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HISTÓRIA DA HOMINIZAÇÃO ÀS PRIMEIRAS CIVILIZAÇÕES CAPÍTULO 4 - COMO ERAM A RELIGIÃO,

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05/06/2020 História da Hominização às Primeiras Civilizações
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HISTÓRIA DA HOMINIZAÇÃO
ÀS PRIMEIRAS CIVILIZAÇÕES
CAPÍTULO 4 - COMO ERAM A RELIGIÃO,
O MITO E AS LEIS NO CONTEXTO DAS
PRIMEIRAS CIVILIZAÇÕES?
Fernando Silva de Almeida
INICIAR
05/06/2020 História da Hominização às Primeiras Civilizações
https://fmu.blackboard.com/webapps/late-Course_Landing_Page_Course_100-BBLEARN/Controller 2/28
Introdução
Você já se questionou sobre a importância da religião na história das primeiras
civilizações? Ou melhor, conhece a importância da criação das primeiras religiões
e mitos e sua influência na sociedade contemporânea? E, por fim, sabia que no
antigo território da Mesopotâmia foram evidenciados os primeiros conjuntos de
leis que regeram o cotidiano das primeiras civilizações da história?
O objetivo deste capítulo é apresentar alguns dos principais acontecimentos que
foram responsáveis pela formação das primeiras religiões do mundo antigo, bem
como das primeiras leis conhecidas desse período, além de abordarmos a
importância do mito na sociedade. Sendo assim, discutiremos vários processos
históricos, como as primeiras evidências de manifestações religiosas na Pré-
História, a formação das primeiras religiões conhecidas, o surgimento do
politeísmo (e, consequentemente, do monoteísmo) e de algumas das principais
religiões do planeta (Judaísmo, Cristianismo e Islamismo) que, juntas, são
praticadas por mais de três bilhões de pessoas no mundo.
Esperemos que, ao longo do capítulo, você possa aprender novos conhecimentos
sobre essa temática e que essas informações sejam úteis não só no estudo da
história, da religiosidade, das leis e dos mitos, mas também no contexto cultural
em que vivemos atualmente, no qual conhecer cada vez mais sobre o passado é
um requisito necessário para se situar melhor no presente.
4.1. A religiosidade na antiguidade
O objetivo deste tópico é apresentar um histórico sobre a origem do pensamento
religioso no passado, demonstrando algumas hipóteses a respeito da criação das
primeiras religiões do mundo antigo. Como surgiram as primeiras práticas
religiosas? Qual foi a motivação por trás desse processo histórico? Qual é a
importância dessas primeiras manifestações na criação das primeiras religiões da
Antiguidade? Ao longo deste tópico, apresentaremos algumas hipóteses sobre o
surgimento das primeiras manifestações religiosas, bem como mostraremos
alguns exemplos de práticas existentes entre as primeiras civilizações.
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A tarefa da História ou da Arqueologia não é abordar a proximidade existente entre
as religiões e uma suposta verdade absoluta. Essas disciplinas compreendem que
a religiosidade pertence a cada indivíduo, dentro do grupo cultural no qual está
inserido. Sabe-se que, ao longo da história, surgiram inúmeras religiões e,
enquanto muitas desapareceram ou enfraqueceram por diversos motivos, outras
se tornaram cada vez mais dominantes. A religião está presente em toda a
sociedade e o seu aparecimento faz parte de um processo histórico que formou
um conjunto muito vasto e diversificado de práticas, pertencentes a uma grande
quantidade de povos de diferentes regiões e culturas. Além disso, conforme
Coulanges (2009), a religião se tornou acessível a todos, sem distinção de classe ou
etnia. O próprio ser humano possui uma grande diversidade cultural, seja no
passado mais distante ou no presente, e a grande variedade de religiões é uma
consequência disso.
Historicamente, a religião se tornou algo que é essencial ao ser humano e,
conforme Funari (2010, p. 162),
[...] corresponde a um conjunto de práticas sociais específicas e que fazem parte da
cultura de um determinado grupo humano ao longo de sua existência. [...] um
conjunto específico de crenças em um ou mais poderes divinos ou sobre-humanos
com o objetivo de render culto ao criador ou ao regente do universo.
A origem da palavra vem do latim re-ligare e significa um retorno por meio da fé a
algo que está além da experiência do cotidiano e do ser humano, que talvez tenha
sido perdido em algum momento (GOMES, 2008). No Cristianismo, esse retorno
seria a proximidade com a origem e com a essência de tudo o que existe no
universo ou, em outras palavras, com Deus.
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Figura 1 - A fé é uma das principais características da religião. Fonte: Stocksnapper, Shutterstock,
Deslize sobre a imagem para Zoom
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A religiosidade do ser humano está associada, entre outros fatores, aos aspectos
evolutivos que proporcionaram o desenvolvimento da capacidade cerebral e a
formação de pensamentos complexos nos primeiros hominídeos, processos que
alcançaram seu ápice com o aparecimento do Homo sapiens, espécie que possui
um cérebro altamente desenvolvido e cujo nome significa “homem que sabe” ou
“homem sábio”. O aumento da capacidade cerebral permitiu a observação de
fenômenos da natureza e a reflexão sobre seu significado e sobre as experiências
que estão além do que era conhecido. Sendo assim, ao observar a natureza, ou o
nascimento ou a morte de uma pessoa, por exemplo, o ser humano pode ter sido
absorvido por sentimentos que não poderiam ser compreendidos sem a criação
de significados ligados ao sagrado.
Dessa forma, as religiões podem ter sido criadas com base em alguns princípios
que começaram a ser seguidos de forma cada vez mais frequente pela sociedade,
por exemplo: os conjuntos de crenças em torno daquilo que é desconhecido, os
rituais, os instrumentos materiais ou os locais onde o sagrado se manifesta com
mais intensidade (como artefatos simbólicos e monumentos naturais) e o
surgimento de indivíduos que têm a capacidade de se comunicar com entes
religiosos (GOMES, 2008). Essas práticas criavam, então, um sentido para o
fenômeno e forneciam respostas e resultados práticos para aqueles que
acreditavam. 
As religiões foram encaradas inicialmente pelas ciências humanas a partir de
diferentes estágios, representando desde o estágio considerado mais primitivo até
chegar ao estágio superior (GOMES, 2008). Essa transformação foi um dos pilares
do evolucionismo cultural, uma corrente do século XIX que afirma: ao longo do
tempo, o ser humano evoluiu e adquiriu um sistema cultural mais complexo.
Entretanto, essa linha de pensamento sofreu várias críticas e, entre elas, podemos
citar a inconsistência da interpretação de um caminho linear em direção à
civilização e ao progresso; a falta de validade científica da construção de
hierarquias das práticas religiosas; a desconsideração da grande diversidade de
religiões existentes, que seguiram caminhos distintos e passaram por diversas
transformações ao longo da história.
2018.
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Conforme Gomes (2008), uma das primeiras manifestações religiosas que se tem
conhecimento é o animismo, praticado por sociedades que acreditavam na
existência de espíritos e seres sobrenaturais na natureza. Essa manifestação faz
parte do primeiro estágio considerado, pelo evolucionismo, o estágio teológico e é
ainda comum entre muitos povos indígenas da América do Sul. Entre suas várias
características está o fato de que os animais são vistos como espíritos, mas
também possuem características humanas. No animismo, existem sacerdotes,
indivíduos responsáveis pela comunicação entre os espíritos e as pessoas,
conhecidos como xamãs em algumas sociedades e como pajés em diversas etnias
indígenas brasileiras(GOMES, 2008). Uma variação desse fenômeno seria o
totemismo, muito comum em grupos indígenas da América do Norte,
caracterizado pela reverência aos elementos da natureza, como animais e plantas.
Acredita-se que as primeiras populações humanas possuíam uma religiosidade
semelhante ao que encontramos hoje em inúmeros povos indígenas. Tal
interpretação é baseada em diversas evidências encontradas no registro
arqueológico pré-histórico, seja em representações rupestres em cavernas ou até
mesmo na fabricação de instrumentos de pedra, cuja função é puramente
simbólica. Em cavernas e também a céu aberto, foram encontradas pinturas e
gravuras em rocha que demonstram a existência de algumas práticas religiosas no
passado, como rituais, desenho de animais que eram tabus alimentares e de
elementos da natureza, como os rios, demonstrando a importância das águas para
as sociedades do passado (FUNARI, 2010). Outras evidências são o enterramento
dos mortos, representando o culto aos antepassados e a existência da vida após a
morte.
Como exemplo dessas práticas religiosas antigas, citamos os sítios, que
representam os períodos mais antigos da civilização maia, na América Central
(FUNARI, 2010). As representações observadas em seu registro arqueológico
demonstram elementos de religiosidade que são expressos na forma de animais,
como o jaguar, o crocodilo, algumas aves, os peixes e as serpentes. Sendo assim,
os maias perceberam a existência desses animais como uma explicação para o
desconhecido, construindo significados para essa relação. Nos sítios
arqueológicos, os maias se encontram em desenhos que representam episódios
míticos, alguns referentes, inclusive, aos mitos de criação do mundo.
Outra característica da religião maia foram os sacrifícios humanos (FUNARI, 2010).
Em sítios arqueológicos dessa cultura, foram encontrados esqueletos decapitados
de homens e crianças, bem como de alguns animais, como o jaguar. Não se sabe
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exatamente qual era o propósito desses sacrifícios, porém, acredita-se que eram
direcionados para as divindades mais importantes dessa civilização,
demonstrando a importância dessas práticas no contexto sociocultural.
Além do animismo, o estágio teológico incluiria também o politeísmo, baseado na
criação de diversas divindades que seriam responsáveis por diferentes
fenômenos, e o monoteísmo, baseado na crença em um só deus. Nessas
subdivisões, houve a valorização do culto aos ancestrais e o estabelecimento da
crença em deuses antropomórficos (GOMES, 2008). Esse estágio teria se
manifestado entre as primeiras civilizações do planeta, como os egípcios, gregos,
mesopotâmicos, e culminaria na crença em Deus, um ser único, onipotente,
onisciente e onipresente, elemento característico das principais religiões
praticadas no mundo contemporâneo.
O livro As religiões que o mundo esqueceu: como egípcios, gregos, celtas, astecas e outros povos cultuavam
seus deuses (FUNARI, 2010) é uma ótima referência para conhecer as características principais das
religiões de civilizações do mundo antigo. É uma leitura bem agradável e é indicada para aqueles que
querem conhecer melhor as diversas práticas religiosas que hoje em dia não existem mais.
O segundo estágio do pensamento religioso seria o estágio metafísico, em que o
culto aos espíritos e aos deuses começou a ser substituído pelo abandono parcial
de alguns valores espirituais (GOMES, 2008). Seria um estágio associado à
introdução do pensamento filosófico nas primeiras civilizações humanas, que
ocorreu no momento em que diversos fenômenos da natureza começaram a não
ser mais explicados pela existência de forças sobrenaturais, como os espíritos e os
deuses, mas sim a outras forças abstratas. Nesse período da história humana,
começaram a ser realizados os primeiros questionamentos intelectuais e as
primeiras reflexões sobre a natureza, os espíritos e outros fenômenos.
VOCÊ QUER LER?
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Por fim, essas observações se referem a algumas das principais características
presentes nas primeiras manifestações religiosas da Pré-História. Não há como
saber exatamente os detalhes dessas primeiras práticas, contudo a existência de
algumas evidências arqueológicas e documentos escritos permitem que
possamos compreender alguns desses processos.
4.2. O surgimento do monoteísmo
Neste tópico, abordaremos os processos históricos que originaram as principais
religiões monoteístas da história. Quais foram essas religiões? De onde elas
surgiram? E como se fortaleceram? Conhecer esse passado ligado ao sagrado é
ampliar o conhecimento existente sobre o mundo antigo, principalmente no que
se refere à formação das primeiras manifestações religiosas que substituíram a
crença em vários deuses pelo culto ao deus único e que ocorreram paralelamente
à formação das primeiras civilizações. Esses acontecimentos possuem bastante
importância, pois as consequências desses fenômenos são sentidas no mundo
atual, por meio das religiões mais conhecidas.
Atualmente, sabemos que o monoteísmo, junção das palavras gregas mono (único)
e theos (deus), se caracteriza pela crença na existência de um único deus. Seu
surgimento influenciou toda a civilização ocidental e se tornou marcante durante
a história do Oriente Próximo, principalmente no que se refere à história dos
hebreus, se manifestando também em algumas outras culturas do mundo antigo,
como os egípcios, representados pela figura do faraó Akhenaton,
aproximadamente em 1300 a.C. (GOMES, 2008). Também é importante destacar o
monoteísmo no contexto de criação das principais religiões da atualidade, como o
Judaísmo, o Cristianismo e o Islamismo.
Vale lembrar que no mundo antigo, principalmente no que diz respeito à história
da Mesopotâmia, eram muito comuns os casos de monolatria, em que se cultuava
um único deus, contudo, reconhecendo-se a existência de outras divindades
(PINSKY, 2011). Essa era uma prática muito comum no Oriente Próximo, onde em
cada aldeia ou em cada povo existia um deus principal, porém eram conhecidos
deuses que eram protetores de outras regiões e outros povos. Por outro lado, o
monoteísmo é caracterizado na crença de apenas um deus e desconsidera-se a
presença de outros deuses, não havendo um reconhecimento nem de sua
existência, tampouco de sua influência na sociedade (PINSKY, 2011). Portanto,
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quando nos referimos ao surgimento do monoteísmo, estamos nos apoiando na
criação de religiões que têm como premissa básica a existência e a crença em um
deus único.
VOCÊ SABIA?
Existe mais de um tipo de monoteísmo. Entre as vertentes, podemos citar: o
monoteísmo substancial, no qual inúmeros deuses são originários de uma única
divindade, o panteísmo, que considera que o deus é o próprio universo, e outros
exemplos (como o panenteísmo e o deísmo).
Durante muito tempo, as práticas religiosas do mundo egípcio se baseavam na
monarquia divina dos faraós. Suas ações tinham legitimidade, pois se apoiavam
no desejo ou na permissão dos deuses, que se tornaram mais ou menos
importantes conforme a dinastia que estava no poder. Akhenaton foi o faraó que
promoveu importantes mudanças no cenário político e religioso do Egito,
negando todos os deuses existentes e considerando Aton como o único deus
(FUNARI, 2010). As ações de Akhenaton se tornaram a experiência mais
característica de monoteísmo no Egito, contudo não se configuram como a mais
importante influência na formação das principais religiões monoteístas. O fato de
que Akhenaton sabia da existência de outros deuses pode, inclusive, ser utilizado
como uma hipótese de que a sua crença em um deus único era um casode
monolatria.
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Em relação ao Oriente Próximo, uma característica que chama a atenção é a
existência de várias divindades, as quais faziam parte do cotidiano da sociedade
no início da história dessa região. Uma das civilizações mais antigas da
Mesopotâmia, os sumérios, organizavam a sociedade de acordo com um plano
concebido por essas divindades. Os deus e as deusas da história da Mesopotâmia
e dos sumérios eram representados como justos, amantes do bem, da verdade e
 Figura 2 - Mapa do
Egito mostrando a figura dos faraós, governantes que eram considerados praticamente como deuses
pelo povo. Fonte: Jose Ignacio Soto, Shutterstock, 2018.
Deslize sobre a imagem para Zoom
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da justiça (FUNARI, 2010). Esse sentimento provocava um modo de perceber o
mundo a partir de uma relação entre deuses e seres humanos, como se o que
acontecesse na vida real fosse uma consequência do que ocorria no plano divino.
O príncipe do Egito (LAZEBNIK, 1998) é uma animação adaptada do Livro do Êxodo e retrata a vida de
Moisés como príncipe do Egito até guiar os filhos de Israel para fora do Egito. Alguns fatos contados na
animação destoam da versão bíblica da história, contudo vale a pena assisti-la pela versão de um
acontecimento importante da história bíblica.
Conforme Funari (2010), cada cidade da Suméria tinha o seu próprio deus
protetor, que possuía um templo dedicado a ele. Enquanto algumas divindades
tinham uma importância local, outras eram conhecidas em um território mais
amplo. Além disso, os deuses sumérios estavam presentes em todas as situações
do cotidiano e eram imaginados como seres antropomórficos. Possuíam emoções
humanas, que poderiam ser boas (alegria, amor e apego) e ruins (raiva e
agressividade).
Vários fenômenos que ocorriam de forma natural, como as cheias dos rios Tigre e
Eufrates que eram causadas por degelos que ocorriam em regiões montanhosas
da atual Armênia, eram interpretados pelos sumérios como uma consequência da
ação dos deuses (FUNARI, 2010). Dessa forma, se esses fenômenos traziam coisas
boas, como a fertilidade do solo, eles seriam o resultado da satisfação dos deuses,
mas se fossem ruins, como a destruição de áreas agrícolas, isso era a ira ou a
disputa entre as divindades.
Por mais que as manifestações dos antigos sumérios estivessem relacionadas a
inúmeros deuses, essas práticas religiosas influenciaram várias civilizações que
apareceram em períodos posteriores (FUNARI, 2010). Entre as influências da
religião Suméria, estão as primeiras histórias sobre o Dilúvio, a figura do
sacerdote, a prática do exorcismo, a criação de dias festivos, a criação de templos
sagrados, a história de criação do ser humano a partir do barro e a existência de
VOCÊ QUER VER?
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cidades mesopotâmicas citadas no Antigo Testamento. Essas referências
demonstram a importância da história dos sumérios na construção das primeiras
religiões monoteístas.
Apesar de a civilização hebraica não ter a antiguidade dos egípcios ou das
primeiras civilizações mesopotâmicas, atribui-se a ela os primórdios do
monoteísmo (GOMES, 2008). As manifestações religiosas praticadas por esse povo
podem ser consideradas como uma ligação entre a cultura do Oriente Próximo e
do Ocidente. O Judaísmo, o Cristianismo e o Islamismo, por exemplo, são
originários da religião praticada pelos hebreus, cuja origem está na Mesopotâmia
– fato que é escrito inclusive na Bíblia e que foi comprovado por pesquisas
científicas (PINSKY, 2011). Outro elemento que comprova essa origem é a
apropriação de vários mitos mesopotâmicos pelos hebreus, como o dilúvio
sumério protagonizado por Ziusudra, semelhante à história da Arca de Noé
(PINSKY, 2011). 
O Judaísmo, o Cristianismo e o Islamismo compõem as três principais religiões
monoteístas que fortemente influenciaram o povo, a cultura e a religião no mundo
contemporâneo. Em relação ao Judaísmo, destacamos o fato de ter sido uma das
primeiras religiões a adotar o monoteísmo e ter sido responsável pela criação do
livro sobre a criação do mundo e do ser humano, salientando diversos valores
morais que necessitavam ser seguidos. Além disso, serviu de base para a formação
do Cristianismo, pois a citação do Messias no Velho Testamento dividiu os fiéis que
acreditavam em Jesus Cristo (como o próprio Messias) e os judeus que
acreditavam no Antigo Testamento (BORDONAL, 2009).
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O Islamismo foi outra religião que também teve um papel importante na
popularidade das religiões monoteístas. Foi criado no século VII a partir de um
sincretismo entre o Judaísmo, o Cristianismo e crenças arábicas (BORDONAL,
2009). O Alcorão é o livro sagrado do Islamismo e foi publicado tendo como
referência as palavras proferidas por Maomé. Atualmente, essa obra é seguida por
mais de um bilhão de pessoas. Vale lembrar que o Islamismo possui uma grande
importância na discussão proposta por este tópico, pois surgiu e se fortaleceu em
 Figura 3 - Cena da crucificação
de Jesus Cristo, um evento narrado pela Bíblia e que diz respeito às principais religiões da
atualidade. Fonte: Renata Sedmakova, Shutterstock, 2018.
Deslize sobre a imagem para Zoom
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uma região com uma tradição politeísta já estabelecida entre as populações
árabes. Uma curiosidade sobre o Islamismo e a sua consolidação no mundo árabe
é o fato de que Maomé se envolveu em diversos conflitos, inclusive com tribos
árabes politeístas, que o acusavam de heresia (BURGIERMAN et al., 2001).
O verdadeiro nome de Maomé é Abul Alcacim Maomé ibne Abdalá ibne Abdal Mutalibe ibne Haxim.
Esse personagem histórico não é considerado no Islamismo como um ser divino, mas sim um dos mais
perfeitos seres humanos que já existiram. Conforme a religião, Maomé teria sido escolhido pelo anjo
Gabriel para recitar os versos que foram diretamente enviados por Deus e que Deus o havia escolhido
como o último profeta da humanidade.
Figura 4 - Mesquita, local sagrado da religião Islâmica. Fonte: Shutterstock, 2018.
VOCÊ O CONHECE?
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Por fim, estudar a origem do monoteísmo na história da Antiguidade é
compreender processos históricos que fundamentais para o surgimento e para a
expansão das práticas religiosas que compõem religiões, como o Cristianismo,
Judaísmo e Islamismo e suas mais variadas vertentes. Essas religiões ainda são
bem relevantes atualmente e fazem parte do contexto cultural da maioria dos
indivíduos em todo o planeta. Entender o passado delas é um requisito
fundamental para se manter informado sobre o que acontece em nossa sociedade
atualmente.
4.3. O Código de Hamurabi
Neste tópico, apresentaremos algumas das principais características do Código de
Hamurabi, o principal documento histórico sobre as primeiras leis da Antiguidade.
Quem foi Hamurabi, a quem se atribui a criação desse conjunto de leis? Qual é a
importância desse documento no cotidiano da sociedade babilônica? E qual é a
importância dessa descoberta na atualidade? Responderemos a esses
questionamentos ao longo deste tópico, assim como apresentaremos outras
particularidades desse documento, que se tornou uma das principais fontes
escritas da Antiguidade.Atribui-se à Mesopotâmia o surgimento da escrita (PINSKY, 2011). Esse marco, que
divide a Pré-História e a História, proporcionou a produção de inúmeros
documentos que nos fornecem importantes pistas sobre o cotidiano das primeiras
civilizações da Antiguidade. Um deles é o Código de Hamurabi, composto por 281
leis (uma foi excluída devido às superstições da época), escritas em uma rocha
vulcânica de mais de dois metros de altura, encontrada por uma expedição
francesa no sudoeste do Irã. Trata-se de um documento extremamente importante
por se caracterizar como um dos primeiros conjuntos de leis escritas encontrados
em ótimo estado de preservação. 
Ele versa sobre diferentes temas, que incluem leis sobre quebra de contrato, falso
testemunho, roubo, estupro, família, entre outros e cujo objetivo principal era
garantir a manutenção de uma cultura em comum, na qual o mais forte não
poderia prejudicar os mais fracos (BORDONAL, 2009). Além dessa importante fonte
documental da Antiguidade, existem outras que relatam alguns acontecimentos
do mundo antigo, como a Estela dos Abutres (em que foram registrados alguns
conflitos entre as cidades-estados de Lagash e Umma), o Código de Urukagina (no
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qual estão os primeiros registros de codificação de normas jurídicas da cidade-
estado de Lagash), o Código de Ur-Nammu (que transformava costumes antigos
em leis e previa a aplicação de penas pecuniárias) e o Código de Eshunna (que
mistura o direito penal e o direito civil e que serviu como base para a criação do
Código de Hamurabi).
Hamurabi foi um grande rei, conquistador e um excelente administrador. Seu
governo – que durou 58 anos aproximadamente – era baseado na língua, na
religião e no direito, aspecto que é o principal tema do código que leva seu nome.
Durante seu reinado, foi responsável pela conquista de quase todo o território
mesopotâmico, incluindo alguns povos, como os sumérios e os acádios, se
tornando um dos principais governantes do império babilônico. Hamurabi morreu
aproximadamente no ano de 1750 a.C., possivelmente devido a causas naturais, e
seu conjunto de leis se tornou um dos documentos históricos mais importantes da
Antiguidade e hoje pode ser visitado no Museu do Louvre, em Paris.
Figura 5 - A balança do direito, que representa a justiça e o equilíbrio. Fonte: corgarashu,
Shutterstock, 2018.
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O filme O escorpião rei 2: a saga de um guerreiro (MCCORMICK, 2008), apesar de não possuir um
compromisso com os fatos históricos, é influenciado por costumes do mundo antigo, em especial
quando menciona os reis Sargão da Acádia e Hamurabi, que aparece em uma das cenas. Esses reis
foram dois dos mais responsáveis governantes da Antiguidade oriental.
O Código de Hamurabi foi produzido durante o período hegemônico do império
babilônico, entre 1800 e 1500 a.C. O fato de esse documento ter sido escrito em
uma rocha pode significar a existência de um caráter imutável do conjunto de leis,
que posteriormente deu origem ao termo “escrito na pedra”, uma forma comum
de se considerar a importância e a imutabilidade de algumas leis. Por outro lado, o
motivo de ele ter sido encontrado gravado somente em uma rocha é o fato de que
muitas cópias do código escritas em papéis podem ter se perdido, pois se tratam
de materiais perecíveis.
Ele não foi um projeto de transformação da sociedade, mas sua legislação
abordava temas comuns do cotidiano, a partir do reconhecimento de três classes
sociais distintas: os homens ricos e os homens livres (Awelum), o povo,
representado principalmente pelos funcionários públicos (Mushkenum) e os
escravos (Wardum) (PINSKY, 2011). De um lado, os homens ricos possuíam mais
privilégios que as demais classes, mas ao mesmo tempo pagavam mais tributos.
De outro lado, os escravos nunca deixaram de ser considerados como propriedade
e eram punidos mais severamente caso atentassem contra as classes mais
privilegiadas.
Em relação à escravidão, no império babilônico os escravos não possuíam o
mesmo status dos escravos africanos trazidos ao Brasil durante o período colonial,
por exemplo: os Wardum tinham alguns direitos garantidos pelo Código de
Hamurabi, como a impossibilidade de seu proprietário tornar escravos seus filhos
com uma mulher livre (PINSKY, 2011). O código regulava outros aspectos da
escravidão, por exemplo: a devolução de um escravo caso esse tivesse adoecido
em um determinado período inicial após a compra, a satisfação que deveria ser
VOCÊ QUER VER?
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dada pelo vendedor caso o comprador tivesse alguma reclamação sobre o escravo
e a permissão de cortar a orelha do escravo caso ele não reconhecesse seu senhor
(BORDONAL, 2009).
Em relação ao papel da mulher, ela tinha uma certa independência do marido,
poderia administrar o dote que recebia do pai ao casar, escolher outro marido
caso esse se torne prisioneiro de guerra e poderia também assumir cargos
públicos. Além disso, a mulher que teve filhos, caso eles fossem rejeitados pelo
homem, tinha direito à restituição do donativo e ao recebimento de outros bens
para que pudesse cuidá-los. Por outro lado, o marido poderia castigá-la caso fosse
identificado alguma infidelidade e poderia também, em alguns casos, possuir uma
segunda esposa, mas ela não teria os mesmos direitos da primeira (BORDONAL,
2009).
Uma importante contribuição do Código de Hamurabi é o desenvolvimento do
direito privado, em que havia várias punições para os indivíduos que atentassem
contra a propriedade alheia (BORDONAL, 2009). Temos como exemplos: caso
alguém tivesse roubado o tesouro de algum templo, deveria ser morto e quem
recebeu o objeto também; se alguém tivesse roubado algum animal doméstico,
Figura 6 - Os escravos africanos na América eram tratados de forma bem distinta dos escravos do
período babilônico. Fonte: joppo, Shutterstock, 2018.
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teria que pagar uma quantia em retorno e, se não pudesse pagar, seria morto; se
alguém tivesse perdido um animal doméstico de outra pessoa, teria que conseguir
outro etc. Ainda sobre a propriedade privada, a terra poderia pertencer ao Estado
e ao templo sagrado, mas também a indivíduos particulares – nesse caso, seria
cultivada a partir de um sistema de posse que incluía rendeiros, colonos e até
pessoas que não tinham título regular, mas que ofereciam ao rei serviços em troca
da terra.
VOCÊ SABIA?
O Código de Hamurabi foi um dos primeiros documentos históricos a defender a
ideia de que todos são inocentes até que se prove o contrário. Por mais que muitas
leis fossem muito severas, os indivíduos que eram acusados de algo teriam o
direito de se defender antes de serem punidos.
O texto História Antiga (BORDONAL, 2009) apresenta a totalidade do Código de
Hamurabi e serve de referência para a leitura e reflexão sobre as leis que eram
aplicadas na Antiguidade. A seguir, apresentaremos algumas delas, com o intuito
de demonstrar práticas do cotidiano dos indivíduos que viviam no império
babilônico durante o reinado de Hamurabi:
"Art. 3° - Se alguém em um processo se apresenta como testemunha de
acusação e não prova o que disse, se o processo importa perda de vida, ele
deverá ser morto."
"Art. 15 - Se alguém furta pela porta da cidade um escravo ou uma escrava
da Corte ou um escravo ou uma escrava de um liberto, deverá ser morto."
"Art. 25 - Se na casa de alguém aparecer um incêndio e aquele que vem
apagar lança os olhos sobrea propriedade do dono da casa e toma a
propriedade do dono da casa, ele deverá ser lançado no mesmo fogo."
"Art. 27 - Se um oficial ou um gregário foi feito prisioneiro na derrota do rei e
em seguida o seu campo e o seu horto foram dados a um outro e este deles
se apossa, se volta a alcançar a sua aldeia, se lhe deverá restituir o campo e
o horto e ele deverá retomá-los."
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"Art. 33 - Se um oficial superior foge ao serviço e coloca um mercenário em
seu lugar no serviço do rei e ele parte, aquele oficial deverá ser morto."
"Art. 48 - Se alguém tem um débito a juros, e uma tempestade devasta o seu
campo ou destrói a colheita ou por falta d’água não cresce o trigo no campo,
ele não deverá nesse ano dar trigo ao credor, deverá modificar sua tábua de
contrato e não pagar juros por esse ano."
"Art. 55 - Se alguém abre o seu reservatório d’água para irrigar, mas é
negligente e a água inunda o campo de seu vizinho, ele deverá restituir o
trigo conforme o produzido pelo vizinho."
"Art. 130 - Se alguém viola a mulher que ainda não conheceu homem e vive
na casa paterna e tem contato com ela e é surpreendido, este homem deverá
ser morto, a mulher irá livre."
"Art. 142 - Se alguém toma uma mulher e essa não lhe dá filhos e ele pensa
em tomar uma concubina, se ele toma uma concubina e a leva para sua
casa, esta concubina não deverá ser igual à esposa."
"Art. 192 - Se o filho de um dissoluto ou de uma meretriz diz a seu pai
adotivo ou a sua mãe adotiva: ‘tu não és meu pai ou minha mãe’, dever-se-á
cortar-lhe a língua."
Como podemos perceber, foram citados aqui alguns casos que envolvem a
aplicação de penas de morte, punições severas ou menos severas, comuns ao
longo do Código de Hamurabi. A visualização do texto integral do código se
constitui como uma importante fonte de aprendizado sobre as primeiras leis
escritas que temos conhecimento do mundo antigo.
4.4. O mito na antiguidade
Neste tópico, apresentaremos algumas características do mito, focando em
algumas particularidades dos mitos indígenas e sua relação com a história desses
povos. Poderíamos utilizar outros exemplos, como a mitologia grega e romana,
contudo o objetivo aqui é discutirmos alguns elementos gerais presentes nos
mitos, independentemente de sua origem. Qual é a característica principal dos
mitos? Eles se configuram somente como histórias sem compromisso com a
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verdade ou podem ser comparados com outras evidências históricas?
Respondermos, ao longo deste tópico, a esses questionamentos apresentando
algumas de suas particularidades. 
Analisando o sentido mais tradicional do mito, podemos considerá-lo como uma
história contada sobre os acontecimentos que ocorreram no passado, mas que
também fazem parte do presente, relacionados à formação da sociedade, aos
costumes ou a outras características culturais existentes entre esses grupos
(GOMES, 2009). Esses acontecimentos podem ser caracterizados por histórias
mágicas, que misturam diferentes elementos da natureza com elementos
sobrenaturais. Sendo assim, essas histórias podem ser compostas por seres
humanos, animais, plantas, objetos, espíritos, divindades, entre outros. 
O mito, no entanto, não deve ser confundido com as lendas, que geralmente têm
um caráter mais simplificado e se caracterizam pela existência de relatos
folclóricos que são transmitidos oralmente – enquanto ele possui um caráter
particular, referente a uma busca das origens, da explicação de fenômenos da
natureza ou de determinados aspectos religiosos (GOMES, 2009). Em uma
sociedade, em função da maior complexidade do mito em relação à lenda,
aqueles que sabem contá-lo com detalhes são reconhecidos e respeitos pelos
demais membros do grupo. Algumas lendas conhecidas da história brasileira, por
exemplo, são a do boto, do curupira, do lobisomem etc.
Assim como o pensamento religioso, o mito foi interpretado pelo evolucionismo
cultural como uma das principais características das primeiras fases culturais da
humanidade, em que o ser humano seria incapaz de explicar acontecimentos
históricos a partir de uma lógica racional (GOMES, 2009). Porém, ao longo do
tempo, pesquisadores perceberam que os mitos podem fornecer evidências
relevantes sobre o passado de uma sociedade, pois abordam fenômenos e
histórias que dizem respeito ao próprio contexto cultural dessas sociedades.
Algumas das histórias que originalmente seriam interpretadas como fantasiosas
demonstram a existência de relatos coerentes sobre o passado e, além disso,
quando comparadas com outras fontes documentais sobre os mesmos grupos, é
possível verificar semelhanças entre o mito e a história. Portanto, entendemos que
os mitos possuem histórias fantásticas, enredos complexos, ideologias e demais
características que parecem irreais, mas que se referem ao próprio
comportamento humano dessas sociedades e podem ser utilizadas como fontes
de pesquisa.
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Um exemplo disso são os deuses e heróis da mitologia grega como Aquiles, por
exemplo. Não se sabe ao certo se esse personagem de fato existiu, pois é
considerado um herói mitológico, um dos participantes da Guerra de Troia e foi o
principal personagem da Ilíada, de Homero. Apesar não haver comprovação
científica de sua existência, os relatos sobre esse personagem estão relacionados à
própria história da Grécia antiga e se constituem como importantes fontes
históricas desse período.
Aquiles foi um dos mais famosos heróis da mitologia grega. A mais conhecida teoria sobre sua morte
postula a ideia de que era invulnerável em todo o corpo, com exceção do calcanhar, que foi atingido
por uma flecha envenenada, causando sua morte. Além de Ilíada, ele é citado em obras como: Ifigénia
em Áulide, de Eurípedes e Aquilíada, de Estácio, além de retratado em pinturas e objetos materiais,
como vasos e esculturas.
Ao longo deste tópico, apresentaremos algumas características do pensamento
mítico a partir do ponto de vista das populações indígenas da América do Sul. De
acordo com elas, o mundo é habitado por diferentes espécies de sujeitos ou
pessoas, humanas e não humanas, que o apreendem segundo pontos de vista
distintos. Sendo assim, podemos afirmar que a distinção clássica entre natureza e
cultura ou entre história e mito (comum na cultura ocidental) não pode ser
utilizada para descrever dimensões associadas às cosmologias indígenas, pois o
modo como essas populações percebem os animais e outras subjetividades é
diferente do modo como nós percebemos esses mesmos elementos.
VOCÊ O CONHECE?
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Para os Nukak da Amazônia colombiana, por exemplo, os mitos estão relacionados
até mesmo com a expansão do território, que é considerado a partir de quatro
dimensões físicas e uma dimensão mítica, todas percebidas como reais (POLITIS,
2009). Das imediações do acampamento, dos distantes lugares ocupados por
ancestrais de gerações passadas, mas que podem ser visitados a qualquer
momento, tudo é considerado de um jeito ou outro como seu território: um mais
 Figura 7 - As
populações indígenas possuíam uma forte relação com o mundo mítico. Fonte: Marzolino,
Shutterstock, 2018.
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perto e mais conhecido, o outro mais distante e menos frequentado. Quando a
dimensão mítica é confrontada com outras fontes documentais, percebemos que
essas fontescorroboram a versão mítica dos Nukak.
Outro exemplo surge a partir da experiência dos povos Yanesha, do Peru. Durante
dois dias de trabalho de campo com esses grupos, o antropólogo Fernando
Santos-Granero percorreu diversos caminhos e observou que, não importasse por
onde ele caminhasse ao longo das estradas e trilhas que cruzam o território
Yanesha, seu acompanhante, Francisco, conectava diferentes locais ou
características da paisagem com eventos passados, quer pessoais, históricos ou
míticos, demonstrando que os mitos possuem relações com o mundo real.
Coincidentemente, o caráter mítico das histórias contadas por Francisco
correspondia às características dos territórios ocupados pelos Yanesha no passado
(SANTOS-GRANERO, 2005).
A maioria das abordagens sobre a história das populações indígenas utilizadas
pela Arqueologia tem tomado os componentes físicos das fontes como os únicos
documentos possíveis de utilizar para compreender a história desses povos. Dessa
forma, os mitos têm sido negligenciados pelos arqueólogos a partir do argumento
de que não podem ser encontrados “empiricamente”. Alguns pesquisadores
argumentam, por exemplo, que em alguns casos até tabus alimentares não são
incluídos na interpretação dos arqueólogos, pois só existem nos mitos, mesmo
quando há outras fontes que comprovem a existência desses tabus. No caso dos
Nukak, os tabus são resultados de específicas crenças ideológicas e míticas, que
têm uma longa tradição nas sociedades indígenas amazônicas e se configuram
como práticas exercidas cotidianamente, isto é, não fazem parte somente do
mundo mítico (POLITIS, 2009).
A ligação com a esfera sobrenatural afeta fortemente como os povos indígenas
concebem, percebem e usam o mundo físico. Natureza e cultura para os povos
ameríndios, na maior parte das vezes, são parte de um mesmo campo. Essas
cosmologias, então, orientam toda a ação dos grupos indígenas, principalmente
em relação às atividades do cotidiano e, consequentemente, influenciam o
registro arqueológico. Para demonstrar isso, podemos utilizar alguns exemplos,
como os povos Hotï, da Venezuela (STORRIE, 1999 apud POLITIS, 2009): um xamã
teve um sonho com o fim do mundo e o anunciou para o povo, provocando pânico
e uma migração para o leste na busca da borda do mundo e o caminho para a
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“casa da morte”. Essa migração ocorreu de verdade e, caso os mitos fossem
considerados uma fantasia sem sentido, estaríamos nos afastando da
compreensão de alguns processos históricos importantes dessas sociedades.
Para os grupos indígenas brasileiros, são os mitos que contam a verdadeira
história do mundo. Nesse sentido, eles não seriam somente contos de fantasia ou
ficção, e sim a explicação mais coerente sobre a origem do universo, incluindo a
explicação de temas como a origem do cosmos, da humanidade, dos animais, da
sexualidade, dos espíritos, das atividades de caça, das mulheres, entre outros
(FUNARI, 2010). Essas explicações estão relacionadas com as manifestações
religiosas e as festas, e não são compreendidas como algo fora do cotidiano das
populações indígenas.
O livro Terra dos mil povos: a história indígena do Brasil contada por um índio (JECUPÉ, 1998) é indicado
para aqueles que desejam compreender a história indígena brasileira a partir de outra perspectiva.
Dessa forma, o leitor conhecerá inúmeros aspectos da cultura indígena e como esses povos contam a
sua própria história.
Em alguns mitos de origem de determinados povos indígenas, por exemplo,
aqueles que criaram o universo frequentemente são um par de companheiros ou
até irmãos (FUNARI, 2010). Um desses companheiros é o mais preguiçoso,
enquanto o outro traz novidades para o ser humano. Um trouxe a humanidade, a
agricultura, a água, o fogo e a linguagem, enquanto o outro acrescentou algumas
confusões, atrapalhando algumas dessas novidades, transformando os homens
em animais que seriam caçados, criando o adultério, entre outros processos. Em
várias sociedades, os mitos de criação possuem uma origem similar, em que não
há o bem e o mal, e sim a ordem e a criatividade.
VOCÊ QUER LER?
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CASO
O Código de Hamurabi foi formado por um conjunto de leis composto por
punições rígidas para aqueles que pensavam estar acima da lei e, em
alguns casos, essas punições poderiam ser bem severas, ocasionando o
sofrimento e a morte daqueles que a infligiram. Uma situação fictícia que
poderíamos citar é quando marido e mulher passam a viver juntos após o
casamento e, de repente, a mulher passa a trair o marido com outro
homem e depois de um tempo acaba cometendo o assassinato do seu
marido. Conforme o Código de Hamurabi, qual seria punição para a
mulher que cometeu esse crime?
As leis criadas por Hamurabi tinham o objetivo de promover a justiça e
conter a realização de crimes por parte dessa sociedade. O caso citado se
refere ao artigo n° 153 do código, que diz: “Se a mulher de um homem livre
tem feito matar seu marido por coisa de outro, se deverá cravá-la em uma
estaca”. Trata-se de uma maneira extremamente cruel de castigo, contudo,
era assim que os povos babilônicos governados por Hamurabi tratavam
esse tipo de crime. Outras leis sobre o tratamento de relações
extraconjugais envolviam amarrar e lançar a mulher na água caso ela
tenha sido infiel e, caso não tenha sido pega em flagrante, deverá jurar em
nome de Deus que não cometeu tal ato.
Por fim, as leis criadas por Hamurabi tratavam de assuntos diversos, e as
relações extraconjugais eram mais severas quando o crime fosse cometido
contra um homem livre, que formava a classe social mais rica do império
babilônico. O Código de Hamurabi foi uma das primeiras referências de leis
do mundo antigo e influenciou outras civilizações a organizarem a
sociedade de maneira similar. Ao longo do tempo, muitas leis que tratam
do mesmo assunto se tornaram menos severas e, hoje em dia, são raros os
casos que envolvem castigos cruéis como os praticados durante o mundo
antigo.
Assim como ocorre com a religião, não faz parte da investigação histórica ou
antropológica o julgamento sobre os mitos, sejam eles relacionados aos povos
mesopotâmicos, egípcios, gregos, romanos, indígenas, entre outros. Além disso,
seria uma árdua tarefa apresentar em poucas páginas toda a complexidade
existente de mitos. Existem inúmeros exemplos e processos históricos associados
a eles, que envolvem a existência de mecanismos políticos, econômicos, culturais,
entre outros.
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Síntese
Aprendemos, neste capítulo, vários assuntos ligados à construção da religiosidade
e das primeiras leis do mundo antigo e também à formação dos mitos entre as
sociedades humanas.
Neste capítulo, você teve a oportunidade de:
entender os processos que levaram o ser humano a se tornar um ser
religioso e criar as primeiras religiões;
compreender como a religiosidade passou a considerar cada vez mais o
monoteísmo como principal aspecto das religiões;
compreender o papel do Código de Hamurabi no contexto de criação da
escrita e das primeiras leis da Antiguidade;
analisar o papel do mito nas sociedades humanas e a relação que as
histórias míticas possuem com a realidade dessas populações.
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