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ENFERMAGEM Universidade Federal de Juiz de Fora 1 ACOLHIMENTO EM SAÚDE MENTAL “Eu era apenas rio esperando que você navegasse poema quebrado no frio num salão vazio esperando que você recitasse eu era manhã cinzenta esperando de você a aurora.” Oswaldo Montenegro, em “Poema Quebrado”. Você sabe o que signifi ca “acolhime nto”? Pense um pouco no sentid o dessa pala vra... Releia agora a epígrafe e imagine que você é este alguém que espera... Algumas vezes, visitamos estabelecimentos comerciais (lojas, shoppings) e o profissional de vendas nos recebe de uma maneira distante, fria, não é mesmo? Em outros momentos, procuramos por serviços de saúde e também obtemos respostas (quando as obtemos!) indesejadas por parte daqueles que nos recepcionam... Já se sentiu assim? No seu dicionário da língua portuguesa, Aurélio Buarque de Holanda define acolhimento como “acolhida, ato ou efeito de acolher, recepcionar, ter atenção e consideração, proporcionar abrigo”. Logo, é possível verificar que a todo o momento estamos acolhendo alguém, inclusive a nós mesmos! ENFERMAGEM Universidade Federal de Juiz de Fora 2 Além de acolher o outro, acolhemos também as suas expectativas, emoções e sentimentos, cedendo-lhe nossos ouvidos, ombros e tempo, o que nos faz transpor as barreiras do envolvimento profissional, geralmente distante e desprovido de empatia. Mas de que forma toda essa questão aplica-se à área da saúde? Segundo a Constituição Brasileira, a atenção à Saúde é dever do Estado (aqui entendido como União) e direito do cidadão que se desloca de sua residência para um atendimento em serviços públicos. O acolhimento é o primeiro passo para um atendimento correto e bem-sucedido. Pensemos na iniciativa do Ministério da Saúde ao incorporar o acolhimento como uma das diretrizes de maior relevância ética/estética/política da Política Nacional de Humanização do SUS. Na Cartilha Ministerial, é possível compreender a sua representação social. Leia, a se guir, algu ns tópico s do docu mento: • Relevân cia Ética - refere-se ao comp romisso c om o reco nhecimen to do out ro na atitude de acolhê -lo em sua s diferenç as, suas d ores, suas alegrias, seu modo de viver, s entir e es tar na vid a. • Relevâ ncia Esté tica - tra z para as relações e os enc ontros do dia a dia a invenção de estrat égias que contribu em para a dignifica ção da vid a e do viv er e, assim, para a co nstrução de nossa própria h umanidad e. • Relevâ ncia Polít ica - impl ica o com promisso coletivo de envolv er-se nes te “estar co m”, poten cializando protagon ismos e v ida nos di ferentes encontro s. ENFERMAGEM Universidade Federal de Juiz de Fora 3 Ficou curioso para saber mais? Acesse a cartilha através do endereço eletrônico disponível acima e conheça mais proposições ministeriais sobre este tema. E, então, você já consegue visualizar o acolhimento aplicado à ação profissional do enfermeiro? O acolhimento propõe que o serviço de saúde seja organizado de forma usuário-centrada, partindo dos seguintes princípios: 1 Atender a todas as pessoas que procuram os serviços de saúde, garantindo a acessibilidade universal. 2 Reorganizar o processo de trabalho a fim de que este desloque seu eixo central do médico para uma equipe multiprofissional – equipe de acolhimento, que se encarregue da escuta do usuário, comprometendo-se a resolver seu problema de saúde. 3 Qualificar a relação trabalhador-usuário, que deve dar-se por parâmetros humanitários, de solidariedade e cidadania (FRANCO; BUENO; MERHY, 1999, p. 345). Ao pensar sobre a proposta de (re)organização dos serviços de saúde, devemos levar em consideração os conceitos de sujeitos coletivos autônomos e socialmente responsáveis. Merhy (1997) defende que o acolhimento só se faz presente quando há investimento no desenvolvimento dessas habilidades nos profissionais de saúde. Você concorda com o autor? Qual é a sua opinião sobre o assunto? Fonte: Cartilha da PNH - Acolhimento nas Práticas de Produção de Saúde. Disponível em: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/acolhimento_praticas_saude_2ed.pdf>. O acolhimento como um dos dispositivos que contribui para a efetivação do SUS O acolhimento no campo da saúde deve ser entendido, ao mesmo tempo, como diretriz, ética/estética/política constitutiva dos modos de se produzir saúde e ferra- menta tecnológica de intervenção na qualificação de escuta, construção de vínculo, garantia do acesso com responsabilização e resolutividade nos serviços. Como diretriz, podemos inscrever o acolhimento como uma tecnologia do encontro, um regime de afetabilidade construído a cada encontro e mediante os encontros, portanto como construção de redes de conversações afirmadoras de relações de potência nos processos de produção de saúde. O acolhimento como ação técnico-assistencial possibilita que se analise o pro- cesso de trabalho em saúde com foco nas relações e pressupõe a mudança da relação profissional/usuário e sua rede social, profissional/profis- sional, mediante parâmetros técnicos, éticos, humanitários e de solidariedade, levando ao reconhecimento do usuário como sujeito e participante ativo no processo de produção de saúde. ENFERMAGEM Universidade Federal de Juiz de Fora 4 Muito bem! Chegamos, afinal, na discussão central do capítulo, uma vez que entendemos que o ato de acolher está presente em todas as etapas de prevenção, promoção, recuperação e reabilitação dos portadores de distúrbios mentais, desde os mais leves até os de terapêutica mais complexa. O acolhimento é, portanto, o “passo inicial” para o cuidado integral na área de saúde, permeando todo o processo de assistência com dinamismo e disposição em estar com o outro. ................................................................................................................................................................ ................................................................................................................................................................ ................................................................................................................................................................ ................................................................................................................................................................ ................................................................................................................................................................ ................................................................................................................................................................ ................................................................................................................................................................ ................................................................................................................................................................ ................................................................................................................................................................ ................................................................................................................................................................ ................................................................................................................................................................ ................................................................................................................................................................ ANOTE AQUI: Há quem pense que uma dimensão espacial, com amplas recepções e ambientes confortáveis, ou uma atividade de triagem administrativa, com repasse de encaminhamentos para serviçosespecializados, traduzam o significado de “acolher”. A atenção dispensada nesta atividade envolve caminhos muito mais profundos e reflexivos. O acolhimento é um modo de operar os processos de trabalho em saúde de forma a atender a todos que procuram pelos serviços de saúde, ouvindo seus pedidos e assumindo, no serviço, uma postura capaz de acolher, escutar e dar respostas mais adequadas aos usuários. Ou seja, requer prestar um atendimento com resolutividade e responsabilidade, orientando, quando for o caso, o paciente e a família em relação a outros serviços de saúde para a continuidade da assistência. Além disso, estabelecer articulações com os serviços para garantir a eficácia desses encaminhamentos (BRASIL, 2006). Para tanto, algumas posturas têm de ser adotadas pelos profissionais de saúde a fim de produzir resultados positivos. Que tal refletirmos juntos sobre algumas delas? ENFERMAGEM Universidade Federal de Juiz de Fora 5 Com base nos conceitos aqui discutidos, você é capaz de compreender o acolhimento como componente ativo de interação entre o ser cuidador e o sujeito do cuidado (individual ou coletivamente)? Nesse momento, vamos conversar um pouco sobre o acolhimento em Saúde Mental. Já se perguntou como acolher o paciente/ u s u á r i o / f a m í l i a / a c o m p a n h a n t e / comunidade sob esta ótica? A Secretaria do Estado de Saúde de Minas Gerais formulou, em 2006, o Caderno de Atenção em Saúde Mental, no qual destacou alguns pontos importantes a respeito da temática abordada neste capítulo. O profissional deve: >> entender o usuário do Sistema como protagonista do processo de produção da saúde. >> estar aberto para o encontro com o usuário e toda a rede social que o envolve. >> compreender que a reorganização do serviço é inevitável após a adoção da proposta do acolhimento, implicando intervenções junto à equipe multiprofissional encarregada da escuta e da resolução do problema de quem é acolhido. >> promover a horizontalização das linhas de cuidado com a elaboração de terapêuticas individuais e coletivas. >> ampliar os espaços democráticos de discussão, decisão e trocas coletivas, dialogando e proporcionando respostas às necessidades de saúde. ENFERMAGEM Universidade Federal de Juiz de Fora 6 No CAPS, o usuário será recebido diretamente pela Equipe de Saúde Mental. Já nos serviços gerais de atenção à saúde, os profissionais de saúde, com ou sem formação específica para atenção à Saúde Mental, atenderão o usuário. Aqui surgem questões importantes para serem discutidas... Frequentemente, os pacientes portadores de sofrimentos mentais são mal vistos pela sociedade. Muitos têm dificuldade de lidar com as pessoas, não gostam mesmo do contato e até cogitam o fato de serem pessoas perigosas. Porém, muitos de nós esquecemos que, no convívio diário, transitando em ônibus, praças, >> Por um CAPS (Cen tro de Aten ção Psicossocia l). >> Diretam ente em se rviços de s aúde: unidades b ásicas, hos pitais gera is etc. Por exem plo, há duas maneiras pelas qua is o portador de sofrim entos mentais ch ega ao sis tema de saúde: teatros, cinemas, restaurantes, bares e outros, nos esbarramos com portadores de sofrimentos mentais que convivem socialmente sem causar nenhum problema à sociedade. Então, por que temê-los? O trabalhador do segmento da saúde tem de desenvolver um “jeito” de lidar com estes pacientes quando se apresentam inconvenientes, como, por exemplo, recorrer à firmeza e à tolerância. Não adianta somente encaminhá-los para os Serviços Especializados em Saúde Mental, porque, se isso acontecer, não estaremos utilizando da prática do acolhimento! Em situações do dia a dia, fora de crises graves, os usuários são plenamente capazes de dizer o que sentem, querem e necessitam. Utilizar da escuta ativa, percebendo qual é o motivo pela procura do serviço, é um passo importante para encaminhá-lo ou não a um serviço específico. Para tanto, todos os trabalhadores devem conhecer a dinâmica da atenção à Saúde Mental, pois, se necessário, saberão para onde referenciar o usuário. Jorge et al. (2011) destacam a valorização das tecnologias leves ou relacionais pelos sujeitos componentes da prática nos serviços de saúde mental. Você sabe o que isso significa? ENFERMAGEM Universidade Federal de Juiz de Fora 7 Autonomia é... MENDES-GONÇALVES, R. B. Tecnologia e organização social das práticas de saúde. São Paulo: Hucitec, 1994. SANTOS, A. M.; ASSIS, M. M. A.; NASCIMENTO, M. A. A.; JORGE, M. S. B. Vínculo e autonomia na prática de saúde bucal no Programa Saúde da Família. Rev. Saúde Pública, 2008; 42(3):464-470. As tecnologias leves compreendem as relações interpessoais, como a produção de vínculos, autonomização e acolhimento . Já falamos um pouco sobre o acolhimento e a nossa próxima intenção é abordar os conceitos de vínculo e autonomia. Etimologicamente, vínculo é um vocábulo de origem latina. Significa algo que ata ou liga pessoas, indica interdependência, relações com linhas de duplo sentido, compromissos dos profissionais com os pacientes e vice-versa. A constituição do vínculo depende de movimentos tanto dos usuários quanto da equipe Analisado em contexto mais amplo, o vínculo favorece um dos princípios do SUS, o da Integralidade, uma vez que “dá as mãos” aos usuários e profissionais, estabelecendo uma rede de referência e contra- referência que beneficia a todos. Quanto à autonomia... Você saberia defini-la? Utilize o espaço ao lado para conceituá-la, aproximando-a da Saúde Mental. A construção da autonomia nos portadores de sofrimentos mentais dá-se mediante o vínculo positivo com os profissionais de saúde atentos às necessidades dos usuários. A sua identificação lhes permite participar ativamente de todo o processo terapêutico, tornando-se sujeito de seu próprio mundo, ator de seu cuidado e corresponsável pela sua recuperação. Percebeu como o acolhimento, o vínculo, a autonomia e a corresponsabilização são componentes fundamentais para a atenção na Saúde Mental? Nas próximas linhas, você encontrará um ‘instrumento’ formidável que o auxiliará a desenvolver a habilidade de acolher. Vamos a ele? ......................................................................................................... ......................................................................................................... ......................................................................................................... ......................................................................................................... ......................................................................................................... ......................................................................................................... ......................................................................................................... ......................................................................................................... ........................................................................................................ 1 1 2 ENFERMAGEM Universidade Federal de Juiz de Fora 8 PLUS! A empatia tem sido considerada como um atributo necessário ao profissional de ajuda. Na psicoterapia, por exemplo, o terapeuta que se comporta com seu cliente de maneira empática tende a ser mais bem sucedido em seu trabalho. O mesmo acontece com o assistente social, com o enfermeiro e o médico. Pesquisas sugerem que as pessoas empáticas se comportam de uma maneira que minimiza o conflito e o rompimento, tornando a interação mais agradável. Livros populares afirmam que a empatia é uma das habilidades que compõem a “inteligência emocional” sendo mais importante para o sucesso profissional do que o QI (Quoeficiente Intelectual). Eliane Falcone Phd em Psicologia Experimental pela USP/SP.A definição de empatia nos auxilia a entender o envolvimento necessário ao acolhimento. Você já deve ter ouvido falar dela, não é mesmo? A empatia é definida como uma habilidade que compreende precisamente os sentimentos e a perspectiva de outra pessoa, experimentando ou não os mesmos sentimentos dela, além de transmitir este entendimento de uma forma apropriada. Essa definição nos permite diferenciar a empatia da simpatia e da angústia pessoal. Tratando-se da Saúde Mental, muitos de nós incorremos no equívoco de afastamento do portador de distúrbios mentais por não compreendermos estas definições. A empatia >> Empatia possui um componente cognitivo mais elaborado. O indivíduo pode até experimentar sentimentos semelhantes aos da outra pessoa, mas ele faz uma elaboração mais refinada, relacionando o contexto, o sentimento e a perspectiva do outro. >> Simpatia é uma reação predominantemente emocional. Sabe aqueles momentos em que sentimos exatamente o que o outro sente, identificamo-nos com ele e, literalmente, vestimos a camisa? Aqui, estamos sendo SIMPÁTICOS!>> A angústia pessoal caracteriza-se por um sentimento de desconforto diante do sofrimento de outra pessoa e, por isso, corresponde a uma reação mais egoísta. Vamos a elas: Reflita sobre situações e pessoas que o fizeram experimentar as sensações/ sentimentos acima descritos... Voltemos à empatia! Para que você possa comportar-se de uma forma empática, deve estar disposto a se colocar no lugar do outro, demonstrando respeito e apreciação pelos sentimentos, perspectivas, além de se importar com o bem-estar de quem o procura. ENFERMAGEM Universidade Federal de Juiz de Fora 9 Percebeu como a empatia é a âncora do acolhimento? O que acha de começar a treinar? Ouvidos à obra!!! 1 Demonstrar at enção. 2 Ouvir e compreender sensivelmente os sentimento s da outra pessoa . 3 Demon strar ess a compreensão le gitimando a fala e relacionando -a ao contexto e à emoção do us uário. O comporta mento empático envol ve três ações sequencia is e di- nâmicas: PARA REFLETIR: “(...) crer numa loucura localizada no indivíduo e emprestar ao louco uma vestimenta que o transfigura em monstro não só ten- de a retirar-lhe o estatuto de humanidade, como também a nos fazer esquecer que algo se diz através da loucura. Isto é, algo cujo sentido denuncia o contexto no qual ela emerge. João Frayze-Pereira, em seu livro “O que é Loucura”. • http://sos-saudemental.blogspot.com/ • Biblioteca Virtual em Saúde Mental. Disponível em: <http://www.prossiga.br/ee_usp/ saudemental/Centro de Estudos via Internet>. • Secretaria do Estado de Saúde de Minas Gerais. Disponível em: <http://www. saudemental.med.br/ >. • Centro de Estudos via Internet. Disponível em: <http://www.saude.mg.gov.br/>. LINKS INTERESSANTES ENFERMAGEM Universidade Federal de Juiz de Fora 10 Nesse capítulo, você pode aprender sobre: • O significado de acolher em saúde mental. • A importância da representação social do acolhimento. • O acolhimento aplicado à ação profissional do enfermeiro. • O acolhimento como componente ativo de interação entre o ser cuidador e o sujeito do cuidado. • Como o portador de sofrimento mental chega ao sistema de saúde. • As tecnologias leves na produção de vínculos, autonomização e acolhimento. • A empatia como um atributo necessário ao profissional de ajuda. RESUMO ENFERMAGEM Universidade Federal de Juiz de Fora 11 A SAÚDE MENTAL NO DIA A DIA Diferente, eu? “Pra você felicidade é Relva tenra que cresceu no chão Mas pra mim é fruta que no pé Se oferece ao olho, à boca, à mão Pra você toda a tristeza vem Quando o sol descamba para o mar Mas pra mim só quando não se tem Para onde dirigir o olhar Então nós dois Sutis diferenças Vamos combinar Não pra saber Quem vence ou não vence Mas que luz vai dar”. “Sutis Diferenças” – Caetano Veloso Você já teve um dia daqueles em que tudo parece dar errado? Quando isso acontece, muita gente diz: “Assim, eu vou enlouquecer!” Mas será que alguém realmente enlouquece depois de um dia difícil? Já sentiu aquela dor imensa quando um relacionamento amoroso terminou? Sabe aquela tristeza que toma conta e nos deixa completamente abatidos como se nunca mais fôssemos conseguir sorrir de novo? Isaac Newton afirma que toda ação corresponde a uma reação. Assim, não reagimos aos acontecimentos do dia a dia. E alguns reagem de maneira muito diferente da maioria das pessoas. Você conhece alguém assim? Normalmente, essas pessoas são logo vistas com desconfiança, não é verdade? Mas será que alguém pensa em um motivo para elas agirem de um modo diferente? Será que agir assim significa ter algum problema mental? Muitas vezes, agimos de forma diferente por estarmos sentindo um mal-estar físico ou emocional. E isso não quer dizer que estejamos sofrendo de algum problema mental. Podemos ser vistos como estranhos, por exemplo, porque viemos de uma sociedade com tradições culturais e sociais diferentes. Na Grécia, é muito comum cuspir na noiva no dia do casamento, enquanto ela caminha para o altar. Será que todos os gregos são loucos?! Múltiplos aspectos podem ser considerados quando discutimos saúde mental e o que pretendemos aqui é o entendimento do conceito e de quais situações estão por trás desse assunto que ainda gera muita discussão entre os estudiosos da mente. ENFERMAGEM Universidade Federal de Juiz de Fora 12 O DESAFIO DE ARISTÓTELES “Qualquer um pode zangar-se... isso é fácil. Mas zangar-se com a pessoa certa, na medida certa, na hora certa, pelo motivo certo e da maneira certa não é fácil!” Ao pensarmos sobre um conceito para saúde mental, nos vêm à mente alguns elementos ou variáveis que podem contribuir ou interferir nesse processo. Como exemplos positivos, destacamos: • Atitudes positivas em relação a si próprio. • Crescimento, desenvolvimento e autorrealização. • Integração e resposta emocional. • Autonomia e autodeterminação. • Percepção apurada da realidade. • Domínio ambiental e competência social. Por outro lado, há exemplos negativos: • Estar desempregado ou desmotivado em um emprego. • Ausência de segurança em sua cidade/domicílio. • Isolar-se socialmente (não ter amigos). • Residir em uma região sem saneamento básico adequado. • Ser vítima de violência doméstica. Mas o que é Saúde Mental? Cientistas e pesquisadores vêm tentando entender o que é saúde mental e, principalmente, como a mente pode agir sobre as pessoas de forma a estabelecer, ao longo de suas vidas, sentimentos de satisfação e plenitude, de sofrimento e, até mesmo, desencadeando doenças. Já experimentou uma dor de cabeça após estar aborrecido? E uma sensação de leveza e bem-estar quando está feliz? O cérebro produz substâncias (neuropeptídeos) mediante nossos pensamentos e emoções (Common Sense Health and Healing, Dr. Richard Schulze). Assim, emoções positivas nos trazem efeitos saudáveis tanto em nível físico quanto mental. Quando os pensamentos e emoções tornam-se desequilibrados, nosso corpo e mente também se desequilibram. ENFERMAGEM Universidade Federal de Juiz de Fora 13 O meio em que vivemos, a formação pessoal oferecida pela nossa família, o contexto social, as diversas relações que estabelecemos com o mundo e com as pessoas, o que aprendemos com tudo isso e como respondemos a essas propostas de inter-relação são considerações importantes que influenciam na saúde mental. A existência humana é recheada de dificuldades e frustrações que podem produzir a sensação desagradável a qual chamamos de angústia. Considerada um sistema de alerta e de ofensiva, muitas vezes necessária à preservação do nosso organismo, tem como um dos efeitos colaterais a geração de tensão. A tensão que, a princípio, nos parece ruim pode, na verdade, ser um aspecto positivo se levarmos em consideração o fato de ela ser capaz de mobilizar nossa energia,que poderá ser direcionada para qualquer atividade. Entender o conflito psicológico como inerente ao ser humano nos impele a reagir de forma saudável, mostrando-nos mais flexíveis com as situações do cotidiano, em especial aquelas que não saem exatamente como esperávamos. Agora pense e tente responder à seguinte questão: Como acha que pode contribuir para que as pessoas ao seu redor e até você tenham uma condição melhor de saúde mental? Aproveite o espaço e registre suas ideias. ANOTE AQUI: ........................................................................ ........................................................................ ........................................................................ ........................................................................ ........................................................................ ........................................................................ ........................................................................ ........................................................................ ........................................................................ ........................................................................ ........................................................................ ........................................................................ ........................................................................ Saúde mental é um conceito que gera polêmica. É possível considerar como distúrbios mentais diversos transtornos como dislexia, autismo, até distúrbios psicológicos e de comportamento (por exemplo: a ansiedade), que estão mais diretamente relacionados com o modo de vida de cada indivíduo. ENFERMAGEM Universidade Federal de Juiz de Fora 14 Qualquer um pode ter a sua saúd e mental afetada. O preconce ito e a desinf ormação podem co ntribuir p ara o agravam ento ou o surgimen to de mai s doenças . O Comitê de Peritos da Organização Mundial de Saúde – OMS define saúde mental como “a capacidade de estabelecer relações harmoniosas com os demais e a contribuição construtiva nas modificações do ambiente físico e social”. Podemos observar que existe uma preocupação em se referir à pessoa na relação com o meio, à sua capacidade de adaptação, de resolução de conflitos e à sua contribuição criativa. Dessa forma, percebemos que não é fácil estabelecer uma definição. Alguns estudiosos indicam critérios para sabermos se um indivíduo está mentalmente preservado, tais como: • Não ter sintomas de doença, sentindo-se vital e descontraído. • Conhecer a si mesmo. • Manter contato com a realidade, o que implica aceitar as próprias limitações, assim como a capacidade em fazer frente às situações vitais com critérios realistas. • Manter uma vida emocionalmente equilibrada. • Adaptar-se à vida em sociedade. • Encontrar motivos de satisfação razoáveis na vida diária. • Ter convicções acerca do valor pessoal e do sentimento da vida. • Desenvolver o espírito criador na vida pessoal. VAMOS A ALGUNS EXEMPLOS? 1 Há alguns meses, Maria tem se sentido muito triste na maior parte dos dias. Ela não apresenta mais interesse pelas atividades que costumava realizar. Também tem estado muito pessimista em relação à vida, com baixa autoestima e, às vezes, se pergunta se está valendo a pena viver. O desencadeamento em Maria de um sofrimento mental pode ser indicado em que trecho no texto? Há alguns meses, Maria tem se sentido muito triste na maior parte dos dias. Ela não apresenta mais interesse pelas atividades que costumava realizar. Também tem estado muito pessimista em relação à vida, com baixa autoestima e, às vezes, se pergunta se está valendo a pena viver. Agora tente você!!! ENFERMAGEM Universidade Federal de Juiz de Fora 15 2Jorge prefere ficar sozinho. Ele não costuma criar laços de amizade, evita o contato físico com as pessoas e é excessivamente preso a objetos em geral. Também é muito resistente a mudanças, ou seja, mantém uma rotina de atos e hábitos que se repetem diariamente. 3 Ninguém se lembra muito bem de quando começou, mas há algum tempo a mãe de Áurea percebeu que ela é uma pessoa fechada. Costuma ficar com o olhar perdido, indiferente ao meio que a cerca. Muitas vezes, Áurea faz coisas estranhas, como falar sozinha. Ela também procura a mãe frequentemente para contar sobre coisas absurdas, como, por exemplo, o fato de um grupo de pessoas imaginárias querer acabar com a sua vida. Mais um? Vamos lá! 4Um grave acidente automobilístico levou João ao ambiente hospitalar por quatro meses. Nesse período, esteve internado em unidades de tratamento intensivo (UTI), submeteu-se a duas cirurgias e permaneceu em um quarto impossibilitado de pisar no chão. Apesar do apoio constante dos familiares, o jovem rapaz sentia-se descontente e preocupado com o seu futuro, uma vez que era atleta profissional. Após algumas sessões de fisioterapia, houve uma melhora em seu quadro, mas, pouco a pouco, entregou-se a um estado de angústia lamentável. Recusou-se a alimentar e tornou-se agressivo quando algum familiar ou amigo tentava ajudá-lo. Apesar de toda essa discussão sobre as variáveis do dia a dia que interferem na saúde mental, existem outros fatores, bem definidos, que podem interferir diretamente, tais como: • Algumas doenças físicas. • Alguns defeitos ou má formação de nascença. • Acidentes que podem incapacitar o funcionamento adequado de alguns órgãos vitais para a saúde mental. Quando um indivíduo apresenta algum problema de saúde que altera a função dos órgãos vitais, a sua integridade mental pode ser afetada, prejudicando a forma como se relaciona com o ambiente, com as outras pessoas e até com ele mesmo. Como pode ver, não é tão simples definirmos saúde mental e, principalmente, entendê-la como uma área de saberes e práticas para o cuidado, uma vez que as questões que a cercam são muito pessoais e subjetivas, pois variam de indivíduo para indivíduo. Você já ouviu falar em padrão de crenças e valores? Quando acreditamos que não conseguiremos atingir ou realizar algum objetivo, ou que é algo muito difícil, uma forte crença limitante se transforma em um muro a nossa frente, bloqueando o fluxo de nossa ilimitada energia criadora. Muitos escutam em sua infância expressões menos felizes e, acreditando nelas, esmorecem ao longo da vida. Por outro lado, há aqueles que, contra tudo que é mais provável, acreditam que “EU POSSO”, e, ao agirem, transformam o mundo. Modelemos o exemplo de pessoas como madre Tereza, que fez da doação e do amor incondicional pelos pobres exemplo e inspiração para o mundo. Ou Mahtama Ghandi, a grande alma, que fundamentado em sua crença de igualdade e liberdade, através do valor da “não violência” (ahimsa), libertou a Índia do domínio da poderosa Inglaterra. Ou, ainda, Martin Luther King, cujo sonho de justiça e igualdade ENFERMAGEM Universidade Federal de Juiz de Fora 16 Compreendemos, assim, que o ser humano é um organismo em constante troca com o mundo em que vive, com os outros seres e, principalmente, com ele mesmo em uma relação direta de desejos, necessidades, ambições e como interage para conquistá-los. moveu milhões e potencializou o movimento de igualdade racial nos EUA. Pessoas como estas eram movidas por valores que iam muito além de si próprios e alavancados por suas crenças transformadoras fizeram do mundo um lugar melhor. Será que seu meio ambiente, sua história de vida ou seu sistema nervoso eram muito diferentes ou melhores que os nossos? Ou será que foram seus valores, suas escolhas, crenças e atitudes que os impulsionaram a serem pessoas iluminadas e que serão lembradas pela eternidade? Se você crê nessa segunda alternativa, ótimo, pois sabemos que estes fatores podem ser modificados - basta usarmos as ferramentas adequadas, plantando literalmente flor em pedra! Dr.Roberto Debski - Médico especialista em homeopatia e acupuntura, psicólogo, coach e trainner internacional em PNL.Disponível em: <http://www.serintegral.com.br/Artigos. aspx?Cd=62>. Leia sobre Inteligência Emocional no quadro Plus! Educação das emoções é, nesse século, um grande investimento em nossa saúde mental! Teste sua inteligência emocional através do link: http://www.caiuaficha.com.br/testeqe/teste.html. PLUS! 1Autoconhecimento emocional - reconhecer um sentimento enquanto ele ocorre. 2Controle emocional - habilidade de lidar com seus próprios sentimentos, adequando-os para a situação. 3Automotivação - dirigir emoções a serviço de um objetivo é essencial para manter-se caminhando sempre em busca. 4Reconhecimento de emoções em outras pessoas. 5Habilidade em relacionamentos inter-pessoais. Daniel Goleman Psicólogo, PhD pela Universidade de Harvard. A Inteligência Emocional está relacionada a habilidades tais como motivar a si mesmo e persistir mediante frustações; controlar impulsos, canalizando emoções para situações apropriadas; praticar gratificação prorrogada; motivar pessoas, ajudando-as a liberarem seus melhores talentos, e conseguir seu engajamento a objetivos de interesses comuns. Daniel Goleman, em seu livro, mapeia a Inteligência Emocional em cinco áreas de habilidades: ENFERMAGEM Universidade Federal de Juiz de Fora 17 MOMENTO PIPOCA! Um Ato de Coragem (John Q.) Elenco: Denzel Washington, Kimberly Elise, Daniel E. Smith, Robert Durvall, Eddie Griffin, Shawn Hatosy, Anne Heche, Ray Liotta, James Woods. Direção: --- Gênero: Drama Distribuidora: Playarte Estreia: 05 de Maio de 2002. Sinopse: John Q. Archibald (o ator vencedor do Oscar DENZEL WA- SHINGTON) é um homem comum que trabalha numa fábrica e cuida de sua família. Sua mulher, Denise (KIMBERLY ELISE), e seu filho Mi- chael (DANIEL E. SMITH) são tudo para ele. Ocorre que Michael fica gravemente doente necessitando com urgência de um transplante de coração que John Q não tem condições de pagar, e que seu plano de saúde não cobre. Ele, então, jura que fará o que for preciso para man- ter seu filho vivo. Correndo contra o tempo e vendo-se sem saída, uma jogada desesperada transforma-se em sua única esperança - ele torna refém todo o setor de emergência do hospital. Ao bloqueá-lo, prejudica outros pacientes que também necessitam de cuidados médicos. Ele tem que enfrentar um veterano policial especialista em negociações desse tipo (ROBERT DUVALL) e um impaciente chefe de polícia (RAY LIOTTA), que pretende pôr um fim rapidamente nessa situação. Denzel Washington estrela “John Q”, um drama de ação acerca de um pai disposto a correr riscos inacreditáveis para salvar seu filho, tornando-se ao mesmo tempo um improvável herói e um criminoso aos olhos da lei. Liz Gilbert (Julia Roberts) tinha tudo o que uma mulher moderna deve sonhar em ter – um marido, uma casa, uma carreira bem-sucedida – ainda assim, como muitas outras pessoas, ela está perdida, confusa e em busca do que ela realmente deseja na vida. Recentemente divorciada e num momento decisivo, Gilbert sai da zona de conforto. Arrisca tudo para mudar sua vida, embarcando em uma jornada ao redor do mundo que se transforma em uma busca por autoconhecimento. Em suas viagens, ela descobre o verdadeiro prazer da gastronomia na Itália; o poder da oração na Índia e, inesperadamente, a paz interior e equilíbrio de um verdadeiro amor em Bali. Baseado no best- seller autobiográfico de Elizabeth Gilbert, “Comer, Rezar, Amar” prova que existe mais de uma maneira de levar a vida e de viajar pelo mundo. Comer rezar amar ENFERMAGEM Universidade Federal de Juiz de Fora 18 • O conceito de saúde mental leva em consideração as seguintes variáveis: meio ambiente, formação familiar, relações interpessoais, interação com o mundo e com as pessoas e a forma como respondemos a essas interações. • Algumas sensações e sentimentos ruins podem ter um aspecto positivo ao ressignificarmos os momentos de crise, direcionando a energia para novas realizações. • A definição de saúde mental dada pela OMS é “a capacidade de estabelecer relações harmoniosas com os demais e a contribuição construtiva nas modificações do ambiente físico e social”. • Alguns critérios utilizados para identificar a saúde mental preservada são: 1 Não ter sintomas de doença, sentindo-se vital e descontraído. 2 Conhecer a si mesmo. 3 Manter contato com a realidade, o que implica aceitar as próprias limitações, assim como a capacidade em fazer frente às situações vitais com critérios realistas. 4 Manter uma vida emocionalmente equilibrada. 5 Adaptar-se à vida em sociedade. 6 Encontrar motivos de satisfação razoáveis na vida diária. 7 Ter convicções acerca do valor pessoal e do sentimento da vida. 8 Desenvolver o espírito criador na vida pessoal. • Outros fatores que podem interferir na saúde mental englobam as doenças físicas, os defeitos de nascença e os acidentes que levam ao funcionamento inadequado de alguns órgãos vitais para a saúde. • O ser humano é um organismo em constante troca com o mundo em que vive, com os outros seres e, principalmente, com ele mesmo, em uma relação direta de desejos, necessidades, ambições. • www.serintegral.com.br • http://www.telacritica.org/sinopses.htm • http://sos-saudemental.blogspot.com/ • portal.saude.gov.br/portal/saude/area.cfm?id_area=925 LINKS INTERESSANTES RESUMO ENFERMAGEM Universidade Federal de Juiz de Fora 19 SAÚDE MENTAL E SUA HISTÓRIA Desde que o homem habita o mundo, a loucura existe visto que o transtorno mental é inerente à raça humana. Delimitar o que é razão e loucura constitui desafio nos dias atuais, já que a linha é tênue e subjetiva! Mas como isso tudo começou? Quais modificações os modelos de atenção à saúde mental sofreram ao longo do tempo? Como se deu a Reforma Psiquiátrica? Que sistema de saúde temos hoje para ofertar ao cidadão portador de sofrimento mental? Ao final dessa temática, será possível responder a todas essas questões. Vamos estudar? Para começar, um pouco de história... Na Grécia antiga, a loucura era bem vista. Filósofos como Sócrates e Platão consideravam que era porta de acesso à divindade e os “privilegiados” conviviam em uma posição de destaque junto aos “normais”. Com o passar dos tempos, a sociedade viu-se impelida a excluí-los e os loucos foram deslocados para ambientes de “não-convívio e não-pertubação da ordem alheia” . No século XIII, o saber médico em torno da doença mental ganhou destaque e o hospital surgiu como meio terapêutico. Organizado a princípio sob normas e prerrogativas rígidas de controle e disciplina sobre o paciente, o ambiente hospitalar tornou-se um mundo à parte, afastando o interno do convívio familiar e social. Ser louco passa a ser perigoso e inconveniente porque a doença “impossibilita” a convivência com as regras ditas normais. É posto de lado toda e qualquer consideração do ser humano sobre si mesmo. Lançava-se mão, à época, de muitos métodos terapêuticos que, para os padrões atuais, são considerados desumanos, tais como: Convulsão. Eletrochoque. Lobotomia. Comas insulínicos. Aposto que ficou curioso! Pesquise sobre estas e outras modalidades terapêuticas utilizadas antigamente nos links sugeridos ao final dessa temática. Todos estes métodos tinham finalidade curativo- substitutiva, ou seja, fazer com que o portador de sofrimento mental voltasse à realidade através do “tratamento moral”, pois a doença o teria feito perder a distinção entre o bem e o mal. Reaprender então era a meta. Qualquer atitude indevida levava o paciente à advertência e era punido para vir a reconhecer seu erro até arrepender-se e não voltar a equivocar-se mais. Desse modo, era considerado curado. ENFERMAGEM Universidade Federal de Juiz de Fora 20 Essa reclusão nos manicômios possibilitou o nascimento da psiquiatria com as denominações dos transtornos e agrupamentosde sintomas que fundamentam a disciplina acadêmica. Todavia, propostas terapêuticas alternativas ainda não eram consideradas. Apesar do paradoxo do século XVIII, em que os doentes mentais ainda eram vistos como entes excluídos do convívio social, destaca-se a figura humanística do francês Philippe Pinel (1745-1826), que considerava valiosa a experiência diária dos funcionários do estabelecimento manicomial como forma de auxílio à compreensão de certas nuances das doenças mentais. Jean- Baptiste Pussin, o chefe dos guardas do asilo, cujos procedimentos observava com atenção, inspirou-lhe medidas humanitárias em benefício dos doentes, principalmente a de libertá-los das correntes a que vários viviam presos, tratá-los como doentes comuns e, em caso de crises de agitação e violência, aplicar apenas a camisa de força. Pinel eliminou diversos tratamentos em favor de uma terapia que abrangia contato próximo e amigável com o paciente, discussão de conflitos pessoais e um programa de atividades dirigidas. Sua visão ampliada para a época chegou a tal ponto que o treinamento para os funcionários e administração competente configurava-lhe como quesitos de preocupação íntima (COBRA, 2003). Nas primeiras décadas do século XX, o número de manicômios era expressivo. O isolamento, o abandono e os maus-tratos aliados às más condições de alimentação, hospedagem e higiene agravavam-se progressivamente (Atenção em Saúde Mental, Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais, 2006). Porém, após a Segunda Grande Guerra, os conceitos de reforma do modelo hospitalocêntrico se expandiram e desconstruíram o conceito de doença mental quanto a uma nova forma de perceber a loucura como “existência-sofrimento” do sujeito em relação com o corpo social (ROTELLI; AMARANTE, 1992). No século XX, grandes e s t u d i o s o s f i z e r a m descobertas que são relembradas até hoje, como, por e x e m p l o , Freud (1856- 1939), Pavlov (1849-1936) e Kurt Lewin (1890-1947). SAIBA MAIS! Acerca do conceito de loucura e seus reflexos na assistência de saúde mental. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/rlae/v13n4/ v13n4a19.pdf>. Reflexões sobre “A História da Loucura”, de Michel Foucault. Disponível em: <http://www.unicamp.br/~aulas/pdf3/24.pdf>. Philippe Pinel, pioneiro da psiquiatria. Disponível em: <http:// www.cobra.pages.nom.br/ecp-pinel.html>. ENFERMAGEM Universidade Federal de Juiz de Fora 21 PESQUISE SOBRE ELES E REALIZE ANOTAÇÕES NO CAMPO ABAIXO: ................................................................................................................................................................ ................................................................................................................................................................ ................................................................................................................................................................ ................................................................................................................................................................ ................................................................................................................................................................ ................................................................................................................................................................ ................................................................................................................................................................ ................................................................................................................................................................ ................................................................................................................................................................ ................................................................................................................................................................ ................................................................................................................................................................ ................................................................................................................................................................ ................................................................................................................................................................ ............................................................................................................................................................... ............................................................................................................................................................... ................................................................................................................................................................ ................................................................................................................................................................ ................................................................................................................................................................ ................................................................................................................................................................ ENFERMAGEM Universidade Federal de Juiz de Fora 22 Esta é a odisseia vivida por Neto, um jo- vem de classe média baixa, que leva uma vida comum até o dia em que o pai o interna em um manicômio depois de encontrar um cigarro de maconha em seu bolso. O fato é a gota d’água que deflagra a tragédia na família. Neto é um adolescente em busca de emoções e liberdade, com pequenas re- beldias incompreendidas pelo pai, como pi- char muros e usar brincos. A falta de enten- dimento leva ao emudecimento na relação dentro de casa e o medo de perder o con- trole sobre o filho vira o amor do avesso. No manicômio, Neto conhece uma realida- de absurda e desumana, onde os internos são devorados por um sistema corrupto e cruel. A linguagem de documentário utili- zada pela diretora empresta ao filme uma forte sensação de realidade, aumentando ainda mais o impacto das emoções vividas pelo protagonista. Disponível em: <http://interfilmes.com/fil- me_12752_Bicho.de.Sete.Cabecas-(Bicho. de.Sete.Cabecas).html>. REFLITA! Houve época em que a saúde mental estava cercada de mistérios. Acreditava-se que forças místicas ocul- tas eram causadoras das doenças da mente. Muitos rituais de purificação e de magia eram realizados com o objetivo de livrar a pessoa do mal, que era excluída da sociedade e, muitas vezes, até castigada. QUE TAL UMA VIAGEM AO INFERNO MANICOMIAL? ENFERMAGEM Universidade Federal de Juiz de Fora 23 Você já vivenciou algum período de reforma em sua vida? Reforma material ou emocional em que você dis- se: “CHEGA! É HORA DE MU- DAR!”? Todos nós temos esses mo- mentos, não é mesmo? Assim como precisamos rever nossos conceitos, res- significar algumas atitudes e emoções, os sistemas de saúde também passam por reformas, por ajustes e mu- danças necessárias que visam atender aos princípios cons- titucionais e às necessidades da população. Afinal, a lei é do progresso! Não importa se vamos reformar um cômodo, uma casa, um edifício ou um quarteirão, as regras são cla- ras. É preciso • planejar a obra (projeto, magnitude, material, custo). • estabelecer prazos. • contratar pessoas capacita- das ou oferecer treinamento para capacitá- las. Com a Reforma Psiquiátrica não foi diferente... Em novembro de 2005, foi realizada a Conferência Regio- nal de Reforma dos Serviços de Saúde Mental em Brasília – DF. O documento editado pelo Ministério da Saúde con-tém os momentos históricos desse importante movimento de re- estruturação da atenção aos portadores de transtornos mentais em nosso país. • O início do processo de Reforma Psiquiátrica no Brasil é contempo- râneo da eclosão do “movimento sanitário”, nos anos 70, em favor da mudança dos modelos de atenção e gestão nas práticas de saúde, defesa da saúde coletiva, equidade na oferta dos serviços e protagonismo dos trabalhadores e usuários dos serviços de saúde nos processos de gestão e produção de tecnologias de cuidado. • O ano de 1978 costuma ser identificado como o de início efetivo do mo- vimento social pelos direitos dos pacientes psiquiátricos em nosso país, com o surgimento do Movimento dos Trabalhadores em Saúde Mental (MTSM), movimento plural formado por trabalhadores integrantes do movimento sanitário, associações de familiares, sindicalistas, membros de associações de profissionais e pessoas com longo histórico de interna- ções psiquiátricas. • O MTSM, através de variados campos de luta, passa a denunciar a vio- lência dos manicômios, a mercantilização da loucura, a hegemonia de uma rede privada de assistência e a construir coletivamente uma crítica ao chamado saber psiquiátrico e ao modelo hospitalocêntrico na assis- tência às pessoas com transtornos mentais. • A experiência italiana de desinstitucionalização em psiquiatria e sua crítica radical ao manicômio é inspiradora. E revela a possibilidade de ruptura com os antigos paradigmas, como, por exemplo, na Colônia Juliano Moreira, enorme asilo com mais de 2.000 internos no início dos anos 80, no Rio de Janeiro. • Passam a surgir as primeiras propostas e ações para a reorientação da assistência. • O II Congresso Nacional do MTSM (Bauru, SP), em 1987, adota o lema “Por uma sociedade sem manicômios”. Nesse mesmo ano, é realizada a I Conferência Nacional de Saúde Mental (Rio de Janeiro). VAMOS VER ALGUNS TRECHOS? A REFORMA PSIQUIÁTRICA ENFERMAGEM Universidade Federal de Juiz de Fora 24 ANOTE! Desistitucionalização: movimento contra a hospitalização do doente mental. A favor da reitegração dos doentes mentais ao convívio das famílias e da sociedade. DICA! Contextualização impor- tante sobre Reforma Psi- quiátrica no quadro Plus! REGISTRE ABAIXO SUA COMPREENSÃO: ............................................................................................. ............................................................................................. ............................................................................................. ............................................................................................. ............................................................................................. ............................................................................................. ............................................................................................. ............................................................................................. ............................................................................................. ............................................................................................. ............................................................................................. ............................................................................................. Leia mais sobre este tema no link http://bvsms.saude.gov.br/bvs/ publicacoes/Relatorio15_anos_Caracas.pdf e descubra por que a cidade de Santos - SP foi pioneira no novo modelo assistencial. PLUS! AReforma Psiquiátrica é processo político e social complexo, composto de atores, instituições e forças de diferentes origens, e que incide em territórios diversos, nos governos federal, estadual e municipal, nas universidades, no mercado dos serviços de saúde, nos conselhos profissionais, nas associações de pessoas com transtornos mentais e de seus familiares, nos movimentos sociais, e nos territórios do imaginário social e da opinião pública. Compreendida como um con- junto de transformações de práticas, saberes, valores cul- turais e sociais, é no cotidiano da vida das instituições, dos serviços e das relações inter- pessoais que o processo da Reforma Psiquiátrica avança, marcado por impasses, ten- sões, conflitos e desafios. Conferência Regional de Re- forma dos Serviços de Saúde Mental – MS, Brasília Novem- bro 2005 ENFERMAGEM Universidade Federal de Juiz de Fora 25 Atualmente, o hospital psiquiátrico já não cons- titui o único recurso nem o mais válido para tratar o doente mental. Além disso, a sua razão de existir deixou de ser o armazenamento e separação dos loucos da sociedade e se mostra como um dentre os recursos terapêuticos existentes. A internação hospitalar mostra-se útil, por exemplo, quando se está diante de um doente crônico que não pode viver, de forma independente, na sociedade. Ou quando se encontra numa fase aguda da doença com manifestações de comportamentos compro- metedores à sua própria integridade física ou de outrem. Hoje em dia, além da atenção hospitalar especiali- zada, os cuidados em saúde mental, também cha- mados de cuidados psiquiátricos, são prestados por: • Centros de Saúde. • Unidades de internação em hospitais gerais. • Hospitais-dia e centros de apoio psicossocial. • Lares abrigados (Residências Terapêuticas). • Unidades de reabilitação e oficinas ocupacionais. Com a evolução dos cuidados médicos e de enfer- magem, além da mudança nos padrões de trata- mento e das formas de tratar, hoje a assistência pode ser pensada do seguinte modo: • Cuidados integrais não só em relação aos aspec- tos técnicos, mas também psicossociais e espirituais. • Papel criativo na formação de um ambiente hu- mano que possibilite ao paciente reestabelecer o equilíbrio e o desenvolvimento de suas potenciali- dades humanas e pessoais. • Participação no dia a dia dos pacientes, o que fa- cilita o diagnóstico, tratamento e reabilitação. •Relação interpessoal terapêutica quando a equi- pe de enfermagem é responsável contribuindo para a reabilitação do cliente e a evolução dos cui- dados. • Papel educador na formação de novos profissio- nais mais comprometidos com a saúde mental. A evolução da ciência e dos conhecimentos sobre a saúde mental possibilitou uma visão mais humana da doença mental e de como tratá-la, mas foi preci- so uma legislação específica para que os cuidados fossem iguais e disponibilizados para todos. É o que estudaremos na próxima temática. Cuidados em saúde mental Reflita, registre em seu diário, discuta com seu tutor: Com a evolução da ciência e dos conhecimentos, quais cuidados são comuns às diversas profissões de saúde? REFLITA! ENFERMAGEM Universidade Federal de Juiz de Fora 26 Dizem que sou louco por pensar assim Se eu sou muito louco por eu ser feliz Mas louco é quem me diz E não é feliz, não é feliz Se eles são bonitos, sou Alain Delon Se eles são famosos, sou Napoleão Mas louco é quem me diz E não é feliz, não é feliz Eu juro que é melhor Não ser o normal Se eu posso pensar que Deus sou eu Se eles têm três carros, eu posso voar Se eles rezam muito, eu já estou no céu Mas louco é quem me diz E não é feliz, não é feliz Sim sou muito louco, não vou me curar Já não sou o único que encontrou a paz Mais louco é quem me diz E não é feliz Eu sou feliz “Balada do Louco” é uma música dos Mutantes, composta por Rita Lee e Arnaldo Batista, em 1986. Leia-a e perceba as similaridades com o que foi discutido nas três temáticas desta Unidade de Estudo e grife os trechos, palavras e expressões que mais lhe chamarem a atenção. HORA DE RELAXAR! Ficou “louco” para ouvi-la?! Acesse: http://www.paixaoeromance.com/ 80decada/balada_do_louco/h_balada_do_louco.htm e curta o som na voz de Ney Matogrosso. LINKS INTERESSANTES • http://www.cerebromente.org.br/n04/historia/shock.htm • http://drauzio.mediaibox.com.br/ExibirConteudo/1910/eletrochoque-eletroconvulsoterapia/pa-gina6/eletrochoque-no-controle-da-agressividade • http://sos-saudemental.blogspot.com/ ENFERMAGEM Universidade Federal de Juiz de Fora 27 RESUMO • A História da Loucura perpassa os séculos transitando do normal ao inconveniente, e chega aos dias atuais como sofrimento a ser considerado, valorizado e respeitado. • A Reforma Psiquiátrica (ou movimento antimanicomial) tem sua expressão máxima no final da década de 70. Destaca-se o pioneirismo da cidade santista. • Atualmente, o hospital psiquiátrico já não constitui o único recurso nem o mais válido para tra- tar o doente mental. • Os cuidados em saúde mental, também chamados de cuidados psiquiátricos, são prestados por centros de Saúde, unidades de internação em hospitais gerais, hospitais-dia e centros de apoio psicossocial, lares abrigados (Residências Terapêuticas) e unidades de reabilitação e oficinas ocu- pacionais. • A evolução da ciência e dos conhecimentos sobre a saúde mental possibilitou uma visão mais humana da doença mental e de como tratá-la. REFERÊNCIAS BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. DAPE. Coordenação Geral de Saú- de Mental. Reforma psiquiátrica e política de saúde mental no Brasil. Documento apresentado à Conferência Regional de Reforma dos Serviços de Saúde Mental: 15 anos depois de Caracas. OPAS. Brasília, novembro de 2005. SOUZA, Martha Elisabeth de. Minas Gerais. Secretaria de Estado de Saúde. Atenção em Saúde Mental. Belo Horizonte, 2006. ENFERMAGEM Universidade Federal de Juiz de Fora 28 Sem dúvida, a Reforma Psiquiátrica constituiu im- portante marco na história da atenção à saúde mental em nosso país. No capítulo anterior, foi realizada uma viagem pelas principais datas e eventos que marca- ram esse momento de renovação. Quando o Brasil passou pelo processo conhecido como “democratização”, no início dos anos 80, a saú- de foi efetivamente influenciada, já que foi pensada como um direito, e a assistência deveria acompanhar esse pensamento em busca de humanização e quali- dade. O objetivo foi o de eliminar a exclusão social e o preconceito que sempre estiveram presentes na aten- ção ao doente mental. Com o Movimento dos Trabalhadores em Saúde Mental, desinstitucionalização e ressocialização eram palavras de ordem, reforçando a ideia de desmontar os manicômios/hospitais psiquiátricos, o tratamento impessoal, o abuso de psicofármacos, o distanciamen- to da realidade social e familiar, entre outros. POLÍTICAS DE ATENÇÃO À SAÚDE MENTAL NO BRASIL “É! A gente quer valer o nosso amor A gente quer valer nosso suor A gente quer valer o nosso humor A gente quer do bom e do melhor... A gente quer carinho e atenção A gente quer calor no coração A gente quer suar, mas de prazer A gente quer é ter muita saúde A gente quer viver a liberdade A gente quer viver felicidade... É! A gente quer viver pleno direito A gente quer viver todo respeito A gente quer viver uma nação A gente quer é ser um cidadão A gente quer viver uma nação...” O retrato dessa época era muito semelhante à composição do trecho seguinte da música “É”, de Gonzaguinha: Nessa temática, serão abordadas as principais leis que definem e regularizam a saúde mental no Brasil, ou seja, a sua normatização jurídica, o que confere de fato o direito ao cidadão portador de sofrimento mental. Mas o que é ter direito? Será que é o contrário de ter deveres? A resposta é: “Depende!” A pala- vra ‘direito’ pode ter mais de um significado. ENFERMAGEM Universidade Federal de Juiz de Fora 29 PESQUISE E REGISTRE SUA PERCEPÇÃO DO CONCEITO QUE MELHOR SE APLICA À NOSSA DISCUSSÃO. ................................................................................................................................................................ ................................................................................................................................................................ ................................................................................................................................................................ ................................................................................................................................................................ ................................................................................................................................................................ ................................................................................................................................................................ ................................................................................................................................................................ ................................................................................................................................................................ ................................................................................................................................................................ ................................................................................................................................................................ ................................................................................................................................................................ ................................................................................................................................................................ ................................................................................................................................................................ ............................................................................................................................................................... ............................................................................................................................................................... ................................................................................................................................................................ ................................................................................................................................................................ ................................................................................................................................................................ ................................................................................................................................................................ ................................................................................................................................................................ ENFERMAGEM Universidade Federal de Juiz de Fora 30 No quadro Plus!, você poderá conhecer um pouco mais sobre os conceitos de leis, resoluções, portarias e decretos. Vale a pena conferi-lo! O direito à saúde mental co- meça pelo direito de ser cidadão e ter sua saúde garantida pelo Es- tado, questão considerada cons- titucional a partir de 1988. O borbulhar de propostas, debates e encontros sobre o atendimento ao doente mental contribuiu para a aprovação, pelo Congresso Nacional, do Projeto de Lei n0 2.675/89, co- nhecido como “Lei Antimanico- mial” ou projeto Paulo Delgado, que tramitou no Senado Federal por dez anos, tendo como con- corrente o Substitutivo Lucídio Portella. O projeto Paulo Delgado dis- punha sobre a “extinção pro- gressiva dos manicômios e sua substituição por outros recursos assistenciais e regulamenta a in- ternação psiquiátrica compulsó- ria”. A redação final do Projeto de Lei foi aprovada pelo Senado, em janeiro de 1999, e foi regula- mentada como Lei Federal em 2001. Vamos saber mais sobre al- guns pontos-chave desse proje- to? No parágrafo único, são defini- dos os direitos da pessoa porta- dorade transtorno mental. São eles: I - Ter acesso ao melhor trata- mento do sistema de saúde con- sentâneo às suas necessidades. II - Ser tratada com humanida- de e respeito e no interesse ex- clusivo de beneficiar sua saúde, visando alcançar sua recupera- ção pela inserção na família, no trabalho e na comunidade. III - Ser protegida contra qual- quer forma de abuso e explora- ção. IV - Ter garantia de sigilo nas informações prestadas. V - Ter direito à presença mé- dica, em qualquer tempo, para esclarecer a necessidade ou não de sua hospitalização involuntá- ria. VI - Ter livre acesso aos meios de comunicação disponíveis. VII - Receber o maior número de informações a respeito de sua doença e de seu tratamento. VIII - Ser tratada em ambiente terapêutico pelos meios menos invasivos possíveis. IX - Ser tratada, preferencial- mente, em serviços comunitários de saúde mental. Destaca-se também a propos- ta de ressocialização do portador de sofrimento mental observada nos trechos abaixo: Art. 4o A internação, em qual- quer de suas modalidades, só será indicada quando os recursos extra-hospitalares se mostrarem insuficientes. § 1o O tratamento visará, como finalidade permanente, a reinser- ção social do paciente em seu meio. Art. 5o O paciente há longo tempo hospitalizado ou para o qual se caracterize situação de grave dependência institucional, decorrente de seu quadro clínico ou de ausência de suporte social, será objeto de política específica de alta planejada e reabilitação psicossocial assistida, sob res- ponsabilidade da autoridade sa- nitária competente e supervisão de instância a ser definida pelo Poder Executivo, assegurada a continuidade do tratamento, quando necessário. PLUS! LEI - (do verbo latino li- gare, que significa “aqui- lo que liga”, ou legere, que significa “aquilo que se lê”) é uma norma ou conjunto de normas jurí- dicas criadas através dos processos próprios do ato normativo e estabe- lecidas pelas autoridades competentes para o efei- to. RESOLUÇÃO - Ato legis- lativo de conteúdo con- creto, de efeitos internos. É a forma que revestem determinadas delibera- ções da Assembleia da República. DECRETO - Um decreto é uma ordem emanada de uma autoridade supe- rior ou órgão (civil, mili- tar, leigo ou eclesiástico) que determina o cumpri- mento de uma resolução. PORTARIAS - Documen- to de ato administrativo de qualquer autoridade pública, que contém ins- truções acerca da aplica- ção de leis ou regulamen- tos, recomendações de caráter geral, normas de execução de serviço, no- meações, demissões, pu- nições, ou qualquer outra determinação de sua com- petência Disponível em: http:// pt.wikipedia.org/wiki/Lei ENFERMAGEM Universidade Federal de Juiz de Fora 31 Outras leis e portarias federais que regu- lamentam a assistência ao doente mental podem também ser conhecidas por você! Pesquise-as em sites de busca ou acesse http://portal.saude.gov.br/portal/saude/ area.cfm?id_area=925 e estude sobre seus principais pontos. • Decreto nº 1.132/1903 - “Reorganiza a assistência a alienados”. • Decreto nº 24.559/1934 - “Dispõe sobre a profilaxia mental, a assistência e prote- ção à pessoa e aos bens dos psicopatas, a fiscalização dos serviços psiquiátricos e dá outras providências”. •Projeto nº 3.657/1989 - “Dispõe sobre a extinção progressiva dos manicômios e sua substituição por outros recursos assisten- ciais e regulamenta a internação psiquiátri- ca compulsória”. • Lei nº 10.708, de 31 de julho de 2003 - “Institui o auxílio-reabilitação psicossocial para pacientes acometidos de transtornos mentais egressos de internações”. • Lei nº 9.867, de 10 de novembro de 1999 - “Dispõe sobre a criação e o funcio- namento de cooperativas sociais, visando à integração social dos cidadãos, conforme especifica”. • Portaria MS/GM nº 1.190, de 04 de ju- nho de 2009 - “Institui o plano emergen- cial de ampliação do acesso ao tratamento e prevenção em álcool e outras drogas no sistema único de saúde - SUS (PEAD 2009- 2010) e define suas diretrizes gerais, ações e metas”. • Portaria MS/GM nº 1.876, de 14 de agos- to de 2006 - “Institui diretrizes nacionais para prevenção do suicídio a ser implanta- das em todas as unidades federadas, res- peitadas as competências das três esferas de gestão”. • Portaria MS/GM nº 1.608, de 03 de agosto de 2004 - “Constitui fórum nacional sobre saúde mental de crianças e adoles- centes”. •Portaria n° 52, de 20 de janeiro de 2004 - “Institui o programa anual de reestrutu- ração da assistência psiquiátrica hospitalar no SUS – 2004”. Como você pôde perceber, várias medi- das foram tomadas para que os doentes mentais tivessem seus direitos respeita- dos e pudessem ter uma chance de voltar a viver em sociedade de forma humanizada, aceitos como cidadãos livres e dignos. Um outro avanço na atenção a estes pa- cientes, principalmente em relação aos internados, foi a Carta dos Direitos do Pa- ciente Internado, que apresentamos a se- guir: ENFERMAGEM Universidade Federal de Juiz de Fora 32 • a um atendimento atencioso e respei- toso. • à dignidade pessoal. • ao sigilo ou ao segredo médico. • a reconhecer a identidade dos profis- sionais envolvidos em seu tratamento. • à informação clara, numa linguagem acessível, sobre diagnóstico, tratamento e prognóstico. • a se comunicar com pessoas fora do hospital e a ter, quando necessário, um tra- dutor. • a recusar tratamento e a ser informa- do sobre as consequências médicas dessa opção. • a ser informado sobre projetos de pes- quisas referentes ao tratamento e a se re- cusar a participar dos mesmos. • a receber uma explicação completa re- ferente à sua escolha hospitalar. • a reclamar. • a recusar a realização de exames des- necessários. • a ter acesso a uma segunda e/ou ter- ceira avaliação. TODO PACIENTE TEM DIREITO • a escolher o médico e/ou especialista dentro do ambiente hospitalar. • a questionar a medicação prescrita. • à ficha médica. Como você pode ver, a aten- ção ao doente mental passou por uma séria reformulação e, ainda hoje, muitos esforços es- tão sendo implementados para que essas mudanças sejam prati- cadas de fato, como a formação de profissionais mais conscien- tes e comprometidos com essa proposta, além da oferta de re- des alternativas de tratamento. É o que veremos nesse mo- mento! A Rede de Atenção em Saúde Mental A atenção primária através das Unidades Bási- cas de Saúde e das Equipesde Saúde da Família (ESF) recebem fre- quentemente usu- ários que destinam- -se à saúde mental. Em sua maioria, o perfil da clientela consiste dehomens e mulheres que utilizam psicofár- macos e afirmam ter depressão ou vivenciarem graves momentos de crise. Muitos comparecem às unidades para revalidação de receitas médicas, busca de medicamentos ou para uma simples conversa... ENFERMAGEM Universidade Federal de Juiz de Fora 33 As Equipes de Saúde da Família apresentam papel de destaque no cumprimento das propostas de inversão do modelo de atenção à saúde mental, uma vez que tendem a ter com a clientela adstrita uma aproxi- mação maior. Conhecem as famílias, suas moradias, hábitos de vida e outros aspectos que contribuem na identificação precoce de distúrbios emocionais e propostas de enfrentamento. Lembra-se da Temática 1 em que discutimos a importância do acolhimento, vínculo, responsabili- zação e autonomia?! As informações contidas no quadro abaixo são re- centes e expressam as Em 2009, foram capacitados 200 profissionais na área de saúde mental para tra- balhar com iniciativas ministeriais na ampliação da participação da ESF na atenção à as Equipes de Saú- de da Família. A atenção básica/Saúde da Família é a porta de entrada saúde mental. Em 2009, foram capacitados 200 profissionais na área de saúde mental para tra- balhar com iniciativas ministeriais na ampliação da participação da ESF na atenção à as Equipes de Saúde da Família. A atenção básica/Saúde da Famíliaé a porta de entrada saúde mental. Preferencial de todo o Sistema de Saúde. A Política Nacional de Saúde Mental propõe que as práticas de saúde mental na atenção básica/ Saúde da Família substituam o modelo tradicional medicalizante. Sendo a porta de entrada preferencial de todo o Sistema de Saúde, busca-se resga- tar a singularidade de cada usuário e o comprometimento com o tratamento. É uma aposta no protagonismo do indivíduo e tenta-se romper com a lógica de que a doen- ça é sua identidade e de que a medicação é a ‘única’ responsável pela sua melhora. O trabalho da atenção básica é investir nas potencialidades do ser humano; auxi- liar na formação de laços sociais e apostar na força do território como alternativa para a reabilitação social. Dessa forma, há uma convergência de princípios entre a saúde mental e a atenção básica. Para que tal fato aconteça, é necessário que os princípios do SUS se transformem em prática cotidiana. Na articulação entre a saúde mental e a atenção básica, o profissional da saú- de mental participa de reuniões de planejamento das equipes de Saúde da Família (ESF), realiza ações de supervisão, discussão de casos, atendimento compartilhado e específico, além de participar das iniciativas de capacitação. Tanto o profissional de saúde mental quanto a equipe se responsabilizam pelos casos e, por isso, promo- vem discussões conjuntas e intervenções junto às famílias e comunidades. Uma forma de fazer essa troca é por meio dos Núcleos de Apoio à Saúde da Famí- lia (NASF). Desde janeiro de 2008, foi regulamentada a formação dessas equipes, com recomendação explícita de que cada NASF conte com pelo menos um profissional de saúde mental. Texto disponível na íntegra em: <http://portal.saude.gov.br/portal/saude/ visualizar_texto.cfm? idtxt=29816&janela=1>. ENFERMAGEM Universidade Federal de Juiz de Fora 34 Agora que você compreendeu o papel da atenção primária como participante ativa da Rede de Atenção à Saúde Mental, caminhemos em direção ao nível secundário. Em 2004, o Ministério da Saúde divulgou o manual do CAPS (Centro de Atenção sicossocial), uma das principais alternativas do segmento secundário de atenção ao portador de sofrimento mental. Esta é a capa do anual e o documento na íntegra está disponível na página do Ministério da Saúde, no link: http://portal.saude. gov.br/portal/ saude/area. cfm?id_area=925. Vamos conhecer um pouco mais sobre essa importante estratégia de reinserção social ao usuário? • Os CAPS são instituições destinadas a acolher os pacientes com transtornos mentais, estimular sua integração social e familiar, apoiá-los em suas iniciativas de busca da autonomia, oferecer-lhes atendimento médico e psicológico. • Sua característica principal é buscar integrá-los a um ambiente social e cultural concreto, designado como seu “território”, o espaço da cidade onde se desenvolve a vida quotidiana de usuários e familiares. • O primeiro Centro do Brasil foi inaugurado em março de 1986, na cidade de São Paulo. • Os CAPS, assim como os NAPS (Núcleos de Atenção Psicossocial), os CERSAMs (Centros de Referência em Saúde Mental) e outros tipos de serviços substitutivos que têm surgido no país, são atualmente regulamentados pela Portaria nº 336/GM, de 19 de fevereiro de 2002 e integram a rede do Sistema Único de Saúde, o SUS. Essa portaria reconheceu e ampliou o funcionamento e a complexidade dos CAPS, que têm a missão de dar um atendimento diuturno às pessoas que sofrem com transtornos mentais severos e persistentes, num dado território, oferecendo cuidados clínicos e de reabilitação psicossocial. O objetivo é substituir o modelo hospitalocêntrico, evitando as internações e favorecendo o xercício da cidadania e da inclusão social dos usuários e de suas famílias. • prestar atendimento em regime de atenção diária. • gerenciar os projetos terapêuticos oferecendo cuidado clínico eficiente e personalizado. • promover a inserção social dos usu- ários através de ações intersetoriais que envolvam educação, trabalho, esporte, cultura e lazer, montando estratégias con- juntas de enfrentamento dos problemas. Os CAPS também têm a responsabilidade de organizar a rede de serviços de saúde mental de seu território. • dar suporte e supervisionar a atenção à saúde mental na rede básica - PSF (Pro- grama de Saúde da Família) e PACS (Pro- grama de Agentes Comunitários de Saú- de). • regular a porta de entrada da rede de assistência em saúde mental de sua área. • coordenar junto com o gestor local as atividades de supervisão de unidades hos- pitalares psiquiátricas que atuem no seu território. • manter atualizada a listagem dos pa- cientes de sua região que utilizam medica- mentos para a saúde mental. As práticas realizadas nos CAPS se ca- racterizam por ocorrerem em ambiente aberto, acolhedor e inserido nos bairros. Veja abaixo uma obra de arte de um usu- ário do CAPS! OS CAPS VISAM: ENFERMAGEM Universidade Federal de Juiz de Fora 35 As pessoas atendidas nos CAPS são aquelas que apresentam intenso sofrimento psíquico, que lhes impossibilita de viver e realizar seus projetos de vida. São, preferencialmente, pessoas com trans- tornos mentais severos e/ou persistentes, ou seja, com grave comprometimento psíquico, incluindo os transtornos relacionados às substâncias psico- ativas (álcool e outras drogas) e também crianças e adolescentes. • Os usuários dos CAPS podem ter tido uma longa história de internações psiquiátricas ou nun- ca ter sido internados ou podem já ter sido aten- didos em outros serviços de saúde (ambulatório, hospital-dia, consultórios etc.). Para ser atendido em um CAPS, pode-se pro- curar diretamente esse serviço ou ser encami- nhado pelo Programa de Saúde da Família ou por qualquer serviço de saúde. A pessoa pode ir sozi- nha ou acompanhada, devendo procurar, prefe- rencialmente, o CAPS que atende à região onde mora. Todas as informações acima foram retira- das do “Manual saúde mental no SUS: os centros de atenção psicossocial”. Nesse momento, realize anotações nos cam- pos destinados às respostas das seguintes ques- tões acessando o manual na página disponibiliza- da anteriormente: O QUE OS USUÁRIOS E FAMILIARES PODEM ESPERAR DO ATENDIMENTO NO CAPS? ................................................................................................................................................................ ................................................................................................................................................................ ................................................................................................................................................................ ................................................................................................................................................................ ................................................................................................................................................................ ................................................................................................................................................................ ................................................................................................................................................................ ................................................................................................................................................................ ................................................................................................................................................................ ................................................................................................................................................................ ................................................................................................................................................................
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