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o sistema global de proteção geral dos direitos humanos-convertido

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O sistema global de proteção geral aos direitos humanos 
 
Não faria sentido a existência de tantos direitos assegurados em tratados internacionais se não fossem 
criados mecanismos de monitoramento. É por essa razão que os tratados internacionais, além de 
instituírem uma gama de direitos, também estabeleceram diversos órgãos de monitoramento, cuja 
finalidade consiste em acompanhar a implementação e a observância dos direitos humanos dentro dos 
respectivos territórios dos Estados signatários. 
 
A Carta Internacional de Direitos Humanos 
A Carta da ONU, de 1945, prevê em seu art. 55 que os Estados-partes devem promover a proteção dos 
direitos humanos e liberdades fundamentais. Em 1948, a Declaração Universal dos Direitos Humanos – 
DUDH fixou o rol dos direitos e liberdades fundamentais que deveriam ser assegurados e protegidos. 
Verificada a natureza jurídica daquele documento (declaração, e não tratado), alguma insegurança 
surgiu, já que, para a maioria dos teóricos, apesar de os princípios da DUDH já estarem consagrados 
pelo costume internacional, esta não teria força jurídica obrigatória e vinculante. 
Com a finalidade de tornar os direitos e garantias afirmados na DUDH juridicamente vinculantes e 
obrigatórios, foram instituídos dois pactos: o Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos e o Pacto 
dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais. Esses três documentos internacionais formam a 
chamada International Bill of Human Rights (em português, “Carta Internacional de Direitos Humanos”), 
que representa a base convencional do sistema global geral de proteção aos direitos humanos, tendo 
como destinatário da proteção o indivíduo genericamente considerado. 
 
A simples condição de ser humano assegura ao indivíduo toda a proteção do sistema. 
 
Atualmente, portanto, são instrumentos gerais de proteção: a DUDH, o Pacto Internacional dos Direitos 
Civis e Políticos, o Protocolo Facultativo ao Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos, o Protocolo 
Facultativo contra a Pena de Morte e o Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais. 
Em linhas gerais, é possível afirmar que o sistema global de proteção geral tem, na DUDH, uma espécie 
de síntese dos direitos que foram pactuados nos dois tratados de 1966. 
 
O Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos 
Conforme estabelece esse documento internacional, os Estados-partes têm o dever de assegurar os 
direitos nele elencados a todos os indivíduos que estejam sob sua jurisdição, obrigando-se a adotar as 
medidas necessárias para a realização de tal fim. Além de prover um sistema legal capaz de responder 
às violações dos direitos civis e políticos (obrigação positiva), cabe-lhes abster-se da prática de atos que 
atentem contra os ditos direitos. Ademais, as obrigações dos Estados de respeitar e assegurar os direitos 
previstos no pacto são imediatas, caracterizando a autoaplicabilidade. Por autoaplicabilidade, portanto, 
entendemos a situação jurídica em que os direitos humanos não estão sujeitos à disponibilidade de 
recursos econômicos. 
 
O Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais 
Esse pacto apresenta um amplo rol de direitos, entre os quais estão o direito ao trabalho e à justa 
remuneração, o direito a formar e a associar-se a sindicatos, o direito a um nível de vida adequado, o 
direito à moradia, o direito à educação, o direito à previdência social, o direito à saúde e o direito à 
participação na vida cultural da comunidade. Por terem os direitos econômicos, sociais e culturais 
aplicabilidade progressiva, os Estados se obrigam a adotar medidas até o máximo dos recursos 
disponíveis, a fim de alcançarem progressivamente a plena realização desses direitos. 
Existem essencialmente três formas de monitoramento dos direitos assegurados no sistema global (a 
sistemática de relatórios, o sistema de comunicações interestatais e o mecanismo de petições 
individuais), quer geral, quer especial. Alguns pactos poderão prever os três, poderão prever dois, ou até 
mesmo um único, qual seja, a sistemática de relatórios. Todos esses meios giram em torno de um 
comitê, que visa ao monitoramento dos direitos previstos no respectivo pacto. Assim, por exemplo, o 
Comitê de Direitos Humanos foi instituído pelo Pacto dos Direitos Civis e Políticos; o Comitê sobre os 
Direitos Econômicos Sociais e Culturais, pelo pacto de mesmo nome; o Comitê contra a Tortura, pela 
Convenção contra a Tortura, e assim ocorre nas demais convenções. 
A sistemática de relatórios 
As comunicações interestatais 
O mecanismo das petições individuais 
A sistemática de relatórios 
Por ela, os Estados, assim que ratificam o respectivo pacto, ficam obrigados a encaminhar ao 
respectivo comitê relatórios sobre as medidas legislativas, administrativas e judiciárias 
adotadas a fim de ver implementados os direitos convencionalmente previstos. No caso do Pacto 
dos Direitos Civis e Políticos, devem ser encaminhados em um ano, a contar da ratificação do 
pacto, e sempre que solicitado pelo comitê. Ao comitê, cabe examinar e estudar os relatórios, 
tecendo comentários e observações gerais a respeito; posteriormente, cabe a esse órgão 
encaminhar o relatório, com os comentários aduzidos, ao Conselho Econômico e Social das 
Nações Unidas. Fique atento aos textos dos pactos, pois os procedimentos sofrem pequenas 
variações de pacto para pacto. 
As comunicações interestatais 
Por essa forma de monitoramento, um Estado-parte de um certo tratado pode denunciar outro 
Estado-parte por violações aos direitos humanos enunciados no tratado em questão. Para tanto, 
Estado denunciante e Estado denunciado deverão ter ratificado o pacto cuja denúncia relata a 
violação. Ademais, o manejo desse mecanismo só é possível se ambos os Estados tiverem 
firmado declaração em separado reconhecendo a competência do comitê para as comunicações 
interestatais. Antes de ser manejado esse mecanismo, devem ter fracassado as negociações 
bilaterais, assim como exige-se o esgotamento dos recursos internos no âmbito dos Estados. 
O mecanismo das petições individuais 
 
Assegura a indivíduos e organizações não governamentais o direito de apresentar petições 
denunciando violações de direitos enunciados no respectivo pacto. Esse mecanismo, assim como 
o de comunicações interestatais, pode estar previsto no próprio pacto, pode não estar previsto, 
ou pode ter previsão em um protocolo facultativo, isto é, em um tratado adicional. A petição 
individual só pode ser admitida se o Estado violador tiver ratificado o respectivo pacto. 
Ademais, são requisitos da petição, sem os quais ela não será admitida: esgotamento prévio dos 
recursos internos — salvo quando a aplicação desses recursos se mostrar injustificadamente 
prolongada, ou se inexistir no direito interno o devido processo legal, ou, ainda, se não se 
assegurar à vítima o acesso aos recursos de jurisdição interna — e a mesma questão não poderá 
ser examinada por outra instância internacional, ou seja, a matéria não pode estar pendente em 
outros processos internacionais. 
 
O direito à igualdade material, o direito à diferença e o direito ao reconhecimento de identidades são os 
fundamentos do sistema global especial, já que este se destina à proteção ao indivíduo historicamente 
situado. Trata-se da proteção de grupos que, historicamente, tiveram seus direitos humanos 
fundamentais violados de muitas formas. Para a proteção a alguns desses grupos, foram instituídas, pela 
ONU: 
• A Convenção Internacional sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial. 
• A Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra a Mulher. 
• A Convenção contra a Tortura e Outros Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos ou Degradantes. 
• A Convenção sobre os Direitos da Criança. 
• A Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, entre outras. 
 
O que caracteriza os sistemas regionais é suamenor abrangência geográfica. Enquanto o sistema global 
(ligado à ONU) tem alcance mundial, os sistemas regionais (ligados a organizações de cunho regional), 
normalmente têm alcance continental. Os três sistemas regionais consolidados são o europeu, instituído 
pela Convenção Europeia de Direitos Humanos de 1950; o sistema africano, instituído pela Carta 
Africana dos Direitos Humanos e dos Povos de 1981; e o sistema interamericano, instituído pela 
Convenção Americana de Direitos Humanos de 1969. 
 
A Convenção Americana sobre os Direitos Humanos 
Apresenta um rol de direitos muito semelhante ao Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos. A 
seguir, reproduziremos alguns desses direitos, para, após, apresentarmos o sistema de monitoramento 
dos direitos humanos previsto na convenção. Cabe assinalar que esse instrumento, de maior 
importância no sistema interamericano, é também denominado Pacto de San José da Costa Rica. A 
convenção foi assinada em San José, Costa Rica, em 1969, entrando em vigor em 1978. Apenas Estados-
membros da Organização dos Estados Americanos têm o direito de aderir à convenção americana. 
 
Artigo 3º - Direito ao reconhecimento da personalidade jurídica. Toda pessoa tem direito ao reconhecimento de sua personalidade jurídica. 
Artigo 4º - Direito à vida. 1. Toda pessoa tem o direito de que se respeite sua vida. Esse direito deve ser protegido pela lei e, em geral, desde o 
momento da concepção. Ninguém pode ser privado da vida arbitrariamente. 
2. Nos países que não houverem abolido a pena de morte, esta só poderá ser imposta pelos delitos mais graves, em cumprimento de sentença final de 
tribunal competentes e em conformidade com a lei que estabeleça tal pena, promulgada antes de haver o delito sido cometido. Tampouco se estenderá 
sua aplicação a delitos aos quais não se aplique atualmente. 
3. Não se pode restabelecer a pena de morte nos Estados que a hajam abolido. 
4. Em nenhum caso pode a pena de morte ser aplicada a delitos políticos, nem a delitos comuns conexos com delitos políticos. 
5. Não se deve impor a pena de morte a pessoa que, no momento da perpetração do delito, for menor de dezoito anos, ou maior de setenta, nem a 
aplicar a mulher em estado de gravidez. 
6. Toda pessoa condenada à morte tem direito a solicitar anistia, indulto ou comutação da pena, os quais podem ser concedidos em todos os casos. 
Não se pode executar a pena de morte enquanto o pedido estiver pendente de decisão ante a autoridade competentes. 
Artigo 5º - Direito à integridade pessoal. 1. Toda pessoa tem direito a que se respeite sua integridade física, psíquica e moral. 
2. Ninguém deve ser submetido a torturas, nem a penas ou tratos cruéis, desumanos ou degradantes. Toda pessoa privada de liberdade deve ser 
tratada com o respeito devido à dignidade inerente ao ser humano. 
3. A pena não pode passar da pessoa do delinquente. 
4. Os processados devem ficar separados dos condenados, salvo em circunstâncias excepcionais, e devem ser submetidos a tratamento adequado à 
sua condição de pessoas não condenadas. 
5. Os menores, quando puderem ser processados, devem ser separados dos adultos e conduzidos a tribunal especializado, com a maior rapidez 
possível, para seu tratamento. 
6. As penas privativas de liberdade devem ter por finalidade essencial a reforma e a readaptação social dos condenados. […] 
Artigo 7º - Direito à liberdade pessoal. 1. Toda pessoa tem direito à liberdade e à segurança pessoal. 
2. Ninguém pode ser privado de sua liberdade física, salvo pelas causas e nas condições previamente fixadas pelas Constituições políticas dos 
Estados-partes ou pelas leis de acordo com elas promulgadas. 
3. Ninguém pode ser submetido a detenção ou encarceramento arbitrários. 
4. Toda pessoa detida ou retida deve ser informada das razões da detenção e notificada, sem demora, da acusação ou das acusações formuladas contra 
ela. 
5. Toda pessoa presa, detida ou retida deve ser conduzida, sem demora, à presença de um juiz ou outra autoridade por lei a exercer funções judiciais e 
tem o direito de ser julgada em prazo razoável ou de ser posta em liberdade, sem prejuízo de que prossiga o processo. Sua liberdade pode ser 
condicionada a garantias que assegurem o seu comparecimento em juízo. 
6. Toda pessoa privada da liberdade tem direito a recorrer a um juiz ou tribunal competentes, a fim de que decida, sem demora, sobre a legalidade de 
sua prisão ou detenção e ordene sua soltura, se a prisão ou a detenção forem ilegais. Nos Estados-partes cujas leis preveem que toda pessoa que se vir 
ameaçada de ser privada de sua liberdade tem direito a recorrer a um juiz ou tribunal competentes, a fim de que este decida sobre a legalidade de tal 
ameaça, tal recurso não pode ser restringido nem abolido. O recurso pode ser interposto pela própria pessoa ou por outra pessoa. 
7. Ninguém deve ser detido por dívidas. Este princípio não limita os mandatos de autoridade judiciária competente expedidos em virtude de 
inadimplemento de obrigação alimentar. 
Artigo 8º - Garantias judiciais. 1. Toda pessoa terá o direito de ser ouvida, com as devidas garantias e dentro de um prazo razoável, por um juiz ou 
Tribunal competente, independente e imparcial, estabelecido anteriormente por lei, na apuração de qualquer acusação penal formulada contra ela, ou 
na determinação de seus direitos e obrigações de caráter civil, trabalhista, fiscal ou de qualquer outra natureza. 
2. Toda pessoa acusada de um delito tem direito a que se presuma sua inocência, enquanto não for legalmente comprovada sua culpa. Durante o 
processo, toda pessoa tem direito, em plena igualdade, às seguintes garantias mínimas: 
a. direito do acusado de ser assistido gratuitamente por um tradutor ou intérprete, caso não compreenda ou não fale a língua do juízo ou tribunal; 
b. comunicação prévia e pormenorizada ao acusado da acusação formulada; 
c. concessão ao acusado do tempo e dos meios necessários à preparação de sua defesa; 
d. direito ao acusado de defender-se pessoalmente ou de ser assistido por um defensor de sua escolha e de comunicar-se, livremente e em particular, 
com seu defensor; 
e. direito irrenunciável de ser assistido por um defensor proporcionado pelo Estado, remunerado ou não, segundo a legislação interna, se o acusado 
não se defender ele próprio, nem nomear defensor dentro do prazo estabelecido pela lei; 
f. direito da defesa de inquirir as testemunhas presentes no Tribunal e de obter o comparecimento, como testemunhas ou peritos, de outras pessoas 
que possam lançar luz sobre os fatos; 
g. direito de não ser obrigada a depor contra si mesma, nem a confessar-se culpada; e 
h. direito de recorrer da sentença a juiz ou tribunal superior. 
3. A confissão do acusado só é válida se feita sem coação de nenhuma natureza. 
4. O acusado absolvido por sentença transitada em julgado não poderá ser submetido a novo processo pelos mesmos fatos. 
5. O processo penal deve ser público, salvo no que for necessário para preservar os interesses da justiça. 
Artigo 9º - Princípio da legalidade e da retroatividade. Ninguém poderá ser condenado por atos ou omissões que, no momento em que foram 
cometidos, não constituam delito, de acordo com o direito aplicável. Tampouco poder-se-á impor pena mais grave do que a aplicável no momento da 
ocorrência do delito. Se, depois de perpetrado o delito, a lei estipular a imposição de pena mais leve, o delinquente deverá dela beneficiar-se. 
Artigo 10 – Direito à indenização. Toda pessoa tem direito a ser indenizada conforme a lei, no caso de haver sido condenada em sentença transitada 
em julgado, por erro judiciário. 
(OEA, 1969) 
Monitoramento 
No sistema interamericano, existem dois importantes órgãos: a Comissão Interamericana de Direitos 
Humanos – CIDH e a Corte Interamericana de Direitos Humanos (Corte IDH). 
A comissão – É composta por sete membros eleitos a título pessoal, para período de quatro anos, 
permitida uma únicarecondução por igual período, pela Assembleia Geral da OEA, a partir de uma lista 
de candidatos propostos pelos governos dos Estados-membros, devendo ser pessoas de autoridade 
moral e de reconhecido saber em matéria de direitos humanos. Cabe à comissão promover a 
observância dos direitos humanos na América. Ao ler a convenção, você observará que a comissão tem 
funções conciliadora, assessora, crítica, legitimadora, promotora e protetora. Veja que a comissão não 
possui função jurisdicional, portanto não julga nem produz decisões com caráter substitutivo à vontade 
das partes. 
A corte – É órgão jurisdicional do sistema interamericano e é composta de sete juízes nacionais de 
Estados-membros da OEA, eleitos a título pessoal pelos Estados-partes da convenção. A Corte IDH 
apresenta competência consultiva e contenciosa. Dito de outra forma, possui duas atribuições 
essenciais: a primeira, de natureza consultiva, relativa à interpretação das disposições da convenção 
americana, assim como das disposições de tratados relacionados à proteção dos direitos humanos nos 
Estados americanos; a segunda, de caráter jurisdicional, cuja finalidade consiste em apresentar solução 
de controvérsias que se apresentem acerca da interpretação ou aplicação da própria convenção. 
Controle 
Além do sistema de comunicações interestatais, que funciona de forma semelhante ao sistema global, 
tendo por órgão processante a comissão no sistema interamericano, existe, em âmbito regional, o 
mecanismo de petições individuais, que funciona da seguinte forma: 
 
O indivíduo enquanto sujeito de direito internacional 
Conforme foi visto até aqui, o indivíduo, hoje, também é sujeito de direito internacional, notadamente 
porque pode submeter demandas aos mais variados órgãos internacionais, o que pode ser feito por si 
mesmo ou por meio de ONGs. No direito internacional, quer no sistema global, quer nos sistemas 
regionais, o indivíduo tem, atualmente, uma participação significativa, mesmo quando não pode agir 
diretamente. Para exemplificar o papel do indivíduo como sujeito de direito internacional, vamos 
analisar agora duas condenações do Brasil pela Corte IDH. 
Primeiramente, não vamos esquecer que apenas a CIDH e os Estados-partes podem submeter um caso à 
Corte IDH, não estando prevista a legitimação do indivíduo, nos termos do art. 61 da convenção 
americana, entretanto o estatuto da corte permite a representação das vítimas perante o órgão. Ainda 
que indivíduos e ONGs não tenham acesso direto à Corte IDH, se a CIDH submeter o caso a ela, as 
vítimas, seus parentes ou representantes podem submeter de forma autônoma seus argumentos, 
arrazoados, e provas perante a corte. 
 
O caso Damião Ximenes Lopes 
Em 1º de outubro de 2004, em conformidade com o disposto nos artigos 50 e 61 da convenção 
americana, a CIDH submeteu à corte uma demanda contra a República Federativa do Brasil, a qual se 
originou na denúncia nº 12.237, recebida na secretaria da comissão em 22 de novembro de 1999. 
A comissão apresentou a demanda nesse caso com o objetivo de que a corte decidisse se o Estado era 
responsável pela violação dos direitos consagrados nos artigos 4º (direito à vida), 5º (direito à 
integridade pessoal), 8º (garantias judiciais) e 25 (proteção judicial) da convenção americana, com 
relação à obrigação estabelecida no artigo 1.1 (obrigação de respeitar os direitos) do mesmo 
instrumento, em detrimento do senhor Damião Ximenes Lopes (portador de deficiência mental), pelas 
supostas condições desumanas e degradantes da sua hospitalização, pelos alegados golpes e ataques 
contra a integridade pessoal de que alega ter sido vítima por parte dos funcionários da Casa de Repouso 
Guararapes e por sua morte enquanto se encontrava ali submetido a tratamento psiquiátrico, bem 
como pela suposta falta de investigação e garantias judiciais que caracterizavam seu caso e o 
mantinham na impunidade. 
A vítima foi internada em 1º de outubro de 1999 para receber tratamento psiquiátrico na Casa de 
Repouso Guararapes, um centro de atendimento psiquiátrico privado que operava no âmbito do 
sistema público de saúde do Brasil, chamado Sistema Único de Saúde – SUS, no município de Sobral, 
estado do Ceará. O senhor Damião Ximenes Lopes faleceu em 4 de outubro de 1999 na Casa de Repouso 
Guararapes, após três dias de internação. 
Acrescentou a comissão que os fatos desse caso se veem agravados pela situação de vulnerabilidade em 
que se encontram as pessoas portadoras de deficiência mental, bem como pela especial obrigação do 
Estado de oferecer proteção às pessoas que se encontram sob o cuidado de centros de saúde que 
integram o SUS. A comissão, por conseguinte, solicitou à corte que ordenasse ao Estado a adoção de 
determinadas medidas de reparação citadas na demanda e o ressarcimento das custas e gastos. 
 
A sentença da corte 
No final da noite de 17 de agosto de 2006, a Corte IDH, o tribunal máximo da OEA, condenou o Brasil 
pela morte violenta de Damião Ximenes Lopes, ocorrida no dia 4 de outubro de 1999, na Clínica de 
Repouso Guararapes, localizada no município de Sobral, interior do Ceará. 
A corte declarou em sua sentença que o Brasil violou sua obrigação geral de respeitar e garantir os 
direitos humanos, violou o direito à integridade pessoal de Damião e de sua família e violou os direitos 
às garantias judiciais e à proteção judicial a que têm direito seus familiares. Como medida de reparação 
à família de Damião Ximenes, a corte condenou o Brasil a indenizá-los. 
Nessa sentença condenatória, a corte deixa claro que o Brasil: 
[…] tem responsabilidade internacional por descumprir, neste caso, seu dever de cuidar e de prevenir a 
vulneração da vida e da integridade pessoal, bem como seu dever de regulamentar e fiscalizar o 
atendimento médico de saúde. (CORTE IDH, 2006) 
A corte também conclui: 
[…] que o Estado não proporcionou aos familiares de Ximenes Lopes um recurso efetivo para garantir 
acesso à justiça, à determinação da verdade dos fatos, à investigação, à identificação, ao processo e à 
punição dos responsáveis pela violação dos direitos às garantias judiciais e à proteção judicial. (CORTE 
IDH, 2006) 
Por unanimidade, os juízes da corte decidiram que o Estado deveria garantir a celeridade da justiça 
brasileira em investigar e sancionar os responsáveis pela tortura e morte de Damião. 
 
O caso Gomes Lund 
Em 24 de novembro de 2010, no caso Gomes Lund e outros contra o Brasil, a Corte IDH condenou o 
Brasil pelo desaparecimento de integrantes da guerrilha do Araguaia durante as operações militares 
ocorridas nos anos 1970. O caso foi submetido à corte pela CIDH. A corte reconheceu que o caso 
representava: 
[…] uma oportunidade importante para consolidar a jurisprudência interamericana sobre leis de anistia 
em relação aos desaparecimentos forçados e às execuções extrajudiciais, com a consequente obrigação 
dos Estados de assegurar o conhecimento da verdade, assim como da obrigação de investigar, processar 
e punir violações de direitos humanos. (CORTE IDH, 2010) 
 
A sentença da corte 
Na sentença, a corte afirmou que as disposições da Lei de Anistia de 1979 são manifestamente 
incompatíveis com a convenção americana, carecendo de efeitos jurídicos e não podendo seguir 
representando um obstáculo para a investigação de graves violações de direitos humanos, muito menos 
para a identificação e punição dos responsáveis. Para a corte, leis de anistia relativas a graves violações 
de direitos humanos são incompatíveis com o direito internacional e as obrigações jurídicas 
internacionais contraídas pelos Estados. Esses postulados fundaram-se em ampla jurisprudência 
produzida por órgãos das Nações Unidas e pelo sistema interamericano, destacando, também, decisões 
judiciais emblemáticas invalidando leis de anistia na Argentina, no Chile, no Peru, no Uruguai e na 
Colômbia. A corte reafirmou um entendimento: as leis de anistia violam o deverinternacional do Estado 
de investigar e punir violações a direitos humanos. 
 
Encerramento 
 
Resumo 
O principal tema desta unidade foi a apresentação dos sistemas de proteção aos direitos humanos. 
Estudamos o sistema global geral, cujo foco de proteção é o indivíduo genericamente considerado. 
Posteriormente, estudamos o sistema global especial, cujo foco consiste no indivíduo historicamente 
situado. Em um segundo momento, vimos os sistemas regionais de proteção, com ênfase no sistema 
interamericano de direitos humanos. Por fim, conhecemos a condição de sujeito internacional do 
indivíduo. Também vimos, brevemente, os resultados de dois importantes julgamentos da Corte IDH 
que tiveram o Brasil como Estado denunciado. 
De tudo o que foi estudado nesta unidade, podemos concluir que os sistemas globais e regionais são 
complementares, que o sistema interamericano apresenta um órgão com competência jurisdicional, 
capaz de produzir decisões juridicamente obrigatórias e vinculantes, e, finalmente, que o indivíduo é o 
principal sujeito da proteção assegurada pelo direito internacional dos direitos humanos.

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