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Disciplina: Direito Civil Aplicado II Aula 3: Regimes de Bens no Casamento e na União Estável Apresentação: O casamento e a união estável são formas de constituição de família, previstos na Constituição Federal, que não partem de uma relação de parentesco, mas da união de duas pessoas, de sexos distintos ou de mesmo sexo, que se relacionam afetivamente e pretendem formar uma família, com ou sem o nascimento de filhos. As questões existenciais como a liberdade de planejamento familiar, paternidade, o respeito e a consideração mútuos etc. são de extrema importância. Tanto o casamento como a união estável também envolvem questões patrimoniais. Os regimes de bens, estão no centro da questão, pois será o regime de bens escolhido pelos cônjuges ou pelos companheiros o guia determinante das regras de comunicação ou não comunicação do patrimônio entre o casal. Apesar de termos um regime legal, o da comunhão parcial de bens, para o caso dos cônjuges ou companheiros não escolherem o regime de bens, vigora em nosso sistema o princípio da liberdade de escolha. Nesta aula, compreenderemos como funciona a escolha do regime de bens do casamento e da união estável e as principais regras de cada um dos regimes. Objetivos: Reconhecer as possibilidades e os limites da escolha de regimes de bens entre cônjuges e companheiros; Identificar os diferentes regimes de bens de casamento e união estável; Compreender as regras básicas incidentes em cada regime de bens. Noções Gerais dos Regimes de Bens O casamento e a união estável estabelecem uma comunhão de vida entre o casal. Nessa comunhão estão incluídos o sustento comum desse casal, assim como a aquisição e alienação de patrimônio. É inevitável a existência de uma conjuntura patrimonial do casal, no casamento e na união estável. Será, portanto, o regime de bens escolhido pelos cônjuges ou companheiros que regulará essas relações patrimoniais entre eles. Atenção Podemos dizer que é impossível existir casamento ou união estável sem regime de bens incidente. Considerando que cada casal poderá decidir sobre sua forma de organização patrimonial, é de livre escolha do casal a decisão sobre que regime de bens é mais adequado à sua realidade, podendo inclusive celebrar pacto antenupcial ou contrato de convivência que de certa forma misture regras de diferentes regimes de bens. Vamos a elas! Liberdade de escolha Não somente no Brasil, como em outros países, a exemplo da França e de Portugal, é livre aos cônjuges a escolha do regime de bens, que acontecerá antes do casamento. Quando os cônjuges não decidirem antes do casamento por outro regime de bens, ou quando não disciplinarem as regras que devem ser observadas no casamento em relação ao seu patrimônio, vigorará, naquele casamento, o chamado regime legal, que atualmente é o da comunhão parcial de bens. Por que a escolha do regime de bens deve ocorrer antes do casamento? Porque a partir do casamento, conforme consta do § 1º, do art. 1.639, do Código Civil passa a vigorar entre os cônjuges o regime de bens. Como é feita a escolha? A escolha do regime de bens do casamento será feita por negócio jurídico praticado pelos noivos antes do casamento, que é o pacto antenupcial. Oliveira (2018) define pacto antenupcial como: o contrato formal (escritura pública) celebrado entre os nubentes, antes do casamento onde estabelecem o regime de bens que vigorará durante o casamento bem como matéria de direito pessoal, desde que não violem normas de ordem pública. No pacto antenupcial, o casal poderá decidir todo o regramento patrimonial de seu casamento. O casal poderá simplesmente adotar um regime de bens específico, ou criar cláusulas estabelecendo uma mistura entre regimes de bens existentes. Pode ainda, criando cláusulas específicas determinar a criação de um regime de bens diferente de todos os regimes de bens existentes entre eles, estabelecendo um regime de bens novo. Além de estabelecer regras patrimoniais entre o casal, o pacto antenupcial pode ter efeitos perante terceiros, especialmente aqueles terceiros que vierem a se relacionar ou contratar com um dos cônjuges, a lei estabelece solenidades na elaboração do pacto. Como determina o art. 1.653, do Código Civil, o pacto antenupcial deve ser celebrado por escritura pública. Caso os noivos desrespeitem essa regra, o pacto será considerado nulo, e ao casamento será aplicado o regime legal de bens, que é o da comunhão parcial. Alianças (Fonte: Shutterstock) Os cônjuges podem mudar de ideia sobre o regime de bens? Caso os cônjuges depois do casamento mudem de ideia sobre o regime de bens, desde a promulgação do Código civil de 2002, que entrou em vigor em janeiro de 2003, é lícito aos cônjuges a mudança do regime de bens escolhido para o casamento. Essa troca é possível tanto aos casais que celebraram pactos antenupciais, como aos que não celebraram pacto algum e por isso viviam sob o regime da comunhão parcial de bens. Essa mudança pode implicar em prejuízo de um dos cônjuges em relação ao outro, em fraude praticada pelos cônjuges, ou até mesmo em prejuízo do direito de terceiros. Para evitar esse efeito, a lei determina, no § 2º, do art. 1.639, do Código Civil que: é admissível a alteração do regime de bens, mediante autorização judicial em pedido motivado de ambos os cônjuges, apurada a procedência das razões invocadas e ressalvados os direitos de terceiros. A partir dessa possibilidade passamos a afirmar que um dos princípios que rege o direito patrimonial de família é o princípio da mutabilidade do regime de bens. Os cônjuges podem, portanto de comum acordo, pleitear judicialmente a mudança de seu regime de bens, e justificar o pedido. Para que ocorra a mudança é necessário que: 1 o pedido seja comum, de ambos os cônjuges; 2 seja motivado e 3 não prejudique terceiros. Atividade Questão 1: André e Adriana são casados há 6 anos pelo regime da comunhão universal de bens, em virtude de terem realizado pacto antenupcial. Depois de perderem seus empregos, e diante da grave crise financeira na qual se encontram, decidem abrir uma empresa, mas foram informados pelo contador que não é possível serem sócios em virtude da proibição constante do art. 977 do Código Civil: "faculta-se aos cônjuges contratar sociedade entre si ou com terceiros, desde que não tenham casado no regime da comunhão universal de bens ou no da separação obrigatória". Como a situação deles poderia ser solucionada? E na união estável, os companheiros também podem escolher? 1 Na união estável os companheiros também podem escolher seu regime de bens, e assim como no casamento, caso não escolham, estarão submetidos ao regime da comunhão parcial de bens, que é o regime legal tanto para o casamento como para a união estável. 2 Na união estável, a formação do vínculo não acontece, como no casamento, em momento determinado, mas vai se formando aos poucos, por meio da convivência pública, contínua, duradoura e com a intenção de constituir família, o modo de escolha do regime de bens se dá a qualquer tempo na união estável, pela celebração de contrato de convivência. Casal (Fonte: Shutterstock) 3 No caso da escolha de regime de bens na união estável, não é necessário que o contrato seja celebrado por instrumento público. A única exigência feita pela lei é que seja contrato escrito. 4 Determina o art. 1.725, do Código Civil que "na união estável, salvo contrato escrito entre os companheiros, aplica-se às relações patrimoniais, no que couber, o regime da comunhão parcial de bens". Comentário Na união estável vigora, a princípio, o regime da comunhão parcial de bens, salvo se as partes, expressamente, acordarem por regime diverso, para que o patrimônio adquirido na constância da convivência, não se comunique com o outro, ou se comunique plenamente, como no regime da comunhão parcial. Atualmente, para dirimir eventuais dúvidas e a comunicação do patrimônio, alguns autores reconhecem a possibilidade daqueles que mantém um relacionamento, mas quenão querem o reconhecimento da união, firmar uma "escritura de namoro". Cônjuges ou companheiros podem sempre escolher o regime de bens? A regra no ordenamento jurídico brasileiro é a possibilidade de escolha do regime de bens entre cônjuges e companheiros. Atenção Como exceção, há situações em que a lei impede a escolha do regime de bens, determinando que nessas situações seja aplicado de forma obrigatória o regime de bens da separação absoluta, daí o regime restar conhecido como o regime da separação total de bens obrigatória. A impossibilidade de escolha do regime de bens é fixada pelo art. 1.641, do Código Civil, determinando ser obrigatório o regime da separação de bens do casamento: I das pessoas que o contraírem com inobservância das causas suspensivas da celebração do casamento; II da pessoa maior de 70 anos; III de todos os que dependerem, para casar, de suprimento judicial. As causas suspensivas para o casamento são descritas no art. 1.523 do Código Civil que não impedem o casamento, mas que tentam suspender a possibilidade do casamento, até que a situação seja resolvida, a fim de evitar confusão patrimonial aos futuros cônjuges. Exemplo Aquele que se divorciou, sem fazer partilha de bens, e estaria subordinado à causa suspensiva até que realizasse a partilha, na forma do art. 1.523, inciso III, do Código Civil. Caso uma causa suspensiva não seja respeitada, o casamento será válido, mas se subordinará ao regime da separação obrigatória de bens. Da mesma forma não tem liberdade de escolha do regime aqueles que precisam de suprimento judicial para o casamento, por terem mais de 16 e menos de 18 anos e um ou ambos os pais não tiverem consentido no casamento. E por fim, também não podem escolher livremente o regime de bens do casamento os maiores de 70 anos. Essa norma encontra muitas críticas dos autores de Direito de Família, por, segundo a doutrina, tratar o idoso com discriminação, não lhe permitindo exercer de forma livre sua autonomia da vontade. Apesar de todas as críticas, a norma continua em vigor, determinando que não seja possível a livre escolha do regime de bens. Regime Legal. Regime da comunhão parcial de bens 1977 O regime legal de bens do casamento era, antes de 1977, o da comunhão universal de bens. Naquela época o casamento era indissolúvel, não sendo possível o divórcio, de modo que as pessoas só vinham a refletir sobre a partilha de bens do casal quando da morte de um dos cônjuges. No momento em que o casamento era então dissolvido pela morte, o cônjuge sobrevivente tinha sua meação assegurada, sendo a meação do cônjuge falecido partilhada entre os herdeiros. Com o advento da lei de divórcio, em 1977, tornando possível o fim do casamento sem que fosse pela morte de um dos cônjuges, não fazia mais sentido que o regime legal do casamento fosse o da comunhão universal de bens, cuja característica é a comunicação de todos os bens, presentes e futuros entre os cônjuges. Por entender que seria mais justo economicamente um regime de bens que tivesse por princípio a comunicação dos bens adquiridos pelo esforço comum do casal, em vista da possibilidade de divórcio, o regime legal de bens no Brasil passou a ser o da comunhão parcial de bens. Regime de bens (Fonte: Shutterstock) Quando regulamentada a união estável, após a constituição de 1988, por isso após a dissolubilidade do casamento, foi aplicada à união estável o regime da comunhão parcial de bens. O regime da comunhão parcial de bens tem como preceito a comunicação entre cônjuges e companheiros dos bens que sobrevierem ao casal, durante o casamento e a união estável de forma onerosa. Tendo por base tal preceito, o art. 1.659, do Código Civil determina que se excluem da comunhão: os bens que cada cônjuge possuir ao casar, e os que lhe sobrevierem, na constância do casamento, por doação ou sucessão, e os sub-rogados em seu lugar; os bens adquiridos com valores exclusivamente pertencentes a um dos cônjuges em sub-rogação dos bens particulares; as obrigações anteriores ao casamento; as obrigações provenientes de atos ilícitos, salvo reversão em proveito do casal; os bens de uso pessoal, os livros e instrumentos de profissão; os proventos do trabalho pessoal de cada cônjuge; as pensões, meios-soldos, montepios e outras rendas semelhantes. O art. 1.660, do Código Civil determina que entram na comunhão: os bens adquiridos na constância do casamento por título oneroso, ainda que só em nome de um dos cônjuges; os bens adquiridos por fato eventual, com ou sem o concurso de trabalho ou despesa anterior; os bens adquiridos por doação, herança ou legado, em favor de ambos os cônjuges; as benfeitorias em bens particulares de cada cônjuge; os frutos dos bens comuns, ou dos particulares de cada cônjuge, percebidos na constância do casamento, ou pendentes ao tempo de cessar a comunhão. Atividade Questão 2: Se Renata e Rodrigo forem casados pelo regime da comunhão parcial, e Renata receber um imóvel, por doação de seu pai, e fizer no imóvel diversas melhorias, esse imóvel será de ambos os cônjuges ou será exclusivamente de Renata? Regime da comunhão universal de bens É regulado pelos artigos 1.667 a 1.671 do Código Civil. Neste regime, é determinada a comunicação de todos os bens, os direitos e as dívidas presente no momento do casamento, assim como os futuros, independente de sua aquisição ser por modo oneroso ou gratuito. Estarão excluídos da comunhão somente os bens descritos no art. 1.668 do Código Civil: os bens doados ou herdados com a cláusula de incomunicabilidade e os sub-rogados em seu lugar; os bens gravados de fideicomisso e o direito do herdeiro fideicomissário, antes de realizada a condição suspensiva; as dívidas anteriores ao casamento, salvo se provierem de despesas com seus aprestos, ou reverterem em proveito comum; as doações antenupciais feitas por um dos cônjuges ao outro com a cláusula de incomunicabilidade; Os bens referidos nos incisos V a VII do art. 1.659. Regime da participação final dos aquestos É uma novidade do Código Civil de 2002, que excluiu o regime dotal e passou a tratar dessa nova modalidade. Podemos dizer que esse regime é uma mistura entre os regimes da comunhão parcial e da separação total de bens. Na forma do art. 1.672 do Código Civil, no regime da participação final dos aquestos, cada cônjuge possui patrimônio próprio, (...) e lhe cabe, à época da dissolução da sociedade conjugal, direito à metade dos bens adquiridos pelo casal, a título oneroso, na constância do casamento". Os bens anteriores ao casamento pertencerão a cada cônjuge sem comunicação com o outro. A titularidade dos bens será comum quando se tratar de bem adquirido por ambos os cônjuges na constância do casamento. Sobre os bens adquiridos na constância do casamento em nome exclusivamente de cada um dos cônjuges, o direito do outro dependerá da forma de aquisição. Se tratar-se de bem adquirido gratuitamente, por herança ou doação, por exemplo, não caberá qualquer direito ao outro cônjuge. Se tratar-se de bem adquirido onerosamente em nome exclusivo de um dos cônjuges, o outro não será meeiro do bem, mas terá direito a indenização correspondente a metade do valor. Atenção O tratamento legal do regime de participação final dos aquestos consta dos artigos 1.672 ao 1.686 do Código Civil. Regime da separação absoluta de bens convencional É a separação total de bens que não foi imposta pela lei, mas escolhida pelos cônjuges ou companheiros por meio de pacto antenupcial ou contrato de convivência respectivamente. Nesse regime vigora o preceito da não comunicação de todos os bens, sejam eles adquiridos onerosa ou gratuitamente pelos cônjuges ou companheiros. Sejam eles anteriores ou posteriores ao casamento. Não haverá qualquer comunicação de patrimônio entre os cônjuges, mantido o dever de ambos na manutenção e no sustento da vida em comum. Regime da separação total de bens obrigatória Incidirá no casamento quando qualquer das causas previstas no art. 1.641 do CódigoCivil estiver presente. Nestes casos o regime de bens não poderá ser livremente escolhido pelos noivos. Em princípio o regime de bens da separação total seja ela convencional ou obrigatória, determina a ausência de comunicação de patrimônio atual ou futuro entre os cônjuges. A considerar que no regime da separação total obrigatória, diversamente do que acontece no regime da separação total convencional, as partes não escolheram a aplicação do regime de separação total, em muitas oportunidades, a imposição do referido regime de bens causa prejuízo de um dos cônjuges e enriquecimento injustificado do outro. (Fonte: Shutterstock) Em virtude disso, a súmula 377, do STF, dispõe que "no regime de separação legal de bens, comunicam-se os adquiridos na constância do casamento". A referida súmula tenta minimizar os efeitos da imposição do regime de bens de separação total a um casal que não manifestou sua vontade. Segundo entendimento do Superior Tribunal de Justiça, a restrição quanto à escolha de regime de bens, em virtude de um ou ambos os cônjuges serem maiores de 70 anos de idade também se aplica à união estável. Na próxima aula, abordaremos o direito a alimentos. Atividade Questão 3: Considere as afirmativas a seguir: I. É lícito aos noivos escolher o regime de bens do casamento, sendo o regime imutável após o casamento. II. No regime da comunhão universal de bens se comunicam todos os bens presentes e futuros, inclusive os salários de cada um dos cônjuges. III. No regime da separação total de bens somente o salário dos cônjuges se comunica. É correto afirmar: a) Todas as afirmativas estão corretas. b) Todas as afirmativas estão incorretas. c) As afirmativas I e III estão corretas. d) A afirmativa II está correta. Atividade Questão 4: São características dos regimes de bens: a) A possibilidade de livre escolha e imutabilidade. b) Liberdade de escolha, mutabilidade e possibilidade de mistura entre diversos regimes. c) Liberdade de escolha, exercida a qualquer tempo pelos cônjuges. d) Obrigatoriedade de regime de comunhão. Atividade Questão 5: No regime de participação final dos aquestos, uma das características é que: a) Comunicam-se os bens atuais e futuros. b) Comunicam-se os bens adquiridos onerosamente após o casamento em nome de qualquer dos cônjuges. c) Comunicam-se os bens adquiridos onerosamente após o casamento em nome de ambos os cônjuges. d) Os bens não se comunicam. Referências OLIVEIRA, J. M. Leoni Lopes. Direito Civil. Família. São Paulo: Gen Forense, 2018. GONÇALVES, Carlos Roberto. Curso de Direito Civil. v. VII. São Paulo: Saraiva, 2018. Próximos Passos O direito a alimentos no ordenamento jurídico brasileiro; As espécies de alimentos e quem tem direito a alimentos; As regras para fixação do valor dos alimentos e formas de execução dos alimentos. Explore mais Sobre a aplicação do regime da separação obrigatória de bens à união estável, confira: • União estável e a separação obrigatória de bens. Acesso em: 19 jun. 2018 <https://stj.jusbrasil.com.br/noticias/100614689/uniao-estavel-e-a- separacao-obrigatoria-de-bens> . https://stj.jusbrasil.com.br/noticias/100614689/uniao-estavel-e-a-separacao-obrigatoria-de-bens
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