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Aluno (a): _______________________________________ Professora: Suzanne Guimarães Série: 6° ano Data:28/05/2020 Material Complementar - Literatura Uma Galinha – Conto de Clarice Lispector Era uma galinha de domingo. Ainda viva porque não passava de nove horas da manhã. Parecia calma. Desde sábado encolhera-se num canto da cozinha. Não olhava para ninguém, ninguém olhava para ela. Mesmo quando a escolheram, apalpando sua intimidade com indiferença, não souberam dizer se era gorda ou magra. Nunca se adivinharia nela um anseio. Foi pois uma surpresa quando a viram abrir as asas de curto vôo, inchar o peito e, em dois ou três lances, alcançar a murada do terraço. Um instante ainda vacilou — o tempo da cozinheira dar um grito — e em breve estava no terraço do vizinho, de onde, em outro vôo desajeitado, alcançou um telhado. Lá ficou em adorno deslocado, hesitando ora num, ora noutro pé. A família foi chamada com urgência e consternada viu o almoço junto de uma chaminé. O dono da casa, lembrando-se da dupla necessidade de fazer esporadicamente algum esporte e de almoçar, vestiu radiante um calção de banho e resolveu seguir o itinerário da galinha: em pulos cautelosos alcançou o telhado onde esta, hesitante e trêmula, escolhia com urgência outro rumo. A perseguição tornou-se mais intensa. De telhado a telhado foi percorrido mais de um quarteirão da rua. Pouco afeita a uma luta mais selvagem pela vida, a galinha tinha que decidir por si mesma os caminhos a tomar, sem nenhum auxílio de sua raça. O rapaz, porém, era um caçador adormecido. E por mais ínfima que fosse a presa o grito de conquista havia soado. Uma Galinha – Conto de Clarice Lispector Era uma galinha de domingo. Ainda viva porque não passava de nove horas da manhã. Parecia calma. Desde sábado encolhera-se num canto da cozinha. Não olhava para ninguém, ninguém olhava para ela. Mesmo quando a escolheram, apalpando sua intimidade com indiferença, não souberam dizer se era gorda ou magra. Nunca se adivinharia nela um anseio. Foi pois uma surpresa quando a viram abrir as asas de curto vôo, inchar o peito e, em dois ou três lances, alcançar a murada do terraço. Um instante ainda vacilou — o tempo da cozinheira dar um grito — e em breve estava no terraço do vizinho, de onde, em outro vôo desajeitado, alcançou um telhado. Lá ficou em adorno deslocado, hesitando ora num, ora noutro pé. A família foi chamada com urgência e consternada viu o almoço junto de uma chaminé. O dono da casa, lembrando-se da dupla necessidade de fazer esporadicamente algum esporte e de almoçar, vestiu radiante um calção de banho e resolveu seguir o itinerário da galinha: em pulos cautelosos alcançou o telhado onde esta, hesitante e trêmula, escolhia com urgência outro rumo. A perseguição tornou-se mais intensa. De telhado a telhado foi percorrido mais de um quarteirão da rua. Pouco afeita a uma luta mais selvagem pela vida, a galinha tinha que decidir por si mesma os caminhos a tomar, sem nenhum auxílio de sua raça. O rapaz, porém, era um caçador adormecido. E por mais ínfima que fosse a presa o grito de conquista havia soado. — Mamãe, mamãe, não mate mais a galinha, ela pôs um ovo! ela quer o nosso bem! Todos correram de novo à cozinha e rodearam mudos a jovem parturiente. Esquentando seu filho, esta não era nem suave nem arisca, nem alegre, nem triste, não era nada, era uma galinha. O que não sugeria nenhum sentimento especial. O pai, a mãe e a filha olhavam já há algum tempo, sem propriamente um pensamento qualquer. Nunca ninguém acariciou uma cabeça de galinha. O pai afinal decidiu-se com certa brusquidão: — Se você mandar matar esta galinha nunca mais comerei galinha na minha vida! — Eu também! jurou a menina com ardor. A mãe, cansada, deu de ombros. Inconsciente da vida que lhe fora entregue, a galinha passou a morar com a família. A menina, de volta do colégio, jogava a pasta longe sem interromper a corrida para a cozinha. O pai de vez em quando ainda se lembrava: “E dizer que a obriguei a correr naquele estado!” A galinha tornara-se a rainha da casa. Todos, menos ela, o sabiam. Continuou entre a cozinha e o terraço dos fundos, usando suas duas capacidades: a de apatia e a do sobressalto. Mas quando todos estavam quietos na casa e pareciam tê-la esquecido, enchia-se de uma pequena coragem, resquícios da grande fuga — e circulava pelo ladrilho, o corpo avançando atrás da cabeça, pausado como num campo, embora a pequena cabeça a traísse: mexendo-se rápida e vibrátil, com o velho susto de sua espécie já mecanizado. Uma vez ou outra, sempre mais raramente, lembrava de novo a galinha que se recortara contra o ar à beira do telhado, prestes a anunciar. Nesses momentos enchia os pulmões com o ar impuro da cozinha e, se fosse dado às fêmeas cantar, ela não cantaria mas ficaria muito mais contente. Embora nem nesses instantes a expressão de sua vazia cabeça se alterasse. Na fuga, no descanso, quando deu à luz ou bicando milho — era uma cabeça de galinha, a mesma que fora desenhada no começo dos séculos. Até que um dia mataram-na, comeram-na e passaram-se anos. Texto extraído do livro “Laços de Família”, Editora Rocco — Rio de Janeiro, 1998, pág. 30. Selecionado por Ítalo Moriconi, figura na publicação “Os Cem Melhores Contos Brasileiros do Século”. Atividades Escreva a história do conto como se um colega, que não leu, lhes tivesse pedido um resumo com as suas próprias palavras. Fábula é um gênero do tipo narrativo muito popular e apreciado por pessoas de diferentes idades. Nascida da tradição oral (estudos indicam que no Oriente, por volta do século V a.C.), o próprio nome remete a histórias contadas e passadas de geração para geração (fabulare significa história, jogo, narrativa). Quem não se lembra de ter ouvido, em algum momento, histórias curtas com personagens que são animais? A cigarra e a formiga, O leão e o ratinho e A raposa e as uvas são exemplos de fábulas, narrativas que constroem um ensinamento, uma moral. Principais características de uma fábula A fábula é uma narrativa de caráter ficcional e que usa a alegoria para construir seus sentidos. Os animais, que são personagens, possuem características humanas, como a ganância, a preguiça, a inveja, a sabedoria, a astúcia etc. Por meio dessas características, as personagens movimentam-se e a história desenrola-se, levando à construção de um ensinamento. Considerando que a fábula pode ser contada oralmente, sabemos que há diferentes versões de uma mesma história, o que não compromete a sua função: a de levar as pessoas a refletirem sobre o comportamento em sociedade. As fábulas podem ser escritas em prosa (texto em parágrafos) ou em versos. Os títulos geralmente fazem referência às personagens, e o tempo e o espaço relacionam-se ao habitat delas. A linguagem é simples, objetiva e direta, e pode haver diálogos com a presença do discurso direto. Estrutura de uma fábula Sendo a fábula um texto narrativo, é importante lembrar-se de que ela deve ter uma estrutura mínima de começo, meio e fim, ou seja, no início, apresentamos as personagens e a situação; depois, desenvolvemos o texto de forma que as personagens interajam em torno de uma situação; por fim, criamos um final surpreendente, que gere a reflexão dos leitores sobre um ensinamento, uma moral, a qual aparece no final do texto geralmente. As temáticas são variadas e ligadas às características que os animais representam, por exemplo: o leão, a força; a coruja, a sabedoria; a raposa, a astúcia. Lembre-se do título! Exemplo de fábula A cigarra e a formiga Fábula atribuída a Esopo Era uma vez uma cigarra que vivia saltitando e cantando pelo bosque, sem se preocupar com o futuro. Esbarrando numa formiguinha, que carregava uma folha pesada, perguntou: — Ei, formiguinha, para que todo esse trabalho? O verão é para a gente aproveitar! O verão é para a gente divertir-se! — Não, não, não! Nós, formigas, não temos tempo para diversão. É preciso trabalhar agora para guardar comida para o inverno. Durante o verão, a cigarra continuou divertindo-se e passeando portodo o bosque. Quando tinha fome, era só pegar uma folha e comer. Um belo dia, passou de novo perto da formiguinha que carregava outra pesada folha. A cigarra então aconselhou: — Deixa esse trabalho para as outras! Vamos divertir-nos. Vamos, formiguinha, vamos cantar! Vamos dançar! A formiguinha gostou da sugestão. Ela resolveu ver a vida que a cigarra levava e ficou encantada. Resolveu viver também como sua amiga. No entanto, no dia seguinte, apareceu a rainha do formigueiro e, ao vê-la divertindo-se, olhou feio para ela e ordenou que voltasse ao trabalho. Havia terminado a vidinha boa. A rainha das formigas falou então para a cigarra: — Se não mudar de vida, no inverno você há de arrepender-se, cigarra! Vai passar fome e frio. A cigarra nem ligou, fez uma reverência para rainha e comentou: — Hum! O inverno ainda está longe, querida! Para as cigarras, o que importa é aproveitar a vida e o hoje, sem pensar no amanhã. Para que construir um abrigo? Para que armazenar alimento? Pura perda de tempo. Certo dia o inverno chegou, e a cigarra começou a tiritar de frio. Sentia seu corpo gelado e não tinha o que comer. Desesperada, foi bater na casa da formiga. Abrindo a porta, a formiga viu na sua frente a cigarra quase morta de frio, puxou-a para dentro, agasalhou-a e deu-lhe uma sopa bem quente e deliciosa. Naquela hora, apareceu a rainha das formigas, que disse à cigarra: — No mundo das formigas, todos trabalham, e se você quiser ficar conosco, cumpra o seu dever: toque e cante para nós. Para a cigarra e para as formigas, aquele foi o inverno mais feliz das suas vidas A pomba e a formiga Forçada pela sede, uma formiga desceu até um riacho; arrastada pela corrente ela se viu a ponto de morrer afogada. Uma pomba que se encontrava em um galho de uma árvore viu a urgência: pegou um raminho da árvore, aproximou-se da correnteza e alcançou a formiga que subiu no ramo e se salvou. A formiga, muito agradecida, assegurou à sua nova amiga que se acontecesse alguma situação ela devolveria o favor, ainda que sendo tão pequena. A pomba não conseguia imaginar como a formiga poderia ser útil a ela. Pouco tempo depois, um caçador de pássaros avistou a pomba e mirando-a com um rifle a ponto de matá-la, aguardava o momento certo. Vendo o perigo em que se encontrava a pomba, a formiga rapidamente entrou na bota do caçador e picou o seu tornozelo, fazendo-o soltar a sua arma. O rápido instante foi aproveitado pela pomba para levantar voo, e assim a formiga pôde devolver o favor à sua amiga. Moral da história: Sempre alguém pode ajudar ao outro, mesmo que haja uma diferença enorme de tamanho. Não se pode menosprezar a ajuda, por pequena que possa parecer. Teresa Guerra Questões 1) Qual o título do texto? R: 2)Quem são as personagens da historia? R: 3) Por que a formiga desceu até o riacho? R: 4) O que aconteceu com a formiga quando ela desceu até o riacho? R: 5) Quem salvou a formiga de ser levada pela correnteza? R: 6) Como se sentiu a formiga depois que foi salva? R: 7) Que promessa à formiga fez a pomba? R: 8) A pomba acreditou na formiga? Justifique. R: 9) A formiga cumpriu sua conversa? Como? R: 10) Explique com suas palavras a moral da história. R:
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