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SÍNTESE DOS PRINCIPAIS CONCEITOS DOS PROCESSOS DIALÓGICOS E INTERTEXTUAIS – LITERATURA INFANTO JUVENIL Profa. Ma. Alessandra Corrêa Farago. Para ajudar, encaminho um resumo de alguns conceitos. Precisamos entender como os processos dialógicos e intertextuais acontecem a fim de que possamos explorá-los tanto na leitura como na produção de textos. Podemos dizer que as obras infantis atuais estão em diálogo com as obras do passado. Como exemplo, poderíamos citar muitas histórias infantis cuja temática é o animal. Estas são resgates de uma tradição milenar que vem sendo recontada, apropriada, modificada, simplificada, ampliada, invertida. A literatura nasce da literatura. Vejamos alguns conceitos importantes: I- DIFERENÇAS ENTRE CONTOS DE FADAS E CONTOS MARAVILHOSOS Contos de Fadas: problemática existencial (subjetiva) com ou sem a presença de fadas; possuem magia feérica (reis, rainhas, príncipes, princesas, fadas, gênios, bruxas, gigantes, anões, objetos mágicos, metamorfoses, tempo e espaço fora da realidade conhecida etc.). Exemplo: A bela Adormecida Contos maravilhosos: problemática social sem a presença de fadas, via de regra se desenvolvem no cotidiano mágico (animais falantes, tempo e espaço reconhecíveis ou familiares, objetos mágicos, gênios, duendes etc.). Trazem o desejo de auto- -realização do herói (ou anti-herói) no âmbito socioeconômico, através de conquista de bens, riqueza, poder material etc. Exemplo: O gato de Botas II- CONCEITOS LIGADOS À INTERTEXTUALIDADE. Podemos dizer que as obras infantis atuais estão em diálogo com as obras do passado. Como exemplo, poderíamos citar muitas histórias infantis cuja temática é o animal. Estas são resgates de uma tradição milenar que vem sendo recontada, apropriada, modificada, simplificada, ampliada, invertida. A literatura nasce da literatura. Vejamos alguns conceitos importantes: Intertextualidade: A intertextualidade é um conceito apoiado no dialogismo, só que restrito ao texto em si mesmo, refere-se ao diálogo entre textos. A intertextualidade é um conceito apoiado no dialogismo, só que restrito ao texto em si mesmo, embora o conceito de texto seja mais amplo que a palavra verbal (textos orais, escritos, visuais, musicais, arquitetônicos, cinematográficos, fotográficos, propagandísticos, etc). Enquanto a dialogia é um princípio filosófico, a intertextualidade procura verificar como os textos se constroem. Parte do princípio de que “todo texto se constrói como um mosaico de citações, todo texto é absorção e transformação de um outro texto” (Kristeva, in NITRINI: 1997, p. 161). A intertextualidade é um diálogo que acontece mais entre textos. Pode-se fazer uma paráfrase, uma citação, uma paródia. Baseada no conceito de dialogismo de Bakhtin, Kristeva (1974, p. 64) construiu o conceito de intertextualidade ao afirmar que "todo texto se constrói como mosaico de citações, todo texto é absorção e transformação de um outro texto". A intertextualidade em sentido amplo acontece sempre de maneira implícita e a intertextualidade em sentido restrito aparece explícita ou implicitamente. Mesmo que não apareça na superfície do texto novo, a relação intertextual que ele possa estabelecer com outros textos tem um papel muito importante na sua produção. Intertextualidade explícita Quando um texto se refere a outro, citando-o, indicando sua fonte, dizemos que há uma intertextualidade explícita. A intertextualidade é explícita acontece quando “há citação da fonte do intertexto, como acontece no discurso relatado, nas citações e referências; nos resumos, resenhas e traduções; nas retomadas do texto do parceiro para encadear sobre ele ou para questioná-lo, na conversação” (KOCH, 2003, p. 63). Intertextualidade implícita A intertextualidade implícita ocorre quando um texto recupera elementos de outros e associa-os a elementos de um primeiro para provocar um efeito de sentido que o leitor, pelas suas outras leituras, tem de recuperar para compreendê-lo. O autor não diz claramente, mas oferece “pistas” textuais para que o leitor depreenda os possíveis sentidos do texto. Não há citação expressa da fonte, cabendo ao interlocutor recuperá-la na memória para construir o sentido do texto, como nas alusões, na paródia, em certos tipos de paráfrase e de ironia. (KOCH, 2003, p. 63) Assim, poderíamos dizer que todo texto é, também, um intertexto, porque haverá sempre outro que “conversa” com ele. Diferenças entre Dialogismo e Intertextualidade: Dialogismo: As palavras, os textos, os livros, os romances de alguém são inevitavelmente atravessados pelas palavras e produções do outro. Os livros literários não estão isolados no tempo, mas dialogam entre si e se abrem a novos e constantes diálogos. Obras de uma época descobrem sempre algo novo em obras do passado. Afirma Bakhtin (1997, p.364): “uma obra não pode viver nos séculos futuros se não se nutriu dos séculos passados”. Por exemplo: O filme Sherek dialoga com várias histórias tradicionais do passado. Recupera personagens tradicionais, tais como: o burro falante, o príncipe, a princesa, etc. Traz elementos de histórias tradicionais, tais como: a carruagem, o castelo, o pântano, a floresta, o final feliz, etc. A bolachinha falante faz parte do folclore americano. O dialogismo, embora possa referir-se a textos, é um conceito mais amplo que a palavra verbal, abrangendo textos orais, escritos, visuais, musicais, arquitetônicos, cinematográficos, fotográficos, propagandísticos, etc. Podemos falar do diálogo de um poema com uma imagem, do diálogo de um filme com um documentário de TV, etc. Enquanto a dialogia é um princípio filosófico que abrange todas as linguagens, a intertextualidade procura verificar como os textos se constroem. Parte do princípio de que “todo texto se constrói como um mosaico de citações, todo texto é absorção e transformação de um outro texto”. Ela refere- se apenas ao diálogo entre dois ou mais textos. O dialogismo refere-se a todas as linguagens verbais e não verbais. Veja como há uma gradação dos conceitos que caracterizam a intertextualidade; Grau mínimo --------------------------------------------------------------------- Grau máximo CITAÇÃO>PARÁFRASE>ADAPTAÇÃO>ESTILIZAÇÃO>PARÓDIA>CARNAVALIZAÇÃO CITAÇÃO: A citação é outra forma de se estabelecer a intertextualidade. Um autor, ao citar outro, pode confirmar ou alterar o sentido do texto citado, como também pode fazer essa citação em outra linguagem. PARÁFRASE: A paráfrase é um discurso em repouso em que alguém abre mão de sua voz para deixar a voz do outro falar. Não há conflito, pois não há oposição. Funciona como se fosse um espelho que reflete o discurso do outro. É quase que um resumo do texto original. O objetivo é reescrever um texto, havendo um desvio mínimo do texto original. Há uma continuação, uma repetição. ADAPTAÇÃO: A adaptação acontece quanto um autor, através dos recursos de sua escrita própria, faz uma releitura de uma obra consagrada inacessível à compreensão dos leitores por algum motivo: um texto de épocas remotas que precisa ser entendido atualmente, uma obra adulta que precisa ser expressa na voz infantil, uma obra literária que vai ser adaptada para jovens, uma obra literária adaptada para o cinema, etc. A originalidade completa não é possível nem desejável, pois o autor- adaptador fica preso ao texto de origem. Normalmente, em literatura infanto-juvenil a adaptação tem um objetivo pedagógico. A literatura infantil começou sem dúvida, a partir da ideia de adaptare, ou seja, quando alguém ou algo se ajusta ou é ajustado a um determinado contexto ou meio a fim de sobreviver ou de ser aceito ou compreendido. Observem as adaptações para o cinema dos contos de fadas. ESTILIZAÇÃO: No processo de estilização, não há discordância, e, sim, concordância dos dois planos dos dois textos: o do estilizando e o do estilizado. A estilização acontece na “forma” de contar uma história. Osentido permanece o mesmo, mas o autor muda a linguagem, buscando novas formas de dizer. O que se observa é que, da estilização à paródia não há mais que um passo; quando a estilização tem uma veia cômica, rapidamente se converte em paródia PARÓDIA: A paródia implica numa descontinuidade do estabelecido. É um discurso em deslocamento. "Reconhecidamente, como forma de crítica, a paródia tem a vantagem de ser simultaneamente uma recriação e uma criação, fazendo da crítica uma espécie de exploração ativa da forma”. (Hutcheon) O autor coloca que a segunda voz, um canto paralelo ao texto original que de certa forma deforma o texto original. Essa deformação pode ser pequena ou bem grande, podendo ser: uma reverência, um comentário, uma crítica ou mesmo uma sátira feroz. Uma voz contraria a outra, colocando-se abertamente em maior ou menor antagonismo ao original. Há sempre mudança da ideia do original. Na literatura infantil, a paródia cria momentos de riso, de brincadeira. Por exemplo, uma princesa que gosta de bolinhos de chuchu, uma bruxa atrapalhada que só faz magias que não dão certo, um maluco que consegue salvar uma princesa, um pato que gosta de lasanhas, etc. São momentos de humor e riso. No filme do Sherek, temos momentos de grande riso: na cena final do filme 1 (um casamento), uma pessoa passa uma placa de riso para a plateia que está na igreja. É uma paródia das claquetes dos programas de televisão atuais que controlam a plateia por meio de placas. CARNAVALIZAÇÃO: Os livros atuais comumente criam versões que mudam radicalmente as histórias consagradas pela tradição. Um processo de carnavalização implica necessariamente em inversões do estabelecido no texto anterior. Ultrapassam-se as barreiras da interdição, colocando- se o mundo às avessas e desafiando o discurso oficial. Ela é mais forte que a paródia, pois provoca inversões do cotidiano, dos gêneros, do estilo, da temática, dos personagens e outras mais. Você já ouviu falar de um lobo bonzinho e um caçador mau? Num chapeuzinho vermelho e num chapeuzinho amarelo? Nos três porquinhos e o Lobo Mau e nos três lobinhos e o Porco Mau? Há também histórias que invertem o gênero: um conto transforma-se numa carta, por exemplo. Pensem no filme do Sherek como há uma inversão total da mensagem: a beleza deixa de ser valorizada. A princesa é feia e se casa com um ogro. Chama-se carnavalização por ser baseado na ideia de que o carnaval é uma festa profana que quebra as regras do passado. Concluindo... O que vocês precisam saber.... Todos esses conceitos envolvem um “desvio” do texto original no qual se baseiam.: A carnavalização causa uma “inversão” total do texto original. A paródia “deforma” o texto original subvertendo sua estrutura ou sentido. Já a “paráfrase” “reafirma” os ingredientes do texto primeiro conformando seu sentido. Enquanto a estilização “reforma” em termos de linguagem, esmaecendo e apagando a forma, mas sem modificação essencial da estrutura. III - ESTUDO DAS FÁBULAS Características das fábulas: pequenas narrativas ligadas à sabedoria popular que encerram uma lição de moral ao final. É contada em linguagem figurada e o ensinamento vem expresso por meio de provérbios ou máximas que revelam uma visão de mundo sob o ponto de vista do senso comum. As personagens, geralmente, são animais que agem como humanos (antropomorfizados), censurando, recomendando sobre questões éticas, políticas ou comportamentais entre as pessoas. As fábulas apresentam uma visão determinista das relações humanas, ao questionarem padrões de comportamento e relações de poder. Na Idade Média, a importância dada à moralidade era tanta que os copistas da época escreviam as lições finais das fábulas com letras vermelhas ou douradas para destacar. Principais representantes das fábulas: Esopo: sábio grego que disseminou narrativas populares orais. Nada deixou escrito. Era um contador de histórias, de natureza oriental, trazido como escravo, provavelmente, da Ásia Menor. Seus apólogos, como os gregos denominavam a fábula, foram registrados de forma literária mais tarde por outros autores. La Fontaine: autor francês do século 17, bastante traduzido no Brasil. É considerado o mais importante fabulista da era moderna. Além de compor suas próprias fábulas, reescreveu em versos muitas das narrativas antigas de Esopo e de Fedro. Lobato: adaptou e modernizou a linguagem das fábulas da tradição, contextualizando-as no universo brasileiro e inserindo-as dentro do Sítio do Picapau Amarelo, um universo lúdico e infantil. Seu livro Fábulas introduz as crianças brasileiras no mundo da fantasia, por meio das personagens do Sítio do Picapau Amarelo, usando uma linguagem que dialoga com elas o tempo todo. Depois da narrativa, o autor coloca na boca das personagens do sítio pontos de vista diferentes que provocam boas discussões. As fábulas e as ilustrações: seguir os passos Análise formal da ilustração: levar os alunos a perceberem os elementos que a compõem, a textura das figuras, as cores frias ou quentes, as figuras geométricas existentes, a distribuição no quadro ou livro, a técnica de pintura usada. Leitura interpretativa da ilustração: dialogar a respeito das ilustrações que acompanham os textos, explorar as sensações que a imagem desperta nos alunos, sem certo ou errado. Contextualização da Ilustração: explorar o autor e a época da ilustração, o estilo do autor. Algumas imagens que podem ajudar a fixar os conceitos: 1. Imagem original da Monalisa 2. reprodução da imagem em novo estilo: estilização http://www.google.com.br/url?sa=i&rct=j&q=&esrc=s&frm=1&source=images&cd=&cad=rja&uact=8&ved=0CAcQjRw&url=http%3A%2F%2Fwww.brasilescola.com%2Fredacao%2Fintertextualidade.htm&ei=hs9MVdiFIoHAggSQq4HoDQ&bvm=bv.92765956,d.eXY&psig=AFQjCNFEG021yZP1Uo6VVcroZEtQagASrg&ust=1431183536193013 http://www.google.com.br/url?sa=i&rct=j&q=&esrc=s&frm=1&source=images&cd=&cad=rja&uact=8&ved=0CAcQjRw&url=http%3A%2F%2Fwww.brasilescola.com%2Fredacao%2Fintertextualidade.htm&ei=Vs9MVbmQEYWigwT_-ID4Bg&bvm=bv.92765956,d.eXY&psig=AFQjCNFEG021yZP1Uo6VVcroZEtQagASrg&ust=1431183536193013 3. reprodução da imagem em um novo estilo: estilização 4. recontextualização da imagem para a publicidade: paródia 5. Alteração da imagem com a inversão do espaço da floresta para a cidade, da pintura para o quadrinho: paródia e carnavalização http://www.google.com.br/url?sa=i&rct=j&q=&esrc=s&frm=1&source=images&cd=&cad=rja&uact=8&ved=0CAcQjRw&url=http%3A%2F%2Fportaldoprofessor.mec.gov.br%2FfichaTecnicaAula.html%3Faula%3D8025&ei=9dJMVcqOEYfCggSr94GABg&bvm=bv.92765956,d.eXY&psig=AFQjCNGnualuinsWr377RexikmofOj49HA&ust=1431183671835513 6. Deformação da imagem da bela enigmática Monalisa. O belo da máscara com a imagem da Monalisa representado na deformação de Michael Jackson: paródia e carnavalização. Observação: toda carnavalização implica em uma paródia, ou seja, carrega uma paródia, mas as paródias leves não indicam carnavalização, uma inversão brusca da mensagem.
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