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SENTENÇA E COISA JULGADA

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SENTENÇA E COISA JULGADA
· SENTENÇA
O processo tem como objetivo resolver conflito de interesse concedendo a quem de direito o bem da vida discutido em juízo. Tem como destino, portanto, uma decisão denominada sentença, que irá solucionar o referido conflito.
No processo do trabalho, a CLT não dispõe de um conceito de sentença, aplicando-se subsidiariamente o CPC, com fulcro no artigo 769 da CLT.
Neste sentido, o legislador, conceituando-a, declinou que:
Art. 203 do CPC:
§ 1º Ressalvadas as disposições expressas dos procedimentos especiais, sentença é o pronunciamento por meio do qual o juiz, com fundamento nos arts. 485 e 487, põe fim à fase cognitiva do procedimento comum, bem como extingue a execução.
	Diante disso, vê-se que o CPC/15 conjugou o conteúdo da decisão (extinção com ou sem resolução do mérito), com o momento em que é proferida (põe fim à fase cognitiva ou extingue a execução).
	Assim, a sentença corresponde ao pronunciamento judicial que com fundamento nas hipóteses da extinção do processo sem resolução de mérito (sentença terminativa) ou com resolução do mérito (sentença definitiva), respectivamente nos arts. 485 e 487 do CPC, põe fim à fase do procedimento comum ou extingue execução. 
Art. 485. O juiz não resolverá o mérito quando: I - indeferir a petição inicial; II - o processo ficar parado durante mais de 1 (um) ano por negligência das partes; III - por não promover os atos e as diligências que lhe incumbir, o autor abandonar a causa por mais de 30 (trinta) dias; IV - verificar a ausência de pressupostos de constituição e de desenvolvimento válido e regular do processo; V - reconhecer a existência de perempção, de litispendência ou de coisa julgada; VI - verificar ausência de legitimidade ou de interesse processual; VII - acolher a alegação de existência de convenção de arbitragem ou quando o juízo arbitral reconhecer sua competência; VIII - homologar a desistência da ação; IX - em caso de morte da parte, a ação for considerada intransmissível por disposição legal; e X - nos demais casos prescritos neste Código. 
Art. 487. Haverá resolução de mérito quando o juiz: I - acolher ou rejeitar o pedido formulado na ação ou na reconvenção; II - decidir, de ofício ou a requerimento, sobre a ocorrência de decadência ou prescrição; III - homologar: a) o reconhecimento da procedência do pedido formulado na ação ou na reconvenção; b) a transação; c) a renúncia à pretensão formulada na ação ou na reconvenção. 
Portanto, as sentenças terminativas (sem resolução do mérito) analisam apenas relação jurídica processual, enquanto as definitivas (com resolução do mérito) examinam a relação jurídica material.
Vale observar, no caso da extinção do processo sem mérito, como regra, não impede a propositura de uma nova ação, salvo quando: 
1) litispendência;
2) Indeferimento da petição inicial;
3) Ausência dos pressupostos legais;
4) Legitimidade ou interesse de agir;
5) Convenção de arbitragem.
Assim, impedindo uma nova demanda (art. 486º§1º do CPC).
· REQUISITOS DA SENTENÇA
A sentença, como um ato jurídico complexo, deve observar alguns requisitos, conforme dispõe o artigo 832, caput, da CLT.
Art. 832 - Da decisão deverão constar o nome das partes, o resumo do pedido e da defesa, a apreciação das provas, os fundamentos da decisão e a respectiva conclusão.
	Conforme se verifica pelo aludido artigo, conjugando com o artigo 489 do CPC, aplicável supletivamente ao processo do trabalho (TST-IN nº 39/2016, art.3º, IX), a sentença deve ter os seguintes requisitos:
1) Relatório: consiste na parte histórica do processo. Tem por objetivo registrar os acontecimentos importantes do processo.
(atenção: art. 852,I CLT, no procedimento sumaríssimo, dispensa-se o relatório na elaboração da sentença).
2) Fundamentação: é a exposição do raciocínio ou das razões de decidir do magistrado, ou seja, qual motivação da decisão judicial (art. 93, IX da CF/88);
3) Dispositivo: chamado de conclusão da CLT, é o principal requisito da sentença, pois é por meio dele que que o magistrado resolve as questões litigiosas. 
Vale registrar, os parágrafos do art. 832 CLT impõem mais alguns requisitos complementares à sentença, de modo que ela deve:
1) determinará o prazo e as condições para o seu cumprimento.
2) sempre as custas que devam ser pagas pela parte vencida.
3) sempre indicar a natureza jurídica das parcelas constantes da condenação ou do acordo homologado, inclusive o limite de responsabilidade de cada parte pelo recolhimento da contribuição previdenciária, se for o caso.
Ademais existindo na decisão evidentes erros ou enganos de escrita, de datilografia ou de cálculo, o art. 833 da CLT descreve que eles poderão ser corrigidos, de oficio, ou à requerimento dos interessados ou pelo MPT, antes da execução. 
Por último, atente-se para o fato de que a decisão judicial deve ser interpretada a partir da conjugação de todos os elementos em conformidade com o principio da boa-fé (art. 489§3º do CPC).
· FUNDAMENTAÇÃO
A fundamentação deve seguir o exposto no artigo 489º,§1º da CLT, a saber: 
§ 1º Não se considera fundamentada qualquer decisão judicial, seja ela interlocutória, sentença ou acórdão, que: 
· I - se limitar à indicação, à reprodução ou à paráfrase de ato normativo, sem explicar sua relação com a causa ou a questão decidida; 
· II - empregar conceitos jurídicos indeterminados, sem explicar o motivo concreto de sua incidência no caso; 
· III - invocar motivos que se prestariam a justificar qualquer outra decisão; 
· IV - não enfrentar todos os argumentos deduzidos no processo capazes de, em tese, infirmar a conclusão adotada pelo julgador; 
· V - se limitar a invocar precedente ou enunciado de súmula, sem identificar seus fundamentos determinantes nem demonstrar que o caso sob julgamento se ajusta àqueles fundamentos; 
· VI - deixar de seguir enunciado de súmula, jurisprudência ou precedente invocado pela parte, sem demonstrar a existência de distinção no caso em julgamento ou a superação do entendimento. 
· Classificação
a) Sentença meramente declaratória: é aquela que declara a existência, inexistência ou modo de ser de uma determinada relação jurídica ou autenticidade ou falsidade de um documento (art. 19º CPC)
b) Sentença Constitutiva: é aquela que cria, modifica ou extingue determinada relação jurídica;
c) Sentença Executiva lato sensu: busca a tutela especifica do direito, sendo realizada por meios de execução direta. 
d) Sentença mandamental: é aquele em que o réu (reclamado) é forçado a cumprir a ordem judicial, ou seja, há coerção do réu a cumprir determinada ordem.
· 	PRINCÍPIO DA CONGRUÊNCIA OU ADSTRIÇÃO (tema já estudado na parte de: petição inicial)
Diante da delimitação da atuação jurisdicional, o magistrado fica vinculado aos pedidos formulados na inicial, devendo interpretá-lo no conjunto da postulação, observando o princípio da boa-fé (art. 322º§2º do CPC), portanto, trata-se do chamado princípio da congruência. 
Desse modo, o juiz somente poderá emitir provimento jurisdicional pleiteado, não podendo ir além ou permanecer aquém do pedido ou conceder o que não foi requerido (art. 492 CPC), sob pena de proferir julgamento, respectivamente:
1) Julgamento ultra petita (além do pedido): sob pena de incorrer em ultra petita. empregado ingressa com a reclamação trabalhista requerendo indenização por danos matérias no valor de R$ 5.000,00. Durante a instrução do processo, fica comprovado que o dano foi no montante de R$ 7.000,00. Nesse caso, o juiz fica limitado aos R$ 5.000,00
2) Julgamento citra petita (aquém do pedido): empregado ingressa com a reclamação pleiteando férias, 13º salário e horas extras. Nessa hipótese, o juiz não pode deixar de julgar um dos pedidos, por exemplo, férias, sob pena de incorrer em citra petita.
3) Julgamento extra petita (fora do pedido): empregado ingressa com a reclamação trabalhista requerendo férias, 13º salário e horas extras. Durante a instrução do processo, fica comprovado que o empregador também não pagava adicional noturno. Nesse caso, o juiz não poderá deferir o pagamentodeste, pois está adstrito aos 3 (três) pedidos feitos na inicial, sob pena de incorrer em extra petita. 
Simplificando:
Decisão extra petita – JUIZ INVENTA
Decisão ultra petita – JUIZ EXAGERA
Decisão citra petita – JUIZ SE ESQUECE
Obs.: A sentença com julgamento citra petita pode ser impugnada por meio dos embargos declaratórios, eis que há omissão na decisão (art. 897-A CLT).
Já as outras se submetem ao recurso ordinário, bem como recurso de revista, neste último caso por violação aos art. 141 e 492 CPC. Desse modo, após o trânsito em julgado, elas podem ser impugnadas pela cia da ação rescisória, inclusive a citra petita.
OJ – 41 – SDI – II TST - Ação rescisória. Sentença «citra petita». Cabimento. Revelando-se a sentença citra petita, o vício processual vulnera os CPC/2015, artigos 141 e 492 ambos do CPC/15, tornando-a passível de desconstituição, ainda que não interpostos embargos de declaração.» 
· JULGAMENTO ANTECIPADO TOTAL OU PARCIAL
· TOTAL
Como regra, o processo depende da fase instrutória para que possa ser proferida a decisão de mérito. Todavia, em alguns casos dispensa-se a fase instrutória já permitindo o julgamento do mérito, seja integralmente, seja de forma parcial.
Art. 335. O réu poderá oferecer contestação, por petição, no prazo de 15 (quinze) dias, cujo termo inicial será a data: 
I - da audiência de conciliação ou de mediação, ou da última sessão de conciliação, quando qualquer parte não comparecer ou, comparecendo, não houver autocomposição; 
II - do protocolo do pedido de cancelamento da audiência de conciliação ou de mediação apresentado pelo réu, quando ocorrer a hipótese do art. 334§4º, inciso I; 
· PARCIAL
	Pode acontecer de existir cumulação de pedidos em um determinado processo, verificando-se a possibilidade de julgar alguns deles ou até mesmo parcela deles antecipadamente.
Art. 356. O juiz decidirá parcialmente o mérito quando um ou mais dos pedidos formulados ou parcela deles: 
I - mostrar-se incontroverso; 
II - estiver em condições de imediato julgamento, nos termos do art. 355. 
Exemplo: Reclamante formula pedido relacionado ao pagamento das verbas rescisórias, multa do art. 467 da CLT e de indenização por danos morais. Na audiência, o reclamado apresenta contestação, impugnando apenas a indenização por danos morais, nada versando sobre as verbas rescisórias. Não havendo o pagamento pelo reclamado na primeira audiência das verbas incontroversas, o juiz poderá julgar de forma antecipada o pedido de pagamento das verbas rescisórias cumuladas com a multa do art. 467 CLT e dar prosseguimento ao processo quanto o pedido de indenização por danos morais.
· COISA JULGADA
	Não havendo mais recurso a ser interposto da decisão ou havendo, a parte deixe ultrapassar o prazo alusivo para sua interposição, tem-se o trânsito em julgado da decisão, também chamada de coisa julgada.
A coisa julgada pode ser material ou formal.
· Coisa Julgada Material – Denomina-se coisa julgada material a eficácia, que torna imutável e indiscutível a sentença, não mais sujeita a recurso ordinário ou extraordinário.
A coisa julgada material é aquela que advém de uma sentença de mérito, como nas hipóteses estabelecidas pelo diploma processual civil nos casos em que juiz decide com resolução do mérito, quando acolhe ou rejeita o pedido do autor, o réu reconhece a procedência do pedido; quando as partes transigirem, quando o juiz pronuncia a decadência ou prescrição, e quando o autor renuncia ao direito sobre que se funda a ação.
O principal efeito de uma decisão de mérito é a “impossibilidade” da reforma do provimento judicial, seja no mesmo processo ou em outro. Verifica-se assim que não se pode submeter à mesma demanda ao judiciário, diferentemente da coisa julgada formal.
Obs.: Súmula 100 do TST: V - O acordo homologado judicialmente tem força de decisão irrecorrível, na forma do art. 831 da CLT. Assim sendo, o termo conciliatório transita em julgado na data da sua homologação judicial.
· Coisa Julgada Formal - é a impossibilidade de modificação da sentença no mesmo processo, como consequência da preclusão dos recursos.
Depois de formada a coisa julgada, o juiz não pode mais modificar sua decisão, ainda que se convença de posição contrária a que tinha anteriormente adotado.
Só tem eficácia dentro do processo em que surgiu e, por isso, não impede que o tema volte a ser agitado em nova relação processual. É o que se denomina Princípio da inalterabilidade do julgamento.
Obs.: Todas as sentenças fazem coisa julgada formal, mesmo que não tenham decidido à disputa existente entre as partes.
A coisa julgada formal é aquela que advém de uma sentença terminativa, como nas hipóteses em que o processo será extinto pelo juiz, quando indeferir a petição inicial, quando o processo ficar parado por negligência das partes, quando, por não promover os atos e diligências que lhe competir, o autor abandonar a causa, quando se verificar a ausência de pressupostos de constituição e de desenvolvimento válido e regular do processo, quando o juiz acolher a alegação de perempção, litispendência ou de coisa julgada, quando não concorrer qualquer das condições da ação, como a possibilidade jurídica, a legitimidade das partes e o interesse processual, pela convenção de arbitragem, quando o autor desistir da ação, quando a ação for considerada intransmissível por disposição legal, quando ocorrer confusão entre autor e réu.
· DECISÃO INTERLOCUTÓRIA
A decisão interlocutória é o pronunciamento judicial de natureza decisória que não se enquadre no conceito de sentença (art. 203º§2º CPC).
Vale ressaltar que no processo trabalhista vige o principio da irrecorribilidade imediata das decisões interlocutórias, art. 893º§1º CLT:
Art. 893 - Das decisões são admissíveis os seguintes recursos:
§ 1º - Os incidentes do processo são resolvidos pelo próprio Juízo ou Tribunal, admitindo-se a apreciação do merecimento das decisões interlocutórias somente em recursos da decisão definitiva.
· DESPACHOS
O conceito de despacho é definido por exclusão. Noutros termos, a decisão que não é sentença ou decisão interlocutória será um despacho. 
Art. 203 CPC
§ 3º São despachos todos os demais pronunciamentos do juiz praticados no processo, de ofício ou a requerimento da parte.
· ACORDÃO
Art. 204. Acórdão é o julgamento colegiado proferido pelos tribunais.
Ressalta-se, a decisão proferida monocraticamente pelo relator, é denominada, simplesmente, de decisão monocrática.

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