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1-Noções de Contabilidade

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GESTÃO DE FINANÇAS EMPRESARIAIS
Noções de contabilidade
Se perguntassem a você o que é contabilidade, qual seria a sua resposta?
Bem, talvez você já esteja no mercado de trabalho e já tenha tido a oportunidade de realizar atividades que envolvam rotinas contábeis. Para quem não teve essa vivência, o termo “contabilidade” pode ser algo novo e um pouco indefinido.
Vamos pensar na estrutura de uma empresa, em tudo relacionado a ela. Ela tem um prédio, veículos, equipamentos, salas, móveis, estoque, materiais para consumo, conta em banco, dinheiro em caixa e, provavelmente, contas para pagar aos seus fornecedores, salários a pagar aos empregados, impostos a pagar. Talvez também tenha feito empréstimos em bancos para comprar equipamentos. Além disso, alguém deve ter iniciado o negócio, colocando dinheiro para que se iniciasse. Então, a empresa deverá em algum momento retornar ao investidor alguma remuneração.
Pois bem, todos os itens que compõem a estrutura da empresa devem ser registrados em documento, e esse registro é a função principal da contabilidade. É possível perceber então como a contabilidade está presente na nossa vida.
Inicialmente, estudaremos o conceito de contabilidade, seus princípios, o conceito de patrimônio, os resultados e os principais custos das entidades. Ao fim, será possível compreender a lógica contábil, que pode impactar de forma positiva ou negativa um negócio.
Conceitos e princípios contábeis
Segundo José Carlos Marion (2010):
“Uma empresa sem boa contabilidade é como um barco à deriva ao sabor dos ventos.”
Esse argumento é verídico, pois a contabilidade é considerada um sistema de informação cujo objetivo é fornecer informações e avaliações úteis aos seus usuários, de forma a dar-lhes apoio para a tomada de decisões de natureza econômica ou na formação de suas avaliações dentro e fora da empresa.
Os usuários da contabilidade são classificados em dois tipos:
· Internos - São representados pelas pessoas internas da entidade, como é o caso dos gestores e da diretoria. Os usuários internos utilizam a contabilidade para auxiliá-los no processo de tomada de decisão. Exemplo da utilização da contabilidade para usuários internos da entidade: análise da viabilidade de uma nova filial, ou de um novo produto, a partir do parecer contábil; sendo possível decidir pelo fechamento ou não da filial, ou pelo lançamento ou não do novo produto.
· Externos - São representados pelas pessoas que utilizam as informações contábeis para seu processo decisório, mas que são externas à entidade. O acesso às informações da empresa é mais limitado, por haver uma menor possibilidade de obter informações sobre a entidade (exceto se as demonstrações financeiras forem publicadas, o que é obrigatório para determinada classificação de empresa).
Alguns exemplos de usuários externos são:
· Governo: para a arrecadação de tributos, mas também para licitações referentes à prestação de serviços ou à compra de produtos e mercadorias.
· Investidores: são aqueles que aplicam ou que aplicarão seus recursos na empresa. Esses usuários têm interesse em fazer isso por empréstimos ou pela compra de parte do capital da empresa.
· Fornecedores e clientes: são pessoas jurídicas que fazem negócios com a entidade. Para esses usuários, a informação contábil pode ser importante para determinar o nível e a profundidade no relacionamento comercial. Fornecedores desejarão receber, e clientes desejarão ter um fornecedor com garantias e sustentabilidade.
A contabilidade é muito antiga e sempre existiu para auxiliar as pessoas a tomarem decisões. Com o passar do tempo, o governo começou a utilizar-se dela para arrecadar impostos, tornando-a obrigatória para a maioria das empresas.
Mas, a principal função dela é ser uma ciência que estuda e controla o patrimônio mediante o registro, a demonstração expositiva e a interpretação dos fatos, com o fim de oferecer informações sobre sua composição e suas variações, bem como sobre o resultado econômico decorrente da forma de gestão.
Considera-se “pessoa”, juridicamente falando, todo ser ao qual se atribuem direitos e obrigações, separado em pessoa física (é a pessoa natural, o ser humano, o indivíduo) e pessoa jurídica, como as de fins lucrativos (empresas industriais, comerciais etc.) ou não (cooperativas, associações culturais, religiosas etc.).
Na contabilidade, o patrimônio é composto por bens, direitos e obrigações.
· Bens - Conjunto de bens capazes de satisfazer as necessidades das pessoas e das empresas.
São classificados em:
· Bens tangíveis: têm forma física, são palpáveis. Ex.: veículos, imóveis, estoque de mercadorias, dinheiro, móveis e utensílios, ferramentas etc.
· Bens intangíveis: não são palpáveis, não são constituídos de matéria. Ex.: marcas (Unilever, Gerdau, Coca-Cola) e patentes de invenção (direito exclusivo de explorar uma invenção).
· Direitos - Trata-se do poder de exigir alguma coisa. São os valores a receber, títulos a receber, contas a receber etc. Exemplos de pessoas físicas: salários a receber (após o mês de trabalho), dinheiro depositado em algum banco (direito a sacá-lo) e aluguéis a receber. Já como exemplos de pessoas jurídicas, temos: a venda a prazo – clientes ou duplicatas a receber; títulos a receber (referentes a notas promissórias); aluguéis a receber e depósitos em conta bancária.
· Obrigações - São dívidas com outras pessoas. Em contabilidade, tais dívidas são denominadas obrigações exigíveis. Como exemplos, nas empresas, temos: as obrigações com salários a pagar, fornecedores a pagar, aluguéis a pagar, impostos a pagar, empréstimos a pagar e dividendos (para os sócios).
Classificação e registro de contas patrimoniais
Agora que sabemos o patrimônio da empresa, precisamos saber como elas aparecem na estrutura patrimonial, chamadas de contas patrimoniais.
Elas são classificadas em ativo e passivo.
· Ativo
São todos os bens e direitos de propriedade da empresa, mensuráveis monetariamente, que representam benefícios presentes ou benefícios futuros para a empresa.
As suas contas patrimoniais são registradas de acordo com sua rapidez de conversão em dinheiro, chamado de grau de liquidez (a capacidade de se transformar em dinheiro mais rapidamente). Veja as principais contas classificadas como ativo na tabela abaixo:
	Conta patrimonial
	Explicando a liquidez
	Caixa
	Já é dinheiro e está sob minha posse.
	Bancos conta movimento
	É dinheiro, mas está no banco.
	Estoque de mercadorias
	É dinheiro, mas está em forma de mercadorias. Tenho que vendê-las.
	Aluguéis a receber
	É dinheiro que tenho direito de receber dentro do prazo estipulado em contrato.
	Duplicatas a receber
	É dinheiro que tenho direito de receber dentro do prazo estipulado em contrato.
	Empréstimos a receber
	É dinheiro que tenho direito de receber dentro do prazo estipulado em contrato.
	Títulos a receber
	É dinheiro que tenho direito de receber dentro do prazo estipulado em contrato.
	Veículos
	É dinheiro em forma de ativo (veículo). Pode ser convertido em dinheiro pela venda desse ativo.
	Móveis e utensílios
	É dinheiro em forma de ativo (móveis e utensílios). Pode ser convertido em dinheiro pela venda desse ativo.
	Máquinas e equipamentos
	É dinheiro em forma de ativo (máquinas e equipamentos). Pode ser convertido em dinheiro pela venda desse ativo.
	Terrenos
	É dinheiro em forma de um ativo imobilizado. Pode ser convertido em dinheiro, mas isso demora.
	Edifícios
	É dinheiro em forma de um ativo imobilizado. Pode ser convertido em dinheiro, mas isso demora.
	Marcas e patentes
	É dinheiro em forma de ativo (marcas e patentes). Pode ser convertido em dinheiro pela venda da marca.
· Passivo
O passivo evidencia toda a obrigação (dívida) que a empresa tem com terceiros: contas a pagar, fornecedores de matéria-prima, impostos a pagar, financiamentos, empréstimos etc.
As suas contas patrimoniais estão ordenadas de acordo com o prazo de liquidação dessas obrigações, do menor prazo para o maior, chamado de grau de exigibilidade (tempo de exigência para quitar uma obrigação), comomostra o exemplo abaixo:
	Conta patrimonial
	Explicação do prazo de liquidação
	Contas a pagar
	Uma obrigação que devo cumprir no prazo estipulado a curto prazo (até 12 meses).
	Salários a pagar
	Uma obrigação que devo cumprir no prazo estipulado a curto prazo (até 12 meses).
	Impostos a pagar
	Uma obrigação que devo cumprir no prazo estipulado a curto prazo (até 12 meses).
	Empréstimos bancários
	Uma obrigação que devo cumprir no prazo estipulado a curto prazo ou longo (até 12 meses ou mais).
Patrimônio líquido
Para que a empresa comece a operar de fato, ela precisa de capital (dinheiro, bens e recursos).
Os sócios da empresa estão dispostos a conceder uma quantia inicial, normalmente em dinheiro, para dar início e constituição para a empresa. Essa quantia é o capital, ou o capital social (pois se origina de uma sociedade).
O patrimônio líquido, ou PL, é uma conta patrimonial que evidencia recursos dos proprietários aplicados no empreendimento. A aplicação inicial dos proprietá¬rios denomina-se de capital, como já vimos. E se houver outras aplicações por parte dos proprietários teremos então acréscimo de capital.
Em termos legais, a empresa não é obrigada a devolver o capital ao sócio, caso contrário sua continuidade poderia ser interrompida. Por isso, o patrimônio líquido também é conhecido como passivo não exigível, pois essa dívida não poderá ser cobrada. Em caso de falência da empresa, o sócio perde o dinheiro investido (investimento de risco).
O PL não só é acrescido aos novos aumentos de capital, é também adicionado aos rendimentos resultantes do capital aplicado, este denominamos de lucro.
Do lucro obtido em determinado período pela atividade empresarial, normalmente uma parte é distribuída para os sócios e a outra parte fica retida na empresa em contas de reservas legais do PL. Caso a empresa apresente prejuízo, o valor será também registrado no PL na conta prejuízos acumulados.
Contas de resultado
Como vimos anteriormente, no PL estão contemplados os lucros e prejuízos financeiros que a empresa apresentou no período. Mas, de que forma são apurados esses valores?
As contas de resultado, que correspondem as receitas e despesas da empresa, são aquelas que representam o movimento da situação líquida da empresa, o que de fato ficará como resultado.
Como receita, tem-se os aumentos nos benefícios econômicos durante o período, como as vendas efetuadas. Despesa, por sua vez, é o decréscimo desses benefícios, o salário do funcionário, é um exemplo de despesa.
A lógica é simples. Para apurar o resultado final, basta diminuir as receitas pelas despesas do período, sendo que:
· Se as receitas forem maiores que as despesas, haverá lucro no período.
· Se as despesas forem maiores que as receitas, haverá prejuízo no período.
As receitas e despesas podem ser classificadas de duas maneiras: operacionais e não operacionais.
Receitas e despesas operacionais
A receita bruta, ou receita operacional, se constitui pela venda de produtos (na indústria), de merca¬dorias (no comércio) e prestação de serviços (empresa prestadora de serviços).
Já as despesas operacionais são aquelas necessárias para vender os produtos, administrar a empresa e financiar as operações. Ou seja, são todas as despesas que contribuem para a manutenção da atividade operacional da empresa, sendo que os principais grupos são os seguintes:
· Despesas de vendas: abrangem desde a promoção do produto até sua disposição para o consumidor (comercialização e distribuição). São despesas com o pessoal da área de venda, comissões sobre vendas, propaganda, publicidade etc.
· Despesas administrativas: são as necessárias para administrar a empresa. De maneira geral, são gastos nos escritórios visando a direção ou a gestão da empresa. Como exemplos temos: honorários administrativos, salários e encargos sociais do pessoal da administração, materiais de escritório, aluguéis de escritório etc.
· Despesas financeiras: são as remunerações - as obrigações com terceiros - tais como: juros pagos, comissões e despesas bancárias, descontos concedidos, juros de mora pagos etc.
Receitas e despesas não operacionais
Custos
As contas de resultado que merecem destaque diferenciado são as de custos, pois representam os gastos relativos aos bens e serviços utilizados diretamente na produção, na disponibilidade de mercadoria para venda ou na prestação do serviço, como:
· Matéria-prima
· Mão-de-obra empregada na produção
· Embalagens
· Aluguéis das instalações de produção
Não faça confusão: custo não é despesa!
Enquanto que o custo está ligado diretamente com a receita da empresa, exercendo um papel importante na precificação do produto, mercadoria ou serviço, as despesas estão associadas à operação da empresa e não diretamente à produção, à disponibilidade de mercadoria para venda ou à prestação do serviço.
Entendida a diferenciação entre custos e despesas, agora, verificaremos as suas relações com a produção.
No que se refere à associação dos custos com:
Os produtos fabricados
Temos custos diretos e indiretos.
Custos diretos
São aqueles diretamente identificados com o processo produtivo, não necessitando de qualquer procedimento de rateio, pois são atribuídos de modo objetivo, como por exemplo: matéria-prima utilizada no processo de produção e mão-de-obra diretamente envolvida com o processo (executa a transformação da matéria-prima no produto acabado).
Custos indiretos
São gastos incorridos que vão beneficiar mais de uma linha de produtos, não é possível uma associação direta e objetiva ao produto produzido, devem ser alocados segundo algum critério de rateio que permita sua distribuição entre os diferentes produtos fabricados. Exemplo: gastos com seguros e com pessoal de supervisão.
O volume de produção
Temos custos fixos e variáveis.
Custo fixo
São considerados fixos aqueles em que o montante não varia acompanhando o volume de produção. Dito de outra forma, mesmo que não se produza uma única unidade, esses custos (e despesas) existirão. Alguns exemplos muitos citados de custos fixos são: mão-de-obra, aluguéis, depreciação etc.
Custos variáveis
São aqueles cujo montante se altera, acompanhando as mudanças que acontecem no volume produzido. Assim, se o volume produzido aumenta, os custos variáveis aumentam também; se o volume diminui, o custo variável também diminui. Um exemplo de custo variável é a matéria-prima, pois quanto mais produzimos e comercializamos, mais matéria-prima utilizaremos.
Plano de contas e lançamentos contábeis
Sabemos que os acontecimentos numa empresa podem ou não alterar o seu patrimônio. Aos acontecimentos que não alteram o patrimônio, chamamos de atos administrativos. Portanto, atos administrativos são aqueles que ocorrem na empresa e que não provocam alterações no patrimônio. Sendo assim, não são contabilizados, pois, uma vez que não alteram o patrimônio da empresa, não necessitam de contabilização.
Exemplos:
· Admissão de funcionários.
· Assinatura de um contrato de seguro contra incêndio.
· Envio de duplicatas a receber para cobrança simples etc.
Por outro lado, temos os fatos administrativos, ou fatos contábeis. Eles representam todos os acontecimentos que provocam alterações qualitativas e/ou quantitativas no patrimônio da empresa. Exemplos:
· Pagamento de salário de funcionários.
· Pagamento de seguro contra incêndio.
· Recebimento de duplicatas através de cobrança bancária simples etc.
Sabendo dessas informações, podemos dizer que o plano de contas é o conjunto de rubricas criado pelo contador, para atender as neces¬sidades de registro dos fatos administrativos, de forma a possibilitar a construção dos principais relatórios contábeis e atender todos os usuários com relação à informação contábil.
Para cada bem ou agrupamento de bens e direitos (ativo), obrigações (passivo) ou situação líquida (patrimônio líquido), há uma conta específica. Da mesma forma, as modificações do patrimônio, positivas (receitas) ou negativas (despesas e custos), são representadas por contas de resultado.
O plano de contas de uma empresa consiste numarelação padronizada de contas a serem utilizadas no registro das operações pelos profissionais da área de contabilidade. Como todos, eles se sujeitam a regras estabelecidas num mesmo plano de contas, a consequência é a uniformidade nos procedimentos contábeis adotados.
Entretanto, o plano deve ser flexível, de forma a poder ser adaptado, mediante inclusão ou exclusão de contas, em virtude da ocorrência de fatos contábeis inicialmente não previstos e da dinâmica própria da atividade empresarial. Tendo em vista a estrutura desenvolvida pela lei societária brasileira, um plano de contas analítico poderia ter a seguinte estrutura de 1º nível:
Logo, o código 6111.0003 representa os registros dos valores das horas extras pagas nos salários dos funcionários em um período.
Salientamos que o plano de contas retratará a identidade da empresa, tendo tantos níveis quanto for necessário para a devida identificação do lançamento e para posterior sistema de informações e tomada de decisões.
Entretanto, o modo como devem ser registrados os valores nessas contas, no plano de contas, é feito pelo método das partidas dobradas, nele registramos todos os acontecimentos que se verificam no patrimônio. O valor de cada componente do patrimônio, suas variações e os resultados, positivos ou negativos da atividade econômica podem ser acessados a qualquer momento.
Esse método de escrituração é de uso universal e foi divulgado no séc. XV (1494) na Itália, e consiste no seguinte:
“Não há devedor sem que haja credor e não há credor sem que haja devedor, sendo que a cada débito corresponde um crédito de igual valor.”
Para entender melhor esse conceito, devemos entender que as contas possuem dois lados (esquerdo e direito); dessa forma, os aumentos podem ser registrados em um lado, e as diminuições, no outro. A natureza da conta é que irá determinar o lado a ser utilizado para os aumentos e o lado para as diminuições.
A premissa básica das partidas dobradas é que, para toda transação contábil, há no mínimo dois registros (origens e destinos). Esses registros são denominados débito e crédito funcionam como as ações contábeis, uma vez que os atos de debitar e de creditar alteram os saldos das contas e, consequentemente, geram as variações patrimoniais.
Portanto, debitar e creditar são os verbos da contabilidade: todas as transações contábeis que ocorrem são registradas utilizando essas duas ações. Mas, antes de iniciar o entendimento de como se debita e se credita, é necessário entender a natureza dos grupos de contas. Para facilitar a compreensão, apresentamos o seguinte esquema:
	DÉBITO
	CRÉDITO
	+ Ativo
- Passivo
- Patrimônio líquido
	- Ativo
+ Passivo
+ Patrimônio líquido
A tabela acima mostra que, se o ativo é de natureza devedora, para aumentá-lo, há de se fazer um débito; e para reduzi-lo, há de se fazer um crédito. O mesmo raciocínio serve para os demais grupos: como o passivo e o patrimônio líquido são de natureza credora, para aumentá-los, faz-se um crédito, e, para reduzi-los, um débito.
Essa natureza dos grupos de contas gera ao iniciante neste estudo alguma confusão, pois ele pode questionar-se sobre:
Se ativo são os bens e direitos de uma empresa, como isso pode ser um débito? Essa dúvida surge porque estamos acostumados a pensar que débito implica estar em falta de algo, ou seja, seria algo negativo; em contabilidade, no entanto, não é bem assim. Veja a origem das palavras:
· Débito: do latim debes = devido a mim (pertencente a mim).
· Crédito: do latim credo = confiança, crença.
Portanto, a palavra “débito” significa “devido a mim”; logo, o ativo é de natureza devedora, pois os bens e direitos pertencem à empresa, ou seja, são devidos a ela.
A palavra “crédito”, por sua vez, significa “confiança”; quem vende a prazo, portanto, tem confiança na empresa, ou seja, acredita que ela vá pagar a dívida e, conforme já visto, as dívidas e as obrigações são lançadas no passivo, daí esse grupo ser de natureza credora. O mesmo ocorre com o patrimônio líquido, pois o investidor (proprietário) colocou recursos na empresa, acreditou nela.
	Contas do Ativo
	Contas do passivo PL
	Qualquer conta do ativo
	Qualquer conta do passivo e PL
	Débito
	Crédito
	Débito
	Crédito
	Aumento de conta do ativo
	Diminuição de conta do ativo
	Diminuição de conta do passivo e PL
	Aumento de conta do passivo e PL
As receitas, os custos e as despesas, pertencentes as contas de resultado, posteriormente, de forma resumida (pelo saldo – lucro ou prejuízo), são transferidos para a conta de lucros acumulados no patrimônio líquido. Então, o raciocínio para essas contas é o seguinte:
· A receita é de natureza credora (crédito), pois aumenta o lucro, aumentando consequentemente a conta de reservas de capital, sendo de mesma natureza do patrimônio líquido.
· Os custos e despesas são de natureza devedora (débito), pois diminui o lucro ou causa prejuízo, diminuindo a conta de reservas de capital ou aumentando a de prejuízos acumulados no PL.
Vamos a alguns exemplos práticos para a compreensão do método das partidas dobradas:
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Exemplo 1
Depósito de R$ 280,00 em dinheiro na conta corrente do banco.
Contas alteradas:
Dinheiro em caixa: é um bem, portanto, ativo, saldo devedor. Logo, o fato diminui o saldo de caixa, tudo o diminui. Um saldo devedor é um crédito, portanto, é um crédito na conta dinheiro em caixa.
Banco – conta corrente: é um direito, portanto, ativo e todo ativo tem saldo devedor. Logo, o fato está aumentando o saldo da conta banco. Tudo o que aumenta um saldo devedor é um débito, portanto, é um débito na conta banco – conta corrente.
Lançamentos a serem efetuados:
D (débito) – Banco – Conta corrente: 280,00
C (crédito) – Dinheiro em caixa: 280,00
Exemplo 2
Compra de roupas para estoque do fornecedor XY no valor de R$ 18.000,00, a prazo.
Contas alteradas:
Estoque de roupas: é um bem, portanto, ativo, saldo devedor. Logo, o fato está aumentando o saldo da conta banco. Tudo o que aumenta um saldo devedor é um débito, portanto, é um débito na conta estoque de mercadorias.
Fornecedor XY: é uma obrigação, portanto, passivoe todo passivo tem saldo credor. Logo, o fato está aumentando o saldo da conta. Tudo o que aumenta um saldo credor é um crédito, portanto, é um crédito na conta fornecedor XY.
Lançamentos a serem efetuados:
D – Estoques de roupas: 18.000,00
C – Fornecedor XY: 18.000,00
Exemplo 3
Pagamento, a vista, no valor de R$ 15,00, de cópias autenticadas em cartório, dos documentos dos sócios da empresa, para enviar ao contador.
Contas alteradas:
Dinheiroemcaixa: é um bem, portanto, ativo, saldo devedor. Logo, o fato diminui o saldo de caixa. Tudo o diminui, um saldo devedor é um crédito, portanto, é um crédito na conta dinheiro em caixa.
Despesas de cartórios: é uma despesa e todo despesa tem saldo devedor. Logo, o fato está aumentando o saldo da conta. Tudo o que aumenta um saldo devedor é um débito, portanto, é um débito na conta despesas de cartórios.
Lançamentos a serem efetuados:
D – Despesas de cartório: 15,00
C – Dinheiro em caixa: 15,00
Como vimos, não há débitos sem créditos correspondentes, podendo os lançamentos serem feitos das seguintes formas:
· Primeira forma: 1 débito + 1 crédito
· Segunda forma: 1 débito + vários créditos
· Terceira forma: vários débitos + 1 crédito
· Quarta forma: vários débitos + vários créditos
Compreendendo como devem ser escritos os lançamentos contábeis, podemos entender os conteúdos que estão inseridos nos principais livros contábeis obrigatórios por leis comerciais e fiscais. Listamos a seguir os principais:
Livro diário
Livro obrigatório usado na escrituração contábil para reunir, em ordem cronológica, as ocorrências representativas dos fatos patrimoniais de uma entidade. No livro diário, devem ser lançados, dia a dia, todos os fatos contábeis, todas as ocorrências que modifiquem ou que possam vir a modificar a situação patrimonial da empresa. Exemplo de registro das transações do livro diário:
	DATA
	HISTÓRICO
	DÉBITO
	CRÉDITO
	10/03/2006
	D– Caixa
C – Bancos
Suprimento de caixa efetuado nesta data.
	5.000
	5.000
Livro-razão
Livro obrigatório de escrituração contábil destinado ao registro sistemático dos fatos ocorridos nas contas patrimoniais e de resultados da empresa. Sua escrituração se processa pela transcrição, conta por conta, em ordem de data, para cada conta das operações registradas cronologicamente no livro diário. O livro-razão acaba sendo o livro, por excelência, do contador, já que por meio dele é que se consegue apurar o saldo de cada item patrimonial, ou seja, o saldo de cada conta.
	Conta: 1.1.1.1.1 – Dinheiro em Caixa Período: 01/01/2012 à 31/12/2012
	Data
	Histórico
	Débito
	Crédito
	Saldo
	31/12/2011
	Saldo anterior
	
	
	4.000,00
	21/01/2012
	Pagamento NF Empreiteira ZZ
	
	1.000,00
	3.000,00
	01/02/2012
	Recebimento de cliente Fulano
	2.000,00
	
	5.000,00
Razonete
O razonete nada mais é que um livro-razão simplificado. Com ele, é possível controlar o movimento de todas as contas utilizadas na escrituração, de maneira didática e simplificada. No razonete são feitos os registros individuais por conta, tendo como característica principal a representação gráfica em forma de “T”.
Princípios contábeis
Agora que aprendemos as noções básicas da contabilidade, precisamos ter também a noção dos princípios contábeis, determinados pelo Conselho Federal de Contabilidade.
Esses princípios permitem que os seus usuários sigam padrões de comparação e de credibilidade, em função do reconhecimento dos critérios adotados para a elaboração das demonstrações financeiras, que será o conteúdo a ser visto em seguida. O objetivo é aumentar a utilidade dos dados fornecidos e facilitar as corretas interpretação e comparação de informações entre empresas do mesmo setor.
Atualmente, temos seis princípios que devem ser considerados nas empresas, a saber:
Entidade
Este princípio afirma a autonomia patrimonial, evidenciando que esta não se confunde com a de seus sócios ou proprietários, no caso de sociedades ou instituições. A contabilidade é mantida para a empresa como uma entidade identificada, registrando os fatos que afetam o seu patrimônio, e não o de seus titulares, sócios ou acionistas.
Continuidade
Pressupõe-se a continuidade indefinida das atividades operacionais de uma entidade até que haja evidências ou indícios muito fortes em contrário. Por consequência, como as demonstrações financeiras são estáticas, não podem e não devem ser desvinculadas de períodos anteriores e subsequentes.
Oportunidade
Refere-se, simultaneamente, à tempestividade e à integridade do registro do patrimônio e das suas mutações, determinando que este seja feito de imediato e com a extensão correta, independentemente das causas que as originaram. Envolve o reconhecimento imediato de ativos e de passivos nos registros contábeis, considerando-se, inclusive, para os casos em que não haja uma prova documental concreta, a possibilidade de uma estimativa técnica, razoável e objetiva, visando evitar o liberalismo por parte das pessoas.
Registro pelo valor original
Os componentes do patrimônio devem ser registrados pelos valores originais das transações com o mundo exterior, expressos em valor presente na moeda do país e mantidos na avaliação das variações patrimoniais posteriores, inclusive quando configurarem agregações ou decomposições no interior da entidade.
Competência
As receitas e as despesas devem ser incluídas na apuração do resultado do período em que ocorrerem, sempre simultaneamente quando se relacionarem, independentemente de recebimento ou pagamento. As receitas e as despesas são atribuídas aos períodos de acordo com a sua real ocorrência, isto é, de acordo com a data do fato gerador, e não quando são recebidas ou pagas.
Prudência
Objetiva a prudência na preparação dos registros contábeis, com a adoção de menor valor para os itens do ativo e da receita, e o de maior valor para os itens do passivo, despesa e de custos, sempre que se apresentem alternativas igualmente válidas para a quantificação das mutações patrimoniais que alterem o patrimônio líquido.
Pronto!
Agora você tem uma noção básica de como funciona a contabilidade nas empresas. Caso queira aprofundamento nesse conteúdo, amplie a sua leitura. A seguir listamos algumas sugestões:
Assista o vídeo intitulado “História da Contabilidade”, produzido pelo Conselho Federal de Contabilidade, CFC, disponível gratuitamente na internet.
Para compreender o impacto da contabilidade nas empresas, sugerimos:
· “Um Sonho de Liberdade”: filme de 1994, mostra o poder da contabilidade e do contador tanto para coisas boas quanto ruins. Um detento (contador) consegue conquistar a confiança das autoridades do presídio fazendo declaração de IR e controlando as contas pessoais deles.
Figura 8 – Um sonho de liberdade
Fonte: <http://www.adorocinema.com/filmes/filme-11736/>.
· “Trabalho Interno”: documentário de 2010, importante para qualquer estudante na área de negócios, não somente de contabilidade, pois mostra o funcionamento das instituições financeiras.
Figura 9 – Trabalho interno
Fonte: <http://misturanetcapasgratis.blogspot​.com.br/2011/06/trabalho-interno.html>.

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