente, a promoção da saúde e a prevenção de agravos, 
tornando obrigatória a identificação e a denúncia de violência”3. Com isso, o Estado 
passou a ter instrumentos legais de proteção nas situações de violência na infância 
e na adolescência, tornando obrigatória sua notificação até mesmo nos casos de 
suspeita. 
12 
 
A Organização Mundial de Saúde (OMS) classifica a violência contra a 
criança em quatro tipos, abuso físico, sexual, emocional ou psicológico e 
negligência, os quais podem resultar em danos físicos, psicológicos; prejuízo ao 
crescimento, desenvolvimento e maturação das crianças. A violência, no meio 
infantil, se traduz em um forte estressor em relação ao processo normal de 
crescimento e desenvolvimento, devendo ser considerado em sua totalidade, para o 
seu pleno reconhecimento, a fim de se poder implantar medidas eficazes para sua 
resolução. Sendo assim, o presente estudo tem como objetivo caracterizar, por meio 
das evidências científicas a violência infantil no cenário nacional. 
 O mais frequente tipo de violência a que estão sujeitas crianças e 
adolescentes é aquele denominado estrutural. A vivência cotidiana do profissional de 
saúde está repleta de situações em que constata essa forma de violência, já que a 
pobreza tem alcançado índices alarmantes. Dados de 1990 (IBGE, 1992) mostram 
que 53,5% das crianças e adolescentes brasileiros, entre 0-17 anos, encontram-se 
em famílias com renda mensal de até 1/2 salário mínimo per capita. São 32 milhões 
de crianças e jovens vivendo em situação de pobreza e miséria, dois milhões a mais 
do que no início da década de 80. Essa situação de pobreza traz consigo múltiplos 
agravos à saúde decorrentes, em grande parte, da total ausência de suporte social 
direcionado a essas famílias. Não passa desapercebido, aos profissionais de saúde, 
que a sociedade brasileira nega a esses jovens condições dignas e suficientes para 
uma completa possibilidade de viver e gozar de plena saúde, já que lhes impõe: - 
precárias condições de habitação: apenas 45,1% da população infanto-juvenil, no 
ano de 1990, viviam em domicílios considerados adequados com abastecimento de 
água ligado à rede geral com canalização interna, e instalação sanitária ligada à 
rede geral ou à fossa séptica (IBGE, 1992); - situação educacional deficiente: dados 
para o ano de 1990 mostram que 14,4% dos jovens entre 10 e 14 anos são 
analfabetos e apenas 20% dos alunos matriculados na 1ª série, na década de 80, 
conseguiram chegar à 8ª série (IBGE, 1992); - difíceis condições de trabalho: em 
1990, 7 milhões e meio de crianças e adolescentes (10-17 anos) trabalhavam em 
ocupações de baixa remuneração e qualificação, além de carga horária elevada, 
impossibilitando conciliar estudo e trabalho (IBGE, 1992). 
 Esse cruel panorama ilustra a maneira como vivem as crianças e 
adolescentes vítimas da violência estrutural, característica de sociedades como a 
brasileira, marcadas por profundas desigualdades na distribuição da riqueza social. 
13 
 
São as chamadas crianças e adolescentes de alto risco porque têm uma imediata 
probabilidade de sofrer cotidiana e permanentemente a violação de seus direitos 
humanos mais elementares devido ao profundo processo de espoliação a que são 
submetidas: direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, à segurança, ao 
lazer, entre outros. Alguns estudiosos alertam para o fato que: "toda uma nova 
geração de crianças e adolescentes estará condenada à marginalização 
socioeconômica com danos pessoais irrecuperáveis" (Mello, 1991). 
 A influência desse perverso quadro social sobre a atuação do serviço de 
saúde se faz ainda mais agravada, pois os jovens que chegam para o atendimento 
trazem consigo não apenas as marcas da miséria, como também evidenciam 
associadamente outras formas de violência. O trabalhador em saúde confronta-se 
hoje, mais do que nunca, com a necessidade de prestar ajuda a jovens explorados e 
feridos no trabalho; sujeitos à prostituição; expostos a abusos sexuais, físicos e 
psicológicos; vítimas de sequestros, roubos, tentativas de homicídio; ou feridos 
mortalmente. Os dados de estudos sobre o tema revelam que são crescentes os 
eventos violentos ocorridos no ambiente familiar, comunitário ou institucional contra 
crianças e adolescentes hoje no Brasil. Diante de quadro tão intrincado, o 
profissional muitas vezes se sente perplexo e sem apoio para intervir frente aos 
casos mais complexos. 
Nesse sentido, é urgente a criação de políticas e ações de saúde que 
respondam a essas questões, e apontem caminhos para quem atua no cotidiano dos 
serviços. O foco na violência intrafamiliar se deve a sua magnitude e relevância, 
como se verá a seguir. Para viabilizar o estabelecimento de diretrizes de caráter 
nacional, optou-se por aprofundar o tema da violência intrafamiliar, já que: é a mais 
frequentemente notificada aos serviços de atenção à infância e adolescência. Das 
6.056 denúncias de violência reportadas ao Programa SOS Criança da Secretaria de 
Estado do Menor, em São Paulo, de fevereiro de 1988 a março de 1990, 64% foram 
devidas à violência doméstica; a violência doméstica está frequentemente por detrás 
de outras formas de violência. 
 
2.2 TIPOS DE VIOLÊNCIA INFANTIL 
O conceito de violência é complexo, implica vários elementos. As formas de 
violência são tão numerosas, que é difícil elencá-las de modo satisfatório. Diversos 
14 
 
profissionais, especialmente na mídia, manifestam-se sobre ela, oferecem 
alternativas de solução; todavia, a violência surge na sociedade sempre de modo 
novo e ninguém consegue evitá-la por completo. Nesse panorama, cabe à filosofia, 
de modo especial à ética, refletir sobre suas origens, a natureza e as consequências 
morais e materiais. 
 
2.2.1 Violência física 
Corresponde ao uso de força física no relacionamento com a criança ou o 
adolescente por parte de seus pais ou por quem exerce de autoridade no âmbito 
familiar. Estarelação de força baseia-se no poder disciplinador do adulto e na 
desigualdade adulto-criança. A literatura é muito controvertida em termos de quais 
atos podem ser considerados violentos: a simples palmada no "bumbum", agressões 
com armas ou instrumentos e até a imposição de queimaduras, socos, pontapés, 
entre outros. 
A falta de consenso sobre atos e comportamentos considerados violentos se 
relaciona ao fato do tema estar amplamente permeado por 12 padrões culturais. A 
sociedade americana enfrenta a questão da violência física desde o século XIX, 
através de política de atenção e campanhas preventivas. Nos anos 60 do presente 
século, a medicina "redescobre" o tema, com os doutores Kempe e Silverman, que 
ao trazer o problema para a saúde, batizando-o com o nome "Síndrome da Criança 
Espancada", diagnosticada através de evidências radiológicas. Num trabalho 
científico, esses autores analisam: "a incidência maior desta Síndrome nas crianças 
com menos de 3 anos, a sua gravidade, o aparecimento de sequelas pós-
hematomas sub durais, num total de 749 casos. Além de definirem os elementos 
clínicos e radiológicos que conduzem ao diagnóstico, insistem na discordância entre 
as informações ministradas pelos pais e os achados clínicos" (Guerra, 1985). 
Na verdade, essa Síndrome refere-se usualmente a crianças de baixa idade, 
que sofreram ferimentos inusitados, fraturas ósseas, queimaduras, entre outros tipos 
de Lesões. Geralmente essas Lesões ocorrem em épocas diversas, bem como em 
diferentes etapas, e sempre são inadequada ou inconsistentemente explicadas pelos 
pais. Em termos de classificação do problema na área da saúde, mais 
especificamente com relação ao Código Internacional de Doenças (CREMERJ, 
15 
 
1988) é-lhe atribuído o código E 967 que se enquadra dentro dos homicídios, sob o 
título síndrome da criança espancada e outras formas de maus-tratos. 
Entretanto, há inúmeros casos de crianças e de adolescentes que sofrem 
violência física e que não se enquadram nessa Síndrome. Portanto, entender esse 
fenômeno apenas enquanto Síndrome da Criança Espancada seria, no mínimo, 
reduzir a dimensão alcançada pela problemática. Isso quer dizer que já é hora de se 
detalhar a codificação existente para que ela se torne mais abrangente e adequada 
à realidade. Um tipo específico de violência física que tem sido relatado 
recentemente é a Síndrome de Münchausen. Segundo Santoro e Guerra (1991): 
"em 1977, o Dr. Roy Meadow atribuiu o nome de Síndrome de Münchausen by proxy 
(por procuração) aos casos em que havia a fabricação de uma história clínica ou de 
sintomas para uma criança, feita pelos pais, com o objetivo de conseguirem 
avaliações médicas desnecessárias, bem como procedimentos clínicos e 
hospitalizações. Várias maneiras são utilizadas pelos pais para produzirem tal 
Síndrome, as quais variam desde histórias falsas e casos em que estes produziram 
ativamente sintomas nos filhos." 
 
2.2.2 Violência sexual 
Abuso sexual infantil é todo envolvimento de uma criança em uma atividade 
sexual na qual não compreende completamente, já que não está preparada em 
termos de seu desenvolvimento. Não entendendo a situação, a criança, por 
conseguinte, torna-se incapaz de informar seu consentimento. São também aqueles 
atos que violam leis ou tabus sociais em uma determinada sociedade. O abuso 
sexual infantil é evidenciado pela atividade entre uma criança com um adulto ou 
entre uma criança com outra criança ou adolescente que pela idade ou nível de 
desenvolvimento está em uma relação de responsabilidade, confiança ou poder com 
a criança abusada. É qualquer ato que pretende gratificar ou satisfazer as 
necessidades sexuais de outra pessoa, incluindo indução ou coerção de uma 
criança para engajar-se em qualquer atividade sexual ilegal. Pode incluir também 
práticas com caráter de exploração, como uso de crianças em prostituição, o uso de 
crianças em atividades e materiais pornográficos, assim como quaisquer outras 
práticas sexuais. 
16 
 
Para Azevedo e Guerra (1988), esta violência configura-se como: "todo ato ou 
jogo sexual, relação hétero ou homossexual, entre um ou mais adultos e uma 
criança ou adolescente, tendo por finalidade estimular sexualmente esta criança ou 
adolescente ou utilizá-los para obter uma estimulação sexual sobre sua pessoa ou 
de outra pessoa". Segundo essas autoras, nessas ocorrências - em que há sempre 
o prazer direto ou indireto do adulto, conseguido pela coerção ou sedução - a 
criança é sempre vítima e não poderá ser transformada em RÉ. O diagnóstico deve 
ser realizado através de uma história clínica minuciosa. 
O exame clínico da genitália deve ser cuidadoso, podendo evidenciar 
anormalidades anais e dilatação himenial. Algumas situações são fortemente 
suspeitas de violência sexual, mesmo com a negação por parte da 
criança/adolescente, como corrimentos, dor abdominal, encoprese, anel himenial 
alargado ou muito suspeito de sequela e dilatação himenial reflexa permanente 
(Santos, 1991). 
Alguns outros elementos podem definir mais claramente o que pode ser 
considerado abuso sexual contra crianças. O primeiro deles se relaciona com o 
controle que a pessoa que abusa, pois a mesma exerce controle sobre a vítima. 
Esse controle pode ser exercido de várias maneiras e algumas delas serão 
explicitadas a seguir. 
Esse poder pode se relacionar a um maior conhecimento ou inteligência da 
pessoa que abusa, devido ao seu desenvolvimento mais avançado que o da vítima. 
Além disso, quando está presente o uso de força física, ameaças ou exploração da 
autoridade, independente das diferenças de idade ou do nível de desenvolvimento, 
pode-se dizer que há uma relação de abuso. Quando todos estes elementos estão 
presentes, interferem na capacidade de uma criança (seja por não compreender a 
situação ou por ser violentada fisicamente, etc.), e quando não há capacidade de 
decidir sobre uma situação, neste caso uma relação sexual, pode-se afirmar que há 
uma situação de abuso (AMAZARRAY & KOLLER, 1999). 
A pedofilia é caracterizada como uma patologia sexual inserida no grupo das 
parafilías, que são patologias psiquiátricas caracterizadas por fantasias sexuais 
recorrentes e intensas com pessoas "não autorizadas", animais ou objetos. O 
indivíduo portador deste tipo de distúrbio experimenta fantasias intensas e excitantes 
e impulsos sexuais cíclicos envolvendo crianças. Além disso, o portador de pedofilia 
pode chegar a manter atividades de caráter sexual com crianças pré-púberes (de 
17 
 
zero aos nove anos). Para ser classificado como pedófilo, o indivíduo precisa ter 
pelo menos 16 anos e ter uma diferença de idade em relação à vítima de pelo 
menos cinco anos, critério esse estabelecido pelo Manual diagnóstico e Estatístico 
de Transtornos Mentais (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 1994). 
 Pessoas podem ter fantasias sexuais envolvendo crianças ou se sentirem 
excitados por elas, sem, entretanto, chegar a cometer o ato de abuso propriamente 
dito. As características atribuídas aos pedófilos dizem respeito tanto às tendências 
psicológicas quanto aos comportamentos sexuais propriamente ditos entre adultos e 
crianças. Assim, indivíduos portadores desse transtorno podem apresentar apenas 
os desejos e fantasias com crianças, sem se tornarem abusadores. 
A respeito dos aspectos legais, há ainda uma dificuldade. O termo abuso 
sexual aprece em livros de medicina legal e em textos da psicologia, e em apenas 
um artigo do Estatuto da Criança e do Adolescente. Contudo, no Código Penal esse 
termo não é usado e as definições mais atuais muitas vezes não correspondem ao 
que está na lei. Abaixo, serão listadas algumas definições sobre o que seja cada 
alguns destes crimes definidos na lei: 
 
Estupro - Art. 213 - Constranger mulher à conjunção carnal, mediante 
violência ou grave ameaça; Atentado violento ao pudor 
 Art. 214 - Constranger alguém, mediante violênciaou grave ameaça, 
a praticar ou permitir que com ele se pratique ato libidinoso diverso da 
conjunção carnal; 
Posse mediante fraude - Art. 215 - Ter conjunção carnal com mulher, 
mediante fraude; 
Atentado ao pudor mediante fraude - Art. 216 - Induzir alguém, 
mediante fraude, a praticar ou submeter-se à prática de ato libidinoso 
diverso da conjunção carnal; 
Corrupção de menores - Art. 218 - Corromper ou facilitar a corrupção 
de pessoa maior de 14 (catorze) e menor de 18 (dezoito) anos, com 
ela praticando ato de libidinagem, ou induzindo-a a praticá-lo ou 
presenciá-lo. 
Presunção de violência - Art. 224 - Presume-se a violência, se a 
vítima: 
a) não é maior de 14 (catorze) anos; 
b) é alienada ou débil mental, e o agente conhecia esta circunstância; 
c) não pode, por qualquer outra causa, oferecer resistência. 
 
Estes não são nem todos os crimes sexuais e nem todas as circunstâncias 
atenuantes ou agravantes dos crimes sexuais definidos pela lei. 
 
2.2.3 Violência psicológica 
 
18 
 
Estudiosos relatam que no desenvolvimento psicológico infantil mostram que 
a violência psicológica acarreta ataques ao ego da criança, com sérios danos e 
distorções introduzidas em seu mapa psicológico sobre o mundo. Com essa 
perspectiva, Garbarino et al. elencaram cinco importantes comportamentos parentais 
tóxicos do ponto de vista psicológico infantil para auxiliar na detecção deste abuso: 
 
Rejeitar (recusar-se a reconhecer a importância da criança e a 
legitimidade de suas necessidades), isolar (separar a criança de 
experiências sociais normais impedindo-a de fazer amizades, e 
fazendo com que a criança acredite estar sozinha no mundo); 
aterrorizar (a criança é atacada verbalmente, criando um clima de 
medo e terror, fazendo-a acreditar que o mundo é hostil); ignorar 
(privar a criança de estimulação, reprimindo o desenvolvimento 
emocional e intelectual) e corromper (quando o adulto conduz 
negativamente a socialização da criança, estimula e reforça o seu 
engajamento em atos antissociais). 
 
Outra contribuição deste autor refere-se ao contexto cultural e social onde 
ocorre a violência, sendo consenso de que o reconhecimento de maus-tratos 
psicológicos depende substancialmente do contexto em que se está inserido. Nesta 
linha, o reconhecimento de maus-tratos psicológicos será efetuado quando 
comunicar uma mensagem cultural específica de rejeição ou prejudicar relevante 
processo de socialização e desenvolvimento psicológico. Provavelmente, é 
necessário que a conscientização da cidadania esteja bastante desenvolvida para 
que se possa reconhecer essas práticas como violentas. 
Allen et al sinalizam que a violência psicológica tem sido considerada como 
ponto central do abuso infantil e da negligência. Claussen et al. Afirmam que a 
violência psicológica pode causar mais danos no desenvolvimento infantil do que a 
violência física. 
Os possíveis efeitos na criança de conviver com violência psicológica são 
enumerados por vários estudiosos, tais como: incapacidade de aprender, 
incapacidade de construir e manter satisfatória relação interpessoal, inapropriado 
comportamento e sentimentos frente a circunstâncias normais, humor infeliz ou 
depressivo e tendência a desenvolver sintomas psicossomáticos. 
 
2.2.4 Negligência 
 
Compreende-se por negligência o fato da família se omitir em prover as 
necessidades físicas e emocionais de uma criança ou adolescente. Após a criação 
19 
 
do ECA no Brasil (Brasil, 1990), aparece uma definição utilizada na proposta 
preliminar de prevenção e assistência à violência doméstica, em que a negligência 
acontece quando os pais ou cuidadores são responsáveis em "omitir em prover as 
necessidades físicas e emocionais de uma criança ou adolescente. Configura-se no 
comportamento dos pais ou responsáveis quando falham em alimentar, vestir 
adequadamente seus filhos, medicá-los, educá-los e evitar acidentes" (Brasil, 1993, 
p. 14). 
Guerra afirma que a negligência se configuraria: "quando os pais (ou 
responsáveis) falham em termos de alimentar, de vestir adequadamente seus filhos, 
etc., e quando tal falha não é o resultado das condições de vida além de seu 
controle" (2001, p. 33). Importante ressaltar a necessidade de diferenciar negligência 
e pobreza, na medida em que, na prática, num país com uma estrutura 
socioeconômica como a do nosso, as duas problemáticas muitas vezes se 
confundem. O padrão negligente é aquele cujos pais são fracos tanto em controlar o 
comportamento dos filhos quanto em atender as suas necessidades e demonstrar 
afeto. São pais pouco envolvidos com a criação dos filhos, não se mostrando 
interessados em suas atividades e sentimentos. Pais negligentes centram-se em 
seus próprios interesses, tornando-se indisponíveis enquanto agentes 
socializadores. 
A negligência pode se apresentar como moderada ou severa. O abandono 
parcial ou temporário promovido pelos adultos é uma das formas de negligência. 
Finalizando, é preciso entender que o fenômeno da violência intrafamiliar ultrapassa 
um domínio exclusivo de uma área do conhecimento. Para analisá-lo, e nele intervir, 
é necessária a colaboração de diferentes profissionais, assim como de diferentes 
disciplinas. É preciso perceber, com clareza, tanto as características gerais do 
fenômeno, quanto as peculiaridades de que ele se reveste em cada realidade em 
que ocorre, ou seja, é preciso se atentar para as múltiplas determinações do singular 
e do coletivo. Por outro lado, todos os que trabalham com esta problemática têm que 
ter um compromisso de resgatar a sua dimensão histórica e desvendar as 
possibilidades de mudança da realidade. 
Destaca-se que a negligência infantil ocorre independentemente da condição 
de pobreza, ela é resultado de déficits de habilidades/comportamentos parentais. E 
isso, explicaria, por exemplo, a ocorrência de muitas situações de negligência em 
famílias que não têm dificuldades econômicas. Muitas vezes a negligencia é usada 
20 
 
de forma equivocada para descrever quadros extremos de pobreza, não havendo 
negligência por parte dos pais, mas da sociedade e das condições adversas vividas 
(Martins, 2006). 
 
2.3 A ATUAÇÃO DO ASSISTENTE SOCIAL 
 
Para entendermos o trabalho do assistente social é preciso identificar primeiro 
o conceito de trabalho. De acordo com o pensamento marxista, “o trabalho é a 
atividade fundante da liberação do homem; a liberdade não é apenas um estado ou 
uma condição do indivíduo, tomado subjetivamente, mas uma capacidade 
inseparável da atividade que a objetiva” (BARROCO, 2003, p.62). 
Conforme Martinelli (2000), o serviço social surgiu no Brasil em 1930, com o 
apoio da igreja católica, inicialmente inspirado no modelo filantrópico europeu. 
Nasceu através do domínio da burguesia, visando os interesses capitalistas para 
obter um controle da sociedade, com a intenção de servir o capital, pautado por 
princípios de caridade e moralidade, assegurando a efetivação na história. Diante 
dessa perspectiva salienta-se que o profissional assistente social trabalha dentro 
das relações sociais em conjunto com o capitalismo de forma contraditória. 
O surgimento do profissional de assistente social está para além da divisão de 
classes, é algo mais complexo no intuito de atender as demandas da sociedade 
relacionado ao pauperismo exacerbado, gerado pela exploração do homem pelo 
homem, sendo uma determinação histórica, colaborando para o surgimento do 
objeto do profissional, ou seja, as expressões da questão social, sendo assim: 
 
O objeto de trabalho, aqui considerado, é a questão social. É 
ela, em suas múltiplas expressões, que provoca a necessidade 
da ação profissional junto a criança e ao adolescente, ao idoso, 
[...] essas expressões da questão social são a matéria prima ou 
objeto do trabalho profissional (IAMAMOTO, 2015. P.62) 
 
Dentre as problemáticas existentes o assistente social utiliza de sua força de 
trabalho paraintervir em prol da sociedade, contribuindo com o processo de 
mudança social, promovendo meios e subsídios para a comunidade, através do 
fazer profissional. 
A lei de nº 8.662, 7 de junho de 1993 que regulamenta a profissão de Serviço 
Social, em seu artigo 1º assinala que o assistente social tem livre exercício da 
21 
 
profissão em todo território nacional. Também é explícito que, só poderão exercer a 
função de assistente social aqueles que possuírem diploma de graduação em 
Serviço Social e, o registro profissional no Conselho Regional de Serviço Social 
CRESS. 
Ainda, o Código de Ética profissional dos assistentes sociais destaca as 
seguintes funções: analisar, executar, elaborar, coordenar planos, programas e 
projetos para viabilizar os diretos da população, bem como o seu acesso às políticas 
públicas vigentes. Destarte, o assistente social é um profissional que tem como 
objeto de trabalho a questão social com suas diversas expressões, formulando e 
implementando propostas para seu enfrentamento, por meio das políticas sociais, 
públicas, empresariais, de organizações da sociedade civil e movimentos sociais” 
(PIANA, 2009, p. 86). 
 De acordo com Guerra (2000), as transformações no serviço social sofridas 
ao longo do processo histórico foram moldando e evoluindo a profissão do 
assistente social, deixando de ser assistencialista, passando por uma transição e 
rompendo com o caráter conservador, lugar de atuação do profissional na garantia e 
efetivação de direitos, relacionando assim as dimensões da prática profissional, 
sendo elas, teórico-metodológico, ético político e técnico operativo, atendendo às 
demandas da realidade social. Estas dimensões são instrumentalidades da prática 
profissional do assistente social, considera-se que essas três dimensões estão 
interligadas, porém cada uma tem suas próprias características e particularidades, 
sendo de grande importância para a atuação profissional, entre a teoria e a prática. 
 [...] a instrumentalidade é uma propriedade e/ou capacidade que 
a profissão vai adquirindo na medida em que concretiza objetivos. Ela 
possibilita que os profissionais objetivem sua intencionalidade em 
respostas profissionais. É importante por meio desta capacidade 
adquirida no exercício profissional, que os assistentes sociais 
modificam, transformam, alteram as condições objetivas e subjetivas 
e as relações interpessoais e sociais existentes num determinado 
nível da realidade social: no nível do cotidiano (GUERRA, 2000, p. 
22) 
 
(a) dimensão histórico-metodológica trata de um conjunto de conhecimentos 
teóricos e explicações enquanto sua totalidade histórica. (b) dimensão ético-política 
refere-se à apreensão dos compromissos ético-políticos a luz dos valores e 
princípios expressos no código de ética profissional, de 1993. Dimensão esta que 
defende: Ampliação e consolidação da cidadania e garantia dos direitos sociais; 
Defesa intransigente dos direitos humanos; Posicionamento em favor da equidade e 
22 
 
justiça social; Compromisso com a qualidade dos serviços prestados à população, 
entre outros. (c) dimensão técnico-operativa é a dimensão que permite a apreensão 
das competências e habilidades através de instrumentais. 
A viabilização dessas ferramentas torna- se indispensável na prática 
profissional sendo elas: visitas, relatórios, perícias técnica, laudos, pareceres, escuta 
qualificada e encaminhamento para as redes de proteção. Desta forma as 
dimensões são apenas um guia para direcionar o profissional sobre; porque fazer, o 
que fazer e como fazer para poder interferir na realidade de maneira adequada, com 
clareza e domínio, frente às demandas emergentes e preventivas, sendo um 
profissional crítico, criativo, propositivo e ético, desenhando um status de 
competência acerca da realidade cotidiana. 
Segundo Pereira (2006 apud FURNESS, 1991, p. 38), a partir do momento 
em que o profissional intervém em casos de violência sexual contra criança no 
âmbito familiar, ocorre um rompimento da barreira do silêncio, e a família passa a 
ser vista por um olhar profissional, que realiza um trabalho protetivo a criança, 
respaldado dentro dos parâmetros legais e externo que influencia diretamente na 
intervenção. Diante da descoberta da violação, ocorre uma interligação entre o 
profissional e a família. 
Na contemporaneidade a prática profissional do assistente social diante das 
expressões da questão social em suas mais diversas facetas, precisa ser realizada 
de forma crítica, reflexiva, interventiva para que se consiga mudar a realidade em 
que se encontram os usuários, principalmente se os mesmos estiverem diante de 
um convívio familiar de violência. 
No ano de 1993, é aprovada a Lei Orgânica da Assistência Social – LOAS, 
que insere a Assistência Social como política pública, parte integrante da 
Seguridade Social, junto com a Saúde e a Previdência. Sendo direito do cidadão e 
dever do Estado garantir o atendimento às necessidades básicas, de acordo com o 
artigo 1º da lei 8.742 de 1993. No que tange a assistência social: 
A Política de Assistência Social avançou no país ao longo dos anos, 
nos quais foram e vêm sendo implementados mecanismos 
viabilizadores da construção de direitos sociais para a população 
usuária, a exemplo da Política Nacional de Assistência Social 
(PNAS/2004) e do Sistema Único de Assistência Social (SUAS) 
através desses instrumentos, foi estabelecido, também, um novo 
desenho institucional e de gestão (ALVES; CAMPOS 2012, p. 15). 
 
23 
 
 Neste contexto o assistente social atua por meio da operacionalização de 
políticas públicas que afastam crianças e adolescentes das condições desumanas 
onde se encontram envolvidos, a fim de realizar com as vítimas um trabalho visando 
à socialização, mudança de vida, não só para eles, mas também para sua família, 
sendo o assistente social de suma importância nesse processo de garantia de 
direitos. 
Para essa efetivação o Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA 
(BRASIL, 1990) é o instrumento legal de referência, nesse contexto, os direitos das 
crianças e adolescentes passam a ser garantidos pela atuação de um sistema 
integrado em rede, que atende e acompanha casos de violação de direitos. Este 
sistema é formado pelo Conselho Tutelar, por órgãos da justiça como a Promotoria 
de Justiça da Infância e Juventude, a Vara da Infância e da Juventude, o Ministério 
Público, além da rede sócio assistencial formada pelo Centro de Referência 
Especializado de Assistência Social (CREAS), pelos equipamentos de saúde e 
educação, que muitas vezes são a porta de entrada dos casos de violência 
doméstica, pois realizam grande parte das notificações (FERREIRA, 2013). 
A lei nº 12.435/2011 que dispõe sobre a organização da Assistência Social, 
define o Centro de Referência Especializado de Assistência Social – CREAS como 
sendo uma unidade pública estatal de abrangência municipal ou regional que tem 
como papel construir-se em lócus de referência, nos territórios, da oferta de trabalho 
social especializado no SUAS famílias e indivíduos em situação de risco pessoal e 
social, por violação de direitos. Por isso o sujeito que se encontra em situação de 
violência pode ser atendido no CREAS, porque há a violação de direitos. Por se 
tratar de criança e adolescente a situação requer mais cautela e, também 
acompanhamento junto à família. 
O trabalho do assistente social nesta política pública tem de ser articulado 
com a rede de proteção dos serviços socioassistenciais, realizando parcerias para 
que se efetive em uma atuação qualitativa com os usuários atendidos no CREAS. 
Ainda, no Código de Ética dentre as competências do assistente social está prestar 
orientação social a indivíduos, encaminhar providências no sentido de identificar os 
recursos existentes na garantia dos direitos. Neste sentido o assistente social, seria 
uma espécie de elo entre o usuário e o direito social.24 
 
2.4 A INFÂNCIA E AS POLITICAS PUBLICAS 
É constante no Brasil a ocorrência de casos de violência intrafamiliar 
praticados contra a população infanto juvenil, e, a despeito de a legislação brasileira 
garantir a proteção integral desses menores, seus direitos fundamentais continuam a 
ser desrespeitados, ferindo sua dignidade. A Declaração Universal dos Direitos 
Humanos de 1948, ao reconhecer a dignidade, a liberdade e a igualdade como 
inerentes a todos os membros da família, preceituou, no art. XXV, que “a infância 
tem direito a cuidados e assistência especiais”, sendo que “todas as crianças, 
nascidas dentro ou fora do matrimônio, gozarão da mesma proteção social”. Essa 
especial tutela conferida à criança tem como fundamento a dignidade da pessoa 
humana, a razão de ser dos direitos fundamentais. 
Segundo Ingo Wolfgang Sarlet, a dignidade da pessoa humana é a qualidade 
intrínseca e distintiva de cada ser humano que o faz merecedor do mesmo respeito 
e consideração por parte do Estado e da comunidade, implicando, neste sentido, um 
complexo de direitos e deveres fundamentais que assegurem a pessoa tanto contra 
todo e qualquer ato de cunho degradante e desumano, como venham a lhe garantir 
as condições existenciais mínimas para uma vida saudável, além de propiciar e 
promover sua participação ativa e corresponsável nos destinos da própria existência 
e da vida em comunhão com os demais seres humanos. 
 O princípio da dignidade da pessoa no âmbito do Direito de Família se 
concretiza a partir do momento em que os entes familiares colaboram para o 
desenvolvimento da personalidade de cada membro, evitando, assim, a prática de 
qualquer tipo de violência no seio do lar. É inadmissível que o governo brasileiro 
fique inerte diante de tamanha violação aos direitos infanto juvenis, sendo 
necessária a adoção de políticas públicas que, em primeiro lugar, objetivem a 
prevenção da violência, dando-se primazia, destarte, ao princípio da dignidade da 
pessoa humana. Etimologicamente, o vocábulo prevenir é de origem latina – 
praevenire, e significa “vir antes”, “tomar a dianteira”. 
No campo das políticas públicas, a prevenção não se limita às ações que têm 
por escopo evitar a reiteração de determinados comportamentos, abrangendo, 
outrossim, medidas que colaborem para que tais comportamentos sejam 
denunciados, e, posteriormente, a adoção de providências quanto ao 
25 
 
acompanhamento que deve ser disponibilizado às pessoas que foram prejudicadas 
por essas práticas, com vistas a abrandar as sequelas ocasionadas às vítimas. 
Victoria Lidchi explica que as políticas públicas de prevenção, inclusive no 
que se refere aos serviços prestados à criança e ao adolescente, podem ser 
aplicadas em três níveis: primário, secundário e terciário. O primário envolve 
esforços no sentido de impedir que a violência aconteça, sobretudo por meio de 
programas educacionais. 
 A prevenção secundária destina-se às famílias nas quais é verificada a 
presença de fatores de risco para a prática do abuso, como alcoolismo e 
desemprego. Por último, o terceiro nível diz respeito às políticas que visam diminuir 
as consequências provocadas pelos episódios de violência, tanto em relação à 
criança quanto aos demais entes familiares. Para que haja políticas públicas efetivas 
é imprescindível que se tenha ciência do grau de incidência da violência nas famílias 
brasileiras; de onde existe a maior concentração do fenômeno e de quais os fatores 
que levam os pais e responsáveis a vitimizarem os filhos, dentre outras informações 
que direcionem os recursos financeiros para programas efetivos, em consonância 
com a realidade de cada local. Mas, para isso, o governo federal, bem como os 
estaduais e municipais, devem investir em pesquisas de campo, no levantamento de 
dados acerca da violência no Brasil, sobretudo diante da precariedade desse tipo de 
informação no território nacional. 
Ressalte-se, ainda, que é impossível proceder a um levantamento do mapa 
da violência contra menores no Brasil, ou mesmo implementar políticas públicas de 
prevenção, se não houver um envolvimento articulado em rede de todas as 
entidades e órgãos que trabalham na defesa dos direitos da criança e do 
adolescente, sejam públicos ou privados, em parceria com a sociedade civil. As 
redes de combate a esse tipo de violência têm um papel fundamental de 
transformação social, em decorrência de que, estabelecendo vínculos horizontais de 
complementaridade e interdependência, superam a pouco efetiva atuação 
individualista de determinadas instituições, permitindo a canalização dos recursos 
públicos e privados em programas que atendam à população de forma integral, com 
políticas sociais de prevenção em todos os níveis – primário, secundário e terciário 
Das políticas públicas de prevenção primária e secundária Os programas de 
prevenção primária visam reduzir a incidência da violência intrafamiliar, e isso pode 
ser feito por meio da conscientização da população acerca dos efeitos nocivos 
26 
 
dessa prática; do oferecimento de cursos que ensinem aos pais como educar os 
filhos de uma forma não violenta; da instrução às crianças e aos adolescentes sobre 
como se defender de abusos e a quem denunciar etc. 
Já a prevenção em nível secundário envolve meios de identificar as crianças 
e adolescentes mais vulneráveis, bem como desenvolver a habilidade de 
diagnosticar se um menor está sofrendo violência dentro do seu lar, procedendo aos 
encaminhamentos necessários. A conscientização é fundamental no combate à 
violência, sendo uma estratégia de cunho social, em decorrência do fato de que a 
legitimação do uso da força física e dos maus-tratos psicológicos, por exemplo, na 
educação dos filhos é um padrão cultural que exige mudança de mentalidade. No 
caso do abuso sexual, o tabu acerca de tal assunto impede discussões mais 
profundas. Para uma efetiva conscientização, a mídia é importante aliada, visto que 
o seu alcance é amplo e atinge todas as faixas etárias. Outra estratégia de 
prevenção primária é a educação da população quanto ao planejamento familiar, 
evitando, assim, que famílias desestruturadas tenham filhos e lhes causem risco. 
Além disso, é importante que a mulher grávida, independentemente de haver 
planejado ou não a gestação, receba um adequado acompanhamento pré e pós-
natal, como assegurado no art. 8º do Estatuto da Criança e do Adolescente. Esse 
acompanhamento não se limita aos cuidados médicos, mas ensina à mãe acerca 
das necessidades do recém-nascido, de suas fases de desenvolvimento, da 
necessidade que este tem de carinho, afeto e compreensão etc. O desenvolvimento 
de estratégias de prevenção nas escolas é efetivo. Isso porque é nas salas de aula 
que as crianças e adolescentes passam grande parte do seu tempo. Por outro lado, 
a convivência dos professores com os alunos lhes dá a habilidade de verificar 
quando alguma criança ou adolescente estão com problemas. No entanto, a 
despeito dessas vantagens, são poucos os centros de ensino que trabalham com a 
prevenção da violência, em decorrência da falta de capacitação técnico-profissional. 
Para um combate eficiente da violência intrafamiliar, as políticas públicas de 
prevenção primária e secundária também devem voltar-se aos profissionais da 
saúde, sobretudo médicos e enfermeiros, que podem contribuir no diagnóstico de 
casos de maus-tratos, visto que têm condições de descobrir e examinar as marcas 
físicas deixadas pela violência. Conforme a redação do art. 245 do Estatuto da 
Criança e do Adolescente, o médico que deixar de notificar à autoridade competente 
27 
 
casos suspeitos ou confirmados de maus-tratos a menores pratica uma infração 
administrativa punida com multa. 
No entanto a falta de capacitação médica para diagnosticar se uma criança 
está ou não sendo vítima de violência. As principais dificuldades com que os 
profissionais da saúde sedeparam quanto à obrigatoriedade da notificação dos 
casos suspeitos ou confirmados de violência são a falta de preparo; o medo de 
terem que testemunhar em um processo judicial; a visão de que não se deve intervir 
na vida privada das famílias; a desconfiança quanto ao encaminhamento que será 
dado à criança; a falta de suporte para um diagnóstico mais aprofundado, dentre 
outras. Os advogados podem, igualmente, contribuir na prevenção da violência 
intrafamiliar, pois recebem frequentemente em seus escritórios disputas familiares 
que envolvem algum tipo de abuso contra menores. 
Contudo, o preconceito e a tendência de defender os interesses dos pais 
impedem que o advogado seja um aliado, prejudicando a vítima. Por isso, é 
essencial que esses profissionais também recebam treinamento. Ressalte-se, ainda, 
a atuação de organizações não governamentais comprometidas com a defesa dos 
direitos da infância e da adolescência, as quais podem atuar na prevenção por meio 
da oferta de oficinas que ensinem aos pais formas alternativas de disciplinar seus 
filhos, informando-os acerca dos efeitos nefastos da violência intrafamiliar, ou pela 
disponibilização de grupos de autoajuda para os pais, para os agressores e para as 
vítimas. 
É importante a participação social e comunitária na vida das famílias, pois 
tende a criar laços de proteção mútua, afastando o isolamento social. A comunidade 
deve fomentar e participar ativamente de movimentos a favor da não violência, 
proporcionando apoio financeiro e moral às entidades paraestatais que trabalham na 
defesa dos direitos da criança e do adolescente, além de oferecer trabalhos 
voluntários em prol desse objetivo. Note-se que todas as ações de prevenção da 
violência intrafamiliar necessitam da colaboração de profissionais das mais diversas 
áreas do conhecimento. A conscientização quanto aos efeitos nefastos dos maus-
tratos perpetrados contra o infante, a capacitação de professores e médicos, o 
desenvolvimento de habilidades de autodefesa nas crianças, a oferta de cursos para 
o fortalecimento das relações familiares, são programas que necessitam da atuação 
conjunta de médicos, professores, psicólogos, enfermeiros, assistentes sociais, 
28 
 
advogados, comprometidos com a tutela integral dos menores e o respeito pela 
dignidade deles. 
Das políticas públicas de prevenção terciária Uma vez que a criança ou o 
adolescente tenha sofrido maus-tratos intrafamiliares, as políticas públicas devem 
ser voltadas para a minimização das consequências da violência. Isso implica 
estratégias de prevenção terciária, que envolvem, por exemplo, o atendimento 
psicoterápico da vítima, dos familiares e do agressor, o encaminhamento jurídico do 
caso e o acompanhamento social de toda a família. A complexidade do fenômeno da 
violência intrafamiliar e as sequelas que acarreta na vítima, na família e na 
sociedade, exigem uma atuação interdisciplinar, em que diversos atores rompem 
com o isolamento de suas áreas de conhecimento para alcançar uma meta única: 
tutelar a criança vitimada e, na medida do possível, colaborar para que o abuso não 
prejudique ainda mais o desenvolvimento de sua personalidade. Cada município 
deve contar com programas de atendimento sócio familiar, de iniciativa pública ou 
privada. 
O essencial é que as crianças que sofreram violência intrafamiliar recebam 
um acompanhamento psicológico, pedagógico, social e psiquiátrico, por meio de 
diferentes abordagens: psicoterapia de família, objetivando fortalecer os vínculos 
familiares; psicoterapia individual com a vítima, enfocando questões de identidade, 
sentimento de revolta, culpa, vergonha etc. As equipes da saúde da família podem 
exercer papel fundamental no tratamento dos danos ocasionados às vítimas de 
abuso sexual e de violência física, em decorrência de que podem atender crianças e 
adolescentes que nunca teriam condições ou coragem de procurar um hospital ou 
um posto de saúde. 
Em complementação ao atendimento psicológico e médico, não só a vítima 
como toda a família devem receber acompanhamento social. Isso significa verificar a 
frequência e o desempenho da criança ou do adolescente na escola, constatar se os 
pais estão empregados, se há recursos financeiros suficientes para suprir as 
necessidades básicas etc. Além disso, é interessante inserir o infante em atividades 
de esporte, lazer, cultura, profissionalização, dentre outras formas de evitar o 
isolamento da família e, ao mesmo tempo, aumentar a autoestima da vítima. 
É papel do Conselho Tutelar verificar se existem programas de atendimento e 
reinserção social da vítima e da família no âmbito do município. Em caso negativo, 
deve solicitar ao Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente que 
29 
 
envie proposta orçamentária ao Poder Executivo, a fim de que essa falta seja 
suprida, conforme dispõe o art. 136, inciso IX, do Estatuto da Criança e do 
Adolescente. Ressalte-se que as políticas públicas de prevenção terciária também 
devem envolver o Poder Judiciário, haja vista que esse órgão é o responsável pela 
adoção de medidas protetivas mais drásticas que estejam em consonância com o 
melhor interesse da criança vitimada. 
Todas as medidas adotadas pelo Poder Judiciário devem ser acompanhadas 
por uma equipe interdisciplinar composta por psicólogos, médicos e assistentes 
sociais. Esses profissionais, bem como os juízes, os promotores, os advogados e os 
serventuários da Justiça que atuam nessa área precisam de capacitação e 
treinamento, pois uma análise equivocada de qualquer caso pode comprometer a 
integridade psicofísica do infante, privando-o das chances de desenvolver sua 
personalidade de modo saudável. 
Os artg. 150 e 151 do Estatuto da Criança e do Adolescente estabelecem a 
necessidade de o Poder Judiciário destinar recursos específicos para a manutenção 
de uma equipe Inter profissional junto à Justiça da infância e da juventude. A função 
desses profissionais seria fornecer subsídios por escrito, mediante laudos, ou 
verbalmente, na audiência, e bem assim desenvolver trabalhos de aconselhamento, 
orientação, encaminhamento, dentre outros. A necessidade de haver a presença de 
um psicólogo que atue junto ao Poder Judiciário nos casos de violência praticada 
contra a criança, haja vista que tal profissional tem treinamento para abordar o 
menor que se sente tão vulnerável e exposto, minimizando problemas graves como 
a depressão infantil, que pode levar, se não tratada a tempo, ao suicídio. 
Com relação ao dever dos pais para com suas crianças e adolescentes, a Lei 
nº 8.069 estabelece, em seu Artigo 22, que incumbe aos pais o dever de sustento, 
guarda e educação dos filhos menores, cabendo-lhes ainda, no interesse destes, a 
obrigação de cumprir e fazer cumprir as determinações judiciais. O não-cumprimento 
injustificado dessa determinação do Estatuto caracteriza também uma forma de 
maus-trato infantil que pode ser punida até com a suspensão ou perda do pátrio 
poder, decretadas judicialmente nos termos do Artigo 24 do Estatuto. 
Nosso entendimento é de que é preciso enfrentar o maus-trato infantil, a partir 
de ações articuladas em 3 eixos: prevenção – proteção – responsabilização. Os 
eixos estão conectados, um viabilizando a existência do outro. A prevenção aparece 
como uma das maneiras de proteger crianças e adolescentes dos maus-tratos 
30 
 
praticados por seus parentes, pais ou responsáveis. Quando buscamos a 
responsabilização desses violadores de direitos, estimulamos e encorajamos outras 
pessoas a fazer o mesmo, a denunciar e a procurar a punição legal para o mesmo, 
com isto provemos a proteção de outras crianças e prevenimos outros casos 
Quando trata da política de atendimento, o Estatuto determina, no inciso III, 
do Artigo 87, que uma das linhas de ação desta política são serviços especiais de 
prevenção e atendimento médico e psicossocial às vítimas de negligência,maus-
tratos, exploração, abuso, crueldade e opressão. Podemos ainda identificar uma 
medida de prevenção na atribuição que tem o Conselho Tutelar, prevista no inciso II, 
do Artigo 136, de atender e aconselhar os pais ou responsável. Se chegar até o 
Conselho a notícia de ameaça de maus-trato infantil, seja por desajuste familiar, seja 
por mera falta de recursos dos pais, que os impeçam de exercer adequadamente o 
pátrio poder, cabe ao Conselho Tutelar orientar esses pais e aplicar aos mesmos 
medidas previstas no Artigo 129, nos incisos de I a VII. Essas medidas são: 
 
 I - encaminhamento a programa oficial ou comunitário de promoção à 
família; II – inclusão em programa oficial ou comunitário de auxílio, 
orientação e tratamento a alcoólatras e toxicômanos; III- 
encaminhamento a tratamento psicológico ou psiquiátrico; IV – 
encaminhamento a cursos ou programas de orientação; V – 
obrigação de matricular o filho ou pupilo e acompanhar sua 
frequência e aproveitamento escolar. VI – obrigação de encaminhar a 
criança ou adolescente a tratamento especializado; VII – advertência. 
 
 Além das medidas previstas no Estatuto da Criança e do Adolescente, 
acredita-se que para a prevenção do maus-trato infantil se faz necessário 
desenvolver, articuladamente, um conjunto de ações que destacamos a seguir: a) A 
realização de campanhas permanentes na mídia, esclarecendo sobre o tema, 
informando a população sobre os serviços especializados para as vítimas como 
também formas de prevenção do problema. b) O fomento à realização de estudos e 
de pesquisas, no campo acadêmico e no campo das organizações não-
governamentais, que construam uma tipificação das modalidades de maus-trato 
infantil, própria da realidade brasileira, que levantem suas causas, avaliem os 
programas nacionais e locais voltados para a temática e aponte pistas para o 
enfrentamento dos maus-tratos. c) A formação de pessoal especializado na área do 
maus-trato infantil, estimulando o surgimento de agentes públicos que podem apoiar 
as vítimas com segurança e conhecimento. No rol dos agentes públicos, incluímos 
desde a equipe técnica instalada nas unidades especializadas de atendimento às 
31 
 
vítimas deste tipo de violência, como também agentes sociais comunitários, agentes 
comunitários de saúde, estudantes universitários e aquelas pessoas interessadas no 
assunto. d) A formação de um público de adolescentes, especializados na temática, 
em cujas comunidades possam se tornar verdadeiros agentes sociais de prevenção 
do maus-trato infantil. e) Os Conselhos de Direitos das Crianças e dos 
Adolescentes, em todas as esferas de governo, podem e devem deliberar diretrizes 
e políticas de atendimento que favoreçam a prevenção do maus-trato infantil, 
realizando o devido controle das políticas implementadas. f) O fortalecimento dos 
Fóruns de Defesa dos Direitos das Crianças e dos Adolescentes, importante na 
articulação da sociedade civil organizada para fazer o controle social das ações 
desenvolvidas no enfrentamento do maus-trato, cumprindo com seu papel político de 
pressionar o Estado na busca da priorização tanto do tema quanto do público 
infanto-juvenil. 
 
2.5 A VIOLÊNCIA INFANTIL E A ATUAÇÃO DO ASSISTENTE SOCIAL 
 O profissional de Serviço Social tem como objeto de seu trabalho a questão 
social, que se representa através das inúmeras expressões, sendo uma delas a 
violência. Portanto tais profissionais detêm do caráter interventivo e para intervir nas 
expressões da questão social necessitam de conhecimento teórico-metodológico, 
ético-político e técnico-instrumental; como traz Iamamoto: 
 
 O Serviço Social na contemporaneidade teve o desafio de 
decifrar os novos tempos, que exigiu um profissional qualificado, 
não sendo apenas crítico e reflexivo, mas com suporte teórico e 
metodológico para embasar-se em suas críticas e diante da 
realidade, construir propostas de trabalhos criativos, pois da 
Questão Social (desigualdade, desemprego, exclusão e pobreza) 
estarão presentes em nosso cotidiano. Pensar o Serviço Social 
na contemporaneidade requer os olhos abertos para o mundo 
contemporâneo para decifrá-lo e participar da sua recriação 
(IAMAMOTO, 2012, p.19). 
 
Em qualquer espaço e em qualquer situação, é necessário que o Assistente 
Social conheça a realidade em que irá intervir; para assim compreender a situação 
vigente e buscar ações que provocarão mudanças na questão a ser trabalhada. 
Como refere Iamamoto: O grande desafio na atualidade é, pois, transitar da 
bagagem teórica acumulada ao enraizamento da profissão na realidade, atribuindo, 
ao mesmo tempo, uma maior atenção às estratégias e técnicas do trabalho 
32 
 
profissional, em função das particularidades dos temas que são objetos de estudo e 
ação do assistente social (IAMAMOTO, 2012, p.52). 
 Guerra (1997) ressalta que toda intervenção profissional deve estar 
respaldada por uma teoria social: [...] trata-se de uma escolha que requer o 
conhecimento dos fundamentos filosóficos e epistemológicos, da vinculação dessa 
teoria a um projeto de sociedade e, sobretudo, do sentido que ela possui para as 
forças políticas mais avançadas. E ainda o fazer a que nos referimos exige que o 
profissional detenha o domínio do método que lhe possa servir de guia ao 
conhecimento, conhecimento que lhe possibilitará estabelecer estratégias e táticas 
de intervenção profissional (GUERRA, 1997, p. 61-2). 
Tal constante aproximação entre teoria e prática, pressupõe o movimento 
dialético de ação, reflexão, ação; ou seja, a prática reflexiva; que segundo a teoria 
marxista denomina-se “práxis.” O Assistente Social conduzido pelas dimensões 
técnico operativo, teórico metodológico e ético político é capaz de realizar uma 
leitura crítica da realidade; considerando assim a subjetividade sobre as questões 
em que atua. 
Azevedo e Guerra (1995) comparam a violência doméstica como um iceberg; 
referem à necessidade de olhar a questão além do aparente, além da ponta do 
iceberg problema; é preciso observar a violência no que está submerso, ou seja, em 
suas raízes, em todo o contexto o qual a circunda. A atuação frente a casos de 
violência faz necessária do Assistente Social a postura investigativa para a 
intervenção profissional. 
Conforme salienta Battini (2009) a atitude investigativa do Assistente Social, 
faz com que o profissional ultrapasse o aparente, sendo capaz de evidenciar o 
fenômeno no seu núcleo. Através da postura investigativa é possível que se 
conheça a dinâmica em que se deu a questão, neste caso específico, a violência. No 
decurso da intervenção do Assistente Social, é necessário que o mesmo levante 
todas as informações possíveis, através dos esclarecimentos é possível que o 
profissional identifique as redes de apoio (unidade de saúde, escolas, comunidades, 
entre outros) para auxiliar a vítima, viabilizando assim direitos a esta. 
Como salienta Iamamoto: [...] um dos maiores desafios que o Assistente 
Social vive no presente é desenvolver sua capacidade de decifrar a realidade e 
construir propostas de trabalho criativas e capazes de preservar e efetivar direitos, a 
33 
 
partir de demandas emergentes no cotidiano. Enfim, ser um profissional propositivo 
e não só executivo (IAMAMOTO, 2001, p.20) 
O Serviço Social atua embasado em três dimensões: ético política, teórico 
metodológica e técnico operativa. A dimensão ético-política permite ao profissional 
uma postura norteada pelo Código de Ética da profissão, colocando em prática seus 
onze princípios; a profissão assume um papel de orientação de luta pela viabilização 
dos direitos as vítimas. A dimensão teórico-metodológica dá suporte à prática 
profissional, a medida que proporciona ao profissional norte para produzir ações 
para o enfrentamento das demandas postas nesta área. 
Como evidencia Iamamoto (2012), “a apropriação da fundamentação teórico-
metodológica é caminho necessário para a construçãode novas alternativas no 
exercício profissional”. A dimensão técnico-operativa instrumentaliza a intervenção 
do Assistente Social. Os instrumentais do Serviço Social devem estar relacionados 
às dimensões ético política e teórico metodológicas. 
Tais instrumentais no atendimento as vítimas de violência doméstica 
consistem em: visita domiciliar, reuniões em grupo, equipe multiprofissional, 
documentação, relatórios, parecer social, planejamento de programas, projetos, 
construção de indicadores, pesquisa, articulação em rede (LISBOA e PINHEIRO, 
2005). Faz necessária a articulação entre as dimensões; na medida em que elas se 
complementam diante do fazer profissional. 
Como nos trazem Paiva e Sales (2007), o Código de Ética do Assistente 
Social (CFESS, 1993) em um dos seus princípios fundamentais a “defesa 
intransigente dos direitos humanos e recusa do arbítrio e do autoritarismo” indica o 
objetivo da função do Assistente Social perante a qualquer intervenção profissional. 
Tal princípio trazendo-o para questão da pesquisa implica no papel do Assistente 
Social em garantir a vítima de violência, proteção aos seus direitos, para que estes 
não sejam novamente violados. 
A atuação profissional precisa estar pautada numa dimensão multidisciplinar, 
com uma atuação interdisciplinar, onde cada profissional trará sua contribuição com 
base na sua especificidade apreendida pela sua categoria profissional. Garcia 
(2002) conceitua esses dois modelos, ressaltando que o trabalho em equipe vem 
sendo elencado como o mais propício para o atendimento. Conceituam-se: 
 
Modelo multidisciplinar, cujo principal traço é a justaposição de 
conteúdos de disciplinas heterogêneas, com o objetivo da integração 
34 
 
de métodos, teorias ou conhecimentos. (...) a comunicação entre os 
profissionais baseia-se no dialogo paralelo entre as disciplinas 
(GARCIA,2002:148) 
Modelo interdisciplinar caracteriza-se pela noção de copropriedade, 
de intercâmbio, podendo-se atingir o grau de incorporação dos 
resultados de uma especialidade por outras, com empréstimos 
mútuos de instrumentos e técnicas metodológicas com integração 
real das disciplinas (GARCIA,2002:149) 
 
Em relação à intervenção do Assistente Social, é preciso que o profissional ao 
conversar com a pessoa que fez a denúncia verifique como ocorre toda a dinâmica 
da família, seus laços e atores que compõem a sua rede social. Pereira (2009) vai 
justificar a importância de uma avaliação social nos casos de abuso. O objetivo 
desta avaliação é verificar a dinâmica social da família em questão, as redes de 
apoio de que dispõe, composição familiar, fatores que contribuem para o quadro de 
Abuso Sexual, enfim, toda a teia social da qual esta família faz parte e como isto 
interfere na manutenção da relação incestogênica e quais as possibilidades de 
mudança do quadro. (PEREIRA,2009:28) 
Perceber como são as relações intrafamiliares. Muitas das vezes a dinâmica 
pela qual a família se organiza é violenta. Outras situações já revelaram o oposto, 
onde famílias mal se interagem. Quando a família se configura dessa forma, às 
vezes, a única interação que se tem com a criança é através da atividade sexual 
sendo a única forma de intimidade física carinhosa que a criança tem em casa 
(FAHLBERG:2001). Assim, a criança ficando confusa se aquilo que está 
acontecendo é uma violação ou uma forma de carinho, cuidado e atenção. Todos os 
profissionais envolvidos com a categoria Criança e Adolescente podem fazer tal 
notificação. A denúncia representa: 
A proteção da criança e do adolescente vitimados, pois sem esse 
instrumento eles, já alvo constante de maus-tratos, estão compelidos 
a receber agressões cada vez maiores dos pais ou responsáveis que 
aplica o espancamento, principalmente como método disciplinador. 
(GARCIA, 2002). 
 
A instrumentalização da denúncia se dará através do Estudo Social, onde 
para Fávero (2004), citado por Mioto (2009), o estudo social tem por finalidade 
conhecer com profundidade e de forma crítica uma determinada situação ou 
expressão da Questão Social, objeto de intervenção profissional especialmente nos 
seus aspectos socioeconômicos e culturais, ou seja, são advindos de um processo 
de conhecimento, análise e interpretação de uma determinada demanda. 
 
35 
 
3. CONCLUSÃO 
Segundo Minayo, a violência contra crianças e adolescentes é todo ato ou 
omissão cometido pelos pais, parentes, outras pessoas e instituições capazes de 
causar dano físico, sexual e/ou psicológico à vítima. Implica, de um lado, uma 
transgressão no poder/dever de proteção do adulto e da sociedade em geral e, de 
outro, numa coisificação da infância. Isto é, uma negação do direito que crianças e 
adolescentes têm de serem tratados como sujeitos e pessoas em condições 
especiais de desenvolvimento. 
A prática de violência contra crianças e adolescentes (maus tratos, abandono 
e negligência, abuso e exploração sexual comercial, trabalho infantil, dentre outras) 
não é recente. Um olhar atento à trajetória histórica de crianças pobres no Brasil nos 
mostra a procedência dessa afirmação. Sua visibilidade, no entanto, vem ganhando 
novos contornos, principalmente, na proporção e extensão que vem ocorrendo nas 
duas últimas décadas, no Brasil. 
 A promulgação do ECA, com certeza, contribuiu e vem contribuindo para que 
se torne visível uma condição, antes de tudo, de violação dos Direitos Humanos, 
conforme Declaração Universal dos Direitos Humanos, da ONU. Vários são os 
fatores que contribuem para que essa prática seja observada e mantida, dentre os 
quais destacamos: as relações de poder e de gênero predominantes nas 
sociedades, as características do agressor e da vítima, questões culturais, ausência 
de mecanismos seguros e confiáveis, medo de denunciar, ineficiência dos órgãos de 
atendimento, certeza de impunidade, dentre outras. O Estatuto da Criança e do 
Adolescente especifica que toda criança deverá estar protegida de ações que 
possam prejudicar seu desenvolvimento. No entanto, a realidade de transgressão a 
esse direito atinge uma parcela significativa de crianças, que têm seu cotidiano 
permeado por variadas formas de violência. 
A atuação profissional do assistente social tem sofrido inúmeras alterações ao 
longo dos anos. A sociedade capitalista que só visa o lucro acaba por gerar 
exploração da mão de obra do empregado que vende sua força de trabalho para 
conseguir salário para sobreviver. O assistente social como um profissional que 
defende a classe trabalhadora se encontra nesse viés de mediar as duas classes 
antagônicas. Então, a violência doméstica contra a criança e o adolescente é uma 
das demandas do assistente social que pode estar articulada a questão social, no 
36 
 
qual o assistente social atua tanto no seu enfrentamento como tentativa de garantir a 
dignidade da pessoa humana para as vítimas. 
Essas expressões que acarretam a violência chegam até o assistente social 
inserido no CREAS muitas vezes fragmentada, neste sentido, o assistente social 
utiliza como principais atribuições: realizar acolhidas, entrevistas sociais, orientações 
a indivíduos e famílias no intuito de prevenir o rompimento dos vínculos familiares, 
com o objetivo de garantir o acesso às políticas públicas efetivando o direito do 
cidadão. 
O fato de não podermos ter ido a campo e realizar a entrevista com as 
assistentes sociais, não possibilitou uma maior aproximação com a prática 
profissional diante do enfrentamento da violência. Esse processo acabou nos 
mostrando teoricamente a exigência da excelência na atuação do Serviço Social 
desde a formação até o trabalho, articulando teoria e prática. Contudo, 
compreendemos que a objetivação de uma prática profissional competente sempre 
irá encontrar obstáculos concretos, burocratizações que impedem uma maior 
efetividade dentro dos espaços sócios ocupacionais, visto que é mediada por 
determinações que a

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