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NACIONALIDADE – 2020 Universidade São Judas Tadeu Náryma Sanchez de Almeida Paolo Braggio, nascido em Roma, Itália, é italiano nato. Paolo é filho de pai italiano e mãe brasileira. Por ocasião de seu nascimento, Paolo não foi levado a registro no consulado brasileiro em Roma, conforme previsão contida no art. 12, I, c da CF/88 c.c. art. 18, caput, da LINDB. Há 5 anos Paolo reside no Brasil. Ocorre que Paolo é suspeito do cometimento do crime de homicídio. O crime teria sido cometido em Napoli. O governo italiano pretende que Paolo seja extraditado para aquele país, a fim de responder pela imputação a ele estabelecida. Dessa forma, a Itália requer, junto ao STF, a extradição de Paolo. Contudo, atualmente, Paolo, apesar de primário e sem antecedentes criminais, encontra-se cumprimento pena privativa de liberdade em regime fechado no Brasil, em razão da condenação à pena de 1 ano de reclusão pela prática do crime de estelionato. Orientações A1: As respostas das questões devem conter, obrigatoriamente, a citação direta de uma doutrina e uma decisão judicial que se relacione com o que for perguntado. QUESTÕES CONSTITUCIONAL: 1 - Filho de brasileiro naturalizado nascido no exterior é brasileiro nato? 2- Brasileiro nato que tenha perdido a sua nacionalidade brasileira em função de ter se naturalizado estrangeiro, se desejar se tornar novamente brasileiro, terá de se naturalizar. A afirmação é verdadeira ou falsa? Questão 1 Em primeiro plano, cabe dizer que a Constituição Federal, não faz diferenciação no quesito da pergunta, entre o brasileiro nato e o naturalizado, como pode confirmar o artigo 12, §2º da Constituição Federal “A Lei não poderá estabelecer distinção entre brasileiros natos e naturalizados, salvo nos casos previstos nesta Constituição”, visto isso, conclui-se que as leis serão impostas da mesma forma aos filhos de ambos. As hipóteses que o filho do brasileiro, nascido no exterior, seja considerado brasileiro, são as previstas na Constituição Federal em seu artigo 12, inciso I: b) os nascidos no estrangeiro, de pai brasileiro ou mãe brasileira, desde que qualquer deles esteja a serviço da República Federativa do Brasil; c) os nascidos no estrangeiro de pai brasileiro ou mãe brasileira, desde que sejam registrados em repartição brasileira competente ou venham a residir na República Federativa do Brasil e optem, em qualquer tempo, depois de atingida a maioridade, pela nacionalidade brasileira. Sobre tal ponto, a jurisprudência do TRF-5 Remessa ex officio REOAC 385634 AL 0007357-38.2005.4.05.8000 (TRF-5) disserta “A CF/88 adotou, como regra o critério ius soli, admitindo porém, ligeiras atenuações. Portanto, no Brasil não só o critério ius soli determina a nacionalidade, existindo situações de preponderância do critério ius sanguinis. 2. O art. 12 , I da Constituição Federal estipula os critérios e pressupostos para que alguém seja considerado brasileiro nato. Uma das condições é de que os nascidos no estrangeiro, de mãe ou pai brasileiros, venham a residir na República Federativa do Brasil para que sejam aptos a, em qualquer tempo, optar pela nacionalidade brasileira.” Salienta Alexandre de Moraes, em sua obra “Direito Constitucional”: “Na hipótese dos nascidos no estrangeiro, de pai brasileiro ou mãe brasileira, desde que qualquer deles esteja a serviço da República Federativa do Brasil, o legislador constituinte adotou o ius sanguinis somado, porém, a um requisito específico (critério funcional), qual seja, a necessidade de pai ou de mãe brasileiros, sejam natos ou naturalizados, estarem a serviço do brasil no exterior.”¹ Em suma, Alexandre de Moraes pontua os critérios que o legislador adotou, para a concessão da nacionalidade brasileira do filho de brasileiro, nascido no exterior; os quais seriam: ius sanguinis (ser filho de pai brasileiro ou mãe brasileira) e o critério funcional (o pai ou a mãe estar a serviço do Brasil). Na hipótese da alínea “b)” do inciso I, 12 da CF, o já mencionado e admirado autor, na mesma obra, nomeia a modalidade da alínea como “Nacionalidade Potestativa” para denominar os nascidos no estrangeiro, de pai brasileiro ou mãe brasileira, desde que venham a residir na Republica Federativa do Brasil e optem, em qualquer tempo, depois de atingida a maioridade, pela nacionalidade brasileira e pontua: “A opção prevista na Constituição Federal consiste na declaração unilateral de vontade de conservar a nacionalidade brasileira primária. A aquisição, apesar de provisória, dá- se a com a fixação de residência, sendo a opção uma condição confirmativa, que deverá ocorrer a partir da maioridade. A fixação da residência no País constitui fato gerador da nacionalidade, que fica sujeita a uma condição confirmativa, a opção. Portando, o filho de pai brasileiro e/ou mãe brasileira nascido no estrangeiro, adquire a nacionalidade originária no momento da fixação de sua residência no Brasil, devendo confirmar sua vontade de conservar a nacionalidade brasileira a partir da aquisição da maioridade civil, de maneira personalíssima.² Já perante os nascidos no estrangeiro, de pai brasileiro ou mãe brasileira, desde que sejam registrados em repartição brasileira competente, adota o critério do ius sanguinis somado a um requisito específico (registro) qual seja, a necessidade de registro em repartição brasileira competente (Embaixada ou Consulado), independentemente de qualquer outro procedimento subsequente, além do registro, para confirmar a nacionalidade..”³ O supramencionado jurista, ensina que o filho de pai e/ou mãe brasileira, que venha residir no Brasil, adquire com sua fixação de residência, a nacionalidade brasileira provisória, e o termo “optem” no texto da Constituição (Art 12, inc I, c)) tem sentido de confirmação que o indivíduo faz pela opção de adquirir permanentemente a nacionalidade brasileira, ao completar a maioridade. Outro ponto importante, é o que menciona José Afonso da Silva, em sua obra “Curso de Direito Constitucional Positivo”: “A Constituição reputa brasileiro nato aquele que adquire a nacionalidade brasileira pelo fator nascimento. Pode ser pai ou a mãe nato ou naturalizado: é preciso, no entanto, que tenha nacionalidade brasileira no momento do nascimento do filho, para que este seja tido como brasileiro nato”⁴ Como confirma a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça STJ- SENTENÇA ESTRANGEIRA CONTESTADA : SEC 10228 EX 2013/0414582- 5: “Cabe aos Estados dizer quem são os seus nacionais, e a Constituição Federal, no art. 12, I, estabelece os critérios da nacionalidade primária. A regra geral adotada pelo legislador constituinte é a do local do nascimento, prevista na alínea a. Nas alíneas b e c, adota o critério sanguíneo, associado a outros elementos. Pela alínea c, os filhos de pai brasileiro ou mãe brasileira nascidos no estrangeiro que venham a residir no Brasil são considerados brasileiros natos até que completem a maioridade, a partir de quando essa nacionalidade ficará suspensa até que optem pela nacionalidade brasileira” Contudo, conclui-se que o filho de brasileiro naturalizado, nascido no estrangeiro, é brasileiro nato, desde que cumpra os requisitos exigidos, presentes na alínea b) e c) do artigo 12, inciso I da Constituição Federal; com fulcro no princípio da igualdade entre brasileiros natos e naturalizados, não havendo distinção entre seus descendentes em relação aos requisitos para a obtenção da nacionalidade brasileira. Ainda sobre o tema, a jurisprudência TRF-4-APELAÇÃO CÍVEL: AC 6401 RS 2007.71.70.10.006401-1 faz importante ressalta a título de conhecimento “Os requisitos exigidos para a concessão de pedido de naturalização brasileira devem estar satisfeitos no momento em que formulado o pedido e não na data do nascimento do requerente. No que diz respeito ao quesito filiação, não importa que o pai do requerente tenha alcançado a nacionalidadebrasileira, por naturalização, somente após o nascimento deste último. Necessário, apenas, que, no momento em que formulado o pedido de naturalização, seu pai seja brasileiro (nato ou naturalizado)”. Questão 2 É de conhecimento que, nos dias de hoje, muitos brasileiros saem do país, com destinação a morar no exterior, em busca de nova forma de vida. Esse brasileiro, ao se naturalizar estrangeiro, perde a sua nacionalidade brasileira, exceto em dois casos, previstos no artigo 12, §4º, II, CF “Será declarada a perda da nacionalidade do brasileiro que: II- adquirir outra nacionalidade, salvo nos casos: a) de reconhecimento de nacionalidade originária pela lei estrangeira b) de imposição de naturalização, pela norma estrangeira, ao brasileiro residente em Estado estrangeiro, como condição para permanência em seu território ou para o exercício de direitos civis. O que acontece nas hipóteses da alínea A e B, é chamado apátrida, afinal, o brasileiro não perde a nacionalidade e, sim, adquire mais uma, tendo uma espécie de dupla nacionalidade. Disserta sobre, a jurisprudência do Tribunal de Justiça de Santa Catarina TJ-SC - Apelação Cível : AC 0301699-15.2018.8.24.0054 Rio do Sul 0301699- 15.2018.8.24.0054: “obter a dupla cidadania - pelo 'ius sanguinis', direito constitucionalmente assegurado quando de reconhecimento de nacionalidade originária pela lei estrangeira, segundo dispõe o artigo 12, § 4º, II, a da Constituição da Republica Federativa do Brasil - CRFB." (AC n. 0502783- 48.2013.8.24.0020, Des. Rodolfo Cezar Ribeiro Da Silva Tridapalli).” Partindo para o ponto de que perde a nacionalidade o brasileiro que adquirir outra nacionalidade, voluntariamente, sem as hipóteses citadas anteriormente, observa Alexandre de Moraes, em sua obra “Direito Constitucional”: “A hipótese de perda da nacionalidade, também conhecida como perda-mudança, é aplicável tanto aos brasileiros natos quanto aos naturalizados. O brasileiro, em regra, perderá sua nacionalidade quando, voluntariamente, adquirir outra nacionalidade. A perda será efetivada por meio de um procedimento administrativo no Ministério da Justiça. Os Efeitos do Decreto Presidencial que estabelece a perda da nacionalidade são ex nunc, ou seja, não retroativos, atingindo somente a relação jurídica indivíduo-Estado, após sua edição. O brasileiro nato ou naturalizado, que perde esta condição, em virtude do art 12, §4º, II, CF, poderá readquiri-la, por meio dos procedimentos previstos de naturalização. Mesmo na hipótese do brasileiro nato que se vê privado da nacionalidade originária, tornando-se, pois, estrangeiro, somente poderá haver a reaquisição sob forma derivada, mediante processo de naturalização, tornando-se brasileiro naturalizado” ⁵ Como confirma a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal STF - AÇÃO RESCISÓRIA : AR 0013823-59.2017.1.00.0000 DF - DISTRITO FEDERAL 0013823-59.2017.1.00.0000: No caso do Brasil, tanto o brasileiro nato como naturalizado podem perder a nacionalidade brasileira, nos casos de cancelamento da naturalização, por sentença judicial, em virtude da prática de atividade nociva aos interesses nacionais, ou de aquisição de outra nacionalidade, por meio de naturalização voluntária. Ocorridos um desses fatos, o Presidente da República declara a perda da nacionalidade brasileira em relação ao indivíduo. Seu ato, portanto, é declaratório e não constitutivo, ou seja, o fato que constituiu a perda da nacionalidade brasileira foi o cancelamento da naturalização, por meio de sentença judicial, ou a naturalização que antecedeu o ato presidencial, por força do qual extinguiu-se o vínculo de nacional que o indivíduo detinha no Brasil. Somente por meio de declaração expressa e específica do interessado em naturalizar-se voluntariamente em outro Estado estrangeiro é que o mesmo perde a nacionalidade brasileira. O que se leva em conta é a vontade do brasileiro de dar ensejo a que o Estado estrangeiro o considere nacional. Dessa forma, não perde a nacionalidade brasileira aquele que foi naturalizado involuntariamente em país estrangeiro, Apresentados os fundamentos, e baseado no artigo 76 da Lei de Migração (13.445/2017): “O Brasileiro que, em razão do previsto no inciso II do §4º do art 12 da Constituição Federal, houver perdido a nacionalidade, uma vez cessada a causa, poderá readquiri-la ou ter o ato que declarou a perda revogado, na forma definida pelo órgão competente do poder Executivo” conclui-se que a Constituição Federal, não prevê exatamente se o brasileiro que perdeu sua nacionalidade voluntariamente, voltará a posição de nato ou naturalizado. Na doutrina há 2 correntes (não há maior ou menor) e, o já mencionado jurista Alexandre de Moraes, é adepto a primeira, que adere o entendimento de que o indivíduo não poderia voltar a condição de brasileiro nato, se assim o fosse, pois era brasileiro, adquiriu voluntariamente outra nacionalidade e deseja retornar a nacionalidade brasileira, o que não poderia vir a ser considerada como originária. Valerio de Oliveira Mazzuoli também traz argumentos sobre essa corrente, em seu livro “Curso de Direito Internacional Público”: “É evidente que, com a reaquisição da nacionalidade, o brasileiro (que agora já não é mais nato) perde todos os direitos que a Constituição atribui aos brasileiros natos (como o de eleger-se a determinados cargos). Seria um contrassenso permitir a um indivíduo, que se entrega à proteção de outra pátria, que retorne ao seu país de origem e nele ascenda a cargos que o texto constitucional reservou especialmente àqueles brasileiros natos que aqui estão e aqui permanecem com animus definitivo” ⁶ Para a segunda corrente, o efeito da reaquisição de nacionalidade teria efeito retroativo, ja que o brasileiro deveria readquirir a nacionalidade brasileira, na posição que se encontrava antes de perdê-la, como afirma José Afonso da Silva, jurista renomado, adepto a segunda corrente, em sua obra “Direito Civil Positivo”: “O readquirente recupera a condição que perdera: se era brasileiro nato, voltará a ser nato, se naturalizado, retomará essa qualidade” ⁷ O presente grupo, corrobora, por unanimidade, com a primeira corrente, pela motivação de o brasileiro ter “aberto mão” por vontade própria de sua nacionalidade brasileira e, portanto, caso desejasse retornar ao país de origem, deveria adquirir a posição de naturalizado. A Jurisprudência “Tribunal Regional Federal da 4ª Região TRF-4- APELAÇÃO CÍVEL: AC 50005661120174047115 RS 500566- 11.2017.4.04.7115 - Inteiro Teor” traz importante ponto a ser lembrado: “A aquisição da nacionalidade de outro país acarreta, em regra, a perda da nacionalidade brasileira. Todavia, a aquisição, por si só, não é condição suficiente para a perda, por ser necessário o conhecimento do fato pelas autoridades locais competentes e da declaração por decreto. A decretação da perda da nacionalidade depende de prévia instauração de processo administrativo, a fim de verificar a existência das causas determinantes, assegurada a ampla defesa. O indivíduo somente deixa de ser considerado brasileiro a partir da publicação no Diário Oficial da União do decreto expedido pelo Presidente da República. A perda da nacionalidade brasileira surtirá efeitos a partir da publicação da portaria declaratória do Ministro da Justiça e Segurança Pública no Diário Oficial da União. Após a publicação do ato, o interessado será considerado, para todos os efeitos, estrangeiro perante o Estado brasileiro1.” 1 MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional, página 243, capítulo 5.2, editora Atlas, edição 35. ² ² MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional, Página 243, cap 5.3 ³ MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional página 244 245 cap 5.4 ⁴ SILVA, José Afonso da. curso de direito constitucional positivo. 19 ed. Pag 322 ⁵ MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional, página 258, capítulo 8.2 “NaturalizaçãoVoluntaria” ⁶ MAZZUOLI, Valério de Oliveira. Curso de Direito Internacional Público ⁷ SILVA, José Afonso da, Curso de Direito Constitucional Positivo, p. 342 Bibliografia: Constituição Federal Lei de Migração (13.445/2017) Livro Direito Constitucional, autor Alexandre de Moraes, edição 35, editora Atlas, 2019 Livro Direito Constitucional Positivo, autor José Afonso da silva, edição 42, editora Malheiros, 2019 Livro Direito Internacional Público, autor Valério de Oliveira Mazzuoli, 9º edição, editora Revista dos Tribunais, 2015
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