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FLUIDOS FÍSICA 2 Prof. Romério R. Silva FÍSICA HIDROSTÁTICA Prof. Romério R. Silva EQUAÇÃO DA CONTINUIDADE Uma aplicação vital da dinâmica dos fluidos em nos- sos dias encontra-se no túnel de vento; com este dispositivo se é capaz de simular os efeitos da movimentação de fluidos em torno de objetos sólidos, tais como aviões, carros, pontes, antenas etc. A imagem a seguir mostra como o ar escoa em torno de um automóvel, permitindo compreender os seus meca- nismos de estabilidade e aderência. Entretanto, estudar os fluidos reais é bastante difícil e complexo, por isso os físicos criaram um modelo capaz de representar o mais proximamente possível o comporta- mento hidrodinâmico, mas que também tenha aparato ma- temático simples. Vamos conhecer este modelo? Bem, as características deste fluido ideal que per- meia tal modelo são: 1. Fluido Não-Viscoso Isto quer dizer que o fluido de nosso modelo não apresenta atrito interno. Assim, os princípios de conserva- ção de energia mecânica e quantidade de movimento podem ser aplicados sem restrições. Caso contrário, o fluido se comportaria como o mel, por exemplo. O escoamento do mel pela colher da figura acima é acompanhado de dissipação de energia mecânica na forma de calor por conta da viscosidade – ou atrito interno. 2. Densidade Constante ou Escoamento Incompressí- vel Ao longo de toda sua extensão, no recipiente que o contém, o fluido apresenta sempre a mesma densidade. Água pura é um exemplo bem próximo disto. Por outro lado, nosso sangue seria o oposto; em pontos diferentes de uma mesma amostra de sangue verificam-se concentrações diferentes de compósitos, o que lhe confere densidades diferentes a cada ponto. 3. Velocidade de Escoamento Constante ou Escoa- mento Uniforme Em um dado ponto do fluido, sua velocidade de es- coamento é constante no decorrer do tempo. Analise a figura a seguir. Em (a) temos o escoamento de um fluido considerado ideal; em (b) o escoamento de um fluido real. Note que no primeiro caso o escoamento não está associado a nenhuma perturbação. Com isto, será chamado de escoamento laminar e o segundo de escoamento turbulento. A partir de agora, nosso estudo será feito levando- se em conta os fluidos ideais em escoamento laminar. Um modo bastante conveniente para a representa- ção do movimento de um fluido escoando é conseguido a partir das chamadas linhas de corrente. Veja! Fonte: http://www.turbulencia.coppe.ufrj.br/ A imagem acima nos mostra a simulação computa- cional do escoamento de um fluido ao redor de um objeto sólido de formato cilíndrico. Procure identificar as linhas de corrente mostradas. É como se elas mostrassem a topografia da região ao redor do cilindro. Observe as linhas corrente associadas ao ar que es- coa pela asa de um avião (figura acima). FLUIDOS FÍSICA 2 Prof. Romério R. Silva Partindo destes exemplos podemos dar uma defini- ção formal para as linhas de corrente. Linha de corrente: lugar geométrico dos pontos do espaço em que linhas que os unem, em um mesmo instante, mantêm-se tangentes ao vetor velocidade de escoamento. Agora vamos imaginar uma situação de escoamento particular. Observe a figura a seguir. Não havendo perda de carga no trajeto de A1 até A2, então é razoável esperar-se que quantidade de fluido que atravessa a área de secção reta A1 é a mesma que atravessa a área de secção reta A2. Se estivermos interessados em conhecer o volume de fluido que atravessa estas áreas de secções retas, basta- nos multiplicar cada uma destas áreas pela respectiva lar- gura Δl, conforme indica a figura acima. Ou seja, V1 = A1 ∙ 𝑠1 e V2 = A2 ∙ 𝑠2. Porém, conforme dissemos acima, se não houver perda de carga no trajeto, o volume de fluido que chegar em A1 deverá sair em A2 de modo que V1 = V2. Ora, com isto vem que A1 ∙ 𝑠1 = A2 ∙ 𝑠2. Por outro lado, a cinemática nos ensinou que a velo- cidade de escoamento do fluido pode ser facilmente calcu- lada por v = 𝑠 ∆t ⟹ s = v ∙ ∆t. Levando este resultado na equação anterior e sim- plificando o intervalo de tempo, encontramos v1A1 = v2A2. Esta equação é conhecida como equação da conti- nuidade. Perceba que esta expressão nos diz que um aumento na área a ser percorrida pelo fluido acarreta diminuição em sua velocidade de escoamento; sendo a recíproca verda- deira. A equação da continuidade nos oferece outra impor- tante informação – trata-se da vazão. Entenda-se por vazão o volume de fluido que atra- vessa certa área em dado intervalo de tempo, quer dizer, seja R a vazão, assim, 𝑅 = A ∙ v. Nesta equação A é a área de secção transversal do condutor do fluido e v a velocidade de escoamento. Perceba que, em termos de unidades de medida, teremos, [𝑅] = 𝑚2 ∙ 𝑚 𝑠 = 𝑚3 𝑠 . Levando-se em conta que o fluido que escoa seja ideal, então podemos afirmar que sua vazão será constante no tempo. Isto é fácil de ser percebido. Você já deve ter notado que quando a água cai da torneira o filete tende a se afunilar. Observe. Isto é fácil de ser explicado! Enquanto cai, a velocidade da água aumenta por conta da aceleração gravitacional que atua sobre ela; com isto, para manter a vazão constante em todas as direções, o filete se afunila, pois v1A1 = v2A2. Ou seja, se v2 > v1, então A2 < A1. A partir daqui passaremos a aplicar o que fora aprendido até agora. ANOTAÇÕES FÍSICA HIDROSTÁTICA Prof. Romério R. Silva EQUAÇÃO DE BERNOULLI A família Bernoulli, de origem suíça, talvez tenha sido a mais eminente nas ciências; de suas origens saíram nada menos que dez cientistas – todos com grande destaque. De acordo com o MacTutor History of Mathematics archive, o mais notável dos Bernoulli foi Daniel –, por conta da diversidade e profundidade de seus trabalhos; Daniel Bernoulli foi filósofo, físico, fisiologista, médico, botânico e matemático e, em todas estas áreas, encontram-se trabalhos de relevante importância. No caso da Física a contribuição de Bernoulli se deu na aplicação do princípio de conservação da energia aos flu- ídos em movimento. Vejamos como isto ocorreu e quais as suas aplica- ções. Considere a figura a seguir. Note o movimento circular dos braços do nadador. Esta é uma técnica chamada braçada de pá e pode ser expli- cada, pelo menos em parte, pela propulsão do nado no cha- mado arrasto propulsivo; sendo este uma das consequências do teorema de Bernoulli como veremos adiante. Quando um corpo se move imerso em um fluido, a velocidade de escoamento deste fluido com relação às dife- rentes partes do corpo interfere na pressão exercida hidro- dinamicamente, isto é, influi na pressão exercida pelo fluido sobre o corpo. Observe estes comentários na figura a seguir. Esta é uma simulação do princípio de sustentação do avião, bem como de um nadador. O ar que flui pela parte de cima da asa do avião é mais rápido que o ar fluindo na parte de baixo; o princípio de Bernoulli afirma que, neste caso, a pressão de baixo para cima é maior que a pressão de cima para baixo. Ora, o resultado desta diferença de pressão é a sus- tentação do avião –, embora mais pesado que o ar. O equilí- brio fino das diversas forças que atuam no avião, aliado à sustentação possibilita seu movimento seguro como conhe- cemos nos dias atuais. Com estas ideias motivadoras fica claro que o cerne do princípio de Bernoulli é: a pressão exercida por um fluido sobre um corpo depende da velocidade deste corpo com rela- ção ao fluido. Procure compreender bem este enunciado antes de prosseguir. Para ajudá-lo a assimilar este conceito vamos exem- plificar. O tubo de Venturi, em homenagem ao seu idealiza- dor, é um experimento simples que ilustra a ideia central de Bernoulli. Observe-o. Perceba que na tubulação em formade U há um lí- quido que, inicialmente encontra-se com suas superfícies li- vres no mesmo nível. Na parte superior do dispositivo de Venturi há uma tubulação com áreas de secções transversais diferentes – A e a – de modo que, pela equação de continuidade que apren- demos na aula anterior, diminuir a área de secção reta do tubo por onde um fluido escoa, acarreta-lhe aumento de ve- locidade. Assim sendo, ao fazermos passar pelo tubo superior um fluxo de ar, no sentido de A para a, tal fluxo, ao encontrar o estrangulamento na passagem de A para a, tem sua veloci- dade aumentada. Este fato, por sua vez, diminui a pressão nesta região fazendo que o líquido suba provocando um desnível entre suas superfícies livres. O que é mostrado por h na figura acima. Analise tudo o que dissemos na figura a seguir que é uma variação do tubo de Venturi. Neste caso, perceba que os tubos verticais estão abertos permitindo a entrada de ar. Inicialmente os líquidos contidos nestes tubos encontram-se com seus níveis alinha- dos. O estrangulamento em A2 faz que a velocidade do fluido aumente reduzindo a pressão aí. Então, o ar empurra o líquido para baixo como se pode ver. Com esta exposição qualitativa estamos prontos para conhecer a equação de Bernoulli que dá significação matemática para tudo o que dissemos. Nos exemplos anteriores fizemos referência quase todo o tempo à pressão. Mas, fisicamente, o que vem a ser pressão? Pressão é a razão entre a força aplicada perpen- dicularmente a uma superfície e a área desta superfície. FLUIDOS FÍSICA 2 Prof. Romério R. Silva Observe. Então, matematicamente, temos a expressão: 𝑝 = �⃗� 𝐴 . No SI a unidade de pressão é N/m². Algumas vezes esta unidade é denominada, também, Pascal (Pa). A figura a seguir faz referência ao efeito da pressão exercida por uma força e a respectiva área onde está distri- buída. Veja como se associa facilmente a pressão com a área. De pé, a área dos pés do homem é menor que a área de apoio quando este se encontra deitado. Logo, de pé a pressão é maior, fazendo que ele afun- dasse. Outro conceito interessante é o de densidade de um corpo, ou quando nos referimos a uma substância, massa es- pecífica. Observe a figura a seguir. Ela faz referência ao Mar Morto. A quantidade de sal presente em suas águas (daí Mar Morto) é tão grande, que uma pessoa pode flutuar tran- quilamente sobre elas, mesmo apresentando um peso razo- ável. O conceito de densidade é, de certo modo, abstrato, mas em geral apresenta a relação entre certa quantidade de matéria de um corpo e o espaço que ocupa. Ou seja, 𝑑 = 𝑚 𝑉 . A massa específica é definida matematicamente do mesmo modo que densidade, isto é, 𝜇 = 𝑚 𝑉 . Entretanto, a massa específica se refere à massa de uma dada substância e o espaço por ela ocupada. Densidade e massa específica somente serão iguais, se o corpo for maciço. Considere duas esferas que tenham o mesmo tama- nho e que sejam feitas do mesmo material, porém uma oca e outra maciça. Neste caso, elas apresentam a mesma massa especí- fica, embora a esfera maciça seja mais densa que a esfera oca. Bem, agora estamos prontos para conhecer a equa- ção de Bernoulli. Como dissemos anteriormente ela apenas reescreve o princípio de conservação da energia em termos de fluidos em movimento. Note que na região de entrada do fluido este possui velocidade v1, pressão p1 e altura h1; por outro lado, na re- gião de saída do fluido, este apresenta velocidade v2, pressão p2 e altura h2. Considerando que este fluido seja ideal, então sua massa específica não se altera durante seu deslocamento pela tubulação mostrada na figura acima. Sendo, então, o fluido incompressível e despre- zando-se os atritos internos e externos, Bernoulli demons- trou que 𝑝1 + 𝜇𝑔ℎ1 + μ𝑣1 2 2 = 𝑝2 + 𝜇𝑔ℎ2 + μ𝑣2 2 2 . Observe que a energia potencial gravitacional, ge- ralmente escrita na forma mgh fora substituída pela forma μgh; e, a energia cinética sob a forma mv2 2 , se substituiu por μv2 2 . Preferimos não dar a demonstração formal para esta equação tendo em vista que sua compreensão qualita- tiva é mais importante que seus aspectos matemáticos. Entretanto, para aqueles que desejem conhecer tal demonstração é por demasiado simples obtê-la, necessi- tando apenas de álgebra elementar. Ao se observar atentamente a equação de Bernoulli verifica-se que as equações das energias, potencial gravita- cional e cinética, foram divididas pelo volume do fluido que escoa pela tubulação; daí surgir o fator massa específica na equação de Bernoulli. Isto acarreta dizer-se que a energia mecânica asso- ciada ao fluido está sendo dada por unidade de volume, o que, às vezes é denotado por: 𝐻 = 𝐸 ∆𝑉 . Com isto encerramos nossas considerações sobre a equação de Bernoulli e suas implicações físicas para a con- servação da energia mecânica associada a um fluido ideal. FÍSICA HIDROSTÁTICA Prof. Romério R. Silva Lembre-se de termos afirmado na aula anterior que estudaríamos a pressão exercida sobre um sólido e logo a se- guir ampliaríamos este conceito para os fluidos. Pois, é isto o que faremos agora. Observe a figura a seguir! Vamos retomar a equação de Bernoulli. 𝑝1 + 𝜇𝑔ℎ1 + μ𝑣1 2 2 = 𝑝2 + 𝜇𝑔ℎ2 + μ𝑣2 2 2 . Se aplicada ao recipiente acima teremos: 𝑝𝐴 + 𝜇𝑔ℎ𝐴 + μ𝑣𝐴 2 2 = 𝑝𝐵 + 𝜇𝑔ℎ𝐵 + μ𝑣𝐵 2 2 . Porém, se agora, ao invés de um fluido em movi- mento considerarmos um fluido em repouso, como aquele da figura acima, os termos μ𝑣𝐴 2 2 e μ𝑣𝐵 2 2 podem ser eliminados da equação, vA = vB = 0. Com isto, a equação de Bernoulli toma uma nova forma: 𝑝𝐴 + 𝜇𝑔ℎ𝐴 = 𝑝𝐵 + 𝜇𝑔ℎ𝐵 . Este resultado fora obtido bem antes de Bernoulli por Simon Stevin, se bem que por outro caminho. Então, por razões históricas permaneceu sendo chamado de teorema de Stevin. Stevin viveu entre 1548 e 1620 Bruges, Flandres; hoje correspondendo à Bélgica, tendo sido engenheiro, físico e matemático. O que motivou o estudo de Stevin foi o que conhecia por paradoxo hidrostático. Vamos retomar o resultado que obtivemos acima. 𝑝𝐴 + 𝜇𝑔ℎ𝐴 = 𝑝𝐵 + 𝜇𝑔ℎ𝐵 . Uma ligeira manipulação algébrica neste resultado e teremos: 𝑝𝐵 − 𝑝𝐴 = 𝜇𝑔(ℎ𝐴 − ℎ𝐵) = 𝜇𝑔ℎ. Com isto Stevin desfez o aparente paradoxo que ha- via nos vasos comunicantes da figura acima. Ou seja, a pressão exercida na base destes vasos é a mesma, pois se p = μgh, é a pressão exercida por uma coluna de fluido, então esta pressão não depende da área da base do recipiente que contém o fluido; isto é, a pressão exercida por um fluido depende tão somente da altura da coluna fluida, da gravidade local e da massa específica do fluido. Se você prestar atenção na figura inicial desta aula, perceberá que as alturas não foram medidas a partir da su- perfície livre do líquido. Tais alturas foram medidas a partir da borda do re- cipiente que não está plenamente cheio. Imaginas a razão disto? É simples não é mesmo? Em um recipiente aberto como este há que se considerar a presença de ar atmosférico acima do fluido. Assim, o teorema de Stevin, como um caso particu- lar da equação de Bernoulli, prevê que o ar, sendo composto por gases, ou seja, fluidos, também exerça pressão obede- cendo à expressão: 𝑝 = 𝜇𝑔ℎ. Evangelista Torricelli (1608-1647), físico e mate- mático da academia Florentina, propôs um experimento bas- tante simples para se obter a pressão atmosférica em dado local. Para muitos à época de Torricelli a natureza apre- sentava aversão ao vácuo; assim, na figura a seguir o mercú- rio subia pelas paredes do tubo de altura h, para ocupar o lugar do ar que fora daí retirado. Torricelli, entretanto, formulou outra explicação para este fenômeno. Observe. Segundo ele, o mercúrio subia pelas paredesdo re- cipiente não para preencher os espaços vazios deixados pelo ar, mas porque era empurrado pelo ar atmosférico local. Quando a pressão atmosférica se igualasse à pres- são do mercúrio a coluna deixava de subir. TEOREMA DE STEVIN FLUIDOS FÍSICA 2 Prof. Romério R. Silva Neste caso, 𝑝𝑎𝑡𝑚 = 𝑝𝐻𝑔 . Acompanhe. Torricelli encheu um tubo até a sua borda com mercúrio; a seguir, fez o mesmo com um recipiente de bordas mais baixa; tapou a extremidade do tubo contendo mercúrio e o inverteu levando-o até o outro recipiente. Com isto, destapou o tubo e percebeu que a coluna de mercúrio descia até 76 cm, restando acima de si o vácuo. Assim, para Torricelli a pressão exercida pela coluna de ar atmosférico local correspondia à pressão exercida pela coluna de 76 cm de mercúrio. Então, a pressão atmosférica é igual a: 76 cmHg = 760 mmHg = 1 atm = 1,13 · 105 Pa. A figura a seguir resume a experiência realizada. Agora vamos discutir uma aplicação do teorema de Stevin bastante difundida em livros didáticos – trata-se do equilíbrio de líquidos imiscíveis –, isto é, líquidos que não se misturam. Isto é possível porque o teorema de Stevin permite algumas conclusões a respeito das forças trocadas entre o fluido e o recipiente que o contém. 1ª – As forças exercidas por um líquido sobre as pa- redes do recipiente que o contém são perpendiculares a es- tas paredes e apontando para dentro do recipiente. 2ª – Pontos situados em uma mesma linha no inte- rior de um fluido estão submetidos a uma mesma pressão e, por esta razão, tal linha é denominada linha dos pontos isó- baros. Na figura acima, todos os pontos na linha de nível 1 estão submetidos a uma mesma pressão; o mesmo ocor- rendo com os pontos na linha do nível 2. Por outro lado, a pressão ao longo da linha de nível 2 é maior que a pressão ao longo da linha de nível 1. Com estas constatações, observe a figura a seguir. No recipiente têm-se dois líquidos imiscíveis de massas específicas iguais a μ1 e μ2. Note que a linha que passa pelas superfícies de se- paração dos líquidos forma uma linha de pontos isóbaros. Com isto, a pressão nesta linha, para qualquer ponto, é a mesma. Observe isto novamente. Neste novo caso temos algo ainda mais interessante. Veja que os pontos (1) e (2), embora pertençam a líquidos diferentes encontram em uma mesma linha. Isto quer dizer que, mesmo que estes líquidos te- nham alturas diferentes – hA e hB – e tenham massas especí- ficas (naturezas) diferentes, é possível mantê-los em equilí- brio estático com a linha que passa por (1) e (2) sempre na horizontal. Vamos exemplificar. Suponhamos que na figura acima hA = 1 m que hB = 0,4 m e que a massa específica do líquido B seja μB = 10 g/cm³. Se os líquidos são imiscíveis e encontram-se em equi- líbrio, determine a massa específica do líquido A. Considere g = 10 m/s². FÍSICA HIDROSTÁTICA Prof. Romério R. Silva Ora, pelo teorema de Stevin, podemos afirmar que p1 = p2; estando os tubos abertos à atmosfera, devemos con- tabilizar a pressão exercida pelo ar sobre os líquidos A e B. Assim, 𝑝𝑎𝑡𝑚 + 𝜇𝐴𝑔ℎ𝐴 = 𝑝𝑎𝑡𝑚 + 𝜇𝐵𝑔ℎ𝐵 Cancelando os termos comuns e substituindo os res- pectivos valores, μA · 1 = 10 · 10³ · 0,4 μA = 4 · 10³ kg/m³ ou μA = 4 g/cm³. ANOTAÇÕES PRINCÍPIO DE PASCAL O princípio de Pascal, algumas vezes chamado de te- orema de Pascal, surgiu da busca por aplicações práticas para os fluidos. Blaise Pascal (1623-1662), físico e matemático fran- cês, observou que: “Um acréscimo de pressão na superfície livre de um fluido incompressível e em equilíbrio, transmite-se inte- gralmente a todos os pontos do fluido e, também, às pa- redes do recipiente”. De modo iconográfico, esta afirmação pode ser vista assim: Há uma demonstração muito elegante para este postulado, daí dizer-se teorema de Pascal. Considere a figura a seguir. A diferença de pressão entre os pontos A e B pode ser obtida pelo teorema de Stevin. 𝑝𝐴 − 𝑝𝐵 = 𝜇𝑔ℎ. Esta equação pode ser reescrita de outro modo, por apenas um ajuste algébrico. FLUIDOS FÍSICA 2 Prof. Romério R. Silva 𝑝𝐴 = 𝑝𝐵 + 𝜇𝑔ℎ. Agora, se aplicarmos uma força �⃗� sobre a superfície livre do fluido, isto fará que um acréscimo de pressão (Δp) surja nesta superfície. A nova pressão no ponto B, a que chamaremos de 𝑝𝐵 ∗ será dada por: 𝑝𝐵 ∗ = 𝑝𝐵 + ∆𝑝. Percebamos que o termo 𝜇𝑔ℎ não se altera pela ação de �⃗�; assim sendo, o aporte de pressão sobre o ponto A será: 𝑝𝐴 ∗ = 𝑝𝐵 ∗ + 𝜇𝑔ℎ. Com isto, vem que: 𝑝𝐴 ∗ = 𝑝𝐵 + ∆𝑝 + 𝜇𝑔ℎ = 𝑝𝐵 + 𝜇𝑔ℎ + ∆𝑝. Mas, 𝑝𝐴 = 𝑝𝐵 + 𝜇𝑔ℎ. Donde vem que: 𝑝𝐴 ∗ = 𝑝𝐴 + ∆𝑝. Então, como queríamos demonstrar, um acréscimo de pressão Δp no ponto B será integralmente transmitido ao ponto A. Isto é, a nova pressão em A será sua pressão ante- rior mais o aporte promovido pela força aplicada à superfície livre do líquido. Inúmeras são as aplicações deste princípio. 1º) Freio de Automóvel Quando o motorista aciona o pedal dos freios, um pistão, no interior do cilindro mestre, empurra o fluido aí presente. Este acréscimo de pressão, de acordo com o princí- pio de Pascal será integralmente transmitido a todos os pon- tos do fluido. Esta variação de pressão é, então, transmitida a uma mola (ver figura) que aciona o cilindro da roda, tracionando as lonas de freio. 2º) Prensa Hidráulica A prensa hidráulica é muito usada em sítios de agri- cultura familiar; desejando-se empacotar feno utilizado na alimentação dos animais, este é colocado no interior da prensa. Em um dos lados da prensa, tem-se um cilindro de área A1 e do outro lado um cilindro de área A2, tal que A1 < A2; lembrando que 𝑝 = 𝐹 𝐴 , quanto menor a área do pistão maior a pressão transmitida pelo princípio de Pascal. Com isto, podemos dizer que em ambos os lados da prensa a pressão é a mesma, embora o operador necessite de uma força com intensidade bem menor que a força de compressão exigida pelo feno. Assim, 𝑝1 = 𝑝2 ∴ 𝐹1 𝐴1 = 𝐹2 𝐴2 . 3º) Elevador Hidráulico Aqui, o raciocínio é exatamente o mesmo da prensa hidráulica. Ou seja, 𝑝1 = 𝑝2 ∴ 𝐹1 𝐴1 = 𝐹2 𝐴2 . Vamos, agora, pensar no trabalho envolvido no prin- cípio de Pascal. FÍSICA HIDROSTÁTICA Prof. Romério R. Silva Considere a figura acima; quando o pistão do lado esquerdo é empurrado pela força F1, desloca-se de uma dis- tância d1. Por outro lado, o pistão à direita desloca-se d2 por ação da força F2. O trabalho realizado em ambos os lados é o mesmo, mas como as forças F1 e F2 são diferentes, os deslocamentos d1 e d2 também o são. Porém, há entre F1, F2, d1 e d2 a seguinte relação: 𝑊1 = 𝑊2 ∴ 𝐹1𝑑1 = 𝐹2𝑑2. Com isto finalizamos nossas considerações para o princípio de Pascal. TEOREMA DE ARQUIMEDES Reza a lenda que Heron, rei da cidade grega de Sira- cusa, no séc. III a.C, duvidando da honestidade do ourives do reino, convocou Arquimedes para dirimir uma contenda en- volvendo a coroa que havia mandado o ourives confeccionar. O rei Heron desconfiou que o ourives substituíra parte do ouro enviado a ele para a confecção da coroa por prata, um metal bem mais barato que o ouro. Diante de sua imensa admiração por Arquimedes, um dos maiores matemáticos da história, o rei solicitou a ele que encontrasse um modo de descobrir a composição da co- roa, verificando se o ourives havia utilizado somente ouro, ou uma liga de ouro e prata. De acordo com a história, Arquimedes encontrou a resposta ao ir tomar banho em sua banheira. Ao submergir na água, Arquimedes percebeu ter fi-cado mais leve; esta observação levou ao que se conhece por princípio de Arquimedes. "Quando um corpo é mergulhado na água ele perde, em peso, uma quantidade que corresponde ao peso do volume de água que foi deslocado pela imersão do corpo". Mas, exatamente de que modo este princípio pode- ria solucionar o problema da coroa do rei Heron? Observe a figura a seguir. Perceba que a indicação do dinamômetro que sus- pende a coroa apresenta uma indicação menor quando esta se encontra imersa na água. Releia o princípio de Arquimedes antes de prosse- guir, procurando associá-lo à figura acima. Ora, se o dinamômetro com a coroa na presença da água tem uma indicação menor, então é razoável esperar-se que há uma força, contrária ao peso da coroa, contribuindo para a leitura do dinamômetro. FLUIDOS FÍSICA 2 Prof. Romério R. Silva Como a interação neste caso se dá entre coroa e água, podemos supor que esta força vertical para cima e oposta ao peso surja desta interação. A esta força dá-se o nome de empuxo. Vejamos como ela surge. Considere a figura a seguir. Perceba que um corpo imerso em um fluido, recebe deste fluido, ação de forças em todas as direções; o que, na figura acima, é mostrado de modo pictórico pelas setas. Mas, note que as forças laterais, por razões de sime- tria se cancelam mutuamente. Por outro lado, as forças verticais são mais intensas na parte inferior do corpo (flechas maiores) que na parte su- perior (flechas menores). Isto porque, segundo o teorema de Estevin, as pres- sões em fluidos crescem com a profundidade. Este fato acarreta uma resultante de forças vertical para cima e, a esta resultante, chamamos empuxo. A figura a seguir mostra a configuração desta resul- tante e o peso do corpo imerso em um fluido. Observe. Estamos prontos para responder à pergunta de Ar- quimedes: como determinar se a coroa realmente foi feita em ouro puro? Lembre-se que o enunciado do princípio de Arqui- medes fez referência ao peso do líquido deslocado, como sendo igual ao peso da parte do corpo que se encontra sub- mersa. A experiência mostra que fluidos de densidades di- ferentes permitem que volumes diferentes de um mesmo corpo se tornem submersos. Lembra-se do Mar Morto na aula sobre teorema de Stevin? A quantidade de sal dissolvida na água altera de tal modo sua densidade que um corpo com algumas dezenas de quilogramas flutua aí sem nenhum esforço. Não se deve esperar, entretanto, que a pessoa da imagem acima flutue em água pura, por exemplo! Pronto! Entendemos o raciocínio de Arquimedes! Como o ouro e a prata possuem densidades diferentes, de- vem apresentar volumes imersos diferentes quando coloca- dos em água. Construindo-se outra coroa idêntica àquela da sus- peição do rei Heron, mas que se tenha a certeza de que fora feita em ouro maciço, pode-se colocá-la em água e medir o volume por ela deslocado. A seguir, coloca-se a outra coroa no mesmo recipi- ente medindo-se o volume de líquido deslocado agora. A comparação dos pesos destes dois volumes indica se o ourives agiu honestamente, ou não. Podemos, inclusive, calcular estes pesos de modo bastante simples. Observe a figura a seguir. Nela veem-se os pontos (1) e (2). Apliquemos a eles o teorema de Stevin. Vetorialmente, temos: �⃗�1 + �⃗�2 = �⃗⃗�. Nesta equação �⃗⃗� é o empuxo do fluido sobre a es- fera. Em módulo, teremos a seguinte equação: 𝐹2 − 𝐹1 = 𝐸. Mas, como 𝑝 = 𝐹 𝐴 , vem que, pelo teorema de Stevin: 𝑝2 − 𝑝1 = 𝜇𝑔ℎ. Em que h é a medida do desnível entre os pontos (1) e (2) da figura acima e μ a massa específica (densidade) do fluído. Substituindo-se as equações, temos: 𝐹2 𝐴 − 𝐹1 𝐴 = 𝜇𝑔ℎ ∴ 𝐹2 − 𝐹1 = 𝜇𝑔ℎ𝐴. FÍSICA HIDROSTÁTICA Prof. Romério R. Silva O termo hA nada mais é que o volume do cilindro que contém o fluido, assim: 𝐹2 − 𝐹1 = 𝜇𝑔ℎ𝐴 = 𝐸 = 𝜇𝑔𝑉. Reescrevendo a equação acima, 𝐸 = 𝜇𝑓𝑉𝑑𝑔. Onde μf é a massa específica do fluido e Vd o volume de fluido deslocado pela imersão da esfera. Lembrando que o empuxo corresponde ao peso do volume de fluido deslocado, tem-se: 𝐸 = 𝜇𝑓𝑉𝑑𝑔 = 𝑃𝑓𝑑 = 𝑚𝑓𝑑𝑔. Com isto finalizamos uma das mais belas conclusões científicas oriundas da antiguidade clássica. ANOTAÇÕES
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