Buscar

info-662-stj

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 67 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 67 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 67 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

Informativo 662-STJ (31/01/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 1 
 
Informativo comentado: 
Informativo 662-STJ 
Márcio André Lopes Cavalcante 
 
 
ÍNDICE 
 
DIREITO CONSTITUCIONAL 
MINISTÉRIO PÚBLICO 
▪ Ação de improbidade administrativa proposta contra Promotor de Justiça (podendo resultar na perda do cargo): julgada 
em 1ª instância; ação civil de perda de cargo de Promotor não envolvendo improbidade administrativa: julgada pelo TJ. 
 
DIREITO ADMINISTRATIVO 
LIMITAÇÃO ADMINISTRATIVA 
▪ Em ação de desapropriação indireta é cabível reparação decorrente de limitações administrativas. 
 
LICITAÇÕES 
▪ O estabelecimento de critérios de classificação para a escolha de licitantes em credenciamento é ilegal. 
 
DIREITO AMBIENTAL 
AÇÃO POPULAR 
▪ Em regra, o autor pode ajuizar a ação popular no foro de seu domicílio, mesmo que o dano tenha ocorrido em 
outro local; contudo, diante das peculiaridades, as ações envolvendo o rompimento da barragem de Brumadinho 
devem ser julgadas pelo juízo do local do fato. 
 
DIREITO CIVIL 
SEGURO 
▪ É cabível a modulação dos efeitos do entendimento da Súmula 610 do STJ no caso de suicídio que tenha ocorrido 
ainda na vigência do entendimento anterior, previsto nas Súmulas 105 do STF e 61 do STJ. 
 
DIREITO DO CONSUMIDOR 
PLANO DE SAÚDE 
▪ Autarquia que seja criada para prestar serviços de saúde suplementar para os servidores públicos e seus 
dependentes estará sujeita às regras da Lei dos Planos de Saúde (Lei 9.656/98). 
 
DIREITO EMPRESARIAL 
REPRESENTAÇÃO COMERCIAL 
▪ É nula a cláusula que prevê o pagamento antecipado da indenização devida ao representante comercial no caso 
de rescisão injustificada do contrato pela representada. 
 
RECUPERAÇÃO JUDICIAL 
▪ A ação de habilitação retardatária de crédito deve ser ajuizada até a prolação da decisão de encerramento do 
processo recuperacional. 
 
DIREITO PROCESSUAL CIVIL 
TÉCNICA DE AMPLIAÇÃO DO COLEGIADO 
▪ Aplica-se a técnica de ampliação do colegiado quando o Tribunal, por maioria, der provimento aos embargos de 
declaração para reformar a decisão embargada e, por consequência, reformar a decisão parcial de mérito 
prolatada pelo juiz em 1ª instância. 
 Informativo 
comentado 
 
 
Informativo 662-STJ (31/01/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 2 
 
IRDR 
▪ O procedimento de distinção (distinguishing) previsto no art. 1.037, §§ 9º a 13, do CPC/2015, aplica-se também ao 
incidente de resolução de demandas repetitivas – IRDR. 
 
PENHORA 
▪ É ilegal a decisão judicial que determina a penhora de valores de instituição financeira, no âmbito de processo do 
qual não era parte, mas funcionou como auxiliar da justiça. 
 
IMPENHORABILIDADE 
▪ Os bens da Fundação Habitacional do Exército - FHE são impenhoráveis. 
 
EXECUÇÃO FISCAL 
▪ Termo inicial da prescrição para redirecionamento em caso de dissolução irregular da empresa. 
 
PROCESSO COLETIVO 
▪ O MPF possui legitimidade para propor ação civil pública a fim de debater a cobrança de encargos bancários 
supostamente abusivos praticados por instituições financeiras privadas. 
 
AÇÃO POPULAR 
▪ Em regra, o autor pode ajuizar a ação popular no foro de seu domicílio, mesmo que o dano tenha ocorrido em 
outro local; contudo, diante das peculiaridades, as ações envolvendo o rompimento da barragem de Brumadinho 
devem ser julgadas pelo juízo do local do fato. 
 
DIREITO PENAL 
MEDIDA DE SEGURANÇA 
▪ Na aplicação do art. 97 do CP não deve ser considerada a natureza da pena privativa de liberdade aplicável, mas 
sim a periculosidade do agente, cabendo ao julgador a faculdade de optar pelo tratamento que melhor se adapte 
ao inimputável. 
 
LEI DE DROGAS 
▪ A reincidência de que trata o § 4º do art. 28 da Lei nº 11.343/2006 é a específica. 
 
DIREITO PROCESSUAL PENAL 
EXECUÇÃO PENAL 
▪ Mesmo que na sentença condenatória não tenha constado expressamente que o réu é reincidente, o juízo da 
execução penal poderá reconhecer essa circunstância para fins de conceder ou não os benefícios, como, por 
exemplo, a progressão de regime. 
 
DIREITO TRIBUTÁRIO 
IMPOSTO DE RENDA 
▪ Não tendo participado do fato gerador do tributo, a declaração conjunta de imposto de renda não torna o cônjuge 
corresponsável pela dívida tributária dos rendimentos percebidos pelo outro. 
▪ A isenção de quota condominial do síndico não configura renda para fins de incidência do Imposto de Renda de 
Pessoa Física. 
 
DIREITO PREVIDENCIÁRIO 
SALÁRIO DE BENEFÍCIO 
▪ Aposentado pode pedir revisão para incluir salários anteriores a 1994 no cálculo do benefício (STJ admite a 
chamada “revisão da vida toda” no cálculo da aposentadoria). 
 
 
 
 Informativo 
comentado 
 
 
Informativo 662-STJ (31/01/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 3 
DIREITO CONSTITUCIONAL 
 
MINISTÉRIO PÚBLICO 
Ação de improbidade administrativa proposta contra Promotor de Justiça (podendo resultar na 
perda do cargo): julgada em 1ª instância; ação civil de perda de cargo de Promotor não 
envolvendo improbidade administrativa: julgada pelo TJ 
 
Importante!!! 
Ação Civil de perda de cargo de Promotor de Justiça cuja causa de pedir não esteja vinculada 
a ilícito capitulado na Lei nº 8.429/92 deve ser julgada pelo Tribunal de Justiça. 
STJ. 2ª Turma. REsp 1.737.900-SP, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 19/11/2019 (Info 662). 
 
Imagine a seguinte situação hipotética: 
Chegaram indícios no Ministério Público de que João, Promotor de Justiça vitalício, teria praticado crime 
no exercício de suas funções. 
Diante disso, a Corregedoria do Ministério Público instaurou Processo Administrativo Disciplinar para 
apurar o suposto delito. 
Após a instrução, foi prolatada decisão no PAD concluindo pela prática do crime e recomendando a 
propositura de ação penal contra o referido Promotor. 
 
Neste PAD, o Promotor poderia ter sido demitido? Se um membro do Ministério Público pratica uma 
infração disciplinar grave, ele poderá ser condenado, em processo administrativo, à pena de 
demissão? 
NÃO. Os membros do MP gozam de vitaliciedade e somente podem perder o cargo por sentença judicial 
transitada em julgado (art. 128, § 5º, I, “a”, da CF/88). 
Além da CF/88, essa vitaliciedade foi regulamentada pelo art. 38, § 1º da Lei nº 8.625/93 (Lei Orgânica 
Nacional do MP) e pelo art. 57, XX, da LC 75/93 (Estatuto do MPU). Essas leis preveem que é necessária a 
propositura de uma ação civil para a decretação da perda do cargo contra o membro do Ministério 
Público que tiver praticado uma infração disciplinar grave. 
 
Processo penal 
O Procurador-Geral de Justiça ofereceu denúncia contra João no Tribunal de Justiça. 
Ao final do processo, o Promotor foi condenado a uma pena de 2 anos e 3 meses de reclusão. 
A pena privativa de liberdade foi substituída por penas restritivas de direito. 
A condenação criminal transitou em julgado. 
 
O Tribunal de Justiça, ao condenar o Promotor de Justiça pela prática do crime, poderia ter 
determinado a perda do cargo, com base no art. 92, I, “a”, do CP? 
NÃO. Relembre o que diz o art. 92, I, “a”, do Código Penal: 
Art. 92. São também efeitos da condenação: 
I - a perda de cargo, função pública ou mandato eletivo: 
a) quando aplicada pena privativa de liberdade por tempo igual ou superior a um ano, nos 
crimes praticados com abuso de poder ou violação de dever para com a Administração Pública; 
(...) 
 
A perda do cargo com base no art. 92, I, do CP não pode ser aplicada aos membros do Ministério Público 
considerando que eles são regidos por normas previstas na legislação específica: 
Segundo o art. 38, § 1º, I, e § 2º da Lei n.º 8.625/93 (Lei Orgânica Nacional do Ministério Público), a 
 Informativocomentado 
 
 
Informativo 662-STJ (31/01/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 4 
perda do cargo de membro do Ministério Público somente pode ocorrer após o trânsito em julgado de 
ação civil proposta para esse fim. Vale ressaltar, ainda, que essa ação somente pode ser ajuizada pelo 
Procurador-Geral de Justiça, quando previamente autorizado pelo Colégio de Procuradores, o que 
constitui condição de procedibilidade, juntamente com o trânsito em julgado da sentença penal 
condenatória. 
Assim, para que possa ocorrer a perda do cargo do membro do Ministério Público, são necessárias duas 
decisões. A primeira, condenando-o pela prática do crime e a segunda, em ação promovida pelo 
Procurador-Geral de Justiça, reconhecendo que o referido crime é incompatível com o exercício de suas 
funções, ou seja, deve existir condenação criminal transitada em julgado, para que possa ser promovida 
a ação civil para a decretação da perda do cargo (art. 38, §2º, da Lei nº 8.625/93). 
O art. 92 do Código Penal não se aplica aos membros do Ministério Público condenados criminalmente 
porque o art. 38 da Lei nº 8.625/93 disciplina o tema, sendo norma especial (específica), razão pela qual 
deve esta última prevalecer em relação à norma geral (Código Penal). 
STJ. 5ª Turma. AgRg no REsp 1409692/SP, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 
23/05/2017. 
 
As regras sobre a perda do cargo de membro do Ministério Público estadual estão previstas em norma 
especial, qual seja, Lei nº 8.625/93 (Lei Orgânica Nacional do Ministério Público), que dispõe que a perda 
do referido cargo somente pode ocorrer após o trânsito em julgado de ação civil proposta para esse fim. 
STJ. 5ª Turma. REsp 1.251.621-AM, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 16/10/2014 (Info 552). 
 
Confira como a legislação especial (Lei nº 8.625/93) tratou sobre o tema: 
Art. 38. Os membros do Ministério Público sujeitam-se a regime jurídico especial e têm as 
seguintes garantias: 
I - vitaliciedade, após dois anos de exercício, não podendo perder o cargo senão por sentença 
judicial transitada em julgado; 
II - inamovibilidade, salvo por motivo de interesse público; 
III - irredutibilidade de vencimentos, observado, quanto à remuneração, o disposto na 
Constituição Federal. 
§ 1º O membro vitalício do Ministério Público somente perderá o cargo por sentença judicial 
transitada em julgado, proferida em ação civil própria, nos seguintes casos: 
I - prática de crime incompatível com o exercício do cargo, após decisão judicial transitada em 
julgado; 
II - exercício da advocacia; 
III - abandono do cargo por prazo superior a trinta dias corridos. 
§ 2º A ação civil para a decretação da perda do cargo será proposta pelo Procurador-Geral de 
Justiça perante o Tribunal de Justiça local, após autorização do Colégio de Procuradores, na 
forma da Lei Orgânica. 
 
Repare que o § 2º ainda prevê que a ação civil para a decretação da perda do cargo somente pode ser 
ajuizada pelo Procurador-Geral de Justiça quando previamente autorizado pelo Colégio de Procuradores, 
o que constitui condição de procedibilidade, juntamente com o trânsito em julgado da sentença penal 
condenatória. 
Com efeito, em se tratando de normas legais de mesma hierarquia, o fato de a Lei Orgânica Nacional do 
Ministério Público prever regras específicas e diferenciadas das do Código Penal para a perda de cargo, 
em atenção ao princípio da especialidade (lex specialis derogat generali) deve prevalecer o que dispõe a 
Lei Orgânica. 
 
 
 Informativo 
comentado 
 
 
Informativo 662-STJ (31/01/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 5 
Como seria se fosse um Procurador da República (membro do MPF)? 
Neste caso, a ação civil para perda do cargo deveria ser proposta pelo Procurador-Geral da República, 
após autorização do Conselho Superior do MPF. Nesse sentido, confira o inciso XX do art. 57 da LC 75/93 
(que versa sobre os membros do MPU): 
Art. 57. Compete ao Conselho Superior do Ministério Público Federal: 
(...) 
XX - autorizar, pela maioria absoluta de seus membros, que o Procurador-Geral da República 
ajuíze a ação de perda de cargo contra membro vitalício do Ministério Público Federal, nos casos 
previstos nesta lei; 
 
Voltando ao caso concreto: o que deve ser feito agora? João foi condenado criminalmente, mas não 
perdeu o cargo no processo criminal. Como ele poderá perder o cargo? 
O Procurador-Geral de Justiça deverá, após ser autorizado pelo Colégio de Procuradores, ajuizar ação 
civil contra o Promotor pedindo a perda de seu cargo. É o que prevê, como já vimos acima, o § 2º do art. 
38 da Lei nº 8.625/93: 
Art. 38 (...) 
§ 1º O membro vitalício do Ministério Público somente perderá o cargo por sentença judicial 
transitada em julgado, proferida em ação civil própria, nos seguintes casos: 
I - prática de crime incompatível com o exercício do cargo, após decisão judicial transitada em 
julgado; 
II - exercício da advocacia; 
III - abandono do cargo por prazo superior a trinta dias corridos. 
§ 2º A ação civil para a decretação da perda do cargo será proposta pelo Procurador-Geral de 
Justiça perante o Tribunal de Justiça local, após autorização do Colégio de Procuradores, na 
forma da Lei Orgânica. 
 
Onde o PGJ deverá propor essa ação? 
No Tribunal de Justiça, conforme determina o § 2º do art. 38. 
 
A situação mudaria se o Promotor de Justiça estivesse em disponibilidade? Se João estivesse em 
disponibilidade também teria que se cumprir o § 2º do art. 38, ou seja, seria necessária ação civil de 
perda do cargo proposta pelo PGJ no TJ? 
SIM. Isso porque o membro do Ministério Público quando colocado em disponibilidade não perde o 
vínculo com a Administração Pública, recebendo seus proventos integrais e sendo assegurada a 
contagem do tempo de serviço como se em exercício estivesse. 
Assim, quando o Promotor é colocado em disponibilidade não há uma perda definitiva do cargo. 
 
A explicação acima feita vale também para os casos de improbidade administrativa? 
NÃO. Haveria diferenças. Vou explicar com calma. 
De acordo com o § 4º do art. 37 da CF/88, se a pessoa praticar um ato de improbidade administrativa, 
estará sujeita às seguintes consequências: 
• suspensão dos direitos políticos; 
• perda da função pública; 
• indisponibilidade dos bens e 
• ressarcimento ao erário. 
 
O membro do Ministério Público pode ser processado e condenado por ato de improbidade administrativa? 
SIM. É pacífico o entendimento de que o Promotor de Justiça (ou Procurador da República) pode ser 
processado e condenado por ato de improbidade administrativa, com fundamento na Lei nº 8.429/92. 
 Informativo 
comentado 
 
 
Informativo 662-STJ (31/01/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 6 
 
Vimos acima que o membro do MP goza de vitaliciedade e que a Lei nº 8.625/93 e a LC nº 75/93 
preveem a necessidade de o PGJ ou PGR ajuizarem ação civil de perda do cargo. Mas e no caso da 
improbidade administrativa? O membro do MP pode ser réu em uma ação de improbidade de que 
trata a Lei nº 8.429/92 e, ao final, ser condenado à perda do cargo mesmo sem ser adotado o 
procedimento da Lei nº 8.625/93 e da LC nº 75/93? 
SIM. É possível, no âmbito de ação civil pública de improbidade administrativa, a condenação de 
membro do Ministério Público à pena de perda da função pública prevista no art. 12 da Lei nº 8.429/92. 
 
Mas e a LC nº 75/93 e a Lei nº 8.625/93? 
Para o STJ, essas leis não tratam sobre improbidade administrativa e, portanto, nada interferem nas 
disposições da Lei nº 8.429/92. 
Em outras palavras, existem as ações previstas na LC 75/93 e na Lei nº 8.625/93, mas estas não excluem 
(não impedem) que o membro do MP também seja processado e condenado pela Lei nº 8.429/92. Os 
dois sistemas convivem harmonicamente.Um não exclui o outro. 
“A previsão legal de que o Procurador-Geral de Justiça ou o Procurador-Geral da República ajuizará ação 
civil específica para a aplicação da pena de demissão ou perda do cargo, nos casos elencados na lei, não 
obsta que o legislador ordinário, cumprindo o mandamento do § 4º do art. 37 da CF, estabeleça a pena 
de perda do cargo do membro do MP quando comprovada a prática de ato ímprobo, em ação civil 
pública própria para sua constatação.” (REsp 1.191.613-MG). 
 
Quem irá propor a ação de improbidade administrativa contra o membro do MP? Exige-se que seja o 
PGJ ou PGR? 
NÃO. A ação de improbidade contra o membro do Ministério Público deverá ser proposta pelo Promotor 
de Justiça ou Procurador da República, ou seja, pelo membro do MP que atua em 1ª instância. 
 
Legitimidade para ajuizar a ação contra o membro do MP 
• Se a ação a ser ajuizada for a da LC 75/93 ou a da Lei nº 8.625/93, nestes casos, a competência é 
exclusiva do PGR ou do PGJ. 
• Se a ação a ser ajuizada for uma ação de improbidade administrativa (Lei nº 8.429/92), esta será 
proposta “pelo Ministério Público ou pela pessoa jurídica interessada” (art. 17). Não há, portanto, 
competência exclusiva do Procurador-Geral. Percebe-se que o a Lei nº 8.429/92 ampliou a legitimação 
ativa. 
 
Dessa forma, não há somente uma única via processual adequada à aplicação da pena de perda do cargo 
a membro do MP. 
 
Vimos que a ação civil pela perda do cargo contra o Promotor de Justiça (em nosso exemplo, João) 
deverá ser proposta pelo PGJ e a competência para julgá-la é do TJ. Isso vale também para a ação de 
improbidade administrativa? 
NÃO. Conforme já explicado, se a ação a ser ajuizada for uma ação de improbidade administrativa (Lei nº 
8.429/92), esta pode ser proposta pelo Promotor de Justiça e tramitará em 1ª instância. 
Assim, se um Promotor de Justiça pratica um ato de improbidade administrativa, outro Promotor de 
Justiça irá ajuizar contra ele uma ação de improbidade que será julgada em 1ª instância por um Juiz de 
Direito. 
 
O que decidiu o STJ no Info 662: 
Ação Civil de perda de cargo de Promotor de Justiça cuja causa de pedir não esteja vinculada a ilícito 
capitulado na Lei nº 8.429/92 deve ser julgada pelo Tribunal de Justiça. 
STJ. 2ª Turma. REsp 1.737.900-SP, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 19/11/2019 (Info 662). 
 Informativo 
comentado 
 
 
Informativo 662-STJ (31/01/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 7 
 
AÇÃO CIVIL DE PERDA DE CARGO PROPOSTA CONTRA PROMOTOR DE JUSTIÇA 
1) Se for uma ação de 
improbidade administrativa: 
2) Se a causa de pedir não estiver vinculada a 
ilícito capitulado na Lei nº 8.429/92: 
A ação pode ser proposta por um Promotor de 
Justiça ou pela pessoa jurídica interessada. 
A ação deverá ser proposta pelo Procurador-
Geral de Justiça. 
A ação será julgada pelo juízo de 1ª instância. A ação deverá ser julgada pelo Tribunal de 
Justiça. 
É regida pela Lei nº 8.429/92. É regida pela Lei nº 8.625/93. 
 
 
 
 
DIREITO ADMINISTRATIVO 
 
LIMITAÇÃO ADMINISTRATIVA 
Em ação de desapropriação indireta é cabível 
reparação decorrente de limitações administrativas 
 
Imóvel do particular foi incluído em unidade de conservação. Houve, no caso, uma limitação 
administrativa. Ele ajuizou ação de desapropriação indireta pedindo indenização. 
Mesmo não tendo havido desapropriação indireta, mas sim mera limitação administrativa, o 
juiz deverá conhecer da ação e julgar seu mérito. 
Devem ser observados os princípios da instrumentalidade das formas e da primazia da 
solução integral do mérito. 
STJ. 1ª Turma. REsp 1.653.169-RJ, Rel. Min. Regina Helena Costa, julgado em 19/11/2019 (Info 662). 
 
Em que consiste a desapropriação indireta? 
A desapropriação indireta ocorre quando o Estado (Poder Público) se apropria do bem de um particular 
sem observar as formalidades previstas em lei para a desapropriação, dentre as quais a declaração 
indicativa de seu interesse e a indenização prévia. 
Trata-se de um verdadeiro esbulho possessório praticado pelo Poder Público. 
A desapropriação indireta é também chamada de apossamento administrativo. 
 
O que a pessoa pode fazer caso tenha sofrido uma desapropriação indireta? 
• Se o bem expropriado ainda não está sendo utilizado em nenhuma finalidade pública: pode ser proposta 
uma ação possessória com o objetivo de que a pessoa mantenha ou retome a posse do bem. 
• Se o bem expropriado já está afetado a uma finalidade pública: considera-se que houve fato consumado 
e somente restará ao particular ajuizar uma “ação de desapropriação indireta” a fim de ser indenizado. 
Nesse sentido é o art. 35 do Decreto-Lei 3.365/41: 
Art. 35. Os bens expropriados, uma vez incorporados à Fazenda Pública, não podem ser objeto de 
reivindicação, ainda que fundada em nulidade do processo de desapropriação. Qualquer ação, 
julgada procedente, resolver-se-á em perdas e danos. 
 
Ação de desapropriação indireta 
A ação de desapropriação indireta é uma ação de indenização proposta contra o Poder Público pelo fato 
de ele ter se apossado do bem pertencente a particular sem cumprir as formalidades legais previstas para 
os casos de desapropriação. 
 Informativo 
comentado 
 
 
Informativo 662-STJ (31/01/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 8 
Trata-se, portanto, de uma ação condenatória objetivando a indenização por perdas e danos. 
Também é chamada de “ação expropriatória indireta” ou “ação de ressarcimento de danos causados por 
apossamento administrativo”. 
 
Em que consistem as chamadas “limitações administrativas”? 
Limitação administrativa é... 
- uma determinação de caráter geral (é um ato normativo), 
- por meio da qual, o Poder Público impõe a proprietários indeterminados 
- obrigações positivas (de fazer), negativas (não fazer) ou permissivas (tolerar) 
- com o objetivo de fazer com que aquela propriedade atenda à sua função social. 
 
Exemplos: 
- O plano diretor da cidade impõe que os prédios construídos em determinada área do município devem 
ter, no máximo, 8 andares. 
- A criação de áreas especiais de proteção ambiental pode configurar limitação administrativa (STJ AgRg no 
AREsp 155302 / RJ). 
 
Principais características 
As limitações administrativas, em regra, são: 
a) Atos legislativos ou administrativos de caráter geral (leis, decretos, resoluções etc.); 
b) Definitivas (tendem a ser definitivas, podendo, no entanto, ser revogadas ou alteradas); 
c) Unilaterais (impõem obrigações apenas ao proprietário); 
d) Gratuitas (porque o Estado não precisa pagar indenização aos proprietários); 
e) Intervenções que restringem o caráter absoluto da propriedade. 
 
O proprietário deve ser indenizado por conta das limitações administrativas que incidam sobre sua 
propriedade? 
Em regra, não. Na generalidade dos casos, a limitação administrativa é gratuita. 
No entanto, excepcionalmente, a jurisprudência reconhece o direito à indenização quando a limitação 
administrativa reduzir o valor econômico do bem. Essa é a jurisprudência do STJ: 
(...) Sendo imposições de natureza genérica, as limitações administrativas não rendem ensejo a 
indenização, salvo comprovado prejuízo. (...) 
STJ. 2ª Turma. REsp 1233257/PR, Rel. Min. Eliana Calmon, julgado em 16/10/2012. 
 
(Juiz TJ/BA 2019 CEBRASPE) O Estado, no exercício do poder de polícia, pode restringir o uso da 
propriedade particular por meio de obrigações de caráter geral, com base na segurança, na salubridade, 
na estética, ou em outro fim público, o que, em regra, não é indenizável. Essa forma de exercício do poder 
de polícia pelo Estado corresponde a 
A) uma servidão administrativa. 
B) uma ocupação temporária. 
C) uma requisição. 
D) uma limitação administrativa. 
E) um tombamento. 
Letra DImagine agora a seguinte situação hipotética: 
João é proprietário de um imóvel. 
O Município, por meio de decreto do Prefeito, instituiu uma unidade de conservação ambiental cuja área 
de abrangência incluiu o imóvel de João. Em outras palavras, o imóvel do particular passou a fazer parte 
de uma unidade de conservação. 
 Informativo 
comentado 
 
 
Informativo 662-STJ (31/01/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 9 
A instituição de uma unidade de conservação acarreta a imposição de inúmeras restrições ao uso da 
propriedade, havendo, inclusive, restrições ao direito de construir. 
Diante desse cenário, João ajuizou uma ação de desapropriação indireta contra o Município pedindo o 
pagamento de indenização. 
O juiz extinguiu o processo sem resolução do mérito (por inadequação da via eleita) afirmando que não 
houve, no presente caso, desapropriação indireta. Isso porque o autor, embora com o uso limitado, 
continua sendo proprietário do imóvel. 
Para o magistrado, a ação de desapropriação indireta teria caráter real e, portanto, não seria adequada para 
se pedir reparação decorrente de limitações administrativas, esta sim uma pretensão de natureza pessoal. 
Logo, a indenização decorrente de limitação administrativa deveria ser pedida em ação própria. 
o tribunal de origem afastou o dever de indenização 
 
Primeira pergunta: no caso concreto, houve realmente desapropriação indireta? 
NÃO. Nessa parte, o juiz está correto. Não houve, de fato, desapropriação indireta, mas sim mera 
limitação administrativa. Logo, o mais adequado seria o autor ter ajuizado ação de indenização por 
limitação administrativa (e não uma ação de desapropriação indireta). 
 
Segunda pergunta: o magistrado agiu corretamente ao extinguir o processo sem resolução do mérito? 
NÃO. O juiz deveria ter enfrentado o mérito e decidido sobre o pedido de indenização: 
Em ação de desapropriação indireta é cabível reparação decorrente de limitações administrativas. 
STJ. 1ª Turma. REsp 1.653.169-RJ, Rel. Min. Regina Helena Costa, julgado em 19/11/2019 (Info 662). 
 
Natureza da ação de desapropriação indireta 
Em primeiro lugar, a Min. Regina Helena Costa afirmou que, no seu entendimento, a ação de 
desapropriação indireta – assim como ocorre com a ação pedindo o pagamento de indenização por 
limitação administrativa – também é uma ação de natureza pessoal. 
Na ação de desapropriação indireta também se está buscando um direito pessoal, qual seja, uma indenização. 
Não se está pleiteando a retomada da propriedade do bem (direito real). Na ação de desapropriação indireta, o 
autor já sabe que perdeu a propriedade do bem e quer apenas ser ressarcido por isso. 
Conforme explica José dos Santos Carvalho Filho: 
“extinguiu-se a relação de direito real com a transferência coativa da propriedade. Sendo assim, 
restou relação de caráter meramente indenizatório, razão por que melhor seria sua caracterização 
como ação pessoal.” (Manual de Direito Administrativo. 31ª ed., São Paulo: Atlas, 2017, p. 934). 
 
Logo, esse argumento de que seriam ações de natureza diferente não prospera. 
 
Instrumentalidade das formas 
Além disso, no presente caso, mesmo a ação de desapropriação indireta não sendo a demanda correta a 
ser proposta, deveria o magistrado ter aproveitado a ação ajuizada com base no princípio da 
instrumentalidade das formas. 
 
Primazia da solução integral do mérito 
Outro argumento invocado para se constatar o erro na sentença foi o princípio da primazia da solução 
integral do mérito, que é previsto no art. 4º do CPC: 
Art. 4º As partes têm o direito de obter em prazo razoável a solução integral do mérito, incluída a 
atividade satisfativa. 
 
Segundo explica Alexandre de Freitas Câmara ao comentar esse princípio: 
“(...) deve-se privilegiar, sempre, a resolução do mérito da causa. Extinguir o processo sem resolução do 
 Informativo 
comentado 
 
 
Informativo 662-STJ (31/01/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 10 
mérito (assim como decretar a nulidade de um ato processual ou não conhecer de um recurso) é algo que 
só pode ser admitido quando se estiver diante de vício que não se consiga sanar, ou por ser por natureza 
insanável, ou por se ter aberto a oportunidade para que o mesmo fosse sanado e isso não tenha 
acontecido. Deve haver, então, sempre que possível, a realização de um esforço para que sejam superados 
os obstáculos e se desenvolva atividade tendente a permitir a resolução do mérito da causa.” (O Novo 
Processo Civil brasileiro. 5ª ed., São Paulo: Atlas, 2019, p. 36). 
 
 
LICITAÇÕES 
O estabelecimento de critérios de classificação para 
a escolha de licitantes em credenciamento é ilegal 
 
Importante!!! 
O credenciamento é uma hipótese de inexigibilidade de licitação na qual “a Administração 
aceita como colaborador todos aqueles que, atendendo as motivadas exigências públicas, 
manifestem interesse em firmar contrato ou acordo administrativo.” (TORRES, Ronny 
Charles Lopes de. Leis de Licitações Públicas comentadas. Salvador: Juspodivm, 2019, p. 
348). 
Desse modo, o credenciamento é um procedimento por meio do qual a Administração 
Pública anuncia que precisa de pessoas para fornecer determinados bens ou para prestarem 
algum serviço e que irá contratar os que se enquadrem nas qualificações que ela exigir. Após 
esse chamamento público, os interessados podem se habilitar para serem contratados. 
Fala-se que é uma hipótese de inexigibilidade de licitação porque não haverá competição 
(disputa) entre os interessados. Todos os interessados que preencham os requisitos 
anunciados serão considerados “credenciados” e estarão aptos a serem contratos. 
O Banco do Brasil publicou edital para credenciamento de advogados para prestar serviços 
advocatícios. Ocorre que o edital de credenciamento publicado previu um critério de 
pontuação, de forma que os advogados e escritórios que se inscrevessem iriam ser avaliados 
e organizados segundo uma ordem de classificação baseada no currículo, experiência etc. 
O TCU e o STJ entendem que isso não é válido. O estabelecimento de critérios de classificação 
para a escolha de licitantes em credenciamento é ilegal. 
O credenciamento é considerado como uma espécie de inexigibilidade de licitação 
justamente pelo fato de não ser possível, em tese, a competição entre os interessados. Logo, a 
previsão de critérios de pontuação entre os interessados contraria a natureza do processo de 
credenciamento. 
Assim, no credenciamento só se admite a existência de requisitos mínimos. Se o interessado 
preencher, ele está credenciado; se não atender, encontra-se eliminado. Os critérios 
permitidos são, portanto, meramente eliminatórios (e não classificatórios). 
STJ. 1ª Turma. REsp 1.747.636-PR, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em 03/12/2019 (Info 662). 
 
Obrigatoriedade de licitação 
Como regra, a CF/88 impõe que a Administração Pública somente pode contratar obras, serviços, 
compras e alienações se realizar uma licitação prévia para escolher o contratante (art. 37, XXI). 
O inciso XXI do art. 37 da CF/88 afirma que a lei poderá especificar casos em que os contratos 
administrativos poderão ser celebrados sem esta prévia licitação. A isso, a doutrina denomina 
“contratação direta”. 
Assim, a regra na Administração Pública é a contratação precedida de licitação. Contudo, a legislação 
poderá prever casos excepcionais em que será possível a contratação direta, sem licitação. 
 Informativo 
comentado 
 
 
Informativo 662-STJ (31/01/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 11 
 
Contratação direta 
A Lei de Licitações (Lei nº 8.666/93) prevêtrês grupos de situações em que a contratação ocorrerá sem 
licitação prévia. Trata-se das chamadas licitações dispensadas, dispensáveis e inexigíveis. Vejamos o 
quadro comparativo abaixo: 
Dispensada Dispensável Inexigível 
Art. 17 Art. 24 Art. 25 
Rol taxativo Rol taxativo Rol exemplificativo 
A lei determina a não realização 
da licitação, obrigando a 
contratação direta. 
A lei autoriza a não realização 
da licitação. Mesmo sendo 
dispensável, a Administração 
pode decidir realizar a licitação 
(discricionariedade). 
Como a licitação é uma disputa, 
é indispensável que haja 
pluralidade de objetos e 
pluralidade de ofertantes para 
que ela possa ocorrer. Assim, a 
lei prevê alguns casos em que a 
inexigibilidade se verifica 
porque há impossibilidade 
jurídica de competição. 
Ex.: quando a Administração 
Pública possui uma dívida com o 
particular e, em vez de pagá-la 
em espécie, transfere a ele um 
bem público desafetado, como 
forma de quitação do débito. A 
isso chamamos de dação em 
pagamento (art. 17, I, "a"). 
Ex.: compras de pequeno valor 
(inciso II). 
Ex.: contratação de artista 
consagrado pela crítica 
especializada ou pela opinião 
pública para fazer o show do 
aniversário da cidade. 
 
Inexigibilidade 
O art. 25 da Lei nº 8.666/93 trata sobre inexigibilidade de licitação nos seguintes termos: 
Art. 25. É inexigível a licitação quando houver inviabilidade de competição, em especial: 
I - para aquisição de materiais, equipamentos, ou gêneros que só possam ser fornecidos por 
produtor, empresa ou representante comercial exclusivo, vedada a preferência de marca, 
devendo a comprovação de exclusividade ser feita através de atestado fornecido pelo órgão de 
registro do comércio do local em que se realizaria a licitação ou a obra ou o serviço, pelo 
Sindicato, Federação ou Confederação Patronal, ou, ainda, pelas entidades equivalentes; 
II - para a contratação de serviços técnicos enumerados no art. 13 desta Lei, de natureza 
singular, com profissionais ou empresas de notória especialização, vedada a inexigibilidade para 
serviços de publicidade e divulgação; 
III - para contratação de profissional de qualquer setor artístico, diretamente ou através de 
empresário exclusivo, desde que consagrado pela crítica especializada ou pela opinião pública. 
 
Conforme já explicado, os incisos do art. 25 são meramente exemplificativos. 
Uma hipótese de inexigibilidade de licitação que não está prevista nos incisos do art. 25 é o chamado 
credenciamento. 
 
Credenciamento 
O credenciamento é uma hipótese de inexigibilidade de licitação na qual “a Administração aceita como 
colaborador todos aqueles que, atendendo as motivadas exigências públicas, manifestem interesse em 
firmar contrato ou acordo administrativo.” (TORRES, Ronny Charles Lopes de. Leis de Licitações Públicas 
comentadas. Salvador: Juspodivm, 2019, p. 348). 
 Informativo 
comentado 
 
 
Informativo 662-STJ (31/01/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 12 
Desse modo, o credenciamento é um procedimento por meio do qual a Administração Pública anuncia 
que precisa de pessoas para fornecer determinados bens ou para prestarem algum serviço e que irá 
contratar os que se enquadrem nas qualificações que ela exigir. Após esse chamamento público, os 
interessados podem se habilitar para serem contratados. 
Fala-se que é uma hipótese de inexigibilidade de licitação porque não haverá competição (disputa) entre 
os interessados. Todos os interessados que preencham os requisitos anunciados serão considerados 
“credenciados” e estarão aptos a serem contratados. 
Conforme explica Joel de Menezes Niebuhr: 
“Outra hipótese de inexigibilidade de licitação pública, que é cada vez mais frequente, relaciona-
se ao denominado credenciamento, porquanto todos os Interessados em contratar com a 
Administração Pública são efetivamente contratados, sem que haja relação de exclusão. Como 
todos os interessados são contratados, não há que se competir por nada, forçando-se 
reconhecer, por dedução, a inviabilidade de competição e a inexigibilidade de licitação pública. 
(...) 
Seguindo essa linha de raciocínio, nas hipóteses em que o interesse público demanda contratar 
todos os possíveis interessados, todos em igualdade de condições, não há que se cogitar de 
licitação pública, porque não há competição, não há disputa. 
Em apertadíssima síntese: a licitação pública serve para regrar a disputa de um contrato; se 
todos são contratados, não há o que se disputar, inviável é a competição e, por corolário, está-se 
diante de mais um caso de inexigibilidade, quer queira ou não queira o legislador.” (Licitação 
Pública e Contrato Administrativo. 4ª ed., Belo Horizonte: Fórum, 2015, p. 119). 
 
O credenciamento é previsto expressamente na lei? 
NÃO. Apesar disso, a doutrina e a jurisprudência afirmam que ele é possível, sendo considerado uma 
hipótese de inexigibilidade de licitação com base no caput do art. 25 da Lei nº 8.666/93. 
 
TCU 
O credenciamento é admitido na jurisprudência do TCU, como hipótese de inviabilidade de competição 
não expressamente mencionada no art. 25 da Lei nº 8.666/93 (Plenário, Acórdão 784/2018, Relator Min. 
Marcos Bemquerer). 
Segundo a Corte de Contas, a ausência de expressa previsão legal do credenciamento dentre os casos de 
inexigibilidade de licitação previstos na Lei nº 8.666/93 não impede que a Administração lance mão de 
tal procedimento e efetue a contratação direta entre diversos fornecedores previamente cadastrados 
que satisfaçam os requisitos estabelecidos pela Administração (Plenário, Acórdão 768/2013, Relator 
Min. Marcos Bemquerer). 
Para tanto, devem ser observados requisitos como: 
a) contratação de todos os que tiverem interesse e que satisfaçam as condições fixadas pela 
Administração, não havendo relação de exclusão; 
b) garantia de igualdade de condições entre todos os interessados hábeis a contratar com a 
Administração, pelo preço por ela definido; 
c) demonstração inequívoca de que as necessidades da Administração somente poderão ser atendidas 
dessa forma (Primeira Câmara, Acórdão 2504/2017, Rel. AUGUSTO SHERMAN). 
 
Vale ressaltar que o próprio TCU adota a prática de credenciamento em sua administração. Veja um 
exemplo recente: 
 Informativo 
comentado 
 
 
Informativo 662-STJ (31/01/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 13 
 
 
Depois que os interessados estão cadastrados, como é feita a escolha daquele que irá prestar o serviço 
ou fornecer o bem? 
O edital de credenciamento irá prever o critério de escolha. Alguns exemplos: 
• escolha do terceiro que irá utilizar o serviço (no caso, por exemplo, de credenciamento de médicos); 
• opções de voo e preço da tarifa (no caso, de companhias aéreas para fornecimento de passagens); 
• sorteio; 
• rodízio. 
 
É possível a realização de credenciamento para a contratação de serviços advocatícios? 
SIM, mas apenas para serviços advocatícios “comuns”, ou seja, que possam ser realizados de modo 
satisfatório pela maior parte dos advogados. Significa dizer que se trata de serviço dotado de certa 
simplicidade, sem exigência de um nível técnico tão aprofundado (Decisão nº 624/1994-TCU-Plenário). 
 
Imagine agora a seguinte situação hipotética: 
O Banco do Brasil S.A. (sociedade de economia mista federal) publicou edital para credenciamento de 
advogados para prestar serviços advocatícios nos Estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. 
Ocorre que o edital de credenciamento publicado pelo Banco do Brasil tinha uma peculiaridade: ele 
previu um critério de pontuação, de forma que os advogados e escritórios que se inscrevessem iriam ser 
avaliados e organizados segundo uma ordem de classificação. 
 
A previsão desse critério de pontuação no edital de credenciamentoé válida? 
NÃO. 
O TCU já decidiu que é “ilegal o estabelecimento de critérios de classificação para a escolha de 
escritórios de advocacia por entidade da Administração em credenciamento” (Plenário, Acórdão 
408/2012, Relator Min. VALMIR CAMPELO e Plenário, Acórdão 141/2013, Relator Min. WALTON 
 Informativo 
comentado 
 
 
Informativo 662-STJ (31/01/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 14 
ALENCAR RODRIGUES). 
O credenciamento é considerado como uma espécie de inexigibilidade de licitação justamente pelo fato 
de não ser possível, em tese, a competição entre os interessados. Logo, a previsão de critérios de 
pontuação entre os interessados contraria a natureza do processo de credenciamento. 
Assim, no credenciamento só se admite a existência de requisitos mínimos. Se o interessado preencher, 
ele está credenciado; se não atender, encontra-se eliminado. Os critérios permitidos são, portanto, 
meramente eliminatórios (e não classificatórios). 
Confira trecho do acórdão do TCU: 
“(...) o credenciamento é instituto aplicável em situações de inexigibilidade de licitação, quando não há 
que se falar em concorrência dentre os interessados, uma vez que todos os credenciados serão 
contratados nos termos propostos pelo órgão. 
7. Na modalidade de credenciamento, portanto, a avaliação técnica limita-se a verificar se a empresa 
interessada possui capacidade para executar o serviço. Uma vez preenchidos os critérios mínimos 
estabelecidos no edital, a empresa será credenciada, podendo ser contratada em igualdade de 
condições com todas as demais que também forem credenciadas. 
8. A etapa de avaliação das empresas é, portanto, apenas eliminatória, e não classificatória, já que nessa 
modalidade não pode haver distinção entre as empresas credenciadas. Inexiste, portanto, a 
possibilidade de escolha de empresas que mais se destaquem dentre os parâmetros fixados pela 
entidade, visto que as empresas estariam competindo para constarem como as mais bem pontuadas. O 
credenciamento não se presta para este fim, uma vez que ele só se justifica em situações onde não se 
vislumbra possibilidade de competição entre os interessados, conforme entendimento já transcrito 
neste voto. 
9. Ademais, nos termos da Decisão nº 624/1994-TCU-Plenário, o credenciamento para contratação de 
serviços advocatícios seria justificável quando se tratasse de serviços comuns, que podem ser realizados 
de modo satisfatório pela maior parte dos advogados. Significa dizer que se trata de serviço dotado de 
certa simplicidade, sem exigência de um nível técnico tão aprofundado, não existindo, portanto, 
diferenças de qualificação relevantes ao interesse público.” 
 
O STJ também adotou o mesmo entendimento do TCU e decidiu que: 
O estabelecimento de critérios de classificação para a escolha de licitantes em credenciamento é 
ilegal. 
STJ. 1ª Turma. REsp 1.747.636-PR, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em 03/12/2019 (Info 662). 
 
Sendo o credenciamento modalidade de licitação inexigível em que há inviabilidade de competição, ao 
mesmo tempo em que se admite a possibilidade de contratação de todos os interessados em oferecer o 
mesmo tipo de serviço à Administração Pública, eventuais critérios de pontuação exigidos no edital 
mostram-se contrários ao entendimento doutrinário e jurisprudencial. 
 
 
 
DIREITO AMBIENTAL 
 
AÇÃO POPULAR 
Em regra, o autor pode ajuizar a ação popular no foro de seu domicílio, mesmo que o dano 
tenha ocorrido em outro local; contudo, diante das peculiaridades, as ações envolvendo o 
rompimento da barragem de Brumadinho devem ser julgadas pelo juízo do local do fato 
 
Em 2019, houve o rompimento de uma barragem de rejeitos de minério, localizada em 
Brumadinho (MG). O rompimento resultou em um terrível desastre ambiental e humanitário. 
 Informativo 
comentado 
 
 
Informativo 662-STJ (31/01/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 15 
Felipe, na condição de cidadão, ajuizou ação popular contra a União, o Estado de Minas Gerais 
e a Vale S.A., pedindo para que os réus fossem condenados a recuperar o meio ambiente 
degradado, pagar indenização pelos danos causados e pagar multa por dano ambiental. 
Como Felipe mora em Campinas (SP), ele ajuizou a ação no foro de seu domicílio e a demanda 
foi distribuída para a 2ª Vara Federal de Campinas (SP). 
Ocorre que na 17ª Vara Federal de Minas Gerais existem ações individuais, ações populares e 
ações civis públicas tramitando contra os mesmos réus e envolvendo pedidos semelhantes a 
essa ação popular ajuizada em Campinas. 
Quem é competente para julgar esta ação popular: o juízo do domicílio do autor ou o juízo do 
local em que se consumou o ato danoso? O juízo do local onde se consumou o dano (17ª Vara 
Federal de Minas Gerais). 
Regra geral: em regra, o autor pode ajuizar a ação popular no foro de seu domicílio, mesmo 
que o dano tenha ocorrido em outro local. Isso porque como a ação popular representa um 
direito político fundamental, deve-se facilitar o seu exercício. 
Exceção: o STJ entendeu que o caso concreto envolvendo Brumadinho era excepcional com 
inegáveis peculiaridades que impõem a adoção de uma solução diferente para evitar tumulto 
processual em uma situação de enorme magnitude social, econômica e ambiental. Assim, para 
o STJ é necessário superar, excepcionalmente, a regra geral. Entendeu-se que seria necessário 
adotar uma saída pragmática para permitir uma resposta do Poder Judiciário aos que sofrem 
os efeitos desta grande tragédia. 
A regra geral do STJ deve ser usada quando a ação popular for isolada. Contudo, no caso de 
Brumadinho havia uma ação popular em Campinas (SP) competindo e concorrendo com várias 
outras ações populares e ações civis públicas, bem como com centenas, talvez milhares, de 
ações individuais tramitando em MG, razão pela qual, em se tratando de competência 
concorrente, deve ser eleito o foro do local do fato. 
Em face da magnitude econômica, social e ambiental do caso concreto, é possível a fixação do 
juízo do local do fato para o julgamento de ação popular que concorre com diversas outras 
ações individuais, populares e civis públicas decorrentes do mesmo dano ambiental. 
STJ. 1ª Seção. CC 164.362-MG, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 12/06/2019 (Info 662). 
 
Veja comentários em Direito Processual Civil. 
 
 
 
DIREITO CIVIL 
 
SEGURO 
É cabível a modulação dos efeitos do entendimento da Súmula 610 do STJ 
no caso de suicídio que tenha ocorrido ainda na vigência do entendimento anterior, 
previsto nas Súmulas 105 do STF e 61 do STJ 
 
No seguro de vida, se o segurado se suicidar, a seguradora continua tendo obrigação de pagar a 
indenização? 
1) Entendimento ANTERIOR (até 08/04/2015) (Súmulas 105 do STF e 61 do STJ): 
O critério era o da premeditação: 
• Se o suicídio foi premeditado: NÃO 
• Se o suicídio não foi premeditado: SIM 
 
 Informativo 
comentado 
 
 
Informativo 662-STJ (31/01/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 16 
2) Entendimento ATUAL (Súmula 610 do STJ): 
O critério passou a ser o meramente temporal: 
• Suicídio nos dois primeiros anos: SEM direito à indenização. 
• Suicídio após os dois primeiros anos: TEM direito à indenização. 
 
Caso concreto: segurado cometeu suicídio antes de terminarem os dois primeiros anos do 
contrato. Ficou demonstrado que o suicídio não foi premeditado. 
Assim, pelo entendimento anterior, o beneficiário do seguro teria direito à indenização 
(porque o suicídio não foi premeditado). Por outro lado, pelo entendimento atual, o filho de 
João não teria direito à indenização (porque o suicídio ocorreunos dois primeiros anos do 
contrato). O beneficiário ajuizou a ação contra a seguradora quando ainda vigorava o 
entendimento anterior do STJ, tendo, inclusive, obtido uma sentença favorável. Ocorre que, 
quando o processo chegou ao STJ por meio de recurso, o entendimento já havia mudado. 
Neste caso, o STJ afirmou que, mesmo tendo havido alteração da jurisprudência, deveria ser 
aplicado o entendimento anterior. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.721.716-PR, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 10/12/2019 (Info 662). 
 
Imagine a seguinte situação hipotética: 
João fez um seguro de vida por meio do qual paga R$ 50 por mês (prêmio) e, se vier a falecer na vigência 
do contrato, a seguradora terá que pagar R$ 500 mil reais (indenização) a seu filho (beneficiário). 
O prazo de vigência do contrato é de 5 anos. 
 
Se João se matar, mesmo assim a seguradora terá que pagar a indenização ao beneficiário? No seguro 
de vida, se o segurado se suicidar, a seguradora continua tendo obrigação de pagar a indenização? 
No seguro de vida, se o segurado se suicidar, 
a seguradora continua tendo obrigação de pagar a indenização? 
Entendimento ANTERIOR (até 08/04/2015) 
(Súmulas 105 do STF e 61 do STJ) 
Entendimento ATUAL 
(Súmula 610 do STJ) 
O critério era o da premeditação: 
• Se o suicídio foi premeditado: NÃO 
• Se o suicídio não foi premeditado: SIM 
 
Para fins de contrato de seguro: 
• Suicídio premeditado é aquele no qual o 
segurado já faz o seguro de vida pensando na 
ideia de se suicidar para deixar a indenização para 
o beneficiário. Em outras palavras, o segurado 
agiu de má-fé porque, quando fez o seguro, já 
tinha essa intenção. 
• Suicídio não premeditado é aquele no qual o 
segurado, quando assinou o contrato, não tinha a 
intenção de se matar, tendo a vontade surgido 
posteriormente. 
O critério passou a ser o meramente temporal: 
• Suicídio nos dois primeiros anos: SEM direito à 
indenização. 
• Suicídio após os dois primeiros anos: TEM 
direito à indenização. 
 
A premeditação do suicídio não serve para nada e 
não deve nem sequer ser trazida para a discussão. 
A redação do art. 798 do CC é muito clara e 
direta: se o suicídio ocorrer dentro dos dois 
primeiros anos do contrato, a seguradora não 
está obrigada a indenizar o beneficiário. Em 
outras palavras, durante os dois primeiros anos 
de vigência do contrato de seguro de vida, o 
suicídio é risco não coberto por força de lei. 
Súmula 105-STF: Salvo se tiver havido 
premeditação, o suicídio do segurado no período 
contratual de carência não exime o segurador do 
pagamento do seguro. 
Súmula 61-STJ: O seguro de vida cobre o suicídio 
não premeditado. 
Súmula 610-STJ: O suicídio não é coberto nos dois 
primeiros anos de vigência do contrato de seguro 
de vida, ressalvado o direito do beneficiário à 
devolução do montante da reserva técnica 
formada. 
 Informativo 
comentado 
 
 
Informativo 662-STJ (31/01/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 17 
 
(MP/SC 2019 banca própria) Segundo entendimento do Superior Tribunal de Justiça, o suicídio não é 
coberto nos dois primeiros anos de vigência do contrato de seguro de vida, ressalvado o direito do 
beneficiário à devolução do montante da reserva técnica formada. (CERTO) 
 
Obs: a mudança de posição do STJ do entendimento anterior para o atual ocorreu em 08/04/2015 quando 
do julgamento do REsp 1.335.005/GO. A Súmula 610 do STJ foi editada em 25/04/2018. 
 
Voltando à situação hipotética: 
João fez o seguro de vida em julho de 2012. 
No início de 2013, João perdeu sua mãe e ficou desempregado. Tais fatos desencadearam nele um quadro 
de grave depressão. 
No final de 2013, João suicidou-se. 
A seguradora recusou-se a pagar a indenização. 
Diante disso, Pedro, filho de João, ajuizou ação de cobrança contra a seguradora. 
Em junho de 2014, o juiz julgou o pedido procedente condenando a seguradora a pagar a indenização. 
O magistrado fundamentou sua sentença no entendimento anterior do STJ (que vigorava na época). 
Assim, o juiz analisou o caso com base no critério da premeditação e afirmou que a sucessão de fatos 
indica que o suicídio de João não foi premeditado, ou seja, quando ele celebrou o contrato, sua intenção 
não era a de se suicidar. Logo, o pagamento da indenização seria devido. 
O Tribunal de Justiça manteve a sentença. 
A seguradora interpôs, então, recurso especial. 
Antes que o Resp fosse julgado, o entendimento do STJ mudou e o critério passou a ser o temporal. 
Assim, temos o seguinte cenário: 
• pelo entendimento anterior: o filho de João teria direito à indenização (porque o suicídio não foi 
premeditado); 
• pelo entendimento atual: o filho de João não teria direito à indenização (porque o suicídio ocorreu nos 
dois primeiros anos do contrato). 
 
Em um caso semelhante a esse, qual foi a decisão do STJ? Deverá ser aplicado antigo ou o atual 
entendimento? 
O antigo. 
Como o suicídio correu na vigência do entendimento anterior, deverá ser aplicada a posição anterior da 
jurisprudência, ou seja, o critério da premeditação previsto nas Súmulas 105 do STF e 61 do STJ. 
Para o STJ, deve ser feita a modulação dos efeitos do novo entendimento, manifestado na Súmula 610, de 
forma que essa nova posição não retroaja para alcançar suicídios ocorridos antes de seu início. 
 
Superação prospectiva da jurisprudência 
A nova orientação jurisprudencial não pode ser aplicada retroativamente, ou seja, não pode incidir para os 
litígios surgidos antes de sua definição. 
Aplica-se aqui a doutrina da superação prospectiva da jurisprudência (em inglês, denominada de doutrina 
da prospective overruling) ou, ainda, chamada simplesmente de modulação dos efeitos. 
Essa teoria é invocada nas hipóteses em que há alteração da jurisprudência consolidada dos Tribunais e 
afirma que, quando essa superação é motivada pela mudança social, é recomendável que os efeitos sejam 
para o futuro apenas, isto é, prospectivos, a fim de resguardar expectativas legítimas daqueles que 
confiaram no direito até então prevalecente. 
A teoria da superação prospectiva tem a finalidade de proteger a confiança dos jurisdicionados nas 
orientações exaradas pelo Tribunal. 
O CPC/2015 previu, como uma de suas grandes novidades, a previsão de precedentes obrigatórios e a 
superação prospectiva dos precedentes. Veja o que diz o art. 927, § 3º: 
 Informativo 
comentado 
 
 
Informativo 662-STJ (31/01/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 18 
Art. 927 (...) 
§ 3º Na hipótese de alteração de jurisprudência dominante do Supremo Tribunal Federal e dos 
tribunais superiores ou daquela oriunda de julgamento de casos repetitivos, pode haver 
modulação dos efeitos da alteração no interesse social e no da segurança jurídica. 
 
A Min. Nancy Andrighi explica, então, que o CPC/2015 se funda nos princípios de equilíbrio, instituindo 
parâmetros à atividade dos juízes e Tribunais, pautados pela previsibilidade de suas manifestações. Trata-
se de aproximação ao sistema da common law, ou direito costumeiro, regido pelo princípio do stare 
decisis, no qual o precedente, por ser a mais importante fonte do Direito, deve ser respeitado nos casos 
supervenientes. 
O propósito maior é garantir a isonomia de ordem material – a partir da qual questões semelhantes 
devem receber respostas equivalentes, na medida de suas desigualdades – e a proteção da confiança e da 
expectativa legítima do jurisdicionado, fornecendo-lhe um modelo seguro de conduta de modo a tornar 
previsíveis as consequências de seus atos. 
 
Modulação de efeitos 
A fim de se aferir a necessidade de modulação de efeitos, a doutrina destaca que não é qualquer confiança 
que merece tutela na superação de um entendimento jurisprudencial, mas sim somente a confiança 
“'justificada', ou seja,confiança qualificada por critérios que façam ver que o precedente racionalmente 
merecia a credibilidade à época em que os fatos se passaram” (MARINONI, Luis Guilherme. In: WANBIER, 
Tereza Arruda Alvim (et. al.). Breves comentários ao novo Código de Processo Civil. 2ª ed. São Paulo: 
Revista dos Tribunais, 2016, pp. 2.171-2.172). 
Se for verificada a existência de jurisprudência qualificada pela confiança criada nos jurisdicionados, a 
modulação dos efeitos da alteração de entendimento somente deve ser permitida se atender ao interesse 
social, o que é averiguado pela ponderação entre os princípios fundamentais afetados e aos efeitos que 
podem decorrer da adoção imediata da orientação mais recente. 
A modulação de efeitos deve, portanto, ser utilizada com parcimônia, de forma excepcional e em 
hipóteses específicas, em que o entendimento superado tiver sido efetivamente capaz de gerar uma 
expectativa legítima de atuação nos jurisdicionados e, ainda, o exigir o interesse social envolvido. 
No caso concreto, o STJ entendeu que houve uma traumática alteração de entendimento da Corte, o que 
não pode ocasionar prejuízos para a parte, cuja demanda já havia sido julgada procedente em 1º grau de 
jurisdição de acordo com a jurisprudência anterior do STJ. 
 
Em suma: 
É cabível a modulação dos efeitos do entendimento da Súmula 610 do STJ no caso de suicídio que tenha 
ocorrido ainda na vigência do entendimento anterior, previsto nas Súmulas 105 do STF e 61 do STJ. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.721.716-PR, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 10/12/2019 (Info 662). 
 
 
 
DIREITO DO CONSUMIDOR 
 
PLANO DE SAÚDE 
Autarquia que seja criada para prestar serviços de saúde suplementar para os servidores 
públicos e seus dependentes estará sujeita às regras da Lei dos Planos de Saúde (Lei 9.656/98) 
 
Aplica-se a Lei nº 9.656/98 à pessoa jurídica de direito público de natureza autárquica que 
presta serviço de assistência à saúde de caráter suplementar aos servidores municipais. 
Considerando que o caput do art. 1º faz menção expressa às pessoas jurídicas de direito 
 Informativo 
comentado 
 
 
Informativo 662-STJ (31/01/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 19 
privado, pode-se interpretar que a escolha do termo “entidade” no § 2º teve por objetivo 
ampliar a aplicação da lei para todas as pessoas jurídicas que prestam os serviços de 
assistência à saúde suplementar, até porque não faria sentido a utilização de termos distintos. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.766.181-PR, Rel. Min. Nancy Andrighi, Rel. Acd. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, 
julgado em 03/12/2019 (Info 662). 
 
Imagine a seguinte situação hipotética: 
A Caixa de Assistência, Aposentadoria e Pensões dos Servidores Municipais de Londrina - CAAPSML é uma 
autarquia municipal que oferece serviços de assistência à saúde e previdência social aos servidores 
municipais de Londrina e seus dependentes. 
Vale ressaltar que a aquisição deste serviço de saúde é facultativa. 
João, servidor público municipal, está acometido de uma doença e buscou tratamento médico a ser 
custeado pela CAASPSML. O custeio foi negado sob o argumento de que a Caixa não cobre aquele 
determinado tratamento. 
Diante disso, João ajuizou ação contra a CAASPSML pedindo o pagamento das despesas de sua internação 
e tratamento médico. 
 
Primeira pergunta: as regras do o Código de Defesa do Consumidor são aplicadas neste caso? 
NÃO. Isso porque se trata de um plano de saúde de autogestão: 
Súmula 608-STJ: Aplica-se o Código de Defesa do Consumidor aos contratos de plano de saúde, salvo os 
administrados por entidades de autogestão. 
 
Planos de saúde de autogestão (também chamados de planos fechados de saúde) são criados por órgãos, 
entidades ou empresas para beneficiar um grupo restrito de filiados com a prestação de serviços de saúde. 
Tais planos são mantidos por instituições sem fins lucrativos e administrados paritariamente, de forma que 
no seu conselho deliberativo ou de administração, há representantes do órgão ou empresa instituidora e 
também dos associados ou usuários. 
O objetivo desses planos fechados é baratear para os usuários o custo dos serviços de saúde, tendo em 
vista que não visam ao lucro. 
Exemplo: CASSI (Caixa de Assistência dos Funcionários do Banco do Brasil). 
 
E as regras previstas na Lei dos Planos de Saúde (Lei nº 9.656/98)? Elas são aplicadas neste caso? 
SIM. 
Apesar de a Lei do Planos de Saúde dispor, de forma expressa, que estão submetidas às suas disposições 
as pessoas jurídicas de direito privado (art. 1º, caput, da Lei nº 9.656/98), em seu § 2º há ampliação de sua 
abrangência para também incluir outras espécies de entidades que mantenham sistemas de assistência à 
saúde: 
Art. 1º Submetem-se às disposições desta Lei as pessoas jurídicas de direito privado que operam 
planos de assistência à saúde, sem prejuízo do cumprimento da legislação específica que rege a 
sua atividade, adotando-se, para fins de aplicação das normas aqui estabelecidas, as seguintes 
definições: 
(...) 
§ 2º Incluem-se na abrangência desta Lei as cooperativas que operem os produtos de que tratam o 
inciso I e o § 1º deste artigo, bem assim as entidades ou empresas que mantêm sistemas de 
assistência à saúde, pela modalidade de autogestão ou de administração. (Redação dada pela 
Medida Provisória nº 2.177-44, de 2001) 
 
A utilização das expressões “entidade” e “empresas” no § 2º, conceitos jurídicos amplos e não 
propriamente técnicos, bem como a inserção das “cooperativas” com a Medida Provisória nº 2.177-44 em 
 Informativo 
comentado 
 
 
Informativo 662-STJ (31/01/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 20 
2001, denotam a intenção do legislador de ampliar a aplicação da Leis dos Planos a todas as pessoas 
jurídicas que atuem prestando serviços de saúde suplementar. 
O termo “entidade”, em diversos ramos do Direito, é utilizado como um gênero para designar pessoas 
jurídicas em geral, sendo usado algumas vezes para se referir a pessoas jurídicas de natureza privada e 
outras em relação a pessoas jurídicas de direito público. 
No Direito Administrativo, por exemplo, essa expressão é empregada para se referir à administração 
indireta, independentemente de sua natureza jurídica. 
Considerando que o caput do art. 1º faz menção expressa às pessoas jurídicas de direito privado, pode-se 
interpretar que a escolha do termo entidade no § 2º teve por objetivo ampliar a aplicação da lei para todas 
as pessoas jurídicas que prestam os serviços de assistência à saúde suplementar, até porque não faria 
sentido a utilização de termos distintos. 
Assim, as entidades de direito público que optem por prestar serviços de assistência à saúde suplementar 
não podem ser excluídas da incidência da Lei nº 9.656/98, sob pena de possibilitar o desvirtuamento da 
intenção legislativa de assegurar aos usuários direitos mínimos. 
Não há como afastar a autarquia ré do âmbito de aplicação da Lei nº 9.656/98 pelo simples fato de ser 
uma pessoa jurídica de direito público, pois, nessa hipótese, a incidência das normas do Código Civil 
geraria um desequilíbrio contratual entre a entidade operadora do plano de saúde e os seus respectivos 
usuários, vedado pelo ordenamento jurídico em geral no que tange ao regime de saúde suplementar. 
 
Em suma: 
Aplica-se a Lei nº 9.656/98 à pessoa jurídica de direito público de natureza autárquica que presta serviço 
de assistência à saúde de caráter suplementar aos servidores municipais. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.766.181-PR, Rel. Min. Nancy Andrighi, Rel. Acd. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, 
julgado em 03/12/2019 (Info 662). 
 
 
 
DIREITO EMPRESARIAL 
 
REPRESENTAÇÃO COMERCIAL 
É nula a cláusula que prevê o pagamento antecipado da indenização devida ao representantecomercial no caso de rescisão injustificada do contrato pela representada 
 
A representação comercial autônoma é uma espécie de contrato segundo o qual uma 
determinada pessoa (física ou jurídica) chamada de “representante” compromete-se a ir em 
busca de interessados que queiram adquirir os produtos ou serviços prestados por uma 
empresa, designada “representada”. 
O art. 27, “j”, da Lei nº 4.886/65 prevê que o representado deverá pagar uma indenização ao 
representante em caso de rescisão imotivada, cujo montante não poderá ser inferior a 1/12 do 
total da retribuição auferida durante o tempo em que exerceu a representação. 
O valor dessa indenização pode ser pago antecipadamente, diluído no contrato de 
representação comercial? 
NÃO. É nula a cláusula que prevê o pagamento antecipado da indenização devida ao 
representante comercial no caso de rescisão injustificada do contrato pela representada. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.831.947-PR, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 10/12/2019 (Info 662). 
 
Representação comercial autônoma 
A representação comercial autônoma é uma espécie de contrato segundo o qual: 
- uma determinada pessoa (física ou jurídica) 
 Informativo 
comentado 
 
 
Informativo 662-STJ (31/01/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 21 
- chamada de “representante” 
- compromete-se a ir em busca de interessados que queiram adquirir 
- os produtos ou serviços prestados por uma empresa, designada “representada”. 
 
É considerado um negócio jurídico com natureza de “colaboração empresarial por aproximação” de forma 
que o representante auxilia na circulação e distribuição dos produtos e serviços do representado nos 
mercados consumidores. 
 
Veja a definição dada pelo art. 1º da Lei nº 4.886/65: 
Art. 1º Exerce a representação comercial autônoma a pessoa jurídica ou a pessoa física, sem relação 
de emprego, que desempenha, em caráter não eventual por conta de uma ou mais pessoas, a 
mediação para a realização de negócios mercantis, agenciando propostas ou pedidos, para, 
transmiti-los aos representados, praticando ou não atos relacionados com a execução dos negócios. 
 
Exemplo 
A empresa “XX” é representante comercial da indústria “ZZ”. Isso significa que “XX” irá em busca de 
clientes para adquirir os produtos da indústria “ZZ”, anotando os pedidos e os transmitindo para o 
representado a fim de que ele providencie a venda. 
Como contraprestação, o representante recebe uma comissão consistente em um percentual sobre as 
vendas intermediadas. 
 
Regulamentação 
Essa espécie de contrato está regulada pela Lei nº 4.886/65, chamada de “Lei de Representação Comercial”. 
Trata-se, portanto, de contrato típico, em que os direitos e obrigações das partes estão dispostos em lei. 
 
Autônomo 
Vale ressaltar que o representante não é considerado empregado do representado. Por isso, diz-se que a 
representação é exercida em caráter autônomo pelo representado. 
É possível, no entanto, que haja uma desvirtuação do contrato, ou seja, a empresa possui um funcionário 
exercendo a representação de seus produtos, com todas as características de uma relação de empregado, 
mas celebra um suposto contrato de representação comercial. Neste caso, a Justiça do Trabalho poderá 
desconsiderar este contrato e reconhecer que existe uma relação de emprego. 
 
Indenização mínima a ser paga em hipóteses de rescisão sem justo motivo por iniciativa do 
representado 
Na prática, observa-se que o representado, via de regra, ostenta posição dominante em relação ao 
representante. 
A ausência de equilíbrio entre as partes contribui para que, em diversas ocasiões, o representado (parte 
mais forte da relação) adote comportamentos antijurídicos em relação ao representante, gerando 
locupletamento indevido. 
Ciente dessa realidade, e com o intuito de garantir um equilíbrio contratual, a Lei nº 4.886/65 determinou 
que todo e qualquer contrato deverá ter, obrigatoriamente, cláusula prevendo uma indenização mínima a 
ser paga em hipóteses de rescisão sem justo motivo por iniciativa do representado: 
Art. 27. Do contrato de representação comercial, além dos elementos comuns e outros a juízo dos 
interessados, constarão obrigatoriamente: 
(...) 
j) indenização devida ao representante pela rescisão do contrato fora dos casos previstos no art. 
35, cujo montante não poderá ser inferior a 1/12 (um doze avos) do total da retribuição auferida 
durante o tempo em que exerceu a representação. 
 Informativo 
comentado 
 
 
Informativo 662-STJ (31/01/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 22 
 
Trata-se de uma norma que tem por objetivo garantir ao representante comercial, que foi prejudicado 
pela perda repentina e sem justo motivo, de sua atividade habitual e da clientela que angariou, condições 
para que possa vir a reequilibrar sua situação econômico-financeira. É, portanto, uma compensação pelos 
prejuízos que o representante sofre com a rescisão abusiva, sem justa causa, do contrato de 
representação comercial. 
 
O valor dessa indenização pode ser pago antecipadamente, diluído no contrato de representação 
comercial? Imagine a seguinte situação hipotética: 
A DMP é representante comercial da indústria PURAT. 
O contrato estipula que a DMP terá direito à comissão de 4,58% de todas as vendas que efetuar em nome 
da representada. 
Além disso, o ajuste prevê o pagamento de 0,42% a título de adiantamento da indenização devida ao 
representante comercial no caso de rescisão injustificada do contrato pela representada. 
Veja a redação da cláusula: 
15.2. Convencionam as partes que a indenização de que trata o art. 27, “j”, da Lei nº 4.886/65 será paga 
antecipadamente, por ocasião do pagamento da respectiva comissão. Assim, a comissão devida à 
representante será acrescida de 0,42% correspondente à indenização de 1/12 (um doze avos), 
antecipadamente satisfeita, na forma abaixo: 
Comissão Indenização 
antecipada 
Total da 
retribuição 
4,58% 0,42% 5% 
 
Essa cláusula contratual é válida? É possível fazer esse adiantamento da indenização? 
NÃO. 
A Lei nº 4.886/65 não contempla a hipótese de pagamento antecipado da indenização em prestações 
mensais. 
Essa prática coloca o representante comercial em situação de fragilidade considerando que, no momento 
da rescisão imotivada, ele não terá mais nada a receber. Logo, tal cláusula contraria a finalidade da lei, 
configurando uma burla ao art. 27, “j”, da Lei nº 4.886/65. 
Caso a sociedade representada tivesse o interesse legítimo de simplesmente se programar e evitar um 
pagamento em parcela única da referida indenização, ela deveria ter efetuado, periodicamente, o 
depósito dos valores em uma conta bancária de sua titularidade, mantida para esse fim exclusivo. 
O pagamento antecipado dos valores previstos no art. 27, “j”, da Lei nº 4.886/65 constitui desvirtuamento 
da própria função do instituto da indenização. A obrigação de reparar o dano somente surge após a prática 
do ato que lhe dá causa, de modo que, antes da existência de um prejuízo concreto passível de ser 
reparado – que, na espécie, é o rompimento imotivado da avença – não se pode falar em indenização. 
 
Em suma: 
É nula a cláusula que prevê o pagamento antecipado da indenização devida ao representante comercial 
no caso de rescisão injustificada do contrato pela representada. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.831.947-PR, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 10/12/2019 (Info 662). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Informativo 
comentado 
 
 
Informativo 662-STJ (31/01/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 23 
RECUPERAÇÃO JUDICIAL 
A ação de habilitação retardatária de crédito deve ser ajuizada atéa prolação 
da decisão de encerramento do processo recuperacional 
 
Se o credor não requereu a habilitação de seu crédito e o quadro-geral de credores já foi 
homologado, a única via que ainda resta para esse credor será pleitear a habilitação por meio 
de ação judicial autônoma que tramitará pelo rito ordinário, nos termos do art. 10, § 6º, da 
LFRE: 
§ 6º Após a homologação do quadro-geral de credores, aqueles que não habilitaram seu 
crédito poderão, observado, no que couber, o procedimento ordinário previsto no Código de 
Processo Civil, requerer ao juízo da falência ou da recuperação judicial a retificação do 
quadro-geral para inclusão do respectivo crédito. 
Vale ressaltar, no entanto, que essa ação pedindo a habilitação retardatária somente pode ser 
proposta até a prolação da decisão de encerramento do processo recuperacional. 
Desse modo, uma vez encerrada a recuperação judicial, não se pode mais autorizar a 
habilitação ou a retificação de créditos. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.840.166-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 10/12/2019 (Info 662). 
 
Recuperação judicial 
A recuperação judicial surgiu para substituir a antiga “concordata” e tem por objetivo viabilizar a 
superação da situação de crise do devedor, a fim de permitir que a atividade empresária se mantenha e, 
com isso, sejam preservados os empregos dos trabalhadores e os interesses dos credores. 
A recuperação judicial consiste, portanto, em um processo judicial, no qual será construído e executado 
um plano com o objetivo de recuperar a empresa que está em vias de efetivamente ir à falência. 
 
Fases da recuperação 
De forma resumida, a recuperação judicial possui três fases: 
a) postulação: inicia-se com o pedido de recuperação e vai até o despacho de processamento; 
b) processamento: vai do despacho de processamento até a decisão concessiva; 
c) execução: da decisão concessiva até o encerramento da recuperação judicial. 
 
Plano de recuperação 
Em até 60 dias após o despacho de processamento da recuperação judicial, o devedor deverá apresentar 
em juízo um plano de recuperação da empresa, sob pena de convolação (conversão) do processo de 
recuperação em falência. 
Este plano deverá conter: 
• discriminação pormenorizada dos meios de recuperação a serem empregados (art. 50); 
• demonstração de sua viabilidade econômica; e 
• laudo econômico-financeiro e de avaliação dos bens e ativos do devedor, subscrito por profissional 
legalmente habilitado ou empresa especializada. 
 
Elaboração da relação dos credores 
O administrador judicial é a pessoa responsável por verificar quais são os credores da pessoa falida ou em 
recuperação judicial e quanto é devido a cada um deles. Isso está previsto no art. 7º da Lei: 
Art. 7º A verificação dos créditos será realizada pelo administrador judicial, com base nos livros 
contábeis e documentos comerciais e fiscais do devedor e nos documentos que lhe forem 
apresentados pelos credores, podendo contar com o auxílio de profissionais ou empresas 
especializadas. 
 
 Informativo 
comentado 
 
 
Informativo 662-STJ (31/01/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 24 
Publicação da relação nominal dos credores 
Após deferir o processamento da recuperação judicial, o juiz ordenará a expedição de edital, para 
publicação no órgão oficial, que conterá a relação nominal dos credores, sendo discriminado o valor 
atualizado e a classificação de cada crédito (art. 52, § 1º, II, da Lei nº 11.101/2005). 
São esses credores que, organizados em uma assembleia geral, irão analisar o plano apresentado, que 
pode ser aprovado ou não. 
 
Apresentação de habilitação ou divergência 
Publicado o edital mencionado acima, os credores terão o prazo de 15 dias para apresentar ao 
administrador judicial seu pedido de habilitação caso não tenha constado na lista de credores. 
Ex: João é credor da empresa em recuperação judicial, mas não figurou na relação de credores elaborada 
pelo administrador judicial. No prazo de até 15 dias após a publicação desta relação, este credor poderá 
pedir a sua habilitação. 
É o que prevê o art. 7º, § 1º da Lei nº 11.101/2005: 
Art. 7º (...) 
§ 1º Publicado o edital previsto no art. 52, § 1º, ou no parágrafo único do art. 99 desta Lei, os 
credores terão o prazo de 15 (quinze) dias para apresentar ao administrador judicial suas 
habilitações ou suas divergências quanto aos créditos relacionados. 
 
Nova publicação de edital 
O administrador judicial, com base nos pedidos de habilitação ou divergência, irá elaborar nova lista e fará 
publicar novo edital com a relação de credores. 
Esse novo edital deve ser publicado no prazo máximo de 45 dias depois do fim do prazo de 15 dias que os 
credores tiveram para impugnar a primeira lista. 
 
Impugnação de crédito 
Depois de ser publicado esse novo edital com os credores, haverá nova possibilidade de impugnação, 
conforme prevê o art. 8º da Lei: 
Art. 8º No prazo de 10 (dez) dias, contado da publicação da relação referida no art. 7º, § 2º, desta 
Lei, o Comitê, qualquer credor, o devedor ou seus sócios ou o Ministério Público podem 
apresentar ao juiz impugnação contra a relação de credores, apontando a ausência de qualquer 
crédito ou manifestando-se contra a legitimidade, importância ou classificação de crédito 
relacionado. 
Parágrafo único. Autuada em separado, a impugnação será processada nos termos dos arts. 13 a 
15 desta Lei. 
 
O prazo é, portanto, de 10 dias, sendo contado a partir da publicação da relação de credores formulada 
pelo administrador judicial. 
Essa segunda possibilidade de impugnação (tratada pelo art. 8º) deve ser formulada por meio de 
advogado e não é mais dirigida ao administrador, e sim ao juiz. 
 
Habilitação retardatária 
Ultrapassados todas essas oportunidades, o credor não incluído na relação elaborada pelo administrador 
judicial poderá ainda apresentar pedido de habilitação retardatária. 
Se o requerimento for protocolado antes da homologação do quadro-geral, será processado na forma dos 
arts. 13 a 15 da LFRE; caso contrário, o procedimento a ser seguido será o ordinário, previsto no Código de 
Processo Civil (arts. 10, §§ 5º e 6º, da LFRE). 
 
 
 Informativo 
comentado 
 
 
Informativo 662-STJ (31/01/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 25 
Depois de homologado o quadro-geral, a habilitação só pode ser pedida mediante ação judicial 
Uma vez homologado o quadro-geral de credores, a única via para o credor pleitear a habilitação de seu 
crédito é a judicial, mediante a propositura de ação que tramitará pelo rito ordinário. Veja o que dizem os 
§§ 5º e 6º do art. 10 da LFRE: 
Art. 10 (...) 
§ 5º As habilitações de crédito retardatárias, se apresentadas antes da homologação do quadro-
geral de credores, serão recebidas como impugnação e processadas na forma dos arts. 13 a 15 
desta Lei. 
§ 6º Após a homologação do quadro-geral de credores, aqueles que não habilitaram seu crédito 
poderão, observado, no que couber, o procedimento ordinário previsto no Código de Processo 
Civil, requerer ao juízo da falência ou da recuperação judicial a retificação do quadro-geral para 
inclusão do respectivo crédito. 
 
Vale ressaltar, no entanto, que essa ação judicial pedindo a habilitação retardatária somente pode ser 
proposta até a prolação da decisão de encerramento do processo recuperacional. 
Conforme explica Marcelo Barbosa Sacramone: 
“Após a homologação do quadro-geral de credores, por sentença, as habilitações retardatárias 
ainda poderão ocorrer até o encerramento do processo de falência ou de recuperação judicial. As 
habilitações serão realizadas na forma de ações rescisórias ao quadro-geral de credores e serão 
submetidas ao procedimento ordinário previsto no Código de Processo Civil.” (Comentários

Outros materiais